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117 - Revista Psique - Quando o Perigo Mora ao Lado

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Epilepsia sem 
convulsões 
A crise de ausência 
infantil age silenciosa no 
prejufzo ao desenvolvimento 
cognitivo da criança 
r J \ J\ 0 LJWO 
Psicopatas ocupam posições de 
destaque que permitem controle, 
manipulação e exploração 
das pessoas próximas 
0 FACIS - Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo 
DISMORFIA - Transtorno em relação à imagem corporal 
O transtorno que pode levar à 
depressão, na medida em que o 
paciente tem uma imagem 
distorcida do seu eu corporal que é 
visto de forma depreciada, criando 
situações de tensão interna e 
insatisfação constante. 
insegurança e pela insatisfação que o 
indivíduo tem com a sua imagem 
corporal. Vê a insatisfação que sente 
e a projeta no outro, imaginando que 
também o outro enfatisará o pseudo 
defeito, impedindo que as relações 
sejam seguras e satisfatórias. O 
indivíduo se critica e sente-se 
permanetemente a v aliado 
negativamente. 
O indivíduo enfatiza pequenos 
defeitos na maioria das vezes, 
imperceptíveis para as outras 
pessoas. Essa ênfase ao defeito 
que imagina que têm, leva-o à 
insatisfação com seu próprio corpo, 
muitas vezes criando, inclusive, 
dificuldade de relacionamentos por 
Os transtornos de imagem são: a 
Bulimia, a Anorexia e a Vigorexia. 
A Bulimia é o transtorno em que o 
indivíduo alimenta-se, às vezes compulsivamente, e 
como compensação, utiliza-se do vômito, na maioria 
das vezes induzido para esvaziar-se daquilo que o 
incomoda, o alimento, sobre o qual o paciente coloca 
toda a culpa da sua insatisfação com a imagem 
corporal. 
A Anorexia caracteriza-se pela negação do paciente 
de alimentar-se, porque a imagem que tem de si 
mesmo está tão alterada e seu nível de insatisfação é 
tão grande com o seu próprio corpo, que ele se nega a 
nutri-lo. A falta de nutrição sistemática, sem dúvida, 
trará um transtorno corporal, porque o indivíduo estará 
com uma alteração de peso que o debilita. 
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A Vigorexia é excesso da prática de exercícios físicos 
que delimitam e enrijecem excessivamente a 
musculatura de todo o corpo, produzindo com a 
obsessividade do exercício físico, levando de fato , à 
uma alteração em função da proeminência e 
enrijecimento muscular observado em todo corpo. 
Atualmente fala-se também do metrossexual que seria 
um indivíduo preocupado com os cuidados excessivos 
com sua imagem corporal. Podemos incluir aqui 
também, um outro tipo abordado que é o spornsexual, 
que é o indivíduo que vive do culto ao corpo; um 
paciente com características narcísicas. 
Ora. Lourdes de Paula Gomes 
Psicóloga e especialista em Psicologia Clínica , Ludoterapia e 
Psicodrama Pedagógico pela USP ( Diretora da FACIS) 
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0FACIS ~26 
Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo de Tradição 
p editorial 
Gláucia Viola. editora 
Reféns de um 
.1' 
predador pslqUICO 
A 
psicopatia é uma anomalia psíquica, um tr.·anstorno antissocial de per-
sonalidade. Estudiosos sobre o assunto dizem que as fu nções cogn itivas 
c mentais do psicopata se mostram basicamente normais. É a conduta 
social que se encontra patologicamente al terada. Q uem apresenta essa 
anoma lia é capaz de cometer crimes sem sentir medo ou compaixão. Aliás, a 
ausência de emoção é sua maior característica. Esse comportamento parece exer-
cer algum fascín io popular, pois, ao fa lar em psicopatia, logo imaginamos uma 
lista de exemplos vindos diretos de Hollywood. O perfi l é massivamente traçado 
em diversos personagens. Talvez s~ja a intensa vontade de querer entender uma 
conduta incompreensível ao ser humano na turalmente afetuoso. 
Entretanto, a revista Psique traz um viés d iferente e relata a sensação da vítima 
desse indivíduo peculiar. A pauta nasceu ao ler a entrevista de um dos maiores 
especialistas mundiais sobre o tema, o psicólogo criminal Robert Hare, que disse 
que "os psicopatas não sentem angúst ia pessoal e não têm nenhu m problema. O 
problema quem tem são seus alvos. A capacidade de castigar as vítimas se baseia 
em uma ação anormal do cérebro, que reage de forma completamente diferente de 
uma pessoa sã". O artigo de capa desta edição, escrito pela psicanalista j úlia Bárány, 
descreve o sofrimento da vítima que vive sob o controle e a manipulação psíquica de seu predador. O 
traço real do psicopata é bem d iferente do serial ktller hollywoodiano. Ele é uma pessoa comu m, que 
pode ser muito próxima a nós: o vizinho ou o chefe, e está nos mais d iferentes lugares. A autora baseia-
se em pesquisas e diz que nas escolas, por exemplo, há no mínimo um. A psica nalista ainda alerta para 
a fa lta de preparo dos profissionais de saúde mental em tratar esse tipo de caso e apresentar mecanismos 
de superação para a vítima que experimentou um verdadeiro "estupro da alma". 
Boa leitura! 
Gláucia Viola 
psique@esmla.com.br 
wwwjàcebook.com/Rev/staPs/queCienciaeVtda 
"Uma alm.a morta é uma alma completamente conformada" 
Clwrles Péguy 
sumário 
CAPA 
SEÇÕES 
OS EM CAMPO 
16 IN FOCO 
18 PSICOPOSITIVA 
O PERIGO 
MORA AO LADO 
Psicopatas enganam ao se 
relacionar socialmente e 
se colocam em posições 
que permitem controle, 
manipulação e exploração 
das pessoas próximas 
ENTREVISTA 
Rodrigo Falcão 
analisa a função 
da Psicologia 
Esportiva, alerta 
para o excesso de 
exercícios e para 
a pressão sofrida 
por jovens atletas 
para conquistar 
resultados 
MATÉRIAS 
Epilepsia traiçoeira 
Um dos tipos mais comuns, 
a crise de ausência infantil, 
tem grande incidência 
e causa prejuízos 
no desenvolvimento cognitivo 
e na aprendizagem 
Por mais autonomia 
O Brasil viu crescer 
o conceito de inclusão 
das pessoas com 
deficiência, o que trouxe 
questionamentos sobre 
o papel do psicólogo na 
busca por qualidade de vida 
20 PSICOPEDAGOGIA 
32 COACHING 
34 LIVROS 
52 NEUROCIÊNCIA 
54 RECURSOS HUMANOS 
64 CIBERPSICOLOGIA 
66 DIVÃ LITERÁRIO 
68 CINEMA 
78 SEXUALIDADE 
80 EM CONTATO 
82 PSIQUIATRIA FORENSE 
35 DOSSI~: CAUSA GENÉTICA 
E PSICOLÓGICA 
Pais, professores e psicólogos 
voltam olhares para o 
TDAH como um distúrbio 
biopsicossocial e o yoga pode ser 
um dos tratamentos possíveis 
• em campo 
COMPORTAMENTO 
E PERFORMANCE 
SER BEM-SUCEDIDO IMPLICA TER PAIS DEDICADOS 
Treinar, estudar e o que mais? O que é 
preciso para ser bem-sucedido? 
Um estudo ela Universidade de Ne-
braska-Lincoln, nos Estados Unidos, con-
duzido pelo psicólogo educacional Kcnneth 
Kiewra e três ex-alunos de pós-graduação, 
revela que a atitude dos pais também in-
fluencia o sucesso dos fi lhos. Segundo a 
pesquisa, há vários comportamentos dos 
genitores que são fundamentais para de-
senvolver o potencial das crianças, fazendo 
com que estas se destaquem, no futuro, em 
alguma área de atuação. Trata-se de um 
aprimoramento daquilo que é herança ge-
nética (ta lento), favorecido por uma dedica-
ção incansável da família. 
No trabalho de Kiewra e ex-alunos, fo-
ram entrevistados e acompanhados pais de 
24 jovens norte-americanos que são desta-
ques nacionais ou internacionais em suas 
carreiras. O grupo incluía patinadores de 
gelo com medalhas o límpicas, campeões 
de xadrez, campeões de vôlei, músicos pre-
miados, um autor pré-adolescente e um 
campeão de concurso de soletração nacio-
nal. Os pais desses garotos tinham suas ca-
sas hipotecadas ou desistiram de seus em-
pregos, entre outros sacrificios, para nutrir 
talentos de seus filhos. 
A pesquisa se diferenciou de outras no 
sentido de acompanhar pais ainda nessa 
fase de investimentonos fi lhos, não se ba-
seou em relatos de acontecimentos passa-
dos. Também foi singular ao centrar-se no 
depoimento desses pais e não dos mento-
res de seus fi lhos ou dos próprios jovens. 
Uma limitação do estudo foi ter ouvido 
apenas pais norte-americanos, brancos, de 
classe média alta, amostra que os próprios 
cientistas sugerem que deve ser ampliada, 
no escopo da multiculturalidade e diversi-
dade socioeconõm ica. 
Alguns aspectos identificados como 
fundamentais no desempenho dos jovens, 
a partir desse estudo: 
-A descoberta precoce dos ta lentos das 
crianças e a atenção dada ao seu desen-
volvimento desde cedo; 
-Organização da família em função das 
atividades dos fi lhos (competições, es tu-
dos etc.); 
- Esforço dos pa is na motivação cons-
tan te dos fi I h os. 
- A contratação de um técn ico/ profes-
sor, quando necessário, e esforço de in-
vesti mento em todo e qualquer recurso 
necessário. 
(Fonte: ScienceDm~v.com) 
por jussara Goyano 
1\.'11 LI<.l ,l] \I· \10(10'\ \L 
De acordo com informações 
atual izadas constantemente pelos 
autores besl-sellers 
do tema Travis Bradberry e 
Jean Greaves, em seu site, 90% 
das pessoas com performance 
acima da média têm alto índice 
de inteligência emocional. Cerca 
de S80A1 de nossa performance 
no trabalho, lembram os 
norte-americanos Braclberry 
e Greaves, é influenciada por 
nossa inteligência emocional. 
Profissionai s mais in teligentes 
emocionalm ente também ganha m 
USS 29 mil a mais que seus 
pares com menos inteligência 
emocional por ano. 
]\,]('] \ 1'1\ \ 
"O Museu de A r te 
Contemporânea de Ribeirão 
Preto está recebendo grupos 
de estudantes da Faculdade ele 
Economia, Admin istração e 
Contabilidade de Ribeirão Preto 
(Fearp) da USP numa atividade 
chamada Laboratório de ldeias. 
Sob a coordenação da professora 
Claudia Souza Passador, do 
Departamento de Administração 
da Fearp, e coordenadora da 
Escola Técnica c Gestão da USP, 
os alunos de pós-graduação em 
Ad ministração de Organizações 
frequentam au las no museu. O 
objetivo é formar gestores mais 
criativos e capacitados - por 
meio das novas sinapses que a 
arte oferece às mentes desses 
fu turos profissionais - para 
fazer diagnósticos, prever futuro 
c criar estratégias em meio a 
crises. O convívio do gestor com 
música, ci nema e artes plásticas 
enriquece seu repertó rio de ideias 
c o to rn a um líder necessá rio." A 
informação é ela Agência USP c 
interessados no programa podem 
entrar em contato pelo telefone 
(1 6) 3315-0505. 
psique ciéncia&vida 5 
c em campo 
PRIMEIRA -IMPRESSA O 
EMOÇÃO E MEMÓRIA COORDENADAS 
INFLUENCIAl\11 ENCONTRO SOCIAL 
A primeira impressão é a que fi ca, já diz o jargão popular 
sobre o primeiro encontro entre duas pessoas desconhecidas. 
Buscar as razões pelas quais isso acontece foi o objetivo de 
cientistas da Universidade ele Haifa, em Israel, a partir de um 
ex perimento com ratos de laboratório. Entre os achados, verifi-
cou-se que emoção social e memória social estão intimamente 
ligadas nesse processo, e t rabalham de forma coordenada. 
Testando os ratos, os pesquisadores verificaram que a emo-
ção do encontro social com um rato estranho criou um alto 
nível de atividade rítmica sincronizada no cérebro, fa tor que 
parece facilitar a formação de memória social. Uma vez que 
os ratos estavam fami liarizados uns com os outros, a excitação 
diminuía, e as áreas dist intas do cérebro passavam a trabalhar 
de forma menos coordenada. 
Os cientistas também procuraram investigar se outras 
emoções em particular geravam essa sincronização de ativi-
dades cerebrais, mas isso não aconteceu. Emoções negativas 
como medo e mesmo emoções positivas, mas relacionadas a 
um ser inanimado, não provocam as mesmas reações. Os espe-
cialistas sugerem que o experimento seja repetido em humanos 
para que se confirme ser essa atividade sincronizada no cére-
bro o fator que nos faz lembrar mais fortemente dos primeiros 
momentos que tivemos com alguém. 
Para saber mais: 
Alex Tendle~, Shlomo Wagner. Different types oftheta rhyth-
micity are incluced by social anel fearfu l stimuli in a network 
associated with social memory. eLife, 2015; 4 DOI: 10.7554/ 
eLife.03614 
6 psique ciéncia&vida 
CRIANÇAS 
COMTDAH 
UM ELOGIO PODE MEl ~H ORAR 
O DESEMPENHO, DIZ ESTUDO 
Pesquisa publicada no periódico BehflV/oml and Bra/n 
Functions, do Reino Unido, demonstrou que crianças 
com transtorno de déficit ele atenção com hiperativiclade 
(TDAH) precisam do reconhecimento por um trabalho 
benfeito muito mais que aquelas que apresentam desen-
volvimento típico. 
Elogios e recompensas parecem motivar com inten-
sidade e melhorar o desempenho desses pequenos em al-
gumas tarefas cognitivas. Não que não façam o mesmo 
em crianças com desenvolvimento típico, mas quando se 
pede a essas últimas que deem o melhor de si, seu desem-
penho já muda. Já as portadoras de TDAH necessitam de 
outras estratégias, como a maior motivação. 
Quando se avalia o melhor desempenho das crianças 
com TDAH, a questão, no entanto, não é só motivacional. 
O trabalho realizado a partir da terapia cognitivo-compor-
tamental, com foco nas consequências positivas, e o treino 
em habilidades específicas não podem ser desc}lrtados. 
Para saber mais: 
Whitney D. Fosco, Larry W. Hawk, Keri S. Rosch, l\IIicheUe 
G. Bubnik. Evaluating cognitive anel motivational accounts 
of greater reinforcement effects among children with atten-
tion-deficit/hyperactivity disorder. Behavioral and Brain 
Functions, 2015; 11 (1) DOI: 10.1186/s12993-015-0065-9 
Jussara Goyano é jornalista. membro da lnternational 
Science Writers Assoc1ation. Estuda Ps1cologia. Med1c1na 
Comportamental e Neuroc1ênc1as. com foco em 
resiliênc1a. bem-estar e performance. t coach certificada 
pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. 
afiliada à AssociaçC!o Brasileira de Qualidade de Vida. 
giro escala 
OS ÍNDIOS 
EM SALA 
DE AULA 
lU \I~ I \ \R li I.Dl C\ 
FFI - 1•.1) 1(,' \o .J 
A importância dos índios ga-
nha as páginas da revista Arte-
-Educa - EFl , em sua edição 4. 
O material apresenta o Projeto 
Índios Brasileiros, que tem por ob-
j~ jetivo central levantar a discussão 
i! sobre o tema, sob diversas aborda-
gens, inclusive mostrando aos alu-
nos, com enfoque na questão da 
diversidade, os aspectos que definiram a formação social do Brasil. A ideia 
foi da arte-educadora Ni lza Maria Gatti Lopes Guimarães, do Colégio São 
Luís, em São Paulo. Para ela, a cultura indígena está presente no dia a dia 
das pessoas, na fala e no alimento. Está inserida na cultura urbana de forma 
direta e ind ireta. E, por isso, é importante que todos saibam sobre o modo 
de viver dessa população, suas t radições, hábitos e crenças. Existem hoje no 
país cerca de 300 mil índ ios e eles não se definem como um grupo de oposi-
ção aos brancos. É necessário entendê-los e respeitá-los. 
O PROTAGONISTA WEFFORT 
IS I \ '-,()( IOI )(,I \ 
I· DI<., \o =;<J 
O cientista político e sociólogo 
Francisco Weffort desenvolveu, ao 
longo de sua trajetória profissional, 
inúmeros trabalhos e pesquisas, 
que tiveram papel protagonista em 
sua área de atuação. Além disso, 
sua participação na política nacio-
nal contribuiu para importantes 
t ransformações ocorridas no país 
entre as décadas de 1980 e 2000. 
Esse conjunto de trabalhos, anál i-
ses e interprelações foi formulado 
durante sua mi litância como pes-
quisador na Universidade de São 
Paulo (USP), no Centro Brasi leiro 
de Análise e Planejamento (Cebrap) e no Centro de Estudos de Cul tura Con-
temporânea (Cedec). Suas interpretações se traduziram em presença polí-
tica, seja como integrante do Partido dos Trabalhadores (PT), entre 1979 
e1994, seja como ministro da Cultura do governo de Fernando Henrique 
Cardoso, entre 1995 e 2002. Con heça mais sobre o trabalho de Weffort na 
edição 59 da revista Sociologia. 
www.portalcicnciacvida.com.br 
A LITERATURA 
E A FILOSOFIA 
Rl \ ..., I \ I I I I 
EDI(,: \O 110 
Aspectos como Ciência, Mística, 
Fi losofiae Arte são pontos de partida 
para a conceituação do estudo de todas 
as manifestações literárias e poéticas. 
Conceituar Arte, entre outras coisas, é 
saber interagir sua estrutura com os ou-
tros conhecimentos, e a Filosofia surge 
como um sustentáculo fundamental da 
lógica artística. A partir desse conceito, 
o escritor e professor Lucas Limbcrti 
desenvolve seu trabalho. o último mês 
de junho, Limberti deu início a uma 
campanha de fi nanciamento coletivo 
on-lli1e para a publicação do livro R/tm/n: 
O n'tmo do v1'do. A obra t raz poemas 
em estado de música, divididos, como 
ele faz questão de definir, em Lado B e 
Lado A. Segundo o autor, o livro surgiu 
durante um trabalho fotográfico de uma 
banda da qual ele fazia parle e que se 
apresentava em São Paulo. Ele percebeu 
que todos têm ensaios e shows na vida, 
estruturando os lados B e A. Durante a 
leitura, as pessoas podem reAetir sobre 
qua l é o ritmo de suas próprias vidas. 
Acompanhe entrevista do escritor na 
edição 110 da revista Filosofia. 
psique ciênci:o&vid:t 7 
E N T R E v s T A 
-NAS DERROTAS ACHAMOS SOLUÇOES 
PARA AS VITÓRIAS 
Rodrigo Falcão analisa o papel da Psicologia Esportiva, alerta 
para o excesso de exercícios e para a pressão que os jovens atletas 
sofrem para conquistar resultados, além de garantir que é mais 
fácil lidar com o sucesso do que con1 o fracasso 
Por: Lucas Vasques/ Foto: divulgação 
E
ntender como os fatores psicológicos 
influenciam o desempenho físico e 
compreender como a participação nessas 
atividades afeta o desenvolvimento 
emocional, a saúde e o bem-estar de uma pessoa 
nesse ambiente. Esses são os 
desafios centrais do profissional que se dedica 
à Psicologia do Esporte. 
Embora a atuação profissional mais conhecida 
esteja relacionada aos esportes de rendimento, 
o psicólogo do esporte tem um leque amplo 
de atividades. Pode trabalhar na orientação de 
exercícios físicos como manutenção da saúde 
e do bem-estar; na relação do praticante com 
o ambiente escolar; na iniciação esportiva de 
crianças e jovens envolvidos em atividades 
esportivas, pedagógicas e competitivas; na 
recuperação psicológica de atletas lesionados e 
pessoas que realizam atividade esportiva como 
meio para reabilitação; e em projetos sociais que 
usam o esporte como ferramenta complementar 
da educação, da socialização de crianças e jovens 
de comunidades pobres. 
www.portalcicnci;~cv ida.co•n.br 
O psicólogo Rodrigo Scialfa Falcão, formado 
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, 
mestre em Esportes para Resolução de Conflitos 
pela Universitat Oberta da Catalunya/ Unesco 
e especialista em Psicologia do Esporte pelo 
Instituto Sedes Sapientiae atualmente é 
supervisor de Psicologia no Instituto Rugby para 
Todos, projeto social que atende mais de 200 
crianças e jovens da comunidade Paraisópolis, 
em São Paulo, e atua, também, na ADC 
Bradesco Educação e Esporte como psicólogo 
do esporte das categorias sub 17 e 19 de 
basquete feminino (www.psicologianoesporte. 
com.br). Além disso, ainda atua como psicólogo 
clínico com especialização em Terapia 
Comportamental e Cognitiva. 
Ele resume a importância do seu trabalho 
e de sua área de atuação da seguinte forma: 
"O esporte é uma metáfora perfeita da vida. 
Ganhamos, perdemos, nos emocionamos, 
caímos, levantamos, nos fi·ustramos, crescemos, 
aprendemos, nos superamos, nos retiramos, 
damos lugar a outros que nos substituem". 
Lucas Vasques é jornalista e escreve para esta publicaçao 
psique ciência&vida 9 
No esporte de alto rend1mento. cada atleta tem um padrão de comportamento diferente. o que explica as 
demandas IndiVIdUaiS particulares. mesmo que todos os esport1stas seJam de uma mesma equ1pe 
E~t QUE CO~SISTE E. Qll;\IS SÃO AS ÁREAS 
DE ATUAçAo DA P s iCOLOGI:\ Do E s PORTE? 
I <til! 11.1 < \1 o· A Psicologia 
do Esporte é uma ciência que estuda o 
comportamento de pessoas envolvidas 
no contexto esportivo c de exercício fí-
sico. O objet ivo do psicólogo do espor-
te é entender como os fa tores psicológi-
cos influenciam o desempen ho físico c 
compreender como a participação nes-
sas atividades afeta o desenvolvimento 
emocional, a saúde c o bem-esta r de 
uma pessoa nesse contexto. A atuação 
profissional mais conhecida está rela-
cionada aos esportes de rend imento. 
Entretanto, não é só o esporte compe-
titivo o foco de atuação do psicólogo 
do esporte. As áreas de intervenção 
são compostas, também , pelas práti-
cas de tempo I ivrc (exercícios físicos 
como manutenção da saúde e do bem-
-estar), pelo esporte escolar (a relação 
do praticante com o a mbiente escolar, 
nos mais variados graus), pela in iciação 
esport iva (crianças c jovens envolvidas 
em atividades esportivas, pedagógicas 
e competitivas), pela reabilitação (recu-
peração psicológica de atle tas lesiona-
dos e pessoas que rea lizam atividades 
I O psique ciência& vida 
Estar concentrado 
é uma habzlzdade 
psicológica muito 
zmportante para 
qualquer atleta, 
porém pode haver 
níveis d(ftrentes 
de concentração, 
dependendo da 
situação exigzda 
na competição 
espor tivas como meio para reabi lita-
ção, por exemplo obesos, doentes car-
díacos, doentes mentais, pessoas com 
necessidades especiais, entre outros) e 
pelos projetos sociais (que têm como in-
tui to principal utilizar o esporte como 
ferramenta complementar da educação, 
da socialização de crianças e jovens ele 
comunidades pobres). 
Q UAIS SÃO OS PRINCIPAIS ASPECTOS 
EMOCIONA IS A SE.RE!'vl ANALISADOS FUN-
CIONA I.i'v!ENTE EM ATLETAS DE :\LTO 
RENDIMENTO? 
F \1 ( \ O : Cada pessoa possui um pa-
d rão de comportamento distinto. Por-
tanto, existem demandas individuais 
d iferentes para cada atleta, mesmo 
sendo de uma mesma equipe, m as al -
gumas habilidades psicológicas são 
fu ndamentais para qualquer modalida-
de espo rtiva, como gerenciamento de 
estresse e ansiedade, nível ele atenção e 
concentração, tolerância à frustração, 
motivação, equilíbrio em ocional, ha-
bi lidades sociais para lidar em g rupo. 
ATÉ QUE PONTO A CO NCENTRAÇ:\0 IN-
TERFERE NO DESEMPENHO DE UM ATLE-
TA DURANT E UMA COMPETIÇAO? 
I• \I < \o: Depende ela modalidade es-
portiva. A lgumas requerem mais re-
cursos do que out ras. Estar concen-
trado é uma habilidade psicológica 
mui to importante para qualquer at le ta, 
porém pode haver níveis diferentes ele 
concentração, dependendo ela si tuação 
ex ig ida na competição. Por exemplo, 
para um pivô no basquete e um atle-
ta de tiro esportivo as exigênc ias são 
muito distin tas. Durante uma compe-
t ição, a concentração pode ser deter-
mina nte pa ra o resultado. 
COMO VOCf' OBSERVA A INTERSECÇ;\O 
ENTRE i\ PRATICA ESPORTIVA RELACIO-
NADA A QUESTÕES DAS CONEXÕES CE-
REBR:\IS E LIBERAÇAO DE SU BSTÂNCIAS 
COi\10 A SEROTON INA, QUE ESTII\ IULA O 
PRA ZER, E A C0:\1PULSAO POR EXERCÍ-
CIOS, A BUSCA PELO CORPO PERFEITO? 
COMO PERCEBER O LIMITE ENTRE ESSES 
DOIS ASPECTOS? 
F \1 < \O: É sabido que praticar exer-
cícios fa z bem para a saúde física e 
psicológica e os ganhos disso são 
amplame nte divu lgados. Contudo, há 
pessoas que passa m do limi te, exage-
ram c podem ser d iagnost icadas com 
vigorexia, que é o nome dado para 
que m possui dependência ern exer-
\Vw\v.pott alcicnciacvida.com.br 
cícios físicos. Quando uma pessoa 
deixa de se relacionar socia lmente, 
ev ita encontros soc iais com amigos e 
fam il ia res pa ra se exercita r, es tá sem-
pre ext remamente preocupada com o 
que come e com dietas para turbinar 
o rendimento, uti liza anabolizantes e 
diuréticos, exagera nas ho ras em que 
se exercita, entra em overtraiw1tg, se 
lesiona, se . to rna um fa nático por es-
sas atividades, se irr ita, fica ansioso, 
ag ressivo quando não consegue se 
exercita r, acredita que necessita de 
mais tempo de seu dia pa ra dar con-
ta de sua necessidade de trein ar são 
algun s sintomas dessa patologia. O 
g rande problema é que o diagn óstico 
é di fícil , já que é uma patologia que 
ainda não estádescri ta espec if icamen-
te nos manua is médicos, como o DSM 
e a CID-10. Não existem o es tigma e o 
preconceito envolvendo a pessoa com 
vigorex ia, é até socialmente aceita 
uma pessoa que se exerc ita em dema-
sia e m comparação com uma pessoa 
que é sedentária e obesa, até po rque 
exis te uma forte representação cultu-
ral pelo culto à beleza, à va idade e à 
es té tica . Os circui tos cerebrais e fi sio-
lógicos acionados nos dependentes de 
exercícios e nos dependentes químicos 
são mui to s imilares. 
D ENTRO DE UM A ABORDAGEM ABRAN-
GENT E, COl\10 É LI DAR C01\I ATLETAS 
JOVENS El\11 RELAÇÃO A CARACTERÍSTICAS 
NECESSARIAS PARA UMA BOA PERFOR-
MANCE, COMO CONCENTRAÇÃO, DETER-
MINAÇAO E EQUILÍBRIO EMOCIONAL? 
F-\LC \o: Para qualquer profissiona l de 
d iferentes disciplinas que atue dire-
ta mente com atle tas jovens, é preciso 
levar em conta as competênc ias físi-
cas, cognitivas e emocionais para cada 
fa ixa e tária. Entretanto, a exigência de 
alta perform ance em categorias de base 
é muita alta. Infelizmente, o resultado 
está à frente da fo rmação de pessoas. 
Muitos técnicos não sabem como lidar 
com isso. Não dá para exigir de uma 
criança de 12 anos o mesmo dese mpe-
www.port;llcienci:lcvida.corn.br 
É sabzdo que praticar 
exercíczos foz bem 
para a saúde fozca e 
psz'cológzca. Contudo, 
há pessoas que 
passam do lúnite, 
exageram e podem ser 
dz'agnostzcadas com 
vzgorexza, que é o 
nome dado para quem 
possuz· dependência 
de exercíczos fozcos 
nho de um adolescente de 17 e, desse 
modo, o mesmo de um at leta adulto. 
O papel do psicólogo nesse contexto 
é auxiliar pontuando essas questões a 
todos os envolvidos (comissões técni-
cas, atletas e fa mílias), além de procu-
rar promover o bem-estar psicológ ico 
e propiciar a qualidade de vida e a 
saúde menta l dos jovens atletas. Algu-
mas modalidades podem influenciar 
negativamente do ponto de vista do 
desempenho esportivo (vou usar o tê-
nis como exemplo, mas isso acontece 
em muitas modalidades), praticamente 
o mesmo tênis é praticado por profis-
sionais e por ado lescentes de 13 anos, 
há poucas variações nas regras, nos 
equipamentos, na contagem elos pon-
tos, nas dimensões da quadra. já tive o 
desprazer de ass istir a uma partida de 
tênis de garotos de 14 anos durar por 
quase t rês horas, num campeonato es-
tadual de classe inferio r, e o vencedor 
ter de voltar a jogar no outro dia. Não 
sei o quanto esse tipo de exigência de 
performance pode ser saudável. O fato 
é que nas categorias de base, de modo 
geral, há muito mais tendência ao ado-
ecimento do que à saúde. A presença de 
psicólogos do esporte é negligenciada 
na g rande maioria dos clubes esporti-
vos, há mui to desrespeito à integridade 
humana, não se pensa em prevenção, 
promoção da saúde, profi laxia para os 
jovens at le tas. Há muitos jovens que 
adoecem e não encontram o amparo 
adequado nas respectivas agrem iações. 
O ECA (Estatuto da Criança e doAdo-
lescente) é claro com relação a isso. 
Existe um disposto na lei que gara nti-
ria acesso à saúde de j ovens que estão 
a lojados em clubes esportivos ou simi-
lares. No entanto, é mais uma lei que 
não se cumpre no país. 
Os circuitos cerebrais 
e fisiológicos aCionados 
nas pessoas que são 
viciadas em exercícios 
fisir::os e nos dependentes 
quim1cos são mu1to Similares 
Os ATLETAS DE COMPETIÇÃO JOVENS, POR 
NÃO ESTAREM DEFIN ITI VAMENTE FOR-
MADOS EM SUA PERSONALIDADE, PODEM 
ENCONTRA R DIFICU LDADES PARA LIDAR 
CO~I A PRESSÃO POR DESE~IPENHO ME-
LIIOR? CoMo A P s iCOLOGIA EsPORTIVA 
PODE AJUDAR NESSA QUESTÃO? 
F\I.C \o: Com toda certeza, vai depen-
der muito ele como as pessoas que es-
tão em torno desse jovem lidam com 
esses aspectos, o papel da família é fu n-
damental. Os adolescentes são muito 
exigentes consigo mesmos, as pressões 
por rendimento esportivos são inevi-
táveis, principalmente porque nessa 
fase a aceitação pessoal e pelo g rupo 
é muito importante. As compa rações 
são recorrentes e mui tos jovens não 
conseguem lidar bem com isso, a lg uns 
podem sofrer bulliy ng, se estressar, 
abandonar as atividades precocemen-
te. Nosso papel é de buscar a cautela, 
fortal ecer o indivíduo, a sua autoestima 
e autoimagem , procurar o equilíbrio 
emocio nal , a luclicidacle e o p razer pela 
prática esportiva e pela competição 
saudável, tentando contribuir para a 
re fl exão, para que o jovem conheça os 
próprios limites, suas qualidades pes-
soais, pensa ndo en:' sua qualidade de 
vida, no gerenciamento de ansiedade e 
na saúde menta l dessas pessoas. 
12 psique ciência&vida 
M UITOS DIZEM QUE OS INTERESSES DE 
El\ IPR ESÃRIOS E FA~IILIARES PODEi\1 PRE-
JUDICAR A TRAJETÓRIA DOS ATLETAS 
PROFISSIONA IS. QUAL A SUA AVALIAÇÃO 
SOBRE O PREPARO PSICOLÓGICO DO ATLE-
TA BRASILEIRO, EM GERAL, FRENTE À 
CONDUÇÃO DE SUA CARREIRA? 
F \LC \o: Sem dúvida, a famíl ia é sem-
pre um elemento mui to importante na 
vida de qua lquer atleta, pa ra o bem e 
A exigência de alta 
peiformance em 
categon'as de base é 
muita alta. Muitos 
técnicos não sabem como 
lzdar com isso. Não dá 
para exigir de uma 
cn'ança de 12 anos o 
mesmo desempenho de 
um adolescente de 17 e, 
desse modo, o mesmo de 
um atleta adulto 
para o mal. O ex-ten ista Andre Agassi 
j á re latou em sua b iografia que seu pai 
fo i quem o obrigou a t re inar e que foi 
difícil para ele lida r com sua excessi-
va cobra nça, mesmo depois ele ser um 
atleta consagrado. No mundial de na ta-
ção, em 2004, um pai agred iu sua filha 
por ela não ter obtido o resu ltado que 
e le esperava. As cenas lamentáveis cor-
reram o mundo. Não podemos esperar 
da família a exigência por resul tado, a 
t.:obrança no esporte j á é a lgo ineren-
te e mais pressão de quem deveria dar 
apoio só tende a prejudicar. o ramo 
empresaria l, como em qualquer setor 
de atividade, há empresários que con-
duzem bem a carreira dos atle tas que 
eles gerenciam e, também, há os ines-
crupulosos e gananciosos. Tudo passa 
pela formação. D ificilmente um atleta 
que conseguiu ter boa formação e boa 
estru tura familiar será prejudicado por 
seus empresários. Eu acred ito que o 
atleta brasi le iro q ue compete em alto 
nível, seja qual for a modalidade, é um 
resiliente, um sobrevivente, um super-
-herói. Não é fácil ser atleta de pon-
ta nesse país. Ele literalmente supera 
obstáculos grand iosos, o sistema não 
contr ibui pa ra o seu desenvolvi mento. 
Ao contrário, o atleta brasile iro tem 
uma motivação absurda. Estamos às 
vésperas de sediar os j 0gos Olímpicos 
e a nossa base é pífia, nossa estrutura 
esportiva é péssima, não existe um pro-
grama nacional de democratização do 
esporte para a população e nem de alto 
rendimento. O esporte ta mbém é subu-
tilizado como ferramenta para preven-
ção e promoção da saúde, para o desen-
volvimento educativo. Uma pesquisa 
da ONU mostrou que para cada dólar 
investido em ativ idades esportivas são 
econom izados três dó lares com saúde 
pública. Ou seja , o esporte não pode 
ser considerado gasto e, si m, investi-
mento. Com uma estrutura dessa os 
poucos que conseguem bons resu ltados 
em mundiais, Jogos Olímpicos e demais 
competições internaciona is deveriam 
ser reverenciados. C reio que muitos 
w\vw.porta1cicnciacvida.com.br 
A prática de educação físzca escolar é 
negligenciada na mazorza das escolas públzcas 
do país, muitas não possuem quadra 
poliesportzva. Em muztos colégzos partzculares, 
esse finômeno também acontece em decorrêncza 
do ensino para o zngresso no vestibular 
at letas brasileiros desenvolvem uma es-
pécie de "complexo de vira-la tas" ao se 
depararem com atletas de países com 
mais tradição c potenc ial. A impressão 
que tenho é do tipo de pensamento "foi 
tão difícil chegar até aqui, já me dou por 
satisfeito", quando creio que deveria ser 
ao contrário, usar essa dificuldade ab-
surda como mais um combustível para 
encara r osadversários, sejam eles quais 
forem. Os atletas brasi lei ros necessitam 
de autoestima, precisam ser valorizados 
por todos e, também, se sentirem va lo-
rizados por eles mesmos. 
EM QUE MEDIDA A ATIVIDADE FÍSICA 
PODE AJUDAR NA OBT ENÇÃO DO EQUILÍ-
BRIO El\IOCIONAL E DA SAÚDE PSICOLÓ-
G ICA COl\10 UM TODO? QUAIS AS PRIN-
CIPAIS CONTRIBUIÇÕES DA P SICOLOGIA 
DO ESPORTE NO SENTIDO DE AUXILI AR A 
C RI ANÇA QUE PR ATICA ALGU1\ IA 1\IODA-
LIDADE r\ APRENDER A SE CONCENTRAR, 
BUSCAR OBJ ETI VOS, TER DISCIPLINA , ATÉ 
MESl\10 PARA OUTROS SETORES DA VIDA? 
F u .c \o: A Educação Física escolar tem 
um papel fu ndamental na formação e 
no desenvolvimento de crianças e jo-
vens, não só do ponto de vista físico, 
mas, também, intelectual. A prática de 
educação física escolar é negligenciada 
na maio ria das escolas públicas do país, 
muitas não possuem quadra poliespor-
tiva. Em muitos colégios particulares, 
esse fenômeno ta mbém acontece em 
decorrência elo ensino para o ingresso 
no vestibular. Alguns estudos indicam 
que crianças que se exercitam com 
frequência de pelo menos duas vezes 
na semana têm melhores resultados 
\vww.portalcicnciacvida.com.br 
cognitivos na escola do que crianças 
sedentárias. A prática esport iva pode 
ser um excelente ca minho para o de-
senvolvimento humano e pessoa l, a 
convivência em g rupo, a disciplina, 
a aceitação de regras, a superação, a 
competição saudável, a tolerância à 
fru stração. Muitos valores éticos e mo-
rais podem ser aprendidos através do 
esporte, porém a mediação dessas situ-
ações por pessoas treinadas adequada-
mente é fu ndamental. 
MUITO SE ESPECULOU El\1 RELAÇÃO AO 
DESEM PENIIO DOS JOGADORES DA SELE-
ÇÃO NA CorA oo MuNDO DO BRASIL, 
QUE ELES NÃO ESTARIAM SUFICIENTE-
MENTE PREPARADOS PSICOLOGICA1\IENTE 
PARA A DISPUTA, O QUE RESULTOU NA 
HIST ÓRICA DERROTA DE 7 r\ 1 PARA A 
A LEI\ IAN HA. Q UAL A SUA AVA LI AÇÃO? 
E\I .C \o: A responsabi lidade por aquele 
vexame do Brasil na Copa não deve ser 
colocada na conta da preparação psi-
cológica, como foi mencionado por al-
guns atletas e por parte da míd ia, após 
o episódio. Esse é o caminho mais 
fácil e previsível. Acred ito que toda 
a preparação (técnica, tática, física e 
emocional) foi inadequada, o futebol 
brasilei ro parou no tempo, vive de suas 
glórias do passado e seus dirigentes 
acreditam que isso basta para ganhar 
campeonatos. O fantasma de 1950 
(derrota na fin al da Copa do Mundo 
para o Uruguai, no Maracanã) rondou 
todos os estád ios em que a seleção 
jogou c foi sepultado com o 7 a 1. A 
Copa era a pressão de um país inteiro 
e com ela todo o si mbolismo e a re-
Em sua b1ograf~a. o ex-ten1sta oorte-americaro 
Ardre Agass1 revelou que seu pa1 o obngava a tre1Nr. 
exagerardo r~as cobranças por bons resultados 
presentativid ade cultural que o futebol 
exerce em nosso pov9, ou seja, ganhar 
a Copa, apesar dos custos faraônicos 
dos estád ios, apesar dos políticos e dos 
problemas sociais que temos. O fute-
bol no Brasil é mais do que um espor-
te. É muito mais complexo do que isso. 
0 FATO DE OS JOGADORES C HORAREM 
l\ IUITO NA EX ECUÇÃO DO H INO NACIONAL 
E DURANTE A DISPUTA DE PÊNALTIS NA 
PARTIDA CONTRA O CHILE DEMONSTRA 
ESSA FALTA DE PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA? 
1:<~\ IC\o: Não vejo dessa maneira com 
relação ao Hino Nacional. Para mim 
isso foi algo que motivou os atle tas 
pouco antes da partida. Mas só isso 
não basta para um time vencer. Nos 
pênaltis poderia ser um desabafo de 
algum jogador. Porém, seria leviano 
de minha parte analisar esses aspectos 
sem estar presente no g rupo para saber 
o que realmente ocorreu. O choro não 
pode ser considerado sinal de fraqueza. 
Há pessoas mais emotivas e sensíveis 
do que outras c que se emocionam com 
mais faci lidade. Para alguns, chorar 
poderia estar relacionado ao alívio da 
pressão que ex istia naquele momento. 
psique ciência&vida 13 
O atleta de ponta no Bras1l tem uma motivação 
absurda. apesar da falta de Incentivo: às vésperas dos 
Jogos OlirrpiCos. a estrutura esportiva é péssima 
Carregar um país com 200 milhões de 
torcedores nas costas, que exigem so-
mente a conquista do campeonato em 
casa, não é brincadeira. 
COi\10 LIDAR COi\1 AS DERROTAS? ALIÁS, Í': 
i\ 11\IS DIFÍCIL LIDAR COi\1 OS FRACASSOS OU 
CO~I O SUCESSO NO UNIVERSO ESPORTIVO? 
>: Com toda certeza, é mais fácil 
lidar com o sucesso. Algumas derrotas 
podem ser traumáticas para quem vi-
venciou, perdurarem por muito tempo 
c, às vezes, até não serem esquecidas 
por atletas, torcedores, pela mídia. In-
felizmente, existem trajetórias de atle-
tas excepcionais que ficam marcadas 
por alguma derrota emblemática. Pode 
parecer clichê, mas o esporte é feito de 
derrotas e vitórias, e as derrotas podem 
ser um meio para o desenvolvimento 
do atleta e de equipes. Nas derrotas po-
demos achar as soluções para alcançar 
as vitórias. O que move o esporte é a 
competição e as vitórias são muito mais 
importantes, em mui tos aspectos, por 
exemplo, para a construção de ídolos. 
O esporte de alto rendimento é feito 
de resultados positivos, ser vencedor é 
o objetivo primário de qualquer atleta. 
14 psique ciência&vida 
Porém, as vitórias, em 
muitos momentos, 
podem esconder as-
pectos negativos ela 
preparação de uma 
equipe. É necessário 
ter hombridade na 
derrota e humildade na 
vitória. 
A INDA IIOJ E, NO FUT EBOL BRASILEIRO, 
O PSICÓLOGO DO ESPORTE Í' OBSERVADO 
COi\1 RESERVAS POR ALGUNS JOGADORES E 
TÍ,CN ICOS. A RAZÃO SERIA PELO FATO DE 
QUE O FUTEBOL CONT INUA SENDO ENCA-
RADO CO~IO Ui\1 ESPORTE i\IASCULI NO E 
QU E O UNIVERSO DOS IIO~IENS N.\0 PER-
:'\IITE DEi\10 'STRAÇÕES DE FRAGI LI DADE? 
I' \I ( \o: Não é só no futebol que acon-
tece isso, talvez fique mais evidente por 
ser a modalidade mais popular no pla-
neta, Mas, infelizmente, ainda há pouca 
abertura para o psicólogo do esporte 
na maioria das modalidades, por puro 
desconhecimento. Sem dúvida, o pre-
conceito é um componente importan-
te com relação à representação que a 
Psicologia exerce no imaginário social, 
pois ainda é relacionada à patologiza-
ção, à cura dos problemas emocionais. 
Muitas vezes, os papéis da Psicologia 
do Esporte e da Psicologia Clínica são 
confundidos. Na verdade, são especia-
lidades diferentes. Não se "transporta" 
para o ambiente esportivo o "divã". As 
estratégias de intervenção dessas áreas 
podem ser, em alguns momentos, simi-
lares. Porém os objetivos são distintos. 
SENDO ASSii\1, O QUE O PROFISSIOI'AL DA 
P siCOLOGIA PRECISA FAZER PARA GANI lAR 
MA IS ESPAÇO NO FUT EBOL BRASILEIRO? 
I \t < \O: Meu desejo é que a Psicologia 
do Esporte seja incluída em todo o es-
porte nacional e não só no futebol. Éti-
ca é fundamental, ter respaldo de at le-
tas, comissões técnicas e di rigentes. 
Profissionais habilitados para atuação, 
ou seja, com conhecimento específico 
c científico. Com tempo pa ra desenvol-
ver um trabalho, em qualquer atuação 
A Copa era a 
pressão de um país 
z'ntez'ro e com ela 
todo o szmbolismo e 
a representatz'vzdade 
cultural que o fUtebol 
exerce em nosso povo. 
O fUtebol no Brasz7 
é mais do que um 
esporte. É muito mais 
complexo do que isso 
em Psicologia, os resultados acontece-
rão ele médio a longo prazo. 
A PsiCOLOGIA DO E sPORTE \' IROU :-10DA? 
ALGL' NS ESPECIALISTAS AFIR:-L\M QUE É 
U:-L\ CORRENTE E~IERGE:-.JTE. 0 QUE FAL-
T,\ PARA Q UE ELA SEJA \'ISTA COi\1 ~1.-\ IS 
N,\TURALID.\DE? 
Apesar de a Psicologia do Es-
porte ser tão antiga quanto a formali-
zação da Psicologia como profissão: em 
1958,João Caravalhaes esteve presente 
na comissão técnica que trouxe o pri-
meiro campeonato mundial de futebol 
da Suécia. A consolidação como área 
começou a se desenvolver com mais 
força a pa rtir da década de 1990. Po-
demos considerar como área emergen-
te, mas não como moda, já que ainda, 
infelizmente, é um mercado restrito à 
pouca oferta de trabalho, apesar das 
demandas, que sãoinúmeras, ta nto 
práticas quanto acadêmicas. 
E~1 RELAÇ . .\0 ESPECIFICA:'\IEi'\TE AOS 
ESPORTISTAS PARALÍ:\IPICOS, 11.\ NECES-
SID,\DE DE U:\1 ACO:-IPANHA:-IENTO PSI-
COLÓGICO DIFERENCIADO E~l FtJ:-.JÇÃO 
DA DEFICIÊNCIA QUE, E;\l :\ IUITOS C.·\SOS, 
FRAG ILIZ A AINDA i\1:\IS A PERSONALIDA-
DE DA PESSOA? 
IVWiv.ponnlcicncincvida.com.br 
F.\ l t \o: A lgumas adaptações à reali-
dade das pessoas com deficiência são 
imprescindíveis, conhecer essas limita-
ções é essencial para desenvolver um 
trabalho consistente. Mas o foco deles 
é a competição e o desempenh o espor-
tivo dentro das limitações físicas que 
cada atleta possui. A prática de espor-
te para pessoas com deficiência é um 
grande veículo de inclusão social, de 
diminuição de preconceitos, de forta-
leci mento da autoestima, da supera-
ção de limites, aspectos positivos que 
podem favorecer o desenvolvimento 
pessoal de quem pratica c de quem se 
envolve nesse contexto. 
É POSSÍVEL AfiRMAR QUE O ESPORTE E 
i\ ATIVIDADE fÍSICA PODEM CONTRIBUIR 
PARA QUE U~IA PESSOA SE T ORNE VENCE-
DORA NA VIDA OU, PELO ~IENOS, PSICOLO-
GICAI\IENTE ~IELIIOR? 
F:\J <. \O: Certamente, o esporte é su-
butilizado como ferramenta educat iva 
para o desenvolvimento pessoal e emo-
cional. Atingir metas esportivas, bus-
car a superação, novas habi lidades, po-
demos generalizar esses ensinamentos 
para outros contextos de nossa vida. A 
prát ica de ativ idades esportivas pode 
leva r ao autoconhecimento, à moti-
O esporte é subutzlizado como flrramenta 
educativa para o desenvolvimento pessoal 
e emocional Atingzr metas esportivas, buscar 
a superação, novas habzlzdades, podemos 
generalizar esses ensinamentos para outros 
contextos de nossa vzda 
vação, à autoconfiança, à disciplina, à 
mudança de hábitos, elevar a autoesti-
ma, entre outros aspectos. 
EXISTE~! DIFERENÇAS NA ATUAÇAO DA 
P SICOLOGIA ESPORTIVA ENTRE ESPORTES 
INDIVIDUAIS E COLETIVOS? 
I· \J.C \O: Nas moda li dades coleti vas 
algu mas responsabilidades podem 
ser partilhadas. Isso não acontece em 
modalidades individua is, onde todo o 
desempenho atlético é fru to do co m-
porta mento de uma pessoa. H á di fe-
rentes técn icas e recursos que usamos 
para grupos e para atletas individuais. 
Quando trabalhamos com equi pes 
devemos desenvolver a coesão entre 
os seus membros. Cada moda lidade 
espor tiva tem suas peculiaridades, 
sua cultura e seu universo, e a Psico-
logia do Esporte tem de se adapta r a 
essas si tuações, pois as moda lidades 
são d iferentes umas das outras, ass im 
como as capacidades físicas, técnicas 
e táticas são diferentes de uma moda-
lidade pa ra outra. Isso também acon-
tece com a preparação psicológica. 
Os recursos necessá rios pa ra um bom 
desempenho de ma ratoni stas são d i-
ferentes dos recursos dos esgrimi stas, 
que são também diferentes dos dos 
jogadores de handball. 
QUAIS ,\ S Úl: fl t\11\S PESQUISAS CIENTÍfi-
CAS E AVANÇOS SOBRE A P SICOLOG IJ\ DO 
ESPORTE? 
F\1 < \O: A Neurociência vem contri-
buindo mui to. Áreas como a Psicobio-
logia do Esporte vêm nos ensinando 
técnicas para melhorar o desempenho 
de atletas e equ ipes. Além de estudos 
sobre testagem psicológica de deter-
minadas habilidades esportivas. Há 
uma enorme demanda acadêmica no 
país para todas as áreas da Psicologia 
elo Esporte. Necessi tamos de mais pes-
quisadores e estudantes, para constru ir 
uma ciência mais consolidada. 
Do PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO, O ES-
PORTE PODE SER CONSIDERADO UMA ME-
TA FORA DA VIDA? 
Estudos d1zem que cnanças que se exerc1tam pelo menos duas vezes por semana obtêm melhores 
resultados cogn1!1vos na escola em relaç~o a cnanças sedentanas 
I \I t \O : Sim, uma perfeita metáfora 
da vida. Ultrapassamos os obstáculos 
quando nos empenhamos. Gan hamos, 
perdemos, nos emocionamos, caímos, 
levantamos, nos frust ramos, cresce-
mos, aprendemos, nos superamos, nos 
retiramos, damos lugar a outros que 
nos substituem... .,. 
W\Vw.portalcicnci:•cvid:t.com.br psique ciência&vida 15 
in foco por Michele Muller 
, 
o mito do DESEQUILIBRIO , 
QUIMICO no cérebro 
NÃO EXISTE COMPROVAÇÃO DE QUE DISTÚRBIOS MENTAIS 
SEJAM CAUSADOS POR BAIXA PRODUÇÃO DE CERTOS 
NEUROTRANSMISSORES, FACILMENTE AJUSTADA POR ALGUMA 
MEDICAÇÃO. ATÉ QUANDO ESSE MITO SERÁ SUSTENTADO 
PELA MÍDIA E ATÉ POR PROFISSIONAIS DA SAÚDE MENTAL? 
M
uitos pais mostram, inicial-
mente, grande resistência em 
medicar o filho diagnosticado 
com transtorno de déficit de 
atenção e hiperatividade (TOAI--1). Até 
serem informados que os estimulantes 
corrigem um problema que seria causado 
por um desequilíbrio químico no cérebro 
da criança. A teoria da baixa produção de 
dopamina, divulgada pelos laboratórios, 
foi recebida com enn1siasmo por médicos, 
psicólogos e professores quando surgiram 
os medicamentos que provocam aumento 
nos níveis desse neurotransmissor. Afinal, 
agora poderiam corrigir, ele forma práti-
ca e rápida, o "problema" da falta de uma 
substância no cérebro das crianças desa-
tentas e inquietas. 
Essa é a ideia que continua imperando 
nas diversas áreas ligadas à saúde mental 
infantil e à educação. Ao conversar com 
pais de crianças diagnosticadas com 
TDAH, muitos ainda comparam a neces-
sidade de estimulantes à de reposição da 
insulina em diabéticos. O fato é que não 
existe nenhuma comprovação das raízes 
biológicas do transtorno. O que existem 
são especulações que se contradizem. E 
mesmo que se chegue em um consenso, a 
pouca produção de determinados neuro-
transmissores já pode ser descartada das 
possibilidades, pois há anos é repetida-
16 psique ciência&vida 
mente derrubada por inúmeras pesquisas. 
Talvez por ser assimilada tão faci lmen-
te pela população, talvez por acender a es-
perança de uma cura rápida e simples, o 
desequilíbrio químico tornou-se a explica-
ção mais aceita não apenas para o T OAH 
mas para quase todo tipo de transtorno 
mental- sendo a depressão e a esquizofre-
nia os dois grandes pi lares que sustentam 
essa hipótese. 
Convenientemente divulgada pelos 
laboratórios ainda antes do lançamento 
das marcas famosas de fluoxetina e prin-
cipal argumento de muitas campanhas 
IVWiv.portalcicnciacvida.com.br 
publicitárias nos Estados Unidos, onde a 
propaganda de psicotrópicos pode ser feita 
diretamente ao consumidor, a teoria ainda 
está longe de ser enterrada. Na tentativa 
de derrubar o mito, o diretor do Instituto 
Nacional de Saúde Mental americano (Na-
tional Inslitutc o/ Mental Health - N!J'v!H), 
Thomas Insel, já declarou que "as noções 
iniciais de que transtornos mentais são de-
sequilíbrios químicos estão começando a 
ficar antiquadas". Isso foi em 2011. Muitos 
anos antes- em 2003 -, o psiquiatra e pes-
quisador de Stant(ford, David Burns, já ha-
via revelado que, mesmo tendo dedicado 
anos de sua carreira à pesquisa do metabo-
lismo da serotonina no cérebro, ele nunca 
havia se deparado com "nenhuma evidên-
cia convincente de que algum transtorno 
psiquiátrico, incluindo depressão, seja oca-
sionado por uma deficiência de serotonina 
no cérebro". Quanto tempo vai levar para 
que os profissionais da saúde mental no 
Brasil abandonem esse argumento? 
A popularização dessa hipótese co-
labora com o uso indiscriminado e irres-
ponsável de psicotrópicos. E pode estar 
entre os fatores que explicam o aumen-
to expressivo do uso de antidepressivos 
na última década em todo o mundo. De 
acordo com o National Hcolth rmd Nutn~ 
tion Exmmi10tion Surucy (2008), atualmente 
23o/o das mulheres americanas entre 40 e 
60 anos tomam esses medicamentos - um 
índice que reflete a realidade ocidental, em 
geral. A certeza de que "produzem pouca 
serotonina" leva muitas pessoas a acredi-
tar na cura milagrosa das drogas até no 
caso de depressão leve e moderada - em 
que esses medicamentos têm resultados 
comprovadamente iguais aos de placebos. 
Autor de diversos livros sobre medi-
cação psiquiátrica e consultor do Instituto 
lacional de Saúde Mental, o psiquiatra 
PeterBreggin destaca que são as drogas 
que causam o desequilíbrio químico - e 
não o contrário. E o resultado desse de-
sequilíbrio está evidente nas diversas rea-
ções de abstinência que sofi·em os pacien-
tes ao largar as medicações psiquiátricas. 
No caso dos antidepressivos mais co-
muns, por exemplo - os ISRS (inibidores 
www.port:tlcienciacvid:t.com.br 
SÃO AS DROGAS 
QUE CAUSAMO 
DESEQUILÍBRIO 
QUÍMICO - E NÃO 
O CONTRÁRIO. E O 
RESULTADO DESSE 
DESEQUILÍBRIO 
ESTÁ EVIDENTE NAS 
DIVERSAS REAÇÕES 
DE ABSTINÊNCIA QUE 
SOFREM OS PACIENTES 
AO LARGARAS 
MEDICAÇÕES 
PSIQUIÁTRICAS 
seletivos de recaptação de serotonina) -, 
o ncurotransmissor, liberado pela célula 
pré-sináptica, tem seu canal de receptação 
bloqueado. Assim, ao invés de concluir seu 
ciclo natural c retornar ao neurônio pré-si-
náptico, ele é acumulado entre as sinapses. 
No entanto, os neurônios têm receptores 
que monitoram o nível de serotonina na 
sinapse e, como o cérebro é plástico, ele 
naturalmente vai regular a produção do 
neurotransmissor. Portanto, os antidepres-
sivos causam - e não <tiustam -o desequi-
líbrio químico. Evidências apontam que 
sua ação sobre a via serotoninérgica pro-
voca o nascimento de novas células ner-
vosas no hipocampo - região afetada nos 
casos de depressão profunda. Isso explica-
ria o tempo, de cerca de três semanas, que 
os antidepressivos levam para começar a 
agir nesses casos. 
O metilfenidato - estimulante usado 
para "corrigir" o TDAH -tem ação qua-
se imediata sobre alguns dos sintomas 
comuns de crianças hiperativas. Assim 
como a cocaína, faz com que a dopamina 
se acumule nas sinapses por muito tempo, 
levando as células pré-sinápticas a liberar 
quantidades cada vez menores do neu-
rotransmissor. Com o tempo, o cérebro 
<tiusta a produção de neurotransmissores 
e a criança desenvolve tolerância à me-
dicação, precisando de doses maiores. O 
desequilíbrio então realmente se estabele-
ce, o que leva os médicos a receitar outras 
drogas para compensá-lo. 
A ponte do equilíbrio transformou-se 
numa corda bamba num mundo de tantos 
excessos. Buscá-lo passou a ser um desafio 
que coloca em jogo a saúde fisica e mental. 
A ação prática das pílulas pode ser tenta-
dora - e até necessária em alguns casos - . 
mas acabou tornando-se mais um perigo-
so excesso da sociedade, mais um ponto 
de desequilíbrio disfàrçado de solução. 
Para se certificar se tudo isso compen-
sa a longo prazo, uma equipe de 18 pes-
quisadores, com apoio do Instituto acio-
nai de Saúde Mental americano (NIMH), 
investigou o desempenho de 579 crianças 
diagnosticadas com TDAH no período de 
oito anos. Maior pesquisa já realizada com 
essa finalidade, o "Estudo Multimodal de 
Tratamento para TDAH", publicado em 
2009, concluiu que depois de um ano e 
meio, mesmo com o aumento contínuo de 
dose, as crianças medicadas não apresen-
taram melhor desempenho em nenhum 
aspecto com relação às que não receberam 
medicação. Depois de um tempo, portan-
to, restam apenas os efeitos colaterais do 
desequilíbrio provocado pela droga. 
"A verdade é que ninguém sabe qual 
deveria ser a quantidade 'correta' de di-
ferentes neurotransmissores. O nível des-
sas substâncias é apenas um fator em um 
complexo ciclo de influências que intera-
gem, como vulnerabilidade genética, es-
tresse, hábitos no pensamento e circuns-
tâncias sociais", escreve Christian Jarrett 
em Great Mylhs q(The Bmri1 (Os Grandes 
Mitos do Cérebro). ~ 
Michele Muller é jornalista com especializaç~ em Neurociência Cognitiva 
e autora do blog http://neurocienciasesaude.blogspot.com.br 
psique ciência&vida 17 
~ psicopositiva 
Amor CANIN 
amor HUMAN 
por Lilian Graziano 
} 
AO CONTRÁRIO DO QUE SE IMAGINA, PARA SE AMAR UM 
ANIMAL NÃO É PRECISO TRATÁ-LO COMO SER HUMANO 
ma das minhas frustrações de in fância foi não ter 
tido um bicho de estimação. Não houve jeito de 
convencer a minha mãe. Lembro-me que, certa 
vez, deixaram um filhote de gato na porta da mi-
nha casa e eu, sabendo da intransigência materna, tive abri-
lhante ideia de escondê-lo na gaveta da máquina de costura 
da minha avó (que quase enfartou ao descobrir o esconderi -
jo). Em outra ocasião, a "vítima" foi o coração de mamãe. 
Ao escutar um baru lho estranho, ela abriu a porta 
do banheiro de empregada e um gato preto, de 
pelos eriçados, quase voou em cima dela a 
fim de fugir do confinamento. Mas antes 
disso houve a Genoveva, uma enorme 
taturana verde que certamente la-
mentou o fato de eu, ainda muito 
pequena, não me dar conta de 
que vidros de maionese, se 
transformados em lares para 
taturanas, deveriam ter 
suas tampas furadas, de 
forma a garantir o bom 
fu ncionamento do siste-
ma de ventilação da im-
provisada "residência". 
Mas daí eu cresci. E 
não tardou pa ra que meus 
filhos me fizessem o mesmo 
pedido, fazendo com que eu 
me percebesse descon forta-
velmente parecida com mi-
nha mãe. A meu favor tinha 
apenas o fato de morar em 
um pequeno apartamento, no 
qual, definitivamente, não havia 
lugar para um animal. Até que 
veio a tão sonhada casa. 
1 8 psique ciêncill&vida 
Min ha filha, ainda na adolescência, 
querendo sempre ser diferente (a quem 
teria puxado?) queria algo mais "espe-
cífico" do que um cachorro: "Quero 
uma 'pitbua' de olho azul"! 
Juro que cu estava disposta a ig-
norar tal extravagância quando uma 
amiga, dona do pitbu ll mais lindo que 
eu já vi, veio até mim com a ninhada 
do seu animal que acabara de dar cria. 
E lá estava ela: Uma lind a 'fi lhotinha' 
de pitbu ll que terna mente me olh ava 
com seus olhi nhos azu is. Foi assim 
que a Laysa (Lalá) entrou em nossas 
vidas. "Cuidar de uma outra vida po-
deria ser uma experiência importante 
para que meus fi lhos desenvolvessem 
a responsabilidade" - racionalizei. 
Atualmente vivemos nu ma estra-
nha cultura que toma animais como 
se fossem seres humanos. E há todo 
um patru lhamento em relação a esse 
tema. Julguem-me por isso, mas c reio 
haver a lgo de patológico nessa cultu-
ra . Em nossa casa a Laysa sem pre foi 
um cachorro. Dormia na sua cama de 
cachorro, comia comida de cachorro 
e não t inha permissão para entrar em 
casa. Por isso muitas vezes escutei in-
sinuações de que eu não era uma boa 
dona para ela. 
Sim porque embora tivesse s ido 
um presente para minha fil ha, Laysa 
desde o início escolheu a mim como 
sua dona. 
Assim como não fui uma mãe con-
vencional, talvez não tenha sido uma 
dona de cachorro convencional. Afinal, 
nunca fu i muito afeita a convenções. 
Não obstante isso, amei minha 
cachorra e sou capaz de reconhecer 
a pureza do amor canino que não 
se iguala a nenhum outro, em fun-
ção de sua natureza incondicio-
nal. Acho mesmo que se houvesse 
ACHO MESMO 
QUE SE HOUVESSE 
UM TESTE DE 
FORÇAS PESSOAIS 
ADAPTADO A 
ANIMAIS, CACHORROS 
TERIAM, SEMPRE, 
A CAPACIDADE 
DEAMARESER 
AMADO COMO 
PRIMEIRA FORÇA 
um teste de forças pessoais adaptado 
a animais, cachorros teriam, sempre, a 
capacidade de amar e ser amado como 
primeira força. E com a nossa querida 
Lalá não foi d iferente. Ao contrário da 
má fama que carrega sua raça, Laysa 
foi um exemplo de doçura. Delicadeza 
não, porque, afinal de contas, os cães 
se parecem com seus donos. E por essa 
mesma razão, Lalá tinha uma saúde de 
ferro, e ra quase um "High lander"! 
Mas o tempo costuma ser impla-
cável até mesmo com os cachorros, de 
forma que perdemos a nossa querida 
Lal á no último final de semana. Vi-
vendo quase o dobro do que seria a 
expectativa média de vida de um pit-
bull, Lalá nos deixou depois de espan-
tosos 14 anos conosco. "Sina l de bons 
tratos"- disse a veterinária. 
Não houve velório, assim como 
não havia aniversários. Nem sapati-
nhos, nem carrinhos de passeio. Ten-
do vivido como um cachorro, nossa 
Laysa morreu como um cachorro. Ao 
que parece, anim ais não precisam ser 
tratados como humanos para serem 
bem tratados. Muito menos para dei-
xar saudades. 
Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP. com cursode extensao 
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA nstitute on Character. EUA t professora 
universit<Yia e diretora do nstituto de Psicologia Positiva e Comportamento. 
onde oferece atendimento clrnico. consultoria empresarial e cursos na área. 
graziano@psicologiapositiva.com.br 
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RESULTANTE DA FUSÃO 
DA NEUROFISIOLOGIA, 
ANATOMIA, EMBRIOLOGIA, 
BIOLOGIA CELULAR 
E MOLECULAR E DA 
PSICOLOGIA EXPERIMENTAL, 
A NEUROCIÊNCIA COGNITIVA 
RENOVA A IDEIA DE QUE 
PARA SE CONHECER A 
MENTE É PRECISO ANTES 
CONHECER O CÉREBRO 
2 0 psique ciência&vida 
por Maria lrene Maluf 
A 
s fu nções mentais superiores, ou seja, a Aprendizagem, 
a Memória e a Linguagem, até meados do século XIX, 
foram estudadas apenas pela Psicologia e pela Fisiolo-
gia experimental invasiva. Foi em 1861 que se deu o pri-
meiro grande passo para a compreensão dos mecanismos neurais 
dessas funções, quando Pierre Paul Broca descobriu que a fala é 
controlada por uma área específica do lobo frontal esquerdo. Em 
seguida, com novas pesquisas, foram localizadas as áreas do con-
trole voluntário e diferentes córtices sensoriais primários para a 
visão, audição, sensibilidade somática e paladar. 
Mas, apesar de os estudos neurológicos terem avançado com 
descrições elaboradas das funções cognitivas desempenhadas por 
várias partes do cérebro, a Fisiologia dos lobos frontais permanecia 
praticamente como uma incógnita, tendo sido por isso denomina-
dos ele "lobos silenciosos" (Goldberg, 2002). 
Um acidente não fatal, ocorrido em 1848, quando uma barra de 
ferro atravessou o crânio de um jovem rapaz, Phineas Gage, por 
\\'\V\\'.portalcicnciaevida.com.br 
l 
meio da área frontal de seu cérebro, de-
sencadeou novas descobertas a respeito 
desse lobo cerebral. Apesar de lúcido, 
com pleno uso de suas fu nções senso-
riais, vegetativas e motoras, capaz de se 
comunicar, falar, ouvir, andar, pensar, o 
rapaz teve sua personalidade totalmente 
modificada, passando de um trabalhador 
responsável e bem adaptado socialmente 
a uma pessoa de modos rudes, instável e 
com evidente labilidade emocional. 
Ao final do século XIX já havia evi-
dências suficientes r ara atribuir ao lobo 
frontal a sede da atividade mental supe-
rior, e a importância da nova descober-
ta despertou muitos estudos específicos 
nesse campo. Embora ainda não total-
mente esclarecidas, já se sabe comprova-
damente que é nessa região do cérebro 
que se encontram as maiores diferenças 
na evolução filogenética entre os huma-
nos e seus antepassados. Responsável 
pelas nossas habilidades mais complexas, 
como o planejamento ele ações sequen-
ciais, a uniformização de comportamen-
tos sociais e motores, flexibilidade men-
tal, parte da memória, a área frontal do 
cérebro não se refere a nenhuma habili-
dade mental específica, porém sua fun-
ção abrange todas elas: parece ser mais 
metacognitiva do que praticamente cog-
nitiva e, decorrente desse fato, passou-se 
a denominar de Função Executiva. 
Funções Executivas facilitam o fim-
cionamento cogni tivo ao coordenarem a 
execução de um objetivo e são ligadas às 
habil idades de prut:essamento de infor-
mações inter-relacionadas: memória de 
trabalho (armazenamento e atualização 
das informações enquanto o desempe-
nho de alguma atividade relacionada 
com elas), o controle inibitório (a inibição 
da resposta prepo tente ou automatizada 
quando o indivíduo está empenhado na 
execução de uma tarefa) e a flexibi lidade 
mental (capacidade de mudar a postura 
de atenção e cognição entre d imensões 
ou aspectos d istin tos, mas relacionados, 
de uma determinada tarefa). 
Durante tal processo, alguns de seus 
componentes (como a atenção seletiva, 
www.portalcicnciaevidn.com.l>r 
DÉFICITS DE 
DESENVOLVIMENTO 
COGNITIVO, 
PROBLEMAS DE 
CONDUTA ENA 
APRENDIZAGEM 
ACADÊMICA PODEM 
DECORRER DE 
PREJUÍZOS NAS 
FUNÇÕES EXECUTIVAS, 
CARACTERIZANDO A 
CHAMADA SÍNDROME 
DISEXECUTIVA 
flexibilidade cognitiva e planejamento) 
atingem mais tardiamente a maturidade, 
se comparadas a outras funções cogni-
tivas, o que torna ainda mais complexa 
a compreensão da cognição humana e 
seus transto rnos. 
Déficits de desenvolvimento cogni-
tivo, problemas de conduta e na apren-
dizagem acadêmica podem decorrer 
de prejuízos nas Funções Executivas, 
caracterizando a chamada Síndrome 
Dise-xecutiva. Seus sintomas mais cla-
ramente perceptíveis são as alterações 
cognitivo-comportamentais, associadas 
às dificuldades na seleção de informação 
e na tomada de decisão, assim como a 
distratibilidade, problemas de organiza-
ção, comportamento perseverante ou es-
tereotipado, dificuldades na constituição 
de novos repertórios comportamentais, 
déficit de abstração e de antecipação das 
consequências, tão frequentes nos trans-
tornos de aprendizagem. Atualmente 
aliás, se descrevem diversas dificulda-
des cognitivas em termos de Disfunção 
Executiva, quando se trata ele problemas 
marcantes com a hiperatividade, atenção 
e problemas de aprendizagem. 
A Função Executiva tem início nos 
primeiros meses de vida pós-natal, e se 
transforma gradativamente até o final da 
adolescência, relacionada com o processo 
de configuração c amadurecimento corti-
cal da região pré-ft·o11tal, uma das últimas 
áreas cerebrais a passar por esse processo. 
Ainda que existam variações de ma-
turação cerebral entre crianças de mes-
ma idade, a fil tragem de informações 
própria das Funções Executivas se desen-
volve mais acentuadamente entre os 6 e 
8 anos de idade e segue até começo da 
idade adulta, mas via de regra cresce de 
acordo com a progressão escolar. 
Durante tal processo, alguns de seus 
componentes (como a atenção seletiva, 
flexibilidade cognitiva e planejamento) 
at ingem mais tardiamente a maturidade, 
se comparadas a outras funções cogni-
tivas, o que torna ainda mais complexa 
a compreensão da cognição humana e 
seus t ranstornos. 
Especi ficamente, o córtex lateral órbi-
to-fi·ontal, responsável pelo controle dos 
impulsos, é o que amadurece por último, 
na década dos vinte anos, devido à pro-
gressiva e ininterrupta mielinização dos 
axônios do córtex pré-frontal, de onde se 
podem tirar algumas conclusões a respei-
to da educação e das questões relativas à 
socialização dos nossos jovens. 111 
RLFERtNCIA 
GOLDBERG. E. O Cérebro Executivo: Lobos 
Frontais e a Mente Civilizada. R1o de Janeiro: 
lmago. 2002. 
GAZZANIGA. M. S.: IVRY. R. B.: MANGUN. 
G. R. Neurociência Cognitiva. Porto Alegre: 
Artmed. 2006. 
MALLOY -DINIZ. L. F.: SEDO. M~ FUENTES. D.: 
LEITE. W. B. Neuropsicologia das Funções 
Executivas. In: Fuentes. D. et ai. (Orgs.). 
Neuropsicologia: Teoria e Prática. Porto 
Alegre: Artmed. 2008. 
Maria lrene Maluf é especialista em Psicopedagogia. Educaçclo Especial e 
Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Assocíaçclo Brasileira de 
Psicopedagogia- ABPp (gestclo 2005/07). t editora da revista Ps1copedagog1a 
da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena 
curso de especializaçclo em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br 
psique ciência&vida 2 1 
3lf PSICOPATOLOGIA 
á muitos artigos, en-
trevistas, livros que 
dão enfoque às ca-
racterísticas de p si-
copatas. Contudo, 
quase ninguém aborda o assunto do 
que acontece com a vítima e como se 
ca i nessa armadilha. A primeira no-
tícia que surpreende é que os psico-
patas andam soltos entre nós e, apa-
rentemente, em nada se dis tinguem 
das pessoas co muns, pois a imagem 
do serial killer que a maioria tem se 
aplica somente a uma pequena por-
centagem dos psicopatas existentes 
na nossa sociedade. Vinte por cento 
dospresid iários são psicopatas, se-
gundo a dra. Hilda Morana, psiquia-
tra, perita forense em diagnóstico de 
psicopatas. Mas um número enorme 
está fora, de 3% a S% da população, 
o que significa que em cada grupo de 
30 pode haver um. 
Pode ser seu vizinho, seu advo-
gado, seu chefe, já que o psicopata 
se coloca em todas as posições fa-
voráveis ao controle, manipulação 
e exploração dos outros. Você pode 
estar dormindo com o seu inimigo. 
A desestruturação na família pode 
ter a causa subjacente, velada, de um 
membro psicopata. A desumanização 
de uma empresa pode ser também a 
ação deletéria de um psicopata, que 
se colocou em cargo de poder. 
Psicopata também va i à escola 
e, não resta dúvida, devido à por-
centagem mencionada, de que em 
cada escola haja no mínimo um, re-
presentando um perigo ambulante 
aos a lunos e professores nas salas 
de aula, nos corredores, no recreio, 
nos banheiros. Quais os perigos que 
uma criança psicopata oferece? Des-
de roubo, bullying (nem todo bully 
é psicopata, mas todo p sicopata é 
bully), fomentar brigas, conflitos, 
machucar "sem querer" os colegas, 
até incendia r a secretaria da escola 
para queimar um boletim que ele 
não gostou . 
24 psique ciência&vid:t 
O psicopata pode ser quem menos se espera, 
seu vizinho, seu advogado, seu chefe, já que 
ele tem como uma de suas características 
principais se colocar em todas as posições 
favoráveis ao controle e manipulaÇao 
Com o aprend izado, o amadu-
recimento, o psicopata vai adqu i-
rindo mais conhecimento para rea-
lizar suas manobras, vai sofistican-
do s ua s táticas, procu ra profissões 
· Filmes· 
O c1nema produz1u 1números filmes que 
retratam a ps1copaha e pessoas que de-
ram a volta por cima após 1mensa dificul-
dade. t: possível destacar Fel1z Ano Ve-
lho baseado no romance homOn1mo de 
Marcelo Rubens Pa1va. que trata das ques-
tões de como chegar ao fundo do poço. 
recuperaç~o de um trauma e renasCimen-
to; O Contador de H1storias: O Psicopa-
ta Amertcano. PreCisamos Falar de Kevm 
(foto); lnstmto Selvagem 2 (Basic lnstmct). 
com Sharon Stone e Dav1d Mornssey. 
que lhe proporcionem um melhor 
conhecimento dos seres humanos. 
Fazer Psicoterapia lhe fornec e mais 
informações para driblar a gua rda 
dos especialistas, já que nada muda 
sua condição. Até hoje não se encon-
trou cura para esse distúrbio de per-
sonalidade, que n em é considerado 
doença na CID- 10, onde figura sob 
o número 60.2. 
Traumas de infância, maus-tra-
tos, v iolência não geram um psico-
pata. Isso gera psicoses, neuroses, 
mas não psicopatia. Um psicopata 
nasce psicopata e morre psicopa-
ta. Não aprende com a experiência, 
não aprende com punição, reincide, 
repete sempre o m esmo scrip t. Por 
não ter emoções procura excita-
ção constante para atenuar o tédio 
terrível no qual vive. Uma conduta 
errática que desestabiliza qualquer 
empreendimento e impede uma 
construção permanente em todas 
as áreas da vida: afet iva, fi nanceira, 
\V\\'"\V.port:llcicnciucvida.com.hr 
profissional, social. A exacerbação 
do egoísmo leva à megaloma nia. Os 
outros pouco ou nada importam, só 
ele. E se considera superior. A difi-
cu ldade de ser recon hecido co mo tal 
aumenta sua per iculosidade e facili-
ta sua penetração em todos os meios 
que escolhe explorar. 
Na grande maioria dos casos, a 
v ít ima com eça a desconfiar que es-
teve na mira de um deles depois que 
já caiu na armadi lha, depois que sua 
v ida fi n anceira, profissiona l, pessoal, 
social, afetiva fo i destruída, depois 
qu e já está sugada e reduzid a a um 
trapo humano. Isso quando não pe-
receu de vez, ou por meio de uma em-
boscada bem planejada e disfarçada, 
sem pistas que levem ao verd adeiro 
autor, como um apare nte acidente de 
carro, ou no aparente suicíd io, quan-
do o psicopata usou as mãos da pró-
pria vít ima p a ra exterminá-la. Não 
estão seguros, tampouco, os fa milia-
res e os amigos da vítima, que podem 
ser atacados por substituição. 
Alerta 
Alertar a soc iedade é de urgente uti li dade pública. O primeiro 
passo é informa r e escl arece r. Para 
Quais os perigos que uma criança 
psicopata oferece? Desde roubo, bullying 
(nem todo bully é psicopata, mas todo 
psicopata é bully), fomentar brigas, machucar 
·sem querer' os colegas, entre outros conflitos 
a gra nde maioria das pessoas é qua-
se impossíve l co nceber qu e um ser 
humano, aparentemente humano, 
n ão tenha sentimentos hum anos. 
Um ser para quem a dor do o u tro 
não importa. Um ser que olha para 
o outro n ão como um se melhan -
te, mas como um objeto utilitário. 
Uma criatura que é totalmente 
amoral. É qu ase imposs íve l conce-
ber que por trás daquela máscara 
encantadora, inte ligente, genia l, 
sedutora, bondosa, honesta se es-
conde uma criatura tenebrosa. 
Quando se ol ha atentamente 
para a expressão de um psicopata 
tem-se a perturbadora se nsação de 
que não tem ninguém em casa. É 
quase como se olhássemos para um 
robô bem fabr icado. Tanto é que um 
psicopata não sabe da nçar. Pode re-
petir mecanicamente e até à perfei-
ção os movimentos da da nça, mas, 
Segundo estudos. 20% das pessoas que 
cumprem penas por diversos delitos nos 
presfdios s~o psicopatas 
se você observar bem, não h á senti-
mento, por isso é sem graça. 
Como não valoriza nada, nem 
sabe o que são va lores (sabe ape-
nas teoricamente), roubar, mentir, 
usar, desca rtar, ma nipula r são ações 
inconsequentes para ele. É su a at i-
vid ad e preferid a e natural. Mesmo 
quando d izer a verdade poderia lhe 
ser ma is va ntajoso, não o faz pelo 
prazer do domínio sobre o outro que 
a mentira lhe proporciona. 
A ação nefasta de uma pessoa que sofre de ps1copat1a. em vanas oportunidades. pode ser a ongem da 
desestruturação fam1har 
Não tem problema algum em ser 
pego em flagrante na mentira. In-
venta qualquer desculpa e continua 
andando. É importante presta r aten-
ção nas inconsistências. O psicopa-
ta pode dizer que gosta de nadar e, 
em outra ocasião, que nunca entro u 
numa piscina, no mar ou no rio. Psi-
copata tam bém erra. Embora jamais 
admita. E os culpados sempre são os 
outros, nunca ele. 
\V\V\v.portalcicnciacvid:t.com.br psique ciêncio&.-vida 25 
3tlf PSICOPATOLOGIA 
Um efe ito colateral da mentira 
é a capacidad e inconcebível d e con-
vencer os outros, que o psicopata 
exerce à vontade. Seu di scu rso pode 
levar à ovação delirante da plateia, 
mas, se prestar aten ção, se vê que é 
um discurso superficial, não h á vi-
vência que lhe dê suporte, só palavras 
jogadas habilmente. Ele as usa como 
arma para co nseguir o que qu er, in-
clusive enlouquecer a vítima com 
uma salada de palavras. A lgo ap aren-
temente lógico, aparentemente enca-
deado, mas sem nexo algum. Outra 
a rma preferid a é a atração sexual, 
que ele e principalmente ela usa m à 
perfeição, m a nipulando a ene rgia de 
seu a lvo a ponto de submetê-lo to tal-
mente. E mbora a maioria dos p sico-
patas seja homem, há muita mu lher 
que apresenta psicopatia. 
O a lvo prefe rido do ps icopata é 
a pessoa bondosa, de licada, sensí-
vel, ca rente, fragilizada por a lg um 
traum a recente, um a perda, com 
uma necessidade premente. E le en-
tra por essa brecha como o sa lvador 
da pátria. Seu alvo é alguém que 
O discurso de 
um psicopata 
pode levar à 
ovaçao delirante 
da plateia, mas, 
se prestar atenção, 
se vê que 
é superficial, 
não há vivência 
que dê suporte 
às palavras 
pode proporcion ar-lhe a lg uma van-
t agem co mo dinheiro, sexo, poder, 
status, salvo -conduto de respeita-
bil id ade, todas elas juntas ou u ma 
ou outra que responda à sua neces-
sid ad e do momento. Como o psico-
pata é um paras ita, jamais fic a sem 
uma fon te de abastec ime nto. Antes 
de largar a fonte atua l à beira de se 
esgotar, já assegu ra a próxima. E as-
sim vai. 
Pelas porcentagens retiradas de pesqu1sas e estudos é possível d1zer que em cada escola ex1ste. no 
min1mo. um psicopata 
26 psique ciência&vida 
• CID-10 • 
O distúrbio que afeta os ps1copatasaté 
hoje nêlo e considerado doença pela . 
CID-10 (Ciass1f1cação Internacional de 
Doenças e Problemas Relac1onados a 
Saúde). Trata-se de uma publicaçêlo da 
Organ1zação Mundial da Saúde (OMS) e 
tem por objetivo padronizar o conce1to 
de doenças A CID-10 fornece cód1gos 
relativos a class1f1caçêlo de doenças e 
de uma grande variedade de s1ntomas. 
aspectos anorma1s. que1xas e causas 
externas das patolog1as. 
Avisos ignorados 
As pessoas es tão se mpre pro ntas a relevar pequenos avisos de 
que a lgo pode estar errado. Perce-
bem uma reação emocional no mín i-
mo esquisita, que não combina com 
o estímulo nem em qu alidade nem 
em inte nsidade . D e tecta m incoerên-
cias, s uspeitam de inverdades, mas 
colocam essas coisas na conta da s 
esquisit ices e neuroses comu ns a to-
do s nós . E tratam o psicop ata como 
se fosse um ser huma no. É jus ta men-
te aí que mora o maior perigo. O psi-
copata n ão tem reação de ser huma-
no, como compa ixão, solidariedade, 
empati a, respeito, responsabilidade, 
amor. Fi nge. E se aproveita d a capa-
cid ade dos seres huma nos de tudo 
isso p ara alistá-los em s ua defesa, fa-
zendo -os d a rem-lhe dinh eiro, a feto, 
tempo, compreensão, desculpando-
-o p or algu ns "deslizes" e, princi-
pa lme nte, compadecendo-se pelos 
traumas que ele v iveu, os abusos e as 
inju stiças q ue sofre u, as dific ulda-
des pelas quais passou, tudo inven-
tado por ele no melhor estilo de um a 
obra de ficçã o. 
E s tuda sua vít ima fria e calcu -
lad a me nte pelo tempo necessário, 
Com frequência. as vitimas são alvo de emboscadas bem planejadas. sem p1stas. como um aparente 
acidente de carro 
Alertar a sociedade é de urgente utilidade 
pública. O primeiro passo é informar e 
esclarecer. Para a grande maioria das pessoas 
é quase impossível conceber que um ser 
humano seja totalmente amoral 
juntando elementos para esboçar o 
seu plano de ação. Como o leão es-
tuda um veado que quer caçar para 
comer, estuda seus gostos, suas 
manias, seu comportamento, seus 
medos, suas vulnerabilidades, seus 
desejos mais secretos. Uma vez 
co nstruído o piano de ação, passa 
à execução de maneira calcu lada, e 
mantém a farsa pelo tempo neces-
sário até obter o que deseja. Então, 
descarta o doador forçado sem um 
pingo de remorso. 
Existe protocolo para atender 
vítima de sequestro, de estupro, de 
violência doméstica, vítima de es-
telionato, de falcatrua, de roubo, 
mas não existe para atender vít ima 
de psicopata. Não existe, tampouco, 
proteção legal, não há advogados 
es pecia lizados em sua defesa e, na 
grande maioria dos casos, o psico-
p ata enrola até o juiz e sai il eso do 
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caso, v irando tudo do avesso, trans-
formando-se em vítima quando é 
o algoz e descarregando o ônus em 
cima da v ít ima rea l. 
Os profi ssionais de saúde que 
recebem essas vítimas em seus con-
sul tórios, na grande maioria, não 
sabem pelo que realm ente essa pes-
soa passou e o que ela precisa para 
começar a se recuperar do tsuna-
mi que devastou sua vida . A vítima 
chega incompreendida até por sua 
família, seus amigos, que acabam 
acusando-a de ter s ido responsáve l 
por ter "confiado" no psicopata. É 
quase impossível não cair na arma-
dilha uma vez que o psicopata deci-
da capturar a pessoa. 
Numa relação afetiva, a primei-
ra fase, d a conqu is ta, é algo que a 
vítima jamais experienciou igual na 
vida. Ela se torna o centro de aten-
ções dele, é cumulada de elogios, 
presentes, toda espec1e de mimos, 
bajulações, a ta l ponto que a vítima 
não enxerga mais nada a não ser o 
príncipe encantado que se materia-
lizou na sua frente. Todos os indí-
cios de possíveis incongruências, 
d e possíveis inverdades são camu-
flados pelos fogos de artifício. Dei-
xa para lá todas as anteriores, horrí-
veis, que nem chegam aos seus p és. 
E la é fi na lmente a mu lher que ele 
esperou a vida toda (ou vice e ver-
. sa) . Deve ser um encontro p laneja-
do nos céus, que agora finalmente 
se realiza. 
A vítima se entrega aos pedaços até 
se entregar inteira. Passa a senha da sua 
conta bancária, transfere para o nome 
dele suas propriedades, faz-lhe uma 
procuração conferindo plenos pode-
res. Deixa-o usar todos seus contatos 
profissionais, o psicopata se intromete 
na família da vítima a ponto de criar 
conflitos insolúveis, toma conta das 
amizades e afasta todas, eliminando 
ass im o sistema de suporte da vítima. E 
Desvios de conduta graves. como roubar. 
mentir. usar. descartar. manipular são açôes 
inconsequentes e corriqueiras para o psicopata 
psique ciência&,•ida 27 
~ PSICOPATOLOGIA 
.Jmbora não seJa 
o ma1s comum. a 
mulher também pode 
ser ps1copata usando 
a atração sexual para 
mampular seu alvo a 
ponto de consegu1r o 
que qu1ser 
Os profissionais de saúde que 
recebem vítimas de psicopatia em seus 
consultórios nao sabem pelo que realmente 
essa pessoa passou e o que ela precisa 
para se recuperar do trauma vivido 
a lábia dele é tão convincente que não 
há dúvida de que esteja fazendo tudo 
porque ama e quer o bem da vítima. 
Pronto, agora que o alvo está sob seu 
domín io, fim da primeira fase. 
NAS BANCAS! 
Na segunda fase, o psicopata co-
meça a mudar a máscara. Conseguiu 
tudo que queria. Está entediado, 
precisa de novidade. J á não se mos-
tra tão deslumbrado com a víti ma. 
Aparece m insatisfações aqui e ali, o 
que antes era fantástico passa a ser 
defei to. Se antes ele ado rava a comi-
da fe ita pela v ítim a, agora ele prefe-
re comer fora. 
Ele se mostra infeliz e, claro, a 
culpa toda é transm itida ao alvo. A 
vítima se esmera mais e mais para 
agradar e ter de volta aquele homem 
maravilhoso da primeira fase. Mas 
isso não acontece. Aparecem peque-
nos indícios da fase boa aqui e ali, 
para logo voltar infeliz e perturbado. 
Culpa do que~ 
O s maus-tratos são entendidos pela vítima como "merecidos". 
Isso a faz ficar cada vez mais subjuga-
da a ele, em estado de alerta. A vítima 
deixa passar todas as incongruências, 
pede desculpas por algo que não fez, 
tenta reparar algo que nem entende 
direito o que é. 
O ps icopata costu ma d eixa r 
pis tas aqui e al i da presença de ou-
t ras mulheres na vida dele. Mesmo 
após tantos indícios, a vítima refle-
te como é possível ter dúvidas sobre 
um homem tão íntegro e honesto? 
Ao mesmo tempo em que se sente 
enlo uquece r com a sit uação. 
A segunda fase se conclu i com a 
vítima transformada num espectro 
ambulante . Essa tortura psico lógi-
ca esvaiu suas forças vi t ais. As pes-
soas não a reco nhece m. O q ue foi 
que aconteceu? A vítima então en-
tra em um ciclo perigoso de estre s-
se psicológico. Torna-se incapaz de 
func iona r no trabalho, nas t arefas 
mai s corr ique iras . Há a tentativa 
de conversar, d e ho ras e ho ras, q ue 
não chega m a lu gar a lg um. E esse 
esvaziamento e sofrimento psico-
lógico são um deleite de diversão 
para o psicopata. 
Descarte 
Então, na t e rce ira fase se inicia o desca rte. Ele já encontrou 
sua próxima vít im a, e vai desp er-
sonaliza nd o a ví tima anterior, vai 
convence ndo que nada presta nela. 
O jogo então se aprofunda e o psi-
copata começa a acusar a ví tima de 
problem as ps icológicos, co m m ania 
de ver co isas qu e não existem. A ví-
tima se encontra tão d il acerada que 
A pessoa carente. fragihzada por algum trauma recente. é o alvo preferido. Ele ganha confiança a ponto 
de consegu1r a senha do banco de sua vitima 
ace ita ir ao médico para se tratar. 
E le se ausenta ca da vez mais 
lo nga me nte, se m dizer para o nde 
vai, ou dizendo que precisa espaire-
É importante prestar atençao 
nas inconsistências. O psicopata 
pode dizer que gosta de nadar e, 
em outra ocasiao, que nunca entrou 
numa piscina, no mar ou no rio 
cer, desca nsar das lamúrias da víti-
ma, que nesse ponto es tá realm ente 
em pedaços. E nqua nto ele p repa ra 
o terreno de o utro alvo, mantém a 
anterior sob con trole, tendo mo-
mentos de carinho e atenção que 
fazem lembrar do homem

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