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AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES SANITÁRIAS DO PIRARUCU MANEJADO NA RDS MAMIRAUÁ E NA RDS AMANÃ

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Instituto de Desenvolvimento 
Sustentável Mamirauá - IDSM 
 
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá 
 
IDSM-OS/MCT 
Processo n.° 680.021/2006-0 
 
 
Programa de Manejo de Pesca 
 
 
RELATÓRIO TÉCNICO FINAL DAS ATIVIDADES DE 
BOLSA/CNPq 
 
 
 
TÍTULO: AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES SANITÁRIAS DO PIRARUCU 
MANEJADO NA RDS MAMIRAUÁ E NA RDS AMANÃ. 
 
 
 
 
Bolsista: EDINALDO SILVA FERREIRA 
Número do Processo Individual: 385835/06-0 
Modalidade de bolsa exercida: DTI-7G 
Período de Vigência da Bolsa: 01/11/2006 a 30/06/2008 
 
 
RESPONSÁVEIS: 
 
ANA RITA PEREIRA ALVES 
Coordenadora do PCI do IDSM 
Diretora Geral do IDSM 
 
ISABEL SOARES DE SOUSA 
Orientadora da Bolsa 
Diretora de Manejo de Recursos Naturais e Desenvolvimento Social 
 
Tefé/AM 
Julho/2008 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
RESUMO ...........................................................................................................1 
I. HISTÓRICO ....................................................................................................2 
1. AS RESERVAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ E 
AMANÃ ..........................................................................................................2 
2. O MANEJO DE PESCA DO PIRARUCU Arapaima gigas (Schinz, 1822) ...3 
II. OBJETIVOS ...................................................................................................6 
1. GERAL: ......................................................................................................6 
2. ESPECÍFICOS: ..........................................................................................6 
III. METODOLOGIA ...........................................................................................7 
1. ÁREA DE ESTUDO ....................................................................................7 
2. COLETA DE DADOS..................................................................................8 
3. OFICINAS DE HIGIENE E QUALIDADE DO PESCADO ............................8 
4. ATIVIDADES COMPLEMENTARES ...........................................................9 
IV. RESULTADOS ...........................................................................................12 
1. AQUISIÇÃO DE INSUMOS ......................................................................12 
2. LOCAL DE PESCA ...................................................................................13 
3. O MÉTODO DE CAPTURA ......................................................................16 
4. BENEFICIAMENTO PRELIMINAR, ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE 
DO PESCADO .............................................................................................18 
5. A PREOCUPAÇÃO DOS PESCADORES COM A QUALIDADE DO 
PESCADO ....................................................................................................30 
6. A PREOCUPAÇÃO DOS COMPRADORES COM A QUALIDADE DO 
PESCADO ....................................................................................................33 
7. ALGUNS ASPECTOS DA LEGISLAÇÃO SANITÁRIA..............................34 
V. PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS ....................................................................35 
VI. CONCLUSÃO .............................................................................................36 
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................37 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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RESUMO 
 A pesca é uma das atividades mais importantes das Reservas de 
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, sendo o pirarucu Arapaima 
gigas (Schinz, 1822) a espécie de grande destaque. Esta que, no ano de 1996, 
teve sua captura proibida totalmente no Estado do Amazonas, vem sendo 
pescada em sistema de manejo desde 1999. Desde então aumentou o número 
de áreas de manejo e sua produção vem crescendo a cada ano. Ressalte-se 
que sua pesca se restringe a, no máximo três meses do ano. Isso implica em 
competição por mercado e aumento da dificuldade de venda da produção. 
Neste contexto, será necessário se destacar entre os demais produtores. e 
nesse aspecto será fundamental ofertar um pescado de melhor qualidade. Para 
isso, realizou-se a avaliação das atuais condições sanitárias do pirarucu 
produzido nas referidas RDS’s e trabalhou-se com o intuito de sempre melhorar 
a qualidade desse produto. O estudo mostrou que as condições ainda não 
satisfazem à legislação sanitária brasileira, mas que a cada ano estão em uma 
escala ascendente, com muitos pescadores preocupados com essa questão e 
com os problemas advindos da baixa qualidade do pescado. Entre os entraves 
encontrados destacam-se a dificuldade de armazenamento e transporte do 
pescado; a precária aquisição de gelo; a reduzida higiene e as difíceis 
condições de trabalho por causa da estrutura geográfica dos locais de pesca. 
Medidas como capacitação dos pescadores, intercâmbio de informações sobre 
o cuidado com o pescado entre as áreas de manejo, implementação de 
estruturas de estocagem e transporte, financiamentos aos pescadores foram, 
estão sendo ou devem ser implementadas nas áreas de manejo. A efetividade 
das ações dependerá, entretanto, da atitude e da ação dos pescadores no 
controle de qualidade de sua produção. Dessa forma, haverá mais destaque 
para aquelas áreas onde melhor se desenvolverem essas ações, adquirindo 
credibilidade e competitividade no mercado de produtos pesqueiros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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I. HISTÓRICO 
1. AS RESERVAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ E 
AMANÃ 
A Reserva Mamirauá foi concebida, em 1990, pelo Estado do Amazonas 
inicialmente como Estação Ecológica, o que implicava na remoção das 
populações tradicionais de seu território. Mas em 1996 foi transformada em 
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM), a primeira nesta 
categoria de unidade de conservação (UC). Ela abrange uma área de 
1.124.000 ha, e é delimitada pelos rios Solimões, Japurá, e pelo Auati-Paraná. 
A área focal da Reserva está dividida em 09 setores (“unidades políticas” 
constituídas por agrupamentos de comunidades próximas entre si e que 
guardam semelhanças históricas, econômicas e culturais) e possui cerca de 
5.087 moradores distribuídos em 78 localidades. Inserida totalmente na várzea 
do Rio Solimões - Amazonas, a RDSM destaca-se pela proposta inovadora do 
seu gerenciamento, o qual incorpora as populações locais na tomada de 
decisões, buscando compatibilizar a conservação da biodiversidade da reserva 
com a permanência das populações tradicionais nela residentes (Howard et al., 
1995; SCM, 1996 & PQV, 2006). A permanência dessas populações implica 
necessariamente no uso dos recursos naturais, e entre estes, destacam-se os 
recursos pesqueiros. A partir do Plano de Manejo (SCM, 1996) aplicaram-se 
gradativamente medidas restritivas e normativas destinadas à regulamentação 
do uso dos recursos naturais, elaboradas com participação da comunidade. 
Como no início foi um grande impacto mudar os sistemas de explotação 
outrora adotados, para minimizá-los, foram implementadas diversas 
alternativas econômicas, entre elas o manejo sustentável do pirarucu. 
Nos moldes da RDSM, foi criada no ano de 1998 a Reserva de 
Desenvolvimento Sustentável Amanã (RDSA), com cerca de 2.313.000 ha. 
Esta área junto ao Parque Nacional do Jaú (2.272.000 ha) e à RDSM formam o 
maior bloco de floresta tropical protegido do planeta com 5.709.000 ha. A3 
 
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população da RDSA é de aproximadamente 3.259 pessoas entre moradores e 
usuários em 69 localidades (PQV, 2006), concentrando-se, principalmente, na 
margem esquerda do rio Japurá, mais especificamente nos canais de várzea 
nas proximidades do deste rio, os quais se conectam ao Lago Amanã (Paranás 
do Tambaqui, Castanho e Coraci), bem como às margens do lago que dá nome 
à reserva. 
 
2. O MANEJO DE PESCA DO PIRARUCU Arapaima gigas (Schinz, 1822) 
A pesca é uma das principais atividades praticadas na área das 
Reservas e é fonte de alimentação e renda, sendo o pirarucu A. gigas a 
espécie de maior importância comercial. Na década de 70, devido à 
sobrepesca, a população de pirarucus entrou em declínio em todo o Estado do 
Amazonas, o que levou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos 
Naturais Renováveis (IBAMA) em 1989, a proibir a captura e a comercialização 
de indivíduos com comprimento total inferior a 150 cm e, em 1990, proibir a 
pesca em toda a bacia Amazônica no período de defeso, entre 1 de dezembro 
a 31 de maio (QUEIROZ & SARDINHA, 1999; MMA, 2005). Em 1996, foi 
proibido, no Estado, qualquer captura e venda de pirarucus, sendo, atualmente, 
permitidas apenas quando realizadas por sistemas de manejo, para fins 
científicos ou se forem indivíduos provenientes de cultivo (IBAMA, 2005). 
Diante desse contexto, em 1998, foi implementado no Setor Jarauá 
(RDSM), que é composto por quatro comunidades, um programa de 
comercialização de pescado, através do Programa de Manejo de Pesca, do 
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). A demanda dos 
pescadores em comercializar o pirarucu proveniente de manejo teve projeto 
aprovado pelo IBAMA em 1999, ano em que ocorreu a primeira pesca 
manejada. Na ocasião foram capturados 120 pirarucus, os quais representaram 
03 t em mantas frescas. 
 
 
 
 
 
 
 
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O Jarauá foi o setor selecionado por abrigar o maior sistema de lagos da 
RDSM, pela importância da atividade pesqueira para os comunitários, 
organização das comunidades e histórico de cooperação com o trabalho de 
implantação da Reserva. Com o objetivo de atender a um maior público de 
pescadores, buscando o ordenamento da pesca desta espécie, a experiência 
foi expandida em 2001, para o Setor Tijuaca (RDSM), atendendo a sete 
comunidades. Em 2002, para o município de Maraã, atendendo a pescadores 
das zonas rural e urbana associados à Colônia de Pescadores Z-32, e para o 
Setor Coraci (RDSA), atendendo a sete comunidades. 
O sistema de contagem de pirarucus através da boiada (processo no 
qual o pirarucu se desloca até a superfície d’água para respirar o ar 
atmosférico), desenvolvido por pesquisadores e técnicos do IDSM, e 
pescadores da reserva, vem sendo usado desde 1999 para definir as 
quantidades a serem capturadas. Desse modo, é possível monitorar o 
crescimento dos estoques de pirarucus nas áreas onde ocorre o manejo desta 
espécie. 
Como resultado desse trabalho, em 2007 a produção dos pescadores 
assessorados pelo IDSM atingiu 229,6 t de pirarucus inteiros eviscerados, a 
qual beneficiou 427 famílias através de 682 pescadores envolvidos no trabalho 
de pesca (PMP, 2008). 
Além disso, há também as comunidades assessoradas pelo Instituto de 
Desenvolvimento Sustentável Fonte Boa (IDSFB), que produziram, em 2007, 
399,9 t de pirarucus inteiros eviscerados. Destas, 70% saiu da RDSM e o 
restante da Resex Auati-Paraná e Reserva Municipal do município de Fonte 
Boa (IDSFB, 2007). Pode-se incluir ainda a pesca feita por pescadores da 
Resex Rio Jutaí, os quais capturaram, segundo o analista ambiental Gustavo 
Menezes (com. pess.), 79 pirarucus ou 4,5 t na forma inteiros eviscerados. 
Isto mostra que em 09 anos de manejo, houve um incremento 
estrondoso na produção de pirarucus que passou de 03 t em mantas frescas 
 
 
 
 
 
 
 
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para 574 t de peixes inteiros eviscerados. Isto apenas nas RDS Mamirauá, 
Amanã e UC’s adjacentes, o que traz um grave problema para os pescadores, 
pois à medida que aumenta a oferta, é mais difícil escoar a produção e ainda 
mais garantir um melhor preço. 
Há ainda demanda para extensão do manejo da espécie para demais 
setores das reservas Mamirauá e Amanã. Ao mesmo tempo, o Ministério da 
Agricultura tem aumentado a cobrança quanto à necessidade de adequação à 
legislação sanitária para comercialização de pescado, todavia, sendo 
respeitadas as particularidades das pescarias de pirarucu. A orientação hoje 
fornecida pelo Ministério, é que apenas peixes inteiros eviscerados tenham 
autorização para saída das reservas. Isto, porém, restringe compradores e 
promove menor concorrência de preços oferecidos. Conseqüentemente, 
restringe as chances do pescador incrementar o rendimento final pela venda de 
pirarucu. 
Neste cenário, será de fundamental importância para as associações de 
pescadores trabalharem novas estratégias de comercialização e buscar 
incessantemente a melhoria da qualidade do pescado, pois num mercado 
competitivo, a demanda é maior por produtos de melhor qualidade. Por isso, 
adequações sanitárias no beneficiamento do pirarucu e novas formas de 
armazenamento, além de reduzirem a perda de qualidade, abrirá a 
possibilidade de aumento nos ganhos diretos aos pescadores. 
Os pescadores compreendem a necessidade de atender às normas 
sanitárias da legislação, bem como é de conhecimento a existência de um 
mercado consumidor cada vez mais exigente. No entanto, nestes casos, 
quaisquer transformações ocorrem de modo gradativo, haja vista que tais 
formas de pesca e comércio fazem parte da cultura local. Para que as 
mudanças e adequações à legislação sanitária realmente aconteçam, ou se 
aproximem das condições ideais, deve haver um trabalho intenso de 
acompanhamento e orientação aos pescadores. 
 
 
 
 
 
 
 
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II. OBJETIVOS 
1. GERAL: 
Descrever as atuais condições sanitárias do pirarucu A. gigas manejado 
nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, nas etapas 
de captura, beneficiamento preliminar, armazenamento e transporte, até sua 
comercialização. 
 
2. ESPECÍFICOS: 
Acompanhar e descrever as diferentes etapas da pesca do pirarucu 
manejado na RDSM e RDSA. 
Identificar formas de minimizar os riscos de contaminação da carne de 
pirarucu. 
Propor medidas que gerem melhorias na qualidade final da carne de 
pirarucu a ser comercializada pelos pescadores. 
Orientar pescadores quanto às medidas propostas e acompanhar início 
de implementação destas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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III. METODOLOGIA 
1. ÁREA DE ESTUDO 
 A área de estudo compreendeu a Reserva de Desenvolvimento 
sustentável Mamirauá, e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, 
no Estado do Amazonas, Brasil (Fig. 1). 
 
 
 
Figura 1: Mapa de localização das Reservas de Desenvolvimento Sustentável 
Mamirauá e Amanã, no Estado do Amazonas, Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2. COLETADE DADOS 
Realizou-se, em novembro de 2006, outubro e novembro de 2007, 
acompanhamentos da pesca manejada do pirarucu junto aos pescadores dos 
setores Jarauá, Tijuaca, e Maraã (RDSM) e setor Coraci (RDSA) (Fig. 2 e 3). 
Visualizou-se todas as fases da pescaria, desde a aquisição do gelo e 
gasolina com os compradores do pescado (quando era o caso), deslocamento 
até as áreas de pesca, captura, beneficiamento preliminar, transporte até os 
barcos dos compradores, monitoramento e estocagem nas geleiras destes 
barcos. 
As observações se deram principalmente sobre os aspectos 
relacionados à busca de melhorias das condições sanitárias do pirarucu 
capturado nas RDS’s Mamirauá e Amanã: beneficiamento preliminar, o 
manuseio do pescado, as práticas de higiene, a preocupação com a qualidade 
do pescado, entre outros aspectos, além de definir os pontos positivos que 
poderão ser aproveitados/aperfeiçoados e os negativos que deverão ser 
melhorados/eliminados. Para isso foram realizadas diversas entrevistas não 
estruturadas com pescadores, compradores, técnicos e outros envolvidos no 
processo. 
As informações foram anotadas em caderno de campo, além de serem 
feitos registros fotográficos e em vídeos das etapas acompanhadas. 
 Foram realizadas também várias consultas ao banco de dados do 
Programa de Manejo de Pesca do IDSM. 
 
3. OFICINAS DE HIGIENE E QUALIDADE DO PESCADO 
 Durante o período do estudo foram realizadas 17 oficinas sobre 
qualidade do pescado em todos os setores que manejam pirarucu, 
beneficiando diretamente 172 pescadores. Inicialmente foram realizadas por 
setor, mas buscando uma maior efetividade e atingir o máximo de pescadores, 
posteriormente, foram realizadas por comunidade, à exceção da colônia Z-32, 
 
 
 
 
 
 
 
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que é composta principalmente por pescadores citadinos e por isso as oficinas 
ocorreram apenas na sede do município. 
 Em virtude de as oficinas serem um canal de comunicação direto com os 
pescadores, aproveitou-se também para coletar diversas outras informações 
relacionadas à qualidade do pescado, assim como analisar a percepção deles 
a respeito deste assunto. 
 
4. ATIVIDADES COMPLEMENTARES 
No sistema de manejo integrado dos recursos pesqueiros, a questão da 
qualidade do pescado é apenas um dos pontos a serem trabalhados, 
destacando, é claro, a sua grande importância. Dessa forma, nos períodos em 
que não estavam acontecendo as pescarias do pirarucu e as oficinas 
mencionadas acima, foram desenvolvidas outras atividades relacionadas ao 
manejo de pesca, entre as quais destacam-se a devolução aos pescadores dos 
dados de monitoramento da pesca do pirarucu e discussão sobre levantamento 
de estoque e cota de pirarucus para a próxima pescaria; reuniões de discussão 
de acordos de pesca; campanha de legalização de documentação dos 
pescadores; cursos sobre levantamento dos estoques de pirarucus; oficinas de 
monitoramento da produção de pirarucus, de gerenciamento de associações e 
formação de lideranças comunitárias. Além da assessoria nas atividades de 
pesca relacionadas a outras espécies que não o pirarucu. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 2: Mapa da RDSM mostrando os setores políticos assessorados pelo 
IDSM onde, até 2007, ocorreram pescarias manejadas do pirarucu. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 3: Mapa da RDSA mostrando o setor político assessorado pelo IDSM 
onde, até 2007, ocorreram pescarias manejadas do pirarucu. 
 
 
 
 
 
 
 
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IV. RESULTADOS 
1. AQUISIÇÃO DE INSUMOS 
 No Setor Jarauá cada pescador ou equipe de pescadores adquirem gelo 
e gasolina dos compradores. O gelo é o único insumo que não tem custo 
aparente, pois o comprador não cobra diretamente por ele. Além disso, os 
pescadores recebem um adiantamento em dinheiro de um comprador 
tradicional, Frigorífico Pescador, para conserto e/ou aquisição de apetrechos 
de pesca e compra de rancho (mantimentos, principalmente itens alimentícios) 
para suprir as necessidades tanto durante as incursões pesqueiras como da 
sua família que fica em casa. Pode ainda fornecer os materiais de pesca já 
confeccionados, além de motores-rabeta, entre outros. Durante outras épocas, 
que não o período de pesca do pirarucu, especialmente na cheia dos rios em 
que os recursos pesqueiros estão dispersos e as áreas para as roças estão 
alagadas, este comprador, o denominado patrão, além de fornecer os materiais 
supracitados, também empresta dinheiro aos pescadores, o qual é utilizado 
para saldar as dívidas do dia-a-dia. 
Todas essas dívidas adquiridas são saldadas em parte ou no total com a 
produção de pirarucus. Apesar de não haver cobrança real de juros, quando da 
negociação de preços de venda da produção, este sempre é favorável ao 
comprador. Com os demais compradores ocorre apenas a negociação de gelo 
e gasolina, o que possibilita aos pescadores venderem a produção por um 
preço mais elevado. 
 No setor Tijuaca, as associações recebem apenas um adiantamento de 
parte do pagamento da produção, o qual é utilizado para conserto e/ou 
aquisição de apetrechos de pesca, compra de rancho e gasolina. 
 No setor Coraci também há um adiantamento de parte do pagamento da 
produção, no entanto, este dinheiro permanece na conta da associação até 
receberem o restante do pagamento, quando é feita a divisão entre os sócios. 
Os insumos são custeados pelos próprios sócios. 
 
 
 
 
 
 
 
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 Em Maraã, a colônia de pescadores recebe um adiantamento do 
comprador, o qual é repassado na forma de vales aos sócios, quando 
solicitado. Estes usam para os mais diversos fins, inclusive para saldar dívidas 
em lojas. Poucos são os pescadores que não solicitam adiantamento. São 
adotadas, ainda, algumas estratégias como usar uma reserva em dinheiro para 
aquisição de material de pesca em grande quantidade para reduzir os custos 
para os sócios, os quais pagam com parte de sua produção. 
 
2. LOCAL DE PESCA 
A pesca do pirarucu ocorre no período de seca dos rios quando a água 
sai da floresta e se formam lagos isolados ou semi-isolados. Dessa forma, para 
chegar aos corpos d’água isolados, é necessário passar pelos varadouros 
(trilhas de acesso aos lagos no meio da floresta), carregando canoas, 
apetrechos de pesca e tudo o mais que é necessário para realizar a pesca dos 
pirarucus. Além disso, depois de capturados, estes também são transportados 
pelos varadouros até o curso principal do rio (Fig. 4), onde são armazenados 
em gelo (seja logo no barco do comprador (Fig. 5) ou nas caixas dos próprios 
pescadores) ou de onde são transportados até o local onde se procederá a 
estocagem nas geleiras dos barcos. 
O transporte pelos varadouros pode ser determinante na redução da 
qualidade do pescado, não só pela contaminação e hematomas provocados 
nos peixes, mas também pelo tempo até os peixes serem acondicionados em 
gelo, pois quando não há uma equipe apenas para o transporte,os pescadores 
esperam haver uma quantidade que justifique a paralisação da pesca para se 
dedicarem apenas ao transporte. 
Já nas áreas de pesca em que há canais de acesso, a atividade é 
menos desgastante, pois não é necessário carregar os pirarucus nas costas. 
Os peixes são puxados às canoas e aí mesmo ficam para posterior transporte 
(Fig. 6 e 7). Além disso, o armazenamento ocorre em menos tempo. As figuras 
 
 
 
 
 
 
 
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8 e 9 mostram a evidente diferença relacionada ao aspecto de higiene entre 
peixes que foram transportados por varadouros e aqueles transportados 
apenas por via aquática. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 4 e 5: Transporte de pirarucu pelo varadouro; e entrega ao comprador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 6 e 7: Acondicionamento dos pirarucus dentro da canoa, com 
cobertura de capim para proteger da luz solar. 
 
No ano de 2007, no setor Jarauá, 66% do pescado provieram de locais 
que permitem acesso às embarcações. No Tijuaca, 95% passaram por 
varadouros. A única comunidade deste setor que tem área de pesca com 
 
 
 
 
 
 
 
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acesso por água é o São Francisco, mas esta também teve 75% dos pirarucus 
provenientes de lagos com varadouros. No Coraci, 100% da produção foram 
obtidos em lagos com acesso terrestre. Em Maraã, 88% do pescado foram 
transportados apenas por via aquática. 
Isto mostra que dependentes apenas desses fatores, Maraã e Jarauá 
produziriam pescado de melhor qualidade, mas não é o que ocorre sempre. 
Outros fatores também podem influenciar na qualidade do pescado, mas quase 
sempre estão relacionados à dificuldade de acesso às áreas de pesca. 
Em 2006, por exemplo, Jarauá foi o setor mais problemático em função, 
principalmente, da grande distância das áreas de pesca e da falta de locais 
adequados para armazenamento. Este problema, no entanto, não foi 
observado em 2007, especialmente por causa da construção de caixas 
isotérmicas para estocagem. 
Mesmo assim, os setores com acesso aquaviário aos locais de pesca 
têm maior possibilidade de produzir um pescado de elevada qualidade. Dessa 
forma, a melhoria da qualidade do pescado passa necessariamente pela 
melhoria das condições de trabalho dos pescadores. Mudar a estrutura da 
várzea não é possível, mas deve-se trabalhar em cada local de acordo com 
suas particularidades, utilizando a ciência desenvolvida pelo homem para 
diminuir o esforço necessário ao trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 8 e 9: Pirarucus transportados apenas por via aquática; e pirarucus 
transportados por varadouro. 
 
 
 
 
 
 
 
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3. O MÉTODO DE CAPTURA 
Uma das artes de pesca utilizadas é a rede de emalhar sem chumbadas, 
com malhas que deverão ter, no mínimo, 30 cm entre ângulos opostos. Alguns 
pescadores utilizam redes com malhas superiores, já que para eles não é 
interessante capturar peixes pequenos, pois suas cotas são em número de 
indivíduos, ou seja, se utilizarem redes com malhas maiores, capturarão peixes 
maiores, com maior biomassa e, conseqüentemente terão maior lucro. 
Apesar deste apetrecho ser utilizado como rede de espera, pelo fato do 
pirarucu ser um peixe que não se desloca muito, não costuma se emalhar 
facilmente nas redes de pesca. Estas são mais eficientes para delimitar áreas 
dentro do rio, impedindo que os peixes se desloquem para outros locais, 
quando se sentem ameaçados (Fig. 10). Reduzindo o espaço disponível, 
aumenta a eficiência da haste, um outro método de captura e mais tradicional, 
que consiste de uma vara de madeira com arpão na ponta ligado a uma corda 
chamada arpoeira (Fig. 11 e 12). Mas o uso das hastes nessa situação também 
aumenta a eficiência das malhadeiras, pois quando o pescador erra a arpoada, 
o peixe se assusta e ao tentar fugir, acaba por se emalhar nas redes. 
A haste tem a desvantagem de perfurar o peixe, abrindo uma porta de 
entrada para atuação de microrganismos que decompõem o pescado, além de 
provocar um maior estresse ao peixe durante a captura, pois por se tratar de 
um peixe de grandes dimensões, puxá-lo imediatamente a bordo da canoa é 
demasiado perigoso. Dessa forma, os pescadores esperam o pirarucu cansar 
para reduzir os riscos, desferindo ainda inúmeras pancadas com um porrete de 
madeira na sua cabeça, provocando hematomas que também aceleram a 
decomposição do pescado. É algo difícil de ser mudado, pois não é seguro 
manusear os pirarucus ainda vivos. Em algumas pisciculturas que trabalham 
com reprodução desta espécie, para manusearem os reprodutores, adotou-se 
o uso um capuz escuro, ao qual chamam de camisinha e colocam na cabeça 
dos peixes. Dessa forma, os peixes ficam sem ver ao redor e tendem a ficar 
 
 
 
 
 
 
 
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imóveis. Isto poderia ser testado durante as pescarias, com o intuito de causar 
menos estresse aos pirarucus. 
Todo esse processo de captura faz com que os pirarucus tenham um 
grande gasto de energia, o que influencia diretamente no tempo em que 
ocorrerá o rigor mortis, ou seja, o enrijecimento do músculo do peixe, fator 
decisivo na qualidade do pescado. Quanto mais energia é conservada, maior é 
o tempo para atingir o rigor pleno, depois do qual o processo de decomposição 
é bem mais acelerado, pois enquanto o peixe está nesse processo há ação 
decompositora apenas das enzimas intrínsecas, mas quando o peixe amolece, 
inicia a decomposição por enzimas extrínsecas de origem bacteriana (OGAWA 
& OGAWA 1999). 
Apesar de, aparentemente, a haste ser o apetrecho mais agravante, 
muitos pescadores relatam que os pirarucus capturados com redes de emalhar 
tendem a perder mais rápido sua qualidade. Isto pode ser resultado dos 
hematomas provocados pelas malhas, além do peixe despender também 
grande quantidade de energia ao buscar a fuga e tentar respirar. Mas há 
relatos que isso só ocorre se houver demora em retirar o peixe das 
malhadeiras. Pesquisas sobre a influência dos apetrechos de pesca sobre a 
qualidade do pescado devem ser desenvolvidas com análises mais acuradas. 
Figura 10: Grupo de pescadores delimitando áreas de pesca com malhadeiras 
e prontos para arpoar os pirarucus. 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
Sustentável Mamirauá - IDSM 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 11 e 12: Pescador atento à boiada do pirarucu; e detalhe do arpão 
usado durante as pescarias. 
 
4. BENEFICIAMENTO PRELIMINAR, ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE 
DO PESCADO 
Apenas no setor Jarauá utiliza-se gelo durante as pescarias. Este, após 
ser retirado das geleiras do barco do comprador, é colocado em caixas 
isotérmicas de isopor com capacidade entre 100 e 170 litros e levados até a 
área de pesca (Fig. 13,14 e 15). Após a captura, os peixes ainda ficam por um 
tempo variável dentro da canoa ou nas margens dos corpos d’água até serem 
eviscerados, e também depois de eviscerados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 13 e 14: Pescador adquirindo gelo do comprador de pescado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 19Instituto de Desenvolvimento 
Sustentável Mamirauá - IDSM 
 
Figura 15: Pescadores se deslocando até as áreas de pesca. 
 
Pouquíssimos são os peixes não eviscerados que chegam à base 
flutuante que fica em frente a uma comunidade do Jarauá, onde ocorre o 
monitoramento dos peixes (biometria e dados de esforço) e armazenamento 
nos barcos dos compradores (Fig. 16, 17 e 18). Isto é um ponto positivo, pois 
as vísceras e guelras são importantes focos de contaminação interna por 
possuir microrganismos que, quando da morte do peixe, atuam na sua 
deterioração (HUSS, 1998). Além disso, empiricamente, supunha-se que a 
água do rio à montante da comunidade, onde é realizada a pesca, tenha 
melhor qualidade que a de jusante, onde fica localizado o flutuante de 
comercialização. Ressalte-se ainda que não existe outro povoado à montante 
desta comunidade, e que há várias casas flutuantes na sua frente e à montante 
do flutuante de comercialização, ou seja, passam por este os efluentes 
produzidos na comunidade, incluindo os das habitações flutuantes. 
Surge, então, um ponto negativo, pois mesmo os peixes que eram 
eviscerados nas áreas de pesca, quando chegavam ao flutuante de 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
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comercialização, recebiam nova lavagem com água do rio, supostamente de 
pior qualidade. Sugere-se, então, deslocar este flutuante para montante da 
comunidade. Mas outro problema poderia surgir: a água utilizada para lavar os 
peixes iria passar em frente à comunidade, de onde é retirada para consumo 
humano. Alguns pescadores já sugeriram até levá-lo para próximo das áreas 
de pesca, para reduzir os custos com deslocamento, o que também 
influenciaria positivamente na qualidade do pescado, pois os peixes poderiam 
ser levados com maior freqüência até os compradores, passando menor tempo 
até serem acondicionados nas geleiras dos barcos. Mas há resistência quanto 
a isso, pois é mais cômodo estar no porto da comunidade, para evitar que os 
tripulantes dos barcos compradores pesquem e também porque em certos 
períodos a pequena profundidade do rio não permite acesso a embarcações 
com maior calado. 
Apesar de em pescarias industriais como a da piramutaba 
Brachyplatystoma vaillantii (Valenciennes, 1840) utilizarem também água do 
rio, é necessário realizar uma análise físico-química e microbiológica da água 
dos rios e lagos da RDSM e RDSA para saber até que ponto está influenciando 
na qualidade dos peixes. Além de pensar em sistemas de captação de água da 
chuva, visto que o ar não demonstra ser poluído e pelo elevado índice 
pluviométrico anual da região: 2.850 mm (AYRES, 2006). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 16 e 17: Monitoramento dos dados de comprimento total e biomassa. 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
Sustentável Mamirauá - IDSM 
 
Figura 18: Estocagem dos peixes na geleira dos barcos dos compradores. 
 
O acondicionamento inadequado dos peixes apresenta-se como um dos 
pontos críticos na cadeia produtiva da pesca do pirarucu. Não só pela difícil 
obtenção de gelo, onde são conservados, mas também porque os peixes são 
comercializados inteiros e por isso não cabem nas caixas isotérmicas de 
isopor, as quais são as mais acessíveis economicamente e utilizadas pelos 
pescadores. 
Em 2006, uma das alternativas observadas no setor Jarauá foi a 
utilização de lonas plásticas (Fig. 19). Estas são estiradas no fundo da canoa, 
onde são colocados os pirarucus. Logo após, é adicionado gelo na cavidade 
visceral e sobre os peixes, que depois são cobertos com a outra parte da lona. 
No entanto, pelo fato de a lona atuar precariamente como um isolante térmico, 
 
 
 
 
 
 
 
 22 
 
Instituto de Desenvolvimento 
Sustentável Mamirauá - IDSM 
o gelo derrete rapidamente. Sendo necessário adicionar mais gelo 
periodicamente. Esse processo consome elevada quantidade de gelo em um 
reduzido período de tempo e não é muito eficiente na conservação do pescado. 
Isso é agravado pelo fato de que, para economizar gelo, os pescadores 
estendem ao máximo o acondicionamento dos pirarucus no gelo e também a 
reposição deste. Além disso, quando o gelo estava quase para acabar, não 
importava se tinham capturado 01 ou 10 pirarucus, era necessário se deslocar 
até a base flutuante onde fica o barco do comprador, pois do contrário o peixe 
se tornaria impróprio para consumo. Dependendo do local de pesca, poderia 
ser uma viagem de até 4 ou 5h, o que reduz ainda mais a qualidade do 
pescado e aumenta os custos de produção, pois são necessárias muitas 
incursões de pesca para capturar toda a cota. 
 Já em 2007, apesar de ainda utilizarem lonas plásticas, adotou-se o uso 
de caixas isotérmicas feitas de madeira e isopor (Fig. 20). Estas, além de 
melhorarem significativamente a qualidade do pescado produzido, também 
reduziram os custos de produção, já que acondicionam, em média, 20 
pirarucus e são muito mais eficientes que as lonas na conservação do gelo, o 
que possibilitava aos pescadores passar mais dias nas áreas de pesca e levar 
a produção ao comprador apenas quando a caixa estava na sua capacidade 
máxima. As figuras 21 e 22 mostram a evidente diferença das condições de 
conservação entre lonas e as caixas quando da chagada no barco do 
comprador, principalmente no aspecto relacionado à quantidade de gelo final. 
Nota-se que na caixa os peixes estão bem melhor conservados e com maior 
quantidade de gelo. 
Esforços deverão ser despendidos na busca de uma alternativa, como 
um isolante térmico flexível para armazenar os pirarucus na beira dos lagos e 
fazer o transporte pelos varadouros. Neste último caso também reduziria o grau 
de contaminação do pescado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
Sustentável Mamirauá - IDSM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 19 e 20: Acondicionamento dos pirarucus em lonas plásticas; e caixas 
isotérmicas de madeira e isopor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 21: Diferença no acondicionamento dos pirarucus entre lonas plásticas; 
e caixas isotérmicas ao final da incursão de pesca. 
 
Nos setores Coraci e Tijuaca, os pescadores evisceram a maioria dos 
pirarucus nas áreas de pesca, no entanto, não utilizam gelo, permanecendo 
algumas horas sem resfriamento, o que compromete muito mais a qualidade do 
pescado. Nestes setores, as associações não possuem bases flutuantes e o 
monitoramento e a evisceração, quando é o caso, são realizados dentro do 
barco do comprador ou mesmo no chão. É importante frisar que apesar da 
evisceração ser altamente recomendado no caso do pirarucu, quando as áreas 
de pesca têm acesso por varadouros, não seria tão recomendado, visto o 
 
 
 
 
 
 
 
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Sustentável Mamirauá - IDSM 
elevado grau de contaminação, em especial da cavidade víscera, e a grande 
deficiência na lavagem dos peixes, que é feita com água do rio (Fig. 22, 23, 24 
e 25). No entanto, os peixes eviscerados pesam menos, o que torna um pouco 
menos difícil o seu transporte pelos varadouros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 22 e 23: Pirarucus eviscerado e não eviscerado na área de pesca, 
transportados por varadouro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 24 e 25: Pirarucu sendo eviscerado sobre o chão e lavado antes de ir 
paraa geleira do barco. 
 
Em Maraã, apesar de não ser utilizado gelo para armazenamento dos 
peixes durante as pescarias, apesar de alguma resistência, os pescadores, ao 
abaterem o pirarucu, devem levá-lo à base flutuante de beneficiamento e 
monitoramento em até 3 horas (Fig. 26). Neste local existem estruturas 
 
 
 
 
 
 
 
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semelhantes a cochos, onde os pirarucus só então são eviscerados (Fig. 27). 
Aqueles certamente foram uma grande inovação, pois facilitam o trabalho dos 
tratadores que por terem melhores condições de trabalho, principalmente em 
questões ergonômicas, podem fazer um melhor serviço de limpeza nos peixes. 
No entanto, por ser feito de madeira, é um grande foco de contaminação do 
pescado, principalmente porque não é feita uma limpeza adequada após o 
trabalho. O ideal seria se fossem feitos com aço inox. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 26 e 27: Base flutuante e evisceração dos peixes na mesma base. 
 
Em Maraã o método de retirada do bofe (bexiga natatória modificada 
para respiração) é o mais eficiente. É utilizado, para retirar a parte que fica 
entre as vértebras, uma pequena espátula de madeira ao invés dos próprios 
dedos (Fig. 28 e 29), evitando cortes nestes, além de ser complementada com 
uma lavagem em que é utilizada uma escova de aço, sendo eliminados os 
restos de vísceras de maior dificuldade de remoção (Fig. 30). 
Comparativamente aos pirarucus de outros setores, os de Maraã são os 
que apresentam menos impurezas na cavidade visceral (Fig. 31, 32 e 33). Isso 
também porque existe uma equipe de oito tratadores dedicada apenas à 
evisceração e como trabalham em duplas, possibilita que haja apenas quatro 
padrões mais elevados de qualidade de evisceração, enquanto que nos outros 
setores aqueles que pescam são os mesmos que evisceram, ou seja, são 
muitos mais padrões de qualidade e com grande oscilação. 
 
 
 
 
 
 
 
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Os tratadores de Maraã, com algumas exceções, fazem uso de botas 
brancas e têm um uniforme branco de trabalho, apesar de não usarem, o que 
não é um problema, pois o mais importante não é a cor da roupa ou das botas, 
mas as ações de cada um na busca da qualidade. Um exemplo disso é a 
negligência com relação à limpeza dos materiais utilizados na evisceração do 
pescado. Outro ponto negativo foi que, como nos demais setores, também 
fazem uso da água do rio, com o agravante de que captam água à jusante do 
flutuante, a mesma água onde estão sendo despejados os seus efluentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 28 e 29: Retirada do bofe com auxílio de espátula de madeira; e com 
os próprios dedos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 30 e 31: Espátula e escova de aço; aspecto da cavidade ao final da 
evisceração em Maraã. 
 
 
 
 
 
 
 
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Figuras 32 e 33: Cavidade dos peixes após evisceração no Coraci; e Jarauá. 
 
A permanência do bofe ou de seus restos constitui-se numa grande 
fonte de contaminação, visto que possui elevada quantidade de sangue (Fig. 
34 e 35), que serve de nutrientes para os diversos microrganismos. Estes, que 
em grande parte fazem parte da flora microbiana natural dos peixes, após a 
morte destes, constituem-se, ao lado da ação enzimática e dos microrganismos 
extrínsecos, nos principais fatores de deterioração do pescado (OGAWA & 
OGAWA, 1999). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 34 e 35: Bexiga natatória modificada para respiração; sangue contido 
em um fragmento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
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Os pescadores sabem da importância da retirada deste órgão e dos 
demais, no entanto, ainda há deficiência no modo como a fazem. Dessa forma, 
foi feita, nas oficinas de higiene e qualidade do pescado, a divulgação dos 
métodos mais eficientes das áreas de pesca manejada, ou seja, mostrando os 
pontos positivos de cada setor que podem e devem ser 
replicados/aperfeiçoados, e os negativos que precisam ser 
eliminados/mitigados e não replicados. Isto não só no processo de evisceração, 
mas também com relação a todo o processo de pesca e às estruturas utilizadas 
para a realização do trabalho. Só para exemplificar, pode-se citar as rampas 
feitas na base flutuante de Maraã para puxar os pirarucus das canoas (Fig. 36), 
que possibilitam ao pescador fazer menos esforço comparado ao trabalho que 
tem os pescadores do Jarauá ao realizar o mesmo processo em sua base 
flutuante onde não há rampas para isso, o que também prejudica a qualidade 
do pescado, pois neste caso, ao ser puxado o pirarucu sofre hematomas 
quando é jogado contra as estruturas do flutuante (Fig. 37). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 36 e 37: Métodos utilizados para puxar o peixe à base flutuante de 
Maraã; e no Jarauá. 
 
Um dos resultados concretos das oficinas são a reforma e construção de 
novas estruturas na base flutuante do Jarauá (Fig. 38 e 39), visando à melhoria 
das qualidades do pescado e de trabalho dos pescadores e monitores da 
produção. 
 
 
 
 
 
 
 
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A utilização de fotos e vídeos das atividades de pesca durante as 
capacitações (Fig. 40 e 41) causou uma profunda reflexão nos pescadores 
sobre o modo como estão cuidando da qualidade do pescado e os esforços 
desnecessários que fazem durante a pesca manejada. Um exemplo disso 
evidencia-se quando, no setor Coraci, eram necessárias até seis pescadores 
para colocar, através de uma rampa, os pirarucus no barco (Fig. 42), enquanto 
que em Maraã bastavam dois. Simplesmente porque neste último setor a 
rampa era formada por uma tábua de madeira principal e mais duas que 
serviam de anteparo (Fig. 43). 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 38 e 39: Base flutuante do Jarauá em 2007; e em 2008, com reformas 
ainda não concluídas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 40 e 41: Pescadores assistindo vídeos das suas atividades de pesca, 
detalhe de uma das fotos utilizadas por meio de televisor e dvd player. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figuras 42 e 43: Rampas utilizadas para colocar os pirarucus nos barcos no 
Coraci; e em Maraã. 
 
Deve-se ressaltar que a cota de cada setor influencia também na 
qualidade, pois onde há maior número de peixes, o lucro total é maior e, 
conseqüentemente, pode-se investir em estruturas flutuantes de 
beneficiamento do pescado. Mas nas demais áreas é possível investir em 
estruturas de armazenamento, como caixas isotérmicas de fibra de vidro e 
polipropileno, adequadas às pequenas embarcações usadas pelos pescadores. 
Isso possibilitará que estas fiquem o mais próximo possível das áreas de pesca 
e também para que os pescadores possam transportar o pescado até os 
centros urbanos, vendendo diretamente ao consumidor. Para isso, as 
associações poderiam fazer uso de financiamentos do Programa Nacional de 
Fortalecimento da Agricultura Familiar destinados à pesca, o PRONAF-Pesca. 
 
5. A PREOCUPAÇÃO DOS PESCADORESCOM A QUALIDADE DO 
PESCADO 
Ao se analisar essa questão, é necessário considerar todas as 
peculiaridades que envolvem a pesca manejada do pirarucu: a dificuldade da 
obtenção de gelo, a distância da área de pesca, o acesso aos lagos, o tempo 
de pesca, a dificuldade de armazenamento do pescado, entre outras. Mas de 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
Sustentável Mamirauá - IDSM 
um modo geral, os pescadores sabem da necessidade de melhorar a qualidade 
do pescado e tomam vários cuidados para isso, no entanto, como a pesca do 
pirarucu é uma atividade extremamente desgastante, se preocupam mais em 
se livrar do peixe do que em cuidar dele. Por isso, certos cuidados passam 
despercebidos, mesmo que sejam coisas simples. E o fato do pirarucu ser tão 
grande causa a falsa impressão de que ele agüenta muitos maus-tratos. Um 
exemplo é quando, depois de carregarem pelos varadouros os pirarucus que 
pesam, em média 50 kg, os pescadores, devido ao grande cansaço quando 
chegam no destino final, jogam os pirarucus que carregam nos ombros 
diretamente no chão, causando hematomas e deixando-os em contato direto 
com o substrato. Neste caso bastava um melhor planejamento em que 
houvesse alguém para ajudar o outro pescador a colocar o pirarucu sobre uma 
lona, sem machucá-lo ou contaminá-lo. 
Nas oficinas foram feitas diversas observações necessárias a minimizar 
estes problemas. Quase sempre os pescadores reconhecem as deficiências e 
sabem que medidas tomar, no entanto, durante a pesca, pouco atentam para 
isso. Isto não surpreende, pois o cansaço não os permite pensar sobre como 
estão agindo e também são muitos anos exercendo esta atividade do mesmo 
modo. 
Toda mudança relacionada a hábitos do cotidiano, em especial a 
questões de higiene e qualidade dos alimentos, mesmo quando não há 
resistência por parte das pessoas, ocorre de maneira gradativa, pois é algo que 
deve ser praticado no dia-a-dia e ter sempre alguém para lembrá-los disso. Por 
isso escolheu-se trabalhar com os pescadores as questões básicas da 
qualidade do pescado, dando embasamento a eles para que reflitam e 
comecem a se educarem mutuamente. E que também planejem melhor as 
ações antes de iniciar a pesca, quando ainda não estão desgastados com o 
trabalho da pesca do pirarucu. Numa nova etapa, deve-se trabalhar elaboração 
de subprodutos como pescado salgado e/ou defumado não apenas com a 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
Sustentável Mamirauá - IDSM 
finalidade de comercialização destes produtos, mas principalmente para 
mostrá-los que estes só poderão ter boa qualidade se a matéria-prima também 
a tiver. 
O trabalho realizado pressupõe que a melhoria das condições de 
trabalho possibilitará aos pescadores pensarem mais na qualidade do pescado. 
Fazer com que eles adotem o pensamento de que aquele peixe que estão 
carregando no varadouro ou levando ao flutuante é o fruto de muito trabalho 
deles. E, depois de um dia de “muito sol”, varadouro, “brigando” com o 
pirarucu, remando e de todo o trabalho que tiveram ao longo do ano para ter 
aquele recurso, será que não vale a pena fazer um pouco mais de esforço, 
quando falta apenas entregar o peixe ao comprador? 
Um fato que mostra que ainda não estão neste nível é quando já estão 
no flutuante e ao puxar o peixe para cima jogam-no no assoalho como se fosse 
um pedaço de madeira (Fig. 44). Algo aparentemente simples, mas que precisa 
de um trabalho intenso dos extensionistas e dos próprios pescadores que 
devem sempre estar se policiando quanto a isso. Esse objetivo será atingindo 
quando o pescador não mais jogar os peixes no chão e ao mesmo tempo não 
dizer mais a seguinte frase: “Lugar de peso é no chão”. 
 
Figura 44: Momento em que o pescador joga o peixe contra o assoalho. 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
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6. A PREOCUPAÇÃO DOS COMPRADORES COM A QUALIDADE DO 
PESCADO 
 Outro fator decisivo na cadeia de comercialização é o cuidado que os 
compradores têm em obter e vender um pescado de elevada qualidade. 
Geralmente, quando o peixe estraga, colocam a culpa nos pescadores. No 
entanto, esta não é uma justificativa válida, pois se o pescador entregar um 
peixe estragado, cabe ao comprador rejeitar. Se ele aceita, presume-se que o 
pescado foi entregue em condições adequadas de conservação. Não é culpa 
dos pescadores se o comprador, seu contratado ou seu empregado não têm 
competência ou são negligentes na hora de realizar uma análise sensorial que 
avalie a qualidade do pescado. 
Mesmo assim, nas oficinas foram explicados os fatores que influenciam 
na deterioração do pescado e as medidas necessárias para entregar ao 
comprador um pescado de boa qualidade. Fez-se uma comparação com a 
banana que é entregue ainda verde e não amarela para o comprador. Ela estar 
amarela não significa que estragou, mas estragará bem mais rápido se não for 
consumida. Mesma coisa para o pirarucu, pois se entregar um peixe que já 
está finalizando o processo de rigor mortis, o comprador irá aceitar, pois o 
peixe ainda não está estragado. No entanto, estragará bem mais rápido do que 
um peixe que foi vendido antes mesmo de enrijecer. 
 Um exemplo de busca de qualidade é o Frigorífico Pescador, pois seus 
barcos estão inclusos dentro de um sistema de controle de qualidade dinâmico 
que funciona dentro da empresa de pesca. Seus barcos possuem geleiras 
revestidas de fibra e prezam bastante pela limpeza de seus barcos, qualidade e 
quantidade de gelo a ser utilizada quando da estocagem dos pirarucus. Além 
disso, exigem dos pescadores que não capturem peixes com arpão. 
A questão do resfriamento é fator de suma importância, visto que inibe a 
decomposição enzimática e bacteriana. Além do que o pirarucu é um peixe 
“ruim de gelar”, pois sua grande espessura dificulta o resfriamento interno de 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
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sua carne, em virtude da dificuldade de difusão do calor interno para as 
camadas externas. Muitos compradores, contudo, para economizar espaço e 
gelo, não colocam quantidade adequada à boa conservação do pescado. Essa 
economia é ilusória, pois 2 kg de gelo são bem mais baratos do que 1 kg de 
pirarucu. 
Em 2006, a empresa Friller que, depois de receber a produção, resolveu 
pagar menos pelo kg do pirarucu porque parte da produção do Jarauá estava 
com a qualidade comprometida. Mas não levou em consideração que contratou 
um barco com a geleira de madeira em decomposição, o que tornava o gelo 
muito sujo, além de pessoas negligentes na análise da qualidade do pescado 
que era entregue pelos pescadores. No entanto, os pescadores também não 
haviam cumprido com sua parte relacionada ao tempo em que a produção 
seria entregue. 
Algo que também merece destaque em relação aos cuidados que os 
compradores têm com a qualidade do pescado foi o fato de, na véspera da 
feira do pirarucu de 2006, terem beneficiado os pirarucus, lavando-os com a 
água do próprio lago de Tefé, para onde escoa lixo e efluentes produzidos na 
cidade. Uma água de baixíssima qualidade, principalmente por causa do local 
onde foram beneficiados os peixes: dentro do barco atracado no entreposto de 
pescado, no qual os cuidados com a sanidade são mínimos, atrás da feira 
municipal de Tefé, para onde escorre vários tipos de poluentes e 
contaminantes. 
 
7. ALGUNS ASPECTOSDA LEGISLAÇÃO SANITÁRIA 
 Por se tratar de uma espécie sobrepescada, com legislação própria, 
para realizar o manejo de pesca do pirarucu os pescadores precisam atender a 
muitas exigências, nas quais estão incluídas as questões sanitárias. No 
entanto, os entraves são muito maiores para aqueles que trabalham na 
legalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
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 Os pescadores devem, de fato, estar em busca, constantemente, da 
melhoria da qualidade, todavia as normas deveriam valer para todos. Um 
exemplo são os pirarucus provenientes da pesca ilegal, que, pela facilidade de 
transporte, geralmente são vendidas em mantas salgadas sob condições 
extremas de contaminação, sem nenhum critério de qualidade. Em 
contrapartida, os pescadores das reservas estão autorizados a 
vender/transportar os pirarucus apenas inteiros eviscerados. Isso dificulta o 
transporte e venda nos centros urbanos próximos diretamente ao consumidor. 
Além disso, muitos intermediários que compram pirarucus nas reservas, 
vendem-nos ao consumidor, seja em Tefé ou em Manaus, em condições muito 
preocupantes de sanidade, sem haver cobranças ou fiscalização das 
autoridades competentes. 
 Não se deve abrir mão do controle de qualidade, no entanto, é 
importante que isso seja exigido também dos outros elos da cadeia. Além 
disso, alguma contrapartida deve ser dada nesse aspecto aos pescadores que 
promovem a conservação dos recursos naturais. Um exemplo é poder vender 
os pirarucus eviscerados, algo não permitido em condições que não atendam 
aos critérios do RIISPOA. 
 Mas também não é necessário permitir que o pirarucu manejado seja 
vendido em mantas. Basta investir em estruturas adequadas de estocagem e 
transporte. 
 
V. PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS 
 Os resultados parciais do trabalho foram apresentados oralmente e 
constam nos anais do V Seminário Anual de Pesquisas do Instituto de 
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que foi realizado entre os dias 06 e 08 
de junho de 2007. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
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VI. CONCLUSÃO 
As atuais condições sanitárias do pirarucu produzido nas RDS’s 
Mamirauá e Amanã ainda não satisfazem e, provavelmente, como quase todos 
os que atuam na atividade de pesca na Amazônia, não satisfarão a todas as 
exigências da legislação brasileira, no entanto, muito tem melhorado no 
decorrer dos anos de pesca manejada. Esse não enquadramento não implica 
em perigo eminente à saúde dos consumidores, mas, principalmente, em 
perdas de credibilidade e econômicas. 
Devido a capacitações anteriores e no decorrer deste trabalho, à 
experiência de anos de pesca manejada e comercialização, os pescadores das 
reservas têm um bom nível de preocupação relacionado à busca da qualidade 
do pescado. Todavia, aspectos simples passam despercebidos, em especial 
aqueles relacionados às condições de trabalho. Estas, por sinal, são um dos 
principais entraves neste processo. Por isso, é extremamente necessário que 
outro profissional especializado no assunto continue a trabalhar esta questão 
com os pescadores, capacitando-os e acompanhando-os também, mas não 
apenas nas questões intrínsecas à tecnologia do pescado. Mas só isso não 
mudará a situação atual, pois os pescadores é que são os grandes agentes de 
transformação. E, de posse dos conhecimentos necessários, irão se destacar 
as áreas que melhor se organizarem em busca do controle de qualidade da 
produção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
Sustentável Mamirauá - IDSM 
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
AYRES, J. M. As matas de várzeas do Mamirauá. Estudos do Mamirauá. V.1. 
Sociedade Civil Mamirauá. 3ª ed. 124p. Belém, 2006. 
 
 
HOWARD, W. J., AYRES J.M., LIMA-AYRES, D., E ARMSTRONG, G. (1995). 
Mamirauá: a case study of biodiversity conservation involving local people. 
Common Wealth Forestry Review, 74(1): 76-79. 
 
 
HUSS, H. H. El pescado fresco: su calidad y cambios de su calidad. FAO. 
Documento tecnico de pesca 348. 109 p. Roma, 1998. 
 
 
IBAMA. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 1, DE 1º DE JUNHO DE 2005. Instituto 
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Manaus, 
2005. 
 
 
MMA. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 24, DE 04 DE JULHO DE 2005. 
Ministério do Meio Ambiente. Brasília, 2005. 
 
 
OGAWA, M. & OGAWA, N. B. O. Alterações do pescado pós-morte. In: Manual 
de Pesca: Ciência e Tecnologia do Pescado. Livraria Varela. São Paulo/SP, 
1999. pág. 111-137. 
 
 
PMP. Relatório Técnico do manejo comunitário de pirarucu (Arapaima gigas) 
nos setores Jarauá, Tijuaca, e Maraã (Reserva de Desenvolvimento 
Sustentável Mamirauá), e setor Coraci (Reserva de Desenvolvimento 
SustentávelAmanã) no ano de 2007. Programa de Manejo de Pesca/IDSM. 
Tefé/AM, 2008. 
 
 
PQV. Censo demográfico da Reservas de Desenvolvimento Sustentável 
Mamirauá e Amanã. Banco de dados do Programa Qualidade de Vida. 
Tefé/AM, 2006. 
 
 
QUEIROZ, H. L. & SARDINHA, A. D. 1999. A preservação e o uso sustentado 
dos pirarucus em Mamirauá. In: QUEIROZ, H. L. & CRAMPTON, W. G. R. (ed.) 
 
 
 
 
 
 
 
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Instituto de Desenvolvimento 
Sustentável Mamirauá - IDSM 
Estratégias para o Manejo de Recursos Pesqueiros em Mamirauá. Brasília: 
Sociedade Civil Mamirauá: MCT/CNPq. p. 108 - 141. 
 
 
SCM, 1996. Mamirauá: Plano de Manejo. CNPq/MCT, IPAAM. Brasília. 
MAMIRAUÁ. 
 
 
Agradecimentos 
Ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, pela 
oportunidade de realizar este trabalho. 
Ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico pelo 
financiamento da bolsa e das atividades de minha pesquisa. 
 Ao Projeto Matas Alagadas da Petrobras pelo financiamento de minhas 
atividades de trabalho. 
 À minha família e amigos antigos pelo apoio na distância e ausência. 
À equipe do Programa de Manejo de Pesca pelo apoio, suporte, trocas 
de conhecimentos, amizade e paciência: Wesllen, Saíde, Ruiter, Roberta, 
Nataluzo, Kelven, Ellen e Daíza. 
 Aos moradores das Reservas Mamirauá e Amanã, os quais são os 
verdadeiros donos das informações aqui escritas e os quais precisam possuí-
las. 
À Leila, PH, Soraia, Zu, Sabá e Hueliton pela acolhida, amizade e apoio. 
A João Vicente, pelo auxílio profissional despendido. 
Aos componentes dos setores da Administração, Biblioteca, Informática, 
SIG e Operações pelo suporte técnico e apoio indispensável às atividades de 
todos no IDSM. 
Aos colegas da Colônia de Pescadores Z-4 de Tefé, em especial à Ana 
Cláudia, sempre solícita em todos os momentos. 
Aos demais membros do IDSM e outros amigos conquistados nesta 
jornada, que contribuíram com a realização deste estudo ou com o apoio moral. 
 A Deus, pelo dom da vida.

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