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Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá IDSM-OS/MCT Processo n.° 680.021/2006-0 Programa de Manejo de Pesca RELATÓRIO TÉCNICO FINAL DAS ATIVIDADES DE BOLSA/CNPq TÍTULO: AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES SANITÁRIAS DO PIRARUCU MANEJADO NA RDS MAMIRAUÁ E NA RDS AMANÃ. Bolsista: EDINALDO SILVA FERREIRA Número do Processo Individual: 385835/06-0 Modalidade de bolsa exercida: DTI-7G Período de Vigência da Bolsa: 01/11/2006 a 30/06/2008 RESPONSÁVEIS: ANA RITA PEREIRA ALVES Coordenadora do PCI do IDSM Diretora Geral do IDSM ISABEL SOARES DE SOUSA Orientadora da Bolsa Diretora de Manejo de Recursos Naturais e Desenvolvimento Social Tefé/AM Julho/2008 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM SUMÁRIO RESUMO ...........................................................................................................1 I. HISTÓRICO ....................................................................................................2 1. AS RESERVAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ E AMANÃ ..........................................................................................................2 2. O MANEJO DE PESCA DO PIRARUCU Arapaima gigas (Schinz, 1822) ...3 II. OBJETIVOS ...................................................................................................6 1. GERAL: ......................................................................................................6 2. ESPECÍFICOS: ..........................................................................................6 III. METODOLOGIA ...........................................................................................7 1. ÁREA DE ESTUDO ....................................................................................7 2. COLETA DE DADOS..................................................................................8 3. OFICINAS DE HIGIENE E QUALIDADE DO PESCADO ............................8 4. ATIVIDADES COMPLEMENTARES ...........................................................9 IV. RESULTADOS ...........................................................................................12 1. AQUISIÇÃO DE INSUMOS ......................................................................12 2. LOCAL DE PESCA ...................................................................................13 3. O MÉTODO DE CAPTURA ......................................................................16 4. BENEFICIAMENTO PRELIMINAR, ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE DO PESCADO .............................................................................................18 5. A PREOCUPAÇÃO DOS PESCADORES COM A QUALIDADE DO PESCADO ....................................................................................................30 6. A PREOCUPAÇÃO DOS COMPRADORES COM A QUALIDADE DO PESCADO ....................................................................................................33 7. ALGUNS ASPECTOS DA LEGISLAÇÃO SANITÁRIA..............................34 V. PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS ....................................................................35 VI. CONCLUSÃO .............................................................................................36 VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................37 1 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM RESUMO A pesca é uma das atividades mais importantes das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, sendo o pirarucu Arapaima gigas (Schinz, 1822) a espécie de grande destaque. Esta que, no ano de 1996, teve sua captura proibida totalmente no Estado do Amazonas, vem sendo pescada em sistema de manejo desde 1999. Desde então aumentou o número de áreas de manejo e sua produção vem crescendo a cada ano. Ressalte-se que sua pesca se restringe a, no máximo três meses do ano. Isso implica em competição por mercado e aumento da dificuldade de venda da produção. Neste contexto, será necessário se destacar entre os demais produtores. e nesse aspecto será fundamental ofertar um pescado de melhor qualidade. Para isso, realizou-se a avaliação das atuais condições sanitárias do pirarucu produzido nas referidas RDS’s e trabalhou-se com o intuito de sempre melhorar a qualidade desse produto. O estudo mostrou que as condições ainda não satisfazem à legislação sanitária brasileira, mas que a cada ano estão em uma escala ascendente, com muitos pescadores preocupados com essa questão e com os problemas advindos da baixa qualidade do pescado. Entre os entraves encontrados destacam-se a dificuldade de armazenamento e transporte do pescado; a precária aquisição de gelo; a reduzida higiene e as difíceis condições de trabalho por causa da estrutura geográfica dos locais de pesca. Medidas como capacitação dos pescadores, intercâmbio de informações sobre o cuidado com o pescado entre as áreas de manejo, implementação de estruturas de estocagem e transporte, financiamentos aos pescadores foram, estão sendo ou devem ser implementadas nas áreas de manejo. A efetividade das ações dependerá, entretanto, da atitude e da ação dos pescadores no controle de qualidade de sua produção. Dessa forma, haverá mais destaque para aquelas áreas onde melhor se desenvolverem essas ações, adquirindo credibilidade e competitividade no mercado de produtos pesqueiros. 2 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM I. HISTÓRICO 1. AS RESERVAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ E AMANÃ A Reserva Mamirauá foi concebida, em 1990, pelo Estado do Amazonas inicialmente como Estação Ecológica, o que implicava na remoção das populações tradicionais de seu território. Mas em 1996 foi transformada em Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM), a primeira nesta categoria de unidade de conservação (UC). Ela abrange uma área de 1.124.000 ha, e é delimitada pelos rios Solimões, Japurá, e pelo Auati-Paraná. A área focal da Reserva está dividida em 09 setores (“unidades políticas” constituídas por agrupamentos de comunidades próximas entre si e que guardam semelhanças históricas, econômicas e culturais) e possui cerca de 5.087 moradores distribuídos em 78 localidades. Inserida totalmente na várzea do Rio Solimões - Amazonas, a RDSM destaca-se pela proposta inovadora do seu gerenciamento, o qual incorpora as populações locais na tomada de decisões, buscando compatibilizar a conservação da biodiversidade da reserva com a permanência das populações tradicionais nela residentes (Howard et al., 1995; SCM, 1996 & PQV, 2006). A permanência dessas populações implica necessariamente no uso dos recursos naturais, e entre estes, destacam-se os recursos pesqueiros. A partir do Plano de Manejo (SCM, 1996) aplicaram-se gradativamente medidas restritivas e normativas destinadas à regulamentação do uso dos recursos naturais, elaboradas com participação da comunidade. Como no início foi um grande impacto mudar os sistemas de explotação outrora adotados, para minimizá-los, foram implementadas diversas alternativas econômicas, entre elas o manejo sustentável do pirarucu. Nos moldes da RDSM, foi criada no ano de 1998 a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (RDSA), com cerca de 2.313.000 ha. Esta área junto ao Parque Nacional do Jaú (2.272.000 ha) e à RDSM formam o maior bloco de floresta tropical protegido do planeta com 5.709.000 ha. A3 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM população da RDSA é de aproximadamente 3.259 pessoas entre moradores e usuários em 69 localidades (PQV, 2006), concentrando-se, principalmente, na margem esquerda do rio Japurá, mais especificamente nos canais de várzea nas proximidades do deste rio, os quais se conectam ao Lago Amanã (Paranás do Tambaqui, Castanho e Coraci), bem como às margens do lago que dá nome à reserva. 2. O MANEJO DE PESCA DO PIRARUCU Arapaima gigas (Schinz, 1822) A pesca é uma das principais atividades praticadas na área das Reservas e é fonte de alimentação e renda, sendo o pirarucu A. gigas a espécie de maior importância comercial. Na década de 70, devido à sobrepesca, a população de pirarucus entrou em declínio em todo o Estado do Amazonas, o que levou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em 1989, a proibir a captura e a comercialização de indivíduos com comprimento total inferior a 150 cm e, em 1990, proibir a pesca em toda a bacia Amazônica no período de defeso, entre 1 de dezembro a 31 de maio (QUEIROZ & SARDINHA, 1999; MMA, 2005). Em 1996, foi proibido, no Estado, qualquer captura e venda de pirarucus, sendo, atualmente, permitidas apenas quando realizadas por sistemas de manejo, para fins científicos ou se forem indivíduos provenientes de cultivo (IBAMA, 2005). Diante desse contexto, em 1998, foi implementado no Setor Jarauá (RDSM), que é composto por quatro comunidades, um programa de comercialização de pescado, através do Programa de Manejo de Pesca, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). A demanda dos pescadores em comercializar o pirarucu proveniente de manejo teve projeto aprovado pelo IBAMA em 1999, ano em que ocorreu a primeira pesca manejada. Na ocasião foram capturados 120 pirarucus, os quais representaram 03 t em mantas frescas. 4 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM O Jarauá foi o setor selecionado por abrigar o maior sistema de lagos da RDSM, pela importância da atividade pesqueira para os comunitários, organização das comunidades e histórico de cooperação com o trabalho de implantação da Reserva. Com o objetivo de atender a um maior público de pescadores, buscando o ordenamento da pesca desta espécie, a experiência foi expandida em 2001, para o Setor Tijuaca (RDSM), atendendo a sete comunidades. Em 2002, para o município de Maraã, atendendo a pescadores das zonas rural e urbana associados à Colônia de Pescadores Z-32, e para o Setor Coraci (RDSA), atendendo a sete comunidades. O sistema de contagem de pirarucus através da boiada (processo no qual o pirarucu se desloca até a superfície d’água para respirar o ar atmosférico), desenvolvido por pesquisadores e técnicos do IDSM, e pescadores da reserva, vem sendo usado desde 1999 para definir as quantidades a serem capturadas. Desse modo, é possível monitorar o crescimento dos estoques de pirarucus nas áreas onde ocorre o manejo desta espécie. Como resultado desse trabalho, em 2007 a produção dos pescadores assessorados pelo IDSM atingiu 229,6 t de pirarucus inteiros eviscerados, a qual beneficiou 427 famílias através de 682 pescadores envolvidos no trabalho de pesca (PMP, 2008). Além disso, há também as comunidades assessoradas pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Fonte Boa (IDSFB), que produziram, em 2007, 399,9 t de pirarucus inteiros eviscerados. Destas, 70% saiu da RDSM e o restante da Resex Auati-Paraná e Reserva Municipal do município de Fonte Boa (IDSFB, 2007). Pode-se incluir ainda a pesca feita por pescadores da Resex Rio Jutaí, os quais capturaram, segundo o analista ambiental Gustavo Menezes (com. pess.), 79 pirarucus ou 4,5 t na forma inteiros eviscerados. Isto mostra que em 09 anos de manejo, houve um incremento estrondoso na produção de pirarucus que passou de 03 t em mantas frescas 5 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM para 574 t de peixes inteiros eviscerados. Isto apenas nas RDS Mamirauá, Amanã e UC’s adjacentes, o que traz um grave problema para os pescadores, pois à medida que aumenta a oferta, é mais difícil escoar a produção e ainda mais garantir um melhor preço. Há ainda demanda para extensão do manejo da espécie para demais setores das reservas Mamirauá e Amanã. Ao mesmo tempo, o Ministério da Agricultura tem aumentado a cobrança quanto à necessidade de adequação à legislação sanitária para comercialização de pescado, todavia, sendo respeitadas as particularidades das pescarias de pirarucu. A orientação hoje fornecida pelo Ministério, é que apenas peixes inteiros eviscerados tenham autorização para saída das reservas. Isto, porém, restringe compradores e promove menor concorrência de preços oferecidos. Conseqüentemente, restringe as chances do pescador incrementar o rendimento final pela venda de pirarucu. Neste cenário, será de fundamental importância para as associações de pescadores trabalharem novas estratégias de comercialização e buscar incessantemente a melhoria da qualidade do pescado, pois num mercado competitivo, a demanda é maior por produtos de melhor qualidade. Por isso, adequações sanitárias no beneficiamento do pirarucu e novas formas de armazenamento, além de reduzirem a perda de qualidade, abrirá a possibilidade de aumento nos ganhos diretos aos pescadores. Os pescadores compreendem a necessidade de atender às normas sanitárias da legislação, bem como é de conhecimento a existência de um mercado consumidor cada vez mais exigente. No entanto, nestes casos, quaisquer transformações ocorrem de modo gradativo, haja vista que tais formas de pesca e comércio fazem parte da cultura local. Para que as mudanças e adequações à legislação sanitária realmente aconteçam, ou se aproximem das condições ideais, deve haver um trabalho intenso de acompanhamento e orientação aos pescadores. 6 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM II. OBJETIVOS 1. GERAL: Descrever as atuais condições sanitárias do pirarucu A. gigas manejado nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, nas etapas de captura, beneficiamento preliminar, armazenamento e transporte, até sua comercialização. 2. ESPECÍFICOS: Acompanhar e descrever as diferentes etapas da pesca do pirarucu manejado na RDSM e RDSA. Identificar formas de minimizar os riscos de contaminação da carne de pirarucu. Propor medidas que gerem melhorias na qualidade final da carne de pirarucu a ser comercializada pelos pescadores. Orientar pescadores quanto às medidas propostas e acompanhar início de implementação destas. 7 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM III. METODOLOGIA 1. ÁREA DE ESTUDO A área de estudo compreendeu a Reserva de Desenvolvimento sustentável Mamirauá, e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no Estado do Amazonas, Brasil (Fig. 1). Figura 1: Mapa de localização das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, no Estado do Amazonas, Brasil. 8 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM 2. COLETADE DADOS Realizou-se, em novembro de 2006, outubro e novembro de 2007, acompanhamentos da pesca manejada do pirarucu junto aos pescadores dos setores Jarauá, Tijuaca, e Maraã (RDSM) e setor Coraci (RDSA) (Fig. 2 e 3). Visualizou-se todas as fases da pescaria, desde a aquisição do gelo e gasolina com os compradores do pescado (quando era o caso), deslocamento até as áreas de pesca, captura, beneficiamento preliminar, transporte até os barcos dos compradores, monitoramento e estocagem nas geleiras destes barcos. As observações se deram principalmente sobre os aspectos relacionados à busca de melhorias das condições sanitárias do pirarucu capturado nas RDS’s Mamirauá e Amanã: beneficiamento preliminar, o manuseio do pescado, as práticas de higiene, a preocupação com a qualidade do pescado, entre outros aspectos, além de definir os pontos positivos que poderão ser aproveitados/aperfeiçoados e os negativos que deverão ser melhorados/eliminados. Para isso foram realizadas diversas entrevistas não estruturadas com pescadores, compradores, técnicos e outros envolvidos no processo. As informações foram anotadas em caderno de campo, além de serem feitos registros fotográficos e em vídeos das etapas acompanhadas. Foram realizadas também várias consultas ao banco de dados do Programa de Manejo de Pesca do IDSM. 3. OFICINAS DE HIGIENE E QUALIDADE DO PESCADO Durante o período do estudo foram realizadas 17 oficinas sobre qualidade do pescado em todos os setores que manejam pirarucu, beneficiando diretamente 172 pescadores. Inicialmente foram realizadas por setor, mas buscando uma maior efetividade e atingir o máximo de pescadores, posteriormente, foram realizadas por comunidade, à exceção da colônia Z-32, 9 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM que é composta principalmente por pescadores citadinos e por isso as oficinas ocorreram apenas na sede do município. Em virtude de as oficinas serem um canal de comunicação direto com os pescadores, aproveitou-se também para coletar diversas outras informações relacionadas à qualidade do pescado, assim como analisar a percepção deles a respeito deste assunto. 4. ATIVIDADES COMPLEMENTARES No sistema de manejo integrado dos recursos pesqueiros, a questão da qualidade do pescado é apenas um dos pontos a serem trabalhados, destacando, é claro, a sua grande importância. Dessa forma, nos períodos em que não estavam acontecendo as pescarias do pirarucu e as oficinas mencionadas acima, foram desenvolvidas outras atividades relacionadas ao manejo de pesca, entre as quais destacam-se a devolução aos pescadores dos dados de monitoramento da pesca do pirarucu e discussão sobre levantamento de estoque e cota de pirarucus para a próxima pescaria; reuniões de discussão de acordos de pesca; campanha de legalização de documentação dos pescadores; cursos sobre levantamento dos estoques de pirarucus; oficinas de monitoramento da produção de pirarucus, de gerenciamento de associações e formação de lideranças comunitárias. Além da assessoria nas atividades de pesca relacionadas a outras espécies que não o pirarucu. 10 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Figura 2: Mapa da RDSM mostrando os setores políticos assessorados pelo IDSM onde, até 2007, ocorreram pescarias manejadas do pirarucu. 11 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Figura 3: Mapa da RDSA mostrando o setor político assessorado pelo IDSM onde, até 2007, ocorreram pescarias manejadas do pirarucu. 12 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM IV. RESULTADOS 1. AQUISIÇÃO DE INSUMOS No Setor Jarauá cada pescador ou equipe de pescadores adquirem gelo e gasolina dos compradores. O gelo é o único insumo que não tem custo aparente, pois o comprador não cobra diretamente por ele. Além disso, os pescadores recebem um adiantamento em dinheiro de um comprador tradicional, Frigorífico Pescador, para conserto e/ou aquisição de apetrechos de pesca e compra de rancho (mantimentos, principalmente itens alimentícios) para suprir as necessidades tanto durante as incursões pesqueiras como da sua família que fica em casa. Pode ainda fornecer os materiais de pesca já confeccionados, além de motores-rabeta, entre outros. Durante outras épocas, que não o período de pesca do pirarucu, especialmente na cheia dos rios em que os recursos pesqueiros estão dispersos e as áreas para as roças estão alagadas, este comprador, o denominado patrão, além de fornecer os materiais supracitados, também empresta dinheiro aos pescadores, o qual é utilizado para saldar as dívidas do dia-a-dia. Todas essas dívidas adquiridas são saldadas em parte ou no total com a produção de pirarucus. Apesar de não haver cobrança real de juros, quando da negociação de preços de venda da produção, este sempre é favorável ao comprador. Com os demais compradores ocorre apenas a negociação de gelo e gasolina, o que possibilita aos pescadores venderem a produção por um preço mais elevado. No setor Tijuaca, as associações recebem apenas um adiantamento de parte do pagamento da produção, o qual é utilizado para conserto e/ou aquisição de apetrechos de pesca, compra de rancho e gasolina. No setor Coraci também há um adiantamento de parte do pagamento da produção, no entanto, este dinheiro permanece na conta da associação até receberem o restante do pagamento, quando é feita a divisão entre os sócios. Os insumos são custeados pelos próprios sócios. 13 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Em Maraã, a colônia de pescadores recebe um adiantamento do comprador, o qual é repassado na forma de vales aos sócios, quando solicitado. Estes usam para os mais diversos fins, inclusive para saldar dívidas em lojas. Poucos são os pescadores que não solicitam adiantamento. São adotadas, ainda, algumas estratégias como usar uma reserva em dinheiro para aquisição de material de pesca em grande quantidade para reduzir os custos para os sócios, os quais pagam com parte de sua produção. 2. LOCAL DE PESCA A pesca do pirarucu ocorre no período de seca dos rios quando a água sai da floresta e se formam lagos isolados ou semi-isolados. Dessa forma, para chegar aos corpos d’água isolados, é necessário passar pelos varadouros (trilhas de acesso aos lagos no meio da floresta), carregando canoas, apetrechos de pesca e tudo o mais que é necessário para realizar a pesca dos pirarucus. Além disso, depois de capturados, estes também são transportados pelos varadouros até o curso principal do rio (Fig. 4), onde são armazenados em gelo (seja logo no barco do comprador (Fig. 5) ou nas caixas dos próprios pescadores) ou de onde são transportados até o local onde se procederá a estocagem nas geleiras dos barcos. O transporte pelos varadouros pode ser determinante na redução da qualidade do pescado, não só pela contaminação e hematomas provocados nos peixes, mas também pelo tempo até os peixes serem acondicionados em gelo, pois quando não há uma equipe apenas para o transporte,os pescadores esperam haver uma quantidade que justifique a paralisação da pesca para se dedicarem apenas ao transporte. Já nas áreas de pesca em que há canais de acesso, a atividade é menos desgastante, pois não é necessário carregar os pirarucus nas costas. Os peixes são puxados às canoas e aí mesmo ficam para posterior transporte (Fig. 6 e 7). Além disso, o armazenamento ocorre em menos tempo. As figuras 14 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM 8 e 9 mostram a evidente diferença relacionada ao aspecto de higiene entre peixes que foram transportados por varadouros e aqueles transportados apenas por via aquática. Figuras 4 e 5: Transporte de pirarucu pelo varadouro; e entrega ao comprador. Figuras 6 e 7: Acondicionamento dos pirarucus dentro da canoa, com cobertura de capim para proteger da luz solar. No ano de 2007, no setor Jarauá, 66% do pescado provieram de locais que permitem acesso às embarcações. No Tijuaca, 95% passaram por varadouros. A única comunidade deste setor que tem área de pesca com 15 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM acesso por água é o São Francisco, mas esta também teve 75% dos pirarucus provenientes de lagos com varadouros. No Coraci, 100% da produção foram obtidos em lagos com acesso terrestre. Em Maraã, 88% do pescado foram transportados apenas por via aquática. Isto mostra que dependentes apenas desses fatores, Maraã e Jarauá produziriam pescado de melhor qualidade, mas não é o que ocorre sempre. Outros fatores também podem influenciar na qualidade do pescado, mas quase sempre estão relacionados à dificuldade de acesso às áreas de pesca. Em 2006, por exemplo, Jarauá foi o setor mais problemático em função, principalmente, da grande distância das áreas de pesca e da falta de locais adequados para armazenamento. Este problema, no entanto, não foi observado em 2007, especialmente por causa da construção de caixas isotérmicas para estocagem. Mesmo assim, os setores com acesso aquaviário aos locais de pesca têm maior possibilidade de produzir um pescado de elevada qualidade. Dessa forma, a melhoria da qualidade do pescado passa necessariamente pela melhoria das condições de trabalho dos pescadores. Mudar a estrutura da várzea não é possível, mas deve-se trabalhar em cada local de acordo com suas particularidades, utilizando a ciência desenvolvida pelo homem para diminuir o esforço necessário ao trabalho. Figuras 8 e 9: Pirarucus transportados apenas por via aquática; e pirarucus transportados por varadouro. 16 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM 3. O MÉTODO DE CAPTURA Uma das artes de pesca utilizadas é a rede de emalhar sem chumbadas, com malhas que deverão ter, no mínimo, 30 cm entre ângulos opostos. Alguns pescadores utilizam redes com malhas superiores, já que para eles não é interessante capturar peixes pequenos, pois suas cotas são em número de indivíduos, ou seja, se utilizarem redes com malhas maiores, capturarão peixes maiores, com maior biomassa e, conseqüentemente terão maior lucro. Apesar deste apetrecho ser utilizado como rede de espera, pelo fato do pirarucu ser um peixe que não se desloca muito, não costuma se emalhar facilmente nas redes de pesca. Estas são mais eficientes para delimitar áreas dentro do rio, impedindo que os peixes se desloquem para outros locais, quando se sentem ameaçados (Fig. 10). Reduzindo o espaço disponível, aumenta a eficiência da haste, um outro método de captura e mais tradicional, que consiste de uma vara de madeira com arpão na ponta ligado a uma corda chamada arpoeira (Fig. 11 e 12). Mas o uso das hastes nessa situação também aumenta a eficiência das malhadeiras, pois quando o pescador erra a arpoada, o peixe se assusta e ao tentar fugir, acaba por se emalhar nas redes. A haste tem a desvantagem de perfurar o peixe, abrindo uma porta de entrada para atuação de microrganismos que decompõem o pescado, além de provocar um maior estresse ao peixe durante a captura, pois por se tratar de um peixe de grandes dimensões, puxá-lo imediatamente a bordo da canoa é demasiado perigoso. Dessa forma, os pescadores esperam o pirarucu cansar para reduzir os riscos, desferindo ainda inúmeras pancadas com um porrete de madeira na sua cabeça, provocando hematomas que também aceleram a decomposição do pescado. É algo difícil de ser mudado, pois não é seguro manusear os pirarucus ainda vivos. Em algumas pisciculturas que trabalham com reprodução desta espécie, para manusearem os reprodutores, adotou-se o uso um capuz escuro, ao qual chamam de camisinha e colocam na cabeça dos peixes. Dessa forma, os peixes ficam sem ver ao redor e tendem a ficar 17 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM imóveis. Isto poderia ser testado durante as pescarias, com o intuito de causar menos estresse aos pirarucus. Todo esse processo de captura faz com que os pirarucus tenham um grande gasto de energia, o que influencia diretamente no tempo em que ocorrerá o rigor mortis, ou seja, o enrijecimento do músculo do peixe, fator decisivo na qualidade do pescado. Quanto mais energia é conservada, maior é o tempo para atingir o rigor pleno, depois do qual o processo de decomposição é bem mais acelerado, pois enquanto o peixe está nesse processo há ação decompositora apenas das enzimas intrínsecas, mas quando o peixe amolece, inicia a decomposição por enzimas extrínsecas de origem bacteriana (OGAWA & OGAWA 1999). Apesar de, aparentemente, a haste ser o apetrecho mais agravante, muitos pescadores relatam que os pirarucus capturados com redes de emalhar tendem a perder mais rápido sua qualidade. Isto pode ser resultado dos hematomas provocados pelas malhas, além do peixe despender também grande quantidade de energia ao buscar a fuga e tentar respirar. Mas há relatos que isso só ocorre se houver demora em retirar o peixe das malhadeiras. Pesquisas sobre a influência dos apetrechos de pesca sobre a qualidade do pescado devem ser desenvolvidas com análises mais acuradas. Figura 10: Grupo de pescadores delimitando áreas de pesca com malhadeiras e prontos para arpoar os pirarucus. 18 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Figuras 11 e 12: Pescador atento à boiada do pirarucu; e detalhe do arpão usado durante as pescarias. 4. BENEFICIAMENTO PRELIMINAR, ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE DO PESCADO Apenas no setor Jarauá utiliza-se gelo durante as pescarias. Este, após ser retirado das geleiras do barco do comprador, é colocado em caixas isotérmicas de isopor com capacidade entre 100 e 170 litros e levados até a área de pesca (Fig. 13,14 e 15). Após a captura, os peixes ainda ficam por um tempo variável dentro da canoa ou nas margens dos corpos d’água até serem eviscerados, e também depois de eviscerados. Figuras 13 e 14: Pescador adquirindo gelo do comprador de pescado. 19Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Figura 15: Pescadores se deslocando até as áreas de pesca. Pouquíssimos são os peixes não eviscerados que chegam à base flutuante que fica em frente a uma comunidade do Jarauá, onde ocorre o monitoramento dos peixes (biometria e dados de esforço) e armazenamento nos barcos dos compradores (Fig. 16, 17 e 18). Isto é um ponto positivo, pois as vísceras e guelras são importantes focos de contaminação interna por possuir microrganismos que, quando da morte do peixe, atuam na sua deterioração (HUSS, 1998). Além disso, empiricamente, supunha-se que a água do rio à montante da comunidade, onde é realizada a pesca, tenha melhor qualidade que a de jusante, onde fica localizado o flutuante de comercialização. Ressalte-se ainda que não existe outro povoado à montante desta comunidade, e que há várias casas flutuantes na sua frente e à montante do flutuante de comercialização, ou seja, passam por este os efluentes produzidos na comunidade, incluindo os das habitações flutuantes. Surge, então, um ponto negativo, pois mesmo os peixes que eram eviscerados nas áreas de pesca, quando chegavam ao flutuante de 20 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM comercialização, recebiam nova lavagem com água do rio, supostamente de pior qualidade. Sugere-se, então, deslocar este flutuante para montante da comunidade. Mas outro problema poderia surgir: a água utilizada para lavar os peixes iria passar em frente à comunidade, de onde é retirada para consumo humano. Alguns pescadores já sugeriram até levá-lo para próximo das áreas de pesca, para reduzir os custos com deslocamento, o que também influenciaria positivamente na qualidade do pescado, pois os peixes poderiam ser levados com maior freqüência até os compradores, passando menor tempo até serem acondicionados nas geleiras dos barcos. Mas há resistência quanto a isso, pois é mais cômodo estar no porto da comunidade, para evitar que os tripulantes dos barcos compradores pesquem e também porque em certos períodos a pequena profundidade do rio não permite acesso a embarcações com maior calado. Apesar de em pescarias industriais como a da piramutaba Brachyplatystoma vaillantii (Valenciennes, 1840) utilizarem também água do rio, é necessário realizar uma análise físico-química e microbiológica da água dos rios e lagos da RDSM e RDSA para saber até que ponto está influenciando na qualidade dos peixes. Além de pensar em sistemas de captação de água da chuva, visto que o ar não demonstra ser poluído e pelo elevado índice pluviométrico anual da região: 2.850 mm (AYRES, 2006). Figuras 16 e 17: Monitoramento dos dados de comprimento total e biomassa. 21 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Figura 18: Estocagem dos peixes na geleira dos barcos dos compradores. O acondicionamento inadequado dos peixes apresenta-se como um dos pontos críticos na cadeia produtiva da pesca do pirarucu. Não só pela difícil obtenção de gelo, onde são conservados, mas também porque os peixes são comercializados inteiros e por isso não cabem nas caixas isotérmicas de isopor, as quais são as mais acessíveis economicamente e utilizadas pelos pescadores. Em 2006, uma das alternativas observadas no setor Jarauá foi a utilização de lonas plásticas (Fig. 19). Estas são estiradas no fundo da canoa, onde são colocados os pirarucus. Logo após, é adicionado gelo na cavidade visceral e sobre os peixes, que depois são cobertos com a outra parte da lona. No entanto, pelo fato de a lona atuar precariamente como um isolante térmico, 22 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM o gelo derrete rapidamente. Sendo necessário adicionar mais gelo periodicamente. Esse processo consome elevada quantidade de gelo em um reduzido período de tempo e não é muito eficiente na conservação do pescado. Isso é agravado pelo fato de que, para economizar gelo, os pescadores estendem ao máximo o acondicionamento dos pirarucus no gelo e também a reposição deste. Além disso, quando o gelo estava quase para acabar, não importava se tinham capturado 01 ou 10 pirarucus, era necessário se deslocar até a base flutuante onde fica o barco do comprador, pois do contrário o peixe se tornaria impróprio para consumo. Dependendo do local de pesca, poderia ser uma viagem de até 4 ou 5h, o que reduz ainda mais a qualidade do pescado e aumenta os custos de produção, pois são necessárias muitas incursões de pesca para capturar toda a cota. Já em 2007, apesar de ainda utilizarem lonas plásticas, adotou-se o uso de caixas isotérmicas feitas de madeira e isopor (Fig. 20). Estas, além de melhorarem significativamente a qualidade do pescado produzido, também reduziram os custos de produção, já que acondicionam, em média, 20 pirarucus e são muito mais eficientes que as lonas na conservação do gelo, o que possibilitava aos pescadores passar mais dias nas áreas de pesca e levar a produção ao comprador apenas quando a caixa estava na sua capacidade máxima. As figuras 21 e 22 mostram a evidente diferença das condições de conservação entre lonas e as caixas quando da chagada no barco do comprador, principalmente no aspecto relacionado à quantidade de gelo final. Nota-se que na caixa os peixes estão bem melhor conservados e com maior quantidade de gelo. Esforços deverão ser despendidos na busca de uma alternativa, como um isolante térmico flexível para armazenar os pirarucus na beira dos lagos e fazer o transporte pelos varadouros. Neste último caso também reduziria o grau de contaminação do pescado. 23 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Figuras 19 e 20: Acondicionamento dos pirarucus em lonas plásticas; e caixas isotérmicas de madeira e isopor. Figura 21: Diferença no acondicionamento dos pirarucus entre lonas plásticas; e caixas isotérmicas ao final da incursão de pesca. Nos setores Coraci e Tijuaca, os pescadores evisceram a maioria dos pirarucus nas áreas de pesca, no entanto, não utilizam gelo, permanecendo algumas horas sem resfriamento, o que compromete muito mais a qualidade do pescado. Nestes setores, as associações não possuem bases flutuantes e o monitoramento e a evisceração, quando é o caso, são realizados dentro do barco do comprador ou mesmo no chão. É importante frisar que apesar da evisceração ser altamente recomendado no caso do pirarucu, quando as áreas de pesca têm acesso por varadouros, não seria tão recomendado, visto o 24 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM elevado grau de contaminação, em especial da cavidade víscera, e a grande deficiência na lavagem dos peixes, que é feita com água do rio (Fig. 22, 23, 24 e 25). No entanto, os peixes eviscerados pesam menos, o que torna um pouco menos difícil o seu transporte pelos varadouros. Figuras 22 e 23: Pirarucus eviscerado e não eviscerado na área de pesca, transportados por varadouro. Figuras 24 e 25: Pirarucu sendo eviscerado sobre o chão e lavado antes de ir paraa geleira do barco. Em Maraã, apesar de não ser utilizado gelo para armazenamento dos peixes durante as pescarias, apesar de alguma resistência, os pescadores, ao abaterem o pirarucu, devem levá-lo à base flutuante de beneficiamento e monitoramento em até 3 horas (Fig. 26). Neste local existem estruturas 25 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM semelhantes a cochos, onde os pirarucus só então são eviscerados (Fig. 27). Aqueles certamente foram uma grande inovação, pois facilitam o trabalho dos tratadores que por terem melhores condições de trabalho, principalmente em questões ergonômicas, podem fazer um melhor serviço de limpeza nos peixes. No entanto, por ser feito de madeira, é um grande foco de contaminação do pescado, principalmente porque não é feita uma limpeza adequada após o trabalho. O ideal seria se fossem feitos com aço inox. Figuras 26 e 27: Base flutuante e evisceração dos peixes na mesma base. Em Maraã o método de retirada do bofe (bexiga natatória modificada para respiração) é o mais eficiente. É utilizado, para retirar a parte que fica entre as vértebras, uma pequena espátula de madeira ao invés dos próprios dedos (Fig. 28 e 29), evitando cortes nestes, além de ser complementada com uma lavagem em que é utilizada uma escova de aço, sendo eliminados os restos de vísceras de maior dificuldade de remoção (Fig. 30). Comparativamente aos pirarucus de outros setores, os de Maraã são os que apresentam menos impurezas na cavidade visceral (Fig. 31, 32 e 33). Isso também porque existe uma equipe de oito tratadores dedicada apenas à evisceração e como trabalham em duplas, possibilita que haja apenas quatro padrões mais elevados de qualidade de evisceração, enquanto que nos outros setores aqueles que pescam são os mesmos que evisceram, ou seja, são muitos mais padrões de qualidade e com grande oscilação. 26 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Os tratadores de Maraã, com algumas exceções, fazem uso de botas brancas e têm um uniforme branco de trabalho, apesar de não usarem, o que não é um problema, pois o mais importante não é a cor da roupa ou das botas, mas as ações de cada um na busca da qualidade. Um exemplo disso é a negligência com relação à limpeza dos materiais utilizados na evisceração do pescado. Outro ponto negativo foi que, como nos demais setores, também fazem uso da água do rio, com o agravante de que captam água à jusante do flutuante, a mesma água onde estão sendo despejados os seus efluentes. Figuras 28 e 29: Retirada do bofe com auxílio de espátula de madeira; e com os próprios dedos. Figuras 30 e 31: Espátula e escova de aço; aspecto da cavidade ao final da evisceração em Maraã. 27 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Figuras 32 e 33: Cavidade dos peixes após evisceração no Coraci; e Jarauá. A permanência do bofe ou de seus restos constitui-se numa grande fonte de contaminação, visto que possui elevada quantidade de sangue (Fig. 34 e 35), que serve de nutrientes para os diversos microrganismos. Estes, que em grande parte fazem parte da flora microbiana natural dos peixes, após a morte destes, constituem-se, ao lado da ação enzimática e dos microrganismos extrínsecos, nos principais fatores de deterioração do pescado (OGAWA & OGAWA, 1999). Figuras 34 e 35: Bexiga natatória modificada para respiração; sangue contido em um fragmento. 28 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Os pescadores sabem da importância da retirada deste órgão e dos demais, no entanto, ainda há deficiência no modo como a fazem. Dessa forma, foi feita, nas oficinas de higiene e qualidade do pescado, a divulgação dos métodos mais eficientes das áreas de pesca manejada, ou seja, mostrando os pontos positivos de cada setor que podem e devem ser replicados/aperfeiçoados, e os negativos que precisam ser eliminados/mitigados e não replicados. Isto não só no processo de evisceração, mas também com relação a todo o processo de pesca e às estruturas utilizadas para a realização do trabalho. Só para exemplificar, pode-se citar as rampas feitas na base flutuante de Maraã para puxar os pirarucus das canoas (Fig. 36), que possibilitam ao pescador fazer menos esforço comparado ao trabalho que tem os pescadores do Jarauá ao realizar o mesmo processo em sua base flutuante onde não há rampas para isso, o que também prejudica a qualidade do pescado, pois neste caso, ao ser puxado o pirarucu sofre hematomas quando é jogado contra as estruturas do flutuante (Fig. 37). Figuras 36 e 37: Métodos utilizados para puxar o peixe à base flutuante de Maraã; e no Jarauá. Um dos resultados concretos das oficinas são a reforma e construção de novas estruturas na base flutuante do Jarauá (Fig. 38 e 39), visando à melhoria das qualidades do pescado e de trabalho dos pescadores e monitores da produção. 29 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM A utilização de fotos e vídeos das atividades de pesca durante as capacitações (Fig. 40 e 41) causou uma profunda reflexão nos pescadores sobre o modo como estão cuidando da qualidade do pescado e os esforços desnecessários que fazem durante a pesca manejada. Um exemplo disso evidencia-se quando, no setor Coraci, eram necessárias até seis pescadores para colocar, através de uma rampa, os pirarucus no barco (Fig. 42), enquanto que em Maraã bastavam dois. Simplesmente porque neste último setor a rampa era formada por uma tábua de madeira principal e mais duas que serviam de anteparo (Fig. 43). Figuras 38 e 39: Base flutuante do Jarauá em 2007; e em 2008, com reformas ainda não concluídas. Figuras 40 e 41: Pescadores assistindo vídeos das suas atividades de pesca, detalhe de uma das fotos utilizadas por meio de televisor e dvd player. 30 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Figuras 42 e 43: Rampas utilizadas para colocar os pirarucus nos barcos no Coraci; e em Maraã. Deve-se ressaltar que a cota de cada setor influencia também na qualidade, pois onde há maior número de peixes, o lucro total é maior e, conseqüentemente, pode-se investir em estruturas flutuantes de beneficiamento do pescado. Mas nas demais áreas é possível investir em estruturas de armazenamento, como caixas isotérmicas de fibra de vidro e polipropileno, adequadas às pequenas embarcações usadas pelos pescadores. Isso possibilitará que estas fiquem o mais próximo possível das áreas de pesca e também para que os pescadores possam transportar o pescado até os centros urbanos, vendendo diretamente ao consumidor. Para isso, as associações poderiam fazer uso de financiamentos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar destinados à pesca, o PRONAF-Pesca. 5. A PREOCUPAÇÃO DOS PESCADORESCOM A QUALIDADE DO PESCADO Ao se analisar essa questão, é necessário considerar todas as peculiaridades que envolvem a pesca manejada do pirarucu: a dificuldade da obtenção de gelo, a distância da área de pesca, o acesso aos lagos, o tempo de pesca, a dificuldade de armazenamento do pescado, entre outras. Mas de 31 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM um modo geral, os pescadores sabem da necessidade de melhorar a qualidade do pescado e tomam vários cuidados para isso, no entanto, como a pesca do pirarucu é uma atividade extremamente desgastante, se preocupam mais em se livrar do peixe do que em cuidar dele. Por isso, certos cuidados passam despercebidos, mesmo que sejam coisas simples. E o fato do pirarucu ser tão grande causa a falsa impressão de que ele agüenta muitos maus-tratos. Um exemplo é quando, depois de carregarem pelos varadouros os pirarucus que pesam, em média 50 kg, os pescadores, devido ao grande cansaço quando chegam no destino final, jogam os pirarucus que carregam nos ombros diretamente no chão, causando hematomas e deixando-os em contato direto com o substrato. Neste caso bastava um melhor planejamento em que houvesse alguém para ajudar o outro pescador a colocar o pirarucu sobre uma lona, sem machucá-lo ou contaminá-lo. Nas oficinas foram feitas diversas observações necessárias a minimizar estes problemas. Quase sempre os pescadores reconhecem as deficiências e sabem que medidas tomar, no entanto, durante a pesca, pouco atentam para isso. Isto não surpreende, pois o cansaço não os permite pensar sobre como estão agindo e também são muitos anos exercendo esta atividade do mesmo modo. Toda mudança relacionada a hábitos do cotidiano, em especial a questões de higiene e qualidade dos alimentos, mesmo quando não há resistência por parte das pessoas, ocorre de maneira gradativa, pois é algo que deve ser praticado no dia-a-dia e ter sempre alguém para lembrá-los disso. Por isso escolheu-se trabalhar com os pescadores as questões básicas da qualidade do pescado, dando embasamento a eles para que reflitam e comecem a se educarem mutuamente. E que também planejem melhor as ações antes de iniciar a pesca, quando ainda não estão desgastados com o trabalho da pesca do pirarucu. Numa nova etapa, deve-se trabalhar elaboração de subprodutos como pescado salgado e/ou defumado não apenas com a 32 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM finalidade de comercialização destes produtos, mas principalmente para mostrá-los que estes só poderão ter boa qualidade se a matéria-prima também a tiver. O trabalho realizado pressupõe que a melhoria das condições de trabalho possibilitará aos pescadores pensarem mais na qualidade do pescado. Fazer com que eles adotem o pensamento de que aquele peixe que estão carregando no varadouro ou levando ao flutuante é o fruto de muito trabalho deles. E, depois de um dia de “muito sol”, varadouro, “brigando” com o pirarucu, remando e de todo o trabalho que tiveram ao longo do ano para ter aquele recurso, será que não vale a pena fazer um pouco mais de esforço, quando falta apenas entregar o peixe ao comprador? Um fato que mostra que ainda não estão neste nível é quando já estão no flutuante e ao puxar o peixe para cima jogam-no no assoalho como se fosse um pedaço de madeira (Fig. 44). Algo aparentemente simples, mas que precisa de um trabalho intenso dos extensionistas e dos próprios pescadores que devem sempre estar se policiando quanto a isso. Esse objetivo será atingindo quando o pescador não mais jogar os peixes no chão e ao mesmo tempo não dizer mais a seguinte frase: “Lugar de peso é no chão”. Figura 44: Momento em que o pescador joga o peixe contra o assoalho. 33 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM 6. A PREOCUPAÇÃO DOS COMPRADORES COM A QUALIDADE DO PESCADO Outro fator decisivo na cadeia de comercialização é o cuidado que os compradores têm em obter e vender um pescado de elevada qualidade. Geralmente, quando o peixe estraga, colocam a culpa nos pescadores. No entanto, esta não é uma justificativa válida, pois se o pescador entregar um peixe estragado, cabe ao comprador rejeitar. Se ele aceita, presume-se que o pescado foi entregue em condições adequadas de conservação. Não é culpa dos pescadores se o comprador, seu contratado ou seu empregado não têm competência ou são negligentes na hora de realizar uma análise sensorial que avalie a qualidade do pescado. Mesmo assim, nas oficinas foram explicados os fatores que influenciam na deterioração do pescado e as medidas necessárias para entregar ao comprador um pescado de boa qualidade. Fez-se uma comparação com a banana que é entregue ainda verde e não amarela para o comprador. Ela estar amarela não significa que estragou, mas estragará bem mais rápido se não for consumida. Mesma coisa para o pirarucu, pois se entregar um peixe que já está finalizando o processo de rigor mortis, o comprador irá aceitar, pois o peixe ainda não está estragado. No entanto, estragará bem mais rápido do que um peixe que foi vendido antes mesmo de enrijecer. Um exemplo de busca de qualidade é o Frigorífico Pescador, pois seus barcos estão inclusos dentro de um sistema de controle de qualidade dinâmico que funciona dentro da empresa de pesca. Seus barcos possuem geleiras revestidas de fibra e prezam bastante pela limpeza de seus barcos, qualidade e quantidade de gelo a ser utilizada quando da estocagem dos pirarucus. Além disso, exigem dos pescadores que não capturem peixes com arpão. A questão do resfriamento é fator de suma importância, visto que inibe a decomposição enzimática e bacteriana. Além do que o pirarucu é um peixe “ruim de gelar”, pois sua grande espessura dificulta o resfriamento interno de 34 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM sua carne, em virtude da dificuldade de difusão do calor interno para as camadas externas. Muitos compradores, contudo, para economizar espaço e gelo, não colocam quantidade adequada à boa conservação do pescado. Essa economia é ilusória, pois 2 kg de gelo são bem mais baratos do que 1 kg de pirarucu. Em 2006, a empresa Friller que, depois de receber a produção, resolveu pagar menos pelo kg do pirarucu porque parte da produção do Jarauá estava com a qualidade comprometida. Mas não levou em consideração que contratou um barco com a geleira de madeira em decomposição, o que tornava o gelo muito sujo, além de pessoas negligentes na análise da qualidade do pescado que era entregue pelos pescadores. No entanto, os pescadores também não haviam cumprido com sua parte relacionada ao tempo em que a produção seria entregue. Algo que também merece destaque em relação aos cuidados que os compradores têm com a qualidade do pescado foi o fato de, na véspera da feira do pirarucu de 2006, terem beneficiado os pirarucus, lavando-os com a água do próprio lago de Tefé, para onde escoa lixo e efluentes produzidos na cidade. Uma água de baixíssima qualidade, principalmente por causa do local onde foram beneficiados os peixes: dentro do barco atracado no entreposto de pescado, no qual os cuidados com a sanidade são mínimos, atrás da feira municipal de Tefé, para onde escorre vários tipos de poluentes e contaminantes. 7. ALGUNS ASPECTOSDA LEGISLAÇÃO SANITÁRIA Por se tratar de uma espécie sobrepescada, com legislação própria, para realizar o manejo de pesca do pirarucu os pescadores precisam atender a muitas exigências, nas quais estão incluídas as questões sanitárias. No entanto, os entraves são muito maiores para aqueles que trabalham na legalidade. 35 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Os pescadores devem, de fato, estar em busca, constantemente, da melhoria da qualidade, todavia as normas deveriam valer para todos. Um exemplo são os pirarucus provenientes da pesca ilegal, que, pela facilidade de transporte, geralmente são vendidas em mantas salgadas sob condições extremas de contaminação, sem nenhum critério de qualidade. Em contrapartida, os pescadores das reservas estão autorizados a vender/transportar os pirarucus apenas inteiros eviscerados. Isso dificulta o transporte e venda nos centros urbanos próximos diretamente ao consumidor. Além disso, muitos intermediários que compram pirarucus nas reservas, vendem-nos ao consumidor, seja em Tefé ou em Manaus, em condições muito preocupantes de sanidade, sem haver cobranças ou fiscalização das autoridades competentes. Não se deve abrir mão do controle de qualidade, no entanto, é importante que isso seja exigido também dos outros elos da cadeia. Além disso, alguma contrapartida deve ser dada nesse aspecto aos pescadores que promovem a conservação dos recursos naturais. Um exemplo é poder vender os pirarucus eviscerados, algo não permitido em condições que não atendam aos critérios do RIISPOA. Mas também não é necessário permitir que o pirarucu manejado seja vendido em mantas. Basta investir em estruturas adequadas de estocagem e transporte. V. PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS Os resultados parciais do trabalho foram apresentados oralmente e constam nos anais do V Seminário Anual de Pesquisas do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que foi realizado entre os dias 06 e 08 de junho de 2007. 36 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM VI. CONCLUSÃO As atuais condições sanitárias do pirarucu produzido nas RDS’s Mamirauá e Amanã ainda não satisfazem e, provavelmente, como quase todos os que atuam na atividade de pesca na Amazônia, não satisfarão a todas as exigências da legislação brasileira, no entanto, muito tem melhorado no decorrer dos anos de pesca manejada. Esse não enquadramento não implica em perigo eminente à saúde dos consumidores, mas, principalmente, em perdas de credibilidade e econômicas. Devido a capacitações anteriores e no decorrer deste trabalho, à experiência de anos de pesca manejada e comercialização, os pescadores das reservas têm um bom nível de preocupação relacionado à busca da qualidade do pescado. Todavia, aspectos simples passam despercebidos, em especial aqueles relacionados às condições de trabalho. Estas, por sinal, são um dos principais entraves neste processo. Por isso, é extremamente necessário que outro profissional especializado no assunto continue a trabalhar esta questão com os pescadores, capacitando-os e acompanhando-os também, mas não apenas nas questões intrínsecas à tecnologia do pescado. Mas só isso não mudará a situação atual, pois os pescadores é que são os grandes agentes de transformação. E, de posse dos conhecimentos necessários, irão se destacar as áreas que melhor se organizarem em busca do controle de qualidade da produção. 37 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AYRES, J. M. As matas de várzeas do Mamirauá. Estudos do Mamirauá. V.1. Sociedade Civil Mamirauá. 3ª ed. 124p. Belém, 2006. HOWARD, W. J., AYRES J.M., LIMA-AYRES, D., E ARMSTRONG, G. (1995). Mamirauá: a case study of biodiversity conservation involving local people. Common Wealth Forestry Review, 74(1): 76-79. HUSS, H. H. El pescado fresco: su calidad y cambios de su calidad. FAO. Documento tecnico de pesca 348. 109 p. Roma, 1998. IBAMA. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 1, DE 1º DE JUNHO DE 2005. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Manaus, 2005. MMA. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 24, DE 04 DE JULHO DE 2005. Ministério do Meio Ambiente. Brasília, 2005. OGAWA, M. & OGAWA, N. B. O. Alterações do pescado pós-morte. In: Manual de Pesca: Ciência e Tecnologia do Pescado. Livraria Varela. São Paulo/SP, 1999. pág. 111-137. PMP. Relatório Técnico do manejo comunitário de pirarucu (Arapaima gigas) nos setores Jarauá, Tijuaca, e Maraã (Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá), e setor Coraci (Reserva de Desenvolvimento SustentávelAmanã) no ano de 2007. Programa de Manejo de Pesca/IDSM. Tefé/AM, 2008. PQV. Censo demográfico da Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã. Banco de dados do Programa Qualidade de Vida. Tefé/AM, 2006. QUEIROZ, H. L. & SARDINHA, A. D. 1999. A preservação e o uso sustentado dos pirarucus em Mamirauá. In: QUEIROZ, H. L. & CRAMPTON, W. G. R. (ed.) 38 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM Estratégias para o Manejo de Recursos Pesqueiros em Mamirauá. Brasília: Sociedade Civil Mamirauá: MCT/CNPq. p. 108 - 141. SCM, 1996. Mamirauá: Plano de Manejo. CNPq/MCT, IPAAM. Brasília. MAMIRAUÁ. Agradecimentos Ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, pela oportunidade de realizar este trabalho. Ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico pelo financiamento da bolsa e das atividades de minha pesquisa. Ao Projeto Matas Alagadas da Petrobras pelo financiamento de minhas atividades de trabalho. À minha família e amigos antigos pelo apoio na distância e ausência. À equipe do Programa de Manejo de Pesca pelo apoio, suporte, trocas de conhecimentos, amizade e paciência: Wesllen, Saíde, Ruiter, Roberta, Nataluzo, Kelven, Ellen e Daíza. Aos moradores das Reservas Mamirauá e Amanã, os quais são os verdadeiros donos das informações aqui escritas e os quais precisam possuí- las. À Leila, PH, Soraia, Zu, Sabá e Hueliton pela acolhida, amizade e apoio. A João Vicente, pelo auxílio profissional despendido. Aos componentes dos setores da Administração, Biblioteca, Informática, SIG e Operações pelo suporte técnico e apoio indispensável às atividades de todos no IDSM. Aos colegas da Colônia de Pescadores Z-4 de Tefé, em especial à Ana Cláudia, sempre solícita em todos os momentos. Aos demais membros do IDSM e outros amigos conquistados nesta jornada, que contribuíram com a realização deste estudo ou com o apoio moral. A Deus, pelo dom da vida.
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