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Sumário Nota do editor Agradecimentos À procura do Éden... O Jardim do Éden Os Jardins Suspensos da Babilônia Os Jardins Imperiais de Carlos Magno Os portugueses na era dos descobrimentos Os jardins de ervas medicinais Os primeiros jardins botânicos Jardins botânicos históricos Jardim Botânico de Pisa Jardim Botânico de Pádua Jardim Botânico de Florença Jardim Botânico de Sassari Jardim Botânico de Ferrara Jardim Botânico de Valência Jardim Botânico de Bolonha Jardim Botânico de Leipzig Jardim Botânico de Kaliningrado Jardim Botânico de Jena Jardim Botânico de Wroclaw Jardim Botânico de Montpellier Jardim Botânico de Heidelberg Jardim Botânico de Leiden Jardim Botânico de Copenhague Jardim Botânico de Estrasburgo Jardim Botânico de Oxford Jardim Botânico de Paris Jardim Botânico de Amsterdã Jardim Botânico de Tübingen Jardim Botânico de Uppsala Jardim Botânico de Hannover Jardim Botânico de Edimburgo Jardim Botânico de Chelsea Jardim Botânico de Berlim Jardins botânicos portugueses Jardim Botânico da Madeira Jardim Botânico da Ajuda Jardim Botânico de Coimbra Jardim Botânico da Universidade de Lisboa Bogor e Harvard: primeiros jardins botânicos na Ásia e na América do Norte Jardim Botânico de Bogor Jardim Botânico da Universidade de Harvard Jardins botânicos no século XX Estabelecendo conceitos Jardim Botânico de Kew Jardim Botânico de Nova York Jardins botânicos brasileiros Jardim Botânico de São Paulo Jardim Botânico do Rio de Janeiro A aventura das plantas A pitanga e o Jardim Botânico de Pisa A estévia e o Jardim Botânico de São Paulo O ginco e o Jardim Botânico de Montpellier A prímula-da-tarde e o Jardim Botânico de Pádua O tingui e o Herbário Nacional em Paris A baunilha e o Jardim Botânico de Paris A palmeira-dendê e o Jardim Botânico de Bogor A seringueira e o Jardim Botânico de Kew O café e o Jardim Botânico,de Amsterdã A boa-noite e o Jardim Botânico de Chelsea A castanha-d’água e o Jardim Botânico de Harvard Ilustração botânica A representação das plantas – uma pequena história A ilustração botânica e o Brasil A ilustração botânica hoje Finalmente o homem chegou ao Éden? Descrição das espécies citadas As plantas da capitular de Carlos Magno Plantas já aclimatadas na Europa antes da época dos descobrimentos e levadas para os arquipélagos de Cabo Verde e o de São Tomé e Príncipe Plantas levadas das Américas para os arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe Plantas levadas da Ásia para os arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe Plantas levadas da África para os arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe Demais espécies Referências bibliográficas Fotos Nota do editor Desde épocas remotas, o homem tem criado jardins para admirar a beleza das flores ou cultivar as espécies utilizadas na culinária ou na medicina. E, se não os criou de verdade, criou-os na forma de mitos. O Jardim do Éden é o exemplo maior. O ascendente direto dos atuais jardins botânicos é o Orto dei Semplici, um jardim com plantas que apresentavam qualidades medicinais ou farmacológicas e era propriedade de conventos, hospitais, boticários e médicos. Estes últimos, quando professores, utilizavam-no para apresentar a seus estudantes as espécies cultivadas. Os jardins botânicos continuam com suas funções didáticas e de pesquisa, mas realizam também um trabalho de educação ambiental para que a sociedade entenda que as plantas são fundamentais para a vida humana e que a sobrevivência delas depende de um esforço dos cidadãos. A Editora Senac São Paulo pretende, com esta publicação, contribuir para a divulgação e o fortalecimento dos jardins botânicos, instituições que se tornaram importantes focos de resistência contra a ação humana que leva à destruição dos ecossistemas. Agradecimentos Agradeço especialmente a Rosa Alice Mosimann, pelo extremo cuidado e boa vontade com que revisou grande parte de meu texto. Agradeço também a Cláudia Lemos e Luciano Esteves pela leitura crítica do texto, assim como por sugestões valiosas, e a Lúcia Rossi por elucidar minhas dúvidas técnicas. A Isabel Maria Macedo Alexandre pelo incentivo constante. Gil Felippe Agradeço a Dorothy e Eric Roberts, a Wayt Thomas (Jardim Botânico de Nova York), a Philip Jenkins (Fundação Margaret Mee), a Brian Stannard (Jardim Botânico de Kew), a Leopoldo M. Coutinho (Universidade de São Paulo) e a Cibele Boni de Toledo, Tânia Cerati e Luciano M. Esteves, estes últimos do Instituto de Botânica de São Paulo. Lilian Penteado Zaidan À procura do Éden... O que significa domesticar uma planta? A resposta parece ser bem simples. Para domesticar uma planta, é preciso cultivá-la. Provoca-se uma modificação genética, o que a tornará mais útil, por exemplo, para a alimentação humana. Hoje em dia, o desenvolvimento da cultura de uma planta é um trabalho altamente especializado, intencional, realizado por cientistas, com técnicas modernas, como a engenharia genética. Tudo isso para criar uma nova variedade mais adequada para a alimentação ou outro uso. E no passado? Os antigos lavradores também criavam suas variedades sem ter o conhecimento dos cientistas, escolhiam uma planta, colhiam suas sementes e as plantavam. Mas nem só de alimento vive o homem. Ele também tem o gosto pelas flores de cores atraentes e de perfume agradável. O gosto pela beleza. Assim, foram sendo domesticadas as plantas ornamentais para serem cultivadas nas novas aldeias, a fim de proporcionar prazer aos olhos e ao olfato. O homem domesticou plantas e criou seus jardins de prazer, buscando a beleza. Bem antes de ser criado o primeiro jardim botânico, já existiam os jardins. Estes são muito apreciados pelos homens de todos os cantos da Terra, hoje e no passado, por sua beleza e também por neles poderem ser cultivadas espécies usadas na culinária ou na medicina caseira. Alguns talvez tenham existido apenas na imaginação de poetas e filósofos. São os jardins míticos. Entre os vários paraísos-jardins, um é o Jardim do Éden, da Bíblia. Até hoje o homem está à procura do Jardim do Éden. A Europa, principalmente Portugal e Espanha, saíram à procura do Éden, é claro que com muito interesse econômico envolvido, um jardim rico de especiarias. Essa procura de novas fontes de divisa é que deu origem à era dos descobrimentos, das grandes viagens marítimas dos séculos XV e XVI. E por que não a procura do Jardim do Éden? O reencontro do Jardim do Éden era considerado como um reencontro com Deus, o fim do pecado original de Adão e Eva. Foi um dos motivos do empenho de Colombo e dos navegadores portugueses. De acordo com Alberto Vieira,[1] os portugueses pensaram que haviam chegado ao Jardim do Éden quando desembarcaram no arquipélago das ilhas Macaronésicas, uma das quais é a ilha da Madeira. É bom lembrar que as duas primeiras crianças que nasceram na ilha da Madeira foram batizadas como Adão e Eva? O Jardim do Éden Porém, voltemos ao Jardim do Éden, que seria o primeiro jardim da cultura ocidental. Após separar a terra dos mares, Deus fez as plantas. Então, criou o homem, Adão. Deus plantou lá pelo Orien te um jardim. No jardim, colocou o homem recém-criado e fez surgir do solo todo tipo de árvores bonitas e produtoras de bom alimento. Bem no meio do jardim, que os homens chamam de Éden, Deus plantou duas árvores, a “árvore da vida” e a “árvore do conhecimento do bem e do mal”. A “árvore da vida” era para lembrar Adão que ele compartilhava com Deus a vida eterna. A outra árvore não devia ser tocada. Adão podia, de acordo com Deus Pai, comer tudo que crescesse no Jardim do Paraíso, mas nunca poderia comer o fruto da “árvore do conhecimento do bem e do mal”. Se comesse, mesmo se fosse só um de seus frutos, estaria perdido. Se o fizesse, perderia também a dádiva da imortalidade. Foi formado um rio que regava o jardim do Éden. O rio se dividia em quatro braços, o Pisom, o Giom, o Tigre e o Eufrates. Adão, na presença de Deus Pai, deunome a todos os animais domésticos e dos campos e a todas as plantas. Lá, tudo era perfeito. Adão via toda a beleza, ouvia o cantar dos pássaros, sentia o perfume das flores. Tudo dava um prazer infantil e sem pecado a Adão. Para ficar ocupado, ele cuidava do jardim. Adão seria o grande jardineiro do Éden: devia lavrar a terra, cuidar das plantas. Deus todas as tardes visitava o jardim para conversar com Adão. Afinal, criara Adão para ter companhia. E Deus Pai criou a mulher, Eva, da costela de Adão. Adão deveria se unir a Eva e ser uma só carne. Estavam sempre totalmente nus e não se envergonhavam de nada. E, então, apareceu a serpente, o mais astuto dos animais, que aconselhou Eva a comer os frutos da “árvore do conhecimento do bem e do mal”, que ficava bem no meio do Jardim do Éden. O fruto da “árvore do conhecimento do bem e do mal” daria todo o conhecimento do universo aos dois, Adão e Eva. Eles passariam a conhecer o bem e o mal. A árvore era agradável à vista e seus frutos coloridos e perfumados pareciam um bom alimento. Eva apanhou um, comeu um pedaço e deu outro a Adão. De repente, ambos perceberam que estavam nus e ficaram envergonhados. E, por estarem muito envergonhados com sua nudez, cobriram a genitália com folhas de figueira. Deus Pai, enfurecido, expulsou Adão e Eva do Jardim do Éden. Dali para a frente, eles teriam de procurar seu próprio sustento. Deus Pai colocou querubins no Jardim do Éden que se tornaram os protetores da “árvore do conhecimento do bem e do mal”, agora árvore do pecado, e de seu Jardim do Paraíso. Muitos acreditam que a “árvore do conhecimento do bem e do mal” era uma macieira, e a maçã o fruto do pecado. O botânico D. J. Mabberley (1997) não acredita que seja a macieira. Ele sugere que a fruta produzida por espécies do gênero Strychnos (da família estricnácea) é que seria a fruta da “árvore do conhecimento do bem e do mal” do Jardim do Éden. Na fruta de Strychnos, a polpa não é perigosa, mas as sementes são tóxicas por possuírem estricnina. Mas há ainda outra versão. Muitos acreditam que a bananeira seria a “árvore do conhecimento do bem e do mal” e seria sua fruta a tentação de Eva. Adão e Eva teriam comido uma banana e não uma maçã. Depois do pecado, cobriram sua nudez com a folha da bananeira e não da figueira. Os Jardins Suspensos da Babilônia Os Jardins Suspensos da Babilônia eram considerados uma das Sete Maravilhas da Antiguidade. Embora mencionados por historiadores gregos, não há nenhum documento histórico que fale deles. Há, entretanto, um fragmento de cerâmica decorado encontrado na região que seria prova de sua existência. O fragmento mostra uma parte do que pode ser um jardim, com uma fileira de pilares. Os pilares suportam um teto sólido, no qual aparecem várias árvores, plantadas de modo regular, indicando um terraço. Seria o desenho de parte de um jardim suspenso? A cidade da Babilônia, uma das mais importantes do mundo antigo, estaria localizada na margem esquerda do rio Eufrates (um dos rios criados pelo Deus Pai no Jardim do Éden), a 90 km ao sul de Bagdá, hoje capital do Iraque. Foi a capital do reino no segundo e terceiro milênios antes da era cristã. Era uma cidade bem importante, pois ficava localizada justamente na rota de comércio que ligava o golfo Pérsico com a região do Mediterrâneo. O país da Babilônia existiu desde o século XVIII a.C. até o século VI a.C. A civilização da Babilônia era semelhante à da Suméria, que correspondia à Babilônia da era bíblica. A história da Suméria foi reconstruída através de poucos fragmentos de cerâmica decorados e outras evidências interpretadas por arqueólogos. O nome Suméria data, pelo que dizem os arqueólogos, do terceiro milênio antes da era cristã. A civilização dos babilônios era semelhante à precedente dos sumérios, uma civilização urbana, mas baseada na agricultura e não na indústria. O país era governado por um rei e tinha cerca de uma dúzia de cidades, entre elas a cidade da Babilônia, e pequenas vilas e vilarejos. Em 1760 a.C., estendia-se do golfo Pérsico até o rio Khabur (HabUr), um afluente do rio Eufrates. No governo do rei Hamurabi, o deus Marduk, da cidade da Babilônia, passou a ser um dos mais importantes do reino. Graças à grande quantidade de documentos conseguidas pelos arqueólogos, muita coisa é hoje conhecida a respeito dessa civilização, que exerceu forte influência nos países vizinhos, como a Assíria. Entre esses valiosos documentos, um dos mais importantes é o chamado código do rei Hamurabi. É um conjunto de leis que dá uma boa idéia da estrutura social e econômica do país. O código de Hamurabi é um dos mais significativos documentos legais de que se tem notícia. A cidade da Babilônia era cercada por uma muralha dupla. De acordo com o historiador grego Heródoto (484 a.C.-425 a.C.), chamado “o pai da História”, a muralha externa da cidade da Babilônia tinha cerca de 90 km de comprimento, com espessura de 30 m e altura de mais de 100 m. A muralha interna tinha espessura menor, mas era tão forte quanto a externa. Cercadas pelas muralhas ficavam fortalezas e templos com estátuas enormes de ouro maciço, especialmente do deus Marduk. A chamada Torre de Babel, um templo com sete andares, era vislumbrado bem acima das muralhas, e parecia chegar ao céu. A lenda diz que essa torre é a famosa Babel da Bíblia. Heródoto não menciona os Jardins Suspensos. Ciro, o Grande, tomou a Babilônia em 539 a.C., que passou a fazer parte do Império persa. A cidade manteve seu esplendor até 482 a.C., quando o imperador persa Xerxes destruiu seus templos e a torre. A cidade perdeu seu brilho. A cidade foi capturada por Alexandre, o Grande, da Macedônia, em 330 a.C., que planejou reconstruir a Babilônia. Infelizmente, ele morreu antes de começar a obra. A cidade foi diminuindo em importância e já havia praticamente desaparecido quando os muçulmanos a invadiram no século VII depois de Cristo. Os Jardins Suspensos da Babilônia teriam sido construídos por Nabucodonosor II (604 a 562 a.C.) para alegrar sua esposa Amiitis, filha do rei dos medas, que sentia falta do verde do reino onde nascera e crescera. Descrições dos jardins são feitas por vários historiadores gregos, entre eles Diodoro Sículo (90 a.C.-30 a.C), nascido na atual cidade de Agira, na Sicília. De acordo com ele, a região próxima aos jardins lembrava a elevação de um pequeno morro. E como eram eles? Várias estruturas apareciam umas sobre as outras, camada por camada. Os terraços seriam como degraus subindo do chão e iam ficando cada vez menores, à medida que aumentava a altura. Sob os terraços havia os arcos que suportavam tudo, cada terraço recebendo luz através da clarabóia do terraço imediatamente superior. O terraço mais elevado, que ficava sobre um arco, era o jardim principal. Cada estrutura era coberta por grande quantidade de solo. Máquinas especiais, escondidas da visão, levavam para os jardins suspensos a água colhida do rio Eufrates. Foram plantadas muitas variedades de árvores, grandes e vistosas, que alegravam o olhar dos visitantes. Tanto Sículo como outros historiadores gregos dão mais detalhes: árvores com muitos frutos de todas as cores e tamanhos, quedas de água murmurantes, jardins debruçando-se como tapetes dos terraços do palácio real, animais de várias procedências. Nem Sículo nem nenhum outro autor grego menciona a presença de ervas para produção de flores, só árvores. O terraço mais elevado era provido de uma grande escadaria. Os jardins tinham forma quadrangular, cada lado medindo pouco menos de 150 m de comprimento, com abóbadas arqueadas. A altura seria de cerca de 30 m, mas alguns historiadores afirmaram que era de mais de 100 m. As raízes das plantas não atingiam a terra, ficando encravadas no solo dos terraços. As fundações eram mantidas por grandes colunas de pedra. Como a água fluía continuamente, a grama estava sempre verde, as plantas sempre com flores e frutos, fazendo a construção toda pareceruma montanha coberta de árvores. Infelizmente, não há nenhuma pintura antiga retratando os Jardins Suspensos da Babilônia. Seriam eles uma criação da mente dos historiadores gregos? Talvez. Os Jardins Imperiais de Carlos Magno Desde épocas remotas, sempre existiram jardins. Prova disso é o que deles ficou registrado em documentos e pinturas, e o tanto que foram objetos de imaginação ou de crença. Restos de jardins podem ser vistos nas ruínas da Grécia e de Roma antigas. Os conventos medievais sempre tinham os seus, para deleite dos monges e também como fonte de alimentos. Na Idade Média, Carlos Magno criou regras indicando as plantas que deveriam ser cultivadas nos jardins de todo seu império. Assim, durante o restante da Idade Média, chegando até o século XVIII, todos os jardins dos conventos europeus continham as plantas indicadas por Carlos Magno. Estaria Carlos Magno tentando criar o Jardim do Éden? Carlos Magno dominou a maior parte da Europa central e ocidental, sendo o mais conhecido e influente rei da Europa na Idade Média. Nasceu na cidade alemã de Aachen, em 2 de abril de 742 (ou 747), e, como rei dos francos, esteve sempre envolvido em batalhas, tendo conquistado grande parte da Europa, recuperando assim o Império Romano do Ocidente. Tentou, mas não conseguiu, a conquista da península Ibérica. Forçou à conversão ao cristianismo todos os povos conquistados, massacrando os que se recusaram. Era, assim, um “piedoso” cristão e protetor dos papas. No dia de Natal do ano 800, Carlos Magno estava ajoelhado, na Basílica de São Pedro, em Roma, quando o papa Leão III colocou em sua cabeça uma coroa. Nesse dia, passou a ser imperador do Sacro Império Romano. Sua residência principal era em Aachen, onde se cercava de intelectuais de toda a Europa. Era um guerreiro germânico tradicional e colocou seu prestígio e poder a serviço da doutrina cristã, da vida monástica e do ensino do latim, criando a base da civilização européia, fundindo as culturas germânica, romana e cristã. Carlos Magno morreu em 28 de janeiro de 814 em Aachen, onde foi sepultado. Para proteger suas terras, o povo que nelas vivia e tudo o que nelas existia, Carlos Magno emitiu vários decretos, entre eles a capitular chamada De Villis, aproximadamente em 795. Essa capitular definia um grande número de regras administrativas, legais e sobretudo agrícolas para todo o império e regulamentava todos os aspectos da vida agrícola em seus domínios, a produção de alimentos, convenções sociais e até higiene. Um dos capítulos enumerava as ervas e árvores que poderiam ser plantadas em todos os jardins imperiais, inclusive nos jardins mantidos pelos monges. Graças a alguns documentos eclesiásticos do século IX e de agentes do rei, sabemos hoje quais plantas eram cultivadas nos jardins medievais. Na lista de plantas a serem cultivadas estão as que produzem flores, como rosa, lírio, gladíolo, heliotrópio e malva. Entre as hortaliças, aparecem nabo, pepino, rúcula, almeirão, beterraba, mostarda. Há também as aromáticas, como sálvia, alecrim, cominho, erva-doce, anis. E algumas árvores frutíferas como macieira, figueira, ameixeira. A listagem completa dá uma idéia da variedade da produção agrícola da época medieval e autentica a descrição dos jardins tão abundantes na literatura da Idade Média. De acordo com De Villis, todos os jardins do império deveriam ter 82 ervas indicadas em uma extensa lista. Além disso, Carlos Magno impôs que todo jardineiro tivesse no teto de sua casa Sempervivum tectorum L., uma planta da família crassulácea que mantinha as telhas de ardósia no telhado. Pensava-se, também, que essa plantinha era útil para evitar raios. Havia também árvores obrigatórias, como a Castanea sativa L. (castanha- européia), Citrus aurantium L. (laranja-azeda), Corylus avellana L. (avelã), Cydonia oblonga Millero (marmelo), Ficus carica L. (figo), Juglans regia L. (nogueira), Laurus nobilis L. (loureiro), diversas variedades de Malus sp. (maçã), Mespilus germânica L. (nêspera ou medlar), Morus nigra L. (amora), Pinus pinea L. (pinhão-italiano, pignoli), diversas variedades de Prunus avium (L.) L. (cereja doce), Prunus cerasus L. (cereja azeda), diversas variedades de Prunus x domestica L. (ameixa), Prunus dulcis (Miller) D. Webb (amêndoa), diversas variedades de Prunus persica (L.) Batsch, duas ou três variedades de Pyrus communis L. (pêra), Sorbus domestica L.(maçã-de-sorva). Graças à capitular, muitas plantas da região do Mediterrâneo passaram a ser conhecidas na parte mais ao norte da Europa central e ocidental. Algumas delas começaram a ser cultivadas e se adaptaram permanentemente nessas regiões mais frias. A salsinha e o salsão são dois exemplos que podem ser citados. Algumas dessas plantas eram o alimento diário do povo do império, como as diferentes variedades de nabo. A capitular De Villis foi muito importante na unificação das práticas agrícolas, além de redistribuir espécies de plantas por todo o império. Muitas das espécies que não constam do édito só chegaram à Europa com os portugueses nos séculos XV, XVI e XVII. Como exemplo, temos a laranja, Citrus aurantium. Esta é a laranja-azeda. A laranja já era mencionada na literatura chinesa em 2400 a.C. Teofrasto, em 310 a.C., já deu uma boa descrição dessa fruta. A laranja-azeda, vinda do Oriente, chegou à Europa pelo Mediterrâneo, trazida pelos árabes, e atingiu Portugal antes mesmo de este ser um país. As laranjeiras cultivadas pelos reis da França desde Francisco I até Luís XV eram originadas de uma laranjeira importada de Pamplona, na Espanha. Eram todas, portanto, laranjas-azedas. A laranja-doce foi levada da Índia e da China, para a Europa, pelos portugueses, bem depois da época de Carlos Magno, é claro. A primeira laranjeira chinesa chegou a Portugal em 1630 e lá floresceu, tornando- se mais popular que a laranja-azeda, até então, a única na Europa. Para o Brasil, sementes e mudas foram trazidas de Portugal. Outro exemplo interessante é a cebola. Ela aparece na lista de Carlos Magno e só depois disso passou a ser uma cultura popular em toda a Europa. A cebola é uma das plantas mais importantes para os russos, que as comem em grande quantidade, talvez por armazenarem carboidratos, que as tornam um alimento muito energético. A lista de Carlos Magno manteve sua importância por toda a Europa até o século XVIII, sendo as plantas cultivadas em todos os conventos existentes em climas adequados. Os portugueses na era dos descobrimentos O homem, como ser inteligente que é, ao emigrar para uma nova região, tentará reproduzir ali as condições em que vivia antes, seja quanto a alimentos, seja quanto a hábitos ou costumes. Às vezes, se a região for muito isolada, os costumes levados para a nova região acabam por se cristalizar no tempo. Vejam- se alguns imigrantes alemães ou italianos dos estados de Santa Catarina ou Rio Grande do Sul que mantêm tradições do país de origem no início do século XXI! Os portugueses não foram diferentes. Durante a época dos descobrimentos, e depois, espalharam pelo mundo as plantas que já conheciam da sua Europa natal. Porém, em suas viagens passaram a conhecer novas espécies de plantas dos outros continentes, plantas que lhes seriam úteis. Assim, precisavam introduzir plantas européias nas regiões em que chegavam e levar plantas novas de um continente para outro. Mas os climas eram muito diferentes e os locais muito distantes uns dos outros. Veja-se a distância entre Brasil e Índia, por exemplo. Além de tudo, havia o problema da sobrevivência das plantas durante as longas travessias. Que fizeram eles? Havia necessidade de certo tipo de local, para aclimatar novas e velhas espécies, produzir sementes e mudas. Na verdade, um trabalho de conservação e de introdução de novas espécies em diferentes continentes. O jardim botânico dos portugueses, o Éden, foram as ilhas do Atlântico que ficavam a meio caminho entre a América e a Europa-África e entre a Europa-Áfricae os países da Ásia. Nas ilhas do Atlântico, os portugueses introduziram sementes e plantas vivas. Desse modo, já no fim do século XV, os portugueses tinham seus jardins botânicos, com muitas das atribuições semelhantes aos jardins botânicos e agronômicos do século XX. Hoje em dia há, evidentemente, outras atribuições que então não existiam. Mas há muitos jardins botânicos pelo mundo que tratam apenas de uma determinada, como os que cuidam de plantas medicinais. Onde ficavam os jardins botânicos lusitanos? Os arquipélagos das ilhas da Madeira, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe foram os jardins botânicos dos portugueses na era dos descobrimentos, os jardins botânicos da Renascença portuguesa. E continuaram por muito tempo com sua função, muito além do Renascimento. O arquipélago das ilhas Macaronésicas, do qual a ilha da Madeira faz parte, foi descoberto pelos portugueses em 1418. O arquipélago recebeu seu nome graças à densa vegetação e muitas florestas. Está localizado no oceano Atlântico, cerca de 1.100 km a sudoeste de Portugal, país ao qual pertence. Consiste das ilhas da Madeira, Porto Santo, das ilhas Desertas e das ilhas Selvagens, todas de origem vulcânica. O arquipélago tem área total de cerca de 800 km². A ilha da Madeira é a maior, com 55 km de comprimento e 22 km de largura; nela situa- se a cidade de Funchal, a capital do arquipélago. Foi a primeira área de ocupação atlântica dos portugueses. Sua grande importância é o pioneirismo na cultura e a divulgação do açúcar para o Novo Mundo. A cana-de-açúcar foi uma das primeiras plantas a serem testadas. O português levou do Oriente para lá a cana- de-açúcar, de grande valor econômico na época, o que causou um processo de transformação e degradação do meio ambiente local. As ilhas foram o viveiro de aclimatação. Houve, para as ilhas, primeiro a migração da flora e da fauna conhecidas da cultura ocidental. Depois, as plantas do Novo Mundo passaram pelas ilhas da Madeira. A nova riqueza da flora local resulta de tudo isso. Os estudiosos consideram que, atualmente, apenas 10% das espécies da flora da Madeira sejam endêmicas, isto é, exclusivas dessas ilhas, não ocorrendo de forma espontânea em nenhuma outra parte do mundo. Porém, o grande experimento foi com a cana-de-açúcar. A cultura da cana-de-açúcar no arquipélago da Madeira tornou-se o protótipo do sistema da cultura desenvolvido por Portugal nas colônias da América depois de 1550. Essa cultura é uma das mais importantes da história do homem, provocando grandes mudanças na mobilidade humana, na economia, no comércio e na ecologia. É uma cultura que transforma totalmente o meio ambiente, destruindo florestas, poluindo cursos de água e esgotando o solo. Ela esteve ligada à escravatura de muitos africanos, levados para o outro lado do oceano Atlântico. O arquipélago de Cabo Verde, descoberto pelos portugueses em 1460, hoje uma república, inclui muitas ilhas no oceano Atlântico, a oeste do ponto mais ocidental da África, o cabo Verde. São dez ilhas maiores e cinco ilhas pequenas. As ilhas maiores são: Santo Antão, São Vicente, São Nicolau, Sal, Boa Vista, São Tiago, Brava, Fogo, Santa Luzia e Maio. Cabo Verde tem um total de cerca de 4.000 km². As cidades principais são Praia e Mindelo. As ilhas são de clima ameno e seco, situadas entre as zonas temperada do norte e a tropical, com temperaturas das duas zonas, variando com a altitude, que pode ser bastante elevada. Quase todas as caravelas que saíam de Lisboa passavam por Cabo Verde. Os portugueses pretendiam estabelecer nessas ilhas fontes de alimentos frescos para seus homens. Para isso, foram introduzidas ali mudas já preparadas de algumas espécies e sementes. Por seu clima, era o local ideal para propagar, desenvolver e conservar plantas européias que seriam levadas para as colônias tropicais e plantas das colônias destinadas à Europa. As caravelas deixavam ali sementes de plantas americanas que germinavam, cresciam e produziam novas plantas. Estas eram apanhadas por outras caravelas e levadas para a Europa, a África e o Oriente. O mesmo era feito com as plantas originárias do Oriente, da Europa ou da África. Várias espécies foram levadas de Portugal para Cabo Verde, entre elas as laranjas, a cidra, o limão, a romã, o figo, a pêra, a uva e o melão. Também foram levadas hortaliças, como a alface, a couve, o nabo, o pepino, a beterraba e o salsão, que cresciam bem, mas não produziam sementes. Só no século XX, com o avanço da fisiologia vegetal, é que se descobriu que isso se devia a um fenômeno chamado fotoperiodismo – a floração de muitas plantas é controlada pelo número de horas de luz por dia a que a planta fica sujeita. Do Oriente, foram levados o coco, a banana, a manga, a cana-de-açúcar e o arroz. A cana-de-açúcar chegou através da ilha da Madeira. Os portugueses entraram em contato com o coqueiro na primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, nas terras de Moçambique. Ao Brasil, foi trazido de Cabo Verde pelos portugueses, em 1553. Os portugueses aprenderam, com os orientais, a usar o coco, nas viagens, como alimento fresco e fonte de água de fácil conservação por longo período. A abóbora, o feijão, o mamão e o urucum foram levados das Américas para Cabo Verde. O arquipélago de São Tomé e Príncipe, que era desabitado quando foi descoberto pelos portugueses em 1470, está localizado na costa ocidental da África, no golfo da Guiné, bem na linha do Equador; portanto, são ilhas de clima quente. Consta de várias ilhas pequenas, além das ilhas de São Tomé e Príncipe. Cobre uma área de cerca de 1.000 km². A partir de 1485, os portugueses levaram para as ilhas criminosos e judeus. Começou então um rendoso comércio de escravos negros. Hoje, o arquipélago, em razão de sua localização estratégica, voltou a ter grande importância. Os Estados Unidos investiram milhões de dólares no arquipélago para instalar um sistema de radar e de sensores de rastreamento, a fim de vigiar o oceano Atlântico e reprimir o tráfego clandestino de navios. Quanto à temperatura e à proximidade de Lisboa, esse arquipélago apresentava desvantagens para o cultivo de plantas em relação ao arquipélago de Cabo Verde. O arquipélago de São Tomé e Príncipe não ficava, em geral, na rota das caravelas e o clima não era apropriado à introdução de plantas da zona temperada. Assim, muitas plantas oriundas da Europa não podiam ser aclimatadas aí. Essas ilhas, no entanto, foram de grande importância na troca de espécies entre o Brasil e o Oriente. De Portugal, foram levadas para esse arquipélago as espécies do figo, da uva, da laranja, da cidra, do pêssego, da amêndoa e da oliveira. Foram levadas também hortaliças como a alface, a couve, o nabo, a beterraba e o salsão, hortaliças que, como acontecia em Cabo Verde, eram semeadas, cresciam muito bem, mas não produziam sementes. Das Américas, foram levados o abacateiro, a batata-doce, a mandioca e o milho. Somente em 1822 os portugueses levaram para São Tomé o cacau, que foi um grande sucesso, e o arquipélago passou a ser um dos mais importantes produtores mun diais desse fruto já no início de 1900. A baunilha chegou ao arquipélago no século XIX. Da África continental, foram levados a tamareira e o cará. Da Ásia, os portugueses levaram para ali o coqueiro e a cana-de-açúcar, que já estava sendo cultivada na ilha da Madeira. Várias espécies previamente adaptadas nesses dois arquipélagos já estavam sendo cultivadas no Brasil em 1585. Entre elas, podem-se citar o melão, o pepino, o figo, a romã, a uva e a laranja. É preciso acrescentar que nem todas as espécies introduzidas nos diferentes continentes passaram por pesquisas em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Por exemplo, o trigo foi levado diretamente para o Sudeste do Brasil, em São Vicente, por Martim Afonso em 1534. Um grande número de espécies foi levado das Américas para essas ilhas portuguesas. Muitas dessas plantas, como o milho e a mandioca, depois de aclimatadasnas ilhas, foram levadas para a África, ao sul do Saara, e passaram a ser as principais fontes de alimentos dos africanos. [1] Alberto Vieira, A história da cana-de-açúcar e meio ambiente, 2007, disponível em http://www.ceha- madeira.net/ecologia/eco4.html. http://www.ceha-madeira.net/ecologia/eco4.html Os jardins de ervas medicinais Os jardins sempre foram a alegria dos homens e, através dos séculos, são conhecidos suntuosos exemplos. Podemos citar os famosos jardins da Villa d’Este, em Tivoli, perto de Roma, na Itália, um dos mais belos da Renascença. O cardeal Ippolito d’Este era filho de Lucrécia Borgia com seu terceiro marido, Afonso I, duque de Ferrara, e foi nomeado governador de Tivoli em 1549. Ficando encantado com a vista da região, resolveu construir, em um pequeno morro, seu palácio e um jardim em terraços. Não se preocupou com os gastos nem com o tempo curto. Construiu seu jardim em vários terraços, unidos uns aos outros por vielas diagonais e escadas laterais. As inúmeras fontes são abastecidas pelas águas do rio Aniene, um afluente do rio Tibre. A Villa d’Este mostra claramente a grande vantagem para um paisagista de ter um suprimento natural de água ao construir um jardim. Porém, belos jardins não são só os da Renascença. Eles floresceram também no período barroco, estilo iniciado em Roma. Como exemplo, temos os parques geométricos realizados na Villa Borghese a partir de 1605 e, em 1634, na Villa Doria Pamphili, ambos em Roma. Porém, há muitos outros por toda a Europa. Os nobres também adoravam criar grandes parques, em locais onde havia ainda alguns remanescentes das florestas nativas, embora muito alteradas. Um bom exemplo de parque, que hoje é aberto à visitação do público, com pagamento de uma taxa de entrada, é o Painshill Park, situado em Cobham, Surrey, na Inglaterra. O parque foi criado entre 1738 e 1773 por Charles Hamilton, filho do duque de Abercorn. Hamilton começou a comprar as terras do futuro parque em 1738 e gastou uma imensa fortuna em sua criação. Os jardins seguiram um estilo naturalista e não geométrico, como era o costume inglês naquela época, com muitos arquitetos especializados em paisagismo contribuindo para o que se tornou o parque. Hamilton era apaixonado pela cultura dos antigos romanos, da Idade Média, da Renascença e dos países asiáticos. Assim, o parque apresenta suas excentricidades. Por toda parte, um grande número de ruínas romanas, góticas, da Renascença e pontes chinesas. Há restos de uma abadia, de um anfiteatro, de um templo gótico. Alguns prédios são mantidos e outros se tornaram ruínas. Muitos já foram construídos como ruínas e são mantidos assim até hoje. Estátuas de mármore estão espalhadas por todo o parque. Há também um grande moinho de água. Quando o dinheiro de Hamilton terminou, em 1773, ele vendeu o parque, que continuou a ser bem cuidado por muito tempo. Posteriormente, foi abandonado por um período e, finalmente, restaurado a partir de 1981, de acordo com o conceito original de seu fundador. Cercado por muros altos de tijolos, havia e ainda são mantidos hoje uma horta e um pomar, além de um jardim utilizado para aulas de jardinagem. Há um grande número de árvores muito interessantes, que já existiam lá ou foram plantadas por Hamilton. De frente para o grande lago, há um cedro-do-líbano (Cedrus libani A. Rich, família pinácea, Gymnospermae). Mesmo jardins botânicos, sempre privados e nos domínios de reis e nobres, existiam, freqüentemente combinados com jardins zoológicos. O Jardim de Schönbrunn, perto de Viena, é um bom exemplo. O parque do castelo foi comprado em 1569 pelo imperador austríaco Maximiliano II, que tentou estabelecer no local um conjunto de animais selvagens e o cultivo de plantas raras e exóticas. Durante a invasão dos turcos, foi quase totalmente destruído. A construção do novo palácio foi iniciada em 1669 e completada entre 1746 e 1749. O parque também foi completado na mesma época. A idade de ouro de Schönbrunn teve início na época da rainha Maria Teresa. O zoológico, reconstruído em 1752, é hoje o mais antigo zoológico do mundo e o único barroco. O jardim em si tem uma coleção famosa de plantas tropicais, longas alamedas, colinas cobertas de vegetação luxuriante. Mas não é o Jardim Botânico de Viena. Este, que pertence à Universidade de Viena, foi fundado em 1754 pela imperatriz Maria Teresa e fica perto da estação Rennveg, tendo sua entrada na esquina das ruas Mechelgasse e Praetoriusgasse. Mas jardins botânicos também eram criados por burgueses ricos interessados em plantas e animais. Na Alemanha, por exemplo, todos os botânicos eram donos de grandes jardins e ali faziam suas pesquisas. Henricus Cordus, um botânico que recebera o título de doutor em Ferrara, na Itália, em 1525 criou um em sua propriedade, em Erfurt. Era tão extenso que era conhecido, na época, como Jardim do Sacro Império Romano. Em 1527, Cordus foi nomeado professor em Marburg. Uma de suas primeiras providências foi criar na cidade um jardim botânico para seu uso. Eram, portanto, sempre privados, muitas vezes sem uma atividade de pesquisa verdadeira. E há muitos outros por toda a Europa. Porém, quando se fala de botânica e de jardins, não se pode deixar Teofrasto de lado. Teofrasto foi o mais importante botânico da Antiguidade e discípulo de Aristóteles, de quem herdou a biblioteca e trabalhos inéditos. Passou seus anos mais produtivos em Atenas, onde tinha um grande número de alunos e era responsável pelo que se supõe seja o primeiro jardim botânico. Nada chegou até nós a respeito desse jardim, de seu tamanho, das espécies de plantas e de quanto tempo durou. Teofrasto é o autor de De historia plantarum e De causis plantarum, textos em que escreve sobre a história das plantas e sobre o que afeta o crescimento do vegetal. Os manuscritos foram traduzidos para o latim a mando do papa Nicolau V e publicados pela primeira vez em Treviso em 1483. Durante muito tempo, os trabalhos de Teofrasto eram indispensáveis para entender e ensinar a botânica, apesar de serem muito gerais e, neles, as espécies das plantas serem mencionadas sem cuidado, muitas vezes sendo difícil saber do que ele está falando. Referiu-se também a plantas exóticas da Índia, Pérsia, Síria, Egito e Líbia, mas seu conhecimento sobre elas era fraco e baseado em histórias dos soldados de Alexandre, o Grande. Mas e as espécies com propriedades medicinais? Espécies vegetais já eram empregadas como medicamento entre os fenícios, assírios, egípcios, muito antes de Teofrasto. Na China, há mais de 8 mil anos se utilizavam plantas que são encontradas na farmacopéia chinesa atual. Primeiro estudo com uma coleção de ilustrações de espécies vegetais, suas descrições e o relato de suas virtudes, foi feito por Crautea, médico de Mitridate VI (132-63 a.C.), rei de Ponto, no nordeste da Turquia. Crautea ficou famoso, em seu tempo, por preparar um medicamento supostamente eficiente contra qualquer tipo de envenenamento; foi chamado de mitridatium, de fórmula complexa, composto de mais de cinqüenta espécies vegetais. Dioscórides Pedânio era um médico grego nascido na Cilícia, hoje Turquia, e serviu como médico do exército romano de Nero. Estudou muitas plantas e suas propriedades, tendo escrito De materia medica, que é o primeiro texto importante de botânica e farmacologia, deixando de lado a superstição. Toda a farmacologia da Idade Média foi baseada nesse texto. O texto simplificado foi muito reproduzido e difundido nos conventos da época medieval, centros de pesquisa de plantas medicinais. Cláudio Galeno nasceu em Pérgamo, na época colônia romana, onde estudou medicina. Viveu em Roma, sendo médico do imperador Cômodo, filho de Marco Aurélio. Escreveu muito sobre medicamentos e farmácia. Entretanto, em suas obras há referência a apenas cerca de 450 fármacos, menos da metade do que se encontra na obra de Dioscórides. Em 1046, chega a Salerno, na Itália, o árabe, convertido ao cristianismo,Constantino, o Africano. Ele traduz do árabe as principais obras médicas - islâmicas, mostrando quais plantas os muçulmanos utilizavam como medicinais. Dessa maneira, houve um grande aumento do número de plantas a serem cultivadas nos jardins de ervas medicinais. Os jardins de ervas medicinais são a transição entre jardins comuns e jardins botânicos, criando a concepção inicial de um verdadeiro jardim botânico. O jardim de ervas medicinais é o Jardim dos Simples – Orto dei Semplici. “Semplici” ou “simples” significa plantas que possuam propriedades medicinais ou farmacológicas. Esses jardins foram criados para o cultivo das plantas utilizadas na tradição popular e que passaram a ser empregadas diretamente em medicina ou que continham substâncias aproveitadas em medicina. Inicialmente, foram criados por instituições particulares pertencentes a médicos, boticários, conventos e hospitais. Mais tarde, havia certo interesse didático para o ensino de algumas espécies de interesse farmacêutico (as espécies officinalis). Nos mais antigos, as plantas eram utilizadas diretamente. Nos mais recentes, jardins onde alguma pesquisa era realizada, utilizavam-se produtos de plantas. Desde sua criação, o orto dei Semplici é subdividido em setores que correspondem à função medicinal de cada planta. Em geral, os setores eram os seguintes: plantas que atuam sobre o sistema respiratório; plantas que atuam sobre o sistema genito-urinário; plantas que atuam sobre o sistema digestivo; plantas que atuam sobre o sistema nervoso; plantas que atuam sobre o sistema respiratório; plantas que atuam sobre o sistema músculo-esquelético; plantas que atuam sobre o sistema circulatório; plantas que atuam sobre a pele; plantas com ação antiparasitária. Até o nascimento da química de sintéticos no século XIX, os medicamentos eram simplesmente retirados das plantas. A partir de então, passaram a ser também sintetizados, como é o caso de muitos remédios de hoje em dia, que são preparados pelos laboratórios e não mais extraídos de espécies vegetais. A necessidade de encontrar remédios para curar doenças sempre foi muito importante para o homem, que, desde a pré-história, por observação, era capaz de reconhecer muitas plantas e de saber que uso elas poderiam ter, inclusive como medicamento. Até o nascimento da medicina moderna, não havia um estudo sistemático e científico das plantas, e o que se fazia era combinar práticas religiosas e mágicas. Por exemplo, era comum identificar a função terapêutica pela associação entre a semelhança da forma de uma planta ou parte dessa planta com a do órgão do corpo. Assim, se uma folha tinha forma de coração, ela era empregada na medicina caseira para tratar de dores do coração e problemas do sistema circulatório. Os primeiros e principais jardins de ervas medicinais com função didática foram criados na Itália. Um, no século XIII, no Vaticano, e outro, entre os séculos XIII e o XIV, em Salerno. Ambos não existem mais. As ervas medicinais eram cultivadas em uma área restrita dos jardins do Vaticano. Há uma lápide, hoje pertencendo ao acervo do Museu Palatino em Roma, que atesta que o papa Nicolau III (papa de 1277 a 1300) foi quem determinou, em 1278, a construção desse setor do jardim, além de cercá-lo com muros. O jardim continha, inicialmente, uma área com árvores de espécies variadas, plantas herbáceas e uma fonte. Mais tarde, o horto assume sua função de jardim de plantas medicinais. É o primeiro exemplo de um jardim medicinal. No pontificado de Inocêncio VIII (papa de 1484 a 1492), incrementa-se o acervo de plantas medicinais. Os médicos e professores colhiam plantas desse jardim para suas pesquisas. O papa Leão X (papa de 1513 a 1521) institui na Universidade de Roma, em 1514, a primeira cátedra para o ensino de ervas medicinais. O titular da cátedra, na universidade, era também responsável pelo Horto do Vaticano. O horto foi abandonado por causa das novas construções no Vaticano e desapareceu totalmente. O papa Alexandre VII (papa de 1655 a 1667), sentindo a necessidade de um novo horto, concede à universidade um terreno no Gianicolo para a construção do que é o atual Jardim Botânico de Roma. Em Salerno, o chamado Jardim de Minerva era um jardim de plantas medicinais que existia na propriedade da família de nome Silvatico. Estava situado no centro antigo de Salerno, perto do rio Fusandola, cercado de muros medievais. Matteo Silvatico, que viveu entre os séculos XIII e XIV, era um famoso médico, grande conhecedor de plantas e de suas qualidades terapêuticas. Escreveu Libercibalis et medicinalis pandectarum, uma coleção valiosa de informações a respeito de plantas usadas para preparar medicamentos. Em sua propriedade, ele cultivava as plantas medicinais que apresentava a seus alunos. Assim, estes ficavam conhecendo o nome das espécies e para que tipo de doenças elas eram úteis. Esse jardim foi reconstruído há poucos anos. Os jardins de ervas medicinais são os protótipos dos primeiros jardins botânicos, na acepção moderna, que surgiram no século XVI. Os primeiros jardins botânicos Os reais protótipos dos jardins botânicos, como os conhecemos hoje em dia, foram os jardins de ervas medicinais. O que é um jardim botânico? É um jardim em que plantas são cultivadas e exibidas sobretudo para fins de pesquisa e de educação. É uma instituição mantida por dinheiro público ou privado, aberta ao grande público e ao público especializado. Um jardim botânico consiste principalmente de uma coleção de plantas vivas, cultivadas a pleno sol ou em casas de vegetação ou estufas. Também pode ter uma coleção de plantas secas, mantidas em um herbário, e outras facilidades, como biblioteca, laboratórios, museus e locais para plantio ou pesquisas especiais. A partir do fim do século XVIII, os jardins botânicos da Europa começaram a organizar expedições científicas, sempre com algum botânico de renome, a diversos rincões do mundo para coletar espécies exóticas, e os resultados dessas expedições passaram a ser publicados. Posteriormente, pesquisas eram realizadas para saber como adaptar essas plantas exóticas aos jardins botânicos responsáveis pelas expedições. Outras pesquisas eram realizadas para identificar e classificar as espécies, como propagá-las e o que devia ser feito para proteger espécies em perigo de extinção. Os experimentos e pesquisa feitos nesses jardins botânicos permitiram que muitas espécies fossem levadas de seu local de origem para outras regiões do mundo. Mas já muito antes do século XVIII, expedições eram feitas para coletar plantas. No Egito antigo, em 1495 antes da era cristã, a rainha Hatchepsout enviou o príncipe Nehasi em uma expedição para coletar plantas de mirra. A expedição deixou o palácio em barcos, subiu o rio Nilo, atravessou o mar Vermelho até o golfo de Aden. O resultado é que 31 arbustos jovens de mirra chegaram ao Egito e foram plantados no templo de Amon em Tebas. Durante a era dos descobrimentos, os portugueses faziam o mesmo nas ilhas do oceano Atlântico: coletavam plantas em vários locais do mundo e as cultivavam nessas ilhas. Isso reforça minha tese de que os primeiros jardins botânicos de verdade foram os arquipélagos da Madeira, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, na época das grandes aventuras marítimas dos portugueses. As plantas podem estar organizadas de acordo com as subdivisões da botânica. Pode ser uma organização sistemática, usando a classificação de espécies; ecológica, utilizando a relação delas com o meio ambiente; ou geográfica, levando em consideração a região de origem. Os maiores jardins botânicos incluem também coleções de plantas de montanhas, plantas aquáticas, plantas silvestres e de grupos de horticultura para cruzamento, etc. No jardim botânico, a área que só tem plantas lenhosas é chamada de arboreto ou arboretum. De modo geral, os primeiros jardins botânicos foram criados próximo das escolas de medicina das universidades, sempretendo a preocupação de cultivar ervas medicinais. Os jardins botânicos (ou hortos botânicos) mais antigos do mundo, no sentido dado anteriormente, são quase todos italianos. São eles: o de Pisa (1543), o de Pádua (junho de 1545) e o de Florença (dezembro de 1545). Logo depois, foram criados, ainda na Itália, os de Sassari e o de Ferrara, ambos em 1550, e o de Bolonha, em 1568. Mas há o de Valência, na Espanha, que é de 1567. Todos eles compartilhavam as características de, inicialmente, cultivar ervas medicinais e serem ligados diretamente às faculdades de medicina das universidades. O sucesso dos jardins botânicos italianos foi imediato. Mostraram-se muito úteis para o ensino, para a produção de plantas e para a aclimatação de espécies exóticas à região. Logo outros países, como a França, a Alemanha, a Holanda, a Grã-Bretanha, a Dinamarca e a Suécia, passaram a seguir o exemplo da Itália, criando hortos botânicos nas universidades. Além disso, um grande número deles também foi criado em universidades menores. Em ordem cronológica, os jardins botânicos mais antigos e importantes criados nos séculos XVI e XVII, que poderíamos considerar os jardins botânicos históricos, são: 1543 – Pisa (Itália) 1545 – Pádua (Itália) 1545 – Florença (Itália) 1545 – 1550 Sassari (Itália) 1550 – Ferrara (Itália) 1567 – Valência (Espanha) 1568 – Bolonha (Itália) 1580 – Leipzig (Alemanha) 1581 – Koenigsberg (Prússia) 1586 – Jena (Alemanha) 1587 – Wroclaw (Polônia) 1593 – Montpellier (França) 1593 – Heidelberg (Alemanha) 1593 – Leiden (Holanda) 1600 – Copenhague (Dinamarca) 1619 – Estrasburgo (França) 1621 – Oxford (Inglaterra) 1635 – Paris (França) 1638 – Amsterdã (Holanda) 1663 – Tübingen (Alemanha) 1665 – Uppsala (Suécia) 1666 – Hannover (Alemanha) 1670 – Edimburgo (Escócia) 1673 – Chelsea Physic Garden, de Londres (Inglaterra) 1679 – Berlim (Alemanha) No século XVIII, foram criados, em 1736, o Jardim Botânico de Göttingen, na Alemanha; em 1755, o de Madri, na Espanha; em 1768, o Jardim Botânico da Ajuda em Lisboa, Portugal (o de Lisboa só foi fundado entre 1873 e 1878); em 1772, o Jardim Botânico de Coimbra, Portugal; e, em 1779, o Jardim Botânico de Palermo, Itália. Em 1759, foi iniciado o que se tornaria o jardim nacional da Inglaterra, o Jardim Botânico de Kew (Kew Botanic Gardens), hoje o maior do mundo. Na Itália, onde tudo começou, atualmente há mais de trinta jardins botânicos, sendo os mais importantes o de Palermo e o de Nápoles, este último fundado em 1807. E as Américas? E o resto do mundo? Nos Estados Unidos, o primeiro jardim botânico, com natureza experimental, foi estabelecido pelo botânico John Bartram em 1728, nos arredores de Filadélfia. Ele era um cidadão influente nessa cidade, um de seus amigos sendo Benjamin Franklin. Ambos foram membros da Sociedade Filosófica Americana, fundada em 1742. Em 1728, Bartram comprou uma casa e uma grande área em Kingsessing, na margem do rio Schuylkill, a cerca de 4 km de Filadélfia. Nessa área, ele iniciou seu jardim botânico, que é considerado por muitos o primeiro das Américas, mas que é um jardim botânico particular. Fez excursões de coleta ao lago Ontário, ao rio Ohio, à Flórida, à Carolina do Sul e à Carolina do Norte. Coletava plantas, levava-as para seu jardim e também trocava sementes e mudas com jardins e parques da Europa, como o Painshill Park, em Surrey, na Inglaterra, além de manter uma grande correspondência com botânicos e comerciantes de sementes europeus. Em 1777, quando morreu, ele havia enviado entre 150 e 200 espécies de plantas americanas para a Europa. O jardim de Bartram em Filadélfia é aberto ao público e ainda mantém o jardim botânico original. O jardim botânico público dos Estados Unidos é o Jardim Botânico de Harvard, que é especializado em plantas lenhosas, um arboreto. Na Ásia, há na Indonésia o Jardim Botânico de Bogor, criado pelos holandeses. Seria um jardim botânico histórico fora dos limites da Europa. A primeira iniciativa para instituir um jardim botânico no Brasil foi do príncipe holandês Maurício de Nassau, no Palácio de Friburgo, em Recife (Pernambuco), no século XVII. Esse jardim existiu entre 1637 e 1644. Pouco se sabe hoje a respeito dele. Nassau queria construir uma bela colônia holandesa no Brasil, com todas as características da vida na Europa. Nada demais, portanto, construir um jardim botânico. Nesse período, estiveram, com o príncipe, o cartógrafo e naturalista alemão Georg Markgraf, o naturalista Willen Pies e os famosos pintores Albert Eckhout e Frans Post. Todos devem ter colaborado de alguma maneira com o jardim botânico de Nassau. Apenas no final do século XVIII é que foram emitidas instruções da Coroa portuguesa para a criação dos primeiros jardins botânicos brasileiros em Belém, Olinda, Cuiabá, Ouro Preto (na época Vila Rica), Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Dos criados e implantados, apenas o Jardim Botânico do Grão-Pará e o de Vila Rica sobreviveram por alguns anos. O Jardim Botânico de Vila Rica foi criado em 1798 na entrada da cidade. Hoje só restam ruínas dessa antiga instituição, situadas no Passa Dez, entrada de Ouro Preto. Seu objetivo era cultivar espécies nativas e exóticas, como a amoreira, para a criação do bicho-da- seda, e também a planta do chá. Esse jardim rapidamente entrou em total declinio. O primeiro jardim botânico efetivamente estabelecido no Brasil foi o Jardim Botânico do Grão-Pará, de Belém, em 1796, que teve vida mais longa que o de Vila Rica. Foi instalado com um complexo agrícola, os Jardins de São José, para o cultivo de muitas espécies vegetais, entre elas ervas medicinais. O jardim também tentava cultivar e domesticar espécies nativas. O Grão-Pará conseguiu da fazenda colonial francesa La Gabrielle, na Guiana Francesa, remessas de pimenta-do-reino, canela, fruta-pão, cravo-da-índia, além do café. Tentou-se organizar cientificamente o jardim e dar início a estudos de botânica. O Grão- Pará foi muito ativo até 1820, servindo de entreposto e distribuidor de plantas e sementes para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, criado por dom João VI. Com os movimentos políticos da independência do Brasil, o Grão-Pará entrou em crise, mas continuou a existir até 1870. A Coroa portuguesa, no fim do século XVIII, tentou implantar jardins botânicos em suas colônias da Ásia, um em Goa (Índia) e outro em Macau (China). Infelizmente, as tentativas fracassaram. Na realidade, foram os holandeses que estabeleceram um jardim botânico na Ásia. Em 1817, foi fundado pelos holandeses o Jardim Botânico de Buiten zorg (hoje Bogor), que está situado a 60 km ao sul de Jacarta, na Indonésia. No século XIX, as autoridades políticas de vários países passaram a construir jardins botânicos para levar conhecimento ao grande público, principalmente a população mais pobre. Nessa época, as coleções organizadas de plantas passaram a fazer parte deles. Como exemplos de jardins botânicos criados no século XIX, podem ser citados dois nos Estados Unidos: o de Missouri, em Saint Louis, fundado em 1859, e o de Nova York, no Bronx Park, que é de 1895. No século XX, os jardins botânicos foram estabelecidos ou reestruturados para cumprir todas as funções mencionadas anteriormente, mas acrescentando contribuições à conservação da natureza. Atualmente, há cerca de 1.400 jardins botânicos e arboretos no mundo, recebendo cerca de 100 milhões de visitantes por ano. A maior parte deles está localizada na Europa. E no século XXI? Jardins botânicos históricos Jardim Botânico de Pisa Orto Botanico di Pisa Via Luca Ghini, 5 56126 Pisa Itália http://www.dsb.unipi.it e-mail: direzione@dsb.unipi.it http://www.dsb.unipi.it mailto:direzione@dsb.unipi.it Pisa fica na região da Toscana, Itália. De origem obscura, pode ter sido fundada por gregos ou etruscos. Restos arqueológicos do século V a.C. confirmam a existência, no local, de um porto no mar Tirreno. Em 180 a.C., passou a ser colônia romana. Muitopoderosa durante a Idade Média e a Renascença, perdeu sua grande importância quando foi subjugada por Florença, em duas ocasiões: em 1406, por algum tempo, e novamente em 1509. Em 1857, passou a fazer parte do Reino da Itália. A Universidade de Pisa foi criada, em 1343, por um edital do papa Clemente VI (no cargo entre 1342 e 1352). Galileu Galilei, um dos maiores gênios da humanidade, nascido em Pisa, foi professor de matemática de sua universidade. Enrico Fermi, o Prêmio Nobel de Física, igualmente. Desde seu início, a cidade sempre foi um centro importante para a difusão do conhecimento. São reconhecidos seus departamentos de ciência da computação, física, matemática e engenharia; o departamento de ciências da computação foi o primeiro do gênero a ser instituído na Itália. O primeiro instituto de lingüística histórica da Europa foi, também, fundado em Pisa, em 1890. O Jardim Botânico (Orto Botanico) de Pisa é o mais antigo do mundo e foi criado em 1543, durante o governo do grão-duque Cosimo I, da casa dos Médici (da Toscana), por Luca Ghini, na época o catedrático de botânica. Era parte da Universidade de Pisa e tinha como função primordial manter plantas medicinais para uso dos estudantes e professores da Faculdade de Medicina. Que razões o levaram a criar o jardim? Luca Ghini queria que seus alunos pudessem observar, ao vivo, as espécies que discutia em suas aulas. O jardim foi implantado às margens do rio Arno, sendo, em 1563, transferido para uma área perto da casa onde nasceu Galileu, próxima do Convento de Santa Marta. Foi uma escolha infeliz, pois o local não recebia luz do sol por muitas horas do dia. Além disso, ficava longe da sede da universidade, o que tornava a vida dos estudantes muito atribulada. O grão-duque Ferdinando I, dos Médici, adquiriu terrenos na via Santa Maria e, em 1595, o jardim passou a funcionar definitivamente perto do Campo dei Miracoli, com um desenho típico da Renascença. Em 1723, foi feito um novo projeto com esquema ainda bem renascentista: oito canteiros quadrados, com uma fonte no centro de cada um, cada canteiro subdividido em canteiros menores. No século XIX, tudo foi redesenhado: é o traçado atual. O espaço foi alterado para seguir os critérios da classificação moderna de plantas. Os canteiros, as estufas, as grutas, as fontes, além, evidentemente, do patrimônio arbóreo, fazem deste jardim botânico um dos mais interessantes da Itália. Há coleções muito importantes em Pisa. A coleção de árvores e arbustos tem 950 espécies, algumas introduzidas no século XVIII. Há 550 espécies na coleção chamada taxonômica, principalmente de gramíneas. Há uma coleção de suculentas, além de coleções de plantas tropicais, de plantas aquáticas, de samambaias e outras. O Museu Botânico faz parte do jardim. Apresenta uma coleção de retratos e esculturas em cera de botânicos do século XVII. O edifício do Instituto de Botânica, iniciado em 1890, tem uma fachada neoclássica. Em frente do prédio há dois exemplares da palmeira Jubaea chilensis, plantados em 1877. Entre os dois foi colocado um tanque coberto de Nymphaea alba. No jardim, há exemplares de árvores da Europa e de outros continentes. Sua função primordial permanece: o uso de algumas espécies botânicas nas medicinas doméstica e oficial é tradição em Pisa desde o século XVI; assim, este jardim de ervas medicinais é utilizado por estudantes da universidade. O jardim tem, também, duas casas de vegetação. A maior é usada para manter, durante o inverno, as plantas envasadas sensíveis ao frio que ficam ao ar livre durante o verão e a primavera, bem como as plantas de interesse econômico, como o café (Coffea arabica). A menor, com temperatura e umidade elevadas e controladas, é utilizada para plantas tropicais e subtropicais. Uma pequena estufa com um tanque é reservada para a vitória-régia (Victoria amazonica). No chamado Orto del Cedro, encontra-se um cedro colossal (Cedrus libani) e as duas árvores mais velhas do Jardim Botânico de Pisa, ambas plantadas em 1787: uma magnólia (Magnolia grandiflora) e um ginco (Ginkgo biloba). O jardim mantém laboratórios de pesquisa, herbário (com cerca de meio milhão de exsicatas que são exemplares dessecados de espécies da flora da Itália e da região do Mediterrâneo), museu didático. A biblioteca, atualmente incorporada pela Universidade de Pisa, possui uma excelente coleção de ilustrações de plantas. Não se pode deixar de falar um pouco de dois botânicos famosos do Jardim Botânico de Pisa. Luca Ghini estudou medicina na Universidade de Bolonha, onde foi também professor de medicina. Em 1539, obteve a cátedra de botânica em Bolonha. A convite do grão-duque Cosimo I, já havia feito contato com o mundo acadêmico de Pisa quando para lá se mudou. Sob a direção de Ghini, o Jardim Botânico de Pisa tornou-se, em pouco tempo, um dos mais importantes da Europa, por causa da qualidade e da diversidade das plantas introduzidas. Na realidade, Ghini tornou a botânica uma ciência autônoma, independente da medicina. A botânica lhe deve muito mais. Ele inventou um novo método de secar e conservar espécimes de plantas, dando início aos herbários. Foi diretor do Jardim Botânico de Pisa até 1554. De 1554 a 1558, o diretor foi Andrea Cesalpino, discípulo de Ghini. Era médico e naturalista. Organizou, em Pisa, um excelente herbário, que se encontra, atualmente, no Jardim Botânico de Florença. Em 1583, Cesalpino publicou seu principal livro, De plantis, no qual descreveu a flor como o invólucro das partes polinizadoras. Foi dele, também, a primeira tentativa, usando os frutos e as sementes, de classificar as plantas em bases estritamente biológicas. As plantas eram divididas em três grupos: árvores, arbustos e ervas (subdivididos de acordo com o número de compartimentos que os frutos têm para conter as sementes) e plantas que não têm sementes. O sistema de classificação de Cesalpino foi mais tarde utilizado, em parte, pelo sueco Lineu, que finalmente criou um sistema de classificação aceito pelos botânicos nos séculos seguintes. O nome Caesalpinioideae, subfamília das leguminosas, foi dado em homenagem a Cesalpino. Como aparece com freqüência na história da instituição, a “coroa imperial” foi escolhida como emblema ou marca do Jardim Botânico de Pisa. A imagem foi encomendada por Giuseppe Casabona (diretor de 1592 a 1596), ao pintor alemão Daniel Froeschl. Em uma excursão botânica, algum tempo antes de ser diretor, Casabona, havia encontrado essa planta na ilha de Creta. Levou a espécie para Pisa, onde suas freqüentes representações e presença atestam o interesse dos cientistas dos séculos XVI e XVII pela flora da Europa e do Oriente. Há baixos- relevos dessa planta nos portões de entrada e em diversas partes do jardim, além de muitos desenhos e gravuras dos séculos XVI e XVII na biblioteca. A coroa imperial, corona imperiale, crown imperial, é a Fritillaria imperialis L., família liliácea. É originária da região que vai do Irã até o norte da Índia. É uma planta com bulbo, que é comestível depois de cozido; mas venenoso quando cru em razão da presença de uma substância, a imperialina, prejudicial ao coração. Suas flores são alaranjadas, pendentes, dispostas em inflorescência. Foi muito representada pelos grandes pintores holandeses do passado. De acordo com a escritora inglesa Vita Sackville-West, que transformou o jardim do Castelo de Sissinghurst, num dos mais famosos da Inglaterra, é a mais principesca das liliáceas. Hoje, mantendo a tradição de seu passado ilustre, o Jardim Botânico de Pisa continua a prestigiar a pesquisa experimental no campo da biotaxonomia, citotaxonomia, fitogeografia e embriologia. Há um interesse primordial pela flora endêmica da Itália central e da costa do Mediterrâneo, rara ou ameaçada de extinção, pelas floras de medicinais e da zona úmida da Itália. Além disso, a instituição tem como objeto de pesquisa, com o intuito de salvá-las, muitas espécies vegetais de outras partesdo mundo que correm perigo de extinção. Mantém, igualmente, uma coleção importante de sementes, com coleta intensiva e troca com outros jardins botânicos do mundo. O Departamento de Instrução e Cultura da Toscana, que financia a atividade didática e de pesquisa, diz do Jardim Botânico de Pisa: “É um instituto cultural que, embora desenvolvendo plenamente seu trabalho de ensino universitário, consegue fornecer estrutura e serviços também para atividades culturais de maior divulgação.” Jardim Botânico de Pádua Centro di Ateneo Orto Botanico Università degli Studi di Padova Via Orto Botanico, 15 35123 Padova www.ortobotanico.unipd.it e-mail: ortobotanico@unipd.it http://www.ortobotanico.unipd.it mailto:ortobotanico@unipd.it A cidade de Pádua fica na região do Vêneto. Pertenceu à república de Veneza, quase ininterruptamente, de 1405 a 1797, quando passou a ser dominada pela Áustria. Em 1866, tornou-se parte do novo reino da Itália. Pádua é considerada a cidade mais antiga do norte daquele país. Diz a lenda que foi fundada pelo troiano Antenor, o homem que abriu as portas de Tróia para a entrada do famoso cavalo cheio de gregos. Depois da queda de Tróia, ele viajou e fundou Pádua, a Patavium dos romanos. Seus habitantes foram convertidos ao cristianismo por são Prosdócimo, hoje venerado como o primeiro bispo da cidade. A Universidade de Pádua foi criada em 1222 pela fusão de várias faculdades espalhadas pela cidade. É uma das mais antigas ainda em atividade e merece uma visita. Na Sala dos Quarenta é mantida a cadeira de Galileu, que lecionou em Pádua de 1592 a 1610. O Teatro de Anatomia, de 1594, é o mais antigo do mundo. Nesse teatro, Andreas Vesalius, autor de De humani corporis fabrica e considerado o fundador da moderna anatomia humana, fazia suas dissecações O interesse dos estudiosos da universidade pelas plantas era bem grande. Basta citar Nicolò Roccabonella e seu Liber de simplicibus, em que identifica as plantas nas pinturas do pintor vêneto Andrea Amadio, e Pier Antonio Michiel com sua obra em cinco volumes Erbario o storia generale delle piante, com mil ilustrações bastante científicas. Em 1533, foi criada, na Universidade de Pádua, a cadeira de botânica, com o nome de Lectura Simplicium, cujo catedrático era Francesco Bonafede. A botânica passou a ser uma disciplina totalmente separada da medicina. À época, reinava muita incerteza, por exemplo, sobre a identificação correta das plantas medicinais usadas na Antiguidade grega. Eram freqüentes os erros que comprometiam a saúde pública. Estudantes do mundo todo acorreram a Pádua para estudar essa matéria essencial à arte da cura. Bonafede ensinava Medicamenta Simplicia utilizando as poucas plantas que ele mesmo levava às aulas, e sobretudo um herbário figurativo. Ao perceber que essa não era a metodologia correta e que necessitava de plantas vivas em quantidade, teve a idéia de criar um jardim botânico. O Jardim Botânico de Pádua foi criado em 29 de junho de 1545, como um horto medicinal, por proposta do professor Francesco Bonafede. Sua função seria a de cultivar, observar, estudar e experimentar plantas medicinais, nativas ou exóticas, e montar um museu de drogas delas retiradas. Construído em um terreno comprado dos monges beneditinos de Santa Justina, abrigava as plantas medicinais que constituíam a grande maioria dos simples (semplici), isto é, medicamentos provenientes diretamente da natureza. O Jardim Botânico da Universidade de Pádua continua, até hoje, em seu local de origem, entre as igrejas de Santa Justina e de Santo Antônio e mantém, igualmente, sua estrutura original pouco modificada. Até alguns anos atrás, a água do canal Alicorno, que margeia o jardim, era utilizada na irrigação. Se for levada em consideração a estrutura física e não a data de criação, este é o jardim botânico universitário mais antigo do mundo (o de Pisa, criado em 1543, mudou de local três vezes). Em 1561, eram cultivadas no jardim cerca de 1.800 espécies. Com o passar do tempo, foi sendo enriquecido com mais plantas, medicinais ou não, de todos os lugares do mundo, especialmente de países que tinham relações com a república de Veneza. Essa prática foi muito importante tanto na introdução como no estudo de muitas espécies exóticas. A instituição assistiu à evolução da botânica, desde sua antiga aplicação à medicina até todos seus ramos atuais. Com o desenvolvimento do jardim, foram criados a biblioteca, o herbário, as estufas e um grande número de laboratórios. Hoje, ele mantém um intenso programa didático e de pesquisa científica, tendo em seu escopo a preservação de espécies raras ou em perigo de extinção. O desenho original da parte mais antiga é mantido até hoje. Ele foi planejado por um nobre veneziano – Daniele Barbaro – e construído pelo arquiteto Andrea Moroni, inspirado nos jardins murados medievais. A Daniele Barbaro é atribuído o regulamento das visitas ao Orto Botanico, esculpido em um pilar de um portão, datado e aqui transcrito: Normas escritas pelos triúnviros I. Este portão de acesso não deve ser aberto no dia de São Marcos nem chegada a 22ª hora. II. O ingresso por esta entrada, ainda que sem o pagamento do dízimo, não pode ser impedido. III. No jardim os caules das plantas não devem ser quebrados, nem as flores retiradas, nem as sementes e os frutos colhidos, nem as raízes arrancadas. IV. Os pequenos e frágeis brotos não devem ser manuseados nem se deve caminhar pisoteando as mudas. V. Não causar prejuízo ao jardim. VI. Não dirigir, sob qualquer pretexto, ataques ao administrador (do jardim). VII. Que seja (o transgressor) multado em dinheiro paralelamente a seu exílio na prisão. MDXLV[1] O núcleo original, um círculo chamado Hortus Sphaericus ou Hortus Cinctus, tem cerca de 85 m de diâmetro. Ele circunda um quadrado, por sua vez subdividido em quatro quadrados menores por duas vias perpendiculares orientadas de acordo com os pontos cardeais. No cruzamento das duas alamedas há uma grande fonte. A forma circular e a característica repartição geométrica que divide tudo em dezesseis setores são ricas da simbologia cosmológica própria do período renascentista. O círculo perfeito simboliza o mundo. Cada quadrado com uma fonte central é dividido hoje em 250 parcelas dispostas segundo geometrias diferentes e elegantes. Nas parcelas, são cultivadas sobretudo plantas herbáceas. Assim, espécies de cada família botânica são distribuídas pelas várias parcelas. Por causa da raridade de suas plantas e do preço dos medicamentos delas retirados, muitos furtos aconteciam durante a noite, apesar das penas previstas em lei, razão pela qual foi construído um muro circular, donde surgiu o nome Hortus Cinctus [Horto Cercado] ou Hortus Sphaericus. A configuração arquitetônica externa foi completada, em 1704, com quatro portões de ingresso monumentais, em ferro fundido. Os muros foram embelezados por balaustradas de pedra branca. Fora do Hortus Cinctus foram colocadas duas estátuas, em 1710 e 1711 respectivamente: na frente do portão sul, a de Teofrasto, e, do portão leste, a do rei Salomão. Em 1820, foram colocados quatro bustos, representando as Quatro Estações, ladeando a estátua do rei Salomão, no tanque também denominado Quatro Estações. Na primeira metade do século XIX foram construídos casas de vegetação e o Teatro Botânico. Atualmente, o jardim possui duas casas de vegetação para plantas tropicais e oito, não muito grandes, para as de clima temperado. Uma destas últimas conserva a estrutura original com colunas e arcos em ferro fundido. No centro de cada quadrado há uma espécie vegetal que lhe dá o nome. Assim, há o quadrado de Tamarix gallica (família tamaridácea), o de Ginkgo biloba (família gincgoácea), o de Albizia julibrissin (família das leguminosas) e o da Magnolia grandiflora (família magnoliácea). Os pilares de cada portão de ferro batido são encimados por vasos de pedra contendo plantas. Há muitos outros bustos e estátuas, espalhadospela área. No jardim há cerca de 6 mil espécies de plantas cultivadas, a maioria ao ar livre, pois o espaço das casas de vegetação é reduzido. Há várias árvores muito antigas. A mais antiga sucumbiu em 1984. Era uma árvore de agnoscasto (Vitex agnus-castus) plantada em 1550. Hoje, a mais antiga é uma palmeira (Chamaerops humilis), que fica em uma estufa no Hortus Cinctus, plantada em 1585. No Jardim Botânico de Pádua, ela é conhecida como a “palmeira de Goethe”. Diz-se que, em 27 de setembro de 1786, o escritor alemão Johann Wolfgang Goethe ficou extasiado com essa palmeira e descreveu-a em seu livro Geschichte meiner Botanischen Studien [História de meus estudos de botânica]. Há uma magnólia (Magnolia grandiflora) plantada nos meados de 1700. Fora do jardim circular há um arboreto, no qual existe um plátano (Platanus orientalis), plantado em 1680. As grandes coníferas foram introduzidas no jardim ao redor de 1850. O Jardim Botânico de Pádua agrupa as plantas de acordo com algumas de suas características. Assim, há coleções de plantas insetívoras ou carnívoras e de ervas medicinais, incluindo plantas venenosas. Essa coleção tem grande interesse histórico, já que lembra a idéia original do jardim. Todas as plantas têm etiquetas que indicam cada uma de suas propriedades medicinais. Para as plantas venenosas, o número de cruzes na etiqueta mostra o grau de periculosidade. São também cultivadas plantas sem uso imediato, mas que contêm substâncias que são ponto de partida para síntese de medicamentos na indústria farmacêutica. Há uma coleção de espécies vegetais dos Colli Euganei, grupo de colinas da planície vêneta a sudoeste de Pádua, com altura média de 400 m. É uma coleção recente para preencher dois dos mais importantes propósitos da instituição – conhecer e estudar a flora da área onde o jardim está situado e mostrar essas plantas ao povo da região –, além de preservar espécies raras e em perigo de extinção. A coleção de plantas vindas de outros países tem espécies aclimatadas pela primeira vez nesse jardim botânico, sendo depois espalhadas pelo resto da Itália. A primeira planta exótica, a Agave americana, chegou ao jardim em 1561. Há ainda um itinerário para os cegos, com vasos de plantas aromáticas ou plantas com espinhos, como Ilex aquifolium, a conhecida holly, utilizada nos arranjos natalinos europeus. As etiquetas são todas em braille. Muitas espécies são apresentadas de acordo com seu ambiente natural. Assim, há um ambiente criado para plantas da região do Mediterrâneo, outro de plantas alpinas, de grande altitude. Há ambientes só de plantas aquáticas. No verão, são construídos ambientes representando um deserto para as plantas suculentas. Há também uma estufa para o cultivo de orquídeas. No antigo prédio do Edifício Botânico há as coleções de plantas secas, a documentação do herbário, que é considerada a mais importante da Itália. Há um herbário de plantas superiores, um de plantas inferiores, uma xiloteca e uma coleção de sementes. O herbário de plantas superiores tem 400 mil exsicatas, isto é, exemplares dessecados. Há, pelo menos, dois pesquisadores importantes na história da botânica que foram diretores do Jardim Botânico de Pádua. Prospero Alpino, médico formado pela Universidade de Pádua, diretor de 1603 a 1616, morou durante muitos anos no Egito e, em 1592, publicou De plantis Aegypti, onde descreveu, pela primeira vez, a planta do café e seus usos terapêuticos. Pier Andrea Saccardo, doutor pela Universidade de Pádua, muito famoso pelos seus estudos com fungos, foi diretor de 1879 a 1915. Em 1873, publicou a Mycologiae Venetae specimen, em que descreve 1.200 espécies de fungos, 59 delas espécies novas. Entre 1882 e 1913, trabalhou no Sylloge fungorum omnium husque cognitorum, um inventário de todos as espécies de fungos conhecidas do mundo. Utilizou, nessa obra, um sistema pessoal de identificação, sendo, por isso, denominado Lineu dos fungos. O Jardim Botânico de Pádua, que continua em seu local de origem, ainda hoje conserva a estrutura original quase inalterada. Em 1997, foi considerado Patrimônio Mundial pela Unesco já que O Jardim Botânico de Pádua está na origem de todos os jardins botânicos do mundo e representa o berço da ciência, das trocas científicas e da compreensão da relação entre a natureza e a cultura. Contribuiu largamente para o progresso de numerosas disciplinas científicas modernas, em particular a botânica, a medicina, a química, a ecologia e a farmácia.[2] Jardim Botânico de Florença Orto Botanico di Firenze Giardino dei Semplici Via P. A. Micheli, 3 50121 Firenze Itália http://www.unifi.it//msn/main_ita.htm e-mail: ortbot@unifi.it http://www.unifi.it//msn/main_ita.htm mailto:ortbot@unifi.it Florença, às margens do rio Arno, é a capital da região da Toscana, na Itália, e é, por muitos, considerada o berço da Renascença. Durante longo período governada pelos Médici, foi capital do reino da Itália de 1865 a 1870. Seu centro histórico foi declarado Monumento da Humanidade pela Unesco em 1982. Florentia começou como acampamento de soldados romanos em 59 a.C. e ficava no caminho principal entre Roma e o norte. Logo passou a ser um centro comercial importante. O imperador Diocleciano fez Florentia a capital da província Túscia no século III d.C. A cidade foi conquistada por Carlos Magno em 774 e passou a ser parte do ducado da Toscana, sendo Luca a capital. Ao redor do ano 1000, Florença passou a ser a capital da Toscana. Cosimo de Médici foi o primeiro da família a controlar a Toscana, oficialmente uma democracia. Seu neto, Lorenzo, foi o grande mecenas das artes. A Universidade de Florença é uma das maiores e mais antigas universidades da Itália. O Studium Generale foi estabelecido pela República de Florença em 1321, tendo, em 1364, passado a ser uma universidade. Em 1859, era o Istituto di Studi Pratici e di Perfezionamento e, em 1923, passou ser oficialmente denominado Universidade de Florença, Università degli Studi di Firenze, Unifi. O Jardim Botânico de Florença, o Orto Botânico di Firenze, também conhecido como Giardino dei Semplici, é mantido pela universidade. Foi criado no dia 1º de dezembro de 1545, sendo, assim, o terceiro mais antigo da Itália e do mundo. Fundado por Luca Ghini, que havia criado o Jardim Botânico de Pisa dois anos antes, foi desenhado e estruturado pelo jardineiro paisagista Niccolò, chamado “il Tribolo”, que já havia planejado vários jardins ornamentais para os Médici, em um terreno – vizinho aos estábulos dos Médici (por isso, na época, recebeu a denominação de Giardino delle Stalle) – comprado pelo grão-duque Cosimo I às freiras dominicanas. O interesse inicial era o jardim de plantas medicinais. Foi criado com um interesse puramente didático, para uso dos estudantes, uso que previu com séculos de antecedência uma das principais funções de um jardim botânico universitário. As plantas ficavam distribuídas em um terreno quadrado, cercado por muros, dividido por uma grade de vias e muitas fontes desenhadas por famosos escultores florentinos. Do original resta muito pouco, como uma cancela histórica com o brasão e a epígrafe dos Médici, além de um busto de Esculápio. Todos os trabalhos de construção foram dirigidos por Luca Ghini, que se preocupou em aumentar a coleção de plantas, dando ao jardim grande prestígio. Com a morte de Ghini em Bolonha no ano de 1556, a direção do jardim caiu em mãos pouco competentes e a instituição entrou em profunda decadência. Seu período áureo teve início em 1718, graças a Cosimo III, dos Médici, que colocou a instituição sob o controle da Sociedade Botânica de Florença. Sob a direção da Sociedade Botânica, ampliou de modo contínuo suas coleções de plantas, sem deixar de lado as medicinais. Pouco a pouco, o ensino da botânica no jardim deixou de ser apenas um subsídio para a medicina, passando a ter importância por si. Por volta de 1750, aumentou o alcance mundial do jardim, pois foipublicado um índice de sementes de todas as plantas lá existentes, para fazer troca de sementes com outros jardins botânicos do mundo. Em 1783, o foco mudou para a agricultura experimental e o jardim passou a ser chamado de Orto Spérimentale Agrario dell’Accademia dei Georgofili. Toda a estrutura foi modificada e simplificada para o cultivo de plantas de uso em agricultura e frutíferas. Em 1847, por decreto, volta a ser chamado de Giardino dei Semplici e retorna ao cultivo de plantas medicinais e espécies de interesse científico. Em 1880, muda sua denominação para Orto Botanico dell’Istituto di Studi Superiori e passa a pertencer ao Istituto di Studi Pratici e di Perfezionamento, que, em 1923, se transformou na Universidade de Florença. Nessa época, foi construída a grande casa de vegetação, usada ainda hoje. O jardim vive então uma fase excelente. O passo seguinte foi reunir o Jardim Botânico (Giardino dei Semplici) com o Instituto Botânico, do Museu de História Natural, que fora fundado em 1842. Em 1905, a operação toda é concluída com a transferência do Instituto Botânico, de todas as instituições botânicas importantes, como biblioteca e herbário, para o Jardim Botânico, que passa a ser conhecido como Instituto e Jardim Botânico, pertencendo ao Instituto tanto o Museu Botânico como o Herbário Central Italiano. Por volta de 1925, para ficar mais visível ao público, foram retirados os muros que cercavam o jardim. Também foram demolidas três estufas quentes pequenas e eliminado um bosque de bambu. Em 1944, devido à guerra, parte do jardim foi utilizado para sepultar mortos, que mais tarde foram exumados e retirados dali. Hoje ele mantém, de modo geral, o desenho original. Está situado no centro de Florença, perto do Museu da Academia, onde fica o original do Davi de Michelangelo, e da Igreja de São Marcos. Ocupa uma área de 23 892 m², subdividida em 21 quadrados e 29 canteiros, contendo cerca de 9 mil plantas, muitas mantidas em vasos. Na década de 1960, foram incrementadas as expedições científicas na Itália e na América do Sul, o que veio a enriquecer ainda mais a coleção. Cerca de 1.700 m² são ocupados por grandes e altas casas de vegetação, quentes (plantas tropicais) e frias (plantas da região temperada), construídas no fim do século XIX e estufas pequenas aquecidas, construídas mais recentemente. Há coleções de valor histórico e científico. A casa de vegetação de clima temperado mantém muitos exemplares de cicas, como Cycas revoluta e Encephalartos altensteinii, alguns recebidos em doação no início do século XX e outros coletados em expedições científicas pela América do Sul. Há também duas árvores de Araucaria cunninghamii e uma de Araucaria columnaris. Na grande casa de vegetação quente há as cicas Dioon spinulosum e Cycas circinalis, e uma coleção de samambaias tropicais, com um exemplar arbóreo de Cyathea australis. Há também muitas plantas da família cactácea, além de plantas de interesse didático, como Musa (banana), Coffea arabica (café), Theobroma cacau (cacau), Persea americana (abacate), Tamarindus indica (tamarindo) e a Monstera deliciosa (fruta-da-princesa). As estufas pequenas contêm coleções de espécies tropicais. Há também muitas coleções ao ar livre, como a de plantas medicinais e a de samambaias italianas. Há árvores bem antigas, como uma planta masculina da venenosa Taxus baccata, o teixo (família taxácea), plantada em 1720 por Pier Antonio Micheli (que foi diretor de 1718 a 1737), que é a espécie mais antiga do jardim, e uma de Quercus suber, a corticeira (família fagácea), plantada em 1805 por Ottaviano Targioni Tozzetti (diretor de 1801 a 1829) que mostra cortiça de dimensão excepcional. Também existe uma Zelkova serrata muito antiga. Há uma Metasequoia glyptostroboides (família taxodiácea) originária da árvore encontrada na China em 1941, espécie hoje considerada um fóssil vivo. O herbário possui a maior coleção de exsicatas de toda a Itália, com 4 milhões de exemplares de plantas do mundo todo. Além da pesquisa científica, o jardim tem, atualmente, um caráter didático e de divulgação botânica. Há um grande estímulo para visitas de estudantes de nível secundário e universitário. Freqüentemente são organizadas mostras especiais para todo o público da região e não só para estudantes. Muitas das pesquisas do Departamento de Biologia Vegetal da universidade são realizadas com plantas do Jardim Botânico de Florença e lá mesmo. Hoje, ele olha para o futuro, para a preservação de espécies de várias regiões do mundo. Jardim Botânico de Sassari Orto Botanico di Sassari Istituto di Botanica dell’Universita di Sassari Via Muroni, 25 07100 Sassari Sardenha Itália Sassari é a capital da província de mesmo nome, e a segunda maior e a mais antiga cidade da ilha da Sardenha. É conhecida como Sassarese em um dialeto italiano e Tàthari no dialeto local. Lá se encontram os melhores exemplos da arte sarda. Foi fundada no início da Idade Média pelos habitantes do antigo porto romano, o atual Porto Torres. Os habitantes da cidade portuária fugiram para o interior da ilha evitando o ataque marítimo dos sarracenos. A mais antiga menção à vila de Tàthari data de 1113. O dialeto falado em Sassari é diferente do falado no resto da ilha. É mais semelhante ao italiano, por ter tido, durante a Idade Média, muito contato com as repúblicas de Pisa e Gênova. A Universidade de Sassari é a mais antiga da Sardenha e foi fundada pelos jesuítas em 1562. É bastante famosa pelos estudos de jurisprudência. Sua biblioteca possui documentos antigos muito valiosos, como o primeiro código civil da ilha e os primeiros documentos escritos na língua sarda do século XI. O Jardim Botânico de Sassari foi criado entre 1545 e 1550. Além de ser pioneiro na ilha da Sardenha, é um dos mais antigos do mundo. Documentos da cidade atestam que a comunidade mantinha sua construção, sua estrutura e os salários dos empregados. Neste jardim, como era de praxe na época, também se cultivavam plantas medicinais. Como muitos documentos foram destruídos, não se sabe onde ele funcionava no século XVI. Um novo jardim botânico foi criado em 1765, com sede no Convento dos Capuchinhos, sendo mais tarde transferido para a localidade de Castello, ainda para o cultivo de plantas medicinais, utilizadas no hospital da cidade. Em 1810, houve nova transferência, dessa vez para a periferia de Sassari, em Santa Maria. Em 1903, passou a funcionar em Rizzeddu; daí, foi, em 1928, para uma propriedade da Universidade de Sassari, onde está até hoje. O espaço, que já era reduzido, ficou ainda menor com a construção, em 1955, do Instituto de Botânica. Com as várias mudanças, muitas coisas foram perdidas. Atualmente, o jardim é um anexo do Departamento de Botânica e Ecologia Vegetal da universidade. Além de ocupar um espaço reduzido, tem recebido poucos cuidados. A pesquisa é incipiente. As coleções são de plantas endêmicas da Sardenha. Há em Sassari um herbário de muito valor histórico, que não pertence ao jardim botânico e fica no Departamento de Farmácia da universidade da cidade. Esse herbário histórico tem 9 mil exemplares com plantas da flora da Sardenha, de Sarawak, de Madagascar, além de uma infinidade de plantas medicinais. A parte didática do jardim botânico mereceu maior consideração e fornece noções básicas de botânica aos alunos. Em 1992, foi debatida a criação de um novo jardim botânico, com todos os requisitos necessários, o que pode acontecer em breve. O Jardim Botânico de Sassari passava por momentos difíceis e poderia perder as funções didáticas e científicas que ainda possuía. Para superar esse grave problema, com o apoio da Faculdade de Agricultura da Universidade de Sassari, surgiu a hipótese da criação de um novo jardim botânico. A orientação é criar uma estrutura que possa garantir tanto a função científica como a didática em uma cidade que reivindica ter o jardim botânico mais antigo da Sardenha e que apresenta hojecinco faculdades com interesse científico. Jardim Botânico de Ferrara Orto Botanico Dipartimento di Risorse Naturali e Culturali Corso Porta Mare, 2b I-44100 Ferrara Itália http://www.unife.it e-mail: ortobotanico@unife.it A cidade de Ferrara, capital da província do mesmo nome, fica na região da Emilia-Romagna, Itália, a 5 km do rio Pó. Abriga muitos palácios do século http://www.unife.it mailto:ortobotanico@unife.it XIV, mas sua origem é desconhecida. O primeiro documento a mencioná-la é do rei lombardo Astolfo, em torno de 754. A cidade foi governada pela família d’Este de 1240 a 1597. A Universidade de Ferrara foi fundada em 4 de março de 1391 por Alberto V d’Este. Conta hoje com oito faculdades, entre elas a de Ciências Naturais. A biblioteca possui manuscritos valiosos, incluindo parte do manuscrito de Orlando Furioso, o poema épico que o italiano Ariosto escreveu em 1516 (Ariosto morreu em Ferrara em 1533). Nessa universidade, o famoso alquimista, médico e astrólogo suíço Paracelso obteve seu doutorado. Também lá, Nicolau Copérnico, o matemático e astrônomo polonês que formulou a primeira teoria moderna do heliocentrismo do sistema solar, estudou direito e assistiu a aulas de astronomia. Nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial, era a mais freqüentada de todas as universidades públicas da Itália. Curiosidades Um duque dessa família, Alfonso d’Este, foi o terceiro marido de Lucrécia Bórgia, que lhe deu vários filhos e tornou-se uma respeitável duquesa durante a Renascença. Como filhos famosos de Ferrara devem ser mencionados Savonarola e Frescobaldi, além de Michelangelo Antonioni, o famoso diretor de cinema. O primeiro, foi um monge dominicano que governou a cidade de Florença por curto período, após Lourenço de Médici. Savonarola pregava a reforma religiosa e posicionou-se contra o Renascimento, queimando livros e destruindo obras de arte. Frescobaldi é considerado um dos maiores compositores, em seu século, de música para cravo. A Bíblia de Ferrara é uma tradução do Velho Testamento em ladino, a língua dos judeus sefarditas. Foi dedicada a Ercole II, da família D’Este, que governou Ferrara de 1534 a 1559. Sefarditas são os judeus originários de Portugal e da Espanha; a palavra deriva da denominação hebraica para a península Ibérica. Os sefarditas fugiram desses países devido à perseguição dos católicos. Muitos foram para o norte da África, outros para o Brasil e para o México. O Jardim Botânico de Ferrara faz parte do Instituto de Botânica da universidade. Durante o século XVI, já contava com botânicos famosos, como Antonio Musa Brasavola, o primeiro botânico da história. Com ele, a Universidade de Ferrara tornou-se um grande centro do ensino da botânica. Em 1530, Brasavola concluiu sua obra Examen omnium simplicium medicamentorum, na qual recuperou o conhecimento de botânica dos antigos e suas experiências. Os estudantes da universidade e seus professores tinham obrigação de freqüentar algum jardim botânico para suas aulas de plantas medicinais. De acordo com o Museo di Geopaleontologia e Orto Botanico, que é da universidade, o jardim botânico também foi criado pela família D’Este, em 1550. Infelizmente, não restam documentos históricos nem ruínas de construções para servirem de testemunho. Supõe-se que esse jardim se localizava em uma ilha do rio Pó pertencente àquela família. O jardim botânico atual, que nada tem daquele da metade do século XVI, possui um campo experimental com plantas medicinais, além de plantas nativas e exóticas para estudos de taxonomia, ecologia, geografia; enfim, é uma instituição preparada para o ensino e a pesquisa. Em 1771, a Universidade de Ferrara criou o novo jardim botânico, na época denominado Orto dei Semplici. Ficava localizado nos jardins da via Paradiso, próximo ao palácio do mesmo nome, sede da universidade. Já em 1772, havia nele, 2.800 espécies nativas e exóticas. Mais tarde, foi transferido para a via Scandiana, local desde o início considerado inadequado, razão pela qual, em 1925, voltou a seu local de origem. Em 1963, foi transferido para sua sede atual, no Palácio Turchi-Di Bagno, do século XVI, sede do Instituto de Botânica, Mineralogia e Geologia. O jardim botânico ocupa os jardins do palácio e é hoje parte do Departamento de Recursos Naturais e Culturais da universidade. O jardim botânico fica em um terreno retangular, dividido em canteiros de formas irregulares. Para auxiliar os visitantes, há placas de sinalização com cores, cada uma referente a um tipo de coleção. Os canteiros ao ar livre ocupam uma área de 4.500 m² e neles há setecentas espécies distribuídas nas seções de taxonomia (indicada por uma placa azul), plantas úteis (placa vermelha) e jardins temáticos (placa verde). Na parte leste, ficam as casas de vegetação, uma central e duas laterais, para plantas de zona temperada e de zona tropical, respectivamente, num total aproximado de 1.300 espécies. Elas ocupam 243 m² e, no verão, as plantas lá abrigadas são transferidas para a seção de plantas exóticas (placa amarela), ao ar livre. Na seção de taxonomia (placa azul), as plantas são organizadas de acordo com as famílias botânicas, havendo um exemplar da palmeira Chamaerops humilis. As plantas úteis (placa vermelha) incluem as de utilidade variada para o homem, as aromáticas e as medicinais, o antigo Orto dei Semplici. Os jardins temáticos (placa verde) têm plantas ornamentais, distribuídas em treze pequenos jardins, com finalidade estética e de divulgação. Como exemplos, o jardim de plantas de sombra, o mediterrâneo, o italiano, o japonês. As plantas exóticas (placa amarela), em vasos ou cestos, são tropicais e subtropicais. Trata-se de plantas epífitas, carnívoras, ornamentais e medicinais. No início do século XXI, foi criada a seção de plantas raras, ameaçadas de extinção, da região da Emilia- Romagna. Três exemplares centenários foram transferidos do Palácio Paradiso para a sede atual: Cycas revoluta, Howea forsteriana e Livistona chinensis. Duas das importantes funções do Jardim Botânico de Ferrara devem ser lembradas: a pesquisa altamente diversificada e a função didática universitária. O jardim publica anualmente um índice de sementes e, assim, pode fazer troca de sementes e esporos com outros jardins botânicos de todo o mundo. O Herbário Histórico Campana, importante setor do Jardim Botânico de Ferrara, homenageia Antonio Campana, nascido e falecido na cidade. Ele foi professor de farmácia e botânica na universidade. Como diretor do jardim durante trinta anos, colecionou cerca de 5 mil espécies. Em 1812, organizou um catálogo de plantas do jardim. Há ainda o herbário principal, o Herbário Geral, com aproximadamente 11 mil exsicatas. O jardim também oferece cursos para aposentados e pessoas idosas, e todos os anos há uma famosa exibição de bonsai. Jardim Botânico de Valência Jardí Botànic de la Universitat de València Carrer Quart, 80 Valência 46008 Espanha http://www.jardibotanic.org botanic@uv.es http://www.jardibotanic.org mailto:botanic@uv.es Valência, terceira maior cidade da Espanha, é a capital da província do mesmo nome. De origem latina, o nome Valentia significa força. Durante o império mouro, passou a ser conhecida como Balansiya. Foi fundada pelos romanos em 137 a.C. e chegou a ser uma das maiores cidades do Mediterrâneo durante os séculos XV e XVI. Foram os banqueiros da cidade que emprestaram à rainha Isabel, a Católica, o dinheiro que financiou a viagem de Colombo. A Universidade de Valência é uma das mais antigas da Espanha, pois foi fundada em 1499. Hoje é freqüentada por cerca de 60 mil estudantes. Tem três campi: o Burjassot, onde estão as faculdades de Biologia, Farmácia, Física, Química, Matemática e Engenharia; o Blasco Ibañes, com as faculdades de Medicina, Odontologia, Filosofia, Geografia, História e Línguas e o Campus Tarnongers, com as faculdades de Direito, Economia e Ciências Sociais. O Jardim Botânico de Valência foi fundado em 1567. Osmagistrados da cidade nomearam Joan Plaça para o posto de catedrático de ervas medicinais e responsável por sua criação. Ele era amigo e correspondente de Charles de l’Écluse, também conhecido como Carolus Clusius, botânico de Leiden, na Holanda, considerado o pesquisador mais importante no campo da horticultura científica do século XVI. Plaça acompanhou Clusius em suas viagens pela península Ibérica entre 1563 e 1564 e apresentou-lhe, em Valência, a primeira árvore de Persea americana (abacate) aclimatada na Europa. O Jardim Botânico de Valência foi, durante mais de duzentos anos, um jardim de plantas medicinais utilizado para os estudos de medicina. Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, ele ocupou vários locais na cidade. A constituição da Universidade de Valência, de 1733, detalhava como deveria ser o ensino sobre as ervas medicinais e a necessidade de um jardim botânico. Em 1802, finalmente, a universidade conseguiu montá-lo. Foi escolhido um local fora dos muros da cidade, perto do Convento de São Sebastião, local que ocupa até hoje. Em 1812, as tropas de Napoleão Bonaparte invadiram Valência e devastaram o jardim. No século XIX, foram construídas as casas de vegetação e a área sombreada, uma estrutura metálica que corta a luz solar. Lá eram realizadas as aulas de botânica e pesquisas de aclimatação de plantas de interesse agrícola. No final daquele século, as aulas passaram a ser dadas no curso de história natural da universidade, e o jardim perdeu sua função didática, razão pela qual, durante a primeira metade do século XX, ficou em abandono. Uma grande enchente, em 1957, piorou a situação. Na década de 1960, foram recuperados os edifícios para instalar a biblioteca, o herbário e os laboratórios. O jardim retomou sua atividade de docência com as aulas práticas de botânica para a Faculdade de Ciências, e mais tarde para as de Biologia e Farmácia. Em 1987, a universidade iniciou um projeto de restauração completa, sendo que a parte dos jardins foi restaurada entre 1989 e 1991. O novo edifício para investigação científica foi concluído em 2000. O jardim botânico tem, atualmente, uma área de 40.000 m². Os jardins abrigam árvores centenárias e mais de 4.500 espécies vegetais. Próximo à entrada fica a Escola de Botânica, onde as plantas estão organizadas de acordo com a época de seu aparecimento na Terra, o que permite explicar sua origem e evolução. Na parte norte, as plantas são distribuídas de acordo com suas famílias botânicas. Uma área ao ar livre é dedicada a plantas dos desertos da América e da África. Em outra, são reproduzidos ecossistemas comuns na região de Valência. Há coleções de plantas úteis, como as medicinais e as aromáticas, as utilizadas como alimento pelos animais ou pelo homem, como vestuário ou madeira. Desde 1802, há uma coleção de mais de cem espécies de palmeiras, muitas com mais de 150 anos, a maioria delas sendo mantidas ao ar livre, no arboreto. As mais sensíveis ao frio são mantidas em uma casa de vegetação construída no século XIX, restaurada há poucos anos. O arboreto apresenta muitas outras espécies de árvores, além das palmeiras. Uma outra casa de vegetação, muito grande, abriga plantas de regiões tropicais úmidas. Há casas para samambaias, plantas carnívoras e epífitas. As casas de vegetação ocupam 550 m². A área sombreada ocupa 550 m² e é usada para plantas que gostam de sombra, como begônias, samambaias e algumas palmeiras que apreciam luz indireta. O herbário contém mais de 200 mil exsicatas, sendo, assim, um dos mais importantes da Espanha. Há, ainda, uma biblioteca especializada e um banco de sementes de espécies da região do Mediterrâneo ameaçadas de extinção. Atualmente, o jardim botânico dedica-se à pesquisa relacionada com a biodiversidade, a conservação de espécies raras e endêmicas ou ameaçadas de extinção da flora do Mediterrâneo. Há pesquisas em andamento em anatomia, florística, biologia molecular, biossistemática, fitossociologia e citogenética. Em cada estação do ano, os jardins têm uma paisagem diferente. As orquídeas, os cactos, as árvores imensas e as plantas ornamentais proporcionam ao visitante beleza e bem-estar. Uma divisão do jardim dedica-se a organizar cursos, visitas e exposições de interesse do público em geral. Lá acontecem, também, concertos, exposições de artes plásticas, cinema e teatro. Jardim Botânico de Bolonha Orto Botanico dell’Università di Bologna Via Irnerio, 42 40126 Bologna Itália www2.unibo.it/musei-universitari/ortobotanico assistenza.cesia@unibo.it http://www2.unibo.it/musei-universitari/ortobotanico mailto:assistenza.cesia@unibo.it Bolonha é a capital da região da Emilia-Romagna e está localizada entre o rio Pó e os montes Apeninos. Foi fundada pelos etruscos por volta de 534 a.C., passando a ser dominada pelos romanos ao redor de 189 a.C. No século V da era cristã, teve início um período áureo para a cidade. Em 1294, Bolonha era a sexta cidade da Europa, perdendo apenas para Córdoba, Paris, Veneza, Florença e Milão. Durante o Renascimento, Bolonha era a única cidade italiana em que havia liberdade feminina e que permitia às mulheres exercer qualquer profissão, até mesmo obter diplomas na universidade. A cidade ficou sob o domínio de Napoleão Bonaparte de 1796 a 1802. Em 1857, passou a pertencer ao reino da Sardenha e, em 1859, tornou-se parte do Reino da Itália. A Universidade de Bolonha, originalmente chamada Studium, foi criada em 1088. É a universidade mais antiga da Europa, tendo sido um centro muito importante da vida intelectual da Idade Média. Durante a era napoleônica, passou a funcionar na via Zamboni, onde está até hoje. É constituída por 23 faculdades. Foram alunos da Universidade de Bolonha personagens muito famosos, como Dante degli Alighieri, o autor de A divina comédia; Francesco Petrarca, o inventor do soneto; e Giovanni Boccacio, autor de Decameron. Os três são considerados os pais da literatura italiana. Também estudaram em Bolonha, Thomas Becket, teólogo inglês, arcebispo de Canterbury, e Erasmo de Roterdã, teólogo holandês. Luigi Galvani, o descobridor da eletricidade originária de reações químicas do organismo, foi médico e professor de anatomia da universidade. Laura Maria Caterina Bassi, nascida em Bolonha, foi a primeira mulher a lecionar em uma universidade européia. Em 1732, com a idade de 21 anos, ela foi nomeada professora de anatomia e, em 1734, passou a catedrática de filosofia. A cátedra de botânica da Universidade de Bolonha, na época denominada Cattedra dei Semplici, estava em 1539 a cargo de Luca Ghini, que considerava essencial, para suas aulas e demonstrações, ter material vegetal vivo adequado. Para isso, conseguia suas plantas de jardins particulares, o que não era muito conveniente. Tentou criar um jardim botânico na Universidade de Bolonha, mas não teve sucesso com as autoridades da época. Frustrado, foi para Pisa, e lá criou o primeiro jardim botânico do mundo. A cátedra de botânica de Bolonha passou ao naturalista Ulisse Aldrovandi, que criou o jardim botânico em 1568, permanecendo como seu diretor por 38 anos. A sede original ficava no centro da cidade, no interior do Palácio Público, próximo do local onde Aldrovandi dava suas aulas. Era, na verdade, o jardim de ervas medicinais de Aldrovandi. Pouco se sabe hoje desse primeiro jardim, e dele praticamente nada resta. Depois, foi transferido para dois outros locais, o terceiro sendo aquele onde funciona até hoje. Em 1587, o jardim foi transferido para um local mais amplo, próximo à Porta Santo Stefano (hoje via San Giuliano). Devido a sua utilização nas aulas teóricas e práticas da universidade, a coleção de plantas medicinais permaneceu no Palácio Público. Entretanto, essa coleção, por mais de um século, teve várias idas e vindas entre o Palácio Público e o jardim botânico, até o espaço no Palácio Público ser definitivamente abandonado. O jardim foi se desenvolvendo seguindo a orientação de Aldrovandi, cada vez maisdistante da medicina, e aumentando o número de plantas, graças aos descobrimentos marítimos do século XVI. Em 1653, um catálogo mostra que cerca de 1.500 espécies estavam sendo cultivadas nele. Havia no jardim muitas plantas exóticas, plantas de uso agrário, árvores raras, plantas mantidas em vaso e plantas medicinais importantes na época. Em 1765, ele ganha uma casa de vegetação. Em 1803, passou para a sede atual, um terreno entre a Porta San Donato e a Porta Mascarella, comprado pela universidade, agregado aos terrenos que pertenceram ao Convento de Santo Inácio e ao Colégio Ferrerio. No início do século XX, foi aberta a via Irnerio, hoje a entrada do jardim botânico. No terreno já havia duas construções do século XV. Esse novo jardim botânico reuniu as coleções do Palácio Público e as da Porta Santo Stefano. O jardim foi mantido por muito tempo pelos bens confiscados das instituições religiosas por Napoleão. Foi criado também um jardim agronômico (separado do jardim botânico em 1925) e, com o correr dos tempos, foram sendo construídos, na vizinhança, os principais institutos de pesquisa da universidade. Antonio Bertoloni, diretor por 52 anos, de 1817 a 1869, foi muito importante para o jardim. Enriqueceu a coleção com plantas provenientes das Américas, mas sua importância maior decorre da publicação da Flora Italica. É uma obra em dez volumes, na qual ele trabalhou por quarenta anos. É a documentação florística de toda a Itália (que na época ainda não era unificada), incluindo a Sicília, a Sardenha, a Córsega. O material coletado por ele e outros botânicos constitui um dos herbários mais famosos da Itália, o Hortus Siccus Florae Italicae. Continha, originalmente, exemplares de 803 gêneros e 4.211 espécies. É, hoje, o núcleo principal do herbário de Bolonha. No século XX, foram construídas as casas de vegetação. A orangerie, construída na época napoleônica, assim como muitas árvores, foi destruída em 1944 pelos bombardeios da Segunda Grande Guerra. E o que é uma orangerie? É um símbolo, sobretudo das casas aristocráticas e reais dos séculos XVII e XVIII. Sua origem é o jardim renascentista da Itália, quando a tecnologia da produção de vidro tornou possível a produção de lâminas de vidro transparente. Era um tipo de casa de vegetação onde laranjeiras cultivadas em vasos grandes eram mantidas durante o inverno. A orangerie encerrava também fontes, grutas e uma área com bancos para os nobres relaxarem. O Jardim Botânico de Bolonha ocupa hoje uma área de 20.000 m², onde são cultivados mais de 5 mil exemplares de plantas da região e exóticas. Seu espaço físico pode ser dividido em dois setores principais: o das casas de vegetação e o dos ambientes de plantas ao ar livre. Há uma casa de vegetação utilizada para as plantas carnívoras e uma outra, que contém 5 mil exemplares de plantas suculentas. As casas de vegetação tropicais têm temperatura elevada e alta umidade relativa. Nelas são cultivadas plantas da zona tropical e das florestas úmidas equatoriais, como orquídeas e bromeliáceas, além de plantas ornamentais. Há também plantas de interesse econômico e alimentar. O ambiente ao ar livre ocupa a maior parte do jardim. É dividido em áreas. A área das espécies ornamentais tem uma coleção importante de gimnospermas, entre elas, duas árvores masculinas de Ginkgo biloba e exemplares de Metasequoia glyptostroboides e Taxus baccata. A área das plantas medicinais e aromáticas apresenta espécies típicas da flora italiana. Há também um tanque com plantas aquáticas da Itália, como Menyanthes trifoliata e Potamogeton natans. Há um outro tanque, menor, com espécies exóticas. A área do parque apresenta, ao longo dos caminhos, muitas árvores de clima temperado, algumas muito antigas, como exemplares de Aesculus hippocastaneum, Juglans cinerea e Populus canadensis. Há uma área com espécies originárias das colinas ao redor de Bolonha, como Fraxinus ornus e Laburnum anagyroides. Em um pequeno lago de água doce são mantidas espécies de animais e vegetais típicas desse ecossistema, como Nymphaea alba. Na parte terrestre junto ao lago, bem úmida, às vezes inundada, o estrato herbáceo apresenta Equisetum telmateia. Perto do lago, há um bosque com exemplares de Populus alba, Corylus avellana, Salix alba e Salix purpurea. Há também uma área com espécies arbóreas da flora dos Apeninos. O papel dos jardins botânicos como instituição cultural evoluiu muito desde a remota origem renascentista. Sua utilidade para a pesquisa científica e para a didática ampliou-se muito com o distanciamento, cada vez maior, da botânica em relação à medicina. Hoje, o Jardim Botânico de Bolonha é um verdadeiro museu verde, tendo como função a divulgação científica e o ensino voltado para um grande e variado público. É muito importante também a coleção de sementes e esporos, para permuta com outras instituições congêneres do mundo. Pelo visto anteriormente, verifica-se que ele tem duas filosofias: a apresentação de coleções de interesse especial e a reconstrução de ambientes naturais em que as plantas ficam colocadas como se estivessem na natureza. Jardim Botânico de Leipzig Botanischer Garten der Universität Leipzig Linnéstraße, 1 04103 Leipzig Alemanha www.uni-leipzig.de/bota/frameset/frameset.htm botgasek@uni-leipzig.de A cidade de Leipzig está situada na parte leste da Alemanha e na parte oeste do estado da Saxônia, do qual é a maior cidade. No século XI, era uma cidade fortificada denominada Urbs Libzi. Várias batalhas da Guerra dos Trinta Anos http://www.uni-leipzig.de/bota/frameset/frameset.htm mailto:botgasek@uni-leipzig.de (1618-1648) aconteceram em suas vizinhanças. Em 1813, aconteceu a Batalha de Leipzig, uma batalha decisiva perdida pelo imperador francês Napoleão Bona- parte, que custou ao império francês a perda do território alemão e da região do rio Reno. Em 1913, foi inaugurado um grande monumento, pesando 300 mil toneladas para celebrar essa batalha. Uma atração turística de Leipzig é a Igreja de São Tomás, do século XIII. A Universidade de Leipzig foi fundada em 2 de dezembro de 1409 pelos príncipes Friedrich e Wilhelm da Turíngia e de Meissen, após a bula papal de sua fundação ter sido emitida em setembro pelo papa Alexandre V (papado de 1409 a 1410), que é considerado antipapa pela Igreja Católica. Na Alemanha, é apenas menos antiga que a de Heidelberg. Em 1543, passou a funcionar no Paulinum, um mosteiro dominicano secularizado pelo duque Moritz von Sachsen. Entre 1539 e 1544, sofreu uma grande reforma com a participação de dois teólogos luteranos, os reitores Caspar Borner e Joachim Camerarius. No século XVI, foi um importante centro da Reforma religiosa. Entre os séculos XVII e XIX, teve grande importância, atraindo estudantes como o poeta Johann Wolfgang von Goethe, o filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche, o filósofo barão Gottfried Wilhelm von Leibnitz e o compositor Richard Wagner. O físico Werner Karl Heisenberg, Prêmio Nobel, foi professor nela de 1927 a 1942. Entre 1953 e 1990, recebeu o nome de Universidade Karl Marx de Leipzig. Depois da reunificação da Alemanha, voltou a ser chamada Universidade de Leipzig. Hoje, tem várias faculdades de renome, entre elas as faculdades de Economia, de Direito, de Filosofia, de Medicina e de Lingüística Aplicada. O Jardim Botânico de Leipzig é o mais antigo da Alemanha. Antes da criação do jardim ou horto botânico, o estudo das plantas medicinais era feito com o material vegetal coletado nos jardins dos mosteiros. Em Leipzig, a idéia da criação de um horto botânico surgiu depois da reforma universitária. Em 1580, o claustro do mosteiro Paulinum, sede da universidade, passou a funcionar como um jardim botânico. O professor de matemática e de botânica de Leipzig Moritz Steinmetz foi seu primeiro diretor. O fato de uma universidade possuir um órgão próprio para treinar farmacêuticos e médicos com o uso das ervas medicinais era uma grande inovação na época. Sob Steinmetz,houve uma melhoria no treinamento dos farmacêuticos, pois até então apenas estudantes de medicina tinham acesso às ervas medicinais. Uma das intenções na época, do jardim e da universidade, era melhorar o ensino da medicina e da farmácia, criar maior intercâmbio entre essas duas áreas e, como conseqüência, melhorar a qualidade dos medicamentos. Com Moritz Steinmetz, foi dado o primeiro passo importante para a criação de uma base científica para o ensino da farmácia e o jardim tornou-se um importante local de pesquisa. Em 1648, a universidade comprou um edifício na rua Grimmaischen. O jardim botânico foi transferido para os jardins desse edifício em 1653. Um documento atesta que, já em 1663, podia ser freqüentado pelo público em geral. Em 1675, o jardim publicou uma obra importante para a região, a Flora de Leipzig. Em 1806, foi transferido outra vez, para um terreno muito maior em Pleissenaue. Somente após 1840 é que foram construídas algumas casas de vegetação e a parte ao ar livre foi totalmente reorganizada. Em 1857, havia mais de 10 mil espécies cultivadas, das quais 4.500 nas casas de vegetação. A coleção de 607 espécies de samambaias era muito importante, uma das mais valiosas da Europa. Foi novamente transferido em 1876-1877, para o chamado Postfeld, terreno em forma de triângulo, delimitado pela Linnestrasse, pela Johannisallee e pela Philipp-Rosenthal-Strasse. Em 1895, a área foi aumentada para cerca de 30.000 m², graças à diminuição da largura da Linnestrasse. A área das casas de vegetação era de 1.232 m², muito maior que no antigo endereço. A estrutura básica da parte ao ar livre permanece até hoje. Foram organizados os departamentos de ervas medicinais e de outras plantas úteis. As plantas restantes eram agrupadas em comunidades de acordo com tipo de solo, plantas adaptadas a alta salinidade, plantas de altitude. Havia também comunidades de plantas aquáticas. Entretanto, o número de espécies era bem menor que na localização anterior. Em 1934, foi iniciado um trabalho de modernização, interrompido em 1938 pelo início da guerra. Durante a Segunda Guerra Mundial, o jardim foi praticamente arrasado. Em 4 de dezembro de 1943, o prédio do Instituto de Botânica foi totalmente destruído pelos bombardeios. O herbário, com 1.018 exsicatas, virou cinzas. Em 1945, foi destruído o complexo das casas de vegetação na parte sul e as demais ficaram muito danificadas. Apenas 26 espécies de clima frio puderam ser salvas, entre elas Arbutus unedo, Punica granatum e Callistemon speciosus. Com o fim da guerra, houve muitas dificuldades para a recuperação do jardim. Um dos problemas fundamentais era a falta de material de construção. Por causa disso, a reconstrução só pôde ser reiniciada em 1949. Em 1954, todas as casas de vegetação estavam recuperadas. Outros jardins botânicos ofereceram plantas para Leipzig, e, em 1955, já havia mais de 2.400 espécies nas casas de vegetação. O Instituto de Botânica não foi recuperado. A partir de 1991, ocorreu uma reorganização total das construções do jardim, como os muros que agora o cercam. Entre 1998 e 2003, o complexo das várias casas de vegetação, que ocupa uma área de 2.400 m², foi reorganizado e quase totalmente reconstruído. No complexo, são acomodadas plantas das áreas subtropical e tropical e plantas são utilizadas para o ensino e também para trabalhos de pesquisa. Algumas casas de vegetação são utilizadas temporariamente para exibições para o público. Nos cartazes de propaganda das exposições há sempre o convite “Visitem o mais antigo jardim botânico da Alemanha”. Em fevereiro de 2007, foi organizada em uma das casas de vegetação uma grande exposição de orquídeas. Há exibições de cerâmica e de outros tipos de atividade artística. Uma das grandes atrações é o retiro das borboletas. Em 2001, foi recriado, no estilo medieval, um jardim de plantas medicinais. As coleções de plantas vivas incluem a de plantas lenhosas tropicais, a de plantas ameaçadas de extinção, a de árvores de florestas úmidas tropicais, a de palmeiras, a de plantas carnívoras e a de samambaias, entre muitas outras. Também é mantida uma coleção de sementes e esporos para permuta com outras instituições de pesquisa. Há eventos ou aulas especiais oferecidos pelo jardim, como excursões de uma hora durante o verão e o inverno, além de um curso de jardinagem. O jardim botânico é como uma ilha verde na cidade. Nele, o público obtém paz, aprecia beleza e tem segurança. Cada planta é etiquetada com seu nome científico de acordo com a nomenclatura de Lineu. Exposições temporárias de vários artistas são integradas em sua área. Uma outra atividade cultural do jardim botânico é apresentar exposições em locais diferentes por toda a cidade de Leipzig. Saindo do jardim, o turista pode visitar um parque, o Friedenspark, que margeia os prédios históricos da universidade. O parque está localizado no terreno de um antigo cemitério, que foi secularizado na década de 1970 pelo governo da então Alemanha Oriental. Jardim Botânico de Kaliningrado Jardim Botânico Universidade Estatal Immanuel Kant Rua Belomorskaya, 20 236029 Kaliningrad Rússia A cidade russa de Kaliningrado tinha, até 1945, o nome de Koenigsberg. Foi fundada em 1255 pelo rei da Boêmia Otakar II. Era a capital de Sambia, uma das quatro dioceses em que a Prússia foi dividida em 1243 pelo núncio apostólico Guilherme de Modena. Com o nome de Koenigsberg, foi a capital da província da Prússia Oriental, do reino da Prússia. Em 1944, a cidade foi bombardeada e quase totalmente destruída. Em 1946, foi recons truída e, sendo agora russa, recebeu o nome de Kaliningrado, homenagem ao político russo Mikhail Kalinin. Kaliningrado é uma cidade portuária, sendo o centro administrativo do Kaliningrad Oblast, uma parte isolada da Rússia, que fica encravada entre a Polônia e a Lituânia, às margens do mar Báltico. Embora a língua oficial fosse a alemã, foi em Koenigsberg que se publicaram os primeiros livros na língua lituana e por séculos foi o grande centro de publicações naquela língua. A Universidade Estatal Immanuel Kant tem esse nome desde 2005; de 1967 a 2005, era a Universidade Estatal de Kaliningrado. Ela mantém as tradições da Universidade Albertina de Koenigsberg, que foi fundada como universidade luterana, em 1544, por Albrecht I, primeiro duque do ducado da Prússia. Existiu até 1945. A Universidade Kant é, portanto, a mais antiga universidade da Rússia. Era constituída inicialmente de quatro faculdades: Teologia, Medicina, Filosofia e Direito. Ficava situada perto da catedral gótica, fundada em 1333. Em 1862, foi construída a nova universidade em estilo renascentista, tendo na fachada, em relevo, a figura do fundador Albrecht I montado em seu cavalo. No século XVIII, o reitor era o filósofo Immanuel Kant, cujo túmulo fica nos terrenos da universidade. Em 1945, durante a II Guerra Mundial, Koenigsberg foi fortemente atacada, sendo destruído cerca de 80% do campus universitário. A Universidade Albertina foi fechada. Foi reinstalada em 1967, com o nome de Universidade Estatal de Kaliningrado e a construção de edifícios modernos. O Jardim Botânico de Koenigsberg foi criado em 1581 como parte da Universidade Albertina. Dele nada resta hoje em dia. Poucos, inclusive no jardim atual, sabem que um dia existiu. O Jardim Botânico de Kaliningrado da Universidade Albertina, criado em 1904, não tem nada a ver com o de Koenigsberg. O de Kaliningrado tem coleções especiais de arbustos ornamentais, de crisântemos, de clematis, de gramas de cobertura, de espécies de Berberis, Clematis, Acer e Lonicera. Ao ar livre, há cerca de seiscentas espécies de árvores e arbustos. Seu herbário possui exemplares de material botânico coletado na região de Kaliningrado desde 1964. A maior parte dessa coleção é de musgos, samambaias, gimnospermas e angiospermas. Nos últimos anos, houve inclusão de muitos liquens. Há poucas informações a respeito deste jardim. Desde 1960,há falta de fundos para sua manutenção. No início de 2007, uma tempestade violenta destruiu a maior parte das casas de vegetação e muitas das 2.500 espécies foram perdidas. Jardim Botânico de Jena Botanischer Garten Jena Fürstengraben, 26 07743 Jena Alemanha www2.uni-jena.de/biologie/spezbot/botgar/gewaechs http://www2.uni-jena.de/biologie/spezbot/botgar/gewaechs Jena, na Alemanha central, no vale do rio Saale, é a terceira cidade do estado federal da Turíngia. Foi mencionada pela primeira vez, como cidade, em um documento de 1236. A Reforma protestante lá chegou em 1523, o que desencadeou ataques da população aos conventos das várias ordens católicas. Foi em Jena que, em 1806, Napoleão Bonaparte venceu os prussianos. Seguiu-se muita resistência contra a ocupação francesa. Em 1945, a cidade foi bombardeada fortemente pelos americanos e britânicos, o que destruiu grande parte do núcleo medieval, restaurado depois da guerra. De 1949 a 1990, ela pertencia à República Democrática Alemã (Alemanha Oriental). A Universidade de Jena, Universidade Friedrich Schiller de Jena, foi fundada como uma academia, em 1548, por Johann Frederick I (1503-1554), da Saxônia, chefe da Confederação Protestante da Alemanha. Tornou-se universidade dez anos mais tarde, em 1558. No fim do século XVII, era a maior universidade da Alemanha. Em 1934, a Universidade de Jena foi renomeada como Universidade Friedrich-Schiller de Jena. Com cerca de 20 mil estudantes, ela possui muitas faculdades, como as de Teologia, Direito, Biologia, vários institutos, jardim botânico e herbário. Curiosidades A universidade passou a ter reputação internacional no século XVIII e início do XIX, época em que os filósofos Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Johann Gottlieb Fichte, Friedrich Wilhelm Joseph Schelling e o poeta e dramaturgo Johann Christoph Friedrich Schiller eram ali professores. Karl Marx obteve seu doutorado em Jena. Johann Wolfang von Goethe, que estudou direito em Estrasburgo, recebeu o título de doutor honorário pela Universidade de Jena, ocupou o cargo de presidente da Sociedade de Mineralogia da cidade e conseguiu o cargo de professor extraordinário de história e filosofia na Universidade para Schiller, de quem foi muito amigo. Em 1586, foi fundado um jardim de plantas medicinais, o hortus medicus, que depois se tornou o Hortus Botanicus; portanto, o Jardim Botânico da Universidade de Jena é o segundo jardim botânico mais antigo da Alemanha, depois do de Leipzig, fundado em 1580. No decorrer dos anos, ilustres pesquisadores lá trabalharam: o especialista em grupos de fungos August Karl Batsch, o algólogo Nathanael Pringsheim, o botânico que afirmou que as células são as unidades básicas de um organismo Mathias Jacob Schleiden, o fundador da citologia moderna, Eduard Strasburger, o médico e químico Georg Ernst Stahl, o criador do “animismo”, teoria que afirma ser a alma que regula o funcionamento do organismo, e o geneticista Otto Renner. Este Jardim Botânico é associado ao nome de Goethe que, em 1774, iniciou o sistema de irrigação de água, assim como a construção de várias casas de vegetação e da casa do inspetor do jardim, onde freqüentemente se hospedava. Hoje, a casa é o Museu e Monumento de Goethe. Ele passava horas no jardim em estudos botânicos e recebendo a musa da poesia. Uma árvore muito antiga de Ginkgo biloba lembra, aos visitantes do jardim, o tempo de Goethe. As metas do Jardim Botânico de Jena incluem o aprimoramento da educação acadêmica, o cultivo de plantas para pesquisa, a conservação de recursos genéticos e da biodiversidade e o cultivo de uma grande variedade de espécies, incluindo aquelas raras ou em perigo de extinção. Para pesquisa e permuta com outros jardins botânicos do mundo, é mantido um banco de esporos e sementes. Na parte a céu aberto, há um arboreto com cerca de novecentas árvores de angiospermas e gimnospermas e um jardim alpino com 2.500 espécies. Há um outro em que as plantas são organizadas de acordo com suas famílias botânicas: das monocotiledôneas e das dicotiledôneas. Há áreas com vegetação de florestas, de estepes, de pântanos. Há também plantas aquáticas, canteiros com plantas que florescem no início da primavera, plantas trepadeiras, rosas, um jardim de plantas da Austrália e da América do Sul, um de samambaias, um de plantas de interesse econômico e também um de plantas medicinais. O conjunto de cinco casas de vegetação foi renovado entre 1980 e 1983. O átrio do conjunto apresenta vitrinas para exposições. Um pátio interno é cercado pelo conjunto do átrio e casas de vegetação, com suculentas africanas, flores de verão e um tanque aquecido para as ninféias. Na casa de vegetação dos cactos e suculentas ficam plantas do Velho e do Novo Mundo, agrupadas de acordo com aspectos taxonômicos e fitogeográficos. Árvores sempre-verdes de florestas tropicais e subtro picais foram alojadas em uma segunda casa de vegetação. A casa das palmeiras abriga também plantas ornamentais da região tropical. A casa da evolução contém representantes de grupos antigos de plantas, como cicas e samambaias arbóreas. Vê-se a Victoria amazonica na quinta casa de vegetação, - em um grande tanque, junto de outras aquáticas tropicais. O Instituto de Botânica Sistemática da universidade administra o jardim botânico e o herbário. O Herbarium Haussknecht é um dos mais afamados da Europa. Foi fundado em 1896 em Weimar, Alemanha, pelo botânico e farmacêutico alemão Heinrich Carl Haussknecht. Transferido em 1949 para a Universidade de Jena, possui, atualmente, cerca de 3 milhões de exsicatas, além de uma palinoteca, coleção de frutos e sementes. Jardim Botânico de Wroclaw Rua Henryka Sienkiewicza, 23 50-335 Wroclaw Polônia e-mail: obuwr@biol.uni.wroc.pl mailto:obuwr@biol.uni.wroc.pl Wroclaw, a quarta maior cidade da Polônia, é a capital da província da Baixa Silésia, no sudoeste do país. A cidade é chamada de Wroclaw desde o século XII pelos poloneses e, a partir de 1741, os alemães a chamaram de Breslau. Voltou a ser chamada de Wroclaw após a Segunda Guerra Mundial. Wroclaw está localizada no rio Ocer, cerca de 310 km de Varsóvia. Fica em doze ilhas e tem 112 pontes, sendo conhecida como a Veneza da Polônia. Foi criada no século X e governada inicialmente por reis poloneses. Nos séculos seguintes, foi dominada pelos alemães, boêmios e prussianos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade foi fortemente atacada e quase destruída. Gradualmente, a cidade antiga foi restaurada e os monumentos preservados. Tem também construções modernas famosas, como o Hala Ludowa, construído entre 1911 e 1913 pelo famoso arquiteto alemão Max Berg. Hoje, Wroclaw é uma das mais belas cidades da Polônia. A Universidade de Wroclaw foi fundada durante o governo do rei Vladislaus II, da Boêmia e Hungria. Devido à forte oposição que teve da Universidade de Cracóvia, a Universidade de Wroclaw foi fechada. Por volta de 1702, o imperador do Sacro Império Romano, Leopoldo I, criou uma pequena faculdade de jesuítas, no mesmo endereço da antiga universidade, e deu a ela o nome de Academia Leopoldina. A Silésia foi incorporada pela Prússia em 1741 pelo rei Frederico, o Grande, e a Academia Leopoldina foi transformada em uma universidade, finalmente estabelecida em 1811. Era a Universidade de Breslau. Tinha inicialmente cinco faculdades: Filosofia, Medicina, Direito, Teologia protestante e Teologia católica. Quando acabou a Segunda Guerra Mundial, apenas 30% dos edifícios estavam de pé. A biblioteca foi totalmente queimada pelos russos, em 1945, quatro dias após a saída dos alemães. Em agosto de 1945, passou a ser chamada de Universidade de Wroclaw. Vários detentores do Prêmio Nobel estudaram nela: o químico Friedrich Bergius, o físico Max Born, o físico Hans Georg Dehmelt, o fisiologista Paul Ehrlich, o literato Theodor Mommsen e o físico Otto Stern. Aloysius “Alois” Alzheimer, que descobriu a doença de Alzheimer, foi professor de psiquiatria em Wroclawentre 1912 e 1915. Em 1587, o físico e botânico luterano Laurentius Scholz, depois de estudar alguns anos em Pádua, criou um jardim botânico, em Wroclaw, que foi importante para os estudiosos e estudantes de medicina. Era um terreno na forma de um quadrado dividido, por vielas, em quatro setores. No portão principal, estava esculpido um texto em latim, cujo primeiro parágrafo dizia “em louvor e honra de Deus Todo-poderoso, para a glória de minha cidade natal, para o uso de amigos e estudantes da botânica”. No jardim, havia plantas nativas e exóticas. O primeiro setor era o das plantas ornamentais, de flores vistosas, mas todas plantas nativas. Ilustrações dessas plantas eram feitas por artistas da cidade. O setor mais importante era o jardim das plantas medicinais, o “jardim dos simples”. Continha 385 espécies, entre elas muitas plantas exóticas. Junto com as medicinais, mantinham-se ervas aromáticas e algumas plantas que os portugueses tinham acabado de trazer da Índia. Havia também o setor das árvores. Depois o setor do labirinto, com muitas trepadeiras. Fontes adornavam o centro dos setores. O jardim possuía também uma estufa, onde cresciam romãzeiras, loureiros e espirradeiras. O atual jardim é uma instituição científica criada pela Universidade de Breslau em 1811. Foram diretores do Jardim de Breslau o paleobotânico H. R. Goeppert e o taxonomista A. Engler, que criou um novo sistema de classificação das plantas. Durante a Segunda Guerra Mundial, cerca de 50% das árvores e quase a totalidade das herbáceas e das plantas mantidas em casa de vegetação foram destruídas. O jardim foi reconstruído somente em 1948. O Jardim Botânico de Wroclaw é um oásis de beleza e tranqüilidade no centro antigo da cidade, o Ostrw Tumski, em meio a magníficas igrejas góticas. Funciona como um ponto de recreação para os visitantes. A vegetação atrai os olhos o ano todo pela variação das cores das folhas das árvores a cada estação. É sua função coletar, cultivar e estudar plantas, o que aumentou a pesquisa de aclimatação. Novas espécies são sempre incluídas nas coleções, provenientes de outros jardins botânicos ou coletadas em diversas partes do mundo. As plantas são agrupadas em seções e usadas como material de ensino e de pesquisa. O jardim oferece aulas especiais de botânica para estudantes e crianças. Há no Jardim Botânico de Wroclaw 11.500 espécies de plantas. Ele ocupa uma área de 700.000 m² e as casas de vegetação cobrem 3.300 m² do terreno. Nas casas de vegetação são mantidas plantas da região tropical e subtropical. Há cerca de trezentas espécies de plantas aquáticas e de locais inundados, que constituem uma das maiores coleções desse tipo no mundo. Há 1.300 espécies de plantas suculentas, a maioria das Américas e do sul da África. O jardim mantém, além das casas de vegetação, uma seção de taxonomia, uma de plantas ornamentais, um arboreto e uma de plantas alpinas (alpinário). A seção de taxonomia é a mais importante do ponto de vista educacional e cobre cerca de 200.000 m². Fica na parte central e é dividida em canteiros, agrupando as espécies de acordo com o sistema de Engler, que é baseado na afinidade natural entre as espécies. Árvores, arbustos, plantas perenes e anuais crescem em abundância, além de samambaias e musgos. Em 1880, no centro dessa seção, foi erigida uma estátua de Lineu. A seção de plantas ornamentais, mantida ao ar livre, é muito atraente em todas as estações do ano, com árvores, arbustos, plantas perenes e anuais e plantas com bulbo. Há 250 variedades de íris. O arboreto funciona como um parque de recreação, com espécies de árvores e arbustos nativos e exóticos. Há nele três grupos geográficos representados: o norte-americano, o caucasiano e o asiático oriental. Há um tronco petrificado com mais de 250 milhões de anos. O alpinário exibe espécies das montanhas das mais diferentes partes do globo, que crescem acima do limite das florestas e abaixo do limite da neve permanente. No alpinário está uma das grandes atrações: uma secção transversal de um depósito de carvão endurecido, há mais de cem anos, com incrustações de fósseis de plantas extintas. O Museu de História Natural apresenta uma exibição sobre o mundo das plantas. Junto da casa de vegetação que abriga as palmeiras, há um café, aberto ao público no verão. O arboreto em Wojsawice, com 150.000 m2, perto de Nemcza, a 50 km ao sul de Wroclaw, pertence desde 1880 ao Jardim Botânico de Wroclaw. Esse arboreto é muito conhecido por sua coleção do gênero Rhododendron. Os pesquisadores da instituição trabalham com ecologia de plantas aquáticas e do brejo, cultivo hidropônico, conservação e aclimatação de espécies. Além disso, há um grupo de pesquisadores na área de biologia vegetal, pois é necessário educar a sociedade em relação aos perigos que sofre a natureza. Por isso, o jardim criou caminhos pelo parque para fazer com que o público conheça as plantas mais interessantes e em perigo. Assim, tabuletas coloridas indicam ao público as atrações mais importantes. A placa alaranjada indica as plantas nativas e protegidas da Polônia e a vermelha as plantas do resto do mundo, raras e que estão desaparecendo. Cerca de cem quadros coloridos bastante didáticos estão espalhados por todo o jardim. Fazem-se exibições permanentes, como “Panorama da natureza”, que ilustra a evolução de plantas e animais desde o pré- cambriano até os dias de hoje e “As suculentas do México”, com representantes da flora mexicana. O jardim publica uma variedade de material didático e oferece aulas de botânica aplicada. Colabora com jardins botânicos do mundo todo permutando plantas, sementes e esporos de samambaias. Os pesquisadores da instituição fazem pesquisa em ecologia de plantas aquáticas e do brejo, cultivo hidropônico, conservação e aclimatação de espécies. Jardim Botânico de Montpellier Jardin des Plantes de Montpellier 163, Rue Auguste Broussonnet 34000 Montpellier França http://www.jardindesplantes.univ-montp1.fr/ http://www.aes.univ-montp1.fr inscraes@univ-montp1.fr http://www.jardindesplantes.univ-montp1.fr/ http://www.aes.univ-montp1.fr mailto:inscraes@univ-montp1.fr Montpellier, cidade do sul da França, é a capital da região do Languedoc- Roussillon e capital administrativa do departamento de Hérault. Fica a 10 km da costa do Mediterrâneo. Montpellier, mencionada pela primeira vez em um documento de 985, foi fundada pela dinastia feudal dos condes de Toulouse. No século XVI, na época da Reforma religiosa, grande parte dos habitantes da cidade tornou-se protestante e a cidade passou a ser ponto de resistência contra o catolicismo. A Faculdade de Medicina da Universidade de Montpellier (conhecida como Universidade de Montpellier I) já existia em 1180. Na época, havia outras faculdades espalhadas pela cidade, como as de Letras, Teologia e Direito. Em 1289, por ordem do papa Nicolau IV (papa de 1288 a 1292), todas as faculdades da cidade foram agrupadas em uma universidade, que foi fechada durante a Revolução Francesa, voltando a funcionar em 1896. François Rabelais, um dos maiores escritores franceses da Renascença, e Michel de Nostredame, conhecido como Nostradamus, famoso por suas profecias, receberam seus títulos de doutor em medicina pela Universidade de Montpellier. A expressão “jardin des plantes” é tipicamente francesa, sendo traduzida, em outros países por “jardim botânico”. O de Montpellier pertence à sua universidade e é administrado pela Faculdade de Medicina. Foi criado em 1593 pelo botânico e médico Pierre Richer de Belleval, durante o reinado de Henrique IV, sendo o mais antigo da França. Serviu-lhe de modelo o Jardim Botânico de Pádua, na Itália. A intenção do criador era fazer uma enciclopédia viva de plantas medicinais, que poderiam ser usadas pelos estudantes da Faculdade de Medicina para produzir remédios e para a pesquisa de médicos e farmacêuticos. O projeto de Belleval foi além e logo se tornou um verdadeiro estudo de botânica.Seu herbário contém exemplares coletados por botânicos célebres, incluindo a coleção da flora da região do Languedoc do próprio Belleval. O jardim foi precursor na maneira de ver a diversidade apresentada pelo mundo das plantas, reproduzindo, por exemplo, vários tipos de ambiente. Iniciou também uma coleção de plantas exóticas. Por seu valor pedagógico, passou a ser freqüentado por botânicos, médicos, farmacêuticos e estudantes, sendo finalmente aberto, em 1841, ao público em geral. O famoso botânico De Candolle trabalhou em Montpellier. Augustin Pyrame de Candolle, que utilizava a abreviatura DC, é um dos maiores botânicos do passado. Era descendente de uma família de huguenotes (protestantes calvinistas) da Provença, na França, que emigrou na metade do século XVI para Genebra, na Suíça, devido a problemas religiosos. Começou seus estudos em Genebra, tendo muito interesse em botânica. Em 1796, decidiu mudar-se para Paris, onde, em 1804, recebeu o titulo de doutor em medicina pela Universidade de Paris. Durante os verões dos seis anos seguintes, fez um levantamento florístico de toda a França, publicado em 1813. Em 1807, foi nomeado para a Universidade de Montpellier, primeiro como professor de botânica da Faculdade de Medicina, sendo, em 1810, transferido para a nova cátedra de botânica da Faculdade de Ciências. Naquela cidade, ele publicou Théorie élémentaire de la botanique. Retornou a Genebra em 1816, onde ficou com a nova cátedra de história natural. Em 1824, começou um novo trabalho, o Prodromus systematis naturalis regni vegetabilis, do qual conseguiu terminar apenas sete volumes (dois terços do projeto) até sua morte, em 1841. Seu filho, o francês Alphonse Louis Pierre Pyrame de Candolle, que utilizava a abreviatura DC, A., continuou o trabalho interrompido e o sucedeu na Cátedra de História Natural, em Genebra. O jardim ocupa uma área de 46.460 m². Está situado no bairro do Peyrou, próximo à Faculdade de Medicina e à Catedral de Saint Pierre. Encerra 2.771 espécies, sendo 760 árvores, todas mantidas a céu aberto. Nas casas de vegetação tropical, que ocupam uma área de 688 m², são mantidas 679 espécies, muitas delas da América do Sul, como cactáceas, suculentas e arbustos tropicais. Uma orangerie, com 267 m² foi construída em 1804. Tem, também, uma escola de taxonomia e um suntuoso jardim inglês. Em suas dependências, há um monumento a Rabelais, construído em 1921, uma estátua de Lineu e o famoso monumento de Narcissa. No fim do século XIX, o observatório astronômico da Faculdade de Ciências realizava suas observações nas dependências do jardim botânico. A cúpula astronômica, uma das mais antigas da França, com palmeiras cercando um espelho de água onde se vêem nenúfares, é classificada como monumento histórico. As reuniões do planetário atual são realizadas sob a cúpula desse observatório. É utilizado um planetário móvel, sob um domo inflável de 5 m de diâmetro. A área do jardim é dividida em um jardim paisagístico na parte norte, ficando o jardim histórico na parte sul. Não existe uma estrutura apropriada para a pesquisa, mas são desenvolvidos trabalhos científicos com outras instituições. Próximo ao Jardim Botânico foi criado, a partir de 1889, o Instituto de Botânica, que se dedica à pesquisa em ecologia e taxonomia. O Jardim Botânico de Montpellier tem coleções de plantas de várias procedências. Há cerca de quinhentas espécies da região do Mediterrâneo, uma coleção de 250 espécies de plantas medicinais, plantas pitorescas como hortaliças antigas e uma pequena coleção de palmeiras. Na coleção de árvores, há oito exemplares de Cupressus dupreziana, espécie quase extinta na Argélia – seu país de origem –, Zelkova serrata, Cinnamomum camphora e Ginkgo biloba. A coleção de plantas suculentas tem 183 espécies. As casas de vegetação contêm bromélias, orquídeas e samambaias. Plantas que não suportam baixas temperaturas são mantidas em vasos ou cestas e levadas para a orangerie durante o inverno. Há muitas plantas naturalizadas, importadas de outras regiões, mantidas ao ar livre, como a americana Modiola caroliniana. A coleção de plantas subtropicais inclui até hoje o lótus, Nelumbo nucifera, que foi trazido do Egito pelo botânico Alire Raffeneau-Delile durante a campanha napoleônica de 1798. Ele foi cônsul da França na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, de onde levou duas mudas de Maclura pomifera para o Jardim Botânico de Montpellier, do qual se tornou diretor. Por seu valor profissional, Raffeneau-Delile foi homenageado pelos botânicos com dois gêneros de plantas. Curiosidades Há um fato bastante curioso a respeito desse Jardim Botânico. Ele encerra o túmulo de Narcissa, atração turística da cidade. Afinal, quem foi Narcissa? É a personagem-título de um poema de Edward Young que consta do livro Night Thoughts, ilustrado pelo famoso poeta e ilustrador inglês William Blake. Conta a história trágica de uma bela jovem que morreu de tuberculose e teve seu corpo enterrado pelas próprias mãos do poeta. Mas a personagem do poema realmente existiu: era Elizabeth Lee-Temple, enteada de Young, filha de sua esposa com o primeiro marido. Com 17 anos, casou-se e ficou tuberculosa. Young levou-a para a França, pois o clima da região, supostamente, fazia bem aos tuberculosos. Mas Elizabeth não resistiu. Na ocasião da morte de Young, a Enciclopédia Britânica publicou que Elizabeth havia morrido e sido enterrada em Montpellier. Em 1770, os poemas de Young foram traduzidos para o francês, fazendo muito mais sucesso na França do que na Inglaterra, seu lugar de origem. Houve muita curiosidade a respeito de Narcissa (na verdade, Elizabeth) e o local de seu sepultamento. Um antigo funcionário do Jardim Botânico de Montpellier confessou que havia visto o corpo de uma jovem, que seria Narcissa, ser enterrado em uma cova rasa. Anos mais tarde, foi erguido um túmulo no local, com as palavras em italiano designando-o como o túmulo de Narcissa. É muito visitado e diz-se que aí choraram inúmeros famosos, como Alfred de Musset, Paul Valéry e André Gide. O mais interessante é que o sepultamento em Montpellier é uma informação falsa da Enciclopédia Britânica, pura invenção popular e poética. De acordo com a história verdadeira, Elizabeth nunca esteve em Montpellier, viva ou morta. Ela morreu em Lyon, onde está enterrada. Tanto o certificado do óbito como o túmulo existem em Lyon até hoje. Mas, sem dúvida, é uma boa história para o Jardim Botânico de Montpellier. O jardim mantém, igualmente, uma coleção de sementes e esporos. Um catálogo com todos os itens disponíveis dessa coleção é publicado e distribuído anualmente para outros jardins botânicos, tendo em vista a troca. O Jardim Botânico, um patrimônio de Montpellier, foi classificado como Monumento Histórico em 1992. Jardim Botânico de Heidelberg Botanischer Garten Heidelberger Institut für Pflanzenwissenschaften Der Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg Im Neuenheimer Feld, 340 D-69120 Heidelberg http://www.botgart.uni-hd.de e-mail: sekretariat@botgart.uni-hd.de Heidelberg é uma cidade no vale do Neckar – rio que deságua no Reno daí a 20 km –, estado de Baden-Württemberg na Alemanha. O primeiro documento que a menciona data de 1196. O nome deriva de Heidelbeerenberg, que significa montanha do mirtilo-azul ou blueberry. A cidade tem o privilégio de abrigar a mais antiga biblioteca alemã intacta, fundada em 1421. Para evitar sua destruição, a coleção foi enviada para o Vaticano, em 1623, tendo retornado para Heidelberg em 1986. Foi o centro do calvinismo na Alemanha no século http://www.botgart.uni-hd.de mailto:sekretariat@botgart.uni-hd.de XVI. O Catecismo de Heidelberg, publicado em 1563, que definia as diferenças entre a reforma calvinista e o catolicismo, foi adotado por muitas igrejas da época da Reforma. A Universidade Ruprecht-Karls de Heidelberg é a mais antiga universidade da Alemanha. Foi fundada em 1386, por Rupert I de Wittelsbach, tendo como modelo a Universidadede Paris. Inicialmente, dedicava-se aos estudos de filosofia, teologia, direito e medicina. Alguns nomes famosos como o filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel e o sociólogo Max Weber foram ali professores. Deve-se a descoberta de que a nicotina era o principal componente ativo das folhas de tabaco (1828) aos químicos dessa universidade. O Jardim Botânico da Universidade de Heidelberg foi estabelecido em 1593 como um hortus medicus, ou seja, para o cultivo de plantas medicinais. Ficava em um terreno próximo à Markbronner Tor, onde funcionou até 1645. No local funciona, hoje, a penitenciária municipal. Passou, nos séculos seguintes, por muitos endereços. Foi abandonado por vários anos depois de 1645. De 1679 a 1693, passou a funcionar em Kapuzinerkloster, mas logo foi, mais uma vez, deixado ao abandono. Em 1705, sua sede era em Plöck Wredeplatz, hoje Friedrich-Ebert Platz, ocupando uma área de 3.000 m². Em 1804, foi transferido para uma área de 7.000 m², em Dominikanerkloster (hoje área de Brunnengasse). Houve nova transferência em 1834, para uma área de 17.500 m² próxima a Mannheimer Tor, local onde hoje é o correio central. De 1880 a 1915, ocupou uma área de 25.000 m² em Bergheim. Desde 1915, está no endereço atual em Neuenheimer Feld, ocupando uma área de 29.000 m². Os cientistas do jardim botânico consideram que as instalações atuais estão ficando pequenas e antiquadas para sua missão em ciência e educação, razão pela qual estão planejadas novas instalações, na mesma rua, em terreno de 100.000 m² de área, já pertencente à universidade, mas faltam os recursos financeiros necessários à efetivação do projeto. Este jardim botânico é uma instituição importante, cujas funções principais são a pesquisa científica e o ensino. O ensino é voltado tanto para estudantes como para o público em geral e, assim como a pesquisa, tem caráter interdisciplinar. O jardim é, igualmente, depositário de espécies vegetais em perigo de extinção, local da arte da horticultura, centro de treinamento para jardineiros e local de recreação e tranqüilidade. Cerca de 14 mil espécies são cultivadas lá, 90% delas mantidas em casas de vegetação. Dentre elas, chamam a atenção alguns exemplares de grande porte de Dendrocalamus giganteus. Há coleções especiais consideradas de muita importância, tais como a de suculentas do Velho Mundo, de suculentas de Madagascar e do Novo Mundo, de orquídeas, de bromélias, de cicas e de samambaias tropicais. Há também uma coleção de germoplasma de brássicas, família da couve e da mostarda, entre outras. A grande maioria das orquídeas, bromélias e suculentas, muitas delas correndo perigo de extinção em seus locais de origem, foram coletadas em expedições científicas realizadas entre 1965 e 1995 em regiões tropicais, subtropicais e áridas das Américas, Ásia e África. A coleção de suculentas de Madagascar é a mais importante da Europa. Todas as espécies lá cultivadas são objetos de estudos botânicos. Mas a instituição tem outra grande preocupação: criar especialistas em horticultura. A horticultura moderna exige um alto grau de especialização, como técnicas modernas de climatização, condicionamento de ar, irrigação, armazenamento eletrônico de dados, além de bom treinamento pessoal para lidar com plantas delicadas. Essas necessidades encorajaram a criação de um curso de aprendizagem em horticultura de três anos, sendo um deles dedicado à parte econômica, quando o aluno faz estágio em uma firma comercial de jardinagem sob a supervisão do jardim botânico. Cada turma é de treze alunos. No final do curso, o novo horticultor está totalmente familiarizado com a produção de plantas ornamentais, de sementes, de frutas, com o crescimento inicial de plantas, a produção de hortaliças e o paisagismo. Jardim Botânico de Leiden Rapenburg, 73 PO Box 9516 NL-2300 RA Leiden Holanda e-mail: hortus@hortus.leidenuniv.nl Leiden é uma cidade da província de Zuid-Holland, cortada pelo Oude Rijn (Velho Reno braço do delta do Reno) e vários canais menores. No século IV, já havia um forte romano na região, mas só teve os direitos de cidade em 1266. Floresceu nos séculos XVI e XVII, sendo um importante centro de tecelagem; seus tecidos passaram a ser mais conhecidos após a queda dos espanhóis que dominaram a região por anos. O centro antigo da cidade está muito bem preservado. A Universidade de Leiden, que se autodenomina Praesidium Libertatis (Bastião da Liberdade), foi fundada em 1575, e é a mais antiga universidade da Holanda. Não tem um campus central. É espalhada por toda a cidade, da qual ocupa alguns dos edifícios mais antigos. Seu fundador, o príncipe Guilherme I de Orange-Nassau, foi o líder da revolta holandesa contra os espanhóis. A história tradicional diz que o soberano permitiu aos cidadãos, como recompensa mailto:hortus@hortus.leidenuniv.nl por sua bravura contra os espanhóis, escolher entre duas recompensas: uma isenção de impostos ou a criação de uma universidade. Escolheram a universidade, que iniciou suas atividades no Convento de Santa Bárbara, mas foi transferida em 1581 para o local que ocupa até hoje (embora o edifício original tenha sido destruído em 1616). Ela conta com nove faculdades e mais de cinqüenta departamentos. Usufrui de posição de destaque entre institutos de pesquisa do mundo nas áreas de ciências naturais, medicina, sociologia, direito, artes e literatura. Curiosidades A garrafa de Leiden, condensador elétrico, foi inventada por Pieter van Musschenbroek, em 1746, em Leiden (na verdade, já havia sido inventada no ano anterior por Ewald Georg von Kleist). É um frasco de vidro revestido por uma folha de estanho, que cobre cerca de quatro quintos de sua altura a partir da base (é a armadura externa). No interior há folhas de ouro (armadura interna), que escondem uma haste de metal que atravessa uma rolha de cortiça. Quatro cientistas agraciados com o Prêmio Nobel foram professores da Universidade de Leiden: os físicos Heike Kamerlung Onnes, Hendrik Antoon Lorentz e Pieter Zeeman, e o fisiologista Willem Einthoven. Além disso, o físico alemão Albert Einstein lá ministrou cursos como professor convidado, entre 1920 e 1946. O Jardim Botânico de Leiden, o mais antigo da Holanda, situa-se na parte sudoeste do centro histórico da cidade. Dele faz parte o jardim reconstruído de Clusius. Em 1587, a Universidade de Leiden pediu permissão, às autoridades da cidade, para a construção de um horto acadêmico que servisse como auxílio aos estudos de medicina. A permissão foi concedida em 1590. Clusius foi nomeado diretor. Ele chegou à cidade em 1593 para ser professor da universidade (data oficial da fundação do jardim) e plantou a primeira espécie do jardim, que no início era pequeno, cerca de 35 m por 40 m. Era dividido em quatro quadrados, cada um deles subdividido em canteiros retangulares. Mais de mil espécies foram lá cultivadas, incluindo uma coleção de plantas medicinais e outra de arbustos ornamentais da região do Mediterrâneo. Clusius colocou plantas provenientes da Ásia e Américas, até então desconhecidas na região. Havia também uma coleção de plantas com bulbo, incluindo as tulipas, provenientes da Turquia. Em 1931, o Jardim de Clusius foi reconstruído próximo do local original, no jardim botânico. A reconstrução levou em conta dados do fim do século XVI, como um esquema do jardim e as plantas que constavam de uma lista. Com o passar dos anos, houve uma grande deterioração, até que, em 1990, foi restaurado. Carolus Clusius (Charles de l’Écluse), médico e botânico formado em Montpellier, França, é considerado o pesquisador mais importante no campo da horticultura científica do século XVI. Fez a lista detalhada das plantas do jardim, lista que viabilizou a recriação deste no Jardim Botânico de Leiden. Realizou muitas observações interessantes a respeito das tulipas e estabeleceu muitas das normas, ainda hoje utilizadas, pela indústria holandesa dessas flores. Foi, também, um dos primeirosestudiosos da flora alpina da Áustria. De 1564 a 1565, Clusius esteve na península Ibérica e conseguiu, em Portugal, um volume do livro do português Garcia da Orta sobre plantas e remédios da Índia, Colóquio dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia, impresso em Goa, em 1563. Ficou tão interessado pelo assunto que traduziu o livro para o latim, publicado com o título de Aromatum et Simplicium aliquot medicamentorum apud Indios nascentium historia. Na década de 1730, o jardim botânico passou a ter 1.600 m² e a coleção chegava a 7 mil espécies, plantas demais, espaço de menos. Em 1816, aumentou seu tamanho com um jardim ao estilo inglês. Mas, em 1857, perdeu parte de sua área para a construção de um observatório astronômico, em frente do qual fica a rua que é o limite sul do jardim. Na parte oeste, foi construído, em 1990, o jardim japonês. O parque, com muitas plantas interessantes, é um oásis no meio da cidade antiga. Entra-se no Jardim Botânico de Leiden através de um pátio, onde há a casa de vegetação das palmeiras, construída em 2000, e alguns prédios antigos usados como laboratórios. Tudo bem ajardinado. Na parte central, fica o restaurado Jardim de Clusius e, perto dele, a seção de taxonomia, com as famílias de plantas distribuídas pelos canteiros, no meio dos quais foi colocado um busto de Lineu (Carl von Linné). Lineu esteve em Leiden quando tinha 28 anos. O então professor de botânica de Leiden da universidade, Jan Fredrik Gronovius, ficou tão impressionado com um manuscrito de setenta páginas do visitante que resolveu pagar imediatamente por sua publicação. É o Systema Naturae, um esboço do que Lineu iria fazer pelo resto de sua vida. Durante sua visita, o jardim botânico foi expandido, dobrando de tamanho. Com seu auxílio, a coleção de plantas foi reorganizada de acordo com as idéias mais modernas da taxono mia. Perto da seção de taxonomia, a coleçãode plantas tropicais e da região do Mediterrâneo, mantidas na orangerie pelo resto do ano, fica, em vasos, durante o verão. A orangerie, recentemente restaurada, foi construída ao redor de 1740. Na parte mais ao sul, há uma colina – construída pelo homem e que fazia parte das fortificações da cidade – onde uma infinidade de samambaias fica sob a proteção de árvores antigas. No Jardim Botânico de Leiden são várias as casas de vegetação, nem todas abertas ao público. A primeira foi construída na segunda metade do século XVII. Algumas são usadas para manter material de pesquisa dos botânicos do jardim e do herbário (Rijksherbarium). Uma delas abriga a coleção de orquídeas; outra, a coleção de passifloras (maracujás), muitas da América do Sul; e, uma terceira, a coleção de samambaias da Ásia. Há uma coleção importante de aráceas asiáticas, devendo ser mencionada a Amorphophallus titanum . Há casas de vegetação com plantas tropicais, incluindo a Victoria amazonica. Possui exemplares históricos, como o Laburnum anagyroides plantado em 1601 (que estava com 27 m em 1937), o Liriodendron tulipifera plantado em 1682 e o Ginkgo biloba plantado em 1785. Havia também um excelente herbário, que atualmente faz parte do NHN-Leiden. Em 1829, foi criado um herbário em Bruxelas, na Bélgica, o Rijksherbarium, com o objetivo principal de estudar os recursos vegetais das colônias holandesas. Em 1830, devido a problemas políticos, suas coleções foram transferidas para Leiden e o Rikjsherbarium passou a pertencer à universidade. O NHN-Leiden, o ramo de Leiden do Herbário Nacional da Holanda, é o resultado da fusão, em 1989, do herbário do Jardim Botânico de Leiden com o Rijksherbarium. Ele possui mais de 4 milhões de exsicatas. Jardim Botânico de Copenhague Botanisk Have Oester Farimagsgade, 2B DK – 1353 Kobenhavn K Dinamarca www.botanic-garden.ku.dk e-mail: bothave@snm.ku.dk Kobenhavn, Copenhague em português, a capital da Dinamarca, localiza-se na parte leste da ilha de Zealand e na ilha de Amager. A leste da cidade, o estreito de Oresund separa a Dinamarca da Suécia. No lado sueco, exatamente em frente, fica a cidade de Malmoe. Foi fundada por volta do ano 1000 da era cristã pelo guerreiro viking Svend Tveskoeg, rei da Dinamarca e da Inglaterra, e por seu filho Knud, o Grande, rei da Dinamarca, da Inglaterra, da Noruega e da Suécia. Era, até a metade do http://www.botanic-garden.ku.dk mailto:bothave@snm.ku.dk século XII, uma vila de pescadores denominada Havn. Tendo crescido muito em importância, recebeu, em 1254, o título de cidade. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi ocupada pelas tropas alemãs entre 1940 e 1945. Depois do conflito, a cidade teve um desenvolvimento muito grande. A Universidade de Copenhague (Kobenhavns Universitet) é a mais antiga e a maior universidade da Dinamarca, com oito faculdades. Tem mais de 37 mil alunos, a maioria mulheres; a primeira delas foi admitida em 1877. Foi fundada por um ato de Sisto IV (papado de 1471 a 1484), em 1475, a pedido do rei da Dinamarca e da Noruega, Cris tiano I, mas teve seus estatutos promulgados somente em 1479. Era um centro de teologia da Igreja Católica romana, mas também oferecia cursos de direito, medicina e filosofia. Em 1537, a universidade foi reorganizada, após a Reforma protestante, por Cristiano III, rei da Dinamarca e da Noruega. Hoje ela tem vários campi localizados em Copenhague e redondezas; o campus mais antigo fica no centro da cidade. Curiosidades Entre as várias curiosidades que a destacam, Copenhague é conhecida pela estátua da “Pequena Sereia”, homenagem a Hans Christian Andersen, famoso autor dinamarquês de contos de fadas. E o Tivoli, parque de diversões inaugurado em 1843. A escritora Karen Blixen ou Isak Dinesen, na realidade a Baronesa Karen von Blixen-Finecke, autora de A festa de Babette, é natural daquela cidade. Há vários nomes ilustres na história da universidade: dois vencedores do Prêmio Nobel de Física, Niels Bohr, que recebeu o prêmio em 1922, e seu filho Aage Niels Bohr, agraciado em 1975. O atual Jardim Botânico de Copenhague, da Universidade de Copenhague, fica no centro da cidade, próximo ao Museu Nacional de Arte. Foi fundado em 2 de agosto de 1600, através de um édito real, em uma área em Skidenstraede (hoje Krystalgade), na parte central da cidade antiga, como um horto médico. Uma residência com um jardim foi construída para um dos professores, que deveria cultivar e propagar as plantas, principalmente as medicinais. Em torno de 1620, embora não muito bem cuidado, o jardim foi enriquecido com um grande número de plantas medicinais dinamarquesas e exóticas. Somente em 1696 o jardim obteve dinheiro para, finalmente, contratar um jardineiro, mas as dificuldades continuaram até que ele foi fechado em 1778. O segundo jardim botânico, chamado Jardim de Oeder, existiu ao mesmo tempo que o primeiro. Foi, originalmente, planejado pelo médico e botânico alemão Georg Christian Oeder em 1752, em área cedida pelo rei Frederico V, da Dinamarca e da Noruega. Ficava ao norte do Hospital Frederico, e a Amaliegade dividia o jardim em duas partes, oeste e leste. A parte leste nunca foi utilizada; a oeste, nunca totalmente completada, recebeu uma casa de vegetação e foi aberta ao público em 1763. Oeder foi seu primeiro diretor e iniciou a Flora Danica, um levantamento bem ilustrado de todas as plantas da Dinamarca e da Noruega. O jardim durou pouco. Em 1778, o rei Cristiano VII retomou a área cedida e doou outra para um novo jardim botânico, perto de Charlottenborg. O projeto do terceiro jardim botânico da universidade, o de Charlottenborg, foi aprovado pelo rei em julho de 1778. Ficava em uma área alagada, limitada por Charlottenborg, Nyhavn, Mynten e Bremerholm. Foi construído o edifício principal, cuja ala norte era a residência de trabalho de seu diretor e também o Museu Botânico. No andar superior, ficava a biblioteca, que mais tarde tornou- se a principal Biblioteca Botânica. Na ala sul, eram mantidas plantas tropicais durante o inverno. Duas casas de vegetaçãoforam construídas em 1784 e em 1803, e uma série delas teve a construção iniciada em 1837. Em 1778, foi decidido que o jardim teria um professor associado de botânica, o primeiro deles tendo sido Martin Vahl, que transferiu as plantas do Jardim de Oeder para a área de Charlottenborg. A criação do posto de professor associado levou à fundação do setor de taxonomia vegetal, que vem funcionando há mais de duzentos anos. A botânica tornou-se uma ciência independente, na Dinamarca, em 29 de setembro de 1797, com a nomeação do primeiro professor titular da disciplina. Mas a área do jardim era pequena e, em 1842, considerou-se a necessidade de uma área bem maior. O quarto e atual jardim botânico, com uma área de 120.000 m², foi aberto ao público em 9 de outubro de 1874. A área escolhida foi a remanescente das fortificações que até aquela época cercavam a cidade, hoje Oester Farimagsgade. As casas de vegetação foram construídas entre 1872 e 1874, com estrutura de ferro fundido, madeira e vidro, ocupando uma área de 2.400 m². Por volta de 1900, o jardim botânico perdeu parte de sua área com a construção de uma universidade técnica. Na década de 1950, devido à construção do edifício do Departamento de Botânica, mais uma área foi perdida. Mas houve compensações: em 1905, recebeu terras que pertenciam ao governo da cidade, área expandida em 1963, usada para cultivar plantas anuais. O desenho original foi sendo alterado com o passar dos anos por exigências práticas. A partir da década de 1960, outros prédios foram construídos, tendo os antigos sido totalmente renovados, assim como as imensas casas de vegetação, dentre elas a que abrigava as palmeiras. As novas foram adaptadas às plantas de clima ártico e alpinas, e para trabalho experimental. O Jardim Botânico mantém, igualmente, arboretos de árvores perenes e uma área experimental em outros locais da cidade. Ele passou a ser área preservada a partir de 1977. Em 1995, estavam lá registradas cerca de 22 mil plantas vivas, representando 359 famílias, 3 mil gêneros e mais de 13 mil espécies, além de muitas subespécies, variedades e cultivares. Há coleções especiais, como a de cactáceas, de orquídeas da Tailândia e do leste da Ásia, plantas das montanhas gregas, outras da Dinamarca e Groenlândia. Recentemente, foi montado um laboratório de cultura de células e tecidos, e mais de cinqüenta espécies são mantidas em cultura. O trabalho experimental está focalizado nas gimnospermas, em métodos de micropropagação de espécies lenhosas e em criopreservação – a preservação em temperatura baixa. A pesquisa com banco de sementes e esporos é mantida desde seu início em 1790. O jardim publica anualmente o Index Seminum, com a finalidade de distribuir e permutar sementes e esporos. Há facilidades para banco de genes, pesquisas em taxonomia, filogenia e evolução, além de um projeto que estuda a flora das ilhas Galápagos. Parte da coleção de plantas vivas é mantida especialmente para o uso de estudantes de biologia da Universidade de Copenhague, assim como professores do Instituto de Botânica, das escolas de Agricultura e de Farmácia. O jardim mantém um curso de treinamento em horticultura para estudantes das escolas de Veterinária e Agricultura. Atrás da casa de vegetação das palmeiras, próxima da entrada administrativa (a entrada principal para o público fica em Gothersgade, 140), em uma casa do século XIX, funciona a loja especial do jardim. Há também um café ao ar livre, que funciona do dia 1º de maio até quando a temperatura ficar baixa demais para se permanecer ao ar livre. O Museu Botânico, fundado na época do Jardim Charlottenborg, foi administrado pelo jardim botânico até 1970, quando passou a ser um instituto independente. Em 1993, tudo o que era referente à botânica foi reorganizado administra tivamente em três institutos: o Museu Botânico e Biblioteca, o Jardim Botânico e o Instituto de Botânica. O Museu Botânico e Biblioteca abrigam o herbário, que conserva 230 mil exemplares de plantas vasculares da Dinamarca, 179 mil exemplares de plantas vasculares da Groenlândia, 1.252.000 exemplares de plantas vasculares do resto do mundo, 325 mil exemplares de briófitas, 152 mil exemplares de algas, 150 mil exemplares de fungos e 225 mil exemplares de liquens. Curiosidades Para os brasileiros é importante lembrar do dinamarquês Johannes Eugenius Bülow Warming. Ele esteve em Lagoa Santa, Minas Gerais, entre 1863 e 1866. Durante esse período, realizou o primeiro levantamento do cerrado da região. Todo o material, incluindo o de cerrado, obtido por ele, como exsicatas (exemplares de plantas secas), fotografias, anotações, desenhos, fazem parte do acervo do Museu Botânico e Biblioteca. Warming é o autor do livro Lagoa Santa: contribuição para a geografia fitobiológica, publicado em dinamarquês em 1892 e em português em 1908. Suas observações feitas no Brasil, como também sobre as floras dinamarquesa e ártica, resultaram em um livro publicado em 1895, Populações vegetais: fundamentos de geografia ecológica vegetal, que lhe valeu o título de fundador da ecologia vegetal. Várias exsicatas de espécies brasileiras de cerrado, coletadas por ele, estão no herbário de Copenhague, entre elas Stryphnodendron adstringens e Kielmeyera coriacea. Quanto às plantas existentes no Brasil na região Nordeste, é muito importante a obra do pintor holandês Eckhout, que pode ser vista no Museu de Copenhague. No século XVII, os holandeses invadiram a região onde hoje é Pernambuco. De 1637 a 1644, a região foi governada pelo conde João Maurício de Nassau-Siegen, que trouxe para Recife alguns artistas, entre eles Albert Eckhout, que chegou com 27 anos e morou ali até seus 34 anos. Era um pintor bem detalhista e perfeccionista, tendo muito bem representado os costumes da época na região. Documentou igualmente a flora, com boas ilustrações que documentam as plantas existentes da região na época, como as nativas Anacardium occidentale e Jatropha curcas e plantas exóticas como Carica papaya e Ricinus communis, já cultivadas em Pernambuco. As telas foram dadas de presente ao rei da Dinamarca Frederico III por Maurício de Nassau-Siegen. Jardim Botânico de Estrasburgo Jardin Botanique de Strasbourg 28, rue Goethe 67000 Strasbourg França http://www-ulp.u-strasbg.fr Estrasburgo (Strasbourg) fica no leste da França, na margem esquerda do rio Reno, e é a principal cidade da região da Alsácia. Na margem direita do rio fica a cidade alemã de Kehl. É o maior porto do Reno depois de Duisburg, na Alemanha. Em alemão é Strassburg. Teve um primeiro nome celta: Argentorate, que para os romanos passou a ser Argentoratum, mencionado pela primeira vez no ano 12 a.C. Em 1988, a cidade, cujo centro é considerado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, comemorou 2.000 anos. É sede do Parlamento Europeu. http://www-ulp.u-strasbg.fr A Universidade de Estrasburgo foi fundada em 1538 como Academia de Estrasburgo, passando a universidade em 1621. Fechada pela Revolução Francesa (que teve início em 1789 com a queda da Bastilha em Paris), foi restabelecida por Napoleão Bonaparte. Em 1871, passou a ser uma universidade alemã, quando, em decorrência de sua derrota na Guerra Franco-prussiana, a França perdeu as regiões da Alsácia e da Lorena para a Alemanha. Em 1918, tendo ficado do lado vencedor na Primei ra Guerra Mundial, a França recuperou as regiões e a Universidade de Estrasburgo. A universidade tem, hoje, cerca de 39 mil estudantes. Foi reorganizada, em 1970, em três universidades: Estrasburgo I – Louis Pasteur (ciências), Estrasburgo II – Marc Bloch (ciências humanas) e Estrasburgo III – Robert Schuman (direito, ciências políticas). Estudaram, em Estrasburgo, o poeta e dramaturgo Johann Wolfgang von Goethe, o grande político austríaco Klemens Wenzel Fürst von Metternich, o químico Louis Pasteur e o laureado com o Prêmio Nobel da Paz de 1952, Albert Schweitzer. O Jardim Botânico de Estrasburgo foi fundado em 1619 onde era um velhocemitério que tinha sido comprado pela Academia de Estrasburgo. Em 1633, a cidade construiu, ali, uma casa de vegetação. Em 1670, foi editado o primeiro catálogo do jardim, com 1.600 espécies. Durante a Revolução Francesa, o diretor do jardim botânico enterrou, no local, as mais belas estátuas da catedral da cidade, salvando-as da destruição. Na época, os revolucionários locais queriam, também, destruir todas as plantas do jardim, que seriam “plantas aristocráticas” para, em seu lugar, cultivar só plantas “mais populares”, como hortaliças e árvores frutíferas. A direção do jardim se opôs a isso e o manteve como era. Quando a cidade foi sitiada pelos alemães, em 1870, os habitantes foram proibidos de enterrar seus mortos nos cemitérios fora dos muros de Estrasburgo: o jardim botânico voltou a ter sua velha função e mais de 1.600 pessoas foram enterradas ali. Do antigo jardim pouco subsiste hoje, apenas umas poucas velhas árvores e um túmulo. Este jardim botânico, que pertence à Universidade Louis Pasteur, fica um quilômetro a leste da Catedral de Estrasburgo e dois a oeste do rio Reno. Situa-se no bairro da universidade, entre o Palácio Universitário e o Observatório Astronômico. O terreno atual foi estabelecido entre 1880 e 1884 pela Universidade Imperial, criada pelas autoridades alemãs, depois da anexação da Alsácia, no local das antigas muralhas a leste da cidade. A função primordial do jardim era auxiliar os estudantes de medicina e de farmácia. O lago é o que restou do antigo fosso das muralhas. O novo jardim foi inaugurado em 1884. Desde o início, tinha uma monumental casa de vegetação tropical e várias casas de vegetação especializadas. Todo o conjunto foi demolido em 1963, quando o interesse do público estava muito baixo e seu valor histórico ainda não era compreendido. Em 1967, no lugar da antiga casa de vegetação tropical, foi construído o novo Instituto de Botânica, acompanhado de uma casa de vegetação tropical e outra de clima frio. O jardim ocupa 40.000 m² e abriga várias coleções importantes, com cerca de 6 mil espécies em um arboreto, em ecossistemas – com plantas aquá ticas, de solo arenoso, de solo rochoso –, e nas casas de vegetação. Há uma colina rochosa artificial, onde ficam as cicas, as bromélias e as samambaias. O arboreto mantém uma coleção de 2.200 árvores e arbustos de todas as regiões temperadas, como Ginkgo biloba e o Taxodium ascendens, este uma planta muito rara na Europa. A casa de vegetação tropical abriga, em dois níveis, uma coleção para demonstração, com muitas palmeiras e bananeiras. A casa de vegetação fria, com 207 m², abriga, no inverno, mais de quinhentas espécies de coníferas do hemisfério sul e plantas com bulbos. Em uma época em que o virtual ganha cada vez mais espaço, é inestimável um jardim botânico com plantas reais, que possam ser tocadas, estudadas e analisadas. O herbário do Instituto de Botânica, o sexto da França, tem cerca de 400 mil exsicatas. Há coleções muito importantes do ponto de vista histórico e do local de origem. As exsicatas são, em sua grande maioria, de plantas coletadas entre 1800 e 1900; as mais antigas datam da época da Revolução Francesa. Jardim Botânico de Oxford The University of Oxford Botanic Garden Rose Lane Oxford OX1 4AZ Inglaterra Grã-Bretanha www.botanic-garden.ox.ac.uk postmaster@obg.ox.ac.uk Oxford, cidade de Oxfordshire, na Inglaterra, é sede da mais antiga universidade de língua inglesa do mundo. É cortada pelo rio Tâmisa, que ali recebe o nome de Isis. A cidade começou com a fundação do Convento de Santa Friedeswide, no século VIII, sendo mencionada pela primeira vez em 912, na Crônica anglo-saxônica. No século X, foi várias vezes saqueada pelos dinamarqueses. A padroeira da cidade, comemorada em 19 de outubro, é santa Friedeswide, que fundou uma abadia perto de Oxford. O convento que levava seu nome tornou-se o Christ Church de Oxford, depois da dissolução das ordens religiosas. http://www.botanic-garden.ox.ac.uk mailto:postmaster@obg.ox.ac.uk Trata-se de uma cidade onde moraram muitos famosos, como os escritores Lewis Carroll – pseudônimo de Charles Ludwidge Dodgson, que também era matemático –, Iris Murdoch, T. E. Lawrence, J. R. R. Tolkien e Ian McEwan. A Universidade de Oxford é uma das mais importantes do mundo, com mais de novecentos anos de atividade. A data da fundação é incerta. Evidências de ensino aparecem somente em 1096. Teve um rápido crescimento quando os estudantes ingleses foram proibidos de estudar na Universidade de Paris, em 1167. É formada por um colegiado, com 39 colleges, de administração autônoma, que se relacionam com a universidade em um sistema federativo. Há também os sete halls permanentes privados, fundados por diferentes correntes cristãs. A Universidade de Oxford tem quatro divisões acadêmicas: humanidades, ciências matemáticas, físicas e da vida, ciências médicas e ciências sociais. Muita gente famosa teve ligação com a universidade, como o arcebispo de Canterbury Thomas Bradwardine, o mártir católico e autor de Utopia, sir Thomas More, o explorador sir Walter Raleigh, o cientista Robert Hooke, o pintor pré-rafaelita Edward Burne-Jones, a primeira-ministra indiana Indira Priyadarshini Gandhi e o compositor Andrew Lloyd Webber. O Jardim Botânico de Oxford, criado em 1621, é o mais antigo da Grã- Bretanha. Os jardins de plantas medicinais que o precederam, na Inglaterra, eram todos particulares. O mais antigo deles pertencia ao herbalista John Gerarde e ficava em Holborn, Londres. Ele publicou um catálogo de suas plantas no fim do século XVI. Henry Danvers, lorde Danby, doou 5 mil libras (o que equivale, hoje, a 3,5 milhões de libras) para a construção de um jardim botânico, com o objetivo de encorajar os estudos de medicina e botânica. O jardim foi implantado em uma área de cerca de 4.000 m², situada em frente ao Magdalen College, que era o local onde antes eram sepultados os judeus. A cerimônia de inauguração ocorreu em 25 de julho de 1621, com a presença do vice-reitor e professores da Universidade de Oxford. A pedra fundamental foi lançada por lorde Danby. Estava criado o Jardim Botânico, originalmente um jardim de ervas medicinais, um physic garden, como são chamados pelos ingleses. O gateway, portão de entrada, desenhado por Inigo Jones, o primeiro arquiteto inglês de valor e que levou a arquitetura da Renascença para a Inglaterra, apresenta a inscrição: “À glória de Deus, o maior e o melhor, e em honra do rei Carlos, este foi dado por Henrique, conde de Dan, como um presente a ser utilizado pela universidade e pela nação. 1632”.[3] Ficou pronto em 1632. Os muros foram terminados em 1633 e pouco modificados desde aquela época. Plantas de várias partes do mundo são cultivadas nos muros. O dinheiro doado por lorde Danby viabilizou a construção dos muros e do portão de entrada, mas não sobrou dinheiro para manter o jardim. Seu primeiro curador (Horti Praefectus), Jacob Bobart, foi nomeado em 1642. Durante sete anos, não recebeu nenhum salário. Manteve-se, durante o período, vendendo frutas ali cultivadas, entre elas Mespilus germanica, planta listada no catálogo de 1648. A árvore mais antiga do jardim é a Taxus baccata, plantada por Bobart em 1645 (a espécie é fonte de droga usada no tratamento de câncer de mama e ovário). Seu filho, também de nome Jacob Bobart, sucedeu-o como curador e foi, como o pai, professor de botânica da universidade. Fez um levantamento das plantas do jardim e delas coletou as sementes. A lista foi enviada a outros jardins botânicos, sugerindo permuta de sementes. Em 1683, foi organizada, pela primeira vez, uma lista de sementes, distribuída entre agricultores e jardineiros. No desenho do Jardim Botânico de Oxford, de 1675, consta a primeira casa de vegetação da Grã-Bretanha. Ela foi construída em pedra, com teto de ardósia e janelas muito pequenas – os jardineiros do século XVII ainda não sabiam que as plantas precisam de muita luz paracrescer! Em 1710, a coleção de plantas já era grande, mas muito inferior, por exemplo, à do Jardim Botânico de Leiden. Em 1800, foi plantado um exemplar de Pinus nigra ssp. nigra, hoje o mais antigo dessa va riedade na Grã-Bretanha. Sementes da espécie haviam chegado a Oxford em 1795. Era a árvore favorita de J. R. R. Tolkien, o autor de O senhor dos anéis. Atualmente, a universidade repassa 400 mil libras por ano para a manutenção do jardim botânico, que tem uma coleção de 7 mil espécies, a mais compacta do mundo, com as mais diversas plantas de todos os continentes. Há mais diversidade ali do que existe, por exemplo, nas florestas tropicais úmidas. As plantas são cultivadas para auxiliar na pesquisa, no ensino da universidade e como parte de projetos de conservação. Além disso, em Oxford, as plantas são distribuídas de modo atraente e servem de inspiração para os amantes da jardinagem. O jardim consiste de três seções: as casas de vegetação que – hospedam as espécies que requerem proteção do clima adverso da Inglaterra; o Jardim Murado, em que as plantas são agrupadas de modos diversos – por exemplo, pelo país de origem ou por seu uso pelo homem; e a área fora dos muros. A área fora dos muros foi anexada em 1947, quando o college Christ Church desistiu dela. Esta é uma parte mais voltada para a horticultura do que para a botânica; é dividida por temas clássicos de jardins para visitação, como plantas de borda dura e o caminho à beira do rio, com flores vistosas para o fim do inverno e início da primavera, que leva o visitante ao jardim aquático. O rock garden é um jardim ornamental com pedras e plantas, com plantas européias na parte leste, enquanto as exóticas estão no lado oeste. Curiosidades Vale aqui uma palavra sobre o sistema de classificação taxonômica apresentado em Genera plantarum ad exemplaria imprimis in herbariis kewensibus servata definita, de Bentham e Hooker, um trabalho de mais de vinte anos, publicado em três volumes, entre 1862 e 1883. As descrições das espécies foram baseadas no estudo dos exemplares do Kew Herbarium e não de descrições compiladas da literatura internacional. Joseph Dalton Hooker, amigo de Charles Darwin, considerado por muitos o botânico britânico mais importante do século XIX, foi diretor do Jardim Botânico de Kew, perto de Londres. George Bentham é considerado, por muitos, o maior taxonomista do século XIX. Esses dois cientistas foram, em grande parte, os responsáveis pela transformação do Jardim Botânico de Kew na mais importante instituição de botânica sistemática do mundo. O sistema de classificação de plantas, porém, tem sido alvo, ultimamente, de muitas novidades. Mark Chase, da Seção de Sistemática Molecular do Laboratório Jodrell, do Jardim Botânico de Kew, estuda a filogenia e a classificação de angiospermas, principalmente as orquídeas. O grupo do dr. Chase, utilizando DNA-fingerprinting (impressões digitais de DNA – ou seqüências de DNA) e microscopia eletrônica, em adição aos dados de Bentham e Hooker, criou um sistema evolutivo que mostra as relações genéticas entre as famílias de plantas. Antes de Chase, os taxonomistas classificavam as espécies considerando a aparência física e o tipo de desenvolvimento das plantas. O sistema de Chase afirma, falando de modo bem coloquial, que plantas tão diferentes como os aspargos e as orquídeas são muito próximas e que o mamão nada mais seria que um repolho. Por outro lado, plantas tão parecidas, até mesmo pelo ambiente onde vivem, como as ninféias e o lótus, são bem distantes. Esse novo sistema está sendo implantado no Jardim Murado para o ensino de taxonomia aos alunos da Universidade de Oxford. O Jardim Murado parece uma livraria viva, de plantas. Elas são agrupadas em canteiros longos e estreitos, de acordo com suas famílias botânicas. Sir Isaac, Bayley-Balfour organizou as famílias no sistema natural de classificação de Bentham e Hooker, com uma adaptação própria. Durante todo o século XX, elas foram distribuídas dessa maneira e usadas para ensinar aos alunos dos cursos de graduação o modo como as plantas são classificadas. No canto sudoeste do Jardim Murado há, ainda, oito canteiros de plantas úteis e de valor econômico: para uso como alimento, vestimenta, abrigo ou na medicina. No canto noroeste, há dois canteiros com plantas variadas. Um outro apresenta híbridos entre espécies do mesmo gênero. Outro agrupa vários tipos de íris. Ao longo dos muros, existem plantas que se dão bem nesse microclima. Há coleções de plantas de acordo com sua origem geográfica, como plantas da China e do Japão, da América do Norte, da América do Sul, da África do Sul e plantas da região mediterrânea. O jardim tem oito casas de vegetação com, por exemplo, plantas de deserto ou das florestas tropicais. O jardim de inverno foi reconstruído em 1973 de acordo com o desenho vitoriano original, mas com uso de alumínio no lugar de ferro e madeira. A disposição dos potes de terracota dá uma idéia de como era um jardim de inverno no século XIX. Essa casa é utilizada em eventos, como aulas de ilustração botânica e demonstrações práticas, por ser o único local coberto do jardim. Ali ocorre a grande atração natalina, com a presença de todas as plantas de que se precisa para fazer o Christmas pudding, o pudim de Natal. As maiores casas de vegetação são as das plantas alpinas e das samambaias. A primeira abriga plantas que nascem ou crescem a mais de 1.000 m de altitude. Elas são mantidas em vasos de cerâmica, sendo trocadas periodicamente para que se tenha sempre, em exibição, plantas floridas. A casa das samambaias é uma demonstração de todos os diferentes hábitos de crescimento desse grupo de plantas, como as aquáticas, mantidas em tanques, as epífitas, como a Platycerium bifurcatum dependurado do teto, as trepadeiras como Lygodium japonicum, que cresce na parede do fundo dessa casa de vegetação e as arbóreas como Dicksonia antarctica. As plantas insetívoras do mundo todo são abrigadas em outra casa. A das palmeiras, a maior das casas de vegetação, hospeda uma coleção de plantas econômicas dos trópicos; nela também é cultivada a Catharanthus roseus, planta que produz substâncias utilizadas no tratamento de leucemia em crianças. A casa de vegetação “árida” abriga plantas de áreas com menos de 100 mm de chuva por ano; em seu centro há a Cereus peruvianus e a Euphorbia abyssinica. Uma outra casa de vegetação abriga as ninféias, como a Victoria cruziana . Vale a pena contar como a primeira Victoria amazonica chegou a este Jardim Botânico. Foi em Chatsworth House, do duque de Devonshire, que uma das primeiras plantas dessa espécie cresceu e produziu flores na Grã-Bretanha. Trabalhou para o duque o arquiteto e jardineiro sir Joseph Paxton, que replicou o ambiente natural da espécie em uma casa de vegetação. O duque presenteou a rainha Vitória com uma das flores da planta, para a qual deu o nome de Victoria regia. A arquitetura da folha da espécie serviu de inspiração para Paxton construir o Palácio de Cristal para a Exposição Universal de Londres de 1851, um edifício inteiramente pré-fabricado, em ferro e vidro, considerado um grande feito da arquitetura moderna. Depois da Exposição Universal, o Palácio de Cristal foi desmontado e reconstruído em Sydenham, no sul de Londres, tendo sido destruído pelo fogo em 1936. Em 1849, o duque de Devonshire organizou uma festa para eminentes botânicos e jardineiros, entre eles o químico, geólogo e botânico Charles Daubeny, nomeado professor de botânica em 1834, para conhecer sua Victoria regia, que estava em flor. Daubeny ficou tão impressionado que financiou a construção da casa de vegetação das ninféias, no jardim botânico, com um tanque para a Victoria amazonica. Esta floresceu, finalmente, em 1851 e Daubeny passou a cobrar um xelim (antes de o sistema monetário decimal ser adotado na Grã-Bretanha uma libra (£) valia 20 xelins) dos habitantes da cidade, para que pudessem conhecer a famosa planta. O povoda cidade não compareceu, além de enviar, ao jardim e às autoridades, muitas cartas de protesto. Em 1859, Daubeny decidiu suspender a cobrança de ingresso e a planta deixou de ser cultivada nos 150 anos seguintes. Ao sul da cidade de Oxford, fazendo parte da coleção de plantas do Jardim Botânico, fica o Arboreto Harcourt, que nada tem da formalidade do jardim. Não há muros, casas de vegetação ou caminhos retos. Além da coleção de árvores e arbustos, há coleções de azáleas, um grande bosque, um prado e uma ravina com samambaias. Em canteiros, ficam as plantas de altitude, por exemplo, do Himalaia, dos Pireneus e dos Andes. O arboreto pertence à Universidade de Oxford desde 1963. Ele foi originalmente criado pelo arcebispo de York, Edward Harcourt, como uma plantação de pinheiros, em 1835. O herbário da Universidade de Oxford fica no Departamento de Biologia Vegetal (Plant Sciences); na realidade, são dois herbários e, como tal, descritos no Índice Internacional: Herbário Fielding-Druce (da antiga Escola de Botânica) e o Herbário Daubeny (do antigo Departamento de Florestas). A coleção abriga 800 mil exemplares de diversos grupos taxonômicos. Uma coleção de livros raros está associada a eles. O Jardim de Oxford não possui restaurante nem cafeteria abertos ao público e proíbe a entrada de cães, excetuando-se os cães-guia. Ele desperta o interesse de pessoas de todas as idades e dos mais variados níveis educacionais. Estudantes da universidade, dos cursos de ciências, visitam- no para melhorar seus conhecimentos sobre aspectos de biologia vegetal. Também recebe a visita de aproximadamente 7 mil crianças por ano, e há cursos especiais para adultos. A instituição está envolvida em conservação de espécies, trabalhando em conjunto com outras instituições de pesquisa de todo o mundo. Na coleção de eufórbias, a Euphorbia stygiana é uma das mais importantes, por ser muito rara hoje em dia, com apenas dez exemplares no local de origem. Ela foi propagada pelo Jardim Botânico de Oxford, que distribuiu suas mudas a todos os outros jardins botânicos do Reino Unido e Irlanda, assegurando assim que, mesmo se desaparecer de seu local de origem, a Euphorbia stygiana continuará existindo. Jardim Botânico de Paris Jardin des Plantes 57, rue Cuvier 75005 Paris V França www.mnhn.fr Paris, a Cidade Luz, capital e maior cidade da França, conservou uma configuração particular que lembra seu desenvolvimento concêntrico de um lado e outro do rio Sena. Pequeno burgo de marinheiros e pescadores celtas (os parisii) que se instalaram, originalmente, na maior ilha (île de la Cité), a antiga aldeia de Lutetia foi conquistada pelos romanos em 52 a.C. Ameaçada pelos hunos de Átila (451), depois pelos francos (em torno de 460), a cidade retomou seu desenvolvimento quando o rei Clóvis I fez dela sua capital em 486. A cidade com a maior população do mundo ocidental durante a Idade Média foi palco de um dos acontecimentos mais marcantes da história da humanidade, a Revolução Francesa, que teve início em 1789 com a queda da Bastilha. Sob Napoleão Bonaparte, foi capital de um império que se espalhava pelos cinco continentes. A partir do século XVII, passou a ser uma das cidades mais belas do mundo: uma das principais capitais turísticas e a mais visitada. http://www.mnhn.fr A Universidade de Paris já existia na segunda metade do século XII, sendo, portanto, a mais antiga da Europa ocidental. Começou com quatro faculdades, a de Artes, a de Medicina, a de Direito e a de Teologia, em torno da Catedral de Notre Dame. Mas, somente no século XIII, em 1231, com o papa Gregório IX (papado de 1227 a 1241), recebe a autorização da Igreja, tendo, assim, um estatuto garantido pela Igreja e pelo Estado. A universidade, considerada contra- revolucionária, foi fechada em 1793 pela Revolução Francesa, sendo substituída pela Universidade da França. Em 1896, foi reestabelecida a antiga universidade, mas agora sem a Faculdade de Teologia. Em 1970, foi reorganizada em treze universidades autônomas: I. Panthéon-Sorbonne; II. Panthéon-Assas; III. Sorbonne Nouvelle; IV. Paris-Sorbonne; V. René Descartes; VI. Pierre & Marie Curie; VII. Denis Diderot; VIII. Vincennes-Saint-Denis; IX. Dauphine; X. Nanterre; XI. Paris-Sud; XII. Val-de-Marne; e XIII. Paris-Nord, todas sob as ordens de um mesmo reitor. Um grande número de cientistas da Universidade de Paris recebeu o Prêmio Nobel, tendo sido os primeiros Maria e Pierre Curie. Maria Sklodowska-Curie recebeu dois, o de Física (em 1903) e o de Química (1911). Pierre Curie recebeu o Prêmio Nobel de Física de 1903, com sua esposa. O Jardim Botânico de Paris foi criado em 1635 como um jardim real, sem vínculo com a universidade. Bem antes, em 1558, o naturalista francês Pierre Belon defendia a criação de um jardim botânico em Paris, um jardim público onde os médicos e estudantes de medicina pudessem cultivar as plantas de que necessitavam em seus estudos. Guy de la Brosse e Jean Héroard, ambos médicos do rei Luís XIII, convenceram este da necessidade de criá-lo e, em janeiro de 1626, um édito do rei indicava a necessidade de um jardim de plantas medicinais. Em 1633, foi comprado um terreno na rua Saint Victor – na época, fora dos muros de Paris – e, em 1635, um edital proclamou a criação oficial do Jardim Real, com plantas medicinais, sob a responsabilidade de Guy de la Brosse. Uma das razões para o jardim ficar fora dos muros de Paris foi para que nem a Igreja nem a Faculdade de Medicina da universidade tivessem jurisdição sobre ele. Ocupava um terreno de 60.000 m² e tinha mais de 2 mil plantas em cultivo, tanto plantas da região como exóticas. O Jardim Real foi aberto ao público em 1640. O primeiro projeto do jardim foi de Abraham Bosse, em 1640, e o previa totalmente murado. Era um local para a investigação da natureza, de pesquisa, onde as aulas e demonstrações, proferidas em francês, podiam ser acompanhadas por todos. Em 1739, George Louis Leclerc, conde de Buffon, tornou-se seu diretor. Naturalista, seu projeto era aumentar e embelezar o jardim durante a década de 1770. Terrenos foram sendo comprados e anexados ao já existente, além de transformar de modo impressionante a propriedade original. A residência oficial de Buffon, de quatro andares, construída em 1788, abriga hoje escritórios administrativos e uma livraria. Atualmente, a alameda que ganhou seu nome é toda sombreada com árvores de Platanus x acerifolia. Em 1793, o Jardin du Roi passa a se chamar Jardin des Plantes, Jardim Botânico, que hoje ocupa uma área de 260.000 m², delimitada pelas ruas Cuvier, Buffon, Geoffroy-Saint-Hilaire e praça Valhubert, com entradas por todas elas. No jardim ficam os principais prédios do Museu Nacional de História Natural, que o administra desde a Revolução Francesa. Em 1993, o Jardim Botânico recebeu o título de Monumento Histórico da Humanidade. Lá, o público encontra milhares de espécies, apresentadas de acordo com seu habitat natural ou por famílias botânicas, canteiros de plantações sazonais e cerca de vinte árvores históricas, entre elas Ginkgo biloba. Os canteiros e edifícios evocam o período em que foram concebidos e contam a aventura das ciências naturais. O mais antigo é o Hôtel de Magny, construído em 1650, fora dos limites do jardim de então e que passou a dele fazer parte em 1787. Perto desse edifício, há uma estátua do químico Michel- Eugène Chevreul. O anfiteatro é de 1794. Na mesma data, foi aberta a ménagerie (pátio de animais) por iniciativa de Etienne Geoffroy Saint-Hilaire, que foi professor de zoologia no Museu Nacional de Ciências Naturais de Paris. É, juntamente com o de Schönbrunn, perto de Viena, o zoológico mais antigo do mundo. A coleção de animais foi inicialmente constituída pela fauna dos parques zoológicos reais de Versalhes e de Raincy, além de animais de feiras das ruas de Paris. Em 1808, Saint-Hilaire conseguiu uma coleção de animais do Brasil. O público podia ver mais de 900animais, sendo 50 espécies de mamíferos, 120 de aves e 50 de répteis. Hoje, o objetivo do zoológico do Jardim Botânico de Paris é o estudo e a conservação de espécies ameaçadas. Mas mantém o aspecto - recreativo e de diversão para o público, principalmente as crianças. A rotunda foi construída em 1804 e a caverna dos ursos em 1805. Durante a ocupação nazista, o chapéu de um oficial alemão caiu na caverna e um dos ursos o colocou na cabeça. O oficial mandou matar o urso e acabar com a caverna. Depois da Segunda Guerra, aquela área passou a fazer parte do jardim alpino. As edificações da ménagerie são antigas e bonitas. No início de 2007, aumentou sua coleção com a chegada de um pangolim, mamífero pequeno, asiático e africano, que se enrola em forma de bola ao ser atacado. Embora o acesso ao jardim seja gratuito, a entrada à ménagerie é paga. A arquitetura metálica é representada no prédio da Grande Galeria da Evolução, inaugurada em 1889 com o nome de Galeria de Zoologia. Em frente- dela encontra-se uma estátua do conde de Buffon. O lado oposto abriga a do naturalista Jean-Baptiste Lamarck, que desenvolveu a teoria dos caracteres adquiridos – uma teoria de evolução hoje desacreditada – e introduziu na ciência o termo “biologia”. Pela entrada da praça Valhubert, há uma perspectiva de 500 m de canteiros, em que todas as plantas são etiquetadas, que leva à Grande Galeria da Evolução e às casas de vegetação. Sob o peristilo da Mineralogia há uma estátua do botânico Antoine Laurent de Jussieu, nomeado diretor do Museu Nacional em 1794 e que foi o criador de uma biblioteca no local. Todos esses grandes homens reinam sobre um patrimônio vegetal excepcional. O labirinto, com caminhos irregulares, era coberto por videiras até 1670, quando passou a receber vegetação mediterrânea e árvores de folhas persistentes, como Acer sempervirens, plantada em 1702 pelo botânico Joseph Pitton de Tournefort, que criou o conceito de gênero no livro Eléments de botanique ou Méthode pour reconnaître les plantes. O solo do labirinto, muito seco, é constituído de detritos calcários do século XIV. Na parte mais alta desse labirinto, no topo de uma colina artificial feita de entulho do passado, há um pequeno mirante, a Gloriette de Buffon, construída em 1788, antes, portanto, da Iron Bridge, sobre o rio Severn, em Coalbrookdale, na Inglaterra (1779). É a mais antiga edificação metálica do mundo, precedendo, em um século, as criações arquitetônicas de Eiffel. Canteiros com todas as espécies de rosas cobrem uma grande área. Lá se encontram desde as espécies botânicas que ocorriam na natureza, as varieda des criadas antes de 1867 e as rosas mais moder nas. O jardim alpino mostra plantas das montanhas do mundo todo. Além do jardim alpino, há três casas de vegetação majestosas. Uma é o jardim de inverno, construído em 1937, com 50 m de comprimento, que abriga, sob estruturas de ferro de 16 m de altura, uma vegetação luxuriante dos países tropicais e florestas tropicais úmidas, onde a temperatura é mantida a 22 °C e a umidade relativa do ar a 80%. Muito próxima fica a casa de vegetação mexicana, com plantas suculentas de clima seco e quente. A terceira é uma casa de vegetação australia na. As duas últimas, quadradas, são exemplos das inovações arquitetônicas em metal. São as mais antigas casas de vegetação em ferro e vidro do mundo. Cerca de 4 mil espécies são distribuídas de acordo com suas famílias botânicas na seção de botânica, a école de botanique. Existe desde a criação do jardim em 1635. Tournefort e Jussieu davam suas palestras sob as árvores ou caminhando por suas alamedas. A seção foi totalmente renovada em 1954. Além de sua função de pesquisa, é esclarecedora para estudantes das várias áreas da botânica. Não se deve esquecer o Herbário Nacional, que pertence ao Museu Nacional de História Natural. As exsicatas são mantidas em 42 mil armários metálicos divididos em três corredores com 60 m de comprimento. Sua coleção de plantas que produzem sementes (gimnospermas e angiospermas) e de pteridófitas (samambaias) é muito grande, sem contar os musgos e líquens. Há um fato curioso a respeito do Jardin des Plantes. Durante a Guerra Franco-prussiana, no inverno de 1870-1871, Paris estava sitiada. Os alimentos alcançaram preços exorbitantes, e, mesmo assim, não havia carne para comprar. A ménagerie do jardim não tinha dinheiro para alimentar seus animais. A solução foi vendê-los. Quase todos eles foram parar em um açougue do bulevar Hauss- mann. Os últimos animais do jardim botânico foram a carne das festas de Natal e Ano-Novo de 1870 em alguns restaurantes da cidade. Assim, constavam dos cardápios, pratos como sopa de elefante ou antílope e camelo cozido. Jardim Botânico de Amsterdã Hortus Botanicus Amsterdam Plantage Middenlaan 2a 1018 DD Amsterdam Amsterdã Holanda http://www.dehortus.nl info@dehortus.nl Amsterdã, capital da Holanda (embora a sede do governo esteja em Haia), foi fundada no fim do século XII, como uma pequena vila de pescadores na foz do rio Amstel. O primeiro documento que menciona a cidade é de 1275. Em 1578, Amsterdã aderiu ao protestantismo e todas as igrejas católicas foram confiscadas. O centro histórico, com seus canais concêntricos, foi construído durante a Idade de Ouro holandesa, no século XVII, época em que Amsterdã era uma das mais ricas cidades do mundo. Em 1940, foi invadida pelos nazistas alemães. Nos últimos meses de ocupação, a população ficou quase sem alimentos. Cães, gatos e beterraba crua passaram a ser consumidos. A maio ria das http://www.dehortus.nl mailto:info@dehortus.nl árvores da cidade foi cortada e usada para lenha como aquecimento e para cozinhar. Hugo Marie de Vries, famoso botânico holandês, nascido em Haarlem e falecido em Amsterdã, foi um dos ilustres habitantes da cidade. De Vries foi um dos cientistas que redescobriram os trabalhos de Gregor Mendel. Amsterdã tem duas universidades. A Universidade de Amsterdã, que teve início em 1632 como Athenaeum Illustree, é a mais importante delas. Hoje tem mais de 25 mil alunos, sendo uma das mais conceituadas da Europa. É composta de sete faculdades, entre elas as de Ciências, Direito e Medicina. A Universidade Livre, fundada em 1880, foi a primeira universidade protestante da Holanda e tem seu próprio jardim botânico, estabelecido em 1967. Criado para uso da Faculdade de Biologia, fica situado atrás do Hospital Acadêmico da Universidade. O Jardim Botânico de Amsterdã, conhecido hoje como o Horto, foi, originalmente, em 1638, criado como um horto médico pelas autoridades da cidade. Na época, as plantas medicinais eram a base dos remédios – os habitantes das cidades de Leiden e Utrecht tinham sofrido uma epidemia severa (1634- 1637) e não havia espaço suficiente em Amsterdã para cultivar ervas medicinais. Os médicos e farmacêuticos eram treinados no jardim botânico. Em 1682, ele passou para um novo endereço – o atual –, e tinha plantas desconhecidas em outras cidades européias. O jardim progrediu muito nos séculos XVII e XVIII, graças à Companhia das Índias Orientais, cujos navios traziam para ali muitas espécies vegetais. Em 1877, passou a pertencer à Universidade de Amsterdã. Pequeno (com área de 12.000 m²), fica no distrito de Plantage, perto do centro da cidade. Tem, no entanto, uma coleção de mais de 6 mil espécies, ao ar livre ou abrigadas em sete casas de vegetação. O clima é diferente em cada uma delas. A umidade e a temperatura são ajustadas através de computadores, sendo possível acomodar plantas de pelo menos seis climas diferentes. O jardim ao ar livre foi desenhado, em 1863 e depois reorganizado em 1898. Tem mais de cinqüenta árvores, algumas muito antigas ou raras; 24 delas estão incluídas no que chamam de “o caminho das árvores”. Um exemplar de Corylus colurna, a avelã-da-turquia, foi plantado em 1795. Em 1682, as plantas ornamentais eram mantidas em arcos simétricos e as medicinais em canteiros retangulares.Hoje, há um traçado no estilo romântico, com formas mais arredondadas e caminhos circulares, especialmente desenhado para os visitantes se esquecerem da cidade que cerca a área. Há ainda outros setores, como a casa das borboletas (construída em 1896), também conhecida como a casa de vegetação educacional, com centenas de borboletas tropicais. As plantas tropicais que lá crescem são plantas de interesse econômico, como cafeeiros, cacaueiros, plantas de arroz, pimenteiras, planta do chá, cana-de-açúcar. A “casa de vegetação de três climas” é a grande atração do jardim e foi construída em 1993. Como o nome indica, ela abriga plantas que crescem em três tipos de climas. É uma construção ultramoderna, em que um sistema de computadores controla automaticamente a temperatura e a umidade nas três diferentes seções da casa. Sua seção subtropical apresenta um tipo de vegetação da África do Sul (o jardim é especializado em plantas daquela região) e plantas da Austrália. Nessa zona, a temperatura diurna é muito alta no verão, mas chega a 8 ºC de noite, durante o inverno. Na seção quente de deserto há uma variedade de plantas suculentas. Finalmente, a seção tropical parece uma floresta de verdade. A casa das palmeiras foi construída para satisfazer um desejo do professor Hugo de Vries, a fim de impedir que ele partisse para Nova York. Tem uma atmosfera vitoriana e conserva ainda as palmeiras e cicadáceas da época daquele professor. A maioria das plantas é mantida em recipientes grandes de madeira que, durante o verão é transferida para o ar livre. Outras, plantadas por De Vries em canteiros logo que a casa ficou pronta em 1912, nunca deixam a casa de vegetação. As ervas têm muito destaque na vida diária, para aromatizar ou condimentar os alimentos, como ingredientes de remédios e na produção de fibras e pigmentos. No Jardim de Amsterdã, há um canteiro para cada uso, com as informações do que são e respectiva utilidade. No centro desse jardim de ervas há uma enorme árvore de Ficus carica. O jardim de sistemática em semicírculo, ao ar livre, desenhado originalmente em 1863, é um mar de flores coloridas no verão, mas as linhas simétricas retas dos canteiros podem ser vistas durante o inverno. A forma lembra os jardins formais da arquitetura que era popular antes do movimento romântico. Hoje, tudo está reorganizado. As espécies botanicamente próximas são apresentadas lado a lado e as que nada têm em comum ficam em canteiros distantes. Este foi o primeiro jardim de sistemática da Holanda (o segundo é o de Leiden), em que as espécies são agrupadas de acordo com a sistemática molecular, isto é, pela similaridade do material genético. Nove plantas, crescendo ao ar livre ou em casas de vegetação, são consideradas as “jóias da coroa” do jardim. A Victoria amazonica é cultivada em um tanque aquecido, ao ar livre, e vem florescendo, em intervalos regulares, desde 1859. Os exemplares de Aloe dichotoma, atualmente mantidos no setor de deserto da “casa de vegetação de três climas”, ali estão desde 1990. No mesmo setor, há a estranha Welwitschia mirabilis. Na casa das palmeiras há, entre as cicadáceas, alguns exemplares de Microcycas calocoma, vários exemplares de Encephalartos altensteinii – um deles, masculino, está entre os mais antigos exemplares de plantas mantidos em recipiente do Ocidente. A planta chegou a Amsterdã há trezentos anos, vinda da África do Sul; uma das femininas tem cerca de 200 anos. Também lá se encontra uma planta masculina de Encephalartos woodii (nunca foi encontrada uma planta feminina) originária da África do Sul, que produz ramos laterais na base do caule, os quais são removidos e enraizados. A instituição envia essas mudas para outros jardins botânicos do mundo, o que evita o perigo de extinção e permite que a espécie continue a existir sem a planta feminina. Há também a Elaeis guineensis, a palmeira-dendê. Sementes dessa espécie chegaram ao jardim na primeira metade do século XIX; em 1848, duas pequenas plantas foram enviadas para o Jardim de Bogor (na época Buitenzorg), na Indonésia. Essas duas palmeiras foram a base das grandes plantações da espécie por toda a Indonésia. Também em casa de vegetação há plantas de Coffea arabica, descendentes das plantas que foram cultivadas no jardim, com sementes que lá chegaram em 1706. As plantas de café cultivadas no jardim naquele período são responsáveis por toda a cultura dessa espécie nas Américas Central e do Sul. A nona “jóia da coroa” é o pinheiro da Austrália, considerado um fóssil vivo, a Wollemia nobilis, da mesma família do pinheiro- do-paraná. A orangerie está localizada no centro do jardim e tem um dos mais belos cafés ao ar livre de Amsterdã. Foi totalmente restaurada e novamente aberta ao público em 2003. Possui ainda duas grandes salas, que podem ser alugadas para festas e reuniões. Há também uma loja onde são vendidos bulbos, plantas e sementes, além de brinquedos e livros sobre plantas. A educação é uma das tarefas principais do jardim, que apresenta programas específicos para crianças e adolescentes. Além disso, há um grande número de cursos para os alunos da Faculdade de Biologia da Universidade de Amsterdã. Jardim Botânico de Tübingen Botanischer Garten der Universität Tübingen Hartmeyerstr. 123 D-72076 Tübingen Alemanha http://www.botgarten.uni-tuebingen.de/ botgarden@uni-tuebingen.de http://www.botgarten.uni-tuebingen.de/ mailto:botgarden@uni-tuebingen.de Tübingen é uma cidade universitária alemã, na região de Baden- Württemberg, a 30 km de Stuttgart. Foi fundada no século VI ou VII. O primeiro documento que a menciona é de 1191. Em 1342, foi incorporada ao condado de Württemberg. Em 1995, Tübingen tinha a melhor qualidade de vida de toda a Alemanha. Na cidade, vivem muitos estudantes, o que lhe garante a população mais jovem da Alemanha. A Universidade de Tübingen Eberhard Karls, que tem cerca de 25 mil estudantes, é uma das mais antigas da Alemanha, tendo sido criada em 1477. É internacionalmente conhecida nas áreas de medicina, ciências naturais e humanas. Há, na cidade, dezessete hospitais filiados à Faculdade de Medicina, com cerca de 1.500 leitos. Joseph Alois Ratzinger, hoje papa Bento XVI, foi catedrático de teologia dogmática da Universidade de Tübingen e vários cientistas que lá estudaram ou lecionaram receberam o Prêmio Nobel, como o escocês sir William Ramsey Prêmio – Nobel de Química em 1904 –, que se doutorou naquela universidade. O Jardim Botânico de Tübingen foi criado como um horto médico, em 1663, por ordem do duque de Württemberg, Eberhard III, entre Bursa e Alter Aula, onde hoje estão os prédios antigos da universidade. Em 1688, um professor da universidade, Rudolph Jacob Camerarius, assumiu a direção do jardim e, em 1721, foi substituído por seu filho Alexander, que permaneceu no cargo até sua morte. Com esses dois diretores, professores da Faculdade de Medicina, o jardim progrediu muito. Fizeram edificar uma casa de vegetação e um laboratório para pesquisas. Em 1771, Johann Gmelin assumiu o posto de diretor. Gmelin fez expedições pela Sibéria e publicou a Flora Sibirica. Nesse período, aumentou muito a coleção do horto médico. Em 1804, por decreto do duque Frederico II, o jardim botânico passou a ter novas instalações em área próximo às portas da cidade e a ser administrado por um professor de química, farmácia e medicina da Universidade de Tübingen, Karl Friedrich Keilmeyer. Esse jardim é o Alter Botanischer Garten (Velho Jardim Botânico). Foram construídas quatro casas de vegetação, uma sala de conferências e outras comodidades. A instituição criou, também, um jardim de plantas de interesse econômico. Progrediu muito e novas plantas foram incorporadas. Havia coleções de plantas aquáticas, de altitude e samambaias. Em 1820, foi publicado o primeiro catálogo de sementes do jardim. As casas de vegetação receberam teto de vidro e novas casas foram construídas e criado um arboreto. Incorporaram-se novasáreas, como a de um cemitério e de uma escola de equitação. Em 1846, foi construído o prédio do Instituto de Botânica. Na metade do século XIX, o jardim abrigava mais de 5 mil espécies. Em 1959, Karl Mägdefrau foi nomeado diretor, ficando responsável pelo Alter Botanicher Garten, tendo supervisionado o planejamento e a criação do Neuer Botanischer Garten, o Novo Jardim Botânico (o atual), que dirigiu até 1972. As casas de vegetação foram destruídas e hoje o antigo jardim é um parque da cidade. O Jardim Botânico de Tübingen foi inaugurado, no endereço atual, em 8 de maio de 1969 e é considerado um oásis na cidade. Em 1969, foi iniciado o novo arboreto, com o plantio de Pinus griffithii. Na década de 1970, todo o jardim foi reorganizado, as plantas sendo distribuídas de acordo com suas famílias botânicas. Foram construídas casas de vegetação, para exibição e propagação de novas plantas. O Tropicarium é uma casa de vegetação poligonal, com quase 3.000 m² de área para cultivo de plantas tropicais. Há casas de vegetação para plantas subtropicais, aquáticas, da África do Sul, fúcsias, plantas de altitude e insetívoras. A área ao ar livre é dividida em várias seções, organizadas por tema, de acordo com a geografia, a ecologia e a sistemática das espécies. Essas seções incluem a de plantas de altitude, asiáticas, o arboreto, o jardim japonês, da região do Jura, da América do Norte, de plantas medicinais, de plantas utilizadas em agricultura, de ornamentais, o rock garden, além das seções de ecologia e sistemática. A coleção de rododendros está organizada de acordo com o local de origem. É importante, ao ar livre, a coleção de videiras, com tipos de uva importantes para o fabrico de vinho. O jardim tem, também, uma função técnica e científica. Curiosidades É necessário falar um pouco de Camerarius, Rudolph Jacob Camerarius (1655-1721), que dirigiu o jardim de 1688 a 1721. Ele mostrou o que era uma flor e como as plantas com flores (que contêm os órgãos sexuais das plantas) faziam sexo. Demonstrou, através da observação cuidadosa, que o pólen e o óvulo eram responsáveis pela formação da semente, informações contidas no documento De sexu plantarum epistola [Carta sobre o sexo das plantas], publicado em Tübingen em 1694. O princípio da sexualidade em plantas de Camerarius foi utilizado, mais tarde, pelo cientista Carl Linnaeus (Lineu, em português) em seu Systema naturae [Sistema natural], publicado em 1735. Em 2001, a seção de taxonomia foi reorganizada de acordo com as novas teorias de um sistema evolutivo, que mostra as relações genéticas entre as famílias de plantas usando impressões digitais de DNA (DNA fingerprinting). Além de importante para a pesquisa e atividade didática da universidade, o jardim é um centro onde o público pode constatar a diversidade do reino vegetal, aprender um pouco de evolução e ecologia. São organizadas, durante o ano, exposições de interesse para os botânicos e para o público em geral. Jardim Botânico de Uppsala Villavägen 8 SE-752 36, Uppsala Suécia http://www.botan.uu.se/ botanical.garden@botan.uu.se Uppsala, capital do condado de mesmo nome, fica a 70 km de Estocolmo. É o centro eclesiástico da Suécia, sede da arquidiocese desde 1164. A catedral gótica da cidade, Domkyrka, é uma das maiores do norte europeu. O rio Fyrisån divide a cidade em duas partes, tendo a oeste o centro histórico e a leste a parte administrativa, residencial e comercial. Sua universidade (Uppsala Universitet) é a mais antiga da Suécia. Foi fundada em 1477, pelo papa Sixto IV (papado de 1471 a 1484), com quatro faculdades: Teologia, Direito, Medicina e Filosofia. Como era considerada um centro de catolicismo foi fechada em 1580 pelos reformadores protestantes, sendo reaberta em 1595 como instituição luterana, com as faculdades de Teologia protestante e Filosofia. As outras foram criadas ao longo do tempo. O http://www.botan.uu.se/ mailto:botanical.garden@botan.uu.se antigo prédio principal, o Gustavianum – em homenagem ao rei sueco Gustavo II, conhecido pelos protestantes da época como o “Leão do Norte” –, construído em 1625, tem um famoso anfiteatro de anatomia sob a cúpula, que hoje funciona como museu. Atualmente, a universidade tem nove faculdades, com cerca de 40 mil alunos nos cursos de graduação. Nomes conhecidos que passaram pela Universidade de Uppsala são muitos, entre eles, Anders Celsius, fundador do Observatório Astronômico em 1741, que propôs a escala Celsius de temperatura em 1742; o químico Svante August Arrhenius, um dos fundadores da físico-química; o físico Anders Jonas Ångströn, fundador da espectroscopia, homenageado com as unidades de ångstron, que medem os comprimentos de onda da luz. E não se pode esquecer de Lineu! Carl von Linné, conhecido também como Carolus Linnaeus e Carl Linnaeus, nasceu em Älmhult, no sul da Suécia, e morreu em Uppsala. A grande parte de sua formação em botânica foi feita na universidade dessa cidade, escolhida por ele devido ao jardim botânico. Lineu, que era botânico, zoólogo e médico, é considerado o pai da taxonomia moderna, sendo o botânico mais famoso de seu tempo. Publicou, em 1735, o Systema naturae, e, em 1753, Species plantarum [Espécies das plantas]. Levando em consideração os conhecimentos de pesquisadores mais antigos e suas próprias observações, Lineu foi o responsável pelo maior avanço na biologia do século XVIII, a nomenclatura binomial, usada até hoje na botânica e na zoologia. Com a criação dessa nomenclatura, as plantas passaram a ter um nome e um sobrenome científicos, escritos em latim. O nome corresponde ao gênero e o sobrenome, à espécie à que a planta pertence. O cajueiro, por exemplo, passou a se chamar Anacardium occidentale por pertencer ao gênero Anacardium, espécie occidentale. Graças a essa invenção, as plantas puderam ser cientificamente identificadas e as relações entre elas, estudadas. O primeiro Jardim Botânico de Uppsala foi criado em 1655 pelo professor de medicina da universidade, Olaus Rudbeck, que também construiu a casa adjacente ao jardim. Era situado no centro da cidade, junto ao rio Fyrisån, na Svartbäcksgatan 27. Sua função era o ensino de botânica e farmácia aos estudantes da universidade. No final do século XVII, continha cerca de 1.800 espécies cultivadas. Em 1702, foi quase totalmente destruído pelo fogo; como a universidade não tinha fundos para recuperá-lo, ficou abandonado por cerca de quarenta anos. A partir de 1741, em péssimo estado, passou a ser cuidado por Lineu, que era professor de medicina da instituição. Ele reorganizou o jardim de acordo com suas idéias, que documentou-o em seu trabalho Hortus Upsaliensis, de 1748, e o transformou em um dos mais importantes da sua época. Através dos contatos de Lineu com cientistas de todo o mundo, o jardim recebeu uma infinidade de plantas exóticas para cultivo. Em 1917, o Jardim de Lineu foi comprado pela Sociedade Sueca de Lineu e restaurado de acordo com seu projeto de 1745, seguindo as especificações do Hortus Upsaliensis. Hoje pertence à universidade e é mantido como um jardim botânico do século XVIII, com o nome de Jardim de Lineu (Linnéträdgården). Nele são cultivadas cerca de 1.300 espécies, todas elas tendo sido cultivadas pelo próprio Lineu. Em 1758, Lineu comprou uma pequena fazenda, Hammarby, a 15 km de Uppsala, perto de Edeby, para passar o verão com a família, longe do burburinho da cidade. A casa principal foi derrubada e reconstruída no mesmo local em 1762. Os canteiros de flores em frente da casa principal foram recriados utilizando as mesmas espécies que Lineu tinha ali cultivado. O chamado Jardim Siberiano é resultado de um presente da imperatriz Catarina II, da Rússia, que lhe deu sementes e bulbos. Na parte mais elevada do parque foi construído, em 1769, o Museu de História Natural. Quando Lineu faleceu, sua viúva morou ali por muitos anos. Em 1879, Hammarby foi comprada pelo governo sueco e passada para a administração da universidade.A propriedade reflete tanto a vida privada de Lineu como seu trabalho científico. O terreno do Jardim de Lineu, junto ao rio Fyrisån, era muito úmido, portanto pouco apropriado; além disso, pelo fim do século XVIII, precisava de mais espaço. Em 1787, sucedeu a Carl Linné filho, o discípulo de Lineu Carl Peter Thunberg, “o pai da botânica sul-africana” e o “Lineu japonês”, como professor da universidade. Ele persuadiu o rei Gustavo III a doar à universidade os jardins do Castelo de Uppsala para transformá-los em um novo jardim botânico. O desenho desses jardins era barroco. O rei também doou uma quantia para a construção de uma orangerie, a que se deu o nome de Linnaeanum. Todo o material botânico foi transferido do antigo jardim, deixado em péssimo estado. Hoje, o jardim botânico mantém pesquisas em horticultura, biologia floral e taxonomia e ocupa uma área de cerca de 140.000 m² e mais de 12 mil espécies, de todo o mundo, são ali cultivadas. Há coleções especiais, como a de violetas- africanas, anêmonas e peônias. É dividido em seções: jardim de plantas de montanhas, de zonas áridas, plantas de uso econômico, canteiros de plantas anuais e áreas para recreio e educação. Uma orangerie de temperatura fria foi suplementada com uma casa de vegetação tropical, com mais de 4 mil espécies de regiões de climas quentes. O Jardim Barroco foi restaurado de acordo com o desenho da década de 1750. A antiga orangerie, onde há quatro exemplares de Laurus nobilis originalmente plantados por Lineu, ainda é mantida. Suas principais funções são providenciar material botânico e suporte de horticultura para pesquisa e educação na universidade e promover a consciência pública para tudo que diz respeito à biodiversidade. Anualmente, um grande número de estudantes recebe informações em seus estudos de botânica, farmacologia, horti- cultura e ecologia. A coleção de exsicatas do herbário teve início em 1785, quando Thunberg tornou-se professor da Universidade de Uppsala. A coleção atual tem cerca de 3 milhões de exemplares, sendo 1,7 milhão de plantas vasculares, 250 mil de briófitas, 60 mil de algas, 360 mil de fungos e 500 mil de liquens. O material coletado por Thunberg na África do Sul, Sri Lanka, Java e Japão é uma das mais importantes coleções do herbário, constando de cerca de 27 mil exsicatas. O herbário faz parte da Seção de Botânica do Museu da Evolução, que, desde 1999, engloba também o Museu de Paleontologia e o Museu de Zoologia, situado na rua Norbyrägen 16, na região sudeste de Uppsala. O herbário publica uma revista, denominada Thunbergia em homenagem a Carl Peter Thunberg. Jardim Botânico de Hannover Herrenhausen Gärten Herrebgaeuser Strasse, 4 Herrenhausen 30419 Hannover Alemanha http://www.hannover.de/herrenhausen herrenhaeuser-gaerten@hannover-stadt.de Em 1241, foi fundada, à margem esquerda do rio Leine, uma pequena vila de pescadores. Trata-se de Hannover, a capital da Baixa Saxônia, na Alemanha. As grandes igrejas e as muralhas da cidade só foram construídas no século XIV. Em 1814, George III, rei da Grã-Bretanha, tornou-se rei de Hannover. A partir de então, a cidade cresceu muito, expandindo-se para a margem direita do rio Leine. Os membros da casa de Hannover, que governava a cidade, formaram a dinastia real que sucedeu a casa dos Stuart como monarcas da Grã-Bretanha a partir de 1714. A Universidade de Hannover foi fundada em 1831, com apenas 64 estudantes, como escola técnica. Tornou-se universidade somente em 1978. É constituída por nove faculdades, principalmente de ciência e tecnologia, com cerca de 23 mil estudantes. Em 2006, passou a se chamar Gottfried Wilhelm http://www.hannover.de/herrenhausen mailto:herrenhaeuser-gaerten@hannover-stadt.de Leibniz Universität Hannover, em homenagem ao filósofo e matemático que viveu entre 1646 e 1716. O Jardim Botânico de Hannover foi criado em 1666, no estilo barroco, pela princesa Sofia, originalmente como o jardim do Castelo de Herrenhäusen, onde ela vivia. Mulher de personalidade e bom gosto, planejou muito bem os jardins com o auxílio dos melhores jardineiros europeus da época. O Herrenhäuser Gärten fica no bairro de Herrenhäusen e foi planejado pela princesa Sofia como um conjunto de quatro jardins: Grösser Gärten, Georgengärten, Welfengärten e Berggärten. O Grösser Gärten, criado em 1666, é considerado um dos mais bonitos da Europa. São 500.000 m² muito bem organizados, com gramados, aléias, caminhos e estátuas, em um padrão geométrico. No centro ficava o Castelo de Herrenhäusen, destruído na Segunda Guerra Mundial. Sobrou apenas a escadaria principal, que foi transferida para junto da orangerie, utilizada durante o verão para exposições de arte e concertos de música clássica. É ponto-chave desse jardim, um dos últimos trabalhos de Niki de Saint Phalle. Na parte noroeste existia uma gruta – utilizada, no século XVIII, para guardar material utilizado nos jardins – com um espaço central octogonal, de onde saem duas salas. A artista cobriu todo o interior da gruta com cristais, vidro, conchas e mosaicos moldados em vidro e espelho. Em cada sala, no recesso de uma parede, há uma estátua. Os visitantes usam a gruta para se refrescarem durante os dias quentes. Durante o verão, o Grösser Gärten é palco de uma infinidade de festivais de arte, além de uma competição de fogos de artifício. O Georgengärten e o Welfengärten, posteriores ao Grösser Gärten, foram criados no estilo paisagístico de jardim inglês e hoje o Georgengärten é uma área popular de recreação para os habitantes da cidade. Formam um belo exemplo de jardins europeus dos últimos trezentos anos, em uma área que cobre 2 km de ponta a ponta. Foram restaurados após serem quase totalmente destruídos durante a Segunda Guerra Mundial. O Welfengärten foi reconstruído como jardim do campus da Universidade de Hannover, que utiliza o Castelo de Welfenschloss, no centro do Welfengärten, como seu prédio principal desde 1870. Somente em 1961 essa área foi comprada pelo governo da cidade. Esses três jardins deliciam o povo da cidade, com suas aléias e plantas floridas. À noite são muito bem iluminados. Do lado oposto, em uma colina ao norte do Castelo de Herrenhäuser, fica o Berggärten, construído em 1666 para abrigar plantas utilizadas na culinária. Mais tarde, foi transformado pela princesa Sofia em um jardim para plantas exóticas. Um jardim de inverno – chegou a ser um jardim experimental – foi construído em 1686. Foi uma tentativa de aclimatizar, na Baixa Saxônia, plantas cultivadas nas regiões do sul da Europa. As pesquisas tiveram muito sucesso no cultivo da Nicotiana tabacum, o fumo, e das amoreiras Morus nigra e Morus alba. De 1706 a 1750, o bicho-da-seda, utilizado na produção do tecido para os nobres da região, foi alimentado com folhas de amoreiras do Berggärten; depois, a produção da seda passou para outra localidade, com mais sucesso. Entre 1846 e 1849, foi construída a casa de vegetação para palmeiras. Em cinco anos, tornou-se a coleção mais importante da Europa no gênero. Em 1880, foi construída outra casa de vegetação para as palmeiras, bem maior que a anterior, de vidro e aço, com galerias e fontes. Grande parte do jardim teve de ser refeita depois da Segunda Guerra, devido aos ataques aéreos britânicos. Em 1952, foi construída a biblioteca, onde hoje funciona a administração. Em 2000, foi a vez da casa de vegetação que abriga espécies de plantas da floresta tropical úmida, além de borboletas e aves. Há um campo de gramíneas e um pátio com plantas ornamentais mantidas em vasos, algumas muito aromáticas, como os pelargônios. Orquídeas em flor podem ser admiradas no Berggärten durante o ano todo. Lá floresceram os primeiros exemplares de Saintpaulia ionantha (violeta-africana) trazidos para a Europa. Hoje em dia, o Berggärten não é, na verdade, um jardim botânico oficial, mas um jardim de exposição botânica. Como tal, não possui um herbário. Antigamente, havia um, mas ele foidado como presente para a Universidade de Göttingen. Jardim Botânico de Edimburgo Royal Botanic Garden Edinburgh 20A, Inverleith Row Edinburgh EH3 5LR Escócia Reino Unido http://www.rbge.org.uk e-mail: info@rbge.org.uk Edimburgo, segunda maior cidade escocesa – depois de Glasgow –, e capital da Escócia desde 1437, é atualmente a sede do Parlamento escocês. Está situada na costa leste da Grã-Bretanha, na margem sul do estuário do rio Forth no mar do Norte. Devido ao grande número de prédios de arenito rosa, medievais e do período georgiano, é uma das cidades mais impressionantes da Europa. Recebe anualmente cerca de 13 milhões de turistas, número inferior, na Inglaterra, apenas ao número de visitantes de Londres. Todo ano, Edimburgo é sede do Edinburgh Festival, famoso festival de arte. Também é a sede oficial da Igreja Nacional da Escócia (Church of Scotland). A cidade é carinhosamente http://www.rbge.org.uk mailto:info@rbge.org.uk denominada Auld Reekie, que é Old Smoky em escocês, porque, nos velhos tempos, estava sempre coberta pela fumaça das chaminés das casas em virtude da queima contínua de carvão e lenha. Muitos famosos são originários de Edimburgo, como o ator sir Sean Connery, o primeiro James Bond do cinema, e o escritor sir Arthur Conan Doyle, criador do personagem Sherlock Holmes. J. K. Rowling, autora que escreveu a saga de Harry Potter, viveu e escreveu alguns volumes da série na cidade. Nasceram em Edimburgo os pintores sir David Wilkie, sir Henry Raeburn e Allan Ramsay. No ramo das ciências, Alexander Graham Bell, o pioneiro do telefone, e John Napier of Merchistoun, o inventor dos logaritmos são da cidade onde nasceu, igualmente, Anthony Charles Lynton Blair, conhecido como Tony Blair, primeiro-ministro do Reino Unido de 1997 a 2007. A Universidade de Edimburgo, Edinburgh University, foi fundada em 1582, sob o reinado de James VI. No século XVIII, tornou-se uma das principais instituições universitárias européias, situação de que ainda desfruta. Em 2002, ela foi reorganizada e as nove faculdades tornaram-se três colleges – Humanidades e Ciências Sociais, Ciência e Engenharia, e Medicina e Medicina Veterinária –, subdivididos em 21 schools, bem maiores que os antigos departamentos. Em 2006, em termos acadêmicos, ela foi avaliada como a 6ª universidade do Reino Unido, a 11ª da Europa e a 52ª do mundo. Charles Robert Darwin foi estudante da universidade, assim como o matemático e físico James Clerk Maxwell e o autor de A ilha do tesouro, Robert Louis Stevenson. O Jardim Botânico de Edimburgo foi criado pelos médicos Sibbald e Balfour. Robert Sibbald, que estudou em Edimburgo, Leiden e Paris, foi o primeiro professor de medicina da Universidade de Edimburgo. Andrew Balfour, que se graduou na Universidade de St. Andrew, em seu país, e posteriormente, estudou em Paris, foi o primeiro médico a fazer uma dissecação do corpo humano. O jardim foi criado por eles em 1670, quando a botânica era utilizado no curso de medicina para o estudo de ervas medicinais. O primeiro jardim foi criado em um terreno situado em St. Anne’s Yard, área do Palácio de Holyroodhouse, o chamado The Holyrood Physic Garden, com cerca de 150 m². As plantas eram provenientes de sementes que o dr. Balfour recebia do continente europeu e uma coleção de mil plantas que pertencera a um jovem nobre seu amigo, Patrick Murray, que as cultivara em suas terras em Livingston. Murray morreu jovem e as plantas foram todas transferidas para o Jardim Botânico de Edimburgo. De 1699 a 1715, o curador do jardim foi James Sutherland, que, em 1695, se tornara o professor de botânica da Universidade de Edimburgo. A partir de então, até meados do século XX, o curador do jardim botânico sempre era o professor de botânica da universidade. Sutherland escreveu Hortus medicus edinburgensis: ou um catálogo das plantas no Jardim Botânico de Edimburgo, publicado em 1683. O jardim progrediu tanto, sob os cuidados de Sutherland, que, em 1675, o governo da cidade cedeu-lhe outra área. O terreno ficava próximo ao Trinity Hospital daí o nome The Trinity Hospital Garden. Media cerca de 5.000 m². Nele havia canteiros de sistemática, com as plantas distribuídas em famílias botânicas, canteiros de plantas ornamentais, de ervas medicinais distribuídas em ordem alfabética e plantas aquáticas, além de um pequeno arboreto. Havia, ao todo, cerca de 2 mil plantas. Em 1684, o jardim teve sua área aumentada, com a adição do cemitério do Trinity College. Por algum tempo existiram, pois, dois jardins botânicos, um em St Anne’s Yard, Holyrood, e outro junto ao Trinity Hospital, ambos sob a curadoria de Sutherland. Em 1763, as coleções de plantas dos dois jardins foram transferidas para Leith Walk, onde hoje fica Haddington Place, com pouco mais de 20.000 m². Era The Leith Walk Garden, que, na época, ficou livre da grande poluição que afligia os antigos jardins da parte central da cidade. Havia um conjunto de casas de vegetação com cerca de 50 m de comprimento, sendo que, na primeira e na última casa, eram mantidas temperaturas altas para cultivo de plantas tropicais. O governo britânico passou, então, a custear as despesas e manutenção do jardim botânico. Entre 1820 e 1823, todo o material do jardim foi transferido para Inverleith. O local foi comprado do Inverleith State. Era o Inverleith Botanic Garden, que ficava na parte norte da cidade, onde se encontra até hoje. Mais terras foram sendo adquiridas durante todo o século XIX e também no século XX, para acomodar novas coleções de plantas. Em 1864, ganhou mais terras com a aquisição do jardim experimental da Sociedade Real Caledônia de Horticultura, cuja sede passou a ser o herbário do jardim botânico pelos cem anos seguintes. A Inverleith House, construída em 1774, e as terras que a circundavam, onde hoje fica o arboreto, foram compradas do Inverleith State pela cidade de Edimburgo, em 1876, para ampliar o jardim botânico. Inverleith House passou a ser a moradia do curador do jardim. De 1960 a 1984, a Inverleith House passou a abrigar a Galeria Nacional de Arte Moderna e, nos gramados a seu redor, podiam ser vistas, entre outras, esculturas monumentais de Henry Moore. Passou então a fazer parte do jardim como uma galeria, com exposições temporárias. Assim, durante todo o ano, há uma série de eventos e atividades para todas as idades, tanto na Inverleith House como no Centro de Exibições; a primeira apresentando exposições de arte e, o segundo, exposições científicas e educacionais. Em 1958, mais terreno foi adquirido e chegou-se a cerca de 300.000 m², sua área atual. Em 1964, foi inaugurado o novo prédio, que abriga o herbário e a biblioteca, o Science Buildings. Até 1956, os cargos de curador do Jardim Botânico e de professor catedrático de botânica da universidade cabiam a uma só pessoa. Naquele ano, o dr. Harold Fletcher foi nomeado curador do jardim. Dois anos depois, o dr. Robert Brown foi nomeado professor de botânica, sendo, com ele, iniciada a mudança do Departamento de Botânica para o complexo de King’s Buldings da universidade. A mudança final ocorreu em 1965, e o jardim botânico e o Departamento de Botânica passaram a ser totalmente independentes entre si. A coleção de plantas vivas do jardim botânico contém representantes da flora mundial, mas não apenas as populares. A biblioteca é a melhor e maior da Escócia, e o herbário é um dos mais conceituados da Grã-Bretanha. O trabalho no jardim está dividido em três áreas: pesquisa, educação e conservação. A pesquisa é realizada com plantas vivas: as espécies são identificadas e descritas, pesquisa-se sua evolução, onde estão distribuídas, como crescem e como intera gem com outros organismos. A pesquisa, às vezes, trata de grupos de plantas que deram origem a algumas ornamentais populares, como as violetas-africanas. Esses conhecimentos permitem que a conservação, a hibridização e a engenharia genética sejam alcançadas. A parte educacionalmudou através dos séculos. Inicialmente era voltada só para estudantes de medicina; agora envolve todas as pessoas: turistas curiosos, estudantes universitários, alunos das escolas primárias e pessoas idosas. Muito da parte educacional tem como objetivo a conservação. Entretanto, há um curso de treinamento em horticultura – curso pago com o trabalho manual dos estudantes no próprio jardim. A conservação de espécies vegetais é ainda uma coisa muito nova – espécies estão desaparecendo rapidamente –, assim, pesquisa, educação e conservação têm de estar fortemente ligadas, a fim de evitar maiores perdas em biodiversidade. As plantas são essenciais para a vida na terra e cada espécie é responsável pelo crescimento de pelo menos outros trinta organismos vivos, o que torna muito importante o trabalho de conservação. A coleção de plantas está sempre aumentando, graças às excursões científicas. No início do século XX, de 1904 a 1932, por exemplo, a instituição organizou excursões de coleta para a região do Hima laia e da China ocidental, de onde vieram os rododendros, magnólias e prímulas que o enriquecem. Depois de 1950, as excursões passaram a ser voltadas para a parte leste do Mediterrâneo, sudoeste e sudeste da Ásia e Brasil. O Jardim Botânico de Edimburgo cultiva mais de 34 mil plantas, o que representa cerca de 17 mil espécies de todos os lugares do mundo. Todo ano recebe entre 2 mil a 3 mil materiais botânicos, como sementes, bulbos, estacas, muitos deles resultantes de expedições. São mantidas várias coleções. A de plantas alpinas atrai a atenção de todos os visitantes. Uma das especializações do jardim botânico é o estudo dos criptógamos, plantas que não produzem sementes – briófitas, liquens, fungos, algas e fetos. O herbário é muito rico em exemplares desses grupos. O jardim dos criptógamos foi iniciado na década de 1990 e é o primeiro do seu tipo a ser criado em um jardim botânico. O jardim ecológico apresenta a flora escocesa em seus diferentes ambientes e foi iniciado em 1995. Árvores e arbustos de interesse botânico estão espalhados por toda a sua área, especialmente no arboreto, que contém mais de 2 mil exemplares. A sua coleção de rododendros é muito importante – ela contém cerca de 50% das espécies conhecidas. Há um pequeno lago, um rock garden e um jardim chinês – inaugurado na década de 1990 – que inclui muitas espécies medicinais da China. O jardim de demonstração é como um livro vivo: há uma parte dedicada à classificação das plantas, há canteiros de espécies utilizadas em culinária, outro de plantas anuais, de plantas medicinais. Cerca de 2.300 espécies são mantidas nas onze casas de vegetação. Em 1834, foi aberta a casa das palmeiras tropicais e, em 1858, a das de clima temperado. Entre 1888 e 1889, novas casas de vegetação foram construídas e os laboratórios reorganizados – nesse período, o Jardim de Edimburgo tornou-se um centro importante de pesquisa taxonômica. As casas de vegetação foram demolidas em 1965 e substituídas por outras, inauguradas em 1967. As casas de vegetação têm um desenho muito moderno, sendo suspensas externamente. Mais tarde, em 1993, as onze casas de vegetação foram agrupadas em um único conjunto, que se tornou a Glasshouse Experience. A parte principal do conjunto tem 128 m de comprimento e 18 m de largura. Construído em dois níveis, é dividido em cinco zonas climáticas controladas por computadores, sendo que o nível superior está ligado às históricas casas das palmeiras. A casa de vegetação das palmeiras tropicais, inaugurada em 1834, era a maior e mais suntuosa de todo o Reino Unido na época. Tem forma octogonal, com um diâmetro de 20 m e altura de 15 m. A atmosfera é de uma floresta úmida tropical, com temperatura mínima mantida a 18 ºC. Seu principal exemplar é a palmeira das Índias Ocidentais (Sabal bermudana), plantada em 1793 no Jardim Botânico de Leith e transplantada para Inverleith em 1822. Floresce todo ano. Em 1858, foi construída a casa de vegetação para as palmeiras de clima temperado, que é, até hoje, a mais alta da Grã-Bretanha, com quase 25 m de altura, e temperatura mínima de 10 ºC. Nela são mantidas palmeiras, árvores e arbustos de regiões subtro picais, além de coníferas do hemisfério sul. Dois exemplares são magníficos: a palmeira da Austrália (Livistona australis) e a árvore da cânfora (Cinnamomum camphora), esta com 16 m de altura, sendo a planta mais alta nas casas de vegetação do jardim. A casa de vegetação temperada abriga plantas de zonas temperadas, com clima mais seco e quente do que o da Escócia. A casa de plantas tropicais tem como atração principal a Victoria amazonica, planta perene tratada em Edimburgo como anual, porque não há luz suficiente durante o inverno para manter a espécie. A casa das samambaias tem atmosfera de alta umidade e abriga também algumas coníferas. Há, igualmente, casas de vegetação para orquídeas, cicas, cactos e outras suculentas, e uma onde são cultivadas apenas espécies da América do Sul. Além disso, há o jardim de vegetação utilizado em pesquisa, para quarentena de novas aquisições e propagação em grande escala. Curiosidades Em 29 de junho de 1964, na inauguração do prédio novo do herbário e da biblioteca, a rainha Elizabeth II plantou uma muda de Betula pendula ao lado do prédio. Conta a história (confirmada por antigos funcionários do jardim) que, meses depois, a muda morreu. Na calada da noite, foi substituída por outra que cresceu e está lá até hoje. A árvore atual não é a que foi plantada pela rainha Elizabeth II. É um segredo guardado a sete chaves. O herbário contém mais de 2 milhões de exemplares, o mais antigo sendo de 1697. É muito rico em plantas escocesas e o mais completo (fora da China) em plantas chinesas. A biblioteca possui 100 mil livros, muitos raros, além de revistas científicas e de divulgação técnica, e coleção de gravuras, fotografias e manuscritos. O novo café foi inaugurado em 1989 e a loja botânica em 1993. Desde 1986, o Jardim Botânico de Edimburgo passou a ser supervisionado pelo Departamento Executivo de Assuntos Rurais e do Meio Ambiente da Escócia e deixou de ser um departamento público. O acesso ao jardim botânico é gratuito, mas é preciso pagar £3,50 por pessoa para visitar as casas de vegetação. Fora da cidade há outros três jardins botânicos que oficialmente pertencem ao de Edimburgo: o Younger Botanic Garden Benmore, o Logan Botanic Garden e o Dawyck Botanic Garden. O Jardim Botânico de Edimburgo mantém interesse até fora dos limites do Reino Unido. Um exemplo disso é que, em 2001, junto com três organizações governamentais chinesas, instalou um novo jardim botânico em Yunnan, China. Um fato curioso do Jardim Botânico de Edimburgo... Jardim Botânico de Chelsea Chelsea Physic Garden 66, Royal Hospital Road London SW3 4HS Inglaterra http://www.chelseaphysicgarden.co.uk e-mail: enquiries@chelseaphysicgarden.co.uk Londres, a capital da Inglaterra e do Reino Unido, foi fundada no ano de 43 d.C. pelos romanos, com o nome de Londinium. No ano 61, os celtas, comandados pela rainha Boudica ou Boadicea (que morreu pouco tempo depois), atacaram e destruíram a cidade. Uma nova cidade foi construída, no lugar, pelos romanos. No século II, a Londres romana tinha uma população de 60 mil habitantes. O grande desenvolvimento a partir do século XVIII transformou-a na cidade mais populosa do mundo entre 1831 e 1925. O crescimento deveu-se, sobretudo, ao transporte ferroviário, com a criação da primeira estrada de ferro em 1836. http://www.chelseaphysicgarden.co.uk mailto:enquiries@chelseaphysicgarden.co.uk Hoje é um dos mais importantes centros mundiais de negócios, finanças e cultura. Tem entre 12 e 14 milhões de habitantes, e é a cidade mais populosa da União Européia. Cinco aeroportos internacionais servem Londres, sendo que o aeroporto de Heathrow é o mais movimentado do mundo. O Jardim Botânico de Chelsea, que nunca teve nada a ver com uma universidade, foi fundadoem 1673 como um physic garden (jardim de plantas medicinais ou Orto dei Semplici), pela Sociedade dos Boticários de Londres (Society of Apothecaries of London) para que os aprendizes pudessem cultivar plantas medicinais e descobrir-lhes a utilidade. Assim, por exemplo, poderiam aprender as diferenças mais sutis entre plantas venenosas e benéficas muito semelhantes. Curiosidades Esse famoso médico, dr. Hans Sloane, quando jovem, estudara botânica no Jardim de Chelsea, época em que ficou amigo do naturalista John Ray, o “pai da história natural inglesa”, e do químico Robert Boyle, “pai da química”. Sloane foi um grande colecionador de plantas e de tudo mais que podia conseguir. Ele doou para a nação (em testamento) todas as suas coleções (livros, flora e fauna, desenhos, medalhas, moedas, etc.) que, com algumas outras, foi aberta ao público, em 1759, como o Museu Britânico. Mais tarde, uma parte da coleção serviu para dar início ao Museu de História Natural. Em uma viagem à Jamaica, ele provou chocolate, muito popular naquela ilha; detestou a bebida, mas, depois de misturá-la com leite, considerou o chocolate mais apetitoso. Voltou à Inglaterra com a receita e o chocolate passou a ser produzido e vendido pelos farmacêuticos como remédio. No século XIX, os irmãos Cadbury passaram a vender latas de chocolate de acordo com a receita em questão. O jardim foi estabelecido em uma parte alugada do jardim da Danvers House, casa que pertencera a sir John Danvers, um dos políticos que assinaram a sentença de morte do rei Charles I. Ficava em Chelsea e foi demolida, em 1696, para dar lugar à Danvers Street. Em 1712 (ou 1713), o dr. Hans Sloane comprou uma mansão com jardins (Manor of Chelsea), adjacente à Danvers House. Em 1722, Sloane arrendou cerca de 16.000 m² de seus jardins para a Sociedade dos Boticários pela quantia perpétua de cinco libras esterlinas anuais. (O jardim perdeu parte do terreno, em 1874, com a construção do Chelsea Embankment na beira do Tâmisa, e mais uma pequena faixa, usada para alargar a Royal Hospital Road, que é outro limite.) Com a doação, iniciou-se a idade de ouro daquele que se tornou, na época, o jardim botânico mais ricamente abastecido do mundo. O programa de troca de sementes foi iniciado logo depois de 1682. O maior sucesso desse programa foi a introdução do algodão na Geórgia, Estados Unidos, então colônia britânica. Em 1730, o botânico Isaac Rand publicou um catálogo das plantas medicinais do Jardim Botânico de Chelsea – Index plantarum officinalium, quas ad materiae medicae scientiam promovendam, in horto Chelseiano [Índice oficial de plantas, e suas utilidades médicas e científicas, no horto de Chelsea]. A ilustradora botânica Elizabeth Blackwell, nascida em Aberdeen, Escócia, baseada no trabalho de Rand, fez gravuras, desenhos e aquarelas de quinhentas plantas vivas, a maior parte delas do Jardim de Chelsea. Todo esse material se encontra nos dois volumes, publicados entre 1737 e 1739, de Um curioso herbal contendo 500 cortes, das plantas mais úteis, que são agora aproveitadas na prática da física: entalhado em placas de cobre, inspirados em desenhos tirados da vida. Em 1889, a Sociedade dos Boticários desistiu da administração do jardim, que passou para a Fundação Paroquial do Município. Durante todo esse período, o jardim foi freqüentado por estudantes e professores para pesquisa, não sendo aberto ao público. Em 1983, passou a ser uma instituição de caridade autônoma e, finalmente, abriu suas portas ao grande público. O Jardim Botânico de Chelsea, um jardim murado do século XVII, ocupa hoje uma área de cerca de 15.000 m². O fato de estar situado junto a um rio, que cria um microclima mais quente, permite o cultivo de plantas exóticas. Sua entrada principal se encontra na Royal Hospital Road, mas há outras na Swan Walk e no Chelsea Embankment. Tem a aparência de um jardim ornamental. O desenho formal é quebrado por árvores de uso variado. O tanque, Fortune’s Tank Pond, foi restaurado em 2004. O jardim ornamental, construído em 1773 com pedras (da Torre de Londres e lava de um vulcão da Islândia) e plantas (rock garden), é o mais antigo da Inglaterra e um dos mais antigos do mundo. As casas de vegetação abrigam coleções de plantas tropicais, subtropicais e espécies da região do Mediterrâneo, além das que não suportam o ar livre durante o inverno. No jardim são pesquisadas as propriedades, a origem e a conservação de mais de 5 mil espécies vegetais. Lá está o maior exemplar, na Grã-Bretanha, de Olea oleracea produzindo frutos, além de árvores de Citrus x paradisi em sua posição mais setentrional da Terra, crescendo ao ar livre, graças ao microclima protegido criado pelos altos muros de pedra. A temperatura máxima no jardim é de 24 °C em julho e a mínima é de 2 °C em janeiro. Há uma boa coleção de ervas e plantas medicinais, distribuídas em quatro grupos: o jardim dos boticários, o jardim de medicina mundial, os canteiros de perfumaria e aromaterapia e a horta. Apresenta, também, o chamado passeio histórico, o jardim de taxonomia e a flora endêmica de ilhas, como Creta e ilhas Canárias. Na coleção de ervas e plantas medicinais, o jardim dos boticários apresenta as que possuem compostos terapêuticos em uso na prática médica mundial. Os canteiros são organizados pela finalidade das drogas derivadas das plantas. Inclui a Mandragora officinarum , utilizada como anestésico e analgésico. As plantas estão distribuídas nos canteiros de oncologia, do sistema respiratório, de dermatologia, cardiologia, anestesia, analgesia, neurologia, reumatologia, psiquiatria, oftalmologia, parasitologia e do sistema digestivo. O jardim de medicina mundial é uma coleção etnobotânica que mostra os vários usos das plantas por diferentes povos do mundo, como os indígenas da América do Norte, os maori da Austrália e Nova Zelân dia, os chineses, os nativos do sul da África, assim como tradições folclóricas do norte da Europa (como Angelica archangelica e Galium odoratum) e do Mediterrâneo. Não é um jardim de plantas aprovadas pela medicina atual, mas de plantas aceitas como medicinais por diferentes povos. Entretanto, em cada canteiro há uma planta cujas propriedades medicinais a ciência reconheceu. No jardim da perfumaria e aromaterapia, há plantas utilizadas na indústria de perfumes e outras que produzem óleos essenciais empregados em aromaterapia, como Rosmarinus officinalis. Em um dos canteiros da horta são cultivados verduras e legumes raros, ou pouco utilizados, para a produção de sementes – que são enviadas para uma associação de caridade que trabalha com produtos orgânicos, a Henry Doubleday Research Associa tion (HDRA). Essa instituição distribui as sementes para os agricultores, o que mantém a sobrevivência dessas plantas raras. Há ainda canteiros de ervas aromáticas para culinária, frutas, sementes e flores comestíveis, de plantas venenosas e de plantas empregadas para fabricar fibras e pigmentos. O jardim de taxonomia apresenta espécies de famílias de dicotiledôneas e monocotiledôneas. As primeiras estão agrupadas de acordo com uma variação do sistema de classificação de Bentham & Hooker, que mostra a relação entre as espécies. As monocotiledôneas foram distribuídas de acordo com o sistema de classificação de John Lindley. O passeio histórico, situado na parte oeste, foi criado na década de 1980 para mostrar o trabalho de botânicos conhecidos associados à história da instituição. Lá se encontram as plantas introduzidas por eles ou que foram batizadas com seus nomes. Entre elas estão espécies introduzidas na Inglaterra antes da criação do jardim, como a Rosmarinus officinalis . A maioria das espécies exibidas é da Europa, mas também dos Estados Unidos. Há espécies que eram utilizadas pelos boticários no século XVIII para preparar seus remédios. Outros canteiros são dedicados a botânicos que foram curadores ou diretores do Jardim. A seção da flora endêmica de ilhas abriga espécies rarase em perigo de extinção de Creta, da Madeira e das Canárias. As espécies das duas últimas – dentre as quais o Echium candicans, que apresenta uma inflorescência de flores azuis de quase 3 m – ficam junto ao muro mais quente do jardim. Nos invernos rigorosos, essas plantas são mantidas nas casas de vegetação. A coleção de plantas de Creta cresce em uma das casas de vegetação e também no rock garden. Há uma boa coleção de espécies nativas da Grã-Bretanha, além de espécies da África do Sul e das Américas do Norte e do Sul. O Jardim Botânico de Chelsea faz permuta de sementes desde 1683; atualmente, essa operação é feita com 368 jardins botânicos e universidades de 37 países. A primeira lista de sementes para permuta foi publicada em 1901, procedimento que continua até hoje. É mantido um departamento dedicado a eventos e cursos, como o de jardinagem, para adultos e crianças. Um dos eventos mais concorridos é a série de palestras e aulas práticas em que se ensina como preparar adubo orgânico. Há uma pequena loja que vende produtos relacionados com o jardim, como plantas e sementes, sabonetes e chocolates feitos à mão, mel, livros de botânica, cartões- postais, brinquedos para crianças, entre muitas outras coisas. No café, até almoços são servidos. Já que não tem financiamento do governo, sendo uma instituição autônoma, uma das maneiras de aumentar sua renda foi a formação do grupo dos “Amigos do Jardim”, cuja contribuição anual ajuda a manter os trabalhos de pesquisa e educação. Fazer parte desse grupo dá uma série de vantagens; por exemplo, o jardim fica fechado de novembro a abril, mas, aos Amigos do Jardim, o acesso é franqueado o ano inteiro. Outra maneira de conseguir fundos é o aluguel de várias salas de que o jardim dispõe: junto com os jardins, são apropriadas para festas em geral, como casamentos. Uma outra fonte de renda é o Chelsea Flower Show, realizado anualmente no verão, que é considerado uma das grandes atrações turísticas de Londres. Rende muito, pela venda de flores, de plantas, de artigos especiais como geléias, além do arrecadado nas bilheterias. As metas do Jardim Botânico de Chelsea são, hoje: mostrar, através do cultivo e de publicações, a variedade de espécies ali introduzidas; publicar trabalhos de qualidade em horticultura, especialmente sobre plantas raras ou frágeis; ensinar a todos os visitantes os múltiplos usos de plantas e o conhecimento acumulado de usos medicinais. Jardim Botânico de Berlim Botanischer Gärten und Botanisches Museum Königin-Luise-Str. 6-8 Dahlem 14191 Berlin Alemanha www.bgbm.fu-berlin.de/ zebgmb@zedat.fu-berlin.de Berlim é a capital e a maior cidade da Alemanha, localizada no nordeste do país. As primeiras menções históricas de pequenas cidades onde hoje fica Berlim datam do fim do século XII e início do XIII. Já foi capital do reino da Prússia a partir de 1701, do Império alemão (1871-1918), da República de Weimar (1919-1932) e da Alemanha nazista (1933-1945). A cidade foi dividida por um muro depois da Segunda Guerra em 1961. Berlim Oriental passou a ser a capital da Alemanha Oriental, enquanto a outra metade passou a ser um simples enclave da Alemanha Ocidental, até 1989. Depois da reunificação, em 1990, Berlim voltou a ser a capital da Alemanha. A maior universidade de Berlim é a Freie Universität Berlin, com cerca de 35 mil estudantes. Grande parte dela, que foi fundada em 1948, fica no bairro de Dahlem. Tem doze faculdades, entre elas, as de Biologia, Química e Farmácia, de Geologia e Direito. O sociólogo Jacob Taubes e o filólogo Peter Szondi estão entre seus antigos professores. No início do século XVII, o Castelo de Berlim, no centro da cidade, tinha um jardim real com plantas ornamentais, medicinais, hortaliças e lúpulo (para a fabricação da cerveja real). Como se tornou muito acanhado, em 1679, Friedrich Wilhelm, o grande príncipe eleitor, decidiu criar um jardim-modelo, com plantas medicinais e para a culinária, na vila de Schöneberg, perto de Berlim (hoje um bairro da cidade), onde é atualmente o Parque Kleist. Foi criado então, em 1679, o primeiro Jardim Botânico de Berlim. Em 1718, ele foi doado por Frederico Guilherme I à Academia de Ciências da Prússia. Por anos, esteve totalmente negligenciado, mas foi restaurado por volta de 1801 pelo botânico e farmacêutico Carl Ludwig Willdenow. Nascido em Berlim, Willdenow estudou botânica e medicina na Universidade de Halle, Alemanha. Tendo sido diretor do jardim de 1801 a 1812, estudou, nesse período, muitas plantas da América do Sul, trazidas pelo naturalista Alexander von Humboldt. O herbário real teve um grande desenvolvimento, pois ele lá organizou cerca de 20 mil espécies. Em 1879, foi estabelecido o Museu Botânico, para abrigar a coleção de exsicatas e promover a pesquisa. Com o tempo, o grande crescimento da cidade exigiu nova mudança de endereço. Assim, entre 1879 e 1910, foi criado um novo jardim botânico, em uma fazenda de batatas no bairro de Dahlem, que ficou sob a direção do botânico Heinrich Gustav Adolf Engler entre 1889 e 1921. Engler deixou importantes obras de taxonomia e fitogeografia; o sistema de classificação das angiospermas criado por ele e Karl Anton Eugen Prantl foi um dos mais utilizados na área de taxo nomia até a década de 1970. Uma das funções do novo jardim era apresentar e examinar plantas exóticas trazidas das colônias alemãs. O Jardim Botânico de Berlim, que pertence à Freie Universität, ocupa, atualmente, uma área de 430.000 m² e abriga 22 mil espécies de plantas, é um dos maiores do mundo. Abriga também o Museu Botânico, com uma grande coleção de exsicatas (o Herbarium Berolinense), e uma grande biblioteca científica. Uma área de 6.000 m² é ocupada por dezesseis casas de vegetação com coleções de plantas exóticas como as orquídeas e as carnívoras. Há uma casa de vegetação com um grande tanque no centro, atravessado por pontes de bambu, com exemplares de Victoria amazonica, Victoria cruziana e Nym phaea gigantea. Ao redor do tanque principal, há outros bem menores, cada um hospedando uma espécie diferente de ninféia. Uma casa de vegetação abriga plantas úteis dos trópicos. Várias delas mantêm temperatura baixa, cada uma com finalidade específica: casa de vegetação com azaléias e camélias; com plantas da África do Sul; com espécies da Austrália e da Nova Zelândia; com plantas do hemisfério sul e plantas insetívoras; com suculentas da parte tropical e subtropical do Velho Mundo; uma casa de vegetação com uma paisagem do Novo Mundo, muitas cactáceas e agave; plantas do Mediterrâneo e das Canárias, muitas samambaias arbóreas em sua parte posterior. O Grande Pavilhão é a maior casa de vegetação do mundo, uma estrutura de aço coberta por vidro, com 25 m de altura. Por hospedar plantas tropicais, a temperatura é sempre mantida a 30 ºC, com alta umidade do ar. Apresenta encostas rochosas e quedas de água e abriga palmeiras muito grandes, trepadeiras, bambu-gigante e epífitas em quantidade. Há uma infinidade de bromélias, orquídeas, cactos, samambaias. Defronte da Grosse Tropenhaus, ao ar livre, há tanques com liliáceas que suportam bem o inverno. A área ao ar livre (130.000 m²) é organizada de acordo com a origem geográfica das espécies. A seção de fitogeografia, desenhada por Engler, ocupa quase um terço da superfície total e tem uma infinidade de caminhos que passam por diferentes formações vegetais de clima temperado do hemisfério norte. Diz- se que lá se pode passear ao redor de todo aquele hemisfério! Na seção de taxonomia, mil espécies vegetais estão agrupadas de acordo com o sistema de classificação de Engler. Há um jardim de plantas aquá ticas, de brejos, que estão em perigo de extinção na Europa central devido à drenagem de seus ambientes naturais – muitas delas só existem no jardim botânico. Em 1984, foi construído o jardim para os deficientes, com plantas aromáticas, plantas com espinhos e plantas de texturas diferentes. O jardim de plantasmedicinais foi renovado recentemente; tem a forma de um corpo humano e por ele são distribuídas cerca de 230 plantas medicinais – que podem ser cultivadas ao ar livre em Berlim – de maneira a mostrar em que parte do corpo as espécies devem agir. Há informações sobre os nomes científicos das plantas, componentes químicos e sua importância farmacológica. Há também um jardim em estilo italiano e o jardim dos musgos aberto ao público em 2006. Um arboreto, que ocupa 140.000 m², tem cerca de 1.800 espécies de árvores e arbustos. O museu apresenta exposições de botânica e é o único desse tipo na Europa central. Ele complementa o jardim botânico, pois exibe modelos que mostram detalhes morfológicos que não são visíveis na planta viva. A pesquisa na instituição envolve biossistemática, biodiversidade (de plantas), genética molecular e conservação ambiental. Além da contribuição à botânica, nas noites de sexta-feira do mês de agosto são apresentados concertos ao ar livre. [1] Tradução de André Luiz Alvarenga do original: “Triumviri Litterarii. I. Portam hanc decumanam ne pulsato ante diem Marci Evangelistæ nec ante horam XXII. II. Per decumanam ingressus extra decumanum ne declinato. III. In viridario scapum ne confringito neve florem decerpito ne semen fructumve sustollito radicem ne effodito. IV. Stirpem pusillam succrescentemque ne attrectato neve areolas conculcato transilitove. V. Viridarii injuria nom afficiuntor. VI. Nihil invito Praefecto attentato. VII. Qui secus faxit aere carcere exilio multator”. [2] Disponível em http://www.unesco.org. [3] Tradução livre de “Gloriae Dei Opt. Max. Honori Caroli Regis, in usum Acad. et Reipub. Henricus comes Danby DD. MDCXXXII”. http://www.unesco.org Jardins botânicos portugueses Jardim Botânico da Madeira Caminho do Meio – Bom Sucesso 9050-251 Funchal Ilha da Madeira www.sra.pt/jarbot jardimbotanico.sra@gov-madeira.pt http://www.sra.pt/jarbot mailto:jardimbotanico.sra@gov-madeira.pt Os primeiros jardins botânicos portugueses foram criados muito depois dos descobrimentos. Durante a Renascença portuguesa, os portugueses tratavam suas ilhas do oceano Atlântico – Madeira, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe – como se fossem jardins botânicos. A ilha da Madeira, no entanto, que imaginavam ser o Jardim do Éden, foi ter seu jardim botânico só em 1960! Na realidade, o primeiro jardim botânico de Portugal, o da Ajuda, é de 1768, seguido pelo de Coimbra e, muito mais tarde, pelo de Lisboa. O Jardim Botânico da Madeira foi criado na Quinta do Bom Sucesso em 1960 e é administrado pelo governo regional da ilha. Está situado a 3 km do centro de Funchal. Junto da Quinta do Bom Sucesso fica o Loiro Parque, e o conjunto todo ocupa uma área de 80.000 m². O Loiro Parque reúne aves exóticas e raras, como cacatuas, papagaios e periquitos. Passear por lá é como fazer um safári pelo mundo dos papagaios. O bilhete de entrada é único, englobando o jardim e o Loiro Parque. O jardim botânico, com uma grande área ajardinada, abriga, além de espécies indígenas, mais de 2 mil plantas exóticas, oriundas de todo o mundo, tão bem adaptadas como se estivessem em seu local de origem. Parte da flora indígena é considerada uma relíquia do Terciário, por ter espécies que existiram nas floras primitivas do sul da Europa e do norte da África – onde se extinguiram devido a alterações climáticas. As plantas têm etiquetas que mostram sua origem e os nomes científico e popular. Estão distribuídas em quatro grupos: as indígenas e endêmicas, com cerca de cem espécies da ilha da Madeira, dos Açores, das Canárias e de Cabo Verde; o arboreto, com espécies de zonas ecologicamente opostas, como plantas do Himalaia e dos trópicos, plantas suculentas, principalmente da América do Sul, e o grupo das tropicais – cultivares, aromáticas e medicinais, com árvores frutíferas tropicais e subtropicais –, além de plantas para a culinária e medicina popular da população madeirense. O Jardim Botânico da Madeira dedica-se ao estudo da flora macaronésia, em especial da biodiversidade vegetal. Tem por objetivo, entre outros, promover e desenvolver a pesquisa da botânica, divulgar a flora, fazer permutas, tanto de mudas como de sementes, de espécies de interesse científico, manter o herbário, aclimatar plantas de outras regiões e promover a formação profissional de pessoal técnico. É um pólo de ciência e cultura, dedicado à conservação de plantas ameaçadas de extinção. Há, no jardim, um Museu de História Natural e um herbário. O museu funciona em três salas do prédio principal desde 1981. Lá se encontra o espólio do antigo Museu Diocesano de Funchal, com coleções de plantas e animais obtidas entre 1882 e 1908. Ele abriga, também, o herbário, com coleções de plantas da Madeira, das ilhas Canárias, espécies de deserto e de plantas cultivadas. Jardim Botânico da Ajuda Instituto Superior de Agronomia Calçada da Ajuda, s/n 1349-017 Lisboa Portugal www.isa.utl.pt botanicoajuda@isa.utl.pt http://www.isa.utl.pt mailto:botanicoajuda@isa.utl.pt O Instituto Superior de Agronomia (ISA) tem suas raízes no Instituto Agrícola e Escola Regional de Lisboa, criado, em 1852, pela rainha dona Maria II. Em 1864, a Escola de Veterinária Militar e o Instituto Agrícola foram reunidos com o nome de Instituto Geral de Agricultura, que, em 1886, passou a ser denominado Instituto de Agronomia e Veterinária. Depois da implantação da República portuguesa, esse instituto foi extinto e substituído pela Escola Superior de Medicina Veterinária e pelo Instituto Superior de Agronomia, que, em 1930, foi integrado à Universidade Técnica de Lisboa. O ISA é a maior e a mais qualificada escola de ciências agrárias de Portugal, com cursos de graduação e pós-graduação. Em 1918, a instituição incorporou o Jardim Botânico da Ajuda. O Jardim Botânico da Ajuda fica na Calçada da Ajuda, logo depois do Museu dos Coches. Fica próximo do Palácio da Ajuda, do Mosteiro dos Jerônimos, do Centro Cultural e da Torre de Belém e do Jardim-museu Agrícola Tropical. Do local, tem-se uma vista magnífica do rio Tejo. É o mais antigo de Portugal, tendo sido criado em 1768, no fim do período barroco, por ordem do marquês de Pombal, primeiro-ministro do rei dom José, de 1750 a 1777. É considerada a primeira e mais importante instituição dedicada à história natural do país. Para sua implantação, dom José I comprou uma quinta que ficava próxima ao Paço da Ajuda – na época, Ajuda era subúrbio de Lisboa. No início, a quinta destinava-se à cultura de frutas e hortaliças para o palácio real. O jardim foi desenhado para manter, estudar e colecionar espécies vegetais e para diversão da realeza que vivia no Palácio da Ajuda. Para lá eram levadas as espécies vegetais coletadas nas diversas colônias portuguesas. Chegou a ter mais de 5 mil espécies, organizadas de acordo com as idéias de Lineu. Foi projetado pelo botânico italiano, natural de Pádua, Domenico Vandelli. Entretanto, no final do século XVIII, só tinha cerca de 1.200 espécies, pois o jardineiro italiano contratado por Vandelli preocupou-se em fazer obras e descuidou-se do cultivo das plantas. Com o estabelecimento da Escola Politécnica em 1837, o jardim passou a ser administrado por ela, para o ensino da botânica. Em 1918, passou a pertencer ao Instituto Superior de Agronomia. Foi totalmente restaurado entre 1993 e 1997. Possui uma área de 35.000 m², dividida em dois níveis (tabuleiros), com um desnível de quase 7 m entre eles. Sua arquitetura segue modelos renascentistas, mas os ornamentos são tipicamente barrocos, como a fonte central e as escadarias laterais e central. No tabuleiro de cima fica a coleção botânica e o inferior é um jardim ornamental, um jardim de recreio. Há também um arboreto e o jardim das plantas aromáticas e medicinais. Há três lagos, canteiros de porcelana do século XIX e uma fonte do século XVIII. Algumas de suas árvores têm mais de cem anos. Há quatro estufas. A das avencas e a dos pássaros foramconstruídas durante o reinado de dom João VI para o cultivo de plantas exóticas. A das avencas continua sendo usada para o cultivo de plantas ornamentais de interior. A estufa dos pássaros foi restaurada entre 1993 e 1997 e é, hoje, o Restaurante Estufa Real. A das orquídeas foi construída em 1879, por ordem do rei dom Luís I. É semi-enterrada: o isolamento dado pelo solo evita as perdas de calor durante o inverno e o aquecimento excessivo durante o verão. Nela já foram cultivadas 286 espécies de orquídeas. Uma outra, denominada Estufa Dom Luís, da mesma época, é usada para a propagação das plantas. O jardim oferece atividades aos freqüentadores, como demonstrações de técnicas de jardinagem e consultório de plantas. É possível fazer troca de plantas e sementes. São organizadas visitas temáticas para escolas, com temas como árvores, aromas, herbário, hortas e plantas de todo o mundo. O Herbário João de Carvalho e Vasconcelos, que pertence ao Instituto Superior de Agronomia, possui mais de 98 mil exsicatas. Jardim Botânico de Coimbra Universidade de Coimbra Calçada Martim de Freitas Arcos do Jardim 3001-455 Coimbra Portugal http://www.uc.pt/botanica/jardbot.htm http://www.uc.pt/botanica/jardbot.htm Coimbra, no centro de Portugal, tem uma localização privilegiada, sendo ligada ao sul e ao norte do país por uma auto-estrada e uma linha ferroviária. É uma das mais antigas cidades de Portugal, tendo sido um entreposto entre o norte cristão e o sul árabe durante o período em que os mouros dominavam a península Ibérica. A Universidade de Coimbra é uma das mais antigas da Europa. Ela foi autorizada pela Igreja em 1290 e funcionou inicialmente em Lisboa. Houve várias idas e vindas, durante séculos, entre as duas cidades, mas ficou definitivamente em Coimbra a partir de 1537. Hoje, a universidade tem oito faculdades e espalha-se por três pólos. O primeiro é a ala universitária, onde ficam a reitoria e a parte administrativa, as faculdades de Direito, de Letras, de Ciências, entre outras. O segundo é o pólo das engenharias e o terceiro o das ciências da saúde. O Jardim Botânico de Coimbra, fundado em 1772, pertence, atualmente, ao Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra. Na época, com o nome de Horto Botânico, era parte de uma área do Colégio de São Bento. Dois botânicos italianos de Pádua, Giovanni Dalla Bella e Domenico Vandelli, colaboraram em seu projeto – considerado dispendioso demais pelo marquês de Pombal –, e os trabalhos se iniciaram em 1774 com outro, mais modesto. As plantas vieram do jardim do Palácio da Ajuda, em Lisboa. Em 1809, mais uma área foi comprada para ampliar o jardim, que foi sendo embelezado durante muitos anos. Em meados do século XIX, foi construída a Estufa Grande. Sempre houve permuta de plantas e sementes com outros jardins botânicos do mundo. Do Jardim Botânico de Buitenzorg (hoje Bogor), na Indonésia, chegaram sementes de cinchona, uma planta da família das rubiáceas, de cuja casca é extraído quinino. Na época, era importante para combater a malária, que dizimava muita gente em Portugal e respectivas colônias. Hoje, o jardim ocupa uma área de cerca de 140.000 m². Ele foi delineado à maneira italiana, com diferentes níveis, escadarias e avenidas, rodeado de grades de ferro e bronze, com cinco portões. Compreende duas zonas principais, uma mais elevada, no topo de uma pequena colina, ajardinada, e uma em declive, a chamada mata, o arboreto. A zona ajardinada é composta de seis terraços, sendo o inferior denominado Quadrado Central, com traçado dos jardins do século XVIII e uma bela fonte. É o terraço onde são exibidas plantas ornamentais e árvores que datam da época da fundação do jardim. Nos demais terraços, ficam as chamadas escolas, onde as plantas são agrupadas sistematicamente e servem como material de ensino e fornecedoras de sementes. Nesses mesmos terraços ficam as estufas: a Estufa Grande, onde se cultivam plantas tropicais e subtropicais; a Estufa Pequena, que tem um lago artificial, no qual é cultivada a vitória-régia; a Estufa Fria, que fica próxima ao Quadrado Central e abriga plantas de sombra de clima temperado; a Estufa das Reproduções para a multiplicação das plantas. O arboreto, com vegetação densa de árvores exóticas, fica em um vale, onde corria um pequeno riacho. Ele abriga a Capela de São Bento, construção do século XVII. No Departamento de Botânica, situam-se também a biblioteca, os laboratórios, o herbário e o museu. Os laboratórios são utilizados para pesquisa em ecologia, fisiologia, citogenética, taxonomia e bioquímica. A biblioteca abriga mais de 15 mil volumes. O herbário tem uma coleção de mais de 1 milhão de exsicatas. As principais coleções são de Portugal continental e das ilhas, dos países africanos de influência portuguesa e de plantas de todo o mundo. Há também material de Timor. O Museu Botânico foi criado em 1772, pela reforma do marquês de Pombal, como Gabinete de História Natural. No fim do século XIX, foi dividido em três seções correspondentes às grandes áreas das ciências naturais. Hoje, está instalado no prédio do Departamento de Botânica. Possui uma grande coleção de frutos, secos ou conservados em álcool, e muitos outros produtos vegetais. As madeiras originárias do Brasil e de outras antigas colônias também são representadas. Jardim Botânico da Universidade de Lisboa R. Escola Politécnica, 58 1250-102 Lisboa Portugal www.jb.ul.pt jb@fc.ul.pt http://www.jb.ul.pt mailto:jb@fc.ul.pt Lisboa, capital e maior cidade de Portugal, situada na foz do rio Tejo, conta com quatro universidades principais: a Universidade de Lisboa, a Universidade Técnica, a Nova Universidade e o Instituto Superior de Ciências e da Empresa. No século XIX, foram criadas, em Lisboa, a Escola de Medicina, a de Farmácia, a Politécnica e a de Letras. Em 1911, foram reunidas para formar a Universidade de Lisboa, que tem, atualmente, cerca de 20 mil alunos. O Museu Nacional de História Natural, que lhe pertence, é constituído de três departamentos: Botânica (Jardim Botânico), Zoologia e Antropologia e Mineralogia e Geologia. O Jardim Botânico de Lisboa foi fundado em 1873 e inaugurado em 1878, pelo conde de Ficalho, Francisco Manuel de Melo, professor de botânica da Escola Politécnica. O jardim começou a ser organizado, a partir do nível superior, em uma área vizinha da Escola Politécnica. O ajardinamento da parte inferior foi muito lento. Essa área era, na época, uma chácara com oliveiras, vinhas, árvores frutíferas e terreno para cultivo de cevada, milho, fava e batata. A exploração agrícola foi desaparecendo, dando lugar ao arboreto. Na parte superior, chamada de escola botânica, foram colocadas as plantas das principais famílias das dicotiledôneas e algumas gimnospermas. As monocotiledôneas foram estabelecidas na parte inferior. No nível superior foi construída a primeira estufa, em madeira, que deu lugar, mais tarde, ao conjunto de estufas que funcionou até 1962. Em 1966, foi construída a nova estufa. Em torno de 1877, o novo jardim já tinha 10.900 plantas, entre as quais, 1.500 exemplares eram abrigados na estufa – o que representava cinqüenta famílias botânicas. Na escola botânica, 3.400 espécies representavam 157 famílias. O restante eram as plantas da parte inferior e dos viveiros. Em 1877, o jardim passou a receber catálogos de sementes de outros jardins botânicos e, no ano seguinte, fez seu primeiro índice de sementes. Hoje, tem uma área de 40.000 m² e boas coleções de cicadáceas, gimnospermas, palmeiras e figueiras tropicais. Estão referenciadas cerca de 1.500 espécies distintas. No banco de sementes são mantidas as sementes de espécies raras e ameaçadas de extinção. O herbário tem boas coleções de criptógamas, as chamadas plantas inferiores, como musgos, fungos e liquens (iniciadas no século XIX), de plantas superiores (120 mil exemplares) e as chamadas coleções- históricas, com plantas coletadas por naturalistas famosos, portuguesese estrangeiros. O objetivo do jardim é contribuir para o conhecimento científico de plantas e de fungos, para o estudo e a manutenção da biodiversidade, além de aproximar a sociedade das várias espécies de plantas. A Estufa Fria, que fica no Parque Eduardo Prado, não faz parte do Jardim Botânico de Lisboa, mas merece menção. O local era uma antiga pedreira, onde um jardineiro colocou vasos com plantas que iriam arborizar a avenida da Liberdade e lá acabaram ficando. Ela foi inaugurada em 1933, em uma área com pouco mais de 10.000 m². Além dela, estão no local a Estufa Quente, para plantas tropicais, a Estufa Doce, para cactos, lagos, cascatas, viveiros com peixes e um viveiro natural. O recanto abriga um patrimônio rico em espécies exóticas, como as samambaias arbóreas. Bogor e Harvard: primeiros jardins botânicos na Ásia e na América do Norte Jardim Botânico de Bogor (antigamente Jardim Botânico de Buitenzorg) Kebun Raya Bogor Jalan Juanda, 11 Bogor, WJ 16122 Indonesia Bogor é uma cidade da Indonésia, no oeste da ilha de Java, um popular local de férias de verão, com uma população de 3 milhões de habitantes. A ilha de Java ficou sob o domínio holandês desde o século XVII até 1946, quando foi declarada a criação de uma república que, em 1950, passou a fazer parte da Indonésia. Houve duas interrupções do domínio holandês em Java: foi colônia britânica de 1811 a 1815 e colônia japonesa de 1942 a 1945. Ao redor de 450 a.C., Bogor era parte do primeiro reino hindu da ilha de Java e o segundo da Indonésia. Foi a capital da ilha de Java durante a ocupação britânica e a capital dos colonizadores holandeses durante a época das secas e denominada por eles Buitenzorg. No centro da cidade ficam o palácio presidencial, um parque com veados domesticados e o jardim botânico. A Universidade de Agricultura de Bogor, também conhecida como Instituto Pertanian Bogor, é uma das mais importantes da Indonésia. Como colônia holandesa, a Indonésia era uma das principais fontes de produtos agrícolas para a Holanda e para o resto da Europa. Por essa razão, foram criadas, no fim do século XIX, escolas de agricultura, de veterinária e de florestas, de nível médio. No fim da década de 1930, os holandeses decidiram estabelecer um sistema de educação superior na Indonésia. Bogor foi escolhida para sediar a Faculdade de Agricultura, em 1940, e a Faculdade de Veterinária, em 1946, como parte da Universidade da Indonésia. Até o fim da década de 1950, os estabelecimentos eram dirigidos pelo governo holandês. A partir de então, começou a nacionalização das entidades educacionais e os professores holandeses voltaram para seu país. Em 1963, universidades nacionais foram criadas em todas as pro- víncias da Indonésia. Em Bogor, a Faculdade de Agricultura e a Faculdade de Veterinária foram separadas da Universidade da Indonésia e criadas outras três faculdades, sempre ligadas à agricultura. Essas faculdades formaram uma universidade chamada Instituto Pertanian de Bogor, que se tornou autônomo em 2000. O campus principal do instituto fica em Darmaga, cerca de 11 km a oeste de Bogor; os outros, Baranangsiang, Taman Kencana, Gunung Gede e Cilibende, situam-se na área municipal da cidade. O Jardim Botânico de Bogor, um dos mais antigos da Ásia, foi fundado em 1817, como o jardim particular do que é hoje o Palácio Presidencial, usado no verão pelo presidente do país, em cujo parque pastam 250 veados domesticados. Em 1816, foi enviado para Java o professor de botânica de Amsterdã, nascido na Alemanha, C. G. C. Rein wardt, que fundou o Jardim Botânico de Buitenzorg em 18 de maio de 1817. Para ele, o jardim era importante para cultivar as plantas das colônias holandesas e tentar o cultivo de plantas economicamente importantes de outros lugares do mundo. Além disso, o jardim deveria enviar plantas para outros jardins botânicos da Holanda e do resto do mundo. Esse foi o início do desenvolvimento, principalmente da botânica, nas colônias holandesas da Ásia. Em 1822, Reinwardt foi substituído por C. L. Blume, que foi diretor por quatro anos. O jardim evoluiu muito sob a direção desses dois pesquisadores: grande número de espécies passou a ser conhecidas e descritas, e foram introduzidas muitas espécies importantes de outros locais do mundo. Após esse início auspicioso do jardim, devido às guerras internas em Java, o governo da Holanda reduziu verbas e, por quarenta anos, não foi nomeado um diretor e o responsável pelo jardim era o governador militar que ocupava a residência de verão. O jardim só não foi destruído porque um desses governadores foi J. E. Teysmann. Com ele, o jardim voltou a progredir, sobretudo pela coleção de árvores e pela importação de espécies economicamente importantes. Somente em 1868 voltou a ser nomeado um diretor, o botânico R. H. C. C. Sheffer. Com esse diretor, muitas plantas chegaram a Java, entre elas a primeira coleção de seringueiras. Outras plantas foram melhoradas nesse jardim, como mandioca, cacau, tabaco, lichia e chá. No fim de seu mandato, a instituição tinha se expandido muito nos campos da botânica e também da zoologia, agricultura e horticultura. Assim, em 1905, foi criado o Departamento de Agricultura, sendo o jardim botânico uma divisão desse departamento. Por volta de 1910, o jardim tornou-se uma instituição apenas de ciência pura (botânica e zoologia), sem a parte de ciência aplicada. Então, deixou de ser o importante centro de botânica aplicada, que tinha feito sua fama, e passou a ser um jardim botânico como os demais. A separação entre ciência aplicada e pura deixou de existir nos anos mais recentes. Atualmente, o Jardim Botânico de Bogor, que cobre uma área bem grande, possui uma coleção de 17 mil espécies. Há um grande arboreto, com as plantas distribuídas de acordo com as regras atuais de classificação botânica, seções de plantas anuais e perenes, além da seção de trepadeiras. Além disso, há uma grande extensão com a floresta natural preservada, onde as árvores podem ser estudadas em seu ambiente. Na verdade, as árvores são representantes de 15 mil espécies, e há quatrocentas variedades de palmeiras. Há muitas lagoas pequenas cobertas de lótus. O jardim ostenta uma coleção de 170 espécies de plantas medicinais, o que é muito importante, pois mais e mais gente passou a utilizar essas plantas ou seus produtos na cura de muitas doenças. Apresenta também uma coleção de plantas da família das aráceas originárias da Indonésia, como a fantástica Amorphophallus titanum. Há muitas casas de vegetação, onde plantas variadas, como samambaias, são mantidas. Na parte nordeste da área, ficam as orquídeas, distribuídas em duas casas. A primeira é uma antiga casa de vegetação onde é mantida a maior parte da coleção, sendo usada principalmente para pesquisa. Nela, as orquídeas estão agrupadas em três grupos. No primeiro, a coleção é apresentada por gêneros botânicos, para demonstrar a grande diversidade das orquídeas da Indonésia. No segundo, são organizadas geograficamente, a fim de apresentar as espécies encontradas nas principais ilhas do país. No terceiro, são cultivadas mais naturalmente ao ar livre. A outra seção foi aberta ao público em 2002 e funciona como uma área de exposição de orquídeas. Há aqui mais 10 mil plantas dos mais diversos recantos indonésios representando 500 espécies e 95 gêneros. Estão agrupadas em orquídeas silvestres (espécies originais) na parte esquerda e híbridas na ala direita da casa de vegetação. O jardim é uma instituição de pesquisa muito importante, especialmente nas áreas de seleção e de melhoramento de plantas. É, também, um local de visitas, pois apresenta um grande número de atrações para o público em geral. Com o desenvolvimento do Jardim Botânico de Bogor, foram criados o Herbário Bogoriense e o Museu de Zoologia. Devido a mudanças na situação do país, foram transformados em instituições científicas independentes, afiliadas ao Instituto de Ciências da Indonésia.Certas espécies de plantas necessitavam de condições ecológicas especiais e não cresciam bem em Bogor. Para abrigar essas plantas, outros jardins botânicos foram criados. Jardim Botânico de Cibodas, no oeste de Java; Jardim Botânico de Sibolangit, no norte de Sumatra; Jardim Botânico de Purwodadi, no leste de Java; Jardim Botânico de Setia Mulia, Pandang, no oeste de Sumatra; e o Jardim Botânico de Eka Karya, em Bali. O Jardim Botânico de Bogor pretende tornar-se um dos mais importantes jardins botânicos do mundo no que se refere à conservação e à pesquisa de plantas tropicais, educação ambiental e turismo. Tem uma posição importante na luta pela conservação ambiental e, desde 2001, passou a ser o Centro de Conservação de Plantas, em conjunto com os jardins botânicos de Cibodas, Purwodadi e Bali. Jardim Botânico da Universidade de Harvard Arnold Arboretum of Harvard University 125 Arborway Boston MA 02130-3500 Massachusetts Estados Unidos da América arbweb@arnarb.harvard.edu mailto:arbweb@arnarb.harvard.edu Um jardim botânico em que a maioria da coleção de plantas vivas é de lenhosas, em geral é chamado de arboreto. O Jardim Botânico da Universidade de Harvard, o Arnold Arboretum, é o mais antigo dos Estados Unidos. Foi estabelecido em 1872, quando parte dos bens do comerciante James Arnold foi transferida para a Faculdade de Harvard, para que fosse criado um arboreto, que deveria ter, se possível, todas as árvores e arbustos, até mesmo os exóticos, que pudessem crescer ao ar livre. O primeiro diretor, o professor de botânica Charles Sprague Sargent, passou 54 anos moldando e aprimorando a instituição. Em 1885, teve início o plantio permanente de árvores. A coleção foi organizada em famílias e gêneros, seguindo o sistema de Bentham e Hooker (ver [Jardim Botânico de Oxford]). Sargent queria que os visitantes pudessem passear em viaturas pela área e tivessem uma idéia geral da vegetação de árvores e arbustos da zona temperada norte. De acordo com ele, desse modo seriam evitadas as linhas formais de organização de um jardim botânico convencional. Tudo era organizado de maneira a facilitar um estudo das coleções em seus aspectos científicos e pitorescos. Sargent também criou uma biblioteca dedicada à botânica, à horticultura e à dendrologia, além de um herbário com espécimes de plantas lenhosas de todo o mundo. Hoje, o arboreto tem uma área de mais de 1.000.000 m² no setor de Boston denominado Jamaica Plain e é um departamento da universidade. É aberto ao público durante todo o ano. Na década de 1950, o antigo herbário de Sargent foi transferido para o novo prédio do Herbário Harvard, em Cambridge, Massachusetts. Entretanto, hoje há o Herbário de Plantas Cultivadas que continua em Jamaica Plain, com cerca de 130 mil exemplares de origem cultivada, dos quais cerca de 50 mil deles foram cultivados no arboreto durante toda a sua história. O Herbário Harvard, do qual o Herbário de Plantas Cultivadas faz parte, tem mais de 5 milhões de exemplares. Na década de 1950, a biblioteca de Sargent também foi transferida para Cambridge. Hoje, há uma biblioteca com 40 mil títulos no arboreto em Jamaica Plain, administrada pela grande biblioteca da Universidade de Harvard, em Cambridge. Há mais de 10 mil plantas vivas na coleção do arboreto, sendo de muito interesse as espécies lenhosas da América do Norte e da Ásia. Há coleções históricas, como as plantas asiáticas, introduzidas ali por seu primeiro diretor. Um complexo com quatro casas de vegetação foi completado em 1963 e ocupa 348 m². Há também um pavilhão usado para bonsai – durante o inverno, a coleção de bonsai é transferida para uma unidade de armazenamento a frio, com temperaturas um pouco acima da de congelamento. A instituição propõe-se a aumentar o conhecimento da evolução e biologia de plantas lenhosas. Historicamente, a pesquisa investigou a distribuição global e a história evolucionária de árvores, arbustos e trepadeiras, principalmente de espécies do leste da Ásia e da América do Norte. Hoje, tudo continua, com estudos moleculares de evolução e biogeografia das floras da Ásia, Europa e América do Norte. As pesquisas incluem estudos moleculares da evolução de genes, investigam-se as relações entre plantas e água, o monitoramento da fenologia, sucessão vegetal, suprimento de nutrientes, estuda-se a biodiversidade de plantas da região das montanhas Hengduan, na China, a biodiversidade e a biogeografia da Tailândia, a evolução dos sistemas de fitocromo e a filogenia de plantas lenhosas, entre outras. O jardim oferece um vasto programa educativo para alunos de escolas secundárias e o público em geral, através de palestras e cursos teóricos e práticos. Desde 1997, há um curso de horticultura, para criar mão-de-obra qualificada capaz de tratar e manter a coleção de plantas vivas da instituição. Jardins botânicos no século XX Estabelecendo conceitos Quando o astronauta exclamou: “A Terra é azul!”, ele tinha toda a razão. A Terra tem uma cor azul-brilhante quando vista do espaço e isso é devido à presença dos oceanos e à dispersão da luz solar sobre sua atmosfera. Cerca de 70% da superfície do planeta é coberta por água. No entanto, deve-se lembrar que apenas 3% da água do planeta é de água doce, o resto é água salgada. A atmosfera terrestre é formada por uma mistura de gases, principalmente nitrogênio (N 2 ), com 78%, e oxigênio (O 2 ), com 21%. Outros gases comparecem com traços, como o gás carbônico (CO 2 ), além do vapor de água. Aproximadamente um terço da energia solar que chega à Terra é reemitida para o espaço na forma de radiação infravermelha. No entanto, o vapor de água e gases como o CO 2 , o metano (CH 4 ) e o óxido nítrico (N 2 O) prendem o calor na atmosfera, impedindo que toda a radiação da superfície terrestre retorne ao espaço. Esse é um efeito estufa natural, sem o qual a superfície da Terra seria cerca de 30 °C mais fria do que é atualmente. Durante o curso da civilização, o homem foi, antes de tudo, um explorador do meio ambiente, retirando da natureza tudo de que precisava para sua subsistência: alimentos, medicamentos, material para confeccionar vestimentas e fazer abrigos para se proteger ou, ainda, para produzir calor, preparar alimentos ou para se locomover. Assim, por muitos séculos, o homem vem tomando da natureza muito mais do que ela pode repor. Essa situação agravou-se muito a partir da Revolução Industrial (fim do século XVIII e início do XIX). Com a queima de madeira e carvão, para alimentar os fornos das fábricas e gerar energia para o aquecimento e o funcionamento das máquinas, tiveram início as emissões de gás carbônico em quantidades elevadas. Na seqüência, surgiram os motores a explosão – utilizando derivados de petróleo, os combustíveis fósseis, também provenientes de material orgânico –, que contribuíram ainda mais para elevar os índices atmosféricos de CO 2 e dos outros gases do efeito estufa (GEE). Conseqüentemente, o efeito estufa natural, que é benigno e proporcionou o aparecimento das inúmeras formas de vida na Terra, vem se intensificando, resultando em um aquecimento adicional da superfície e da atmosfera da Terra. O aquecimento global está gerando mudanças climáticas, com velocidade e violência muito superiores às previstas pelos cientistas. Em 1972, a preocupação mundial em relação ao meio ambiente levou representantes de vários países a Estocolmo, na Suécia, para discutirem o assunto. Esse tema deixou então de ser preocupação exclusiva dos cientistas para entrar na agenda dos governantes. Para tentar evitar que o aumento adicional das emissões dos gases de efeito estufa pelos homens viesse a colocar em risco a sobrevivência do planeta, foi criado em 1988, no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima, conhecido como IPCC, sua sigla em inglês. A cada cinco anos, é avaliado o conhecimento humano sobre as mudanças climáticasprovocadas pelo aumento dos GEE na atmosfera em conseqüência das ações do homem. Na última reunião, em fevereiro de 2007, em Paris, o quadro apresentado foi bastante pessimista. Nos últimos cem anos, a elevação de 0,74 °C (portanto, menos de 1 °C) provocou diversos desequilíbrios no sistema climático da Terra, como furacões com intensidade muito alta (lembram-se do Katrina, em Nova Orleans?), ondas de calor no hemisfério norte, secas prolongadas na Ásia, monções enfraquecidas e plantas que florescem fora de época. O aquecimento anormal também vem causando o degelo dos lençóis glaciais e a redução das áreas cobertas por neve, nas montanhas Rochosas, nos Alpes, nos Andes, no Himalaia. Prevê-se que o nível do mar será elevado de 15 a 90 cm até 2100, para quando se estima um aquecimento da ordem de 3 °C, com o desaparecimento de ilhas e cidades litorâneas. Encontros de que participam cientistas, governantes e representantes da sociedade civil organizada têm acontecido com certa periodicidade, em razão da gravidade do cenário que se vislumbra para a humanidade. Finalmente se percebeu que o meio ambiente é uma questão a ser tratada política e cientificamente, e com o envolvimento de toda a sociedade. Em 1992, durante a reunião da “Cúpula da Terra”, realizada no Brasil, também conhecida como Rio-92 ou Eco-92, foi assinada a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, tratado ratificado por mais de 170 países ou partes. Essa convenção estabeleceu que os países desenvolvidos deveriam liderar o combate ao aquecimento global e reduzir suas emissões de GEE aos níveis anteriores a 1990. No entanto, a primeira conferência dos países que fazem parte da Convenção Quadro, realizada em Berlim, em 1995, concluiu que os compromissos definidos para os países desenvolvidos eram inadequados. Durante os dois anos seguintes, foi discutido um protocolo que definisse novos compromissos legais para ações a serem implantadas na primeira década do século XXI, com responsabilidades mais severas para os países desenvolvidos. Esse protocolo culminou na Terceira Conferência das Partes, em 1997, em Kyoto, no Japão, quando foi assinado o famoso Protocolo de Kyoto. Os países que o assinaram assumiram o compromisso de reduzir, até 2008-2010, as emissões de GEE em pelo menos 5% em relação aos índices de 1990. A grande discussão, entre ambien talistas, cientistas e governos, é que emissores importantes de GEE, como os Estados Unidos da América, não assinaram esse acordo, principalmente devido a fatores de ordem econômica. Na verdade, em vez de apontar soluções, o Protocolo de Kyoto acabou por gerar apenas debates, impasses e negociações, pois seu cumprimento envolve questões políticas, econômicas, culturais, sociais, tecnológicas e ambientais. Até hoje ele não foi ratificado, apesar dos esforços e da pressão de alguns governos e de muitos cientistas e ambientalistas. Mas qual a relação dessas questões com as plantas? Desde o início do século XVII, sabe-se que as plantas, na presença de luz e a partir da retirada de água do solo pelas raízes e de CO 2 da atmosfera, produzem carboidratos, como a glicose e a sacarose, que são substâncias ricas em energia. A energia liberada pela quebra das moléculas dos açúcares é usada para o crescimento das plantas e para outros processos do seu metabolismo. A transformação da energia luminosa em energia química, pelas plantas, é chamada fotossíntese. Foi a fotossíntese que permitiu o início e o desenvolvimento das diferentes formas de vida superior na Terra, pois, nesse processo, as plantas liberam oxigênio para a atmosfera. Todos os seres vivos que respiram oxigênio dependem das plantas para sua sobrevivência. Foi prevista no Protocolo de Kyoto a possibilidade de as plantas absorverem, através da fotossíntese, parte do CO 2 gerado pelas atividades antrópicas, o que poderia mitigar os efeitos de alteração no clima, sem afetar substancialmente o modelo de desenvolvimento nas regiões mais industrializadas. Assim, haveria um incentivo para o reflorestamento e a conservação da vegetação natural nos países em desenvolvimento, que são aqueles que detêm as maiores áreas naturais de vegetação. Após séculos de derrubada de árvores, a humanidade descobriu que é melhor plantá-las. No entanto, isso não será suficiente para salvar a Terra. Mudanças de atitude e no padrão de vida das populações terão que ocorrer. É no bojo dessas questões que se inserem a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. Diversas organizações têm tido uma atuação forte em temas como a conservação da diversidade biológica e da sustentabilidade dos ecossistemas naturais. Uma delas é a IUCN (sigla em inglês da União Mundial para a Natureza), que agrega, em redes, instituições governamentais e não- governamentais, cientistas e especialistas em conservação para estabelecer prioridades, estratégias de conservação e monitoramento dos ecossistemas e das espécies ameaçadas em todo o mundo. A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, organizada anualmente pela IUCN, contou em 2007 com quase duzentas espécies de animais e plantas a mais do que na lista anterior. Os cálculos são alarmantes: um em cada quatro mamíferos, uma em cada oito aves, um terço dos anfíbios e 70% das plantas já catalogadas estão em risco. A conservação da biodiversidade é, portanto, um tema que deve ser tratado em escala mundial. Uma das atividades específicas da IUCN é o Programa de Conservação de Plantas, do qual faz parte a Estratégia de Conservação em Jardins Botânicos, conhecida pela sigla BGCS. Em 1989, o BGCS desligou-se da IUCN e passou a ser conhecido por BGCI (Botanical Gardens Conservation International). Essa entidade é legalmente registrada no Reino Unido e tem o príncipe Charles, herdeiro da coroa, como seu real patrono. A independência do BGCI permitiu à entidade atuar com mais autonomia e determinação em algumas questões relativas aos jardins botânicos, receber doações e apoios específicos, como o que é dado pelos jardins botânicos de Kew e de Edimburgo. O escritório central do BGCI é em Kew, com representações nacionais nos Estados Unidos e na Rússia e escritórios regionais na China, Colômbia, Indonésia, Holanda e Espanha. O BGCI atua através de um sistema de redes de jardins botânicos que compartilham informações e notícias sobre as diversas atividades que desenvolvem, sempre tendo como objetivos a conservação da diversidade das plantas e a educação. Para o BGCI, isso só será conseguido se houver fortalecimento institucional em cada um e em todos os jardins botânicos. É para atingir essa meta que publica manuais técnicos e guias sobre implementação de políticas para jardins botânicos e seu papel, reintrodução de plantas na natureza, conservação ex situ , educação ambiental, sustentabilidade, programas de computação para o registro de espécimes e coleções, planos de ação para a conservação da diversidade biológica e comercialização de espécies de animais e vegetais em perigo de extinção. Para agilizar o contato e a troca de experiências entre os profissionais que atuam em jardins botânicos, o BGCI promove uma reunião internacional sobre conservação em jardins botânicos a cada três anos. Essas ações do BGCI geraram uma grande reação mundial em cadeia, que resultou na criação de redes nacionais e regionais de jardins botânicos atuando sob a égide da instituição- mãe, em Kew. Os bancos de dados do BGCI listam cerca de 10 mil espécies raras ou ameaçadas de extinção, mantidas em cultivo em jardins botânicos. Portanto, hoje em dia, todos os jardins botânicos devem seguir determinadas regras e obedecer a padrões para serem considerados como tais, sendo o ponto principal ter uma atuação eficaz na conservação de plantas. Nesse processo, seu papel é principalmente o de preservar a diversidade genética e auxiliar o uso sustentável das espécies de plantas e dos ecossistemas em que elas ocorrem. Por que isso é importante? Há váriosmotivos. O reconhecimento do valor da diversidade biológica para esta e para as futuras gerações é valorizado por todos, apesar de os homens viverem há séculos muito além da capacidade da Terra. Estima-se que cerca de 60 mil espécies de plantas estejam ameaçadas de extinção e possam desaparecer nas próximas décadas porque os ambientes em que vivem estão sendo destruídos, sobretudo nos trópicos. O extrativismo de plantas usadas para vários fins, como ornamentais e medicinais, ou mesmo para construção de abrigos para pessoas de baixa renda, está esgotando as populações naturais dessas plantas. Do grande número de espécies das plantas que produzem flores (estima-se esse número ao redor de 300 mil), o homem utiliza em sua alimentação apenas cerca de vinte espécies vegetais para suprir 85% de sua alimentação. Assim, alimentos básicos de muitas populações, como o arroz, o trigo, o milho e a mandioca, já passaram por inúmeros processos de seleção e melhoramento genético, o que praticamente esgotou a capacidade de se modificar essas plantas. Em contraponto, há milhares de espécies ainda desconhecidas da ciência, seja pelas suas características botânicas básicas, seja por sua utilidade potencial para o homem como alimento, como medicinal, como combustível ou qualquer outro emprego. O grande papel dos jardins botânicos, hoje, é integrar ações de desenvolvimento e de conservação, de modo a garantir a conservação dos ecossistemas simultaneamente à sua sustentabilidade. Um jardim é uma paisagem construída. Mas um jardim botânico difere muito de um jardim clássico ou comum, de um parque ou de um jardim público como, por exemplo, o Jardim da Aclimação e o Parque do Ibirapuera em São Paulo, o Jardim de Alá no Rio de Janeiro, o Central Park em Nova York ou o Hyde Park em Londres. Jardins públicos, praças e parques, sejam eles públicos ou privados, são, em sua essência, jardins com plantas dispostas de forma harmônica e refletem, no seu planejamento, conceitos estéticos da época em que se formaram, geralmente seguindo modismos. Países com grande tradição horticultural, como a Grã-Bretanha ou a Itália, possuem centenas de jardins – com estilos variados, contendo espécimes interessantíssimos, às vezes plantas raras, cuidadosamente mantidos – que não são considerados jardins botânicos. Um jardim botânico se distingue de um jardim clássico por suas coleções e exposição de plantas vivas, raras ou comuns, corretamente identificadas. Deve possuir uma coleção documentada de plantas arbóreas e herbáceas que permita a realização de ensino e pesquisas científicas. A disposição das plantas em um jardim botânico tem um planejamento, geralmente seguindo uma seqüência evolutiva, ou por origem geográfica, ou ainda por suas funções e usos específicos. Quando essa coleção é constituída primordialmente por plantas lenhosas, ou seja, por árvores, pode receber o nome de arboreto. O conceito atual de jardim botânico inclui arboretos e outras formas especializadas de coleções de plantas. Todos serão chamados aqui de jardins botânicos. Afinal, o que é um jardim botânico? Essa definição é uma questão ainda aberta, amplamente discutida. De modo geral, jardins botânicos são instituições públicas ou privadas, ligadas ou não a universidades, criadas para manter atividades de ensino e pesquisa e oferecer oportunidades de educação e lazer. A história dessas instituições e a evolução de seu conceito refletem a trajetória da própria humanidade. Criados inicialmente para abrigar plantas que pudessem curar doenças, tornaram-se espaços que detinham o conhecimento e os avanços científicos de cada época. Foram muito importantes no período da expansão geográfica imperialista e à época dos grandes descobrimentos, por receberem amostras das plantas trazidas das terras recém-descobertas no Novo Mundo, na África e na Ásia. Atualmente, são considerados locais essenciais para a conservação da diversidade vegetal. Por ser a Europa o berço da civilização ocidental e de onde partiram os grandes navegantes, explica-se por que a maioria dos jardins botânicos está localizada nesse continente, apesar da maior diversidade de plantas ocorrer principalmente nos trópicos. Assim como as plantas, jardins botânicos também apresentam uma grande diversidade entre si, por suas diferentes origens e finalidades. O conceito atual mais aceito é o de Peter S. Wyse Jackson, que foi secretário-geral do BGCI por vários anos e talvez seja o maior responsável pelo papel atual dos jardins botânicos na conservação da biodiversidade vegetal. Segundo ele, jardins botânicos são “instituições que guardam coleções documentadas de plantas vivas, visando à pesquisa científica, à conservação, à exibição e à educação”.[1] Essa definição, apesar de bem restritiva, reflete com precisão o significado verdadeiro dos jardins botânicos. São reconhecidos cerca de 2.500 jardins botânicos, espalhados por quase 150 países. Aproximadamente 60% deles estão localizados nas regiões temperadas da América do Norte, Europa e nos países que pertenciam à antiga União Soviética. Paradoxalmente, a América do Sul, a África e o Sudeste Asiático, regiões que detêm grande biodiversidade e alto grau de endemismo, apresentam pequeno número de jardins botânicos. Endemismo é um termo da biologia usado quando a distribuição de um organismo é restrita, ou seja, o organismo é encontrado de forma natural exclusivamente em um determinado local, que pode ser o pico de uma montanha, um lago, uma região, uma ilha, um continente. Alguns exemplos de endemismo seriam: certas aves e iguanas das ilhas Galápagos, as sequóias gigantes (Sequoiadendron giganteum), só encontradas na região de serra Nevada, na Califórnia, Estados Unidos; a maior parte da flora da ilha de Madagascar (cerca de 80% das espécies). Acima de 10% da flora (165 espécies) dos arquipélagos da Madeira e das Selvagens é endêmica. Além de espécies, gêneros e mais raramente famílias, subespécies e variedades também podem ser endêmicas. Mas há vários jardins botânicos em construção, como o primeiro jardim botânico de Aman, na Jordânia, que será um dos maiores do mundo e abrigará exemplares da flora silvestre das regiões desérticas do país, além de jardins temáticos, como o de plantas medicinais e um típico jardim islâmico. Dados atuais indicam que são mantidos representantes de mais de 80 mil espécies em jardins botânicos, portanto quase um terço das espécies estimadas de plantas vasculares. Muitas dessas espécies são mantidas em coleções, com curadores próprios, sendo os grupos mais representados os de orquídeas, cactos e outras suculentas, palmeiras e plantas bulbosas. Espécies silvestres, em particular as ameaçadas, diversos tipos de pinheiros, plantas frutíferas, medicinais, as usadas como condimentos e espécies cultivadas por sua importância econômica, também figuram nas coleções. Associadas às coleções vivas de plantas, os jardins botânicos mantêm outras coleções importantes e valiosas, como bancos de sementes e herbários. Como diz o nome, os bancos de sementes guardam representantes das sementes produzidas pelas plantas que crescem no jardim botânico ou que foram coletadas em áreas de interesse e que poderão ser incorporadas às coleções de plantas já existentes no próprio jardim. Com a necessidade de conservação de espécies, os bancos de sementes passaram a ter uma importância vital, pois neles podem ser armazenados milhares de sementes de uma única espécie por períodos muito longos, desde que sejam fornecidas as condições de umidade e temperatura que garantam a sua longevidade. Potencialmente, cada semente pode originar uma nova planta e, como as sementes trazem consigo a variabilidade genética das populações de onde foram colhidas, a diversidade genética da espécie é preservada nos bancos de sementes. Mantidas em embalagens especiais dentro de gavetas ou em câmaras frias, ocupam menos espaço físico do que as plantas que originam, além de exigirem menoscuidados diários. Todas essas características fazem as sementes serem um material excelente para a conservação de espécies. Os diferentes lotes de coletas de sementes são devidamente catalogados e contêm o nome da espécie, o coletor, o local de coleta, preferencialmente georreferenciado (dados de latitude e longitude, determinados por GPS), e outras informações que possam ser relevantes para sua conservação. Periodicamente é verificado o estado fitossanitário das amostras e são realizados testes para monitorar a qualidade fisiológica das sementes. Algumas das sementes preservadas em bancos podem ser doadas ou trocadas por outras, entre os diferentes jardins botânicos, de modo a ampliar o número de indivíduos de uma determinada espécie de planta, disseminando-o por todo o mundo. Para facilitar a divulgação das sementes disponíveis, cada jardim botânico publica periodicamente seu Index Seminum, um tipo de catálogo das sementes disponíveis para intercâmbio. Em geral, os bancos de sementes de jardins botânicos contêm amostras de sementes de espécies silvestres, uma vez que outras instituições mantêm bancos de sementes de espécies de interesse econômico, como arroz, trigo, milho, soja. Exemplos desses bancos seriam aqueles mantidos pela FAO (sigla em inglês da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) em diversos países, onde são preservadas sementes de cultivares e de espécies selvagens das plantas cultivadas mais importantes para a alimentação humana ou animal. No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mantém, através do Centro de Recursos Genéticos (Cenargen), bancos de sementes de espécies de interesse variado, como as oleaginosas, as frutíferas e as medicinais. O banco de sementes de espécies silvestres mais importantes é o do Jardim Botânico de Kew, no Reino Unido, conhecido como Banco de Sementes do Milênio. Projetado inicialmente para armazenar sementes de espécies nativas do Reino Unido, muitas das quais estavam em rápido processo de extinção, passou a abrigar sementes do Sudeste Asiático e de regiões semi-áridas, como África e Oriente Médio. Em seus laboratórios são realizados estudos sobre todos os aspectos envolvidos na conservação de sementes, as quais são disponibilizadas para pesquisas científicas e reintrodução na natureza. O Banco de Sementes do Milênio é aberto a cientistas de outros países e dá assessoramento para a instalação de bancos de sementes. Nos anos mais recentes, o conceito de banco de sementes estendeu-se para outras formas de unidades de dispersão das plantas, como os esporos das samambaias, seguindo os mesmos princípios de conservação e distribuição entre jardins botânicos. No século XVIII e na maior parte do século XIX, a ciência botânica foi dominada pela taxonomia, ou seja, grande importância foi dada para a classificação e a identificação das plantas. Os jardins botânicos passaram a ser valorizados por seus herbários e bibliotecas, depois por seus laboratórios, em detrimento das coleções de plantas vivas mantidas nos jardins. Os herbários são coleções organizadas de plantas secas – devidamente identificadas por especialistas –, essenciais para a pesquisa científica. Sempre que um cientista faz uma pesquisa com plantas, o material vegetal utilizado precisa estar corretamente identificado. Os herbários abrigam excelente material de referência e para estudos científicos. As amostras de plantas, contendo principalmente flores e/ou frutos, que são os órgãos em que se baseia a classificação botânica de uma espécie, são secas, preparadas por técnicas especiais e depois costuradas em cartolina. Nesta, são colocadas outras informações relevantes, como local e data da coleta, observações sobre a planta (se é árvore, arbusto, erva ou trepadeira, altura, cor das flores e frutos, tipo de ambiente em que cresce, nomes populares, usos da planta), nome do coletor e o nome científico. As folhas de cartolina contendo as plantas secas são envolvidas por papel e guardadas em armários de aço, de acordo com os agrupamentos vegetais. Amostras de madeira também fazem parte de um herbário e, nesse caso, são mantidas em caixas de papelão. Frutos e alguns tipos de sementes são preservados em líquidos. Praticamente todos os grupos de plantas podem ser preservados dessa forma. Cada material depositado em um herbário recebe um número. Há livros de registros nos herbários com as informações sobre cada material depositado e seu coletor. A observação desses materiais permite obter informações sobre a planta: o formato e o tamanho das folhas, como elas se inserem no caule da planta, o número e a disposição das pétalas das flores, a ocorrência de pêlos ou espinhos e muitas outras características que permitem aos especialistas dar um nome a cada espécie existente, diferenciando-a das demais. As coleções dos herbários fornecem informações importantes sobre a flora de uma determinada área. Por comparação da quantidade e de quais espécies são coletadas em diferentes épocas, auxiliam o monitoramento e a avaliação da degradação dos ambientes, bem como o conhecimento e a reconstituição do clima de uma região. Materiais depositados em herbários são enviados a especialistas para serem estudados e as duplicatas podem ser doadas a outras instituições. Atualmente, para facilitar a consulta e o trabalho dos botânicos, o material depositado nos herbários é digitalizado e disponibilizado on-line. Dessa forma, um botânico de qualquer parte do mundo poderá consultar um determinado material da coleção de um herbário, sem precisar se deslocar até lá. É interessante mencionar que nas coleções dos herbários europeus há muito material de referência de espécies brasileiras, em decorrência das coletas feitas durante as expedições promovidas pelos jardins botânicos europeus nos séculos XVIII e XIX. Existe um conjunto de características e atividades que definem o que é um jardim botânico. Vamos a elas: Possuir um grau razoável de estabilidade. Manter a coleção de plantas identificadas adequadamente por seus nomes, em placas visíveis, com informações sobre a origem e o habitat silvestre da espécie. Assumir compromissos e responsabilidades de longa duração para com a manutenção das coleções de plantas. Ser aberto ao público. Manter nos seus herbários programas de pesquisa, principalmente em taxonomia. Desenvolver atividades de educação ambiental e de extensão voltadas à conservação para escolas e para o público visitante. Promover o intercâmbio de sementes e de material botânico com outros jardins botânicos e centros de pesquisa. Estabelecer uma base científica consistente para as coleções. Monitorar as plantas nas coleções abertas ao público. Assegurar a conservação in situ das espécies, por meio de estudos da biodiversidade e do uso sustentável dos recursos vegetais. Permitir o acesso de pesquisadores às coleções científicas. Promover o enriquecimento contínuo das coleções e dos bancos de sementes. Participar da formação de recursos humanos em horticultura, paisagismo e botânica. Promover a missão turística do jardim. Fornecer ao público informações sobre plantas em geral e sua importância para o homem. Participar do intercâmbio mundial dos jardins botânicos, por meio de publicações e trocas de informações on-line. Nem todos os jardins botânicos possuem todas essas características. Mesmo assim, continuam sendo considerados como tal e vêm se reformulando para atender, se não a todos, pelo menos à maioria desses critérios gerais e às normas internacionais para conservação da biodiversidade. Além disso, se, por um lado, existem jardins botânicos com excelente infra-estrutura e grande número de funcionários e de atividades, por outro, há jardins com áreas modestas e poucos recursos.Os jardins botânicos, por suas principais características e finalidades específicas, podem ser de vários tipos. No entanto, em um mesmo jardim botânico, suas coleções de plantas específicaspodem configurar um grande mosaico de tipos de jardins. Por exemplo, o Jardim Botânico de Kew possui coleções de plantas ornamentais, de plantas tropicais e de plantas alpinas, entre outras, e nem por isso pode ser considerado um jardim ornamental, alpino ou temático. Alguns tipos de jardins botânicos são: Jardins históricos: remontam aos antigos jardins criados para o ensino da medicina, os jardins de ervas medicinais. Alguns mantiveram seus princípios e propósitos religiosos, pois tiveram início em mosteiros. São de grande importância para a conservação e as pesquisas da flora medicinal e da conscientização do público sobre o uso das plantas para esses fins. Os primeiros jardins de ervas medicinais apareceram na Itália, no século XVI, sendo o primeiro o de Pisa (1543). Após este, outros foram surgindo na Itália e em outros países europeus. Muitos desses jardins existem até hoje, alguns continuando em seus locais de origem. As propriedades das ervas medicinais cultivadas eram conhecidas graças às descrições contidas nos livros dos antigos herboristas, copilados e revisados por cerca de 1.500 anos, a partir da publicação do clássico tratado De materia medica, de autoria de Dioscórides, no primeiro século da era cristã. Outras plantas, cujas propriedades e uso medicinal eram pouco conhecidos, foram introduzidas nesses jardins e estudadas. Assim, teve origem a prática legítima de se manter nos jardins botânicos um número sempre crescente de espécies para serem estudadas. Muitos jardins botânicos europeus tinham esse modelo em sua origem e foram mudando suas funções à medida que se desenvolviam. O Jardim Botânico de Pádua (1545) foi recentemente incluído pela Unesco na lista dos Centros Mundiais de Patrimônio da Humanidade, por constituir um exemplo raro no campo da cultura botânica durante quase quinhentos anos de atividade, influenciando muito o conhecimento. Ele é considerado o berço da ciência botânica, do intercâmbio científico e do conhecimento das relações entre natureza e cultura, tendo contribuído para o desenvolvimento de várias ciências modernas, especialmente os estudos de botânica, medicina, química, ecologia e farmácia. Jardins ornamentais: de grande beleza estética, abrigam coleções diversas e bem documentadas de plantas. Podem ou não desenvolver programas de pesquisa, educação e conservação. Muitas vezes, pertencem a particulares ou constituem um truste. Muitos jardins municipais entram nessa categoria. Jardins de conservação: são jardins criados mais recentemente para atender às necessidades locais de conservação de plantas. Além das coleções de plantas cultivadas, têm áreas com vegetação nativa. Nesta categoria estão os jardins de plantas nativas, os que cultivam as plantas que ocorrem na sua circunvizinhança ou as da flora nacional. Um bom exemplo é o Jardim Botânico de Brasília (JBB), também conhecido como o Jardim do Cerrado. A flora do cerrado é, hoje em dia, uma das mais ameaçadas pela rápida substituição das áreas naturais por centros urbanos e projetos agropecuários. O JBB é uma vasta área natural, com mais de 45.000.000 m², em que a vegetação e a fauna típicas do cerrado são preservadas. Cerca de um décimo da área está aberto à visitação pública. Na área de visitação, destacam-se o Modelo Filogenético, uma coleção de plantas organizada segundo a evolução dos principais grupos de plantas, o Jardim de Cheiros e o Horto Medicinal do Cerrado. O JBB, por meio de um convênio de cooperação técnica com o Cenargen, mantém uma coleção de plantas ornamentais e medicinais do cerrado. Dentre as primeiras, destacam-se orquídeas, bromélias e aráceas, pela sua beleza e potencial comercial. Com relação às medicinais, dez espécies foram consideradas prioritárias para estudos de conservação. Dentre estas, a catuaba (Anemopaegma arvense), o faveiro (Dimorphandra mollis) e o barbatimão (Stryphnodendron adstringens). Jardins universitários: ligados a universidades, mantêm coleções de plantas para demonstração em atividades de ensino e pesquisa. Jardins zoobotânicos: oferecem informações extremamente interessantes para o público, por combinar dados sobre a flora e a fauna e suas inter- relações, como o fornecimento de alimento e de habitats específicos para os animais, a participação de alguns tipos de animais na fecundação das flores e na dispersão de sementes. Realizam pesquisas em botânica e zoologia, possuindo, portanto, herbários e coleções de animais. Jardins agrobotânicos e coleções de germoplasma: apresentam coleções de plantas com valor ou potencial econômico para agricultura. São ligados a centros ou estações experimentais, institutos agrícolas ou de silvicultura. Em geral, não são abertos ao público. Jardins de horticultura: muitas vezes pertencentes a fundações privadas ou sociedades horticulturais, dedicam-se à educação pública e fornecem cursos de treinamento e de formação de jardineiros profissionais que envolvem a propagação de plantas, a conservação de plantas ornamentais, podas, cuidados fitossanitários, adubação. Muitos jardins botânicos dos Estados Unidos enquadram-se nesta categoria. São jardins recentes, criados no século XX. Jardins alpinos ou monteses: localizam-se nas regiões montanhosas da Europa e de alguns países tropicais, e apresentam exemplares de plantas típicos da flora dessas regiões. Mais comumente, são encontradas amostras da flora alpina ou montesa, como em uma das grandes estufas no Jardim Botânico de Kew. As flores de muitas plantas alpinas têm cores vibrantes, essenciais para atrair seus polinizadores, em geral escassos nas altitudes elevadas. Folhas com pigmentos vermelhos também são vistas com freqüência, pois esses pigmentos conferem proteção contra a radiação ultravioleta, além de auxiliarem as plantas a manter a temperatura alguns graus mais elevada em relação à temperatura do ar. Outra adaptação interessante nas plantas de montanhas é a presença de pêlos densos nas folhas, que ajudam a reter à noite o calor absorvido durante o dia. Ali podem ser vistos, por exemplo, exemplares de edelvais, ou edelweiss (Leontopodium alpinum), a flor nacional da Áustria e da Suíça, hoje difícil de ser encontrada nos Alpes. o Jardins temáticos: são especializados no cultivo de plantas relacionadas filogeneticamente ou com características semelhantes ou, ainda, de plantas cultivadas para exemplificar um tema particular. Incluem jardins de orquídeas, palmeiras, rosas, suculentas, medicinais, plantas carnívoras, aquáticas, jardins de sentidos, jardins de borboletas, bonsais, de topiaria, etc. Os jardins botânicos mexicanos têm como prioridade a conservação da flora de seu país, dividindo entre si essa responsabilidade. Assim, um desses jardins conserva a flora de cactos e suculentas; em outro, a coleção é de orquídeas, enquanto, em outro, as plantas da família dos agaves é que são conservadas. Jardins comunitários: são de pequeno porte e recursos limitados, desenvolvidos por e para pequenas comunidades locais, para atender neces- sidades particulares, como recreação, educação, treinamento de horticultura e cultivo de plantas medicinais e outras de interesse econômico. Jardins clássicos de múltiplos fins: são instituições com vasta diversidade de funções e atividades em horticultura, pesquisas diversas, mas especialmente em taxonomia, possuem herbários agregados e laboratórios bem montados, desenvolvem programas de educação para diferentes tipos de público e têm atividades de lazer. São, geralmente, mantidos pelo governo. Nessa categoria enquadram-se os grandes jardins botânicos da atualidade, como os de Kew, Nova York, Edimburgo, Missouri, Paris, Genebra e Madri, bem como alguns da Ásia e da Austrália. A identificação de jardins botânicos com a taxonomia persiste até os dias atuais, sobretudo quando as coleções depositadas em herbários têm importância internacional. Como conseqüência, muitos taxonomistas de renome tornaram-se diretores dessas instituições,mas, por terem seu interesse mais voltado para a ciência, chegaram a negligenciar aspectos como a manutenção física do jardim e a administração das coleções vivas. No contexto da Agenda Internacional para Jardins Botânicos na Conservação, o órgão internacional que fornece as políticas, programas e prioridades para todos os jardins botânicos existentes, a expressão “jardim botânico” inclui arboretos e outros tipos de coleções de plantas. A maioria dos jardins botânicos encontra-se na América do Norte e na Europa, sendo o de Kew, na Inglaterra, e o de Nova York, nos Estados Unidos, os mais importantes do mundo. Jardim Botânico de Kew Royal Botanic Gardens Kew Richmond, Surrey, TW9 3AB United Kingdom Telefone: 020 8332 5655 http://www.rbgkew.org.uk info@kew.org http://www.rbgkew.org.uk mailto:info@kew.org O Jardim Botânico de Kew, além de ser o maior, é considerado o melhor e, por isso, o mais importante jardim botânico da época atual. Sua origem está intimamente ligada à realeza, à semelhança do Jardin des Plantes em Paris, mas de forma diferente. Enquanto este último foi criado por decreto real para fins científicos, os primeiros jardins em Kew foram utilizados durante quase dois séculos como lugar de veraneio dos membros da família real inglesa e para o lazer dos ricos proprietários de terras da redondeza. A história do Jardim Botânico de Kew remonta aos séculos XVI e XVII. O rei Henrique VII construiu o Palácio de Richmond, próximo ao local onde posteriormente o jardim botânico foi implantado. O palácio era usado por toda a corte durante o verão. Sua localização, às margens do rio Tâmisa, era muito conveniente, pois permitia ao rei e seus cortesãos chegarem rapidamente e com mais conforto a Londres, navegando pelo rio, em vez de utilizarem as estradas. A presença da corte levou vários nobres influentes a se mudar para lá, de modo que a pequena vila de Kew, próxima ao palácio, cresceu rapidamente nos cem anos seguintes. Data dessa época o Palácio de Kew – construído em 1631 por artesãos holandeses e, por isso, também conhecido como Dutch House –, que ainda hoje pode ser visto na área do jardim botânico. No entanto, a maior parte da área ajardinada, hoje visitada pelo público, só foi formada mais recentemente. No início do século XVIII, Carolina de Anspach, mulher do rei George II e entusiasta da jardinagem, dedicou-se a desenvolver os jardins de Richmond Lodge, sua residência de campo em Kew. Mas foram seu filho Frederico e a esposa deste, Augusta, príncipe e princesa de Gales e jardineiros dedicados, que iniciaram o que hoje se conhece como o Jardim Botânico de Kew. Em 1759, a princesa Augusta reservou 35.000 m² de suas terras para fazer um jardim botânico. Seu amigo John Stuart, conde de Bute, que estudara botânica no Jardim Botânico de Leiden, Holanda, na mesma época em que Lineu ali trabalhava, passou a atuar como seu assessor de botânica e sir William Chambers, um arquiteto, desenhou várias edificações para o jardim botânico e as áreas de lazer que o circundavam. Bute também era paisagista e trouxe novas plantas para o jardim, além de aumentar o número de jardineiros que ali trabalhavam. Com o falecimento do marido, Augusta herdou Kew e concretizou os planos de ali formar um jardim exótico. Por outro lado, Bute foi nomeado tutor do futuro rei George III. Bute deu início, então, à coleção botânica, que deveria conter plantas do mundo todo. Algumas árvores plantadas nessa época sobreviveram até nossos dias, como uma ginco que data de 1762. Também sobreviveram algumas edificações dessa época, como três pequenos templos, onde as pessoas se sentavam para apreciar o jardim, o Pagode Chinês, com seus dez andares, e o Arco em Ruína, uma imitação de uma ruína romana. Com a morte de Augusta, em 1772, George III herdou o jardim de Kew e incorporou a este as terras de seu avô em Richmond, aumentando significativamente sua área. É por isso que o Jardim Botânico de Kew é conhecido como Kew Gardens, no plural. Sir Joseph Banks, um rico proprietário de terras, aventureiro e apreciador de plantas, passou a ser o diretor extra-oficial de Kew, orientando o desenvolvimento do jardim e recrutando coletores de plantas para viajar pelo mundo à procura de novas espécies. Foi ele quem organizou o transporte por navio de plantas de Artocarpus altilis, a planta que produz a fruta-pão, do Taiti para as Índias Ocidentais, onde seriam cultivadas para alimento dos escravos. O nome da espécie Strelitzia reginae foi dado por Banks em homenagem à esposa de George III, a rainha Sofia Carlota, nascida duquesa de Mecklenburg-Strelitz. Em 1784, William Aiton, responsável pelas primeiras coleções de plantas do jardim, tornou-se jardineiro-chefe de Kew. Durante a primeira metade do século XIX, muitos tipos de plantas foram trazidas de navio para Kew ou saíram de lá para outras regiões, embaladas em caixas especiais de madeira para sobreviver às longas viagens marítimas. Com as mortes de George III e de Banks, ambas ocorridas em 1820, o jardim sofreu um período de declínio e passou aos cuidados da nação. Em 1841, sir William Hooker, seu primeiro diretor, deu uma orientação científica ao Jardim Botânico de Kew, com a criação do herbário, da biblioteca e do Museu de Botânica Econômica para darem informações sobre plantas ao grande público. São dessa época a construção da Estufa de Palmeiras (Palm House) e o início da edificação da Estufa Temperada (Temperate House). Sir William foi seguido na direção de Kew por seu filho Joseph, e este por seu genro, sir William Thistleton Dyer. O Laboratório Jodrell, onde hoje se concentram as pesquisas sobre anatomia, fitoquímica e biologia molecular de plantas, foi inaugurado em 1876, quando sir Joseph Hooker era diretor. Esses primeiros diretores foram de extrema importância para firmar e manter a vocação científica e educacional do Jardim Botânico de Kew, numa época em que havia grande pressão política e popular para tornar a área um mero parque de lazer ou um local para cultivar plantas de valor econômico. Em 1896, foram contratadas as primeiras mulheres para a função de jardineiras, que eram obrigadas a usar roupas discretas, para não provocar seus colegas homens. A contratação de mulheres para serviços de jardinagem foi uma decisão sábia, pois puderam substituir os homens que partiram para a Primeira Guerra Mundial, garantindo a sobrevivência das plantas. Em 1941, uma porção das terras de Kew foi usada para cultivo de plantas de interesse econômico, como parte da campanha “Dig for Victory” [Cave pela Vitória], durante a Segunda Guerra Mundial, para encorajar as pessoas a plantar seu próprio alimento. De forma semelhante, as terras de Kew também foram utilizadas para o plantio de plantas medicinais para a produção de remédios que estavam em falta durante a guerra. Desde 1776, ainda no tempo do rei George III, o Jardim Botânico de Kew é aberto à visitação pública. A parte localizada na área de Richmond era aberta ao público aos domingos e a área de Kew, às quintas-feiras. Em 1865, o jardim era aberto dia riamente, na parte da tarde. Os visitantes do jardim eram principalmente moradores de Londres que faziam a viagem de trem ao campo, numa região próxima e de fácil acesso, e passavam o dia todo entre as plantas do jardim. Em 2007, recebeu cerca de 1.840.000 visitantes, não apenas britânicos, mas gente de todas as partes do mundo. A meta para 2008 é atingir 2 milhões de visitantes. No Jardim Botânico de Kew há 39 edificações, incluindo três das maiores estufas do mundo. Algumas dessas construções têm importância histórica, científica ou para a conservação das espécies de plantas que abrigam. Em Kew, existe tal entrosamento de diferentes atividades que se torna difícil separar a finalidade principal de suas estruturas. Vamos destacar aquelas que nos parecem mais relevantes em relação àqueles três aspectos: a Estufa de Palmeiras, a Estufa Temperada e a Estufa da Princesa de Gales.A Estufa de Palmeiras foi construída entre 1844 e 1848 e marca o ressurgimento do Jardim Botânico de Kew, depois de um período de declínio. Sob a direção de sir William Hooker, o Jardim Botânico vinha apresentando um grande desenvolvimento e necessitava de um chamariz para atrair mais visitantes. A escolha recaiu na construção de uma estufa suficientemente alta para abrigar plantas de grande porte, como as palmeiras. Em 1837, a rainha Vitória ascendera ao trono britânico, ali permanecendo por mais de sessenta anos, um período de grande expansão colonial e industrial. Com a perda das colônias em território americano, os interesses comerciais da coroa britânica voltaram-se para a Índia, a África e o Extremo Oriente. A prosperidade econômica da nação despertou outras paixões em seus cidadãos, como um grande interesse pela natureza e, em especial, pelas plantas de áreas tropicais, com as quais começavam a ter contato. Foi a época da publicação dos trabalhos de Charles Darwin, um dentre muitos que navegaram para regiões longínquas, coletando e trazendo exemplares preservados de animais e plantas para serem incorporados às grandes coleções dos museus e herbários. No projeto da Estufa de Palmeiras, foram contratados um arquiteto paisagista, William Nesfield, e um arquiteto para elaborar o projeto, Decimus Burton. Richard Turner, um irlandês com larga experiência em trabalhos de ferro batido, auxiliou na elaboração do projeto. A estufa foi feita com vigas finas de ferro, resistentes e capazes de agüentar o peso de um grande vão livre sem a colocação de pilares internos para sustentar a cobertura, além de permitir a passagem de mais luz para as plantas. A estrutura metálica foi recoberta por grandes painéis de vidros curvos que receberam óxido de cobre durante sua fabricação, ficando com uma cor esverdeada, prote gendo as plantas dos efeitos da insolação direta durante o verão. Essa estufa tem uma área total de 2.174 m², com 20 m de altura na parte central, e era aquecida por caldeiras localizadas sob a estufa. A fumaça gerada era canalizada e percorria cerca de 150 m até atingir uma chaminé, próxima a um dos portões de acesso ao jardim. Trilhos subterrâneos levavam lenha à caldeira e traziam as cinzas produzidas. Esse procedimento era necessário para manter as plantas aquecidas durante o inverno, uma vez que a maioria delas era originária de climas tropicais. A estufa foi construída ao lado de um espelho d’água, de modo a ficar refletida na água e rapidamente tornou-se um ícone do Jardim Botânico de Kew. As palmeiras atraíam muito interesse na época vitoriana e, em 1882, já havia mais de quatrocentas espécies de palmeiras sendo cultivadas em Kew. Logo outras plantas tropicais juntaram-se a elas, uma vez que, apesar do nome, essa estufa foi concebida para abrigar várias espécies de plantas. Ainda hoje, pode-se observar um exemplar de Encephalartos altensteinii, uma espécie do grupo das cicas, coletado na África do Sul em 1775, que é a planta mais antiga da estufa. Subindo por uma escada de ferro trabalhado, o visitante atinge uma plataforma de metal e pode percorrer as laterais da Estufa de Palmeiras observando as plantas de cima, como se estivesse a olhá-las a partir do dossel da floresta. Dessa perspectiva, pode vislumbrar os três estratos típicos das florestas tropicais: árvores com inúmeras trepadeiras, orquídeas, bromélias e outras epífitas crescendo sobre seus troncos, arbustos e árvores de pequeno porte, e as plantas herbáceas, adaptadas para crescer sob baixa intensidade luminosa. Para se entender o impacto da vegetação dessa estufa para os britânicos, basta lembrar que um hectare (10.000 m²) de floresta no sul da Inglaterra tem entre dez e quinze espécies de plantas superiores, enquanto a mesma área numa floresta tropical tem cerca de quatrocentas espécies! Ao longo do tempo, essa estufa sofreu várias reformas, desde trocas de vidros até do sistema de aquecimento, hoje a gás, com resultados bem mais eficientes para a manutenção das plantas. Com a troca do sistema de aquecimento, o espaço ocupado pelas caldeiras foi liberado e aproveitado para o cultivo de plantas de costões rochosos, manguezais e brejos. Hoje em dia, podem ser vistas na estufa plantas de diferentes origens: sul-africanas, das Américas do Sul e Central, das ilhas do Pacífico, da Austrália e da Ásia, formando uma grande amostra da flora tropical. Há mamoeiros, bananeiras (inclusive produzindo frutos), várias espécies de coqueiros, como o bem conhecido coco e o coco-do- mar (Lodoicea malvidica), famoso por produzir a maior semente conhecida do reino vegetal, árvores de fruta-pão, a seringueira, a planta do urucum, de onde é extraído o colorau, a palmeira triangular Dypsis decaryii, muito utilizada em paisagismo, a trepadeira-jade (Strogylodon macrobotrys), com suas flores de cor verde-jade, inúmeras palmeiras com estipes de 15 m de altura e até plantas de Cola nitida, empregadas na fabricação do famoso refrigerante. A conservação e o inventário de plantas tropicais é uma das principais linhas de pesquisa de Kew. Os botânicos estudam as plantas da Estufa de Palmeiras e fazem observações sobre a época de floração, a estrutura das folhas, flores e do pólen, e a composição química das plantas, além de coletarem material genético para estudos posteriores. Coletam e classificam plantas pelo mundo afora, comparam os exemplares e, incorporando-os à coleção do herbário, podem disponibilizar material para estudos de especialistas do mundo inteiro. A Estufa Temperada, construída entre 1860 e 1898, é a maior do jardim, com 4.880 m², o dobro da área da Estufa de Palmeiras. Diferentemente desta, que tem estrutura curva e conserva em seu interior plantas tropicais, a Estufa Temperada tem um desenho retilíneo e abriga plantas encontradas nas montanhas do Himalaia, nos bosques neozelandeses, na vegetação de carrasco da África do Sul. Essas plantas não sobreviveriam no clima britânico se não permanecessem nessa estufa, sob temperaturas de 6-7 °C durante o inverno. Foi também projetada por Decimus Burton e construída em cinco módulos, como se fossem cinco estufas interligadas. A Estufa Temperada foi completamente restaurada e recebeu um novo paisagismo entre 1978 e 1982, quando foi reaberta oficialmente pela rainha Elizabeth II. As plantas da estufa estão dispostas segundo sua origem geográfica. O módulo mais ao norte abriga espécies da Ásia temperada, especialmente da China e do Japão, como inúmeras espécies de ciprestes e a planta com a qual se fabrica o papel de arroz (Tetrapanax papyrifer). Seguindo a direção sul, encontra- se uma estrutura octogonal em que são cultivadas plantas da Nova Zelândia e das ilhas do Pacífico. Segue-se o módulo central, o maior deles, com árvores subtropicais e palmeiras de várias partes do mundo, como a tamareira e a Jubaea chilensis, dos Andes chilenos, plantada em 1846 a partir de sementes coletadas no Chile e que hoje ameaça atingir os vidros da cobertura da estufa. Outras plantas arbóreas de interesse econômico também estão presentes, como oliveiras, laranjeiras e a árvore de onde se extrai o quinino (Cinchona pubescens). As plantas australianas dessa área sofrem queimadas regulares para reproduzir as condições a que estão sujeitas em seu ambiente natural. A estrutura espiralada das frondes das samambaias arbóreas são mais bem visualizadas da parte superior da estufa. O octógono sul contém uma coleção de plantas dos campos abertos sul-africanos, como Erica e Protea, a flor nacional da África do Sul; na ala sul, sob temperatura mais elevada e menor umidade, crescem plantas da região do Mediterrâneo e da África, como as estrelitzias e um indivíduo masculino de uma cicadácea, trazido da Zululândia em 1895. Esse indivíduo foi o único exemplar de sua espécie até hoje encontrado na natureza, e é um testemunho vivo do papel dos jardins botânicos na conservação da biodiversidade vegetal. Outra espécie interessanteé a Dracaena draco, a árvore-dragão, originária das ilhas Canárias, valiosa pela resina vermelha de sua casca e hoje rara na natureza. Na Estufa Temperada há numerosas plantas que crescem em ilhas e que hoje são extremamente vulneráveis e passíveis de extinção por estarem sujeitas, em seus habitats naturais, a toda sorte de competição por plantas de espécies mais agressivas que foram ali introduzidas. Exemplares de espécies ameaçadas são ali mantidos e propagados com vistas à sua reintrodução na natureza. O nome Estufa da Princesa de Gales é uma homenagem tanto à princesa Augusta, que, no século XVIII, dedicou anos de sua vida ao que viria depois a ser conhecido como Jardim Botânico de Kew, como a lady Diana Spencer, que inaugurou essa estufa em 1986, quando era a princesa de Gales. É uma estufa de desenho inovador, muito moderno, e em sua construção foi aplicada a mais alta tecnologia então disponível para se obter a máxima eficiência quanto à energia e ao controle ambiental. Não existem paredes laterais, apenas painéis de vidro, e boa parte de seu espaço fica abaixo do nível do solo para manter o calor. Aquecimento, luminosidade, ventilação e umidade são controlados constantemente por computadores. Dez tipos de clima são reproduzidos dentro dessa estufa, da aridez à umidade dos trópicos, o que permite ao visitante caminhar por diferentes tipos de ambientes e ter contato com as plantas que crescem em cada um deles. A construção dessa estufa foi necessária para abrigar diversas coleções científicas de plantas vivas, um dos trabalhos mais importantes feitos em Kew, visando à conservação de espécies para as gerações futuras. Na área quente e úmida, é encontrada a vegetação típica de áreas alagadas, como mangues, pântanos e beira de rios. Ali podem ser vistos exemplares de aguapés, que crescem rapidamente em lagos e represas ricos em matéria orgânica, e as vitórias-régias, com suas imensas folhas flutuantes. Também são encontradas plantas úteis originárias dos trópicos úmidos, como bananeira, cana-de-açúcar, mandioca, abacaxi. Há uma coleção fantástica de plantas carnívoras que, com suas folhas e estruturas adaptadas à captura de insetos, atraem a curiosidade de muitos visitantes. A zona árida abriga plantas de áreas de deserto, em particular cactos e plantas suculentas, algumas úteis para o homem, como a babosa, muito utilizada na indústria de cosméticos, a mirra (Commiphora myrrha), os agaves que fornecem o sisal, a figueira-da-índia. Representantes da vegetação das savanas, das florestas de neblina, de habitats muito específicos só encontrados em algumas ilhas podem também ser observados nessa estufa. O Jardim Botânico de Kew tem um papel importantíssimo na conservação de espécies de plantas que foram coletadas pelo mundo afora e adaptadas para crescerem nas estufas, onde podem ser vistas e apreciadas por seus visitantes. Tudo isso tem um custo alto, pois a manutenção das plantas exige condições específicas de calor, luz e umidade, de acordo com os hábitos de vida de cada espécie. Além disso, são necessários grandes espaços para manter os exemplares, seja dentro das estufas, seja em áreas externas. Uma forma eficaz e econômica de conservar plantas é por meio de bancos de sementes. Esses bancos contêm sementes coletadas nos locais em que vivem as plantas que as produzem. As sementes devem ser colhidas de várias plantas diferentes, de modo a garantir a variabilidade genética da amostra. Após a limpeza e a secagem das sementes, elas são armazenadas no banco a temperaturas inferiores a 0 ºC. Nessas condições, as sementes retêm sua capacidade de germinar e podem sobreviver por décadas ou mesmo séculos. Amostras dessas sementes podem ser distribuídas para cientistas e conservacionistas de todo o mundo, para estudos específicos e reintrodução na natureza. O Jardim Botânico de Kew é responsável pelo Banco de Sementes do Milênio, um dos projetos que conseguiu financiamento parcial da Loteria Nacional britânica na virada dos anos 2000, como o Projeto Éden. Esse banco tem como meta conservar sementes de toda a flora nativa britânica e de 10% das espécies de plantas superiores, especialmente as dos trópicos secos, até 2010, o que equivaleria a amostras de sementes de cerca de 25 mil espécies de plantas. O projeto conta com a parceria de instituições congêneres de outros países como Austrália, Índia, Quênia, Madagascar, México, Irã e Síria, e a maior parte das coletas é feita por botânicos locais que receberam treinamento no Banco de Sementes do Milênio. A idéia é treinar pessoas e fixá-las em seus países de origem, de modo a auxiliarem na organização de bancos de sementes locais para conservar as espécies em seus locais de origem. O Banco de Sementes do Milênio foi construído em Wakehurst, a 31 km de Kew. Ali, o clima é diferente, com mais chuvas, e o solo é mais fértil. Em Wakehurst são conservadas plantas nativas britânicas e muitas das coleções exóticas do Jardim Botânico de Kew que foram transferidas para lá. O prédio do banco tem um grande espaço subterrâneo, onde as sementes são conservadas em gavetas de aço colocadas em câmaras especiais com controle de temperatura e umidade. Há espaço para limpeza e secagem de sementes, além de laboratórios para testes de viabilidade e outros estudos em sementes, como pesquisas sobre métodos de conservação de embriões isolados, quando a semente não suporta as condições usuais de armazenamento. O local pode ser visitado pelo público que, andando entre os diferentes blocos, pode acompanhar o trabalho dos cientistas do banco e de países colaboradores do projeto. Pode-se perceber que os cientistas de Kew atuam em vários campos de pesquisa, desde a classificação das plantas até sua conservação ex situ e in situ, e são responsáveis por manterem um grande número de plantas crescendo nas diferentes coleções. Coletam plantas em todos os lugares do mundo, especialmente em ambientes sob ameaça, nos quais as espécies de plantas poderão ser extintas. Dão treinamentos específicos a pesquisadores de várias partes do mundo que visitam as coleções do herbário para estudar grupos de plantas de floras regionais. As atividades de educação ambiental na área do jardim são muito interessantes e atraem milhares de estudantes a cada ano. Apenas para lembrar algumas, estudantes passeiam pelas estufas de plantas de clima tropical portando fones de ouvido para escutar os ruídos da mata que estão conhecendo: insetos voando, grilos, pássaros, sapos. Até tabuada se pode aprender em Kew, por exemplo, examinando flores de uma monocotiledônea em que as partes das flores são sempre múltiplos de três. Formalmente, o Jardim Botânico de Kew está ligado ao Ministério da Agricultura britânico, de onde vem parte de seu orçamento. O resto é complementado com a arrecadação obtida pela venda de ingressos, locação de áreas para eventos, fundos levantados com empresas e doadores particulares e uma Fundação de Amigos do Jardim, que é bastante ativa e competente para levantar os fundos necessários para o cumprimento de todas as atividades. Todos esses aspectos fazem do Jardim Botânico de Kew o mais importante entre todos os jardins existentes. Jardim Botânico de Nova York Bronx River Parway (Exit 7W) at Fordham Road Bronx, New York 10458-5126 Telefone: 718 817 8700 http://www.nybg.org http://www.nybg.org Em 1888, o casal de nova-iorquinos Elizabeth Knight e Nathaniel Lord Britton decidiu passar sua lua-de-mel na Inglaterra e conhecer museus e outros espaços culturais. Como botânicos, os Britton visitaram o Jardim Botânico de Kew, em Londres, não apenas como turistas, mas também por seu interesse nas plantas medicinais. Ficaram tão impressionados pela beleza dos canteiros e das estufas que, ao retornarem a Nova York, Elizabeth Britton proferiu uma série de discursos apaixonados para vender a idéia de que a cidade em crescimento necessitava ter um jardim botânico nos moldes de Kew. O casal Britton erabem relacionado na sociedade local e no meio científico, e, com o apoio dos jornais, foi iniciada uma campanha para concretizar essa idéia. Em abril de 1891, o estado de Nova York aprovou o uso de 1.000.000 m² na região do Bronx, extremo norte da cidade, para o jardim botânico. A Prefeitura de Nova York concordou em passar 500 mil dólares para a construção de prédios e o paisagismo do jardim, desde que 250 mil dólares fossem conseguidos de fundos privados. Milionários como Carnegie, Vanderbilt e P. J. Morgan, três dos homens mais ricos e poderosos do país, doaram altas quantias de dinheiro e convenceram amigos a fazerem o mesmo. Assim teve início o jardim botânico, com uma excelente base financeira e o envolvimento da elite intelectual e financeira de Nova York. Até hoje, após mais de cem anos de vida, o Jardim Botânico de Nova York ainda é, em grande parte, sustentado por doadores particulares, uma vez que o governo cobre apenas 20% dos custos. No início de 1896, Nathaniel Lord Britton deixou seu emprego de professor na Universidade de Colúmbia e foi nomeado diretor do Jardim Botânico. O planejamento do jardim foi feito por Calvert Vaux, que também participou do projeto do Central Park de Nova York. Vaux faleceu prematuramente e os Britton e alguns colegas, como Samuel Parsons Jr. e John R. Brinley, assumiram o paisagismo e os projetos de arquitetura. Decidiram preservar uma área com vegetação nativa ao longo do rio Bronx e implantar o jardim na parte oeste, mais plana. Já no ano seguinte, mais de 1.500 plantas herbáceas cresciam no jardim. As maiores e mais importantes edificações, a Biblioteca e a Grande Estufa, foram construídas em lugares mais afastados, já prevendo a quantidade de visitantes que o jardim viria a receber. O plano original foi feito aproveitando os recursos paisagísticos já existentes. Não foi preciso deslocar pedras e rochas, cavar vales, construir lagos, elevar colinas. A paisagem natural, suficientemente pitoresca, só foi adaptada para acolher as diferentes coleções. Como a área é extensa, dificilmente se consegue conhecer o jardim em uma única visita. São cinqüenta áreas ajardinadas e coleções, além de uma floresta primária, onde crescem vários exemplares de carvalhos, uma amostra da vegetação que, tempos atrás, cobria a cidade de Nova York. Apesar de seu marido se envolver em todas as questões relativas ao jardim, Elizabeth Britton também deixou sua marca pessoal. Além de ser uma especialista em musgos, que coletava e classificava, tendo publicado uma série de trabalhos sobre esse grupo de plantas, foi uma voluntária devotada que promovia encontros na hora do chá da tarde para trazer novos doadores. É por isso que inúmeras edificações e coleções de plantas receberam o nome de seus patrocinadores, como o Jardim de Rosas Peggy Rockefeller, o Jardim Perene Jane Watson Irwin, a coleção Benenson de Coníferas Ornamentais, o Arboreto de Coníferas Arthur e Jane Ross. Grande parte das coleções de plantas está disposta em canteiros, ao ar livre, especialmente as plantas que têm comportamento sazonal. Com invernos rigorosos, há necessidade de se refazer esses canteiros a cada ano, o que é um gasto enorme de dinheiro e exige muita mão-de-obra. Desse modo, cerca de 15 mil bulbos de tulipas têm que ser enterrados na época certa para ficarem expostos a alguns dias de frio durante o inverno e virem a florescer no início da primavera. Após a floração, os bulbos são recolhidos e as tulipas substituídas por zínias e peônias, plantas anuais que morrem após florescer. Desse modo, há uma renovação contínua das plantas dos canteiros, de modo a sempre haver plantas floridas na primavera, verão e início do outono. Mesmo durante o inverno são encontradas plantas em flor, como as camélias e os abricós japoneses, que emprestam seu perfume à paisagem coberta de neve. O Jardim de Ervas, no verão, apresenta cerca de 150 espécies utilizadas como medicinais e em culinária. Ali, as plantas são cultivadas em canteiros, à semelhança dos antigos hortos medicinais europeus. O aroma das plantas é muito agradável, especialmente nos dias mais quentes. Próximo, encontra-se o Arboreto de Coníferas, muito visitado durante o inverno, uma vez que as árvores, cobertas de neve, são um belo espetáculo. Há espaços no jardim reservados para o cultivo de plantas perenes que crescem bem à sombra ou sob sol intenso. A Grande Estufa (Great Conservatory) é um dos símbolos do Jardim Botânico de Nova York. É uma casa de vegetação vitoriana, com desenho inspirado na Estufa de Palmeiras do Jardim Botânico de Kew. Muitos acreditam ser até mais bonita do que a estufa inglesa, devido ao desenho elegante de sua estrutura. Essa estufa, em volta da qual todas as outras edificações foram sendo construídas, simboliza o compromisso do Jardim Botânico de Nova York com educação e conservação de plantas. A empresa Lord & Burnham, que desenhava e construía casas de vegetação para a aristocracia norte-americana, foi responsável pela obra. É a melhor amostra americana do estilo dos palácios de cristal da Inglaterra e da Irlanda de meados do século XIX. Concluído em 1902, esse Palácio de Cristal tem 4.050 m² (1 acre americano) de área e o domo central, 30 m de altura, ideal para conter em seu interior plantas arbóreas e palmeiras. A estufa tem a forma de um “C” retilíneo e simétrico, com diversos jardins e espelhos d’água interligados. Foi aberta ao público em 1900 e milhares de pessoas faziam filas para conhecer seu interior, com cerca de 9 mil plantas tropicais que foram trazidas da Universidade Columbia. Várias doações de plantas foram feitas, como palmeiras, seringueiras, samambaias arbóreas e orquídeas, o que tornou possível inaugurar a estufa com um gasto irrisório de dinheiro para deixá-la repleta de plantas. Essa estufa atraía muita curiosidade pelo exotismo de suas plantas, de diferentes regiões climáticas, como a floresta pluvial tropical de terra baixa e alta, desertos da América e da África. Se alguns se sentiam estranhos em meio a essa diversidade de plantas, outros se sentiam à vontade em seu interior, como um leão que, em 1916, escapou do vizinho jardim zoológico e acabou sendo encontrado e capturado dentro da estufa, sobre uma árvore no domo central. Plantas tropicais exigem temperatura alta e condições de muita umidade para seu crescimento. Quando são cultivadas em estufas, o somatório dessas condições causa o aparecimento de ferrugem na estrutura de ferro e apodrecimento nas vigas de madeira. Por esse motivo, a Grande Estufa sofreu três grandes reformas estruturais desde a sua inauguração, em 1935, 1953 e 1975, quando a estufa quase veio abaixo. Naquele ano, a cidade de Nova York estava passando por uma crise fiscal e financeira, e a quebra de alguns bancos parecia iminente. O governo ofereceu uma pequena quantia para a reforma, insuficiente para cobrir grande parte dos gastos. Os membros da diretoria do jardim botânico foram bater às portas de investidores privados para conseguir o dinheiro para as obras de recuperação da estufa. Foi quando a sra. Enid Annenberg Haupt, herdeira de uma editora, entrou em cena e fez uma doação de 5 milhões de dólares para a reforma e outro tanto para um fundo de manutenção. Vinte anos depois, em 1995, essa estufa necessitou de outra reforma, dessa vez num valor de 25 milhões de dólares. Novamente a sra. Haupt fez uma doação e outros filantropos a acompanharam, assim como alguns segmentos do governo, o que permitiu a recuperação completa da estufa, com a instalação de um novo sistema de aquecimento e ventilação, além da recuperação do delicado trabalho de filigrana de sua fachada, que a faz uma das construções mais bonitas em jardins botânicos do mundo todo. E a sra. Haupt será para sempre lembrada, uma vez que a Grande Estufa passou a ter seu nome. Uma das características mais interessantes desse jardim botânico é seu envolvimento com atividades educacionais. Não há melhor lugarpara se aprender sobre plantas e seu papel para a vida na Terra. A educação sempre ocupou uma posição importante nele, desde sua fundação. Enquanto os primeiros jardins botânicos se voltaram para as coleções de plantas medicinais e sua propagação, e depois para a exploração científica e o estudo das plantas da flora mundial, nos Estados Unidos essas instituições se voltaram para a jardinagem, a horticultura e a educação. É reconhecido que a contribuição mais significativa dos jardins botânicos norte-americanos ocorre no campo educacional. Os Britton criaram programas de palestras para o grande público e grupos de estudantes aprendiam botânica no jardim, observando plantas do mundo todo. Ao longo dos anos, gerações de crianças nova-iorquinas visitam o Jardim Botânico e ali aprendem a conhecer as plantas e a natureza. A Grande Estufa é utilizada para expor plantas e flores de todos os tipos e lugares do mundo, com informações acessíveis ao público sobre sua ecologia, conservação e importância para a pesquisa científica. Os programas desenvolvidos estão fortemente relacionados ao currículo das escolas públicas e complementam o conteúdo das aulas dadas em classe. Deve ser levado em conta que o Bronx é uma área pobre, onde tanto famílias como escolas contam com poucos recursos. Há atividades dinâmicas antes e após as visitas para introduzir temas e, assim, preparar os alunos para as ações que irão desenvolver e que depois terão continuidade em classe ou em suas casas. Todo o material didático está disponível on-line, para facilitar o acesso a professores e aos pais dos alunos. Nessa vertente, existem no Jardim Botânico de Nova York espaços criados especialmente para crianças e escolares. Em uma grande área (4,8 ha), foi implementado o que é conhecido como o Jardim Everett de Aventuras para Crianças, onde elas são estimuladas a olhar, tocar e explorar as plantas. Há três labirintos, com seixos, grama e cercas baixas de madeira que convidam as crianças a brincar de esconde-esconde, um modo de deixá-las à vontade e prepará-las para as descobertas que serão feitas durante o período em que estiverem no jardim botânico. São organizadas exposições interativas, nas quais as crianças aprendem conceitos básicos de botânica, utilizando elementos lúdicos como topiarias e os já mencionados labirintos, que capturam a atenção dos pequenos e criam uma atmosfera de exploração e diversão. A jardinagem também é ensinada às crianças em espaços criados e mantidos por elas, onde podem cavar, retirar ervas daninhas, adubar e plantar. Os programas para crianças incluem atividades ao ar livre e em salas equipadas como pequenos laboratórios, onde fazem observações ao microscópio e aprendem que fazer perguntas é o início de toda ciência. Ao ar livre, há várias propostas, tais como utilizar os diferentes órgãos dos sentidos para explorar o jardim, uma jornada através dos ciclos de vida das plantas, as interações entre plantas e animais, o papel do Sol no crescimento e na vida das plantas. Uma das atividades de maior sucesso é a “Aventura do chocolate e da baunilha”. No Jardim da Aventura, as crianças aprendem sobre sua história e procedência e como se transformaram nos produtos que conhecemos e apreciamos. Examinam as sementes de cacau e as vagens da baunilha onde estão as sementes, preparam um chocolate quente usando ingredientes que os maias utilizavam e comparam com o chocolate quente dos tempos atuais, que bebem em suas casas. As mudanças sazonais também são usadas para ensino. No outono, as mudanças da coloração das folhas são acompanhadas pelas crianças; elas passam a examinar o folhedo que vai se depositando sobre o solo, descobrem animais que começam a se preparar para o inverno, examinam sementes e especulam sobre os benefícios ou problemas da germinação nessa época do ano. Na primavera, observam o despertar da natureza, o ciclo de vida das borboletas e seu papel na polinização das flores. No verão, as crianças exploram os lagos do jardim, as plantas e os pequenos animais que ali vivem e descobrem como a água é vital para os seres vivos. Outra edificação importante é o prédio da biblioteca, que simboliza a missão acadêmica e científica do jardim botânico. Esse edifício foi projetado por Robert Gibson em 1901, em estilo renascentista italiano, com colunas coríntias e um domo com telhado de cobre esverdeado. Uma aléia de ciprestes italianos termina numa majestosa fonte, bem em frente de sua entrada principal. Conhecida como a Fonte da Vida Lillian Goldman, as esculturas e o desenho do conjunto são do escultor Charles E. Tefft, inspirados nas fontes romanas. Algumas preciosidades dessa biblioteca são uma edição da obra De historia plantarum, de Teofrasto, publicada em 1522, e uma antiga farmacopéia de Dioscórides contendo anotações feitas durante suas viagens com o imperador romano Nero em uma edição publicada em 1529, livros com ilustrações botânicas originais. Gravuras, aquarelas e pinturas a óleo de plantas e sobre jardinagem e horticultura também compõem o acervo. O Jardim Botânico de Nova York possui um intenso programa de trabalho voluntário. Não é exigida experiência prévia de quem se candidata a trabalhar como tal em muitas das possíveis atividades, pois são dados treinamentos específicos. O voluntário pode ter atividades de monitoramento, ao guiar grupos pelo jardim, sejam eles de adultos ou crianças; de horticultura e jardinagem, trabalhando nos canteiros; de ensino para as crianças nos programas especiais criados para elas; de auxílio na manutenção de livros e documentos da biblioteca; de atendimento a fregueses nas lojas do jardim. Como seu orçamento é pequeno para atender a todos os seus programas, o trabalho voluntário é muito bem recebido e realmente cobre a falta de funcionários contratados, uma prática que poderia ser adotada por outros jardins que têm problemas semelhantes de falta de pessoal. O Jardim Botânico de Nova York, à semelhança do de Kew, possui um corpo de cientistas de plantas altamente competente e envolvido no problema da conservação mundial das espécies ameaçadas de plantas. O herbário tem mais de 7 milhões de espécimes que documentam a vegetação passada e presente de grande parte do nosso planeta, com material coletado desde o século XVI e um incremento anual de 50 a 70 mil espécimes. É o quarto maior herbário do mundo e o maior do hemisfério ocidental, sendo especialmente forte em representantes da flora das Américas. As coleções incluem todos os grupos do reino vegetal: plantas com flores, gimnospermas, samambaias, musgos, hepáticas, algas, além de fungos e liquens. Os exemplares de plantas existentes no herbário são referências importantes para os especialistas em todos os grupos de plantas, em particular os que estudam as famílias botânicas das compostas (à qual pertencem os girassóis), das leguminosas (como o feijão e a soja) e das rubiáceas (como o café). A coleção do herbário é resultante em boa parte das inúmeras expedições científicas de coleta feitas pelos botânicos do jardim, mas também foram conseguidas por doações, por compras ou mesmo trocas com outros herbários, uma prática comum entre essas instituições. Mais de 13 mil novas espécies de plantas foram descritas pelos cientistas do Jardim Botânico de Nova York. Nos tempos antigos, os cientistas faziam as viagens de coleta de material botânico levando ilustradores que iam desenhando os espécimes que eram coletados. Anotavam informações em cadernos de campo, descrevendo os locais de coleta que, na ausência de mapas acurados, muitas vezes eram mencionados pelo tempo que se levava, a pé ou a cavalo, de uma localidade conhecida até encontrar a planta na natureza. Atualmente, essas excursões são feitas em jipes ou helicópteros equipados com câmaras digitais, e laptops e GPS (Global Positioning System) utilizando bancos de dados e imagens de satélite. O material botânico coletado é preparado para estudos posterioresem laboratórios de biologia molecular que irão fornecer dados mais acurados sobre ele e suas relações evolutivas com outras plantas. São também estudadas as relações entre as plantas e seus polinizadores e dispersores de frutos e, pelos etnobotânicos, os diferentes usos das plantas pelas populações nativas para alimentação, remédios ou uso em cerimônias. Uma amostra do material coletado é sempre depositada em um herbário da região de coleta para atender a estudos de interesse local e dar treinamento a futuros botânicos. Como o único método de identificação de plantas ainda é o exame visual do material, o Jardim Botânico de Nova York iniciou, em 1995, a catalogação eletrônica do herbário. Hoje, no herbário virtual, já há perto de 1 milhão de entradas de espécimes, em imagens digitalizadas com alta definição, passíveis de ser acessadas por qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Dentre elas, um catálogo de plantas do Nordeste do Brasil, uma região sujeita a fortes impactos ambientais que estão afetando a sobrevivência de inúmeras espécies. Essa quantidade de dados pode fornecer informações de interesse; por exemplo, quais os tipos de organismos que crescem em determinados ambientes e predizer os efeitos da interferência humana nesses ambientes. Até o início deste século, mais de 2 mil expedições científicas pelo mundo foram feitas pelos botânicos do jardim e centenas de pesquisadores concluíram lá seus estudos de pós-graduação. Existe colaboração de seus cientistas com botânicos de outros jardins, universidades e instituições de pesquisa do mundo todo. Há grande interesse pelas plantas do sudoeste da região amazônica, menos conhecido. As coletas de plantas ali realizadas geraram inúmeras publicações de interesse. Há coletas extensivas também na Guiana Francesa e em Bornéu e nos Andes equatorianos e peruanos. Apesar da entrada em cena nos anos mais recentes das técnicas da biologia molecular, permanecem no ar as mesmas perguntas que os botânicos sempre se fizeram: Como as plantas evoluíram em nosso planeta? Como podem ser úteis para o homem à medida que acumulamos conhecimento sobre elas? Como podemos promover sua real conservação em todo o mundo, apesar das ameaças constantes que sofrem? [1] P. S. Wyse Jackson, “Experimentation on a Large Scale: an Analysis of the Holdings and Resources of Botanic Gardens”, em BGCNews, 3 (3), Londres, 1999. Jardins botânicos brasileiros O Brasil possui um pequeno número de jardins botânicos, se for levada em conta sua vasta extensão territorial e a grande diversidade de plantas, bem como os diferentes biomas aqui representados. Em 2008, a Rede Brasileira de Jardins Botânicos conta com 34 jardins botânicos registrados. Destes, dezessete estão inscritos nas Normas Internacionais para Conservação em Jardins Botânicos, o que indica haver um compromisso formal dessas instituições com a conservação de plantas, conforme atualmente é entendida em escala global. Hoje em dia, a conservação de plantas é assunto de interesse mundial e como tal vem sendo tratada. O órgão que estabelece normas e regras para que a conservação de plantas seja um processo eficaz e bem-sucedido é o BGCI, que tem sede no Jardim Botânico de Kew, no Reino Unido. O BGCI procura oferecer meios para que todos os jardins botânicos compartilhem experiências e informações que possam contribuir para a conservação de plantas e a educação, esta última primordial para a efetiva manutenção das espécies no nosso planeta. O BGCI atua através de redes regionais e nacionais de jardins botânicos criadas nos diferentes países. Edita uma série de publicações, como livros, manuais técnicos e guias para a implantação de políticas de atuação dos jardins botânicos, da reintrodução de espécies em seus ambientes originais à educação voltada para a sustentabilidade das áreas naturais. Fornece programas para computadores para o registro de espécies e monitoramento de coleções e apóia planos de ação regional voltados para a conservação. A cada três anos são feitas reuniões internacionais, nas quais são discutidos os progressos alcançados, as dificuldades encontradas e as possíveis soluções para a efetiva conservação de espécies de plantas. Projetos de educação são indissociáveis do processo de conservação da biodiversidade e merecem atenção especial do BGCI, que promove encontros específicos para tratar do assunto. Em 2001, o BGCI estimou em 80 mil o número de espécies e em 6 milhões o número de acessos (espécimes) de plantas vivas cultivadas em jardins botânicos em todo o mundo. Como a maioria dos jardins botânicos encontra-se na América do Norte e na Europa, é fácil concluir que há necessidade de criação de jardins botânicos em áreas tropicais. Mas não basta criá-los. É preciso que sejam instituições fortes, capazes de contribuir de fato para a conservação da flora e para o conhecimento de seu valioso patrimônio genético. A Rede Brasileira de Jardins Botânicos, criada em 1991, é uma das redes de atuação ligadas ao BGCI. Tem finalidades semelhantes às daquele, atuando firmemente no fortalecimento dos jardins botânicos nacionais. Estima-se que, atualmente, cerca de 3 mil pessoas, entre pesquisadores e técnicos, trabalhem em atividades relacionadas a jardins botânicos no Brasil. Dezesseis estados brasileiros e o Distrito Federal contam com jardins botânicos. Só no estado de São Paulo, há nove jardins botânicos; no entanto, eles não existem nos estados do Amapá, Acre, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Piauí, Alagoas, Maranhão e Sergipe. A Região Norte, a maior em extensão e onde está situada a maior parte da Amazônia, conta com apenas três jardins botânicos, dois deles no Pará. Em toda a Região Nordeste, há cinco jardins botânicos; na Região Centro- Oeste, onde se localiza a área central do cerrado, há três jardins botânicos, o maior deles no Distrito Federal; na Região Sudeste, são dezesseis e na Região Sul, sete. Muitos dos jardins botânicos brasileiros possuem áreas de vegetação nativa próximas de seus locais de visitação propriamente ditos, na forma in situ de conservação. Neles, o público pode ter contato, mesmo em áreas urbanizadas, com amostras da vegetação que foram perdidas devido à interferência dos homens. Aqui, cabe lembrar o Jardim Botânico de São Paulo, com sua área de mata atlântica com trilhas que podem ser percorridas pelo público, apesar de localizado numa zona fortemente atingida pelo crescimento da cidade. A vegetação de cerrado, com suas diversas fisionomias, aparece bem conservada na Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília e no Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte. Com relação à representatividade de espécies de plantas nativas nos jardins botânicos brasileiros, foi feita há alguns anos uma avaliação procurando relacionar os biomas brasileiros e a existência de jardins botânicos em suas áreas de ocorrência.[1] A mata atlântica, reduzida hoje a cerca de 8% de sua extensão original, é uma das áreas mais ameaçadas do mundo, constituindo um hot spot por abrigar inúmeras espécies endêmicas cuja conservação é premente. Ali, tem- se onze jardins botânicos implantados, desde os situados ao nível do mar (JB do Rio de Janeiro, JB de Pipa) como em altitudes mais elevadas (JB de São Paulo, JB de Curitiba). Apesar de a caatinga apresentar uma vegetação de grande beleza, fortemente dependente do regime das chuvas, estendendo-se pelos estados do Nordeste e parte de Minas Gerais, carece de jardins botânicos que poderiam mostrar plantas de interesse para o homem, utilizadas há gerações como medicinais, na culinária, em ritos religiosos ou em diferentes tipos de artesanato. Diversos exemplares de espécies arbóreas da Amazônia estão representados nos três jardins botânicos que ali se encontram e também em outros jardins do país e do exterior. O cerrado, hoje reduzido a 20% de sua extensão original e com uma grande diversidade florística, abriga sete jardins botânicos,todos com áreas associadas de vegetação nativa representativa de suas diversas fisionomias. Na região do Pantanal, há apenas um jardim botânico, recentemente implantado e nenhum nos campos sulinos que pudesse mostrar a vegetação predominantemente herbácea e com alta diversidade. No que se refere às coleções de plantas mantidas nos jardins botânicos brasileiros, portanto na forma ex situ de conservação, algumas famílias botânicas estão muito bem representadas, possivelmente por serem grupos de plantas freqüentes na flora do país. Destacam-se as orquídeas, as bromélias, as palmeiras, as cactáceas e as pteridófitas (samambaias). Outra forma de estabelecer coleções de plantas vivas, adotada por alguns jardins botânicos do país, é por coleções temáticas, como as de plantas aquáticas, insetívoras (carnívoras), suculentas, medicinais, aromáticas. Também pode haver coleções por ecossistema, como as de plantas da mata atlântica, do cerrado, da caatinga. De modo geral, o enfoque principal da conservação de plantas nesses jardins é sempre a flora nativa e, especialmente, a flora de onde está situado um determinado jardim botânico. Dentre os jardins botânicos que exibem plantas regionais conservadas, destacam- se o Museu Paraense Emílio Goeldi, o Jardim Botânico de Brasília, o Jardim Botânico de Pipa, no Rio Grande do Norte, o Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, no Espírito Santo. Coleções de plantas são imprescindíveis para o estudo da biodiversidade vegetal. O material depositado nos herbários fornece informações valiosas para qualquer botânico, desde o local de ocorrência de determinada espécie até a época de sua floração e o ambiente em que vive. Essas coleções de plantas preservadas são encontradas associadas aos grandes jardins botânicos do mundo, como o de Kew e de Nova York. Também no Brasil isso acontece. Os três maiores herbários do país, o do Museu Nacional, com 500 mil exemplares, o do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com 350 mil exemplares, e o do Instituto de Botânica de São Paulo, com 320 mil exemplares, são instituições com jardins botânicos vinculados às suas atividades. A informatização dessas coleções, à maneira como hoje é feita internacionalmente, é o grande desafio que esses herbários vêm enfrentando nos últimos anos. O Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, por meio da Resolução nº 266, de 3 de agosto de 2000, estabeleceu diretrizes para a criação, a normatização do funcionamento e a definição dos objetivos para os jardins botânicos brasileiros. O Conama recebe o auxílio da CNJB (Comissão Nacional de Jardins Botânicos) no acompanhamento e na análise de assuntos relacionados a jardins botânicos. Fazem parte do CNJB representantes dos ministérios de Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente e da Educação, da Rede Brasileira de Jardins Botânicos e da Sociedade Botânica do Brasil. Por essa resolução, os jardins botânicos são classificados nas categorias A, B ou C, de acordo com critérios técnicos que levam em conta sua infra-estrutura, a qualificação de seu corpo técnico e de pesquisadores, os objetivos do jardim, sua localização e especialização operacional. Na primeira avaliação feita, nenhum jardim botânico foi enquadrado na categoria A, a mais alta delas. São estes os jardins botânicos brasileiros: Bosque Rodrigues Alves – Jardim Botânico da Amazônia (Belém, PA). Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ). Jardim Botânico Amália Hermano Teixeira (Goiânia, GO). Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte (Belo Horizonte, MG). Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, RS). Jardim Botânico de Brasília (Brasília, DF). Jardim Botânico de Lajeado (Lajeado, RS). Jardim Botânico de Pipa (Tibau do Sul, RN). Jardim Botânico de Salvador (Salvador, BA). Jardim Botânico de São Paulo (São Paulo, SP). Jardim Botânico do Instituto Agronômico de Campinas (Campinas, SP). Jardim Botânico do Instituto de Biociências da Unesp (Botucatu, SP). Jardim Botânico Municipal de Bauru (Bauru, SP). Jardim Botânico Municipal de Paulínia Adelelmo Piva Júnior (Paulínia, SP). Jardim Botânico Municipal Francisca Maria Garfunkel Rischbieter (Curitiba, PR). Museu de Biologia Prof. Mello Leitão (Santa Teresa, ES). Museu Paraense Emílio Goeldi e Parque Zoobotânico (Belém, PA). Jardim Botânico de Poços de Caldas (Poços de Caldas, MG). Horto Botânico do Museu Nacional da UFRJ (Rio de Janeiro, RJ). Jardim Botânico Adolpho Ducke (Manaus, AM). Jardim Botânico Benjamim Maranhão (João Pessoa, PB). Jardim Botânico da Universidade Federal de Santa Maria (Santa Maria, RS). Jardim Botânico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Itaguaí, RJ). Jardim Botânico da Universidade Univille (Joinville, SC). Jardim Botânico de Caxias do Sul (Caxias do Sul, RS). Jardim Botânico de Jundiaí Wlamor de Sousa (Jundiaí, SP). Jardim Botânico de Londrina (Londrina, PR). Jardim Botânico de Mato Grosso (Cuiabá, MT). Jardim Botânico de Recife (Recife, PE). Jardim Botânico Municipal Chico Mendes (Santos, SP). Jardim Zoobotânico Municipal de Franca (Franca, SP). Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (Belo Horizonte, MG). Parque Botânico do Ceará (Caucaia, CE). Parque Zoobotânico Orquidário Municipal de Santos (Santos, SP). Jardim Botânico de São Paulo Avenida Miguel Estéfano, 3031 Água Funda 04301- 012 São Paulo, SP Telefone: (11) 5073 6300 www.ibot.sp.gov.br http://www.ibot.sp.gov.br Dona Maria I, a rainha de Portugal entre 1777 e 1816, dedicava especial atenção às ciências, tendo criado a Academia Real de Ciências de Lisboa em 1779. Dava importância, também, aos produtos agrícolas de suas colônias. Devido a seus problemas de saúde, com crises de insanidade, dona Maria I era auxiliada pelo filho, o príncipe João, que veio a ser dom João VI, e pelo ministro dom Rodrigo de Sousa Coutinho, o conde de Linhares, considerado o mais culto do corpo administrativo. O conde acumulava o cargo de ministro com o de inspetor geral do Gabinete de História Natural e do Jardim Botânico da Ajuda. Em 19 de novembro de 1798, uma ordem régia determinava ao então capitão-general de São Paulo, Antônio Manuel de Melo Castro e Mendonça, a construção de um jardim botânico. O local escolhido recaiu sobre um grande terreno localizado no antigo “arrabalde do Guarepe”, imediações da Capela de Nossa Senhora da Luz. Esse local estava destinado à construção de um quartel militar e, para financiar as obras, uma subscrição pública estava em andamento. Recebida, porém, a ordem de criação de um horto, parte do dinheiro arrecadado foi utilizado nessa nova empreitada. Na mesma época em que chegava a ordem de construção do horto, a rainha de Portugal determinava que fossem realizadas pesquisas em São Paulo com o fim de se “promover a agricultura”, especialmente com os gêneros mais próprios às condições da capitania. Determinava também a soberana que o capitão-general deveria promover a “transplantação e introdução de novas plantas” que se adaptassem ao clima paulista, como o cacau – que já produzia “vantajosamente no Rio de Janeiro” – e a baunilha, planta que crescia espontaneamente nos “matos silvestres” da capitania de São Paulo, conforme fora informado à rainha. Em outra ordem no mesmo ano, dona Maria I determinava a realização de pesquisas na capitania com madeiras nativas para utilização na fabricação de papel. Diante dessa preocupação da Coroa portuguesa com as madeiras e plantas brasileiras, tanto nativas como as que poderiam se adaptar ao solo e clima da capitania de São Paulo, o conde de Linhares enviou uma missiva ao capitão-general de São Paulo. Nela, o conde informava que, no Pará, o general dom Francisco de Sousa havia fundado um horto botânico e ordenava ao capitão que fizesse o mesmo em São Paulo. No entanto, esse jardim, estabelecido onde agora se encontrao Jardim da Luz, durou pouco tempo. Em 1838, a Assembléia Legislativa provincial, na lei de orçamento, mudou o antigo nome de Jardim Botânico para Jardim Público, o que o fez perder suas características originais. O Jardim da Luz tem, hoje, uma vegetação bastante diversificada, com espécies nativas e exóticas, como árvores de pau-ferro, figueiras, palmeiras-reais, chichá (Sterculia chicha), sol-da-bolívia (Brownea grandiceps) e eucalipto-vermelho. Uma segunda tentativa de se criar um jardim botânico em São Paulo deve-se ao engenheiro e botânico Alberto Loefgren. Em 1898, ele fundou, na Cantareira, um horto botânico, depois transformado em horto florestal de interesse econômico. Loefgren, na época, não compreendeu as vantagens de se ter um jardim botânico. Hoje em dia, esse horto faz parte do Instituto Florestal de São Paulo. À mesma época, os naturalistas Hermann von Ihering e Hermann Luederwaldt, este como realizador técnico, iniciaram um horto botânico nos fundos do Museu Paulista (mais conhecido como Museu do Ipiranga), com espécies nativas e exóticas. Com a morte deles, o horto botânico se perdeu e acabou sendo transformado em bosque público. Portanto, houve três tentativas frustradas de se dotar São Paulo de um jardim botânico. Finalmente, em 1917, foi trazido do Rio de Janeiro o naturalista Frederico Carlos Hoehne para desenvolver um horto botânico, em parceria com o Instituto Butantã, para o estudo de plantas medicinais. No chamado Horto Oswaldo Cruz, começou a funcionar uma Seção de Botânica, com um pequeno herbário e uma biblioteca especializada. Em 1923, a Seção de Botânica, dirigida por Hoehne, foi transferida para o Museu Paulista, ficando- lhe anexado o antigo Horto Botânico, que tinha perdido sua finalidade. Cinco anos depois, em 1928, a Seção de Botânica foi transferida para o Instituto Bio- lógico, que fora criado na Secretaria da Agricultura, passando a chamar-se Seção de Botânica e Agronomia, mantendo-se Hoehne como chefe. Nesse mesmo ano, Hoehne foi convidado pelo dr. Fernando Costa, secretário da Agricultura, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo, para implantar um horto botânico no Parque do Estado, uma área com cerca de 580 hectares de matas e capoeiras, conhecida como “Mata do Governo”. Nessa área ficavam as nascentes do riacho Ipiranga, às margens do qual dom Pedro I proclamou a independência do Brasil. Relatos históricos indicavam que as trilhas dessa mata teriam sido percorridas por José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, padres jesuítas ligados à história de São Paulo. Além do interesse histórico, o governo pretendia utilizar os recursos hídricos da região para abastecer parte da capital, o que não foi concretizado por ser insuficiente a quantidade de água ali existente. Então, Hoehne deu início, em 1928, ao que viria a ser o Jardim Botânico de São Paulo. A firma Mário Whately & Co. elaborou um plano básico de urbanização da área, abrindo caminhos, ruas e avenidas. As primeiras obras foram o Jardim de Lineu e duas grandes estufas, entre as quais foram construídas pérgolas para abrigar a coleção de orquídeas, embrião do que viria ser o Orquidário do Estado. O desenho do Jardim de Lineu, com seu espelho d’água, foi baseado no Jardim Botânico de Uppsala, na Suécia, onde trabalhou o grande botânico sueco. É um jardim simétrico, com um espelho d’água no centro e duas escadarias de pedra, uma de cada lado, que levam a trilhas na área de mata preservada que margeia a área ajardinada. Exemplares de eritrina delimitam a área do Jardim de Lineu. Como essas plantas florescem no inverno, quando ainda estão sem folhas, o vermelho das flores dá um colorido especial ao espaço. A ilustradora botânica Maria Cecília Tomasi representou em aquarela a inflorescência dessas eritrinas, que estavam em flor à época da visita do primeiro- ministro britânico Tony Blair, e que constituiu o presente oficial do Governo do Estado de São Paulo ao visitante ilustre. As duas grandes estufas possuem estrutura de ferro inglês e vidros curvos na parte superior. Uma delas abriga plantas tropicais, principalmente espécies representativas da vegetação de mata atlântica, como bromélias, orquídeas, várias samambaias, begônias. A temperatura e a umidade no interior dessa estufa são altas, o que permite o crescimento apropriado das espécies de plantas ali representadas. A outra estufa é utilizada para mostras temporárias de plantas ou exposições sobre temas ligados a plantas ou a questões do meio ambiente. Duas exposições podem aqui ser lembradas. Em 1995, “A aventura das plantas e os descobrimentos portugueses”, sobre as navegações dos portugueses à época dos descobrimentos, trazendo e levando plantas ao redor do mundo e auxiliando a disseminar o conhecimento sobre seu uso. Foi organizada pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (Portugal), o Jardim Botânico de São Paulo, o Instituto de Botânica e a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Essa exposição era apresentada em dois núcleos: em um deles, havia material documental e, no outro, exemplares de plantas vivas representativas de algumas das espécies disseminadas pelos portugueses, como a cana-de-açúcar, o trigo, especiarias. A outra exposição, realizada em 1998, “A floresta no olhar da história”, foi organizada pela Coordenadoria de Educação Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, em parceria com o Jardim Botânico de São Paulo, para mostrar ao grande público as características e a importância da preservação das florestas. Ao percorrer a exposição, as pessoas podiam perceber os principais elementos existentes nas matas, os tipos de vegetação do Brasil, a sua importância, seus usos e seu significado para o homem ao longo do tempo. Em meio a textos e ilustrações, eram mostradas as mais diversas formas da relação simbólica entre os homens e a floresta. No final do espaço, foi montada uma amostra de mata virtual, para que cada visitante desse a sua interpretação do significado da floresta. Existem planos de instalar nessa estufa uma amostra representativa de plantas típicas da vegetação de cerrado, o segundo bioma mais importante do estado de São Paulo, com informações sobre as plantas e sua utilização pelo homem, as características do ecossistema, como os efeitos do fogo na vegetação e a forte sazonalidade imposta principalmente pelo regime das chuvas. Atrás das estufas há uma área com várias espécies de palmeiras, conhecida como Palmeto Histórico. As primeiras palmeiras do Jardim Botânico de São Paulo foram plantadas por Hoehne para que ali se caracterizasse a Pindorama, termo dado ao Brasil pelos índios tupis e que significa “lugar que tem muitas palmeiras”. O lago das Ninféias é um dos locais de maior beleza desse jardim botânico. As flores se abrem apenas pela manhã e há uma grande quantidade delas, principalmente as de cor amarela. As folhas das plantas são flutuantes, permanecendo, portanto, à superfície da água e ajudando a formar um conjunto de cores harmônicas. Segundo os botânicos, a ninféia de cor amarela e a rósea são plantas híbridas, enquanto a lilás é uma espécie brasileira. Algumas plantas que crescem nesse jardim merecem destaque por sua importância. Uma delas é o palmito, uma palmeira característica da mata atlântica hoje ameaçada de desaparecer devido às retiradas constantes de indivíduos para o consumo do palmito. O palmito é, na verdade, a gema apical, e sua retirada implica a morte da planta, uma vez que ela não pode rebrotar. O xaxim, uma planta do grupo das samambaias, era comum nas matas das regiões Sudeste e Sul do Brasil, mas hoje se encontra em extinção, sendo proibida sua comercialização. Foi durante anos retirado das matas para a confecção de vasos e suportes para plantas e, apesar das inúmeras tentativas de utilizar outros materiais para substituí-lo, ainda não se conseguiu reproduzir os resultados obtidos com o xaxim. Outra planta que encanta os visitantesé a samambaia gigante, de grande beleza. O visitante do Jardim Botânico de São Paulo pode também conhecer plantas que provavelmente nunca viu, mas de que já ouviu falar, por consumir seus frutos, como o pinhão das festas juninas, produzido pelo pinheiro-do-paraná, as azeitonas da oliveira, o café. O Jardim Botânico de São Paulo tem duas alamedas principais. A alameda Von Martius é ladeada por indivíduos de palmeira-real intercalados por espécimes de ipê-rosa. Aqui é feita uma homenagem ao naturalista bávaro Carl Friedrich Philipp von Martius que, durante três anos de viagens de coleta no início do século XIX, estudou a flora brasileira e foi um dos editores da Flora Brasiliensis, ainda hoje a mais importante obra de referência sobre as plantas do Brasil. A alameda Fernando Costa, assim chamada em honra do secretário da Agricultura que decidiu criar o Jardim Botânico de São Paulo, é margeada por palmeiras jerivás, típicas do Brasil. É a via de acesso do visitante do jardim. Dali pode-se ver o córrego do Pirarungaua, um dos cursos d’água que formam a bacia do riacho Ipiranga, correndo entre os taludes das margens recobertos por espécies da mata atlântica. Além das duas grandes estufas, outra edificação chama a atenção na área do Jardim Botânico. Trata-se do Museu Botânico Dr. João Barbosa Rodrigues, inaugurado em 1942, no centenário do nascimento desse grande naturalista que dedicou anos de sua vida ao estudo das palmeiras e orquídeas, tendo descrito inúmeros gêneros e espécies novas de plantas. É construído em forma de cruz e, externamente, exibe oito placas de terracota em baixo-relevo representando plantas nativas brasileiras, desde algas até plantas superiores. No teto da sala central há um belíssimo vitral decorado com desenhos coloridos de plantas brasileiras, com destaque às orquídeas. Esse vitral foi feito pela Casa Conrado, a mesma que fabricou os magníficos vitrais do Mercado Municipal de São Paulo. As cinco salas mostram aspectos dos diferentes tipos de vegetação encontrados no estado de São Paulo, como mata atlântica, cerrado, manguezal, restinga. Exemplares de plantas herborizadas, frutos e sementes ilustram as características dessas formações vegetais. Em 2006, foi aberta aos visitantes a Trilha da Nascente do Riacho Ipiranga. É um deque de madeira de reflorestamento apoiado em uma estrutura de eucalipto tratado. A trilha foi projetada e construída para não causar impacto na vegetação. Sendo totalmente elevada, chegando a atingir 4 m de altura em alguns trechos, evita o contato do visitante com o solo, e permite chegar bem próximo às copas das árvores. Com 360 m de extensão e três pontos de observação, o visitante percorre inicialmente um trecho de mata em recuperação, seguindo para uma área com elevada diversidade de espécies com samambaias, bromélias e palmitos, além de árvores altas. No final do percurso, o visitante chegará a uma das nascentes do riacho do Ipiranga. Na sua construção foram observados conceitos de conservação da biodiversidade e educação ambiental. A trilha está adaptada para receber pessoas com dificuldade de movimentação, como idosos e usuários de cadeiras de rodas. Há monitores treinados para acompanhar os visitantes pela trilha, mostrar as diferentes espécies de plantas e sua importância no ecossistema. Durante o percurso, exemplares da fauna do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga poderão ser vistos, como o bicho-preguiça, macacos bugios, gambás e aves diversas. O Jardim Botânico de São Paulo é administrado pelo Instituto de Botânica da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Como em todo jardim botânico moderno, a conservação de espécies e o estudo da biodiversidade vegetal são vinculados à pesquisa científica. Seus pesquisadores dedicam-se a estudar todos os grupos de plantas, desde algas marinhas e de água doce às plantas superiores e aos fungos, passando pelos grupos dos musgos e das samambaias. O enfoque dos estudos é em espécies nativas, com ênfase nas encontradas nos principais ecossistemas do estado de São Paulo. O Herbário do Estado Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo é o terceiro do Brasil em número de espécimes e conserva o material de referência da flora do estado. Além do material conservado em herbário, há coleções de material botânico vivo que merecem menção, como o Orquidário do Estado, com cerca de 700 espécies e 16 mil vasos de orquídeas, principalmente espécies nativas brasileiras, a coleção de bromélias, cactos, palmeiras e marantas. Mas os estudos não são apenas de taxonomia. Pesquisas sobre a germinação e a conservação de sementes, o crescimento das plantas, a indução da floração, os componentes das plantas (como carboidratos e substâncias de interesse farmacológico, suas características químicas e variações ao longo do crescimento do vegetal), as respostas das plantas às mudanças ambientais impostas pelas alterações de temperatura, umidade e duração do dia nas diferentes estações do ano até efeitos de poluentes e gases atmosféricos, entre outras. A conservação da biodiversidade vegetal em geral e paulista, em particular, é feita pela manutenção das coleções de plantas ali existentes, conhecida como conservação ex situ , ou fora do lugar de ocorrência das espécies. Mas também é feita conservação in situ, ou no próprio local em que crescem as plantas, na área de reserva de mata atlântica (147 ha) sob sua responsabilidade no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga e em outras duas áreas, a Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba, em Santo André, e a Reserva Biológica e Estação Experimental de Mogi-Guaçu, no município de mesmo nome. Em 1909, quando era diretor do Museu Paulista, Hermann von Ihering adquiriu com recursos próprios uma área de mata primitiva no alto da serra de Paranapiacaba, onde os trens da ferrovia Santos–Jundiaí sobem e descem auxiliados por cabos. Essa área de mata atlântica fica vizinha à vila de Paranapiacaba, local que ainda mantém resquícios da época em que foi habitada pelos ingleses que vieram trabalhar na construção da ferrovia, como a estação de trens com sua pequena reprodução do Big Ben e as casas de madeira importada. Essa área foi transformada em uma estação biológica e é considerada a mais antiga área de reserva do Brasil. Em 1912, foi vendida ao Governo do Estado de São Paulo, que a colocou sob a responsabilidade da Secretaria da Agricultura, até passá-la ao Instituto Butantã, em 1917. A partir daí, sua trajetória administrativa segue as do Jardim Botânico e do Instituto de Botânica. A área é rica em espécies típicas da mata atlântica, como orquídeas, bromélias, numerosas trepadeiras e palmeiras, dentre elas os palmitos, vítimas constantes do extrativismo. Na década de 1970, a vegetação sofreu os efeitos nocivos dos gases poluentes produzidos pelo complexo Industrial de Cubatão. Esses gases causaram danos sérios à vegetação, com a morte de muitas árvores. Felizmente, foram tomadas medidas drásticas para o controle da poluição na região e para a defesa da mata que hoje apresenta sinais de recuperação. A reserva foi visitada por pesquisadores, alguns ilustres, como o casal Marie e Pierre Curie, e continua sendo-o por alunos de graduação e de pós-graduação de diversas universidades, que ali têm contato com uma amostra preciosa de mata atlântica. Em 1970, por decreto governamental, foi transferida do Instituto Florestal para o Instituto de Botânica uma área de cerrado da Fazenda Campininha, em Mogi-Guaçu. Essa área de cerrado, apesar de ter dimensões relativamente modestas, tem sido muito utilizada para estudos sobre as espécies de plantas e animais que ali ocorrem. Como o cerrado tem sua maior área de distribuição na região central do país, em São Paulo as áreas de cerrado correspondem ao limite sul de distribuição desse bioma, com características próprias, que interessam aos pesquisadores. Campo cerrado, cerrado, cerradão e mata ciliar ali estão representados. Na década de1980, a área da Reserva Biológica foi dividida e demarcada em zonas que permitem tipos específicos de pesquisas que podem ou não perturbar o ambiente. Essa medida teve que ser adotada para disciplinar o uso e manter preservada a área, bastante utilizada por estudantes e professores das universidades públicas e privadas de São Paulo, por botânicos de diferentes especialidade, químicos e bioquímicos, zoólogos e ecólogos em seus trabalhos de campo. O Jardim Botânico de São Paulo é o segundo mais antigo do Brasil em atividade. Com seus 360.000 m² de área destinados à visitação pública, ocupa mais de um terço da área total do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga. O Jardim Botânico de São Paulo tem uma característica peculiar, diferente de outros jardins botânicos. Por ter sido construído dentro de uma área preservada de mata, um dos últimos resquícios da mata atlântica no município de São Paulo, a área ajardinada é relativamente pequena se comparada à área de vegetação natural. Por onde se olhe, ao longo de um passeio por ele, vê-se a mata em todo seu esplendor e suas espécies mais características, como as quaresmeiras, com suas flores roxas ou róseas. O visitante pode, literalmente, penetrar na mata atlântica sem sair da cidade de São Paulo. Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Jardim Botânico, 1008 Jardim Botânico 22460-070 Rio de Janeiro, RJ Telefone: (21) 3874 1808 www.jbrj.gov.br No dia 29 de novembro de 1807, um dia antes de as tropas napoleônicas chegarem a Lisboa, a família real portuguesa, acompanhada da corte e de inúmeras figuras importantes do país, buscou refúgio no vice-reino do Brasil. Com isso, estabeleceu-se a capital do Império português no Rio de Janeiro. Dona Maria I era a rainha de Portugal e, devido a seus problemas de saúde, seu filho João era o príncipe regente. Com a morte da mãe, em 1816, subiu ao trono português, passando a reinar como dom João VI de Portugal. http://www.jbrj.gov.br A mudança da família real e da corte portuguesa para o Brasil e sua instalação no Rio de Janeiro trouxe diversos benefícios para a cidade, uma vez que era preciso pensar em sua defesa, prover alimentos à população, zelar por sua saúde, instalar indústrias. Uma das primeiras medidas tomadas foi a construção de uma fábrica de pólvora, uma fundição e uma tornearia para fabricar canhões. O local escolhido foi um antigo engenho de cana-de-açúcar chamado Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, de grande beleza, localizado entre o morro do Corcovado e o morro dos Dois Irmãos. Dom João VI encantou-se tanto com o lugar que, em decreto de 13 de junho de 1808, criou lá um Jardim de Aclimatação, com o objetivo de aclimatar especiarias como a noz-moscada, a canela, a pimenta-do-reino, que vinham das Índias Orientais. Em 11 de outubro do mesmo ano, dom João transformou o Jardim da Aclimatação em Real Horto. Ao ser coroado dom João VI do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o nome foi mudado para Real Jardim Botânico. Depois, passou a ser simplesmente Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Em 1937, foi tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional e em 1991 tornou-se Reserva da Biosfera. A partir de 1996, o nome oficial passou a ser Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Administrativamente, é subordinado ao Ministério do Meio Ambiente. O imperador dom Pedro I continuou o projeto do pai e, em 1819, o Jardim Botânico foi aberto à visitação pública, mas ainda com muitas restrições, uma vez que os visitantes deviam ser acompanhados por guardas imperiais. Os primeiros diretores foram o marquês de Sabará e o marquês de Queluz, seguidos por frei Leandro de Sacramento, da Ordem dos Carmelitas. Frei Leandro era formado em ciências naturais pela Universidade de Coimbra. Foi o primeiro professor de botânica da recém-criada Escola de Medicina do Rio de Janeiro e o primeiro diretor técnico do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, entre 1824 e 1829. Deu início a transformações na paisagem do jardim, com a construção de um lago artificial, hoje denominado lago Frei Leandro, um dos pontos mais belos e visitados atualmente no Jardim Botânico, com suas vitórias- régias e ninféias, e ladeado por exemplares de Ravenala madagascariensis, a árvore dos viajantes. A escavação do lago resultou em grande quantidade de terra que foi usada para elevar um cômoro, onde foi construída a Casa dos Cedros. Ao lado desta, encontra-se hoje um relógio de sol e uma mesa de granito, na qual dom Pedro I e dom Pedro II merendavam quando iam visitar o Jardim Botânico. Essa mesa é conhecida como Mesa do Imperador. Já na época da República, em 1890, o então diretor, João Barbosa Rodrigues, inaugurou uma nova fase, implantando uma série de melhorias, como a criação de uma biblioteca e a Estufa do Herbário, além de incentivar a pesquisa científica. As primeiras plantas que chegaram ao Jardim Botânico vieram das ilhas Maurício, no oceano Índico. O português Luiz de Abreu estava a caminho do Brasil quando naufragou em Goa e foi feito prisioneiro dos franceses. Foi mandado para a ilha de França, hoje ilha Maurício, onde havia um grande jardim, chamado Gabrielle. Ao fugir da prisão, acondicionou em um caixote várias mudas de plantas de espécies locais, como jaqueira, fruta-pão, cajá-manga, olho-de-boi e flor-de-coral, uma orquídea de flores vermelhas que vive até hoje, apoiada nos troncos das árvores mais antigas do Jardim Botânico. Trouxe também mudas de palmeiras, entre elas, aquela que seria a “mãe” de todas as palmeiras do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a palmeira-imperial (Roystonea oleracea). Segundo consta, uma muda dessa palmeira teria sido plantada pelo próprio dom João VI, em 1809. Por isso, ficou conhecida como palmeira-real e, posteriormente, palmeira-imperial. Essa planta floresceu pela primeira vez em 1829. O diretor do jardim na época, Serpa Brandão, mandou colher e queimar todos os frutos para que o Jardim Botânico tivesse o monopólio daquela palmeira plantada pelas mãos de dom João VI. Mas a proibição teve efeito contrário. À noite, os escravos subiam pelo estipe da palmeira, colhiam e vendiam os frutos. Rapidamente essa palmeira foi disseminada por todo o país, ficando mais conhecida do que muitas espécies da flora nativa. Com o passar do tempo, a palmeira plantada por dom João VI passou a ser conhecida como Palma Mater – palmeira-mãe. Em 1842, foram plantadas as palmeiras imperiais da aléia Barbosa Rodrigues, originárias, todas elas, de mudas da palmeira-mãe. Simbolicamente, são denominadas de Palma Filia – palmeira-filha. Em 1972, um raio abateu o estipe da Palma Mater, com seu 39 m e, em seu lugar, outro exemplar de Palma Filia foi plantado. O estipe da Palma Mater está exposto no Museu do Jardim Botânico. Portanto, não é sem razão que a palmeira-imperial é o símbolo do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A aléia Barbosa Rodrigues, ladeada por duas colunatas dessas palmeiras, aparece no logotipo do jardim e é, sem dúvida, sua paisagem mais marcante. Na confluência dessa aléia com a aléia Frei Leandro está o chafariz central, que é de fabricação inglesa, em ferro forjado, e encontrava-se no bairro da Lapa, tendo sido trazido para o jardim quando Barbosa Rodrigues era o diretor (1880-1909). O chafariz é um conjunto de duas bacias, a maior delas com esculturas representando a música, a poesia, a ciência e a arte, além de outras alegorias. Dom João empenhou-se pessoalmente em aumentar a coleção do Jardim Botânico, instituindo recompensas e isenções fiscais aos que trouxessem novas plantas. A invasão da Guiana Francesa, ainda em 1809, proporcionou o incremento de plantas de várias espécies, trazidas como despojos de guerra. Assim, a coleção foi aumentando, com a introdução de espécies exóticas e interessantes, provenientes de várias partes do mundo. Mais recentemente, à época da conferência Eco-92 (ou Rio-92), representantes dos diversos países participantes trouxeram mudas de espécies nativas de seus países e