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FSCE 53/2020 Cidadão FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA I Organizadores Adriana Pacheco do Amaral Mello Jessica Akemi Kawano Ribeiro Márcio Ricardo Dias Marosti Marta Ferreira Gomes de Lima Coordenação Fabiane Carniel APRESENTAÇÃO Quando recorremos ao significado da palavra experimentar, chegamos à ideia de “submeter à experiência; ensaiar, testar”. Pois bem, é isso que propomos a você, que a partir da leitura dos textos selecionados seja possível uma experiência de imersão nessa leitura permitindo conhecer mais sobre cada um desses temas e ainda como eles circulam em nossa sociedade. Assim, uma leitura crítica na qual você se permita interagir com o texto, considerar seu autor e sua fonte, que possa relacionar com outras leituras e outras linguagens será fundamental nesse processo. Diante disso, apresentamos os textos selecionados e desejamos uma boa leitura! Equipe e Formação Sociocultural e Ética. PILAR INTELECTUAL Política, Economia e Meio Ambiente TEXTOS SELECIONADOS FILOSOFIA POLÍTICA Francisco Porfírio A filosofia política é a área de estudo da filosofia preocupada com as diversas questões políticas que emergem a partir do convívio social e da organização desse convívio em meio a uma agrupação humana. Diferentemente da ciência política, a filosofia política não usa um método específico para organizar os seus estudos e pressupostos, pois a sua pretensão pende muito mais para a problematização do que para a formação de conhecimento científico, no entanto, a filosofia política é um instrumento para a ciência política. Ao longo da história, vários pensadores, como Platão, Aristóteles, Maquiavel, os contratualistas, os iluministas e filósofos contemporâneos, desenvolveram as teorias que embasaram e movimentaram a filosofia política de acordo com as suas épocas. O que é filosofia política? A filosofia é um amplo movimento intelectual que atua nas bases conceituais do pensamento, sempre estabelecendo as perguntas ditas radicais: “O que é?”, “Como é?”, “Por quê é?”. Assim, a filosofia foi descrita pelo filósofo francês contemporâneo Gilles Deleuze como a arte de criar conceitos. A filosofia busca o entendimento, a movimentação e a constante criação de novos conceitos, sempre questionando e problematizando o que advém do senso comum, da opinião, da tradição e da religião. Com a filosofia política não é diferente, pois os filósofos desse campo do pensamento sempre buscaram estabelecer críticas e fomentar novas ideias que dessem movimento ao campo intelectual que se atreve a pensar e questionar o campo da organização política. O poder e a disputa permeiam o convívio humano. Deles nascem a política. Como em um jogo de xadrez, é necessário entender as regras no âmbito político. A filosofia política, ao diferenciar-se da ciência política por não haver uma pretensão metódica e científica, permitiu aos vários pensadores elaborar diferentes teorias sobre a organização política, mas sempre questionando e dialogando com o conhecimento anterior e estabelecendo novos conceitos acerca dos problemas políticos. Nesse sentido, os filósofos (e também teóricos) da política dedicaram-se a entender questões relacionadas a elementos políticos, como governo, Estado, as noções de público e privado, os diferentes tipos e formas de governo, além de noções éticas e econômicas estritamente relacionadas à política. https://s4.static.brasilescola.uol.com.br/be/2020/05/xadrez.jpg Governo e Estado Questão antiga para a filosofia política, as noções de governo e Estado são essenciais para a formação de qualquer pensamento, teoria, técnica ou doutrina política e econômica. Desde os estudos de política empreendidos por filósofos clássicos, como Platão e Aristóteles, há um consenso na determinação mais básica desses conceitos, mudando apenas as atribuições de cada um no âmbito político. Podemos assim conceituá-los: • Estado O Estado consiste no conjunto da máquina pública, ou seja, é o conjunto de mecanismos que compõem o organismo público e delimita aquilo que pertence à coletividade, que é diferente do que pertence ao âmbito privado. O Estado é delimitado pelo que é do conjunto público e é expresso e reconhecido como legítimo a partir de um sentimento que une pessoas (geralmente compatriotas que convivem no mesmo território) em torno de um sentimento patriótico comum e de uma cultura comum, que nutrem entre si um sentimento de solidariedade e coesão. O Estado, enquanto máquina pública, é fixo e, quando passa por mudanças, ou estas devem ser consenso entre os cidadãos ou devem ser graduais e acompanhar as demandas da sociedade. • Governo Ao contrário do Estado, que é fixo, o governo é transitório. Nas sociedades democráticas, a transição deve ser constante. Nas sociedades governadas por governos autoritários, a transitoriedade pode ser lenta. De qualquer modo, o governo é passível de mudanças repentinas, pois cada governante tem seu modo de comandar a máquina pública, aliás, este é o principal atributo dos governos – governar os Estados, gerir a máquina pública, exercer o poder no âmbito estatal. Aristóteles foi um dos primeiros filósofos políticos da história da filosofia. Principais pensadores da filosofia política Assim como a própria filosofia, que é vasta de pensadores e suas diferentes teorias a respeito dos mais variados temas, com a filosofia política não poderia ser diferente. Desse modo, temos, ao longo dos mais de dois mil anos de tradição filosófica, diversos autores que formularam diferentes pensamentos acerca do modo como governo, Estado, âmbito público, direitos, deveres e liberdade devem ser organizados. Listamos abaixo os principais pensadores da filosofia política e suas respectivas ideias: • Platão Autor da primeira obra de filosofia política (e também a primeira utopia política) – A República –, o filósofo grego antigo desenvolveu uma complexa organização política para o que ele chamou de cidade perfeita. Em sua república ideal, a educação deveria ficar totalmente a cargo do Estado desde a idade de 7 anos das crianças, que deveriam ser criadas e receber a educação de acordo com as suas aptidões. Os mais aptos à intelectualidade estariam também mais aptos ao governo da cidade, tornando-se o que Platão chamou de “Reis Filósofos”. Estes receberiam a educação formal e a instrução política e filosófica até passarem dos 40 anos de idade, época em que poderiam ser testados enquanto governantes. Platão era avesso à democracia https://s3.static.brasilescola.uol.com.br/be/2020/05/aristoteles.jpg como forma de governo e acreditava que a aristocracia chefiada pelo melhor e mais apto (o rei filósofo) deveria ser o governo adotado na cidade perfeita. • Aristóteles O filósofo grego clássico responsável pela sistematização do conhecimento filosófico dividiu os campos de atuação do pensamento geral e filosófico em três grandes áreas: técnico (responsável pela ação prática e técnica das artes e das técnicas, como a medicina); teorética (responsável pelo entendimento científico e filosófico de questões relacionadas ao pensamento puro, como a matemática, a lógica e a metafísica); prática (campo que proporcionava a práxis, que, para os gregos, era a ação embasada na reflexão). Participavam dessa práxis filosófica a política e a ética, pois são áreas filosóficas em que a ação humana é suportada por um pensamento filosófico (teórico). Para Aristóteles, o governo democrático reformulado (diferente da democracia ateniense) deveria tomar espaço para construir uma sociedade mais justa. O filósofo já falava de separação do Poder Legislativo e do Executivo (separação entre rei que governa e cidadãos legisladores), tal como propunha o modelo democrático ateniense, mas com a diferença de elegeruma Constituição como o conjunto de leis essenciais que não poderiam ser quebradas. • Maquiavel Pensador renascentista, o filósofo e teórico político florentino Nicolau Maquiavel é um dos principais filósofos políticos de todos os tempos. Apesar da aparente rispidez de suas teorias, o pensador é considerado referência em teoria política até hoje. Maquiavel defende uma estranha separação entre ética e política. Acontece que Maquiavel está pensando na teoria política como um suporte à manutenção do governo por parte do governante em seu livro O Príncipe. Para Maquiavel, o líder político deveria ser uma espécie de estadista estratégico e populista, procurando sempre o apoio político por parte do povo. Ele acreditava que era melhor que o governante fosse amado pelo povo do que temido. No entanto, quando o amor não viesse ou quando a situação não permitisse que o povo nutrisse sentimentos positivos por seu governo, o governante poderia usar o temor como forma de garantir a submissão do povo e a sua conseguinte governabilidade. Como medida de governabilidade, Maquiavel defendia, por exemplo, que ações boas e positivas do governante deveriam ser tomadas aos poucos e gradativamente, assim ele manteria sempre boas lembranças ao seu povo. Ações negativas e ruins (se necessário fossem) deveriam ser feitas de uma vez, pois assim o povo esqueceria logo o que se passou. • Contratualistas Filósofos políticos modernos, os contratualistas defendiam a existência de direitos naturais e de uma lei natural que regia esses direitos (jusnaturalismo). Para esses pensadores, a lei de natureza definia direitos que deveriam ser respeitados pelas formas de governo. Eles defendiam também que a lei de natureza era a única que regia o estado de natureza, momento hipotético em que o ser humano não vivia ainda em sociedade civil. O pacto, ou contrato, social era o marco entre o estado de natureza e o estado civil e era firmado para garantir o cumprimento dos direitos naturais dos cidadãos e resolver as questões não solucionadas pelo direito natural. São filósofos contratualistas modernos o inglês Thomas Hobbes, o inglês John Locke e o franco-suíço Jean- Jacques Rousseau. John Locke, um dos filósofos contratualistas. https://s3.static.brasilescola.uol.com.br/be/2020/05/3-john-locke.jpg • Iluministas Os filósofos modernos do iluminismo formaram teorias políticas muito influentes no âmbito da filosofia política. Eles, em geral, posicionaram-se contrários à monarquia absolutista como regime de governo e defenderam a garantia de certos direitos básicos, que seriam inalienáveis, por parte do Estado independentemente do governo. Esses direitos eram as liberdades individuais (liberdade de expressão, liberdade religiosa, liberdade de ir e vir), além do direito à propriedade e à livre associação política. Também defenderam a participação de não nobres no governo e a separação entre Estado e Igreja. Para os iluministas, quanto mais houvesse avanço intelectual na sociedade, maior seria o avanço moral. Por isso, eles levantaram a bandeira da popularização do conhecimento e do fornecimento à população de uma educação laica, gratuita e universal por parte do Estado. Os ideais iluministas inspiraram fortemente a Revolução Francesa. Teóricos como Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Diderot e D’Allambert fizeram parte do chamado iluminismo francês. Na Alemanha, alguns ideais iluministas ganharam destaque na filosofia do pensador prussiano Immanuel Kant. • Escola de Frankfurt Já estabelecidos no século XX, os pensadores da Escola de Frankfurt (também conhecidos como frankfurtianos) colocaram-se, primeiramente, a adotar as teorias políticas e econômicas de Karl Marx como modelo ideal para a aplicação na sociedade. Eles também criticaram pontos específicos do iluminismo, como a ideia de que o avanço intelectual da sociedade promoveria o seu avanço moral. Os frankfurtianos utilizaram o fenômeno do totalitarismo do século XX para embasar sua teoria contra o iluminismo: o avanço do conhecimento científico não promoveu o avanço moral, pois o capitalismo permitiu que a técnica e a ciência, avançadas no século XX, fossem utilizadas para promover a morte em massa das pessoas nos campos de concentração. A política empreendida pelo capitalismo, na ótica dos autores, era responsável pelo mesmo tipo de pensamento que desencadeou o totalitarismo. • Hannah Arendt Hannah Arendt é um grande nome nos estudos da filosofia política. Judia e alemã, a filósofa e teórica política Hannah Arendt é uma das principais vozes do pensamento filosófico político contemporâneo. Arendt empreendeu um dos maiores estudos filosóficos sobre o totalitarismo, o livro As Origens do Totalitarismo. Ela também traçou estudos específicos sobre o totalitarismo e a política contemporânea. Uma de suas obras mais difundidas, o livro Eichman em Jerusalém, traça uma análise do perfil, da defesa e do julgamento do criminoso nazista Adolf Eichman, foragido e capturado pelo serviço secreto israelense em 1962 e julgado e condenado em um tribunal de exceção. PORFÍRIO, Francisco. Filosofia política. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/filosofia-politica.htm. Acesso em: 02. jul. 2020 (adaptado). https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/filosofia-politica.htm https://s5.static.brasilescola.uol.com.br/be/2020/05/hannah-arendt.jpg ECONOMIA GLOBAL E O FUTURO TRAÇADO PELO FMI André Barros Crédito: Reprodução. As consequências econômicas da pandemia de Covid são altas e refletem em ações emergenciais para que empresas amenizem o impacto provocado pela propagação global do vírus O coronavírus é uma realidade mundial. Infelizmente, sua disseminação atingiu níveis de difícil contenção e expôs a urgência de medidas drásticas por parte de líderes e autoridades governamentais. Para diminuir a circulação das pessoas e reduzir a chance de contágio em aglomerações, a implementação da quarentena temporária surgiu como método https://static-wp-eqi15-prd.euqueroinvestir.com/wp-content/uploads/2020/06/fmi-590x391.jpeg eficaz no combate ao Covid-19, e não por acaso, está sendo utilizada pela maioria dos países acometidos. Como consequência, o fechamento do comércio e a suspensão de trabalhos presenciais que não se enquadrem em atividades essenciais, trouxe novos desafios para a economia global. Evidentemente, há de se destacar que a luta contra o vírus deve ser um compromisso compartilhado por todos. Em um momento tão fragilizado, a valorização humana será um dos maiores pilares para que juntos possamos superar esse período conturbado. No Brasil, a situação é similar. O panorama é de instabilidade e de um mercado incerto sobre os próximos meses. Quais são as projeções? O que está sendo feito para recuperar a condição econômica do país? Entender o contexto que vivemos é o primeiro passo para buscar alternativas cabíveis nesse sentido. Acompanhe! Por parte do Fundo Monetário Internacional (FMI), a noção é de que essa crise irá provocar uma recessão global ainda este ano, com expectativa de recuperação para 2021. O fundo ainda destaca a importância da contenção e fortalecimento do sistema de saúde ao redor do mundo, afinal, se o mesmo for capaz de agilizar a superação do vírus, terá papel fundamental para a retomada econômica e a normalização das atividades trabalhistas. Quanto antes o quadro de contaminação for controlado, mais rápido e eficiente será o processo de recuperação. O FMI ainda afirma que quase 80 países buscaram o órgão internacional em busca de suporte financeiro. É inegável que o impacto econômico é de uma abrangência preocupante e requer respostas rápidas entre executivos e gestores. A missão de proteger a população e amenizar os danos econômicos é geral e deveditar as ações tomadas pelos líderes. No entanto, é importante atentar-se às notícias positivas no meio da crise atual. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou uma série de medidas e pacotes que totalizam 55 bilhões de reais para confrontar os problemas econômicos ocasionados pela pandemia. Entre as iniciativas, a suspensão dos pagamentos de empréstimos diretos e indiretos, assim como a transferência de valores para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a disponibilidade de mais recursos para empresas de médio e pequeno porte, são implementações emergenciais que visam simplificar a vida de cidadãos e empresas em um cenário extremamente fragilizado. Uma das áreas mais impactadas, os pequenos e médios negócios ainda terão uma ampliação de crédito no valor de 5 bilhões de reais. A prioridade é clara: ajudar na manutenção de mais de 2 milhões de empregos, expandindo a capacidade financeira e preservação de praticamente 150 mil empresas. Infelizmente, o declínio econômico é uma realidade para a maioria massiva dos países. Não se trata de ser otimista ou pessimista, mas fiel ao realismo que nos cerca diariamente. O Covid-19 não mudou somente o estilo de vida da população brasileira, também escancarou uma necessidade imediata de se traçar planejamentos estratégicos quanto à economia. Aos executivos e gestores, fica a importância de mostrar serenidade para tomar as decisões corretas e um diagnóstico preciso por parte das autoridades, bem como o suporte governamental. Com a melhora gradual do cenário, a tendência é de que projeções sejam cada vez mais assertivas. A incerteza instaurada pela pandemia global é uma das maiores vistas nos últimos tempos, e é através da unificação de forças que esse período será contornado. BARROS, André. Economia global e o futuro traçado pelo FMI. Disponível em: https://diariodocomercio.com.br/opiniao/economia-global-e-o-futuro-tracado-pelo- fmi/. Acesso em: 03. jul. 2020 (adaptado). https://diariodocomercio.com.br/opiniao/economia-global-e-o-futuro-tracado-pelo-fmi/ https://diariodocomercio.com.br/opiniao/economia-global-e-o-futuro-tracado-pelo-fmi/ ÉTICA E MEIO AMBIENTE Murilo Valle Crédito: Reprodução. A ética resumidamente pode ser caracterizada pelo conjunto de valores e princípios que norteiam a conduta humana e propiciam o equilíbrio e bom funcionamento da sociedade, contudo, é notadamente desconhecida por muitos. A adversidade nas relações sociais, nos diferentes âmbitos, por muitas vezes, traz à tona características terríveis das pessoas que produzem comportamentos imorais e antiéticos, geralmente com a desculpa de que era necessário para resolver um problema. Não obstante, é importante reiterar que os fins não justificam os meios. Também cabe destacar que a expressão humana nas mídias sociais é algo alarmante. A questão não é a política, nem o sistema, nem a ideologia, nem se é direita, esquerda, centro, mas sim a péssima qualidade humana que toma vulto entre nós. A sociedade precisa de injeção de ética. O excesso de confiança, não temer a lei e até mesmo negligenciar a consciência tornam o indivíduo insensível às relações sociais, passível de aviltar a honestidade em prol de objetivos egoístas. https://diariodocomercio.com.br/wp-content/uploads/2018/11/meio-ambiente-696x400.jpg Assustam ainda determinadas medidas que levam o Brasil ao retrocesso nas questões ambientais, na educação, na ciência e na tecnologia. Alguns posicionamentos no âmbito federal referentes às questões ambientais, por exemplo, fornecem de forma indubitável, indícios de que as decisões não são isentas de interesses pontuais que atendem diminuta parcela da sociedade brasileira em detrimento do desenvolvimento sustentável e efetivo para a nação. Reduzir áreas de proteção permanente e comprometer pequenos produtores e a agricultura orgânica, para beneficiar diretamente a produção em larga escala, e atender a interesses do mercado globalizado; permitir o uso de agrotóxicos de alto poder de toxicidade; revogar decreto que estabelece Unidade de Conservação de proteção integral para atender interesses pessoais; e permitir implantação de indústrias com a justificativa que irá gerar trabalho e renda, em detrimento de questões ambientais e socioculturais são questões éticas que muitos não querem enxergar. Estabelecer que questões ambientais atrapalham o desenvolvimento com a desculpa de que são burocráticas é pedir para o Brasil retroceder, pelo menos, uns 50 anos na história ambiental. Vamos voltar às décadas de 1960 e 1970 quando o Brasil serviu de arcabouço para a adoção de medidas e tecnologias inadequadas que suscitaram os nocivos passivos ambientais que conhecemos no presente. Esse é o futuro? Desenvolvimento a qualquer custo, menos qualidade de vida, mais poluição, menor biodiversidade? Retrocesso. Os casos de Mariana e Brumadinho mostraram o resultado de negligência e, ainda, na contramão, coloca em risco uma cadeia profissional que envolve engenheiros ambientais, biólogos, geólogos, químicos, geógrafos, sociólogos, entre muitos outros profissionais, cujo direcionamento de formação foi alicerçado para o crescimento e desenvolvimento sustentável. As questões ambientais devem compor os valores da sociedade e não servir a interesses de poucos. Enquanto a educação não se tornar a base de sustentação, viveremos no campo da hipocrisia. Isso é uma questão de ética. Isso delineará nosso futuro comum. VALLE, Murilo. Ética e meio ambiente. Disponível em: https://diariodocomercio.com.br/opiniao/etica-e-meio-ambiente/. Acesso em: 08. jul. 2020. https://diariodocomercio.com.br/opiniao/etica-e-meio-ambiente/ PILAR PROFISSONAL Ciência e Tecnologia TEXTOS SELECIONADOS HOLOFOTES VOLTADOS À CIÊNCIA EM MEIO À PANDEMIA Omar Rodrigues Comunicar ciência é sempre um grande desafio, pois exige do profissional de comunicação trabalhar sob duplo rigor: o científico e o jornalístico – ambos calcados na necessidade de se investigar e apurar informações e dados até o ponto em que não haja mais dúvida sobre a veracidade do que é dito. A informação científica de qualidade, que sempre foi de extrema importância, tornou- se ainda mais imprescindível no cenário provocado pela pandemia do novo coronavírus. Desde que a doença começou a se espalhar pelo mundo, temos visto uma profusão de notícias disseminadas nem sempre com o devido cuidado, em detrimento daquilo que deveria ser o objetivo de tudo o que deriva da produção científica: o esclarecimento da sociedade. Para combater isso, criou-se no debate público uma movimentação em favor do fortalecimento da ciência. Veículos de mídia contam hoje com editorias criadas para informar exclusivamente sobre os diversos aspectos da pandemia, com pesquisadores como fontes em programas jornalísticos ao longo de toda a programação e com intensos debates em torno de assuntos antes restritos às rodas acadêmicas. Tudo para esclarecer a população em relação a uma doença que pegou todos de surpresa e causou grandes impactos sociais, culturais, econômicos e ambientais. Aos poucos, a sociedade aumenta a percepção do valor da ciência e da importância das informações que ela produz. No início de maio, a Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência divulgou manifesto no qual ressalta que “divulgar pesquisas científicas ajuda a tornar as pessoas mais informadas sobre como a ciência e a tecnologia estão em nosso cotidiano. Trata-se também de inspirar crianças e jovens para um mundo onde o conhecimento abre portas”. No âmbito da comunicação científica, a conservação do meio ambiente é um tema que pauta de forma recorrente grandes debates, tangenciando, inclusive, aspectos relevantes para se evitar novas pandemias, como a redução do desmatamentoe o combate ao tráfico de animais silvestres. Neste caso, comunicar bem significa demonstrar à população a conexão entre a proteção da natureza e o bem-estar social, a saúde e o desenvolvimento sustentável. Parte essencial dos mais diversos projetos de pesquisa e preservação da biodiversidade, desenvolvidos ou apoiados por organizações que atuam há décadas com este propósito, está em comunicar o conhecimento e as conquistas para a sociedade, demonstrando a importância do nosso patrimônio natural. De pouco adianta a produção científica se os resultados por ela obtidos não ajudam no esclarecimento das pessoas. Assim, comunicar ciência também faz parte da ciência. Em meio ambiente, reforçamos que “é preciso conhecer para preservar”. Significa dizer que somente a partir do momento em que as pessoas conhecem a biodiversidade, têm contato com a sua beleza, vivenciam experiências e entendem os riscos a que está sujeita é que terão ferramentas e motivações adequadas para preservá-la. Sem dúvida, a crise do coronavírus criou uma oportunidade para a comunicação científica se fortalecer no mundo e no Brasil, principalmente por despertar maior respaldo da população em relação ao trabalho científico. Jornalistas e profissionais de comunicação corporativa, assim como empresas e outras organizações, têm agora um compromisso ainda mais forte em produzir conteúdo de qualidade, baseado em informações confiáveis e endossados por fontes especializadas. Esse é o caminho para que a comunicação científica se fortaleça e para que o esforço empenhado na validação da ciência durante a pandemia não sucumba com a disseminação de más práticas. RODRIGUES, Omar. Holofotes voltados à ciência em meio à pandemia. Disponível em: https://www.bemparana.com.br/noticia/holofotes-voltados-a-ciencia- em-meio-a-pandemia#.XwYiyOd7nIU. Acesso em: 08 jul. 2020. “A CIÊNCIA NÃO É CHEIA DE CERTEZAS" Helio Gurovitz Artur Avila, primeiro brasileiro ganhador da medalha Fields, uma espécie de 'Nobel da matemática', em 2017 no Rio de Janeiro — Foto: Divulgação Impa https://www.bemparana.com.br/noticia/holofotes-voltados-a-ciencia-em-meio-a-pandemia#.XwYiyOd7nIU https://www.bemparana.com.br/noticia/holofotes-voltados-a-ciencia-em-meio-a-pandemia#.XwYiyOd7nIU https://s2.glbimg.com/qcXArWRK1Y5eijIm6JzSKZMD0LA=/0x0:1700x1065/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2017/g/l/B9mO7ASbSBdUEAX25fsw/artur-avila-foto-divulgacao-impa.jpg Da última vez que entrevistei Artur Avila, em 2014, ele estava em Seul. Acabara de receber a Medalha Fields, honraria frequentemente comparada ao Prêmio Nobel, concedida aos melhores matemáticos do mundo com menos de 40 anos. Único brasileiro agraciado com a láurea, Artur é não apenas um dos cientistas de maior sucesso do país. Também é a prova viva de como é possível formar pesquisadores de qualidade internacional aqui no Brasil. Doutorado pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) em 2001, ele divide seu tempo desde então entre pesquisas em Paris, Rio de Janeiro, Zurique e aonde mais a matemática o levar. Como parte da iniciativa #CientistaTrabalhando, promovida pelo Instituto Serrapilheira para celebrar o Dia Nacional da Ciência, Artur conversou comigo, enquanto caminhava por ruas e bulevares parienses. Descreveu as dificuldades e oportunidades para cientistas no Brasil, criticou as ambições de modelos matemáticos adotados na pandemia, analisou as origens do pensamento anticientífico e, distraído, percebeu a certa altura que estava perdido. Queria ir para casa, perto da Praça da Bastilha, mas a caminhada o levara até a Praça da Nação. “Sou totalmente sem noção de direção”, disse. “Fui pra onde o nariz apontou na conversa.” Mas rapidamente recobrou o rumo. Da caminhada e da prosa. Abaixo, os trechos principais: O que mudou na sua vida depois da Medalha Fields? Você é reconhecido na rua? Pedem autógrafo? Na carreira acadêmica, isso põe você numa posição mais tranquila. Tenho a vantagem de poder escolher onde vou trabalhar e facilidades pessoais. Mas, no final das contas, matemática é matemática. Entre as ciências, é a que dá menos importância à hierarquia. Não existem argumentos de autoridade. A liderança depende da capacidade de tomar decisões certas a cada hora. Um pesquisador hiper- reconhecido pode dialogar com um estudante principiante e, se o estudante estiver certo e mostrar isso, terá de aceitar. Isso é muito bom, é uma maneira de não viciar a prática. Eu já tinha reconhecimento entre matemáticos antes da medalha. O que mudou foi o reconhecimento fora da matemática, que se traduz no fato, por exemplo, de dar esta entrevista, porque podem considerar que sou alguém a ouvir como cientista. No Brasil, não há tantos cientistas com reconhecimento público. Quando sou levado a encontros com jovens, então, tenho um papel que pode ser motivante, útil para um iniciante ter a ideia de que é possível haver um pesquisador de sucesso internacional vindo do Brasil. No nível pessoal, quando estou no Brasil, não tem muita diferença, não costumo ser reconhecido na rua. Você é um dos cientistas brasileiros mais bem-sucedidos. Também mora há muito tempo fora do país. Quais as dificuldades de fazer ciência no Brasil? Há vantagens? Há dificuldades específicas do Brasil e existe um panorama mais geral, internacional. Não devemos ter essa ideia de que a vida do cientista fora do país é essa maravilha toda. Depende do nível da carreira. Fora, a situação do jovem pesquisador que tenha terminado um doutorado costuma ser bastante precária. Não há empregos permanentes por muito tempo. Muitos ficam em situação de dificuldade, de pós- doutorado em pós-doutorado, com poucos anos de diferença, frequentemente têm que mudar de país. Fica difícil criar laços familiares. É psicologicamente bem pesado, mas é a realidade. Um pesquisador que atingiu a estabilidade já terá uma situação diferente. Isso é válido na Europa, nos Estados Unidos e em outros lugares. No Brasil, existem dificuldades específicas, que se traduzem em problemas e oportunidades também. A ciência no Brasil é jovem em comparação com os grandes centros internacionais. Uma dificuldade que vem daí, associada a outros problemas do país, é que não existe política estável de pesquisa. Mas existe alguma coisa que pode ser positiva em relação à Europa: essa mesma juventude significa que há um potencial de crescimento bem maior. Na Europa, a situação está saturada, a comunidade acadêmica está consolidada, não há espaço para crescer. Só há abertura para novos pesquisadores na medida em que outros se aposentam. No Brasil, há potencial de crescimento. Não é realizado de maneira eficaz, mas é algo que dá esperança. O que o Impa, onde você se formou, tem de diferente em comparação com o resto da ciência nacional? É uma instituição não muito comum no cenário brasileiro. Por uma questão da formação e questões históricas, foi um instituto criado com uma concepção específica, por pesquisadores independentes, que tentaram fazer um grupo pequeno, focado na excelência. Cresceu com a ideia de sempre chegar num alto nível internacional de pesquisa. Isso foi possível, em particular, porque você não precisava de recursos para competir imediatamente. Precisava criar a oportunidade de atrair pessoas. Mas isso é menos complicado que competir com um laboratório no exterior. Não é uma instituição ligada a uma universidade, que sofra as mesmas pressões. Está focada na pesquisa e no ensino de pós-graduação, embora depois tenha se tornado algo que influencia a matemática num nível maior no Brasil. Várias coisas permitem que o Impa tenha se estabelecido nessa situação ao longo do tempo. Hoje funciona de maneira eficiente, tem reconhecimento internacional, as questões práticas são bem resolvidas. Mesmoque seja afetado pelo que acontece no nível nacional, continua insulado das principais dificuldades que afetam outros departamentos e universidades. Que tipo de dificuldade? A maioria dos governos que se estabelecem não tem muita noção de por que se investe em ciência e de como a ciência funciona. Entra governo, sai governo, você tem a impressão de que o ministério correspondente é um adendo para distribuir cargos a aliados políticos, não algo central ao país. Não há política de desenvolvimento científico. Na instabilidade, pode haver oportunidades num certo momento, depois muda a situação, aí elas são cortadas brutalmente. Isso afeta todo mundo que tinha investido sua educação e seus sonhos, que acaba tendo as esperanças traídas por sucessivas decisões governamentais. Minha impressão é que é algo que acham que têm de fazer, mas não sabem por que nem como se faz. Há ignorância a respeito da importância da ciência mesmo na elite política? De como a ciência funciona também. Não sabem nem para que nem como se faz. As decisões tomadas são incompatíveis com ciência de qualidade. Você cria grupos, inicia projetos, depois corta. Toda essa ciência que para no meio do caminho não obtém resultados. Costumo fazer uma analogia: o governo é sensível à ideia de que é importante buscar estabilidade nos mercados, para investidores sentirem confiança e apostarem no país. Essa compreensão é fácil na economia. Pois o mesmo raciocínio se aplica à ciência. Você não desenvolverá ciência numa situação de instabilidade. Isso vale do ponto de vista pessoal. Quem tem certas características e habilidades não investirá a juventude numa direção, quando de repente tudo pode mudar completamente. Você faz um doutorado, acaba, daí as coisas não existem mais. Não é razoável. Não dá para atrair capital humano para fazer um investimento pessoal nessa situação. Dependendo de como for, as pessoas não vão topar. O mesmo talento de que precisam para ser cientistas capazes serve para arrumar empregos mais estáveis. Por mais que você ame fazer ciência, que isso faça você sonhar, pode ser até loucura seguir a carreira num panorama assim. Do ponto de vista do trabalho, a matemática é diferente? Cada atividade científica tem suas características. A matemática é uma coisa relativamente barata de fazer, se comparada a ciências em que você tenha experimentos. Se não tiver condições e recursos para eles, simplesmente não pode avançar. Em matemática, só é preciso ter os pesquisadores. Na maioria dos casos, trabalham com a própria cabeça, precisam apenas de um quadro negro ou coisa do tipo. É uma atividade mais barata. Nunca a ciência foi tão atacada. Na pandemia, o negacionismo tem consequências dramáticas. Existe algo que possamos fazer? Como sair desse impasse? Nem é preciso entrar em muitos exemplos – penso logo nas vacinas – para ver que a postura anticientífica é atraente em certos meios. Por que isso acontece? Primeiro, está associado à polarização política. As pessoas escolhem seu campo a priori. Estão tão atreladas à própria posição, que a ciência que desafiá-la precisa ser descartada para continuarem a viver bem. Quando se recusam a criticar o próprio campo ideológico, isso conduz, de certa maneira, a rejeitar a ciência que apresentar uma crítica a ele. É parte da maneira como as pessoas vivenciam a política. Todo mundo na verdade está exposto a isso. É preciso reconhecer que, em qualquer lado da polarização que você esteja, filtrará as informações e rejeitará conclusões científicas contrárias. Não é questão de dizer que todo mundo é igual. Mas, quando a gente faz uma crítica – e deve sempre criticar – a posições como o terraplanismo, é sempre bom ver se não se dispõe a fazer o mesmo quando a crítica vier na sua própria direção. O discurso político é muito raso para comportar a complexidade de uma discussão científica. Inclusive porque a ciência não é cheia de certezas. Lidar com a nuance e com a maneira como ela se desenvolve, com margens de erro, é complicado. Quando vira um Flá-Flu, quando você fica torcendo pra sair o resultado que quer, não olha para a ciência como uma fonte de saber, mas só para tentar justificar ações que já tinha decidido anteriormente. Isso vale para a pandemia, não? É realmente um assunto complexo. As pesquisas que a gente tem que fazer neste momento são muito difíceis. As evidências são parciais, porque você simplesmente não tem condições de esperar o tempo natural da ciência, que é lento, para tomar decisões com o nível de certeza que todos gostaríamos. Gostaria de poder ter mais e mais dados para tomar a decisão correta. Só que não agir pode levar a consequências piores. Pela própria natureza, são questões não só científicas, mas decisões da sociedade. Todos os campos, inclusive ciências humanas, têm de interagir para entendermos como atuar na situação em que estamos. E não só ciência. A ciência só pode fazer uma parte do papel. Por outro lado, para além das asneiras e teses conspiratórias, a população passa a encarar a ciência como um recurso numa situação dessas. Os cientistas é que vão ajudar. Não sendo milagreiros, eles são nossa melhor esperança. Isso reforça a importância da ciência. Também é um desafio para os próprios cientistas, que não estão acostumados a fazer a ciência em tempo real… Não é aquilo a que eu, pelo menos, estou acostumado (risos). Faço matemática pura, num tempo em que não existem deadlines. Meus problemas não respondem às pressões do mundo real. Mas, como muita gente que não é epidemiologista nem especialista, me interessei pelos temas e tentei entender quais eram as dificuldades. Há primeiro problemas metodológicos: como obter dados de qualidade enquanto há pessoas morrendo? Não é a situação ideal para conseguir dados muito limpos, e você tem de lidar com o que tem. Isso também pode levar a questões teóricas: como lidar com esses dados ruins para chegar a alguma conclusão que preste? Como a área que você pesquisa, sistemas dinâmicos, se relaciona com o que a gente está vivendo na pandemia? Gosto de brincar que, quando olho para as equações gravitacionais, formulo questões que dizem respeito a escalas de tempo muito maiores que a vida do Sistema Solar. São modelos em que o fato o Sol ter explodido não interfere no que vejo. Obviamente, olhando para a pandemia, interessado em estimar qual era a real situação, tentei fazer considerações sobre as possíveis dificuldades. Na minha capacidade de analisar, observei que, de maneira geral, há a tendência de a modelagem ser feita em excesso. O problema é às vezes ter confiança demais nos modelos. Há modelos extremamente complexos, complicados demais para a situação atual, porque as incertezas passam por cima das capacidades deles. Falo isso orientado por sistemas dinâmicos. Quando modelo com extrema precisão o que acontece, tenho perfeita noção de que essa análise tão fina só será válida se valer esse modelo. Se houver uma pequena variação, talvez precise de uma análise mais robusta. As pessoas ficam achando que, se puserem mais e mais complexidade no modelo, podem ter mais confiança. Isso não é necessariamente verdade. Você precisa aceitar a incerteza. Pensa no problema que a gente está tentando entender: a progressão da pandemia nos estágios iniciais. Seria fundamental ser capaz de dar uma previsão válida para daqui a algumas semanas, para orientar os recursos. Seria desejável. Por outro lado, a natureza do problema introduz um nível de incerteza tão grande que torna um pouco inúteis os números que sairiam daí. A natureza das interações humanas e a heterogeneidade das redes de relações podem ter muito mais relevância. O pessoal estava tentando achar números que representassem a transmissão, mas o mais importante podem ser pequenos detalhes da rede de interação, especialmente num momento de pequena prevalênciado vírus. Os modelos se tornam bem mais robustos quando boa parte da população já está infectada, aí se torna mais razoável supor certas uniformidades na distribuição. A gente tem o desejo de poder dar a melhor informação possível, mas o que a ciência frequentemente ensina, quando olho para problemas da realidade, é que você deve se preocupar com o limite do que poderia conhecer. Deve tentar identificar o ponto além do qual você não terá mais certeza, por mais que se esforce, por mais que tente modelar. Cheguei a isso. É uma coisa compreendida em previsões de tempo. A incerteza faz com que, por mais que você coloque novas estações meteorológicas, chega um momento – e não é muito longe – em que não consegue dizer se faz sol ou chuva. A perda de informação é muito rápida, você não consegue lutar contra efeitos exponenciais. A situação da pandemia não é muito diferente. Mas esse conhecimento que a ciência traz, mesmo que seja um conhecimento negativo, é útil, porque você fica sabendo como pode reagir. A gente sabe que terá de tomar uma decisão diante de uma situação inerentemente incerta. Talvez não seja a informação que a gente gostaria, mas é alguma coisa. Quem olha para a ciência esperando a verdade, como uma espécie de oráculo que separa o certo do errado, está no fundo iludido. Quanto do negacionismo não se origina nessa expectativa absolutista diante da verdade? Afinal, a ciência não tem resposta para tudo. A gente tem muita incerteza, principalmente nessa situação em que faz ciência em tempo real. Não é o tempo natural da ciência. Pessoalmente, reservo a palavra "negacionismo" para situações bem estabelecidas. Há tanta incerteza no momento, que usá-la muito cedo acaba por associá-la a situações mais claras, em que o consenso científico é muito maior. Não é que eu tenha dúvidas da ciência, não tenho nenhuma. Mas é que isso encoraja o pessoal a reagir de maneira mais virulenta. A ciência, neste momento principalmente, aparentará oscilar. Uma hora os cientistas recomendarão uma coisa, outra hora podem recomendar o contrário. Não é bom usar prematuramente essa terminologia, numa situação em que a coisa pode mudar. O problema de quem adota uma posição inerentemente anticientífica é que, por acidente completo, de repente pode estar certo por acaso. Se as recomendações se tornarem o contrário do que eram, não quer dizer que a ciência estava errada. A ciência foi apenas ampliando o conhecimento. Usando essa terminologia, porém, as pessoas se sentirão encorajadas a fazer interpretações de que a ciência na verdade tem uma função política. É por isso que tento evitar. É um vocabulário que pode encorajar o lado anticientífico. A gente tem que aceitar a incerteza e dizer que existe uma gama de possíveis conclusões a partir do nosso conhecimento atual. E guardar o negacionismo para situações mais claras, como o Holocausto, bem diferente de questões que os cientistas ainda debatem. É preciso evitar o excesso no uso de linguagem, porque a gente pensa que está ajudando a clarificar uma coisa, mas pode ter o efeito inverso: levar as pessoas a duvidar mais ainda, porque as incertezas evidentes podem dar a impressão de que a ciência não é uma coisa séria. O que seria mais importante para os leigos entenderem de como funciona a ciência ou a matemática? A gente usa o termo ciência para várias coisas diferentes. Minha área particular, de que posso falar com conhecimento de causa, lida com conceitos totalmente abstratos, com pouca preocupação com as possíveis aplicações. O trabalho do matemático, nessa concepção quase artística, é útil no desenvolvimento de outros campos da matemática, mais aplicados. Descobertas em certos contextos particulares, dissociados de aplicações, podem depois ser essenciais em aplicações. Isso acontece a todo momento. Também funciona de maneira mais geral. Áreas científicas diversas podem se beneficiar mutuamente. A física se beneficia da matemática. A matemática se beneficia da física. A física cria problemas que chamarão atenção dos matemáticos e abrirão perspectivas que não teriam sido descobertas isoladamente. Existe essa coerência. Quando se pensa no desenvolvimento da ciência, é particularmente importante enxergá-la como um todo. É equivocado tentar traçar cedo demais em que direção a pesquisa deve ir. Pode ser tentador, se a gente tem recursos limitados, dirigir esses parcos recursos para tentar fazer coisas úteis de maneira mais direta. Mas isso não levará aos melhores resultados, mesmo dentro dessa perspectiva limitada. Simplesmente porque você não sabe. A pesquisa original, aquela que pode ser chamada realmente de pesquisa, só responderá àquilo você não sabia antes. Envolve um processo de descoberta em que não se sabe de onde as coisas virão. Podem vir de outra área que você nunca poderia intuir. Precisa haver então um desenvolvimento amplo para responder mesmo às questões práticas, mesmo àquelas que parecem bem claras. Falo em geral isso restrito à matemática. Você precisa pensar na matemática unificada, não dá pra pensar em pura e aplicada. É preciso haver o diálogo, porque é o diálogo que leva as coisas para frente. A mesma perspectiva funciona de maneira mais ampla nas interações da matemática com outras ciências e das demais ciências entre si. É algo que precisa ser compreendido quando se faz qualquer política de ciência. As pessoas acham que a ciência existe para responder a questões precisas, que é possível dar recursos para responder somente a essas questões. Mas aí você não responde nem a elas, nem coisa nenhuma, porque não faz ciência de verdade. GUROVITZ, Helio. A ciência não é cheia de certezas. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/2020/07/08/a-ciencia-nao-e- cheia-de-certezas.ghtml. Acesso em: 08 jul. 2020 (adaptado). https://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/2020/07/08/a-ciencia-nao-e-cheia-de-certezas.ghtml https://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/2020/07/08/a-ciencia-nao-e-cheia-de-certezas.ghtml DIA NACIONAL DA CIÊNCIA E DO PESQUISADOR: A CURIOSA ORIGEM DESSA DATA Entenda a importância dessa celebração por meio de 6 grandes obras Isabella Bisordi 6 Imagem meramente ilustrativa - Divulgação / Pixabay Não é novidade que a Ciência é extremamente importante nas nossas vidas, não é mesmo? Graças a ela, milhares de descobertas nas mais diversas áreas foram feitas ao longo da História, facilitando a nossa rotina, a maneira como nos relacionamos, nossos hábitos e a sociedade como um todo. Do latim scientia, a palavra ciência significa "conhecimento”, e trata-se do processo de explicar o funcionamento de um fenômeno por meio de observações, testes, análises, classificações e validações. Esses experimentos são feitos com base em métodos científicos, ou seja, um conjunto de regras pré-estabelecidas que, juntas, vão gerar mais conhecimento. E como uma forma de homenagem, dia 8 de julho, é comemorado no Brasil o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico. Nessa mesma data em 1948, foi https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/_versions/amazon/cientista_widelg.jpg criada a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e o objetivo é conscientizar a população sobre a importância da Ciência e da pesquisa no país, estimulando que cada vez mais jovens se interessem pela área. Se você curte Ciência e quer aprender mais sobre o assunto, podemos te ajudar! Para comemorar essa data especial, a Aventuras na História separou 6 livros sobre o tema que estão disponíveis na Amazon. Dá uma olhada: 1. As cientistas: 50 mulheres que mudaram o mundo, de Rachel Ignotofsky (2017) - https://amzn.to/38E5rxo Crédito: Divulgação / Blucher Com incríveis ilustrações, o livro conta a trajetória de 50 mulheres essenciais nos campos da Ciência, tecnologia, engenhariae Matemática. https://amzn.to/38E5rxo https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/amazon/81lix2olol.jpg 2. A história da ciência para quem tem pressa, de Nicola Chalton e Meredith Mac Ardle (2017) - https://amzn.to/31XVNVi Crédito: Divulgação / Valentina Que tal aprender mais sobre a Ciência desde os seus primórdios? A obra é considerada um guia essencial para todos que desejam saber mais sobre o assunto, já que cita personalidades importantes como Aristóteles, Galileu, Darwin, Edison e Hawking, e como suas descobertas mudaram a nossa forma de viver. https://amzn.to/31XVNVi https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/amazon/91s3qdbhil.jpg 3. 100 cientistas que mudaram o mundo, de Jon Balchin (2018) - https://amzn.to/3iHWIPx Crédito: Divulgação / Madras Conheça mais sobre a vida e as descobertas de importantes cientistas ao longo da História, desde Tim Berners-Lee, criador da internet, até Alexander Graham Bell, que descobriu o telefone, Freud, o pai da psicanálise e Marie Curie, que descobriu o rádio. https://amzn.to/3iHWIPx https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/amazon/13010007719966.jpg 4. O livro da ciência, de Vários Autores (2016) - https://amzn.to/2W19COR Crédito: Divulgação / Globo Livros Escrito por professores e pesquisadores, o livro apresenta uma linha do tempo com os principais acontecimentos de cada período da História, além de gráficos, ilustrações e boxes que explicam, de forma didática, conceitos como a gravidade, a energia e a química. https://amzn.to/2W19COR https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/amazon/91vesmerhul.jpg 5. 1001 invenções que mudaram o mundo, de Jack Challoner (2014) - https://amzn.to/3ed9xhp Crédito: Divulgação / Editora Sextante Conforme o mundo evolui, diversas criações vão ganhando espaço e facilitando a vida do ser humano nas mais diversas áreas. Neste livro, você vai saber mais sobre 1001 dessas invenções que transformaram — e ainda transformam — o nosso dia a dia, desde à roda ao MP3. Perfeito para os mais curiosos! https://amzn.to/3ed9xhp https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/amazon/81hdvornral.jpg 6. O grande livro de ciências do Manual do Mundo, de WorkmanPublishing e Manual do Mundo (2019) - https://amzn.to/38B57zI Crédito: Divulgação / Editora Sextante Que tal aprender Ciência de maneira muito mais divertida? Cheio de ilustrações e anotações extras, esse livro aborda temas como o universo, o sistema solar, reações químicas, clima, evolução, fósseis e muito mais, de maneira bem didática. https://amzn.to/38B57zI https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/amazon/81mpdtxud0l.jpg BISORDI, Isabella. Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador: a curiosa origem dessa data. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/dia-nacional-da-ciencia-e- do-pesquisador-a-curiosa-origem-dessa-data.phtml. Acesso em: 08 jul. 2020. USO DA TECNOLOGIA É DESIGUAL NAS EMPRESAS BRASILEIRAS A utilização de tecnologias da informação e comunicação (TICs) já alcança percentuais expressivos em empresas no país, mas o emprego dessas soluções técnicas ainda é desigual dependendo do tipo e do porte das firmas. As conclusões estão na pesquisa TIC Empresas 2019, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.Br), vinculado ao Comitê Gestor da Internet. Foi analisada uma amostra de 7 mil empresas de todo o Brasil. Entre as companhias ouvidas no levantamento, 54% relataram ter website e 78% contas em redes sociais. Os índices variam, respectivamente, para 51% e 77% no caso das pequenas e 89% e 90% nas grandes. https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/dia-nacional-da-ciencia-e-do-pesquisador-a-curiosa-origem-dessa-data.phtml https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/dia-nacional-da-ciencia-e-do-pesquisador-a-curiosa-origem-dessa-data.phtml https://revistanews.com.br/wp-content/uploads/2020/07/tecn.jpg As redes sociais mais comuns são Facebook (62%), mensageiros como Whatsapp ou Telegram (54%), Instagram ou Snapchat (44%) e Linkedin (15%). Entre 2017 e 2019, as redes que mais cresceram em uso pelas empresas foram os serviços de mensagem. Comércio eletrônico O comércio eletrônico é praticado por 57% dos negócios avaliados. Os principais canais para a venda de produtos online são os serviços de mensagem como o WhatsApp e FB Messenger (42%), seguidos por redes sociais como Facebook, Instagram e Snapchat (20%) e websites próprios das empresas (16%). A compra pela internet é mais comum, sendo informada por 70% das companhias entrevistadas. Já o recurso da publicidade foi relatado por 36% das empresas analisadas. O índice se mantém independentemente do porte. Mas há variação por setor, com essa ferramenta de promoção sendo mais comum em negócios de alojamento e alimentação (50%), informação e comunicação (46%) e artes, culturas, esportes e recreação (44%). Conexão O levantamento mostrou que 67% das companhias se conectam por fibra ótica, 54% por via linha telefônica (DSL), 51% por cabo (redes usadas para serviços de TV paga, por exemplo) e 46% por conexão móvel, como 3G ou 4G. O índice de conexão por fibra ótica, a tecnologia mais robusta, é menor em empresas pequenas (65%) do que nas grandes (91%). Em 2015, o principal tipo de conexão era a linha discada (70%), seguida por fibra ótica (46%), modem móvel (43%) e cabo (37%). A velocidade também aumentou. A proporção de empresas com conexões de um mpbs a 100 mbps foi de 35% para 53%, entre 2015 e 2019. Serviços na nuvem O uso de e-mail no ambiente corporativo foi relatado por 39% das empresas avaliadas. Entre as pequenas, o percentual cai para 36%, enquanto nas grandes sobe para 63%. O armazenamento de arquivos ou bancos de dados em servidores externos (na chamada nuvem) foi informado por 28% dos negócios ouvidos, indo para 36% nos pequenos e 54% nos grandes. Já os chamados softwares de escritório (que auxiliam em tarefas de gestão, por exemplo) fazem parte da realidade de 22% das empresas pequenas e de 37% das grandes. A coleta massiva e processamento inteligente de dados para análises e predições, o big data, foi informado por 4% das empresas que possuem computador. De acordo com o estudo, o índice fica abaixo de países europeus como Espanha (11%), Noruega (15%) e Finlândia (19%). REVISTA NEWS. Uso da tecnologia é desigual nas empresas brasileiras. Disponível em: https://revistanews.com.br/2020/07/07/uso-da-tecnologia-e-desigual- nas-empresas-brasileiras/. Acesso em: 08 jul. 2020. TECNOLOGIA X JURÍDICO: UMA VISÃO DO CENÁRIO ATUAL E FUTURO Paulo Silvestre de Oliveira Junior Todo profissional deve se dedicar a acompanhar as mudanças que estão acontecendo em sua área. Quanto mais inteirado dos processos, mais vantagens e menos dificuldades ele terá com a inserção da tecnologia em sua rotina. Dentre tantas considerações fundamentais que foram evidenciadas em decorrência do novo normal e que foram provocadas pela pandemia, está a importância da inovação e da aplicação prática da tecnologia no setor jurídico. Fatores que se mostraram essenciais nos dias de hoje para sobrevivência dos negócios e para o futuro das atividades jurídicas. A crise atual deixou clara a extrema importância de nos apoiarmos na tecnologia para que as operações se mantenham em pleno funcionamento. Antes mesmo disso tudo acontecer, o setor jurídico já estava em transformação, em virtude das demandas https://revistanews.com.br/2020/07/07/uso-da-tecnologia-e-desigual-nas-empresas-brasileiras/ https://revistanews.com.br/2020/07/07/uso-da-tecnologia-e-desigual-nas-empresas-brasileiras/ econômicas, demográficas, tecnológicas e competitivas. E essas demandas continuarãoa influenciar o setor, talvez até com mais força, em virtude do resultado da crise. Apesar disso, pesquisas recentes demonstram que advocacias e departamentos jurídicos ainda estão longe de uma realidade satisfatória. Neste artigo, vou abordar algumas considerações sobre o atual cenário da tecnologia no setor jurídico. Qual a percepção do setor jurídico sobre uso da tecnologia no momento atual? De acordo com a pesquisa realizada pela WolterKluwer, de fato, o setor jurídico tem percebido cada vez mais a importância de inovar os seus processos internos e da aplicação da tecnologia na execução de suas atividades para prestar um serviço que atenda às expectativas dos clientes. O objetivo dessa pesquisa foi reunir informações, a partir de dados obtidos com advocacias e departamentos jurídicos, para entender como será o futuro do trabalho dos profissionais do Direito, uma vez que o setor, assim como tantos outros, tem passado por mudanças importantes nos últimos tempos. Veja a seguir, alguns dos resultados mais relevantes evidenciados pela pesquisa 2020 Future ReadyLawyer | WolterKluwer: • 53% das advocacias e 65% dos departamentos jurídicos disseram que a maior barreira para avançar com as transformações está na resistência às mudanças por parte da liderança; • 76% dos profissionais do setor acreditam que a tecnologia terá um papel cada vez mais relevante, apenas 28% disseram estar preparados; • 81% dos departamentos jurídicos pretendem exigir que as advocacias apontem como estão aplicando a tecnologia para aumentarem a eficiência e eficácia até 2022 — isso é o dobro do percebido atualmente; • 75% das advocacias darão maior ênfase em inovação; • 62% dos sócios de advocacias indicaram que a lucratividade aumentou ao aplicar a tecnologia nas atividades jurídicas. Com isso, podemos concluir que nos próximos anos as advocacias deverão acelerar as iniciativas de inovação. Além disso, fica evidente, já no momento atual, que uma das maneiras mais eficientes para que os profissionais consigam se adaptar em tempo hábil à essa transformação, é crucial ter um plano para abordar e superar questões organizacionais e as lacunas de habilidades para garantir que qualquer iniciativa seja implementada com sucesso. À medida que essas transformações avançam no setor jurídico, o foco deve estar nas pessoas para que estejam habilitadas para apoiar a organização a prosperar nesse novo cenário. Afinal, a capacidade de usar a tecnologia para otimizar as atividades jurídicas nunca foi tão importante. Quais aprendizados podemos extrair da crise? A pandemia causada pelo novo coronavírus forçou muitos profissionais a encararem uma nova realidade. E nesse sentido, vale observar outro ponto bastante importante: muitos profissionais resistem ao novo. Como observamos na pesquisa, há uma parcela significativa que reconhece a importância do papel da tecnologia no setor jurídico. Porém, a outra parcela ainda resiste às mudanças que essas transformações impõem, ou seja, nem sempre conseguem olhar o escritório como parte de algo maior e integrado, isso ainda representa um grande obstáculo. Essa crise serviu como alerta para muitos, demonstrando a urgência de se atualizar em relação ao uso das ferramentas tecnológicas. Aliás, é isso que percebemos com a pandemia: aqueles profissionais que tendem a avaliar o todo e procuram se manter atualizados sobre as inovações que acontecem no setor, estão se sobressaindo neste cenário de crise. Por isso, deve-se sempre ter em mente a necessidade de abandonar a ideia de tratar questões tecnológicas com superficialidade ou como se não fosse algo próprio para o setor. Para ser capaz de aplicar mudanças positivas, que proporcionem mais eficiência, eficácia, segurança e uma melhor gestão é preciso se dedicar a adquirir um conhecimento substancial sobre o assunto. Afinal, mudanças precisam de comprometimento e principalmente capacidade de agir estrategicamente. Como a tecnologia interage com o setor jurídico? É necessário reconhecer que a tecnologia e as práticas do Direito estão cada vez mais íntimas. Inclusive, tem crescido o número de advocacias que já surgem como “nativos digitais”. Não é somente dentro das advocacias que podemos perceber resultados positivos: o judiciário também está colhendo os benefícios da transformação digital. Como resultado, eu, você e todos os envolvidos contribuímos para tornar a justiça mais célere em nosso país. Há algumas décadas, quando existiam poucos recursos tecnológicos e os que estavam disponíveis eram extremamente caros, era mais fácil de compreender os motivos pelos quais muitas organizações não procuravam promover algum tipo de inovação. Entretanto, atualmente temos um aparato tecnológico imenso à nossa disposição. Todos os dias surge algo novo e esse desenvolvimento aprimorado permite que qualquer organização possa usufruir dos benefícios. E sem ter gastos elevados, graças a possibilidade de personalização. Mas para obter resultados, é preciso parar de adiar decisões e negligenciar a importância da tecnologia no setor jurídico. O momento pelo qual o mundo está passando é extremamente complicado, mas pode ser usado como oportunidade para ações na prática. Relembrando a pesquisa acima, não faz nenhum sentido pertencer aos 78% que reconhecem o papel da tecnologia e nunca chegar a integrar os 28% que estão prontos e, por consequência, os que conseguem obter os melhores resultados. Todo profissional deve se dedicar a acompanhar as mudanças que estão acontecendo em sua área. Quanto mais inteirado dos processos, mais vantagens e menos dificuldades ele terá com a inserção da tecnologia em sua rotina. Com disposição, não vai demorar para que os seus benefícios sejam percebidos, como ter seu trabalho potencializado pela tecnologia, maior eficiência e gerar ainda mais valor para os seus clientes. Portanto, quando eu passo a considerar a inovação como um fator estratégico em minha advocacia, estou direcionando minhas ações para um futuro mais ágil e mais sólido em um mercado cada vez mais competitivo. A tecnologia é uma grande aliada, para não dizer à única que pode alavancar qualquer organização e nunca podemos nos esquecer disso. Acredito que muitas das adaptações que o setor jurídico teve que enfrentar em resposta imediata à crise desencadearam mudanças que reconfigurarão permanentemente o cenário jurídico. Além disso, e sem querer minimizar a dor e o sofrimento que essa crise causou para muitos, acredito que muitas das mudanças que surgirão serão para o aprimoramento do sistema jurídico e, principalmente, para aqueles a quem se destina servir. OLIVEIRA JUNIOR, Paulo Silvestre de. Tecnologia x Jurídico: Uma visão do cenário atual e futuro. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/330020/tecnologia-x-juridico-uma-visao-do- cenario-atual-e-futuro. Acesso em: 08 jul. 2020. https://www.migalhas.com.br/depeso/330020/tecnologia-x-juridico-uma-visao-do-cenario-atual-e-futuro https://www.migalhas.com.br/depeso/330020/tecnologia-x-juridico-uma-visao-do-cenario-atual-e-futuro PILAR EMOCIONAL Ética, Sociedade e Direitos Humanos TEXTOS SELECIONADOS A ÉTICA EM ARISTÓTELES Alexsandro M. Medeiros A filosofia aristotélica constitui uma visão sistemática e integrada do conhecimento, com a valorização da ciência empírica, da ética e da política. Aristóteles divide o conhecimento da seguinte forma: prático (práxis), produtivo (poiesis) e teórico. O conhecimento prático abrange principalmente o estudo da ética e da política. A ética é um saber prático e pressupõe três elementos fundamentais da filosofia aristotélica: o uso correto da razão, a boa conduta (eupraxia) e a felicidade (eudaimonia). Aristóteles desenvolveu uma reflexão ética perguntando-se sobreo fim último do ser humano. Para o quê tendemos? E respondeu: para a felicidade. Todos nós buscamos a felicidade. E o que Aristóteles entende por felicidade? Uma atividade conforme a razão – realização do que há de mais característico do ser humano – e a virtude (ARISTÓTELES, 1987, Livro I). “A felicidade é, para Aristóteles, a atividade da alma segundo sua virtude (excelência). E tal virtude, ou excelência, reside na sua atividade racional” (FERRAZ, 2014, p. 43). Para Aristóteles a felicidade está ligada à atividade humana, sendo um tipo de atividade em conformidade com a “reta razão” e com a virtude (areté). Isso quer dizer que a vida virtuosa é racional. A felicidade implica a educação da vontade em conformidade com os princípios racionais da moderação e, finalmente, está fundamentalmente ligada à política, uma vez que o homem é definido como animal político e sua conduta ética tem expressão na pólis e a partir dela é julgada. É na sociedade – na pólis – que os homens podem alcançar o bem supremo: a felicidade, daí porque, em Aristóteles, ética e política são inseparáveis. “A política que também é uma ciência prática não se dissocia da ética, elas apenas se diferenciam pelo fato de a primeira apresentar uma dimensão social, coletiva, enquanto a outra se restringe ao particular, individual” (AMARAL; SILVA; GOMES, 2012, p. 12). [...] razão, ética e política são elementos inseparáveis, constitutivos do homem em Aristóteles. Por um lado, a característica de ser racional o conduz à vida política. A vida política, por sua vez, norteará o bem viver ou o viver ético deste homem, que terá como expressão mais própria desta boa vida a própria vida racional. Conclui-se, assim, um círculo virtuoso que para existir não pode prescindir de nenhum destes três elementos que lhe são constitutivos (PANSARELLI, 2009, p. 14). A importância dada por Aristóteles à vontade racional (a vontade guiada pela razão como elemento fundamental da vida ética), à deliberação e à escolha o levou a considerar uma virtude como condição de todas as outras e presente em todas elas: a prudência ou sabedoria prática. O prudente é aquele que, em todas as situações, é capaz de julgar e avaliar qual a atitude e qual a ação que melhor realizarão a finalidade ética, ou seja, entre as várias escolhas possíveis, qual a mais adequada para que o agente seja virtuoso e realize o que é bom para si e para os outros. Também devemos a Aristóteles outras contribuições importantes no campo da reflexão sobre a ética e a moral, principalmente a partir de sua obra Ética a Nicômaco, onde o mesmo procurou refletir sobre as virtudes que constituiriam a arete (a virtude ou excelência ética) e a moralidade grega. Com sua bem conhecida teoria da virtude como justa medida, Aristóteles distinguiu vícios e virtudes pelo critério do excesso, da falta e da moderação. É no Livro II da Ética a Nicômaco que Aristóteles apresenta sua conhecida doutrina da virtude como um meio, da “doutrina da mediedade (mesotês), ao deixar evidente que a virtude é uma espécie de mediedade, na medida em que visa um meio, meio este entre o excesso e a falta” (HOBUSS, 2015, p. 38). MEDEIROS, Alexsandro. A Ética Aristotélica. Disponível em: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/a-etica-em-aristoteles/. Acesso em: 30. jun. 2020 (adaptado). PENSAMENTO SOCIAL DE ROUSSEAU Cláudio Fernandes O pensamento social de Rousseau foi um dos mais influentes da modernidade, tendo exercido grande impacto em acontecimentos como a Revolução Francesa. O pensamento do filósofo iluminista francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um dos mais comentados e, por isso mesmo, mais polêmicos da filosofia moderna. Há diversos autores que evidenciam inúmeras contradições entre as propostas que Rousseau elaborava para a transformação da moralidade, da sociedade e da política e a sua própria conduta pessoal. Entretanto, para além das polêmicas, o pensamento de Rousseau foi um dos mais influentes para a geração de filósofos e cientistas sociais dos séculos XIX e XX que se propôs a refletir sobre os fundamentos da sociedade, bem como suas contradições, como a exploração, a violência e a desigualdade. Os aspectos principais que definiram o pensamento social de Rousseau foram: a concepção de que a natureza humana é boa (o que o colocou frontalmente em oposição ao filósofo do século XVI Thomas Hobbes) e de que, derivada dessa concepção, a sociedade é quem a corrompe. A bondade natural do homem seria https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/a-etica-em-aristoteles/ então, para esse filósofo francês, paulatinamente destruída e corrompida pela civilização. Seria necessário, portanto, uma redução do poder do Estado soberano sobre os cidadãos livres, que se organizariam sobre a forma do contrato social, livres das imposições do Estado e articulados nos princípios da sociedade civil. Seu pensamento inspirou tanto liberais quanto socialistas do século XIX, além de ter sido uma das bases para o processo revolucionário francês do fim do século XVIII. Um dos principais opositores das ideias de Rousseau foi o filósofo irlandês Edmund Burke (1729-1797), que defendia a posição de que Rousseau e os revolucionários franceses não haviam compreendido a “natureza humana”, cuja ordem moral seria transcendente e não passível de alteração pela vontade humana. A principal obra de Rousseau que expressou seu pensamento social foi o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, publicada em 1755. FERNANDES, Cláudio. Pensamento social de Rousseau. Disponível em: https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/pensamento-social-rousseau.htm. Acesso em 30 de junho de 2020 (adaptado). ARTIGO 1: TODOS OS SERES HUMANOS NASCEM LIVRES E IGUAIS Nações Unidas/Brasil A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), de 1948, é – obviamente – um documento sobre direitos humanos. Então, por que dignidade é citada antes de direitos no Artigo 1? A dignidade é a base de todos os direitos humanos. Seres humanos possuem direitos, e devem ser tratados com a mais elevada proteção, precisamente porque cada um possui valor intrínseco. O ex-chefe de direitos humanos da ONU ZeidRa’ad Al Hussein https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/pensamento-social-rousseau.htm chamou estas palavras iniciais de “talvez, as mais ressonantes e bonitas de todos os acordos internacionais”. Elas destacam que “direitos humanos não são uma recompensa para bom comportamento”, disse ele, mas o direito de todas as pessoas, em todos os momentos, em todos os lugares. Reagindo ao horror das duas Guerras Mundiais, a comunidade internacional julgou importante em 1948 enfatizar o conceito de dignidade humana nas primeiras palavras deste documento pioneiro, destacando um termo que já havia sido enfatizado na linha inicial do Preâmbulo da DUDH, assim como na Carta que fundou as Nações Unidas, três anos antes. Mary Robinson, outra ex-chefe de direitos humanos da ONU, considerou dignidade como um “senso interior de consciência própria”, um conceito que “evoca uma empatia com o outro, nos conecta uns com os outros”. Isto forneceu um ponto de partida para novas interpretações dos direitos humanos. Como disse Robinson, “em nosso mundo interconectado, esta empatia deve se expandir para atacar as flagrantes desigualdades que levantam questões de justiça”. Dignidade (uma palavra que aparece cinco vezes ao longo da Declaração) é de um lado um argumento irrefutável, e de outro um conceito ambíguo, nem sempre fácil de ser traduzido para legislação. Mesmo assim, dignidade agora é reconhecida como um direito em mais de 160 Constituições no mundo (de 193 membros da ONU), comparado aos somente cinco países que usavam o termo em suas Constituições em 1945. E frequentemente cabe aos juízesgarantir que a dignidade humana seja respeitada. Juízes como Albie Sachs, que dedicou sua vida a garantir, e então proteger, a dignidade humana. Como um ativista sul-africano antiapartheid, ele passou meses em prisão solitária e perdeu um braço e a visão em um olho quando seu carro foi explodido por agentes de segurança. Mais tarde, ele ocupou por 15 anos o cargo de juiz do mais alto tribunal da África do Sul. Ele escreveu que chorou após decidir que a companhia aérea South African Airways não poderia discriminar uma comissária de bordo com HIV. “As lágrimas caíram por conta de um grande senso de orgulho de ser membro de um tribunal que protegia direitos fundamentais e assegurava dignidade para todos”, disse. As primeiras palavras do Artigo 1 ecoam a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento francês adotado pouco após a revolução francesa, em 1789. Graças à firme redatora indiana Hansa Mehta, a frase francesa “todos os homens nascem livres e iguais” se tornou “todos os seres humanos nascem livres e iguais”. Ela se opôs à afirmação de Roosevelt de que “homens” incluíam as mulheres – um conceito amplamente aceito na época. Mehta argumentou que países poderiam usar esta formulação para restringir os direitos das mulheres, em vez de expandi-los. As mulheres redatoras da DUDH criaram um legado duradouro – mesmo em um mundo onde grande parte do trabalho ainda precisa ser feita. Em quase todos os países, mulheres continuam ganhando menos que homens. Práticas discriminatórias contra mulheres são frequentemente justificadas por referências a atitudes tradicionais, históricas, religiosas ou culturais. Meninas possuem menos probabilidade de irem ou permanecerem em escolas do que meninos. Mulheres frequentemente têm suas mobilidades limitadas por conta das expectativas de que serão cuidadoras. Elas frequentemente têm opções limitadas sobre com quem se casar – ou se vão casar – e pouco controle sobre suas escolhas reprodutivas. Apesar daquilo que ainda precisa ser alcançado, as mulheres pioneiras que foram parte do processo de elaboração da DUDH de 1946 a 1948 preservaram a igualdade como um objetivo universal, e forneceram a base na lei internacional para aqueles que ainda lutam para torná-la uma realidade. Não apenas para as mulheres, é claro, mas também para pessoas com deficiências, idosos, membros de minorias étnicas e religiosas, grupos indígenas, migrantes, crianças e qualquer um em qualquer lugar enfrentando discriminação. Nações Unidas Brasil. Artigo 1: Todos os seres humanos nascem livres e iguais.Disponível em: https://nacoesunidas.org/artigo-1-todos-os-seres-humanos- nascem-livres-e-iguais/. Acesso em 9 de julho de 2020 (adaptado). https://nacoesunidas.org/artigo-1-todos-os-seres-humanos-nascem-livres-e-iguais/ https://nacoesunidas.org/artigo-1-todos-os-seres-humanos-nascem-livres-e-iguais/ PILAR ESPIRITUAL Cultura e Arte TEXTO SELECIONADO ALÉM DO CINEMA: COMO CIRCOS, RAVES E ATÉ CULTOS ESTÃO FUNCIONANDO NO FORMATO DRIVE-IN Com a pandemia, pessoas ao redor do mundo estão frequentando todo tipo de festa, espetáculo e exposição – tudo dentro do carro. Carolina Fioratti https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/05/drive-in-pandemia-covid-01.jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453 Ao falar em drive-in, a primeira coisa que vem à mente são as clássicas cenas de filmes em que o mocinho leva a protagonista para um encontro, dentro de seu carro, em algum cinema a céu aberto – como é o caso de Danny e Sandy em Grease, musical de 1978. Esse tipo de local foi um sucesso nos Estados Unidos entre as décadas de 1950 e 1960, e ganhou espaço no Brasil por volta dos anos 1970. Com o passar do tempo, a popularidade acabou, e a maior parte desses estabelecimentos fechou. Mas, com a pandemia do novo coronavírus e as restrições impostas pelo Ministério da Saúde, foi preciso se reinventar: os drive-ins voltaram, indo além da simples exibição de cinema a céu aberto, possibilitando também festas, espetáculos, exposições de artes e cultos. CIRCOS Na última sexta-feira (15 de maio de 2020), moradores de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, assistiram a um espetáculo da trupe Circo Fantástico de dentro de seus carros. O evento contou com malabaristas, dançarinos, mágicos – o pacote completo. A diferença é que o picadeiro perdeu sua arquibancada e deu lugar a 22 boxes de carros, que podiam ter até 4 pessoas em seu interior (todas deveriam estar usando máscara). Para comprar pipoca, algodão-doce e refrigerante, era preciso chamar o vendedor até o carro, que usava máscara e oferecia álcool em gel para o comprador. Para ir ao banheiro, bastava ligar o pisca - alerta: o funcionário ia até a pessoa para acompanhá- la – e higienizar tanto as maçanetas do carro quanto as do banheiro. O espetáculo cobrou entrada de 50 reais por carro. O espetáculo agradou o público, que aplaudiu – ou melhor, buzinou para os artistas. A apresentação, que ocorreu dentro de um estacionamento foi um piloto, mas a prefeitura já autorizou novos shows, que devem ocorrer de forma semanal. EXPOSIÇÕES DE ARTE Em Toronto, no Canadá, amantes da arte terão a chance de entrar (de carro) nas obras de Vincent Van Gogh. A exposição já estava marcada para acontecer, mas teve que se adaptar devido à pandemia. Agora, ficará dentro de um armazém de 370 metros quadrados dominado por instalações de som e luz, que devem contar a vida do artista numa exibição de 35 minutos. O drive-in no armazém funcionará como uma prévia do que deveria ser a exposição no Toronto Star, um edifício de cinco andares. Ela funcionará do dia 18 a 28 de junho, recebendo 14 veículos por dia. O sucesso foi tanto que as entradas quase esgotaram, restando apenas algumas para o horário da madrugada. Os preços estão entre (R$180 a R$400), e dão direito a uma entrada para a exibição original, que está programada para ocorrer entre julho e setembro. RAVES Na Alemanha, alguns clubes adaptaram o drive-in para fazer a primeira rave nesse estilo do mundo. Pois é: foram três festas no Club Index, na cidade de Schüttorf, que aconteceram de 30 de abril a 2 de maio. Ao total, foram 250 carros, com duas pessoas em cada, em frente a um enorme palco com sistema de som completo e equipamentos de iluminação. E, pelo visto, a moda pegou. O World Club Dome, outro clube alemão, também organizou duas noites de festa com mil convidados em cada uma. As janelas ficaram fechadas durante todo o evento e a música era transmitida por uma frequência de rádio – aos ocupantes dos veículos, bastou apenas sintonizar. Buzinas e enfeites luminosos completaram o “role”. CULTOS A história de cultos por drive-in começou nos Estados Unidos – e bem antes da pandemia de Covid-19. Na década de 1950, o reverendo Robert Schuller adotou o formato para suas pregações em Garden Grove, na Califórnia. Desde então, algumas igrejas passaram a adotar o método, que ganhou ainda mais força este ano, poucos meses antes da Páscoa. Para seguir com os cultos, os fiéis ficam dentro de seus carros e sintonizavam a rádio na frequência indicada. Uma paróquia americana juntou cerca de 600 pessoas, divididas em 300 carros – o que representa 40% dos participantes semanais. No Brasil, uma das missas drive-ins ocorreu no Dia das Mães, em uma capela a quatro quilômetros da cidade de Olímpia (SP). Participaram cerca de 400 pessoas divididas em 100 carros. Todas tinham que usar máscara – e, mesmo assim, foram proibidas de sair do carro. Os participantes fizeram um cadastro prévio para participar da celebração. Na hora de entregar a hóstia, atividade característica das missas católicas, o grupo de apoio formado por pessoas fora do grupo de risco passava pelos carros e as entregava ao fiel, que deveria receber com uma mão e tirar a máscara com a outra. Outra missa
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