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Seleções: o mundo cada vez melhor Há mais de 90 anos Seleções do Reader’s Digest oferece conteúdo de qualidade em variadas áreas do conhecimento, apresentando-o de forma concisa e objetiva. Isso fez com que nos tornássemos parte da história e educação das pessoas em mais de 45 países, sempre informando, divertindo e emocionando nossos leitores. Continuando a desempenhar esse papel, estamos sempre buscando novos meios e novos canais de comunicação e acompanhando a evolução global a fim de atender às necessidades do homem de hoje. Sempre pensando em um mundo melhor, para que você também esteja cada vez melhor. Conheça Seleções e nosso conteúdo nas páginas: http://www.selecoes.com.br http://www.facebook.com/selecoes http://twitter.com/revistaselecoes http://blog.selecoes.com.br Sumário Introdução A Arte de Redigir Lembre-se de Seus Leitores Seja Atento e Lógico Lapsos de Lógica Aspectos de um Estilo Eficaz ESTILO SIMPLES E DESPRETENSIOSO BREVIDADE E CONCISÃO Redundância – Tautologia e Pleonasmo COERÊNCIA Coerência no Layout e na Gramática EXPRESSIVIDADE Variedade de Estruturas Frasais Estruturação da Frase Palavras em Ordem Inversa Figuras de Linguagem A Metáfora e Seus Perigos Jogos de Palavras Um Início Surpreendente Exemplos Abstrato Versus Concreto VOCABULÁRIO DE ALTO RISCO Jargão Clichês Modismos Eufemismo Gíria Discriminação na Linguagem Editando o Seu Texto A Dinâmica da Redação A Hora de Pôr no Papel Levantamento do Material Mãos à Obra T Introdução écnicas para uma redação eficaz é um guia para aprimorar sua capacidade de produzir textos cada vez melhores, que aborda aspectos como correção, clareza e coerência. Você encontrará informações que o ajudarão a escrever de maneira adequada a cada situação, a fazer pesquisas, a evitar argumentos despropositados, a organizar suas ideias na melhor ordem possível e obter sucesso valendo-se das ferramentas da escrita. Após a leitura deste e-book, você ficará alerta para as armadilhas da linguagem: a tentação dos clichês e palavras da moda (que resultam em discursos de significado pobre), o perigo da ambiguidade (como “Nós esquentamos o chocolate por que estava frio”) e a cilada do excesso de metáforas (“Um oásis de democracia em um mar de autoritarismo”). Acima de tudo, Técnicas para uma redação eficaz busca desfazer grandes mitos sobre o ato da escrita, como, por exemplo: É preciso planejar tudo detalhadamente antes de começar a redigir. Ideias complexas devem ser expressas com vocabulário rebuscado e estruturas sintáticas muito sofisticadas. A escrita grandiosa, incluindo frases longas e termos abstratos, soa mais impressionante que a escrita direta e simples. Mesmo jornalistas e escritores mais experientes podem se beneficiar dos conselhos deste e-book. Perca o medo de expressar suas ideias e faça isso da melhor forma possível: simples e objetivamente. Os editores. E A Arte de Redigir screver é quase sempre uma atividade individual, porém, ao mesmo tempo, trata-se de um serviço para o público. Você pode registrar em um caderno as ideias que surgirem em meio à solidão de seus estudos; ou compilar um relatório no escritório depois que todos já tiverem ido para casa; ou rascunhar alguns parágrafos novos do romance que está escrevendo sentado à mesa da cozinha enquanto as crianças dormem. Contudo, em cada um dos casos, sua intenção é a mesma – em algum momento, sua escrita será o material de leitura de outrem, suas frases irão tornar-se “públicas”. Em outras palavras, escrever, acima de tudo, tem por objetivo a comunicação – transmitir ideias e sentimentos de uma mente a outra. Excetuando-se algumas extravagâncias – resolver problemas de palavras cruzadas ou escrever “João ama Maria” na areia da praia quando a maré está baixa –, isso é válido para qualquer atividade escrita. Mesmo ao tomar notas durante uma palestra, ou registrar um incidente engraçado, você estará escrevendo para comunicar – no mínimo, para transmitir impressões ao seu futuro “eu”. Os princípios da boa escrita, portanto, são aqueles de toda boa comunicação. Os pontos básicos são: precisão, coerência, atenção para com o leitor, evitar ambiguidade; brevidade ou concisão, expressividade, fluência; correção (de estilo e de gramática), clareza, consistência. Os diversos aspectos de tais princípios serão discutidos na primeira seção deste livro. Nesse ínterim, para perceber as consequências de ignorá-los, leia os trechos a seguir e pergunte a si mesmo: por que pessoas instruídas que têm o português como língua-mãe cometem erros tão banais? ?? De início, meu propósito era abarcar apenas o período situado entre 1922 e 1990. Esta data, 1922, é a da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, mas é, também, a da realização, no Rio de Janeiro, da exposição internacional comemorativa do 1o centenário da Independência política do Brasil. [...] Porém, terminado o levantamento do período, decidi ampliar a pesquisa, recuando até 1888. Nesse ano, instalou-se, na Praça Tiradentes, o Ateliê Livre, no âmbito de uma polêmica entre “modernos” e “positivistas”, cujo desfecho foi a reforma do ensino de belas artes, assinada em 1890, e que transformou a Academia Imperial em Escola Nacional de Belas Artes. - Frederico Morais, Cronologia das artes plásticas no Rio de Janeiro ?? A UTI sempre foi a mais temida das alas de um hospital. Em primeiro lugar, porque só entram ali pacientes em situação crítica. Mas também porque ela se transformaram em um espaço inóspito, com médicos pouco atenciosos e uma arquitetura opressora. Às vésperas de completarem 30 anos de existência, as Unidades de Tratamento Intensivo passam por uma crise de identidade. - Jornal do Brasil, 31 de março de 2002 ?? No encontro de hoje a coordenadora pretende discutir uma linguagem mais didática das estatísticas e novos meios de divulgação. Sobre a questão na insegurança na Tijuca, Jaqueline Muniz afirmou que o secretário de Segurança, Roberto Aguiar, está convocando os envolvidos diretamente no assunto para orientar melhor o planejamento da polícia. - Portal Globo News, 16 de abril de 2002 Nos três casos, os escritores parecem violar dois princípios fundamentais e óbvios da boa escrita – a preocupação com o leitor e o raciocínio lógico. Lembre-se de Seus Leitores Como a escrita tem por objetivo básico a comunicação, deve-se sempre pensar no leitor enquanto se escreve. Às vezes isso é difícil. Ao se deparar com uma tarefa complexa ou delicada, é comum que o escritor fique introspectivo, lutando para transformar os pensamentos em palavras e para ordenar as frases no papel. Você precisará se forçar continuamente para emergir dessa auto-absorção. O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço. - Machado de Assis, Instinto de nacionalidade Isso significa mais do que apenas respeitar as regras da gramática. Implica dar-se ao trabalho de ordenar os pensamentos na sequência mais metódica e lógica possível e transformá-los em palavras claras e expressivas. Se você não conseguir expor bem suas ideias, colocará o leitor perante o grande esforço de decifrá-las. É principalmente por isso que insistimos em considerar como virtudes primordiais da frase a clareza e a precisão das ideias (e não se pode ser claro sem se ser medianamente correto), a coerência (sem coerência não há legitimamente clareza) e a ênfase (uma das condições da clareza), que envolve ainda a elegância sem afetação, o vigor, a expressividade e outros atributos secundários do estilo. - Othon M. Garcia, Comunicação em prosa moderna Nãoé tão difícil imaginar o que pensa uma outra pessoa – provavelmente você faz isso todos os dias, sempre que fala com alguém. Pense no quanto você se preocupa em ajustar o nível da voz e do discurso de acordo com as circunstâncias. Para conversar com alguém que não ouve bem, você sabe que é necessário falar mais alto do que de costume. Ao dialogar com uma criança ou um estrangeiro, você tende a empregar palavras simples e frases curtas e a falar mais devagar. Ao dirigir-se ao bispo, provavelmente você adotará um tom mais formal e respeitoso do que aquele usado com os colegas de trabalho. De fato, o nível inadequado da linguagem frequentemente provoca risadas ou zombaria – a criança precoce que fala (ou tenta falar) como adulto; o professor que conversa com sua família durante o jantar como se estivesse se dirigindo aos alunos no auditório; o artista performático que imita a voz e os padrões da fala de uma pessoa do sexo oposto. No entanto, a maioria dos adultos encontra-se bem sintonizada com as necessidades do ouvinte. As pessoas se decidem instintivamente por um nível de dificuldade e, então, se necessário, alteram seu discurso para adequá-lo à situação. A uma expressão de dúvida, respondem desacelerando o ritmo da fala, repetindo o ponto importante com palavras diferentes ou enfatizando outros aspectos. Diante de um suspiro de impaciência do ouvinte, falam mais rápido ou mudam de assunto. Quando se trata de escrever, as coisas não são tão fáceis: você tem menos orientação do público, e vice-versa. Os ouvintes extraem informações não só das palavras do falante, mas também de fatores como tom de voz, pausas, expressões faciais, gestos, “linguagem corporal” etc. Os leitores, por outro lado, têm somente as palavras como guias (além de alguns recursos tipográficos incipientes, como o itálico e a pontuação). Da mesma forma, quem fala diante de uma audiência aproveita o feedback do interlocutor imediatamente, podendo inclusive alterar seu discurso para garantir a eficácia da comunicação. Já os escritores, geralmente só obtêm seu feedback depois que terminam de escrever. Por isso, ao escrever uma carta ou um relatório, tenha em mente a provável reação dos leitores ao conteúdo, ao estilo e ao tom. Quanto ao conteúdo: por exemplo, não se estenda em explicações técnicas detalhadas se os leitores forem leigos. Porém, se todos eles forem especialistas no assunto, utilize jargão técnico, mais conciso, e evite explanações genéricas. (Se, entre seus leitores, houver especialistas e leigos, você terá que alcançar um equilíbrio sutil – e provavelmente tenderá a priorizar os leigos.) Quanto ao estilo: se alguns de seus leitores forem pouco letrados, cuide para não usar linguagem excessivamente rebuscada. Se todos os seus prováveis leitores são eruditos e de bom nível educacional, então não os subestime escrevendo com estilo simplório e dando explicações desnecessárias (isso não significa que você deva lançar mão de um estilo pretensioso na tentativa de impressioná-los). O lema é: adequação. Escreva de forma simples, tendo em mente que a definição de simplicidade varia de acordo com o nível de sofisticação do leitor. Quanto ao tom: ajustá-lo corretamente equivale a vestir-se de modo apropriado para determinada situação. Um terno claro pode ser adequado para um almoço profissional, mas seria inadequado para um banquete com o prefeito, por um lado, e para uma festa informal, por outro. Por exemplo, a Rainha Vitória, do Reino Unido, desaprovava insinuações de familiaridade excessiva da parte de qualquer pessoa, mas também não apreciava o costume do Sr. Gladstone de falar com ela sempre como se estivessem em um comício público. O mesmo acontece com o tom da escrita: um tom muito elevado será considerado pomposo; um tom baixo demais será tido como chulo ou descortês. Se todos os seus leitores forem pessoas com quem você tem intimidade, empregue um tom razoavelmente familiar ou informal. Mas, se seus leitores forem diretores- executivos de uma empresa, empregue um tom adequadamente respeitoso e formal (o que não significa ser bajulador ou subserviente). Não confunda formalidade com rigidez. O tom formal pode atrair e envolver o leitor; o rígido irá entediá-lo. A questão óbvia permanece: o que fazer quando não se sabe quem serão os leitores? A melhor política consiste em pecar pelo excesso de cautela – supor que tenham alto nível de exigência, porém pouco conhecimento técnico sobre o assunto. O resultado deverá ser um tom razoavelmente formal, com vocabulário não muito técnico e facilmente compreensível, além de conter análises e explicações razoavelmente metódicas a respeito do conteúdo – como neste livro, e na maior parte das obras de não-ficção direcionadas ao público não especializado. Acima de tudo, lembre-se de que alguém tem de se esforçar para que a comunicação ocorra com sucesso. O esforço da escrita é inversamente proporcional ao da leitura: quanto mais trabalho você realizar como escritor, menos trabalho seu leitor terá. E vice-versa. Se você relaxar, será o leitor que fará a maior parte do trabalho – ou não: ele poderá simplesmente considerar o seu texto ilegível e deixá-lo de lado. Seja Atento e Lógico Muitas das falhas mais comuns na redação diária – erros de gramática, uso ou estilo – podem ser atribuídas à mera falta de concentração. Quando o problema é apontado, o escritor normalmente reconhece e corrige o erro, e em geral o justifica, afirmando: “Eu não estava prestando atenção.” Mesmo o escritor experiente, que se depara a todo momento com as dificuldades e armadilhas da língua, pode cometer erros se perder a concentração. O escritor inexperiente corre ainda mais riscos. A menor falta de atenção provavelmente resultará em falha lógica, incorreção gramatical ou inadequação estilística. A vigilância constante é a solução. Não importa se você conhece poucas regras tradicionais de gramática, é possível evitar a maioria dos erros comuns apenas mantendo-se atento enquanto escreve. Assim como você usaria bom senso e experiência para escapar à ambiguidade, à tautologia, aos clichês ou à imprecisão do vocabulário, lance mão normalmente da lógica habitual para testar a correção da gramática ou do estilo. Seria aceitável escrever Eles convidaram minha filha e eu para o casamento? Teste a oração, reordenando os termos cruciais, minha filha e eu. É possível escrever Eles convidaram eu e minha filha para o casamento? Da mesma forma, seria aceitável escrever Os novos componentes custarão o mesmo, ou até menos do que os anteriores? Teste a oração eliminando a segunda opção ou até menos. É possível escrever Os novos componentes custarão o mesmo do que os anteriores? Lapsos de Lógica A importância da lógica para os escritores não se restringe à gramática e ao uso. Funciona como um parâmetro para o conteúdo também – a consistência das ideias expressas, a ordem na qual são apresentadas, a validade das relações entre elas. Falsos contrastes e saltos de lógica. Observe os vocábulos mas e embora. São conjunções extremamente úteis e bastante comuns. Talvez exatamente por esses motivos, o escritor descuidado as emprega com frequência excessiva e em circunstâncias em que são desnecessárias ou, até mesmo, incorretas. Nos seus significados usuais, indicam algum tipo de oposição – uma contradição ou limitação de uma ideia próxima: Tentei muito, mas falhei; Embora coma pouco, ela continua a engordar. O texto produzido com descuido desvia-se dessa exigência de que haja duas assertivas opostas. Ou se estabelece um “falso contraste” – não verdadeiramenteuma oposição, porém duas ideias apenas distintas – ou a segunda ideia fica completamente desprovida de propriedade: ocorre um “salto de lógica” e passa a caber ao leitor a tarefa da dedução. Eis um exemplo de cada situação: ?? Ele trapaceou seus empregados engenhosamente durante anos, mas eles nunca descobriram. ?? A equipe vermelha ganhou no final, mas a azul veio em segundo. A primeira dessas orações apresenta um falso contraste. As duas ideias unidas pela palavra mas estão em harmonia, e não em conflito: como a fraude foi engenhosa, não é de surpreender que os empregados jamais a tenham descoberto. As conjunções e ou assim fariam mais sentido do que mas. Se o advérbio fosse aberrantemente em vez de engenhosamente, existiria, de fato, uma oposição entre ideias, e a conjunção mas poderia ser mantida. No segundo exemplo, a palavra mas não está propriamente errada, apenas confunde o leitor. Sua presença deve ter algum propósito. No entanto, parece faltar um elo no raciocínio. Presumivelmente, esse elo é um comentário sobre as habilidades ou as expectativas da equipe azul. Todo o pensamento complexo encontra-se, talvez, ao longo destas linhas: A equipe azul teve um desempenho muito melhor do que qualquer pessoa poderia imaginar. Não conseguiu ganhar, é verdade: a equipe vermelha acabou vencendo e a azul ficou em segundo – um esforço louvável. A oração inicial produziu um salto de lógica no trecho vital da informação de fundo, e o leitor foi deixado a sós na tentativa de entendê-la. Nem todos os saltos de lógica são inaceitáveis. Na verdade, em grande parte dos raciocínios diários recorremos a saltos de lógica para acelerar a conclusão e agilizar a comunicação. Isso é válido, desde que os intervalos de lógica sejam tão evidentes e curtos que o leitor ou o ouvinte possam preencher as lacunas sem esforço. Todos os períodos seguintes envolvem saltos de lógica, mas nenhum deles é difícil de acompanhar: Desculpe-me o atraso: havia um engarrafamento no Centro. Vinho para mim, não, obrigado – estou tomando antibióticos. Bem, dona Laurinda disse que exceção se escreve com cê-cedilha, e ela é professora. Suponha que as orações fossem diferentes, como se segue: ?? Desculpe-me pelo atraso: é dia de Nossa Senhora. ?? Vinho para mim, não, obrigado – partirei para a Amazônia na semana que vem. ?? Bem, dona Laurinda disse que exceção é com cê-cedilha, e ela é canhota. Nesses casos, as lacunas são muito amplas para que o leitor ou o ouvinte as preencham sem ajuda. A pessoa que fala ou escreve deixou de fora alguns elos de coerência cruciais entre a primeira e a segunda metades da frase em cada exemplo. A exposição completa e adequada das três observações obscuras poderia ser assim: Desculpe-me pelo atraso. Fiquei preso num engarrafamento no Centro, provocado por uma grande procissão. Eu não havia me dado conta de que hoje é dia de Nossa Senhora. Havia uma multidão de católicos na rua. Vinho para mim, não, obrigado. Tomei algumas vacinas hoje à tarde por causa da viagem que farei à Amazônia na semana que vem. As injeções podem provocar tonteira, e o médico avisou que esse efeito colateral, somado ao álcool, poderia me derrubar. Bem, dona Laurinda disse que exceção se escreve com cê-cedilha, e ela deve saber o que diz: ela é canhota, e os canhotos sabem ortografia muito bem, além de possuírem outras habilidades de linguagem, devido à maneira diferente pela qual o cérebro deles funciona. Convincentes ou não, pelo menos agora essas explicações estão claras. As várias ideias de ligação emergiram, de modo que as lacunas de coerência foram preenchidas adequadamente. Falhas de lógica e sofismas. Em algumas formas de produção escrita, a razão tem papel pouco proeminente: uma carta de pêsames, por exemplo, baseia-se obviamente na expressão emocional, e não na apresentação lógica, para ser eficaz. Um pedido de contribuição de caridade talvez interaja diretamente com a comiseração do leitor, independentemente de sua capacidade de raciocínio. Uma propaganda ou um manifesto eleitoral podem tentar adular (ou aterrorizar), e não persuadir o leitor a aceitar toda a informação. Mas na escrita diária – cartas comerciais, relatórios profissionais, pedidos de emprego etc. – é fundamental expor argumentos bem fundamentados. A eficácia ao escrever depende de seu rigor lógico. Você enfraquece sua argumentação toda vez que tira uma conclusão falsa de seus dados, quando oferece uma explicação melodramática, quando tenta esquivar-se de uma verdade inconveniente ou cita uma autoridade irrelevante para apoiar seu ponto de vista (dez mil entrevistados podem estar errados). Eis alguns exemplos de raciocínio dúbio – deliberado ou acidental – do tipo facilmente encontrável na produção escrita ou falada: ?? Aqueles que forem de fato patriotas juntar-se-ão a mim no boicote. ?? Consultem sua consciência e decidam por si mesmos quanto a submeter- se a este decreto. ?? Porcarias como esta só servem para tornar a vida mais difícil. Escolher palavras carregadas de emoção é equivalente a lançar mão de recursos retóricos, e não racionais. Ganha-se a discussão antes do começo. Uma porcaria é, quase que por definição, algo que não tem serventia. Chame firmeza de intolerância, liberdade de licenciosidade ou educação escolar de lavagem cerebral, e a lógica não terá mais lugar na discussão. É claro que isso também se aplica ao uso de palavras que reduzem o impacto de uma ideia negativa – eufemismos, como distração em vez de irresponsabilidade, prudência em vez de covardia etc. ?? Podemos desconsiderar sua opinião acerca de importação: você trabalha numa fábrica de carros nacional, de forma que, naturalmente, prefere que as mercadorias importadas sejam taxadas. ?? Você realmente o considera a pessoa certa para atuar como tesoureiro? Ele abandonou a mulher recentemente... Comentários pessoais não produzem contra-argumentos fortes – são irrelevantes para a consistência da opinião emitida. X Experimente esse composto de ervas. Tomei uma colher de chá esta manhã e ao meio-dia já me sentia muito bem. Só porque um evento se sucede a outro cronologicamente, não se pode afirmar que haja uma relação de causa e efeito. X Briga de galo não é um esporte cruel como muitas pessoas supõem, já que os galos realmente gostam de levar bicadas. X Não se pode confiar em um vendedor que não olha o cliente nos olhos enquanto conversa. Esses são exemplos de pronunciamentos calcados em uma suposta verdade: a conclusão se baseia em uma premissa dúbia, a qual deveria, primeiramente, ser comprovada. X O palco é um veículo mais apropriado para a arte do que o cinema, e a maioria dos críticos objetivos concorda com isso. Os críticos objetivos são aqueles que não ficaram deslumbrados pelo brilho aparente do meio cinematográfico. Essa é uma “argumentação circular”, uma forma especial de tomar a questão como provada. O que a alegação realmente significa é: peças teatrais são mais artísticas do que filmes. No final das contas, a premissa é idêntica à conclusão, por mais que a equivalência esteja bem disfarçada no período original. X Logo você, que sempre gostou de carros, agora você quer restringir seu acesso ao vilarejo? Essa falácia é uma “generalização completa”. Não se pode supor que preferências, tendências, regulamentações, lemas e afins sejam válidos em todas as circunstâncias. A maior parte das regras permite certas restrições e até mesmo exceções. X Você atiraria num cão raivoso, não atiraria? – Então você deve ser a favor da pena de morte para assassinos enlouquecidos como o “Maníaco do Parque”. Nesse caso, o raciocínio consiste em um “salto de lógica” muito arriscado. A premissa omitida é, no mínimo, questionável: “Assassinosenlouquecidos merecem pena semelhante àquela aplicada a um cão raivoso”, ou talvez “Em certas circunstâncias, deve-se tratar seres humanos como animais”. Sendo correta ou não, a premissa pelo menos deve aparecer abertamente, de modo que o leitor ou ouvinte possa inspecioná-la e, se for o caso, rejeitá-la. X Senhores membros do júri, sequestro é um crime hediondo. Acredito que os senhores mostrarão seu repúdio a esse tipo de crime considerando o réu culpado da acusação. Esse raciocínio vai além de um mero salto de lógica – representa uma “quebra de lógica” completa. A premissa é absolutamente irrelevante para a conclusão. O fato de sequestro ser um crime hediondo não tem relação com a culpa ou a inocência de alguém acusado de praticá-lo. X Você ainda está batendo na sua mulher? X Pelo visto você é uma daquelas feministas fanáticas. X Ou foi por burrice, ou foi por descuido que você perdeu a encomenda. De qualquer forma, merece ser despedido. Cada oração contém uma alegação oculta – que pode ou não ser justificada. Se não estiver justificada, o leitor ou ouvinte estará numa situação difícil. Será incapaz de fornecer uma resposta simples. Em vez disso, o receptor da mensagem terá de elucidar a pergunta ou assertiva original, ou reconhecer que ela não foi bem formulada. As respostas complexas talvez fossem estas: Nunca bati na minha mulher. Sou feminista, sim, mas não sou fanática. Não foi estupidez nem descuido – foi um acidente, e com certeza não mereço ser despedido por isso. Os próximos capítulos desta seção do livro abordam primeiro os blocos de construção do texto (palavras, orações e parágrafos); depois é discutida sua arquitetura geral (estrutura); a seguir, comentam-se alguns detalhes da decoração (concisão, jogos de palavras e metáforas, gíria, eufemismo, jargão etc.) e, finalmente, são observados os mecanismos do processo (coleta de material e aquilo que para muitas pessoas é a tarefa mais difícil: efetivamente escrever, transformar ideias em palavras no papel). O Aspectos de um Estilo Eficaz melhor estilo é o estilo claro, e isto quase sempre quer dizer simples. O que não significa que devamos optar por um texto insípido: a simplicidade do estilo permite grandes variações, com uma razoável quantidade de metáforas e outras figuras de linguagem – e até mesmo, ocasionalmente, um toque irônico ou floreio dramático. A base, porém, deve permanecer simples, até para permitir que os adornos se sobressaiam o mais eficaz e claramente possível. ESTILO SIMPLES E DESPRETENSIOSO Um bom texto é aquele que requer leitura sem esforço, e não aquele de difícil compreensão – embora, com frequência, seja necessário um grande esforço da parte de quem escreve para conseguir tal efeito. Importa-nos que a redação seja uma experiência comum ao grupo, devendo provocar a discussão e a reflexão. Todos são escritores. Todos são leitores. Todos devem saber defender o que pensam. - Gustavo Krause e outros, Laboratório de redação O bom estilo focaliza diretamente o conteúdo e serve à causa da comunicação clara, em vez de chamar a atenção para si mesmo. O texto deve mesmo ser elegante – e não há elegância sem simplicidade, o que significa desprezo ao enfeite gratuito, ao falso intelectualismo, à cópia da banalidade alheia. - Luiz Garcia, Manual de redação e estilo A simplicidade do texto não implica necessariamente repetição de formas e frases desgastadas, uso exagerado de voz passiva (será iniciado, será realizado), pobreza vocabular etc. Com palavras conhecidas de todos, é possível escrever de maneira original e criativa e produzir frases elegantes, variadas, fluentes e bem alinhavadas. - Eduardo Martins, Manual de redação e estilo Quando o escritor negligencia a adequação do estilo ao conteúdo, o resultado pode ser um texto pomposo, cuja forma predomina sobre o conteúdo. O autor se exibe, com uma retórica grandiosa, que em vez de revelar seus pensamentos os oculta. ?? Destarte, não equivocaremos a aparência com a realidade, se, nos dissabores que malquerentes e malfazentes nos propinam, discernirmos a quota de lucro, com que eles, não levando em tal o sentido, quase sempre nos favorecem. Quanto é pela minha parte, o melhor do que sou, bem assim o melhor do que me acontece, frequentemente acaba o tempo convencendo-me de que não me vem das doçuras da fortuna propícia, ou da verdadeira amizade, senão sim que o devo, principalmente, às maquinações dos malévolos e às contradições da sorte madrasta. Que seria, hoje, de mim, se o veto dos meus adversários, sistemático e pertinaz, me não houvesse poupado aos tremendos riscos dessas alturas, “alturas de Satanás”, como as de que fala o Apocalipse, em que tantos se têm perdido, mas a que tantas vezes me tem tentado exalçar o voto dos meus amigos? - Rui Barbosa, Oração aos moços Cuidado para não se deixar seduzir por esse estilo floreado – principalmente em cartas ou comunicações profissionais cotidianas. Se você tem tendência a entregar-se a tal estilo “elegante”, corrija a primeira versão de seu texto com rigor a fim de garantir que ele seja claro e eficaz. Quem escreve com a intenção de impressionar o leitor raramente alcança seu objetivo. Quem escreve para expressar seus pensamentos e suas ideias, de forma clara e sincera, é que normalmente consegue impressionar o leitor. Em outras palavras, tentar parecer inteligente só aumenta o risco de parecer tolo. A presunção só comove leitores ingênuos. Observe dois exemplos de textos presunçosos: ? No último estágio da alienação, os crimes tornaram-se notórios e já ninguém crê seriamente no “mundo melhor”. Mas então, como a realidade já ficou muito distante para poder ser recuperada, só resta uma opção: tapar as últimas frestas pelas quais pudessem entrar o senso do real e o apelo do arrependimento; banir os últimos sinais de uma consciência da estrutura da existência. Isto pode ser obtido pelo expediente de rebaixar esses sinais ao estatuto de “produtos culturais” e, desviando o olhar humano da realidade que havia por trás deles, impugná-los a todos como criações arbitrárias de ideologias pretéritas. - Olavo de Carvalho, O Globo, 11 de junho de 2002 ? O erro, na costura, inscreve ou borda a falha, o tropeço do endereçamento amoroso ao outro. A obra expõe o que a fala do artista nega. O apelo se perde na dobra do pano, no ponto da letra que se finda para que outra apareça e se faça e os suspiros brotem como anúncio e superação do fim. É ao amor que a obra se endereça e fica como que a pulsar esperas… na captura do olhar distraído com ares de quem não quer… querendo. - Clara de Góes, Imagem escrita Por que os autores simplesmente não dizem o que querem dizer? BREVIDADE E CONCISÃO Brevidade não é exatamente o mesmo que concisão. O primeiro aspecto diz respeito à quantidade do material, o segundo, à sua qualidade – um determina o volume do texto, o outro depende da capacidade do autor para concentrar informações em poucas palavras. A brevidade, embora desejável, às vezes não é alcançável. Uma carta ou relatório complexo nem sempre pode ser breve. Se tiver de cobrir muitos tópicos, vai necessariamente cobrir também muito papel. Apenas se o texto estiver bem estruturado, sua extensão deixará de afugentar o leitor. O que sempre é possível é a concisão – rigor de linguagem, eficácia concentrada. Isto significa apresentar cada ponto da maneira mais breve possível, mesmo que o texto tenha pontos demais a serem expostos para que seja curto. Assim, mesmo um texto longo pode ser conciso, e até um texto breve pode ser desnecessariamente prolixo. As virtudes da concisãosão mais óbvias no caso da poesia – o poeta procura concentrar um alto grau de significação em poucas palavras. Outro postulado fundamental do pensamento crítico-poético de E.P. é o capsulado na forma DICHTEN = CONDENSARE, que ele assim esclarece: “Basil Bunting, manuseando um dicionário alemão-italiano, descobriu que a ideia de poesia como concentração é tão velha quanto a linguagem germânica. ‘Dichten’ é o verbo alemão correspondente ao substantivo ‘Dichtung’, que significa poesia, e o lexicógrafo traduziu-a como verbo italiano que significa ‘condensar’.” - Augusto de Campos, Ezra Pound Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na da folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo: pois para catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco. - João Cabral de Melo Neto, A educação pela pedra Uma ampla gama de significados ou sentimentos encontra-se acondicionada em relativamente poucas palavras. Em outras formas de escrita criativa, como peças teatrais e romances, a concisão pode parecer menos importante. Num romance de suspense, por exemplo, a história necessita de um considerável prolongamento para que a tensão cresça e haja um clímax na narrativa. Mas note que o que dá continuidade à história é a ação – as idas e vindas da trama – e não descrições verborrágicas de um só incidente. Independentemente do quanto uma narrativa se estenda, ela ainda pode se caracterizar pela concisão. Nas tarefas de escrita do dia-a-dia, a concisão resulta em eficácia. O discurso evasivo num ensaio, o excesso de explicações numa carta de reclamação, a redundância num memorando servem apenas para reduzir o impacto de sua mensagem. Quanto mais prolixo for o texto, maior será o risco de o leitor desistir dele – seja porque sua mente divaga ou porque sua paciência se esgota. Escrever com concisão, por outro lado, é gesto de cortesia para com o leitor. Simplesmente porque propicia a ele uma boa economia de tempo. Lembre-se de que, como em quase tudo na relação esforço de escrita/esforço de leitura, a relação de proporção é inversa: para assegurar-se de que o leitor leve menos tempo lendo, o autor tem de dedicar maior tempo à tarefa de escrever. É preciso estruturar as ideias sistematicamente (veja as páginas 92-103), para não apresentar o mesmo raciocínio em dois ou três momentos diferentes do texto. E também é necessário corrigir sem piedade as primeiras versões do texto – eliminando todas as palavras e expressões redundantes, apagando enfeites supérfluos, como adjetivos desnecessários, reduzindo clichês e expressões longas a palavras únicas e concisas (em vez de no presente momento, simplesmente agora), aparando digressões e outras passagens de relevância duvidosa, fundindo duas ideias excessivamente sutis numa ideia única e objetiva, e assim por diante. É o que deveria ter sido feito no trecho abaixo: ?? Um bem-estar profundo e sereno tomou conta da vida a bordo. O que antes me assustava ou preocupava agora fazia pensar. Pelas janelas de onde via apenas neblina e as velas cheias, fiz passar todas as imagens que desejei ver. E as toquei. Não há mais verdadeira e pura forma de sentir lugares do que tocá-los com a quilha de um barco. Ou com os dedos. A mais simples e universal maneira de expressar carinho. O toque. - Amyr Klink, Paratii entre dois pólos Paradoxalmente, então, precisamos de mais tempo e esforço para escrever de forma concisa do que para criar um texto prolixo e repetitivo. Levaremos mais tempo para chegar à versão final, mas esta será muito mais elegante e eficaz. Redundância – Tautologia e Pleonasmo Uma forma comum de prolixidade é a redundância. Um texto redundante é aquele que “diz” a mesma coisa duas vezes, repete desnecessariamente um único item de informação (como neste período). Duas formas de redundância são a tautologia e o pleonasmo. Na lógica, tautologia é uma declaração que se revela verdadeira, independentemente do que aconteça: Ou vai chover amanhã ou não vai chover amanhã. Na linguagem, tautologia é um problema que consiste na repetição de uma ideia em palavras diferentes: X dividir em duas metades; X conclusão final. O pleonasmo não implica necessariamente a repetição de uma ideia. Trata-se apenas da elaboração excessiva da ideia por meio do uso de mais palavras do que seria preciso. Falar ? conviver junto com a família é pleonástico, pois conviver com a família já é suficiente para transmitir a mensagem. Da mesma forma, em vez de dizer ? já não há mais necessidade de racionamento seria mais adequado dizer já não há necessidade de racionamento ou não há mais necessidade (...). Muitas tautologias ou pleonasmos estão incorporados à língua portuguesa e é um tanto inútil tentar eliminá-los: ver com os próprios olhos, viver a vida. Essas expressões enfáticas são adequadas em alguns textos e certas circunstâncias da comunicação oral. O jargão jurídico também emprega algumas redundâncias: nulo e sem valor, última vontade e testamento. Muitas outras expressões comuns e redundantes, porém, são efetivamente duvidosas. A maioria delas representa apenas um estorvo à comunicação fluente, e há algumas que constituem erro. história passada perspectivas futuras hábitos costumeiros brindes grátis aviso antecipado alusão indireta pré-requisito essencial nenhuma outra alternativa fatos reais consenso geral consenso de opinião elo de ligação hábitat natural erário público brigadeiro da Aeronáutica relíquia do passado surpresa inesperada encarar de frente exultar de alegria preferir mais a razão é porque quando o conheci pela primeira vez estabelecer um novo recorde mundial repetir de novo um mínimo de pelo menos quatro semanas o principal protagonista da peça Todos votaram unanimemente a favor. A entrada está restrita apenas aos portadores de ingresso. Devem-se acrescentar dois outros pontos. Houve outras consequências afora a falência e a angústia. Não há necessidade de um alarme injustificável. Desde tempos imemoriais, esse sempre foi o costume. Pela vigésima vez, o comitê volta a se reunir. Os envelopes encontram-se à disposição numa variedade de cores diferentes. É hora de modernizarmos estes procedimentos antiquados. Assim sendo, incluo em anexo uma fotocópia do documento. Precisamos saber na segunda-feira se você está de acordo ou não. COERÊNCIA Se você citar a “Unidade de Treinamento de Equipe” a certa altura, não mencione a “Unidade de treinamento da Equipe” em outro ponto. Caso se refira à notícia como extraída do Globo no parágrafo 1, não se refira a ela como de O Globo no parágrafo 5. Muitos leitores desatentos, embora não cheguem a perceber erros simples em um texto, vão identificar inconsistências como essas e irão desconfiar do que lêem. “Se o autor é descuidado em questões menores”, argumentarão eles, “como posso confiar nele em questões mais importantes?” O ar de autoridade do autor, tão necessário para que o texto conquiste o leitor, tende a se dispersar cada vez mais a cada incoerência percebida pelo leitor. Daí a adoção de um manual de estilo por parte de jornais e editoras – uma lista de preferências por um uso ou grafia em relação a outro. Por exemplo, neste livro a norma consiste em usar as seguintes convenções: séculos expressos em algarismos arábicos, e não romanos (século 21, e não século XXI) itálico, e não negrito, para exemplos citados no corpo do texto o padrão 23 de setembro de 1991 para datas, e não 23/9/91 a grafia layout, em itálico, e não a forma aportuguesada leiaute Você pode preferir, em cada caso, a opção oposta. Sem problemas – desde que a utilize comcoerência. A coerência aplica-se não só à ortografia e à pontuação, mas também a aspectos mais complexos, como layout e escolha de construções gramaticais. Coerência no Layout e na Gramática O segredo para manter a coerência é: dispensar o mesmo tratamento para itens equivalentes. Se duas seções de um relatório, digamos, tiverem a mesma importância, cuide para que os dois subtítulos recebam o mesmo destaque – ambos em negrito e itálico, por exemplo; ambos centralizados e não junto à margem esquerda, e assim por diante. Se você for incoerente, atribuindo um corpo maior a um dos subtítulos, o leitor interpretará erroneamente suas intenções: vai supor que aquela seção tem mais importância do que a outra. Da mesma forma, use o mesmo tipo de construção para itens equivalentes. Se você apresentar uma lista de cinco regras, certifique-se de que todas tenham a mesma estrutura gramatical básica. Evite inconsistências como no seguinte exemplo: X Assim, no futuro, antes de permitir a entrada de alguém, certifique-se de: 1. parar todos os visitantes ou clientes na portaria. 2. pedir-lhes que declarem com que funcionário irão falar. 3. você deve pedir autorização pelo telefone ao funcionário mencionado. 4. cuide para que o visitante assine o livro na portaria e receba o crachá. 5. eles deverão usar o crachá durante todo o tempo em que permanecerem no edifício. As regras 1 e 2, expressas como comandos no infinitivo, são compatíveis com a estrutura da introdução. A regra 3, embora imperativa na intenção, encontra-se expressa como uma afirmação. Corte as palavras você deve para torná-la paralela às duas primeiras. A regra 4 está expressa como um imperativo de fato. Ela não só é incoerente ou “sem paralelo” com as anteriores, como também é incompatível sintaticamente com as palavras introdutórias. Para corrigi-la, substitua cuide para por fazer com. A regra 5 segue um padrão bastante diferente das outras. Para adequá-la, tornando-a imperativa, substitua eles deverão usar por solicitar que usem. Eis a seguir outro exemplo de lista assimétrica: X Se estiver pensando em comprar mais ações ou em vender as que já possui, pode fazê-lo através deste serviço, que lhe permite: • comprar ações por telefone • vender ações pelo correio • e há números de telefone para os quais discar se precisar de ajuda. - panfleto informativo de corretora de ações Com um pouco de atenção, o autor poderia ter reestruturado o último dos três itens, estabelecendo paralelismo com os outros dois: • obter ajuda ou conselho ligando para nossos telefones. EXPRESSIVIDADE Quando for apropriado, tente conferir o máximo de vivacidade ou “espírito” ao seu texto. Muitos escritos do dia-a-dia seriam muito mais instigantes se fossem utilizados alguns “efeitos especiais”. Os leitores de textos como cartas de congratulação, por exemplo, ou artigos na revista da paróquia acolheriam com prazer uma anedota curiosa ou um jogo de palavras dinâmico. Na verdade, talvez até mesmo o exijam: eles vão abandonar, após o primeiro parágrafo, seu extenso relatório sobre o progresso do fundo para a restauração do telhado da igreja, por mais preciso e meritório que seja, a menos que você o tenha tornado espirituoso, divertido e interessante também – tanto no conteúdo quanto no estilo. A oração quando for apropriado, no período que abre esta seção, indica uma importante condição. Se você tentar tornar seus memorandos ou suas cartas ao PROCOM tão vivos e dinâmicos quanto um romance de aventura ou o roteiro de uma comédia para TV, não vai ser bem-sucedido com seu texto. Documentos profissionais ou burocráticos têm um propósito preciso e sério e requerem uma redação com tais características. No entanto, mesmo nesses casos, pode-se lançar mão de alguns recursos para manter o interesse do leitor. Uma redação “precisa e séria” não tem de ser necessariamente monótona. Analise a seguinte observação: ? Os candidatos não precisam se apresentar com roupas inadequadamente formais. Ela é tão abstrata e genérica que um leitor desatento pode simplesmente deixar de apreender seu significado. É preciso substituí-la ou complementá-la por uma declaração mais concreta – algo que crie uma imagem na mente do leitor: Ninguém espera que um estudante use um terno em sua primeira entrevista de emprego. Imagens específicas, como no exemplo acima, são apenas um dos muitos ingredientes de um estilo dinâmico. Entre outros elementos, encontram-se: variedade de estruturas frasais, figuras de linguagem e jogos de palavras. As virtudes – e em certos casos os perigos – de cada um desses recursos são apresentadas a seguir. Variedade de Estruturas Frasais Até o mais diligente dos leitores sabe que seu nível de atenção tende a diminuir de vez em quando. É tarefa do escritor mantê-lo estável, antes que ele desça além da linha de perigo. Tendo à sua disposição a inesgotável reserva da língua portuguesa, o autor não tem desculpas para fracassar nessa tarefa. Para dispersar ou evitar a monotonia, basta dar variedade ao texto – não só ao vocabulário, como também à estrutura gramatical, à organização das orações. Isso não significa que o escritor deva criar variações apenas para parecer diferente ou elaborar uma oração canhestra para evitar a repetição de uma palavra ou expressão. Esse tipo de variação só serve para chamar a atenção sobre si mesma. A variedade estilística adequada é funcional: além de reavivar o interesse do leitor, ela com frequência produz sutis distinções de significado ou ênfase ao longo do texto. Uma das formas mais simples de produzir variedade em seu texto é diversificar a extensão dos períodos. Sem ultrapassar certos limites. Não permita períodos excessivamente longos, ainda que pelo bem da variedade. Sua margem de variação deve ter os extremos “curto” e “um pouco maior” e não “curto” e “longo”. Tornar variada a extensão dos períodos frequentemente implica fazer variar também sua complexidade – períodos simples e compostos (por coordenação ou por subordinação); equivalentes e antitéticos, e assim por diante. Talvez seja mais uma questão de verificar se seu texto contém uma variedade razoável do que uma questão de introduzir deliberadamente essa variedade no texto, enquanto o cria. Estruturação da Frase Em relação a variações mais sofisticadas, talvez seja preciso empregar uma estratégia deliberada – manter uma vigília consciente em busca de oportunidades de usar efeitos estilísticos e estruturas gramaticais específicos: às vezes usar digamos em vez de por exemplo; ou em lugar de e não em vez de, ou encontrar- se em posição de apostar em vez de ser capaz de apostar, ou algo nesse gênero em lugar de algo assim. Não existe uma lista completa desses expedientes; a seleção abaixo deve servir como um estímulo para seu talento de variar as estruturas gramaticais. convencional variado Isso não significa que o escritor deva criar variações apenas para parecer diferente. Não que o escritor vá criar variações apenas para parecer diferente. Essas observações vão se mostrar inestimáveis quando você se preparar para as futuras entrevistas. Essas observações serão inestimáveis no momento em que você se preparar para as entrevistas futuras. Eu já falei bastante sobre o primeiro incidente. Agora vamos discutir os problemas semelhantes gerados pelo incidente em Goiânia. Já basta do primeiro incidente. O outro caso, ocorrido em Goiânia, levanta problemas semelhantes:... Vamos agora tratar da questão da compensação. Tratemos agora da questão da compensação. Se você exigir muito ou abusar de sua voz, ela vai se exaurir. Exija muito ou abuse de sua voz e ela se exaure. Este, então, é um problema geral, mas ainda vamosprecisar discutir seu papel específico nele. Eis o problema geral. Agora vamos a seu papel específico nele. Se você falar mais com mais eficácia, as pessoas o escutarão com mais atenção. Quanto mais eficaz seu discurso, mais atentamente as pessoas o escutarão. Outro exercício útil para o pescoço é o seguinte: baixe a cabeça para a frente e alongue os músculos da parte posterior do pescoço. Outro exercício útil para o pescoço é baixar a cabeça para a frente e alongar os músculos da parte posterior do pescoço. Seus músculos faciais tornar-se-ão mais expressivos. Como resultado, você irá comunicar-se de modo ainda mais eficaz. Seus músculos faciais vão se tornar mais expressivos. Resultado: você vai se comunicar de modo ainda mais eficaz. Palavras em Ordem Inversa Uma das formas mais sutis de variar o padrão de suas orações é inverter a ordem das palavras de uma oração ou a ordem das orações do período. A típica ordem dos termos de uma oração na língua portuguesa (sujeito + verbo + complemento), ou seja, a ordem direta ou usual, é tão familiar que o leitor em geral nem a percebe: Vários lançamentos aparecem na lista dos mais vendidos desta semana. É apenas quando essa ordem natural se modifica que a oração se torna “distinta”: Na lista dos mais vendidos desta semana aparecem vários lançamentos. A ordem usual das palavras – precisamente por ser usual – torna-se monótona se respeitada obedientemente período após período. “Subverta” o padrão de vez em quando e você conseguirá reter a atenção do leitor por muito mais tempo. Mas isso só é eficaz quando a inversão desponta naturalmente; caso contrário, ela acaba provocando estranheza. Quase todo texto costuma permitir uma ordem inversa. Em alguns casos, a inversão pode até ser a opção mais natural. Observe como, na seguinte passagem, o segundo período parece bastante adequado em sua incomum ordenação das palavras: O capítulo 5 faz várias sugestões fora do comum, incluindo uma altamente polêmica. Sobre essa sugestão, o autor se estende ainda mais no capítulo 8. A razão por que ele soa tão natural é dupla: primeiro, ele se liga elegantemente ao primeiro período, iniciando-se com uma expressão que remete à frase anterior; segundo, recorre ao modelo de parágrafo bastante comum em que se começa com um período com informação conhecida ou recém-anunciada e se coloca a informação “nova” no fim. A ordem inversa das palavras, porém, faz mais do que evitar a monotonia. Ela também pode ajudar a criar vários efeitos literários – dramático, irônico, emotivo, entre outros: A vida é uma coisa que quanto mais estica mais curta fica. - provérbio popular Figuras de Linguagem De grande contribuição para a vivacidade da fala e do texto escrito é o uso de figuras de linguagem – expressões nas quais as palavras são empregadas em sentido diverso do literal, a fim de criar uma imagem dramática ou uma impressão forte na mente do leitor ou ouvinte. Eis aqui uma lista das figuras de linguagem e dos recursos retóricos mais conhecidos. Seja criterioso ao empregá-los, pois seu uso excessivo pode prejudicar seu texto. A linguagem figurativa é como o açúcar ou o tempero: ser for usada com exagero, deixa de dar prazer e torna-se enjoativa. Tente incorporar alguns deles (quando for apropriado) em qualquer coisa que você escreva: isso ajuda a prender a atenção do leitor e até mesmo a argumentar em favor dos seus pontos de vista. aliteração uso de várias palavras, numa mesma frase, contendo o mesmo fonema: O sapo subiu sozinho até o manancial. antítese expressão na qual ideias contrastantes são dispostas simetricamente: Quanto maior a pressa, menor a velocidade. apóstrofe interpelação direta a uma pessoa morta ou ausente ou a uma coisa: Ó liberdade! escutai o nosso clamor! assíndeto omissão de conjunções: Vim, vi, venci. assonância repetição de sons vocálicos, produzindo um efeito de rima parcial ou imperfeita: Ruge e urra a turba enfurecida. elipse (também chamada aposiopese) omissão de um termo, que fica subentendido pelo contexto: Nos campos escuros, nenhum sinal de vida (omissão de não havia). eufemismo expressão inofensiva usada em lugar de outra mais rude ou mais explícita, como, por exemplo, descansar em lugar de morrer. expressão expletiva ou de realce palavra ou expressão que, embora desnecessária à frase, dá ênfase a esta: Eu é que mereço ganhar. hipálage atribuição de uma característica de uma pessoa a um objeto que com ela se relaciona: o travesseiro insone; a cela condenada. hipérbole exagero ou engrandecimento visando à ênfase: Eu comeria um boi. inversão (ou anástrofe) troca na ordem natural das palavras ou orações; um exemplo bastante célebre: Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/De um povo heroico o brado retumbante, isto é: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.” ironia uso de palavra ou palavras que transmita(m) uma ideia diferente de seu sentido literal: Esse segredo fica só entre nós e a torcida do Flamengo; componente comum do sarcasmo, embora não necessariamente tão mordaz. lítotes declaração atenuada na qual uma ideia é transmitida com eficácia pela contradição de seu oposto: Ele não está exatamente sóbrio. metáfora descrição de um objeto, pessoa ou fenômeno nos termos de outro que está a ele relacionado por analogia: Ela acendeu um sorriso ao vê-lo. metonímia uso de um termo concreto para se referir a uma ideia mais ampla por ele caracterizada, tal como Coroa por monarquia. onomatopeia uso de palavras cujo som sugere seu significado: por exemplo, zumbir, tique-taque, sussurro, chiado. oximoro expressão que liga termos incongruentes ou contraditórios: um sábio tolo, silêncio eloquente. paradoxo declaração aparentemente absurda ou contraditória que, não obstante, pode ser verdadeira ou sábia: Sua gentileza era por demais agressiva. pergunta retórica indagação feita para causar determinada impressão ou para transmitir informações e não para esclarecer uma dúvida: O dia hoje não está lindo? Como alguém pôde apoiar um projeto tão inútil? personificação (também conhecida como prosopopeia) atribuição de características ou sentimentos humanos a objetos naturais ou inanimados: a jovial Lua sorrindo, benévola, para nós; as árvores gemeram. polissíndeto repetição de conjunções para efeito retórico: foi a Florença e Veneza e Roma e Nápoles. símile comparação de duas ideias ou objetos diferentes, em geral usando-se a palavra como: lábios como botões de rosa e beijos como vinho. sinédoque uso do nome de uma parte para referir-se ao todo, ou vice- versa, como quarenta primaveras por quarenta anos. sinestesia associação de percepções de sentidos diferentes na mesma expressão: silêncio perfumado, azul morno, imagem macia. zeugma omissão de um termo já enunciado anteriormente na frase: Nem eu o ouvi, nem ele a mim; pode ser considerada uma forma de elipse. A seguir há exemplos que ilustram o uso dessas figuras de linguagem. Primeiro, veja estes exemplos de aliteração. O primeiro trecho foi extraído de uma canção da banda O Rappa – note como a repetição da palavra feira, na primeira estrofe, e da sílaba /ma/, na terceira, imprime uma cadência melódica aos versos. O segundo trecho corresponde à primeira estrofe de uma cantiga popular que todos conhecemos. é dia de feira quarta-feira, sexta-feira não importa, a feira é dia de feira quem quiser pode chegar vem maluco, vem madame vem maurício, vem atriz pra comprar comigo. - Marcelo Yuka, “A feira” (do disco Rappa mundi) Pirulito que bate bate Pirulito que já bateu Quem gosta de mim é ela Quem gosta dela sou eu Agora, observe como sucessivos zeugmas (da palavra ternos/terno) definem o ritmo dessa passagem de um romance. Abriu o guarda-roupa. Na parte dos ternos. Só os ternos. Dois. Um riscadinho. Um azul. Alisou um. Alisou o outro. Contornava desde os ombros,descia pela manga. As calças. Se afastou. Voltou pra perto. Tirou do cabide e pôs os dois em cima da cama. - Fernando Bonassi, Subúrbio O polissíndeto pode imprimir maior expressividade a uma frase, como acontece em um verso do célebre “Soneto de fidelidade”, de Vinicius de Moraes. De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. - Vinicius de Moraes, Livro dos sonetos Já uma pergunta retórica serve para instigar a curiosidade do leitor e resumir em uma única frase um ponto importante do texto ou do parágrafo. Por que Zaratustra se mostra triste? Pela incompatibilidade ou pelo descompasso entre seu amor da vida e de sua sabedoria; pelo desacordo entre vida e sabedoria. - Roberto Machado, Zaratustra, tragédia nietzschiana Mas essa figura – como qualquer outra – não deve ser utilizada repetidamente. Não submeta seus leitores a um “interrogatório retórico”. Seja cuidadoso também ao utilizar metáforas: em excesso, elas tornam o texto “enjoativo”. Uma metáfora pode ser construída ao longo de um texto extenso ou com poucas palavras – o que importa é que ela seja precisa: A verdadeira ciência nunca passará do andaime que o homem arma sobre aquilo que ele vê para tentar atingir aquilo que nunca poderá ver. - Joaquim Nabuco, Pensamentos soltos O símile, como a metáfora, exprime uma ideia com imagens que a princípio não teriam nada a ver com ela. A ‘SPERANÇA, como um fósforo inda aceso, Deixei no chão, e entardeceu no chão ileso. A falha social do meu destino Reconheci, como um mendigo preso. - Fernando Pessoa, Poesias inéditas 1911-1935 Cecília, és tão forte e tão frágil Como a onda ao termo da luta. Mas a onda é água que afoga: Tu, não, és enxuta. - Manuel Bandeira, Belo belo A personificação também opera uma associação de ideias inusitada. Veja como tal operação é bem realizada nesse trecho de uma crônica do início do século 20. Há ruas oradoras, ruas de meeting – o Largo do Capim que assim foi sempre, o Largo de S. Francisco; ruas de calma alegria burguesa, que parecem sorrir com honestidade – a Rua de Haddock Lobo; ruas em que não se arrisca a gente sem volver os olhos para trás a ver se nos vêem – a travessa da Barreira; ruas melancólicas, da tristeza dos poetas; ruas de prazer suspeito próximo do centro urbano e como que dele muito afastadas; ruas de paixão romântica, que pedem virgens loiras e luar. - João do Rio, A alma encantadora das ruas Por fim, analise um exemplo de hipérbole retirado da obra regionalista de José de Alencar: Esta imensa campina, que se dilata por horizontes infindos, é o sertão de minha terra natal. Aí campeia o destemido vaqueiro cearense, que à unha de cavalo acossa o touro indômito no cerrado mais espesso, e o derriba pela cauda com admirável destreza. - José de Alencar, O sertanejo Esses são apenas alguns exemplos que demonstram o quanto a linguagem oferece de recursos para que se aborde qualquer assunto de modo esclarecedor, expressivo, instigante e original. A Metáfora e Seus Perigos De todas essas figuras de linguagem, a metáfora e o símile ou comparação são provavelmente as mais conhecidas, mais comuns e mais perigosas. Elas não só embelezam e dinamizam os textos escritos e falados, mas com frequência são essenciais à comunicação: transmitir uma ideia complexa da mente de uma pessoa para a de outra às vezes é virtualmente impossível sem a ajuda de uma comparação ou imagem. Daí a existência das “metáforas mortas” (mortas no sentido de desgastadas pelo uso) – porém indispensáveis – em nossa língua: as pernas da mesa, um pé de alface, um discurso inflamado, uma personalidade brilhante. A quantidade de imagens que pode ser acomodada em um texto varia. Um poema talvez precise de uma imagem em cada verso. Uma análise financeira de projeção de vendas pareceria estranha se contivesse mais do que duas ou três metáforas por página. Um grande autor pode lidar com metáforas muito inventivas sem perder o controle. Uma rica e palatável mistura pode resultar disso, como na citação seguinte. O trecho foi tirado de um romance, mas poderia muito bem vir de uma carta pessoal ou de uma crônica em uma revista de variedades. O assunto é uma conquista amorosa realizada pelo personagem Brás Cubas: Gastei trinta dias para ir do Rocio Grande ao coração de Marcela, não já cavalgando o corcel cego do desejo, mas o asno da paciência, a um tempo manhoso e teimoso. Que, em verdade, há dois meios de granjear a vontade das mulheres: o violento, como o touro de Europa, e o insinuativo, como o cisne de Leda e a chuva de ouro de Dânae, três inventos do padre Zeus, que, por estarem fora da moda, aí ficam trocados no cavalo e no asno. Não direi as traças que urdi, nem as peitas, nem as alternativas de confiança e temor, nem as esperas baldadas, nem nenhuma outra dessas coisas preliminares. Afirmo-lhes que o asno foi digno do corcel – um asno de Sancho, deveras filósofo, que me levou à casa dela, no fim do citado período; apeei-me, bati-lhe na anca e mandei-o pastar. - Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas A despeito da variedade de comparações aqui apresentada – corcel, asno, touro, cisne – não há metáforas em excesso misturadas, somente uma apresentação apropriada dos sentimentos que o autor descreve. Cuidado para não criar uma salada de metáforas. Em alguns casos, as metáforas são tão sugestivas que atraem a atenção mais para si mesmas do que para os assuntos a que se referem. É o que acontece nessa passagem, de um talentoso romancista. O céu jogava tinas de água sobre o noturno que me devolvia a São Paulo. O comboio brecou lento para as ruas molhadas, furou a gare suntuosa e me jogou nos óculos menineiros de um grupo negro. Sentaram-me num automóvel de pêsames. Longo soluço empurrou o corredor conhecido contra o peito magro de tia Gabriela no ritmo de luto que vestia a casa. - Oswald de Andrade, Memórias sentimentais de João Miramar (Para saber mais sobre “excesso de metáforas”, veja o quadro na página ao lado) No entanto, às vezes, a tentação de adornar o texto com metáforas pode levar o escritor ao exagero. Imagens em excesso tornam a linguagem mais rica, porém quase sempre à custa do significado. Observe o trecho a seguir: as várias imagens desviam a atenção do leitor da informação central, sem oferecer nada em troca além de um jogo de palavras vazio de significado. ?? O fogo da vida agora queimava lentamente. Sua consciência apagava-se e acendia-se, como uma chama que se extinguisse. O pavio estava quase apagado, mas o fogo vital agarrava-se a ele e recusava-se a desistir. Aquela não era uma morte tranquila: ele inflamava-se e contorcia-se e crepitava. Era uma cena dolorosa. No entanto, o médico sustinha-lhe a mão: quem quereria apagar aquela corajosa vela em vez de deixá-la extinguir-se por si só? Para evitar excessos desse tipo, os escritores algumas vezes vão longe demais na direção oposta – empobrecem o texto ao empregar apenas metáforas e símiles muito usuais, que podem ser simples clichês – ? coroado de êxito, ? cortina de fumaça, ? dizer cobras e lagartos, ? leve como uma pena. Essas expressões não evocam uma imagem vívida na mente do leitor. O mesmo vale para metáforas que são meras adaptações de expressões correntes: ? estabelecer uma ponte em vez de fazer uma ponte, ? não alcançar o alvo em lugar de errar o alvo. Por fim, cuidado com o poder de fascinação da metáfora. Assim como a poesia, também a propaganda vive das figuras de linguagem: rios de dinheiro é algo muito mais persuasivo e empolgante do que um simples prêmio. Não abuse da linguagem metafórica dessa forma nem tampoucose deixe manipular por ela. Comparar uma realidade a algo bastante diferente não é transformar essa coisa naquela realidade. EXCESSO DE METÁFORAS E OUTROS PROBLEMAS Uma sucessão de metáforas ou símiles extraídos de diferentes campos de significação por vezes produz um efeito destoante e risível – mesmo quando se trata de expressões idiomáticas, espécies de metáforas mortas, já incorporadas à linguagem coloquial. São muitos os exemplos que dispensam comentários: X Estamos à beira do abismo. Juntos, marchemos em frente. X Você fica em cima do muro, com a cabeça enterrada no chão, como um avestruz. A tentativa de produzir frases de efeito pode resultar em textos de mau gosto. Os termos devem ser escolhidos com cuidado, para que a frase não soe agressiva ou depreciativa. O autor de jogos de palavras, símiles e metáforas pouco elegantes tende a ser ofensivo ou parecer ridículo, como essas declarações de políticos publicadas por uma revista: X Se Jesus foi violentado, por que eu não poderia ser? - Veja, 6 de março de 2002 X Eles mandam a reforma em pedaços, como um salame de padaria. - Veja, 27 de fevereiro de 2002 Um bom exemplo de símile com sentido polêmico encontra-se na frase atribuída ao compositor José Barbosa da Silva, o Sinhô, que na década de 1920 defende-se da acusação de roubar a criação musical de seus colegas: X Samba é como passarinho, é de quem pegar. O excesso ou mau emprego de figuras de linguagem pode comprometer a inteligibilidade do texto. Escritores sem talento que tentam formular uma prosa poética acabam por produzir textos truncados. É preciso ter sensibilidade e habilidade desenvolvidas para lidar com os aspectos poéticos da língua a ponto de criar frases como as seguintes. A noite densa e escura foi cortada ao meio, separada em dois blocos negros de sono. Onde estava? Entre os dois pedaços, vendo-os – o que já dormira e o que ainda iria dormir –, isolada no sem-tempo e no sem-espaço, num intervalo vazio. Esse trecho seria descontado de seus anos de vida. O teto e as paredes uniam-se sem arestas, caladas, de braços cruzados, e ela estava dentro de um casulo. Joana espiou-o sem pensamentos, sem emoção, uma coisa olhando para outra coisa. Aos poucos, de um movimento com a perna, nasceu-lhe longinquamente a consciência misturada a um gosto de sono na boca, estirando-se depois por todo o corpo. O luar empalidecia todo o quarto, a cama. - Clarice Lispector, Perto do coração selvagem Quando se depara com um texto como esse, o leitor tem de decifrar, um a um, o significado embutido em cada imagem e, ao mesmo tempo, perceber as relações existentes entre esses significados – como as que vinculam elementos em um conjunto. Observe, por exemplo, o trecho citado acima. Várias metáforas (blocos negros de sono, ela estava dentro de um casulo) se sucedem, e o trecho ainda contém figuras de linguagem como a personificação (paredes caladas, de braços cruzados, o luar empalidecia todo o quarto). O leitor acompanha facilmente a sucessão de imagens e consegue correlacioná- las para compor em sua imaginação a situação e as sensações da personagem. Infelizmente, são poucos os escritores que têm talento para harmonizar várias metáforas e outras figuras de linguagem em uma mesma passagem. Na maioria dos casos, os exageros resultam em sobrecarga improdutiva de informações cruzadas. O excesso de metáforas pode ser tão prejudicial à comunicação quanto um outro tipo de jogo de palavras comentado adiante: o trocadilho infame. Existem também outros três tipos de efeitos indesejáveis, menos célebres: a metáfora dúbia, a metáfora imprópria e o idiomatismo (ou clichê) confuso. A metáfora dúbia simplesmente não é eficaz na transmissão de uma mensagem. Por exemplo, ? depurar a tensão é uma expressão que parece querer dizer uma coisa e diz outra. Pode-se depurar o ar ou dissipar a tensão, mas não faz sentido ? depurar a tensão – as duas ideias, como a água e o óleo, simplesmente não se misturam. Veja outras combinações duvidosas: ?? desemaranhar a ordem ?? dispersar erros ?? assentar uma decisão A metáfora imprópria, como a metáfora dúbia, em geral se compõe de expressões idiomáticas. A impropriedade encontra-se no choque entre a metáfora e o contexto: ? Houve uma enxurrada de secas nos últimos anos. ? O homem na cadeira de rodas está sempre saltando à frente de seu tempo. ? O fogo na floresta avança a todo vapor. O idiomatismo confuso é igualmente comum e sutil – fácil de usar e difícil de perceber. A expressão ?? pagar as consequências mistura “pagar o preço” com “assumir as consequências”. Da mesma forma, ?? jogar verde para colher maduro (“jogar verde” + “plantar verde para colher maduro”). Observe, porém, que, se usado deliberadamente, o idiomatismo confuso (principalmente sob a forma do clichê confuso) pode ser bastante expressivo, em seu modo grotesco: X Faca de dois legumes. X Tocar em miúdo. X Se ele descobrir, estarei em maus papéis. X Soltar o verso. X Não dar pingo sem nó. Os comediantes profissionais e pessoas espirituosas de um modo geral usam essas imagens conflitantes como parte de sua matéria-prima. Rumo ao Tenta! A Cópula do Mundo! ARREPENTA BRASIL! Depois de três galinhas mortas, o Brasil vai pegar uma galinha choca, a Bélgica. Amanhã o Brasil entra na copa. Vai pegar a Copa andando! (…) AS GRANDES PARTIDAS! As grandes partidas da Copa: a partida da França, a partida da Argentina e a partida de Portugal. - José Simão, Folha de S. Paulo, 16 de junho de 2002 Zig – ora direis – não parece nome de gente, mas de cachorro. E direis muito bem, porque Zig era cachorro mesmo. Se em todo o Cachoeiro era conhecido por Zig Braga, isso apenas mostra como se identificou com o espírito da Casa em que nasceu, viveu, mordeu, latiu, abanou o rabo e morreu. - Rubem Braga, Histórias do homem rouco Os dois cronistas provocam risos no leitor porque encontram empregos inusitados para expressões familiares – grandes partidas, não parece nome de gente. Mas, a menos que você se sinta totalmente seguro, não arrisque tais malabarismos em seus textos ou discursos. Procure antes garantir que os idiomatismos e as figuras de linguagem usados tenham coerência entre si. Uma vez começado um novo período ou – o que é ainda mais seguro – uma nova ideia, você pode lançar mão de outra imagem sem correr o risco de criar uma mistura de metáforas. Mas, como sempre, cuidado para não exagerar nos efeitos que incluir em seu texto. E aqui estão máximas espirituosas extraídas da obra de Machado de Assis. Suporta-se com paciência a cólica do próximo. Matamos o tempo; o tempo nos enterra. Um cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto da carruagem seria diminuto, se todos andassem de carruagem. Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros. Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de pau. Esta reflexão é de um joalheiro. Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens, que de um terceiro andar. - Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas Jogos de Palavras Os jogos de palavras propositais servem como estímulo para o leitor – desde que convenham ao contexto e não soem forçados. Você pode até aventurar-se a empregar uma rima de vez em quando ou arriscar uma leve aliteração. E um trocadilho ou paradoxo podem aguçar a atenção. Eis alguns paradoxos, epigramas (pequeno texto mordaz) e ditos populares alterados que podem dar um colorido especial a seus textos, se usados com moderação e sensatez: Não há gênio que não tenha, de vez em quando, a nostalgia da burrice. Aliás, um dos traços do gênio é o seu nenhum escrúpulo em ser imbecil de vez em quando. (Nelson Rodrigues) Políticosbrasileiros em campanha soltam tantas pérolas que não abrem mais a boca. Abrem as ostras. (José Simão) O melhor amigo do homem é o uísque. O uísque é o cachorro engarrafado. (Vinicius de Moraes) Um Início Surpreendente O ideal é que seu texto chame a atenção do leitor logo no início, fazendo com que ele se interesse de imediato pela leitura. Se isso não acontecer, o leitor pode deixar de lado seu texto sem atrativos e passar a algo mais interessante. E, se tiver de lê-lo, ele o fará sem atenção ou de má vontade. Veja os dois parágrafos de abertura do capítulo A Arte de Redigir. Qual teria sido sua reação se eles fossem escritos da seguinte maneira? Embora um texto em geral seja criado quando se está a sós, a intenção é, quase sempre, que ele seja lido por outras pessoas. Escrever, em outras palavras, é acima de tudo uma forma de se comunicar. Com poucas exceções, todos os textos são feitos com o propósito de transmitir ideias e sentimentos do escritor para outra pessoa, mesmo que esta seja o próprio escritor em algum momento futuro. Não parece muito estimulante, não é? O texto pode ser claro e preciso, mas também é tedioso. Um início cativante, por outro lado, prende a atenção do leitor e garante a continuidade da leitura. Veja, por exemplo, a seleção de aberturas de texto no quadro abaixo. Se você apanha um livro e lê um primeiro período ou parágrafo como esses, é preciso enorme força de vontade para deixá-lo de lado sem prosseguir na leitura. INTRODUÇÕES INTERESSANTES Aqui estão alguns parágrafos de abertura de romances escritos por grandes autores. Qualquer leitor fica curioso para saber de que trata o livro. Textos não ficcionais também podem conquistar o interesse do leitor logo nas primeiras linhas. Em menor escala, mesmo o mais humilde relatório de negócios consegue se favorecer de um começo incisivo, que estimule o leitor prejudicado a prestar mais atenção. Tinham dado onze horas no cuco da sala de jantar. Jorge fechou o volume de Luís Figuier que estivera folheando devagar, estirado na velha voltaire de marroquim escuro, espreguiçou-se, bocejou e disse: – Tu não vais te vestir, Luísa? – Logo. - Eça de Queirós, O primo Basílio Do que eu gostava mais no Jardim Zoológico era do rinque de patinação sob as árvores e do professor preto muito direito a deslizar para trás no cimento em elipses vagarosas sem mover um músculo sequer, rodeado de meninas de saias curtas e botas brancas, que, se falassem, possuíam seguramente vozes tão de gaze como as que nos aeroportos anunciam a partida dos aviões, sílabas de algodão que se dissolvem nos ouvidos à maneira de fins de rebuçado na concha da língua. - António Lobo Antunes, Os cus dos Judas Pelas nove da manhã desse dia de Setembro cheguei enfim à estação de Évora. Nos meus membros espessos, no crânio embrutecido, trago ainda o peso de uma noite de viagem. Um moço de fretes abeira-se de mim, ergue a pala do boné: – É preciso alguma coisa, senhor engenheiro? - Virgílio Ferreira, Aparição Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte. - Mia Couto, Terra sonâmbula Pelas cinco horas duma tarde invernosa de outubro, certo viajante entrou em Corgos, a pé, depois da árdua jornada que o trouxera da aldeia do Montouro, por maus caminhos, ao pavimento calcetado e seguro da vila: um homem gordo, baixo, de passo molengão; samarra com gola de raposa; chapéu escuro, de aba larga, ao velho uso; a camisa apertada, sem gravata, não desfazia no esmero geral visível em tudo, das mãos limpas à barba bem escanhoada; é verdade que as botas de meio cano vinham de todo enlameadas, mas via-se que não era hábito do viajante andar por barrocais; preocupava-o a terriça, batia os pés com impaciência no empedrado. - Carlos de Oliveira, Uma abelha na chuva Exemplos O tema ou a mensagem de um texto costuma vir expresso numa declaração um tanto vaga ou abstrata, ou numa advertência ou comando generalizado: O cientista fez uma importante descoberta sobre os problemas causados pelo estresse. Os gases da descarga de motores a gasolina sem chumbo ainda apresentam riscos à saúde. Não abuse da voz passiva em seu texto. Para tornar compreensíveis tais generalizações, porém, o escritor habilidoso lança mão de alguns recursos. Ele apresenta casos específicos em lugar de afirmativas genéricas. Usa exemplos concretos em vez de declarações abstratas para salientar sua mensagem. São estes casos e exemplos que conferem dinamismo ao texto e evitam que a atenção do leitor se desvie. Mostre, não relate. Em textos descritivos ou narrativos – assim como numa autobiografia ou num romance – esta é uma fórmula segura. Os ficcionistas têm à sua disposição duas estratégias: relatar ao leitor o que acontece, dizer-lhe o que pensar; isto é, explicar e esclarecer a trama e as motivações das personagens, como em Maria sentiu inveja do vestido novo da irmã. mostrar tudo ao leitor; ou seja, apresentar a trama e os personagens em ação – em breves cenas dramatizadas, uma após a outra: Os olhos de Maria se estreitaram quando a irmã se aproximou usando um vestido que ela, Maria, nunca vira antes. Os romancistas e críticos modernos tendem a privilegiar essa segunda estratégia, às vezes a ponto de banir ou condenar completamente a técnica do relato. No entanto, quase toda boa ficção, antiga e moderna, mescla sutilmente os dois modelos. O escritor não deve usar o excesso de narração como uma bengala para o leitor, pois isso o entediaria; mas tem o direito, aqui e ali, a pequenos “empurrões”, como meio de guiar o entendimento ou a simpatia do leitor. Para os críticos literários, mostrar é a melhor alternativa. Eles alegam a maior qualidade artística da apresentação direta. Em textos do cotidiano, porém, a questão não é a qualidade artística, mas sim a eficácia. O que interessa é encontrar a melhor maneira de comunicar uma mensagem ao leitor. A solução, em quase todo contexto, será: relatar e mostrar. Apresente o argumento explicitamente e, em seguida, as evidências que o apoiam. Exponha a generalização e depois liste exemplos que a amparem. Se preferir, inverta a ordem das estratégias: mostre e depois relate. Primeiro, apresente os dados e, em seguida, a generalização. Conte a fábula e então conclua com a moral. Eis aqui um exemplo atrativo da técnica narrativa. Ele provém de um livro de memórias em que se harmonizam recursos literários e comunicação de padrão coloquial. Na linha varonil da minha família paterna essa guarda de tradições foi suspensa devido à sucessão de três gerações de morredores! A de meu Pai, que desapareceu aos 35 anos. A do seu pai, falecido aos 37. Meu bisavô, não sei com que idade morreu. Cedo, decerto, pois meu avô foi criado de menino por uma de suas avós ou tias-avós. É assim que cada uma dessas gerações ficou sabendo pouco das anteriores e não teve tempo de transmitir esse pouco às sucedentes. Por essa razão, também quase nada sei de meu avô paterno. - Pedro Nava, Baú de ossos Agora, considere a passagem a seguir, de um artigo de revista sobre a obra de Euclides da Cunha. Note de que maneira suave e sem obstáculos o autor transmite suas ideias em cada parágrafo através da citação de preciosos exemplos. Publicado em 1902, Os sertões é uma obra híbrida que transita
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