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Gestão da Cadeia de Suprimentos Créditos Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância Diretor Regional Luciana Marcheze Miguel Luiz Francisco de Assis Salgado Luciana Saito Mariana Valeria Gulin Melcon Superintendente Universitário Mônica Maria Penalber de Menezes e de Desenvolvimento Mônica Rodrigues dos Santos Luiz Carlos Dourado Nathália Barros de Souza Santos Reitor Paula Cristina Bataglia Buratini Sidney Zaganin Latorre Renata Jessica Galdino Sueli Brianezi Carvalho Diretor de Graduação Thiago Martins Navarro Eduardo Mazzaferro Ehlers Wallace Roberto Bernardo Diretor de Pós-Graduação e Extensão Equipe de Qualidade Daniel Garcia Correa Ana Paula Pigossi Papalia Gerentes de Desenvolvimento Aparecida Daniele Carvalho do Nascimento Claudio Luiz de Souza Silva Gabriela Souza da Silva Luciana Bon Duarte Vivian Martins Gonçalves Roland Anton Zottele Coordenador Multimídia e Audiovisual Sandra Regina Mattos Abreu de Freitas Adriano Tanganeli Coordenadora de Desenvolvimento Equipe de Design Audiovisual Tecnologias Aplicadas à Educação Adriana Matsuda Regina Helena Ribeiro Caio Souza Santos Coordenador de Operação Camila Lazaresko Madrid Educação a Distância Carlos Eduardo Toshiaki Kokubo Alcir Vilela Junior Christian Ratajczyk Puig Danilo Dos Santos Netto Professor Autor Hugo Naoto Ricardo Souza Cerqueira Inácio de Assis Bento Nehme Revisor Técnico Karina de Morais Vaz Bonna Fátima Guarda Sardeiro Lucas Monachesi Rodrigues Marcela Corrente Técnico de Desenvolvimento Marcio Rodrigo dos Reis Regina de Freitas Jardim Ferraz Renan Ferreira Alves Naiana Guimarães Souza e Silva Renata Mendes Ribeiro Coordenadoras Pedagógicas Thalita de Cassia Mendasoli Gavetti Ariádiny Carolina Brasileiro Silva Thamires Lopes de Castro Izabella Saadi Cerutti Leal Reis Vandré Luiz dos Santos Nivia Pereira Maseri de Moraes Victor Giriotas Marçon William MordochEquipe de Design Educacional Alexsandra Cristiane Santos da Silva Equipe de Design Multimídia Angélica Lúcia Kanô Alexandre Lemes da Silva Cristina Yurie Takahashi Cláudia Antônia Guimarães Rett Diogo Maxwell Santos Felizardo Cristiane Marinho de Souza Elisangela Almeida de Souza Eliane Katsumi Gushiken Flaviana Neri Elina Naomi Sakurabu Francisco Shoiti Tanaka Emília Correa Abreu Gizele Laranjeira de Oliveira Sepulvida Fernando Eduardo Castro da Silva João Francisco Correia de Souza Juliana Quitério Lopez Salvaia Mayra Aoki Aniya Jussara Cristina Cubbo Michel Iuiti Navarro Moreno Kamila Harumi Sakurai Simões Renan Carlos Nunes De Souza Karen Helena Bueno Lanfranchi Rodrigo Benites Gonçalves da Silva Katya Martinez Almeida Wagner Ferri Lilian Brito Santos Gestão da Cadeia de Suprimentos Aula 01 Introdução ao Gerenciamento das Cadeias de Suprimentos Objetivos Específicos • Conhecer e compreender os principais conceitos do gerenciamento estratégico e de sustentabilidade nas cadeias de suprimentos. Temas Introdução 1 Definições de supply chain management 2 Questões fundamentais na gestão da cadeia de suprimentos 3 Objetivo da cadeia de suprimentos 4 O processo de uma cadeia de suprimentos Considerações finais Referências Ricardo Souza Cerqueira Professor Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 2 Introdução A gestão da cadeia de suprimentos é orientada por alguns conceitos básicos subjacentes que não mudaram muito ao longo dos séculos. Por exemplo, alguns séculos atrás, Napoleão Bonaparte fez uma notável observação: “Um exército marcha sobre seu estômago”. Napoleão era um mestre estrategista e também um general extremamente hábil. Essa observação mostra o quanto ele entendeu da importância daquilo que hoje chamaríamos de uma cadeia de suprimentos eficiente. A menos que os soldados sejam alimentados, o exército não pode se mover. Nessa mesma linha, há outro ditado que diz: “Amadores falam sobre estratégia, enquanto profissionais falam sobre logística”. As pessoas podem discutir sobre todos os tipos de grandes estratégias ou sobre manobras militares arrojadas, nenhuma ação será possível sem primeiro descobrir como atender as demandas do dia a dia do funcionamento de um exército, tais como combustível, peças de reposição, comida, abrigo e munição. São as atividades aparentemente burocráticas desenvolvidas pelos intendentes ou pelos sargentos de abastecimento que muitas vezes determinam o sucesso de um exército. Isso tem muitas analogias no mundo dos negócios. A expressão supply chain management (SCM), gerenciamento da cadeia de suprimento, surgiu no início dos anos 1980, em uma entrevista com o consultor Keith Oliver da empresa de consultoria Booz Allen, que foi publicada no Financial Times. Nessa época, vários pioneiros, dentre eles empresários, consultores e também acadêmicos, tais como Douglas Lambert, Ronald Ballou e outros, publicaram os primeiros estudos sobre cadeias de suprimentos e as possibilidades de gerenciamento destas, fazendo com que essa expressão já fosse amplamente utilizada ao longo da década de 1990. Antes disso, as empresas, para designar esse mesmo conjunto de ações, usavam termos como “logística” e “gestão de operações”. Na presente aula exploraremos algumas das definições e dos conceitos envolvidos no conjunto de ações de gerenciamentos de uma cadeia de suprimentos. 1 Definições de supply chain management Por ser um assunto amplo e complexo, ainda não é uma tarefa fácil definir o preciso significado de gerenciamento da cadeia de suprimentos. Examinando-se as publicações mais relevantes sobre o tema, encontram-se algumas das definições adotadas pelas maiores autoridades sobre o que é considerado um gerenciamento da cadeia de suprimentos. Vejamos algumas delas: • Segundo Lambert et al. (1998), “a cadeia de abastecimento é o alinhamento das empresas que trazem produtos ou serviços para o mercado”. • Na visão de Chopra e Meindl (2003): Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 3 “A cadeia de suprimentos consiste em todos os estágios envolvidos, direta ou indiretamente, no cumprimento de um pedido do cliente. A cadeia de suprimento não inclui apenas o fabricante e os fornecedores, mas também transportadores, armazéns, varejistas e os próprios clientes.” • Já segundo os pesquisadores Ganeshan e Harrison (1995): “A cadeia de suprimentos é uma rede de serviços e opções de distribuição que desempenham as funções de aquisição de materiais, a transformação desses materiais em produtos intermediários e acabados e a posterior distribuição desses produtos para os clientes.” Resumidamente, das definições citadas, pode-se inferir que a cadeia de abastecimento também poderia ser definida como sendo “as coisas que fazemos para influenciar o comportamento da cadeia de fornecimento e obter os resultados específicos que queremos”. Por serem essas definições muito amplas e abrangentes, outras definições de gestão da cadeia de suprimentos tornam-se convenientes ou mesmo necessárias para complementarem esse conjunto de ações e nos esclarecerem a respeito do tema. Examinando-se outras autoridades igualmente relevantes, temos as seguintes definições: • O gerenciamento da cadeia de suprimentos é: Segundo Mentzer, et al., 2001, “A coordenação sistêmica e estratégica das funções tradicionais de negócios que, aliadas às táticas aplicadas a essas mesmas funções, tanto no âmbito de uma empresa em particular quanto de todos os demais negócios que ocorrem dentro da cadeia de abastecimento desta, tem a finalidade de melhorar o desempenho a longo prazo de todas as empresas individuais ao longo da cadeia de suprimentos como um todo.”1 • O conselho de profissionais em logística (Council of supply chain management professionals) define o gerenciamento da cadeia de suprimentos como: “O processo de planejamento,implementação e controle do fluxo e do armazenamento eficiente e rentável de matérias-primas, materiais em processo e produtos acabados, assim como também das informações relativas a esse fluxo, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes.”2 • Segundo Pires (2004), a cadeia de suprimentos é: “Um modelo gerencial que busca obter sinergias através da integração dos processos de negócios-chaves ao longo da cadeia de suprimentos. O objetivo principal é atender ao consumidor final e outros stakeholderes da forma mais eficaz e eficiente possível, ou seja, com produtos e/ou serviços de maior valor percebido pelo cliente final obtido através do menor custo possível.” 1 MENTZER, J. T.; DeWITT, W.; KEEBLER, J. S; MIN, S.; NIX, N. W.; SMITH, C. D.;ZACHARIA, Z. G.; Defining supply chain management. in: Journal of Business Logistics, 2001. 2 CSCMP Supply Chain Management, disponível em http://cscmp.org/about-us/supply-chain-management-definitions, acesso em 11/03/2014 ás 00h14min, em livre tradução do autor. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 4 Juntando todos esses conceitos e definições, podemos resumir: a gestão da cadeia de suprimentos é a coordenação de produção, estoques, localização e transporte entre os participantes da cadeia de produção visando alcançar a melhor combinação de capacidade de resposta e eficiência para o mercado a ser servido. Note-se que há uma significativa diferença entre o conceito de gestão da cadeia de suprimentos e o conceito tradicional de logística. Logística normalmente se refere às atividades que ocorrem dentro dos limites de uma única organização, enquanto a gestão da cadeia de suprimentos refere-se a redes de empresas, fornecedores, intermediários e clientes que trabalham juntos e sobre como coordenar as ações individuais desse conjunto de parceiros para entregar, no final da cadeia, um único produto ou serviço para o mercado. Além disso, a logística tradicional centra sua atenção em atividades como aquisição, distribuição, manutenção e gerenciamento de estoques. Já a gestão da cadeia de suprimentos reconhece não apenas os aspectos da logística tradicional, mas também inclui atividades como marketing, desenvolvimento de novos produtos, finanças e atendimento ao cliente. Na visão mais ampla do pensamento da cadeia de suprimentos, essas atividades adicionais são agora vistas como parte do trabalho necessário para atender às solicitações dos clientes, pois se examina a cadeia de suprimentos e as organizações nela contidas como se fosse uma entidade única. Dessa forma, torna-se possível fazer uma abordagem sistêmica, que nos auxilia na compreensão e na gestão das diferentes atividades que são necessárias para se coordenar o fluxo de produtos e serviços, obtendo-se melhor resultado tanto para o cliente final quanto para o investidor. A abordagem sob a ótica de sistemas fornece a estrutura lógica que melhor responde às necessidades de negócios que, de outra forma, pareceriam estar em permanente conflito uns com os outros. Tomadas individualmente, as diferentes necessidades da cadeia de suprimentos são, muitas vezes, conflitantes. Por exemplo, para atender a exigência de manutenção de elevados níveis de serviço ao cliente pode-se decidir pela necessidade de se manterem altos níveis de estoques, porém, em seguida, a exigência para operar com eficiência pode exigir a redução dos níveis de estoque. Apenas quando esses requisitos são vistos juntos, como partes de um conjunto maior, é que podemos encontrar formas de equilibrar, de forma eficaz, essas conflitantes demandas. Ao longo dos anos 2000, duas novas demandas foram incorporadas aos conceitos de gerenciamento da cadeia de suprimentos já existentes: a questão da logística reversa e a da sustentabilidade. Governos e consumidores, preocupados com o impacto resultante de suas atividades sobre o meio ambiente, têm levado produtores de bens de consumo a adotarem mecanismos que garantam o recolhimento e a correta disposição de embalagens e resíduos de seus processos produtivos. Assim, os fluxos de materiais ao longo dos canais da cadeia de suprimentos deixaram de ser considerados de forma unidirecional, passando-se também a considerar o fluxo em sentido reverso como forma de diferenciar e fidelizar clientes com elevada preocupação com os impactos ambientais. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 5 Segundo Pires (2004), o retorno de embalagens utilizadas nos armazenamentos e transportes (galões de plástico, pallets, contêineres, entre outros) tem grande valia atualmente na cadeia de suprimentos devido às questões de ordem ambiental e, muitas vezes, também às questões econômicas. Surge assim a necessidade de se unir o pensamento ambiental no gerenciamento da cadeia de suprimentos, conceito este que é apresentado na definição mais atual do “gerenciamento da cadeia de suprimento verde”. Essa definição inclui no escopo da cadeia de suprimentos atividades que se iniciam com o projeto do produto e continuam nas etapas subsequentes, tais como fornecimento e seleção de materiais, processos de manufatura, entrega do produto final aos consumidores e também no gerenciamento final do produto após sua vida útil, seja no descarte de embalagens, seja na disposição final e na reciclagem de equipamentos já inservíveis. 2 Questões fundamentais na gestão da cadeia de suprimentos A gestão eficaz da cadeia de suprimentos requer melhorias simultâneas nos níveis de serviço ao cliente e na eficiência operacional interna às empresas componentes da cadeia de abastecimento. Serviço ao cliente, em seu nível mais básico, significa taxas consistentemente elevadas de atendimento aos pedidos dos clientes, altas taxas de entregas nos prazos contratados e uma taxa muito baixa de produtos devolvidos pelos clientes por qualquer que seja o motivo. Eficiência interna para as organizações em uma cadeia de suprimentos significa que essas organizações devem também obter taxas atraentes de retorno e de lucratividade tanto sobre seus investimentos em estoques quanto sobre os investimentos nos demais ativos, encontrando maneiras de reduzir suas despesas operacionais. Observa-se que existem alguns padrões básicos na gestão de cadeias de suprimentos. Apesar de cada cadeia de suprimentos demandar seu próprio conjunto de exigências de mercado e de desafios operacionais em particular, algumas questões permanecem constantes qualquer que seja o conjunto de empresas. Elas devem decidir, tanto individual quanto coletivamente, sobre cinco áreas: • Produção: quais produtos o mercado deseja, quanto de cada produto deve ser produzido e quando isso deve acontecer. Essa atividade inclui a criação de planos- mestres de produção que levem em conta a capacidade das fábricas, o equilíbrio das cargas de trabalho, o controle de qualidade e a manutenção de equipamentos. • Estoques: qual a quantidade de matéria-prima, semiacabados e produtos prontos necessária em cada localização da cadeia de suprimentos e em que instante essas mercadorias devem ser entregues. O principal objetivo do estoque é agir como Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 6 um amortecedor contra as incertezas na cadeia de suprimentos. Contudo, manter estoques custa caro tornando a decisão sobre os níveis de estoques ideais e os pontos de ressuprimento uma questão crucial. • Localização: A escolha da localização mais eficiente das instalações de produção e de armazenamento do estoque ou mesmo a decisão sobre a utilização e a adaptação das instalações existentes ou a construção de novas plantas e armazéns são também cruciais na gestãodas cadeias de suprimentos. Uma vez tomadas, essas decisões determinam quais rotas serão possíveis no futuro e quais serão as alternativas para que os produtos possam fluir de forma adequada nos fluxos demandados. • Transporte: decisões sobre como as mercadorias serão transportadas ao longo da cadeia de suprimentos são questões mais relevantes. São decisões sobre terceirização ou verticalização da frota, escolha do modal e da forma de pagamento dos fretes e seguros. Por exemplo, a entrega através do modal rodoviário geralmente é a mais conveniente, porém conduz a custos de afretamento mais elevados. Já os modais tanto ferroviário quanto aquaviário são baratos, porém exigem grandes tempos de deslocamento e elevados níveis estoques ao longo da cadeia de suprimentos. • Informação: a decisão sobre quantos dados devem ser coletados e quanta informação deve ser compartilhada é o passo estruturante mais relevante na manutenção da cadeia de suprimentos. Informações oportunas e precisas mantêm a promessa de uma melhor coordenação e uma melhor tomada de decisão. Com boas informações, as pessoas podem tomar decisões eficazes sobre o que produzir, quanto produzir, sobre onde localizar o inventário e a melhor forma de transportá-lo. A soma dessas decisões vai definir as capacidades e a eficácia da cadeia de suprimentos de uma empresa. O que uma empresa pode fazer e as formas com as quais ela pode competir em seus mercados são muito dependentes da eficácia de sua cadeia de abastecimento. Se a estratégia de uma empresa é servir um mercado de massa e competir com base no preço, é melhor que tenha uma cadeia de suprimentos na qual se otimize o baixo custo. Se a estratégia de uma empresa é servir um segmento de mercado no qual a competição se dá com base em atendimento ao cliente e conveniência, é melhor que tenha uma cadeia de fornecimento otimizada para resposta rápida. 3 Objetivo da cadeia de suprimentos Segundo Chopra e Meindl (2003), o motivo principal da existência de qualquer cadeia de suprimentos é satisfazer as necessidades dos clientes, sempre em um processo gerador de lucros. O objetivo, ou a missão, da gestão da cadeia de suprimentos pode ser definido, usando Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 7 as palavras de Goldratt (1984), como “aumentar o rendimento, reduzindo simultaneamente o inventário e a despesa operacional”. Nessa definição, taxa de transferência refere-se à velocidade com que ocorrem as vendas para o cliente final. Dependendo do mercado a ser servido, venda ou transferências ocorrem por diferentes motivos. Em alguns mercados, os clientes valorizam e pagam por elevados níveis de serviço. Em outros mercados, os clientes procuram simplesmente o menor preço para um item. As atividades da cadeia sempre têm início quando um cliente faz um pedido e terminam quando esse mesmo cliente está satisfeito. Esse processo de atendimento ao pedido do cliente ocorre em todas as etapas da cadeia de suprimentos, na medida em que o produto se desloca dos fornecedores de matérias-primas para os fabricantes e destes para os distribuidores e lojistas até que o cliente final seja atingido. Chopra e Meindl (2003) chamam a atenção para a visualização dos fluxos, não somente das mercadorias, mas também de informações e monetário em ambos os sentidos da cadeia, e também para o fato de que apenas um responsável é envolvido em cada estágio desse fluxo. Um aspecto relevante é que um fabricante que seja participante em uma cadeia de suprimentos costuma receber materiais e insumos de vários fornecedores e, depois de seus processos de transformação, abastecer diversos distribuidores ou mesmo variados canais de distribuição ao mercado. Vários autores, tais como Chopra e Meindl (2003), Slack et al. (2002), entre outros, consideram que a expressão “redes de suprimentos” seria mais adequada para descrever a estrutura da maioria das cadeias de suprimentos existentes, pois uma cadeia típica pode envolver vários estágios. Outro aspecto relevante é que não se faz necessário que todos os estágios, fornecedores e demais participantes de uma cadeia de suprimentos real participem do processo de gerenciamento desta. De fato, muito dificilmente uma cadeia de suprimentos consegue ser tão abrangente. O projeto da cadeia de suprimentos é que definirá o papel de cada estágio da cadeia na satisfação do cliente e na geração de lucros. Slack et al. (2002) propõem até mesmo que participantes da cadeia de suprimentos sejam discriminados em camadas, conforme apresentadas na figura 1. Nessa concepção, os autores consideram que sempre existirá uma operação focal que lidera o gerenciamento da cadeia como um todo, entretanto essa organização focal somente consegue gerenciar algumas poucas camadas ou estágios da cadeia a seu redor. Assim, o projeto da cadeia de suprimentos deve incluir a decisão acerca de quantas camadas são relevantes e devem ser incluídas no processo de gerenciamento e quais etapas serão externas à cadeia de suprimentos ou não gerenciadas. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 8 Figura 1 — Gestão das diferentes camadas da cadeia de suprimentos Fonte: SLACK et al., 2002, p. 416. De qualquer forma, o objetivo central de toda cadeia de suprimentos é maximizar o valor gerado, tendo-se este como a diferença entre o valor para o cliente final e o esforço da cadeia de suprimentos como um todo em satisfazer a esse cliente. Na maioria das cadeias de suprimentos o entendimento é que valor gerado será, na forma de lucro, dividido entre os vários estágios da própria cadeia, respeitando-se pactos e acordos previamente firmados. Há unanimidade entre os autores que, se o foco na lucratividade estiver isolado entre apenas alguns participantes da cadeia de suprimentos, os comportamentos competitivos gerados entre os vários estágios desta resultarão em redução da lucratividade total da cadeia. 4 O processo de uma cadeia de suprimentos A cadeia de suprimentos é composta por uma complexa sequência de processos e fluxos que ocorrem entre os diversos parceiros e estágios necessários para que o produto Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 9 seja produzido e movimentado até que cheguem as mãos do cliente. Segundo propõem Chopra e Meindl (2003), há duas maneiras de visualizar os processos realizados na cadeia de suprimentos: • Visão cíclica. Os processos internos à cadeia de suprimentos podem ser divididos em ciclos que sempre ocorrem entre dois estágios sucessivos de uma cadeia de suprimentos. • Visão push/pull. Os processos podem ser classificados também em “acionados em resposta ao pedido (pull ou puxados)” ou “em antecipação aos pedidos dos clientes (push ou empurrados)”. Por exemplo, entre os estágios relativos ao produtor e o distribuidor observa-se que ocorrem, para quaisquer que sejam os produtos, o procedimento representado pelo envio do pedido de o abastecimento ao produtor, que é cíclico, pois ocorre de forma repetida e em intervalos de tempo relativamente regulares. Também o atendimento a esse pedido é um processo cíclico, pois é composto por tarefas que se repetem a cada recebimento do pedido e consistem em conferir o pedido, aprová-lo, separar a mercadoria, preparar para o embarque e transportar até o depósito do distribuidor. Esses processos ocorrem de forma cíclica entre todos os elos da cadeia de suprimentos. Em cada etapa ou elo da cadeia, as tarefas podem ter início em reposta ao pedido do cliente ou em antecipação a este, com consequências muito importantes para o desempenho global dos processos. Assim, um produtor pode decidir que somente iniciará o processo de produção dos produtos após o recebimento e a aprovação do pedido dos clientes (processos pull),resultando em significativas reduções no investimento em estoques, ou poderá disparar a fabricação desse mesmo bem antes de receber o pedido, utilizando-se de técnicas de previsão da demanda. Nesse segundo caso (processo push), obterá significativos ganhos em tempo de atendimento ao pedido e melhor planejamento da produção, aumentando a eficiência do processo como um todo, porém à custa de uma significativa elevação no nível dos estoques e do investimento. O perfeito entendimento das implicações contidas nas decisões sobre a natureza cíclica das operações internas à cadeia de suprimentos é de grande importância para a formação de gerentes e operadores logísticos. Para saber mais consulte “Supply Chain Management”, páginas 7 a 10. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 10 Considerações finais Nesta aula tivemos a oportunidade de estudar a evolução das definições sobre o que é uma cadeia de suprimentos e quais são os principais processos envolvidos no gerenciamento desta. Conhecer exemplos de cadeias de suprimentos bem-sucedidas é uma tarefa interessante, pois desperta a curiosidade sobre os principais aspectos envolvidos no projeto de cadeias de suprimentos. Para saber mais leia a obra “Supply Chain Management”, páginas p. 17 a 21, nas quais você encontrará exemplos das cadeias de suprimentos de empresas como Micron Electronics, Inc., 7-Eleven, Toyota, Amazon e outras. Referências CHOPRA, S.; MEINDL, P. Supply Chain Management. 2.ed. Upper Saddle River: Prentice- Hall, Inc.; 2003. CSCMP. Supply Chain Management. Disponível em: <http://cscmp.org/about-us/supply-chain- management-definitions>. Acesso em: 11 mar. 2014, em livre tradução do autor. GANESHAN, R.; HARRISON , T. P. An Introduction to Supply Chain Management, Department of Management Sciences and Information Systems. Pennsylvania: Penn State University; 1995. GOLDRATT, E. M. The Goal. Great Barrington: The North River Press Publishing Corporation; 1984. LAMBERT, D. M.; STOCK, J. R.; ELLRAM L. M. Fundamentals of Logistics Management. Boston: Irwin/McGraw-Hill; 1998. MENTZER, J. T.; DeWITT, W.; KEEBLER, J. S; MIN, S.; NIX, N. W.; SMITH, C. D.;ZACHARIA, Z. G.; Defining supply chain management. in: Journal of Business Logistics, 2001. PIRES, S. R. I. Gestão de Cadeia de Suprimentos: conceitos, estratégias e casos. Supply Chain Management. São Paulo: Atlas; 2004. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da Produção. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2002. Gestão da Cadeia de Suprimentos Aula 02 Alinhamento das Estratégias em Cadeias de Suprimentos Objetivos Específicos • Compreender a necessidade de integração e de manutenção do alinhamento da estratégia de cadeia de suprimentos com a estratégia de negócio da empresa. Temas Introdução 1 Criação de valor e alinhamento estratégico 2 Etapas do alinhamento estratégico Considerações finais Referências Ricardo Souza Cerqueira Professor Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 2 Introdução Ao longo das últimas três décadas os estudiosos têm desenvolvido conhecimentos abrangentes nos aspectos operacional e estratégico de concepção e gestão da cadeia de abastecimento, de forma que se obtenham elevados níveis de eficiência operacional e de criação de valor. A criação de valor tem o objetivo de capturar os máximos resultados financeiros em termos de valor agregado, enquanto a visão da cadeia de suprimentos tem como objetivo central a concepção de cadeias de abastecimento operacionalmente eficientes. A gestão eficiente de uma cadeia de suprimentos é fundamentalmente baseada na capacidade de a empresa aglutinadora obter a integração entre fornecedores, fabricantes, depósitos, armazéns e cliente final, alinhando todas as atividades da empresa desde o nível estratégico, tático e operacional a um objetivo estratégico comum. Geralmente obtém-se vantagem competitiva através da habilidade das organizações em executar as tarefas essenciais a um custo total inferior a seus concorrentes ou em desempenhar atividades exclusivas e de maneira restrita que agreguem valor para o cliente sem necessariamente adicionar algum valor ao preço final. A estratégia competitiva de uma cadeia de suprimentos está relacionada com a forma com a qual a empresa pretende satisfazer um conjunto de necessidades de determinado grupo de clientes. Ao longo desta aula vamos explorar as possibilidades de se projetar, implantar e operar satisfatoriamente uma cadeia de suprimentos, segundo uma estratégia competitiva predefinida. 1 Criação de valor e alinhamento estratégico Segundo Mintzberg (2003), o conceito de estratégia está relacionado com as escolhas dos objetivos empresariais que se desejam atingir em determinado espaço de tempo e da seleção e da avaliação dos recursos necessários para se atingirem esses objetivos. Trata-se da forma de pensar no futuro, integrada no processo decisório, com base em um procedimento formalizado e articulador de resultados. Visando implementar a estratégia da empresa, torna-se necessário que todas as funções empresariais se desenvolvam em suas estratégias de forma a atingirem em conjunto o objetivo central da organização. Assim, a área de vendas/marketing especificará como o mercado será segmentado e o produto, posicionado, divulgado e precificado. A área de projetos especifica se o desenvolvimento se dará utilizando-se os recursos internos da empresa ou se utilizará mão de obra e laboratórios externos. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 3 Segundo Chopra e Meindl (2003), e alinhado com o entendimento citado anteriormente, uma estratégia de cadeias de suprimentos determina a natureza da aquisição de matérias- primas, o transporte de materiais de e para cada empresa participante da cadeia, a fabricação ou o conjunto de operações necessárias para prover a distribuição do produto até o consumidor e, eventualmente, prestação de serviços pós-venda. Com esse conjunto de estratégias as empresas conseguem a oportunidade de criar o valor almejado pelo cliente. Sabe-se que Alexandre, o Grande baseou suas estratégias e campanhas na disponibilidade de recursos exclusivos de seu exército e estas foram possíveis graças à eficaz gestão da cadeia de suprimentos. Alexandre era um mestre no gerenciamento da cadeia de suprimentos; de outra forma ele não poderia ter conseguido realizar as campanhas que realizou. Segundo o historiador Engles (1978), Alexandre muito cedo percebeu que contava com um exército muito pequeno, logo, suas estratégias e táticas teriam que estar intimamente ligadas à sua capacidade de obter suprimentos e executar operações logísticas contando com uma organização enxuta, porém muito eficaz. A tecnologia naquela época somente permitia transportar grandes quantidades de material por longas distâncias através da utilização de barcos oceânicos ou por barcaças em rios e canais. Uma vez longe dos rios e costas marítimas, um exército tinha que ser capaz de viver da terra sobre a qual ele viajou. Caso tivessem que usar animais de cargas e carros para transportar suprimentos, a eficiência dos exércitos decairia rapidamente, pois os próprios animais consumiam a maior parte da comida e da água, exceto se pudessem pastar ao longo do caminho. O exército de Alexandre tinha uma estrutura logística que era fundamentalmente diferente daquela de outros exércitos da época. Nos demais exércitos, o número de pessoas de apoio e seguidores do acampamento era, muitas vezes, tão grande como o número de soldados de combates reais, pois os exércitos utilizavam um grande número de carroças e animais de carga para transportar seus equipamentos e provisões, bem como de pessoas necessáriaspara cuidar deles. No exército macedônio o uso de carros foi severamente restrito. Soldados foram treinados para levar seu próprio equipamento e provisões. O resultado da estrutura logística do exército macedônio foi que ele se tornou mais rápido, mais leve e mais móvel do que qualquer exército de seu tempo. Era capaz de fazer ataques- relâmpago contra um adversário, muitas vezes antes que ele sequer tomasse conhecimento do que estava acontecendo. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 4 Em sua opinião, por que os demais exércitos do tempo de Alexandre não conseguiam copiar sua estratégia? A criação de valor para o cliente está relacionada à utilização de um produto ou um serviço e, ao mesmo tempo, a valores pessoais desse mesmo cliente, assim entende-se que valor para o cliente é sempre percebido por ele em vez de ser objetivamente determinado pelo vendedor. Valor para o cliente normalmente envolve um trade-off entre o que o cliente recebe (por exemplo, qualidade, benefícios, riqueza) e o que ele desiste de adquirir (por exemplo, preço ou sacrifícios). O processo de criação de valor é operacionalizado através de uma série de integrações e interdependências de processos por meio dos quais especificações de projeto são transformadas em resultados finais. A ênfase sempre é colocada sobre a integração das atividades com o objetivo de aumentar o valor para o cliente. Chopra e Meindl (2003) sugerem que a cadeia de valor começa com o desenvolvimento de um novo produto e a criação das especificações deste a partir da análise das demandas originadas pelas áreas de marketing e vendas, posto que estas sejam as responsáveis pela captura e pela divulgação interna das prioridades do cliente. Utilizando essas especificações é que se podem transformar matérias-primas em produtos e serviços. A atividade de distribuição desse produto/serviço tanto pode levar o produto ao cliente quanto trazer o cliente até o produto. O serviço corresponde ao atendimento das solicitações do cliente durante ou após a venda. Observe-se que as demais funções empresariais, tais como finanças, contabilidade, tecnologia da informação e outras, têm como papel apoiar e facilitar o funcionamento das operações na cadeia de valor. A ideia central contida na criação de valor é que todas as atividades e operações da empresa devam estar alinhadas com as características do produto ou do serviço a ser entregue ao cliente. No caso de um produto obtido através do gerenciamento da cadeia de suprimentos, torna-se relevante que as operações entre as empresas componentes da rede logística estejam totalmente alinhadas com essas características. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 5 2 Etapas do alinhamento estratégico Segundo o que Chopra e Meindl (2003) propõem, o alinhamento estratégico é precedido pela fase de concepção da estratégia global da empresa, pois é necessário estipular quais clientes-alvo a empresa espera satisfazer e quais habilidades da cadeia de suprimentos serão necessárias para apoiar essa estratégia. Segundo esse autor, existem três etapas básicas para que se alcance o alinhamento das estratégias: o entendimento do cliente, o entendimento da cadeia de suprimentos, tanto a preexistente quanto a que será necessária para o atendimento da nova estratégia competitiva, assim como também o trabalho de compatibilização dessa estratégia da empresa com a estratégia da futura cadeia de suprimentos. 2.1 Entendimento do cliente No entendimento do cliente busca-se entender a forma como o cliente percebe a satisfação de sua necessidade. Essa necessidade pode se manifestar no interesse em que o ponto de venda esteja mais próximo de sua casa, ou de seu trabalho ou, ainda, de seu trajeto usual. Outros clientes poderão estar interessados em preços mais baixos que a concorrência ou em um atendimento personalizado. Um dos fatores mais relevantes nesse processo é a tolerância à espera do cliente, pois é baseando-se nessa informação que podemos definir o tamanho dos estoques no ponto de venda e também a velocidade requerida para a reposição de estoques. Geralmente a procura dos clientes de diversos segmentos pode variar de acordo com algumas características: 1. Quantidade demandada por lote. Por exemplo, um pedido emergencial, digamos para fazer reparos de emergência, quase certamente demandará lotes pequenos e atendimento rápido. Já um pedido periódico, digamos suficiente para abastecer a linha de produção, será grande, porém poderá ter um tempo de atendimento maior. 2. O tempo de resposta que os clientes estão dispostos a esperar. O tempo de resposta tolerável para a espera de um produto à venda em um supermercado é zero, já em um pedido emergencial para fazer reparos de emergência será pequeno, porém suficiente para se realizarem algumas operações de distribuição. Já em uma encomenda, a tolerância à espera poderá ser de alguns dias. 3. A variedade de produtos necessária. Clientes que fazem encomendas de reparos de emergência podem julgar importante colocar seus pedidos em um único fornecedor, entretanto o abastecimento de linhas de produção geralmente envolve fornecedores mais especializados, portanto com baixa variedade. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 6 4. O nível de serviço exigido. Um cliente que busca material de reparos de emergência ou produtos de conveniência espera uma alta disponibilidade de produtos, já um cliente que busca abastecer periodicamente sua linha de produção suportará lead times mais longos. 5. O preço do produto. Clientes que exigem alto nível de disponibilidade e de variedade podem estar dispostos a pagar preços mais elevados do que o cliente que busca abastecer periodicamente sua linha de produção. 6. A taxa de inovação no produto. Clientes que buscam lojas de departamentos ou lojas especializadas em determinados segmentos, tais como informática e vestuário, esperam por muita inovação e por exposição e degustação/demonstração de novos lançamentos. Outro aspecto relevante no entendimento do cliente que se pretende satisfazer é a questão da incerteza da demanda. Clientes que buscam baixa variedade nos produtos e toleram lead times mais longos representam uma incerteza na demanda muito menor do que os clientes que procuram maior variedade de produtos ou maior variação nas características intrínsecas a cada produto, e também menores lead times representam uma incerteza maior na demanda. O aumento na incerteza na demanda futura sempre implica significativo aumento no tamanho dos estoques, menores tempos para reação à variação da demanda e investimentos muito maiores em mercadorias e instalações. A figura 1 representa alguns exemplos de produtos cuja incerteza da demanda é razoavelmente constante em todos os mercados. Figura 1 — Espectro da incerteza Fonte: Adaptada de CHOPRA e MEINDL (2003), p. 31. A escolha estratégica de qual segmento de mercado, ou ainda, grupo de clientes se pretende satisfazer passa necessariamente pelo entendimento de qual será a intensidade na dosagem de cada uma dessas características. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 7 2.2 Entendimento da cadeia de suprimentos As cadeias de suprimentos possuem características próprias, consequentes da tecnologia de produção utilizada e outros condicionantes, tais como a sazonalidade na oferta de matérias- primas e outras características. Para auxiliar no entendimento dessas características, Chopra e Meindl (2003) propõem que as cadeias de suprimentos sejam classificadas segundo o binômio responsividade e eficiência. Responsividade é umneologismo que trata da capacidade de reação de um organismo. Responsividade na cadeia de suprimentos, segundo nos explicam Chopra e Meindl (2003), é a habilidade da cadeia em: • Atender pedidos com amplos escopos de quantidades exigidas. • Atender pedidos com lead times curtos. • Manejar grande variedade de produtos. • Produzir produtos altamente inovadores. • Atender níveis de serviço muito altos. Quanto maior for o número de habilidades e também maior a intensidade destas, maior será a responsividade da cadeia de suprimentos. Contudo o aumento da responsividade, tanto em uma empresa quanto em uma cadeia de suprimentos, custa caro. Por exemplo, o aumento do nível de serviço geralmente implica aumentar estoques ou aumentar a ociosidade das máquinas de produção e de logística para que façam entregas mais rápidas. Em ambas as soluções o custo torna-se mais elevado. Pode-se ainda afirmar que o aumento nos custos está fortemente relacionado com a eficiência da cadeia de suprimentos. Assim, pode-se afirmar que o aumento da responsividade implica redução da eficiência. Se uma empresa ainda não está em seu limite de capacidade, é possível por algum tempo aumentar a responsividade sem perda de eficiência, porém a longo prazo o aumento da responsividade sempre implica perda da eficiência. Um dos aspectos mais relevantes no alinhamento estratégico das cadeias de suprimentos e de suas estratégias competitivas pode ser o perfeito entendimento do funcionamento da cadeia de suprimentos e o adequado posicionamento desta dentro do espectro responsividade versus custo. Uma cadeia de suprimentos eficiente costuma reduzir custos ao eliminar ou reduzir algumas de suas capacidades responsivas. Por exemplo, uma cadeia de serviços pode limitar a variedade de serviços a serem oferecidos, e um restaurante poderá reduzir a variedade Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 8 oferecida em seu cardápio, obtendo assim redução de estoques, padronização de processos e consequente redução nas despesas e no investimento em instalações. Por outro lado, a mesma cadeia de suprimentos poderá aumentar a responsividade ao aumentar a ociosidade das máquinas e a variedade oferecida. Por exemplo, uma pizzaria de bairro poderá fazer entregas mais rápidas ao contratar maior número de entregadores com o consequente aumento da ociosidade destes e dos custos. Também poderá aumentar a variedade ofertada em seu cardápio aumentando a variedade em estoques e diminuindo a padronização no preparo da pizza. Assim aumentará a responsividade e também os custos, reduzindo a eficiência. A figura 2 apresenta alguns exemplos de indústrias e seus posicionamentos dentro do espectro da responsividade. Figura 2 — Espectro da responsividade onte: Adaptada de CHOPRA e MEINDL (2003), p. 34. 2.3 Realização do alinhamento estratégico A última etapa do processo de alinhamento da estratégia competitiva e da estratégia da cadeia de suprimentos em um projeto de cadeia de suprimento é justamente se obter a adequada combinação do grau de responsividade com a incerteza implícita da demanda. O espectro de responsividade é uma construção teórica obtida através da combinação de dois eixos: a responsividade e a incerteza implícita de demanda. A responsividade representa, como vimos nesta aula, a capacidade de a cadeia de suprimentos atender o mercado com grande condição de resposta às variações na demanda, isso significa enorme variedade de produtos, inovações constantes, lead times curtos, atendimento flexível e todas as demais características de um elevado nível de serviço. As cadeias de suprimentos eficientes são caracterizadas pela máxima eficiência em obter custos baixos, podendo consequentemente oferecer ao mercado preços mais baixos do que Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 9 a concorrência. A incerteza implícita de demanda trata das preferências não declaradas do consumidor, tais como exigências por preços, prazo e variedade, exigências estas que podem servir para uma empresa para conquistar e fidelizar o consumidor. A empresa atingirá a condição mais adequada para competir quando a cadeia de suprimentos estiver dentro da zona de alinhamento estratégico. A figura 3 apresenta um gráfico do espectro da responsividade. Figura 3 — Espectro de responsividade Fonte: Adaptada de CHOPRA e MEINDL (2003), p. 35. Em um mercado com baixa incerteza, a cadeia de suprimentos deverá ser o mais eficiente possível, já em um mercado com alta incerteza implícita de demanda, a cadeia de suprimentos deve se posicionar como o mais responsiva possível. O alinhamento entre as estratégias competitivas e a consequente criação de valor para o cliente com as estratégias da cadeia de suprimentos é uma condição básica para se atingirem as necessárias condições para vencer a concorrência, pois é com base nesse alinhamento que serão definidos os parâmetros da gestão de estoques, produção, localização de plantas de produção e demais instalações e também as necessidades da gestão da tecnologia da informação, financeiras e de recursos humanos. A figura 4 apresenta, na forma gráfica, as necessidades de alinhamento das estratégias funcionais da cadeia de suprimento, necessárias para que se atinja o alinhamento estratégico. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 10 Figura 4 — Alinhamento entre estratégias competitivas e funcionais Fonte: Adaptada de CHOPRA e MEINDL (2003), p. 36. O perfeito entendimento do escopo do alinhamento estratégico de cadeias de suprimentos de alto desempenho é essencial na formação de profissionais de logística e gestão de mercado. O escopo do alinhamento estratégico refere-se às funções e aos estágios dentro da cadeia de suprimentos que projetam uma estratégia integrada com um objetivo compartilhado (CHOPRA e MEINDL, 2003). Para saber mais consulte CHOPRA e MEINDL (2003). Considerações finais Nesta aula tivemos a oportunidade de estudar o alinhamento estratégico das cadeias de suprimentos, que é condição primária para se atingir o estado de competitividade, pois define as escolhas da gestão de operações e o nível de serviço oferecido ao mercado, refletindo, pois, na capacidade de competir pela preferência do cliente. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 11 Referências ENGLES, D. W. Alexander the Great and the Logistics of the Macedonian Army. Los Angeles: University of California Press; 1978. CHOPRA, S.; MEINDL, P. Supply Chain Management. 2.ed. Upper Saddle River: Prentice- Hall, Inc.; 2003. MINTZBERG, H.; LAMPEL, J.; JAMES, B.; et al. O processo da estratégia: conceitos, contextos e casos selecionados. 4.ed. Porto Alegre: Bookman; 2003. Gestão da Cadeia de Suprimentos Aula 03 Planejamento de Cadeias de Suprimentos Objetivos Específicos • Definir e discutir as necessidades de planejamento das operações e das compras em cadeias de suprimentos de alto desempenho. Temas Introdução 1 Questões de escopo estratégico 2 Questões de qualidade da informação 3 Fatores-chave para o planejamento Considerações finais Referências Ricardo Souza Cerqueira Professor Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 2 Introdução A gestão da produção de um bem, considerando-se o ponto de vista de um único fabricante, quase sempre é uma tarefa complexa, em que a coordenação das atividades de produção e logística podem facilmente conflitar com os objetivos da gestão financeira e, eventualmente, também conflitar com a gestão de vendas e marketing. São bem conhecidas as vantagens em termos de redução de custos, aumento da lucratividade e de penetração no mercado que podem ser obtidas quando se realizam o alinhamento dos objetivos e as estratégias de todasessas grandes áreas, obtendo-se foco no objetivo maior da organização. Imagine, então, quão complexo pode se tornar o planejamento da gestão integrada de uma rede de empresas e organizações interdependentes, que serão reunidas em torno de um único objetivo central, que é a criação de valor para o cliente, sendo esse cliente parte de um grupo exigente de consumidores. Em uma primeira análise, poder-se-ia afirmar que a integração da cadeia de suprimentos de fato ocorre nas interações diárias entre os compradores de cada estágio e o vendedor do estágio imediatamente anterior. Se considerarmos que cada membro participante da cadeia de suprimentos possa eventualmente ter outras prioridades estratégicas, pois geralmente não são fornecedores exclusivos para essa única cadeia de suprimentos, teremos um conjunto de relações potencialmente conflituosas. Vista dessa forma a gestão integrada da complexidade e a multiplicidade de relacionamentos dentro da cadeia de comercialização terão de ser equacionadas para um mesmo objetivo, que é a missão central da cadeia de suprimentos, e essa tarefa compete, em primeira mão, ao planejamento. Ao longo da presente aula, discutiremos algumas das fontes de preocupações do planejamento para manutenção da estabilidade e do fluxo de produtos, informações e dinheiro na cadeia de suprimentos. 1 Questões de escopo estratégico Segundo Chopra e Meindl (2003), o escopo estratégico é um relevante componente para a obtenção do alinhamento das estratégias. O escopo estratégico trata do agrupamento das funções e dos estágios dentro da cadeia de suprimentos que projetam uma estratégia integrada com um objetivo compartilhado. Em alguns casos, encontramos organizações participantes da cadeia de suprimentos, cujo comportamento extremado contribui para que cada operação dentro de cada área funcional e em cada estágio da cadeia de suprimentos projete sua própria estratégia independente e que essa organização tente maximizar seu desempenho de forma individual sem se importar com o objetivo central dessa mesma cadeia. Nesses casos, apesar de obter-se um estágio Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 3 particularmente eficiente, a integração e os ganhos da cadeia de suprimentos podem ser prejudicados, como veremos mais adiante. Em um extremo oposto do comportamento, encontramos cadeias de suprimentos em que todas as áreas funcionais dentro de todos os estágios projetam a estratégia que foi definida para o conjunto de organizações e operações, todas com o objetivo de maximizar o lucro, não de cada organização em particular, mas global, para toda a cadeia de suprimentos. No mundo real, esse alinhamento estratégico somente é atingido se o conjunto de processos, tanto os intrafuncionais, internos de cada organização, quanto os interfuncionais, entre os estágios da cadeia de suprimentos, forem cuidadosamente planejados e se a gestão do dia a dia for monitorada por indicadores de desempenho adequados a essa integração. 1.1 Alinhamento intrafuncional Na visão intrafuncional entende-se que cada departamento ou grupo de funções deve buscar atingir metas individuais, estabelecidas conforme suas características intrínsecas. Assim, a área de materiais deve reduzir os custos de estoques, a área de produção deve reduzir os custos das operações internas e assim por diante. Os autores Chopra e Meindl (2003) destacam que a visão de um escopo limitado às funções individuais de cada área interna foi a ação dominante nas décadas de 1950 e 1960, quando se buscava a redução de custos em cada operação. Naquela época, a avaliação de desempenho estava relacionada com os ganhos obtidos em custos locais. Esses mesmos autores chamam a atenção para uma possível falha da visão de integração intrafuncional: é que diferentes funções da organização podem ter objetivos conflitantes. Tomemos o seguinte exemplo: suponhamos que em determinado instante a área de gestão de materiais poderia desenvolver ações de redução generalizada dos estoques ao longo da cadeia de suprimentos e, ao mesmo tempo, sem qualquer integração entre as funções, a área de transportes poderia estar empreendendo ações que resultassem na redução de pagamento de fretes, algo assim como reduções no número de viagens. Quase certamente o resultado seria o desabastecimento no estágio imediatamente posterior, pois não se teriam estoques suficientes para transportar em maiores quantidades por vez ou não se teriam veículos suficientes para atender a frequência necessária nas entregas. Segundo o dicionário Webster, o vocábulo “trade-off” significa um balanço de fatores não acessíveis ao mesmo tempo, como maior estoque versus menor custo; ou o abandono de uma coisa em prol de outra, troca, compensação. Em gestão da produção o termo “trade-off” é utilizado indicando uma opção de escolha (conflito) entre duas situações. Algumas vezes, para melhorar um dos objetivos Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 4 de desempenho é necessário prejudicar um dos outros objetivos. Em algumas situações, por exemplo, melhorar a qualidade do atendimento ao cliente com equipamentos mais sofisticados pode gerar um aumento do custo do serviço. Nesse caso, dizemos que há um trade-off entre qualidade e custo. Uma analogia que descreve os trade-offs em operações é a “gangorra” de Slack, conforme a figura 1 demonstra. Figura 1 – Representação dos trade-offs através da gangorra de Slack. Objetivo de desempenho 2 Objetivo de desempenho 1 (a) (b) (c) Fonte: CORRÊA; CORRÊA (2004), p. 67. Para saber mais consulte as páginas 64-8 de Administração da Produção e operações: manufatura e serviços: uma abordagem estratégica (CORRÊA; CORRÊA, 2004). 1.2 Alinhamento interfuncional Já no alinhamento interfuncional dentro das empresas, pretende-se que o objetivo seja maximizar o lucro da empresa através da integração de funções. Cada empresa necessariamente compete em pelo menos um segmento de negócios e sempre possui uma estratégia, seja ela explícita ou implícita. Segundo Mintzberg (2000), essa estratégia pode ter-se desenvolvido por meio de um processo de planejamento ou evoluído através das atividades dos vários departamentos funcionais da empresa. Segundo a maioria dos estudiosos e especialistas em estratégias, o sucesso de uma organização está fortemente associado à capacidade de coordenar ou alinhar as atividades dos departamentos internos dessa mesma organização, assegurando que um conjunto comum de metas será atingido (PORTER, 1991). Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 5 Na literatura especializada em estratégia define-se o alinhamento com o sentido de ajuste, agrupamento, integração, coesão, congruência entre diferentes dimensões. Segundo Kaplan e Norton (2006), as empresas em todo o mundo têm buscado colocar a estratégia no centro de seus modelos de gestão, com o propósito de assegurar que a estratégia, como instrumento de comunicação e gestão, chegue a todos os níveis da organização e seja compartilhada. Esses autores denominam “alinhamento” essa tarefa de assegurar sinergias entre equipes, processos, unidades de negócio e parceiros externos. Assim, tem-se que a capacidade de alinhamento das organizações pode ser considerada um recurso estratégico capaz de produzir resultados superiores e constituir importante fonte de vantagem competitiva. Desenvolver e implementar estratégias com a agilidade e a precisão necessárias ao mercado em que a organização atua pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso dessa organização. Segundo afirmam Costa et al. (2009), a necessidade de se alinharem as açõesde rotina com metas estratégicas tem-se configurado em um diferencial na busca de solidez e lucratividade. 1.3 Alinhamento interfuncional na cadeia de suprimentos Um relevante conceito para a gestão estratégica nas cadeias de suprimentos foi desenvolvido pelos autores Chopra e Meindl (2003). Segundo esses autores, mesmo considerando que o alinhamento interfuncional possa gerar fluxos de caixa positivos em alguns ou até em muitos dos segmentos de uma cadeia, deve-se ter em conta que o único fluxo de caixa positivo quando se considera toda a cadeia ocorre quando o cliente paga pelo produto. Todos os demais fluxos de caixa são meramente remanejamento de contas ao longo dos estágios da mesma cadeia. A diferença entre o que o cliente paga e o custo total gerado pela cadeia de suprimentos representa o lucro total desta, e este deve ser dividido entre seus vários membros. Observa-se, então, que o alinhamento intrafuncional dentro de cada elo da cadeia de suprimentos não seja suficiente para que se obtenha a maximização do lucro total desta. É necessário que se planejem a integração e a coordenação de cada processo de forma transversal às organizações participantes, obtendo-se o melhor atendimento ao cliente e o menor custo total. Outro aspecto fundamental, também proposto por Chopra e Meindl (2003), trata da responsividade individual de cada estágio e também da responsividade total da cadeia. Segundo esses autores, a principal fonte de atrasos no fluxo de materiais tem origem nas fronteiras entre os estágios da cadeia de suprimentos. O alinhamento interfuncional ao Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 6 longo da cadeia de suprimentos pode fornecer meios para a gestão desse tipo de atraso. Por exemplo, é comum que no objetivo para a redução de estoques internos as empresas forcem seus fornecedores e distribuidores a aumentarem os estoques, para que, assim, possam reduzir seus custos. Sem que se estabeleçam novas estratégias de gestão dos estoques, os fornecedores e os distribuidores terão seus custos aumentados e terão perdas de margem de lucro ou forçarão reajustes de preços. Como resultado, o custo total da cadeia de suprimentos poderá até mesmo aumentar, reduzindo-se o lucro total desta. A abordagem fornecida pelo escopo interfuncional entre as empresas participantes da cadeia é que fabricante e fornecedores possam trabalhar juntos para que efetivamente possam reduzir a quantidade de estoques necessária para obter o nível de serviço demandado pelo cliente. Qualquer estoque a ser mantido deve ser posicionado em um ponto da cadeia de suprimentos que maximize o lucro total da cadeia. 2 Questões de qualidade da informação Uma das questões de maior complexidade no planejamento das cadeias de suprimentos é a que diz respeito ao fluxo de informações ao longo de todos os estágios. É natural que as organizações de cada estágio da cadeia tenha receio em disponibilizar informações sobre as variações da demanda ocorridas no estágio subsequente ao seu, pois eventualmente essa informação poderá ser utilizada em negociações futuras. A falta de informações poderá produzir um efeito indesejável, chamado de efeito chicote. O efeito chicote1 descreve um fenômeno observado em cadeias de distribuição com múltiplas camadas, com os padrões de demanda incertos e informação limitada sobre o status dos diferentes elementos da cadeia de suprimentos. Ele descreve um efeito que a amplitude da variação na demanda pode se amplificar à medida que a informação se move para baixo da cadeia de abastecimento. Às vezes esse fenômeno é também chamado de efeito Forrester, porque foi descrito pela primeira vez por Jay Wright Forrester, professor da MIT Sloan School of Management, em seu livro Dinâmicas Industriais (1961). Esses estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da moderna gestão da cadeia de suprimentos. 1 Do inglês bullwhip effect. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 7 Figura 2 – O efeito chicote (The bullwhip effect) Pedido do cliente para o varejista Qu an tid ad e p er did a Tempo Tempo 0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 5 10 15 20 25 Pedido do varejista para o armazém Qu an tid ad e p er did a 0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 5 10 15 20 25 Pedido do armazém para o distribuidor Qu an tid ad e p er did a Tempo Tempo 0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 5 10 15 20 25 Pedido do distribuidor para o fabricante Qu an tid ad e p er did a 0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 5 10 15 20 25 Fonte: adaptada pelo autor de Lee et al. (1997). Carvalho e Fernandes (1999) sugerem que a solução para o problema do efeito chicote é a introdução de modelos cooperativos da cadeia de suprimento. Nesse modelo de cooperação, o problema de planejamento é resolvido com base em uma visão global do processo produtivo, com o estabelecimento de metas a serem perseguidas por cada uma das empresas que compõem a cadeia. Tais metas definem o ponto ótimo de operação para a cadeia de suprimento como um todo. Deve-se observar que as restrições, necessidades e objetivos individuais de cada empresa devem ser considerados pelo nível cooperativo e que o planejamento individual — realizado internamente às empresas — continua ocorrendo, embora em um nível hierárquico inferior. Tendo-se em conta a complexidade e a multiplicidade de relacionamentos dentro da cadeia de suprimentos, percebe-se que é imperativo que os objetivos individuais sejam equacionados de forma que todos os níveis tenham um mesmo objetivo, que é a missão da empresa. A missão do comprador tem de estar equacionada com a missão do fornecedor e suas práticas de mercado, e deve sempre estar associada a um padrão estritamente ético. O gerenciamento eficaz da cadeia de suprimentos tem base no relacionamento direto dos que trabalham diariamente, pois a ideia é reduzir os lead-times e estoques ao mínimo necessário. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 8 3 Fatores-chave para o planejamento De forma geral, a estrutura de planejamento de uma cadeia de suprimentos deve sempre levar em consideração quatro fatores-chave para o sucesso: estoque, transporte, instalações e informação. Esses fatores-chave são indispensáveis para que se possam estabelecer os níveis adequados de custo e de responsividade simultaneamente. Entende-se como estoques a quantidade de matérias-primas, produtos em processamento e produtos acabados ao longo da cadeia de suprimentos em determinado instante. Uma maior disponibilidade de estoques permitirá tanto a redução dos gastos com transportes quanto uma maior responsividade da cadeia, entretanto aumentará significativamente o custo em manter estoques e, provavelmente, o custo total do produto. O transporte, no nível de planejamento, refere-se a todas as necessidades de movimentação das mercadorias ao longo da cadeia de suprimentos, devendo a escolha de modais e decisões sobre terceirização ou verticalização da frota permear todos os estudos de planejamento. Instalações são todos os locais na rede onde as mercadorias são armazenadas, montadas ou fabricadas. As decisões sobre onde colocar essas instalações são fundamentais na definição da responsividade da cadeia de suprimentos. Uma unidade de produção mais próxima do mercado consumidor pode permitir maior responsividade. Segundo Chopra e Meindl (2003), informações consistem em dados, análises e estudos acerca de estoques, transportes, instalações e clientes que fazem parte da cadeia de suprimentos. É o principal dos fatores-chave, pois é através do uso da informação que sepode gerenciar a cadeia de suprimentos. O adequado planejamento do fluxo de informações permitirá determinar o tipo de investimento que será necessário tanto em tecnologias da informação e comunicação quanto na formação dos recursos humanos envolvidos na gestão integrada da cadeia de suprimentos. De forma geral, o alinhamento e o nivelamento dos fatores-chave na cadeia de suprimentos são construídos através de cuidadoso estudo das características de cada um de seus participantes. Organizações cujas características tecnológicas permitam que se absorva melhor o custo do aumento do estoque devem contribuir para a responsividade global da cadeia ao manter maiores estoques. Outras empresas participantes cujas tecnologias permitam ganhos de eficiência produtiva devem manter menores estoques. O mais relevante é que ao final do planejamento se obtenha um custo menor e uma responsividade maior do que seria possível caso as organizações atuassem individualmente. Considerações finais Nesta aula tivemos a oportunidade de estudar os principais condicionantes necessários para o planejamento de cadeias de suprimentos. Resumidamente, o planejamento deve Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 9 tratar de duas características-chave para a percepção de valor para o cliente: a eficiência e a responsividade da cadeia de suprimentos. Para tal, é necessário que se obtenha um adequado equilíbrio dinâmico dos quatro fatores-chave da cadeia, que são estoque, transporte, instalações e informação. Referências CARVALHO, M. F. H.; FERNANDES, C. A. O. “Planejamento da Produção de Manufatura por Fluxos em Redes. Gestão e Produção”. Revista do departamento de engenharia de produção da Universidade Federal de São Carlos. v. 6, n. 1, 1999. CHOPRA, S.; PETER M. Supply Chain Management. 2.ed. Upper Saddle River, NJ: Prentice- Hall, Inc., 2003. CORRÊA, H. L.; CORRÊA C. A. Administração da Produção e operações: manufatura e serviços: uma abordagem estratégica. São Paulo: Atlas, 2004. COSTA, G. S.; ROLA, E. S.; AZEVEDO, M. J. “Uma Discussão sobre Critérios Competitivos da Produção em Empresas que Implantaram a Construção Enxuta”. In: XXXIII EnANPAD, São Paulo. Anais... São Paulo: EnANPAD, 2009. FORRESTER, J. W. Industrial dynamics. New York: Mit Press and John Wiley and Sons, Inc., 1961. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. Alinhamento: usando o balanced scorecard para criar sinergias corporativas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. LEE, H. L.; PADMANABHAN, V.; WHANG, S. “The Bullwhip Effect in Supply Chains”. MIT Sloan Management Review, vol. 38, n. 3, 1997. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2000. PORTER, M. E. Estratégia Competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. 9.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1991. Gestão da Cadeia de Suprimentos Aula 04 Operações de fabricação e distribuição em cadeias de suprimentos. Objetivos Específicos • Explicar aos alunos os principais elementos que compõem as operações de fabricação e entrega de bens e serviços ao longo da cadeia de suprimentos e desenvolver a noção de integração entre os diversos atores (ou a falta de integração e suas consequências). Temas Introdução 1 Gerenciamento do fluxo de produção em cadeia de suprimento 2 Estratégias de produção nas cadeias de suprimentos 3 A fronteira push-pull 4 Estratégias de postponement Considerações finais Referências Ricardo Souza Cerqueira Professor Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 2 Introdução Se sua empresa faz um produto e utiliza nesse processo peças ou componentes variados que são comprados de fornecedores e, além disso, esses produtos são vendidos aos clientes através de algum canal de comercialização, então você participa de uma cadeia de suprimentos. Algumas cadeias de abastecimento são simples, enquanto outras são um pouco mais complicadas. A complexidade da cadeia de abastecimento pode variar conforme o tamanho da empresa, sua complexidade e o número de itens que são ou serão fabricados. Considerando-se que a oferta de grande variedade de itens no ponto de venda é um atributo especialmente valorizado pelos clientes, as decisões de fabricação em uma cadeia de suprimentos geralmente envolvem produzir essa variedade, sempre buscando o menor custo e a maior responsividade em seus processos produtivos. Algumas das estratégias de produção genéricas, que são usualmente adotadas na gestão da produção de quaisquer produtos, são também válidas na gestão da cadeia de suprimentos de alto desempenho. Estratégias como fabricar para estoque, fabricar mediante recebimento do pedido ou ainda fabricar componentes para montagem somente após o recebimento do pedido do cliente são também aplicadas no desenho e na operação das cadeias de suprimentos gerenciadas. A gestão do fluxo de fabricação é um dos mais relevantes processos da gestão da cadeia de suprimentos que inclui todas as atividades necessárias para obter, implementar e gerenciar a flexibilidade de produção na cadeia de abastecimento e para mover produtos através das unidades de produção. Obter flexibilidade de fabricação significa desenvolver a capacidade de fazer uma grande variedade de produtos em tempo hábil, ao menor custo possível. Para se atingir o nível desejado de flexibilidade de produção, planejamento e execução, devemos expandir o processo de gestão para muito além das quatro paredes da fábrica. Sabe-se que os custos e os conhecimentos que são necessários para fazer coincidir a produção e a entrega de produtos com a dinâmica do mercado podem ser proibitivos, o que conduz alguns dos fabricantes envolvidos com operações de alto desempenho a contar com as atividades de produção terceirizadas. As empresas que executam as atividades de fabricação ao longo de uma cadeia de suprimentos costumam enfrentar vários desafios, dos quais o mais relevante costuma ser produzir os produtos desejados, na variedade e na quantidade demandada e no custo adequado, coordenando todas as atividades de suas estruturas produtivas e logística e, ao mesmo tempo, mantendo total sintonia com o mercado. Obter tal sinergia costuma envolver um profundo conhecimento dos processos e tecnologias de produção, dos custos de processos e da estrutura do mercado a montante e a jusante da planta de produção. O planejamento e a implantação desse tipo de projeto costumam ser caros e exigir conhecimentos multidisciplinares e podem ensejar uma real Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 3 oportunidade para a obtenção de uma sólida vantagem competitiva, difícil de ser copiada para a maioria das organizações. Segundo Lambert (2006), as empresas que integram a aquisição, a fabricação e as atividades de logística podem facilmente alcançar reduções de custos entre 3% e 7% das receitas brutas, dependendo da indústria. No decorrer desta aula, descreveremos o processo de gestão do fluxo de produção em detalhes, no intuito de mostrar como esse processo pode ser implantado dentro dos limites de uma empresa líder e gerenciado entre empresas participantes da cadeia de abastecimento. Examinaremos as atividades de alguns dos subprocessos com o objetivo para avaliar as interfaces com funções corporativas. Adicionalmente revisaremos esses conceitos e estratégias e os apresentaremos em um contexto de cadeias de suprimentos e examinaremos a técnica conhecida como postergação da finalização do produto, cuja aplicação permite ganhos consideráveis de custos, eficiência e responsividade. 1 Gerenciamento do fluxo de produção em cadeia de suprimento O processo de gestão do fluxo de produção lida com a flexibilidade defabricação necessária para servir os mercados-alvo e fazer os produtos. Flexibilidade de fabricação é definida como “a capacidade de responder às mudanças ambientais com menor tempo e custo” (UPTON, 1994). A flexibilidade é de suma importância na maioria das operações, particularmente quando se enfrentam fortes variações da demanda em processos com grande variedade de produtos. Por exemplo, na indústria de alimentos tende-se a produzir grandes volumes com relativamente pequena variedade de produtos. A capacidade de rapidamente aumentar a quantidade de estoques de determinado item em particular, cuja demanda cresceu inesperadamente, ou de reduzir esse mesmo estoque para ajustá-lo a uma demanda que repentinamente diminuiu exigirá uma elevada flexibilidade em todos seus processos. Já na indústria de vestuário, que é caracterizada por oferecer grande variedade de produtos e em pequenas quantidades de cada, o tipo de flexibilidade mais desejada é a de lançar novas coleções em pequenos espaços de tempo sem deixar saldos significativos de estoques das coleções passadas nos estoques do varejo. Tal capacidade certamente implicará elevada capacidade de reprogramar linhas de abastecimento e processos produtivos. Ambientes pouco estáveis da demanda são exigentes quanto à capacidade de o fabricante rapidamente se adaptar às mudanças e costumam oferecer preços prêmio para as organizações Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 4 que conseguem. O desafio dessas organizações é determinar o grau certo de flexibilidade necessário e implantá-lo no sistema de produção de modo que seja capaz de atender a essa exigência, uma vez que o aumento da flexibilidade é tipicamente acompanhado da elevação dos custos e do aumento do investimento. Naturalmente, o aumento da flexibilidade em uma cadeia de suprimentos pode representar grande vantagem competitiva, entretanto, esse aumento quase sempre produz elevações significativas nos custos totais dos produtos, nem sempre proporcionais aos ganhos que serão obtidos em termos de lucratividade da rede. O desafio dessas organizações é determinar o grau certo de flexibilidade necessário e inseri-lo no sistema de produção para que este seja capaz de atender a essa exigência. A gestão do fluxo de fabricação, assim como os demais processos de gestão da cadeia de suprimentos, depende de conectividade externa para se realizarem seus objetivos. Embora inicialmente possa parecer que a flexibilidade seja relevante apenas para o fabricante de produtos acabados (ou do montador), esse processo é significativamente influenciado pelos membros da cadeia de suprimentos localizados a montante e a jusante do fabricante principal da cadeia de abastecimento. Os membros a jusante influenciam o processo através da oferta de produtos sortidos de forma que atendam as expectativas em termos de atributos específicos, tais como qualidade, custo e disponibilidade, bem como a capacidade de atender a mudanças de expectativas do mercado. Membros a montante podem afetar a capacidade do fabricante de cumprir as expectativas dos clientes ao deixarem de atender essas variações acentuadas nos pedidos de abastecimentos de insumos. Pode-se afirmar que a capacidade da empresa de fabricação é sempre limitada pelos recursos de fornecedores que se encontram nas fases anteriores à sua própria. É sempre importante visualizar o processo de gestão do fluxo de produção como aquele que se estende para além das quatro paredes da montadora final. 2 Estratégias de produção nas cadeias de suprimentos Segundo Lambert (2006), os possíveis paradigmas de manufatura são constituídos por cinco possíveis estratégias genéricas de produção. Essas cinco estratégias, da mais rígida até mais flexível, são descritas resumidamente a seguir: • Fabricar e embarcar para Estoque (STS — ship to stock). Os produtos são fabricados em configurações padronizadas e então são despachados para pré-posicionamento no mercado; as expectativas dos clientes podem ser imediatamente atendidas graças ao apoio e à disponibilidade imediata de elevados estoques de segurança e especulativos em todos os estágios da distribuição. • Fazer para estoque (MTS — make to stock). Os produtos são fabricados em configurações padronizadas, mas não são necessariamente despachados para locais específicos; a demanda é prevista para ser estável ou facilmente previsível em um alto nível de agregação. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 5 • Montar sob encomenda (ATO — assembly to order). Os produtos podem ser personalizadas dentro de certo limite de possibilidades. Normalmente os componentes do produto final são produzidos com base numa plataforma padronizada, e o produto final somente é finalizado após o cliente pedir. A finalização do produto é adiada até que a demanda seja conhecida. • Fazer sob encomenda (MTO — make to order). As matérias-primas e os componentes são comprados com base em previsões de demanda, porém são itens standard, de prateleira, e podem ser configurados em uma ampla variedade de produtos. A produção somente é iniciada após o cliente firmar o pedido. • Comprar para encomendas (buy to order), denomina-se também ETO — engeneering to order. Os produtos podem ser únicos, exclusivos até o nível de matéria-prima. A variedade de produtos é praticamente ilimitada, embora o tempo de espera seja longo suficiente para que os materiais sejam especificados, adquiridos, transformados em produtos acabados e entregues. A seleção da melhor estratégia de produção dependerá, em grande parte, dos níveis de variabilidade da demanda observados e de como essa variabilidade afeta a variedade de produtos oferecidos pelo fabricante. Outro aspecto relevante na seleção da estratégia de produção é a capacidade de o fabricante prever a demanda futura a curto, médio e longo prazo, pois se a demanda for certa e estável ou razoavelmente previsível será mais atraente para este adquirir grandes lotes de matérias-primas e fabricar em grandes lotes, obtendo então significativos ganhos de escala. Figura 1 – As cinco estratégias genéricas de fabricação em uma cadeia de suprimentos. Ship to Stock Make to Stock Assemble to order Make to order Buy to order Va rie da de d e p ro du to s Volatividade da demanda Grau de � exib ilida de d a m anu fatu ra Alto Baixo Baixo Alto Fonte: NAYLOR, et al. (1999), pp. 107-18. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão da Cadeia de Suprimentos 6 Segundo Chopra e Meindl (200 ), as estratégias de produção ao longo da cadeia de suprimentos também deve levar em consideração a eficiência do processo produtivo de cada estágio da cadeia, assim como também a responsividade de cada parceiro ou fornecedor. Assim, parceiros com grande capacidade de obter ganhos de escala devem ser conduzidos a suportar maiores estoques, enquanto processos mais responsivos, capazes de grande variação e variedade de produtos, devem ser poupados na formação e na obtenção de estoques. De forma geral, entende-se hoje que o eficaz gerenciamento do fluxo de processos de fabricação ao longo da cadeia de suprimentos deva ser objeto de detalhados estudos e simulações, de forma a obterem-se resultados otimizados em termos de custos, sortimentos e capacidade de ajustar dinamicamente a produção e os estoques às variações da demanda. 3 A fronteira push-pull Segundo Chopra e Maindl (2003), os processos necessários para garantir que os materiais estejam disponíveis e a fabricação ocorra sem atrasos em uma cadeia de suprimentos são divididos em duas categorias: pull, acionados em resposta aos pedidos dos clientes; push, antecipados aos pedidos dos clientes.
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