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Artigo - Nota 10 pela Banca Análise do Enlutamento Familiar - Psicologia (Multivix)

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FACULDADE MULTIVIX – CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
ANÁLISE DO ENLUTAMENTO FAMILIAR
ALUNO, xxxx[footnoteRef:1] [1: Graduanda do Curso de Psicologia da Faculdade Multivix – Vitória.] 
PROFESSOR, xxxx[footnoteRef:2] [2: Professor do Curso de Psicologia da Faculdade Multivix – Vitória.] 
							 
1 INTRODUÇÃO
	O presente material busca analisar o processo do enlutamento no âmbito familiar. Têm sido realizados vários estudos no sentido de perceber quais as especificidades das reações dos familiares à morte. Neste sentido, este estudo visa contribuir para o conhecimento da vivência do luto destes familiares, como descrevem a experiência e que sintomas sentiram durante o processo de luto, quais os fatores mais protetores e que facilitam o processo de luto, bem como o que é identificado como mais difícil de lidar.
	A morte é também, um acontecimento significativo para a família do falecido porque altera o equilíbrio familiar, conduz a ansiedade, tristeza, stress. Pode-se, então, dizer que os impactos de uma má notícia relativa a uma perda no seio de uma família são vivências únicas, influenciadas por um conjunto de fatores como, por exemplo, o indivíduo que faleceu, a família e o seu contexto sócio/cultural. Quando a morte ocorre não podemos apenas pensar na comunicação da má notícia, pois estas situações implicam uma perda, à qual está sempre associado um processo de luto (PEREIRA, 2008).
	As fases do luto são desenvolvidas por Kübler-Ross no seu livro Sobre a Morte e o Morrer (2008). As definições de luto serão relatadas de acordo com Lily Pincus que através de acompanhamentos de casos, ela descreve as fases do luto. O luto a partir da aceitação é definido como luto normal, ao contrário, é apresentado como patológico, descrevendo diversas consequências decorrentes dessas fases. Serão apresentados também neste artigo os fatores complicadores do luto, descritos por William J. Wordem na obra Terapia do Luto (1998), os cuidados com os enlutados, e como deve ser o acompanhamento das pessoas que sofrem com a dor e sofrimento do luto. Serão explicitados também, a figura do conselheiro, aquela pessoa que pode acompanhar as pessoas enlutadas procurando orientá-las no enfrentamento das diversas fases do luto.
	Portanto, pode haver características do sistema familiar a afetar o processo de luto, assim como cada indivíduo difere na expressão do seu próprio luto. A vivência do luto pode ser potencializada ou prejudicada de acordo com a abertura para a comunicação e o nível de coesão entre os membros da família, por isso, um bom funcionamento familiar durante a fase de prestação de cuidados ao doente e principalmente no luto é importante para o bem-estar psicológico dos seus membros.
	Quando a família apresenta um bom funcionamento, o apoio mútuo aos seus membros colabora para um processo de ajustamento adaptativo à situação de perda. A liberdade de comunicação e expressão de sentimentos e pensamentos, a coesão familiar e a resolução construtiva das diferenças de opinião são os principais requisitos para uma família funcional enfrentar situações de vida estressantes, pois quando o funcionamento familiar é mais limitado os seus membros apresentam maiores dificuldades para se adaptar.
	As famílias mal-humoradas apresentam coesão moderada, um nível moderado de conflitos, e a falta de desejo de ajuda é notável entre os seus membros. As famílias hostis são definidas como tendo um baixo nível de coesão, de expressividade, de sentimentos e pensamentos, alto nível de conflitos entre os seus familiares, e tendem a rejeitar ajuda de outras pessoas. Essas famílias disfuncionais têm altas taxas de morbidade psicossocial, incluindo depressão. Estudos relatam que altos níveis de morbidade psicossocial estão positivamente relacionados com pior funcionamento Familiar.
	Não são muitos os estudos que relacionam a dinâmica familiar e o processo de luto, portanto, a presente revisão sistemática da literatura pretendeu agrupar e sintetizar os estudos relacionados a esta área, assim como verificar os instrumentos mais utilizados para avaliar a dinâmica familiar e o processo de luto. O presente estudo objetiva realizar uma revisão sistemática da literatura sobre a influência da dinâmica familiar no processo de luto de familiares adultos.
1.1 JUSTIFICATIVA DO TEMA
	É indescritível o tremendo sofrimento que advém da perda de alguém que nos
é querido, pois jamais alguma palavra conseguiria abarcar uma dor que aparenta ser
incomensurável. Assim, Sanders (1999) relata-a da seguinte forma:
A dor de uma perda é tão impossivelmente dolorosa, tão semelhante ao pânico, que têm que ser inventadas maneiras para se defender contra a investida emocional do sofrimento. Existe um medo de que se uma pessoa alguma vez se entregar totalmente à dor, ela será devastada - como que por um maremoto enorme - para nunca mais emergir para estados emocionais comuns outra vez. (SANDERS, 1999, p. 03).
	O tempo acaba por ser o maior aliado para ultrapassar a inolvidável perda, permitindo uma recuperação lenta e gradual. O familiar tem papel ativo no processo de luto, tendo que efetuar determinadas tarefas de forma a "deixar ir" o ente perdido e seguir em frente com a sua vida. Quando tais tarefas não são realizadas, acaba-se por passar de forma imprecisa separando o luto normal do patológico.
	Relativamente às relações familiares, o que se verifica é que cada membro, perante a perda, reage de uma maneira própria e em tempos diferentes, podendo gerar vários conflitos, afastamentos ou até mesmo rupturas no seio familiar. Deste modo, torna-se essencial perceber o impacto que uma perda significativa tem não só no indivíduo, como também no sistema familiar e nas suas interações. Uma maior consciência e compreensão dos possíveis caminhos que cada um pode percorrer para recuperar de uma perda permite uma maior aceitação das inúmeras diferenças que o processo de luto tem de pessoa para pessoa (MELO, 2004).
	A própria estrutura que a sociedade ocidental adoptou vem facilitar este afastamento direto da morte, dificultando, no entanto, a adaptação necessária à perda, para prosseguir com a vida. O facto das pessoas morrerem cada vez mais frequentemente nos hospitais, por vezes longe da presença familiar no momento da perda, acaba por afastar a confrontação direta com a morte, como acontecia antigamente, em que as pessoas na maior parte das vezes morriam em casa. Este afastamento do momento da morte, juntamente com o menor apoio da comunidade numa sociedade cada vez mais individualista, são fatores sociais que dificultam enormemente o processo de luto (MELO, 2004).
1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA
	Luto é um processo interno que se desencadeia a partir da perda de algo significativo ou alguém amado. Apesar de doloroso, porque inclui a percepção da perda, o luto é um processo que visa representar e acomodar esta perda, portanto, um processo necessário. O luto mobiliza profundamente o sujeito porque rompe laços afetivos construídos sob o apego. A retirada da figura de apego afeta estruturas psicológicas, podendo abalar a segurança no sujeito enlutado e demais aspectos psíquicos (BOWLBY, 1997).
	As dificuldades da sociedade atual para lidar com a perda e realização do luto são, em grande parte, heranças de uma mentalidade que mantém a morte como um tema interdito, e o caminho para desfazê-la passa por uma educação para a morte. O primeiro passo para estar verdadeiramente em contato com a questão da morte é reconhecer que a evitando ou negando-a os sujeitos estão apenas caminhando para a negação de um aspecto integral da vida humana (SANTOS, 2009).
	Mas, ainda segundo o mesmo autor, vulnerabilidades como problemas psicológicos do enlutado, mortes repentinas e inesperadas, perdas múltiplas, mortes violentas, suicídio e homicídio, também interferem na forma como a perda será assimilada. A forma como o indivíduo constrói os seus significados é um aspeto da síndrome emocional, significados esses que são determinados por crenças e valores culturais. As emoções servem para
reforçar os valores e crenças que as constituem.
	O papel emocional pode ser explicado em termos de privilégios, constrangimentos, obrigações e características pessoais. Por outro lado, o luto é também visto como uma doença, ou seja, como uma condição precária acompanhada de dor e uma morbidez crescente. Como qualquer doença pode ser analisada em termos biológicos, sociais ou psicológicos. Assim sendo, e considerando as mudanças que podem ocorrer na natureza do luto, este poderá vir a ser inserido no sistema de saúde e, consequentemente, noutros sistemas sociais.
	Estes sistemas não são um simples conjunto de cognições ou mesmo uma rede isolada de cognições, funcionam antes, como um todo. Esta perspetiva tem em conta que todas as pessoas possuem uma teoria implícita da realidade, determinando a forma como atribuem significados às experiências, que existe um nível de processamento de informação que opera mediante regras próprias, que existem quatro necessidades e quatro crenças básicas e que as sensações e compulsões estão amplamente definidas.
1.3 PROBLEMA DA PESQUISA
	A intensidade e a duração do processo de luto são muito variáveis, não só no mesmo indivíduo ao longo do tempo ou após diferentes perdas, mas também em pessoas diferentes, após perdas claramente similares (ZISOOK & SHEAR, 2009).
	Ocorre, também, nesta problemática o apoio social (família) e a religião/espiritualidade que se tornam importantes elementos de apoio para as pessoas deste grupo, sendo os elementos que mais foram citados, tanto nas questões abertas, como nas de múltipla escolha, mas outros elementos, tais como os amigos, o trabalho, o tempo e a música, foram reconhecidos como elementos de apoio em virtude da representação que tinham para os participantes.
	Existem algumas condições sociais que podem dar origem a um processo de luto mais complicado, nomeadamente quando a perda é socialmente inesperada, quando a perda é socialmente negada e quando há ausência de uma rede de suporte social (LAZARE 1979 cit. por WORDEN, 1983).
1.4 OBJETIVOS
1.4.1 Objetivo Geral
	Esse estudo busca identificar os elementos que melhor atuam como apoio para pessoas em vivenciam o processo enlutado, verificando a existência de relação entre enfrentamento do luto com o tempo em que as perdas se relacionam, identificando-se a diferença entre as idades do falecido e do enlutado interferiam no enfrentamento do luto.
1.4.2 Objetivos Específicos
· Identificar entre os familiares enlutados as reações à perda durante o luto comum aos enlutados, independente do modo de morte;
· Identificar entre os familiares enlutados as reações à perda durante o luto, específicas quando a morte ocorre por suicídio;
· Construir, avaliar e propor o aperfeiçoamento de uma entrevista que possibilite avaliar essas reações.
1.5 HIPÓTESE
	Quando a família apresenta um bom funcionamento, o apoio mútuo aos seus membros colabora para um processo de ajustamento adaptativo à situação de perda. A liberdade de comunicação e expressão de sentimentos e pensamentos, a coesão familiar e a resolução construtiva das diferenças de opinião são os principais requisitos para uma família funcional enfrentar situações de vida estressantes, pois quando o funcionamento familiar é mais limitado os seus membros apresentam maiores dificuldades para se adaptar.
	A dor da perda, o sofrimento e o luto não dizem respeito somente em casos de morte. Dessa forma o presente estudo tem dentre suas várias funções demonstrar as variáveis das perdas como: derrotas e fracassos do dia a dia, as frustrações profissionais, os fracassos sentimentais, os desejos de posse, doenças graves. Ao se tratar o luto e suas realidades diante da perda e do sofrimento, se identifica os eventos que aconteceram, tais como os objetos perdidos, sejam eles materiais ou sentimentais, assim como para as pessoas em nossas vidas.
2 METODOLOGIA
	Na metodologia qualitativa os dados são enquadrados e interpretados em contextos holísticos de situações, acontecimentos de vida ou experiências vividas, particularmente significativos para as pessoas implicadas (FIDALGO, 2003). É uma metodologia que permite aceder à complexidade e diversidade da realidade em estudo, de forma contextualizada e enriquecida pelos significados que lhe são atribuídos pelos participantes (MARQUES, 2005), o que lhe confere uma elevada validade interna, já que focaliza as especificidades dos grupos sociais estudados.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 O LUTO
	Luto “é o trabalho pessoal, individual para se reacomodar a uma vida diferente após a perda de alguém ou algo muito valorizado, de reaprender o mundo, irreversivelmente transformado sem ele/a” (JARAMILLO, 2006, p.198).
	Em seu livro Luto e Melancolia (2006), Freud escreve sobre este assunto, projetando uma relação entre os dois modelos. Relata o luto como modelo de perda, não necessariamente, por morte humana. Promove a relação com outros tipos de perdas: sentimentais, materiais. Não comentamos sobre a melancolia, pois se refere ao sentimento de depressão, que seria uma causa do processo do luto. O autor descreve como estes sistemas atingem o “ego”, desencadeando sintomas de tristeza, dor, raiva, perda.
	Nos processos de perda, quer de pessoas ou objetos, causam no primeiro momento, a sensação de vazio, um olhar fora da realidade, como se isto não estivesse acontecendo. O olhar está ao longe não enxergando nada à sua volta. Mesmo as pessoas mais próximas não trazem nenhum conforto. Mas Freud explica que a aceitação da perda do objeto, seja ele humano ou material, acontece somente pelo verdadeiro conhecimento da realidade e a interiorização da referida perda. No momento em que a pessoa interiorizar o luto e viver esse sentimento terá atingido meio caminho, em direção à superação da perda do objeto. O luto só é superado pelo conhecimento e a aceitação da perda do objeto. (FREUD, 2011).
Por um lado como o luto, ela é a relação à perda real do objeto de amor, mas além disso está comprometida como uma condição que falta no luto normal ou que, quando ocorre, o converte em luto patológico. (FREUD, 2011, p.64-65).
	Quando a pessoa está no caminho da aceitação da perda, o desejo, o querer, vai com o tempo sendo substituído por outras libidos. Desaparece o processo de auto-recriminação, onde a pessoa sente-se culpada pela falta do ente querido. Há um processo de ambivalência, de amor e ódio, decepções. “Envolvem todas as situações de desespero, ofensa, e decepção através das quais pode penetrar em uma oposição de amor e ódio, ou pode ser reforçada uma ambivalência já existente”. (FREUD, 2011).
	O luto normal como o próprio nome diz, é aquele que não promove nenhum tipo de trauma ou consequências que possam afetar a integridade física e psicológica da pessoa. No entanto, o luto patológico faz referência às ações realizadas pelas pessoas que sofrem com o luto. Além do sofrimento isto desencadeia patologias como: violência, colapso físico, entorpecimento, raiva, não aceitar a realidade da morte (PINCUS,1989).
	Há casos em que os sobreviventes são acometidos por doenças em um processo muito rápido, podendo levar à morte, em um curto espaço de tempo, a pessoa sobrevivente. Incertezas recentes sobre as fronteiras entre saúde e a doença mental também podem ter tornado mais premente a conceituação e distinção entre luto normal e patológico e entre pesar e doença (PINCUS,1989).
	O tempo do luto é variável podendo em alguns casos nunca terminar. Isto causa um agravamento somático, levando o enlutado a desenvolver doenças graves e configurar, também, uma depressão reativa. Durante o período da elaboração do luto, podem se desencadear distúrbios na alimentação ou sono e quadros sintomáticos de enfermidades graves e a depressão reativa (CATERINA, 2013).
	O luto é um processo, como um ferimento físico, que necessita de cuidados a fim de reforçar as defesas e curá-lo, o melhor reforço é o processo de aceitação acompanhado de simpatia, entendimento e o apoio externo dos amigos e pessoas próximas.
3.2 O LUTO E SUAS REAÇÕES
	Não há atitude padrão
para estar de luto. Algumas pessoas se calam, se fecham em seus mundos, se afastam, enquanto outras se tornam ativas, querem falar, chorar abertamente, estar acompanhadas. Não devemos nos prender ou avaliar uma reação, por si só, afinal cada ser humano tem o direito de sentir e vivenciar em sua particularidade. Podemos notar que independente a reação, ambos os casos possuem em comum a necessidade de ter sua dor de perda acolhida e respeitada (BALDO, 2016).
	Os primeiros dias tendem a ser terríveis, sendo mais comum os choros descontrolados, atitudes agressivas ou intensas, falta de apetite e de sono… Com o passar do tempo, (e este tempo é particular para cada ser humano), estas reações tendem a ganhar uma estabilidade, não falo ainda em desaparecer, mas sim devem ocorrer de forma mais organizada. E assim a tendência é que o luto se encaixe na vida da pessoa e fique presente por algum tempo, podendo ser meses ou anos, oscilando as intensidades e as formas de expressões (BALDO, 2016).
	Geralmente, só devemos nos alertar para uma preocupação, quando o quadro de luto gerar sintomas que sugerem exagero no sofrimento e prejuízo na vida como: abandonar emprego, escola, namoro ou casamento, não conseguir se preocupar com seus filhos ou com suas contas, emagrecer ou engordar significativamente, assim como reações sintomáticas frequentes e intensas, como desmaios, taquicardias, dores diversas (BALDO, 2016).
	O sinal do exagero e da intensidade desestruturada sugere o não saudável e, portanto é merecedora de atenção e talvez de acompanhamento psicológico. E o acompanhamento de um profissional pode ser muito bem vindo, por propiciar a pessoa uma possibilidade de reconhecer seus sintomas de sofrimento, de entender suas reações e para expressar sua dor e assim ir aliviando sua angustia. Uma angustia não negada e bem acolhida tende a gerar a possibilidade de se refazer na vida, com a pessoa saindo mais fortalecida para continuar sua história.
	O luto não é algo ruim, na verdade ele é necessário. É uma etapa que precisamos encarar, compreender, vivenciar para continuarmos vivendo de forma equilibrada e saudável. Assim nestas situações talvez tudo que nos caiba seja de fato um bom abraço, uma oferta de colo, de ajuda com questões burocráticas ou mesmo a nossa presença ao lado. Mostrando que a tristeza atinge a todos, mas que estão ali unidos para chorarem e se ajudarem nesta fase difícil de vida.
3.3 O ACOMPANHAMENTO DO ENLUTADO
	Na sociedade moderna, a solidão e o isolamento, são forças contrárias à interiorização, e com isso, fica mais difícil a aceitação e a melhora dos casos de não compreensão do luto. Há pessoas que após um processo de luto tornam-se mais tolerantes com as dificuldades da vida, enfrentam o desprazer e as frustrações, criando perspectivas de renovação pessoal. Utilizam seu trabalho e suas habilidades direcionando sua vida para um bem estar (SOUZA & TAVERNA, 2014).
	A maneira como são geridos os vários processos de luto individuais numa mesma família decorre, em parte, da estrutura e do funcionamento dessa família. A ajuda mútua será uma ótima via de favorecer o desenvolvimento de cada um dos processos. Se a sua vivência era afetuosa, dialogal, respeitadora, emocionalmente estável, poderá reunir condições para reagir em conjunto a um acontecimento tão traumático como a morte de um dos seus membros.
	É importante que quando em contato com pessoas enlutadas saibamos entender suas dificuldades. Devemos entender que não são todas as pessoas que interiorizam o luto e enfrentam a vida de cabeça erguida. Podemos ser colocados no lugar de culpados. Nosso papel, portanto, é de oferecermos apoio, sermos companheiros. A partir da gratuidade da vida, levarmos esperanças, compreendendo cada uma das fases de cada pessoa que sofre a perda.
	Em nossas vidas estamos sempre enfrentando os processos de luto. Podemos estar perdendo a nossa saúde, um emprego, encarando a dor de um sonho não realizado. Estamos morrendo a cada segundo e isso é certeza de que não somos eternos, assim como todos aqueles que nos rodeiam. O luto é particular, ninguém vive a mesma situação. Cada um enfrentará as suas experiências.
	O luto é um conjunto de reações que estão ligadas às nossas perdas, cada qual viverá ou vive suas fases, de dor, entorpecimento, raiva, busca do objeto perdido, saudades, desespero. Diante destes desafios a serem vencidos pelas pessoas que sofrem perdas significativas em suas vidas, percebemos que há a necessidade de acompanhamento dessas pessoas. Nem todas conseguem vencer os desafios com suas próprias forças; existe a necessidade de apoio. É preciso reconfigurar os processos diante da perda e do sofrimento, que causam profunda tristeza. O enfrentamento das causas pode ser tomado à luz do evangelho, onde o próprio Jesus tomou sobre si os nossos sofrimentos e carregou às dores.
	Não são todas as pessoas que captam a voz de Deus, convidando-o a ser presença na vida de quem sofre. Como a parábola do bom samaritano, que parou à beira do caminho para atender aquele homem enfermo. Outros passaram, mas somente um parou para prestar auxílio. O prestar auxílio ao enlutado é ouvir o chamado, estar atento a ele, ser presença e apoio, perceber sua relação com o transcendente. A cura dos doentes faz parte do Evangelho. Jesus passou pelo mundo fazendo o bem, curando os enfermos (PESSINI, 2008).
3.4 O PAPEL DA PSICOLÓGO
	Diante de toda repercussão que o luto perinatal pode acarretar para os pais, familiares e até mesmo equipe de saúde, entende-se como fundamental a presença da psicologia. Muitas vezes a equipe de saúde evidencia seu despreparo para lidar com a dor e a angústia do outro, principalmente pelos próprios conflitos que possui na relação com a morte ou com a eminência desta (BARTILOTTI, 2007). O psicólogo é o profissional que tem preparação para viabilizar a expressão do luto.
	“A psicologia entende que para dissipar a dor psíquica de uma perda, é necessário que ela seja dita, vivida, sentida, refletida e elaborada, mas nunca negada” (GESTEIRA et al, 2006, p.465). Contudo, há um tempo para todo esse processo se constituir que não pode ser apressado nem pela família e nem pela equipe de saúde. Na verdade, o tempo tem que ser usado para melhorar a capacidade do enlutado de elaborar a perda do bebê.
	Segundo Carvalho e Meyer (2007) um dos papéis da psicologia diante de intercorrências como o luto fetal é desafiar a mentalidade da morte como tema interdito, buscando identificar as vulnerabilidades e alto risco dos pais que perderam seus filhos. Cabe a psicologia ajudar com que os pais e familiares se apropriem da situação que estão vivendo, para posteriormente conseguirem falar e aos poucos assimilar, e bem posteriormente aceitar. Gesteira et al (2006) traz que os rituais fúnebres ajudam no processo de luto, pois a recuperação é centrada na aceitação, e o velório permite que as pessoas se despeçam e que o enlutados seja considerado como tal.
	Abordagens terapêuticas que possibilitam ajudar os pais no processo de perda do filho, bem como torná-la mais real consistem em permitir que os pais visitem o recém nascido, toquem-no, caso queiram, e que recolham lembranças possíveis (BARTILOTTI, 2007). Essas são estratégias que favorecem a saúde psíquica de muitos casais, objetivo primordial da psicologia. No sentido de contribuir para o aprofundamento dos conhecimentos sobre o tema, o presente estudo teve por objetivo conhecer o significado da perda perinatal para famílias enlutadas, analisar a intervenção psicológica em situações de luto perinatal e sistematizar modelos de intervenção psicológica diante da perda e do luto do bebê.
	
4 REFERÊNCIAS
BALDO, Raquel. Como Lidar com o Luto pela Morte de uma Pessoa Próxima. 2016. Disponível em: <http://www.minhavida.com.br/bem-estar/materias/18111-como-lidar-com-o-luto-pela-morte-de-uma-pessoa-proxima>. Acesso em: 17 de mai. 2018.
BARTILOTTI, M. R. M. B. Intervenção Psicológica em Luto perinatal. In Bortoletti, F. F (Org.). Psicologia na prática obstétrica – abordagem interdisciplinar.
São Paulo: Manole. 2007.
BOWLBY, J. Formação e Rompimento dos Laços Afetivos. Tradução de A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes. 1997.
CARVALHO, F. T. & Meyer, L. Perda gestacional tardia: aspectos a serem enfrentados por mulheres e conduta profissional frente a essas situações. Boletim de Psicologia, 57 (126), 33- 48. 2007.
CATERINA, Marlene de Carvalho. O luto: perda e rompimento de vínculos. 2013. 
FREUD, Sigmund. Escritossobre a Psicologia do Inconsciente. Rio de Janeiro: Imago, 2006. 
GESTEIRA, S. M. A., Barbosa, V. L. & Endo, P. C. O luto no processo de aborto provocado. Acta Paulista de Enfermagem, 19(4), 462-467. 2006.
JARAMILLO, Isa Fonnegra de. Morrer Bem. São Paulo: Editora Planeta, 2006.
MELOR, Rita. Processo de Luto: O Inevitável Percurso Face a Inevitabilidade da Morte. 2004. Disponível em: <http://www.integra.pt/textos/luto.pdf>. Acesso em: 21 de Mai. 2018.
PEREIRA, Maria Aurora – Comunicação de Más Notícias e Gestão do Luto. Formasau: Coimbra, 2008. ISBN: 978-972-8485-92-4.
PINCUS, Lily. A família e morte: como enfrentar o luto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
SANDERS, C. Grief. The Mourning After: Dealing with Adult Bereavement (2ª ed.). New York: Jonh Wiley & Sons, Inc. 1999. p. 03.
SANTOS, F. S. A arte de morrer: visões plurais. São Paulo: Comênio. 2009.
TAVERNA, Gelson , SOUZA, Waldir . O Luto e suas Realidades Humanas Diante da Perda e do Sofrimento. Caderno Teológico da Pucpr, Curitiba, V.2, N.1, P.38 - 55, 2014.
WORDEN, J. Grief Counselling & Grief Therapy. London and New York: Tavistock Publications. 1983.
ZISOOK, S. & SHEAR, K. Grief and bereavement: what psychiatrists need to know. World Psychiatry, 8, 67-74. doi:10.1002/j.2051-5545.2009.tb00217.x. 2009.

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