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Técnicas Para Uma Redação Eficaz

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Seleções:	o	mundo	cada	vez	melhor
Há	mais	de	90	anos	Seleções	do	Reader’s	Digest	oferece	conteúdo	de	qualidade
em	variadas	áreas	do	conhecimento,	apresentando-o	de	forma	concisa	e	objetiva.
Isso	fez	com	que	nos	tornássemos	parte	da	história	e	educação	das	pessoas	em
mais	 de	 45	 países,	 sempre	 informando,	 divertindo	 e	 emocionando	 nossos
leitores.
Continuando	 a	 desempenhar	 esse	 papel,	 estamos	 sempre	 buscando	 novos
meios	e	novos	canais	de	comunicação	e	acompanhando	a	evolução	global	a	fim
de	atender	às	necessidades	do	homem	de	hoje.	Sempre	pensando	em	um	mundo
melhor,	para	que	você	também	esteja	cada	vez	melhor.
Conheça	Seleções	e	nosso	conteúdo	nas	páginas:
					 					 					
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http://twitter.com/revistaselecoes
http://blog.selecoes.com.br
Sumário
Introdução
A	Arte	de	Redigir
Lembre-se	de	Seus	Leitores
Seja	Atento	e	Lógico
Lapsos	de	Lógica
Aspectos	de	um	Estilo	Eficaz
ESTILO	SIMPLES	E	DESPRETENSIOSO
BREVIDADE	E	CONCISÃO
Redundância	–	Tautologia	e	Pleonasmo
COERÊNCIA
Coerência	no	Layout	e	na	Gramática
EXPRESSIVIDADE
Variedade	de	Estruturas	Frasais
Estruturação	da	Frase
Palavras	em	Ordem	Inversa
Figuras	de	Linguagem
A	Metáfora	e	Seus	Perigos
Jogos	de	Palavras
Um	Início	Surpreendente
Exemplos
Abstrato	Versus	Concreto
VOCABULÁRIO	DE	ALTO	RISCO
Jargão
Clichês
Modismos
Eufemismo
Gíria
Discriminação	na	Linguagem
Editando	o	Seu	Texto
A	Dinâmica	da	Redação
A	Hora	de	Pôr	no	Papel
Levantamento	do	Material
Mãos	à	Obra
T
Introdução
	écnicas	para	uma	redação	eficaz	é	um	guia	para	aprimorar	sua	capacidade
de	produzir	 textos	cada	vez	melhores,	que	aborda	aspectos	como	correção,
clareza	e	coerência.	Você	encontrará	 informações	que	o	ajudarão	a	escrever	de
maneira	 adequada	 a	 cada	 situação,	 a	 fazer	 pesquisas,	 a	 evitar	 argumentos
despropositados,	 a	 organizar	 suas	 ideias	 na	 melhor	 ordem	 possível	 e	 obter
sucesso	valendo-se	das	ferramentas	da	escrita.
Após	 a	 leitura	 deste	 e-book,	 você	 ficará	 alerta	 para	 as	 armadilhas	 da
linguagem:	 a	 tentação	 dos	 clichês	 e	 palavras	 da	 moda	 (que	 resultam	 em
discursos	 de	 significado	 pobre),	 o	 perigo	 da	 ambiguidade	 (como	 “Nós
esquentamos	 o	 chocolate	 por	 que	 estava	 frio”)	 e	 a	 cilada	 do	 excesso	 de
metáforas	(“Um	oásis	de	democracia	em	um	mar	de	autoritarismo”).	Acima	de
tudo,	Técnicas	para	uma	 redação	 eficaz	 busca	desfazer	 grandes	mitos	 sobre	o
ato	da	escrita,	como,	por	exemplo:
É	preciso	planejar	tudo	detalhadamente	antes	de	começar	a	redigir.
Ideias	 complexas	 devem	 ser	 expressas	 com	 vocabulário	 rebuscado	 e
estruturas	sintáticas	muito	sofisticadas.
A	 escrita	 grandiosa,	 incluindo	 frases	 longas	 e	 termos	 abstratos,	 soa	mais
impressionante	que	a	escrita	direta	e	simples.
Mesmo	 jornalistas	 e	 escritores	 mais	 experientes	 podem	 se	 beneficiar	 dos
conselhos	 deste	 e-book.	 Perca	 o	medo	 de	 expressar	 suas	 ideias	 e	 faça	 isso	 da
melhor	forma	possível:	simples	e	objetivamente.
Os	editores.
E
A	Arte	de	Redigir
screver	é	quase	sempre	uma	atividade	individual,	porém,	ao	mesmo	tempo,
trata-se	de	um	serviço	para	o	público.	Você	pode	registrar	em	um	caderno	as
ideias	que	surgirem	em	meio	à	solidão	de	seus	estudos;	ou	compilar	um	relatório
no	 escritório	 depois	 que	 todos	 já	 tiverem	 ido	 para	 casa;	 ou	 rascunhar	 alguns
parágrafos	 novos	 do	 romance	 que	 está	 escrevendo	 sentado	 à	mesa	 da	 cozinha
enquanto	as	crianças	dormem.	Contudo,	em	cada	um	dos	casos,	sua	intenção	é	a
mesma	–	em	algum	momento,	sua	escrita	será	o	material	de	 leitura	de	outrem,
suas	frases	irão	tornar-se	“públicas”.
Em	outras	palavras,	escrever,	acima	de	tudo,	tem	por	objetivo	a	comunicação
–	transmitir	ideias	e	sentimentos	de	uma	mente	a	outra.	Excetuando-se	algumas
extravagâncias	–	resolver	problemas	de	palavras	cruzadas	ou	escrever	“João	ama
Maria”	na	areia	da	praia	quando	a	maré	está	baixa	–,	isso	é	válido	para	qualquer
atividade	escrita.	Mesmo	ao	 tomar	notas	durante	uma	palestra,	ou	 registrar	um
incidente	engraçado,	você	estará	escrevendo	para	comunicar	–	no	mínimo,	para
transmitir	impressões	ao	seu	futuro	“eu”.
Os	princípios	da	boa	escrita,	portanto,	são	aqueles	de	toda	boa	comunicação.
Os	pontos	básicos	são:
precisão,	coerência,	atenção	para	com	o	leitor,	evitar	ambiguidade;
brevidade	ou	concisão,	expressividade,	fluência;
correção	(de	estilo	e	de	gramática),	clareza,	consistência.
Os	 diversos	 aspectos	 de	 tais	 princípios	 serão	 discutidos	 na	 primeira	 seção
deste	livro.	Nesse	ínterim,	para	perceber	as	consequências	de	ignorá-los,	leia	os
trechos	 a	 seguir	 e	 pergunte	 a	 si	mesmo:	 por	 que	 pessoas	 instruídas	 que	 têm	o
português	como	língua-mãe	cometem	erros	tão	banais?
??	De	início,	meu	propósito	era	abarcar	apenas	o	período	situado	entre	1922
e	1990.	Esta	data,	 1922,	 é	 a	da	Semana	de	Arte	Moderna,	 realizada	no	Teatro
Municipal	de	São	Paulo,	mas	é,	também,	a	da	realização,	no	Rio	de	Janeiro,	da
exposição	 internacional	 comemorativa	 do	 1o	 centenário	 da	 Independência
política	do	Brasil.	[...]
Porém,	 terminado	 o	 levantamento	 do	 período,	 decidi	 ampliar	 a	 pesquisa,
recuando	até	1888.	Nesse	ano,	 instalou-se,	na	Praça	Tiradentes,	o	Ateliê	Livre,
no	âmbito	de	uma	polêmica	entre	“modernos”	e	“positivistas”,	cujo	desfecho	foi
a	 reforma	 do	 ensino	 de	 belas	 artes,	 assinada	 em	 1890,	 e	 que	 transformou	 a
Academia	Imperial	em	Escola	Nacional	de	Belas	Artes.
-	Frederico	Morais,	Cronologia	das	artes	plásticas	no	Rio	de	Janeiro
??	A	UTI	 sempre	 foi	 a	mais	 temida	das	 alas	 de	um	hospital.	Em	primeiro
lugar,	 porque	 só	 entram	ali	 pacientes	 em	 situação	 crítica.	Mas	 também	porque
ela	se	 transformaram	em	um	espaço	 inóspito,	com	médicos	pouco	atenciosos	e
uma	arquitetura	opressora.	Às	vésperas	de	completarem	30	anos	de	existência,	as
Unidades	de	Tratamento	Intensivo	passam	por	uma	crise	de	identidade.
-	Jornal	do	Brasil,	31	de	março	de	2002
??	 No	 encontro	 de	 hoje	 a	 coordenadora	 pretende	 discutir	 uma	 linguagem
mais	didática	das	estatísticas	e	novos	meios	de	divulgação.	Sobre	a	questão	na
insegurança	na	Tijuca,	Jaqueline	Muniz	afirmou	que	o	secretário	de	Segurança,
Roberto	 Aguiar,	 está	 convocando	 os	 envolvidos	 diretamente	 no	 assunto	 para
orientar	melhor	o	planejamento	da	polícia.
-	Portal	Globo	News,	16	de	abril	de	2002
Nos	 três	casos,	os	escritores	parecem	violar	dois	princípios	 fundamentais	e
óbvios	da	boa	escrita	–	a	preocupação	com	o	leitor	e	o	raciocínio	lógico.
Lembre-se	de	Seus	Leitores
Como	 a	 escrita	 tem	 por	 objetivo	 básico	 a	 comunicação,	 deve-se	 sempre
pensar	no	leitor	enquanto	se	escreve.	Às	vezes	isso	é	difícil.	Ao	se	deparar	com
uma	 tarefa	 complexa	ou	delicada,	 é	 comum	que	o	 escritor	 fique	 introspectivo,
lutando	para	transformar	os	pensamentos	em	palavras	e	para	ordenar	as	frases	no
papel.	Você	precisará	se	forçar	continuamente	para	emergir	dessa	auto-absorção.
O	que	 se	deve	 exigir	 do	 escritor,	 antes	 de	 tudo,	 é	 certo	 sentimento	 íntimo,
que	o	torne	homem	do	seu	tempo	e	do	seu	país,	ainda	quando	trate	de	assuntos
remotos	no	tempo	e	no	espaço.
-	Machado	de	Assis,	Instinto	de	nacionalidade
Isso	significa	mais	do	que	apenas	 respeitar	as	 regras	da	gramática.	 Implica
dar-se	 ao	 trabalho	 de	 ordenar	 os	 pensamentos	 na	 sequência	 mais	 metódica	 e
lógica	possível	e	 transformá-los	em	palavras	claras	e	expressivas.	Se	você	não
conseguir	expor	bem	suas	 ideias,	colocará	o	 leitor	perante	o	grande	esforço	de
decifrá-las.
É	 principalmente	 por	 isso	 que	 insistimos	 em	 considerar	 como	 virtudes
primordiais	da	 frase	a	clareza	 e	 a	precisão	 das	 ideias	 (e	não	 se	pode	 ser	 claro
sem	 se	 ser	 medianamente	 correto),	 a	 coerência	 (sem	 coerência	 não	 há
legitimamente	clareza)	e	a	ênfase	(uma	das	condições	da	clareza),	que	envolve
ainda	 a	 elegância	 sem	 afetação,	 o	 vigor,	 a	 expressividade	 e	 outros	 atributos
secundários	do	estilo.
-	Othon	M.	Garcia,	Comunicação	em	prosa	moderna
Nãoé	 tão	 difícil	 imaginar	 o	 que	 pensa	 uma	outra	 pessoa	 –	 provavelmente
você	faz	isso	todos	os	dias,	sempre	que	fala	com	alguém.
Pense	no	quanto	você	se	preocupa	em	ajustar	o	nível	da	voz	e	do	discurso	de
acordo	 com	as	 circunstâncias.	 Para	 conversar	 com	alguém	que	não	ouve	bem,
você	sabe	que	é	necessário	falar	mais	alto	do	que	de	costume.	Ao	dialogar	com
uma	criança	ou	um	estrangeiro,	você	tende	a	empregar	palavras	simples	e	frases
curtas	e	a	falar	mais	devagar.	Ao	dirigir-se	ao	bispo,	provavelmente	você	adotará
um	 tom	 mais	 formal	 e	 respeitoso	 do	 que	 aquele	 usado	 com	 os	 colegas	 de
trabalho.
De	fato,	o	nível	inadequado	da	linguagem	frequentemente	provoca	risadas	ou
zombaria	–	a	criança	precoce	que	fala	(ou	tenta	falar)	como	adulto;	o	professor
que	conversa	com	sua	família	durante	o	jantar	como	se	estivesse	se	dirigindo	aos
alunos	no	auditório;	o	artista	performático	que	imita	a	voz	e	os	padrões	da	fala
de	uma	pessoa	do	sexo	oposto.
No	 entanto,	 a	 maioria	 dos	 adultos	 encontra-se	 bem	 sintonizada	 com	 as
necessidades	do	ouvinte.	As	pessoas	se	decidem	instintivamente	por	um	nível	de
dificuldade	 e,	 então,	 se	 necessário,	 alteram	 seu	 discurso	 para	 adequá-lo	 à
situação.	A	uma	expressão	de	dúvida,	respondem	desacelerando	o	ritmo	da	fala,
repetindo	 o	 ponto	 importante	 com	 palavras	 diferentes	 ou	 enfatizando	 outros
aspectos.	Diante	de	um	suspiro	de	impaciência	do	ouvinte,	falam	mais	rápido	ou
mudam	de	assunto.
Quando	 se	 trata	de	 escrever,	 as	 coisas	não	 são	 tão	 fáceis:	 você	 tem	menos
orientação	do	público,	e	vice-versa.	Os	ouvintes	extraem	informações	não	só	das
palavras	do	falante,	mas	também	de	fatores	como	tom	de	voz,	pausas,	expressões
faciais,	 gestos,	 “linguagem	 corporal”	 etc.	 Os	 leitores,	 por	 outro	 lado,	 têm
somente	 as	 palavras	 como	 guias	 (além	 de	 alguns	 recursos	 tipográficos
incipientes,	como	o	itálico	e	a	pontuação).	Da	mesma	forma,	quem	fala	diante	de
uma	 audiência	 aproveita	 o	 feedback	 do	 interlocutor	 imediatamente,	 podendo
inclusive	 alterar	 seu	 discurso	 para	 garantir	 a	 eficácia	 da	 comunicação.	 Já	 os
escritores,	geralmente	só	obtêm	seu	feedback	depois	que	terminam	de	escrever.
Por	isso,	ao	escrever	uma	carta	ou	um	relatório,	tenha	em	mente	a	provável
reação	 dos	 leitores	 ao	 conteúdo,	 ao	 estilo	 e	 ao	 tom.	Quanto	 ao	 conteúdo:	 por
exemplo,	não	se	estenda	em	explicações	técnicas	detalhadas	se	os	leitores	forem
leigos.	 Porém,	 se	 todos	 eles	 forem	 especialistas	 no	 assunto,	 utilize	 jargão
técnico,	 mais	 conciso,	 e	 evite	 explanações	 genéricas.	 (Se,	 entre	 seus	 leitores,
houver	 especialistas	 e	 leigos,	 você	 terá	 que	 alcançar	 um	 equilíbrio	 sutil	 –	 e
provavelmente	tenderá	a	priorizar	os	leigos.)
Quanto	ao	estilo:	se	alguns	de	seus	leitores	forem	pouco	letrados,	cuide	para
não	 usar	 linguagem	 excessivamente	 rebuscada.	 Se	 todos	 os	 seus	 prováveis
leitores	 são	 eruditos	 e	 de	 bom	 nível	 educacional,	 então	 não	 os	 subestime
escrevendo	 com	 estilo	 simplório	 e	 dando	 explicações	 desnecessárias	 (isso	 não
significa	 que	 você	 deva	 lançar	 mão	 de	 um	 estilo	 pretensioso	 na	 tentativa	 de
impressioná-los).	 O	 lema	 é:	 adequação.	 Escreva	 de	 forma	 simples,	 tendo	 em
mente	 que	 a	 definição	 de	 simplicidade	 varia	 de	 acordo	 com	 o	 nível	 de
sofisticação	do	leitor.
Quanto	 ao	 tom:	 ajustá-lo	 corretamente	 equivale	 a	 vestir-se	 de	 modo
apropriado	para	 determinada	 situação.	Um	 terno	 claro	pode	 ser	 adequado	para
um	almoço	profissional,	mas	seria	inadequado	para	um	banquete	com	o	prefeito,
por	 um	 lado,	 e	 para	 uma	 festa	 informal,	 por	 outro.	 Por	 exemplo,	 a	 Rainha
Vitória,	do	Reino	Unido,	desaprovava	insinuações	de	familiaridade	excessiva	da
parte	de	qualquer	pessoa,	mas	também	não	apreciava	o	costume	do	Sr.	Gladstone
de	falar	com	ela	sempre	como	se	estivessem	em	um	comício	público.	O	mesmo
acontece	 com	 o	 tom	 da	 escrita:	 um	 tom	 muito	 elevado	 será	 considerado
pomposo;	um	tom	baixo	demais	será	tido	como	chulo	ou	descortês.	Se	todos	os
seus	leitores	forem	pessoas	com	quem	você	tem	intimidade,	empregue	um	tom
razoavelmente	 familiar	 ou	 informal.	 Mas,	 se	 seus	 leitores	 forem	 diretores-
executivos	 de	 uma	 empresa,	 empregue	 um	 tom	 adequadamente	 respeitoso	 e
formal	 (o	 que	 não	 significa	 ser	 bajulador	 ou	 subserviente).	 Não	 confunda
formalidade	com	rigidez.	O	tom	formal	pode	atrair	e	envolver	o	leitor;	o	rígido
irá	entediá-lo.
A	questão	óbvia	permanece:	o	que	fazer	quando	não	se	sabe	quem	serão	os
leitores?	A	melhor	 política	 consiste	 em	 pecar	 pelo	 excesso	 de	 cautela	 –	 supor
que	tenham	alto	nível	de	exigência,	porém	pouco	conhecimento	técnico	sobre	o
assunto.
O	resultado	deverá	ser	um	tom	razoavelmente	formal,	com	vocabulário	não
muito	técnico	e	facilmente	compreensível,	além	de	conter	análises	e	explicações
razoavelmente	metódicas	a	respeito	do	conteúdo	–	como	neste	livro,	e	na	maior
parte	das	obras	de	não-ficção	direcionadas	ao	público	não	especializado.
Acima	 de	 tudo,	 lembre-se	 de	 que	 alguém	 tem	 de	 se	 esforçar	 para	 que	 a
comunicação	 ocorra	 com	 sucesso.	 O	 esforço	 da	 escrita	 é	 inversamente
proporcional	 ao	 da	 leitura:	 quanto	 mais	 trabalho	 você	 realizar	 como	 escritor,
menos	 trabalho	 seu	 leitor	 terá.	E	vice-versa.	 Se	 você	 relaxar,	 será	 o	 leitor	 que
fará	a	maior	parte	do	 trabalho	–	ou	não:	ele	poderá	simplesmente	considerar	o
seu	texto	ilegível	e	deixá-lo	de	lado.
Seja	Atento	e	Lógico
Muitas	das	falhas	mais	comuns	na	redação	diária	–	erros	de	gramática,	uso
ou	 estilo	 –	 podem	 ser	 atribuídas	 à	 mera	 falta	 de	 concentração.	 Quando	 o
problema	é	apontado,	o	escritor	normalmente	reconhece	e	corrige	o	erro,	e	em
geral	o	justifica,	afirmando:	“Eu	não	estava	prestando	atenção.”
Mesmo	 o	 escritor	 experiente,	 que	 se	 depara	 a	 todo	 momento	 com	 as
dificuldades	 e	 armadilhas	 da	 língua,	 pode	 cometer	 erros	 se	 perder	 a
concentração.	O	escritor	inexperiente	corre	ainda	mais	riscos.	A	menor	falta	de
atenção	 provavelmente	 resultará	 em	 falha	 lógica,	 incorreção	 gramatical	 ou
inadequação	estilística.	A	vigilância	constante	é	a	solução.	Não	importa	se	você
conhece	poucas	regras	tradicionais	de	gramática,	é	possível	evitar	a	maioria	dos
erros	 comuns	 apenas	mantendo-se	 atento	 enquanto	 escreve.	Assim	 como	 você
usaria	 bom	 senso	 e	 experiência	 para	 escapar	 à	 ambiguidade,	 à	 tautologia,	 aos
clichês	 ou	 à	 imprecisão	 do	 vocabulário,	 lance	 mão	 normalmente	 da	 lógica
habitual	para	testar	a	correção	da	gramática	ou	do	estilo.
Seria	 aceitável	 escrever	 Eles	 convidaram	 minha	 filha	 e	 eu	 para	 o
casamento?	Teste	a	oração,	reordenando	os	termos	cruciais,	minha	filha	e	eu.	É
possível	escrever	Eles	convidaram	eu	e	minha	filha	para	o	casamento?
Da	mesma	forma,	seria	aceitável	escrever	Os	novos	componentes	custarão	o
mesmo,	ou	até	menos	do	que	os	anteriores?	Teste	a	oração	eliminando	a	segunda
opção	 ou	 até	 menos.	 É	 possível	 escrever	 Os	 novos	 componentes	 custarão	 o
mesmo	do	que	os	anteriores?
Lapsos	de	Lógica
A	importância	da	lógica	para	os	escritores	não	se	restringe	à	gramática	e	ao
uso.	Funciona	como	um	parâmetro	para	o	conteúdo	também	–	a	consistência	das
ideias	expressas,	a	ordem	na	qual	são	apresentadas,	a	validade	das	relações	entre
elas.
Falsos	contrastes	e	saltos	de	lógica.	Observe	os	vocábulos	mas	e	embora.	São
conjunções	extremamente	úteis	e	bastante	comuns.	Talvez	exatamente	por	esses
motivos,	 o	 escritor	 descuidado	 as	 emprega	 com	 frequência	 excessiva	 e	 em
circunstâncias	 em	 que	 são	 desnecessárias	 ou,	 até	mesmo,	 incorretas.	Nos	 seus
significados	 usuais,	 indicam	 algum	 tipo	 de	 oposição	 –	 uma	 contradição	 ou
limitação	de	uma	ideia	próxima:	Tentei	muito,	mas	falhei;	Embora	coma	pouco,
ela	 continua	 a	 engordar.	 O	 texto	 produzido	 com	 descuido	 desvia-se	 dessa
exigência	 de	 que	 haja	 duas	 assertivas	 opostas.	 Ou	 se	 estabelece	 um	 “falso
contraste”	 –	 não	 verdadeiramenteuma	 oposição,	 porém	 duas	 ideias	 apenas
distintas	 –	 ou	 a	 segunda	 ideia	 fica	 completamente	 desprovida	 de	 propriedade:
ocorre	um	“salto	de	lógica”	e	passa	a	caber	ao	leitor	a	tarefa	da	dedução.	Eis	um
exemplo	de	cada	situação:
??	Ele	 trapaceou	 seus	empregados	engenhosamente	durante	 anos,	mas	eles
nunca	descobriram.
??	A	equipe	vermelha	ganhou	no	final,	mas	a	azul	veio	em	segundo.
A	 primeira	 dessas	 orações	 apresenta	 um	 falso	 contraste.	 As	 duas	 ideias
unidas	pela	palavra	mas	estão	em	harmonia,	e	não	em	conflito:	como	a	fraude	foi
engenhosa,	 não	 é	 de	 surpreender	 que	 os	 empregados	 jamais	 a	 tenham
descoberto.	As	 conjunções	 e	 ou	 assim	 fariam	mais	 sentido	 do	 que	mas.	 Se	 o
advérbio	 fosse	 aberrantemente	 em	 vez	 de	 engenhosamente,	 existiria,	 de	 fato,
uma	oposição	entre	ideias,	e	a	conjunção	mas	poderia	ser	mantida.
No	 segundo	 exemplo,	 a	 palavra	mas	 não	 está	 propriamente	 errada,	 apenas
confunde	 o	 leitor.	 Sua	 presença	 deve	 ter	 algum	 propósito.	 No	 entanto,	 parece
faltar	um	elo	no	raciocínio.	Presumivelmente,	esse	elo	é	um	comentário	sobre	as
habilidades	 ou	 as	 expectativas	 da	 equipe	 azul.	 Todo	 o	 pensamento	 complexo
encontra-se,	talvez,	ao	longo	destas	linhas:
A	 equipe	 azul	 teve	 um	desempenho	muito	melhor	 do	 que	 qualquer	 pessoa
poderia	 imaginar.	Não	conseguiu	ganhar,	é	verdade:	a	equipe	vermelha	acabou
vencendo	e	a	azul	ficou	em	segundo	–	um	esforço	louvável.
A	oração	inicial	produziu	um	salto	de	lógica	no	trecho	vital	da	informação	de
fundo,	e	o	leitor	foi	deixado	a	sós	na	tentativa	de	entendê-la.
Nem	todos	os	saltos	de	lógica	são	inaceitáveis.	Na	verdade,	em	grande	parte
dos	raciocínios	diários	recorremos	a	saltos	de	lógica	para	acelerar	a	conclusão	e
agilizar	 a	 comunicação.	 Isso	 é	válido,	 desde	que	os	 intervalos	de	 lógica	 sejam
tão	evidentes	e	curtos	que	o	leitor	ou	o	ouvinte	possam	preencher	as	lacunas	sem
esforço.	 Todos	 os	 períodos	 seguintes	 envolvem	 saltos	 de	 lógica,	mas	 nenhum
deles	é	difícil	de	acompanhar:
Desculpe-me	o	atraso:	havia	um	engarrafamento	no	Centro.
Vinho	para	mim,	não,	obrigado	–	estou	tomando	antibióticos.
Bem,	 dona	Laurinda	 disse	 que	exceção	 se	 escreve	 com	 cê-cedilha,	 e	 ela	 é
professora.
Suponha	que	as	orações	fossem	diferentes,	como	se	segue:
??	Desculpe-me	pelo	atraso:	é	dia	de	Nossa	Senhora.
??	Vinho	para	mim,	não,	obrigado	–	partirei	para	a	Amazônia	na	semana	que
vem.
??	Bem,	dona	Laurinda	disse	que	exceção	é	com	cê-cedilha,	e	ela	é	canhota.
Nesses	casos,	as	lacunas	são	muito	amplas	para	que	o	leitor	ou	o	ouvinte	as
preencham	sem	ajuda.	A	pessoa	que	fala	ou	escreve	deixou	de	fora	alguns	elos
de	 coerência	 cruciais	 entre	 a	 primeira	 e	 a	 segunda	metades	 da	 frase	 em	 cada
exemplo.	 A	 exposição	 completa	 e	 adequada	 das	 três	 observações	 obscuras
poderia	ser	assim:
Desculpe-me	 pelo	 atraso.	 Fiquei	 preso	 num	 engarrafamento	 no	 Centro,
provocado	por	uma	grande	procissão.	Eu	não	havia	me	dado	conta	de	que	hoje	é
dia	de	Nossa	Senhora.	Havia	uma	multidão	de	católicos	na	rua.
Vinho	 para	 mim,	 não,	 obrigado.	 Tomei	 algumas	 vacinas	 hoje	 à	 tarde	 por
causa	da	viagem	que	farei	à	Amazônia	na	semana	que	vem.	As	injeções	podem
provocar	tonteira,	e	o	médico	avisou	que	esse	efeito	colateral,	somado	ao	álcool,
poderia	me	derrubar.
Bem,	dona	Laurinda	disse	que	exceção	se	escreve	com	cê-cedilha,	e	ela	deve
saber	o	que	diz:	ela	é	canhota,	e	os	canhotos	sabem	ortografia	muito	bem,	além
de	possuírem	outras	habilidades	de	linguagem,	devido	à	maneira	diferente	pela
qual	o	cérebro	deles	funciona.
Convincentes	 ou	 não,	 pelo	menos	 agora	 essas	 explicações	 estão	 claras.	As
várias	ideias	de	ligação	emergiram,	de	modo	que	as	lacunas	de	coerência	foram
preenchidas	adequadamente.
Falhas	de	 lógica	e	sofismas.	Em	algumas	formas	de	produção	escrita,	a	 razão
tem	 papel	 pouco	 proeminente:	 uma	 carta	 de	 pêsames,	 por	 exemplo,	 baseia-se
obviamente	 na	 expressão	 emocional,	 e	 não	 na	 apresentação	 lógica,	 para	 ser
eficaz.	Um	pedido	de	contribuição	de	caridade	talvez	interaja	diretamente	com	a
comiseração	do	leitor,	independentemente	de	sua	capacidade	de	raciocínio.	Uma
propaganda	ou	um	manifesto	eleitoral	podem	tentar	adular	(ou	aterrorizar),	e	não
persuadir	o	leitor	a	aceitar	toda	a	informação.
Mas	na	escrita	diária	–	cartas	comerciais,	relatórios	profissionais,	pedidos	de
emprego	etc.	–	é	fundamental	expor	argumentos	bem	fundamentados.	A	eficácia
ao	escrever	depende	de	seu	rigor	lógico.	Você	enfraquece	sua	argumentação	toda
vez	que	tira	uma	conclusão	falsa	de	seus	dados,	quando	oferece	uma	explicação
melodramática,	quando	tenta	esquivar-se	de	uma	verdade	inconveniente	ou	cita
uma	autoridade	irrelevante	para	apoiar	seu	ponto	de	vista	(dez	mil	entrevistados
podem	estar	errados).
Eis	alguns	exemplos	de	raciocínio	dúbio	–	deliberado	ou	acidental	–	do	tipo
facilmente	encontrável	na	produção	escrita	ou	falada:
??	Aqueles	que	forem	de	fato	patriotas	juntar-se-ão	a	mim	no	boicote.
??	Consultem	sua	consciência	e	decidam	por	si	mesmos	quanto	a	submeter-
se	a	este	decreto.
??	Porcarias	como	esta	só	servem	para	tornar	a	vida	mais	difícil.
Escolher	 palavras	 carregadas	 de	 emoção	 é	 equivalente	 a	 lançar	 mão	 de
recursos	retóricos,	e	não	racionais.	Ganha-se	a	discussão	antes	do	começo.	Uma
porcaria	é,	quase	que	por	definição,	algo	que	não	tem	serventia.	Chame	firmeza
de	 intolerância,	 liberdade	 de	 licenciosidade	 ou	 educação	 escolar	 de	 lavagem
cerebral,	e	a	lógica	não	terá	mais	lugar	na	discussão.
É	claro	que	isso	também	se	aplica	ao	uso	de	palavras	que	reduzem	o	impacto
de	 uma	 ideia	 negativa	 –	 eufemismos,	 como	 distração	 em	 vez	 de
irresponsabilidade,	prudência	em	vez	de	covardia	etc.
??	Podemos	desconsiderar	sua	opinião	acerca	de	 importação:	você	 trabalha
numa	 fábrica	 de	 carros	 nacional,	 de	 forma	 que,	 naturalmente,	 prefere	 que	 as
mercadorias	importadas	sejam	taxadas.
??	Você	 realmente	 o	 considera	 a	 pessoa	 certa	 para	 atuar	 como	 tesoureiro?
Ele	abandonou	a	mulher	recentemente...
Comentários	 pessoais	 não	 produzem	 contra-argumentos	 fortes	 –	 são
irrelevantes	para	a	consistência	da	opinião	emitida.
X	Experimente	esse	composto	de	ervas.	Tomei	uma	colher	de	chá	esta	manhã
e	ao	meio-dia	já	me	sentia	muito	bem.
Só	 porque	 um	 evento	 se	 sucede	 a	 outro	 cronologicamente,	 não	 se	 pode
afirmar	que	haja	uma	relação	de	causa	e	efeito.
X	Briga	de	galo	não	é	um	esporte	cruel	como	muitas	pessoas	supõem,	já	que
os	galos	realmente	gostam	de	levar	bicadas.
X	Não	 se	 pode	 confiar	 em	 um	vendedor	 que	 não	 olha	 o	 cliente	 nos	 olhos
enquanto	conversa.
Esses	são	exemplos	de	pronunciamentos	calcados	em	uma	suposta	verdade:	a
conclusão	se	baseia	em	uma	premissa	dúbia,	a	qual	deveria,	primeiramente,	ser
comprovada.
X	O	palco	é	um	veículo	mais	 apropriado	para	a	 arte	do	que	o	cinema,	 e	 a
maioria	 dos	 críticos	 objetivos	 concorda	 com	 isso.	 Os	 críticos	 objetivos	 são
aqueles	 que	 não	 ficaram	 deslumbrados	 pelo	 brilho	 aparente	 do	 meio
cinematográfico.
Essa	é	uma	“argumentação	circular”,	uma	forma	especial	de	tomar	a	questão
como	provada.	O	que	a	alegação	realmente	significa	é:	peças	 teatrais	são	mais
artísticas	do	que	filmes.	No	final	das	contas,	a	premissa	é	idêntica	à	conclusão,
por	mais	que	a	equivalência	esteja	bem	disfarçada	no	período	original.
X	Logo	você,	 que	 sempre	gostou	de	 carros,	 agora	você	quer	 restringir	 seu
acesso	ao	vilarejo?
Essa	 falácia	 é	 uma	 “generalização	 completa”.	 Não	 se	 pode	 supor	 que
preferências,	tendências,	regulamentações,	lemas	e	afins	sejam	válidos	em	todas
as	circunstâncias.	A	maior	parte	das	regras	permite	certas	restrições	e	até	mesmo
exceções.
X	Você	atiraria	num	cão	raivoso,	não	atiraria?	–	Então	você	deve	ser	a	favor
da	pena	de	morte	para	assassinos	enlouquecidos	como	o	“Maníaco	do	Parque”.
Nesse	caso,	o	raciocínio	consiste	em	um	“salto	de	lógica”	muito	arriscado.	A
premissa	 omitida	 é,	 no	 mínimo,	 questionável:	 “Assassinosenlouquecidos
merecem	 pena	 semelhante	 àquela	 aplicada	 a	 um	 cão	 raivoso”,	 ou	 talvez	 “Em
certas	 circunstâncias,	 deve-se	 tratar	 seres	 humanos	 como	 animais”.	 Sendo
correta	ou	não,	a	premissa	pelo	menos	deve	aparecer	abertamente,	de	modo	que
o	leitor	ou	ouvinte	possa	inspecioná-la	e,	se	for	o	caso,	rejeitá-la.
X	Senhores	membros	do	júri,	sequestro	é	um	crime	hediondo.	Acredito	que
os	 senhores	 mostrarão	 seu	 repúdio	 a	 esse	 tipo	 de	 crime	 considerando	 o	 réu
culpado	da	acusação.
Esse	 raciocínio	 vai	 além	 de	 um	 mero	 salto	 de	 lógica	 –	 representa	 uma
“quebra	 de	 lógica”	 completa.	 A	 premissa	 é	 absolutamente	 irrelevante	 para	 a
conclusão.	O	 fato	de	 sequestro	 ser	um	crime	hediondo	não	 tem	 relação	com	a
culpa	ou	a	inocência	de	alguém	acusado	de	praticá-lo.
X	Você	ainda	está	batendo	na	sua	mulher?
X	Pelo	visto	você	é	uma	daquelas	feministas	fanáticas.
X	Ou	foi	por	burrice,	ou	foi	por	descuido	que	você	perdeu	a	encomenda.	De
qualquer	forma,	merece	ser	despedido.
Cada	oração	contém	uma	alegação	oculta	–	que	pode	ou	não	ser	justificada.
Se	 não	 estiver	 justificada,	 o	 leitor	 ou	 ouvinte	 estará	 numa	 situação	 difícil.
Será	 incapaz	 de	 fornecer	 uma	 resposta	 simples.	 Em	 vez	 disso,	 o	 receptor	 da
mensagem	 terá	de	elucidar	a	pergunta	ou	assertiva	original,	ou	 reconhecer	que
ela	não	foi	bem	formulada.
As	respostas	complexas	talvez	fossem	estas:
Nunca	bati	na	minha	mulher.
Sou	feminista,	sim,	mas	não	sou	fanática.
Não	foi	estupidez	nem	descuido	–	foi	um	acidente,	e	com	certeza	não	mereço
ser	despedido	por	isso.
Os	próximos	capítulos	desta	 seção	do	 livro	abordam	primeiro	os	blocos	de
construção	 do	 texto	 (palavras,	 orações	 e	 parágrafos);	 depois	 é	 discutida	 sua
arquitetura	geral	(estrutura);	a	seguir,	comentam-se	alguns	detalhes	da	decoração
(concisão,	 jogos	 de	 palavras	 e	 metáforas,	 gíria,	 eufemismo,	 jargão	 etc.)	 e,
finalmente,	 são	 observados	 os	 mecanismos	 do	 processo	 (coleta	 de	 material	 e
aquilo	 que	 para	 muitas	 pessoas	 é	 a	 tarefa	 mais	 difícil:	 efetivamente	 escrever,
transformar	ideias	em	palavras	no	papel).
O
Aspectos	de	um	Estilo	Eficaz
melhor	estilo	é	o	estilo	claro,	e	isto	quase	sempre	quer	dizer	simples.	O	que
não	significa	que	devamos	optar	por	um	texto	insípido:	a	simplicidade	do
estilo	permite	grandes	variações,	com	uma	 razoável	quantidade	de	metáforas	e
outras	figuras	de	linguagem	–	e	até	mesmo,	ocasionalmente,	um	toque	irônico	ou
floreio	 dramático.	 A	 base,	 porém,	 deve	 permanecer	 simples,	 até	 para	 permitir
que	os	adornos	se	sobressaiam	o	mais	eficaz	e	claramente	possível.
ESTILO	SIMPLES	E	DESPRETENSIOSO
Um	 bom	 texto	 é	 aquele	 que	 requer	 leitura	 sem	 esforço,	 e	 não	 aquele	 de
difícil	 compreensão	 –	 embora,	 com	 frequência,	 seja	 necessário	 um	 grande
esforço	da	parte	de	quem	escreve	para	conseguir	tal	efeito.
Importa-nos	que	a	redação	seja	uma	experiência	comum	ao	grupo,	devendo
provocar	a	discussão	e	a	reflexão.	Todos	são	escritores.	Todos	são	leitores.	Todos
devem	saber	defender	o	que	pensam.
-	Gustavo	Krause	e	outros,	Laboratório	de	redação
O	 bom	 estilo	 focaliza	 diretamente	 o	 conteúdo	 e	 serve	 à	 causa	 da
comunicação	clara,	em	vez	de	chamar	a	atenção	para	si	mesmo.
O	texto	deve	mesmo	ser	elegante	–	e	não	há	elegância	sem	simplicidade,	o
que	 significa	 desprezo	 ao	 enfeite	 gratuito,	 ao	 falso	 intelectualismo,	 à	 cópia	 da
banalidade	alheia.
-	Luiz	Garcia,	Manual	de	redação	e	estilo
A	simplicidade	do	texto	não	implica	necessariamente	repetição	de	formas	e
frases	desgastadas,	uso	exagerado	de	voz	passiva	(será	iniciado,	será	realizado),
pobreza	vocabular	etc.	Com	palavras	conhecidas	de	todos,	é	possível	escrever	de
maneira	original	e	criativa	e	produzir	frases	elegantes,	variadas,	fluentes	e	bem
alinhavadas.
-	Eduardo	Martins,	Manual	de	redação	e	estilo
Quando	o	escritor	negligencia	a	adequação	do	estilo	ao	conteúdo,	o	resultado
pode	ser	um	texto	pomposo,	cuja	forma	predomina	sobre	o	conteúdo.	O	autor	se
exibe,	com	uma	retórica	grandiosa,	que	em	vez	de	revelar	seus	pensamentos	os
oculta.
??	 Destarte,	 não	 equivocaremos	 a	 aparência	 com	 a	 realidade,	 se,	 nos
dissabores	que	malquerentes	e	malfazentes	nos	propinam,	discernirmos	a	quota
de	 lucro,	 com	 que	 eles,	 não	 levando	 em	 tal	 o	 sentido,	 quase	 sempre	 nos
favorecem.	 Quanto	 é	 pela	 minha	 parte,	 o	 melhor	 do	 que	 sou,	 bem	 assim	 o
melhor	do	que	me	acontece,	frequentemente	acaba	o	tempo	convencendo-me	de
que	 não	 me	 vem	 das	 doçuras	 da	 fortuna	 propícia,	 ou	 da	 verdadeira	 amizade,
senão	 sim	 que	 o	 devo,	 principalmente,	 às	 maquinações	 dos	 malévolos	 e	 às
contradições	 da	 sorte	madrasta.	 Que	 seria,	 hoje,	 de	mim,	 se	 o	 veto	 dos	meus
adversários,	 sistemático	 e	 pertinaz,	 me	 não	 houvesse	 poupado	 aos	 tremendos
riscos	dessas	alturas,	“alturas	de	Satanás”,	como	as	de	que	fala	o	Apocalipse,	em
que	tantos	se	têm	perdido,	mas	a	que	tantas	vezes	me	tem	tentado	exalçar	o	voto
dos	meus	amigos?
-	Rui	Barbosa,	Oração	aos	moços
Cuidado	para	não	se	deixar	seduzir	por	esse	estilo	floreado	–	principalmente
em	 cartas	 ou	 comunicações	 profissionais	 cotidianas.	 Se	 você	 tem	 tendência	 a
entregar-se	 a	 tal	 estilo	 “elegante”,	 corrija	 a	 primeira	 versão	 de	 seu	 texto	 com
rigor	a	fim	de	garantir	que	ele	seja	claro	e	eficaz.
Quem	escreve	com	a	intenção	de	impressionar	o	leitor	raramente	alcança	seu
objetivo.	Quem	escreve	para	expressar	seus	pensamentos	e	suas	ideias,	de	forma
clara	 e	 sincera,	 é	 que	 normalmente	 consegue	 impressionar	 o	 leitor.	 Em	 outras
palavras,	 tentar	 parecer	 inteligente	 só	 aumenta	 o	 risco	 de	 parecer	 tolo.	 A
presunção	só	comove	leitores	ingênuos.
Observe	dois	exemplos	de	textos	presunçosos:
?	 No	 último	 estágio	 da	 alienação,	 os	 crimes	 tornaram-se	 notórios	 e	 já
ninguém	 crê	 seriamente	 no	 “mundo	melhor”.	Mas	 então,	 como	 a	 realidade	 já
ficou	 muito	 distante	 para	 poder	 ser	 recuperada,	 só	 resta	 uma	 opção:	 tapar	 as
últimas	 frestas	 pelas	 quais	 pudessem	 entrar	 o	 senso	 do	 real	 e	 o	 apelo	 do
arrependimento;	 banir	 os	 últimos	 sinais	 de	 uma	 consciência	 da	 estrutura	 da
existência.	 Isto	 pode	 ser	 obtido	 pelo	 expediente	 de	 rebaixar	 esses	 sinais	 ao
estatuto	de	“produtos	culturais”	e,	desviando	o	olhar	humano	da	 realidade	que
havia	por	trás	deles,	impugná-los	a	todos	como	criações	arbitrárias	de	ideologias
pretéritas.
-	Olavo	de	Carvalho,	O	Globo,	11	de	junho	de	2002
?	O	erro,	na	costura,	inscreve	ou	borda	a	falha,	o	tropeço	do	endereçamento
amoroso	ao	outro.	A	obra	expõe	o	que	a	fala	do	artista	nega.	O	apelo	se	perde	na
dobra	do	pano,	no	ponto	da	letra	que	se	finda	para	que	outra	apareça	e	se	faça	e
os	suspiros	brotem	como	anúncio	e	superação	do	fim.	É	ao	amor	que	a	obra	se
endereça	e	fica	como	que	a	pulsar	esperas…	na	captura	do	olhar	distraído	com
ares	de	quem	não	quer…	querendo.
-	Clara	de	Góes,	Imagem	escrita
Por	que	os	autores	simplesmente	não	dizem	o	que	querem	dizer?
BREVIDADE	E	CONCISÃO
Brevidade	não	é	exatamente	o	mesmo	que	concisão.	O	primeiro	aspecto	diz
respeito	à	quantidade	do	material,	o	segundo,	à	sua	qualidade	–	um	determina	o
volume	 do	 texto,	 o	 outro	 depende	 da	 capacidade	 do	 autor	 para	 concentrar
informações	em	poucas	palavras.
A	 brevidade,	 embora	 desejável,	 às	 vezes	 não	 é	 alcançável.	 Uma	 carta	 ou
relatório	 complexo	 nem	 sempre	 pode	 ser	 breve.	 Se	 tiver	 de	 cobrir	 muitos
tópicos,	 vai	 necessariamente	 cobrir	 também	 muito	 papel.	 Apenas	 se	 o	 texto
estiver	bem	estruturado,	sua	extensão	deixará	de	afugentar	o	leitor.
O	 que	 sempre	 é	 possível	 é	 a	 concisão	 –	 rigor	 de	 linguagem,	 eficácia
concentrada.	 Isto	 significa	 apresentar	 cada	 ponto	 da	 maneira	 mais	 breve
possível,	mesmo	que	o	texto	tenha	pontos	demais	a	serem	expostos	para	que	seja
curto.
Assim,	mesmo	um	texto	longo	pode	ser	conciso,	e	até	um	texto	breve	pode
ser	desnecessariamente	prolixo.
As	virtudes	da	concisãosão	mais	óbvias	no	caso	da	poesia	–	o	poeta	procura
concentrar	um	alto	grau	de	significação	em	poucas	palavras.
Outro	 postulado	 fundamental	 do	 pensamento	 crítico-poético	 de	 E.P.	 é	 o
capsulado	 na	 forma	 DICHTEN	 =	 CONDENSARE,	 que	 ele	 assim	 esclarece:
“Basil	 Bunting,	 manuseando	 um	 dicionário	 alemão-italiano,	 descobriu	 que	 a
ideia	de	poesia	como	concentração	é	 tão	velha	quanto	a	 linguagem	germânica.
‘Dichten’	 é	 o	 verbo	 alemão	 correspondente	 ao	 substantivo	 ‘Dichtung’,	 que
significa	 poesia,	 e	 o	 lexicógrafo	 traduziu-a	 como	 verbo	 italiano	 que	 significa
‘condensar’.”
-	Augusto	de	Campos,	Ezra	Pound
Catar	feijão	se	limita	com	escrever:
joga-se	os	grãos	na	água	do	alguidar
e	as	palavras	na	da	folha	de	papel;
e	depois,	joga-se	fora	o	que	boiar.
Certo,	toda	palavra	boiará	no	papel,
água	congelada,	por	chumbo	seu	verbo:
pois	para	catar	esse	feijão,	soprar	nele,
e	jogar	fora	o	leve	e	oco,	palha	e	eco.
-	João	Cabral	de	Melo	Neto,	A	educação	pela	pedra
Uma	ampla	gama	de	significados	ou	sentimentos	encontra-se	acondicionada
em	 relativamente	 poucas	 palavras.	 Em	outras	 formas	 de	 escrita	 criativa,	 como
peças	teatrais	e	romances,	a	concisão	pode	parecer	menos	importante.
Num	 romance	 de	 suspense,	 por	 exemplo,	 a	 história	 necessita	 de	 um
considerável	 prolongamento	 para	 que	 a	 tensão	 cresça	 e	 haja	 um	 clímax	 na
narrativa.	Mas	 note	 que	 o	 que	 dá	 continuidade	 à	 história	 é	 a	ação	 –	 as	 idas	 e
vindas	 da	 trama	 –	 e	 não	 descrições	 verborrágicas	 de	 um	 só	 incidente.
Independentemente	 do	 quanto	 uma	 narrativa	 se	 estenda,	 ela	 ainda	 pode	 se
caracterizar	pela	concisão.
Nas	tarefas	de	escrita	do	dia-a-dia,	a	concisão	resulta	em	eficácia.	O	discurso
evasivo	 num	 ensaio,	 o	 excesso	 de	 explicações	 numa	 carta	 de	 reclamação,	 a
redundância	 num	 memorando	 servem	 apenas	 para	 reduzir	 o	 impacto	 de	 sua
mensagem.	Quanto	mais	prolixo	for	o	texto,	maior	será	o	risco	de	o	leitor	desistir
dele	–	seja	porque	sua	mente	divaga	ou	porque	sua	paciência	se	esgota.	Escrever
com	 concisão,	 por	 outro	 lado,	 é	 gesto	 de	 cortesia	 para	 com	 o	 leitor.
Simplesmente	porque	propicia	a	ele	uma	boa	economia	de	tempo.
Lembre-se	de	que,	como	em	quase	tudo	na	relação	esforço	de	escrita/esforço
de	leitura,	a	relação	de	proporção	é	inversa:	para	assegurar-se	de	que	o	leitor	leve
menos	tempo	lendo,	o	autor	tem	de	dedicar	maior	tempo	à	tarefa	de	escrever.	É
preciso	estruturar	as	ideias	sistematicamente	(veja	as	páginas	92-103),	para	não
apresentar	o	mesmo	raciocínio	em	dois	ou	três	momentos	diferentes	do	texto.	E
também	 é	 necessário	 corrigir	 sem	 piedade	 as	 primeiras	 versões	 do	 texto	 –
eliminando	 todas	 as	 palavras	 e	 expressões	 redundantes,	 apagando	 enfeites
supérfluos,	 como	 adjetivos	 desnecessários,	 reduzindo	 clichês	 e	 expressões
longas	 a	 palavras	 únicas	 e	 concisas	 (em	 vez	 de	 no	 presente	 momento,
simplesmente	 agora),	 aparando	 digressões	 e	 outras	 passagens	 de	 relevância
duvidosa,	fundindo	duas	ideias	excessivamente	sutis	numa	ideia	única	e	objetiva,
e	assim	por	diante.	É	o	que	deveria	ter	sido	feito	no	trecho	abaixo:
??	 Um	 bem-estar	 profundo	 e	 sereno	 tomou	 conta	 da	 vida	 a	 bordo.	O	 que
antes	me	assustava	ou	preocupava	agora	fazia	pensar.	Pelas	janelas	de	onde	via
apenas	neblina	e	as	velas	cheias,	fiz	passar	todas	as	imagens	que	desejei	ver.	E	as
toquei.	Não	há	mais	verdadeira	 e	pura	 forma	de	 sentir	 lugares	do	que	 tocá-los
com	a	quilha	de	um	barco.	Ou	com	os	dedos.	A	mais	simples	e	universal	maneira
de	expressar	carinho.	O	toque.
-	Amyr	Klink,	Paratii	entre	dois	pólos
Paradoxalmente,	então,	precisamos	de	mais	tempo	e	esforço	para	escrever	de
forma	concisa	do	que	para	criar	um	texto	prolixo	e	repetitivo.	Levaremos	mais
tempo	para	chegar	à	versão	final,	mas	esta	será	muito	mais	elegante	e	eficaz.
Redundância	–	Tautologia	e	Pleonasmo
Uma	forma	comum	de	prolixidade	é	a	redundância.	Um	texto	redundante	é
aquele	que	“diz”	a	mesma	coisa	duas	vezes,	repete	desnecessariamente	um	único
item	de	informação	(como	neste	período).
Duas	 formas	 de	 redundância	 são	 a	 tautologia	 e	 o	 pleonasmo.	 Na	 lógica,
tautologia	é	uma	declaração	que	se	revela	verdadeira,	independentemente	do	que
aconteça:	Ou	 vai	 chover	 amanhã	 ou	 não	 vai	 chover	 amanhã.	 Na	 linguagem,
tautologia	 é	 um	problema	que	 consiste	na	 repetição	de	uma	 ideia	 em	palavras
diferentes:	X	dividir	em	duas	metades;	X	conclusão	final.
O	pleonasmo	não	implica	necessariamente	a	repetição	de	uma	ideia.	Trata-se
apenas	 da	 elaboração	 excessiva	 da	 ideia	 por	meio	do	uso	de	mais	 palavras	 do
que	 seria	 preciso.	 Falar	 ?	 conviver	 junto	 com	 a	 família	 é	 pleonástico,	 pois
conviver	 com	a	 família	 já	 é	 suficiente	para	 transmitir	 a	mensagem.	Da	mesma
forma,	em	vez	de	dizer	?	já	não	há	mais	necessidade	de	racionamento	seria	mais
adequado	 dizer	 já	 não	 há	 necessidade	 de	 racionamento	 ou	 não	 há	 mais
necessidade	(...).
Muitas	tautologias	ou	pleonasmos	estão	incorporados	à	língua	portuguesa	e	é
um	tanto	inútil	tentar	eliminá-los:	ver	com	os	próprios	olhos,	viver	a	vida.	Essas
expressões	enfáticas	são	adequadas	em	alguns	 textos	e	certas	circunstâncias	da
comunicação	 oral.	 O	 jargão	 jurídico	 também	 emprega	 algumas	 redundâncias:
nulo	e	sem	valor,	última	vontade	e	testamento.
Muitas	 outras	 expressões	 comuns	 e	 redundantes,	 porém,	 são	 efetivamente
duvidosas.	A	maioria	delas	representa	apenas	um	estorvo	à	comunicação	fluente,
e	há	algumas	que	constituem	erro.
história	passada
perspectivas	futuras
hábitos	costumeiros
brindes	grátis
aviso	antecipado
alusão	indireta
pré-requisito	essencial
nenhuma	outra	alternativa
fatos	reais
consenso	geral
consenso	de	opinião
elo	de	ligação
hábitat	natural
erário	público
brigadeiro	da	Aeronáutica
relíquia	do	passado
surpresa	inesperada
encarar	de	frente
exultar	de	alegria
preferir	mais
a	razão	é	porque
quando	o	conheci	pela	primeira	vez
estabelecer	um	novo	recorde	mundial
repetir	de	novo
um	mínimo	de	pelo	menos	quatro	semanas
o	principal	protagonista	da	peça
Todos	votaram	unanimemente	a	favor.
A	entrada	está	restrita	apenas	aos	portadores	de	ingresso.
Devem-se	acrescentar	dois	outros	pontos.
Houve	outras	consequências	afora	a	falência	e	a	angústia.
Não	há	necessidade	de	um	alarme	injustificável.
Desde	tempos	imemoriais,	esse	sempre	foi	o	costume.
Pela	vigésima	vez,	o	comitê	volta	a	se	reunir.
Os	envelopes	encontram-se	à	disposição	numa	variedade	de	cores	diferentes.
É	hora	de	modernizarmos	estes	procedimentos	antiquados.
Assim	sendo,	incluo	em	anexo	uma	fotocópia	do	documento.
Precisamos	saber	na	segunda-feira	se	você	está	de	acordo	ou	não.
COERÊNCIA
Se	 você	 citar	 a	 “Unidade	 de	 Treinamento	 de	 Equipe”	 a	 certa	 altura,	 não
mencione	a	“Unidade	de	treinamento	da	Equipe”	em	outro	ponto.	Caso	se	refira
à	notícia	como	extraída	do	Globo	no	parágrafo	1,	não	se	refira	a	ela	como	de	O
Globo	no	parágrafo	5.
Muitos	leitores	desatentos,	embora	não	cheguem	a	perceber	erros	simples	em
um	 texto,	 vão	 identificar	 inconsistências	 como	 essas	 e	 irão	 desconfiar	 do	 que
lêem.	 “Se	 o	 autor	 é	 descuidado	 em	 questões	 menores”,	 argumentarão	 eles,
“como	posso	confiar	nele	em	questões	mais	importantes?”
O	 ar	 de	 autoridade	 do	 autor,	 tão	 necessário	 para	 que	 o	 texto	 conquiste	 o
leitor,	 tende	 a	 se	 dispersar	 cada	 vez	 mais	 a	 cada	 incoerência	 percebida	 pelo
leitor.	Daí	a	adoção	de	um	manual	de	estilo	por	parte	de	jornais	e	editoras	–	uma
lista	de	preferências	por	um	uso	ou	grafia	em	relação	a	outro.	Por	exemplo,	neste
livro	a	norma	consiste	em	usar	as	seguintes	convenções:
séculos	expressos	em	algarismos	arábicos,	e	não	romanos	(século	21,	e	não
século	XXI)
itálico,	e	não	negrito,	para	exemplos	citados	no	corpo	do	texto
o	padrão	23	de	setembro	de	1991	para	datas,	e	não	23/9/91
a	grafia	layout,	em	itálico,	e	não	a	forma	aportuguesada	leiaute
Você	pode	preferir,	 em	cada	caso,	 a	opção	oposta.	Sem	problemas	–	desde
que	a	utilize	comcoerência.
A	 coerência	 aplica-se	 não	 só	 à	 ortografia	 e	 à	 pontuação,	 mas	 também	 a
aspectos	mais	complexos,	como	layout	e	escolha	de	construções	gramaticais.
Coerência	no	Layout	e	na	Gramática
O	 segredo	para	manter	 a	 coerência	 é:	 dispensar	 o	mesmo	 tratamento	para
itens	equivalentes.
Se	 duas	 seções	 de	 um	 relatório,	 digamos,	 tiverem	 a	 mesma	 importância,
cuide	para	que	os	dois	subtítulos	recebam	o	mesmo	destaque	–	ambos	em	negrito
e	 itálico,	 por	 exemplo;	 ambos	 centralizados	 e	não	 junto	 à	margem	esquerda,	 e
assim	por	diante.
Se	 você	 for	 incoerente,	 atribuindo	 um	 corpo	maior	 a	 um	 dos	 subtítulos,	 o
leitor	interpretará	erroneamente	suas	intenções:	vai	supor	que	aquela	seção	tem
mais	importância	do	que	a	outra.
Da	mesma	 forma,	use	o	mesmo	 tipo	de	construção	para	 itens	equivalentes.
Se	você	apresentar	uma	lista	de	cinco	regras,	certifique-se	de	que	todas	tenham	a
mesma	 estrutura	 gramatical	 básica.	 Evite	 inconsistências	 como	 no	 seguinte
exemplo:
X	Assim,	no	futuro,	antes	de	permitir	a	entrada	de	alguém,	certifique-se	de:
1.	parar	todos	os	visitantes	ou	clientes	na	portaria.
2.	pedir-lhes	que	declarem	com	que	funcionário	irão	falar.
3.	você	deve	pedir	autorização	pelo	telefone	ao	funcionário	mencionado.
4.	cuide	para	que	o	visitante	assine	o	livro	na	portaria	e	receba	o	crachá.
5.	eles	deverão	usar	o	crachá	durante	todo	o	tempo	em	que	permanecerem	no
edifício.
As	 regras	 1	 e	 2,	 expressas	 como	 comandos	 no	 infinitivo,	 são	 compatíveis
com	a	estrutura	da	introdução.
A	 regra	3,	 embora	 imperativa	na	 intenção,	 encontra-se	expressa	como	uma
afirmação.	Corte	as	palavras	você	deve	para	torná-la	paralela	às	duas	primeiras.
A	regra	4	está	expressa	como	um	imperativo	de	fato.	Ela	não	só	é	incoerente
ou	 “sem	 paralelo”	 com	 as	 anteriores,	 como	 também	 é	 incompatível
sintaticamente	 com	 as	 palavras	 introdutórias.	 Para	 corrigi-la,	 substitua	 cuide
para	por	fazer	com.
A	 regra	 5	 segue	 um	 padrão	 bastante	 diferente	 das	 outras.	 Para	 adequá-la,
tornando-a	imperativa,	substitua	eles	deverão	usar	por	solicitar	que	usem.
Eis	a	seguir	outro	exemplo	de	lista	assimétrica:
X	 Se	 estiver	 pensando	 em	 comprar	 mais	 ações	 ou	 em	 vender	 as	 que	 já
possui,	pode	fazê-lo	através	deste	serviço,	que	lhe	permite:
•	comprar	ações	por	telefone
•	vender	ações	pelo	correio
•	e	há	números	de	telefone	para	os	quais	discar	se	precisar	de	ajuda.
-	panfleto	informativo	de	corretora	de	ações
Com	um	pouco	de	atenção,	o	autor	poderia	ter	reestruturado	o	último	dos	três
itens,	estabelecendo	paralelismo	com	os	outros	dois:
•	obter	ajuda	ou	conselho	ligando	para	nossos	telefones.
EXPRESSIVIDADE
Quando	for	apropriado,	tente	conferir	o	máximo	de	vivacidade	ou	“espírito”
ao	seu	texto.
Muitos	 escritos	 do	 dia-a-dia	 seriam	 muito	 mais	 instigantes	 se	 fossem
utilizados	 alguns	 “efeitos	 especiais”.	 Os	 leitores	 de	 textos	 como	 cartas	 de
congratulação,	por	 exemplo,	ou	artigos	na	 revista	da	paróquia	acolheriam	com
prazer	uma	anedota	curiosa	ou	um	jogo	de	palavras	dinâmico.	Na	verdade,	talvez
até	mesmo	o	exijam:	eles	vão	abandonar,	após	o	primeiro	parágrafo,	seu	extenso
relatório	sobre	o	progresso	do	fundo	para	a	restauração	do	telhado	da	igreja,	por
mais	preciso	e	meritório	que	seja,	a	menos	que	você	o	tenha	tornado	espirituoso,
divertido	e	interessante	também	–	tanto	no	conteúdo	quanto	no	estilo.
A	oração	quando	for	apropriado,	no	período	que	abre	esta	seção,	indica	uma
importante	condição.	Se	você	 tentar	 tornar	seus	memorandos	ou	suas	cartas	ao
PROCOM	tão	vivos	e	dinâmicos	quanto	um	romance	de	aventura	ou	o	roteiro	de
uma	 comédia	 para	 TV,	 não	 vai	 ser	 bem-sucedido	 com	 seu	 texto.	Documentos
profissionais	ou	burocráticos	têm	um	propósito	preciso	e	sério	e	requerem	uma
redação	com	tais	características.
No	entanto,	mesmo	nesses	casos,	pode-se	lançar	mão	de	alguns	recursos	para
manter	 o	 interesse	 do	 leitor.	 Uma	 redação	 “precisa	 e	 séria”	 não	 tem	 de	 ser
necessariamente	monótona.
Analise	a	seguinte	observação:
?	 Os	 candidatos	 não	 precisam	 se	 apresentar	 com	 roupas	 inadequadamente
formais.
Ela	 é	 tão	 abstrata	 e	 genérica	 que	 um	 leitor	 desatento	 pode	 simplesmente
deixar	 de	 apreender	 seu	 significado.	 É	 preciso	 substituí-la	 ou	 complementá-la
por	 uma	 declaração	mais	 concreta	 –	 algo	 que	 crie	 uma	 imagem	 na	mente	 do
leitor:
Ninguém	espera	que	um	estudante	use	um	terno	em	sua	primeira	entrevista
de	emprego.
Imagens	 específicas,	 como	 no	 exemplo	 acima,	 são	 apenas	 um	 dos	 muitos
ingredientes	 de	 um	 estilo	 dinâmico.	 Entre	 outros	 elementos,	 encontram-se:
variedade	 de	 estruturas	 frasais,	 figuras	 de	 linguagem	 e	 jogos	 de	 palavras.	 As
virtudes	 –	 e	 em	 certos	 casos	 os	 perigos	 –	 de	 cada	 um	 desses	 recursos	 são
apresentadas	a	seguir.
Variedade	de	Estruturas	Frasais
Até	 o	 mais	 diligente	 dos	 leitores	 sabe	 que	 seu	 nível	 de	 atenção	 tende	 a
diminuir	de	vez	em	quando.	É	tarefa	do	escritor	mantê-lo	estável,	antes	que	ele
desça	além	da	linha	de	perigo.	Tendo	à	sua	disposição	a	inesgotável	reserva	da
língua	portuguesa,	o	autor	não	tem	desculpas	para	fracassar	nessa	tarefa.
Para	dispersar	ou	evitar	a	monotonia,	basta	dar	variedade	ao	texto	–	não	só
ao	vocabulário,	como	também	à	estrutura	gramatical,	à	organização	das	orações.
Isso	 não	 significa	 que	 o	 escritor	 deva	 criar	 variações	 apenas	 para	 parecer
diferente	 ou	 elaborar	 uma	 oração	 canhestra	 para	 evitar	 a	 repetição	 de	 uma
palavra	ou	expressão.	Esse	tipo	de	variação	só	serve	para	chamar	a	atenção	sobre
si	 mesma.	 A	 variedade	 estilística	 adequada	 é	 funcional:	 além	 de	 reavivar	 o
interesse	do	leitor,	ela	com	frequência	produz	sutis	distinções	de	significado	ou
ênfase	ao	longo	do	texto.
Uma	 das	 formas	 mais	 simples	 de	 produzir	 variedade	 em	 seu	 texto	 é
diversificar	a	extensão	dos	períodos.	Sem	ultrapassar	certos	limites.	Não	permita
períodos	excessivamente	longos,	ainda	que	pelo	bem	da	variedade.	Sua	margem
de	variação	deve	 ter	os	extremos	“curto”	e	“um	pouco	maior”	e	não	“curto”	e
“longo”.
Tornar	variada	a	extensão	dos	períodos	frequentemente	implica	fazer	variar
também	sua	complexidade	–	períodos	simples	e	compostos	(por	coordenação	ou
por	 subordinação);	 equivalentes	 e	 antitéticos,	 e	 assim	 por	 diante.	 Talvez	 seja
mais	uma	questão	de	verificar	 se	 seu	 texto	contém	uma	variedade	 razoável	do
que	 uma	 questão	 de	 introduzir	 deliberadamente	 essa	 variedade	 no	 texto,
enquanto	o	cria.
Estruturação	da	Frase
Em	relação	a	variações	mais	sofisticadas,	talvez	seja	preciso	empregar	uma
estratégia	deliberada	–	manter	uma	vigília	consciente	em	busca	de	oportunidades
de	 usar	 efeitos	 estilísticos	 e	 estruturas	 gramaticais	 específicos:	 às	 vezes	 usar
digamos	em	vez	de	por	exemplo;	ou	em	lugar	de	e	não	em	vez	de,	ou	encontrar-
se	em	posição	de	apostar	em	vez	de	ser	capaz	de	apostar,	ou	algo	nesse	gênero
em	lugar	de	algo	assim.
Não	 existe	 uma	 lista	 completa	 desses	 expedientes;	 a	 seleção	 abaixo	 deve
servir	como	um	estímulo	para	seu	talento	de	variar	as	estruturas	gramaticais.
convencional variado
Isso	não	significa	que	o	escritor	deva
criar	variações	apenas	para	parecer
diferente.
Não	que	o	escritor	vá	criar	variações
apenas	para	parecer	diferente.
Essas	observações	vão	se	mostrar
inestimáveis	quando	você	se	preparar
para	as	futuras	entrevistas.
Essas	observações	serão	inestimáveis
no	momento	em	que	você	se	preparar
para	as	entrevistas	futuras.
Eu	já	falei	bastante	sobre	o	primeiro
incidente.	Agora	vamos	discutir	os
problemas	semelhantes	gerados	pelo
incidente	em	Goiânia.
Já	basta	do	primeiro	incidente.	O
outro	caso,	ocorrido	em	Goiânia,
levanta	problemas	semelhantes:...
Vamos	agora	tratar	da	questão	da
compensação.
Tratemos	agora	da	questão	da
compensação.
Se	você	exigir	muito	ou	abusar	de	sua
voz,	ela	vai	se	exaurir.
Exija	muito	ou	abuse	de	sua	voz	e	ela
se	exaure.
Este,	então,	é	um	problema	geral,	mas
ainda	vamosprecisar	discutir	seu
papel	específico	nele.
Eis	o	problema	geral.	Agora	vamos	a
seu	papel	específico	nele.
Se	você	falar	mais	com	mais	eficácia,
as	pessoas	o	escutarão	com	mais
atenção.
Quanto	mais	eficaz	seu	discurso,	mais
atentamente	as	pessoas	o	escutarão.
Outro	exercício	útil	para	o	pescoço	é	o
seguinte:	baixe	a	cabeça	para	a	frente
e	alongue	os	músculos	da	parte
posterior	do	pescoço.
Outro	exercício	útil	para	o	pescoço	é
baixar	a	cabeça	para	a	frente	e	alongar
os	músculos	da	parte	posterior	do
pescoço.
Seus	músculos	faciais	tornar-se-ão
mais	expressivos.	Como	resultado,
você	irá	comunicar-se	de	modo	ainda
mais	eficaz.
Seus	músculos	faciais	vão	se	tornar
mais	expressivos.	Resultado:	você	vai
se	comunicar	de	modo	ainda	mais
eficaz.
Palavras	em	Ordem	Inversa
Uma	das	formas	mais	sutis	de	variar	o	padrão	de	suas	orações	é	inverter	a
ordem	das	palavras	de	uma	oração	ou	a	ordem	das	orações	do	período.
A	 típica	 ordem	 dos	 termos	 de	 uma	 oração	 na	 língua	 portuguesa	 (sujeito	 +
verbo	+	 complemento),	 ou	 seja,	 a	 ordem	direta	 ou	 usual,	 é	 tão	 familiar	 que	 o
leitor	em	geral	nem	a	percebe:
Vários	lançamentos	aparecem	na	lista	dos	mais	vendidos	desta	semana.
É	 apenas	 quando	 essa	 ordem	 natural	 se	 modifica	 que	 a	 oração	 se	 torna
“distinta”:
Na	lista	dos	mais	vendidos	desta	semana	aparecem	vários	lançamentos.
A	 ordem	 usual	 das	 palavras	 –	 precisamente	 por	 ser	 usual	 –	 torna-se
monótona	 se	 respeitada	 obedientemente	 período	 após	 período.	 “Subverta”	 o
padrão	de	vez	em	quando	e	você	conseguirá	reter	a	atenção	do	leitor	por	muito
mais	tempo.	Mas	isso	só	é	eficaz	quando	a	inversão	desponta	naturalmente;	caso
contrário,	ela	acaba	provocando	estranheza.	Quase	 todo	 texto	costuma	permitir
uma	 ordem	 inversa.	 Em	 alguns	 casos,	 a	 inversão	 pode	 até	 ser	 a	 opção	 mais
natural.	 Observe	 como,	 na	 seguinte	 passagem,	 o	 segundo	 período	 parece
bastante	adequado	em	sua	incomum	ordenação	das	palavras:
O	capítulo	5	faz	várias	sugestões	 fora	do	comum,	 incluindo	uma	altamente
polêmica.	Sobre	essa	sugestão,	o	autor	se	estende	ainda	mais	no	capítulo	8.
A	 razão	 por	 que	 ele	 soa	 tão	 natural	 é	 dupla:	 primeiro,	 ele	 se	 liga
elegantemente	ao	primeiro	período,	iniciando-se	com	uma	expressão	que	remete
à	 frase	 anterior;	 segundo,	 recorre	 ao	modelo	de	parágrafo	bastante	 comum	em
que	se	começa	com	um	período	com	informação	conhecida	ou	recém-anunciada
e	se	coloca	a	informação	“nova”	no	fim.
A	ordem	 inversa	das	palavras,	porém,	 faz	mais	do	que	evitar	 a	monotonia.
Ela	 também	 pode	 ajudar	 a	 criar	 vários	 efeitos	 literários	 –	 dramático,	 irônico,
emotivo,	entre	outros:
A	vida	é	uma	coisa	que	quanto	mais	estica	mais	curta	fica.
-	provérbio	popular
Figuras	de	Linguagem
De	grande	contribuição	para	a	vivacidade	da	fala	e	do	texto	escrito	é	o	uso
de	figuras	de	linguagem	–	expressões	nas	quais	as	palavras	são	empregadas	em
sentido	 diverso	 do	 literal,	 a	 fim	 de	 criar	 uma	 imagem	 dramática	 ou	 uma
impressão	forte	na	mente	do	leitor	ou	ouvinte.
Eis	 aqui	 uma	 lista	 das	 figuras	 de	 linguagem	 e	 dos	 recursos	 retóricos	mais
conhecidos.	 Seja	 criterioso	 ao	 empregá-los,	 pois	 seu	 uso	 excessivo	 pode
prejudicar	seu	texto.	A	linguagem	figurativa	é	como	o	açúcar	ou	o	tempero:	ser
for	usada	com	exagero,	deixa	de	dar	prazer	e	torna-se	enjoativa.	Tente	incorporar
alguns	deles	(quando	for	apropriado)	em	qualquer	coisa	que	você	escreva:	 isso
ajuda	a	prender	a	atenção	do	leitor	e	até	mesmo	a	argumentar	em	favor	dos	seus
pontos	de	vista.
aliteração uso	de	várias	palavras,	numa	mesma	frase,	contendo	o	mesmo
fonema:	O	sapo	subiu	sozinho	até	o	manancial.
antítese expressão	na	qual	ideias	contrastantes	são	dispostas
simetricamente:	Quanto	maior	a	pressa,	menor	a	velocidade.
apóstrofe interpelação	direta	a	uma	pessoa	morta	ou	ausente	ou	a	uma
coisa:	Ó	liberdade!	escutai	o	nosso	clamor!
assíndeto omissão	de	conjunções:	Vim,	vi,	venci.
assonância repetição	de	sons	vocálicos,	produzindo	um	efeito	de	rima
parcial	ou	imperfeita:	Ruge	e	urra	a	turba	enfurecida.
elipse
(também
chamada
aposiopese)
omissão	de	um	termo,	que	fica	subentendido	pelo	contexto:
Nos	campos	escuros,	nenhum	sinal	de	vida	(omissão	de	não
havia).
eufemismo expressão	inofensiva	usada	em	lugar	de	outra	mais	rude	ou
mais	explícita,	como,	por	exemplo,	descansar	em	lugar	de
morrer.
expressão
expletiva	ou
de	realce
palavra	ou	expressão	que,	embora	desnecessária	à	frase,	dá
ênfase	a	esta:	Eu	é	que	mereço	ganhar.
hipálage atribuição	de	uma	característica	de	uma	pessoa	a	um	objeto
que	com	ela	se	relaciona:	o	travesseiro	insone;	a	cela
condenada.
hipérbole exagero	ou	engrandecimento	visando	à	ênfase:	Eu	comeria	um
boi.
inversão	(ou
anástrofe)
troca	na	ordem	natural	das	palavras	ou	orações;	um	exemplo
bastante	célebre:	Ouviram	do	Ipiranga	as	margens
plácidas/De	um	povo	heroico	o	brado	retumbante,	isto	é:	“As
margens	plácidas	do	Ipiranga	ouviram	o	brado	retumbante	de
um	povo	heroico.”
ironia uso	de	palavra	ou	palavras	que	transmita(m)	uma	ideia
diferente	de	seu	sentido	literal:	Esse	segredo	fica	só	entre	nós
e	a	torcida	do	Flamengo;	componente	comum	do	sarcasmo,
embora	não	necessariamente	tão	mordaz.
lítotes declaração	atenuada	na	qual	uma	ideia	é	transmitida	com
eficácia	pela	contradição	de	seu	oposto:	Ele	não	está
exatamente	sóbrio.
metáfora descrição	de	um	objeto,	pessoa	ou	fenômeno	nos	termos	de
outro	que	está	a	ele	relacionado	por	analogia:	Ela	acendeu	um
sorriso	ao	vê-lo.
metonímia uso	de	um	termo	concreto	para	se	referir	a	uma	ideia	mais
ampla	por	ele	caracterizada,	tal	como	Coroa	por	monarquia.
onomatopeia uso	de	palavras	cujo	som	sugere	seu	significado:	por	exemplo,
zumbir,	tique-taque,	sussurro,	chiado.
oximoro expressão	que	liga	termos	incongruentes	ou	contraditórios:	um
sábio	tolo,	silêncio	eloquente.
paradoxo declaração	aparentemente	absurda	ou	contraditória	que,	não
obstante,	pode	ser	verdadeira	ou	sábia:	Sua	gentileza	era	por
demais	agressiva.
pergunta
retórica
indagação	feita	para	causar	determinada	impressão	ou	para
transmitir	informações	e	não	para	esclarecer	uma	dúvida:	O
dia	hoje	não	está	lindo?	Como	alguém	pôde	apoiar	um
projeto	tão	inútil?
personificação
(também
conhecida
como
prosopopeia)
atribuição	de	características	ou	sentimentos	humanos	a	objetos
naturais	ou	inanimados:	a	jovial	Lua	sorrindo,	benévola,	para
nós;	as	árvores	gemeram.
polissíndeto repetição	de	conjunções	para	efeito	retórico:	foi	a	Florença	e
Veneza	e	Roma	e	Nápoles.
símile comparação	de	duas	ideias	ou	objetos	diferentes,	em	geral
usando-se	a	palavra	como:	lábios	como	botões	de	rosa	e	beijos
como	vinho.
sinédoque uso	do	nome	de	uma	parte	para	referir-se	ao	todo,	ou	vice-
versa,	como	quarenta	primaveras	por	quarenta	anos.
sinestesia associação	de	percepções	de	sentidos	diferentes	na	mesma
expressão:	silêncio	perfumado,	azul	morno,	imagem	macia.
zeugma omissão	de	um	termo	já	enunciado	anteriormente	na	frase:
Nem	eu	o	ouvi,	nem	ele	a	mim;	pode	ser	considerada	uma
forma	de	elipse.
A	seguir	há	exemplos	que	ilustram	o	uso	dessas	figuras	de	linguagem.
Primeiro,	veja	estes	exemplos	de	aliteração.	O	primeiro	 trecho	foi	extraído
de	uma	canção	da	banda	O	Rappa	–	note	como	a	repetição	da	palavra	feira,	na
primeira	estrofe,	e	da	sílaba	 /ma/,	na	 terceira,	 imprime	uma	cadência	melódica
aos	 versos.	 O	 segundo	 trecho	 corresponde	 à	 primeira	 estrofe	 de	 uma	 cantiga
popular	que	todos	conhecemos.
é	dia	de	feira
quarta-feira,	sexta-feira
não	importa,	a	feira
é	dia	de	feira
quem	quiser	pode	chegar
vem	maluco,	vem	madame
vem	maurício,	vem	atriz
pra	comprar	comigo.
-	Marcelo	Yuka,	“A	feira”	(do	disco	Rappa	mundi)
Pirulito	que	bate	bate
Pirulito	que	já	bateu
Quem	gosta	de	mim	é	ela
Quem	gosta	dela	sou	eu
Agora,	observe	como	sucessivos	zeugmas	(da	palavra	ternos/terno)	definem
o	ritmo	dessa	passagem	de	um	romance.
Abriu	 o	 guarda-roupa.	 Na	 parte	 dos	 ternos.	 Só	 os	 ternos.	 Dois.	 Um
riscadinho.	Um	azul.	Alisou	um.	Alisou	o	outro.	Contornava	desde	os	ombros,descia	pela	manga.	As	calças.	Se	afastou.	Voltou	pra	perto.	Tirou	do	cabide	e	pôs
os	dois	em	cima	da	cama.
-	Fernando	Bonassi,	Subúrbio
O	 polissíndeto	 pode	 imprimir	 maior	 expressividade	 a	 uma	 frase,	 como
acontece	em	um	verso	do	célebre	“Soneto	de	fidelidade”,	de	Vinicius	de	Moraes.
De	tudo,	ao	meu	amor	serei	atento
Antes,	e	com	tal	zelo,	e	sempre,	e	tanto
Que	mesmo	em	face	do	maior	encanto
Dele	se	encante	mais	meu	pensamento.
-	Vinicius	de	Moraes,	Livro	dos	sonetos
Já	uma	pergunta	retórica	serve	para	instigar	a	curiosidade	do	leitor	e	resumir
em	uma	única	frase	um	ponto	importante	do	texto	ou	do	parágrafo.
Por	 que	 Zaratustra	 se	 mostra	 triste?	 Pela	 incompatibilidade	 ou	 pelo
descompasso	 entre	 seu	 amor	 da	 vida	 e	 de	 sua	 sabedoria;	 pelo	 desacordo	 entre
vida	e	sabedoria.
-	Roberto	Machado,	Zaratustra,	tragédia	nietzschiana
Mas	 essa	 figura	 –	 como	 qualquer	 outra	 –	 não	 deve	 ser	 utilizada
repetidamente.	Não	submeta	seus	leitores	a	um	“interrogatório	retórico”.
Seja	 cuidadoso	 também	 ao	 utilizar	metáforas:	 em	 excesso,	 elas	 tornam	 o
texto	 “enjoativo”.	 Uma	 metáfora	 pode	 ser	 construída	 ao	 longo	 de	 um	 texto
extenso	ou	com	poucas	palavras	–	o	que	importa	é	que	ela	seja	precisa:
A	 verdadeira	 ciência	 nunca	 passará	 do	 andaime	 que	 o	 homem	 arma	 sobre
aquilo	que	ele	vê	para	tentar	atingir	aquilo	que	nunca	poderá	ver.
-	Joaquim	Nabuco,	Pensamentos	soltos
O	símile,	como	a	metáfora,	exprime	uma	ideia	com	imagens	que	a	princípio
não	teriam	nada	a	ver	com	ela.
A	‘SPERANÇA,	como	um	fósforo	inda	aceso,
Deixei	no	chão,	e	entardeceu	no	chão	ileso.
A	falha	social	do	meu	destino
Reconheci,	como	um	mendigo	preso.
-	Fernando	Pessoa,	Poesias	inéditas	1911-1935
Cecília,	és	tão	forte	e	tão	frágil
Como	a	onda	ao	termo	da	luta.
Mas	a	onda	é	água	que	afoga:
Tu,	não,	és	enxuta.
-	Manuel	Bandeira,	Belo	belo
A	 personificação	 também	 opera	 uma	 associação	 de	 ideias	 inusitada.	 Veja
como	 tal	 operação	 é	 bem	 realizada	 nesse	 trecho	 de	 uma	 crônica	 do	 início	 do
século	20.
Há	ruas	oradoras,	ruas	de	meeting	–	o	Largo	do	Capim	que	assim	foi	sempre,
o	Largo	de	S.	Francisco;	ruas	de	calma	alegria	burguesa,	que	parecem	sorrir	com
honestidade	–	a	Rua	de	Haddock	Lobo;	ruas	em	que	não	se	arrisca	a	gente	sem
volver	 os	 olhos	 para	 trás	 a	 ver	 se	 nos	 vêem	 –	 a	 travessa	 da	 Barreira;	 ruas
melancólicas,	da	tristeza	dos	poetas;	ruas	de	prazer	suspeito	próximo	do	centro
urbano	e	como	que	dele	muito	afastadas;	ruas	de	paixão	romântica,	que	pedem
virgens	loiras	e	luar.
-	João	do	Rio,	A	alma	encantadora	das	ruas
Por	 fim,	 analise	 um	 exemplo	 de	hipérbole	 retirado	 da	 obra	 regionalista	 de
José	de	Alencar:
Esta	 imensa	 campina,	 que	 se	 dilata	 por	 horizontes	 infindos,	 é	 o	 sertão	 de
minha	terra	natal.
Aí	campeia	o	destemido	vaqueiro	cearense,	que	à	unha	de	cavalo	acossa	o
touro	indômito	no	cerrado	mais	espesso,	e	o	derriba	pela	cauda	com	admirável
destreza.
-	José	de	Alencar,	O	sertanejo
Esses	 são	 apenas	 alguns	 exemplos	 que	 demonstram	 o	 quanto	 a	 linguagem
oferece	de	recursos	para	que	se	aborde	qualquer	assunto	de	modo	esclarecedor,
expressivo,	instigante	e	original.
A	Metáfora	e	Seus	Perigos
De	todas	essas	figuras	de	linguagem,	a	metáfora	e	o	símile	ou	comparação
são	provavelmente	as	mais	conhecidas,	mais	comuns	e	mais	perigosas.
Elas	não	só	embelezam	e	dinamizam	os	 textos	escritos	e	 falados,	mas	com
frequência	 são	 essenciais	 à	 comunicação:	 transmitir	 uma	 ideia	 complexa	 da
mente	de	uma	pessoa	para	a	de	outra	às	vezes	é	virtualmente	impossível	sem	a
ajuda	de	uma	comparação	ou	imagem.	Daí	a	existência	das	“metáforas	mortas”
(mortas	no	sentido	de	desgastadas	pelo	uso)	–	porém	indispensáveis	–	em	nossa
língua:	 as	 pernas	 da	 mesa,	 um	 pé	 de	 alface,	 um	 discurso	 inflamado,	 uma
personalidade	brilhante.	A	quantidade	de	imagens	que	pode	ser	acomodada	em
um	texto	varia.	Um	poema	talvez	precise	de	uma	imagem	em	cada	verso.	Uma
análise	 financeira	de	projeção	de	vendas	pareceria	 estranha	 se	 contivesse	mais
do	que	duas	ou	três	metáforas	por	página.
Um	grande	 autor	 pode	 lidar	 com	metáforas	muito	 inventivas	 sem	perder	 o
controle.	 Uma	 rica	 e	 palatável	 mistura	 pode	 resultar	 disso,	 como	 na	 citação
seguinte.	O	trecho	foi	tirado	de	um	romance,	mas	poderia	muito	bem	vir	de	uma
carta	pessoal	ou	de	uma	crônica	em	uma	revista	de	variedades.	O	assunto	é	uma
conquista	amorosa	realizada	pelo	personagem	Brás	Cubas:
Gastei	 trinta	 dias	 para	 ir	 do	 Rocio	 Grande	 ao	 coração	 de	Marcela,	 não	 já
cavalgando	 o	 corcel	 cego	 do	 desejo,	 mas	 o	 asno	 da	 paciência,	 a	 um	 tempo
manhoso	e	teimoso.	Que,	em	verdade,	há	dois	meios	de	granjear	a	vontade	das
mulheres:	o	violento,	como	o	touro	de	Europa,	e	o	insinuativo,	como	o	cisne	de
Leda	e	a	chuva	de	ouro	de	Dânae,	três	inventos	do	padre	Zeus,	que,	por	estarem
fora	 da	moda,	 aí	 ficam	 trocados	 no	 cavalo	 e	 no	 asno.	Não	 direi	 as	 traças	 que
urdi,	 nem	 as	 peitas,	 nem	 as	 alternativas	 de	 confiança	 e	 temor,	 nem	 as	 esperas
baldadas,	 nem	 nenhuma	 outra	 dessas	 coisas	 preliminares.	 Afirmo-lhes	 que	 o
asno	foi	digno	do	corcel	–	um	asno	de	Sancho,	deveras	filósofo,	que	me	levou	à
casa	 dela,	 no	 fim	 do	 citado	 período;	 apeei-me,	 bati-lhe	 na	 anca	 e	 mandei-o
pastar.
-	Machado	de	Assis,	Memórias	póstumas	de	Brás	Cubas
A	 despeito	 da	 variedade	 de	 comparações	 aqui	 apresentada	 –	 corcel,	asno,
touro,	 cisne	 –	 não	 há	 metáforas	 em	 excesso	 misturadas,	 somente	 uma
apresentação	apropriada	dos	sentimentos	que	o	autor	descreve.
Cuidado	para	não	criar	uma	salada	de	metáforas.
Em	alguns	casos,	as	metáforas	são	tão	sugestivas	que	atraem	a	atenção	mais
para	si	mesmas	do	que	para	os	assuntos	a	que	se	referem.	É	o	que	acontece	nessa
passagem,	de	um	talentoso	romancista.
O	céu	jogava	tinas	de	água	sobre	o	noturno	que	me	devolvia	a	São	Paulo.
O	comboio	brecou	lento	para	as	ruas	molhadas,	furou	a	gare	suntuosa	e	me
jogou	nos	óculos	menineiros	de	um	grupo	negro.
Sentaram-me	num	automóvel	de	pêsames.
Longo	 soluço	 empurrou	 o	 corredor	 conhecido	 contra	 o	 peito	magro	 de	 tia
Gabriela	no	ritmo	de	luto	que	vestia	a	casa.
-	Oswald	de	Andrade,	Memórias	sentimentais	de	João	Miramar
(Para	saber	mais	sobre	“excesso	de	metáforas”,	veja	o	quadro	na	página	ao
lado)
No	entanto,	às	vezes,	a	tentação	de	adornar	o	texto	com	metáforas	pode	levar
o	escritor	ao	exagero.	Imagens	em	excesso	tornam	a	linguagem	mais	rica,	porém
quase	 sempre	 à	 custa	 do	 significado.	 Observe	 o	 trecho	 a	 seguir:	 as	 várias
imagens	desviam	a	atenção	do	 leitor	da	 informação	central,	 sem	oferecer	nada
em	troca	além	de	um	jogo	de	palavras	vazio	de	significado.
??	O	fogo	da	vida	agora	queimava	lentamente.	Sua	consciência	apagava-se	e
acendia-se,	como	uma	chama	que	se	extinguisse.	O	pavio	estava	quase	apagado,
mas	o	fogo	vital	agarrava-se	a	ele	e	recusava-se	a	desistir.	Aquela	não	era	uma
morte	 tranquila:	 ele	 inflamava-se	 e	 contorcia-se	 e	 crepitava.	 Era	 uma	 cena
dolorosa.	No	entanto,	o	médico	sustinha-lhe	a	mão:	quem	quereria	apagar	aquela
corajosa	vela	em	vez	de	deixá-la	extinguir-se	por	si	só?
Para	 evitar	 excessos	 desse	 tipo,	 os	 escritores	 algumas	 vezes	 vão	 longe
demais	na	direção	oposta	–	empobrecem	o	texto	ao	empregar	apenas	metáforas	e
símiles	 muito	 usuais,	 que	 podem	 ser	 simples	 clichês	 –	 ?	 coroado	 de	 êxito,	?
cortina	 de	 fumaça,	 ?	 dizer	 cobras	 e	 lagartos,	 ?	 leve	 como	 uma	 pena.	 Essas
expressões	não	evocam	uma	imagem	vívida	na	mente	do	 leitor.	O	mesmo	vale
para	metáforas	que	são	meras	adaptações	de	expressões	correntes:	?	estabelecer
uma	ponte	em	vez	de	fazer	uma	ponte,	?	não	alcançar	o	alvo	em	lugar	de	errar
o	alvo.
Por	 fim,	 cuidado	 com	 o	 poder	 de	 fascinação	 da	 metáfora.	 Assim	 como	 a
poesia,	também	a	propaganda	vive	das	figuras	de	linguagem:	rios	de	dinheiro	é
algo	muito	mais	persuasivo	e	empolgante	do	que	um	simples	prêmio.	Não	abuse
da	linguagem	metafórica	dessa	forma	nem	tampoucose	deixe	manipular	por	ela.
Comparar	uma	realidade	a	algo	bastante	diferente	não	é	transformar	essa	coisa
naquela	realidade.
EXCESSO	DE	METÁFORAS	E	OUTROS	PROBLEMAS
Uma	sucessão	de	metáforas	ou	 símiles	extraídos	de	diferentes	 campos	de	 significação
por	vezes	produz	um	efeito	destoante	e	 risível	–	mesmo	quando	se	 trata	de	expressões
idiomáticas,	 espécies	 de	 metáforas	 mortas,	 já	 incorporadas	 à	 linguagem	 coloquial.	 São
muitos	os	exemplos	que	dispensam	comentários:
X	Estamos	à	beira	do	abismo.	Juntos,	marchemos	em	frente.
X	Você	fica	em	cima	do	muro,	com	a	cabeça	enterrada	no	chão,	como	um	avestruz.
A	tentativa	de	produzir	frases	de	efeito	pode	resultar	em	textos	de	mau	gosto.	Os	termos
devem	ser	escolhidos	com	cuidado,	para	que	a	frase	não	soe	agressiva	ou	depreciativa.	O
autor	de	jogos	de	palavras,	símiles	e	metáforas	pouco	elegantes	tende	a	ser	ofensivo	ou
parecer	ridículo,	como	essas	declarações	de	políticos	publicadas	por	uma	revista:
X	Se	Jesus	foi	violentado,	por	que	eu	não	poderia	ser?
-	Veja,	6	de	março	de	2002
X	Eles	mandam	a	reforma	em	pedaços,	como	um	salame	de	padaria.
-	Veja,	27	de	fevereiro	de	2002
Um	 bom	 exemplo	 de	 símile	 com	 sentido	 polêmico	 encontra-se	 na	 frase	 atribuída	 ao
compositor	 José	 Barbosa	 da	 Silva,	 o	 Sinhô,	 que	 na	 década	 de	 1920	 defende-se	 da
acusação	de	roubar	a	criação	musical	de	seus	colegas:
X	Samba	é	como	passarinho,	é	de	quem	pegar.
O	excesso	ou	mau	emprego	de	figuras	de	linguagem	pode	comprometer	a	inteligibilidade
do	 texto.	 Escritores	 sem	 talento	 que	 tentam	 formular	 uma	 prosa	 poética	 acabam	 por
produzir	textos	truncados.	É	preciso	ter	sensibilidade	e	habilidade	desenvolvidas	para	lidar
com	os	aspectos	poéticos	da	língua	a	ponto	de	criar	frases	como	as	seguintes.
A	 noite	 densa	 e	 escura	 foi	 cortada	 ao	meio,	 separada	 em	 dois	 blocos	 negros	 de	 sono.
Onde	estava?	Entre	os	dois	pedaços,	vendo-os	–	o	que	já	dormira	e	o	que	ainda	iria	dormir
–,	 isolada	 no	 sem-tempo	 e	 no	 sem-espaço,	 num	 intervalo	 vazio.	 Esse	 trecho	 seria
descontado	de	seus	anos	de	vida.
O	 teto	 e	 as	 paredes	 uniam-se	 sem	 arestas,	 caladas,	 de	 braços	 cruzados,	 e	 ela	 estava
dentro	de	um	casulo.	Joana	espiou-o	sem	pensamentos,	sem	emoção,	uma	coisa	olhando
para	outra	coisa.	Aos	poucos,	de	um	movimento	com	a	perna,	nasceu-lhe	longinquamente
a	 consciência	 misturada	 a	 um	 gosto	 de	 sono	 na	 boca,	 estirando-se	 depois	 por	 todo	 o
corpo.	O	luar	empalidecia	todo	o	quarto,	a	cama.
-	Clarice	Lispector,	Perto	do	coração	selvagem
Quando	 se	 depara	 com	 um	 texto	 como	 esse,	 o	 leitor	 tem	 de	 decifrar,	 um	 a	 um,	 o
significado	 embutido	 em	 cada	 imagem	 e,	 ao	 mesmo	 tempo,	 perceber	 as	 relações
existentes	entre	esses	significados	–	como	as	que	vinculam	elementos	em	um	conjunto.
Observe,	por	exemplo,	o	trecho	citado	acima.	Várias	metáforas	(blocos	negros	de	sono,	ela
estava	dentro	de	um	casulo)	se	sucedem,	e	o	 trecho	ainda	contém	figuras	de	 linguagem
como	a	personificação	 (paredes	caladas,	de	braços	cruzados,	o	 luar	empalidecia	 todo	o
quarto).	O	leitor	acompanha	facilmente	a	sucessão	de	imagens	e	consegue	correlacioná-
las	para	compor	em	sua	imaginação	a	situação	e	as	sensações	da	personagem.
Infelizmente,	são	poucos	os	escritores	que	têm	talento	para	harmonizar	várias	metáforas	e
outras	 figuras	 de	 linguagem	 em	 uma	 mesma	 passagem.	 Na	 maioria	 dos	 casos,	 os
exageros	resultam	em	sobrecarga	improdutiva	de	informações	cruzadas.
O	excesso	de	metáforas	pode	ser	tão	prejudicial	à	comunicação	quanto	um	outro	tipo	de
jogo	de	palavras	comentado	adiante:	o	trocadilho	infame.	Existem	também	outros	três	tipos
de	 efeitos	 indesejáveis,	 menos	 célebres:	 a	 metáfora	 dúbia,	 a	 metáfora	 imprópria	 e	 o
idiomatismo	(ou	clichê)	confuso.
A	metáfora	 dúbia	 simplesmente	 não	 é	 eficaz	 na	 transmissão	 de	 uma	 mensagem.	 Por
exemplo,	?	depurar	a	 tensão	 é	uma	expressão	que	parece	querer	dizer	uma	coisa	e	diz
outra.	Pode-se	depurar	o	ar	ou	dissipar	a	tensão,	mas	não	faz	sentido	?	depurar	a	tensão	–
as	 duas	 ideias,	 como	 a	 água	 e	 o	 óleo,	 simplesmente	 não	 se	 misturam.	 Veja	 outras
combinações	duvidosas:
??	desemaranhar	a	ordem
??	dispersar	erros
??	assentar	uma	decisão
A	 metáfora	 imprópria,	 como	 a	 metáfora	 dúbia,	 em	 geral	 se	 compõe	 de	 expressões
idiomáticas.	A	impropriedade	encontra-se	no	choque	entre	a	metáfora	e	o	contexto:
?	Houve	uma	enxurrada	de	secas	nos	últimos	anos.
?	O	homem	na	cadeira	de	rodas	está	sempre	saltando	à	frente	de	seu	tempo.
?	O	fogo	na	floresta	avança	a	todo	vapor.
O	idiomatismo	confuso	é	igualmente	comum	e	sutil	–	fácil	de	usar	e	difícil	de	perceber.	A
expressão	 ??	 pagar	 as	 consequências	 mistura	 “pagar	 o	 preço”	 com	 “assumir	 as
consequências”.	 Da	mesma	 forma,	??	 jogar	 verde	 para	 colher	 maduro	 (“jogar	 verde”	 +
“plantar	 verde	para	colher	maduro”).	Observe,	porém,	que,	se	usado	deliberadamente,	o
idiomatismo	 confuso	 (principalmente	 sob	 a	 forma	 do	 clichê	 confuso)	 pode	 ser	 bastante
expressivo,	em	seu	modo	grotesco:
X	Faca	de	dois	legumes.
X	Tocar	em	miúdo.
X	Se	ele	descobrir,	estarei	em	maus	papéis.
X	Soltar	o	verso.
X	Não	dar	pingo	sem	nó.
Os	 comediantes	 profissionais	 e	 pessoas	 espirituosas	 de	 um	 modo	 geral	 usam	 essas
imagens	conflitantes	como	parte	de	sua	matéria-prima.
Rumo	 ao	 Tenta!	 A	 Cópula	 do	 Mundo!	 ARREPENTA	 BRASIL!	 Depois	 de	 três	 galinhas
mortas,	o	Brasil	vai	pegar	uma	galinha	choca,	a	Bélgica.	Amanhã	o	Brasil	entra	na	copa.
Vai	pegar	a	Copa	andando!
(…)
AS	GRANDES	PARTIDAS!	As	grandes	partidas	da	Copa:	a	partida	da	França,	a	partida	da
Argentina	e	a	partida	de	Portugal.
-	José	Simão,	Folha	de	S.	Paulo,	16	de	junho	de	2002
Zig	–	ora	direis	–	não	parece	nome	de	gente,	mas	de	cachorro.	E	direis	muito	bem,	porque
Zig	 era	 cachorro	 mesmo.	 Se	 em	 todo	 o	 Cachoeiro	 era	 conhecido	 por	 Zig	 Braga,	 isso
apenas	mostra	como	se	identificou	com	o	espírito	da	Casa	em	que	nasceu,	viveu,	mordeu,
latiu,	abanou	o	rabo	e	morreu.
-	Rubem	Braga,	Histórias	do	homem	rouco
Os	 dois	 cronistas	 provocam	 risos	 no	 leitor	 porque	 encontram	 empregos	 inusitados	 para
expressões	familiares	–	grandes	partidas,	não	parece	nome	de	gente.
Mas,	 a	menos	que	 você	 se	 sinta	 totalmente	 seguro,	 não	arrisque	 tais	malabarismos	em
seus	 textos	 ou	 discursos.	 Procure	 antes	 garantir	 que	 os	 idiomatismos	 e	 as	 figuras	 de
linguagem	usados	tenham	coerência	entre	si.
Uma	vez	começado	um	novo	período	ou	–	o	que	é	ainda	mais	seguro	–	uma	nova	ideia,
você	 pode	 lançar	 mão	 de	 outra	 imagem	 sem	 correr	 o	 risco	 de	 criar	 uma	 mistura	 de
metáforas.	Mas,	como	sempre,	cuidado	para	não	exagerar	nos	efeitos	que	incluir	em	seu
texto.
E	aqui	estão	máximas	espirituosas	extraídas	da	obra	de	Machado	de	Assis.
Suporta-se	com	paciência	a	cólica	do	próximo.
Matamos	o	tempo;	o	tempo	nos	enterra.
Um	cocheiro	filósofo	costumava	dizer	que	o	gosto	da	carruagem	seria	diminuto,	se	todos
andassem	de	carruagem.
Crê	em	ti;	mas	nem	sempre	duvides	dos	outros.
Não	se	compreende	que	um	botocudo	fure	o	beiço	para	enfeitá-lo	com	um	pedaço	de	pau.
Esta	reflexão	é	de	um	joalheiro.
Não	te	irrites	se	te	pagarem	mal	um	benefício:	antes	cair	das	nuvens,	que	de	um	terceiro
andar.
-	Machado	de	Assis,	Memórias	póstumas	de	Brás	Cubas
Jogos	de	Palavras
Os	jogos	de	palavras	propositais	servem	como	estímulo	para	o	leitor	–	desde
que	convenham	ao	contexto	e	não	soem	forçados.	Você	pode	até	aventurar-se	a
empregar	 uma	 rima	 de	 vez	 em	 quando	 ou	 arriscar	 uma	 leve	 aliteração.	 E	 um
trocadilho	ou	paradoxo	podem	aguçar	a	atenção.
Eis	 alguns	paradoxos,	 epigramas	 (pequeno	 texto	mordaz)	 e	ditos	populares
alterados	 que	 podem	 dar	 um	 colorido	 especial	 a	 seus	 textos,	 se	 usados	 com
moderação	e	sensatez:
Não	há	gênio	que	não	tenha,	de	vez	em	quando,	a	nostalgia	da	burrice.	Aliás,
um	 dos	 traços	 do	 gênio	 é	 o	 seu	 nenhum	 escrúpulo	 em	 ser	 imbecil	 de	 vez	 em
quando.	(Nelson	Rodrigues)
Políticosbrasileiros	em	campanha	soltam	tantas	pérolas	que	não	abrem	mais
a	boca.	Abrem	as	ostras.	(José	Simão)
O	melhor	amigo	do	homem	é	o	uísque.	O	uísque	é	o	cachorro	engarrafado.
(Vinicius	de	Moraes)
Um	Início	Surpreendente
O	 ideal	é	que	seu	 texto	chame	a	atenção	do	 leitor	 logo	no	 início,	 fazendo
com	que	ele	se	interesse	de	imediato	pela	leitura.	Se	isso	não	acontecer,	o	leitor
pode	deixar	de	lado	seu	texto	sem	atrativos	e	passar	a	algo	mais	interessante.	E,
se	tiver	de	lê-lo,	ele	o	fará	sem	atenção	ou	de	má	vontade.
Veja	os	dois	parágrafos	de	abertura	do	capítulo	A	Arte	de	Redigir.	Qual	teria
sido	sua	reação	se	eles	fossem	escritos	da	seguinte	maneira?
Embora	 um	 texto	 em	 geral	 seja	 criado	 quando	 se	 está	 a	 sós,	 a	 intenção	 é,
quase	sempre,	que	ele	seja	lido	por	outras	pessoas.
Escrever,	em	outras	palavras,	é	acima	de	 tudo	uma	forma	de	se	comunicar.
Com	poucas	exceções,	 todos	os	textos	são	feitos	com	o	propósito	de	transmitir
ideias	e	sentimentos	do	escritor	para	outra	pessoa,	mesmo	que	esta	seja	o	próprio
escritor	em	algum	momento	futuro.
Não	parece	muito	estimulante,	não	é?	O	texto	pode	ser	claro	e	preciso,	mas
também	é	tedioso.
Um	 início	 cativante,	 por	outro	 lado,	prende	a	 atenção	do	 leitor	 e	garante	 a
continuidade	 da	 leitura.	Veja,	 por	 exemplo,	 a	 seleção	 de	 aberturas	 de	 texto	 no
quadro	abaixo.	Se	você	apanha	um	livro	e	lê	um	primeiro	período	ou	parágrafo
como	 esses,	 é	 preciso	 enorme	 força	 de	 vontade	 para	 deixá-lo	 de	 lado	 sem
prosseguir	na	leitura.
INTRODUÇÕES	INTERESSANTES
Aqui	 estão	 alguns	 parágrafos	 de	 abertura	 de	 romances	 escritos	 por	 grandes	 autores.
Qualquer	 leitor	 fica	curioso	para	saber	de	que	trata	o	 livro.	Textos	não	ficcionais	 também
podem	conquistar	o	interesse	do	leitor	logo	nas	primeiras	linhas.	Em	menor	escala,	mesmo
o	mais	humilde	relatório	de	negócios	consegue	se	favorecer	de	um	começo	 incisivo,	que
estimule	o	leitor	prejudicado	a	prestar	mais	atenção.
Tinham	dado	onze	horas	no	cuco	da	sala	de	jantar.	Jorge	fechou	o	volume	de	Luís	Figuier
que	 estivera	 folheando	 devagar,	 estirado	 na	 velha	 voltaire	 de	 marroquim	 escuro,
espreguiçou-se,	bocejou	e	disse:
–	Tu	não	vais	te	vestir,	Luísa?
–	Logo.
-	Eça	de	Queirós,	O	primo	Basílio
Do	que	eu	gostava	mais	no	Jardim	Zoológico	era	do	rinque	de	patinação	sob	as	árvores	e
do	professor	preto	muito	direito	a	deslizar	para	trás	no	cimento	em	elipses	vagarosas	sem
mover	um	músculo	sequer,	rodeado	de	meninas	de	saias	curtas	e	botas	brancas,	que,	se
falassem,	 possuíam	 seguramente	 vozes	 tão	 de	 gaze	 como	 as	 que	 nos	 aeroportos
anunciam	 a	 partida	 dos	 aviões,	 sílabas	 de	 algodão	 que	 se	 dissolvem	 nos	 ouvidos	 à
maneira	de	fins	de	rebuçado	na	concha	da	língua.
-	António	Lobo	Antunes,	Os	cus	dos	Judas
Pelas	 nove	 da	manhã	 desse	 dia	 de	 Setembro	 cheguei	 enfim	 à	 estação	 de	 Évora.	 Nos
meus	membros	 espessos,	 no	 crânio	 embrutecido,	 trago	 ainda	 o	 peso	 de	 uma	 noite	 de
viagem.	Um	moço	de	fretes	abeira-se	de	mim,	ergue	a	pala	do	boné:
–	É	preciso	alguma	coisa,	senhor	engenheiro?
-	Virgílio	Ferreira,	Aparição
Naquele	lugar,	a	guerra	tinha	morto	a	estrada.	Pelos	caminhos	só	as	hienas	se	arrastavam,
focinhando	entre	cinzas	e	poeiras.	A	paisagem	se	mestiçara	de	tristezas	nunca	vistas,	em
cores	 que	 se	 pegavam	 à	 boca.	 Eram	 cores	 sujas,	 tão	 sujas	 que	 tinham	 perdido	 toda	 a
leveza,	 esquecidas	 da	 ousadia	 de	 levantar	 asas	 pelo	 azul.	 Aqui,	 o	 céu	 se	 tornara
impossível.	E	os	viventes	se	acostumaram	ao	chão,	em	resignada	aprendizagem	da	morte.
-	Mia	Couto,	Terra	sonâmbula
Pelas	cinco	horas	duma	tarde	invernosa	de	outubro,	certo	viajante	entrou	em	Corgos,	a	pé,
depois	da	árdua	 jornada	que	o	 trouxera	da	aldeia	do	Montouro,	por	maus	caminhos,	ao
pavimento	 calcetado	 e	 seguro	 da	 vila:	 um	 homem	 gordo,	 baixo,	 de	 passo	 molengão;
samarra	 com	 gola	 de	 raposa;	 chapéu	 escuro,	 de	 aba	 larga,	 ao	 velho	 uso;	 a	 camisa
apertada,	sem	gravata,	não	desfazia	no	esmero	geral	visível	em	tudo,	das	mãos	limpas	à
barba	 bem	 escanhoada;	 é	 verdade	 que	 as	 botas	 de	 meio	 cano	 vinham	 de	 todo
enlameadas,	mas	via-se	que	não	era	hábito	do	viajante	andar	por	barrocais;	preocupava-o
a	terriça,	batia	os	pés	com	impaciência	no	empedrado.
-	Carlos	de	Oliveira,	Uma	abelha	na	chuva
Exemplos
O	tema	ou	a	mensagem	de	um	texto	costuma	vir	expresso	numa	declaração
um	tanto	vaga	ou	abstrata,	ou	numa	advertência	ou	comando	generalizado:
O	cientista	fez	uma	importante	descoberta	sobre	os	problemas	causados	pelo
estresse.
Os	gases	da	descarga	de	motores	a	gasolina	sem	chumbo	ainda	apresentam
riscos	à	saúde.
Não	abuse	da	voz	passiva	em	seu	texto.
Para	tornar	compreensíveis	tais	generalizações,	porém,	o	escritor	habilidoso
lança	 mão	 de	 alguns	 recursos.	 Ele	 apresenta	 casos	 específicos	 em	 lugar	 de
afirmativas	genéricas.	Usa	exemplos	concretos	em	vez	de	declarações	abstratas
para	 salientar	 sua	 mensagem.	 São	 estes	 casos	 e	 exemplos	 que	 conferem
dinamismo	ao	texto	e	evitam	que	a	atenção	do	leitor	se	desvie.
Mostre,	 não	 relate.	 Em	 textos	 descritivos	 ou	 narrativos	 –	 assim	 como	 numa
autobiografia	ou	num	romance	–	esta	é	uma	fórmula	segura.
Os	ficcionistas	têm	à	sua	disposição	duas	estratégias:
relatar	 ao	 leitor	 o	 que	 acontece,	 dizer-lhe	 o	 que	 pensar;	 isto	 é,	 explicar	 e
esclarecer	a	trama	e	as	motivações	das	personagens,	como	em	Maria	sentiu
inveja	do	vestido	novo	da	irmã.
mostrar	tudo	ao	leitor;	ou	seja,	apresentar	a	trama	e	os	personagens	em	ação
–	em	breves	cenas	dramatizadas,	uma	após	a	outra:	Os	olhos	de	Maria	se
estreitaram	quando	a	irmã	se	aproximou	usando	um	vestido	que	ela,	Maria,
nunca	vira	antes.
Os	 romancistas	 e	 críticos	 modernos	 tendem	 a	 privilegiar	 essa	 segunda
estratégia,	 às	 vezes	 a	 ponto	 de	 banir	 ou	 condenar	 completamente	 a	 técnica	 do
relato.	No	entanto,	quase	 toda	boa	ficção,	antiga	e	moderna,	mescla	sutilmente
os	 dois	 modelos.	 O	 escritor	 não	 deve	 usar	 o	 excesso	 de	 narração	 como	 uma
bengala	 para	 o	 leitor,	 pois	 isso	 o	 entediaria;	 mas	 tem	 o	 direito,	 aqui	 e	 ali,	 a
pequenos	 “empurrões”,	 como	meio	 de	 guiar	 o	 entendimento	 ou	 a	 simpatia	 do
leitor.
Para	 os	 críticos	 literários,	mostrar	 é	 a	 melhor	 alternativa.	 Eles	 alegam	 a
maior	qualidade	artística	da	apresentação	direta.	Em	textos	do	cotidiano,	porém,
a	 questão	 não	 é	 a	 qualidade	 artística,	 mas	 sim	 a	 eficácia.	 O	 que	 interessa	 é
encontrar	a	melhor	maneira	de	comunicar	uma	mensagem	ao	 leitor.	A	solução,
em	 quase	 todo	 contexto,	 será:	 relatar	 e	 mostrar.	 Apresente	 o	 argumento
explicitamente	 e,	 em	 seguida,	 as	 evidências	 que	 o	 apoiam.	 Exponha	 a
generalização	e	depois	liste	exemplos	que	a	amparem.
Se	preferir,	inverta	a	ordem	das	estratégias:	mostre	e	depois	relate.	Primeiro,
apresente	 os	 dados	 e,	 em	 seguida,	 a	 generalização.	 Conte	 a	 fábula	 e	 então
conclua	com	a	moral.
Eis	aqui	um	exemplo	atrativo	da	 técnica	narrativa.	Ele	provém	de	um	livro
de	memórias	em	que	se	harmonizam	recursos	literários	e	comunicação	de	padrão
coloquial.
Na	 linha	 varonil	 da	 minha	 família	 paterna	 essa	 guarda	 de	 tradições	 foi
suspensa	devido	à	sucessão	de	três	gerações	de	morredores!	A	de	meu	Pai,	que
desapareceu	aos	35	anos.	A	do	seu	pai,	falecido	aos	37.	Meu	bisavô,	não	sei	com
que	idade	morreu.	Cedo,	decerto,	pois	meu	avô	foi	criado	de	menino	por	uma	de
suas	 avós	 ou	 tias-avós.	 É	 assim	 que	 cada	 uma	 dessas	 gerações	 ficou	 sabendo
pouco	das	anteriores	e	não	 teve	 tempo	de	 transmitir	 esse	pouco	às	 sucedentes.
Por	essa	razão,	também	quase	nada	sei	de	meu	avô	paterno.
-	Pedro	Nava,	Baú	de	ossos
Agora,	considere	a	passagem	a	seguir,	de	um	artigo	de	revista	sobre	a	obra	de
Euclides	 da	 Cunha.	 Note	 de	 que	 maneira	 suave	 e	 sem	 obstáculos	 o	 autor
transmite	 suas	 ideias	 em	 cada	 parágrafo	 através	 da	 citação	 de	 preciosos
exemplos.
Publicado	 em	 1902,	 Os	 sertões	 é	 uma	 obra	 híbrida	 que	 transita

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