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Rua Dr. Celestino, 74 24020-091- RJ – Brasil Tel. (21) 2629-9484 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF) ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA (EEAAC) MESTRADO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM ASSISTENCIAL-MPEA PROTOCOLO DE ENFERMAGEM PARA GRUPOS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE AOS HIPERTENSOS E DIABÉTICOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Viviane da Costa Melo Orientador: Prof. Dr. Enéas Rangel Teixeira LINHA DE PESQUISA: O CONTEXTO DO CUIDAR EM SAÚDE Niterói, 2018 2 PROTOCOLO DE ENFERMAGEM PARA GRUPOS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE AOS HIPERTENSOS E DIABÉTICOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Autora: Viviane da Costa Melo Orientador: Prof. Dr. Enéas Rangel Teixeira Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial da Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense/UFF como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre. Linha de Pesquisa: O Contexto do Cuidar em Saúde Niterói, Outubro de 2018 3 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM ASSISTENCIAL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROTOCOLO DE ENFERMAGEM PARA GRUPOS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE AOS HIPERTENSOS E DIABÉTICOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Linha de Pesquisa: O Contexto de Cuidar em Saúde Autora: Viviane da Costa Melo Orientador: Prof. Dr. Enéas Rangel Teixeira Banca Examinadora: ______________________________________________________ Presidente - Prof. Dr. Enéas Rangel Teixeira – UFF ______________________________________________________ 1ª examinador(a) - Profª. Drª Sonia Sirtoli Färber–FAMIPAR _____________________________________________________ 2ª examinador (a) - Profª. Drª Eliane Ramos Pereira – UFF ________________________________________________________ 3ª examinador (a)- Profª. Drª Rose Mary Costa Rosa Andrade Silva – UFF Niterói, RJ 2018 4 5 DEDICATÓRIA À minha filha Maitê Melo Medina, todo o esforço, foi por você! 6 AGRADECIMENTOS A Deus por ouvir minhas preces ao pedir força e sabedoria para concluir esse estudo. À minha Mãe que ficou ao meu lado me ajudando na tarefa de cuidar da Maitê enquanto escrevia. Eu não teria conseguido mesmo! À minha amiga Luisa por todo o apoio e ajuda desde o processo seletivo para o mestrado até agora na defesa. Ao meu companheiro Pedro por todo amor e carinho. Ao meu orientador Éneas pelo ser humano fantástico e admirável. Eu tive muita sorte. No desespero ao ligar para ele e dizer: Eu vou desistir, pois não vou conseguir terminar, e ouvir: “Não desista não, você vai conseguir sim, esse mestrado é importante para você.” Pronto! Tudo fluiu! Eterna Gratidão! À coordenadora Eliane Ramos a quem sou muito grata pela minha trajetória no MPEA. Aos meus 5 irmãos que estão sempre torcendo e orando por mim. Aos meus tios Nilsa e José por todo o apoio desde a graduação. À minha afilhada Letícia e amigo Adolfo por me ajudarem nas tabelas suprindo minhas desabilidades computacionais. À Gestão do PMF (Fernanda Quintão e Flávia Mariano) por me proporcionar essa possibilidade de capacitação. Aos meus colegas da CCF Badu, principalmente minha querida equipe 374 (Dra Carolina, Abboud, Genicea, Jaqueline, Dayse e Kátia). Aos componentes da banca Professoras Silvia Teresa Carvalho, Aline Miranda, Eliane Ramos, Sonia Sirtoli e Rose Rosa pelo aceite e toda contribuição. A todos, muito obrigada! 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13 1.1 Motivação para o Tema ........................................................................................ 13 1.2 Contextualização do Tema ................................................................................... 15 1.3 Questões Norteadoras ........................................................................................... 18 1.4 Objeto .................................................................................................................. 18 1.5 Objetivo GeralOBJETIVO GERAL ..................................................................... 19 1.6 Objetivos Específicos .......................................................................................... 19 1.7 Justificativa e relevância ....................................................................................... 19 2. REFERENCIAL CONCEITUAL .............................................................................. 21 2.1 Estado da Arte ...................................................................................................... 21 2.2 Políticas Públicas .................................................................................................. 27 2.3 Os grupos .............................................................................................................. 29 2.4 Referencial Teórico ............................................................................................. 32 2.4.1 Teoria de Leninger......................................................................................... 32 2.4.2 Trabalho de Grupo Segundo Pichon-Riviére ................................................ 33 MÉTODO ....................................................................................................................... 35 3.1 Tipo de estudo ...................................................................................................... 35 3.2 Cenário de estudo ................................................................................................. 35 3.3 População e amostra ............................................................................................. 37 3.4 Critérios de inclusão ............................................................................................. 37 3.5 Critérios de exclusão ............................................................................................ 37 3.6 Coleta de dados ..................................................................................................... 37 3.7 Análise dos dados ................................................................................................. 39 3.8 Aspectos éticos ..................................................................................................... 40 3.9 Riscos e Benefícios ............................................................................................... 41 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................... 42 4.1. Categoria 1. As atividades grupais e suas características .................................... 49 4.2 Categoria 2. A integração enfermeiro-usuário nas práticas grupais ..................... 56 4.3 Categoria 3. Concepções teóricas e estratégias para abordagem dos grupos na APS. ............................................................................................................................ 60 5. PRODUTO ................................................................................................................. 67 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 77 Referências .....................................................................................................................79 APÊNDICE 1- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA ENFERMEIROS ............................................................................................................ 85 APÊNDICE 2- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA USUÁRIOS HIPERTENSOS E DIABÉTICOS. ........................................................... 86 APÊNDICE 3- INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS ................................ 88 ANEXO 1 ....................................................................................................................... 90 8 LISTA DE SIGLAS AB Atenção Básica ACS Agente Comunitário de Saúde APS Atenção Primária de Saúde BDENF Banco de Dados em Enfermagem BVS Biblioteca Virtual de Saúde CEP Comitê de Ética em Pesquisa DCNT Doenças Crônicas Não Transmissíveis DECS Descritores em Ciências da Saúde DF Distrito Federal DM Diabetes Mellitus ESF Estratégia Saúde da Família GBT Grupo Básico de Trabalho HAS Hipertensão Arterial Sistêmica LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde MEDLINE Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica MESH Medical Subject Headings MS Ministério da Saúde NASF Núcleo Ampliado de Saúde da Família NEEP Núcleo de Educação Permanente e Pesquisa OMS Organização Mundial de Saúde PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde PMF Programa Médico de Família PNAB Política Nacional de Atenção Básica RAS Redes de Atenção à Saúde SUS Sistema Único de Saúde TCC Trabalho de Conclusão de Curso TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UBS Unidade Básica de Saúde UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro 9 LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro 1- Descrição dos artigos selecionados de acordo com o autor, ano, título, periódico e resultados principais....................................................................................................................................16 Quadro 2- Síntese do Protocolo para grupos de educação em saúde aos hipertensos e diabéticos Tabela 1- Perfil dos enfermeiros participantes das entrevistas da APS Niterói......................................36 10 LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS Figura 1- Territorialização por Bairro e Policlínica Niterói/RJ...............................................31 Gráfico 1- Caracterização dos enfermeiros quanto ao sexo..................................................................37 Gráfico 2- Caracterização dos enfermeiros quanto a faixa etária..........................................................37 Gráfico 3- Caracterização dos enfermeiros quanto a religião.................................................................38 Gráfico 4- Caracterização dos enfermeiros quanto ao tempo de formado.............................................38 Gráfico 5- Caracterização dos enfermeiros quanto ao número de emprego..........................................39 Gráfico 6- Caracterização dos enfermeiros quanto ao tempo de atuação na APS.................................39 Gráfico 7- Caracterização dos enfermeiros quanto a Renda..................................................................40 Gráfico 8- Caracterização dos enfermeiros quanto a especialização na saúde pública..........................40 Gráfico 9- Caracterização dos enfermeiros quanto a capacitação para práticas grupais........................41 11 RESUMO Introdução: As doenças crônicas como a Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus constituem um desafio para os sistemas de saúde já que os portadores apresentam baixa adesão ao tratamento e estas condições são muito prevalentes, multifatoriais com coexistência de determinantes biológicos e socioculturais. As atividades em grupo se configuram como tecnologia prevista e estratégia efetiva para promover saúde, estimular mudanças e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Dessa forma, o enfermeiro deve estar preparado para desenvolver o trabalho educativo individual ou coletivo de modo a atuar como facilitador no intercâmbio de informações e conhecimentos nos grupos. Objetivo geral: Elaborar um protocolo de assistência de enfermagem para grupos de educação em saúde aos hipertensos e diabéticos no Programa Médico de Família de Niterói e como Objetivos específicos: conhecer os cuidados realizados pelos enfermeiros nos grupos educativos em saúde para hipertensos e diabéticos no Programa Médico de Família; descrever como as atividades grupais de educação em saúde para hipertensos e diabéticos têm sido realizadas pelos enfermeiros; discutir os cuidados realizados pelos enfermeiros nos grupos de educação em saúde para hipertensos e diabéticos na perspectiva sócio-cultural. Metodologia: pesquisa qualitativa, de abordagem descritiva, a coleta de dados ocorreu por meio de entrevista semiestruturada com os enfermeiros e observação participante nos grupos de educação em saúde aos hipertensos e diabéticos realizados na Clínica Comunitária da Família do Badu. Os critérios de inclusão foram: enfermeiros que desejaram participar da pesquisa; enfermeiros que realizavam grupos para hipertensos e diabéticos; os usuários hipertensos e diabéticos cadastrados e acompanhados nos grupos. Os critérios de exclusão serão: Os enfermeiros que atenderam os critérios de inclusão, mas estavam de licença ou férias. Os dados coletados foram analisados pela análise de Laurence Bardin. Resultados: foram organizados nos seguintes eixos temáticos: As atividades grupais e suas características; a integração usuário-enfermeiro nas práticas grupais e concepções teóricas e estratégias para abordagem dos grupos na Atenção Primária à Saúde Conclusões: Protocolo de enfermagem para grupos de educação em saúde aos hipertensos e diabéticos tem como proposta contribuir para respaldar as ações dos enfermeiros que atuam em grupos de educação em saúde, tendo em vista os aspectos socioculturais dos usuários. Descritores: processos grupais, enfermagem em saúde pública, hipertensão arterial, diabetes mellitus. 12 ABSTRACT Introduction: Chronic diseases such as Hypertension and Diabetes Mellitus constitute a challenge for health systems since patients have low adherence to treatment and these conditions are very prevalent, multifactorial with coexistence of biological and sociocultural determinants. The group activities are configured as predicted technology and effective strategy to promote health, stimulate changes and improve people's quality of life. In this way, the nurse must be prepared to develop individual or collective educational work in order to act as a facilitator in the exchange of information and knowledge in the groups. Objective: To develop a nursing care protocol for health education groups for hypertensive and diabetic patients in the Family Medical Program of Niterói and as Specific Objectives: to know the care performed by nurses in the health education groups for hypertensive and diabetic patients in the Medical Program family's; describe how the group activities of health education for hypertensive and diabetic patients have been performed by nurses; to discuss the care carried out by nurses in health education groups for hypertensive and diabetic patients from a socio- cultural perspective. Methodology: qualitative research, descriptive approach, data collection was done through a semi-structured interview with nurses and participant observationin the health education groups to hypertensive and diabetic patients at the Community Clinic of the Badu Family. The inclusion criteria used was: nurses who wish to participate in the research; nurses who perform groups for hypertensive and diabetic patients; the hypertensive and diabetic users registered and accompanied in the groups. The exclusion criteria used was: nurses who met the inclusion criteria but were on vacation or on leave. The data collected were analyzed by Laurence Bardin's analysis. Results: were organized in the following thematic axes: Group activities and their characteristics; the user-nurse integration in group practices and theoretical conceptions and strategies to approach groups in Primary Health Care Conclusions: Nursing protocol for health education groups for hypertensive and diabetic patients has as a proposal to contribute to support the actions of nurses who work in health education groups, considering the sociocultural aspects of the users. Descriptors: group processes, public health nursing, hypertension, diabetes mellitus. 13 INTRODUÇÃO 1.1 Motivação para o Tema O interesse em realizar essa pesquisa está relacionado à minha trajetória profissional na Estratégia Saúde da Família (ESF) em dois municípios do Rio de Janeiro: Petrópolis onde atuei de 2011 até 2012 e em Niterói de 2013 até os dias de hoje. Nesses serviços, percebi a demanda de atendimento que emerge diariamente pelos usuários hipertensos e diabéticos. No período em que atuei no município de Petrópolis, vivencie a implantação na minha unidade do grupo de cessação do tabagismo. Recebi uma capacitação em serviço durante três dias e passei a coordenar esse grupo. O resultado foi tão satisfatório que a cada dia surgiam novos usuários com interesse em participar do grupo. Sendo assim, meu entusiasmo e apreciação pelas atividades grupais tanto para executar quanto para pesquisar só crescia, portanto no período em que trabalhei em Petrópolis, cursei uma pós-graduação em saúde da família pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em que meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi intitulado “Grupo de cessação do tabagismo: relato de experiência na estratégia saúde da família”. Após um ano de trabalho nessa unidade, meu contrato foi rescindido, encerrei os grupos com mais de 40 usuários que conseguiram cessar o tabagismo. No ano de 2013 iniciei minha trajetória no Programa Médico de Família (PMF) de Niterói na Clinica Comunitária da Família Ilha da Conceição, em 2015 solicitei transferência para Clinica Comunitária da Família do Badu. O PMF adotou no período de 1992 a 2012, a concepção de modelo centrado na Estratégia de Saúde da Família, através de um desenho metodológico próprio, que difere em alguns aspectos da proposta do Ministério da Saúde em relação à composição de profissionais na equipe básica 1 . O processo de implantação teve como modelo o programa de Cuba, funcionou durante 20 anos com a concepção de Grupo Básico de Trabalho (GBT). Cada GBT era constituído por um coordenador, uma equipe de supervisores (composta por clínico geral, pediatra, ginecologista-obstetra, sanitarista, assistente social, enfermeiro e psiquiatra ou psicólogo), que prestavam apoio técnico e metodológico à equipe básica, constituída de médicos generalistas e técnicos de enfermagem 1 . 14 A partir de 2010, o enfermeiro e os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) passaram a compor a equipe básica do PMF, e a demanda no cotidiano do trabalho do enfermeiro acaba por destinar mais tempo as atividades de caráter administrativo em detrimento daquelas de caráter assistencial. Como exemplo, a regulação de exames e consultas com especialistas que é realizada pelo enfermeiro nas unidades do PMF. Concomitante a essa nova organização, iniciou-se um processo de aumento do número de usuários cadastrados por equipe, antes uma equipe constituída por um técnico de enfermagem e um médico atendia 750 usuários, atualmente esse número passou para 2 mil usuários por equipe nos módulos do PMF e nas unidades de Clínica Comunitária da Família ultrapassam o número de 2 mil usuários cadastrados por equipe. As equipes de saúde da família devem se organizar para mensalmente atender aos indicadores de desempenho estabelecidos pelo Ministério da Saúde (MS) em relação à área estratégica “Doença Crônica” cujos indicadores são: Proporção de pessoas com diabetes cadastradas, proporção de pessoas cadastradas com hipertensão, média de atendimentos por diabético, média de atendimentos por hipertenso. Logo, as atividades de grupos educativos em saúde tornam-se estratégia executada pelos enfermeiros do PMF para atender uma demanda assistencial que emerge diariamente nas unidades, para reorganizar os serviços de saúde e atender os indicadores do MS. Destarte, interessei-me em desenvolver um protocolo de enfermagem para grupos educativos aos hipertensos e diabéticos na Atenção Primária à Saúde (APS) por ser um dos grupos prioritários na ESF, pela demanda que esses usuários trazem para o serviço, por perceber na unidade em que atuo durante as consultas de enfermagem e visita domiciliar, a lacuna que existe na compreensão do autocuidado desses usuários. Além da percepção, durante conversas informais com os profissionais de todas as categorias, das dificuldades que estes possuem no manejo com grupos de educação em saúde aos hipertensos e diabéticos. No entanto, para atendimento em grupo na APS não há um instrumento, como um protocolo, diretriz, normatização ou caderno do MS especifico para nortear o trabalho do enfermeiro para prática dessa atividade. Protocolo é definido como: Protocolo é a descrição de uma situação específica de assistência/cuidado, que contém detalhes operacionais e especificações sobre o que se faz, quem faz e como se faz, conduzindo os profissionais nas decisões de 15 assistência para a prevenção, recuperação ou reabilitação da saúde. 2:3 É importante ressaltar que os grupos possuem características subjetivas, um espaço de encontro de saberes, culturas e costumes distintos. Logo escrever um protocolo para essa atividade, não é elaborar algo definido, engessado ou direcionado como uma linha de trem e sim elaborar um instrumento como se fosse uma trilha para nortear o enfermeiro que tenha dificuldades de coordenar esses grupos em saúde e para aqueles que desejarem incorporar as atividades grupais em seu processo de trabalho. Como de fato, a intenção desse estudo é proporcionar subsídios para que os enfermeiros realizem práticas grupais efetivas impactando de forma positiva na vida dos usuários. O MS assumiu o compromisso de estabelecer uma parceria com Estados, municípios e sociedade para apoiar a reorganização da rede de saúde, com vistas à melhoria da atenção aos portadores de diabetes e hipertensão, mediante o desenvolvimento de ações articuladas de promoção, prevenção, tratamento e recuperação 3 . Nesse contexto, o enfermeiro tem como importantes atribuições assistenciais, as orientações sobre mudança no estilo de vida e adesão ao tratamento que poderão ser abordadas nas consultas de enfermagem ou nas práticas grupais. 1.2 Contextualização do Tema A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus (DM) constituem os principais fatores de risco para as doenças do aparelho circulatório. Entre as complicações mais freqüentes decorrentes desses agravos encontram-se o Infarto Agudo do Miocárdio, o Acidente Vascular Encefálico, a Insuficiência Renal Crônica, as amputações de pés e pernas, a cegueira definitiva, os abortos e as mortes perinatais 3 . A HAS representa um sério problema epidemiológico no Brasil, tanto pela sua elevada prevalência na população adulta e idosa, quanto pelas complicações que acarreta, com acentuadas taxas de morbimortalidadee impactos relevantes nos custos hospitalares, previdenciários, econômicos e sociais 4 . Dados internacionais estimam que a doença afeta 1 bilhão de pessoas no mundo 4 . No Brasil a prevalência da hipertensão varia entre 22,3 e 43,9%, com média de 32,5% 5 . 16 O DM apresenta-se como um tema relevante por estar entre os maiores problemas de saúde pública, afetando em torno de 246 milhões de pessoas em todo o mundo 6 . O diabetes apresenta alta morbi-mortalidade, com perda importante na qualidade de vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou em 1997 que, após 15 anos de doença, 2% dos indivíduos acometidos estariam cegos e 10% terão deficiência visual grave. Além disso, estimou que, no mesmo período de doença, 30 a 45% terão algum grau de retinopatia, 10 a 20%, de nefropatia, 20 a 35%, de neuropatia e 10 a 25% terão desenvolvido doença cardiovascular 6 . As doenças crônicas, especialmente a Hipertensão Arterial e o Diabetes Mellitus constituem um desafio para os sistemas de saúde já que os portadores apresentam baixa adesão ao tratamento. O Plano de Reorganização da Atenção à HAS e ao DM estabelece diretrizes e metas para a atenção aos portadores desses agravos no Sistema Único de Saúde, mediante a reestruturação e a ampliação do atendimento básico voltado para esses agravos, com ênfase na prevenção primária, na ampliação do diagnóstico precoce e na vinculação de portadores à rede básica de saúde 3 . Nesse contexto, merece destaque a iniciativa do MS em desenvolver o 'Plano de Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis' 6 , (DCNT) que define e prioriza as ações e os investimentos necessários à preparação do Brasil para enfrentar e deter as DCNT no período 2011-2022 6 . Os serviços de saúde, em sua organização, têm a finalidade de garantir acesso e qualidade às pessoas. A Atenção Básica (AB), em sua importante atribuição de ser a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), tem o papel de reconhecer o conjunto de necessidades em saúde e organizar as respostas de forma adequada e oportuna, impactando positivamente nas condições de saúde por meio de ações previstas para serem executadas pela ESF. Assim essas ações são evidenciadas pelo MS, que visam à orientação da vigilância à saúde das famílias e dos seus entornos, propõe-se a estreitar o vínculo entre os portadores de hipertensão arterial e diabetes e as unidades de saúde 7 . Por conseguinte, um grande desafio atual para as equipes de AB é a Atenção em Saúde para as doenças crônicas. Estas condições são muito prevalentes, multifatoriais com coexistência de determinantes biológicos e socioculturais, e sua abordagem, para 17 ser efetiva, necessariamente envolve as diversas categorias profissionais das equipes de saúde e exige o protagonismo dos indivíduos, suas famílias e comunidade 3 . A atuação do enfermeiro da ESF nos programas de hipertensão e diabetes é da maior relevância, pelas propostas de abordagem não farmacológica, além de sua participação em praticamente todos os momentos do contato dos pacientes com a unidade 3 . Um dos problemas do modelo assistencial vigente está no processo de trabalho centrado no fazer do médico que concentra o cuidado para uma prática curativa, no entanto no campo da atenção básica é preciso inovar e não se restringir a intervenções tradicionais, sobretudo pelo fato de que o modelo de prática clínica centrada na dimensão biomédica e com olhar dirigido apenas para a doença é pouco eficiente 8 . Nesse cenário, o enfermeiro desempenha papel muito importante na vida dos usuários com doenças crônicas por meio de ações educativas em diferentes contextos, como, por exemplo, grupos educativos para hipertensos e diabéticos, visto que o controle tanto da hipertensão arterial como do diabetes mellitus exige grande cooperação por parte dos usuários e adoção de ações de autocuidado 9 . Junto com o pensamento crítico, é necessário elaborar métodos e tecnologias que analisem os problemas existentes e que propiciem uma mudança de posição interferindo diretamente no cuidado, promoção e proteção da saúde e da vida individual e coletiva 10 . Dessa forma, o enfermeiro deve estar preparado para desenvolver o trabalho educativo individual ou coletivo de modo a atuar como facilitador no intercâmbio de informações e conhecimentos nos grupos. A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) define algumas atribuições do enfermeiro como realizar consulta de enfermagem, visita domiciliar, procedimentos, atividades em grupo e conforme protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal (DF) 7 . O PMF possui na organização da assistência aos usuários com HAS e DM a consulta médica, de especialistas como cardiologista, endocrinologistas e por ser uma clínica que requer como conduta de tratamento orientação sobre mudança de estilo de vida, busca-se a adoção de hábitos alimentares saudáveis, abandono do tabagismo, prática de atividade física regular e adesão ao tratamento medicamentoso. Nesse contexto, o enfermeiro tem como importantes atribuições assistenciais, as orientações sobre mudança no estilo de vida e adesão ao tratamento que poderão ser abordadas nas consultas de enfermagem ou nas práticas grupais. 18 A possibilidade de proporcionar atendimento a um número maior de usuários por meio de grupos educativos se dá pela promoção de uma maior convivência dos usuários, a coletivização das angústias vivenciadas por cada um, podendo assim partilhar suas dificuldades de enfrentamento, suas angustias e buscar soluções muito mais coletivas do que individuais 11 . O modelo de atendimento em grupos tem sido uma forma adequada de auxiliar na promoção da compreensão de situações enfrentadas pelo indivíduo. Estes espaços favorecem o aprimoramento de todos os envolvidos, não apenas no aspecto pessoal como também no profissional, por meio da valorização dos diversos saberes e da possibilidade de intervir criativamente no processo de saúde-doença 11 . Este estudo se insere no Núcleo de Pesquisa em Psicossomática; Cuidados em Saúde e Enfermagem; Subjetividades na Perspectiva Transdisciplinar. 1.3 QUESTÕES NORTEADORAS Tendo em vista a potencialidade da prática em grupos, das atribuições inerentes ao enfermeiro no âmbito da saúde da família e minhas inquietudes a cada grupo realizado surgiram as seguintes questões norteadoras desse estudo: 1. Como o enfermeiro realiza as atividades de grupos educativos em saúde aos usuários hipertensos e diabéticos? 2. Como ocorre o processo de integração usuários e enfermeiros nas práticas grupais, considerando o aspecto sociocultural? 1.4 OBJETO Práticas grupais de educação em saúde realizadas por enfermeiros aos usuários hipertensos e diabéticos para elaboração de um protocolo de enfermagem na APS. 19 1.5 OBJETIVO GERAL Elaborar um protocolo de enfermagem para grupos de educação em saúde aos hipertensos e diabéticos da APS. 1.6 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Conhecer os cuidados realizados pelos enfermeiros nos grupos educativos em saúde aos hipertensos e diabéticos da APS; Descrever como as atividades grupais de educação em saúde para hipertensos e diabéticos têm sido realizadas pelos enfermeiros da APS; Discutir as atividades de cuidados dos enfermeiros na assistência aos usuários hipertensos e diabéticos na perspectiva sócio-cultural. 1.7 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA Esse estudo é importante porque a criação de um instrumento de trabalho, como protocolo, respalda as atribuições do enfermeiro frente às ações de cuidado aos usuários fundamentado no código de ética do exercício legal do enfermeiro e na PNAB. Cabe ressaltar que o uso de diretrizes e protocolos assistenciais pelas equipes de saúde está fortemente relacionado à qualidade da assistência,resultando em diagnósticos mais precisos, em tratamentos mais adequados, em melhor uso de recursos e exames e em melhores resultados em saúde 12 . Uma das direções revolucionárias de nossa prática em saúde a possibilidade de atender em grupos doentes portadores de doenças crônicas 13 . A utilização da tecnologia de grupo operativo, com desenvolvimento de atividade educativa, é um importante instrumento de ação do enfermeiro para o enfrentamento de doença crônica degenerativa de grande prevalência 13 . As atividades educativas em grupos, direcionadas a uma determinada clientela, como portadores de doenças crônicas, têm sido desenvolvidas pelo enfermeiro nas unidades do PMF como estratégia de prevenção e promoção de saúde, no entanto para a 20 realização dessa prática não há um protocolo, diretriz ou normativa para nortear o trabalho do enfermeiro com descrição de como executar o atendimento em grupo, tornando-se uma prática meramente intuitiva. Sendo assim, é necessário que tenham mais pesquisas e diretrizes que norteiem a gestão do trabalho com grupos, desde a implementação à avaliação. A falta de conhecimento sobre planejamento, dinâmica e funcionamento de grupos, pode acarretar dificuldades em obter bons resultados nesta atividade, ou até mesmo não atingir os objetivos traçados 14 . Logo, torna-se fundamental a criação de um protocolo de enfermagem para grupos educativos aos hipertensos e diabéticos na atenção primária com finalidade de respaldar o enfermeiro para execução de uma pratica com qualidade e resolutividade. Quanto às contribuições desse estudo, vale destacar que o PMF é um serviço de saúde que participa da formação dos graduandos de enfermagem, logo esse estudo tem a intenção de qualificar a assistência de enfermagem e o ensino na perspectiva da integração ensino-serviço. As Doenças Crônicas Não Transmissíveis e Promoção da Saúde são temas inseridos na área de prioridade de pesquisa no Brasil o que corrobora para a importância do desenvolvimento dessa pesquisa. 21 2. REFERENCIAL CONCEITUAL 2.1 ESTADO DA ARTE Para compreensão do estado da arte e fundamentação do tema da pesquisa, foi realizada uma revisão integrativa com intuito de buscar publicações sobre a questão norteadora: Como são realizadas as práticas grupais de educação em saúde aos hipertensos e diabéticos nos serviços de saúde? A pesquisa ocorreu no mês de fevereiro de 2018 na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), nas bases de dados Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e (BDENF), por meio dos descritores em Ciências da Saúde (Decs): hipertensão arterial, processos grupais, diabetes mellitus, enfermagem em saúde pública e seus respectivos: Medical Subject Headings (MeSH): hypertension, group processes, diabetes mellitus, public health nursing. A partir da combinação dos descritores hipertensão arterial and processos grupais, diabetes mellitus and processos grupais, enfermagem em saúde pública and processos grupais foram obtidos 213 publicações. Desses, foram excluídos 159 artigos após critérios estabelecidos conforme descrito abaixo. Os critérios de inclusão para seleção da amostra foram os seguintes: Artigos disponíveis na integra online; Artigos nos idiomas em inglês, português e espanhol; Artigos publicados nos últimos 10 anos. Aos critérios de exclusão foram descartados: Artigos repetidos; Artigos que não estavam relacionados à temática da pesquisa; Artigos que não possuíam evidências de contribuição para a enfermagem. Após leitura prévia com o objetivo de buscar informações que atendessem à elaboração do estudo em perspectiva foram selecionados 12 artigos conforme quadro 1 abaixo. 22 Quadro 1. Descrição dos artigos selecionados de acordo com o autor, ano, título, periódico e resultados principais. Autor Ano Título Periódico Resultados Principais Menezes LCG et al 2016 Estratégias educativas para pessoas diabéticas com pé em risco neuropático: síntese de boas evidências. Rev. Eletr. Enfermagem Todas as estratégias educativas são efetivas na promoção do autocuidado do pé diabético, porém, as estratégias grupais mostraram maior eficácia, Nogueira et al 2016 Pistas para potencializar grupos na Atenção Primária à Saúde. Rev. Bras. Enfermagem Organização do grupo que envolve investimentos de motivação e liderança por parte de quem coordena; a produção da grupalidade e coesão é resultado do encontro entre participantes e coordenadores, tecida pelos diálogos, dito e não ditos que se expressam no movimento grupal; o sentimento de pertença garante a permanência no grupo pelo reconhecimento de seus saberes e necessidades afetivas, sociais e de saúde. Pereira FRLP, Torres HC, Candido NA, Alexandre LR 2009 Promovendo o autocuidado em diabetes na educação individual e em grupo. Rev. Ciências Cuidado Saúde A prática educativa individual e em grupo apresenta-se como uma maneira eficaz de conscientizar o individuo sobre a importância do autocuidado, além de possibilitar a estes e aos profissionais de saúde discussão das informações acerca da doença e do tratamento. Fernandes MTOF,Silva LBS, Soares SM. 2011 Utilização de tecnologias no trabalho com grupos de diabéticos e hipertensos na saúde da família Rev. Ciência & Saúde Coletiva O estudo mostrou que os coordenadores de grupo necessitam de aporte teórico e que existe a incorporação de tecnologias que abrangem o contexto de uma prática ora pouco criticada e diferenciada e ora envolta por elementos diversificados do cuidado. Silva LB et al 2013 A utilização da música nas atividades educativas em grupo na saúde da família Rev. Latino- Am. Enfermagem Observou-se uma tentativa de os coordenadores transporem as barreiras do patológico a partir do uso da música. O estudo indicou a necessidade de capacitação desses coordenadores por meio de oficinas e acompanhamento constante de suas práticas musicais. Merakou K et al 2015 Group patient education: effectiveness of a brief intervention in people with type 2 diabetes mellitus in primary health care in Greece: a clinically controlled trial Health Education Research Observou-se uma diferença significativa nos parâmetros clínicos dos indivíduos que participaram do grupo educativo comparado aos que tiveram atendimento individual. Melo PM, Campos EA 2014 “O grupo facilita tudo”: significados atribuídos por pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2 a grupos de educação em saúde. Rev.Latino- Am. Enfermagem Os grupos estudados mostraram-se como instancias produtoras de sentidos e de significados, concernentes ao processo de adoecimento e aos modos de navegação social no interior do sistema oficial de saúde. Secco AC, Paraboni P, Arpini DM 2017 Os grupos como dispositivo de cuidado na AB para o trabalho Mudanças- Psicologia da saúde O trabalho com grupos ainda é um desafio para algumas equipes de saúde, porém quando as práticas grupais se efetivam através de uma 23 com pacientes portadores de Diabetes e Hipertensão perspectiva relacional e interativa em que os problemas e as soluções são partilhados num ambiente empático, seguro e contentor, essas têm se mostrado estratégias importantes e efetivas de promoção de saúde e autocuidado. Cardoso LS, et al 2011 Finalidade do processo comunicacional das atividades em grupo na Estratégia Saúde da Família Rev. Latino- Am. Enfermagem Estabelecimento de interações de reciprocidade entre profissionais/cliente/família favorece a intervenção promotora da saúde, porestimular a troca de conhecimentos entre os participantes, a respeito de suas experiências de saúde Oliveira AK, et al 2012 Práticas educativas em Diabetes Mellitus Rev. Gaucha Enfermagem As práticas de educação em saúde realizadas no Brasil enfocam num processo de mudança do paradigma da educação bancária para o enfoque da educação problematizadora e dialógica com vistas a promoção da saúde. Rocha LP et al 2010 Processos grupais na estratégia saúde da família: Um estudo a partir da percepção das enfermeiras Rev. Enferm. UERJ A diversidade de ações desenvolvidas requer dos profissionais uma organização prévia para contemplar as recomendações ministeriais. Silva FM et al 2014 Contribuições de grupos de educação em saúde para o saber de pessoas com hipertensão Rev. Brasileira de Enfermagem O grupo de educação em saúde foi apontado como espaço relevante, tanto pelas explicações disponibilizadas pelos profissionais, quanto pela troca de conhecimentos e experiências com os demais participantes. Fonte: Elaborado pela autora De acordo com os artigos selecionados e lidos alguns assuntos foram mais abordados como planejamento dos grupos, estratégias e atividades em grupo, coordenador de grupos, efetividade das práticas grupais e conceitos de grupo. O grupo é considerado um espaço de comunhão entre diferentes culturas, conhecimentos e visões de mundo, no qual cada pessoa se diferencia e se reconhece no outro, por meio de uma relação dialógica que lhes possibilita falar, escutar, refletir, questionar e aprender mutuamente 15 . Essa modalidade de assistência incorporada na lista de procedimentos financiados pelo SUS direcionada para indivíduos diabéticos e hipertensos ficou conhecida como grupos Hiperdia 16 . A partir da leitura dos artigos, observa-se que estudo aponta para efetividade das praticas grupais na APS trazendo benefícios para o individuo com doença crônica 17 . Estudos trazem estratégias utilizadas nos grupo de educação em saúde que possibilitaram melhoria da qualidade de vida das pessoas assistidas 17, 18 . O estudo intitulado: “Estratégias educativas para pessoas diabéticas com pé em risco neuropático” teve como objetivo identificar as melhores evidências sobre estratégias de educação em saúde utilizadas para ensino-aprendizagem de pessoas com 24 diabetes, nas quais foram citadas orientação em grupo, orientação individual em consulta e a distancia por telefone, dentre essas no que diz respeito à efetividade das estratégias, o trabalho em grupo foi a mais efetiva 18 . Essa estratégia voltada para educação em saúde, que valoriza a discussão e o dialogo, amplia o entendimento do usuário sobre seus problemas e, conseqüentemente, favorecem mudanças nos hábitos de vida que constituam risco à saúde 19 . A educação em saúde é favorecida pelas atividades em grupo, na medida em que essa modalidade promove o aprofundamento das discussões referentes às questões de saúde, facilitando a construção coletiva de saberes, sendo assim os grupos de educação em saúde são estratégias utilizadas pelos profissionais da atenção primária com foco na promoção da saúde 15 . Os grupos de educação em saúde aos hipertensos e diabéticos tem a finalidade de promoção da saúde e também de prevenção de complicações. No entanto, na literatura observa-se que as práticas grupais são executadas com foco maior no controle da doença e nos problemas de saúde apresentados pelos usuários. Conforme aponta o estudo em que relata o acompanhamento através de grupos de apoio aos portadores de diabetes por 6 meses para avaliação de parâmetros clínicos como: peso corporal, glicemia capilar pós-prandial, pressão arterial e circunferência abdominal, logo essas intervenções profissionais visam, especialmente, à obtenção do controle glicêmico para evitar ou minimizar tais complicações 20 . Para reafirmar essa discussão, outro achado nesse estudo trata-se de um ensaio clinico controlado 21 que objetivou avaliar o impacto da intervenção de grupo educativo em pessoas com DM Tipo II da atenção primária da Ática na Grécia. Uma amostra de 193 pessoas com DM tipo 2 foi dividida em dois grupos, 138 indivíduos (intervenção - grupo educativo) e 55 pacientes (grupo controle individual). Os indivíduos da intervenção participaram de um grupo educativo estruturado em que utilizaram Mapa de conversação enquanto o grupo controle recebeu atendimento individual padrão. Esses indivíduos tiveram índice de massa corporal, colesterol, hemoglobina glicada e triglicerídeos avaliados antes da intervenção e após 6 meses. Observou-se uma diferença significativa nos parâmetros clínicos dos indivíduos que participaram do grupo educativo comparado aos que tiveram atendimento individual. 25 Na prática dos enfermeiros da saúde da família, as ações são organizadas para usuário e família com intenção de prevenir doenças e agravos, como, também para diminuir o sofrimento desses no enfrentamento de situação de adoecimento 22 . Esse achado é corroborado em uma revisão de literatura crítica-reflexiva que afirma que estudos têm apontado que muitos serviços de saúde têm embasado suas ações em modelos prescritivos, com enfoque no controle da doença, reproduzindo a lógica individual nas práticas grupais 23 . Estudo afirma que os grupos Hiperdia são dispositivos terapêuticos nos quais se realizaram ações de educação em saúde, seguimento clínico regular, fornecimento de medicação, controles periódicos e atendimento de intercorrências 16 . Portanto a realização de grupos educativos ainda é um desafio para as equipes de saúde, porque muitas vezes seguem trabalhando sem levar em consideração os anseios, necessidades e demandas dos usuários, executando suas atividades de maneira mais prescritiva do que interativa. Nesse contexto, observa-se, que nem sempre os profissionais de saúde estão preparados para assumir a coordenação desses grupos, na medida em que esta prática exige atributos e habilidades, imprescindíveis para a interpretação dos fenômenos grupais 24 . Entretanto, um estudo realizado em cinco unidades básicas de Belo Horizonte cujo objetivo foi descrever como a música é utilizada no desenvolvimento de atividade educativa em grupo, observou-se uma tentativa dos coordenadores transporem as barreiras do patológico a partir do uso da música, considerando o grupo na sua integralidade. No entanto, este estudo indicou como avanço para a produção do conhecimento, a necessidade de capacitação dos coordenadores por meio de oficinas e acompanhamento constantes de suas praticas musicais 25 . Mediante o exposto, apesar de prevalecer grupos focados na doença, há esforços de coordenadores para lançar estratégias não tradicionais apontando para a criatividade e buscando novas maneiras de cuidar 25 . Sendo assim, os grupos de educação em saúde são considerados ações revolucionárias na assistência da APS, no entanto é preciso que os enfermeiros coordenadores saibam conduzir essa prática por meio de estratégias efetivas com impacto positivo na vida das pessoas para que essa prática assistencial não seja desacreditada pelos usuários. 26 Nesse sentido, é necessário abordar temas de cunho social, cultural, de cidadania além das discussões centradas na prevenção de doenças. O enfermeiro, como profissional fundamental da equipe, assume a educação em saúde como atividade inerente do seu processo de trabalho, e ao coordenar os trabalhos de grupo deve ter o domínio de tecnologia para aplicá-la em beneficio do desenvolvimento grupal. O papel do coordenador de grupo é ajudar o grupo a sair dos estereótipos, do já conhecido, e facilitar o diálogo entre os membros, de modo a não centralizar a fala do grupo em si 24 . Estudos dessa revisão discutem a temática da coordenação do grupo sobre diversosaspectos: Rocha et al 26 analisam o modo de desenvolvimento das atividades em grupo da ESF pelo enfermeiro e equipe multiprofissional. Apontam sobre a necessidade dos coordenadores atuarem como facilitadores no intercambio de informações e conhecimentos, num processo dialógico com o usuário e a comunidade a partir de técnicas diferenciadas e integrativas, evitando as palestras. Esse mesmo estudo cita que, o coordenador deve-se dar preferência a ações lúdicas, como teatros, jogos, trabalhos artesanais e dinâmicas audiovisuais, agregadas às informações da temática que a equipe deseja trabalhar, ainda relata para um processo de trabalho eficaz é necessário um planejamento das atividades 26 . Constata-se que a periodicidade do grupo mensal é considerada satisfatória para construir e manter um vínculo profissional-usuário. Estudos afirmam que trabalhar com grupos ainda é um desafio, torna-se necessário que o coordenador seja devidamente capacitado, pois este ainda trabalha numa lógica “profissional centrada” executando suas atividades de maneira mais prescritiva do que interativa e modelos de intervenção centrados na transmissão vertical e impositiva do conhecimento prescritivo do profissional 19, 23 . A coordenação dos grupos deve ser representada por uma figura que o usuário possa depositar suas ansiedades e dificuldades, é fundamental que tenha atitude de maternagem, de pensar junto, apoiar na construção da autonomia. Sendo assim, a coordenação se destaca pela relação de horizontalidade e proximidade criando um contexto favorável para estimular as potencialidades dos integrantes 17, 26 . Estudos relatam que os coordenadores do grupo têm utilizado as atividades grupais para verificar pressão arterial, pesagem, glicemia capilar, entrega de 27 medicamentos, troca de receitas, marcação de exames e consultas com intenção de monitorar a situação de saúde dos usuários e como uma estratégia para participação nos grupos 19, 26 . Destaca-se ainda a diversidade de práticas desenvolvidas nos grupos pelo coordenador, compreendendo ações curativas, dialógicas e lúdicas, sendo que uma não exclui a outra e todas convergem para assistência integral ao cliente 17 . As bases teóricas que norteiam o cuidado do enfermeiro coordenador na prática das atividades grupais foram identificadas em apenas um artigo, dos 16 selecionados. Sendo assim, verifica-se essa lacuna que precisa ser preenchida com realização de novos estudos acerca de embasamentos teóricos nas praticas grupais. 2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS As políticas públicas de saúde devem viabilizar o acesso do usuário às instituições, essas por sua vez, devem promover a acessibilidade aos serviços propostos a estes usuários, nesse sentido esse estudo terá como fundamentação as seguintes políticas: A Lei Nº 8080, De 19 DE SETEMBRO DE 1990 que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências 27 . Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. § 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. PORTARIA Nº 2.488, DE 21 DE OUTUBRO DE 2011 aprova a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) 7 estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da atenção básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Esta portaria, conforme normatização vigente do SUS define a organização de Redes de Atenção à Saúde (RAS) como estratégia para um cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população. As RAS constituem-se em arranjos 28 organizativos formados por ações e serviços de saúde com diferentes configurações tecnológicas e missões assistenciais, articulados de forma complementar e com base territorial, e têm diversos atributos, entre eles, destaca-se: a atenção básica estruturada como primeiro ponto de atenção e principal porta de entrada do sistema, constituída de equipe multidisciplinar que cobre toda a população, integrando, coordenando o cuidado e atendendo às suas necessidades de saúde. A AB deve cumprir algumas funções para contribuir com o funcionamento das Redes de Atenção à Saúde, são elas 7 : I - Ser base: ser a modalidade de atenção e de serviço de saúde com o mais elevado grau de descentralização e capilaridade, cuja participação no cuidado se faz sempre necessária; II - Ser resolutiva: identificar riscos, necessidades e demandas de saúde, utilizando e articulando diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos sociais; III - Coordenar o cuidado: elaborar, acompanhar e gerir projetos terapêuticos singulares, bem como acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das RAS. Atuando como o centro de comunicação entre os diversos pontos de atenção, responsabilizando-se pelo cuidado dos usuários por meio de uma relação horizontal, contínua e integrada, com o objetivo de produzir a gestão compartilhada da atenção integral. Articulando também as outras estruturas das redes de saúde e intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais. IV - Ordenar as redes: reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando-as em relação aos outros pontos de atenção, contribuindo para que a programação dos serviços de saúde parta das necessidades de saúde dos usuários. No entanto essa política teve seu texto revisado sendo atualizada através da PORTARIA Nº 2.436, DE 21 DE SETEMBRO DE 2017 28 , tendo como principais alterações o financiamento de equipes de Atenção Básica, a continuidade do uso dos sistemas de informação em saúde, a integração com as vigilâncias, mudanças com relação ao prazo de implantação das equipes, à cobertura do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), ao teto populacional e à incorporação do Registro Eletrônico em Saúde, além da criação do perfil de gerente de Unidade Básica de Saúde (UBS). 29 O PLANO DE AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA O ENFRENTAMENTO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT) no Brasil, 2011-2022 define e prioriza as ações e os investimentos necessários para preparar o país para enfrentar e deter as DCNT nos próximos dez anos 6 . Para a consecução desse Plano, foram estabelecidas diretrizes que orientarão a definição ou redefinição dos instrumentos operacionais que o implementarão, como ações, estratégias, indicadores, metas, programas, projetos e atividades 6 . O objetivo do Plano de Enfrentamento de DCNT é o de promover o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas efetivas, integradas, sustentáveis e baseadas em evidências para a prevenção e o controle das DCNT e seus fatores de risco e fortalecer os serviços de saúde voltados às doenças crônicas. O Plano aborda os quatro principais grupos de doenças (circulatórias, câncer, respiratórias crônicas e diabetes) e seus fatores de risco em comum modificáveis (tabagismo, álcool, inatividade física, alimentação não saudável e obesidade) e define as diretrizes e ações em: a) vigilância, informação, avaliação e monitoramento; b) promoção da saúde; c) cuidado integral 6 . PORTARIA Nº 687, DE 30 DE MARÇO DE 2006 aprova a Política de Promoção da Saúde cujo objetivo geral é promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscosà saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais, prioriza ações de alimentação saudável, atividade física, prevenção ao uso do tabaco e álcool, inclusive com transferência de recursos a estados e municípios para a implantação dessas ações de uma forma intersetorial e integrada 29 . 2.3 OS GRUPOS Os indivíduos vivem grande parte do tempo em grupo como a família, escola, clubes, igrejas, cursos, etc. Desde o nascimento, participa de diferentes grupos, numa constante dialética entre a busca de sua identidade individual e a necessidade de uma identidade grupal e social 30 . No grupo, o individuo aprende, desenvolve-se, se modifica, se protege, se arrisca, se identifica e se diferencia. As diversas possibilidades de aprendizagem em grupo favorecem mudanças rápidas e eficientes 30 . 30 O trabalho com grupo surge na década de 30, pelo psicólogo alemão Kurt Lewin escreveu sobre a “dinâmica de grupo” influenciando o movimento grupalista. Lewin demonstrou que, quando os seres humanos participavam de atividades em grupos democráticos, não somente sua produtividade era intensificada, como também “o seu nível de satisfação era elevado e as suas relações com os outros baseavam-se na cooperação e na redução das tensões 31 . Jacob Levy Moreno, romeno, médico e filosofo, em 1932, foi quem usou o termo Psicoterapia de Grupo. Desde 1920 já vinha usando técnicas de grupos com ênfase na catarse e na dramatização de conflitos psicológicos como fatores terapêuticos principais. Utilizava a dramatização para discutir problemas sociais com grupos de pessoas antes mesmo de lançar suas teorias, hoje muito utilizadas como técnicas grupais. Na concepção de Moreno todos os grupos são agentes terapêuticos, onde a espontaneidade, criatividade e interação são regras fundamentais 32 . Freud é considerado o pai da psicanálise, foi o primeiro a utilizar os postulados da Psicanálise para explicar a Dinâmica Grupal em sua obra "Psicologia de grupo e análise do ego. Assim, os estudos psicanalíticos com grupos partem da hipótese que este, enquanto conjunto de vários sujeitos interagindo é o lugar de uma realidade psíquica própria. A psicanálise busca ajudar os indivíduos a descobrir e compreender as fontes de seus conflitos, o grupo aparece como um lugar privilegiado onde os conteúdos individuais inerentes a cada membro possam vir a se manifestar 33 . Joseph H. Pratt trabalhava como clínico geral, no Ambulatório do Massachussetts General Hospital (Boston). Em 1905, iniciou programa de assistência aos doentes de tuberculose, incapazes de arcar com os custos de internação. Reunia-os uma vez por semana, em grupos de 15 a 20 membros, no máximo 25, para que fosse possível estabelecer maior contato com os pacientes 31 . Além dos cuidados clínicos, orientava-os a adotar atitudes positivas em relação às suas condições, enfatizando a necessidade de manter a confiança e a esperança 31 . Pratt começou seus grupos com o propósito educacional de ensinar aos pacientes a melhor maneira de cuidar de si próprio e da doença. Alguns anos depois, seu modelo foi adotado em diversas localidades dos Estados Unidos da América para tratamento não só de pacientes com tuberculose bem como com doenças mentais. Assim, desenvolveu seu trabalho de forma intuitiva, espontânea, humana e empírica, focalizando o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, princípios que 31 seriam posteriormente incorporados como eixo básico do tratamento dos transtornos mentais 35 . Enrique Pichon-Rivière psiquiatra e psicanalista argentino elaborou a teoria de “grupos operativos” a partir da vivencia em Buenos Aires, no hospital de Las Mercedes, uma greve de enfermeiras. Por esta ocasião, propôs para os pacientes com doenças mentais menos graves uma assistência para aqueles mais comprometidos. A experiência produtiva para ambos os pacientes, os cuidadores e os cuidados, estabelecendo uma troca de posições e lugares, resultando numa melhor integração 32 . A teoria de grupos operativos de Pichon-Rivière será um dos referenciais teóricos para embasamento dessa pesquisa. De acordo com Zimerman 30 , os grupos podem ser classificados em dois grandes ramos Psicoterapêuticos e Operativos. Cada um destes por sua vez subdivide-se em outras ramificações. Assim, os grupos operativos - como o nome indica - visam a operar em uma determinada tarefa, sem que haja uma precípua finalidade psicoterápica. Eles cobrem os seguintes quatro campos: Grupos de ensino-aprendizagem, Institucionais, Comunitários e Terapêuticos. Os grupos psicoterápicos, por sua vez, também podem ser subdivididos em quatro linhas de utilização da dinâmica grupal, e cada uma delas obedece a uma distinta corrente teórico-técnica: A corrente psicodramática, teoria sistêmica, cognitivo- comportamental e corrente psicanalítica 35 . No entanto, a essência dos fenômenos grupais, é a mesma em qualquer tipo de grupo, pode-se afirmar o fato de que o que determina as óbvias diferenças entre os distintos grupos é a finalidade para a qual eles foram criados e compostos 35 . Os grupos são classificados de acordo com o MS 36 em: aberto quando há uma temática aberta aos interessados, com uma divulgação geral na unidade de saúde e os participantes variam não é o mesmo grupo de pessoas em todos os encontros e fechado tem um limite de participantes, a programação é determinada do início ao fim para determinadas pessoas e uma proposta terapêutica definida para determinadas pessoas participantes. 32 2.4 REFERENCIAL TEÓRICO Este estudo tem como referencial teórico os preceitos da Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural de Madeleine Leininger e a Técnica de Grupo Operativo, fundamentada na Psicologia Social de Enrique Pichon-Riviére. 2.4.1 TEORIA DE LENINGER A Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural de Madeleine Leininger propõe o cuidado sob a ótica transcultural e holística 37 e objetiva identificar os meios para proporcionar um cuidado de enfermagem culturalmente congruente aos fatores que influenciam a saúde, o bem-estar e a doença das pessoas de culturas diversas e semelhantes 38 . Foi desenvolvida a partir da Antropologia; porém, reformulada para a Enfermagem Transcultural com perspectivas de cuidado humanizado 37 . Essa teoria propõe três formas para se realizar o cuidado, considerando a cultura: a preservação do cuidado – que se constitui naqueles cuidados já praticados por um indivíduo, família ou grupo, benéfico ou mesmo inócuos para a saúde; a acomodação do cuidado – ações e decisões para assistir, dar suporte, facilitar as pessoas de determinada cultura e adaptar-se ou negociar com provedores de saúde profissionais; e a repadronização do cuidado – ações e decisões para facilitar os indivíduos e grupos a reordenar, trocar ou, em grande parte, modificar seus modos de vida para o novo, o diferente, beneficiando os padrões de cuidado à saúde 38 . Na sua aplicação, o enfermeiro considera os indivíduos, famílias ou grupos, ativamente envolvidos no processo de cuidar, evitando as práticas de saúde culturalmente impositivas 37 . O cuidado satisfatório é aquele em que o profissional considera o indivíduo como participante no planejamento e ações do cuidado, de modo que a atuação da enfermeira é direcionada para a preservação, acomodação ou repadronização das práticas de saúde 38 . Dessa forma, o oposto da prática impositiva é o cuidar culturalmente congruente, no qual o indivíduo é sujeito do cuidado, ser participativo, que possui conceitos próprios de saúde, doença e necessidades de cuidados 38 . Diante do contexto da assistência de enfermagem na saúde da família, o enfermeiro desempenhapapel muito importante na vida dos usuários com doenças 33 crônicas com práticas educativas que proporcionem a adoção de ações de autocuidado para o controle tanto da hipertensão arterial como do diabetes mellitus. Logo, o cuidado cultural permite a construção de um plano de cuidados único e congruente ao contexto cultural do indivíduo, havendo, de certa forma, o alcance sobre a forma como o mesmo deseja participar do cuidado, qualificando-o. A intenção é o reconhecimento singular dos respectivos saberes e práticas de cuidado, valorizando a totalidade da vida de cada um, tudo que o cerca, numa perspectiva holística da vida humana 38 . 2.4.2 TRABALHO DE GRUPO SEGUNDO PICHON-RIVIÉRE A técnica de grupo operativo fundamentada na Psicologia Social de Enrique Pichon-Riviére, grande psiquiatra criador dos Grupos Operativos, constitui um instru- mento de intervenção grupal, sustentado na concepção de sujeito, que é social e historicamente produzido. Neste caso, o grupo é considerado como a unidade básica de interação entre os sujeitos, que se encontra em constante dialética com o ambiente em que vivem, ou seja, constroem o mundo e nele se constroem, com a inter-relação entre os sujeitos valorizando a experiência da aprendizagem 39 . O objetivo da técnica é abordar, através da tarefa, da aprendizagem, os problemas pessoais relacionados com a tarefa, levando o indivíduo a pensar. A execução da tarefa implica em enfrentar alguns obstáculos que se referem a uma desconstrução de conceitos estabelecidos e de certezas adquiridas. Para o grupo implica em trabalhar sobre o objeto-objetivo (tarefa explícita: aprendizagem, diagnóstico ou tratamento) e sobre si (tarefa implícita: o modo como cada integrante vivencia o grupo), buscando romper com estereótipos e integrar pensamento e conhecimento 39 . Segundo Pichon-Riviére o conceito de grupo operativo é: “Um conjunto restrito de pessoas ligadas por constantes de tempo e espaço, articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe de forma explícita ou implícita a realizar uma tarefa, que constitui sua finalidade” 39:175 . Neste caso, não só o resultado é importante, como também o processo que possibilitou a mudança dos sujeitos. Desta forma, o grupo operativo não está centrado nas pessoas individualmente, nem no grupo, mas no processo de inserção dos sujeitos 34 no grupo, na noção de vínculo e na tarefa que estes se propõem a realizar em conjunto, buscando alcançar os objetivos comuns 13 . A aprendizagem é um dos indicadores de fundamental importância no processo grupal. A partir do processo interacional, estabelece-se uma situação de aprendizagem, que permite aos integrantes apropriarem-se da realidade, mutuamente, e aprenderem a pensar em uma coparticipação do objeto de conhecimento, ou seja, compartilhando os pensamentos e conhecimentos que cada um tem, compreendendo estes como produções sociais 13 . A aprendizagem acontece a partir da leitura crítica da realidade, através de uma constante investigação, em que a resposta alcançada possibilita o iniciar de novas perguntas, em que a capacidade de compreensão e de ação transformadora de uma realidade envolve mudanças nas pessoas integradas entre si e no contexto no qual as mesmas estão inseridas 13 . Assim, o grupo apresenta-se como instrumento de transformação e seus integrantes passam a estabelecer relações grupais que vão se constituindo, na medida em que começam a partilhar objetivos comuns, a ter uma participação criativa e crítica e a poder perceber como interagem e se vinculam 39 . 35 MÉTODO 3.1 Tipo de estudo Para desenvolver essa pesquisa optei pela abordagem qualitativa, de natureza descritiva. A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Procura descobrir, com a maior precisão possível, a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e suas características 40 . A pesquisa pode ser considerada um procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Busca-se de modo significativo encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos 41 . Em uma pesquisa com abordagem qualitativa é necessário um diagnóstico inicial da situação e trabalhar com dados e busca a compreensão e investigação dos significados das relações humanas 41 . 3.2 Cenário de estudo Este estudo teve como campo para seu desenvolvimento 8 unidades PMF e Policlínicas de Saúde de Niterói no Estado do Rio de Janeiro que realizam grupos para hipertensos e diabéticos conforme descritas abaixo: As unidades estão distribuídas de acordo com as Regiões conforme Figura 1 abaixo: (Regional Praias das Baia I (Policlínica Regional Carlos Antonio da Silva ,Clinica Comunitária da Família - CCF Ilha da Conceição e PMF Maruí); Praias da Baia II (Policlínica Sergio Arouca) Regional Norte I (PMF Bernardino e Clinica Comunitária da Família- CCF Teixeira de Freitas); Regional Norte II (Policlínica Engenhoca); Regional Leste Oceânica (PMF Cafubá I) e Regional Pendotiba (Policlínica Regional Largo da Batalha, PMF Atalaia, e PMF Matapaca). 36 Figura 1: Territorialização por Bairro e Policlínica Niterói/RJ Fonte: Fundação Municipal de Saúde de Niterói, 2016 O trabalho de campo foi estruturado em duas etapas: Observação participante e Entrevista com enfermeiros. Os enfermeiros participantes atuam nas seguintes unidades: PMF Atalaia, PMF Bernardino, PMF Cafubá, CCF Ilha da Conceição, PMF Matapaca, PMF Maruí e CCF Teixeira de Freitas e as Policlínicas Regionais Largo da Batalha e Engenhoca. Para coleta de dados (observação participante) durante a realização de grupos educativos aos hipertensos e diabéticos ocorreu na CCF Professor Barros Terra localizada no Badu na Regional Pendotiba, unidade de atuação do pesquisador principal. Esse serviço funcionou como Unidade Básica de Saúde (UBS) durante 28 anos e a partir de 2014 tornou-se Clínica Comunitária da Família passando a integrar 4 equipes no modelo de saúde da família e mantendo alguns especialistas médicos e não médicos que já atuavam quando UBS. Passei a fazer parte como enfermeira de uma dessas equipes em setembro de 2015 até março de 2018, quando solicitei transferência para o PMF Atalaia. 37 3.3 População e amostra Os participantes da pesquisa foram selecionados: Durante os treinamentos de educação permanente foi possível realizar um levantamento de quais unidades de saúde realizam a prática de atividades em grupos, sendo assim foram selecionados 20 enfermeiros (as) que coordenam os grupos educativos para hipertensos e diabéticos em suas unidades; Os usuários hipertensos e diabéticos participantes dos grupos realizados na CCF Badu. 3.4 Critérios de inclusão Enfermeiros (as) que desejaram participar da pesquisa; Enfermeiros (as) que realizavam grupos educativos para hipertensos e diabéticos no PMF, Clinicas Comunitárias da Família e Policlínicas de Niterói; Usuários hipertensos e diabéticos cadastrados e acompanhados na CCF Badu. 3.5 Critérios de exclusão Enfermeiros (as) que atenderam aos critérios de inclusão, mas que se recusaram a participar e aqueles que estavam de licença ou férias no período da entrevista; Usuários hipertensos e diabéticos que não desejaram participar do estudo; 3.6 Coleta de dados Para a coleta de dados, foi utilizada a entrevista semiestruturada com enfermeiros que atenderam aos critérios de inclusão desta pesquisa e a observação participante nos grupos para hipertensos e diabéticos. O roteiro de entrevista semiestruturada, individual compreendendo perguntas abertas e fechadas,tendo relação com o objetivo da pesquisa, com os enfermeiros que realizam grupos para hipertensos e diabéticos. O roteiro para orientação pode ser 38 modificado durante a entrevista caracterizando certa flexibilidade, mas sem desviar-se do tema 43 . A entrevista é a técnica mais usada no processo de trabalho de campo. Ela ressalta a importância do trabalho de campo formado a partir de referenciais teóricos e de aspectos que envolvam questões conceituais. Na forma de realizá-los é que se revelam as preocupações científicas dos pesquisadores na forma da escolha dos fatos a serem coletados como a forma de recolhê-los 44 . A entrevista como uma conversa orientada levando para um objetivo definido que irá recolher através do interrogatório dados para a pesquisa. E que se deve recorrer a entrevista como forma de se obter resultados que não são encontrados em registros e fontes documentais 45 . Ao realizar contato com os enfermeiros das unidades definidas para pesquisa, 4 enfermeiros se recusaram a participar, 2 enfermeiras encontravam-se de férias no período da entrevista. No período da coleta de dados da pesquisa, os profissionais do PMF estavam passando por um processo em que todos os funcionários seriam demitidos e recontratados por meio de um processo seletivo de avaliação curricular. Essa situação dificultou a coleta de dados com todos os enfermeiros que atendiam aos critérios de inclusão, visto que os funcionários estavam desmotivados e apreensivos com o resultado da seleção. Cabe ressaltar que os usuários não foram entrevistados, os dados surgiram a partir das minhas observações durante os grupos de educação em saúde. As entrevistas foram agendadas previamente por telefone, ocorreram nas unidades de atuação dos enfermeiros, assim o pesquisador principal que se deslocou até às unidades de saúde, sendo realizadas com 10 enfermeiras distribuídas nas unidades de PMF, Clínicas Comunitárias da Família e Policlínicas Regionais no mês de fevereiro de 2018. As entrevistas foram gravadas por meio de gravador de celular para garantir a fidedignidade dos dados, total de 3horas e 36 minutos e com duração média de 20 minutos em cada entrevista, todas transcritas na íntegra no software Word, sendo respeitada a linguagem e a maneira peculiar de expressão de cada entrevistado. Os trechos dos relatos dos participantes foram apontados em itálico e entre apóstrofes (‘ ’), além disso, a fim de manter o anonimato e preservar a identidade dos enfermeiros e 39 usuários envolvidos no estudo, utilizou-se uma codificação com as seguintes letras e seu número de ordem no estudo: enfermeiro (E) acrescido de 1, 2, 3,... 10 e usuário (U). Com intuito de maior aprofundamento da investigação, foi realizada observação participante na Clínica Comunitária da Família Professor Barros Terra nos grupos de educação em saúde aos hipertensos e diabéticos, durante a execução de 9 encontros que aconteceram aproximadamente de 8h30 min às 10h:30min (com duração de 1 hora e 20 minutos a 2 horas em cada encontro, totalizando 12 horas) com um total de 77 usuários, média de 15 usuários por grupo, a maioria da terceira idade com predominância do sexo feminino, os depoimentos emergiram durante a observação, bem como os registros de diário de campo após o término dessas atividades. A pesquisa de campo é o tipo de pesquisa que pretende buscar a informação diretamente com a população pesquisada. Ela exige do pesquisador um encontro mais direto. Nesse caso, o pesquisador precisa ir ao espaço onde o fenômeno ocorre, ou ocorreu e reunir um conjunto de informações a serem documentadas 45 :31 Essas três modalidades de técnicas de investigação: entrevista com enfermeiros, diária de campo das observações e produções da literatura sobre a temática permitem a realização da triangulação de dados dando maior confiabilidade à pesquisa qualitativa 46 . 3.7 Análise dos dados Na análise, o pesquisador entra em maior detalhe sobre os dados decorrentes da pesquisa, a fim de conseguir respostas as suas indagações, e procura estabelecer as relações necessárias entre os dados obtidos e as hipóteses formuladas. Estas são comprovadas ou refutadas, mediante a análise 46 . Os dados coletados das entrevistas com os enfermeiros foram baseados pela proposta de análise de conteúdo de Bardin, que consiste em um conjunto de instrumento e técnicas metodológicas que se aplicam em diversificados discursos. Trata-se de um esquema geral no qual podemos verificar um conjunto de processos que podem ser implementadas para o tratamento dos dados e analisar o conteúdo dos mesmos 47 . A análise de conteúdo se traduz como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por meio de procedimentos sistematizados e objetivos, a descrição de conteúdo das mensagens e indicadores (qualitativos ou não), que permitem 40 a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens 47 . Entre as várias modalidades de análise de conteúdo conhecidas, a análise temática pareceu a mais apropriada para este estudo, a qual consiste na identificação de núcleos de sentido que têm relação com o objeto de estudo escolhido. Esses núcleos de sentido são, então, relacionados às características comportamentais ou outras estruturas relevantes apreendidas no discurso 47 . Após leitura das entrevistas, os depoimentos foram analisados e categorizados conforme AC de Bardin. 3.8 Aspectos éticos O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Antônio Pedro, conforme preconiza a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde a qual delibera as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de pesquisa em relação a seres humanos 48 em 29 de Janeiro de 2018, sob o Parecer 2.476.867, Registro CAAE: 79103617.2.0000.5243 em anexo. Ressalto que o projeto de pesquisa também foi enviado para o Núcleo de Educação Permanente e Pesquisa (NEPP) de Niterói sendo autorizado por meio de carta de anuência para realização da pesquisa. Um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) com uma linguagem acessível foi entregue aos participantes da pesquisa sendo solicitada a sua assinatura para validar a sua participação na referida pesquisa. Eles formalizaram suas participações através da assinatura do TCLE. Quanto à explicitação dos critérios para suspender a pesquisa, caso algum sujeito quisesse se retirar foi informado que isto não causaria e nem implicaria em qualquer tipo de problema para o mesmo. Os sujeitos possuem liberdade para participar ou não do processo de pesquisa. Quanto aos critérios para encerrar a pesquisa, foi observado à saturação dos dados relacionado à repetição do conteúdo das falas dos enfermeiros durante as entrevistas. 41 3.9 Riscos e Benefícios Os riscos envolvendo o estudo foram mínimos e relacionados a questões emocionais, tal como constrangimento que os entrevistados pudessem sentir ao expor suas experiências/vivencias que seria evitado com a explicação a todos da garantia da livre expressão junto ao estudo, como também foi garantido o sigilo da identidade e a confidencialidade na divulgação dos resultados, e possível desconforto físico durante a entrevista que poderia ser interrompida, se solicitado. Assim um possível cansaço de ficar muito tempo sentado, se fosse observado. Ademais a entrevista com os enfermeiros foi realizada em cada unidade do enfermeiro com dia e hora agendada previamente de acordo com a disponibilidade e preferência deles. Os benefícios relacionados à participação na pesquisa foram oportunidade de refletir sobre atuação do enfermeiro na assistência aos hipertensos e diabéticos, a possibilidade de contribuir para a compreensão da importância de uma diretriz de enfermagem baseada em evidências, com
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