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Epilepsia sem convulsões A crise de ausência infantil age silenciosa no prejufzo ao desenvolvimento cognitivo da criança r J \ J\ 0 LJWO Psicopatas ocupam posições de destaque que permitem controle, manipulação e exploração das pessoas próximas 0 FACIS - Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo DISMORFIA - Transtorno em relação à imagem corporal O transtorno que pode levar à depressão, na medida em que o paciente tem uma imagem distorcida do seu eu corporal que é visto de forma depreciada, criando situações de tensão interna e insatisfação constante. insegurança e pela insatisfação que o indivíduo tem com a sua imagem corporal. Vê a insatisfação que sente e a projeta no outro, imaginando que também o outro enfatisará o pseudo defeito, impedindo que as relações sejam seguras e satisfatórias. O indivíduo se critica e sente-se permanetemente a v aliado negativamente. O indivíduo enfatiza pequenos defeitos na maioria das vezes, imperceptíveis para as outras pessoas. Essa ênfase ao defeito que imagina que têm, leva-o à insatisfação com seu próprio corpo, muitas vezes criando, inclusive, dificuldade de relacionamentos por Os transtornos de imagem são: a Bulimia, a Anorexia e a Vigorexia. A Bulimia é o transtorno em que o indivíduo alimenta-se, às vezes compulsivamente, e como compensação, utiliza-se do vômito, na maioria das vezes induzido para esvaziar-se daquilo que o incomoda, o alimento, sobre o qual o paciente coloca toda a culpa da sua insatisfação com a imagem corporal. A Anorexia caracteriza-se pela negação do paciente de alimentar-se, porque a imagem que tem de si mesmo está tão alterada e seu nível de insatisfação é tão grande com o seu próprio corpo, que ele se nega a nutri-lo. A falta de nutrição sistemática, sem dúvida, trará um transtorno corporal, porque o indivíduo estará com uma alteração de peso que o debilita. Cursos de Pós-Graduação Artetera pia e Expressões Criativas Psicologia Junguiana Psicossomática Acesse o site ou entre em contato para agendarmos sua visita. (11)5085-3141 www.facis.edu.br atendimento@facis.edu.br Rua Dona lnácia Uchôa, 399 - Vila Mariana São Paulo - SP CEP:04110-021 Próximo ao metrô Vila Mariana e Ana Rosa A Vigorexia é excesso da prática de exercícios físicos que delimitam e enrijecem excessivamente a musculatura de todo o corpo, produzindo com a obsessividade do exercício físico, levando de fato , à uma alteração em função da proeminência e enrijecimento muscular observado em todo corpo. Atualmente fala-se também do metrossexual que seria um indivíduo preocupado com os cuidados excessivos com sua imagem corporal. Podemos incluir aqui também, um outro tipo abordado que é o spornsexual, que é o indivíduo que vive do culto ao corpo; um paciente com características narcísicas. Ora. Lourdes de Paula Gomes Psicóloga e especialista em Psicologia Clínica , Ludoterapia e Psicodrama Pedagógico pela USP ( Diretora da FACIS) Prepare-se com a FACIS e terá a melhor Pós-Graduação Com tradição a mais de 20 anos, a FACIS é o caminho certo para o seu crescimento pessoal e profissional. Conheça mais sobre a FACIS 0/facisfaculdade fi /faculdadefacis 0FACIS ~26 Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo de Tradição p editorial Gláucia Viola. editora Reféns de um .1' predador pslqUICO A psicopatia é uma anomalia psíquica, um tr.·anstorno antissocial de per- sonalidade. Estudiosos sobre o assunto dizem que as fu nções cogn itivas c mentais do psicopata se mostram basicamente normais. É a conduta social que se encontra patologicamente al terada. Q uem apresenta essa anoma lia é capaz de cometer crimes sem sentir medo ou compaixão. Aliás, a ausência de emoção é sua maior característica. Esse comportamento parece exer- cer algum fascín io popular, pois, ao fa lar em psicopatia, logo imaginamos uma lista de exemplos vindos diretos de Hollywood. O perfi l é massivamente traçado em diversos personagens. Talvez s~ja a intensa vontade de querer entender uma conduta incompreensível ao ser humano na turalmente afetuoso. Entretanto, a revista Psique traz um viés d iferente e relata a sensação da vítima desse indivíduo peculiar. A pauta nasceu ao ler a entrevista de um dos maiores especialistas mundiais sobre o tema, o psicólogo criminal Robert Hare, que disse que "os psicopatas não sentem angúst ia pessoal e não têm nenhu m problema. O problema quem tem são seus alvos. A capacidade de castigar as vítimas se baseia em uma ação anormal do cérebro, que reage de forma completamente diferente de uma pessoa sã". O artigo de capa desta edição, escrito pela psicanalista j úlia Bárány, descreve o sofrimento da vítima que vive sob o controle e a manipulação psíquica de seu predador. O traço real do psicopata é bem d iferente do serial ktller hollywoodiano. Ele é uma pessoa comu m, que pode ser muito próxima a nós: o vizinho ou o chefe, e está nos mais d iferentes lugares. A autora baseia- se em pesquisas e diz que nas escolas, por exemplo, há no mínimo um. A psica nalista ainda alerta para a fa lta de preparo dos profissionais de saúde mental em tratar esse tipo de caso e apresentar mecanismos de superação para a vítima que experimentou um verdadeiro "estupro da alma". Boa leitura! Gláucia Viola psique@esmla.com.br wwwjàcebook.com/Rev/staPs/queCienciaeVtda "Uma alm.a morta é uma alma completamente conformada" Clwrles Péguy sumário CAPA SEÇÕES OS EM CAMPO 16 IN FOCO 18 PSICOPOSITIVA O PERIGO MORA AO LADO Psicopatas enganam ao se relacionar socialmente e se colocam em posições que permitem controle, manipulação e exploração das pessoas próximas ENTREVISTA Rodrigo Falcão analisa a função da Psicologia Esportiva, alerta para o excesso de exercícios e para a pressão sofrida por jovens atletas para conquistar resultados MATÉRIAS Epilepsia traiçoeira Um dos tipos mais comuns, a crise de ausência infantil, tem grande incidência e causa prejuízos no desenvolvimento cognitivo e na aprendizagem Por mais autonomia O Brasil viu crescer o conceito de inclusão das pessoas com deficiência, o que trouxe questionamentos sobre o papel do psicólogo na busca por qualidade de vida 20 PSICOPEDAGOGIA 32 COACHING 34 LIVROS 52 NEUROCIÊNCIA 54 RECURSOS HUMANOS 64 CIBERPSICOLOGIA 66 DIVÃ LITERÁRIO 68 CINEMA 78 SEXUALIDADE 80 EM CONTATO 82 PSIQUIATRIA FORENSE 35 DOSSI~: CAUSA GENÉTICA E PSICOLÓGICA Pais, professores e psicólogos voltam olhares para o TDAH como um distúrbio biopsicossocial e o yoga pode ser um dos tratamentos possíveis • em campo COMPORTAMENTO E PERFORMANCE SER BEM-SUCEDIDO IMPLICA TER PAIS DEDICADOS Treinar, estudar e o que mais? O que é preciso para ser bem-sucedido? Um estudo ela Universidade de Ne- braska-Lincoln, nos Estados Unidos, con- duzido pelo psicólogo educacional Kcnneth Kiewra e três ex-alunos de pós-graduação, revela que a atitude dos pais também in- fluencia o sucesso dos fi lhos. Segundo a pesquisa, há vários comportamentos dos genitores que são fundamentais para de- senvolver o potencial das crianças, fazendo com que estas se destaquem, no futuro, em alguma área de atuação. Trata-se de um aprimoramento daquilo que é herança ge- nética (ta lento), favorecido por uma dedica- ção incansável da família. No trabalho de Kiewra e ex-alunos, fo- ram entrevistados e acompanhados pais de 24 jovens norte-americanos que são desta- ques nacionais ou internacionais em suas carreiras. O grupo incluía patinadores de gelo com medalhas o límpicas, campeões de xadrez, campeões de vôlei, músicos pre- miados, um autor pré-adolescente e um campeão de concurso de soletração nacio- nal. Os pais desses garotos tinham suas ca- sas hipotecadas ou desistiram de seus em- pregos, entre outros sacrificios, para nutrir talentos de seus filhos. A pesquisa se diferenciou de outras no sentido de acompanhar pais ainda nessa fase de investimentonos fi lhos, não se ba- seou em relatos de acontecimentos passa- dos. Também foi singular ao centrar-se no depoimento desses pais e não dos mento- res de seus fi lhos ou dos próprios jovens. Uma limitação do estudo foi ter ouvido apenas pais norte-americanos, brancos, de classe média alta, amostra que os próprios cientistas sugerem que deve ser ampliada, no escopo da multiculturalidade e diversi- dade socioeconõm ica. Alguns aspectos identificados como fundamentais no desempenho dos jovens, a partir desse estudo: -A descoberta precoce dos ta lentos das crianças e a atenção dada ao seu desen- volvimento desde cedo; -Organização da família em função das atividades dos fi lhos (competições, es tu- dos etc.); - Esforço dos pa is na motivação cons- tan te dos fi I h os. - A contratação de um técn ico/ profes- sor, quando necessário, e esforço de in- vesti mento em todo e qualquer recurso necessário. (Fonte: ScienceDm~v.com) por jussara Goyano 1\.'11 LI<.l ,l] \I· \10(10'\ \L De acordo com informações atual izadas constantemente pelos autores besl-sellers do tema Travis Bradberry e Jean Greaves, em seu site, 90% das pessoas com performance acima da média têm alto índice de inteligência emocional. Cerca de S80A1 de nossa performance no trabalho, lembram os norte-americanos Braclberry e Greaves, é influenciada por nossa inteligência emocional. Profissionai s mais in teligentes emocionalm ente também ganha m USS 29 mil a mais que seus pares com menos inteligência emocional por ano. ]\,]('] \ 1'1\ \ "O Museu de A r te Contemporânea de Ribeirão Preto está recebendo grupos de estudantes da Faculdade ele Economia, Admin istração e Contabilidade de Ribeirão Preto (Fearp) da USP numa atividade chamada Laboratório de ldeias. Sob a coordenação da professora Claudia Souza Passador, do Departamento de Administração da Fearp, e coordenadora da Escola Técnica c Gestão da USP, os alunos de pós-graduação em Ad ministração de Organizações frequentam au las no museu. O objetivo é formar gestores mais criativos e capacitados - por meio das novas sinapses que a arte oferece às mentes desses fu turos profissionais - para fazer diagnósticos, prever futuro c criar estratégias em meio a crises. O convívio do gestor com música, ci nema e artes plásticas enriquece seu repertó rio de ideias c o to rn a um líder necessá rio." A informação é ela Agência USP c interessados no programa podem entrar em contato pelo telefone (1 6) 3315-0505. psique ciéncia&vida 5 c em campo PRIMEIRA -IMPRESSA O EMOÇÃO E MEMÓRIA COORDENADAS INFLUENCIAl\11 ENCONTRO SOCIAL A primeira impressão é a que fi ca, já diz o jargão popular sobre o primeiro encontro entre duas pessoas desconhecidas. Buscar as razões pelas quais isso acontece foi o objetivo de cientistas da Universidade ele Haifa, em Israel, a partir de um ex perimento com ratos de laboratório. Entre os achados, verifi- cou-se que emoção social e memória social estão intimamente ligadas nesse processo, e t rabalham de forma coordenada. Testando os ratos, os pesquisadores verificaram que a emo- ção do encontro social com um rato estranho criou um alto nível de atividade rítmica sincronizada no cérebro, fa tor que parece facilitar a formação de memória social. Uma vez que os ratos estavam fami liarizados uns com os outros, a excitação diminuía, e as áreas dist intas do cérebro passavam a trabalhar de forma menos coordenada. Os cientistas também procuraram investigar se outras emoções em particular geravam essa sincronização de ativi- dades cerebrais, mas isso não aconteceu. Emoções negativas como medo e mesmo emoções positivas, mas relacionadas a um ser inanimado, não provocam as mesmas reações. Os espe- cialistas sugerem que o experimento seja repetido em humanos para que se confirme ser essa atividade sincronizada no cére- bro o fator que nos faz lembrar mais fortemente dos primeiros momentos que tivemos com alguém. Para saber mais: Alex Tendle~, Shlomo Wagner. Different types oftheta rhyth- micity are incluced by social anel fearfu l stimuli in a network associated with social memory. eLife, 2015; 4 DOI: 10.7554/ eLife.03614 6 psique ciéncia&vida CRIANÇAS COMTDAH UM ELOGIO PODE MEl ~H ORAR O DESEMPENHO, DIZ ESTUDO Pesquisa publicada no periódico BehflV/oml and Bra/n Functions, do Reino Unido, demonstrou que crianças com transtorno de déficit ele atenção com hiperativiclade (TDAH) precisam do reconhecimento por um trabalho benfeito muito mais que aquelas que apresentam desen- volvimento típico. Elogios e recompensas parecem motivar com inten- sidade e melhorar o desempenho desses pequenos em al- gumas tarefas cognitivas. Não que não façam o mesmo em crianças com desenvolvimento típico, mas quando se pede a essas últimas que deem o melhor de si, seu desem- penho já muda. Já as portadoras de TDAH necessitam de outras estratégias, como a maior motivação. Quando se avalia o melhor desempenho das crianças com TDAH, a questão, no entanto, não é só motivacional. O trabalho realizado a partir da terapia cognitivo-compor- tamental, com foco nas consequências positivas, e o treino em habilidades específicas não podem ser desc}lrtados. Para saber mais: Whitney D. Fosco, Larry W. Hawk, Keri S. Rosch, l\IIicheUe G. Bubnik. Evaluating cognitive anel motivational accounts of greater reinforcement effects among children with atten- tion-deficit/hyperactivity disorder. Behavioral and Brain Functions, 2015; 11 (1) DOI: 10.1186/s12993-015-0065-9 Jussara Goyano é jornalista. membro da lnternational Science Writers Assoc1ation. Estuda Ps1cologia. Med1c1na Comportamental e Neuroc1ênc1as. com foco em resiliênc1a. bem-estar e performance. t coach certificada pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. afiliada à AssociaçC!o Brasileira de Qualidade de Vida. giro escala OS ÍNDIOS EM SALA DE AULA lU \I~ I \ \R li I.Dl C\ FFI - 1•.1) 1(,' \o .J A importância dos índios ga- nha as páginas da revista Arte- -Educa - EFl , em sua edição 4. O material apresenta o Projeto Índios Brasileiros, que tem por ob- j~ jetivo central levantar a discussão i! sobre o tema, sob diversas aborda- gens, inclusive mostrando aos alu- nos, com enfoque na questão da diversidade, os aspectos que definiram a formação social do Brasil. A ideia foi da arte-educadora Ni lza Maria Gatti Lopes Guimarães, do Colégio São Luís, em São Paulo. Para ela, a cultura indígena está presente no dia a dia das pessoas, na fala e no alimento. Está inserida na cultura urbana de forma direta e ind ireta. E, por isso, é importante que todos saibam sobre o modo de viver dessa população, suas t radições, hábitos e crenças. Existem hoje no país cerca de 300 mil índ ios e eles não se definem como um grupo de oposi- ção aos brancos. É necessário entendê-los e respeitá-los. O PROTAGONISTA WEFFORT IS I \ '-,()( IOI )(,I \ I· DI<., \o =;<J O cientista político e sociólogo Francisco Weffort desenvolveu, ao longo de sua trajetória profissional, inúmeros trabalhos e pesquisas, que tiveram papel protagonista em sua área de atuação. Além disso, sua participação na política nacio- nal contribuiu para importantes t ransformações ocorridas no país entre as décadas de 1980 e 2000. Esse conjunto de trabalhos, anál i- ses e interprelações foi formulado durante sua mi litância como pes- quisador na Universidade de São Paulo (USP), no Centro Brasi leiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e no Centro de Estudos de Cul tura Con- temporânea (Cedec). Suas interpretações se traduziram em presença polí- tica, seja como integrante do Partido dos Trabalhadores (PT), entre 1979 e1994, seja como ministro da Cultura do governo de Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 2002. Con heça mais sobre o trabalho de Weffort na edição 59 da revista Sociologia. www.portalcicnciacvida.com.br A LITERATURA E A FILOSOFIA Rl \ ..., I \ I I I I EDI(,: \O 110 Aspectos como Ciência, Mística, Fi losofiae Arte são pontos de partida para a conceituação do estudo de todas as manifestações literárias e poéticas. Conceituar Arte, entre outras coisas, é saber interagir sua estrutura com os ou- tros conhecimentos, e a Filosofia surge como um sustentáculo fundamental da lógica artística. A partir desse conceito, o escritor e professor Lucas Limbcrti desenvolve seu trabalho. o último mês de junho, Limberti deu início a uma campanha de fi nanciamento coletivo on-lli1e para a publicação do livro R/tm/n: O n'tmo do v1'do. A obra t raz poemas em estado de música, divididos, como ele faz questão de definir, em Lado B e Lado A. Segundo o autor, o livro surgiu durante um trabalho fotográfico de uma banda da qual ele fazia parle e que se apresentava em São Paulo. Ele percebeu que todos têm ensaios e shows na vida, estruturando os lados B e A. Durante a leitura, as pessoas podem reAetir sobre qua l é o ritmo de suas próprias vidas. Acompanhe entrevista do escritor na edição 110 da revista Filosofia. psique ciênci:o&vid:t 7 E N T R E v s T A -NAS DERROTAS ACHAMOS SOLUÇOES PARA AS VITÓRIAS Rodrigo Falcão analisa o papel da Psicologia Esportiva, alerta para o excesso de exercícios e para a pressão que os jovens atletas sofrem para conquistar resultados, além de garantir que é mais fácil lidar com o sucesso do que con1 o fracasso Por: Lucas Vasques/ Foto: divulgação E ntender como os fatores psicológicos influenciam o desempenho físico e compreender como a participação nessas atividades afeta o desenvolvimento emocional, a saúde e o bem-estar de uma pessoa nesse ambiente. Esses são os desafios centrais do profissional que se dedica à Psicologia do Esporte. Embora a atuação profissional mais conhecida esteja relacionada aos esportes de rendimento, o psicólogo do esporte tem um leque amplo de atividades. Pode trabalhar na orientação de exercícios físicos como manutenção da saúde e do bem-estar; na relação do praticante com o ambiente escolar; na iniciação esportiva de crianças e jovens envolvidos em atividades esportivas, pedagógicas e competitivas; na recuperação psicológica de atletas lesionados e pessoas que realizam atividade esportiva como meio para reabilitação; e em projetos sociais que usam o esporte como ferramenta complementar da educação, da socialização de crianças e jovens de comunidades pobres. www.portalcicnci;~cv ida.co•n.br O psicólogo Rodrigo Scialfa Falcão, formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, mestre em Esportes para Resolução de Conflitos pela Universitat Oberta da Catalunya/ Unesco e especialista em Psicologia do Esporte pelo Instituto Sedes Sapientiae atualmente é supervisor de Psicologia no Instituto Rugby para Todos, projeto social que atende mais de 200 crianças e jovens da comunidade Paraisópolis, em São Paulo, e atua, também, na ADC Bradesco Educação e Esporte como psicólogo do esporte das categorias sub 17 e 19 de basquete feminino (www.psicologianoesporte. com.br). Além disso, ainda atua como psicólogo clínico com especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva. Ele resume a importância do seu trabalho e de sua área de atuação da seguinte forma: "O esporte é uma metáfora perfeita da vida. Ganhamos, perdemos, nos emocionamos, caímos, levantamos, nos fi·ustramos, crescemos, aprendemos, nos superamos, nos retiramos, damos lugar a outros que nos substituem". Lucas Vasques é jornalista e escreve para esta publicaçao psique ciência&vida 9 No esporte de alto rend1mento. cada atleta tem um padrão de comportamento diferente. o que explica as demandas IndiVIdUaiS particulares. mesmo que todos os esport1stas seJam de uma mesma equ1pe E~t QUE CO~SISTE E. Qll;\IS SÃO AS ÁREAS DE ATUAçAo DA P s iCOLOGI:\ Do E s PORTE? I <til! 11.1 < \1 o· A Psicologia do Esporte é uma ciência que estuda o comportamento de pessoas envolvidas no contexto esportivo c de exercício fí- sico. O objet ivo do psicólogo do espor- te é entender como os fa tores psicológi- cos influenciam o desempen ho físico c compreender como a participação nes- sas atividades afeta o desenvolvimento emocional, a saúde c o bem-esta r de uma pessoa nesse contexto. A atuação profissional mais conhecida está rela- cionada aos esportes de rend imento. Entretanto, não é só o esporte compe- titivo o foco de atuação do psicólogo do esporte. As áreas de intervenção são compostas, também , pelas práti- cas de tempo I ivrc (exercícios físicos como manutenção da saúde e do bem- -estar), pelo esporte escolar (a relação do praticante com o a mbiente escolar, nos mais variados graus), pela in iciação esport iva (crianças c jovens envolvidas em atividades esportivas, pedagógicas e competitivas), pela reabilitação (recu- peração psicológica de atle tas lesiona- dos e pessoas que rea lizam atividades I O psique ciência& vida Estar concentrado é uma habzlzdade psicológica muito zmportante para qualquer atleta, porém pode haver níveis d(ftrentes de concentração, dependendo da situação exigzda na competição espor tivas como meio para reabi lita- ção, por exemplo obesos, doentes car- díacos, doentes mentais, pessoas com necessidades especiais, entre outros) e pelos projetos sociais (que têm como in- tui to principal utilizar o esporte como ferramenta complementar da educação, da socialização de crianças e jovens ele comunidades pobres). Q UAIS SÃO OS PRINCIPAIS ASPECTOS EMOCIONA IS A SE.RE!'vl ANALISADOS FUN- CIONA I.i'v!ENTE EM ATLETAS DE :\LTO RENDIMENTO? F \1 ( \ O : Cada pessoa possui um pa- d rão de comportamento distinto. Por- tanto, existem demandas individuais d iferentes para cada atleta, mesmo sendo de uma mesma equipe, m as al - gumas habilidades psicológicas são fu ndamentais para qualquer modalida- de espo rtiva, como gerenciamento de estresse e ansiedade, nível ele atenção e concentração, tolerância à frustração, motivação, equilíbrio em ocional, ha- bi lidades sociais para lidar em g rupo. ATÉ QUE PONTO A CO NCENTRAÇ:\0 IN- TERFERE NO DESEMPENHO DE UM ATLE- TA DURANT E UMA COMPETIÇAO? I• \I < \o: Depende ela modalidade es- portiva. A lgumas requerem mais re- cursos do que out ras. Estar concen- trado é uma habilidade psicológica mui to importante para qualquer at le ta, porém pode haver níveis diferentes ele concentração, dependendo ela si tuação ex ig ida na competição. Por exemplo, para um pivô no basquete e um atle- ta de tiro esportivo as exigênc ias são muito distin tas. Durante uma compe- t ição, a concentração pode ser deter- mina nte pa ra o resultado. COMO VOCf' OBSERVA A INTERSECÇ;\O ENTRE i\ PRATICA ESPORTIVA RELACIO- NADA A QUESTÕES DAS CONEXÕES CE- REBR:\IS E LIBERAÇAO DE SU BSTÂNCIAS COi\10 A SEROTON INA, QUE ESTII\ IULA O PRA ZER, E A C0:\1PULSAO POR EXERCÍ- CIOS, A BUSCA PELO CORPO PERFEITO? COMO PERCEBER O LIMITE ENTRE ESSES DOIS ASPECTOS? F \1 < \O: É sabido que praticar exer- cícios fa z bem para a saúde física e psicológica e os ganhos disso são amplame nte divu lgados. Contudo, há pessoas que passa m do limi te, exage- ram c podem ser d iagnost icadas com vigorexia, que é o nome dado para que m possui dependência ern exer- \Vw\v.pott alcicnciacvida.com.br cícios físicos. Quando uma pessoa deixa de se relacionar socia lmente, ev ita encontros soc iais com amigos e fam il ia res pa ra se exercita r, es tá sem- pre ext remamente preocupada com o que come e com dietas para turbinar o rendimento, uti liza anabolizantes e diuréticos, exagera nas ho ras em que se exercita, entra em overtraiw1tg, se lesiona, se . to rna um fa nático por es- sas atividades, se irr ita, fica ansioso, ag ressivo quando não consegue se exercita r, acredita que necessita de mais tempo de seu dia pa ra dar con- ta de sua necessidade de trein ar são algun s sintomas dessa patologia. O g rande problema é que o diagn óstico é di fícil , já que é uma patologia que ainda não estádescri ta espec if icamen- te nos manua is médicos, como o DSM e a CID-10. Não existem o es tigma e o preconceito envolvendo a pessoa com vigorex ia, é até socialmente aceita uma pessoa que se exerc ita em dema- sia e m comparação com uma pessoa que é sedentária e obesa, até po rque exis te uma forte representação cultu- ral pelo culto à beleza, à va idade e à es té tica . Os circui tos cerebrais e fi sio- lógicos acionados nos dependentes de exercícios e nos dependentes químicos são mui to s imilares. D ENTRO DE UM A ABORDAGEM ABRAN- GENT E, COl\10 É LI DAR C01\I ATLETAS JOVENS El\11 RELAÇÃO A CARACTERÍSTICAS NECESSARIAS PARA UMA BOA PERFOR- MANCE, COMO CONCENTRAÇÃO, DETER- MINAÇAO E EQUILÍBRIO EMOCIONAL? F-\LC \o: Para qualquer profissiona l de d iferentes disciplinas que atue dire- ta mente com atle tas jovens, é preciso levar em conta as competênc ias físi- cas, cognitivas e emocionais para cada fa ixa e tária. Entretanto, a exigência de alta perform ance em categorias de base é muita alta. Infelizmente, o resultado está à frente da fo rmação de pessoas. Muitos técnicos não sabem como lidar com isso. Não dá para exigir de uma criança de 12 anos o mesmo dese mpe- www.port;llcienci:lcvida.corn.br É sabzdo que praticar exercíczos foz bem para a saúde fozca e psz'cológzca. Contudo, há pessoas que passam do lúnite, exageram e podem ser dz'agnostzcadas com vzgorexza, que é o nome dado para quem possuz· dependência de exercíczos fozcos nho de um adolescente de 17 e, desse modo, o mesmo de um at leta adulto. O papel do psicólogo nesse contexto é auxiliar pontuando essas questões a todos os envolvidos (comissões técni- cas, atletas e fa mílias), além de procu- rar promover o bem-estar psicológ ico e propiciar a qualidade de vida e a saúde menta l dos jovens atletas. Algu- mas modalidades podem influenciar negativamente do ponto de vista do desempenho esportivo (vou usar o tê- nis como exemplo, mas isso acontece em muitas modalidades), praticamente o mesmo tênis é praticado por profis- sionais e por ado lescentes de 13 anos, há poucas variações nas regras, nos equipamentos, na contagem elos pon- tos, nas dimensões da quadra. já tive o desprazer de ass istir a uma partida de tênis de garotos de 14 anos durar por quase t rês horas, num campeonato es- tadual de classe inferio r, e o vencedor ter de voltar a jogar no outro dia. Não sei o quanto esse tipo de exigência de performance pode ser saudável. O fato é que nas categorias de base, de modo geral, há muito mais tendência ao ado- ecimento do que à saúde. A presença de psicólogos do esporte é negligenciada na g rande maioria dos clubes esporti- vos, há mui to desrespeito à integridade humana, não se pensa em prevenção, promoção da saúde, profi laxia para os jovens at le tas. Há muitos jovens que adoecem e não encontram o amparo adequado nas respectivas agrem iações. O ECA (Estatuto da Criança e doAdo- lescente) é claro com relação a isso. Existe um disposto na lei que gara nti- ria acesso à saúde de j ovens que estão a lojados em clubes esportivos ou simi- lares. No entanto, é mais uma lei que não se cumpre no país. Os circuitos cerebrais e fisiológicos aCionados nas pessoas que são viciadas em exercícios fisir::os e nos dependentes quim1cos são mu1to Similares Os ATLETAS DE COMPETIÇÃO JOVENS, POR NÃO ESTAREM DEFIN ITI VAMENTE FOR- MADOS EM SUA PERSONALIDADE, PODEM ENCONTRA R DIFICU LDADES PARA LIDAR CO~I A PRESSÃO POR DESE~IPENHO ME- LIIOR? CoMo A P s iCOLOGIA EsPORTIVA PODE AJUDAR NESSA QUESTÃO? F\I.C \o: Com toda certeza, vai depen- der muito ele como as pessoas que es- tão em torno desse jovem lidam com esses aspectos, o papel da família é fu n- damental. Os adolescentes são muito exigentes consigo mesmos, as pressões por rendimento esportivos são inevi- táveis, principalmente porque nessa fase a aceitação pessoal e pelo g rupo é muito importante. As compa rações são recorrentes e mui tos jovens não conseguem lidar bem com isso, a lg uns podem sofrer bulliy ng, se estressar, abandonar as atividades precocemen- te. Nosso papel é de buscar a cautela, fortal ecer o indivíduo, a sua autoestima e autoimagem , procurar o equilíbrio emocio nal , a luclicidacle e o p razer pela prática esportiva e pela competição saudável, tentando contribuir para a re fl exão, para que o jovem conheça os próprios limites, suas qualidades pes- soais, pensa ndo en:' sua qualidade de vida, no gerenciamento de ansiedade e na saúde menta l dessas pessoas. 12 psique ciência&vida M UITOS DIZEM QUE OS INTERESSES DE El\ IPR ESÃRIOS E FA~IILIARES PODEi\1 PRE- JUDICAR A TRAJETÓRIA DOS ATLETAS PROFISSIONA IS. QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE O PREPARO PSICOLÓGICO DO ATLE- TA BRASILEIRO, EM GERAL, FRENTE À CONDUÇÃO DE SUA CARREIRA? F \LC \o: Sem dúvida, a famíl ia é sem- pre um elemento mui to importante na vida de qua lquer atleta, pa ra o bem e A exigência de alta peiformance em categon'as de base é muita alta. Muitos técnicos não sabem como lzdar com isso. Não dá para exigir de uma cn'ança de 12 anos o mesmo desempenho de um adolescente de 17 e, desse modo, o mesmo de um atleta adulto para o mal. O ex-ten ista Andre Agassi j á re latou em sua b iografia que seu pai fo i quem o obrigou a t re inar e que foi difícil para ele lida r com sua excessi- va cobra nça, mesmo depois ele ser um atleta consagrado. No mundial de na ta- ção, em 2004, um pai agred iu sua filha por ela não ter obtido o resu ltado que e le esperava. As cenas lamentáveis cor- reram o mundo. Não podemos esperar da família a exigência por resul tado, a t.:obrança no esporte j á é a lgo ineren- te e mais pressão de quem deveria dar apoio só tende a prejudicar. o ramo empresaria l, como em qualquer setor de atividade, há empresários que con- duzem bem a carreira dos atle tas que eles gerenciam e, também, há os ines- crupulosos e gananciosos. Tudo passa pela formação. D ificilmente um atleta que conseguiu ter boa formação e boa estru tura familiar será prejudicado por seus empresários. Eu acred ito que o atleta brasi le iro q ue compete em alto nível, seja qual for a modalidade, é um resiliente, um sobrevivente, um super- -herói. Não é fácil ser atleta de pon- ta nesse país. Ele literalmente supera obstáculos grand iosos, o sistema não contr ibui pa ra o seu desenvolvi mento. Ao contrário, o atleta brasile iro tem uma motivação absurda. Estamos às vésperas de sediar os j 0gos Olímpicos e a nossa base é pífia, nossa estrutura esportiva é péssima, não existe um pro- grama nacional de democratização do esporte para a população e nem de alto rendimento. O esporte ta mbém é subu- tilizado como ferramenta para preven- ção e promoção da saúde, para o desen- volvimento educativo. Uma pesquisa da ONU mostrou que para cada dólar investido em ativ idades esportivas são econom izados três dó lares com saúde pública. Ou seja , o esporte não pode ser considerado gasto e, si m, investi- mento. Com uma estrutura dessa os poucos que conseguem bons resu ltados em mundiais, Jogos Olímpicos e demais competições internaciona is deveriam ser reverenciados. C reio que muitos w\vw.porta1cicnciacvida.com.br A prática de educação físzca escolar é negligenciada na mazorza das escolas públzcas do país, muitas não possuem quadra poliesportzva. Em muztos colégzos partzculares, esse finômeno também acontece em decorrêncza do ensino para o zngresso no vestibular at letas brasileiros desenvolvem uma es- pécie de "complexo de vira-la tas" ao se depararem com atletas de países com mais tradição c potenc ial. A impressão que tenho é do tipo de pensamento "foi tão difícil chegar até aqui, já me dou por satisfeito", quando creio que deveria ser ao contrário, usar essa dificuldade ab- surda como mais um combustível para encara r osadversários, sejam eles quais forem. Os atletas brasi lei ros necessitam de autoestima, precisam ser valorizados por todos e, também, se sentirem va lo- rizados por eles mesmos. EM QUE MEDIDA A ATIVIDADE FÍSICA PODE AJUDAR NA OBT ENÇÃO DO EQUILÍ- BRIO El\IOCIONAL E DA SAÚDE PSICOLÓ- G ICA COl\10 UM TODO? QUAIS AS PRIN- CIPAIS CONTRIBUIÇÕES DA P SICOLOGIA DO ESPORTE NO SENTIDO DE AUXILI AR A C RI ANÇA QUE PR ATICA ALGU1\ IA 1\IODA- LIDADE r\ APRENDER A SE CONCENTRAR, BUSCAR OBJ ETI VOS, TER DISCIPLINA , ATÉ MESl\10 PARA OUTROS SETORES DA VIDA? F u .c \o: A Educação Física escolar tem um papel fu ndamental na formação e no desenvolvimento de crianças e jo- vens, não só do ponto de vista físico, mas, também, intelectual. A prática de educação física escolar é negligenciada na maio ria das escolas públicas do país, muitas não possuem quadra poliespor- tiva. Em muitos colégios particulares, esse fenômeno ta mbém acontece em decorrência elo ensino para o ingresso no vestibular. Alguns estudos indicam que crianças que se exercitam com frequência de pelo menos duas vezes na semana têm melhores resultados \vww.portalcicnciacvida.com.br cognitivos na escola do que crianças sedentárias. A prática esport iva pode ser um excelente ca minho para o de- senvolvimento humano e pessoa l, a convivência em g rupo, a disciplina, a aceitação de regras, a superação, a competição saudável, a tolerância à fru stração. Muitos valores éticos e mo- rais podem ser aprendidos através do esporte, porém a mediação dessas situ- ações por pessoas treinadas adequada- mente é fu ndamental. MUITO SE ESPECULOU El\1 RELAÇÃO AO DESEM PENIIO DOS JOGADORES DA SELE- ÇÃO NA CorA oo MuNDO DO BRASIL, QUE ELES NÃO ESTARIAM SUFICIENTE- MENTE PREPARADOS PSICOLOGICA1\IENTE PARA A DISPUTA, O QUE RESULTOU NA HIST ÓRICA DERROTA DE 7 r\ 1 PARA A A LEI\ IAN HA. Q UAL A SUA AVA LI AÇÃO? E\I .C \o: A responsabi lidade por aquele vexame do Brasil na Copa não deve ser colocada na conta da preparação psi- cológica, como foi mencionado por al- guns atletas e por parte da míd ia, após o episódio. Esse é o caminho mais fácil e previsível. Acred ito que toda a preparação (técnica, tática, física e emocional) foi inadequada, o futebol brasilei ro parou no tempo, vive de suas glórias do passado e seus dirigentes acreditam que isso basta para ganhar campeonatos. O fantasma de 1950 (derrota na fin al da Copa do Mundo para o Uruguai, no Maracanã) rondou todos os estád ios em que a seleção jogou c foi sepultado com o 7 a 1. A Copa era a pressão de um país inteiro e com ela todo o si mbolismo e a re- Em sua b1ograf~a. o ex-ten1sta oorte-americaro Ardre Agass1 revelou que seu pa1 o obngava a tre1Nr. exagerardo r~as cobranças por bons resultados presentativid ade cultural que o futebol exerce em nosso pov9, ou seja, ganhar a Copa, apesar dos custos faraônicos dos estád ios, apesar dos políticos e dos problemas sociais que temos. O fute- bol no Brasil é mais do que um espor- te. É muito mais complexo do que isso. 0 FATO DE OS JOGADORES C HORAREM l\ IUITO NA EX ECUÇÃO DO H INO NACIONAL E DURANTE A DISPUTA DE PÊNALTIS NA PARTIDA CONTRA O CHILE DEMONSTRA ESSA FALTA DE PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA? 1:<~\ IC\o: Não vejo dessa maneira com relação ao Hino Nacional. Para mim isso foi algo que motivou os atle tas pouco antes da partida. Mas só isso não basta para um time vencer. Nos pênaltis poderia ser um desabafo de algum jogador. Porém, seria leviano de minha parte analisar esses aspectos sem estar presente no g rupo para saber o que realmente ocorreu. O choro não pode ser considerado sinal de fraqueza. Há pessoas mais emotivas e sensíveis do que outras c que se emocionam com mais faci lidade. Para alguns, chorar poderia estar relacionado ao alívio da pressão que ex istia naquele momento. psique ciência&vida 13 O atleta de ponta no Bras1l tem uma motivação absurda. apesar da falta de Incentivo: às vésperas dos Jogos OlirrpiCos. a estrutura esportiva é péssima Carregar um país com 200 milhões de torcedores nas costas, que exigem so- mente a conquista do campeonato em casa, não é brincadeira. COi\10 LIDAR COi\1 AS DERROTAS? ALIÁS, Í': i\ 11\IS DIFÍCIL LIDAR COi\1 OS FRACASSOS OU CO~I O SUCESSO NO UNIVERSO ESPORTIVO? >: Com toda certeza, é mais fácil lidar com o sucesso. Algumas derrotas podem ser traumáticas para quem vi- venciou, perdurarem por muito tempo c, às vezes, até não serem esquecidas por atletas, torcedores, pela mídia. In- felizmente, existem trajetórias de atle- tas excepcionais que ficam marcadas por alguma derrota emblemática. Pode parecer clichê, mas o esporte é feito de derrotas e vitórias, e as derrotas podem ser um meio para o desenvolvimento do atleta e de equipes. Nas derrotas po- demos achar as soluções para alcançar as vitórias. O que move o esporte é a competição e as vitórias são muito mais importantes, em mui tos aspectos, por exemplo, para a construção de ídolos. O esporte de alto rendimento é feito de resultados positivos, ser vencedor é o objetivo primário de qualquer atleta. 14 psique ciência&vida Porém, as vitórias, em muitos momentos, podem esconder as- pectos negativos ela preparação de uma equipe. É necessário ter hombridade na derrota e humildade na vitória. A INDA IIOJ E, NO FUT EBOL BRASILEIRO, O PSICÓLOGO DO ESPORTE Í' OBSERVADO COi\1 RESERVAS POR ALGUNS JOGADORES E TÍ,CN ICOS. A RAZÃO SERIA PELO FATO DE QUE O FUTEBOL CONT INUA SENDO ENCA- RADO CO~IO Ui\1 ESPORTE i\IASCULI NO E QU E O UNIVERSO DOS IIO~IENS N.\0 PER- :'\IITE DEi\10 'STRAÇÕES DE FRAGI LI DADE? I' \I ( \o: Não é só no futebol que acon- tece isso, talvez fique mais evidente por ser a modalidade mais popular no pla- neta, Mas, infelizmente, ainda há pouca abertura para o psicólogo do esporte na maioria das modalidades, por puro desconhecimento. Sem dúvida, o pre- conceito é um componente importan- te com relação à representação que a Psicologia exerce no imaginário social, pois ainda é relacionada à patologiza- ção, à cura dos problemas emocionais. Muitas vezes, os papéis da Psicologia do Esporte e da Psicologia Clínica são confundidos. Na verdade, são especia- lidades diferentes. Não se "transporta" para o ambiente esportivo o "divã". As estratégias de intervenção dessas áreas podem ser, em alguns momentos, simi- lares. Porém os objetivos são distintos. SENDO ASSii\1, O QUE O PROFISSIOI'AL DA P siCOLOGIA PRECISA FAZER PARA GANI lAR MA IS ESPAÇO NO FUT EBOL BRASILEIRO? I \t < \O: Meu desejo é que a Psicologia do Esporte seja incluída em todo o es- porte nacional e não só no futebol. Éti- ca é fundamental, ter respaldo de at le- tas, comissões técnicas e di rigentes. Profissionais habilitados para atuação, ou seja, com conhecimento específico c científico. Com tempo pa ra desenvol- ver um trabalho, em qualquer atuação A Copa era a pressão de um país z'ntez'ro e com ela todo o szmbolismo e a representatz'vzdade cultural que o fUtebol exerce em nosso povo. O fUtebol no Brasz7 é mais do que um esporte. É muito mais complexo do que isso em Psicologia, os resultados acontece- rão ele médio a longo prazo. A PsiCOLOGIA DO E sPORTE \' IROU :-10DA? ALGL' NS ESPECIALISTAS AFIR:-L\M QUE É U:-L\ CORRENTE E~IERGE:-.JTE. 0 QUE FAL- T,\ PARA Q UE ELA SEJA \'ISTA COi\1 ~1.-\ IS N,\TURALID.\DE? Apesar de a Psicologia do Es- porte ser tão antiga quanto a formali- zação da Psicologia como profissão: em 1958,João Caravalhaes esteve presente na comissão técnica que trouxe o pri- meiro campeonato mundial de futebol da Suécia. A consolidação como área começou a se desenvolver com mais força a pa rtir da década de 1990. Po- demos considerar como área emergen- te, mas não como moda, já que ainda, infelizmente, é um mercado restrito à pouca oferta de trabalho, apesar das demandas, que sãoinúmeras, ta nto práticas quanto acadêmicas. E~1 RELAÇ . .\0 ESPECIFICA:'\IEi'\TE AOS ESPORTISTAS PARALÍ:\IPICOS, 11.\ NECES- SID,\DE DE U:\1 ACO:-IPANHA:-IENTO PSI- COLÓGICO DIFERENCIADO E~l FtJ:-.JÇÃO DA DEFICIÊNCIA QUE, E;\l :\ IUITOS C.·\SOS, FRAG ILIZ A AINDA i\1:\IS A PERSONALIDA- DE DA PESSOA? IVWiv.ponnlcicncincvida.com.br F.\ l t \o: A lgumas adaptações à reali- dade das pessoas com deficiência são imprescindíveis, conhecer essas limita- ções é essencial para desenvolver um trabalho consistente. Mas o foco deles é a competição e o desempenh o espor- tivo dentro das limitações físicas que cada atleta possui. A prática de espor- te para pessoas com deficiência é um grande veículo de inclusão social, de diminuição de preconceitos, de forta- leci mento da autoestima, da supera- ção de limites, aspectos positivos que podem favorecer o desenvolvimento pessoal de quem pratica c de quem se envolve nesse contexto. É POSSÍVEL AfiRMAR QUE O ESPORTE E i\ ATIVIDADE fÍSICA PODEM CONTRIBUIR PARA QUE U~IA PESSOA SE T ORNE VENCE- DORA NA VIDA OU, PELO ~IENOS, PSICOLO- GICAI\IENTE ~IELIIOR? F:\J <. \O: Certamente, o esporte é su- butilizado como ferramenta educat iva para o desenvolvimento pessoal e emo- cional. Atingir metas esportivas, bus- car a superação, novas habi lidades, po- demos generalizar esses ensinamentos para outros contextos de nossa vida. A prát ica de ativ idades esportivas pode leva r ao autoconhecimento, à moti- O esporte é subutzlizado como flrramenta educativa para o desenvolvimento pessoal e emocional Atingzr metas esportivas, buscar a superação, novas habzlzdades, podemos generalizar esses ensinamentos para outros contextos de nossa vzda vação, à autoconfiança, à disciplina, à mudança de hábitos, elevar a autoesti- ma, entre outros aspectos. EXISTE~! DIFERENÇAS NA ATUAÇAO DA P SICOLOGIA ESPORTIVA ENTRE ESPORTES INDIVIDUAIS E COLETIVOS? I· \J.C \O: Nas moda li dades coleti vas algu mas responsabilidades podem ser partilhadas. Isso não acontece em modalidades individua is, onde todo o desempenho atlético é fru to do co m- porta mento de uma pessoa. H á di fe- rentes técn icas e recursos que usamos para grupos e para atletas individuais. Quando trabalhamos com equi pes devemos desenvolver a coesão entre os seus membros. Cada moda lidade espor tiva tem suas peculiaridades, sua cultura e seu universo, e a Psico- logia do Esporte tem de se adapta r a essas si tuações, pois as moda lidades são d iferentes umas das outras, ass im como as capacidades físicas, técnicas e táticas são diferentes de uma moda- lidade pa ra outra. Isso também acon- tece com a preparação psicológica. Os recursos necessá rios pa ra um bom desempenho de ma ratoni stas são d i- ferentes dos recursos dos esgrimi stas, que são também diferentes dos dos jogadores de handball. QUAIS ,\ S Úl: fl t\11\S PESQUISAS CIENTÍfi- CAS E AVANÇOS SOBRE A P SICOLOG IJ\ DO ESPORTE? F\1 < \O: A Neurociência vem contri- buindo mui to. Áreas como a Psicobio- logia do Esporte vêm nos ensinando técnicas para melhorar o desempenho de atletas e equ ipes. Além de estudos sobre testagem psicológica de deter- minadas habilidades esportivas. Há uma enorme demanda acadêmica no país para todas as áreas da Psicologia elo Esporte. Necessi tamos de mais pes- quisadores e estudantes, para constru ir uma ciência mais consolidada. Do PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO, O ES- PORTE PODE SER CONSIDERADO UMA ME- TA FORA DA VIDA? Estudos d1zem que cnanças que se exerc1tam pelo menos duas vezes por semana obtêm melhores resultados cogn1!1vos na escola em relaç~o a cnanças sedentanas I \I t \O : Sim, uma perfeita metáfora da vida. Ultrapassamos os obstáculos quando nos empenhamos. Gan hamos, perdemos, nos emocionamos, caímos, levantamos, nos frust ramos, cresce- mos, aprendemos, nos superamos, nos retiramos, damos lugar a outros que nos substituem... .,. W\Vw.portalcicnci:•cvid:t.com.br psique ciência&vida 15 in foco por Michele Muller , o mito do DESEQUILIBRIO , QUIMICO no cérebro NÃO EXISTE COMPROVAÇÃO DE QUE DISTÚRBIOS MENTAIS SEJAM CAUSADOS POR BAIXA PRODUÇÃO DE CERTOS NEUROTRANSMISSORES, FACILMENTE AJUSTADA POR ALGUMA MEDICAÇÃO. ATÉ QUANDO ESSE MITO SERÁ SUSTENTADO PELA MÍDIA E ATÉ POR PROFISSIONAIS DA SAÚDE MENTAL? M uitos pais mostram, inicial- mente, grande resistência em medicar o filho diagnosticado com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TOAI--1). Até serem informados que os estimulantes corrigem um problema que seria causado por um desequilíbrio químico no cérebro da criança. A teoria da baixa produção de dopamina, divulgada pelos laboratórios, foi recebida com enn1siasmo por médicos, psicólogos e professores quando surgiram os medicamentos que provocam aumento nos níveis desse neurotransmissor. Afinal, agora poderiam corrigir, ele forma práti- ca e rápida, o "problema" da falta de uma substância no cérebro das crianças desa- tentas e inquietas. Essa é a ideia que continua imperando nas diversas áreas ligadas à saúde mental infantil e à educação. Ao conversar com pais de crianças diagnosticadas com TDAH, muitos ainda comparam a neces- sidade de estimulantes à de reposição da insulina em diabéticos. O fato é que não existe nenhuma comprovação das raízes biológicas do transtorno. O que existem são especulações que se contradizem. E mesmo que se chegue em um consenso, a pouca produção de determinados neuro- transmissores já pode ser descartada das possibilidades, pois há anos é repetida- 16 psique ciência&vida mente derrubada por inúmeras pesquisas. Talvez por ser assimilada tão faci lmen- te pela população, talvez por acender a es- perança de uma cura rápida e simples, o desequilíbrio químico tornou-se a explica- ção mais aceita não apenas para o T OAH mas para quase todo tipo de transtorno mental- sendo a depressão e a esquizofre- nia os dois grandes pi lares que sustentam essa hipótese. Convenientemente divulgada pelos laboratórios ainda antes do lançamento das marcas famosas de fluoxetina e prin- cipal argumento de muitas campanhas IVWiv.portalcicnciacvida.com.br publicitárias nos Estados Unidos, onde a propaganda de psicotrópicos pode ser feita diretamente ao consumidor, a teoria ainda está longe de ser enterrada. Na tentativa de derrubar o mito, o diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental americano (Na- tional Inslitutc o/ Mental Health - N!J'v!H), Thomas Insel, já declarou que "as noções iniciais de que transtornos mentais são de- sequilíbrios químicos estão começando a ficar antiquadas". Isso foi em 2011. Muitos anos antes- em 2003 -, o psiquiatra e pes- quisador de Stant(ford, David Burns, já ha- via revelado que, mesmo tendo dedicado anos de sua carreira à pesquisa do metabo- lismo da serotonina no cérebro, ele nunca havia se deparado com "nenhuma evidên- cia convincente de que algum transtorno psiquiátrico, incluindo depressão, seja oca- sionado por uma deficiência de serotonina no cérebro". Quanto tempo vai levar para que os profissionais da saúde mental no Brasil abandonem esse argumento? A popularização dessa hipótese co- labora com o uso indiscriminado e irres- ponsável de psicotrópicos. E pode estar entre os fatores que explicam o aumen- to expressivo do uso de antidepressivos na última década em todo o mundo. De acordo com o National Hcolth rmd Nutn~ tion Exmmi10tion Surucy (2008), atualmente 23o/o das mulheres americanas entre 40 e 60 anos tomam esses medicamentos - um índice que reflete a realidade ocidental, em geral. A certeza de que "produzem pouca serotonina" leva muitas pessoas a acredi- tar na cura milagrosa das drogas até no caso de depressão leve e moderada - em que esses medicamentos têm resultados comprovadamente iguais aos de placebos. Autor de diversos livros sobre medi- cação psiquiátrica e consultor do Instituto lacional de Saúde Mental, o psiquiatra PeterBreggin destaca que são as drogas que causam o desequilíbrio químico - e não o contrário. E o resultado desse de- sequilíbrio está evidente nas diversas rea- ções de abstinência que sofi·em os pacien- tes ao largar as medicações psiquiátricas. No caso dos antidepressivos mais co- muns, por exemplo - os ISRS (inibidores www.port:tlcienciacvid:t.com.br SÃO AS DROGAS QUE CAUSAMO DESEQUILÍBRIO QUÍMICO - E NÃO O CONTRÁRIO. E O RESULTADO DESSE DESEQUILÍBRIO ESTÁ EVIDENTE NAS DIVERSAS REAÇÕES DE ABSTINÊNCIA QUE SOFREM OS PACIENTES AO LARGARAS MEDICAÇÕES PSIQUIÁTRICAS seletivos de recaptação de serotonina) -, o ncurotransmissor, liberado pela célula pré-sináptica, tem seu canal de receptação bloqueado. Assim, ao invés de concluir seu ciclo natural c retornar ao neurônio pré-si- náptico, ele é acumulado entre as sinapses. No entanto, os neurônios têm receptores que monitoram o nível de serotonina na sinapse e, como o cérebro é plástico, ele naturalmente vai regular a produção do neurotransmissor. Portanto, os antidepres- sivos causam - e não <tiustam -o desequi- líbrio químico. Evidências apontam que sua ação sobre a via serotoninérgica pro- voca o nascimento de novas células ner- vosas no hipocampo - região afetada nos casos de depressão profunda. Isso explica- ria o tempo, de cerca de três semanas, que os antidepressivos levam para começar a agir nesses casos. O metilfenidato - estimulante usado para "corrigir" o TDAH -tem ação qua- se imediata sobre alguns dos sintomas comuns de crianças hiperativas. Assim como a cocaína, faz com que a dopamina se acumule nas sinapses por muito tempo, levando as células pré-sinápticas a liberar quantidades cada vez menores do neu- rotransmissor. Com o tempo, o cérebro <tiusta a produção de neurotransmissores e a criança desenvolve tolerância à me- dicação, precisando de doses maiores. O desequilíbrio então realmente se estabele- ce, o que leva os médicos a receitar outras drogas para compensá-lo. A ponte do equilíbrio transformou-se numa corda bamba num mundo de tantos excessos. Buscá-lo passou a ser um desafio que coloca em jogo a saúde fisica e mental. A ação prática das pílulas pode ser tenta- dora - e até necessária em alguns casos - . mas acabou tornando-se mais um perigo- so excesso da sociedade, mais um ponto de desequilíbrio disfàrçado de solução. Para se certificar se tudo isso compen- sa a longo prazo, uma equipe de 18 pes- quisadores, com apoio do Instituto acio- nai de Saúde Mental americano (NIMH), investigou o desempenho de 579 crianças diagnosticadas com TDAH no período de oito anos. Maior pesquisa já realizada com essa finalidade, o "Estudo Multimodal de Tratamento para TDAH", publicado em 2009, concluiu que depois de um ano e meio, mesmo com o aumento contínuo de dose, as crianças medicadas não apresen- taram melhor desempenho em nenhum aspecto com relação às que não receberam medicação. Depois de um tempo, portan- to, restam apenas os efeitos colaterais do desequilíbrio provocado pela droga. "A verdade é que ninguém sabe qual deveria ser a quantidade 'correta' de di- ferentes neurotransmissores. O nível des- sas substâncias é apenas um fator em um complexo ciclo de influências que intera- gem, como vulnerabilidade genética, es- tresse, hábitos no pensamento e circuns- tâncias sociais", escreve Christian Jarrett em Great Mylhs q(The Bmri1 (Os Grandes Mitos do Cérebro). ~ Michele Muller é jornalista com especializaç~ em Neurociência Cognitiva e autora do blog http://neurocienciasesaude.blogspot.com.br psique ciência&vida 17 ~ psicopositiva Amor CANIN amor HUMAN por Lilian Graziano } AO CONTRÁRIO DO QUE SE IMAGINA, PARA SE AMAR UM ANIMAL NÃO É PRECISO TRATÁ-LO COMO SER HUMANO ma das minhas frustrações de in fância foi não ter tido um bicho de estimação. Não houve jeito de convencer a minha mãe. Lembro-me que, certa vez, deixaram um filhote de gato na porta da mi- nha casa e eu, sabendo da intransigência materna, tive abri- lhante ideia de escondê-lo na gaveta da máquina de costura da minha avó (que quase enfartou ao descobrir o esconderi - jo). Em outra ocasião, a "vítima" foi o coração de mamãe. Ao escutar um baru lho estranho, ela abriu a porta do banheiro de empregada e um gato preto, de pelos eriçados, quase voou em cima dela a fim de fugir do confinamento. Mas antes disso houve a Genoveva, uma enorme taturana verde que certamente la- mentou o fato de eu, ainda muito pequena, não me dar conta de que vidros de maionese, se transformados em lares para taturanas, deveriam ter suas tampas furadas, de forma a garantir o bom fu ncionamento do siste- ma de ventilação da im- provisada "residência". Mas daí eu cresci. E não tardou pa ra que meus filhos me fizessem o mesmo pedido, fazendo com que eu me percebesse descon forta- velmente parecida com mi- nha mãe. A meu favor tinha apenas o fato de morar em um pequeno apartamento, no qual, definitivamente, não havia lugar para um animal. Até que veio a tão sonhada casa. 1 8 psique ciêncill&vida Min ha filha, ainda na adolescência, querendo sempre ser diferente (a quem teria puxado?) queria algo mais "espe- cífico" do que um cachorro: "Quero uma 'pitbua' de olho azul"! Juro que cu estava disposta a ig- norar tal extravagância quando uma amiga, dona do pitbu ll mais lindo que eu já vi, veio até mim com a ninhada do seu animal que acabara de dar cria. E lá estava ela: Uma lind a 'fi lhotinha' de pitbu ll que terna mente me olh ava com seus olhi nhos azu is. Foi assim que a Laysa (Lalá) entrou em nossas vidas. "Cuidar de uma outra vida po- deria ser uma experiência importante para que meus fi lhos desenvolvessem a responsabilidade" - racionalizei. Atualmente vivemos nu ma estra- nha cultura que toma animais como se fossem seres humanos. E há todo um patru lhamento em relação a esse tema. Julguem-me por isso, mas c reio haver a lgo de patológico nessa cultu- ra . Em nossa casa a Laysa sem pre foi um cachorro. Dormia na sua cama de cachorro, comia comida de cachorro e não t inha permissão para entrar em casa. Por isso muitas vezes escutei in- sinuações de que eu não era uma boa dona para ela. Sim porque embora tivesse s ido um presente para minha fil ha, Laysa desde o início escolheu a mim como sua dona. Assim como não fui uma mãe con- vencional, talvez não tenha sido uma dona de cachorro convencional. Afinal, nunca fu i muito afeita a convenções. Não obstante isso, amei minha cachorra e sou capaz de reconhecer a pureza do amor canino que não se iguala a nenhum outro, em fun- ção de sua natureza incondicio- nal. Acho mesmo que se houvesse ACHO MESMO QUE SE HOUVESSE UM TESTE DE FORÇAS PESSOAIS ADAPTADO A ANIMAIS, CACHORROS TERIAM, SEMPRE, A CAPACIDADE DEAMARESER AMADO COMO PRIMEIRA FORÇA um teste de forças pessoais adaptado a animais, cachorros teriam, sempre, a capacidade de amar e ser amado como primeira força. E com a nossa querida Lalá não foi d iferente. Ao contrário da má fama que carrega sua raça, Laysa foi um exemplo de doçura. Delicadeza não, porque, afinal de contas, os cães se parecem com seus donos. E por essa mesma razão, Lalá tinha uma saúde de ferro, e ra quase um "High lander"! Mas o tempo costuma ser impla- cável até mesmo com os cachorros, de forma que perdemos a nossa querida Lal á no último final de semana. Vi- vendo quase o dobro do que seria a expectativa média de vida de um pit- bull, Lalá nos deixou depois de espan- tosos 14 anos conosco. "Sina l de bons tratos"- disse a veterinária. Não houve velório, assim como não havia aniversários. Nem sapati- nhos, nem carrinhos de passeio. Ten- do vivido como um cachorro, nossa Laysa morreu como um cachorro. Ao que parece, anim ais não precisam ser tratados como humanos para serem bem tratados. Muito menos para dei- xar saudades. Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP. com cursode extensao em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA nstitute on Character. EUA t professora universit<Yia e diretora do nstituto de Psicologia Positiva e Comportamento. onde oferece atendimento clrnico. consultoria empresarial e cursos na área. graziano@psicologiapositiva.com.br rw.portalcicnciacvida.com.br 1 Congresso da SOCIEDADE BRASILEIRA cJe PSICOLOGIA HOSPITALAR "O Tempo da Vida e a Vida do Nosso Tem~: Repercussoes na psicologia hosprtalar. 10 12 a Setembro 2015 Centro de Convenções Rebouças São Paulo/SP www.congressosbph2015.com.br ~SBPH \C:X.:IUl\I)LIU(.~IUIK.\1• I"ICOIJ.X.:L\ IIOSl'fl \1,\R psicopedagogia RESULTANTE DA FUSÃO DA NEUROFISIOLOGIA, ANATOMIA, EMBRIOLOGIA, BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR E DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL, A NEUROCIÊNCIA COGNITIVA RENOVA A IDEIA DE QUE PARA SE CONHECER A MENTE É PRECISO ANTES CONHECER O CÉREBRO 2 0 psique ciência&vida por Maria lrene Maluf A s fu nções mentais superiores, ou seja, a Aprendizagem, a Memória e a Linguagem, até meados do século XIX, foram estudadas apenas pela Psicologia e pela Fisiolo- gia experimental invasiva. Foi em 1861 que se deu o pri- meiro grande passo para a compreensão dos mecanismos neurais dessas funções, quando Pierre Paul Broca descobriu que a fala é controlada por uma área específica do lobo frontal esquerdo. Em seguida, com novas pesquisas, foram localizadas as áreas do con- trole voluntário e diferentes córtices sensoriais primários para a visão, audição, sensibilidade somática e paladar. Mas, apesar de os estudos neurológicos terem avançado com descrições elaboradas das funções cognitivas desempenhadas por várias partes do cérebro, a Fisiologia dos lobos frontais permanecia praticamente como uma incógnita, tendo sido por isso denomina- dos ele "lobos silenciosos" (Goldberg, 2002). Um acidente não fatal, ocorrido em 1848, quando uma barra de ferro atravessou o crânio de um jovem rapaz, Phineas Gage, por \\'\V\\'.portalcicnciaevida.com.br l meio da área frontal de seu cérebro, de- sencadeou novas descobertas a respeito desse lobo cerebral. Apesar de lúcido, com pleno uso de suas fu nções senso- riais, vegetativas e motoras, capaz de se comunicar, falar, ouvir, andar, pensar, o rapaz teve sua personalidade totalmente modificada, passando de um trabalhador responsável e bem adaptado socialmente a uma pessoa de modos rudes, instável e com evidente labilidade emocional. Ao final do século XIX já havia evi- dências suficientes r ara atribuir ao lobo frontal a sede da atividade mental supe- rior, e a importância da nova descober- ta despertou muitos estudos específicos nesse campo. Embora ainda não total- mente esclarecidas, já se sabe comprova- damente que é nessa região do cérebro que se encontram as maiores diferenças na evolução filogenética entre os huma- nos e seus antepassados. Responsável pelas nossas habilidades mais complexas, como o planejamento ele ações sequen- ciais, a uniformização de comportamen- tos sociais e motores, flexibilidade men- tal, parte da memória, a área frontal do cérebro não se refere a nenhuma habili- dade mental específica, porém sua fun- ção abrange todas elas: parece ser mais metacognitiva do que praticamente cog- nitiva e, decorrente desse fato, passou-se a denominar de Função Executiva. Funções Executivas facilitam o fim- cionamento cogni tivo ao coordenarem a execução de um objetivo e são ligadas às habil idades de prut:essamento de infor- mações inter-relacionadas: memória de trabalho (armazenamento e atualização das informações enquanto o desempe- nho de alguma atividade relacionada com elas), o controle inibitório (a inibição da resposta prepo tente ou automatizada quando o indivíduo está empenhado na execução de uma tarefa) e a flexibi lidade mental (capacidade de mudar a postura de atenção e cognição entre d imensões ou aspectos d istin tos, mas relacionados, de uma determinada tarefa). Durante tal processo, alguns de seus componentes (como a atenção seletiva, www.portalcicnciaevidn.com.l>r DÉFICITS DE DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, PROBLEMAS DE CONDUTA ENA APRENDIZAGEM ACADÊMICA PODEM DECORRER DE PREJUÍZOS NAS FUNÇÕES EXECUTIVAS, CARACTERIZANDO A CHAMADA SÍNDROME DISEXECUTIVA flexibilidade cognitiva e planejamento) atingem mais tardiamente a maturidade, se comparadas a outras funções cogni- tivas, o que torna ainda mais complexa a compreensão da cognição humana e seus transto rnos. Déficits de desenvolvimento cogni- tivo, problemas de conduta e na apren- dizagem acadêmica podem decorrer de prejuízos nas Funções Executivas, caracterizando a chamada Síndrome Dise-xecutiva. Seus sintomas mais cla- ramente perceptíveis são as alterações cognitivo-comportamentais, associadas às dificuldades na seleção de informação e na tomada de decisão, assim como a distratibilidade, problemas de organiza- ção, comportamento perseverante ou es- tereotipado, dificuldades na constituição de novos repertórios comportamentais, déficit de abstração e de antecipação das consequências, tão frequentes nos trans- tornos de aprendizagem. Atualmente aliás, se descrevem diversas dificulda- des cognitivas em termos de Disfunção Executiva, quando se trata ele problemas marcantes com a hiperatividade, atenção e problemas de aprendizagem. A Função Executiva tem início nos primeiros meses de vida pós-natal, e se transforma gradativamente até o final da adolescência, relacionada com o processo de configuração c amadurecimento corti- cal da região pré-ft·o11tal, uma das últimas áreas cerebrais a passar por esse processo. Ainda que existam variações de ma- turação cerebral entre crianças de mes- ma idade, a fil tragem de informações própria das Funções Executivas se desen- volve mais acentuadamente entre os 6 e 8 anos de idade e segue até começo da idade adulta, mas via de regra cresce de acordo com a progressão escolar. Durante tal processo, alguns de seus componentes (como a atenção seletiva, flexibilidade cognitiva e planejamento) at ingem mais tardiamente a maturidade, se comparadas a outras funções cogni- tivas, o que torna ainda mais complexa a compreensão da cognição humana e seus t ranstornos. Especi ficamente, o córtex lateral órbi- to-fi·ontal, responsável pelo controle dos impulsos, é o que amadurece por último, na década dos vinte anos, devido à pro- gressiva e ininterrupta mielinização dos axônios do córtex pré-frontal, de onde se podem tirar algumas conclusões a respei- to da educação e das questões relativas à socialização dos nossos jovens. 111 RLFERtNCIA GOLDBERG. E. O Cérebro Executivo: Lobos Frontais e a Mente Civilizada. R1o de Janeiro: lmago. 2002. GAZZANIGA. M. S.: IVRY. R. B.: MANGUN. G. R. Neurociência Cognitiva. Porto Alegre: Artmed. 2006. MALLOY -DINIZ. L. F.: SEDO. M~ FUENTES. D.: LEITE. W. B. Neuropsicologia das Funções Executivas. In: Fuentes. D. et ai. (Orgs.). Neuropsicologia: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed. 2008. Maria lrene Maluf é especialista em Psicopedagogia. Educaçclo Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Assocíaçclo Brasileira de Psicopedagogia- ABPp (gestclo 2005/07). t editora da revista Ps1copedagog1a da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especializaçclo em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br psique ciência&vida 2 1 3lf PSICOPATOLOGIA á muitos artigos, en- trevistas, livros que dão enfoque às ca- racterísticas de p si- copatas. Contudo, quase ninguém aborda o assunto do que acontece com a vítima e como se ca i nessa armadilha. A primeira no- tícia que surpreende é que os psico- patas andam soltos entre nós e, apa- rentemente, em nada se dis tinguem das pessoas co muns, pois a imagem do serial killer que a maioria tem se aplica somente a uma pequena por- centagem dos psicopatas existentes na nossa sociedade. Vinte por cento dospresid iários são psicopatas, se- gundo a dra. Hilda Morana, psiquia- tra, perita forense em diagnóstico de psicopatas. Mas um número enorme está fora, de 3% a S% da população, o que significa que em cada grupo de 30 pode haver um. Pode ser seu vizinho, seu advo- gado, seu chefe, já que o psicopata se coloca em todas as posições fa- voráveis ao controle, manipulação e exploração dos outros. Você pode estar dormindo com o seu inimigo. A desestruturação na família pode ter a causa subjacente, velada, de um membro psicopata. A desumanização de uma empresa pode ser também a ação deletéria de um psicopata, que se colocou em cargo de poder. Psicopata também va i à escola e, não resta dúvida, devido à por- centagem mencionada, de que em cada escola haja no mínimo um, re- presentando um perigo ambulante aos a lunos e professores nas salas de aula, nos corredores, no recreio, nos banheiros. Quais os perigos que uma criança psicopata oferece? Des- de roubo, bullying (nem todo bully é psicopata, mas todo p sicopata é bully), fomentar brigas, conflitos, machucar "sem querer" os colegas, até incendia r a secretaria da escola para queimar um boletim que ele não gostou . 24 psique ciência&vid:t O psicopata pode ser quem menos se espera, seu vizinho, seu advogado, seu chefe, já que ele tem como uma de suas características principais se colocar em todas as posições favoráveis ao controle e manipulaÇao Com o aprend izado, o amadu- recimento, o psicopata vai adqu i- rindo mais conhecimento para rea- lizar suas manobras, vai sofistican- do s ua s táticas, procu ra profissões · Filmes· O c1nema produz1u 1números filmes que retratam a ps1copaha e pessoas que de- ram a volta por cima após 1mensa dificul- dade. t: possível destacar Fel1z Ano Ve- lho baseado no romance homOn1mo de Marcelo Rubens Pa1va. que trata das ques- tões de como chegar ao fundo do poço. recuperaç~o de um trauma e renasCimen- to; O Contador de H1storias: O Psicopa- ta Amertcano. PreCisamos Falar de Kevm (foto); lnstmto Selvagem 2 (Basic lnstmct). com Sharon Stone e Dav1d Mornssey. que lhe proporcionem um melhor conhecimento dos seres humanos. Fazer Psicoterapia lhe fornec e mais informações para driblar a gua rda dos especialistas, já que nada muda sua condição. Até hoje não se encon- trou cura para esse distúrbio de per- sonalidade, que n em é considerado doença na CID- 10, onde figura sob o número 60.2. Traumas de infância, maus-tra- tos, v iolência não geram um psico- pata. Isso gera psicoses, neuroses, mas não psicopatia. Um psicopata nasce psicopata e morre psicopa- ta. Não aprende com a experiência, não aprende com punição, reincide, repete sempre o m esmo scrip t. Por não ter emoções procura excita- ção constante para atenuar o tédio terrível no qual vive. Uma conduta errática que desestabiliza qualquer empreendimento e impede uma construção permanente em todas as áreas da vida: afet iva, fi nanceira, \V\\'"\V.port:llcicnciucvida.com.hr profissional, social. A exacerbação do egoísmo leva à megaloma nia. Os outros pouco ou nada importam, só ele. E se considera superior. A difi- cu ldade de ser recon hecido co mo tal aumenta sua per iculosidade e facili- ta sua penetração em todos os meios que escolhe explorar. Na grande maioria dos casos, a v ít ima com eça a desconfiar que es- teve na mira de um deles depois que já caiu na armadi lha, depois que sua v ida fi n anceira, profissiona l, pessoal, social, afetiva fo i destruída, depois qu e já está sugada e reduzid a a um trapo humano. Isso quando não pe- receu de vez, ou por meio de uma em- boscada bem planejada e disfarçada, sem pistas que levem ao verd adeiro autor, como um apare nte acidente de carro, ou no aparente suicíd io, quan- do o psicopata usou as mãos da pró- pria vít ima p a ra exterminá-la. Não estão seguros, tampouco, os fa milia- res e os amigos da vítima, que podem ser atacados por substituição. Alerta Alertar a soc iedade é de urgente uti li dade pública. O primeiro passo é informa r e escl arece r. Para Quais os perigos que uma criança psicopata oferece? Desde roubo, bullying (nem todo bully é psicopata, mas todo psicopata é bully), fomentar brigas, machucar ·sem querer' os colegas, entre outros conflitos a gra nde maioria das pessoas é qua- se impossíve l co nceber qu e um ser humano, aparentemente humano, n ão tenha sentimentos hum anos. Um ser para quem a dor do o u tro não importa. Um ser que olha para o outro n ão como um se melhan - te, mas como um objeto utilitário. Uma criatura que é totalmente amoral. É qu ase imposs íve l conce- ber que por trás daquela máscara encantadora, inte ligente, genia l, sedutora, bondosa, honesta se es- conde uma criatura tenebrosa. Quando se ol ha atentamente para a expressão de um psicopata tem-se a perturbadora se nsação de que não tem ninguém em casa. É quase como se olhássemos para um robô bem fabr icado. Tanto é que um psicopata não sabe da nçar. Pode re- petir mecanicamente e até à perfei- ção os movimentos da da nça, mas, Segundo estudos. 20% das pessoas que cumprem penas por diversos delitos nos presfdios s~o psicopatas se você observar bem, não h á senti- mento, por isso é sem graça. Como não valoriza nada, nem sabe o que são va lores (sabe ape- nas teoricamente), roubar, mentir, usar, desca rtar, ma nipula r são ações inconsequentes para ele. É su a at i- vid ad e preferid a e natural. Mesmo quando d izer a verdade poderia lhe ser ma is va ntajoso, não o faz pelo prazer do domínio sobre o outro que a mentira lhe proporciona. A ação nefasta de uma pessoa que sofre de ps1copat1a. em vanas oportunidades. pode ser a ongem da desestruturação fam1har Não tem problema algum em ser pego em flagrante na mentira. In- venta qualquer desculpa e continua andando. É importante presta r aten- ção nas inconsistências. O psicopa- ta pode dizer que gosta de nadar e, em outra ocasião, que nunca entro u numa piscina, no mar ou no rio. Psi- copata tam bém erra. Embora jamais admita. E os culpados sempre são os outros, nunca ele. \V\V\v.portalcicnciacvid:t.com.br psique ciêncio&.-vida 25 3tlf PSICOPATOLOGIA Um efe ito colateral da mentira é a capacidad e inconcebível d e con- vencer os outros, que o psicopata exerce à vontade. Seu di scu rso pode levar à ovação delirante da plateia, mas, se prestar aten ção, se vê que é um discurso superficial, não h á vi- vência que lhe dê suporte, só palavras jogadas habilmente. Ele as usa como arma para co nseguir o que qu er, in- clusive enlouquecer a vítima com uma salada de palavras. A lgo ap aren- temente lógico, aparentemente enca- deado, mas sem nexo algum. Outra a rma preferid a é a atração sexual, que ele e principalmente ela usa m à perfeição, m a nipulando a ene rgia de seu a lvo a ponto de submetê-lo to tal- mente. E mbora a maioria dos p sico- patas seja homem, há muita mu lher que apresenta psicopatia. O a lvo prefe rido do ps icopata é a pessoa bondosa, de licada, sensí- vel, ca rente, fragilizada por a lg um traum a recente, um a perda, com uma necessidade premente. E le en- tra por essa brecha como o sa lvador da pátria. Seu alvo é alguém que O discurso de um psicopata pode levar à ovaçao delirante da plateia, mas, se prestar atenção, se vê que é superficial, não há vivência que dê suporte às palavras pode proporcion ar-lhe a lg uma van- t agem co mo dinheiro, sexo, poder, status, salvo -conduto de respeita- bil id ade, todas elas juntas ou u ma ou outra que responda à sua neces- sid ad e do momento. Como o psico- pata é um paras ita, jamais fic a sem uma fon te de abastec ime nto. Antes de largar a fonte atua l à beira de se esgotar, já assegu ra a próxima. E as- sim vai. Pelas porcentagens retiradas de pesqu1sas e estudos é possível d1zer que em cada escola ex1ste. no min1mo. um psicopata 26 psique ciência&vida • CID-10 • O distúrbio que afeta os ps1copatasaté hoje nêlo e considerado doença pela . CID-10 (Ciass1f1cação Internacional de Doenças e Problemas Relac1onados a Saúde). Trata-se de uma publicaçêlo da Organ1zação Mundial da Saúde (OMS) e tem por objetivo padronizar o conce1to de doenças A CID-10 fornece cód1gos relativos a class1f1caçêlo de doenças e de uma grande variedade de s1ntomas. aspectos anorma1s. que1xas e causas externas das patolog1as. Avisos ignorados As pessoas es tão se mpre pro ntas a relevar pequenos avisos de que a lgo pode estar errado. Perce- bem uma reação emocional no mín i- mo esquisita, que não combina com o estímulo nem em qu alidade nem em inte nsidade . D e tecta m incoerên- cias, s uspeitam de inverdades, mas colocam essas coisas na conta da s esquisit ices e neuroses comu ns a to- do s nós . E tratam o psicop ata como se fosse um ser huma no. É jus ta men- te aí que mora o maior perigo. O psi- copata n ão tem reação de ser huma- no, como compa ixão, solidariedade, empati a, respeito, responsabilidade, amor. Fi nge. E se aproveita d a capa- cid ade dos seres huma nos de tudo isso p ara alistá-los em s ua defesa, fa- zendo -os d a rem-lhe dinh eiro, a feto, tempo, compreensão, desculpando- -o p or algu ns "deslizes" e, princi- pa lme nte, compadecendo-se pelos traumas que ele v iveu, os abusos e as inju stiças q ue sofre u, as dific ulda- des pelas quais passou, tudo inven- tado por ele no melhor estilo de um a obra de ficçã o. E s tuda sua vít ima fria e calcu - lad a me nte pelo tempo necessário, Com frequência. as vitimas são alvo de emboscadas bem planejadas. sem p1stas. como um aparente acidente de carro Alertar a sociedade é de urgente utilidade pública. O primeiro passo é informar e esclarecer. Para a grande maioria das pessoas é quase impossível conceber que um ser humano seja totalmente amoral juntando elementos para esboçar o seu plano de ação. Como o leão es- tuda um veado que quer caçar para comer, estuda seus gostos, suas manias, seu comportamento, seus medos, suas vulnerabilidades, seus desejos mais secretos. Uma vez co nstruído o piano de ação, passa à execução de maneira calcu lada, e mantém a farsa pelo tempo neces- sário até obter o que deseja. Então, descarta o doador forçado sem um pingo de remorso. Existe protocolo para atender vítima de sequestro, de estupro, de violência doméstica, vítima de es- telionato, de falcatrua, de roubo, mas não existe para atender vít ima de psicopata. Não existe, tampouco, proteção legal, não há advogados es pecia lizados em sua defesa e, na grande maioria dos casos, o psico- p ata enrola até o juiz e sai il eso do www.portalcicnciaevida.com.br caso, v irando tudo do avesso, trans- formando-se em vítima quando é o algoz e descarregando o ônus em cima da v ít ima rea l. Os profi ssionais de saúde que recebem essas vítimas em seus con- sul tórios, na grande maioria, não sabem pelo que realm ente essa pes- soa passou e o que ela precisa para começar a se recuperar do tsuna- mi que devastou sua vida . A vítima chega incompreendida até por sua família, seus amigos, que acabam acusando-a de ter s ido responsáve l por ter "confiado" no psicopata. É quase impossível não cair na arma- dilha uma vez que o psicopata deci- da capturar a pessoa. Numa relação afetiva, a primei- ra fase, d a conqu is ta, é algo que a vítima jamais experienciou igual na vida. Ela se torna o centro de aten- ções dele, é cumulada de elogios, presentes, toda espec1e de mimos, bajulações, a ta l ponto que a vítima não enxerga mais nada a não ser o príncipe encantado que se materia- lizou na sua frente. Todos os indí- cios de possíveis incongruências, d e possíveis inverdades são camu- flados pelos fogos de artifício. Dei- xa para lá todas as anteriores, horrí- veis, que nem chegam aos seus p és. E la é fi na lmente a mu lher que ele esperou a vida toda (ou vice e ver- . sa) . Deve ser um encontro p laneja- do nos céus, que agora finalmente se realiza. A vítima se entrega aos pedaços até se entregar inteira. Passa a senha da sua conta bancária, transfere para o nome dele suas propriedades, faz-lhe uma procuração conferindo plenos pode- res. Deixa-o usar todos seus contatos profissionais, o psicopata se intromete na família da vítima a ponto de criar conflitos insolúveis, toma conta das amizades e afasta todas, eliminando ass im o sistema de suporte da vítima. E Desvios de conduta graves. como roubar. mentir. usar. descartar. manipular são açôes inconsequentes e corriqueiras para o psicopata psique ciência&,•ida 27 ~ PSICOPATOLOGIA .Jmbora não seJa o ma1s comum. a mulher também pode ser ps1copata usando a atração sexual para mampular seu alvo a ponto de consegu1r o que qu1ser Os profissionais de saúde que recebem vítimas de psicopatia em seus consultórios nao sabem pelo que realmente essa pessoa passou e o que ela precisa para se recuperar do trauma vivido a lábia dele é tão convincente que não há dúvida de que esteja fazendo tudo porque ama e quer o bem da vítima. Pronto, agora que o alvo está sob seu domín io, fim da primeira fase. NAS BANCAS! Na segunda fase, o psicopata co- meça a mudar a máscara. Conseguiu tudo que queria. Está entediado, precisa de novidade. J á não se mos- tra tão deslumbrado com a víti ma. Aparece m insatisfações aqui e ali, o que antes era fantástico passa a ser defei to. Se antes ele ado rava a comi- da fe ita pela v ítim a, agora ele prefe- re comer fora. Ele se mostra infeliz e, claro, a culpa toda é transm itida ao alvo. A vítima se esmera mais e mais para agradar e ter de volta aquele homem maravilhoso da primeira fase. Mas isso não acontece. Aparecem peque- nos indícios da fase boa aqui e ali, para logo voltar infeliz e perturbado. Culpa do que~ O s maus-tratos são entendidos pela vítima como "merecidos". Isso a faz ficar cada vez mais subjuga- da a ele, em estado de alerta. A vítima deixa passar todas as incongruências, pede desculpas por algo que não fez, tenta reparar algo que nem entende direito o que é. O ps icopata costu ma d eixa r pis tas aqui e al i da presença de ou- t ras mulheres na vida dele. Mesmo após tantos indícios, a vítima refle- te como é possível ter dúvidas sobre um homem tão íntegro e honesto? Ao mesmo tempo em que se sente enlo uquece r com a sit uação. A segunda fase se conclu i com a vítima transformada num espectro ambulante . Essa tortura psico lógi- ca esvaiu suas forças vi t ais. As pes- soas não a reco nhece m. O q ue foi que aconteceu? A vítima então en- tra em um ciclo perigoso de estre s- se psicológico. Torna-se incapaz de func iona r no trabalho, nas t arefas mai s corr ique iras . Há a tentativa de conversar, d e ho ras e ho ras, q ue não chega m a lu gar a lg um. E esse esvaziamento e sofrimento psico- lógico são um deleite de diversão para o psicopata. Descarte Então, na t e rce ira fase se inicia o desca rte. Ele já encontrou sua próxima vít im a, e vai desp er- sonaliza nd o a ví tima anterior, vai convence ndo que nada presta nela. O jogo então se aprofunda e o psi- copata começa a acusar a ví tima de problem as ps icológicos, co m m ania de ver co isas qu e não existem. A ví- tima se encontra tão d il acerada que A pessoa carente. fragihzada por algum trauma recente. é o alvo preferido. Ele ganha confiança a ponto de consegu1r a senha do banco de sua vitima ace ita ir ao médico para se tratar. E le se ausenta ca da vez mais lo nga me nte, se m dizer para o nde vai, ou dizendo que precisa espaire- É importante prestar atençao nas inconsistências. O psicopata pode dizer que gosta de nadar e, em outra ocasiao, que nunca entrou numa piscina, no mar ou no rio cer, desca nsar das lamúrias da víti- ma, que nesse ponto es tá realm ente em pedaços. E nqua nto ele p repa ra o terreno de o utro alvo, mantém a anterior sob con trole, tendo mo- mentos de carinho e atenção que fazem lembrar do homem
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