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Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz e crime impossível - doc 02

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DIREITO PENAL I – DESISTENCIA E ARREPENDIMENTO 
 
1 
 
 Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz (art. 15) 
 
 
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de 
prosseguir na execução ou impede que o resultado se 
produza, só responde pelos atos já praticados. 
 
Nós temos no art. 15, dois institutos: a desistência voluntária e o arrependimento 
eficaz. Presta atenção: ambos são espécies da chamada tentativa qualificada ou 
tentativa abandonada. O art. 14, II, traz a tentativa simples e o art. 15, a tentativa 
qualificada, que tem duas espécies: desistência voluntária e arrependimento eficaz. 
 
 Art. 14 – Tentativa Simples. 
 Art. 15 – Tentativa Qualificada, também chamada de Tentativa 
Abandonada, que tem duas espécies: desistência voluntária e 
arrependimento eficaz. 
 
Já caiu em concurso para o candidato dissertar sobre a tentativa qualificada. Ele 
só estava querendo que você dissertasse sobre desistência voluntária e arrependimento 
eficaz. Só isso. É que não estamos acostumados com essa expressão. 
 
 
 DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA (art. 15) 
 
Vocês já sabem que é a primeira espécie de tentativa voluntária. Eu sempre 
coloco a previsão legal e o conceito para viciá-los a fazer isso na dissertação (previsão 
legal, conceito, elementos, você desenvolve a estrutura lógica). 
 
1) Previsão legal: art. 15, 1ª parte. 
 
“Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução 
ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.” 
(grifo nosso) 
 
 
2) Conceito: A definição deste instituto se amolda perfeitamente ao seu nomen 
juris: “ocorre quando o agente desiste de prosseguir, abandona 
voluntariamente a execução do crime, quando podia terminá-la” 
 
 É fundamental, para se falar em desistência voluntária, que a etapa de execução 
ainda esteja em curso, ou seja, o agente ainda esteja neste estágio do iter criminis, sem 
tê-lo completado, sem alcançar a consumação. 
 
 ≠ 
 
Tentativa inacabada ou Imperfeita, em que o agente se encontra também ainda em fase 
de execução, com a diferença de que não a completa, nesta tentativa, por força alheia a 
sua vontade, enquanto na desistência a não completitude se dá por vontade própria. 
 
DIREITO PENAL I – DESISTENCIA E ARREPENDIMENTO 
 
2 
 
 O aspecto da voluntariedade nesta desistência é, de fato, o que merece maior 
atenção. Veja que não se pode confundir voluntariedade (≠) com motivação 
da desistência: ser voluntário é ter partido pelo arbítrio do agente, quer haja 
motivação íntima ou externa, ou mesmo sem motivação aparente alguma. A 
voluntariedade da desistência não se confunde com falta de motivação, pois 
pode haver conduta voluntária com motivo pessoal ou externo. O importante 
será que ele tenha escolhido desistir, mesmo se foi levado a desistir por um 
motivo externo qualquer. 
 
O perigo em se confundir desistência voluntária com tentativa inacabada é 
pensar que o motivo externo que compeliu à desistência tenha impedido a 
consumação: é muito diferente deixar de praticar o restante da execução por 
força própria, mesmo que motivado por situação externa ≠ do que ser impedido 
de continuar na execução por esta força externa, quando não foi o arbítrio do 
agente que tolheu suas ações. 
 
É claro que se o agente não escolhe desistir, pois o fator externo, mais do que 
motivá-lo, tem poder de coação sobre sua vontade, não se aplica o instituto. 
 
Exemplo: (1) se o agente deixa de terminar a subtração de um veículo porque 
ouve a sirene da polícia, este fator o impediu de continuar, e não o motivou a 
desistir voluntariamente – sendo tentativa inacabada, portanto. 
 
Exemplo: (2) Eu estou furtando um veículo. Uma pessoa olha para mim e fala: 
“Não faz isso. É feio. É pecado.” Eu abandono meu intento e vou embora. 
Tentativa ou desistência voluntária? Olha que importante: Neste exemplo foi 
uma pessoa que interferiu. Uma pessoa! Foi uma interferência subjetiva. 
 
Exemplo: (3) No mesmo exemplo, durante a ação, uma luz se acende. Eu olho a 
luz e desisto de prosseguir. Desistência voluntária ou tentativa?. Já neste 
exemplo foi uma luz que se acendeu e não uma pessoa. Foi uma interferência 
objetiva. 
 
Desistência voluntária só ocorre na interferência subjetiva e não na objetiva. 
 
“Voluntária é a desistência sugerida ao agente e ele assimila, subjetiva e 
prontamente, esta sugestão, esta influência externa de outra pessoa.” 
 
“Se a causa que determina a desistência é circunstância exterior, uma 
influência objetiva externa que compele o agente a renunciar o propósito 
criminoso, haverá tentativa.” 
 
Então, o que você vai fazer na suas prova? Vai investigar qual foi a causa 
externa. Se foi a interferência de alguém, sugestão de alguém, desistência 
voluntária. Se foi uma luz que acendeu, um alarme que disparou, uma sirene que 
tocou, isto é tentativa. 
 
DIREITO PENAL I – DESISTENCIA E ARREPENDIMENTO 
 
3 
 
A jurisprudência não observa muito isso, mas as questões de concurso observam. 
*Salvo defensoria pública, em que, nas duas hipóteses você vai alegar que é 
desistência. 
 
 
 A desistência voluntária guarda um intento do legislador em compelir o agente a 
deixar de consumar o crime. Ao criar este benefício ao agente, o legislador dá a 
ele a possibilidade de não responder pelo que pretendia consumar, nem a título 
de tentativa, e sim pelo crime residual que porventura seus atos tenham revelado 
até aquele momento, e se não houve crime residual, não responder por nada. 
Mesmo por isso, esta chance que o legislador dá ao agente é chamada de ponte 
de ouro: o legislador estende esta ponte ao agente em execução, para que ele, 
desistindo de sua conduta, volte à legalidade, sem conseqüências mais graves do 
que aquelas que já tenham resultado de seus atos até então – resultados que, se 
não há, não há crime algum. 
Em suma, na desistência voluntária, o agente recebe a oportunidade de voltar à 
legalidade, fazendo com que o agente não responda pelo fato, mas apenas por 
aquilo que já tiver feito. 
 
 
OBS: Para diferenciar a desistência voluntária da tentativa, aplica-se a famosa fórmula 
de Frank, que diz que quando o agente “quer prosseguir, mas não pode”, trata-se da 
tentativa; quando “pode prosseguir, mas não quer”, trata-se da desistência voluntária. 
 
 
 
3) Consequência: Qual era a consequência da tentativa simples? Em regra (porque 
temos que lembrar do crime de atentado ou empreendimento), na tentativa 
simples, a consequência é reduzir a pena de 1 a 2/3. E na desistência voluntária? 
Não tem redução de pena. Ele responde pelos atos até então praticados. Olha a 
diferença! 
 
EXEMPLO: para ficar fácil: Eu quebrei a porta de um veículo para subtrair e desisti. Eu 
vou responder, não por tentativa de furto, mas por dano. Eu entrei num imóvel para 
furtar, desisti? Vou responder, não por tentativa de furto, mas por violação de domicílio. 
 
Agora vamos falar de uma coisa que só vai ter no seu caderno. 
 
 Adiamento da execução configura desistência voluntária? Você está no 
concurso e o examinador pergunta isso. “Excelência, nunca ouvi falar nisso, o 
senhor poderia dar um exemplo?” O sujeito vai furtar uma casa, começa tirando 
as telhas, para e pensa: “eu continuo amanhã porque agora estou cansado.” Ele 
adiou a execução para o dia seguinte. 
 
 Se ele for preso descendo do imóvel, ele é preso por tentativa de furto ou 
desistência voluntária? 
 E se ele é preso amanhã, antes de começar a remover a telha? Ele é preso 
por tentativa de furto ou por desistência voluntária? O mero adiamento 
da execução configura desistência voluntária? 
DIREITO PENAL I – DESISTENCIA E ARREPENDIMENTO 
 
4 
 
 
 1ª Corrente – “A desistência momentânea é irrelevante, devendo sempre 
ser definitiva (para essa corrente, há tentativa).” Desistência 
momentânea não interessa. Para configuraro art. 15, a desistência tem 
que ser definitiva. Aí, aplica-se o art. 14, II. 
 
 2ª Corrente – “Se o agente apenas suspende a execução e continua a 
praticar posteriormente, aproveitando-se dos atos já cometidos, temos 
tentativa; se, no entanto, o agente não renova a execução por sua 
própria vontade, haverá desistência voluntária.” Você removeu as 
telhas. Se você voltar lá e retomar a remoção de telhas, e for pego nesse 
momento, é tentativa. Prevalece a segunda corrente. Questão boa para 
concurso, principalmente Defensoria Pública. 
 
 
 ARREPENDIMENTO EFICAZ (art. 15) 
 
1) Previsão legal: O instituto é tão próximo à desistência voluntária que vem 
consignado no mesmo artigo 15 do CP: 
 
“Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou 
impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.” 
(grifo nosso) 
 
 Inclusive, as conseqüências de um e de outro são as mesmas: os agentes 
respondem apenas pelos atos já praticados até então. 
 
 Analisando o iter criminis como ele é, um “caminho do crime”, o 
arrependimento eficaz se dá num momento imediatamente após a completitude da 
execução, e imediatamente antes da consumação. 
 
2) Conceito: “O arrependimento eficaz ocorre quando após o término da 
execução o agente atua de forma eficaz e suficiente, impedindo que ocorra 
a consumação.” 
 
No arrependimento eficaz concluíram-se os atos executórios, nada mais havendo a ser 
feito, mas o agente atua por sua vontade e impede a consumação 
 ≠ 
A tentativa perfeita, ou acabada: alguma força alheia a sua vontade impede que a 
consumação se dê. 
 
 
O arrependimento eficaz esgota os atos executórios, mas impede o resultado, 
retroagindo, retrocedendo no seu comportamento, agindo de maneira inversa. Quem 
sabe me dizer o sinônimo de arrependimento eficaz? Isso está em Zaffaroni. Já foi 
dissertação de concurso. Imagine. Você está na prova: Disserte sobre 
RESIPISCÊNCIA.Dissertação é tudo. 
 
 
 
DIREITO PENAL I – DESISTENCIA E ARREPENDIMENTO 
 
5 
 
 
 
3) Consequência: A conseqüência, como dito na desistência, é impedir que 
haja imputação da tentativa, respondendo apenas pelo eventual delito que já 
se consumou na conduta, até então. 
 
EXEMPLO: Imagine-se que o agente envenena a vítima, mas antes que ela morra, leva-
a ao hospital e a salva a vida. Está configurado o arrependimento eficaz, e não 
responderá pela tentativa de homicídio. Contudo, imagine-se que a substância ingerida 
tenha causado uma lesão estomacal: o agente responderá por ela, pela lesão consumada. 
Mas cuidado: mesmo não havendo nenhuma lesão aparente, o agente ainda responderá 
pelo crime do artigo 132 do CP: 
 
“Perigo para a vida ou saúde de outrem 
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais 
grave. 
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição 
da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a 
prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo 
com as normas legais.” 
 
ELEMENTOS/ PRESSUPOSTOS: (1) – o arrependimento deve ser EFICAZ, impedir o 
resultado. 
Veja que se a vítima morre, mesmo o agente tendo envidado os mais extremos esforços 
para impedir a consumação, o crime originalmente intentado será consumado: o 
arrependimento não foi eficaz, não sendo aplicável o instituto. Todavia, aplica-se a este 
mero arrependimento (ineficaz) uma redução de pena, consignada no artigo 65, III, “b” 
do CP: 
 
“Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: 
(...) 
III - ter o agente: 
(...) 
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, 
evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, 
reparado o dano; 
(...)” 
 
(2) - O arrependimento eficaz só se aplica, por óbvio, aos crimes que dependem de 
resultado, pois do contrário a conduta praticada até o fim da execução (o que é seu 
pressuposto) terá correspondido, ela própria, à consumação, e por isso nada que o 
agente faça será eficaz para impedir a consumação – esta já ocorreu na finalização da 
execução. Por isso, por simples lógica, os crimes materiais são os únicos passíveis da 
aplicação do arrependimento eficaz, não sendo cabível em crimes formais ou de 
mera conduta. 
 Nos crimes formais, se o agente envidar esforços eficazes a fim de evitar o 
exaurimento – que é o resultado naturalístico de tais crimes, como visto –, não se tratará 
de arrependimento eficaz, e sim do mero arrependimento, causa de diminuição da pena, 
porque o crime, mesmo sem exaurir-se, se consumou. 
 
DIREITO PENAL I – DESISTENCIA E ARREPENDIMENTO 
 
6 
 
EM SUMA O arrependimento eficaz só é cabível em crimes materiais. No crime 
formal, se você esgotou a execução, não há arrependimento eficaz porque o crime já 
está consumado. Crime de mera conduta, se você esgotou a execução, também não há 
arrependimento eficaz porque o crime, também, já está consumado. Só é possível 
arrependimento eficaz, que é evitar a consumação, em crime material, em que a 
execução está separada do resultado. Cuidado com prova teste! Só é possível 
arrependimento eficaz em crime material. 
 
(3) 
Detalhe importante: O arrependimento também precisa ser voluntário e não 
necessariamente espontâneo, mas sempre eficaz. 
 
 
 
OBS: O legislador previu uma espécie de arrependimento eficaz especial para os crimes 
contra a honra: a retratação. Na verdade, este evento consiste em um arrependimento 
posterior com efeitos de arrependimento eficaz, sendo um instituto bem específico. 
 
“Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da 
calúnia ou da difamação, fica isento de pena.” 
 
 Diferenciar-se o arrependimento eficaz da desistência voluntária depende da 
correta interpretação do momento em que se findaram, se completaram, os atos 
de execução: ARREPENDIMENTO EFICAZ X DESISTENCIA 
VOLUNTÁRIA 
 
Para delimitar a separação entre estes institutos, há uma fórmula semelhante à de 
Frank, que pode ser aplicada: 
 
o agente “desiste daquilo que está fazendo, e se arrepende daquilo que já fez”. 
 
 
Na desistência eu tenho início da execução e não consumação por circunstâncias 
inerentes à vontade do agente = No arrependimento eficaz, tem-se o início da execução 
e a não consumação por circunstâncias inerentes à vontade do agente. Até aqui, não há 
nenhuma diferença. 
Qual será, então, a diferença entre desistência voluntária e arrependimento eficaz? No 
arrependimento eficaz, o agente esgota os atos executórios. Na desistência voluntária, 
ele abandona antes de esgotar os atos executórios (ainda havia ato executório para ser 
realizado). 
 
NATUREZA JURIDICA DOS INSTITUTOS: 
 
A natureza jurídica do arrependimento eficaz e da desistência voluntária é tema 
disputado por duas correntes doutrinárias. 
 
1º ENTD) A primeira, de Nélson Hungria, mais clássica, entende que são causas 
pessoais de exclusão da punibilidade do fato, o que significa que o indivíduo pratica os 
fatos, mas em razão de sua postura pessoal, não será punido como a tipicidade imporia. 
DIREITO PENAL I – DESISTENCIA E ARREPENDIMENTO 
 
7 
 
Em suma, afirma que existe tentativa pretérita, não punível por razões de política 
criminal. O legislador não pune a tentativa inicial por razões de política criminal, para 
fomentar a desistência e o arrependimento. 
 
2º ENTD) A segunda corrente, mais moderna, e que hoje prevalece entre os autores 
pátrios, diz que se tratam de causas de exclusão da tipicidade da conduta, fazendo com 
que a conduta do agente seja atípica. 
 
Vocês sabem que a tentativa é uma norma de extensão: Gera uma tipicidade indireta. Eu 
tenho a norma, que é ‘matar alguém’ e eu tenho o fato, que é tentar matar alguém. O 
tentar matarnão se ajusta ao art. 121. Eu preciso me socorrer do art. 14, II, para poder 
chegar na norma do segundo tipo. Então, a primeira corrente diz o seguinte: que a 
desistência voluntária e o arrependimento eficaz impedem a tipicidade indireta, logo, 
exclusão da tipicidade. A desistência voluntária e o arrependimento eficaz são 
circunstâncias inerentes à vontade do agente. Se é assim, eu não posso me socorrer 
do art. 14, II, logo, não há tipicidade. Isso porque o art. 14, II exige que a 
circunstância seja alheia à vontade. Se a circunstancia é inerente à vontade, eu não tenho 
como me socorrer da norma de extensão e se não tenho como me socorrer da norma de 
extensão, não há tipicidade. Por isso, você vai responder apenas pelos atos até então 
praticados. 
 
A conseqüência de se adotar uma ou outra natureza jurídica é relevante para a 
questão da comunicabilidade do instituto aos demais participantes do fato. 
 
 
 Adotando-se a primeira posição, a desistência e o arrependimento não se 
comunicariam aos participantes, 
 Enquanto na segunda tese, o afastamento da tipicidade leva a que a desistência 
ou o arrependimento se comunique a todos os colaboradores do crime, e por isso 
esta tese é majoritária. 
 
 
 
Arrependimento Posterior (art. 16) 
 
Este instituto está previsto no artigo 16 do CP: 
 
“Arrependimento posterior 
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, 
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da 
queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois 
terços.” 
 
Caminhando o iter criminis, este evento terá lugar após a consumação do fato. Como se 
consumou, não há aplicabilidade do arrependimento eficaz, mas este arrependimento 
posterior ainda será cabível. 
 
RESQUISITOS: 
 
DIREITO PENAL I – DESISTENCIA E ARREPENDIMENTO 
 
8 
 
1) O arrependimento posterior só pode ocorrer entre a consumação e o recebimento 
da denúncia ou da queixa. Após o início do processo, não mais será cabível sua 
aplicação. 
 
2) Além desse requisito, o arrependimento posterior só é aplicável em crimes SEM 
violência ou grave ameaça à pessoa, 
 
3) e desde que o dano causado tenha sido reparado, ou a coisa restituída, integral ou 
PARCIALMENTE (neste caso, com a aceitação da vítima). 
 
 
Se a reparação ou devolução da coisa for parcial, deve ser razoável, e só é relevante se a 
vítima a aceita. (pode haver complemento na esfera cível, independente da esfera penal) 
 
 ≠ 
 
A reparação ou devolução integral dispensa aceitação da vítima para que a benesse do 
arrependimento seja aplicada. (E, em um ou outro caso, pode haver complemento na 
esfera cível, independente da esfera penal.) 
 
4) Ato voluntário. Basta ser voluntário, ainda que não espontâneo. 
 
 
Consequência 
 
É claro que, nos casos de arrependimento posterior, o agente já consumou o fato, e por 
isso não há que ser tão beneficiado quanto na desistência voluntária ou no 
arrependimento eficaz. Por isso, como conseqüência, e por natureza jurídica, o 
arrependimento posterior é uma causa de diminuição de pena, apenas, como visto no 
artigo, a ser aplicada na terceira fase da dosimetria. 
 
Curiosamente, esta redução de pena, de um a dois terços, é idêntica à da tentativa. 
Esta equivalência não é mera coincidência. O legislador percebeu que, havendo o 
arrependimento posterior, a situação fática se assemelhará bastante àquela que teria 
ocorrido em caso de tentativa do mesmo delito. 
 
Veja: se o agente tenta furtar uma quantia da vítima, a situação teria terminado os atos 
executórios, sem alcançar a consumação – a pena do furto seria diminuída da minorante 
correspondente à tentativa; se o agente consuma o furto daquela quantia, e 
posteriormente se arrepende, devolvendo-a integralmente, os fatos se apresentarão da 
mesma forma: a vítima terá seu bem da vida, e o agente estará a merecer a diminuição 
como se tentado fosse, pois voltou a status que tinha antes de consumar o delito. 
 
É por isso que não há este instituto em crimes com violência ou grave ameaça, pois 
a situação fática nunca volta ao status quo ante nestes crimes: mesmo devolvendo o 
bem e reparando o dano, a violência e a ameaça não têm como ser desfeitas. 
 
 O critério para a gradação da diminuição da tentativa é jurisprudencial: 
quanto mais próximo da consumação, menor a diminuição, partindo 
DIREITO PENAL I – DESISTENCIA E ARREPENDIMENTO 
 
9 
 
sempre do valor maior para diminuir (sendo que a adoção de diminuição 
menor deve ser motivada). O mesmo raciocínio se transporta para o 
arrependimento posterior: Quanto mais rápida a reparação do dano ou 
a restituição da coisa, maior a redução. Quanto mais demorada, menor a 
redução. Então, a aplicação da redução é diretamente proporcional à 
presteza. 
 
 
 
 O arrependimento posterior de um corréu, se comunica aos demais 
coautores e partícipes? Um autor se arrepende. O arrependimento dele vai 
beneficiar os demais? 
 
1ª Corrente: Exigindo voluntariedade, o arrependimento é personalíssimo, não 
se comunicando aos concorrentes. Só faz jus ao benefício, quem se arrepende. 
Os demais não. No arrependimento posterior, para que os demais participantes 
do crime mereçam a atenuação, devem ter ativamente colaborado para a 
reparação do dano ou restituição da coisa, pois não haverá comunicação do 
arrependimento do autor, pura e simplesmente. No arrependimento posterior, 
apenas os participantes que tenham, eles próprios, demonstrado arrepender-se, 
operado voluntariamente na reparação, merecerão a diminuição da pena. Luiz 
Régis Prado. 
 
2ª Corrente: O arrependimento é circunstância objetiva comunicável. O 
arrependimento de um, se estende aos demais. A reparação feita por um, a todos 
aproveita. Entende que estamos diante de uma circunstancia objetiva 
comunicável. É a que prevalece. Eu não entendo como ela prevalece se exige 
voluntariedade. Como pode comunicar algo se só você agiu com voluntariedade 
e os demais não? Mas prevalece essa, que entende que é uma circunstância 
objetiva comunicável, se estendendo a todos os concorrentes do crime, mesmo 
aqueles que jamais se arrependeram. Luiz Flávio Gomes. 
 
 
 
 *Caberia arrependimento posterior no crime de roubo? 
 
RESPOSTA: A resposta depende da ausência da violência e grave ameaça na 
consumação do roubo: há, como se pode ver na parte final do artigo 157 do CP, 
roubo praticado quando o agente reduz a vítima à impossibilidade de qualquer 
resistência, o que se dá sem qualquer violência real ou grave ameaça: 
 
“Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave 
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, 
reduzido à impossibilidade de resistência: 
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 
(...)” 
 
Nesta situação, então, o roubo preenche o primeiro requisito de aplicabilidade do 
arrependimento eficaz: a ausência de violência ou grave ameaça. Veja que a 
jurisprudência inclui aqui, nesta parte final do artigo 157, a chamada violência 
imprópria, ou seja, o meio de redução da capacidade de resistência da vítima, sem 
DIREITO PENAL I – DESISTENCIA E ARREPENDIMENTO 
 
10 
 
violência real – é o caso clássico da dopagem da vítima, o famigerado “boa noite, 
Cinderela”. 
 
 
Observação: tem doutrina que nega arrependimento posterior no roubo mesmo quando 
a hipótese é de qualquer outro meio, reduzindo a impossibilidade de resistência porque 
diz que esse ‘qualquer outro meio’ não deixa de ser também uma espécie de violência. 
Violência imprópria, mas violência. Esse ‘outro meio’ não deixa de espelhar uma 
violência, tanto que é chamada de violência imprópria. Tem, então, uma minoria que 
nega arrependimento posterior para o roubo como um todo porque esse ‘qualquer outro 
meio’ é violência. Não é o que prevalece.

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