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Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada Journal of Basic and Applied Pharmaceutical Sciences Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2015;36(4):497-502 ISSN 1808-4532 Autor correspondente: Jerusa Simone Garcia, Universidade Federal de Alfenas, Instituto de Química, Laboratório de Análise e Caracterização de Fármacos, UNIFAL-MG, Av. Gabriel Monteiro da Silva, 700, Centro, Alfenas, MG, Brasil. e-mail: jerusa.garcia@unifal-mg.edu.br Caracterização no estado sólido e compatibilidade farmacêutica de cloridrato de ziprasidona Josiane Souza Pereira Daniel1; Isabela Pianna Veronez1; Marcello Garcia Trevisan1, 2; Jerusa Simone Garcia1* 1 Universidade Federal de Alfenas, UNIFAL, Instituto de Química, Laboratório de Análise e Caracterização de Fármacos, Alfenas, MG, Brasil. 2 Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Bioanalítica (INCTBio), Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Instituto de Química, Campinas, SP, Brasil. RESUMO O cloridrato de ziprasidona foi físico-quimicamente caracterizado pelas técnicas de Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC), Termogravimetria (TG), Espectroscopia no Infravermelho com Transformada de Fourier (FT-IR), Difração de Raios X de Pó (DRX) e Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV). O estudo de compatibilidade foi realizado com 5 excipientes farmacêuticos diferentes (amido pré-gelatinizado, estearato de magnésio, celulose microcristalina, manitol e polivinilpirrolidona – PVP) . Amostras de misturas binárias fármaco: excipiente 1:1 m/m foram estocadas por 3 meses em câmara de estabilidade (75% ± 5% de umidade relativa e 40 ºC ± 1 ºC), e então analisadas por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) para avaliar o efeito de cada excipiente na estabilidade química e, consequentemente, no teor do fármaco, em cada amostra . Os resultados de DRX e FT-IR identificaram a forma polimórfica F, correspondente ao cloridrato de ziprasidona mono- hidrato. A análise térmica demonstrou que o fármaco apresentou uma perda de massa de 4%, até 100ºC, correspondente à saída de uma molécula de água. A próxima perda de massa ocorreu a partir da temperatura de fusão (297ºC), e o fármaco foi totalmente degradado até 600ºC. Os resultados de CLAE demonstraram que o estearato de magnésio foi o único, entre os 5 excipientes testados, que provocou uma redução significativa de teor do fármaco na amostra (teor encontrado = 77% ± 3%). Dessa forma, o fármaco foi compatível com amido pré-gelatinizado, celulose microcristalina, manitol e PVP; e incompatível com estearato de magnésio nas condições estudadas. Palavras-chave: Estudo de compatibilidade. Caracterização. Cloridrato de Ziprasidona. CLAE. INTRODUÇÃO A ziprasidona é um fármaco antagonista dos receptores dopaminérgicos do tipo D2, pertencente à classe dos antipsicóticos atípicos. Apresenta vantagens em relação aos outros representantes dessa classe por inibir a recaptação de serotonina e noradrenalina, o que lhe confere efeitos ansiolíticos e antidepressivos, levando a uma maior eficácia terapêutica com menos efeitos colaterais (Stimmel et al., 2002). Quimicamente, a ziprasidona (fórmula molecular: C21H21ClN4OS.HCl.H2O) é caracterizada como um pó branco ligeiramente rosa, com pKa de 6,68; muito pouco solúvel em água, com forte tendência à cristalização devido a formação de ligações de hidrogênio intramoleculares e às interações intermoleculares (Pfizer Canada, 2010). A patente desse fármaco expirou em 2012, abrindo caminho para o desenvolvimento de genéricos e similares, que necessitam de estudos de estabilidade para serem desenvolvidos. Ao se iniciar o desenvolvimento de um novo medicamento, seja ele inovador ou similar, é necessário que seja feita a caracterização adequada tanto do fármaco quanto dos excipientes a serem utilizados na formulação. Isso é fundamental, pois as características do fármaco podem se alterar na presença de determinados excipientes, o que compromete a qualidade da formulação final. Para isso, devem ser utilizadas técnicas analíticas apropriadas para determinar suas propriedades físicas e químicas (Veronez et al., 2013). Existem diversos estudos que demostram a aplicação desta estratégia. Podem ser citados como exemplo: a caracterização do fármaco cetoprofeno por análise térmica [Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e Termogravimetria (TG)], Espectroscopia no Infravermelho com Transformada de Fourier (FT-IR) e Difratometria de Raios X (DRX) antes de iniciar um estudo de pré-formulação (Tita et al., 2011); e do fármaco risperidona, por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), DSC, TG, FT-IR e DRX (Daniel et al., 2013). Os estudos de compatibilidade fármaco-excipiente avaliam a estabilidade do fármaco na presença do 498 Ziprasid. characterization/compatibility Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2015;36(4):497-502 excipiente. Idealmente os excipientes deveriam ser totalmente inertes ao fármaco, ou seja, sem qualquer tipo de interação entre eles. No entanto, por se tratarem de compostos químicos diversos que estão em contato, algumas interações podem ocorrer entre os componentes de uma formulação, as quais podem ser de duas naturezas: física ou química. Uma interação física nem sempre está relacionada a uma incompatibilidade, uma vez que não leva à degradação do fármaco. Interações desse tipo podem ser caracterizadas pela: indução à mudança de forma polimórfica do fármaco (amorfização, recristalização, formação de co-cristal); solubilização do fármaco pelo excipiente; interação intermolecular entre os grupos funcionais dos componentes da formulação, como ligações de hidrogênio, por exemplo, (Kumar et al., 2009; Julio et al., 2013). Por outro lado, as interações químicas constituem-se em incompatibilidade, uma vez que levam à degradação química do fármaco, com formação de produtos de degradação que levam à perda da eficácia e comprometem a segurança da formulação em questão (Tita et al., 2011; Julio et al., 2013). Para realizar um estudo de compatibilidade, geralmente são utilizadas misturas binárias, contendo o fármaco e um excipiente, preparadas na proporção 1:1 (m/m), que são armazenadas em câmara de estabilidade com temperatura e umidade controladas, juntamente com amostras do fármaco e dos excipientes isolados, que são utilizadas como controle. Após determinado período de incubação, essas mesmas amostras são analisadas nas mesmas condições com as quais foram previamente caracterizadas para observar se houve alguma alteração no perfil físico-químico (Center for Drug et al., 2003; Kumar et al., 2009; Tita et al., 2011; Julio et al., 2013). Dentre as técnicas analíticas que podem ser utilizadas, pode ser citada a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) para avaliar variação de dosagem do fármaco na mistura e também para realizar pesquisas sobre produtos de degradação (Kumar et al., 2009; Daniel et al., 2013; Julio et al., 2013). A DRX é comumente utilizada para avaliar alterações na estrutura cristalina do fármaco (Murakami et al., 2009). As espectroscopias Raman e FT-IR podem ser usadas para avaliar alterações nas bandas de absorção características da estrutura do fármaco e indicar uma possível degradação (Murakami et al., 2009; Tita et al., 2011). As análises térmicas (DSC e TG) podem ser empregadas para avaliar alterações no ponto de fusão relacionadas a modificações polimórficas e presença de produtos de degradação e alterações no valor da entalpia de fusão que pode indicar variação da dosagem do fármaco na mistura devido à degradação (Julio et al., 2013; Singh et al., 2007; Tita et al., 2011). Na literatura são encontrados alguns trabalhos que desenvolveram métodos para a identificação e quantificação de ziprasidona pela técnica de CLAE em matéria-prima, (Singh et al., 2007; Nikolic et al., 2012; Zakowiecki & Cal, 2012) formulação de cápsulas (Singh et al., 2007; Nikolic et al., 2012; Zakowiecki & Cal, 2012; Raj et al., 2013) e amostras biológicas.(Zhang et al., 2007; Lei et al., 2010) Além disso, outros métodos desenvolvidos para determinação do fármaco em formulações empregam as técnicas de espectrofluorimetria (Walash et al., 2011), eletroforese capilar (Farina et al., 2008) e espectroscopia UV (Chauhan & Choudhury, 2007). No entanto, não foram encontradas publicações que relatam estudos de compatibilidade fármaco-excipiente para a ziprasidona. Os objetivos deste trabalho foram caracterizar o estado-sólido do polimorfo comercial F do fármaco cloridrato de ziprasidona através das técnicas de análise térmica (DSC e TG), FT-IR, DRX e MEV e avaliar a sua compatibilidade com cinco excipientes farmacêuticos (amido pré-gelatinizado, estearato de magnésio, celulose microcristalina, manitol e polivinilpirrolidona – PVP, normalmente empregados na formulação comercial) utilizando a técnica de CLAE. MATERIAL E MÉTODOS Caracterização do estado-sólido DSC As análises de DSC foram realizadas em célula calorimétrica DSC7020 (SII Nano Technology, Japão). O intervalo de aquecimento usado foi de 30 ºC a 350 ºC, razão de aquecimento de 10 ºC min-1 em atmosfera dinâmica de nitrogênio com vazão de 50 mL min-1, utilizando 3 mg de amostra condicionada em cadinho de alumínio aberto. TG As análises foram realizadas em uma termobalança TG/DTA 7300 (SII Nano Technology, Japão). O intervalo de aquecimento foi de 30 ºC a 500 ºC, a uma razão de 10 ºC min-1, atmosfera dinâmica de nitrogênio a 50 mL min-1 e cadinhos de alumínio abertos contendo 3 mg de amostra. FT-IR As análises foram realizadas em um espectrômetro de infravermelho Affinity-1 Fourier Transform (Shimadzu TM, Tokyo, Japão) acoplado a Pike Miracle™ Attenuated Total Reflectance (ATR). As bandas de absorção características da estrutura química do cloridrato de ziprasidona foram obtidas por FT-IR na faixa de 4000 a 600 cm-1, 32 scans e resolução de 4 cm-1. DRX O equipamento utilizado foi o difratômetro de Raios X Ultima IV (Rigaku diffractometer, Japão), e a análise foi realizada de º2θ entre 5º e 55º, 40 kV e 30 mA. MEV As imagens foram obtidas no microscópio eletrônico de varredura JSM-6340F Field Emission–JEOL com aumentos de 500x; 5.000x e 10.000x. Eletromicrografias do fármaco foram obtidas com tensão de aceleração 10 V, sob vácuo; e a amostra, recoberta com filme de ouro. 499 Ziprasid. characterization/compatibility Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2015;36(4):497-502 Estudo de compatibilidade Preparo das amostras Misturas binárias na proporção 1:1 (m/m) fármaco:excipiente foram preparadas a partir da pesagem precisa de cada componente, os quais foram adicionados a um frasco de polietileno e homogeneizados utilizando um agitador de tubos durante 1 minuto. Em seguida, as amostras foram incubadas em câmara de estabilidade durante 3 meses para avaliar a influência da temperatura e da umidade na estabilidade química do fármaco isolado e nas misturas. Neste experimento foi usada umidade relativa de 75% ± 5% e temperatura de 40 ºC ± 1 ºC, conforme as recomendações da International Conference on Harmonization (ICH) (Center for Drug et al., 2003). A dificuldade na homogeneização das misturas binárias constituiu um dos desafios desse trabalho, pois embora a amostra de fármaco apresente partículas de tamanho pequeno (médio de 3 µm), é formada por granulados de difícil homogeneização. Para minimizar erros referentes à homogeneização das amostras e à possível absorção de umidade após o período de incubação, toda a massa incubada das amostras (misturas binárias e fármaco) foi utilizada no preparo de amostra para as análises por CLAE. CLAE Para essas análises foi utilizado um sistema UHPLC Ultimate 3000 LC system (Thermo Scientific, California, EUA), que consiste em uma bomba LPG- 3400RS com desgaseificador a vácuo integrado, auto amostrador WPS-3000RS com injetor de 100 µL, forno de coluna TCC-3000RS e detector DAD-3000RS, software Chromeleon 6.8. As condições cromatográficas seguiram as recomendações da farmacopéia dos Estados Unidos – USP34 (United States Pharmacopeial Convention, 2010) e estão descritas a seguir: coluna octilcilano (C8) de 4,6 mm x 15 cm e 5 µm de partícula (ZORBAX SB-C8); fase móvel metanol/tampão fosfato pH 3 na proporção 2:3 (v/v); fluxo da fase móvel de 1,5 mL min-1; volume de injeção de 20 µL; temperatura do forno de 40 ºC e detecção em 229 nm. A solução metanol:água 3:2 (v/v) foi usada como diluente para o preparo das amostras. A curva de calibração foi obtida com soluções padrão de cloridrato de ziprasidona nas concentrações de 0,10 a 0,40 mg mL-1. As amostras foram analisadas no tempo inicial e após 3 meses de incubação. A concentração de cloridrato de ziprasidona esperada em todas as amostras era de 0,23 mg mL-1 (valor corresponde ao teor de 100% do fármaco). RESULTADOS Caracterização no estado-sólido Análise térmica (DSC e TG) A Figura 2 mostra as curvas DSC e TG obtidas para o cloridrato de ziprasidona, além da curva DTG (Termogravimetria Diferencial). A curva DSC apresenta um evento endotérmico na faixa de 40 ºC a 130 ºC. Nessa mesma faixa de temperatura, a curva TG apresenta uma perda de massa de aproximadamente 4%. Nas duas curvas, este evento corresponde à perda de uma molécula de água, uma vez que o fármaco se encontra na forma de mono- hidrato. O segundo evento endotérmico que aparece na curva DSC inicia-se com um valor de Tonset (temperatura de extrapolação do pico no início da fusão) de 297,0 ºC. Nessa temperatura, observa-se o início de uma intensa perda de massa na curva TG, além de vários picos consecutivos na curva DTG, indicando sucessivas perdas de massa. FT-IR e DRX A Figura 3 exibe o espectro de absorção no infravermelho do cloridrato de ziprasidona. As principais bandas assinaladas no espectro são: 3420 e 3200 cm-1 de intensidade média correspondente ao estiramento N-H e C-N, respectivamente, do anel β-lactama; 1713 cm-1 de intensidade forte correspondente ao estiramento C=O do anel β-lactama; 1630 e 1433 cm-1 de intensidade média a forte, respectivamente, correspondente ao estiramento C=C do anel aromático e 744 cm-1 de intensidade média correspondente ao estiramento C-Cl do anel aromático. A análise por DRX apresentou picos característicos em 10,9; 14,8; 18,06; 19,58; 21,8; 24,88 e 25,9 2 ºθ (Figura 4). Figura 1. Estrutura química da ziprasidona Figura 2. Curvas térmicas para o cloridrato de ziprasidona. TG e DTG na faixa de temperatura de 30 ºC a 600 ºC; e DSC na faixa de temperatura de 30 ºC a 350 ºC; ambos com razão de aquecimento 10 ºC.min-1 e atmosfera de N2 com fluxo de 50 mL min-1 (n=3) 500 Ziprasid. characterization/compatibility Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2015;36(4):497-502 MEV Microscopicamente, como se pode observar na Figura 5, o fármaco apresenta-se em forma de cristais de morfologia irregular, formado por conglomerados de partículas arredondadas e em forma de tiras (United States Pharmacopeial Convention, 2008). Estudo de compatibilidade A amostra de cloridrato de ziprasidona foi analisada antes da incubação para determinar o tempo de retenção que foi de 5,5 min. O perfil cromatográfico dos excipientes isolados também foi avaliado utilizando-se o mesmo método, e observou-se que nenhum deles apresentou sinal nas condições experimentais. Após 3 meses de incubação, as amostras também foram analisadas para determinar o teor de ziprasidona por meio de curva de calibração que apresentou R2 igual a 0,9935. Os cromatogramas das amostras após a incubação estão apresentados na Figura 6. DISCUSSÃO Caracterização no estado-sólido Análise térmica (DSC e TG) Esses resultados revelam que o cloridrato de ziprasidona não apresenta temperatura e entalpia de fusão definidas, pois sofre degradação térmica antes de apresentar um pico de fusão no DSC. Como estas duas Figura 3. Espectro de absorção no infravermelho do cloridrato de ziprasidona na faixa de 4000 a 600 cm-1, 32 scans e resolução de 4 cm-1,em temperatura ambiente (n=3) Figura 4. Difratograma do cloridrato de ziprasidona entre 5º e 55º 2θ, 40kV e 30 mA (n=3) Figura 5. Eletromicrografia do cloridrato de ziprasidona. Tensão de aceleração 10V, em vácuo e amostras cobertas com filme de ouro.(a) Aumento de 1000x; (b) Aumento de 5000x; (c) Aumento de 10000x Figura 6. Cromatogramas das amostras após 3 meses de incubação a 40 ºC ± 1 ºC e 75% ± 5% de umidade relativa. (a) ziprasidona; (b) ziprasidona+estearato de magnésio; (c) ziprasidona+amido; (d) ziprasidona+celulose microcristalina; (e) ziprasidona+manitol; (f) ziprasidona+PVP. Fase móvel metanol/tampão 2:3 (v/v), coluna C8, fluxo de 1 mL.min-1 e detecção em 229 nm (n=3) 501 Ziprasid. characterization/compatibility Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2015;36(4):497-502 variáveis são os principais parâmetros avaliados nos estudos de compatibilidade conduzidos por técnicas de análise térmica, esse comportamento constitui uma limitação ao uso destas técnicas nos estudos de compatibilidade deste fármaco. FT-IR e DRX Os resultados de FT-IR e DRX revelaram que o fármaco corresponde à forma cristalina F, de acordo com dados disponíveis na literatura. A forma F corresponde a um mono-hidrato, que se mantém estável, ou seja, cristalino em ambiente com umidade relativa entre 20% e 60% e quando aquecido a 80 ºC por 12 h (Hedvati et al., 2005; Silverstein & Webster, 2006). MEV Esta determinação é importante porque a morfologia dos cristais do fármaco influencia nas propriedades físicas, tais como a orientação das partículas, a velocidade de dissolução, comportamento de compactação e compressão, acondicionamento e fluxo de pó (Kuminek et al., 2013). Estudo de compatibilidade Os resultados da CLAE demostraram que a amostra do fármaco apresentou um teor de 100% ± 0,4%; o que indica que ela permaneceu estável durante o tempo de incubação a 75% ± 5% de umidade relativa e temperatura de 40 ºC ± 1 ºC. Assim, uma redução significativa de teor nas misturas se deve a uma interação química entre os dois componentes. As misturas binárias com amido, manitol, celulose microcristalina e PVP apresentaram teor de ziprasidona, respectivamente, de 99% ± 1%; 98% ± 1%; 97,4% ± 0,1% e 99% ± 1%. De acordo com o ICH (Center for Drug et al., 2003), para um produto ser considerado estável, uma redução de até 10% de teor é aceitável. Dessa forma, os resultados obtidos indicam que não houve redução significativa de teor nessas misturas e, portanto, esses três excipientes foram compatíveis após 3 meses de incubação. A mistura com estearato de magnésio apresentou um teor de ziprasidona de 77% 3%. Essa redução significativa no teor revelou uma incompatibilidade química entre esse excipiente e o fármaco. O estearato de magnésio tem sido relatado como incompatível em estudos com outros fármacos como, por exemplo, o cetoprofeno (Tita et al., 2011), desloratadina (Veronez et al., 2013), ácido acetil salicílico (Tita et al., 2013), e risperidona (Daniel et al., 2013). Este excipiente é composto por uma mistura de sais orgânicos formados por cátions de magnésio e ânions provenientes de diferentes ácidos graxos (principalmente esteárico e palmítico). Uma explicação que tem sido encontrada para sua incompatibilidade com fármacos é a ocorrência de uma reação química entre esses dois componentes com formação de ácido graxo e o fármaco na forma de sal de magnésio (Tita et al., 2011). AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPEMIG; à CAPES e ao CNPq pelo apoio financeiro. ABTRACT Solid-state characterization and pharmaceutical compatibility of ziprasidone hydrochloride Ziprasidone hydrochloride was fully characterized by Differential Scanning Calorimetry (DSC), Thermogravimetry (TG), Fourier Transform Infrared Spectroscopy (FT-IR), Powder X-ray Diffraction (PXRD) and Scanning Electron Microscopy (SEM). The stability study was carried out with 5 different pharmaceutical excipients (pregelatinized starch, magnesium stearate, microcrystalline cellulose, mannitol, polyvinylpyrrolidone – PVP). Binary mixtures of the drug-excipient were prepared in a 1:1(w/w) ratio and stored for 3 months in stability chamber (75% ± 5% of relative humidity and temperature of 40 ºC ± 1 ºC), then these samples were analyzed by High Performance Liquid Chromatography (HPLC) to evaluate the effect of each excipient on chemical stability and, consequently, on amount of drug in each sample. Data obtained by FT-IR and PXRD shown the polymorphic form F, corresponding to monohydrate ziprasidone hydrochloride. The thermal analysis demonstrated a mass loss of 4% until 100ºC, corresponding to a water molecule. The following mass loss occurred from melting temperature (297ºC) to 600ºC, with total sample degradation. The HPLC results shown that, between 5 tested excipients, only magnesium stearate caused significant amount reduction of drug in the sample (amount found = 77% ± 3%). Then, the drug was compatible with pregelatinized starch, microcrystalline cellulose, mannitol and PVP; and incompatible with magnesium stearate, in these work conditions. Keywords: Compatibility study. Characterization. Ziprasidone hydrochloride. HPLC. REFERÊNCIAS Center for Drug E, Research CfBE, Research ICoH. Guidance for industry Q1A(R2) stability testing of new drug substances and products. Rockville, MD: U.S. Dept. of Health and Human Services, Food and Drug Administration, Center for Drug Evaluation and Research: Center for Biologics Evaluation and Research; 2003. Chauhan CS, Choudhury PK. UV spectrophotometric determination of ziprasidone hydrochloride in pore and pharmaceutical. formulation. Asian J Chem. 2007;19(1):819-20. Daniel JSP, Veronez IP, Rodrigues LL, Trevisan MG, Garcia JS. 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