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202311156-ELASTICIDADE-DA-TECNICA

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ELASTICIDADE DA TÉCNICA 
PSICANALÍTICA* (1928) 
Sàndor Ferenczi 
Sàndor Ferenczi (1873-1933), psiquiatra e psicanalista húngaro, é citado por Freud 
como valendo por uma associação inteira no momento em que ele representava seu país 
no movimento psicanalítico. Freud que, na ocasião, parece-nos por demais efusivo, à 
medida que a psicanálise se desenvolve, passa a ter reservas quanto às atitudes e à 
própria obra de Ferenczi. Enfatizando a demasiada importância que tomara seu desejo 
de curar, Freud não deixa de valorizá-lo veementemente nas homenagens que lhe 
prestou em seu cinquentenário (1923) e em seu necrológio (1933). O que leva um 
sujeito a buscar um mestre? Quais as relações transferenciais entre Ferenczi e Freud? 
Ferenczi fez-se analisar em três ocasiões pelo mestre, entre 1914 e 1916. Freud se 
posicionou com autoridade, insistindo para que Ferenczi tomasse determinadas atitudes 
em sua vida pessoal e profissional. Ferenczi dedicou-se intensamente ao Movimento 
Psicanalítico, participando da fundação da IPA e da Sociedade Psicanalítica de 
Budapeste, de congressos psicanalíticos, além de acompanhar Freud em várias viagens, 
como à Itália e aos Estados Unidos. Desde que ingressou na psicanálise, em 1908, 
manteve-se constantemente escrevendo artigos e estabeleceu, com Freud, uma vasta 
correspondência (mais de mil cartas), nas quais revelava uma inquietação teórica 
abundante. Autor da primeira geração a questionar com mais pertinência o que se exige 
da pessoa do psicanalista, sobretudo quanto ao fim do tratamento., escreve Lacan, ao 
citar o luminoso (sic) artigo sobre a .Elasticidade da Técnica Psicanalítica. Destaca aí, a 
condição sine qua non da análise do analista e mesmo de seus retornos à análise. 
Ferenczi nos deixa a lição de que, se por um lado houve transferência e 
contratransferência (ele foi o descobridor desse conceito) com Freud, por outro, 
manteve os efeitos subjectivos de nunca poder separar-se do S1 do discurso do mestre. 
 
 
 
 
 
 
 
ELASTICIDADE DA TÉCNICA 
PSICANALÍTICA* (1928) 
 
Sàndor Ferenczi 
 
* Conferência pronunciada na Sociedade Húngara de Psicanálise (Ciclo 1927/28). In: 
Escritos Psicanalíticos 1909-1933. Rio de Janeiro: Taurus. 
96 
Os esforços para tornar acessível a outros a técnica que habitualmente utilizo em minhas 
psicanálises levaram-me frequentemente ao tema da compreensão psicológica em geral. 
Seria verdade, muita gente o afirma, que a compreensão dos processos que se passam na 
vida psíquica do outro depende de uma aptidão particular que se chama conhecimento 
dos homens, aptidão que, como tal, seria inexplicável e, assim, intransmissível: todo 
esforço para ensinar algo dessa técnica estaria condenado de antemão. Felizmente não é 
assim. Desde que Freud publicou suas. Recomendações sobre a técnica da psicanálise., 
temos os primeiros elementos de uma pesquisa metódica sobre o psiquismo. Quem não 
temer o esforço de seguir as instruções do Mestre estará apto, mesmo não sendo um 
génio da psicologia, a penetrar nas profundezas insuspeitadas da vida psíquica do outro, 
seja esta sadia ou doente. Pela análise dos actos falhados da vida cotidiana, dos sonhos, 
e sobretudo das associações livres, pode-se aprender, sobre o semelhante, muitas coisas 
que anteriormente somente os seres excepcionais eram capazes de captar. A predilecção 
dos homens pelo maravilhoso faz com que desagrade essa transformação da arte do 
conhecimento dos homens numa espécie de profissão. Os artistas e os escritores vêem 
isso principalmente como uma intromissão em seu mundo e, após se interessarem de 
início pela Psicanálise, em geral largam-na, como método de trabalho mecânico e pouco 
atraente. Essa antipatia nada nos surpreende; a ciência, de fato, é uma desilusão 
progressiva: no lugar do que é místico e singular, ela põe sempre essa legalidade 
incontornável que, por sua uniformidade, facilmente provoca o tédio e, pelo percurso 
cheio de obrigações, o desprazer. Para acalmar um pouco os espíritos, acrescentemos 
que, como em qualquer outra profissão, também aqui haverá artistas excepcionais, dos 
quais esperamos os progressos e novas perspectivas. 
Do ponto de vista prático, no entanto, é um progresso que a análise tenha, pouco a 
pouco, posto nas mãos do médico e do cientista médios um instrumento para uma 
exploração mais subtil do homem. É como em cirurgia: antes da descoberta da anestesia 
e da assepsia, apenas uns poucos tinham o privilégio de exercer a arte da cura. cirúrgica 
e podiam trabalhar, cito, tuto e jucunde2.. Claro, hoje em dia ainda há artistas da técnica 
cirúrgica, mas os progressos permitiram a milhares de médicos medíocres estenderem 
sua actividade útil, que frequentemente salva uma vida. 
Claro, falava-se também da técnica psicológica fora da análise do psiquismo; entendia-
se com isso os métodos de medição dos laboratórios de psicologia. Essa psicotécnica. 
está hoje em dia ainda em moda, pode inclusive bastar em certas tarefas práticas 
simples. Na análise, trata-se de algo bem mais elevado: captar a tópica, a dinâmica e a 
economia do funcionamento psíquico, e isso sem o aparelho impressionante dos 
laboratórios mas com uma sempre crescente pretensão de certeza e sobretudo uma 
capacidade de rendimento incomparavelmente superior. 
Houve, todavia, e ainda há, no interior da técnica psicanalítica, muitas coisas que se 
tinha a impressão de serem individuais, pouco definíveis com palavras; logo de início o 
fato de, neste trabalho, a importância que parecia ser atribuída à equação pessoal. era 
bem maior que o que se podia aceitar na ciência. O próprio Freud, em suas últimas 
comunicações sobre a técnica, deixava livre o campo para outros métodos de trabalho 
em psicanálise, paralelos ao dele. É bem verdade que essa declaração é anterior à época 
da cristalização da segunda regra fundamental da Psicanálise, de que quem quer que 
queira analisar os outros deve ser antes ele próprio analisado. Desde a adopção desta 
regra, a importância da nota pessoal do analista esmorece cada vez mais. Qualquer 
pessoa que foi analisada a fundo, que aprendeu a conhecer completamente e a controlar 
suas inevitáveis fraquezas e particularidades de carácter, chegará necessariamente às 
mesmas constatações objectivas, no decorrer do exame e do tratamento de um mesmo 
objeto de investigação psíquica e, consequentemente, tomará as mesmas medidas 
tácticas e técnicas. Tenho, na verdade, a sensação de que, desde a introdução da segunda 
regra fundamental, as diferenças de técnica analítica estão desaparecendo. Se tentarmos 
agora nos dar conta desse resto ainda não resolvido da equação pessoal, e se tivermos 
uma posição que nos permita ver muitos alunos e pacientes já analisados por outros, 
mas sobretudo se tivermos que enfrentar as consequências dos nossos próprios erros 
cometidos anteriormente, poderemos então nos permitir um julgamento global dessas 
diferenças e erros. Tenho a convicção de ser antes de mais nada uma questão de tato 
psicológico, o saber quando e como se comunica algo ao analisado, quando se pode 
declarar que o material fornecido é suficiente para se tirar conclusões; que roupagem 
dar à comunicação se for o caso; como reagir a uma reacção inesperada ou 
desconcertante do paciente; quando se deve calar e esperar outras associações; em que 
momento o silêncio é uma tortura inútil para o paciente, etc. Vêem, com a palavra tato. 
consegui exprimir em uma fórmula simples e agradável a indeterminação. Mas o que é 
o tato? A resposta não é difícil. O tato é a faculdade de sentir com (Einfühlung). Se 
conseguirmos, com a ajuda do nosso saber, tirado da dissecação de muitos psiquismos 
humanos, mas sobretudo da dissecação do nosso Eu, se conseguirmos, então, tornar 
presentes as associações possíveis ou prováveis do paciente, associações que ele ainda 
não percebe, podemos não tendo, como ele, que lutar com resistências adivinharnão só 
seus pensamentos retidos mas também suas tendências inconscientes. Permanecendo-se 
simultaneamente, o tempo todo, atentos à força da resistência, não será difícil tomar a 
decisão quanto à oportunidade de uma comunicação e da forma a dar a ela. Esse 
sentimento nos evitará estimular inútil ou intempestivamente a resistência do paciente; 
claro, não cabe à psicanálise afastar todo e qualquer sofrimento do paciente; de fato, 
aprender a suportar um sofrimento é um dos principais resultados da psicanálise. Uma 
pressão nesse sentido, no entanto, se não houver tato, simplesmente dá ao paciente a 
oportunidade ta desejada no inconsciente, de se subtrair à nossa influência. Todas essas 
medidas de precaução, em seu conjunto, dão ao analisado uma impressão de bondade, 
mesmo que as razões dessa sensibilidade venham unicamente de razões intelectuais. No 
que se segue, tentarei justificar, todavia, essa impressão do paciente. Não há qualquer 
diferença de natureza entre o tato que se exige de nós e a exigência moral de não fazer 
ao outro aquilo que, em circunstâncias análogas, não gostaríamos que nos fizessem. 
Apresso-me em acrescentar desde já que a capacidade de exercer esse tipo de bondade. 
não significa senão um aspecto da compreensão analítica. Antes do médico se decidir a 
fazer um comunicado, deve primeiro retirar por um instante sua libido do paciente, 
pesar friamente a situação: em hipótese alguma deve se deixar guiar só pelos 
sentimentos. Nas frases que seguem, apresentarei num resumo aforístico alguns 
exemplos ilustrando essas considerações gerais. É conveniente conceber-se a análise 
como um processo evolutivo que se desenvolve sob nossos olhos, e não como o trabalho 
de um arquitecto que procura realizar um plano preconcebido. Que não nos deixemos 
levar, em circunstância alguma, a prometer mais do que isto ao analisado: submetendo- 
se ao processo analítico ele acabará se conhecendo melhor, e se perseverar até o fim, 
poderá melhor se adaptar às dificuldades inevitáveis da vida, e com uma divisão de 
energia mais justa. Podemos, a rigor, dizer a ele que não conhecemos melhor tratamento 
para as perturbações psiconeuróticas ou do carácter, nem mais radical. Não 
esconderemos absolutamente existirem outros métodos que prometem esperanças de 
cura muito mais rápida e segura, e secretamente nos alegraremos de ouvi-lo dizer que já 
seguiu, durante anos, tratamentos por métodos sugestivos, ergoterapia e outros métodos 
reforçadores da vontade; ou então, deixamos ao paciente a escolha de tentar um desses 
tratamentos tão promissores, antes de se entregar a nós. Mas não podemos deixar passar 
a objecção frequentemente levantada pelos pacientes, de não acreditarem em nosso 
método ou em nossa teoria. Explicamos desde o início que nossa técnica renuncia 
inteiramente ao imerecido premio de qualquer confiança antecipada; o paciente só 
precisa acreditar se as experiências do tratamento o autorizarem. Mas não podemos 
cancelar uma outra objecção que consiste em dizer que deixamos, assim, a priori, a 
responsabilidade de um eventual fracasso por conta da impaciência do paciente e 
devemos deixá-lo decidir se quer ou não, nessas condições difíceis, assumir o risco da 
cura. Se essas questões parciais não forem consideradas, desde o início e neste sentido, 
oferece-se à resistência do paciente temíveis armas, que ele não deixará, mais cedo ou 
mais tarde, de utilizar contra o tratamento e contra nós. 
Não nos deixemos desviar dessa base por nenhuma questão, por mais assustadora. 
.O tratamento então pode tanto durar dois, três, cinco ou dez anos? perguntarão certos 
pacientes, com visível hostilidade. .É possível., será nossa resposta. .Mas, é claro, uma 
análise de dez anos equivale praticamente a um fracasso. Já que não podemos nunca 
apreciar de antemão a importância das dificuldades a se superar, não podemos prometer 
um resultado certo e contentamo-nos com o fato de que em muitos casos bastam 
períodos mais curtos. Mas como você provavelmente tem a crença de que os médicos 
gostam de fazer prognósticos favoráveis e, além disso, como certamente já ouviu muitas 
opiniões desfavoráveis sobre a teoria e a técnica da Psicanálise, ou como em breve 
ouvirá, mais vale que considere esse tratamento como uma experiência ousada que lhe 
custará muitos esforços, tempo e dinheiro; se apesar de tudo, quiser tentar essa 
experiência connosco, deve deixa-la dependente do seu grau de sofrimento. Reflicta, em 
todo caso, antes de começar: começar sem a séria intenção de perseverar apesar dos 
agravamentos inevitáveis acrescentará mais uma decepção às que já sofreu. Creio que 
essa preparação pessimista é entretanto a mais adaptada à finalidade; corresponde, em 
todo caso, às exigências da regra do sentir com. Pois a fé excessiva do paciente, muitas 
vezes exageradamente estampada, quase sempre esconde uma boa dose de 
desconfiança, cuja voz o doente tenta encobrir, exigindo de nós promessas de cura. Uma 
pergunta característica muitas vezes feita, mesmo depois de nos termos esforçado 
durante quase uma sessão inteira a persuadir o paciente de que no seu caso 
consideramos a análise indicada, é: O senhor acredita, doutor, que o tratamento 
realmente me ajudará?. Seria um erro responder a pergunta com um simples sim. Mais 
vale dizer ao paciente que nós próprios nada esperamos de uma confiança sempre 
renovada. Inclusive o elogio muitas vezes repetido no tratamento não consegue na 
verdade fazer desaparecer a secreta desconfiança do paciente, de que o médico é um 
homem de negócios querendo vender o seu método a qualquer preço, a sua mercadoria. 
A incredulidade disfarçada fica ainda mais transparente quando o paciente pergunta, por 
exemplo: O senhor não acha, doutor, que o seu método pode também em fazer mal?. 
Respondo em geral com uma outra pergunta: Qual é a sua profissão? A resposta é, por 
exemplo: “Arquitecto”. “O que você responderia a quem lhe perguntasse, na 
apresentação dos planos de um novo edifício, se a construção não vai desabar?. As 
exigências por outras garantias em geral se calam, e isto é sinal de que o paciente se deu 
conta de ser preciso, para todo trabalho, dar um voto de confiança ao profissional, não 
se excluindo, é claro, as possibilidades de decepção. Acusa-se frequentemente a 
Psicanálise de se preocupar demasiado com questões financeiras. Acho que não nos 
preocupamos ainda o bastante. O homem mais abastado reclama de dar seu dinheiro ao 
médico; algo em nós faz-nos considerar a ajuda médica inicialmente fornecida na 
infância pelas pessoas encarregadas da criança . como natural; ao fim de cada mês, 
quando os pacientes recebem suas contas, a resistência do doente só cessa quando 
aquilo que está escondido, o ódio despertado inconscientemente, a desconfiança ou 
suspeita foram de novo trazidos a se exprimir. O exemplo mais característico da 
distância entre o consentimento consciente ao sacrifício e o desprazer oculto, foi dado 
por um paciente que, no início da entrevista com o médico, declarou: Doutor, se me 
ajudar lhe darei toda minha fortuna. Responde o médico: Contentar-me-ei com trinta 
coroas por sessão. Não acha muito?., foi a resposta inesperada do doente. Durante a 
análise, é sempre bom manter o olho aberto para as manifestações ocultas ou 
inconscientes que demonstram a incredulidade ou recusa, e discuti-las sem medo. É 
compreensível, de fato, que a resistência do paciente não desperdice nenhuma ocasião 
que se lhe ofereça. Todo paciente, sem excepção, nota as menores particularidades do 
comportamento, da aparência externa, da maneira de falar do médico, mas nenhum 
toma a iniciativa, sem prévio encorajamento, a nos dizê-lo de frente, faltando inclusive 
gravemente para com a regra fundamental da análise; resta-nos apenas adivinharmos 
nós mesmos, na base do contexto associativo do momento, quando, espirrando ou nos 
assoando ruidosamente, ferimos eventualmenteo paciente em seus sentimentos 
estéticos, quando impressionou-se com a forma do nosso rosto, ou quando precisou 
comparar nossa estatura com a de outros, muito mais imponentes. Em muitas ocasiões 
já tentei mostrar como o analista, no tratamento, deve se deixar, durante semanas às 
vezes, no papel de títere, sobre quem o paciente experimenta seus afectos de desprazer. 
Se não só não nos protegermos mas também o encorajarmos a isso, a cada vez, cedo ou 
tarde recolheremos a bem merecida recompensa por nossa paciência, com uma nascente 
transferência positiva. Todo indício de despeito ou de sentimento de constrangimento 
por parte do médico, prolonga a duração do período de resistência; e se o médico não se 
defende, pouco a pouco o paciente se cansa do combate unilateral; tendo já se 
descarregado suficientemente, ele não poderá deixar de reconhecer, mesmo com 
reticências, os sentimentos amistosos ocultos por trás da defesa ostensiva, o que 
permitirá a eventual penetração mais a fundo no material latente, particularmente nas 
situações infantis em que se basearam certos traços de carácter maldosos (em geral por 
tutores incompreensivos). 
Nada mais nocivo em análise que uma atitude de mestre-escola ou mesmo de médico 
autoritário. Todas nossas interpretações devem ter um carácter de proposição ao invés 
de asserção, e isto não só para não irritar o paciente como também porque podemos 
efectivamente nos enganar. O antigo costume dos comerciantes de acrescentar ao final 
de cada factura a marca .S.E... (salvo erro), isto é, salvo erro., deveria também ser 
mencionada para cada interpretação analítica. Do mesmo modo, a confiança em nossas 
teorias só pode ser condicional, pois o caso em questão talvez seja a famosa excepção 
da regra, ou talvez a necessidade de se modificar algo na teoria em vigor até então. Já 
aconteceu comigo de um paciente sem cultura, perfeitamente ingénuo na aparência, ter 
levantado, contra minhas explicações, objecções que eu estava pronto a rejeitar; um 
exame melhor mostrou-me que não era eu mas o paciente quem tinha razão, e que a 
objeção dele inclusive me ajudava a compreender melhor aquele assunto. A modéstia do 
analista não é pois uma atitude que se aprenda, mas a expressão da aceitação dos limites 
do nosso saber. Notemos de passagem que talvez seja este o ponto onde, com a ajuda da 
alavanca psicanalítica, comece a se realizar a mudança da atitude anterior do médico. 
Que se compare nossa regra de sentir com. e a enfatuação com que o médico 
omnisciente e todo-poderoso costumava até hoje encarar o doente. Claro que não acho 
que o analista deva ser mais que modesto; tem pleno direito de esperar que a 
interpretação, apoiada pela experiência, cedo ou tarde se confirme na maioria dos casos, 
e que o paciente ceda diante da acumulação de provas. Mas, de qualquer forma, é 
preciso esperar pacientemente que o doente tome a decisão; toda impaciência do médico 
custará tempo e dinheiro ao paciente, e uma quantidade de trabalho, ao médico, que ele 
poderia perfeitamente evitar. Aceito tornar minha a expressão elasticidade da técnica 
analítica. Forjada por um paciente. Deve-se, como um elástico, ceder às tendências do 
paciente, mas sem abandonar a pressão na direcção de suas próprias opiniões, enquanto 
a inconsistência de uma dessas duas opiniões não estiver plenamente comprovada. Em 
hipótese alguma deve-se ter vergonha de reconhecer, sem restrições, os erros passados. 
Que nunca se esqueça que a análise não é um procedimento sugestivo, em que o 
prestígio do médico e sua infalibilidade devem ser preservados a todo custo. A única 
pretensão levantada pela análise é a da confiança na franqueza e sinceridade do médico, 
e a esta, o reconhecimento sincero de um erro não ameaça. A posição analítica exige do 
médico não só o rigoroso controle do seu próprio narcisismo mas também o controle de 
diversas reacções afectivas. Achava-se antigamente que um grau excessivo de antipatia. 
podia constituir uma contra-indicação à condução de um tratamento analítico, mas 
devemos, com uma melhor compreensão das circunstâncias, excluir a priori essa 
contraindicação e esperar de um analista analisado que o auto-conhecimento e o auto-
controle sejam fortes o bastante para não se curvarem diante de idiossincracias. De fato, 
esses traços antipáticos., na maioria dos casos não são senão fachadas, dissimulando 
outros traços de carácter. Se o psicanalista aceita, é como se ele deixasse ganhar o 
paciente; ser excluído é frequentemente a finalidade de um comportamento intolerável. 
Sabê-lo nos permite, com conhecimento de causa, aceitar a pessoa mais desagradável 
como um paciente que se precisa curar e, como tal, não lhe recusar nossa simpatia. 
Aprender essa humildade mais que cristã é uma das tarefas mais difíceis da prática 
psicanalítica. Se conseguirmos, a correcção pode ser bem sucedida mesmo em casos 
desesperados. Chamo a atenção mais uma vez que só uma verdadeira posição de sentir 
com. pode ajudar; os pacientes perspicazes rapidamente desmascaram qualquer pose 
fabricada. Damo-nos conta, pouco a pouco, do quanto o trabalho psíquico do analista é, 
na verdade, complicado. Deixamos agirem sobre nós as associações livres dos pacientes 
e ao mesmo tempo deixamos nossa própria fantasia jogar com esse material associativo; 
no meio-tempo, comparamos as novas conexões com os resultados anteriores da análise, 
sem deixar, nem por um instante, de levar em conta e criticar nossas tendência próprias. 
Quase se poderia, de fato, falar de uma oscilação perpétua entre sentir com., auto-
observação e actividade de julgamento. Esta última se anuncia, de vez em quando, bem 
espontaneamente, sob a forma de sinal que naturalmente, de início, como tal apenas 
deve ser avaliada; apenas baseando-se num material justificativo, suplementar, pode-se 
afinal se decidir por uma interpretação. 
Economizar interpretações, em geral, nada dizer de supérfluo, é uma das regras mais 
importantes da análise; o fanatismo pela interpretação faz parte das doenças infantis do 
analista. Quando as resistências do paciente se resolvem pela análise, consegue-se às 
vezes, em análise, que o próprio paciente realize todo o trabalho de interpretação quase 
sozinho, ou com uma ajuda mínima. 
Voltemos uma vez mais à minha actividade. tão elogiada e tão criticada. Acredito, 
afinal, estar apto a dar a indicação precisa, justamente exigida por alguns, concernindo 
ao momento dessa medida técnica. É sabido que originalmente eu estava inclinado a 
prescrever, junto com a associação livre, certas regras de comportamento, desde que a 
resistência as permitisse. Mais tarde, a experiência ensinou-me que não se deve nunca 
dar ordens nem colocar proibições mas, no máximo, aconselhar certas mudanças na 
maneira de se conduzir, mantendo-se sempre pronto a retirá-las se se mostrarem como 
um obstáculo ou se provocarem resistências. A opinião, que desde o início sustentei, de 
que é sempre o paciente, e nunca o médico, que pode ser activo, levou-me afinal à 
constatação de que devemos nos contentar em interpretar as tendências à acção, ocultas 
ao paciente, para apoiar as fracas tentativas de superação das inibições neuróticas que 
ainda subsistem, sem insistir de início na aplicação de medidas de constrangimento, 
nem mesmo aconselhá-las. Se formos suficientemente pacientes, o analisado cedo ou 
tarde acabará por si próprio perguntando se pode arriscar uma ou outra tentativa (por 
exemplo, ultrapassar uma construção fóbica); e, é claro, não recusaremos nem nosso 
acordo nem nosso apoio e obteremos com isso todos os progressos esperados da 
actividade, sem irritar o paciente e sem estragar as coisas, entre ele e nós. Em outras 
palavras, cabe ao paciente determinar, ou pelo menos indicar sem mal-entendido 
possível, o momento da actividade. Mas está bem estabelecido que tais tentativas 
provocam variações de tensão nos sistemas psíquicose se revelam plenamente como 
um instrumento da técnica analítica, junto com as associações. 
Num outro trabalho técnico (O problema do fim da análise, 1927) já chamei a atenção 
para a importância da translaboração, falei todavia num sentido um pouco unilateral, 
como de um factor puramente quantitativo. Penso, entretanto, que a translaboração tem 
também um lado qualitativo, e que a reconstrução paciente do mecanismo da formação 
do sintoma e do carácter deve se repetir, a cada novo progresso da análise. Cada nova 
compreensão das significações exige a revisão de todo o material precedente, o que 
pode demolir partes essenciais do edifício que se pensava já concluído. É tarefa de uma 
dinâmica da técnica, entrando em todos os detalhes, constatar relações mais finas entre 
essa translaboração qualitativa e o factor quantitativo (descarga de afecto). 
Uma forma especial do trabalho de revisão parece reincidir em cada caso. Penso na 
revisão das experiências vividas durante o próprio tratamento analítico. A análise, 
pouco a pouco, se torna ela própria um fragmento da história do paciente, que ele passa 
mais uma vez em revista antes de nos deixar. No decorrer dessa revisão, ele vê com um 
certo distanciamento e maior objectividade as experiências do início do encontro 
connosco, as peripécias consequentes de resistência e de transferência que, por um 
tempo, lhe pareceram tão atuais e vitais, e desvia depois o seu olhar da análise para 
dirigi-la a tarefas reais da vida. 
Gostaria, enfim, de arriscar algumas observações concernindo à metapsicologia da 
técnica (Por metapsicologia. entendemos, como se sabe, o somatório das representações 
que podemos fazer concernindo à estrutura e à energética do aparelho psíquico, com 
base na experiência psicanalítica. Ver os trabalhos metapsicológicos de Freud no 
volume V das Gesammelte Werke). Em vários textos meus, entre outros, a atenção foi 
chamada para o fato do processo de cura consistir em boa parte no paciente colocar o 
analista (o novo pai) no lugar do verdadeiro pai que ocupa tanto lugar no superego, e 
continuar a viver com esse superego analítico. Não nego que esse processo 
efectivamente ocorra em todos os casos, admito inclusive que essa substituição possa 
trazer importantes sucessos terapêuticos, mas quero acrescentar que uma verdadeira 
análise de carácter deve pôr na gaveta, pelo menos provisoriamente, qualquer tipo de 
superego, inclusive o do analista. Pois o paciente deve afinal estar livre de qualquer laço 
emocional, na medida em que o laço ultrapassa a razão e suas tendências libidinais 
próprias. Apenas essa espécie de desconstrução do superego pode trazer uma cura 
radical; resultados que consistiriam na substituição de um superego por outro devem 
ainda ser designados como transferenciais; não correspondem certamente à finalidade 
do tratamento: livrar-se também da transferência. Levanto aqui um problema que até o 
presente nunca foi colocado, o de uma eventual metapsicologia dos processos psíquicos 
do analista, no decorrer da análise. Seus investimentos oscilam entre identificação 
(amor objetal analítico), de um lado, e auto-controle ou actividade intelectual, de outro. 
Durante o seu longo dia de trabalho, ele não pode nunca se entregar ao prazer de dar 
livre curso a seu narcisismo e a seu egoísmo, na realidade; e mesmo no fantasma, 
apenas por curtos momentos. Não duvido que uma tal sobrecarga que afora aí não se 
encontra ma vida cedo ou tarde exigirá a elaboração de uma higiene particular do 
analista. É fácil reconhecer os analistas não analisados (silvestres) e os pacientes 
parcialmente curados, pois sofrem de uma espécie de compulsão à análise; a mobilidade 
livre da libido após uma análise terminada permite, pelo contrário, que se deixe 
governar, se necessário, o conhecimento de si e o domínio de si, analíticos, mas sem que 
se impeça, afora isso, de forma alguma, o simples gozo da vida. O resultado ideal de 
uma análise terminada é pois precisamente essa elasticidade que a técnica exige 
igualmente do psiquiatra. Um argumento a mais a favor da absoluta necessidade da 
segunda regra fundamental da Psicanálise. 
Dada a grande importância, creio, de qualquer conselho técnico, não me decidi a 
publicar esse artigo sem antes tê-lo submetido à crítica de um colega. O título 
(Elasticidade) é excelente., declarou este crítico e mereceria receber uma maior 
aplicação, pois os conselhos técnicos de Freud eram essencialmente negativos. O que a 
ele parecia mais importante, era realçar o que não se devia fazer, assinalar as tentações, 
que vinham em contra-corrente da análise. Quase tudo que se deve fazer de positivo, ele 
deixou ao tato que você menciona. Mas o resultado que se obteve foi que sujeitos 
obedientes não perceberam a elasticidade dessas convenções e se submeteram como 
se fossem leis-tabus. Era preciso rever isto um dia, claro que sem anular as obrigações. 
.Embora o que você diga a respeito do tato seja verdadeiro, parece-me perigoso aceitar 
isto sob esta forma. Todos que não têm tato verão nisso uma justificativa para o 
arbitrário, isto é, para o factor subjectivo (influência dos complexos próprios 
indomados). Na verdade, empreendemos a medição, a um nível que permanece 
essencialmente pré-consciente, dos pesos das diferentes reacções que esperamos de 
nossas intervenções; o que conta primeiramente é a avaliação quantitativa dos factores 
dinâmicos na situação. Naturalmente, não se pode dar regras para essas medições. A 
experiência e a normalidade do analista terão que decidir. Mas dever-se-ia assim 
despojar o tato da sua característica mística. Concordo inteiramente com a opinião do 
meu crítico, de que essa indicação técnica levará, como todas as precedentes, e apesar 
da maior prudência em sua formulação, a falsas interpretações e a abusos. Sem dúvida 
alguma, muitos serão aqueles que não só entre os iniciantes mas também entre todos 
aqueles que têm tendência ao exagero aproveitarão minhas ideias acerca da importância 
do sentir com para colocar, no tratamento, o principal acento sobre o factor subjectivo, 
isto é, sobre a intuição, e que desprezarão o outro factor que sublinhei como decisivo, a 
apreciação consciente da situação dinâmica. Mesmo repetidas advertências 
provavelmente não terão efeito contra tais abusos. Inclusive vi certos analistas 
utilizarem minhas tentativas de actividade prudentes, e cada vez mais para se 
entregarem a um inclinação pessoal para a aplicação de medidas constritivas, 
perfeitamente não-analíticas, às vezes com uma ponta de sadismo. Não me 
surpreenderia então ouvir dentro de algum tempo ter alguém tomado minhas 
considerações quanto à indispensável paciência e tolerância do analista como base para 
uma técnica masoquista. Entretanto, a elasticidade que aplico e recomendo não equivale 
certamente a ceder sem resistência. Buscamos, é óbvio, nos colocar no mesmo diapasão 
do doente, sentir com ele todos os seus caprichos, humores, mas nos mantermos firmes, 
até o fim, em nossa posição ditada pela experiência. Privar o tato do seu lado místico era 
justamente o motivo principal que me levava a escrever este artigo; mas admito ter 
simplesmente abordado o problema, sem tê-lo absolutamente resolvido. No que 
concerne à possibilidade de formular também conselhos positivos para a avaliação de 
certas relações dinâmicas típicas, sinto-me talvez um pouco mais optimista que meu crí- 
tico. Aliás a exigência dele relativa à experiência e à normalidade do analista equivale 
mais ou menos à minha, de que a única base confiável para uma boa técnica analítica é a 
análise concluída do analista. É claro que num analista bem analisado, os processos do 
sentir com e da avaliação, por mim exigidos, se desenvolverão não no inconsciente mas 
ao nível do pré-consciente. 
As muitas advertências feitas acima levam-me manifestamente a precisar um outro 
ponto de vista já exposto neste artigo.Trata-se da passagem em que se diz que uma 
análise de carácter suficientemente aprofundada, deve se livrar de todo tipo de superego. 
Um espírito de rigor demasiado zeloso poderia interpretar isto dizendo que minha 
técnica quer privar as pessoas de qualquer ideal. Na verdade, meu combate se volta 
apenas contra a parte do superego tornada inconsciente e, por isso, ininfluenciável; 
naturalmente, não faço qualquer objecção a que um homem normal continue a 
conservar em seu pré-consciente uma quantidade de modelos positivos e negativos. É 
verdade no entanto que não precisará obedecer como um escravo ao seu superego pré-
consciente, como, anteriormente, à imago parental inconsciente. 
ENTREVISTA 
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