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R Direito e Mobilidade Social: Novos Desafios R www.lumenjuris.com.br Editores João de Almeida João Luiz da Silva Almeida Adriano Pilatti Alexandre Freitas Câmara Alexandre Morais da Rosa Augusto Mansur Aury Lopes Jr. Bernardo Gonçalves Fernandes Cezar Roberto Bitencourt Cristiano Chaves de Farias Carlos Eduardo Adriano Japiassú Cláudio Carneiro Cristiano Rodrigues Daniel Sarmento Diego Araujo Campos Emerson Garcia Conselho Editorial Fauzi Hassan Choukr Felippe Borring Rocha Firly Nascimento Filho Frederico Price Grechi Geraldo L. M. Prado Gustavo Sénéchal de Goffredo Helena Elias Pinto Jean Carlos Fernandes João Carlos Souto João Marcelo de Lima Assafim José dos Santos Carvalho Filho Lúcio Antônio Chamon Junior Luigi Bonizzato Luis Carlos Alcoforado Luiz Moreira Manoel Messias Peixinho Marcellus Polastri Lima Marco Aurélio Bezerra de Melo Marcos Chut Mônica Gusmão Nelson Rosenvald Nilo Batista Paulo de Bessa Antunes Paulo Machado Paulo Rangel Ricardo Lodi Ribeiro Rodrigo Klippel Salo de Carvalho Sérgio André Rocha Sidney Guerra Conselheiro benemérito: Marcos Juruena Villela Souto (in memoriam) Álvaro Mayrink da Costa Amilton Bueno de Carvalho Andreya Mendes de Almeida Scherer Navarro Antonio Carlos Martins Soares Artur de Brito Gueiros Souza Caio de Oliveira Lima Conselho Consultivo Cesar Flores Firly Nascimento Filho Flávia Lages de Castro Francisco de Assis M. Tavares Gisele Cittadino Humberto Dalla Bernardina de Pinho João Theotonio Mendes de Almeida Jr. Marcelo Ribeiro Ricardo Máximo Gomes Ferraz Sergio Demoro Hamilton Társis Nametala Sarlo Jorge Victor Gameiro Drummond Livraria Cultural da Guanabara Ltda - Centro Rua da Assembléia, 10/20º andar/ SL. 2022 - CEP: 20.011-000 - Rio de Janeiro - RJ Tel: (21) 3505-5888 Fax: (21) 3505-5865 - Fax Loja: (21) 3505-5872 Livraria Cultural da Guanabara Ltda - Centro Rua da Assembléia, 10/Loja G/H CEP: 20.011-000 - Rio de Janeiro - RJ Tel: (21) 3505-5888/ 5854/ 5855/ 5856 Livraria e Editora Lumen Juris Ltda - RJ Rua da Assembléia, 36/2º Andar/ SL. 201 à 204 - Centro CEP: 20.011-000 - Rio de Janeiro - RJ Tel: (21) 2508-6591/2509-5118 Site: www.lumenjuris.com.br Depósito - Lumen Juris - RJ Av. Londres. 491 - Bonsucesso CEP: 21041-030 -Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 3216-5888 Fax: (21) 3216-5864 São Cristóvão 2580-2907 BSA Serviço de Divulgação Ltda. Rua da Assembléia, nº 10/ Sala 2022 - Centro CEP: 20.011-000 - Rio de Janeiro - RJ Tel: (21) 3505-5888 Florianópolis - Lumen Juris - SC Rua Santa Fé, nº 234 - Bairro: Ingleses Florianópolis - SC - CEP: 88.058-345 Tel: (48) 3284-3114 (Fax) - (48) 3369-7624 Brasília - Lumen Juris - DF CLN 201 Bloco B - Loja 37 - Asa Norte CEP: 70.832-520 - Brasília - DF Tel/Fax: (61) 3225-8569 / VOIP 5896/5897 Porto Alegre - Lumen Juris - RS Rua Ijuí, 54 - Petrópolis CEP: 90460-200 - Porto Alegre - RS Tel/Fax: (51) 3211-0700 / VOIP: 5898/5899 São Paulo - Lumen Juris - SP Rua Correa Vasques, nº48 - Vila Clementino CEP: 04.038-010 - São Paulo, SP Tel.: (11) 5908-0240 / (11) 5081-7772 Belo Horizonte - Lumen Juris - MG Rua Araguari, 359 Sala 53 - 2ª andar Barro Preto CEP: 30.190-110 - Belo Horizonte - MG Tel: (31) 3292-6371 Salvador - Lumen Juris - BA Rua Dr. José Peroba nº 349 - Sala: 206 Costa Azul CEP: 41.770-235 - Salvador - BA Tel: (71) 3341-3646/3012-6046 Vitória - Lumen Juris - ES Rua Cloves Machado, nº 176 - Loja 02 Enseada do Suá CEP: 29.050-590 - Vitória - ES Tel: (27) 3345-8515/ Fax: (27) 3225-1659 Curitiba - Lumen Juris - PR Rua Treze de Maio, 506 Conj. 03 São Francisco, CEP: 80510-030 - Curitiba - PR Tel: (41) 3598-9092 GABRIELA MAIA REBOUÇAS VERÔNICA TEIXEIRA MARQUES (Coordenadoras) R Direito e Mobilidade Social: Novos Desafios R EDITORA LUMEN JURIS Rio de Janeiro 2012 Copyright © 2012 by Livraria e Editora Lumen Juris Ltda. Produção Editorial Livraria e Editora Lumen Juris Ltda. A LIVRARIA E EDITORA LUMEN JURIS LTDA. não se responsabiliza pela originalidade desta obra. É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, inclusive quanto às características gráficas e/ou editoriais. A violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal, art. 184 e §§, e Lei nº 10.695, de 1º/07/2003), sujeitando-se à busca e apreensão e indenizações diversas (Lei nº 9.610/98). Todos os direitos desta edição reservados à Livraria e Editora Lumen Juris Ltda. Impresso no Brasil Printed in Brazil | v | Sumário Apresentação ......................................................................................................... xiii PARTE I ACESSO À JUSTIÇA 1. Direito de Família e Controle Jurisdicional de Políticas Públicas ........................ 3 Caetano Lagrasta Neto 1. Introdução ................................................................................................................ 3 2. Atividade legislativa de expectativa e retrocesso social ........................................ 4 3. Leis promulgadas e postergadas ................................................................................. 5 4. A reserva do possível e suas repercussões na Família ............................................... 6 5. Londres, Chile e Vila Mariana .................................................................................. 7 6. Conclusão .................................................................................................................. 10 7. Bibliografia ................................................................................................................. 10 2. Cidadania e Acesso a Justiça .............................................................................. 19 Verônica Teixeira Marques Maria Anáber Melo e Silva Samyle Regina Matos Oliveira 3. O Direito à Saúde e os Juízes ............................................................................. 35 Alexandre Coutinho Pagliarini 1. Introdução ................................................................................................................. 35 2. Algumas Considerações Sobre a Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucio- nais Sobre Direitos Fundamentais ............................................................................ 37 3. Doutrinas Sobre a Atuação Judicial em Favor do Direito à Saúde ........................... 42 4. Conclusão .................................................................................................................. 54 4. Os meios alternativos de solução de conflitos nos Juizados Especiais Cíveis Bra- sileiros e nas Small Claims Courts de Nova Iorque: uma análise comparativa ..... 55 Leslie Shérida Ferraz 1. Introdução ................................................................................................................. 55 2. Juizados Especiais Cíveis: breve histórico e características gerais ............................ 56 3. Small Claims Courts: breve histórico e características gerais ................................... 59 4. A conciliação e a arbitragem nos Juizados Especiais Cíveis ..................................... 61 4.1. A audiência de conciliação e o conciliador nos Juizados Especiais Cíveis ......... 61 4.2. A audiência de instrução e o juiz das pequenas causas ..................................... 65 4.3. O cumprimento dos acordos nos Juizados Especiais Cíveis ............................... 66 | vi | 4.4. A arbitragem nos Juizados Especiais Cíveis ....................................................... 67 5. A conciliação e a arbitragem nas Small Claims Courts de Nova Iorque .................. 67 5.1. A conciliação nas Small Claims Courts ............................................................. 67 5.2. A arbitragem nas Small Claims Courts .............................................................. 68 6. Breves sugestões conclusivas ..................................................................................... 69 5. A justiça como equidade é incompatível com o modo de produção capitalista ... 73 PauloRenato Vitória 1. A justiça como equidade em Rawls ........................................................................... 73 2. O princípio da diferença e a propriedade dos meios de produção: uma discussão política e não moral ................................................................................................... 79 3. O paradoxo do etnocentrismo rawlsiano ................................................................... 87 4. Considerações finais .................................................................................................. 91 5. Referências bibliográficas........................................................................................... 92 6. A Moral e o Direito como Valores Indispensáveis para Construção e Consoli- dação do Estado Democrático de Direito ............................................................. 93 José Ronaldo Vieira de Almeida 1. Introdução ................................................................................................................. 93 2. A Moral Como Sistema da Doutrina da Virtude e o Mundo Plural ......................... 94 3. O Direito Como Reflexo de Valores de Convivência Permanentes e Variáveis ........ 95 4. Análise Comparativa entre Moral e Direito.............................................................. 96 5. Os Fundamentos da Legitimidade da Moral e do Direito ......................................... 97 6. O Estado Democrático de Direito e Seus Valores Essenciais ................................... 98 7. Conclusão .................................................................................................................. 99 7. Referência Bibliográfica ............................................................................................. 99 7. Habeas Corpus. Porte de Munição. Crime de Perigo Abstrato. Princípio da Ofen- sividade. Denúncia Inepta. .................................................................................. 101 Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho PARTE II NOVOS DIREITOS E SUBJETIVIDADES 8. Os Direitos Humanos contra os Direitos Humanos? O Caso da Diferença Cul- tural .................................................................................................................... 107 Rui Cunha Martins Bibliografia ..................................................................................................................... 114 9. Das Relações Públicas ao Neomenorismo: 20 Anos da Convenção Internacional Sobre os Direitos da Criança na América Latina (1989-2009) ........................... 117 Emílio García Méndez I. Introdução ................................................................................................................. 117 II. As perguntas ............................................................................................................. 119 III. As respostas ............................................................................................................. 121 IV. As etapas da Convenção na América Latina ........................................................... 124 V. O neomenorismo ....................................................................................................... 127 | vii | VI. O neomenorismo e a retórica da reação ................................................................. 129 VII. Conclusão: o problema da liberdade ...................................................................... 134 10. A Defesa de Adolescentes no Marco dos Instrumentos de Proteção dos Direi- tos Humanos ...................................................................................................... 137 Karyna Batista Sposato 1. Apresentação ............................................................................................................. 137 2. Violação de direitos .................................................................................................. 139 3. Pedagogismo Autoritário: Correção e Medo Versus Responsabilidade ..................... 144 4. Conclusões Preliminares ............................................................................................ 145 5. Bibliografia de Referência .......................................................................................... 146 11. Construções da Subjetividade Diante da Sociedade e do Estado. Um Desafio da Modernidade Tardia ...................................................................................... 149 Albano Marcos Bastos Pêpe 12. Subjetividades Nômades e Sistemas de Resolução de Conflitos: Um Olhar pa- ra a Mediação Familiar ........................................................................................ 157 Gabriela Maia Rebouças 1. Revirando a subjetividade e confrontando os sistemas de resolução de conflito. ..... 157 2. O olhar foucaultiano sobre um sujeito: sujeitos normalizados, sujeitos assujeitados, sujeitos nômades ........................................................................................................ 159 3. Os sistemas de resolução de conflito: das insuficiências do modelo judicial de lidar com a noção de subjetividade nômade à mediação. Propostas de uma nova prática .... 165 4. Considerações finais .................................................................................................. 167 5. Referências................................................................................................................. 169 13. Por um Estatuto Jurídico do Embrião Humano ................................................ 171 1. A vida humana embrionária e o Supremo Tribunal Federal ..................................... 171 2. Pluralismo e o Estado laico ........................................................................................ 175 3. A reprodução humana e o estatuto biológico do embrião humano .......................... 176 3.1. A concepção natural ........................................................................................... 177 3.2. A concepção medicamente assistida ................................................................... 177 3.3. A concepção: marco biológico da individualização biogenética e da vida hu- mana .................................................................................................................... 179 4. A concepção no direito brasileiro .............................................................................. 187 5. A reificação do embrião humano em situação extracorpórea ................................... 190 6. Autonomia sobre a vida de outrem e a óptica do semelhante .................................. 198 8. Pessoa no sentido biográfico ...................................................................................... 204 9. Esperança e Poder ...................................................................................................... 206 10. Considerações finais ................................................................................................ 208 14. A Proteção Jurídica dos Direitos dos Animais Não-Humanos: Leis e Juízes Pe- rante os Novos Direitos e as Novas Subjetividades do Século XXI ...................... 211 Enne Evelyn Gomes da Silva Ilzver de Matos Oliveira 1. Introdução ................................................................................................................. 211 | viii | 2. Abordagem Teórica Acerca da Subjetividade dos Animais Não-Humanos ............. 213 2.1. Animais Não-Humanos: Sujeitos ou Objetos do Direito? .................................. 213 2.2. Dignidade Animal e o Princípio da Igual Consideração de Interesses ............... 220 3. Legislação e Jurisprudência Brasileiras Sobre o Tema ............................................... 223 3.1. Animais Silvestres e Animais Domésticos: Tratamento Não Equitativo; Dife- rença Inexistente ................................................................................................. 223 3.2. Usode Animais na Pesquisa Científica e a Objeção de Consciência ................. 224 3.3. Invasão de Domicílio como Forma de Defesa de Animais em Risco .................. 225 3.4. Controle de Reprodução Animal como Forma de Evitar Abandono e Exter- mínio .................................................................................................................. 225 3.5. Habeas Corpus: Mecanismo Constitucional em Defesa da Liberdade ............... 226 4. Conclusão .................................................................................................................. 227 5. Referências................................................................................................................. 228 15. As Novas Entidades Familiares no Marco da Constitucionalização do Direito Civil .................................................................................................................... 233 Carlos Eduardo Santos Almeida 1. Introdução ................................................................................................................. 233 2. O Fenômeno da Constitucionalização do Direito Civil ............................................ 233 3. A Contribuição dos Princípios Constitucionais de 1988 Para os Novos Contornos das Famílias ................................................................................................................ 235 4. A Jurisprudência Enquanto Atividade Intelectual Reveladora da Dinâmica Fami- liar .............................................................................................................................. 237 5. Entidade Familiar: Uma Definição Pluralista ............................................................ 239 5.1. A Família Monoparental ..................................................................................... 240 5.2 A Família Anaparental ......................................................................................... 242 5.3. A Família Homoafetiva ....................................................................................... 243 5.4. A Família Recomposta ........................................................................................ 246 6. Considerações Finais ................................................................................................. 248 7. Referências................................................................................................................. 249 PARTE III MOBILIDADE SOCIAL: EDUCAÇÃO, ECONOMIA E SUSTENTABILIDADE 16. Direito Fundamental de Ação Trabalhista ........................................................ 253 Augusto César Leite de Carvalho 1. O temor de propor a ação como um valor jurídico ................................................... 253 2. Vetores positivos e negativos da ação trabalhista ...................................................... 255 2.1. A coletivização das demandas trabalhistas ......................................................... 255 2.1.1. Aspectos polêmicos das demandas coletivas: atos dispositivos, litispendência e coisa julgada .................................................................................. 258 2.2. A garantia de indenidade .................................................................................... 260 2.3. A prescrição - o receio de propor ação trabalhista e a prescrição das pretensões nascidas em alterações intercorrentes do contrato de emprego ......................... 262 2.3.1. A prescrição total contra a pretensão de matriz constitucional ................... 264 | ix | 2.3.2. A prescrição total e a possível influência do atual Código Civil no debate sobre a prescrição de pretensão fundada em nulidade ................................. 265 2.4. Os métodos excludentes de solução extrajudicial dos conflitos trabalhistas – a arbitragem em conflitos individuais e as comissões de conciliação prévia ......... 269 2.4.1. A opção social pela judicialização dos conflitos – aspecto cultural .............. 270 2.4.2. A arbitragem ................................................................................................. 273 2.5. A comissão de conciliação prévia ....................................................................... 276 3. Conclusões ................................................................................................................. 282 4. Referências bibliográficas........................................................................................... 282 17. Direito de Greve dos Servidores Públicos: A Difícil Concretização ................. 285 Maurício Gentil Monteiro 1. Introdução ................................................................................................................. 285 2. O direito de greve dos servidores públicos como direito fundamental ..................... 287 3. A inefetividade do direito de greve dos servidores públicos ..................................... 289 3.1. A fase inicial: a ausência de lei regulamentadora ............................................... 289 3.2. O STF e os mandados de injunção nº 670, 708 e 712 ........................................ 290 4. Vertentes interpretativas inviabilizadoras da efetividade do direito de greve dos servidores públicos ..................................................................................................... 292 4.1. Aplicação analógica da Lei nº 7.783/89 aos servidores públicos ........................ 292 4.2. O Art. 3º da Lei nº 7.783/89 e o esgotamento das negociações ......................... 294 4.3. O direito de greve em atividades essenciais ........................................................ 294 4.4. O mérito das reivindicações ................................................................................ 296 5. Conclusões ................................................................................................................. 296 6. Referências bibliográficas........................................................................................... 297 18. O Papel da Escola na Política de Acesso à Justiça ............................................ 299 Marlton Fontes Mota 1. Introdução ................................................................................................................. 299 2. O Exercício da Cidadania Através da Educação ....................................................... 300 3. Considerações Finais ................................................................................................. 310 4. Referências................................................................................................................. 311 19. O Direito ao Mínimo Existencial como Forma de Garantir a Proteção Decor- rente da Seguridade Social Para a População Idosa ............................................. 313 Katia Cristine Santos de Oliveira Fernanda Alves de Oliveira Machado 1. Apresentação ............................................................................................................. 313 2. A Proteção da População Idosa a partir da Constituição de 1988 ............................ 314 2.1. Conceitos de idoso .............................................................................................. 314 2.2. O idoso e a proteção à sua dignidade. ................................................................. 318 2.3. Direitos do Idoso ................................................................................................. 319 2.3.1. Direito à vida ................................................................................................ 321 2.3.2. Direito à liberdade ........................................................................................ 322 2.3.3. Direito à igualdade. ....................................................................................... 323 3. Proteção Social Ao Idoso. ........................................................................................325 | x | 3.1. A importância do Sistema da Seguridade Social para população idosa ............. 325 3.2. Os benefícios concedidos por cada subsistema de Seguridade Social. ................ 326 3.2.1. O acesso do idoso à saúde ............................................................................. 326 3.2.2. O idoso e a Previdência Social. .................................................................... 330 3.2.3. O idoso e a política de Assistência Social. ................................................... 332 4. O Idoso e o Direito ao Mínimo Existencial a Partir da Proteção Devida pelo Siste- ma da Seguridade Social ............................................................................................ 334 4.1 Direito ao mínimo existencial .............................................................................. 334 4.2. Reserva do possível X mínimo existencial. ......................................................... 335 5. Conclusão .................................................................................................................. 339 6. Referências Bibliográficas .......................................................................................... 340 20. A Trajetória das Mulheres e o Desenvolvimento Social: De Vítimas da Violên- cia a Agentes Modificadoras da Sociedade .......................................................... 343 Priscila Formigheri Feldens Fernanda Faistel 1. Introdução ................................................................................................................. 343 2. Caminho vencido: a conquista de direitos pelas mulheres frente à violência .......... 346 3. Caminho a seguir: as mulheres efetivando seus direitos e modificando a sociedade ...... 352 4. Conclusão .................................................................................................................. 355 5. Referências Bibliográficas .......................................................................................... 357 21. A Ineficácia das Penas na Lei dos Crimes Ambientais ...................................... 361 Franciele Faistel Grasielle Borges Vieira de Carvalho 1. Introdução ................................................................................................................. 361 2. A responsabilidade penal e o meio ambiente ............................................................ 362 3. A Lei dos Crimes Ambientais .................................................................................... 363 3.1. Da aplicação das penas/dosimetria...................................................................... 364 3.2. Das penas ........................................................................................................... 366 3.2.1. A pena privativa de liberdade....................................................................... 367 3.2.2. Restritivas de direitos .................................................................................... 367 3.2.3. Multa ............................................................................................................ 368 4. A Suspensão condicional da pena ............................................................................. 369 4.1. Considerações sobre as Sanções jurídicas aplicadas a pessoas físicas e jurídicas ... 370 5. Análise Jurisprudencial .............................................................................................. 370 6. A ineficácia da Lei ..................................................................................................... 374 7. Bibliografia ................................................................................................................. 375 22. Dentre o Samba, o Direito e a Natureza .......................................................... 377 Márcia Rodrigues Bertoldi Marcus Vinícius Ferreira Silva Araujo 1. Por amor à vida! ......................................................................................................... 378 2. Por um meio ambiente saudável, equilibrado, são e salvo! Algumas atitudes. ......... 380 3. Pela atitude de participação popular! ........................................................................ 382 | xi | 4. E o Direito? ............................................................................................................... 384 4.1. Artigo 225 da constituição federal de 1988: especial referência à norma-matriz ..... 385 5. Samba e Direito na construção do amor à natureza ................................................ 386 6. Referências................................................................................................................. 387 | xiii | Apresentação Gabriela Maia Rebouças Verônica Teixeira Marques É com satisfação que apresentamos o livro DIREITO E MOBILIDADE SO- CIAL: novos desafios, resultado da participação de juristas e pesquisadores nacionais e internacionais, que estiveram reunidos em Aracaju – SE, em agosto de 2011, na 10ª Semana Jurídica Nacional da Universidade Tiradentes (SENAJUR). No evento, foram apresentadas experiências e análises a respeito de temas que permeiam os direitos humanos, as políticas sociais e as novas fronteiras jurídicas, com a participação de mais de 1.500 estudantes, professores do Curso de Direito, pesquisadores do Núcleo de Pós-graduação em Direito da UNIT e convidados, que expuseram e discutiram intensamente durante três dias. Dividido em três eixos temáticos: (i) Acesso à justiça; (ii) Novos Direitos e Subjetividades; e (iii) Mobilidade Social: educação, economia e sustentabilidade, conforme a estruturação da própria Semana Jurídica, o livro conta com as contri- buições dos palestrantes e conferencistas, além de professores e estudantes de direito da UNIT, e oportuniza a reflexão sobre questões dos direitos humanos no âmbito da democracia, do contexto cultural, da sustentabilidade e das políticas públicas de proteção aos direitos sociais. Marco comemorativo, este livro coroa os dez anos do Evento, que desde seu nascedouro reúne em torno de uma temática atual e crítica juristas de todos os can- tos do Brasil, representantes da academia, da magistratura, da advocacia, promotoria e demais instituições de concretização do direito. Nas últimas edições, agregou a ex- periência estrangeira e ampliou o debate com juristas de Portugal e da Argentina. A consolidação da SENAJUR, que é projetada e executada por docentes, corpo técni- co/administrativo e discentes do curso de direito da UNIT, é uma representação fidedigna do amadurecimento e qualificação do nosso curso, assim como do desenvolvimento da Universidade como um todo, na articulação entre pesquisa, ensino e extensão. Na primeira parte do livro, intitulada Acesso à justiça, são apresentadas dis- cussões que tratam dos direitos sociais e suas garantias constitucionais a partir da análise de instrumentos de acesso à justiça, bem como debates sobre a cidadania e o Estado Democrático de Direito. No primeiro texto, Caetano Lagrasta Neto discute o | xiv | direito de família e controle jurisdicional de Políticas Públicas apresentando sua experiên- cia sobre essas questões enquanto Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Partindo da construção histórica do conceito de cidadania e sobre como está baseado na definição de Direitos Humanos, Verônica Teixeira Marques, Maria Aná- ber Melo e Silva e Samyle Regina Matos Oliveira discutem o ser cidadão como uma das condições para que o acesso à justiça seja alcançado. Abordando o papel dos juí- zes na construção de mecanismos que melhor atendam às necessidades da população, Alexandre Coutinho Pagliarini discorre sobre a necessidade de ampliação, de forma gradativa, do direito à saúde que se pretende universal. Aprofundando a problematização sobre o acesso à justiça através de análi- se comparativa, Leslie Shérida Ferraz discute os Juizados Especiais Cíveis no Brasil e as Small Claims Courts americanas,pontuando como o modelo americano sofreu modificações em sua importação que comprometeram o funcionamento das Cortes Especiais no Brasil. Paulo Renato Vitória realiza uma leitura da teoria de Rawls sobre a justiça, demonstrando a incompatibilidade entre a equidade e capitalismo, enquanto José Ronaldo Vieira de Almeida contribui para o entendimento de que a Moral e o Direi- to, apesar de possuírem contornos distintos, têm uma verdadeira relação de comple- mentariedade e consistem em valores indispensáveis na construção e consolidação do Estado Democrático de Direito. A primeira parte da obra é finalizada pelo desem- bargador Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho, com o Acórdão - Habeas Corpus. Porte de Munição. Crime de Perigo Abstrato. Princípio da Ofensividade. De- núncia Inepta. Subsídio para a reflexão da política criminal brasileira nos contornos do Estado democrático de Direito. Na segunda parte, Novos Direitos e Subjetividades, Rui Cunha Martins es- creve sobre a disputa entre direitos humanos contra os direitos humanos, trabalhan- do o caso da diferença cultural. Considerando as promessas não cumpridas da moder- nidade, Emílio Garcia Méndez discute sobre os 20 anos da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e do Adolescente “(...) com a dose adequada de indigna- ção moral e paciência histórica que um desafio como esse nos impõe”. Tratando tam- bém dos Direitos da Criança e do Adolescente, Karyna Batista Sposato reflete sobre as principais causas de violações aos direitos civis e políticos de adolescentes acusados, demonstrando que a categoria adolescentes em conflito com a lei ainda não foi efetivamente alcançada pelos princípios e regras de que dispõe a Convenção Internacional das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e do Adolescente de 1989. Para falar sobre a subjetividade, Albano Marcos Bastos Pêpe parte da análi- se de que os mecanismos constitutivos da pré-compreensão do mundo da vida, da autocompreensão dos atores sociais e da compreensão das representações linguisti- | xv | camente estabelecidas, estão intimamente vinculadas aos procedimentos históricos da evolução das relações sociais e das formas de poder-saber-lei instituídos. Gabriela Rebouças defende que para formas plurais de subjetividade de sujeitos, necessitamos de formas plurais de resolução de conflitos: sua proposta é diversificar a complexi- dade do sistema jurídico para permitir que as distintas diferenças possam se realizar, voltando seu olhar para as questões de família. Refletindo sobre a “coisificação” dos embriões humanos, Renata Braga Kle- venhusen defende que o fato do embrião em situação extra-corpórea não poder ser sujeito de proteção jurídica significa restringir a dignidade da pessoa humana a de- terminado período da vida, de forma que toda a sua extensão torna-se prejudicada. E Enne Evelyn Gomes da Silva em parceria com Ilzver de Matos Oliveira discutem sobre a ideia de igualdade entre seres, como parâmetro para que as causas jurídicas que versam sobre Direitos Animais não fiquem sem a devida resposta, chamando a atenção para a necessidade de pensar sobre a efetiva constituição de mecanismos para a proteção jurídica dos direitos dos animais não humanos. Para fechar a segunda parte da obra, Carlos Eduardo Almeida sintetiza seu estudo monográfico e escreve sobre a inovação da jurisprudência que ampliou o rol das entidades familiares pela via constitucional no Direito de Família. A terceira e última parte da obra, Mobilidade Social: educação, economia e sustentabilidade é iniciada com o capítulo de Augusto César Leite de Carvalho, professor e ministro do Tribunal Superior do Trabalho, que trata da coletivização das demandas e a garantia de identidade como vetores que conduzem ao aperfeiçoamento da ação trabalhista, e sobre a prescrição e os métodos excludentes de solução extrajudicial do conflito como vetores negativos, que operam como mecanismos de frenagem à ple- na realização, pela via judicial, dos direitos sociais. Na discussão sobre condições de trabalho, outro capítulo destaca a questão: Maurício Gentil Monteiro discute sobre o direito de greve dos servidores públicos, reflete sobre a ausência de elaboração da lei específica prevista após mais de vinte anos de vigência da Constituição e as interpre- tações judiciais da Lei n° 7.783/89. Em outro capítulo, Marlton Fontes Mota apresenta uma proposta de incre- mento do ensino jurídico básico nas áreas ligadas à formação da personalidade do cidadão, de forma que os fundamentos teorizados em sala de aula possam contribuir para a evolução social, política, econômica e jurídica da comunidade, sendo a mais efetiva e rápida via de acesso à cidadania e à democratização de direitos. Katia Cristine Santos de Oliveira e Fernanda Alves de Oliveira Machado ana- lisam a proteção do idoso a partir da Constituição de 1988, abordando a relevância do Sistema de Seguridade Social em relação às pessoas com idade avançada, com ênfase nos benefícios e serviços disponibilizados por cada subsistema de Seguridade | xvi | Social. Priscila Formigheri Feldens e Fernanda Faistel discutem sobre como a busca pela conquista de direitos das mulheres em relação às formas de violência sofridas ao longo dos tempos foram significativamente relevantes para o desenvolvimento social. Finalizando a obra, não poderíamos deixar de apresentar discussões relevan- tes sobre sustentabilidade. Franciele Faistel e Grasielle Borges Vieira de Carvalho discutem a responsabilidade penal ambiental frente à Lei dos Crimes Ambientais, pontuando como essas penas são ineficazes e demonstrando que a finalidade da pena para o direito penal não tem o mesmo sentido que para o direito ambiental. E final- mente, Márcia Rodrigues Bertoldi e Marcus Vinícius Ferreira Silva Araujo chamam a atenção sobre como a música pode ser um notável recurso no ensino e aprendizagem do Direito, divulgando uma perspectiva de justiça na defesa de interesses individuais, coletivos e difusos. É preciso registrar que a organização desta obra, tão diversificada em temas, autores, formas e estilos de escrita, primou pela preservação na íntegra das contri- buições, inclusive nos elementos de formatação, formas de citação e no tamanho dos textos porque entendemos que a singularidade de cada contribuição e seu respectivo autor possibilita a leitura do capítulo por si ao tempo em que as conexões necessárias entre eles para a construção da obra estão firmadas pelo debate vivenciado durante a SENAJUR de 2011, assim como pela experiência acadêmica conjunta entre os autores - docentes e discentes. Convidamos a todos à leitura desta obra, fazendo com que as ideias aqui reu- nidas possam reverberar em outros espaços, para o enfrentamento dos desafios que o direito e a mobilidade social nos impõem. Aracaju, dezembro de 2011 R PARTE I ACESSO À JUSTIÇA R | 3 | 1. Direito de Família e Controle Jurisdicional de Políticas Públicas*1 Caetano Lagrasta Neto**2 Sumário: 1.Introdução. 2 – Atividade legislativa de expectativa e retrocesso social. 3 – Leis promulgadas e postergadas. 4 – A reserva do possível e suas repercussões na Família. 5 – Londres, Chile e Vila Mariana. 6 – Conclusão. 7 – Bibliografia. 1. Introdução A noção de Família neste Século XXI desprendeu-se do conceito de pater, au- toritário e dono do núcleo familiar, voltando-se para aquele do afeto, da liberdade, do respeito, e da solidariedade. Não mais está a mulher submissa ou os filhos aos deveres de cega obediência, submetidos todos a uma dependência econômica humilhante. A igualdade entre homem e mulher ou entre os participantes do núcleo familiar, prende-se à luta por um mínimo existencial, dirigido à garantia da dignidade da pessoa humana. No dizer de GOMES e PEREIRA (2005) há que para tanto buscar-se a justa distribuição de renda, ante um quadro de pobreza e miséria, e que seja capaz de garantir aquele mínimo de dignidade sem o qual o indivíduo será consideradoem situação de indignidade. Assim, é fundamental promover e apoiar famílias vulnerá- veis, minimizando a pobreza e garantindo o acesso “à educação, saúde, alimentação, moradia e proteção integral às suas crianças e adolescentes” e, por que não?, a uma ordem jurídica justa. E completa: “Não dá para se falar em políticas públicas eficazes sem se dar destaque à família como potencializadora destas ações. Ajudar a família mostra-se a única possibilidade de a sociedade se desenvolver dignamente”. * Palestra apresentada no dia 31 de agosto de 2011, durante a 10ª Semana Jurídica Nacional da UNIT. ** Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e Presidente da Coordenadoria de Estudos, Planejamento e Acompanhamento de Projetos Legislativos do Tribunal de Justiça de São Paulo, Consultor da Comissão de Família e Sucessões da OAB/SP | 4 | Caetano Lagrasta Neto Neste sentido o art. 3º, III, da CF, quando traça objetivo fundamental da Re- pública: “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”, construindo uma sociedade livre justa e solidária. A lição de TORRES (2009) explicita que o desenvolvimento econômico deve ser justo “para que se torne legítimo. Não é ele que cria a ordem jurídica justa, senão que o ordenamento justo é que propicia as condições para o desenvolvimento. Em nome do crescimento econômico não se pode postergar a redistribuição de rendas, nem ofender a direitos humanos, nem atentar contra o meio ambiente, nem justificar a corrupção dos políticos” (p. 23). O mesmo autor define: “Não é qualquer direito mínimo que se transforma em mínimo existencial. Exige-se que seja um direito a situações existenciais dignas. (...) A dignidade humana e as condições materiais da existência não podem retroceder aquém de um mínimo, do qual nem os prisionei- ros, os doentes mentais e os indigentes podem ser privados” (p. 36 - grifei). Desta forma, a família constitui-se no principal elemento para a aplicação do mínimo existencial, desde que objeto de políticas públicas constantes. 2. Atividade legislativa de expectativa e retrocesso social A partir da Emenda Constitucional 66/2010, que definiu o divórcio no seu âm- bito exclusivo e sem qualquer referência ou admissão infraconstitucional à separação, verificam-se comportamentos judiciais e jurídicos de retrocesso social. Conforme o posicionamento de SARLET (2009): “além das circunstâncias de que a proibição de retrocesso não protege apenas a dignidade da pessoa humana e o mínimo existen- cial, o que se afirma é que a própria noção de segurança jurídica, no âmbito de uma constituição que consagra direitos sociais, não pode ficar reduzida às tradicionais figuras da tutela dos direitos adquiridos ou da irretroatividade de certas medidas do poder público, exigindo, portanto, uma aplicação em sintonia com a plena tutela e promoção dos direitos fundamentais em geral, incluindo os direitos sociais” (p.127). Desta forma, a atitude de alguns juízes de negar vigência à norma constitucio- nal do divórcio, sob alegações despidas de conteúdo jurídico e que, de forma indis- farçável, demonstram ou desconhecimento ou desvio ideológico, se constituem em evidente retrocesso social. Outra não pode ser a conclusão quanto a acórdão paradigma da Corte Supre- ma, que permitiu uniões homoafetivas, enquanto sentenças, seguidas pelos mesmos desvios, negam-se a observar o precedente, inclusive para impedir a conversão dessa união estável em casamento. Os exemplos se multiplicam a demonstrar o retrocesso social ou mesmo o desrespeito à garantia do mínimo existencial, trazendo seus atores ao espaço da indig- | 5 | 1. Direito de Família e Controle Jurisdicional de Políticas Públicas nidade. Estados como Pernambuco e Goiás, através de providências administrativas, admitem seja o nome do devedor de alimentos lançado no cadastro de maus paga- dores, ou ainda, seja o título executivo judicial objeto de protesto, constituindo-se em meios mais eficazes até do que a própria prisão do devedor. Em São Paulo, nada obstante a falta de qualquer diretriz não se conseguiu impedir que muitos juízes e acórdãos a admitam e determinem. Ainda na esfera administrativa, ao menos no Estado de São Paulo, não há solução para a anotação da união estável homoafetiva no Registro Civil. Evidente retrocesso social que impede o exercício pleno da cidadania e coloca o interessado em posição de desprestígio e inferioridade, não passando de atitude preconceituosa e de agressão à própria Constituição. Perfunctória análise indica que estas atitudes ou providências se dirigem ou se afastam à garantia de um mínimo existencial, que preserve a dignidade da pessoa humana enquanto componente do núcleo familiar, seja no reconhecimento de uma união, seja na garantia de pagamento da pensão alimentícia e, muitas vezes, da so- brevivência. Outra hipótese de retrocesso social é encontrada na recusa de criação de Câmaras Especializadas de Família e Sucessões, quando o gigantismo e acúmulo de ações e recursos, no Estado de São Paulo, permitiu a formação de acervo de mais de meio milhão de processos, dentre os quais se encontram questões de família no aguar- do de solução desde os idos de 2001. Não há estatísticas ou estudos sobre os reflexos desta morosidade na dignidade das pessoas envolvidas e no aguardo da prestação jurisdicional, mas, sua presença é intuitiva, diante de inegável agressão aos direitos humanos. Não se duvida que esta omissão possa conduzir ao reconhecimento da responsabilidade das diversas administrações da Corte, numa eventual ação coletiva. 3. Leis promulgadas e postergadas Outras leis foram promulgadas, porém o aparato estatal não forneceu meios adequados à sua aplicação. A Lei Maria da Penha revelou a espantosa estatística de agressões sofridas (“Para cada cem mulheres assassinadas, 70 o são no âmbito de suas relações” (...) “Essa estrutura precisa ser priorizada no Orçamento e não pode ser alvo de cortes”, conforme denunciam FEGHALI e MARIA DA PENHA – 2011), nem sempre atingindo os mais afastados rincões ou mesmo permitindo efetividade de solução nos grandes Centros. A Lei da Guarda Compartilhada também padece de retrocesso social, diante da atitude de alguns magistrados, negando-se à sua aplicação ou o fazendo apenas quando exista acordo – o que sem dúvida se constitui em um non sense, visto que a | 6 | Caetano Lagrasta Neto intervenção do juiz será obrigatória exatamente quando haja o litígio – e, o que é mais grave, a omissão legal deixou de definir o domicílio da criança ou do adolescen- te, como elemento essencial à sua concretização. Por fim, mas não como último, a Lei de Alienação Parental, vetou a mediação e, evidentemente, o fez por inexistir mediadores ou conciliadores capacitados, em número suficiente para a demanda do país, nada obstante a proposta de Política Pública para este segmento, formulada pelo Ministro CEZAR PELUSO, Presidente do Supremo Tribunal Federal, mediante a Resolução n. 135, do Conselho Nacional de Justiça, constituindo-se em bom exemplo de Política Pública a criação de roteiros ou cartilhas dos direitos e de sua aplicação, com envolvimento de órgãos de classe, tribunais e a OAB. Idêntica a problemática quanto a formação dos peritos em alienação parental e a sua necessária especialização – para exame e parecer na questão, hoje, das mais espinhosas na vida das famílias, em razão de sequelas crônicas . Evidentemente que não há negar limitação orçamentária imposta pelo Execu- tivo, como no caso do Tribunal de Justiça de São Paulo, onde a previsão atingia R$ 12.000.000,00, sendo aprovados R$ 5.000.000,00, com reflexos óbvios nas Políticas Públicas previstas. Estes indicativos demonstram que apesar das leis ou de sua falta, na proteção a um mínimo existencial, as formas de retrocesso social, ainda que não evidentes, refletem a educação ideológica que as impede. Outros segmentos estão na mesma situação como é o caso da Política Nacional Antidrogascom suas intermináveis discussões sobre ser matéria da Saúde ou da Se- gurança ou sobre o atendimento do drogado em sanatório ou na própria residência, dividindo o Estado a responsabilidade de um Programa de Saúde, com as famílias, em geral, desestruturadas e vulneráveis. Não é outra a constatação da Política de Assistência Social, conforme MIOT- TO, SILVA e SILVA (2007), quando o relacionamento das pessoas aos seus territó- rios, ante a precária intervenção estatal, estende a análise aos espaços urbanos que “passaram a ser produtores e reprodutores de um intenso processo de precarização das condições de vida, da presença crescente do desemprego e da informalidade, de violência, ‘da fragilização dos vínculos sociais e familiares’, ou seja, da produção e re- produção da exclusão social, expondo famílias e indivíduos a situações de risco e de vulnerabilidade” (citação e grifos das AA.). 4. A reserva do possível e suas repercussões na Família A aplicação da reserva do possível se submete a que “somente poderá ser in- vocada se houver comprovação de que os recursos arrecadados estão sendo disponi- | 7 | 1. Direito de Família e Controle Jurisdicional de Políticas Públicas bilizados de forma proporcional aos problemas encontrados, e de modo progressivo a fim de que os impedimentos ao pleno exercício das capacidades sejam sanados no menor tempo possível” (COUTINHO, LIMA e BARRETO, na citação de TORRES, p. 107 op. cit.). O mesmo doutrinador confirma que: “A ‘reserva do possível’ não é aplicável ao mínimo existencial, que se vincula à reserva orçamentária e às garantias insti- tucionais da liberdade, plenamente sindicáveis pelo Judiciário nos caos de omissão administrativa ou legislativa” (idem, pp. 105 e s.). Na dicção do Ministro CELSO DE MELLO, ao despachar a ADPF 45 indica- -se que a conduta esperada do Poder Público não lhe permite ao manipular “sua ati- vidade financeira e/ou político-administrativa – criar obstáculo artificial que revele o ilegítimo, arbitrário e censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e a preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de condições materiais mínimas de existência” (ibidem, pp.108 e s.). Não é outra a situação quanto à concessão de sequestro de rendas públicas o que obrigou no Estado de São Paulo a criação de novo tipo de precatório, denomina- do “humanitário” e não apenas “alimentar”, visando garantir um mínimo existencial ao idoso e ao doente, assim compelido diante da incerteza e demora dos julgamentos das Cortes superiores, a permitir “o pagamento da despesa pública sem prévia autori- zação orçamentária” (op.cit. p.97). Ocorre que, se assim não fizesse, apenas aqueles que possuem bons advogados e dinheiro para pagar honorários é que conseguiriam o sequestro de rendas públicas. Constata-se, desta forma, que as circunstâncias, as leis, os julgamentos, admi- tem o retrocesso social e a aplicação da reserva do possível, mesmo que de forma mascarada, porém sempre em detrimento da família, de sua dignidade e da imposter- gável concessão do mínimo existencial, também por ausência de Políticas Públicas consistentes. Qual o resultado da aplicação da Emenda Constitucional n. 31, de 14 de dezembro de 2000, que acresceu artigos (79 a 81) ao Ato das Disposições Cons- titucionais Transitórias e criando o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza? Tem havido controle de arrecadação e aplicação nos diversos âmbitos da estrutura do Estado? 5. Londres, Chile e Vila Mariana Ao cabo, há que mencionar a repetição de movimentos de massa, a indicar insatisfação e revolta com agressões e vítimas e sem explicação aparente. A mobilidade social é fenômeno de fronteiras e costumes, não só entre esta- dos, como entre países. Os exemplos dos EUA e do México, ou de descendentes de | 8 | Caetano Lagrasta Neto imigrantes para o Japão (decasséguis) não podem deixar de ser considerados, uma vez que possuem o mesmo substrato de outros fenômenos que se repetem em outras regiões do planeta ou em centros urbanos, conservando seus atores à margem de qualquer direito. Na movimentação internacional, observa-se a remoção de alicerces lama- centos e de cultuadas personalidades de regimes ditatoriais, hoje especialmente no Oriente Médio. Evidenciando-se, contudo, estreita conotação à geopolítica na ten- tativa de um redesenho territorial, ao gosto de tardio colonialismo. Por óbvio, tais hipóteses não serão objeto de apreciação neste breve e prévio estudo do controle jurisdicional de políticas públicas, nada obstante evidencie que, na sua ausência, os jovens e famílias inteiras vêm-se reduzidos à indignidade, ante cega submissão aos produtos de um tardio capitalismo global. ŽIŽEK (2011) reafirma esta conclusão ao comparar os 700 bilhões de dólares “gastos somente pelos Estados Unidos para estabilizar o sistema bancário com o fato, de que até agora, dos 22 bilhões de dólares prometidos pelos países mais ricos para ajudar o desenvolvimento da agricultura nos países mais pobres diante da crise de alimentos, só 2,2 bilhões foram liberados” (p. 75), bastando esta circunstância ater- radora para iniciar a formação de novas levas de imigrantes e de miseráveis. Assim, os jovens residentes – ou imigrantes – de Londres e do Chile talvez pretendam atingir aquilo que os jovens de Maio de 68, na França, tentaram, sem con- seguir. O mesmo ŽIŽEK, analisando e citando MILNER, afirma que “o establishment conseguiu desfazer todas as consequências ameaçadoras de 1968 pela incorporação do chamado ‘espírito de 68’”, voltando-o, assim, contra o verdadeiro âmago da revol- ta. As exigências de novos direitos (que causariam uma verdadeira redistribuição do poder) foram atendidas, mas apenas a guisa de “permissões” – a sociedade permissiva é exatamente aquela que amplia o alcance do que os sujeitos têm permissão de fazer sem, na verdade, lhes dar poder adicional: Os que detêm o poder conhecem muito bem a diferença entre direito e permissão. [...] O direito, no sentido estrito da palavra, dá acesso ao exercício de um poder à custa de outro poder. A permissão não diminui o poder de quem a concede, não aumenta o poder de quem a recebe. Torna a vida mais fácil, o que não é pouca coisa. É o que acontece com o direito ao divórcio, ao aborto, ao casamento gay e assim por diante; são todos permissões mascaradas de direitos; não mudam em nada a distribuição de poder.” (p. 58). E, conclui: “Embora Maio de 68 visasse a atividade total (e totalmente politizada), o “espírito de 68” transpôs isso para uma pseudoativi- dade despolitizada (novos estilos de vida etc), a própria forma da passividade social. Uma das consequências disso foram as recentes explosões de violência nos subúrbios, desprovidas de qualquer conteúdo utópico ou libertário”. Mas, forçoso será concluir, nem mesmo esta permissão está sendo concedida no Brasil. | 9 | 1. Direito de Família e Controle Jurisdicional de Políticas Públicas Por sua vez, o fenômeno “Vila Mariana” refere-se a bairro da classe média que de repente se viu invadido por pequenos grupos de meninas, com idades entre 4 e 12 anos, que se apropriam do que lhes aparece, em qualquer rua, comércio e sem preferência de objeto: roupas, comida, algum eletrônico, enfim, a pretender a tomada de um estilo de vida. A ameaça se resume à presença destes seres maltrapilhos e é o ponto final da desagregação ou de qualquer resquício de proteção ao seu melhor interesse. Subdelinquentes em busca do mínimo existencial, da dignidade de pes- soas humanas, subprodutos dos vídeos e das lições subliminares da propaganda de consumo do capitalismo – talvez confundida com estilo de vida – e que lhes têm sido negado, desde o nascimento, tornando-as presa fácil do crime organizado ou das di- versas espécies de máfia. Neste sentido FORGIONE (2011), presidente da Comissão Parlamentar Antimáfia italiana, ao analisar as diversas ramificações entre países e os inúmeros processos contra a organização criminosaitaliana. Alhures denunciei o crescimento de organizações criminosas e a ampliação do fenômeno do “aliciamento de jovens por organizações mafiosas e/ou traficantes de substâncias psicoativas. Estes, ao se estabelecerem nos centros de miséria (favelas, cortiços etc.), utilizam-se de estruturas de poder abandonadas pelo Estado, organi- zando-se em células, garantidas por expressivos sistemas de segurança. Ao proteger os moradores e minorias excluídas garantem-lhes, de alguma forma, alimentação, saúde e segurança, empregando-lhes os filhos. Por sua vez, a população protege-os através da lei do silêncio, enaltecendo-os como verdadeiros benfeitores. As chacinas, na estatística geral, estão dirigidas aos maus pagadores ou aos transportadores de droga (mulas, aviões) desatentos. Esta forma perversa de sociedade nulifica a autori- dade dos pais, facilita a delinqüência nas ruas e o abandono escolar, sem contar com o tráfico internacional de órgãos e de recém nascidos, além da prostituição infantil. Valores anteriormente considerados como sagrados são, diariamente, colocados em xeque pelos delinquentes, pelos cidadãos e pelas próprias vítimas, enquanto o Estado se omite, deixando de apresentar soluções. Consolidam-se, desta forma, os estados de crise, com evidente repercussão na Família e no seu Direito” (LA- GRASTA, 2000, p. 72). Como remate, é evidente que os movimentos da juventude, em diversas cidades do mundo, não pretendem alcançar utopias ou liberdade; mas, apenas alcançar objetivo definido: a retomada da dignidade da pessoa humana, a partir da constatação de que de nada adianta o diploma se não se tem emprego; se a redistribuição de renda e o nível dos salários não os retiram do nível da pobreza; se vivem em total desigualdade social sem atingir o mínimo existencial de ree- quilíbrio pessoal e do núcleo familiar, por ausentes o acesso à saúde, à educação, à segurança, à Justiça, e assim vai. | 10 | Caetano Lagrasta Neto 6. Conclusão Programas sociais, como bolsas de estudo; bolsa família; auxílio desemprego, dentre outros, incentivam a mobilidade social, a partir do acesso à educação, à sub- sistência mínima, ao subemprego e, de alguma forma, à dignidade. Assim, ensina-se a pescar àqueles que ainda têm braços. Ocorre que, à falta de políticas públicas – secos os rios ou poluídos rios e mares – não há falar em pescar e o retorno à indigência será sempre marcada pela revolta. 7. Bibliografia FEGHALI, Jandira e PENHA, Maria da – Lei Maria da Penha: Cumpra-se! – Folha de S. Paulo, opinião A3, 24 de agosto de 2011. FORGIONE, Francesco – Máfia Export – como a ‘ndrangheta, a Cosa Nostra e a Ca- morra colonizaram o mundo – Bertrand Brasil, 2011. GOMES, Mônica Araújo e PEREIRA, Maria Lúcia Duarte – Família em situação de vulnerabilidade social: uma questão de políticas públicas – Ciência e Saúde Coletiva, 10 (2) :357-363. 2005. GRINOVER, Ada Pellegrini e WATANABE, Kazuo – O Controle Jurisdicional de Políticas Públicas – Editora Forense. 2011. LAGRASTA, Caetano Neto – Direito de Família – a família brasileira no final do século XX – Malheiros Editores, 2000. MIOTTO, Regina Célia Tomaso, SILVA, Maria Jacinta da, SILVA, Selma Maria Muniz Marques da – Políticas Públicas e Família - estratégia para enfrentamento da questão social – III Jornada Internacional de Políticas Públicas, São Luís – MA, 28 a 30 de agosto de 2007. SARLET, Ingo Wolfgang – Notas sobre a assim designada proibição de retrocesso social no Constitucionalismo Latino-Americano – Revista TST, Brasília, vol. 75, if 3, jul/ set 2009. TORRES, Ricardo Lobo – O Direito ao Mínimo Existencial – Renovar. 2009. ŽIŽEK, Slavoj – primeiro como tragédia, depois como farsa – Boitempo Editorial, 2011. Respostas às perguntas formuladas durante a Semana Jurídica em 31 de Agosto de 2011 1P: Qual sua posição sobre o quinto constitucional (art. 941 CF) e a nomeação para os Tribunais superiores em especial STJ e STF? | 11 | 1. Direito de Família e Controle Jurisdicional de Políticas Públicas R: Há sempre dois pontos de vista a serem analisados; o primeiro, é a importância desses mecanismos de nomeação à medida que buscam dar maior representati- vidade da sociedade nos quadros da carreira. Assim, quanto mais diversificada é a origem dos integrantes do Poder, maior a sua legitimidade; por outro lado, muitas vezes as nomeações acabam se tornando “moeda de troca”, atendendo interesses meramente políticos, trazendo pessoas submetidas a interesses que não os da sociedade. 2P: O Supremo nos últimos tempos vem adotando uma postura “muito ativa”. Tal posicionamento não seria uma “Ditadura do judiciário”. Sobre tal tema podemos citar a decisão que reconheceu a União homoafetiva. R: O Poder Judiciário , adotando o chamado “ativismo”, tem atuado justamente onde os outros Poderes – por desinteresse, omissão ou timidez – têm deixado de dar efetiva aplicação às normas constitucionais, que ao meu ver, são de apli- cação imediata, ainda que cunhadas de “normas de mero conteúdo programá- tico”. Se visam à garantia do mínimo existencial, normas de eficácia limitada (ou seja, aquelas cuja aplicação depende da edição de uma lei complementar) devem ser prontamente aplicadas. Diante da inércia dos Poderes Legislativo e Executivo o Poder Judiciário acaba por se tornar o último refúgio e tem que vir em socorro do jurisdicionado. Em razão dessa atuação protetiva, e em resposta aos anseios da sociedade transformada, conjugada com as liberdades indivi- duais e garantias sociais, é que o Supremo tem atribuído valores interpretativos mais amplos à norma constitucional positivada. 3P: As relações homoafetivas no sentido das garantias, podem englobar tam- bém as relações de “união estável”? Que pode se estabelecer no sentido da dignidade da pessoa humana. R: Igualdade é igualdade; ao se partir de premissa de que todos são iguais, essa igualdade independe, além da cor, sexo, raça e credo, também abrange a orien- tação sexual; portanto, todos os efeitos do reconhecimento da União Estável entre homem e mulher aplicam-se à união estável e ao casamento entre pes- soas do mesmo sexo e ambas merecem a proteção integral do ordenamento jurídico sob pena de ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana. 4P: O jurista Fábio Comparato é partidário da corrente de pensamento que defende que; a pessoa humana deve figurar no ápice do ordenamento jurí- dico. Confrontando com a “teoria pura do direito” de Kelsen, a corrente de pensamento do jurista é vanguardista. Como o senhor se posiciona na se- | 12 | Caetano Lagrasta Neto guinte questão; elevar a pessoa humana ao ápice do ordenamento jurídico de modo a o posicionar acima da própria Carta Magna. Como fazer de utopias jurídicas, realidades sociais, a começar pelo papel dos Magistrados? R: A visão do indivíduo no ápice, para quem se converge em última análise todo ordenamento, ganha força nos séculos XX e XXI com as regras de sobredirei- to e mecanismo de proteção internacionais. A nossa Constituição busca dar proteção integral e incondicional ao indivíduo revestindo seu próprio texto com liberdades e garantias consideradas cláusulas pétreas. Cabe ao Poder Judi- ciário, atuar essa proteção ao caso concreto, independentemente de leis no já referido ativismo judiciário (ver resposta à 1P). 5P: O sr. Acha justo o governo oferecer um auxílio aos filhos de Presidiários de R$ 800,00 quando o salário mínimo é de R$ 540,00? Onde está a dig- nidade do pai de família Trabalhador? R: Previdenciário não é a minha área; mas, ao que me recordo o valor de auxílio aos dependentes do preso – pago pelo INSS – implica na qualidade de segura- do (ou seja, precisa estar contribuindo para a Previdência Social ou estar no período de graça) e é proporcional ao salário que recebia quando trabalha- va. De qualquer maneira, o auxílio é mesmo devido, talvez até em proporção maior ao piso mínimo percebido por quem trabalha, pois o preso tem situação agravada, está privadoda liberdade, incapaz de auferir renda, além disso, ao ser libertado dificilmente consegue emprego... não é porque a pessoa comete um crime e sofre pena de segregação, que deve ser escorraçada da sociedade; mais uma vez, tenta-se garantir o mínimo existencial para a preservação da dignidade da pessoa humana. 6P: As secretárias domésticas estão adquirindo cada vez mais garantias, o que está perfeitamente de acordo com o princípio da dignidade humana. Como o senhor vê essa questão? Estamos caminhando para o total desprestígio da pessoa humana? R: Tenho a impressão de que houve equívoco na formulação da pergunta; em todo o caso, vou tentar responder... a ampliação dos direitos do empregado doméstico está realmente em perfeita consonância com o princípio da digni- dade humana, eis que pretende estender a gama de proteção prevista na CF no capítulo II das garantias sociais (artigo 6º da CF), sem que haja neste qualquer discriminação quanto a categorias profissionais. 7P: Porque os Brasileiros fogem/correm de políticas públicas? | 13 | 1. Direito de Família e Controle Jurisdicional de Políticas Públicas R: Não há fuga; falta, algumas vezes, vontade política na implantação das políti- cas públicas, cabendo à sociedade pressionar e fiscalizar pela correta atuação das diversas esferas de poderes dentro dessas diretrizes. 8P: Quais os principais desafios que deverão ser enfrentados pelo Poder Judiciário no tocante à efetivação de direitos que dependem de políticas públicas? R: O principal desafio é ponderar entre os direitos individuais e coletivos; por exemplo, na área da saúde, a ação cominatória julgada procedente pelo Ju- diciário impondo aos município arcar com tratamentos médicos ou medica- mentos de alto custo para o tratamento da doença de um munícipe, pode comprometer o orçamento para a efetivação de campanhas de vacinação, etc, destinadas a toda população. No mais, é preciso que o Judiciário aja com cora- gem e criatividade nas decisões, para assim assumir o protagonismo de decisões protetivas, em detrimento da leniência dos demais Poderes. 9P: Prof. Lagrasta: A União Homoafetiva foi reconhecida pela Suprema Corte, porém houve um Magistrado do Estado de Goiás que negou o reconheci- mento, contrariando o STF. Qual a sua opinião acerca desse fato polêmico, que dividiu a sociedade brasileira? R: A decisão do STF não tem caráter vinculante, de tal sorte, que não causa espanto a inaplicabilidade por todos os magistrados brasileiros; todavia, diante da importância da decisão que deu efetiva aplicação ao princípio da igualdade consti- tucionalmente previsto (artigo 5º), o não reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo – e desde que preenchidos os requisitos deste instituto: afeto, publicidade, estabilidade, fim de constituir família – caracteriza inevitável retrocesso social , cuja proibição é princípio implícito da Constituição Federal. 10P: Esse retrocesso social seria pela falta de valores da sociedade que vivemos, ou seja a busca por dignidade elaborada pelos nossos pais? R: A dignidade da pessoa humana é um conceito que evolui com o próprio pen- samento humano. Atribui-se ao pensamento estóico e ao cristianismo os pri- meiros registros do tema; a cada mergulho da Humanidade em períodos de opressão, instabilidade institucional, ditadura, esse princípio norteador ganha mais força, envolvendo vários aspectos como igualdade, liberdade, integridade psicofísica e solidariedade. Desta forma, quanto mais evoluída a sociedade, maior a gama de proteção a esses direitos humanos. Há retrocesso social, ao menos sob o enfoque das decisões do Poder Judiciário, o mais das vezes, em razão de desvio ideológico-religioso. | 14 | Caetano Lagrasta Neto 11P: Muito se fala da importância da família na formação ético e moral do in- divíduo (havendo inclusive de maneira exclusiva a delinquência à má-for- mação familiar). Qual a importância do controle jurisdicional das políticas públicas para o efetivo exercício deste papel da família? R: Primeiro é preciso esclarecer o que é “má-formação familiar” que a meu ver está relacionada à falta de socioafetividade como vínculo entre seus elementos. Assim família mal-formada não encontra correspondência com a concepção plu- ralista dessa que continua sendo a unidade base da sociedade. Assim, as políticas públicas não só protetivas, mas de incentivo à tolerância, são realmente funda- mentais para conservar um meio ambiente familiar saudável para o desenvol- vimento do indivíduo em toda sua plenitude. O controle jurisdicional dessas políticas cumpre, por sua vez, papel fundamental ao fiscalizar e até redirecio- nar a atuação dos Poderes Executivo e Legislativo dentro dessas diretrizes. 12P: Gostaria de saber o nome do filme que foi mencionado sobre a alienação parental. Obrigado. R: O nome do filme é “A Morte Inventada”, de Alan Minas; mais informações no site http://www.amorteinventada.com.br/. 13P: Dr. Caetano Lagrasta. O senhor com a sua imensa experiência como ma- gistrado, qual seu ponto de vista com relação ao STF na decisão a favor das uniões homoafetivas. O senhor acha que o STF legislou, ao invés de exercer seu papel de guardião da CF? R: Em absoluto. Justamente por ser o guardião da CF não excedeu seu papel pois deu efetiva aplicação aos principais princípios norteadores de todo o ordena- mento: liberdade, igualdade e dignidade da pessoa humana. 14P: Na conjuntura pela qual se encontra nosso país, acredito que a falta de Políticas Públicas, ou mesmo do cumprimento das que já existem, seja mesmo por falta de exigência de nós mesmos como cidadãos. Falta de cida- dania. O senhor partilha da mesma idéia! R: Sim: não exigimos, por um lado, e por outro falta vontade política ou coragem naqueles que devem cumprir essas diretrizes. 15P: Senhor, a alienação parental não estaria já imposta por exemplo na perda do Poder de família, em alguns casos podem gerar sérios problemas psi- cológicos na criança. Esse veto na punição não só traria a impunidade, também desrespeito ao Princípio da Dignidade Humana? | 15 | 1. Direito de Família e Controle Jurisdicional de Políticas Públicas R: O artigo 6º da Lei nº 12318/10 traz vários mecanismos de coibição da conduta dolosa do alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV - determinar acom- panhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental. O veto no projeto de lei sobre alienação parental é apenas no que diz respeito à criminalização da conduta, e acaba por perder importância ante as previsões já contidas na própria Constituição Federal, na Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José), do qual o Brasil é signatário e previsões no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código Penal, que contemplam mecanismos de punição, desnecessária a sanção de natureza penal. A intensidade do dolo ou o grau da culpa poderá permitir – dentro da previsão constitucional –, até mesmo, a prisão do aliena- dor ou a colocação de tornozeleira eletrônica, para os reincidentes nos casos de mudança injustificada de domicílio. O primeiro, é crime de tortura, o segundo é desrespeito ao dever de dizer a verdade perante o Processo e não atentar contra a jurisdição, conforme os arts. 339 e 14, ambos do CPC. 16 P: Em relação aos anseios ou as conquistas sociais do momento, qual o pocio- namento majorante dos tribunais paulistas. Ex: casamento homoafetivo, adoção entre os casais homoafetivos, etc. R: Infelizmente o Tribunal de Justiça de São Paulo é um, dos mais conservado- res do país. Exemplo disso é que temos Câmaras Especializadas em Falência e Direito Empresarial e Marcas e Patentes, mas há grande resistência para a im- plantação de Câmaras Especializadasem Direito de Família. Recente mutirão e redistribuição de recursos represados no TJSP demonstrou que questões de família remontam, até, ao ano de 1998. 17P : Segundo o senhor disse a política pública se resume em garantir a dignida- de do ser humano, mas o que acontece quando a dignidade de uma pessoa lhe é tirada injustamente? R: Qualquer afronta à dignidade da pessoa humana é injusta e encontra os mecanismos de coibição expressos na própria Constituição Federal com ampla expressão na legislação penal. Em outro âmbito, a Secretaria de Di- reitos Humanos (órgão da Presidência da República que formula, coordena e articula as políticas públicas voltadas para a proteção e promoção dos di- reitos humanos no Brasil), atua em diálogo com a sociedade civil, visando | 16 | Caetano Lagrasta Neto a inclusão dos diversos segmentos sociais em programas e planos de direitos humanos. Por fim, destaca-se o papel das decisões judiciais, como impres- cindível mecanismo de controle social das políticas públicas de Direitos Humanos. 18P: Até que ponto o princípio da reserva do possível pode ser aplicado no Bra- sil Democrático onde os oprimidos são, por vezes, esquecidos? R: A escusa usada pelo Estado para deixar de dar efetividade aos direitos so- ciais (em especial saúde e educação) baseia-se na restrição orçamentária. A Jurisprudência tem atuado afastando a reserva do possível quando com- promete o mínimo existencial. Essa argumentação evoluiu e hoje o Poder Judiciário se defronta com o paradigma “direito individual x direito da co- letividade”. 19P: A decisão do STF a respeito da união homoafetiva, salvo engano, diz que se deve aplicar, por analogia, naquilo que couber a união estável. A lei quando trata da conversão da união estável em casamento é taxativa quan- do diz que deve ser feito entre homem e mulher. Pergunto: não estão inter- pretando de maneira equivocada a decisão do Supremo? R: Reconhecida a igualdade entre os indivíduos, independentemente de sua orientação sexual, não há nenhum obstáculo a que o vínculo socioafetivo que os une seja reconhecido como união estável ou casamento. A interpreta- ção literal, gramatical, “homem e mulher” é a mais fraca e deve ceder espaço à interpretação teleológica da norma. Desta forma, não há nenhum impedi- tivo seja para o reconhecimento da união estável, conversão em casamento ou mesmo habilitação para o casamento homoafetivo, além da anotação no Registro Civil. 20P: Já que o senhor discorda da opinião do Professor Elpídio Donizetti, refe- rente ao acórdão da União Homoafetiva, o senhor é contra a edição de uma lei que de fato regule a União homoafetiva, uma vez que seria mais eficaz uma alteração na lei, ao invés de um Acórdão? R: Não sou contra a edição de uma lei que regulamente a união homoafetiva; ao contrário, com entusiasmo vemos tramitar no Congresso o Estatuto das Famílias e o da Diversidade Sexual. Todavia, acredito que não há necessidade de lei, diante dos princípios constitucionais que já garantem proteção integral a todos os indivíduos, independentemente de sua orientação sexual, conforme decidiu a Suprema Corte. | 17 | 1. Direito de Família e Controle Jurisdicional de Políticas Públicas 21P: O Sr. acredita que o Poder Judiciário está preparado para atender as de- mandas das novas formas de família (família homoafetiva e famílias mono- parentais, por exemplo?) R: Preparado não está, mas o pensamento jurídico tem evoluído para acompa- nhar a demanda da sociedade; consequentemente, a mudança da mentalidade também se opera de forma gradual dentro do Poder Judiciário. 22P: Entendo seu argumento sobre o internamento psiquiátrico, mas gostaria de destacar que a reforma psiquiátrica, que felizmente está hoje em anda- mento no Brasil, não pretende a desassistência , mas uma assistência que procure o mínimo de dignidade, diferente ‘do internamento’ que nunca tra- tou ninguém, exercendo uma violência terrível sobre os internos que acabam por perder todas as suas referências sociais e não sabem mais viver livres de muros e grades. Os manicômios nunca promoveram saúde, é só ir lá para ver. R: A situação dos manicômios é crônica. Desde os tempos de Lima Barreto o abandono, as sevícias, os maus tratos, enfim todas as formas de tortura e de- samparo são ali encontradas. Uma política antimanicomial é talvez o último refúgio de um tratamento digno, ao invés de atirar o doente mental num depó- sito de pessoas. Ocorre, contudo, que este princípio deve ser objeto de preparo especialmente para as famílias e para o próprio doente. Este, quando colocado em liberdade – especialmente nos casos de cumprimento de Medidas de Se- gurança – é possível a permanência de um estado de desequilíbrio e violência, implicando em não ter espaço na sociedade para sua reinserção e, mesmo, na família ou que continua desestruturada ou que se reestruturou e não tem mais lugar para ele. Lembre-se do caso do “bandido da luz vermelha” que, depois de 30 anos “cumprindo medida de segurança” ao ser colocado em liberdade, acabou assassinado por aquele que o recebera... para reinserção. 23P: Atualmente tem se falado da relativização da coisa julgada nos casos de reconhecimento de paternidade. Na sua opinião essa “revisão” da senten- ça transitada em julgado gera insegurança jurídica? Gostaria que o senhor fizesse um esclarecimento acerca da reserva do possível: cabe ainda utilizá- lo para a não realização de políticas públicas? R: De forma alguma, não há trânsito em julgado quando se trata de adquirir a certeza da origem. Quanto à reserva, creio ter respondido acima. CAETANO LAGRASTA Desembargador | 19 | 2. Cidadania e Acesso a Justiça Verônica Teixeira Marques* Maria Anáber Melo e Silva** Samyle Regina Matos Oliveira*** Cidadania pode soar como novidade democrática, mas não o é! Independente dos vários sentidos por ventura formulados, em linhas gerais representa a participa- ção do indivíduo nas decisões do Estado ou mesmo o seu grau de consciência para garantir determinados direitos ou exigir da administração pública atuação eficiente. A cidadania também é entendida como exercício não só de direitos, mas de deveres do cidadão comum. Renato Janine Ribeiro alerta em seu livro “A democracia” 1, que a concepção de cidadania na modernidade vem impregnada da concepção de cidadania antiga e que há um saudosismo em relação à cidadania grega, sustentada nos princípios de parti- cipação direta e no ideário de bem público. Esse saudosismo acontece porque todos os cidadãos gregos participavam das decisões políticas nas ágoras, porém nem todos os indivíduos eram cidadãos, e é aí que consiste o equívoco do enaltecimento feito à cidadania grega. O que se tem é uma pseudo-igualdade de condições, pois não havia, de fato, a utópica igualdade de participação no mundo grego. Na obra Politics de Aristóteles, são apontadas características políticas conside- radas como pré-requisito da cidadania, mas se comparadas com a realidade dos países democráticos na atualidade, poder-se-iam não ter muito efeito prático, já que “(...) * Doutora em Ciências Sociais pela UFBA, Mestre em Ciências Políticas pela UFPE, pesquisadora do Instituto de Tecnologia e Pesquisa – ITP, professora-pesquisadora do Curso de Direito e do Núcleo de Pós-graduação em Direito da UNIT/SE. veronica.marques@hotmail.com ** Mestre em Ciências Sociais pela UFRN, doutoranda em Direito pela Universidade de Coimbra, especialista em Direito Processual pela UFSC, especialista em gestão estratégica e qualidade pela UNIT, advogada, analista de controle externo do Tribunal de Contas de Sergipe, professora do Curso de Direito da Universidade Tiraden- tes. anabermelo@yahoo.com.br *** Bolsista de Iniciação Científica e graduanda do Curso de Direito da Universidade Tiradentes, Aracaju/SE. samyleregina@hotmail.com 1 RIBEIRO, Renato Janine. A Democracia. São Paulo: Publifolha, 2001a. pp.14-15. | 20 | Verônica Teixeira Marques / Maria Anáber Melo e Silva / Samyle
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