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REVISTA DO CLUBE DE MATEMÁTICOS Número 01 - Setembro de 2018 RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 i RCMat REVISTA DO CLUBE DE MATEMÁTICOS NÚMERO 1 – SETEMBRO DE 2018 COMITÊ EDITORIAL André Luís Santos Maia – RJ Antônio Eurico da Silva Dias – RJ Carlos Eddy Esaguy Nehab – RJ Cícero Thiago Magalhães – CE Cristiano Marcell – RJ Feres Fares – SP Haroldo Costa Silva Filho – RJ Jean Renato da Cunha Machado de Lira – RJ José Régis Azevedo Varão Filho – SP Kellem Corrêa Santos – DF Pablo Aguiar De Maio – RJ Renato de Oliveira Caldas Madeira – RJ Ronald Alexandre Martins – DF Ronald Simões – RJ Samuel Liló Abdalla – SP Vinícius do Nascimento S. Mano – RJ Capa: Vinícius Mano Imagem: Freepik.com EXPEDIENTE Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução de artigos desde que seja citada a fonte. A RCMat é uma publicação semestral do Clube de Matemáticos, localizado na Rua Luiz Lengruber, 210, Iucas, Teresópolis – RJ. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 ii RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 iii SUMÁRIO Sobre a Matemática (Régis Varão) 1 Apresentação (Renato Madeira) 3 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL Triplas Pitagóricas (Carlos Nehab) 4 Matemática na área (Cristiano Marcell) 12 Rigidez versus Flexibilidade (Daniel Mororó) 19 Minicurso de teoria dos números (Jean Lira) 22 Seleção de questões do CMRJ 6º ano 2018 (Renato Madeira) 27 PARTE 2 – ENSINO MÉDIO E se o raio da circunferência medir 1/2? (Chico Nery) 33 Logaritmo – resumo e exercícios (Renato Madeira) 34 Técnicas de fatoração – nível avançado (Samuel Liló Abdalla) 48 Indo além da solução (Hélio Braga, Vinícius Mano e Vitor Fontes) 57 PARTE 3 – ENSINO UNIVERSITÁRIO O TFA e os números irracionais (Ronald Simões e Pablo De Maio) 66 PARTE 4 – OLIMPÍADAS Teoremas de Ceva, Menelaus e Apolônio (Cícero Thiago Magalhães) 74 Olimpíadas de Matemática nacionais e internacionais (Ronald Martins) 90 PARTE 5 – MAGISTÉRIO Seleção de questões de teoria dos números de concursos de magistério (Renato Madeira) 94 PARTE 6 – VARIEDADES A música dos números (Adílio Titonelli e Luana Titonelli) 101 Algoritmos genéticos (Samuel Liló Abdalla) 108 A gente pergunta. Você resolve. 115 Você pergunta. A gente resolve. 117 Charges do Professor (Cristiano Marcell) 121 Um pouco de história (Renato Madeira) 122 adinhas (Renato Madeira) 124 RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 1 SOBRE A MATEMÁTICA. Régis Varão – UNICAMP Canal Fantástico Mundo Matemático Caros leitores, eu aproveito a estreia da revista para começar com um convite: divirtam-se com a matemática, percebam que ela é viva, bela e útil. Esta revista é o próprio convite, porém feito muito humildemente, pois entendo que é impossível transmitir tudo isso apenas com a criação desta revista, ou de qualquer outra. Portanto, este não é “o convite”, mas “um convite”. Este projeto é por si só nossa primeira lição: a matemática é uma empreitada colaborativa, com a participação de todos. Richard Courant e Herbert Robbins possuem um belo livro intitulado “O que é matemática?”. O livro apresenta diversos tópicos tais como teoria dos números, álgebra, geometria projetiva, geometria não-euclidiana, cálculo, topologia, análise e por aí vai. A mensagem é muito clara, a resposta para a provocação levantada pelo título do livro é: só aprendendo, fazendo e vivenciando a matemática para descobrir. Assim, a resposta para essa pergunta vai sendo construída com o tempo, cada vez que nos maravilhamos com um problema, ou ensinamos matemática, ou simplesmente conversamos sobre ela. Aqui você terá mais uma opção de aprender, discutir e vivenciar a matemática. E juntos vamos a cada edição respondendo a esta inquietação. A matemática é útil para qualquer sociedade, por exemplo, sem ela não avançamos tecnologicamente. Mesmo assim você já deve ter se perguntado ou ouvido alguém se questionar “onde eu vou usar isso na minha vida?”. Não quero justificar, neste artigo pelo menos, a sua utilidade para o nosso desenvolvimento tecnológico, mas seu estudo é diretamente útil para quem o faz. A principal característica desenvolvida por alguém que estuda matemática com mais seriedade (ou seja, sem querer apenas aplicar fórmulas) é a habilidade em superar obstáculos. E isso está diretamente relacionado com a forma com que alguém lida com problemas. Essa é uma aptidão que se desenvolve com a matemática, bem como saber lidar com a frustração, correr atrás para resolver uma dificuldade, buscar novas alternativas. Note que essas características são fundamentais para o sucesso de qualquer pessoa, independente do profissional que se queira ser. A RCMat está dividida em muitas seções, mas o leitor está convidado a explorar todas elas. Se por ventura um assunto lhe interessar, leia. A divisão em seções serve para organizar, mas aqui vale mais uma sugestão: não veja a matemática de forma segmentada. É claro que isso é feito porque é preciso criar uma sequência lógica de pré- requisitos para que se aprenda de forma coerente. Além de que na sua vida escolar você é cobrado assim, cada matéria tem um assunto específico e você será cobrado por ele. Mas a matemática deve ser vista como uma só. Siga seus interesses, mas não crie preconceitos, não ignore algum assunto pelo simples fato de se auto proclamar mais afeito a outro. Espero que com o tempo cada um, a sua maneira, consiga responder “o que é matemática?”, mas existe um ponto crucial que nem sempre é claro, ou colocado de uma forma direta, mas é fundamental. É preciso saber que a matemática está RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 2 constantemente se desenvolvendo, é viva e dinâmica. Uma boa maneira de descrever todo este vigor pode ser muito bem ilustrado pela pesquisa em matemática. Para não me alongar coloco mais próximo da minha perspectiva. Eu sou docente em matemática em uma universidade pública e faço pesquisa em matemática. Uma descrição muito rápida sobre isso é assim. Os matemáticos têm perguntas que querem responder e as respostas são dadas provando-se novos resultados, ou seja, criando-se novos teoremas. E a busca em solucionar esses problemas geram mais perguntas em um ciclo interminável de perguntas e respostas. Resultados matemáticos surgem todos os dias e como esse volume de resultados gerados é tão grande daí se faz necessário a divisão em assuntos e temas cada vez mais específicos. Os matemáticos participam de eventos, congressos, seminários e outras atividades para divulgarem seus resultados e outros matemáticos ficarem sabendo e assim a teoria vai se construindo. Esse relato é uma pequena parte da pesquisa e serve apenas para ilustrar que a matemática é viva. A pesquisa matemática não é restrita aos matemáticos profissionais, há toda uma relação com outras ciências, empresas, indústrias etc. Meu objetivo no momento não é fazer um debate amplo sobre os temas levantados, mas apenas contribuir para abrir a mente dos nossos leitores ao apontar que há muito mais a se ver além de resultados em um livro didático. A pesquisa é um exemplo mais claro e ilustra bem que a matemática está em constante construção. Mas ela é apenas uma pequena contribuição. Esta construção é altamente colaborativa, é feita sim por todos que se dedicam a matemática. Me repito, pois vale a pena, esta revista é um exemplo desta vivacidade: um grupo de pessoas se juntam apaixonadamente para escrever e ensinar matemática. Cada artigo carrega consigo um estilo pessoal, a forma como esta pessoa enxerga a matemática. E ajunção de todas essas diferentes formas de enxergar a matemática também faz parte de como ela é moldada. Aos poucos tudo que foi levantado aqui será visto com mais cuidado ao longo das próximas edições, o que inclui é claro, fazer bastante matemática. Aproveitem. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 3 APRESENTAÇÃO Renato de Oliveira C. Madeira madematica.blogspot.com A Revista do Clube de Matemáticos – RCMat – é elaborada por uma equipe voluntária composta de mais de 90 matemáticos de todo o Brasil e dos mais diversos segmentos. Nosso principal objetivo é democratizar o ensino da Matemática, apresentando o assunto de maneira interessante e acessível a todos os estudantes e aos admiradores da "Rainha das Ciências". A publicação é organizada em 6 partes voltadas ao ensino fundamental, ensino médio, ensino universitário, olimpíadas de Matemática, Magistério (também ProfMat e outros concursos de nível superior) e variedades (aplicações da Matemática, curiosidades, história, etc.). Nós convidamos você a dar uma espiada em tudo. É bem provável que você encontre algo do seu interesse, também nas outras partes da revista. Na revista há artigos teóricos, listas de exercícios com resolução, provas de concursos resolvidas, questões de desafio, charges e muitas outras coisas úteis e legais. Há conteúdo voltado para estudantes que buscam auxílio na escola ou para aqueles que buscam um material adicional, para aqueles que se preparam para concursos civis e militares, e também para aqueles que simplesmente gostam de Matemática. Professores também encontrarão muito material útil para seu aprimoramento, para a preparação de suas aulas ou para concursos do Magistério. Teremos também um conteúdo especial para a preparação para olimpíadas de Matemática nos diversos níveis. E, para todos os amantes da Matemática, temos a parte de “Variedades” onde você encontrará várias seções interessantes e divertidas. Essa primeira edição é um piloto. Nas próximas teremos muitas novidades, mas, para que elas sejam ainda melhores, nós precisamos de vocês leitores. Interaja conosco pelo e-mail revistarcmat@gmail.com ou pela nossa página no Facebook (https://www.facebook.com/revistadoclubedematematicos/). Envie suas dúvidas de Matemática, enunciados de questões que você gostaria de ver resolvidas, sugestões de pautas, o que você quiser, pois essa revista é de todos nós. Se você é professor(a) ou estudante de Matemática, envie também suas sugestões ou junte-se a nós e seja também um autor da RCMat. mailto:revistarcmat@gmail.com https://www.facebook.com/revistadoclubedematematicos/ RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 4 Triplas Pitagóricas Carlos Eddy Esaguy Nehab Sumário O objetivo desse artigo é uma introdução às Triplas Pitagóricas, abordando o tema até sua clássica propriedade fundamental, em uma abordagem lúdica, passo-a- passo, e através de pequenos desafios. O texto evita o formalismo desnecessário, criando uma narrativa instigante, que esperamos gerar, em você, leitor, uma efetiva curiosidade para a aprendizagem desse tema(1). Introdução Acredito que você conheça o mais famoso e simples dentre os triângulos retângulos, que possui lados com medidas iguais a 3, 4 e 5 unidades. Naturalmente, por ser um triângulo retângulo, as medidas de seus lados satisfazem ao igualmente famoso Teorema de Pitágoras (2). Mas sem plagiar o “3, 4, 5”, ou seja, sem considerar seus múltiplos, você conhece outros triângulos retângulos cujas medidas dos lados sejam, também, números inteiros? Lembra de algum? Bem, aí vão vários exemplos! O “5; 12; 13”, o “7; 24; 25”, “8; 15; 17”, “9; 40; 41” e “20; 21; 29”. Não é formidável? Verifique que cada um deles é, de fato, um triângulo retângulo, ou seja, as medidas de seus lados satisfazem ao Teorema de Pitágoras! Mas seja esperto. Não utilize a igualdade clássica, pois você terá que elevar ao quadrado as medidas dos catetos, o que pode ser trabalhoso! Ao invés da expressão, 2 2 2a b c= + (1) pense na forma alternativa, 2 2 2b a c= − pois, neste caso, aplicando um produto notável simples, transformamos b2 numa expressão multiplicativa, muito mais prática para fazer contas mentalmente! Veja: ( )( )2b a c a c= + − (2) E então? Você percebe que essa igualdade facilita verificar se uma tripla de números é pitagórica ou não, com menos esforço?(3) Experimente! (1) O material aqui apresentado pode ser utilizado, em sua quase totalidade, por alunos do 9º ano do Ensino Fundamental. (2) A área do quadrado construído sobre a hipotenusa é a soma das áreas dos quadrados construídos sobre os catetos, ou seja: se a é a medida da hipotenusa e b e c são as medidas dos catetos de um triângulo, a versão algébrica do Teorema de Pitágoras é, então: 2 2 2a b c .= + (3) Mas seja esperto, também, para elevar ao quadrado, mentalmente, um número. Os produtos notáveis sempre ajudam... Eu calculo 228 , de cabeça, assim: ( ) 2 30 2 900 120 4 784.− = − + = E você, como calcularia 231 ? RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 5 Bem, agora vamos adiante! Como o próprio título sugere, pretendemos abordar o fascinante tema Triplas Pitagóricas, ou seja, triplas de números inteiros que podem representar as medidas dos lados de um triângulo retângulo. E esses triângulos são conhecidos como Triângulos Pitagóricos. Então, nossa vedete, a tripla “3; 4; 5”, assim como seu dobro – “6, 8, 10” ou seu triplo – “9; 12; 15”, são triplas pitagóricas, mas as duas últimas não tem muita graça, não é mesmo? Abstraindo o tamanho e se fixando no jeitão, esses triângulos são, de certa forma, iguais. Não é à toa que a matemática criou o termo figuras semelhantes, para essas situações: iguais na forma! Parece, então, que as triplas pitagóricas realmente interessantes são as que representam os menores triângulos com uma determinada forma, ou seja, quando os números que a compõem não possuem fator em comum: são primos entre si! Essas triplas são chamadas de Triplas Pitagóricas Primitivas e os triângulos retângulos associados são chamados de Triângulos Pitagóricos Primitivos. Assim, as triplas “6; 8; 10” e “9; 12; 15” são pitagóricas, mas não são primitivas. Mas atenção: todas as demais triplas já citadas no texto são triplas primitivas... Agora, para facilitar a notação, vamos representar uma tripla de números, escrevendo-os entre colchetes e, de preferência, com os valores em ordem crescente. Assim: [3; 4; 5], [5; 12; 13], [7; 24; 25] etc. Bem. Já está na hora de agitar um pouco os neurônios! Portanto, apresentaremos, por intermédio de sucessivos Desafios, propriedades sobre esse interessantíssimo tema. Alguns desses desafios serão resolvidos, outros apenas conterão dicas e, finalmente, há os presentinhos para VOCÊ, cujo objetivo é mesmo cutucá-lo e provocar a discussão com seus colegas e professores. Desafios Desafio 1. Determine todos os triângulos pitagóricos (primitivos ou não), com um lado medindo 12 unidades. Analise, separadamente, a possibilidade de 12 ser a medida da hipotenusa ou a medida de um cateto. Repita este desafio também para os valores 29 e 41. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 6 Solução (para o caso de um cateto medindo 12) Se 12 é a medida do cateto b, então ( )( )a c a c 144,− + = certo? E agora? De que forma o produto dos inteiros a c− e a c+ pode ser igual a 144? Na tabela a seguir exibimos os casos efetivamente úteis para nossa análise (pense nos possíveis divisores de 144 e porque privilegiamos apenas os 7 casos indicados).1º caso 2º caso 3º caso 4º caso 5º caso 6º caso 7º caso a c− 1 2 3 4 6 8 9 a c+ 144 72 48 36 24 18 16 Como a soma de a c− e a c+ vale 2a (um número par), os casos 1, 3 e 7 não nos servem. Analisando os casos 4 e 5, obtemos as triplas [12; 16; 20] e [9; 12; 15], ambas múltiplas de [3; 4; 5] e, portanto, triplas pitagóricas não-primitivas. Já nos casos 2 e 6 obtemos as triplas pitagóricas primitivas [12; 35; 37] e [5; 12; 13], respectivamente. Ou seja, há 4 triângulos pitagóricos que admitem 12 como medida de um de seus catetos! Agora, complete a solução do desafio! Desafio 2. Você é capaz de apresentar um triângulo pitagórico com todos os seus lados medindo mais do que um bilhão? É mais fácil do que você imagina. E se exigirmos que seja pitagórico primitivo? Desafio 3. Mostre que as triplas exibidas são triplas pitagóricas primitivas. Veja lá, hein! Não eleve ninguém ao quadrado, desnecessariamente! S1 = [201; 20.200; 20.201]; S2 = [2.001; 2.002.000; 2.002.001]; S3 = [20.001; 200.020.000; 200.020.001]. T1 = [20; 99; 101]; T2 = [200; 9.999; 10.001]; T3 = [2.000; 999.999; 1.000.001]. Você percebe alguma lei de formação nas triplas indicadas? Ou seja, quais seriam as próximas triplas, em cada caso? Você percebeu que nos triângulos S1, S2 e S3 a diferença entre os dois maiores lados vale 1 e, nos triângulos T1, T2 e T3, vale 2? E agora, o Desafio 2 ficou fácil? Desafio 4. Observe que as triplas [3; 4; 5], [5; 12; 13], [7; 24; 25] e [9; 40; 41] satisfazem às seguintes condições: • o cateto maior e a hipotenusa são dois números consecutivos; • o cateto menor é um número ímpar; • a soma do cateto maior com a hipotenusa é igual ao quadrado do cateto menor. a) Descubra mais quatro triângulos pitagóricos com esse jeitão. b) Responda: é possível o menor cateto de um triângulo desse tipo valer 17?( 4) Note que o quadrado de 17 vale 289. E, então? Qual seria a hipotenusa? E o cateto maior? c) Tente identificar alguma lei de formação para as medidas dos lados desses triângulos, mas fique ciente que você NÃO vai descobrir a pólvora! Vai (re)descobrir a (4) Para evitar que a linguagem fique maçante, quando falarmos dos lados de um triângulo, estaremos nos referindo, também, à medida dos referidos lados. Por exemplo, vamos escrever “o cateto vale 12”, significando “a medida do cateto” vale 12. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 7 famosa Fórmula de Pitágoras. Sim, ELE já sabia disso. Que tal pesquisar a época em que ELE viveu? Tem muito, muito tempo! Solução O desafio sugere, essencialmente, que sejam analisados triângulos retângulos, onde o cateto maior e a hipotenusa sejam inteiros consecutivos. Parece interessante, então, imaginar um inteiro n, qualquer e, fazendo b n,= a n 1,= + analisar o que daí decorre, certo? Então, pelo Teorema de Pitágoras: ( )( ) ( ) 2 2 2 2 2 c 1c a b a b a b c 1 2n 1 2n 1 n 2 − = − = − + = + = + = Como 2n 1+ é sempre ímpar, uma boa ideia é fazer c percorrer os números ímpares e calcular os valores correspondentes de a e b, que serão inteiros (porque?). 2c 1 b n 2 − = = e 2c 1 a n 1 2 + = + = E mais: somando a e b, obtemos, 2 2 2c 1 c 1 c , 2 2 + − + = ou seja, a soma do cateto maior com a hipotenusa é, de fato, igual ao quadrado do cateto menor! Atribuindo a c, valores inteiros ímpares positivos, com c 1, geramos a Tabela 1: c 2c a b= + b a 1o 3 9 4 5 2o 5 25 12 13 3o 7 49 24 25 4o 9 81 40 41 5o 11 121 60 61 Tabela 1 E agora, responda: qual o décimo, o vigésimo e o milésimo triângulo desse tipo? E..., antes tarde do que nunca! Dê uma OUTRA olhadinha no Desafio 2... Você percebeu que descobrimos uma INFINIDADE de Triângulos Pitagóricos Primitivos? Não é incrível? Nesses casos, acredite, é bom fazer como a maioria dos matemáticos: dar gritos e pulos de alegria, ao som de Pink Floyd ou de Beethoven, não importa! Vai, liga o som, bem alto! Desafio 5. No triângulo retângulo primitivo [8; 15; 17], a diferença entre hipotenusa e o maior cateto vale 2 (ao invés de 1, como no Desafio 4). a) Encontre outro triângulo pitagórico primitivo com essa característica (é claro que encontrar triângulos pitagóricos que não sejam primitivos é banal, pois basta dobrar os triângulos do Desafio 4). b) De forma análoga ao Desafio 4, faça b n= e a n 2,= + analisando c e investigando qual a necessária restrição sobre n. Espero que você conclua, sem dificuldade, que basta que n 1+ seja quadrado perfeito... RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 8 c) Faça uma tabela análoga à Tabela 1, com pelo menos cinco triângulos desse tipo e responda: qual o décimo triângulo dessa tabela? Desafio 6. Analise a bela questão que se segue, proposta na prova discursiva do vestibular de 2005, da UERJ. Uma curiosidade é que a propriedade abordada na questão, segundo estudiosos, já era do conhecimento dos babilônios (depois dê uma olhadinha na Wikipédia, para saber um pouco mais sobre esse povo e sua época). Mas vamos à questão da prova! Terno pitagórico é a denominação para os três números inteiros que representam as medidas, com a mesma unidade, dos três lados de um triângulo retângulo. Um terno pitagórico pode ser gerado da seguinte forma: • escolhem-se dois números pares consecutivos ou dois números ímpares consecutivos; • calcula-se a soma de seus inversos, obtendo-se uma fração cujos numerador e denominador representam as medidas dos catetos de um triângulo retângulo; • calcula-se a hipotenusa. a) Utilizando o procedimento descrito, calcule as medidas dos três lados de um triângulo retângulo, considerando os números pares 4 e 6. b) Considere x um número inteiro maior do que 1, e que x 1− e x 1+ representam dois pares ou dois ímpares consecutivos. Demonstre que esses dois números geram um terno pitagórico. Complementando a interessante questão, que tal você investigar, também, quais as condições para que os ternos pitagóricos descritos no item (b) sejam primitivos? Note que nada é dito, no enunciado, sobre simplificar ou não a fração resultante da soma dos inversos... Desafio 7. O Desafio 4 analisa triângulos pitagóricos onde os dois maiores lados são inteiros consecutivos. Mas no triângulo [3, 4, 5], os dois catetos TAMBÉM são inteiros consecutivos. Será que há uma infinidade de triângulos pitagóricos com essa característica? Solução Veja que, neste caso, fazendo b c 1,= + o Teorema de Pitágoras fornece 2 2a 2c 2c 1= + + Como consequência, devemos procurar valores de c para os quais a expressão 22c 2c 1+ + é um quadrado perfeito! Na Tabela 2 exibimos os 10 (dez) primeiros triângulos deste tipo (omitimos o 2º). Note que a hipotenusa do 8º triângulo já é maior do que 1 milhão! Você percebeu que esses triângulos ocorrem de uma forma bem mais rara, esparsa, do que as famílias de triângulos pitagóricos analisados anteriormente? Bem, na verdade há sim, uma infinidade de triângulos desse tipo mas, infelizmente, obter uma solução geral para esse desafio não é simples (5), pois exige conteúdo que está um pouco além do objetivo deste texto. (5) Pode ser obtida uma solução direta ou através da chamada Equação de Pell. Veja [1], na última seção, Referência de Leitura. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 9 N c b c 1= + 2a 2c 2c 1= + + 1º 3 4 5 2o ? ? ? 3o 119 120 169 4o 696 697 985 5o 4059 4060 5741 6o 23.660 23.661 33.461 7o 137.903 137.904 195.025 8o 803.760 803.761 1.136.689 9o 4.684.659 4.684.660 6.625.109 10o 27.304.196 27.304.197 38.613.96 Tabela 2 a) Determine,por tentativa e erro, o triângulo da 2ª linha. Uma dica: a medida da hipotenusa está entre 25 e 35. b) Se um triângulo dessa tabela, possui hipotenusa a e catetos b e c, é possível provar que o triângulo ', de hipotenusa a’ e catetos b’ e c’, calculados pelas expressões c ' 3b 2a 1,= + + b' c' 1= + e a ' 3a 4c 2,= + + corresponde exatamente ao triângulo que sucede na tabela! Use as expressões apresentadas para calcular os lados do 2º e 3º triângulos a partir dos lados do triângulo anterior... c) Se você já aprendeu a criar fórmulas simples em algum produto tipo planilha, use o item anterior e o primeiro triângulo [3; 4; 5] para construí-la. Mas vá além, até o 15º triângulo e se surpreenda: você deve encontrar 259.717.522.849 para o valor de sua hipotenusa. Isso, quase 260 bilhões! Sinistro, não? Concluímos com uma curiosidade: a razão entre as hipotenusas de dois triângulos consecutivos dessa tabela se aproxima de 3 2 2 5,83 ,+ à medida em que os triângulos crescem... Ou seja, cada triângulo é quase 6 vezes o anterior. Faça umas continhas para verificar essa aparente mágica... Para quem está em dia com Divisão entre Inteiros ou Aritmética Modular e possui alguma intimidade com demonstrações nesse contexto, os Desafios 8 e 9 são muito interessantes e abordam propriedades simples e curiosas sobre os triângulos pitagóricos. Mesmo que você não consiga demonstrar as propriedades neles expressas, não se intimide. Brinque com elas. É assim que a gente aprende e apreende mais e mais matemática... Desafio 8. Analisando QUALQUER triângulo pitagórico, note que: (1) Se for primitivo, a hipotenusa é ímpar e os catetos possuem paridades opostas. (2) Se for primitivo, a hipotenusa jamais é um múltiplo de 3. (3) Se for primitivo, a hipotenusa jamais é um múltiplo de 4. (4) Um dos catetos é necessariamente múltiplo de 3; (5) Um dos catetos é necessariamente múltiplo de 4; RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 10 (6) Se for primitivo, exatamente um dos lados é múltiplo de 5 (ou seja, apenas a hipotenusa ou apenas um dos catetos). Se não for primitivo, pelo menos um dos lados é múltiplo de 5. (6) Prove que todas as características descritas de (1) a (6) são, na verdade, SEMPRE verdadeiras, ou seja, são propriedades gerais dos triângulos pitagóricos. Solução (parcial) Se você estudou divisão entre números inteiros, aprendeu que podemos expressar, de forma única, qualquer inteiro N, na forma N dq r,= + onde q é o quociente e r é o resto da divisão de N pelo divisor d (7). No caso de d 3= podemos, então, expressar as medidas dos catetos de um triângulo pitagórico da seguinte forma, onde q e q’ são os quocientes e r e r’ são os restos da divisão de b e c por 3, respectivamente: b 3q r= + e c 3q ' r ',= + onde r, r ' 0,1,2.= Estamos preparados, agora, para resolver o item (2): utilizando Pitágoras, temos: ( ) ( ) ( ) ( )2 22 2 2 2 2a 3q r 3q ' r ' 3 3q 3q ' 2q 2q ' r r '= + + + = + + + + + Assim, 2a resulta em um múltiplo de 3 somado à expressão ( )2 2r r ' ,+ que somente é múltipla de 3 se r e r’ forem simultaneamente nulos (teste as possibilidades). Então, só é possível a hipotenusa ser um múltiplo de 3 se também os dois catetos o forem, ou seja, quando o triângulo não é primitivo. Esse argumento prova o item (2). Desafio 9. [para os mais experientes] Dado um triângulo pitagórico primitivo, considere d, a diferença entre as medidas de sua hipotenusa e de seu cateto maior (note que já estudamos, nos Desafios 4 e 5, as situações d 1= e d 2).= a) Analisando os casos d 7= ou d 11,= justifique o fato de que d não pode ser um primo ímpar. b) A partir da argumentação anterior, prove que a decomposição de d NÃO pode conter um fator p , com p primo ímpar e ímpar, tampouco com p 2= e par. Analise os casos d 12,= d 45= e d 8.= Desafio 10. Os desafios anteriores nos possibilitaram a descoberta de várias famílias curiosas de triângulos pitagóricos primitivos, cada uma com um certo jeitão! Mas sem dúvida, resta uma pergunta que, com certeza, sua curiosidade gostaria de ver respondida: “Há alguma uma lei geral, que possibilite a geração de TODAS as triplas pitagóricas?” Para os triângulos pitagóricos primitivos a resposta é afirmativa e vamos analisar uma abordagem que requer apenas álgebra básica. Vejamos: Se m e n são números quaisquer, analise a igualdade que se segue, facilmente demonstrável usando produtos notáveis básicos: ( ) ( ) ( )2 2 2m n m n 2mn+ = − + (3) (6) Pode ocorrer que um mesmo lado seja, simultaneamente, múltiplo de 3, 4 e 5. Por exemplo, na tripla [11, 60, 61]. (7) Onde d 0 e 0 r d . RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 11 Note que essa identidade, que envolve três quadrados, pode ser facilmente associada ao Teorema de Pitágoras, em um triângulo retângulo cuja medida da hipotenusa vale 2 2m n+ e cujas medidas dos catetos valem 2 2m n− e 2mn! E, naturalmente, se m e n forem inteiros, a hipotenusa e os catetos também serão números inteiros! Resumindo: se m e n são inteiros, com m n 1, o triângulo cujos lados medem a, b e c, definidos pelas equações em (4), a seguir, é um triângulo retângulo (porque m n 1?). 2 2 2 2 a m n b m n c 2mn = + = − = (4) a) Atribua a m e n os pares de valores indicados na Tabela 3, completando-a e verificando se os triângulos obtidos a partir de (4) são primitivos ou não. m 2 3 3 5 7 n 1 1 2 2 5 a b c Tabela 3 b) Verifique que NÃO é possível encontrar valores inteiros para m e n de forma a obter o triângulo pitagórico [9, 12, 15]. Conclua, então, que as igualdades em (4), com m e n inteiros, NÃO geram todos os triângulos pitagóricos. c) Variando m de 2 a 7, e escolhendo m n 1, criamos a Tabela 4, onde explicitamos os triângulos (triplas) obtidos em cada caso. m N Tripla m N Tripla m n Tripla m n Tripla 2 1 [3, 4, 5] 5 1 2 [5, 12, 13] 6 1 [12, 35, 37] 7 1 2 [7, 24, 25] 3 1 2 [3, 4, 5] 2 [20, 21, 29] 2 8 [3, 4, 5] 2 [28, 45, 53] 2 [5, 12, 13] 3 2 [8, 15, 17] 3 9 [3, 4, 5] 3 2 [20, 21, 29] 4 1 [8, 15, 17] 4 [9, 40, 41] 4 4 [5, 12, 13] 4 [33, 56; 65] 2 4 [3, 4, 5] 5 [11, 60, 61] 5 2 [12, 35, 37] 3 [7, 24, 25] 6 [13, 84, 85] Tabela 4 Identifique, nesta tabela, as situações em que m e n NÃO são primos entre si e, também, as situações onde m e n são ambos ímpares. Perceba que, em todos esses casos, o triângulo obtido NÃO é um pitagórico primitivo. Tente justificar porque, de fato, nessas condições, isso sempre ocorre. d) Observe, na Tabela 4, que quando m e n são primos entre si e não são ambos ímpares, o triângulo obtido é pitagórico primitivo. Tente provar esse fato, pois ele é conhecido como a Propriedade Fundamental das Triplas Pitagóricas. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 12 Sugestões de Leitura Considerando que a bibliografia disponível sobre esse tema é vastíssima sugiro, apenas para os leitores seniores, as seguintes referências: [1] – “Equações Diofantinas”, de Antonio Caminha Muniz Neto. https://www.obm.org.br/content/uploads/2017/01/eureka7.pdf Dos autores John A. Fossa e Glenn W. Erickson, da UFRN: [2] – o artigo “Sobre a Classificação de Triângulos Pitagóricos”, publicado na revista Principios. https://periodicos.ufrn.br/principios/article/view/629/574 [3] – o livro “Número e razão: os fundamentos matemáticos da metafísica platônica” (Natal: EDUFRN, 2005. 152 p) https://books.google.com.br/books?id=pfnMhRYI5HgC&printsec=frontcover&dq=isbn:8578610199&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiC_o- f6rLbAhUDj5AKHTmqBzUQ6AEIKDAA#v=onepage&q&f=false [4] – O artigo “When is n a member of a Pythagorean triple?” dos autores Dominic e Alfred Vella, publicado no The Mathematical Gazette, 87(508), 102-105”. doi:10.1017/S0025557200172183 [5] – Do professor Jens Høyrup, referência mundial em História da Matemática (da Babilônia, em especial), um artigo interessantíssimo para os aficionados, com download permitido para estudo pessoal: https://rucforsk.ruc.dk/ws/portalfiles/portal/4340054. https://www.obm.org.br/content/uploads/2017/01/eureka7.pdf https://periodicos.ufrn.br/principios/article/view/629/574 https://books.google.com.br/books?id=pfnMhRYI5HgC&printsec=frontcover&dq=isbn:8578610199&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiC_o-f6rLbAhUDj5AKHTmqBzUQ6AEIKDAA#v=onepage&q&f=false https://books.google.com.br/books?id=pfnMhRYI5HgC&printsec=frontcover&dq=isbn:8578610199&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiC_o-f6rLbAhUDj5AKHTmqBzUQ6AEIKDAA#v=onepage&q&f=false https://books.google.com.br/books?id=pfnMhRYI5HgC&printsec=frontcover&dq=isbn:8578610199&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiC_o-f6rLbAhUDj5AKHTmqBzUQ6AEIKDAA#v=onepage&q&f=false https://rucforsk.ruc.dk/ws/portalfiles/portal/4340054 RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 12 MATEMÁTICA NA ÁREA. Cristiano Marcell É muito comum nos últimos anos do ensino médio, antes de começarmos a expor aos alunos o conteúdo do tópico volume de sólidos geométricos, revisarmos fórmulas que calculam as áreas das principais figuras planas, aprendidas no ensino fundamental. Reconheço que, por se tratar de um assunto que me agrada bastante, a simples apresentação das expressões no quadro negro (hoje, branco) nunca me satisfez. Procuro demonstrar todas elas, inclusive o radical de Heron. Certa feita, numa turma de 3° ano do ensino médio do Colégio Pedro II, lancei um conhecido problema, a fim de instigar os alunos, então mais maduros, a encontrarem a área de um triângulo de perímetro 2p circunscrito a um círculo de raio r, em função de p e r. Observe a figura 1. Após ter concedido um tempo para que pensassem sobre o problema, propus que partíssemos juntos para solução, ouvindo as sugestões de todos. Em verdade, o que rabiscamos não foi muito diferente de minha solução dos tempos de 8ª série, quando eu me debruçava horas sobre os livros de geometria plana de Eduardo Wagner 1e Edgar Alencar Filho2. Dividi o triângulo ABC em outros três triângulos menores partindo do centro da circunferência indo até os vértices A, B e C. Logo em seguida, tracei os raios nos pontos de tangência P, Q e T dos lados AB, AC e BC, respectivamente, que serviram de altura para os triângulos AOC, AOB e BOC. Como podemos notar na figura 2. 1 Jorge, M., Morgado, A. C. e Wagner, E. – Geometria I (2° grau) – Livraria Francisco Alves Ed. Jorge, M., Morgado, A. C. e Wagner, E. – Geometria II (2° grau) – Livraria Francisco Alves Ed. 2 Alencar Filho, E. – Exercícios de Geometria Plana – Nobel. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 13 Assim, a soma das áreas dos triângulos AOC, AOB e BOC resulta na área S do triângulo ABC. ( ) ( ) ( )S S AOC S AOB S BOC= + + ( ) a r b r c r r r S a b c 2p p r 2 2 2 2 2 = + + = + + = = Concluímos que S p r.= Findou-se a aula e alguns dias se passaram. Um dos alunos me trouxe um problema similar para calcular a área do triângulo ABC, contudo A 90= e era fornecido pelo enunciado somente os valores de CT 4 cm= e BT 9 cm= (figura 3). Parti para uma resolução mais genérica admitindo que CT x= e BT y.= Daí: RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 14 I) AP AQ r,= = formando o quadrado de APOQ; II) CT CP x;= = e III) BT BQ y.= = Não é difícil notar que AP PC AC b x r+ = − = e BQ AQ AB c y r.+ = − = Obtivemos a igualdade b x c y b c x y.− = − − = − Logo, elevando as duas partes ao quadrado, temos: ( ) ( ) ( )22 2 2 2 2b c x y b c 2bc x y 2xy IV− = − + − = + − Pelo Teorema de Pitágoras, temos 2 2 2a b c .= + Como a x y,= + chegamos à substituição ( )2 2 2x y b c+ = + (V) Substituindo (V) em (IV), temos: ( )2 2 2 2 2 2 2x y 2bc x y 2xy x 2xy y 2bc x y 2xy+ − = + − + + − = + − 2bc 4xy bc 2xy = = A área S do triângulo retângulo ABC é dada por b c S , 2 = daí: bc 2xy S x y. 2 2 = = = No caso específico do exercício temos S 4 9 36 cm.= = RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 15 Tratei então de estender um pouco mais o assunto, inscrevendo esse triângulo ABC em uma semicircunferência de raio R. Com isso, a 2R= (figura 5). Seja o vértice A um ponto pertencente à semicircunferência circunscrita ao triângulo retângulo, todos os possíveis triângulos têm base igual a 2 R.= Isso deixa claro que a área do triângulo aumenta ou diminui de acordo com a medida de AH, perpendicular ao diâmetro BC. Sejam AH e A’H’ tais que AH A 'H ', então AH A'H ' 2R AH 2R A'H ' AH A'H ' 2 2 2 2 ( ) ( )S BAC S BA'C . O triângulo ABC de área máxima será aquele cuja altura mede R. Isto quer dizer que sua área máxima mede ( ) ( )2máx BC AH 2R R S ABC R * . 2 2 = = = Uma abordagem interessante também seria a de expressar essa área em função da medida x do segmento CT, ou seja, CT x.= RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 16 Observemos que ( ) ( ) S x y VI x y 2 R VII = + = De (VII) concluímos que y 2R x.= − Substituindo (VII) em (VI), temos: ( ) 2S x 2R x S x 2rx.= − = − + Trata-se de uma função quadrática onde x está definido no intervalo 0 x 2R e cujo gráfico pode ser representada por RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 17 As coordenadas do vértice V determinarão o valor de x para que a área S seja máxima. ( )V b 2R x R. 2a 2 1 = − = − = − Calculamos para a obtenção da coordenada y do vértice, o valor de ( ) ( )22 2b 4ac 2R 4 1 0 4R . = − = − − − = Logo, ( ) 2 2 V 4R y R . 4a 4 1 = − = − = − Confirmamos o que foi exibido em ( )* através dessa função quadrática. Por outro lado, olhemos novamente para o triângulo ABC na figura 9, cuja altura relativa à hipotenusa mede h, BT x= e CT y.= Utilizando o cálculo da área do triângulo convencional, podemos escrever que a área do triângulo ABC é dada por ( ) ( )x y h S ABC S . 2 + = = Daí, temos que ( )x y h 2xy 1 1 1 xy h h x y x y 1 12 x y 2xy xy xy x y 2 2 + = = = = = ++ + + 1 h 1 1 x y 2 = + RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 18 Isso nos mostra que h é, na verdade, a média harmônica entre os termos x e y. Sabemos, porém, que para quaisquer x e y pertencentes aos reais positivos, a média harmônica desses valores é sempre menor ou igual à média geométrica desses mesmos dois valores. Logo, 21h xy S h S h S. 1 1 x y 2 = = + Mostramos assim que, considerando um triângulo retângulo ABC de área S, inscrito numa semicircunferência de raio R, cuja altura relativa à hipotenusa mede h vale a seguinte desigualdade 2 2h S R . Após tantos anos de magistério, não deixo de achar incrível como a Matemática nos proporciona aprendizados novos a cada aula lecionada. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 19 Rigidez versus FlexibilidadeDaniel Mororó Polígonos são utilizados como base para diversos tipos de objetos, desde simples alicates até pontes. Observemos as figuras a seguir: As figuras na primeira linha se diferenciam das outras na segunda em termos de estrutura. Na segunda linha temos partes móveis que permitem flexibilidade e diversas configurações. Por outro lado, construções como pontes, guindastes e quadros de bicicletas exigem certo grau de resistência em sua produção, a fim de impedir que mudem de forma drasticamente. Além da rigidez, as primeiras figuras possuem outra característica comum: a forma plana básica em sua constituição são triângulos; os objetos da segunda linha por outro lado têm quadriláteros compondo suas partes flexíveis. O que está por detrás disso? Um pouco de Geometria Plana! A rigidez triangular reside no fato de que só é possível modificar um triângulo por descolamentos rígidos (rotações, translações e reflexões). Podemos reescrever essa afirmação como "não é possível alterar esse polígono sem deformar seus lados”. O caso de congruência de triângulos Lado-Lado-Lado é a prova. Não existem dois triângulos diferentes com as mesmas medidas de lados. Fig 1. Ao deslocarmos o ponto B do triângulo ABC, alteramos as medidas dos lados AC e BC. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 20 Num sentido contrário, com as mesmas medidas de lados, é possível desenhar diversos quadriláteros diferentes. (modificando apenas seus ângulos). Fig 2. Ao deslocarmos o ponto A do quadrilátero ABCD, mantém-se os comprimentos de seus 4 lados. Existem, portanto, dentro de algumas condições, infinitos quadriláteros com as mesmas medidas de lados. Que condições são essas? Consideramos os pontos A e B, distantes d, e as circunferências centradas em A, de raio fixo 1l e B, de raio fixo 2l . Existirá um triângulo ABC de lados d, 1l e 2l se, e somente se, essas circunferências forem secantes, ou seja, 1 2 1 2l l d l l .− + De maneira análoga, ao considerarmos as circunferências centradas em A e B, de raios fixos 3l e 4l , respectivamente, existirá um triângulo ABD se, e somente se, 3 4 3 4l l d l l .− + O quadrilátero ABCD, de lados 1l , 2l , 3l e 4l , existirá caso o sistema a seguir admita solução. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 21 1 2 1 2 3 4 3 4 l l d l l . l l d l l − + − + Se o sistema tiver solução, ela não será única. Haverá infinitos valores reais para d, pois ele pertencerá a um intervalo real. Portanto, haverá inúmeras configurações de quadriláteros com lados 1l , 2l , 3l e 4l . Assim, quando estruturas exigem rigidez, uma forma de construí-las é utilizando peças triangulares encaixadas; quando necessitam de mobilidade, uma ideia é utilizar quadriláteros. Para exemplificar, tomemos os segmentos 1l 5 cm,= 2l 3 cm,= 3l 4 cm= e 4l 2 cm.= O sistema de inequações que estabelece as condições de existência desses quadriláteros será: 5 3 d 5 3 2 d 8 2 d 6 4 2 d 4 2 2 d 6 − + − + Como esse sistema possui infinitas soluções reais para d, então existem infinitos quadriláteros com as medidas indicadas. Para refletir, percebemos que, na figura do quadro da bicicleta, há um quadrilátero convexo, primeiramente "flexível", mas que é ligado por uma de suas diagonais, o que faz com que a estrutura venha a se tornar "firme". É possível fazer o mesmo com um pentágono ou com um hexágono convexos? Considerando o menor número possível de diagonais a serem utilizadas, de quantas formas isso pode ser feito em cada um dos polígonos? Referências ASSOCIACIÓN FONDO DE INVESTIGADORES Y EDITORES. Geometría: una visíon de la planimetría. 2a edição. Peru. Lumbreras Editores. 2008. 944p. WAGNER, E. Congruência de triângulos. Disponível em <http://www.profmat- sbm.org.br/ma13/>. Acesso em 01/06/2018 SOCIEDADE PORTUGUESA DEMATEMÁTICA. Isto é Matemática - T10E08 - “O Triângulo e o Quadrilátero (Parte 1)”. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=8h6iG8htovY>. Acesso em 01/06/2018 SOCIEDADE PORTUGUESA DEMATEMÁTICA. Isto é Matemática - T10E08 - “O Triângulo e o Quadrilátero (Parte 2)”. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=OM3SIVHYo2U>. Acesso em 01/06/2018 RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 22 MINICURSO DE TEORIA DOS NÚMEROS Jean Lira Aqui começaremos um pequeno curso sobre teoria dos números que será lançado em cada edição da revista. Para acompanhar esse curso, não será necessário conhecimento anterior sobre o tema e juntos desenvolveremos de conceitos básicos até alguns mais avançados. Em cada edição, teremos uma série de exercícios resolvidos, e outros sugeridos, com a intenção de fixar o conteúdo e desafiar o leitor. Espero que seja de leitura fácil e prazerosa, e que você, leitor, sinta interesse e vontade de seguir conosco até o final dessa jornada. Sobre a Teoria dos números A teoria dos números é a parte da matemática responsável por estudar as propriedades dos números inteiros, assim como suas consequências. Vamos aqui estudar, ao longo deste curso, divisibilidade, números primos, congruências entre outras tantas ferramentas poderosíssimas tanto para o aprendizado de matemática quanto para provas de cunho militar, técnicas e olimpíadas. Entre os principais desenvolvedores dessa teoria estão nomes de peso, como o grego Euclides (Sec. III a.c), o francês Pierre de Fermat (1601 – 1665), o Suíço Leonhard Euler (1707 – 1783), e outros. Vamos, juntos com eles, entender mais sobre os números inteiros e suas intrigantes propriedades! Divisibilidade Estudamos na escola, desde pequenos, a divisão. Quando perguntados quanto é 6 dividido por 2, respondíamos quase que de imediato: 3, afinal, além de termos decorado a tabuada, sabíamos que “o 2 cabe 3 vezes dentro do 6”, pois 2 2 2+ + é 6. Esse conceito inocente sobre divisão não está de forma alguma errado. Muito pelo contrário, é fácil de entender e bastante útil para problemas simples do cotidiano. O que vamos fazer aqui é amadurecer essa ideia e nos aprofundar nas consequências resultantes desse conceito divisão. Por exemplo, quando tivermos, como mencionado acima, um número inteiro a que consegue dividir um outro número inteiro b vamos usar a notação: a|b que significa dizer “a divide b”, ou seja, existe um número inteiro q para o qual podemos escrever: b a q= Uma outra forma é dizer que b é um múltiplo de a. Usando como exemplo o 6 e o 2 que estávamos falando há pouco, podemos escrever: 2 | 6 RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 23 Afinal, temos 6 2 3= (olha aí o tal do “2 cabe 3 vezes dentro do 6”), então 6 é um múltiplo de 2. Quando um número inteiro a não consegue dividir outro inteiro b escrevemos: a | b ou seja, a não divide b. Sendo assim, não existe nenhum número inteiro q para o qual b a q= e b não é múltiplo de a. Um exemplo disso é a divisão de 8 por 3, nenhum número inteiro multiplicado por 3 tem como resultado 8, 8 não é múltiplo de 3, logo: 3 | 8 Agora vamos ver algumas propriedades divisão: (I) Para qualquer valor inteiro de a, temos 1 | a, a | 0 e a | a. Todo número inteiro é múltiplo de 1, 0 é múltiplo de qualquer número inteiro e todo número inteiro é múltiplo dele mesmo. Demonstração: Independente do valor inteiro de a, temos a 1 a= e 0 a 0.= (II) Se a | b então ( )a | k b para qualquer k inteiro. Se a divide b, então a vai dividir qualquer múltiplo de b. Exemplo: Como 4 | 8 então 4 | 16, 4 | 24 e 4 | 32, pois 16, 24 e 32 são múltiplosde 8. Demonstração: Se a | b, então existe um inteiro q onde b a q,= multiplicando ambos os lados por um inteiro k, teremos b k a q k, = porém q k é um número inteiro 2q , o que leva a igualdade 2b k a q , = então ( )a | k b . (III) Se a | b e a | c então ( )a | bm cn+ para todo m e n inteiros. Exemplo: Como 3 | 9 e 3 | 12 então 3 | 45, pois 45 9 1 12 3.= + Demonstração: Se a | b então 1b a q .= Se a | c então 2c a q .= Logo, 1 2bm cn aq m aq n,+ = + colocando-se o a em evidência ( )1 2bm cn a q m q n ,+ = + ou seja ( )a | bm cn .+ (IV) Se a | b e b | c então a | c. Essa propriedade é chamada de transitividade. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 24 Exemplo: Como 7 | 21 e 21 | 42 então 7 | 42. Demonstração: Se a | b então 1b a q .= Se b | c então 2c b q .= Portanto, 1 2c a q q= e, chamando 1 2q q de 3q , temos 3c a q ,= o que implica a | c. (V) Se a | b então b 0= ou a b . Essa propriedade é chamada de limitação. Exemplo: Se x é inteiro, x 0 e, além disso, x | 12 então x 1,2,3,4,6,12 . Demonstração: Se a | b então b a q.= Se q 0= temos b 0= e se q 0 então q 1. Daí, temos b a q ,= o que leva a a b . Algoritmo da divisão de Euclides Quando tentamos dividir o número 17 por 5, vemos que não é possível, pois “o 5 cabe 3 vezes dentro de 17”, porém sobram ainda duas unidades para completar 17. Nesse caso podemos perceber que 17 5 3 2.= + Ao 17, damos o nome de dividendo, ao 5, damos o nome de divisor, o 3, que é o número de vezes que o 5 “cabe” em 17, denominamos quociente e chamamos as duas unidades que sobram de resto da divisão. Da mesma forma, não conseguiríamos dividir 50 por 11, afinal, 50 11 4 6,= + ou seja, o dividendo seria o 50, o divisor o 11, quociente 4 e o resto 6. Generalizando, dizemos que se um número inteiro a dividido por outro inteiro d resulta em um quociente q e um resto r, então podemos escrever a d q r,= + ou seja, dividendo é igual ao divisor vezes o quociente mais o resto. Se pensarmos um pouquinho, vamos conseguir ver que existe um número de valores limitados para o resto, afinal, se o resto for igual ou maior ao divisor d, então o divisor “caberia mais uma vez” dentro do dividendo, ou seja, r só pode assumir valores inteiros menores que o divisor, temos então que ( ) r 0,1,2,3, , d 1 − ou 0 r d 1. − Exemplo: Quais seriam os restos possíveis da divisão de um número inteiro x por 5? Ao se dividir um número por 5 os únicos restos possíveis seriam 0,1,2,3 ou 4, pois se o resto for maior ou igual a 5 então o 5 “caberia mais uma vez” dentro de x. Uma situação interessante que podemos perceber é que se dividirmos um número inteiro b por outro inteiro a então, pelo algoritmo da divisão teremos: b a q r= + Mas, se r 0,= então b a q.= Isso quer dizer que a | b, ou seja, a | b quando o resto da divisão de b por a for 0. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 25 Uma consequência importante do algoritmo da divisão é o fato de qualquer número dividido por 2 só poder deixar resto 0 ou 1. Assim um número b ao ser dividido por 2 só pode ser representado como: b 2q= ou b 2q 1.= + Quando o resto da divisão por 2 for 0, ou seja, b 2a,= dizemos que esse número é par e, quando o resto for 1, com b 2q 1,= + o chamamos de ímpar. Como o resto por 2 só pode ser 0 ou 1, então qualquer número inteiro pode ser classificado como par ou ímpar. PROBLEMAS: Problema 1. Encontre o número natural que ao ser dividido por 7 resulta um quociente 4 e resto maior possível. Problema 2. Encontre os números inteiros maiores do que 0 que, quando divididos por 8, deixam resto igual ao dobro do quociente. Problema 3. (OBM) Numa reunião da comunidade do bairro, cada uma das 125 pessoas presentes recebeu um número diferente, a partir do número 1 até o 125. Em dado momento, foi feita uma lista das pessoas com número par e das pessoas com número múltiplo de 3, que deveriam participar de um projeto. Algumas pessoas reclamaram, dizendo que o seu nome aparecia duas vezes na lista. Quantas pessoas apareceram duas vezes na lista? Problema 4. (CN) Se a e b são números naturais e 2a b+ é divisível por 13, então um número que com certeza é múltiplo de 13 é: a) 91a b+ b) 92a b+ c) 93a b+ d) 94a b+ e) 95a b+ Problema 5. Provar que qualquer número quadrado perfeito ou é da forma 4k ou da forma 4k 1,+ com k sendo um número natural. SOLUÇÕES: Solução do problema 1. Como os restos possíveis na divisão por 7 são 0, 1, 2, 3, 4, 5 ou 6 então o maior resto possível será 6. Assim, chamando o número que queremos achar de N, temos, pelo algoritmo da divisão: N 7 4 6 34= + = Solução do problema 2. Chamando o dividendo de N, o quociente de q e o resto de r, temos: N 8 q r= + Sabemos que r 0,1,2,3,4,5,6,7 . Pelo enunciado r 2q,= então r é par, o que implica r 0,2,4,6 . Se r 0,= temos 2q 0,= logo q 0= e N 0= (não serve). RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 26 Se r 2,= temos 2q 2,= logo q 1= e N 8 1 2 10.= + = Se r 4,= temos 2q 4,= logo q 2= e N 8 2 4 20.= + = Se r 6,= temos 2q 6,= logo q 3= e N 8 3 6 30.= + = Portanto, os números são 10, 20 e 30. Solução do problema 3. O problema foi gerado pelo fato de alguns números múltiplos de 3 serem também pares. Como o menor par múltiplo de 3 é o 6 (mínimo múltiplo comum de 2 e 3), então as senhas que vão apresentar problemas serão as senhas múltiplas de 6. Para saber quantos números entre 1 e 125 (incluídos os dos extremos) são múltiplos de 6, basta perceber que a cada seis unidades na sequência dos números naturais, a partir do 1, teremos um múltiplo de 6, então basta saber quantas vezes o 6 “cabe” dentro do 125. Como 125 dividido por 6 é igual a 20, com resto 5, então há 20 múltiplos de 6 entre 1 e 125 (incluídos os dos extremos), logo 20 pessoas aparecem duas vezes na lista. Solução do problema 4. Para resolver esse problema utilizaremos a propriedade (III) da divisibilidade, ao se somar dos números múltiplos de 13 então o resultado também será múltiplo de 13. Analisando as alternativas temos: a) ( )91a b 89a 2a b ,+ = + + não é certo, pois 89 não é múltiplo de 13. b) ( )92a b 90a 2a b ,+ = + + não é certo, pois 90 não é múltiplo de 13. c) ( ) ( )93a b 91a 2a b 13 7a 2a b ,+ = + + = + + é certo, pois 91 é múltiplo de 13. d) ( )94a b 92a 2a b ,+ = + + não é certo, pois 92 não é múltiplo de 13. e) ( )95a b 93a 2a b ,+ = + + não é certo, pois 95 não é múltiplo de 13. Logo, a resposta correta é letra (c). Solução do problema 5. Um número inteiro N ou é par ou é ímpar. Se N é par então N 2q,= logo: ( )22 2N 2q 4q= = Chamando 2q de k ficamos com: 2N 4k.= Se N é ímpar então N 2q 1,= + logo: ( ) ( )22 2 2N 2q 1 4q 4q 1 4 q q 1= + = + + = + + Chamando ( )2q q+ de k ficamos com: 2N 4k 1.= + C.Q.D. Com isso encerramos esta primeira parte do curso de Teoria dos números. Na próxima edição falaremos de critérios de divisibilidade, números primos, múltiplos e divisores. Espero que você, leitor, tenha gostado e aprendido bastante. Até a próxima! RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 27 As questões mais legais da prova de Matemática do concurso de admissão ao 6º ano do Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ) de 2018 Renato de Oliveira C. Madeira madematica.blogspot.com Nesse artigo é apresentada uma seleção das questões mais interessantes da prova de Matemática do CMRJ 2018. Não são necessariamenteas questões mais difíceis ou as que envolvem os temas mais complexos, mas aquelas que apresentam oportunidade para discussões interessantes relacionadas a elas. Se você quiser ver a prova completa com as outras resoluções, basta acessar o site da revista. Vamos começar! A seguir são apresentados os enunciados das questões 4, 5, 7, 10 e 18. Agora é hora de você gastar algum tempo tentando resolvê-las. Depois vou apresentar as minhas resoluções e nós vamos conversar um pouco sobre essas questões. 4) Durante uma aula de Matemática para o 6º ano do Colégio Militar do Rio de Janeiro, o professor Flávio escreveu no quadro a seguinte distribuição dos números naturais: Mantendo-se a disposição acima, pode-se afirmar que o número que inicia a 21ª linha é um a) divisível por 7. b) divisível por 3. c) múltiplo de 4. d) primo. e) par. 5) Observe, na figura abaixo, a quantidade de mesas e o número máximo de lugares disponíveis em cada configuração: RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 28 Considere que a sequência de configurações continue, segundo o padrão apresentado. Então, a soma dos algarismos do número máximo de lugares disponíveis em uma configuração com 75 mesas é igual a a) 14 b) 12 c) 10 d) 8 e) 6 7) Os povos indígenas têm uma forte relação com a natureza. Suponha que a tribo indígena Kayapó Gorotire, do Norte do Brasil, celebre o Ritual do Sol de 20 em 20 dias, o Ritual da Chuva de 66 em 66 dias, e o Ritual da Terra de 30 em 30 dias. Se os três rituais acontecerem hoje, 10 de setembro de 2017, que é um domingo, o próximo dia da semana em que os três rituais serão celebrados juntos novamente será a) Sábado. b) Terça-feira. c) Quarta-feira. d) Quinta-feira. e) Sexta-feira. 10) Três irmãos deveriam dividir entre si os biscoitos de uma cesta. Dona Joana, a mãe deles, não lhes disse quantos biscoitos havia na cesta; disse apenas que a divisão seria feita pela manhã, ao acordarem, conforme a seguinte regra: “o primeiro a acordar fica com metade dos biscoitos; o segundo fica com a terça parte do que restar; o último fica com a quarta parte do que restar”. Apesar de acordarem em horários diferentes, cada um dos irmãos acreditou que era o primeiro a acordar e pegou a metade dos biscoitos que achou na cesta. Dessa maneira, o irmão que acordou por último pegou seis biscoitos. Se tivessem seguido a regra de dona Joana corretamente a) sobraria um único biscoito na cesta. b) o irmão que acordou por último pegaria três biscoitos. c) o segundo a acordar pegaria a terça parte do que pegou. d) o primeiro a acordar pegaria mais biscoitos do que pegou. e) o último a acordar pegaria menos biscoitos do que pegou. 18) A figura a seguir apresenta uma linha poligonal construída sobre uma malha quadriculada em que cada quadrado tem lado de medida 1 cm. Utilizando-se a figura acima como padrão de construção, podem-se produzir linhas poligonais mais extensas como a representada a seguir. Pretende-se construir uma linha poligonal de 10 metros de comprimento. Porém, com esse perímetro, a extremidade à direita dessa linha poligonal não corresponde ao padrão completo. A opção que contém a última figura desenhada nessa poligonal é RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 29 Se você já tentou (e espero que tenha conseguido) resolver as 5 questões, dê uma olhadinha em como eu as resolvi e também em alguns detalhes que vale a pena comentar sobre elas. Resolução da questão 4). Veja se você encontrou a alternativa d). Precisamos encontrar o número que inicia a 21ª linha escrita no quadro. A quantidade de números escritos na linha de ordem n é o n-ésimo número ímpar. Por exemplo, na 5ª linha são escritos 9 números, pois 9 é o 5º número ímpar. Assim, a quantidade de números escritos na 20ª linha é 2 20 1 39, − = pois 39 é o vigésimo número ímpar. A quantidade de números escritos até o final da 20ª linha é 1 3 5 37 39,+ + + + + que é a soma dos 20 primeiros números ímpares. Essa soma pode ser feita da seguinte forma: S 1 3 5 35 37 39 S 39 37 35 5 3 1 2 S 40 40 40 40 40 40 = + + + + + + = + + + + + + = + + + + + + 2 S 20 40 S 400 = = Logo, até o final da 20ª linha são escritos os 400 primeiros números inteiros positivos. Portanto, o número que inicia a 21ª linha é 401, que é um número primo. Essa soma que foi calculada no problema é a soma dos termos de uma progressão aritmética (PA). Uma progressão aritmética é uma sequência de números na qual a diferença entre dois termos consecutivos é sempre constante e chamada de razão. Outra propriedade interessante dessa sequência é que termos equidistantes dos extremos da sequência possuem a mesma soma. Essa propriedade permitiu que nós usássemos o artifício acima para calcular a soma S dos termos da sequência. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 30 Esse método é similar ao utilizado por Euler1 , quando criança, para calcular rapidamente a soma dos 100 primeiros números naturais. Resolução da questão 5). Veja se você encontrou a alternativa d). Uma maneira simples de resolver esse problema é identificar que, em uma configuração com 75 mesas, há 75 lugares de um lado, 75 lugares do outro e 2 lugares nas cabeceiras. Assim, há um total de 75 75 2 152+ + = lugares, cuja soma dos algarismos é 1 5 2 8.+ + = Vamos agora explorar um pouco mais essa questão Observe a seguinte tabela que representa a quantidade de mesas de cada configuração e o número de lugares disponíveis. configuração 1 2 3 4 5 ... nº de mesas 1 2 3 4 5 ... nº de lugares 4 6 8 10 ... Na tabela estão representadas as configurações da figura e eu acrescentei que, na configuração com 4 mesas, há 10 lugares disponíveis. Tente identificar porque eu usei esse valor e depois complete o espaço destinado ao número de lugares na configuração com 5 mesas. A ideia é que, a cada nova mesa, a quantidade de lugares disponíveis aumenta em 2 unidades. Assim, se começarmos com 1 mesa e 4 lugares, para chegarmos a 75 mesas, temos que acrescentar 74 mesas, o que corresponde a um aumento de 74 2 148 = lugares. Portanto, o número de lugares disponíveis em uma configuração com 75 mesas é 4 148 152,+ = cuja soma dos algarismos é 1 5 2 8.+ + = Assim como na questão anterior, a relação do número de cadeiras em cada configuração é uma sequência numérica chamada progressão aritmética e, se você tiver n mesas, o número de lugares será dado por ( )4 2 n 1 .+ − Essa expressão é chamada de “termo geral” da progressão aritmética. Verifique se essa expressão funciona com n 75.= Ela se parece com a conta que você fez para encontrar o número de lugares? Resolução da questão 7). Veja se você encontrou a alternativa b). Precisamos calcular depois de quantos dias os três rituais serão realizados juntos novamente e que dia da semana será. Se os três rituais foram celebrados juntos em 10 de setembro de 2017, eles serão celebrados juntos de novo, pela primeira vez, após decorridos um número de dias igual ao mínimo múltiplo comum de 20, 66 e 30. Vamos calculá-lo, usando o método das decomposições simultâneas. 1 Se você nunca ouviu falar de Leonard Euler, faça uma pesquisa sobre ele na internet. Você descobrirá coisas muito interessantes. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 31 2 220,30,66 210,15,33 35,15,33 55, 5, 11 111, 1, 11 1, 1, 1 3 5 112 Assim, ( ) 2MMC 20,30,66 2 3 5 11 660.= = O dia 10 de setembro de 2017 foi um domingo. Os três rituais acontecerão juntos novamente após 660 dias. Como 660 7 94 2,= + então transcorrem 94 semanas inteiras e mais dois dias, então isso ocorrerá em uma terça-feira. Observe que para identificar qual seria o dia da semana após determinada quantidade de dias decorridos, dividimos a quantidade de dias por 7. Isso ocorre porque uma semana completa tem 7 dias. Assim, o quociente da divisão indica quantas semanas completas se passaram e o resto servirá para identificar o dia da semana. Cada unidade do resto corresponderá ao avanço de um dia da semana em relação ao dia da semana original. Que dia da semana seria 75 dias após 10 de setembro de 2007? E 1000 dias após essa mesma data? Resolução da questão 10). Veja se você encontrou a alternativa e). Temos que encontrar a quantidade de biscoitos que cada um dos três irmãos pegou nas duas situações. Se o irmão que chegou por último pegou 6 biscoitos, que era a metade que havia, então havia na cesta 6 2 12 = biscoitos. Assim, após o segundo irmão pegar seus biscoitos, sobraram 12 biscoitos, o que significa que ele pegou 12 biscoitos e que antes havia na cesta 2 12 24 = biscoitos. Da mesma forma, após o primeiro irmão pegar seus biscoitos, sobraram 24 biscoitos, o que significa que ele pegou 24 biscoitos e que inicialmente havia 2 24 48 = biscoitos. Se eles tivessem seguido a regra de dona Joana, o primeiro irmão pegaria 1 48 24 2 = biscoitos e restariam 24 biscoitos, o segundo irmão pegaria 1 24 8 3 = e restariam 16 biscoitos, e o terceiro irmão pegaria 1 16 4 4 = e restariam 12 biscoitos. Vamos agora analisar as opções. a) INCORRETO, pois sobram 12 biscoitos na cesta. b) INCORRETO, pois o irmão que acordou por último pegou 4 biscoitos. c) INCORRETO, pois o segundo irmão pegou 12 biscoitos e, seguindo a regra, pegaria 8 biscoitos, ou seja, 8 2 12 3 = do que pegou. d) INCORRETO, pois nas duas situações o primeiro a acordar pega metade dos biscoitos. e) CORRETO, pois o último a acordar pegou 6 biscoitos e, seguindo a regra, pegaria apenas 4 biscoitos. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 1 – ENSINO FUNDAMENTAL 32 Observe que esse é um tipo de problema clássico, onde é conveniente calcular as coisas “de trás para a frente”. Assim, a partir da quantidade de biscoitos do último irmão, conseguimos descobrir a quantidade que pegou o segundo e, baseado nesse, a quantidade que pegou o primeiro. Resolução da questão 18). Veja se você encontrou a alternativa a). Temos que encontrar a forma da última figura desenhada na linha poligonal. Cada figura padrão tem perímetro 36 cm. Para construir uma linha poligonal de 10 m 10 100 cm 1000 cm= = devemos usar 27 figuras padrão completas e restam 28 cm. 100 '0 ' 36 280 27 28 Portanto, a extremidade à direita da linha poligonal será composta pela parte da figura padrão da esquerda para a direita até obter perímetro 28 cm. Isso corresponde à figura apresentada em (a). Observe que nesse problema nós usamos um método similar ao utilizado anteriormente para identificar os dias da semana. O quociente da divisão por 36 indica quantas figuras padrão completas podem ser desenhadas e o resto representa o comprimento da poligonal que será desenhada ao final. Espero que você tenha aprendido e se divertido com essas questões! Até a próxima! RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 2 – ENSINO MÉDIO 33 E se o raio da circunferência medir 1 2 ? Chico Nery Será que teríamos algum proveito geométrico se o raio de uma circunferência medisse 1 ? 2 Vejamos uma primeira consequência: (a) Primeira etapa Pela lei dos senos teríamos: sen 2R = Mas 1 R , 2 = então sen .= A corda determinada pelo ângulo inscrito de medida representa o próprio sen . (b) Segunda etapa m cos m sen cos sen = = n cos n sen cos sen = = ( )sen m n + = + Portanto, ( )sen sen cos sen cos + = + Vejam só aonde chegamos fazendo o raio igual a 1 ! 2 RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 2 – ENSINO MÉDIO 34 LOGARITMOS – RESUMO E EXERCÍCIOS Renato de Oliveira C. Madeira madematica.blogspot.com Os logaritmos foram criados no século XVI para facilitar contas complexas com números grandes por permitir que operações de multiplicação, divisão, potenciação e radiciação sejam transformadas em somas e subtrações. Até a década de 70, engenheiros ainda utilizavam “réguas de cálculo”, baseadas em logaritmos, para fazer contas que não exigiam muita precisão. Essas réguas só foram substituídas com o advento das calculadoras eletrônicas compactas. Apesar dos logaritmos terem sido criados para facilitar contas, desde a sua criação e até os tempos atuais, os logaritmos têm sido aplicados em diversas áreas da Matemática e também para representar grandezas em diversos ramos da ciência. Nesse artigo será apresentado um resumo com as principais propriedades dos logaritmos e uma lista de exercícios extraídos de vestibulares civis e militares para fixar e aprofundar esses conceitos. 1. DEFINIÇÃO Sejam a e b números reais positivos e a 1, o logaritmo de b na base a é o expoente x que satisfaz xa b.= x alog b x a b= = onde b é chamado logaritmando, a é a base e x é o logaritmo. Assim, 2log 8 3,= pois 32 8,= 4 1 log 2 , 2 = pois 1 24 2= e 2 1 log 1, 2 = − pois 1 12 . 2 − = Usando essa ideia obtenha o valor dos logaritmos de 3log 81, 5log 0,2 e 49log 7. 1 A omissão da base, escrevendo-se apenas log b , indica que se trata de um logaritmo decimal, ou seja, a base é a 10.= A notação eln b log b= indica um logaritmo de base e, que é chamado logaritmo neperiano. O número e é um número irracional aproximadamente igual a 1 Respostas: 4, 1− e 1 . 2 RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 2 – ENSINO MÉDIO 35 2,7182. Nesse momento, o importante é você saber que a base e dos logaritmos neperianos é uma base maior do que 1. O logaritmando também é chamado antilogaritmo de x na base a e indicado por x a ab antilog x x log b a b= = = Assim, 28 antilog 3,= pois 32 8.= Observe que a definição de logaritmo permite que você resolva diversas equações exponenciais, que até então você não conseguia. Veja, por exemplo, a equação exponencial x2 3,= cuja solução é 2x log 3.= Mas, qual a vantagem de representar a solução exponencial dessa forma, se nós também não sabemos o valor de 2log 3? Nós não sabemos o valor exato de 2log 3 (até porque ele é um número irracional), mas nós conseguimos estimar esse valor. Podemos, por exemplo, afirmar que 21 log 3 2, pois o logaritmos de base maior do que 1 é crescente e 2 2 2log 2 log 3 log 4. Além disso, se lançarmos mão das ideias de logaritmos decimais (que aparecerão em um próximo artigo) e de tábuas de logaritmos, podemos obter o valor do logaritmo com bastante precisão. 1.1. Condição de existência: Para que o logaritmo seja definido a sua base deve ser um número positivo e diferente de 1, e o logaritmando deve ser um número positivo. O logaritmo de b na base a somente é definido quando a 0 e a 1 . b 0 Assim, a expressão ( ) ( )x 1log 2 x+ − somente está definida se a sua base ( )x 1+ é positiva e diferente de 1, e seu logaritmando ( )2 x− é positivo. x 1 0 x 1+ − x 1 1 x 0+ 2 x 0 x 2− Fazendo a interseção das três condições, concluímos que esse logaritmo somente está definido para x | 1 x 0 ou 0 x 2 . − Esse conjunto é o chamado domínio de validade desse logaritmo. Verifique o que aconteceria com seus logaritmos se você adotasse uma base negativa, a base igual a1 ou um logaritmando negativo (um de cada vez). RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 2 – ENSINO MÉDIO 36 Você consegue obter o domínio de validade de ( ) ( ) 2 2 x 1 log x x 6 ? − − + + 2 Lembre-se que, sempre que você fizer qualquer problema envolvendo logaritmos, você deve verificar se as condições de existência são atendidas. 1.2. Propriedades: As propriedades dos logaritmos são consequências quase imediatas das propriedades das potências e raízes. A seguir serão apresentadas as principais propriedades. Você pode demonstrar algumas delas como exercício. Nas expressões seguintes todos os logaritmandos são positivos e todas as bases positivas e diferentes de 1. • O logaritmo de 1 em qualquer base é igual a zero. alog 1 0= • Se a base é igual ao logaritmando, o valor do logaritmo é 1. alog a 1= Por exemplo, 2log 2 1= e log10 1.= • Uma potência elevada a um logaritmo cuja base é igual a ela, tem como resultado o logaritmando. alog ba b= Por exemplo, 2 log 5 2 5.= Observe que essa propriedade é uma consequência imediata da definição de logaritmo, pois a log bx alog b x a b a b.= = = • O logaritmo do produto de dois números é igual à soma dos logaritmos de cada um dos números. a a alog (b c) log b log c = + Assim, ( )log 2 3 log 2 log3. = + 2 Resposta: 2 2 2 x 1 0 x 1 x 1 x 1 1 x 2 D 2, 2 2, 1 1, 2 2, 3 x x 6 0 2 x 3 − − − = − − − − − + + − RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 2 – ENSINO MÉDIO 37 Veja como essa propriedade é consequência de x y x ya a a .+ = Se x alog b x a b,= = y alog c y a c= = e ( ) z alog b c z a b c, = = então ( )z x y x y a a aa b c a a a z x y log b c log b log c. += = = = + = + • O logaritmo do quociente de dois números é igual à diferença dos logaritmos de cada um dos números. a a a b log log b log c c = − Assim, 2 log log 2 log3. 3 = − Tente demonstrar essa propriedade agora, usando x x y y a a . a −= As duas propriedades anteriores permitem “transformar” multiplicações e divisões em somas e subtrações, respectivamente. Isso fazia do logaritmo um importante auxílio em contas mais complexas antes do advento das calculadoras eletrônicas. Veja agora se você consegue resolver essa questão que envolve propriedades dos logaritmos que apareceu no vestibular da FGV em 2001. 3 Consideremos os seguintes dados: log 2 0,3= e log 3 0, 48.= Nessas condições, o valor de log15 é: a) 0,78 b) 0,88 c) 0,98 d) 1,08 e) 1,18 • O logaritmo do inverso de um número é igual ao oposto do logaritmo do número. a a 1 log log b b = − Assim, 1 log log 2. 2 = − • Um logaritmo, cujo logaritmando é uma potência de expoente real, é igual ao produto do expoente pelo logaritmo da base. a alog (b ) log b = 3 Resposta: e ( )10log 5 log log10 log 2 1 log 2 2 = = − = − ( ) ( )log15 log 3 5 log3 log5 log3 1 log 2 0, 48 1 0,3 1,18= = + = + − = + − = RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 2 – ENSINO MÉDIO 38 Assim, ( )52 2 2log 243 log 3 5 log 3.= = Note também que k a alog a k log a k 1 k.= = = • Um logaritmo, cuja base é uma potência de expoente real, é igual ao produto do inverso do expoente pelo logaritmo de base igual à base da exponencial. a(a ) 1 log b log b = Assim, ( )24 22 1 log 3 log 3 log 3. 2 = = As duas relações seguintes são consequência imediata desta propriedade. ( )1 a a1 a a 1 log b log b log b log b 1 − = = = − − ( )k aa 1 1 1 log a log a 1 . k k k = = = • Dois logaritmos de mesma base são iguais se, e somente se, seus logaritmandos são iguais. a alog b log c b c= = Essa propriedade representa a injetividade da função logarítmica e permite que sejam resolvidas as equações logarítmicas. Veja, por exemplo, a equação logarítmica ( )2 2log x 1 log 3,+ = cuja solução é x 1 3 x 2.+ = = Tente agora resolver essa equação exponencial que apareceu no vestibular da UNICAMP em 2016. 4 A solução da equação na variável x, ( )xlog x 6 2,+ = é um número a) primo. b) par. c) negativo. d) irracional. 4 Resposta: a. Vamos primeiro estabelecer as condições de existência. O logaritmando deve ser positivo, então x 6 0 x 6.+ − A base deve ser positiva e diferente de 1, então 0 x 1. Efetuando a interseção das duas condições, temos: 0 x 1. Vamos agora resolver a equação aplicando a definição de logaritmo. ( ) 2 2 xlog x 6 2 x 6 x x x 6 0 x 2 x 3+ = + = − − = = − = Mas sabemos que 0 x 1, então x 2= − não convém. Portanto, a solução da equação é x 3,= que é um número primo. RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 2 – ENSINO MÉDIO 39 • O cologaritmo é o oposto do logaritmo, e é igual ao logaritmo do inverso do logaritmando e também igual ao logaritmo cuja base é o inverso da base original. a a a 1 a 1 colog b log b log log b b = − = = (cologaritmo de b na base a) Assim, 2 2 2 1 2 1 colog 3 log 3 log log 3. 3 = − = = 2. MUDANÇA DE BASE: Um logaritmo é igual ao quociente do logaritmo do logaritmando em uma nova base pelo logaritmo da base original na nova base. c a c log b log b log a = Assim, 52 5 log 3 log 3 . log 2 = Vamos ver como demonstrar essa propriedade. Sejam z alog b z a b,= = x clog b x c b= = e y clog a y c a,= = então ( ) z z y x c c c a a c log b a b c c x y z log b log a log b log b . log a = = = = = Um logaritmo é igual ao inverso do logaritmo obtido invertendo-se as posições da base e do logaritmando. b a b b log b 1 log b log a log a = = Assim, 2 3 1 log 3 . log 2 = Se você tiver um produto em que os fatores são logaritmos, onde o logaritmando de um logaritmo é igual à base do logaritmo seguinte, então o resultado é igual ao logaritmo de base igual à primeira base e logaritmando igual ao último logaritmando. c a c log a log b log b log a log b log b log c log a log c = = = RCMat – Revista do Clube de Matemáticos nº 1 – setembro de 2018 PARTE 2 – ENSINO MÉDIO 40 a b c y a log b log c log d log z log b log c log d log z log z log z log a log b log c log y log a = = = = Assim, 2 3 4 98 99 2log 3 log 4 log 5 log 99 log 100 log 100. = Use a propriedade acima para resolver a seguinte questão do concurso de admissão à EsPCEx de 2002. Sendo 6 2 log 5 . log 6 y 2= , o valor de y é:5 a) 2 b) 5 c) 6 d) 12 e) 30 Agora que nós já conhecemos as principais propriedades de um logaritmo, vamos praticar um pouco, resolvendo os problemas a seguir, selecionados de concursos de vestibulares civis e militares. No final da lista, você vai encontrar as respostas e dicas para te ajudar a resolver as questões que não tiver conseguido. Após as dicas, são apresentadas as resoluções das quatro últimas questões. As resoluções das outras questões da lista, você pode encontrar no site da revista. 1) (AFA 1998) O valor de 2 2 log log 2 − é a) 1 b) 2 c) 3 d) 4 2) (EsPCEx 2000) Considere a soma 3 4 5 n S log log log log 2 3 4 n 1 = + + + + − em que n é um número natural. O menor valor de n para o qual S 1 é: a) 20 b) 21 c) 22 d) 25 e) 29 3) (EsPCEx 2005) Se 3log 4 a= e 4log 5 b,= então o valor de 3log 5 em função de a
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