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Do Éden ao Éden - Jardins Botânicos e a Aventura das Plantas

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Muriel Ramos

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Sumário
Nota do editor
Agradecimentos
À procura do Éden...
O Jardim do Éden
Os Jardins Suspensos da Babilônia
Os Jardins Imperiais de Carlos Magno
Os portugueses na era dos descobrimentos
Os jardins de ervas medicinais
Os primeiros jardins botânicos
Jardins botânicos históricos
Jardim Botânico de Pisa
Jardim Botânico de Pádua
Jardim Botânico de Florença
Jardim Botânico de Sassari
Jardim Botânico de Ferrara
Jardim Botânico de Valência
Jardim Botânico de Bolonha
Jardim Botânico de Leipzig
Jardim Botânico de Kaliningrado
Jardim Botânico de Jena
Jardim Botânico de Wroclaw
Jardim Botânico de Montpellier
Jardim Botânico de Heidelberg
Jardim Botânico de Leiden
Jardim Botânico de Copenhague
Jardim Botânico de Estrasburgo
Jardim Botânico de Oxford
Jardim Botânico de Paris
Jardim Botânico de Amsterdã
Jardim Botânico de Tübingen
Jardim Botânico de Uppsala
Jardim Botânico de Hannover
Jardim Botânico de Edimburgo
Jardim Botânico de Chelsea
Jardim Botânico de Berlim
Jardins botânicos portugueses
Jardim Botânico da Madeira
Jardim Botânico da Ajuda
Jardim Botânico de Coimbra
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa
Bogor e Harvard: primeiros jardins botânicos na Ásia e na América do Norte
Jardim Botânico de Bogor
Jardim Botânico da Universidade de Harvard
Jardins botânicos no século XX
Estabelecendo conceitos
Jardim Botânico de Kew
Jardim Botânico de Nova York
Jardins botânicos brasileiros
Jardim Botânico de São Paulo
Jardim Botânico do Rio de Janeiro
A aventura das plantas
A pitanga e o Jardim Botânico de Pisa
A estévia e o Jardim Botânico de São Paulo
O ginco e o Jardim Botânico de Montpellier
A prímula-da-tarde e o Jardim Botânico de Pádua
O tingui e o Herbário Nacional em Paris
A baunilha e o Jardim Botânico de Paris
A palmeira-dendê e o Jardim Botânico de Bogor
A seringueira e o Jardim Botânico de Kew
O café e o Jardim Botânico,de Amsterdã
A boa-noite e o Jardim Botânico de Chelsea
A castanha-d’água e o Jardim Botânico de Harvard
Ilustração botânica
A representação das plantas – uma pequena história
A ilustração botânica e o Brasil
A ilustração botânica hoje
Finalmente o homem chegou ao Éden?
Descrição das espécies citadas
As plantas da capitular de Carlos Magno
Plantas já aclimatadas na Europa antes da época dos descobrimentos e levadas para os arquipélagos de
Cabo Verde e o de São Tomé e Príncipe
Plantas levadas das Américas para os arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe
Plantas levadas da Ásia para os arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe
Plantas levadas da África para os arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe
Demais espécies
Referências bibliográficas
Fotos
Nota do editor
Desde épocas remotas, o homem tem criado jardins para admirar a beleza
das flores ou cultivar as espécies utilizadas na culinária ou na medicina. E, se não
os criou de verdade, criou-os na forma de mitos. O Jardim do Éden é o exemplo
maior.
O ascendente direto dos atuais jardins botânicos é o Orto dei Semplici, um
jardim com plantas que apresentavam qualidades medicinais ou farmacológicas e
era propriedade de conventos, hospitais, boticários e médicos. Estes últimos,
quando professores, utilizavam-no para apresentar a seus estudantes as espécies
cultivadas. Os jardins botânicos continuam com suas funções didáticas e de
pesquisa, mas realizam também um trabalho de educação ambiental para que a
sociedade entenda que as plantas são fundamentais para a vida humana e que a
sobrevivência delas depende de um esforço dos cidadãos.
A Editora Senac São Paulo pretende, com esta publicação, contribuir para a
divulgação e o fortalecimento dos jardins botânicos, instituições que se tornaram
importantes focos de resistência contra a ação humana que leva à destruição dos
ecossistemas.
Agradecimentos
Agradeço especialmente a Rosa Alice Mosimann, pelo extremo cuidado e
boa vontade com que revisou grande parte de meu texto. Agradeço também a
Cláudia Lemos e Luciano Esteves pela leitura crítica do texto, assim como por
sugestões valiosas, e a Lúcia Rossi por elucidar minhas dúvidas técnicas. A Isabel
Maria Macedo Alexandre pelo incentivo constante.
Gil Felippe
Agradeço a Dorothy e Eric Roberts, a Wayt Thomas (Jardim Botânico de
Nova York), a Philip Jenkins (Fundação Margaret Mee), a Brian Stannard
(Jardim Botânico de Kew), a Leopoldo M. Coutinho (Universidade de São
Paulo) e a Cibele Boni de Toledo, Tânia Cerati e Luciano M. Esteves, estes
últimos do Instituto de Botânica de São Paulo.
Lilian Penteado Zaidan
À procura do Éden...
O que significa domesticar uma planta? A resposta parece ser bem simples.
Para domesticar uma planta, é preciso cultivá-la. Provoca-se uma modificação
genética, o que a tornará mais útil, por exemplo, para a alimentação humana.
Hoje em dia, o desenvolvimento da cultura de uma planta é um trabalho
altamente especializado, intencional, realizado por cientistas, com técnicas
modernas, como a engenharia genética. Tudo isso para criar uma nova variedade
mais adequada para a alimentação ou outro uso. E no passado? Os antigos
lavradores também criavam suas variedades sem ter o conhecimento dos
cientistas, escolhiam uma planta, colhiam suas sementes e as plantavam. Mas
nem só de alimento vive o homem. Ele também tem o gosto pelas flores de cores
atraentes e de perfume agradável. O gosto pela beleza. Assim, foram sendo
domesticadas as plantas ornamentais para serem cultivadas nas novas aldeias, a
fim de proporcionar prazer aos olhos e ao olfato. O homem domesticou plantas
e criou seus jardins de prazer, buscando a beleza.
Bem antes de ser criado o primeiro jardim botânico, já existiam os jardins.
Estes são muito apreciados pelos homens de todos os cantos da Terra, hoje e no
passado, por sua beleza e também por neles poderem ser cultivadas espécies
usadas na culinária ou na medicina caseira. Alguns talvez tenham existido apenas
na imaginação de poetas e filósofos. São os jardins míticos. Entre os vários
paraísos-jardins, um é o Jardim do Éden, da Bíblia.​
Até hoje o homem está à procura do Jardim do Éden. A Europa,
principalmente Portugal e Es​panha, saíram à procura do Éden, é claro que com
muito interesse econômico envolvido, um jardim rico de especiarias. Essa
procura de novas fontes de divisa é que deu origem à era dos descobrimentos,
das grandes viagens marítimas dos séculos XV e XVI. E por que não a procura
do Jardim do Éden? O reencontro do Jardim do Éden era considerado como um
reencontro com Deus, o fim do pecado original de Adão e Eva. Foi um dos
motivos do empenho de Colombo e dos navegadores portugueses. De acordo
com Alberto Vieira,[1] os portugueses pensaram que haviam chegado ao Jardim
do Éden quando desembarcaram no arquipélago das ilhas Macaronésicas, uma
das quais é a ilha da Madeira. É bom lembrar que as duas primeiras ​crianças que
nasceram na ilha da Madeira foram batizadas como Adão e Eva?
O Jardim do Éden
Porém, voltemos ao Jardim do Éden, que seria o primeiro jardim da cultura
ocidental. Após separar a terra dos mares, Deus fez as plantas. Então, criou o
homem, Adão. Deus plantou lá pelo Orien ​te um jardim. No jardim, colocou o
homem recém-criado e fez surgir do solo todo tipo de árvores bonitas e
produtoras de bom alimento. Bem no meio do jardim, que os homens chamam
de Éden, Deus plantou duas árvores, a “árvore da vida” e a “árvore do
conhecimento do bem e do mal”. A “árvore da vida” era para lembrar Adão que
ele compartilhava com Deus a vida eterna. A outra árvore não devia ser tocada.
Adão podia, de acordo com Deus Pai, comer tudo que crescesse no Jardim do
Paraíso, mas nunca poderia comer o fruto da “árvore do conhecimento do bem e
do mal”. Se comesse, mesmo se fosse só um de seus frutos, estaria perdido. Se o
fizesse, perderia também a dádiva da imortalidade. Foi formado um rio que
regava o jardim do Éden. O rio se dividia em quatro braços, o Pisom, o Giom, o
Tigre e o Eufrates. Adão, na presença de Deus Pai, deunome a todos os animais
domésticos e dos campos e a todas as plantas.
Lá, tudo era perfeito. Adão via toda a beleza, ouvia o cantar dos pássaros,
sentia o perfume das flores. Tudo dava um prazer infantil e sem pecado a Adão.
Para ficar ocupado, ele cuidava do jardim. Adão seria o grande jardineiro do
Éden: devia lavrar a terra, cuidar das plantas. Deus todas as tardes visitava o
jardim para conversar com Adão. Afinal, criara Adão para ter companhia.
E Deus Pai criou a mulher, Eva, da costela de Adão. Adão deveria se unir a
Eva e ser uma só carne. Estavam sempre totalmente nus e não se envergonhavam
de nada.
E, então, apareceu a serpente, o mais astuto dos animais, que aconselhou Eva
a comer os frutos da “árvore do conhecimento do bem e do mal”, que ficava
bem no meio do Jardim do Éden. O fruto da “árvore do conhecimento do bem
e do mal” daria todo o conhecimento do universo aos dois, Adão e Eva. Eles
passariam a conhecer o bem e o mal. A árvore era agradável à vista e seus frutos
coloridos e perfumados pareciam um bom alimento. Eva apanhou um, comeu
um pedaço e deu outro a Adão. De repente, ambos perceberam que estavam nus
e ficaram envergonhados. E, por estarem muito envergonhados com sua nudez,
cobriram a genitália com folhas de figueira. Deus Pai, enfurecido, expulsou Adão
e Eva do Jardim do Éden. Dali para a frente, eles teriam de procurar seu próprio
sustento. Deus Pai colocou querubins no Jardim do Éden que se tornaram os
protetores da “árvore do conhecimento do bem e do mal”, agora árvore do
pecado, e de seu Jardim do Paraíso.
Muitos acreditam que a “árvore do conhecimento do bem e do mal” era uma
macieira, e a maçã o fruto do pecado. O botânico D. J. Mabberley (1997) não
acredita que seja a macieira. Ele sugere que a fruta produzida por espécies do
gênero Strychnos (da família estricnácea) é que seria a fruta da “árvore do
conhecimento do bem e do mal” do Jardim do Éden. Na fruta de Strychnos, a
polpa não é perigosa, mas as sementes são tóxicas por possuí​rem estricnina. Mas
há ainda outra versão. Muitos acreditam que a bananeira seria a “árvore do
conhecimento do bem e do mal” e seria sua fruta a tentação de Eva. Adão e Eva
teriam comido uma banana e não uma maçã. Depois do pecado, cobriram sua
nudez com a folha da bananeira e não da figueira.
Os Jardins Suspensos da Babilônia
Os Jardins Suspensos da Babilônia eram considerados uma das Sete
Maravilhas da Antiguidade. Embora mencionados por historiadores gregos, não
há nenhum documento histórico que fale deles. Há, entretanto, um fragmento
de cerâmica ​decorado encontrado na região que seria prova de sua existência. O
fragmento mostra uma parte do que pode ser um jardim, com uma fileira de
pilares. Os pilares suportam um teto sólido, no qual aparecem várias árvores,
plantadas de modo regular, indicando um terraço. Seria o desenho de parte de
um jardim suspenso?
A cidade da Babilônia, uma das mais importantes do mundo antigo, estaria
localizada na margem esquerda do rio Eufrates (um dos rios criados pelo Deus
Pai no Jardim do Éden), a 90 km ao sul de Bagdá, hoje capital do Iraque. Foi a
capital do reino no segundo e terceiro milênios antes da era cristã. Era uma
cidade bem importante, pois ficava localizada justamente na rota de comércio
que ligava o golfo Pérsico com a região do Mediter​râneo.​
O país da Babilônia existiu desde o século XVIII a.C. até o século VI a.C. A
civilização da Babilônia era semelhante à da Suméria, que correspondia à
Babilônia da era bíblica. A história da Suméria foi reconstruída através de poucos
fragmentos de cerâmica decorados e outras evidências interpretadas por
arqueólogos. O nome Suméria data, pelo que dizem os arqueólogos, do terceiro
milênio antes da era cristã. A civilização dos babilônios era semelhante à
precedente dos sumérios, uma civilização urbana, mas baseada na agricultura e
não na indústria. O país era governado por um rei e tinha cerca de uma dúzia de
cidades, entre elas a cidade da Babilônia, e pequenas vilas e vilarejos. Em 1760
a.C., estendia-se do golfo Pérsico até o rio Khabur (HabUr), um afluente do rio
Eufrates. No governo do rei Hamurabi, o deus Marduk, da cidade da Babilônia,
passou a ser um dos mais importantes do reino. Graças à grande quantidade de
documentos conseguidas pelos arqueólogos, muita coisa é hoje conhecida a
respeito dessa civilização, que exerceu forte influência nos países vizinhos, como
a Assíria. Entre esses valiosos documentos, um dos mais importantes é o
chamado código do rei Hamurabi. É um conjunto de leis que dá uma boa idéia
da estrutura social e econômica do país. O código de Hamurabi é um dos mais
significativos documentos legais de que se tem notícia.
A cidade da Babilônia era cercada por uma muralha dupla. De acordo com o
historiador grego Heródoto (484 a.C.-425 a.C.), chamado “o pai da História”, a
muralha externa da cidade da Babilônia tinha cerca de 90 km de comprimento,
com espessura de 30 m e altura de mais de 100 m. A muralha interna tinha
espessura menor, mas era tão forte quanto a externa. Cercadas pelas muralhas
ficavam fortalezas e templos com estátuas enormes de ouro maciço,
especialmente do deus Marduk. A chamada Torre de Babel, um templo com sete
andares, era vislumbrado bem acima das muralhas, e parecia chegar ao céu. A
lenda diz que essa torre é a famosa Babel da Bíblia. Heródoto não menciona os
Jardins Suspensos. Ciro, o Grande, tomou a Babilônia em 539 a.C., que passou
a fazer parte do Império persa. A cidade manteve seu esplendor até 482 a.C.,
quando o imperador persa Xerxes destruiu seus templos e a torre. A cidade
perdeu seu brilho. A cidade foi capturada por Alexandre, o Grande, da
Macedônia, em 330 a.C., que planejou reconstruir a Babilônia. Infelizmente, ele
morreu antes de começar a obra. A cidade foi diminuindo em importância e já
havia praticamente desaparecido quando os muçulmanos a invadiram no século
VII depois de Cristo.
Os Jardins Suspensos da Babilônia teriam sido construídos por
Nabucodonosor II (604 a 562 a.C.) para alegrar sua esposa Amiitis, filha do rei
dos medas, que sentia falta do verde do reino onde nascera e crescera. Descrições
dos jardins são feitas por vários historiadores gregos, entre eles Diodoro Sículo
(90 a.C.-30 a.C), nascido na atual cidade de Agira, na Sicília. De acordo com
ele, a região próxima aos jardins lembrava a elevação de um pequeno morro. E
como eram eles? Várias estruturas apareciam umas sobre as outras, camada por
camada. Os terraços seriam como degraus subindo do chão e iam ficando cada
vez menores, à medida que aumentava a altura. Sob os terraços havia os arcos
que suportavam tudo, cada terraço recebendo luz através da clarabóia do terraço
imediatamente superior. O terraço mais elevado, que ficava sobre um arco, era o
jardim principal. Cada estrutura era coberta por grande quantidade de solo.
Máquinas especiais, escondidas da visão, levavam para os jardins suspensos a
água colhida do rio Eufrates. Foram plantadas muitas variedades de árvores,
grandes e vistosas, que alegravam o olhar dos visitantes. Tanto Sículo como
outros historiadores gregos dão mais detalhes: árvores com muitos frutos de
todas as cores e tamanhos, quedas de água murmurantes, jardins debruçando-se
como tapetes dos terraços do palácio real, animais de várias procedências. Nem
Sículo nem nenhum outro autor grego menciona a presença de ervas para
produção de flores, só árvores. O terraço mais elevado era provido de uma
grande escadaria. Os jardins tinham forma quadrangular, cada lado medindo
pouco menos de 150 m de comprimento, com abóbadas arqueadas. A altura
seria de cerca de 30 m, mas alguns historiadores afirmaram que era de mais de
100 m. As raízes das plantas não atingiam a terra, ficando encravadas no solo dos
terraços. As fundações eram mantidas por grandes colunas de pedra. Como a
água fluía continuamente, a grama estava sempre verde, as plantas sempre com
flores e frutos, fazendo a construção toda pareceruma montanha coberta de
árvores.
Infelizmente, não há nenhuma pintura antiga retratando os Jardins
Suspensos da Babilônia. Seriam eles uma criação da mente dos historiadores
gregos? Talvez.
Os Jardins Imperiais de Carlos Magno
Desde épocas remotas, sempre existiram jardins. Prova disso é o que deles
ficou registrado em documentos e pinturas, e o tanto que foram objetos de
imaginação ou de crença. Restos de jardins podem ser vistos nas ruínas da Grécia
e de Roma antigas. Os conventos medievais sempre tinham os seus, para deleite
dos monges e também como fonte de alimentos. Na Idade Média, Carlos
Magno criou regras indicando as plantas que deveriam ser cultivadas nos jardins
de todo seu império. Assim, durante o restante da Idade Média, chegando até o
século XVIII, todos os jardins dos conventos europeus continham as plantas
indicadas por Carlos Magno. Estaria Carlos Magno tentando criar o Jardim do
Éden?
Carlos Magno dominou a maior parte da Europa central e ocidental, sendo
o mais conhecido e influente rei da Europa na Idade Média. Nasceu na cidade
alemã de Aachen, em 2 de abril de 742 (ou 747), e, como rei dos francos, esteve
sempre envolvido em batalhas, tendo conquistado grande parte da Europa,
recuperando assim o Império Romano do Ocidente. Tentou, mas não
conseguiu, a conquista da península Ibérica. Forçou à conversão ao cristianismo
todos os povos conquistados, massacrando os que se recusaram. Era, assim, um
“piedoso” cristão e protetor dos papas. No dia de Natal do ano 800, Carlos
Magno estava ajoelhado, na Basílica de São Pedro, em Roma, quando o papa
Leão III colocou em sua cabeça uma coroa. Nesse dia, passou a ser imperador do
Sacro Império Romano. Sua residência principal era em Aachen, onde se cercava
de intelectuais de toda a Europa. Era um guerreiro germânico tradicional e
colocou seu prestígio e poder a serviço da doutrina cristã, da vida monástica e do
ensino do latim, criando a base da civilização européia, fundindo as culturas
germânica, romana e cristã. Carlos Magno morreu em 28 de janeiro de 814 em
Aachen, onde foi sepultado.
Para proteger suas terras, o povo que nelas vivia e tudo o que nelas existia,
Carlos Magno emitiu vários decretos, entre eles a capitular chamada De Villis,
aproximadamente em 795. Essa capitular definia um grande número de regras
administrativas, legais e sobretudo agrícolas para todo o império e regulamentava
todos os aspectos da vida agrícola em seus domínios, a produção de alimentos,
convenções sociais e até higiene. Um dos capítulos enumerava as ervas e árvores
que poderiam ser plantadas em todos os jardins imperiais, inclusive nos jardins
mantidos pelos monges. Graças a alguns documentos eclesiásticos do século IX e
de agentes do rei, sabemos hoje quais plantas eram cultivadas nos jardins
medievais.
Na lista de plantas a serem cultivadas estão as que produzem flores, como
rosa, lírio, gladíolo, heliotrópio e malva. Entre as hortaliças, aparecem nabo,
pepino, rúcula, almeirão, beterraba, mostarda. Há também as aromáticas, como
sálvia, alecrim, cominho, erva-doce, anis. E algumas árvores frutíferas como
macieira, figueira, ameixeira. A listagem completa dá uma idéia da variedade da
produção agrícola da época medieval e autentica a descrição dos jardins tão
abundantes na literatura da Idade Média.
De acordo com De Villis, todos os jardins do império deveriam ter 82 ervas
indicadas em uma extensa lista.
Além disso, Carlos Magno impôs que todo jardineiro tivesse no teto de sua
casa Sempervivum tectorum L., uma planta da família crassulácea que mantinha
as telhas de ardósia no telhado. Pensava-se, também, que essa plantinha era útil
para evitar raios.
Havia também árvores obrigatórias, como a Castanea sativa L. (castanha-
européia), Citrus aurantium L. (laranja-azeda), Corylus avellana L. (avelã),
Cydonia oblonga Millero (marmelo), Ficus carica L. (figo), Juglans regia L.
(nogueira), Laurus nobilis L. (loureiro), diversas variedades de Malus sp. (maçã),
Mespilus germânica L. (nêspera ou medlar), Morus nigra L. (amora), Pinus pinea
L. (pinhão-italiano, pignoli), diversas variedades de Prunus avium (L.) L. (cereja
doce), Prunus cerasus L. (cereja azeda), diversas variedades de Prunus x domestica
L. (ameixa), Prunus dulcis (Miller) D. Webb (amêndoa), diversas variedades de
Prunus persica (L.) Batsch, duas ou três variedades de Pyrus communis L. (pêra),
Sorbus domestica L.(maçã-de-sorva).
Graças à capitular, muitas plantas da região do Mediterrâneo passaram a ser
conhecidas na parte mais ao norte da Europa central e ocidental. Algumas delas
começaram a ser cultivadas e se adaptaram permanentemente nessas regiões mais
frias. A salsinha e o salsão são dois exemplos que podem ser citados. Algumas
dessas plantas eram o alimento diário do povo do império, como as diferentes
variedades de nabo. A capitular De Villis foi muito importante na unificação das
práticas agrícolas, além de redistribuir espécies de plantas por todo o império.
Muitas das espécies que não constam do édito só chegaram à Europa com os
portugueses nos séculos XV, XVI e XVII. Como exemplo, temos a laranja, Citrus
aurantium. Esta é a laranja-azeda. A laranja já era mencionada na literatura
chinesa em 2400 a.C. Teofrasto, em 310 a.C., já deu uma boa descrição dessa
fruta. A laranja-azeda, vinda do Oriente, chegou à Europa pelo Mediterrâneo,
trazida pelos árabes, e atingiu Portugal antes mesmo de este ser um país. As
laranjeiras cultivadas pelos reis da França desde Francisco I até Luís XV eram
originadas de uma laranjeira importada de Pamplona, na Espanha. Eram todas,
portanto, laranjas-azedas. A laranja-doce foi levada da Índia e da China, para a
Europa, pelos portugueses, bem depois da época de Carlos Magno, é claro. A
primeira laranjeira chinesa chegou a Portugal em 1630 e lá floresceu, tornando-
se mais popular que a laranja-azeda, até então, a única na Europa. Para o Brasil,
sementes e mudas foram trazidas de Portugal. Outro exemplo interessante é a
cebola. Ela aparece na lista de Carlos Magno e só depois disso passou a ser uma
cultura popular em toda a Europa. A cebola é uma das plantas mais importantes
para os russos, que as comem em grande quantidade, talvez por armazenarem
carboidratos, que as tornam um alimento muito energético. A lista de Carlos
Magno manteve sua importância por toda a Europa até o século XVIII, sendo as
plantas cultivadas em todos os conventos existentes em climas adequados.
Os portugueses na era dos descobrimentos
O homem, como ser inteligente que é, ao emigrar para uma nova região,
tentará reproduzir ali as condições em que vivia antes, seja quanto a alimentos,
seja quanto a hábitos ou costumes. Às vezes, se a região for muito isolada, os
costumes levados para a nova região acabam por se cristalizar no tempo. Vejam-
se alguns imigrantes alemães ou italianos dos estados de Santa Catarina ou Rio
Grande do Sul que mantêm tradições do país de origem no início do século XXI!
Os portugueses não foram diferentes. Durante a época dos descobrimentos,
e depois, espalharam pelo mundo as plantas que já conheciam da sua Europa
natal. Porém, em suas viagens passaram a conhecer novas espécies de plantas dos
outros continentes, plantas que lhes seriam úteis. Assim, precisavam introduzir
plantas européias nas regiões em que chegavam e levar plantas novas de um
continente para outro. Mas os climas eram muito diferentes e os locais muito
distantes uns dos outros. Veja-se a distância entre Brasil e Índia, por exemplo.
Além de tudo, havia o problema da sobrevivência das plantas durante as longas
travessias. Que fizeram eles? Havia necessidade de certo tipo de local, para
aclimatar novas e velhas espécies, produzir sementes e mudas. Na verdade, um
trabalho de conservação e de introdução de novas espécies em diferentes
continentes. O jardim botânico dos portugueses, o Éden, foram as ilhas do
Atlântico que ficavam a meio caminho entre a América e a Europa-África e entre
a Europa-Áfricae os países da Ásia. Nas ilhas do Atlântico, os portugueses
introduziram sementes e plantas vivas. Desse modo, já no fim do século XV, os
portugueses tinham seus jardins botânicos, com muitas das atribuições
semelhantes aos jardins botânicos e agronômicos do século XX. Hoje em dia há,
evidentemente, outras atribuições que então não existiam. Mas há muitos jardins
botânicos pelo mundo que tratam apenas de uma determinada, como os que
cuidam de plantas medicinais.
Onde ficavam os jardins botânicos lusitanos? Os arquipélagos das ilhas da
Madeira, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe foram os jardins botânicos
dos portugueses na era dos descobrimentos, os jardins botânicos da Renascença
portuguesa. E continuaram por muito tempo com sua função, muito além do
Renascimento.
O arquipélago das ilhas Macaronésicas, do qual a ilha da Madeira faz parte,
foi descoberto pelos portugueses em 1418. O arquipélago recebeu seu nome
graças à densa vegetação e muitas florestas. Está localizado no oceano Atlântico,
cerca de 1.100 km a sudoeste de Portugal, país ao qual pertence. Consiste das
ilhas da Madeira, Porto Santo, das ilhas Desertas e das ilhas Selvagens, todas de
origem vulcânica. O arquipélago tem área total de cerca de 800 km². A ilha da
Madeira é a maior, com 55 km de comprimento e 22 km de largura; nela situa-
se a cidade de Funchal, a capital do arquipélago. Foi a primeira área de ocupação
atlântica dos portugueses. Sua grande importância é o pionei​rismo na cultura e a
divulgação do açúcar para o Novo Mundo. A cana-de-açúcar foi uma das
primeiras plantas a serem testadas. O português levou do Oriente para lá a cana-
de-açúcar, de grande valor econômico na época, o que causou um processo de
transformação e degradação do meio ambiente local. As ilhas foram o viveiro de
aclimatação. Houve, para as ilhas, primeiro a migração da flora e da fauna
conhecidas da cultura ocidental. Depois, as plantas do Novo Mundo passaram
pelas ilhas da Madeira. A nova riqueza da flora local resulta de tudo isso. Os
estudiosos consideram que, atualmente, apenas 10% das espécies da flora da
Madeira sejam endêmicas, isto é, exclusivas dessas ilhas, não ocorrendo de forma
espontânea em nenhuma outra parte do mundo. Porém, o grande experimento
foi com a cana-de-açúcar. A cultura da cana-de-açúcar no arquipélago da
Madeira tornou-se o protótipo do sistema da cultura desenvolvido por Portugal
nas colônias da América depois de 1550. Essa cultura é uma das mais
importantes da história do homem, provocando grandes mudanças na
mobilidade humana, na economia, no comércio e na ecologia. É uma cultura
que transforma totalmente o meio am​biente, destruindo florestas, poluindo
cursos de água e esgotando o solo. Ela esteve ligada à escravatura de muitos
africanos, levados para o outro lado do oceano Atlântico.
O arquipélago de Cabo Verde, descoberto pelos portugueses em 1460, hoje
uma república, inclui muitas ilhas no oceano Atlântico, a oeste do ponto mais
ocidental da África, o cabo Verde. São dez ilhas maiores e cinco ilhas pequenas.
As ilhas maiores são: Santo Antão, São Vicente, São Nicolau, Sal, Boa Vista, São
Tiago, Brava, Fogo, Santa Luzia e Maio. Cabo Verde tem um total de cerca de
4.000 km². As cidades principais são Praia e Mindelo. As ilhas são de clima
ameno e seco, situa​das entre as zonas temperada do norte e a tropical, com
temperaturas das duas zonas, variando com a altitude, que pode ser bastante
elevada.
Quase todas as caravelas que saíam de Lisboa passavam por Cabo Verde. Os
portugueses pretendiam estabelecer nessas ilhas fontes de alimentos frescos para
seus homens. Para isso, foram intro​duzidas ali mudas já preparadas de algumas
espécies e sementes. Por seu clima, era o local ideal para propagar, desenvolver e
conservar plantas euro​péias que seriam levadas para as colônias tropicais e plantas
das colônias destinadas à Europa. As caravelas deixavam ali sementes de plantas
americanas que germinavam, cresciam e produziam novas plantas. Estas eram
apanhadas por outras caravelas e levadas para a Europa, a África e o Oriente. O
mesmo era feito com as plantas originárias do Oriente, da Europa ou da África.
Várias espécies foram levadas de Portugal para Cabo Verde, entre elas as
laranjas, a cidra, o limão, a romã, o figo, a pêra, a uva e o melão. Também foram
levadas hortaliças, como a alface, a couve, o nabo, o pepino, a beterraba e o
salsão, que cres​ciam bem, mas não produziam sementes. Só no século XX, com o
avanço da fisiologia vegetal, é que se descobriu que isso se devia a um fenômeno
chamado fotoperiodismo – a floração de muitas plantas é controlada pelo
número de horas de luz por dia a que a planta fica sujeita. Do Oriente, foram
levados o coco, a banana, a manga, a cana-de-açúcar e o arroz. A cana-de-açúcar
chegou através da ilha da Madeira. Os portugueses entraram em contato com o
coqueiro na primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, nas terras de
Moçambique. Ao Brasil, foi trazido de Cabo Verde pelos portugueses, em 1553.
Os portugueses aprenderam, com os orientais, a usar o coco, nas viagens, como
alimento fresco e fonte de água de fácil conservação por longo período. A
abóbora, o feijão, o mamão e o urucum foram levados das Américas para Cabo
Verde.
O arquipélago de São Tomé e Príncipe, que era desabitado quando foi
descoberto pelos portugueses em 1470, está localizado na costa ocidental da
África, no golfo da Guiné, bem na linha do Equador; portanto, são ilhas de
clima quente. Consta de várias ilhas pequenas, além das ilhas de São Tomé e
Príncipe. Cobre uma área de cerca de 1.000 km². A partir de 1485, os
portugueses levaram para as ilhas criminosos e judeus. Começou então um
rendoso comércio de escravos negros. Hoje, o arquipélago, em razão de sua
localização estratégica, voltou a ter grande importância. Os Estados Unidos
investiram milhões de dólares no arquipélago para instalar um sistema de radar e
de sensores de rastreamento, a fim de vigiar o oceano Atlântico e reprimir o
tráfego clandestino de na​vios. Quanto à temperatura e à proximidade de Lisboa,
esse arquipélago apresentava desvantagens para o cultivo de plantas em relação
ao arquipélago de Cabo Verde. O arquipélago de São Tomé e Príncipe não
ficava, em geral, na rota das caravelas e o clima não era apropriado à introdução
de plantas​ da zona temperada. Assim, muitas plantas oriundas da Europa não
podiam ser aclimatadas aí. Essas ilhas, no entanto, foram de grande importância
na troca de espécies entre o Brasil e o Oriente.
De Portugal, foram levadas para esse arquipélago as espécies do figo, da uva,
da laranja, da cidra, do pêssego, da amêndoa e da oliveira. Foram levadas
também hortaliças como a alface, a couve, o nabo, a beterraba e o salsão,
hortaliças que, como acontecia em Cabo Verde, eram semeadas, cres​ciam muito
bem, mas não produziam sementes. Das Américas, foram levados o abacateiro, a
batata-doce, a mandioca e o milho. Somente em 1822 os portugueses levaram
para São Tomé o cacau, que foi um grande sucesso, e o arquipélago passou a ser
um dos mais importantes produtores mun ​diais desse fruto já no início de 1900.
A baunilha chegou ao arquipélago no século XIX. Da África continental, foram
levados a tamareira e o cará. Da Ásia, os portugueses levaram para ali o coqueiro
e a cana-de-açúcar, que já estava sendo cultivada na ilha da Madeira.
Várias espécies previamente adaptadas nesses dois arquipélagos já estavam
sendo cultivadas no Brasil em 1585. Entre elas, podem-se citar o melão, o
pepino, o figo, a romã, a uva e a laranja. É preciso acrescentar que nem todas as
espécies introduzidas nos diferentes continentes passaram por pesquisas em Cabo
Verde e São Tomé e Príncipe. Por exemplo, o trigo foi levado diretamente para o
Sudeste do Brasil, em São Vicente, por Martim Afonso em 1534.
Um grande número de espécies foi levado das Américas para essas ilhas
portuguesas. Muitas dessas plantas, como o milho e a mandioca, depois de
aclimatadasnas ilhas, foram levadas para a África, ao sul do Saara, e passaram a
ser as principais fontes de alimentos dos africanos.
[1] Alberto Vieira, A história da cana-de-açúcar e meio am​biente, 2007, disponível em http://www.ceha-
madeira.net/ecologia/eco4.html.
http://www.ceha-madeira.net/ecologia/eco4.html
Os jardins de ervas medicinais
Os jardins sempre foram a alegria dos homens e, através dos séculos, são
conhecidos suntuosos exemplos.
Podemos citar os famosos jardins da Villa d’Este, em Tivoli, perto de Roma,
na Itália, um dos mais belos da Renascença. O cardeal Ippolito d’Este era filho
de Lucrécia Borgia com seu terceiro marido, Afonso I, duque de Ferrara, e foi
nomeado governador de Tivoli em 1549. Ficando encantado com a vista da
região, resolveu construir, em um pequeno morro, seu palácio e um jardim em
terraços. Não se preocupou com os gastos nem com o tempo curto. Construiu
seu jardim em vários terraços, unidos uns aos outros por vielas diagonais e
escadas laterais. As inúmeras fontes são abas​tecidas pelas águas do rio Aniene,
um afluente do rio Tibre. A Villa d’Este mostra claramente a grande vantagem
para um paisagista de ter um suprimento natural de água ao construir um
jardim. Porém, belos jardins não são só os da Renascença. Eles floresceram
também no período barroco, estilo iniciado em Roma. Como exemplo, temos os
parques geométricos realizados na Villa Borghese a partir de 1605 e, em 1634,
na Villa Doria Pamphili, ambos em Roma. Porém, há muitos outros por toda a
Europa.
Os nobres também adoravam criar grandes parques, em locais onde havia
ainda alguns remanescentes das florestas nativas, embora muito alteradas. Um
bom exemplo de parque, que hoje é aberto à visitação do público, com
pagamento de uma taxa de entrada, é o Painshill Park, situado em Cobham,
Surrey, na Inglaterra. O parque foi criado entre 1738 e 1773 por Charles
Hamilton, filho do duque de Abercorn. Hamilton começou a comprar as terras
do futuro parque em 1738 e gastou uma imensa fortuna em sua criação. Os
jardins​ seguiram um estilo naturalista e não geométrico, como era o costume
inglês naquela época, com muitos arquitetos especializados em paisagismo
contribuindo para o que se tornou o parque. Hamilton era apaixonado pela
cultura dos antigos romanos, da Idade Média, da Renascença e dos países
asiáticos. Assim, o parque apresenta suas excentricidades. Por toda parte, um
grande número de ruínas romanas, góticas, da Renascença e pontes chinesas. Há
restos de uma abadia, de um anfiteatro, de um templo gótico. Alguns prédios são
mantidos e outros se tornaram ruínas. Muitos já foram construídos como ruínas
e são mantidos assim até hoje. Estátuas de mármore estão espalhadas por todo o
parque. Há também um grande moinho de água. Quando o dinheiro de
Hamilton terminou, em 1773, ele vendeu o parque, que continuou a ser bem
cuidado por muito tempo. Posteriormente, foi abandonado por um período e,
finalmente, restaurado a partir de 1981, de acordo com o conceito original de
seu fundador. Cercado por muros altos de tijolos, havia e ainda são mantidos
hoje uma horta e um pomar, além de um jardim utilizado para aulas de
jardinagem. Há um grande número de árvores muito interessantes, que já
existiam lá ou foram plantadas por Hamilton. De frente para o grande lago, há
um cedro-do-líbano (Cedrus libani A. Rich, família pinácea, Gymnospermae).
Mesmo jardins botânicos, sempre privados e nos domínios de reis e nobres,
existiam, freqüen​temente combinados com jardins zoológicos. O Jardim de
Schönbrunn, perto de Viena, é um bom exemplo. O parque do castelo foi
comprado em 1569 pelo imperador austríaco Maximiliano II, que tentou
estabelecer no local um conjunto de animais selvagens e o cultivo de plantas
raras e exóticas. Durante a invasão dos turcos, foi quase totalmente destruído. A
construção do novo palácio foi iniciada em 1669 e completada entre 1746 e
1749. O parque também foi completado na mesma época. A idade de ouro de
Schönbrunn teve início na época da rainha Maria Teresa. O zoológico,
reconstruído em 1752, é hoje o mais antigo zoológico do mundo e o único
barroco. O jardim em si tem uma coleção famosa de plantas tropicais, longas
alamedas, colinas cobertas de vegetação luxuriante. Mas não é o Jardim Botânico
de Viena. Este, que pertence à Universidade de Viena, foi fundado em 1754 pela
imperatriz Maria Teresa e fica perto da estação Rennveg, tendo sua entrada na
esquina das ruas Mechelgasse e Praetoriusgasse.
Mas jardins botânicos também eram criados por burgueses ricos interessados
em plantas e animais. Na Alemanha, por exemplo, todos os botânicos eram
donos de grandes jardins e ali faziam suas pesquisas. Henricus Cordus, um
botânico que recebera o título de doutor em Ferrara, na Itália, em 1525 criou
um em sua propriedade, em Erfurt. Era tão extenso que era conhecido, na época,
como Jardim do Sacro Império Romano. Em 1527, Cordus foi nomeado
professor em Marburg. Uma de suas primeiras providências foi criar na cidade
um jardim botânico para seu uso. Eram, portanto, sempre privados, muitas vezes
sem uma atividade de pesquisa verdadeira. E há muitos outros por toda a
Europa.
Porém, quando se fala de botânica e de jardins, não se pode deixar Teofrasto
de lado. Teofrasto foi o mais importante botânico da Antiguidade e discípulo de
Aristóteles, de quem herdou a biblioteca e trabalhos inéditos. Passou seus anos
mais produtivos em Atenas, onde tinha um grande número de alunos e era
responsável pelo que se supõe seja o primeiro jardim botânico. Nada chegou até
nós a respeito desse jardim, de seu tamanho, das espécies de plantas e de quanto
tempo durou. Teofrasto é o autor de De historia plantarum e De causis
plantarum, textos em que escreve sobre a história das plantas e sobre o que afeta
o crescimento do vegetal. Os manuscritos foram traduzidos para o latim a
mando do papa Nicolau V e publicados pela primeira vez em Treviso em 1483.
Durante muito tempo, os trabalhos de Teofrasto eram indispensáveis para
entender e ensinar a botânica, apesar de serem muito gerais e, neles, as espécies
das plantas serem mencionadas sem cuidado, muitas vezes sendo difícil saber do
que ele está falando. Referiu-se também a plantas exóticas da Índia, Pérsia, Síria,
Egito e Líbia, mas seu conhecimento sobre elas era fraco e baseado em histórias
dos soldados de Alexandre, o Grande.
Mas e as espécies com propriedades medicinais? Espécies vegetais já eram
empregadas como medicamento entre os fenícios, assírios, egípcios, muito antes
de Teofrasto. Na China, há mais de 8 mil anos se utilizavam plantas que são
encontradas na farmacopéia chinesa atual. Primeiro estudo com uma coleção de
ilustrações de espécies vegetais, suas descrições e o relato de suas virtudes, foi
feito por Crautea, médico de Mitridate VI (132-63 a.C.), rei de Ponto, no
nordeste da Turquia. Crautea ficou famoso, em seu tempo, por preparar um
medicamento supostamente eficiente contra qualquer tipo de envenenamento;
foi chamado de mitridatium, de fórmula complexa, composto de mais de
cinqüenta espécies vegetais.
Dioscórides Pedânio era um médico grego nascido na Cilícia, hoje Turquia,
e serviu como médico do exército romano de Nero. Estudou muitas plantas e
suas propriedades, tendo escrito De materia medica, que é o primeiro texto
importante de botânica e farmacologia, deixando de lado a superstição. Toda a
farmacologia da Idade Média foi baseada nesse texto. O texto simplificado foi
muito reproduzido e difundido nos conventos da época medieval, centros de
pesquisa de plantas medicinais.
Cláudio Galeno nasceu em Pérgamo, na época colônia romana, onde
estudou medicina. Viveu em Roma, sendo médico do imperador Cômodo, filho
de Marco Aurélio. Escreveu muito sobre medicamentos e farmácia. Entretanto,
em suas obras há referência a apenas cerca de 450 fármacos, menos da metade do
que se encontra na obra de Dioscó​rides.
Em 1046, chega a Salerno, na Itália, o árabe, convertido ao cristianismo,Constantino, o Africano. Ele traduz do árabe as principais obras médicas ​-
islâmicas, mostrando quais plantas os muçul​manos utilizavam como medicinais.
Dessa maneira, houve um grande aumento do número de plantas a serem
cultivadas nos jardins de ervas medicinais.
Os jardins de ervas medicinais são a transição entre jardins comuns e jardins
botânicos, criando a concepção inicial de um verdadeiro jardim botânico. O
jardim de ervas medicinais é o Jardim dos Simples – Orto dei Semplici.
“Semplici” ou “simples” significa plantas que possuam propriedades medicinais
ou farmacológicas. Esses jardins foram criados para o cultivo das plantas
utilizadas na tradição popular e que passaram a ser empregadas diretamente em
medicina ou que continham substâncias aproveitadas em medicina.
Inicialmente, foram criados por instituições particulares pertencentes a médicos,
boticários, conventos e hospitais. Mais tarde, havia certo interesse didático para o
ensino de algumas espécies de interesse farmacêutico (as espécies officinalis). Nos
mais antigos, as plantas eram utilizadas diretamente. Nos mais recentes, jardins
onde alguma pesquisa era realizada, utilizavam-se produtos de plantas. Desde sua
criação, o orto dei Semplici é subdividido em setores que correspondem à função
medicinal de cada planta.
Em geral, os setores eram os seguintes:
plantas que atuam sobre o sistema respiratório;
plantas que atuam sobre o sistema genito-urinário;
plantas que atuam sobre o sistema digestivo;​
plantas que atuam sobre o sistema nervoso;
plantas que atuam sobre o sistema respiratório;
plantas que atuam sobre o sistema músculo-esquelético;
plantas que atuam sobre o sistema circulatório;
plantas que atuam sobre a pele;
plantas com ação antiparasitária.
Até o nascimento da química de sintéticos no século XIX, os medicamentos
eram simplesmente retirados das plantas. A partir de então, passaram a ser
também sintetizados, como é o caso de muitos remédios de hoje em dia, que são
preparados pelos laboratórios e não mais extraídos de espé​cies vegetais.
A necessidade de encontrar remédios para curar doenças sempre foi muito
importante para o homem, que, desde a pré-história, por observação, era capaz
de reconhecer muitas plantas e de saber que uso elas poderiam ter, inclusive
como medicamento. Até o nascimento da medicina moderna, não havia um
estudo sistemático e científico das plantas, e o que se fazia era combinar práticas
religiosas e mágicas. Por exemplo, era comum identificar a função terapêutica
pela associação entre a semelhança da forma de uma planta ou parte dessa planta
com a do órgão do corpo. Assim, se uma folha tinha forma de coração, ela era
empregada na medicina caseira para tratar de dores do coração e problemas do
sistema circulatório.
Os primeiros e principais jardins de ervas medicinais com função didática
foram criados na Itália. Um, no século XIII, no Vaticano, e outro, entre os
séculos XIII e o XIV, em Salerno. Ambos não existem mais.
As ervas medicinais eram cultivadas em uma área restrita dos jardins do
Vaticano. Há uma lápide, hoje pertencendo ao acervo do Museu Palatino em
Roma, que atesta que o papa Nicolau III (papa de 1277 a 1300) foi quem
determinou, em 1278, a construção desse setor do jardim, além de cercá-lo com
muros. O jardim continha, inicialmente, uma área com árvores de espécies
variadas, plantas herbáceas e uma fonte. Mais tarde, o horto assume sua função
de jardim de plantas medicinais. É o primeiro exemplo de um jardim medicinal.
No pontificado de Inocêncio VIII (papa de 1484 a 1492), incrementa-se o
acervo de plantas medicinais. Os médicos e professores colhiam plantas desse
jardim para suas pesquisas. O papa Leão X (papa de 1513 a 1521) institui na
Universidade de Roma, em 1514, a primeira cátedra para o ensino de ervas
medicinais. O titular da cátedra, na universidade, era também responsável pelo
Horto do Vaticano. O horto foi abandonado por causa das novas construções no
Vaticano e desapareceu totalmente. O papa Alexandre VII (papa de 1655 a
1667), sentindo a necessidade de um novo horto, concede à univer​sidade um
terreno no Gianicolo para a cons​trução do que é o atual Jardim Botânico de
Roma.
Em Salerno, o chamado Jardim de Minerva era um jardim de plantas
medicinais que existia na propriedade da família de nome Silvatico. Estava
situado no centro antigo de Salerno, perto do rio Fusandola, cercado de muros
medievais. Matteo Silvatico, que viveu entre os séculos XIII e XIV, era um
famoso médico, grande conhecedor de plantas e de suas qualidades terapêuticas.
Escreveu Liber​cibalis et medicinalis pandectarum, uma coleção valiosa de
informações a respeito de plantas usadas para preparar medicamentos. Em sua
propriedade, ele cultivava as plantas medicinais que apresentava a seus alunos.
Assim, estes ficavam conhecendo o nome das espécies e para que tipo de doenças
elas eram úteis. Esse jardim foi recons​truído há poucos anos.
Os jardins de ervas medicinais são os protótipos dos primeiros jardins
botânicos, na acepção moderna, que surgiram no século XVI.
Os primeiros jardins botânicos
Os reais protótipos dos jardins botânicos, como os conhecemos hoje em dia,
foram os jardins de ervas medicinais.
O que é um jardim botânico? É um jardim em que plantas são cultivadas e
exibidas sobretudo para fins de pesquisa e de educação. É uma instituição
mantida por dinheiro público ou privado, aberta ao grande público e ao público
especializado. Um jardim botânico consiste principalmente de uma coleção de
plantas vivas, cultivadas a pleno​ sol ou em casas de vegetação ou estufas.
Também​ pode ter uma coleção de plantas secas, mantidas em um herbário, e
outras facilidades, como biblio​teca, laboratórios, museus e locais para plantio ou
pesquisas especiais.
A partir do fim do século XVIII, os jardins botânicos da Europa começaram
a organizar expedições científicas, sempre com algum botânico de renome, a
diversos rincões do mundo para coletar espécies exóticas, e os resultados dessas
expedições passaram a ser publicados. Posteriormente, pesquisas eram realizadas
para saber como adaptar essas plantas exóticas aos jardins botânicos responsáveis
pelas expedições. Outras pesquisas eram realizadas para identificar e classificar as
espécies, como propagá-las e o que devia ser feito para proteger espécies em
perigo de extinção. Os experimentos e pesquisa feitos nesses jardins botânicos
permitiram que muitas espécies fossem levadas de seu local de origem para outras
regiões do mundo. Mas já muito antes do século XVIII, expedições eram feitas
para coletar plantas. No Egito antigo, em 1495 antes da era cristã, a rainha
Hatchepsout enviou o príncipe Nehasi em uma expedição para coletar plantas de
mirra. A expedição deixou o palácio em barcos, subiu o rio Nilo, atravessou o
mar Vermelho até o golfo de Aden. O resultado é que 31 arbustos jovens de
mirra chegaram ao Egito e foram plantados no templo de Amon em Tebas.
Durante a era dos descobrimentos, os portugueses faziam o mesmo nas ilhas
do oceano Atlântico: coletavam plantas em vários locais do mundo e as
cultivavam nessas ilhas. Isso reforça minha tese de que os primeiros jardins
botânicos de verdade foram os arquipélagos da Madeira, de Cabo Verde e de São
Tomé e Príncipe, na época das grandes aventuras marítimas dos portugueses.
As plantas podem estar organizadas de acordo com as subdivisões da
botânica. Pode ser uma organização sistemática, usando a classificação de
espécies; ecológica, utilizando a relação delas com o meio ambiente; ou
geográfica, levando em consideração a região de origem. Os maiores jardins
botânicos incluem também coleções de plantas de montanhas, plantas aquáticas,
plantas silvestres e de grupos de horticultura para cruzamento, etc. No jardim
botânico, a área que só tem plantas lenhosas é chamada de arboreto ou
arboretum.
De modo geral, os primeiros jardins botânicos foram criados próximo das
escolas de medicina das universidades, sempretendo a preocupação de cultivar
ervas medicinais. Os jardins botânicos (ou hortos botânicos) mais antigos do
mundo, no sentido dado anteriormente, são quase todos italianos. São eles: o de
Pisa (1543), o de Pádua (junho de 1545) e o de Florença (dezembro de 1545).
Logo depois, foram criados, ainda na Itália, os de Sassari e o de Ferrara, ambos
em 1550, e o de Bolonha, em 1568. Mas há o de Valência, na Espanha, que é de
1567. Todos eles compartilhavam as características de, inicialmente, cultivar
ervas medicinais e serem ligados diretamente às faculdades de medicina das
universidades. O sucesso dos jardins botânicos italianos foi imediato.
Mostraram-se muito úteis para o ensino, para a produção de plantas e para a
aclimatação de espécies exóticas à região.
Logo outros países, como a França, a Alemanha, a Holanda, a Grã-Bretanha,
a Dinamarca e a Suécia, passaram a seguir o exemplo da Itália, criando hortos
botânicos nas universidades. Além disso, um grande número deles também foi
criado em universidades menores. Em ordem cronológica, os jardins botânicos
mais antigos e importantes criados nos séculos XVI e XVII, que poderíamos
considerar os jardins botânicos históricos, são:
1543 – Pisa (Itália)
1545 – Pádua (Itália)
1545 – Florença (Itália)
1545 – 1550 Sassari (Itália)
1550 – Ferrara (Itália)
1567 – Valência (Espanha)
1568 – Bolonha (Itália)
1580 – Leipzig (Alemanha)
1581 – Koenigsberg (Prússia)
1586 – Jena (Alemanha)
1587 – Wroclaw (Polônia)
1593 – Montpellier (França)
1593 – Heidelberg (Alemanha)
1593 – Leiden (Holanda)
1600 – Copenhague (Dinamarca)
1619 – Estrasburgo (França)
1621 – Oxford (Inglaterra)
1635 – Paris (França)
1638 – Amsterdã (Holanda)
1663 – Tübingen (Alemanha)
1665 – Uppsala (Suécia)
1666 – Hannover (Alemanha)
1670 – Edimburgo (Escócia)
1673 – Chelsea Physic Garden, de Londres (Inglaterra)
1679 – Berlim (Alemanha)
No século XVIII, foram criados, em 1736, o Jardim Botânico de Göttingen,
na Alemanha; em 1755, o de Madri, na Espanha; em 1768, o Jardim Botânico
da Ajuda em Lisboa, Portugal (o de Lisboa só foi fundado entre 1873 e 1878);
em 1772, o Jardim Botânico de Coimbra, Portugal; e, em 1779, o Jardim
Botânico de Palermo, Itália. Em 1759, foi iniciado o que se tornaria o jardim
nacional da Inglaterra, o Jardim Botânico de Kew (Kew Botanic Gardens), hoje
o maior do mundo. Na Itália, onde tudo começou, atualmente há mais de trinta
jardins botânicos, sendo os mais importantes o de Palermo e o de Nápoles, este
último fundado em 1807.
E as Américas? E o resto do mundo?
Nos Estados Unidos, o primeiro jardim botânico, com natureza
experimental, foi estabelecido pelo botânico John Bartram em 1728, nos
arredores de Filadélfia. Ele era um cidadão influente nessa cidade, um de seus
amigos sendo Benjamin Franklin. Ambos foram membros da Sociedade
Filosófica Americana, fundada em 1742. Em 1728, Bartram comprou uma casa
e uma grande área em Kingsessing, na margem do rio Schuylkill, a cerca de 4 km
de Filadélfia. Nessa área, ele iniciou seu jardim botânico, que é considerado por
muitos o primeiro das Américas, mas que é um jardim botânico particular. Fez
excursões de coleta ao lago Ontário, ao rio Ohio, à Flórida, à Carolina do Sul e à
Carolina do Norte. Coletava plantas, levava-as para seu jardim e também trocava
sementes e mudas com jardins e parques da Europa, como o Painshill Park, em
Surrey, na Inglaterra, além de manter uma grande correspondência com
botânicos e comerciantes de sementes europeus. Em 1777, quando morreu, ele
havia enviado entre 150 e 200 espécies de plantas americanas para a Europa. O
jardim de Bartram em Filadélfia é aberto ao público e ainda mantém o jardim
botânico original. O jardim botânico público dos Estados Unidos é o Jardim
Botânico de Harvard, que é especializado em plantas lenhosas, um arboreto.
Na Ásia, há na Indonésia o Jardim Botânico de Bogor, criado pelos
holandeses. Seria um jardim botânico histórico fora dos limites da Europa.
A primeira iniciativa para instituir um jardim botânico no Brasil foi do
príncipe holandês Maurício de Nassau, no Palácio de Friburgo, em Recife
(Pernambuco), no século XVII. Esse jardim existiu entre 1637 e 1644. Pouco se
sabe hoje a respeito dele. Nassau queria construir uma bela colônia holandesa no
Brasil, com todas as características da vida na Europa. Nada demais, portanto,
construir um jardim botânico. Nesse período, estiveram, com o príncipe, o
cartógrafo e naturalista alemão Georg Markgraf, o naturalista Willen Pies e os
famosos pintores Albert Eckhout e Frans Post. Todos devem ter colaborado de
alguma maneira com o jardim botânico de Nassau.
Apenas no final do século XVIII é que foram emitidas instruções da Coroa
portuguesa para a criação dos primeiros jardins botânicos brasileiros em Belém,
Olinda, Cuiabá, Ouro Preto (na época Vila Rica), Salvador, São Paulo e Rio de
Janeiro. Dos criados e implantados, apenas o Jardim Botânico do Grão-Pará e o
de Vila Rica sobreviveram por alguns anos. O Jardim Botânico de Vila Rica foi
criado em 1798 na entrada da cidade. Hoje só restam ruínas dessa antiga
instituição, situadas no Passa Dez, entrada de Ouro Preto. Seu objetivo era
cultivar espécies nativas e exóticas, como a amo​reira, para a criação do bicho-da-
seda, e também a planta do chá. Esse jardim rapidamente entrou em total
declinio.
O primeiro jardim botânico efetivamente estabelecido no Brasil foi o Jardim
Botânico do Grão-Pará, de Belém, em 1796, que teve vida mais longa que o de
Vila Rica. Foi instalado com um complexo agrícola, os Jardins de São José, para
o cultivo de muitas espécies vegetais, entre elas ervas medicinais. O jardim
também tentava cultivar e domesticar espécies nativas. O Grão-Pará conseguiu
da fazenda colonial francesa La Gabrielle, na Guiana Francesa, remessas de
pimenta-do-reino, canela, fruta-pão, cravo-da-índia, além do café. Tentou-se
organizar cientificamente o jardim e dar início a estudos de botânica. O Grão-
Pará foi muito ativo até 1820, servindo de entreposto e distribuidor de plantas e
sementes para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, criado por dom João VI.
Com os movimentos políticos da independência do Brasil, o Grão-Pará entrou
em crise, mas continuou a existir até 1870.
A Coroa portuguesa, no fim do século XVIII, tentou implantar jardins
botânicos em suas colônias da Ásia, um em Goa (Índia) e outro em Macau
(China). Infelizmente, as tentativas fracassaram. Na realidade, foram os
holandeses que estabeleceram um jardim botânico na Ásia. Em 1817, foi
fundado pelos holandeses o Jardim Botânico de Buiten ​zorg (hoje Bogor), que
está situado a 60 km ao sul de Jacarta, na Indonésia.
No século XIX, as autoridades políticas de vários países passaram a construir
jardins botânicos para levar conhecimento ao grande público, principalmente a
população mais pobre. Nessa época, as coleções organizadas de plantas passaram
a fazer parte deles. Como exemplos de jardins botânicos criados no século XIX,
podem ser citados dois nos Estados Unidos: o de Missouri, em Saint Louis,
fundado em 1859, e o de Nova York, no Bronx Park, que é de 1895.
No século XX, os jardins botânicos foram estabelecidos ou reestruturados
para cumprir todas as funções mencionadas anteriormente, mas acrescentando
contribuições à conservação da natureza. Atualmente, há cerca de 1.400 jardins
botânicos e arboretos no mundo, recebendo cerca de 100 milhões de visitantes
por ano. A maior parte deles está localizada na Europa.
E no século XXI?
Jardins botânicos históricos
Jardim Botânico de Pisa
Orto Botanico di Pisa
Via Luca Ghini, 5
56126 Pisa
Itália
http://www.dsb.unipi.it
e-mail: direzione@dsb.unipi.it
http://www.dsb.unipi.it
mailto:direzione@dsb.unipi.it
Pisa fica na região da Toscana, Itália. De origem obscura, pode ter sido
fundada por gregos ou etruscos. Restos arqueológicos do século V a.C.
confirmam a existência, no local, de um porto no mar Tirreno. Em 180 a.C.,
passou a ser colônia romana. Muitopoderosa durante a Idade Média e a
Renascença, perdeu sua grande importância quando foi subjugada por Florença,
em duas ocasiões: em 1406, por algum tempo, e novamente em 1509. Em 1857,
passou a fazer parte do Reino da Itália.
A Universidade de Pisa foi criada, em 1343, por um edital do papa
Clemente VI (no cargo entre 1342 e 1352). Galileu Galilei, um dos maiores
gênios da humanidade, nascido em Pisa, foi professor de matemática de sua
universidade. Enrico Fermi, o Prêmio Nobel de Física, igualmente. Desde seu
início, a cidade sempre foi um centro importante para a difusão do
conhecimento. São reconhecidos seus departamentos de ciência da computação,
física, matemática e engenharia; o departamento de ciências da computação foi o
primeiro do gênero a ser instituído na Itália. O primeiro instituto de lingüística
histórica da Europa foi, também, fundado em Pisa, em 1890.
O Jardim Botânico (Orto Botanico) de Pisa é o mais antigo do mundo e foi
criado em 1543, durante o governo do grão-duque Cosimo I, da casa dos Médici
(da Toscana), por Luca Ghini, na época o catedrático de botânica. Era parte da
Universidade de Pisa e tinha como função primordial manter plantas medicinais
para uso dos estudantes e professores da Faculdade de Medicina. Que razões o
levaram a criar o jardim? Luca Ghini queria que seus alunos pudessem observar,
ao vivo, as espécies que discutia em suas aulas. O jardim foi implantado às
margens do rio Arno, sendo, em 1563, transferido para uma área perto da casa
onde nasceu Galileu, próxima do Convento de Santa Marta. Foi uma escolha
infeliz, pois o local não recebia luz do sol por muitas horas do dia. Além disso,
ficava longe da sede da universidade, o que tornava a vida dos estudantes muito
atribulada. O grão-duque Ferdinando I, dos Médici, adquiriu terrenos na via
Santa Maria e, em 1595, o jardim passou a funcionar definitivamente perto do
Campo dei Miracoli, com um desenho típico da Renascença. Em 1723, foi feito
um novo projeto com esquema ainda bem renascentista: oito canteiros
quadrados, com uma fonte no centro de cada um, cada canteiro subdividido em
canteiros menores. No século XIX, tudo foi redesenhado: é o traçado atual. O
espaço foi alterado para seguir os critérios da classificação moderna de plantas.
Os canteiros, as estufas, as grutas, as fontes, além, evidentemente, do patrimônio
arbóreo, fazem deste jardim botânico um dos mais interessantes da Itália. Há
coleções muito importantes em Pisa. A coleção de árvores e arbustos tem 950
espécies, algumas introduzidas no século XVIII. Há 550 espécies na coleção
chamada taxonômica, principalmente de gramíneas. Há uma coleção de
suculentas, além de coleções de plantas tropicais, de plantas aquáticas, de
samambaias e outras. O Museu Botânico faz parte do jardim. Apresenta uma
coleção de retratos e esculturas em cera de botânicos do século XVII.
O edifício do Instituto de Botânica, iniciado em 1890, tem uma fachada
neoclássica. Em frente do prédio há dois exemplares da palmeira Jubaea chilensis,
plantados em 1877. Entre os dois foi colocado um tanque coberto de Nymphaea
alba. No jardim, há exemplares de árvores da Europa e de outros continentes.
Sua função primordial permanece: o uso de algumas espécies botânicas nas
medicinas doméstica e oficial é tradição em Pisa desde o século XVI; assim, este
jardim de ervas medicinais é utilizado por estudantes da universidade. O jardim
tem, também, duas casas de vegetação. A maior é usada para manter, durante o
inverno, as plantas envasadas sensíveis ao frio que ficam ao ar livre durante o
verão e a primavera, bem como as plantas de interesse econômico, como o café
(Coffea arabica). A menor, com temperatura e umidade elevadas e controladas, é
utilizada para plantas tropicais e subtropicais. Uma pequena estufa com um
tanque é reservada para a vitória-régia (Victoria amazonica). No chamado Orto
del Cedro, encontra-se um cedro colossal (Cedrus libani) e as duas árvores mais
velhas do Jardim Botânico de Pisa, ambas plantadas em 1787: uma magnólia
(Magno​lia grandiflora) e um ginco (Ginkgo biloba). O jardim mantém
laboratórios de pesquisa, herbário (com cerca de meio milhão de exsicatas que
são exemplares dessecados de espécies da flora da Itália e da região do
Mediterrâneo), museu didático. A biblioteca, atualmente incorporada pela
Universidade de Pisa, possui uma excelente coleção de ilustrações de plantas.
Não se pode deixar de falar um pouco de dois botânicos famosos do Jardim
Botânico de Pisa. Luca Ghini estudou medicina na Universidade de Bolonha,
onde foi também professor de medicina. Em 1539, obteve a cátedra de botânica
em Bolonha. A convite do grão-duque Cosimo I, já havia feito contato com o
mundo acadêmico de Pisa quando para lá se mudou. Sob a direção de Ghini, o
Jardim Botânico de Pisa tornou-se, em pouco tempo, um dos mais importantes
da Europa, por causa da qualidade e da diversidade das plantas introduzidas. Na
realidade, Ghini tornou a botânica uma ciência autônoma, independente da
medicina. A botânica lhe deve muito mais. Ele inventou um novo método de
secar e conservar espécimes de plantas, dando início aos herbários. Foi diretor do
Jardim Botânico de Pisa até 1554.
De 1554 a 1558, o diretor foi Andrea Cesalpino, discípulo de Ghini. Era
médico e naturalista. Organizou, em Pisa, um excelente herbário, que se
encontra, atualmente, no Jardim Botânico de Florença. Em 1583, Cesalpino
publicou seu principal livro, De plantis, no qual descreveu a flor como o
invólucro das partes polinizadoras. Foi dele, também, a primeira tentativa,
usando os frutos e as sementes, de classificar as plantas em bases estritamente
biológicas. As plantas eram divididas em três grupos: árvores, arbustos e ervas
(subdivididos de acordo com o número de compartimentos que os frutos têm
para conter as sementes) e plantas que não têm sementes. O sistema de
classificação de Cesalpino foi mais tarde utilizado, em parte, pelo sueco Lineu,
que finalmente criou um sistema de classificação aceito pelos botânicos nos
séculos seguintes. O nome Caesalpinioideae, subfamília das leguminosas, foi
dado em homenagem a Cesalpino.
Como aparece com freqüência na história da instituição, a “coroa imperial”
foi escolhida como emblema ou marca do Jardim Botânico de Pisa. A imagem
foi encomendada por Giuseppe Casabona (diretor de 1592 a 1596), ao pintor
alemão Daniel Froeschl. Em uma excursão botânica, algum tempo antes de ser
diretor, Casabona, havia encontrado essa planta na ilha de Creta. Levou a espécie
para Pisa, onde suas freqüentes representações e presença atestam o interesse dos
cientistas dos séculos XVI e XVII pela flora da Europa e do Oriente. Há baixos-
relevos dessa planta nos portões de entrada e em diversas partes do jardim, além
de muitos desenhos e gravuras dos séculos XVI e XVII na bi​blioteca.
A coroa imperial, corona imperiale, crown imperial, é a Fritillaria imperialis
L., família liliácea. É originária da região que vai do Irã até o norte da Índia. É
uma planta com bulbo, que é comestível depois de cozido; mas venenoso
quando cru em razão da presença de uma substância, a imperialina, prejudicial
ao coração. Suas flores são alaranjadas, pendentes, dispostas em inflorescência.
Foi muito representada pelos grandes pintores holandeses do passado. De acordo
com a escritora inglesa Vita Sackville-West, que transformou o jardim do
Castelo de Sissinghurst, num dos mais famosos da Inglaterra, é a mais
principesca das liliáceas.
Hoje, mantendo a tradição de seu passado ilustre, o Jardim Botânico de Pisa
continua a prestigiar a pesquisa experimental no campo da biotaxo​nomia,
citotaxonomia, fitogeografia e embriologia. Há um interesse primordial pela
flora endêmica da Itália central e da costa do Mediterrâneo, rara ou ameaçada de
extinção, pelas floras de medicinais e da zona úmida da Itália. Além disso, a
instituição tem como objeto de pesquisa, com o intuito de salvá-las, muitas
espécies vegetais de outras partesdo mundo que correm perigo de extinção.
Mantém, igualmente, uma coleção importante de sementes, com coleta intensiva
e troca com outros jardins botânicos do mundo.
O Departamento de Instrução e Cultura da Toscana, que financia a
atividade didática e de pesqui​sa, diz do Jardim Botânico de Pisa: “É um instituto
cultural que, embora desenvolvendo plena​mente seu trabalho de ensino
universitário, consegue fornecer estrutura e serviços também para atividades
culturais de maior divulgação.”
Jardim Botânico de Pádua
Centro di Ateneo
Orto Botanico
Università degli Studi di Padova
Via Orto Botanico, 15
35123 Padova
www.ortobotanico.unipd.it
e-mail: ortobotanico@unipd.it
http://www.ortobotanico.unipd.it
mailto:ortobotanico@unipd.it
A cidade de Pádua fica na região do Vêneto. Pertenceu à república de
Veneza, quase ininterrup​tamente, de 1405 a 1797, quando passou a ser
dominada pela Áustria. Em 1866, tornou-se parte do novo reino da Itália. Pádua
é considerada a cidade mais antiga do norte daquele país. Diz a lenda que foi
fundada pelo troiano Antenor, o homem que abriu as portas de Tróia para a
entrada do famoso cavalo cheio de gregos. Depois da queda de Tróia, ele viajou e
fundou Pádua, a Patavium dos romanos. Seus habitantes foram convertidos ao
cristianismo por são Prosdócimo, hoje venerado como o primeiro bispo da
cidade.
A Universidade de Pádua foi criada em 1222 pela fusão de várias faculdades
espalhadas pela cidade. É uma das mais antigas ainda em atividade e merece uma
visita. Na Sala dos Quarenta é mantida a cadeira de Galileu, que lecionou em
Pádua de 1592 a 1610. O Teatro de Anatomia, de 1594, é o mais antigo do
mundo. Nesse teatro, Andreas Vesalius, autor de De humani corporis fabrica e
considerado o fundador da moderna anatomia humana, fazia suas dissecações
O interesse dos estudiosos da universidade pelas plantas era bem grande.
Basta citar Nicolò Roccabonella e seu Liber de simplicibus, em que identifica as
plantas nas pinturas do pintor vêneto Andrea Amadio, e Pier Antonio Michiel
com sua obra em cinco volumes Erbario o storia generale delle piante, com mil
ilustrações bastante científicas. Em 1533, foi criada, na Universidade de Pádua, a
cadeira de botânica, com o nome de Lectura Simplicium, cujo catedrático era
Francesco Bonafede. A botânica passou a ser uma disciplina totalmente separada
da medicina. À época, reinava muita incerteza, por exemplo, sobre a
identificação correta das plantas medicinais usadas na Antiguidade grega. Eram
freqüentes os erros que comprometiam a saúde pública. Estudantes do mundo
todo acorreram a Pádua para estudar essa matéria essencial à arte da cura.
Bonafede ensinava Medicamenta Simplicia utilizando as poucas plantas que ele
mesmo levava às aulas, e sobretudo um herbário figurativo. Ao perceber que essa
não era a metodologia correta e que necessitava de plantas vivas em quantidade,
teve a idéia de criar um jardim botânico.
O Jardim Botânico de Pádua foi criado em 29 de junho de 1545, como um
horto medicinal, por proposta do professor Francesco Bonafede. Sua função seria
a de cultivar, observar, estudar e experimentar plantas medicinais, nativas ou
exóticas, e montar um museu de drogas delas retiradas. Construído em um
terreno comprado dos monges beneditinos de Santa Justina, abrigava as plantas
medicinais que constituíam a grande maioria dos simples (semplici), isto é,
medicamentos provenientes diretamente da natureza. O Jardim Botânico da
Universidade de Pádua continua, até hoje, em seu local de origem, entre as
igrejas de Santa Justina e de Santo Antônio e mantém, igualmente, sua estrutura
original pouco modificada. Até alguns anos atrás, a água do canal Alicorno, que
margeia o jardim, era utilizada na irrigação. Se for levada em consideração a
estrutura física e não a data de criação, este é o jardim botânico universitário
mais antigo do mundo (o de Pisa, criado em 1543, mudou de local três vezes).
Em 1561, eram cultivadas no jardim cerca de 1.800 espécies. Com o passar do
tempo, foi sendo enriquecido com mais plantas, medicinais ou não, de todos os
lugares do mundo, especialmente de países que tinham relações com a república
de Veneza. Essa prática foi muito importante tanto na introdução como no
estudo de muitas espécies exóticas. A instituição assistiu à evolução da botânica,
desde sua antiga aplicação à medicina até todos seus ramos atuais. Com o
desenvolvimento do jardim, foram criados a biblioteca, o herbário, as estufas e
um grande número de laboratórios. Hoje, ele mantém um intenso programa
didático e de pesquisa científica, tendo em seu escopo a preservação de espécies
raras ou em perigo de extinção.
O desenho original da parte mais antiga é mantido até hoje. Ele foi
planejado por um nobre veneziano – Daniele Barbaro – e construído pelo
arquiteto Andrea Moroni, inspirado nos jardins murados medievais. A Daniele
Barbaro é atribuído o regulamento das visitas ao Orto Botanico, esculpido em
um pilar de um portão, datado e aqui transcrito:
Normas escritas pelos triúnviros
I. Este portão de acesso não deve ser aberto no dia de São Marcos nem chegada a 22ª hora.
II. O ingresso por esta entrada, ainda que sem o pagamento do dízimo, não pode ser
impedido.
III. No jardim os caules das plantas não devem ser quebrados, nem as flores retiradas, nem
as sementes e os frutos colhidos, nem as raízes arrancadas.
IV. Os pequenos e frágeis brotos não devem ser manuseados nem se deve caminhar
pisoteando as mudas.
V. Não causar prejuízo ao jardim.
VI. Não dirigir, sob qualquer pretexto, ataques ao administrador (do jardim).
VII. Que seja (o transgressor) multado em dinheiro paralelamente a seu exílio na prisão. ​
MDXLV[1]
O núcleo original, um círculo chamado Hortus Sphaericus ou Hortus
Cinctus, tem cerca de 85 m de diâmetro. Ele circunda um quadrado, por sua vez
subdividido em quatro quadrados menores por duas vias perpendiculares
orientadas de acordo com os pontos cardeais. No cruzamento das duas alamedas
há uma grande fonte.
A forma circular e a característica repartição geométrica que divide tudo em
dezesseis setores são ricas da simbologia cosmológica própria do período
renascentista. O círculo perfeito simboliza o mundo. Cada quadrado com uma
fonte central é dividido hoje em 250 parcelas dispostas segundo geometrias
diferentes e elegantes. Nas parcelas, são cultivadas sobretudo plantas herbáceas.
Assim, espécies de cada família botânica são distribuídas pelas várias parcelas. Por
causa da raridade de suas plantas e do preço dos medicamentos delas retirados,
muitos furtos aconteciam durante a noite, apesar das penas previstas em lei,
razão pela qual foi construído um muro circular, donde surgiu o nome Hortus
Cinctus [Horto Cercado] ou Hor​tus Sphaericus. A configuração arquitetônica
externa foi completada, em 1704, com quatro portões de ingresso monumentais,
em ferro fundido. Os muros foram embelezados por balaustradas de pedra
branca. Fora do Hortus Cinctus foram colocadas duas estátuas, em 1710 e 1711
respectivamente: na frente do portão sul, a de Teofrasto, e, do portão leste, a do
rei Salomão. Em 1820, foram colocados quatro bustos, representando as Quatro
Estações, ladeando a estátua do rei Salomão, no tanque também denominado
Quatro Estações. Na primeira metade do século XIX foram construídos casas de
vegetação e o Teatro Botânico.
Atualmente, o jardim possui duas casas de vegetação para plantas tropicais e
oito, não muito grandes, para as de clima temperado. Uma destas últimas
conserva a estrutura original com colunas e arcos em ferro fundido. No centro de
cada quadrado há uma espécie vegetal que lhe dá o nome. Assim, há o quadrado
de Tamarix gallica (família tamaridácea), o de Ginkgo biloba (família
gincgoácea), o de Albizia julibrissin (família das leguminosas) e o da Magnolia
grandiflora (família magnoliácea). Os pilares de cada portão de ferro batido são
encimados por vasos de pedra contendo plantas. Há muitos outros bustos e
estátuas, espalhadospela área.
No jardim há cerca de 6 mil espécies de plantas cultivadas, a maioria ao ar
livre, pois o espaço das casas de vegetação é reduzido. Há várias árvores muito
antigas. A mais antiga sucumbiu em 1984. Era uma árvore de agnoscasto (Vitex
agnus-castus) plantada em 1550. Hoje, a mais antiga é uma palmeira
(Chamaerops humilis), que fica em uma estufa no Hortus Cinctus, plantada em
1585. No Jardim Botânico de Pádua, ela é conhecida como a “palmeira de
Goethe”. Diz-se que, em 27 de setembro de 1786, o escritor alemão Johann
Wolfgang Goethe ficou extasiado com essa palmeira e descreveu-a em seu livro
Geschichte meiner Botanischen Studien [História de meus estudos de botânica].
Há uma magnólia (Magnolia grandiflora) plantada nos meados de 1700. Fora do
jardim circular há um arboreto, no qual existe um plátano (Platanus orientalis),
plantado em 1680. As grandes coníferas foram introduzidas no jardim ao redor
de 1850.
O Jardim Botânico de Pádua agrupa as plantas de acordo com algumas de
suas características. Assim, há coleções de plantas insetívoras ou carnívoras e de
ervas medicinais, incluindo plantas venenosas. Essa coleção tem grande interesse
histórico, já que lembra a idéia original do jardim. Todas as plantas têm
etiquetas que indicam cada uma de suas propriedades medicinais. Para as plantas
venenosas, o número de cruzes na etiqueta mostra o grau de periculosidade. São
também cultivadas plantas sem uso imediato, mas que contêm substâncias que
são ponto de partida para síntese de medicamentos na indústria farmacêutica.
Há uma coleção de espécies vegetais dos Colli Euganei, grupo de colinas da
planície vêneta a sudoeste de Pádua, com altura média de 400 m. É uma coleção
recente para preencher dois dos mais importantes propósitos da instituição –
conhecer e estudar a flora da área onde o jardim está situado e mostrar essas
plantas ao povo da região –, além de preservar espécies raras e em perigo de
extinção. A coleção de plantas vindas de outros países tem espécies aclimatadas
pela primeira vez nesse jardim botânico, sendo depois espalhadas pelo resto da
Itália. A primeira planta exótica, a Agave americana, chegou ao jardim em 1561.
Há ainda um itinerário para os cegos, com vasos de plantas aromáticas ou
plantas com espinhos, como Ilex aquifolium, a conhecida holly, utilizada nos
arranjos natalinos europeus. As etiquetas são todas em braille. Muitas espécies
são apresentadas de acordo com seu ambiente natural. Assim, há um ambiente
criado para plantas da região do Mediterrâneo, outro de plantas alpinas, de
grande altitude. Há ambientes só de plantas aquáticas. No verão, são construídos
ambientes representando um deserto para as plantas suculentas. Há também
uma estufa para o cultivo de orquídeas.
No antigo prédio do Edifício Botânico há as coleções de plantas secas, a
documentação do herbário, que é considerada a mais importante da Itália. Há
um herbário de plantas superiores, um de plantas inferiores, uma xiloteca e uma
coleção de sementes. O herbário de plantas superiores tem 400 mil exsicatas, isto
é, exemplares dessecados.
Há, pelo menos, dois pesquisadores importantes na história da botânica que
foram diretores do Jardim Botânico de Pádua. Prospero Alpino, médico formado
pela Universidade de Pádua, diretor de 1603 a 1616, morou durante muitos
anos no Egito e, em 1592, publicou De plantis Aegypti, onde descreveu, pela
primeira vez, a planta do café e seus usos terapêuticos. Pier Andrea Saccardo,
doutor pela Universidade de Pádua, muito famoso pelos seus estudos com
fungos, foi diretor de 1879 a 1915. Em 1873, publicou a Mycologiae Venetae
specimen, em que descreve 1.200 espécies de fungos, 59 delas espécies novas.
Entre 1882 e 1913, trabalhou no Sylloge fungorum omnium husque cognitorum,
um inventário de todos as espécies de fungos conhecidas do mundo. Utilizou,
nessa obra, um sistema pessoal de identificação, sendo, por isso, denominado
Lineu dos fungos.
O Jardim Botânico de Pádua, que continua em seu local de origem, ainda
hoje conserva a estrutura original quase inalterada. Em 1997, foi considerado
Patrimônio Mundial pela Unesco já que
O Jardim Botânico de Pádua está na origem de todos os jardins botânicos do
mundo e representa o berço da ciência, das trocas científicas e da compreensão
da relação entre a natureza e a cultura. Contribuiu largamente para o progresso
de numerosas disciplinas científicas modernas, em particular a botânica, a
medicina, a química, a ecologia e a farmácia.[2]
Jardim Botânico de Florença
Orto Botanico di Firenze
Giardino dei Semplici
Via P. A. Micheli, 3
50121 Firenze
Itália
http://www.unifi.it//msn/main_ita.htm
e-mail: ortbot@unifi.it
http://www.unifi.it//msn/main_ita.htm
mailto:ortbot@unifi.it
Florença, às margens do rio Arno, é a capital da região da Toscana, na Itália,
e é, por muitos, considerada o berço da Renascença. Durante longo período
governada pelos Médici, foi capital do reino da Itália de 1865 a 1870. Seu centro
histórico foi declarado Monumento da Humanidade pela Unesco em 1982.
Florentia começou como acampamento de soldados romanos em 59 a.C. e
ficava no caminho principal entre Roma e o norte. Logo passou a ser um centro
comercial importante. O imperador Diocleciano fez Florentia a capital da
província Túscia no século III d.C. A cidade foi conquistada por Carlos Magno
em 774 e passou a ser parte do ducado da Toscana, sendo Luca a capital. Ao
redor do ano 1000, Florença passou a ser a capital da Toscana. Cosimo de
Médici foi o primeiro da família a controlar a Toscana, oficialmente uma
democracia. Seu neto, Lorenzo, foi o grande mecenas das artes.
A Universidade de Florença é uma das maiores e mais antigas universidades
da Itália. O Studium Generale foi estabelecido pela República de Florença em
1321, tendo, em 1364, passado a ser uma universidade. Em 1859, era o Istituto
di Studi Pratici e di Perfezionamento e, em 1923, passou ser oficialmente
denominado Universidade de Florença, Università degli Studi di Firenze, Unifi.
O Jardim Botânico de Florença, o Orto Botânico di Firenze, também
conhecido como Giardino dei Semplici, é mantido pela universidade. Foi cria​do
no dia 1º de dezembro de 1545, sendo, assim, o terceiro mais antigo da Itália e
do mundo.
Fundado por Luca Ghini, que havia criado o Jardim Botânico de Pisa dois
anos antes, foi desenhado e estruturado pelo jardineiro paisagista Niccolò,
chamado “il Tribolo”, que já havia planejado vários jardins ornamentais para os
Médici, em um terreno – vizinho aos estábulos dos Médici (por isso, na época,
recebeu a denominação de Giardino delle Stalle) – comprado pelo grão-duque
Cosimo I às freiras dominicanas.
O interesse inicial era o jardim de plantas medicinais. Foi criado com um
interesse puramente didático, para uso dos estudantes, uso que previu com
séculos de antecedência uma das principais funções de um jardim botânico
universitário. As plantas ficavam distribuídas em um terreno quadrado, cercado
por muros, dividido por uma grade de vias e muitas fontes desenhadas por
famosos escultores florentinos. Do original resta muito pouco, como uma
cancela histórica com o brasão e a epígrafe dos Médici, além de um busto de
Esculápio. Todos os trabalhos de construção foram dirigidos por Luca Ghini,
que se preocupou em aumentar a coleção de plantas, dando ao jardim grande
prestígio.
Com a morte de Ghini em Bolonha no ano de 1556, a direção do jardim
caiu em mãos pouco competentes e a instituição entrou em profunda
decadência.
Seu período áureo teve início em 1718, graças a Cosimo III, dos Médici, que
colocou a instituição​ sob o controle da Sociedade Botânica de Flo​ren​ça. Sob a
direção da Sociedade Botânica, ​am​pliou de modo contínuo suas coleções de
plantas, sem deixar de lado as medicinais. Pouco a pouco, o ensino da botânica
no jardim deixou de ser apenas um subsídio para a medicina, passando a ter
importância por si. Por volta de 1750, aumentou o alcance mundial do jardim,
pois foipublicado um índice de sementes de todas as plantas lá existentes, para
fazer troca de sementes com outros jardins botânicos do mundo.
Em 1783, o foco mudou para a agricultura experimental e o jardim passou a
ser chamado de Orto Spérimentale Agrario dell’Accademia dei Georgofili. Toda
a estrutura foi modificada e simplificada para o cultivo de plantas de uso em
agricultura e frutíferas.
Em 1847, por decreto, volta a ser chamado de Giardino dei Semplici e
retorna ao cultivo de plantas medicinais e espécies de interesse científico. Em
1880, muda sua denominação para Orto Botanico dell’Istituto di Studi
Superiori e passa a pertencer ao Istituto di Studi Pratici e di Perfezionamento,
que, em 1923, se transformou na Universidade de Florença. Nessa época, foi
construída a grande casa de vegetação, usada ainda hoje.
O jardim vive então uma fase excelente. O passo seguinte foi reunir o Jardim
Botânico (Giardino dei Semplici) com o Instituto Botânico, do Museu de
História Natural, que fora fundado em 1842. Em 1905, a operação toda é
concluída com a transferência do Instituto Botânico, de todas as instituições
botânicas importantes, como biblioteca e herbário, para o Jardim Botânico, que
passa a ser conhecido como Instituto e Jardim Botânico, pertencendo ao
Instituto tanto o Museu Botânico como o Herbário Central Italiano.
Por volta de 1925, para ficar mais visível ao público, foram retirados os
muros que cercavam o jardim. Também foram demolidas três estufas quentes
pequenas e eliminado um bosque de bambu. Em 1944, devido à guerra, parte do
jardim foi utilizado para sepultar mortos, que mais tarde foram exumados e
retirados dali.
Hoje ele mantém, de modo geral, o desenho original. Está situado no centro
de Florença, perto do Museu da Academia, onde fica o original do Davi de
Michelangelo, e da Igreja de São Marcos. Ocupa uma área de 23 892 m²,
subdividida em 21 quadrados e 29 canteiros, contendo cerca de 9 mil plantas,
muitas mantidas em vasos. Na década de 1960, foram incrementadas as
expedições científicas na Itália e na América do Sul, o que veio a enriquecer
ainda mais a coleção. Cerca de 1.700 m² são ocupados por grandes e altas casas
de vegetação, quentes (plantas tropicais) e frias (plantas da região temperada),
construídas no fim do século XIX e estufas pequenas aquecidas, construídas mais
recentemente. Há coleções de valor histórico e científico. A casa de vegetação de
clima temperado mantém muitos exemplares de cicas, como Cycas revoluta e
Encephalartos altensteinii, alguns recebidos em doação no início do século XX e
outros coletados em expedições científicas pela América do Sul. Há também
duas árvores de Araucaria cunninghamii e uma de Araucaria columnaris. Na
grande casa de vegetação quente há as cicas Dioon spinulosum e Cycas circinalis, e
uma coleção de samambaias tropicais, com um exemplar arbóreo de Cyathea
australis. Há também muitas plantas da família cactácea, além de plantas de
interesse didático, como Musa (banana), Coffea arabica (café), Theobroma cacau
(cacau), Persea americana (abacate), Tamarindus indica (tamarindo) e a Monstera
deliciosa (fruta-da-princesa). As estufas pequenas contêm coleções de espécies
tropicais. Há também muitas coleções ao ar livre, como a de plantas medicinais e
a de samambaias italianas. Há árvores bem antigas, como uma planta masculina
da venenosa Taxus baccata, o teixo (família taxácea), plantada em 1720 por Pier
Antonio Micheli (que foi diretor de 1718 a 1737), que é a espécie mais antiga do
jardim, e uma de Quercus suber, a corticeira (família fagácea), plantada em 1805
por Ottaviano Targioni Tozzetti (diretor de 1801 a 1829) que mostra cortiça de
dimensão excepcional. Também existe uma Zelkova serrata muito antiga. Há
uma Metasequoia glyptostroboides (família taxodiácea) originária da árvore
encontrada na China em 1941, espécie hoje considerada um fóssil vivo. O
herbário possui a maior coleção de exsicatas de toda a Itália, com 4 milhões de
exemplares de plantas do mundo todo.
Além da pesquisa científica, o jardim tem, atualmente, um caráter didático e
de divulgação botânica. Há um grande estímulo para visitas de estudantes de
nível secundário e universitário. Freqüentemente são organizadas mostras
especiais para todo o público da região e não só para estudantes. Muitas das
pesquisas do Departamento de Biologia Vegetal da universidade são realizadas
com plantas do Jardim Botânico de Florença e lá mesmo. Hoje, ele olha para o
futuro, para a preservação de espécies de várias regiões do mundo.
Jardim Botânico de Sassari
Orto Botanico di Sassari
Istituto di Botanica dell’Universita di Sassari
Via Muroni, 25
07100 Sassari
Sardenha
Itália
Sassari é a capital da província de mesmo nome, e a segunda maior e a mais
antiga cidade da ilha da Sardenha. É conhecida como Sassarese em um dia​leto
italiano e Tàthari no dialeto local. Lá se encontram os melhores exemplos da arte
sarda. Foi fundada no início da Idade Média pelos habitantes do antigo porto
romano, o atual Porto Torres. Os habitantes da cidade portuária fugiram para o
interior da ilha evitando o ataque marítimo dos sarracenos. A mais antiga
menção à vila de Tàthari data de 1113. O dialeto falado em Sassari é diferente
do falado no resto da ilha. É mais semelhante ao italiano, por ter tido, durante a
Idade Média, muito contato com as repúblicas de Pisa e Gênova.​
A Universidade de Sassari é a mais antiga da Sardenha e foi fundada pelos
jesuítas em 1562. É bastante famosa pelos estudos de jurisprudência. Sua
biblioteca possui documentos antigos muito valiosos, como o primeiro código
civil da ilha e os primeiros documentos escritos na língua sarda do século XI.
O Jardim Botânico de Sassari foi criado entre 1545 e 1550. Além de ser
pioneiro na ilha da Sardenha, é um dos mais antigos do mundo. Documentos da
cidade atestam que a comunidade mantinha sua construção, sua estrutura e os
salários dos empregados. Neste jardim, como era de praxe na época, também se
cultivavam plantas medicinais. Como muitos documentos foram destruídos, não
se sabe onde ele funcionava no século XVI.
Um novo jardim botânico foi criado em 1765, com sede no Convento dos
Capuchinhos, sendo mais tarde transferido para a localidade de Castello, ainda
para o cultivo de plantas medicinais, utilizadas no hospital da cidade. Em 1810,
houve nova transferência, dessa vez para a periferia de Sassari, em Santa Maria.
Em 1903, passou a funcionar em Rizzeddu; daí, foi, em 1928, para uma
propriedade da Universidade de Sassari, onde está até hoje. O espaço, que já era
reduzido, ficou ainda menor com a construção, em 1955, do Instituto de
Botânica. Com as várias mudanças, muitas coisas foram perdidas. Atualmente, o
jardim é um anexo do Departamento de Botânica e Ecologia Vegetal da
universidade. Além de ocupar um espaço reduzido, tem recebido poucos
cuidados.
A pesquisa é incipiente. As coleções são de plantas endêmicas da Sardenha.
Há em Sassari um herbário de muito valor histórico, que não pertence ao jardim
botânico e fica no Departamento de Farmácia da universidade da cidade. Esse
herbário histórico tem 9 mil exemplares com plantas da flora da Sardenha, de
Sarawak, de Madagascar, além de uma infinidade de plantas medicinais. A parte
didática do jardim botânico mereceu maior consideração e fornece noções
básicas de botânica aos alunos. Em 1992, foi debatida a criação de um novo
jardim botânico, com todos os requisitos necessários, o que pode acontecer em
breve.
O Jardim Botânico de Sassari passava por momentos difíceis e poderia
perder as funções didáticas e científicas que ainda possuía. Para superar esse grave
problema, com o apoio da Faculdade de Agricultura da Universidade de Sassari,
surgiu a hipótese da criação de um novo jardim botânico. A orientação é criar
uma estrutura que possa garantir tanto a função científica como a didática em
uma cidade que reivindica ter o jardim botânico mais antigo da Sardenha e que
apresenta hojecinco faculdades com interesse científico.
Jardim Botânico de Ferrara
Orto Botanico
Dipartimento di Risorse Naturali e Culturali
Corso Porta Mare, 2b
I-44100 Ferrara
Itália
http://www.unife.it
e-mail: ortobotanico@unife.it
A cidade de Ferrara, capital da província do mesmo nome, fica na região da
Emilia-Romagna, Itália, a 5 km do rio Pó. Abriga muitos palácios do século
http://www.unife.it
mailto:ortobotanico@unife.it
XIV, mas sua origem é desconhecida. O primeiro documento a mencioná-la é
do rei lombardo Astolfo, em torno de 754. A cidade foi governada pela família
d’Este de 1240 a 1597.
A Universidade de Ferrara foi fundada em 4 de março de 1391 por Alberto
V d’Este. Conta hoje com oito faculdades, entre elas a de Ciências Naturais. A
biblioteca possui manuscritos valiosos, incluindo parte do manuscrito de
Orlando Furioso, o poema épico que o italiano Ariosto escreveu em 1516
(Ariosto morreu em Ferrara em 1533). Nessa universidade, o famoso alquimista,
médico e astrólogo suíço Paracelso obteve seu doutorado. Também lá, Nicolau
Copérnico, o matemático e astrônomo polonês que formulou a primeira teoria
moderna do heliocentrismo do sistema solar, estudou direito e assistiu a aulas de
astronomia. Nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial, era a mais
freqüentada de todas as universidades públicas da Itália.
Curiosidades
Um duque dessa família, Alfonso d’Este, foi o terceiro marido de Lucrécia Bórgia, que lhe deu
vários filhos e tornou-se uma respeitável duquesa durante a Renascença.
Como filhos famosos de Ferrara devem ser mencionados Savonarola e Frescobaldi, além de
Michelangelo Antonioni, o famoso diretor de cinema. O primeiro, foi um monge dominicano
que governou a cidade de Florença por curto período, após Lourenço de Médici. Savonarola
pregava a reforma religiosa e posicionou-se contra o Renascimento, queimando livros e
destruindo obras de arte. Frescobaldi é considerado um dos maio​res compositores, em seu
século, de música para cravo.​
A Bíblia de Ferrara é uma tradução do Velho Testamento em ladino, a língua dos judeus
sefarditas. Foi dedicada a Ercole II, da família D’Este, que governou Ferrara de 1534 a 1559.
Sefarditas são os judeus originários de Portugal e da Espanha; a palavra deriva da
denominação hebraica para a península Ibérica. Os sefarditas fugiram desses países devido
à perseguição dos católicos. Muitos foram para o norte da África, outros para o Brasil e para
o México.
O Jardim Botânico de Ferrara faz parte do Instituto de Botânica da
universidade. Durante o século XVI, já contava com botânicos famosos, como
Antonio Musa Brasavola, o primeiro botânico da história. Com ele, a
Universidade de Ferrara tornou-se um grande centro do ensino da botânica. Em
1530, Brasavola concluiu sua obra Examen omnium simplicium medicamentorum,
na qual recuperou o conhecimento de botânica dos antigos e suas experiências.
Os estudantes da universidade e seus profes​sores tinham obrigação de
freqüentar algum jardim botânico para suas aulas de plantas medicinais. De
acordo com o Museo di Geopaleontologia e Orto Botanico, que é da
universidade, o jardim botânico também foi criado pela família D’Este, em
1550. Infelizmente, não restam documentos históricos nem ruínas de
construções para servirem de testemunho. Supõe-se que esse jardim se localizava
em uma ilha do rio Pó pertencente àquela família. O jardim botânico atual, que
nada tem daquele da metade do século XVI, possui um campo experimental com
plantas medicinais, além de plantas nativas e exóticas para estudos de taxonomia,
ecologia, geografia; enfim, é uma instituição preparada para o ensino e a
pesquisa.
Em 1771, a Universidade de Ferrara criou o novo jardim botânico, na época
denominado Orto dei Semplici. Ficava localizado nos jardins da via Paradiso,
próximo ao palácio do mesmo nome, sede da universidade. Já em 1772, havia
nele, 2.800 espécies nativas e exóticas. Mais tarde, foi transferido para a via
Scandiana, local desde o início considerado inadequado, razão pela qual, em
1925, voltou a seu local de origem. Em 1963, foi transferido para sua sede atual,
no Palácio Turchi-Di Bagno, do século XVI, sede do Instituto de Botânica,
Mineralogia e Geologia. O jardim botânico ocupa​ os jardins do palácio e é hoje
parte do Depar​tamento de Recursos Naturais e Culturais da universidade.
O jardim botânico fica em um terreno retangular, dividido em canteiros de
formas irregulares. Para auxiliar os visitantes, há placas de sinalização com cores,
cada uma referente a um tipo de coleção. Os canteiros ao ar livre ocupam uma
área de 4.500 m² e neles há setecentas espécies distribuídas nas seções de
taxonomia (indicada por uma placa azul), plantas úteis (placa vermelha) e jardins
temáticos (placa verde). Na parte leste, ficam as casas de vegetação, uma central e
duas laterais, para plantas de zona temperada e de zona tropical, respectivamente,
num total aproximado de 1.300 espécies. Elas ocupam 243 m² e, no verão, as
plantas lá abrigadas são transferidas para a seção de plantas exóticas (placa
amarela), ao ar livre.
Na seção de taxonomia (placa azul), as plantas são organizadas de acordo
com as famílias botânicas, havendo um exemplar da palmeira Chamaerops
humilis. As plantas úteis (placa vermelha) incluem as de utilidade variada para o
homem, as aromáticas e as medicinais, o antigo Orto dei Semplici. Os jardins
temáticos (placa verde) têm plantas ornamentais, distribuídas em treze pequenos
jardins, com finalidade estética e de divulgação. Como exemplos, o jardim de
plantas de sombra, o mediterrâneo, o italiano, o japonês. As plantas exóticas
(placa amarela), em vasos ou cestos, são tropicais e subtropicais. Trata-se de
plantas epífitas, carnívoras, ornamentais e medicinais. No início do século XXI,
foi criada a seção de plantas raras, ameaçadas de extinção, da região da Emilia-
Romagna. Três exemplares centenários foram transferidos do Palácio Paradiso
para a sede atual: Cycas revoluta, Howea forsteriana e Livistona chinensis.
Duas das importantes funções do Jardim Botânico de Ferrara devem ser
lembradas: a pesquisa altamente diversificada e a função didática universitária. O
jardim publica anualmente um índice de sementes e, assim, pode fazer troca de
sementes e esporos com outros jardins botânicos de todo o mundo. O Herbário
Histórico Campana, importante setor do Jardim Botânico de Ferrara,
homenageia Antonio Campana, nascido e falecido na cidade. Ele foi professor de
farmácia e botânica na universidade. Como diretor do jardim durante trinta
anos, colecionou cerca de 5 mil espécies. Em 1812, organizou um catálogo de
plantas do jardim. Há ainda o herbário principal, o Herbário Geral, com
aproximadamente 11 mil exsicatas. O jardim também oferece cursos para
aposentados e pes​soas idosas, e todos os anos há uma famosa exibição de bonsai.
Jardim Botânico de Valência
Jardí Botànic de la Universitat de València
Carrer Quart, 80
Valência 46008
Espanha
http://www.jardibotanic.org
botanic@uv.es
http://www.jardibotanic.org
mailto:botanic@uv.es
Valência, terceira maior cidade da Espanha, é a capital da província do
mesmo nome. De origem latina, o nome Valentia significa força. Durante o
império mouro, passou a ser conhecida como Balansiya. Foi fundada pelos
romanos em 137 a.C. e chegou a ser uma das maiores cidades do Mediterrâneo
durante os séculos XV e XVI. Foram os banqueiros da cidade que emprestaram à
rainha Isabel, a Católica, o dinheiro que financiou a viagem de Colombo.
A Universidade de Valência é uma das mais antigas da Espanha, pois foi
fundada em 1499. Hoje é freqüentada por cerca de 60 mil estudantes. Tem três
campi: o Burjassot, onde estão as faculdades de Biologia, Farmácia, Física,
Química, Matemática e Engenharia; o Blasco Ibañes, com as faculdades de
Medicina, Odontologia, Filosofia, Geografia, História e Línguas e o Campus
Tarnongers, com as faculdades de Direito, Economia e Ciências Sociais.
O Jardim Botânico de Valência foi fundado em 1567. Osmagistrados da
cidade nomearam Joan Plaça para o posto de catedrático de ervas medicinais e
responsável por sua criação. Ele era amigo e correspondente de Charles de
l’Écluse, também conhecido como Carolus Clusius, botânico de Leiden, na
Holanda, considerado o pesquisador mais importante no campo da horticultura
científica do século XVI. Plaça acompanhou Clusius em suas viagens pela
península Ibérica entre 1563 e 1564 e apresentou-lhe, em Valência, a primeira
árvore de Persea americana (abacate) aclimatada na Europa. O Jardim Botânico
de Valência foi, durante mais de duzentos anos, um jardim de plantas medicinais
utilizado para os estudos de medicina. Durante os séculos XVI, XVII e XVIII,
ele ocupou vários locais na cidade. A constituição da Universidade de Valência,
de 1733, detalhava como deveria ser o ensino sobre as ervas medicinais e a
necessidade de um jardim botânico. Em 1802, finalmente, a universidade
conseguiu montá-lo. Foi escolhido um local fora dos muros da cidade, perto do
Convento de São Sebastião, local que ocupa até hoje. Em 1812, as tropas de
Napoleão Bonaparte invadiram Valência e devastaram o jardim. No século XIX,
foram construídas as casas de vegetação e a área sombreada, uma estrutura
metálica que corta a luz solar. Lá eram realizadas as aulas de botânica e pesquisas
de aclimatação de plantas de interesse agrícola. No final daquele século, as aulas
passaram a ser dadas no curso de história natural da universidade, e o jardim
perdeu sua função didática, razão pela qual, durante a primeira metade do século
XX, ficou em abandono. Uma grande enchente, em 1957, piorou a situação. Na
década de 1960, foram recuperados os edifícios para instalar a biblioteca, o
herbário e os laboratórios. O jardim retomou sua atividade de docência com as
aulas práticas de botânica para a Faculdade de Ciências, e mais tarde para as de
Biologia e Farmácia. Em 1987, a universidade iniciou um projeto de restauração
completa, sendo que a parte dos jardins foi restaurada entre 1989 e 1991. O
novo edifício para investigação científica foi concluído em 2000.
O jardim botânico tem, atualmente, uma área de 40.000 m². Os jardins
abrigam árvores centenárias e mais de 4.500 espécies vegetais. Próximo à entrada
fica a Escola de Botânica, onde as plantas estão organizadas de acordo com a
época de seu aparecimento na Terra, o que permite explicar sua origem e
evolução. Na parte norte, as plantas são distribuídas de acordo com suas famílias
botânicas. Uma área ao ar livre é dedicada a plantas dos desertos da América e da
África. Em outra, são reproduzidos ecossistemas comuns na região de Valência.
Há coleções de plantas úteis, como as medicinais e as aromáticas, as utilizadas
como alimento pelos animais ou pelo homem, como vestuário ou madeira.
Desde 1802, há uma coleção de mais de cem espécies de palmeiras, muitas com
mais de 150 anos, a maioria delas sendo mantidas ao ar livre, no arboreto. As
mais sensíveis ao frio são mantidas em uma casa de vegetação construída no
século XIX, restaurada há poucos anos. O arboreto apresenta muitas outras
espécies de árvores, além das palmeiras. Uma outra casa de vegetação, muito
grande, abriga plantas de regiões tropicais úmidas. Há casas para samambaias,
plantas carnívoras e epífitas. As casas de vegetação ocupam 550 m². A área
sombreada ocupa 550 m² e é usada para plantas que gostam de sombra, como
begônias, samambaias e algumas palmeiras que apreciam luz indireta.
O herbário contém mais de 200 mil exsicatas, sendo, assim, um dos mais
importantes da Espanha. Há, ainda, uma biblioteca especializada e um banco de
sementes de espécies da região do Mediterrâneo ameaçadas de extinção.
Atualmente, o jardim botânico dedica-se à pesquisa relacionada com a
biodiversidade, a conservação de espécies raras e endêmicas ou ameaçadas de
extinção da flora do Mediterrâneo. Há pesquisas em andamento em anatomia,
florística, biologia molecular, biossistemática, fitossociologia e citogenética.
Em cada estação do ano, os jardins têm uma paisagem diferente. As
orquídeas, os cactos, as árvores imensas e as plantas ornamentais proporcio​nam
ao visitante beleza e bem-estar. Uma divisão do jardim dedica-se a organizar
cursos, visitas e exposições de interesse do público em geral. Lá acontecem,
também, concertos, exposições de artes plásticas, cinema e teatro.
Jardim Botânico de Bolonha
Orto Botanico dell’Università di Bologna
Via Irnerio, 42
40126 Bologna
Itália
www2.unibo.it/musei-universitari/ortobotanico
assistenza.cesia@unibo.it
http://www2.unibo.it/musei-universitari/ortobotanico
mailto:assistenza.cesia@unibo.it
Bolonha é a capital da região da Emilia-Romagna e está localizada entre o rio
Pó e os montes Apeninos. Foi fundada pelos etruscos por volta de 534 a.C.,
passando a ser dominada pelos romanos ao redor de 189 a.C. No século V da era
cristã, teve início um período áureo para a cidade. Em 1294, Bolonha era a sexta
cidade da Europa, perdendo apenas para Córdoba, Paris, Veneza, Florença e
Milão. Durante o Renascimento, Bolonha era a única cidade italiana em que
havia liberdade feminina e que permitia às mulheres exercer qualquer profissão,
até mesmo obter diplomas na universidade. A cidade ficou sob o domínio de
Napoleão Bonaparte de 1796 a 1802. Em 1857, passou a pertencer ao reino da
Sardenha e, em 1859, tornou-se parte do Reino da Itália.
A Universidade de Bolonha, originalmente chamada Studium, foi criada em
1088. É a universidade mais antiga da Europa, tendo sido um centro muito
importante da vida intelectual da Idade Média. Durante a era napoleônica,
passou a funcio​nar na via Zamboni, onde está até hoje. É constituída por 23
faculdades. Foram alunos da Universidade de Bolonha personagens muito
famosos, como Dante degli Alighieri, o autor de A divina comédia; Francesco
Petrarca, o inventor do soneto; e Giovanni Boccacio, autor de Decameron. Os
três são considerados os pais da literatura italiana. Também estudaram em
Bolonha, Thomas Becket, teólogo inglês, arcebispo de Canterbury, e Erasmo de
Roterdã, teólogo holandês. Luigi Galvani, o descobridor da eletricidade
originária de reações químicas do organismo, foi médico e professor de anatomia
da universidade. Laura Maria Caterina Bassi, nascida em Bolonha, foi a primeira
mulher a lecionar em uma universidade européia. Em 1732, com a idade de 21
anos, ela foi nomeada professora de anatomia e, em 1734, passou a catedrática
de filosofia.
A cátedra de botânica da Universidade de Bolonha, na época denominada
Cattedra dei Semplici, estava em 1539 a cargo de Luca Ghini, que considerava
essencial, para suas aulas e demonstrações, ter material vegetal vivo adequado.
Para isso, conseguia suas plantas de jardins particulares, o que não era muito
conveniente. Tentou criar um jardim botânico na Universidade de Bolonha, mas
não teve sucesso com as autoridades da época. Frustrado, foi para Pisa, e lá criou
o primeiro jardim botânico do mundo. A cátedra de botânica de Bolonha passou
ao naturalista Ulisse Aldrovandi, que criou o jardim botânico em 1568,
permanecendo como seu diretor por 38 anos. A sede original ficava no centro da
cidade, no interior do Palácio Público, próximo do local onde Aldrovandi dava
suas aulas. Era, na verdade, o jardim de ervas medicinais de Aldrovandi. Pouco
se sabe hoje desse primeiro jardim, e dele praticamente nada resta. Depois, foi
transferido para dois outros locais, o terceiro sendo aquele onde funciona até
hoje.
Em 1587, o jardim foi transferido para um local mais amplo, próximo à
Porta Santo Stefano (hoje via San Giuliano). Devido a sua utilização nas aulas
teóricas e práticas da universidade, a coleção de plantas medicinais permaneceu
no Palácio Público. Entretanto, essa coleção, por mais de um século, teve várias
idas e vindas entre o Palácio Público e o jardim botânico, até o espaço no Palácio
Público ser definitivamente abandonado. O jardim foi se desenvolvendo
seguindo a orientação de Aldrovandi, cada vez maisdistante da medicina, e
aumentando o número de plantas, graças aos descobrimentos marítimos do
século XVI. Em 1653, um catálogo mostra que cerca de 1.500 espécies estavam
sendo cultivadas nele. Havia no jardim muitas plantas exóticas, plantas de uso
agrário, árvores raras, plantas mantidas em vaso e plantas medicinais importantes
na época. Em 1765, ele ganha uma casa de vegetação.
Em 1803, passou para a sede atual, um terreno entre a Porta San Donato e a
Porta Mascarella, comprado pela universidade, agregado aos terrenos que
pertenceram ao Convento de Santo Inácio e ao Colégio Ferrerio. No início do
século XX, foi aberta a via Irnerio, hoje a entrada do jardim botânico. No
terreno já havia duas construções do século XV. Esse novo jardim botânico
reuniu as coleções do Palácio Público e as da Porta Santo Stefano. O jardim foi
mantido por muito tempo pelos bens confiscados das instituições religiosas por
Napoleão. Foi criado também um jardim agronômico (separado do jardim
botânico em 1925) e, com o correr dos tempos, foram sendo construídos, na
vizinhança, os principais institutos de pesquisa da universidade. Antonio
Bertoloni, diretor por 52 anos, de 1817 a 1869, foi muito importante para o
jardim. Enriqueceu a coleção com plantas provenientes das Américas, mas sua
importância maior decorre da publicação da Flora Italica. É uma obra em dez
volumes, na qual ele trabalhou por quarenta anos. É a documentação florística
de toda a Itália (que na época ainda não era unificada), incluindo a Sicília, a
Sardenha, a Córsega. O material coletado por ele e outros botânicos constitui
um dos herbários mais famosos da Itália, o Hortus Siccus Florae Italicae.
Continha, originalmente, exemplares de 803 gêneros e 4.211 espécies. É, hoje, o
núcleo principal do herbário de Bolonha.
No século XX, foram construídas as casas de vegetação. A orangerie,
construída na época napoleônica, assim como muitas árvores, foi destruída em
1944 pelos bombardeios da Segunda Grande Guerra. E o que é uma orangerie? É
um símbolo, sobretudo das casas aristocráticas e reais dos séculos XVII e XVIII.
Sua origem é o jardim renascentista da Itália, quando a tecnologia da produção
de vidro tornou possível a produção de lâminas de vidro transparente. Era um
tipo de casa de vegetação onde laranjeiras cultivadas em vasos grandes eram
mantidas durante o inverno. A orangerie encerrava também fontes, grutas e uma
área com bancos para os nobres relaxarem.
O Jardim Botânico de Bolonha ocupa hoje uma área de 20.000 m², onde
são cultivados mais de 5 mil exemplares de plantas da região e exóticas. Seu
espaço físico pode ser dividido em dois setores principais: o das casas de
vegetação e o dos ambientes de plantas ao ar livre.
Há uma casa de vegetação utilizada para as plantas carnívoras e uma outra,
que contém 5 mil exemplares de plantas suculentas. As casas de vegetação
tropicais têm temperatura elevada e alta umidade relativa. Nelas são cultivadas
plantas da zona tropical e das florestas úmidas equatoriais, como orquídeas e
bromeliáceas, além de plantas ornamentais. Há também plantas de interesse
econômico e alimentar.
O ambiente ao ar livre ocupa a maior parte do jardim. É dividido em áreas.
A área das espécies ornamentais tem uma coleção importante de gimnospermas,
entre elas, duas árvores masculinas de Ginkgo biloba e exemplares de Metasequoia
glyptostroboides e Taxus baccata. A área das plantas medicinais e aromáticas
apresenta espécies típicas da flora italiana. Há também um tanque com plantas
aquáticas da Itália, como Menyanthes trifoliata e Potamogeton natans. Há um
outro tanque, menor, com espécies exóticas. A área do parque apresenta, ao
longo dos caminhos, muitas árvores de clima temperado, algumas muito antigas,
como exemplares de Aesculus hippocastaneum, Juglans cinerea e Populus
canadensis. Há uma área com espécies originárias das colinas ao redor de
Bolonha, como Fraxinus ornus e Laburnum anagyroides. Em um pequeno lago de
água doce são mantidas espécies de animais e vegetais típicas desse ecossistema,
como Nymphaea alba. Na parte terrestre junto ao lago, bem úmida, às vezes
inundada, o estrato herbáceo apresenta Equisetum telmateia. Perto do lago, há
um bosque com exemplares de Populus alba, Corylus avellana, Salix alba e Salix
purpurea. Há também uma área com espécies arbóreas da flora dos Apeninos.
O papel dos jardins botânicos como instituição cultural evoluiu muito desde
a remota origem renascentista. Sua utilidade para a pesquisa científica e para a
didática ampliou-se muito com o dis​tan​ciamento, cada vez maior, da botânica
em relação à medicina. Hoje, o Jardim Botânico de Bolonha é um verdadeiro
museu verde, tendo como função a divulgação científica e o ensino voltado para
um grande e variado público. É muito importante também a coleção de
sementes e esporos, para permuta com outras instituições congêneres do mundo.
Pelo visto anteriormente, verifica-se que ele tem duas filosofias: a apresentação de
coleções de interesse especial e a reconstrução de ambientes naturais em que as
plantas ficam colocadas como se estivessem na natureza.
Jardim Botânico de Leipzig
Botanischer Garten der Universität Leipzig
Linnéstraße, 1
04103 Leipzig
Alemanha
www.uni-leipzig.de/bota/frameset/frameset.htm
botgasek@uni-leipzig.de
A cidade de Leipzig está situada na parte leste da Alemanha e na parte oeste
do estado da Saxônia, do qual é a maior cidade. No século XI, era uma cidade
fortificada denominada Urbs Libzi. Várias batalhas da Guerra dos Trinta Anos
http://www.uni-leipzig.de/bota/frameset/frameset.htm
mailto:botgasek@uni-leipzig.de
(1618-1648) aconteceram em suas vizinhanças. Em 1813, aconteceu a Batalha
de Leipzig, uma batalha decisiva perdida pelo imperador francês Napoleão Bona​-
parte, que custou ao império francês a perda do território alemão e da região do
rio Reno. Em 1913, foi inaugurado um grande monumento, pesando 300 mil
toneladas para celebrar essa batalha. Uma atração turística de Leipzig é a Igreja
de São Tomás, do século XIII.
A Universidade de Leipzig foi fundada em 2 de dezembro de 1409 pelos
príncipes Friedrich e Wilhelm da Turíngia e de Meissen, após a bula papal de
sua fundação ter sido emitida em setembro pelo papa Alexandre V (papado de
1409 a 1410), que é considerado antipapa pela Igreja Católica. Na Alemanha, é
apenas menos antiga que a de Heidelberg. Em 1543, passou a funcionar no
Paulinum, um mosteiro dominicano secularizado pelo duque Moritz von
Sachsen. Entre 1539 e 1544, sofreu uma grande reforma com a participação de
dois teólogos luteranos, os reitores Caspar Borner e Joachim Camerarius. No
século XVI, foi um importante centro da Reforma religiosa. Entre os séculos
XVII e XIX, teve grande importância, atraindo estudantes como o poeta Johann
Wolf​gang von Goethe, o filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche, o filósofo barão
Gottfried Wilhelm von Leibnitz e o compositor Richard Wagner. O físico
Werner Karl Heisenberg, Prêmio Nobel, foi professor nela de 1927 a 1942.
Entre 1953 e 1990, recebeu o nome de Universidade Karl Marx de Leipzig.
Depois da reunificação da Alemanha, voltou a ser chamada Universidade de
Leipzig. Hoje, tem várias faculdades de renome, entre elas as faculdades de
Economia, de Direito, de Filosofia, de Medicina e de Lingüística Aplicada.
O Jardim Botânico de Leipzig é o mais antigo da Alemanha. Antes da
criação do jardim ou horto botânico, o estudo das plantas medicinais era feito
com o material vegetal coletado nos jardins dos mosteiros. Em Leipzig, a idéia da
criação de um horto botânico surgiu depois da reforma universitária. Em 1580,
o claustro do mosteiro Paulinum, sede da universidade, passou a funcionar como
um jardim botânico. O professor de matemática e de botânica de Leipzig Moritz
Steinmetz foi seu primeiro diretor. O fato de uma universidade possuir um
órgão próprio para treinar farmacêuticos e médicos com o uso das ervas
medicinais era uma grande inovação na época. Sob Steinmetz,houve uma
melhoria no treinamento dos farmacêuticos, pois até então apenas estudantes de
medicina tinham acesso às ervas medicinais. Uma das intenções na época, do
jardim e da universidade, era melhorar o ensino da medicina e da farmácia, ​criar
maior intercâmbio entre essas duas áreas e, como conseqüência, melhorar a
qualidade dos medicamentos. Com Moritz Steinmetz, foi dado o primeiro passo
importante para a criação de uma base científica para o ensino da farmácia e o
jardim tornou-se um importante local de pesquisa.
Em 1648, a universidade comprou um edifício na rua Grimmaischen. O
jardim botânico foi transferido para os jardins desse edifício em 1653. Um
documento atesta que, já em 1663, podia ser freqüentado pelo público em geral.
Em 1675, o jardim publicou uma obra importante para a região, a Flora de
Leipzig.
Em 1806, foi transferido outra vez, para um terreno muito maior em
Pleissenaue. Somente após 1840 é que foram construídas algumas casas de
vegetação e a parte ao ar livre foi totalmente reorganizada. Em 1857, havia mais
de 10 mil espécies cultivadas, das quais 4.500 nas casas de vegetação. A coleção
de 607 espécies de samambaias era muito importante, uma das mais valiosas da
Europa.
Foi novamente transferido em 1876-1877, para o chamado Postfeld, terreno
em forma de triângulo, delimitado pela Linnestrasse, pela Johannisallee e pela
Philipp-Rosenthal-Strasse. Em 1895, a área foi aumentada para cerca de 30.000
m², graças à diminuição da largura da Linnestrasse. A área das casas de vegetação
era de 1.232 m², muito maior que no antigo endereço. A estrutura básica da
parte ao ar livre permanece até hoje. Foram organizados os departamentos de
ervas medicinais e de outras plantas úteis. As plantas restantes eram agrupadas
em comunidades de acordo com tipo de solo, plantas adaptadas a alta salinidade,
plantas de altitude. Havia também comunidades de plantas aquá​ticas.
Entretanto, o número de espécies era bem menor que na localização anterior.
Em 1934, foi iniciado um trabalho de modernização, interrompido em 1938
pelo início da guerra. Durante a Segunda Guerra Mundial, o jardim foi
praticamente arrasado. Em 4 de dezembro de 1943, o prédio do Instituto de
Botânica foi totalmente destruído pelos bombardeios. O herbário, com 1.018
exsicatas, virou cinzas. Em 1945, foi destruído o complexo das casas de
vegetação na parte sul e as demais ficaram muito danificadas. Apenas 26 espécies
de clima frio puderam ser salvas, entre elas Arbutus unedo, Punica granatum e
Callistemon speciosus.
Com o fim da guerra, houve muitas dificuldades para a recuperação do
jardim. Um dos problemas fundamentais era a falta de material de construção.
Por causa disso, a reconstrução só pôde ser reiniciada em 1949. Em 1954, todas
as casas de vegetação estavam recuperadas. Outros jardins botânicos ofereceram
plantas para Leipzig, e, em 1955, já havia mais de 2.400 espécies nas casas de
vegetação. O Instituto de Botânica não foi recuperado.
A partir de 1991, ocorreu uma reorganização total das construções do
jardim, como os muros que agora o cercam. Entre 1998 e 2003, o complexo das
várias casas de vegetação, que ocupa uma área de 2.400 m², foi reorganizado e
quase totalmente reconstruído. No complexo, são acomodadas plantas das áreas
subtropical e tropical e plantas são utilizadas para o ensino e também para
trabalhos de pesquisa. Algumas casas de vegetação são utilizadas
temporariamente para exibições para o público. Nos cartazes de propaganda das
exposições há sempre o convite “Visitem o mais antigo jardim botânico da
Alemanha”. Em fevereiro de 2007, foi organizada em uma das casas de vegetação
uma grande exposição de orquídeas. Há exibições de cerâmica e de outros tipos
de atividade artística. Uma das grandes atrações é o retiro das borboletas. Em
2001, foi recriado, no estilo medieval, um jardim de plantas medicinais. As
coleções de plantas vivas incluem a de plantas lenhosas tropicais, a de plantas
ameaçadas de extinção, a de árvores de florestas úmidas tropicais, a de palmeiras,
a de plantas carnívoras e a de samambaias, entre muitas outras. Também é
mantida uma coleção de sementes e esporos para permuta com outras
instituições de pesquisa. Há eventos ou aulas especiais oferecidos pelo jardim,
como excursões de uma hora durante o verão e o inverno, além de um curso de
jardinagem.
O jardim botânico é como uma ilha verde na cidade. Nele, o público obtém
paz, aprecia beleza e tem segurança. Cada planta é etiquetada com seu nome
científico de acordo com a nomenclatura de Lineu. Exposições temporárias de
vários artistas são integradas em sua área. Uma outra atividade cultural do jardim
botânico é apresentar exposições em locais diferentes por toda a cidade de
Leipzig. Saindo do jardim, o turista pode visitar um parque, o Friedenspark, que
margeia os prédios históricos da universidade. O parque está localizado no
terreno de um antigo cemitério, que foi secularizado na década de 1970 pelo
governo da então Alemanha Oriental.
Jardim Botânico de Kaliningrado
Jardim Botânico
Universidade Estatal Immanuel Kant
Rua Belomorskaya, 20
236029 Kaliningrad
Rússia
A cidade russa de Kaliningrado tinha, até 1945, o nome de Koenigsberg. Foi
fundada em 1255 pelo rei da Boêmia Otakar II. Era a capital de Sambia, uma
das quatro dioceses em que a Prússia foi dividida em 1243 pelo núncio
apostólico Guilherme de Modena. Com o nome de Koenigsberg, foi a capital da
província da Prússia Oriental, do reino da Prússia. Em 1944, a cidade foi
bombardeada e quase totalmente destruída. Em 1946, foi recons ​truída e, sendo
agora russa, recebeu o nome de Kaliningrado, homenagem ao político russo
Mikhail Kalinin. Kaliningrado é uma cidade portuária, sendo o centro
administrativo do Kalinin​grad Oblast, uma parte isolada da Rússia, que fica
encravada entre a Polônia e a Lituânia, às margens do mar Báltico. Embora a
língua oficial fosse a alemã, foi em Koenigsberg que se publicaram os primeiros
livros na língua lituana e por séculos foi o grande centro de publicações naquela
língua.
A Universidade Estatal Immanuel Kant tem esse nome desde 2005; de 1967
a 2005, era a Universidade Estatal de Kaliningrado. Ela mantém as tradições da
Universidade Albertina de Koenigsberg, que foi fundada como universidade
luterana, em 1544, por Albrecht I, primeiro duque do ducado da Prússia. Existiu
até 1945. A Universidade Kant é, portanto, a mais antiga universidade da Rússia.
Era constituída inicialmente de quatro faculdades: Teologia, Medicina, Filosofia
e Direito. Ficava situada perto da catedral gótica, fundada em 1333. Em 1862,
foi construída a nova universidade em estilo renascentista, tendo na fachada, em
relevo, a figura do fundador Albrecht I montado em seu cavalo. No século
XVIII, o reitor era o filósofo Immanuel Kant, cujo túmulo fica nos terrenos da
universidade. Em 1945, durante a II Guerra Mundial, Koenigsberg foi
fortemente atacada, sendo destruído cerca de 80% do campus universitário. A
Universidade Albertina foi fechada. Foi reinstalada em 1967, com o nome de
Universidade Estatal de Kaliningrado e a construção de edifícios modernos. ​
O Jardim Botânico de Koenigsberg foi criado em 1581 como parte da
Universidade Albertina. Dele nada resta hoje em dia. Poucos, inclusive no
jardim atual, sabem que um dia existiu.
O Jardim Botânico de Kaliningrado da Universidade Albertina, criado em
1904, não tem nada a ver com o de Koenigsberg. O de Kaliningrado tem
coleções especiais de arbustos ornamentais, de crisântemos, de clematis, de
gramas de cobertura, de espécies de Berberis, Clematis, Acer e Lonicera. Ao ar
livre, há cerca de seiscentas espécies de árvores e arbustos. Seu herbário possui
exemplares de material botânico coletado na região de Kaliningrado desde 1964.
A maior parte dessa coleção é de musgos, ​ samambaias, gimnospermas e
angiospermas. Nos últimos anos, houve inclusão de muitos liquens.
Há poucas informações a respeito deste jardim. Desde 1960,há falta de
fundos para sua manutenção. No início de 2007, uma tempestade violenta
destruiu a maior parte das casas de vegetação e muitas das 2.500 espécies foram
perdidas.
Jardim Botânico de Jena
Botanischer Garten Jena
Fürstengraben, 26
07743 Jena
Alemanha
www2.uni-jena.de/biologie/spezbot/botgar/gewaechs
http://www2.uni-jena.de/biologie/spezbot/botgar/gewaechs
Jena, na Alemanha central, no vale do rio Saale, é a terceira cidade do estado
federal da Turíngia. Foi mencionada pela primeira vez, como cidade, em um
documento de 1236. A Reforma protestante lá chegou em 1523, o que
desencadeou ataques da população aos conventos das várias ordens católicas.
Foi em Jena que, em 1806, Napoleão Bonaparte venceu os prussianos.
Seguiu-se muita resistência contra a ocupação francesa. Em 1945, a cidade foi
bombardeada fortemente pelos americanos e britânicos, o que destruiu grande
parte do núcleo medieval, restaurado depois da guerra. De 1949 a 1990, ela
pertencia à República Democrática Alemã (Alemanha Oriental).
A Universidade de Jena, Universidade Friedrich Schiller de Jena, foi fundada
como uma academia, em 1548, por Johann Frederick I (1503-1554), da
Saxônia, chefe da Confederação Protestante da Alemanha. Tornou-se
universidade dez anos mais tarde, em 1558. No fim do século XVII, era a maior
universidade da Alemanha. Em 1934, a Universidade de Jena foi renomeada
como Universidade Friedrich-Schiller de Jena. Com cerca de 20 mil estudantes,
ela possui muitas faculdades, como as de Teologia, Direito, Biologia, vários
institutos, jardim botânico e herbário.
Curiosidades
A universidade passou a ter reputação internacional no século XVIII e início do XIX, época
em que os filósofos Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Johann Gottlieb Fichte, Friedrich Wilhelm
Joseph Schelling e o poeta e dramaturgo Johann Christoph Friedrich Schiller eram ali
professores. Karl Marx obteve seu doutorado em Jena.
Johann Wolfang von Goethe, que estudou direito em Estrasburgo, recebeu o título de doutor
honorário pela Universidade de Jena, ocupou o cargo de presidente da Sociedade de
Mineralogia da cidade e conseguiu o cargo de professor extraordinário de história e filosofia
na Universidade para Schiller, de quem foi muito amigo.
Em 1586, foi fundado um jardim de plantas medicinais, o hortus medicus,
que depois se tornou o Hortus Botanicus; portanto, o Jardim Botânico da
Universidade de Jena é o segundo jardim botânico mais antigo da Alemanha,
depois do de Leipzig, fundado em 1580.
No decorrer dos anos, ilustres pesquisadores lá trabalharam: o especialista em
grupos de fungos August Karl Batsch, o algólogo Nathanael Pring​sheim, o
botânico que afirmou que as células são as unidades básicas de um organismo
Mathias Jacob Schleiden, o fundador da citologia moderna, Eduard Strasburger,
o médico e químico Georg Ernst Stahl, o criador do “animismo”, teoria que
afirma ser a alma que regula o funcionamento do organismo, e o geneticista
Otto Renner.
Este Jardim Botânico é associado ao nome de Goethe que, em 1774, iniciou
o sistema de irrigação de água, assim como a construção de várias casas de
vegetação e da casa do inspetor do jardim, onde freqüentemente se hospedava.
Hoje, a casa é o Museu e Monumento de Goethe. Ele passava horas no jardim
em estudos botânicos e recebendo a musa da poesia. Uma árvore muito antiga de
Ginkgo biloba lembra, aos visitantes do jardim, o tempo de Goethe.
As metas do Jardim Botânico de Jena incluem o aprimoramento da educação
acadêmica, o cultivo de plantas para pesquisa, a conservação de recursos
genéticos e da biodiversidade e o cultivo de uma grande variedade de espécies,
incluindo aquelas raras ou em perigo de extinção. Para pesquisa e permuta com
outros jardins botânicos do mundo, é mantido um banco de esporos e sementes.
Na parte a céu aberto, há um arboreto com cerca de novecentas árvores de
angiospermas e gimnos​permas e um jardim alpino com 2.500 espécies. Há um
outro em que as plantas são organizadas de acordo com suas famílias botânicas:
das monocotiledôneas e das dicotiledôneas. Há áreas com vegetação de florestas,
de estepes, de pântanos. Há também plantas aquáticas, canteiros com plantas
que florescem no início da primavera, plantas trepadeiras, rosas, um jardim de
plantas da Austrália e da América do Sul, um de samambaias, um de plantas de
interesse econômico e também um de plantas medicinais.
O conjunto de cinco casas de vegetação foi renovado entre 1980 e 1983. O
átrio do conjunto apresenta vitrinas para exposições. Um pátio interno é cercado
pelo conjunto do átrio e casas de vegetação, com suculentas africanas, flores de
verão e um tanque aquecido para as ninféias. Na casa de vegetação dos cactos e
suculentas ficam plantas do Velho e do Novo Mundo, agrupadas de acordo com
aspectos taxonômicos e fitogeográficos. Árvores sempre-verdes de florestas
tropicais e subtro ​picais foram alojadas em uma segunda casa de vegetação. A casa
das palmeiras abriga também plantas ornamentais da região tropical. A casa da
evolução contém representantes de grupos antigos de plantas, como cicas e
samambaias arbóreas. Vê-se a Victoria amazonica na quinta casa de vegetação, ​-
em um grande tanque, junto de outras aquá​ticas tropicais.
O Instituto de Botânica Sistemática da universidade administra o jardim
botânico e o herbário. O Herbarium Haussknecht é um dos mais afamados da
Europa. Foi fundado em 1896 em Weimar, Alemanha, pelo botânico e
farmacêutico alemão Heinrich Carl Haussknecht. Transferido em 1949 para a
Universidade de Jena, possui, atualmente, cerca de 3 milhões de exsicatas, além
de uma palinoteca, coleção de frutos e sementes.
Jardim Botânico de Wroclaw
Rua Henryka Sienkiewicza, 23
50-335 Wroclaw
Polônia
e-mail: obuwr@biol.uni.wroc.pl
mailto:obuwr@biol.uni.wroc.pl
Wroclaw, a quarta maior cidade da Polônia, é a capital da província da Baixa
Silésia, no sudoeste do país. A cidade é chamada de Wroclaw desde o século XII
pelos poloneses e, a partir de 1741, os alemães a chamaram de Breslau. Voltou a
ser chamada de Wroclaw após a Segunda Guerra Mundial. Wroclaw está
localizada no rio Ocer, cerca de 310 km de Varsóvia. Fica em doze ilhas e tem
112 pontes, sendo conhecida como a Veneza da Polônia. Foi criada no século X
e governada inicialmente por reis poloneses. Nos séculos seguintes, foi dominada
pelos alemães, boêmios e prussianos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a
cidade foi fortemente atacada e quase destruída. Gradualmente, a cidade antiga
foi restaurada e os monumentos preservados. Tem também construções
modernas famosas, como o Hala Ludowa, cons​truído entre 1911 e 1913 pelo
famoso arquiteto alemão Max Berg. Hoje, Wroclaw é uma das mais belas
cidades da Polônia.
A Universidade de Wroclaw foi fundada durante o governo do rei Vladislaus
II, da Boêmia e Hungria. Devido à forte oposição que teve da Universidade de
Cracóvia, a Universidade de Wroclaw foi fechada. Por volta de 1702, o
imperador do Sacro Império Romano, Leopoldo I, criou uma pequena faculdade
de jesuítas, no mesmo endereço da antiga universidade, e deu a ela o nome de
Academia Leopoldina. A Silésia foi incorporada pela Prússia em 1741 pelo rei
Frederico, o Grande, e a Academia Leopoldina foi transformada em uma
universidade, finalmente estabelecida em 1811. Era a Universidade de Breslau.
Tinha inicialmente cinco faculdades: Filosofia, Medicina, Direito, Teologia
protestante e Teologia católica. Quando acabou a Segunda Guerra Mundial,
apenas 30% dos edifícios estavam de pé. A biblioteca foi totalmente queimada
pelos russos, em 1945, quatro dias após a saída dos alemães. Em agosto de 1945,
passou a ser chamada de Universidade de Wroclaw. Vários detentores do Prêmio
Nobel estudaram nela: o químico Friedrich Bergius, o físico Max Born, o físico
Hans Georg Dehmelt, o fisiologista Paul Ehrlich, o literato Theodor Mommsen
e o físico Otto Stern. Aloysius “Alois” Alzheimer, que descobriu a doença de
Alzheimer, foi professor de psiquiatria em Wroclawentre 1912 e 1915.
Em 1587, o físico e botânico luterano Lauren​tius Scholz, depois de estudar
alguns anos em Pádua, criou um jardim botânico, em Wroclaw, que foi
importante para os estudiosos e estudantes de medicina. Era um terreno na
forma de um quadrado dividido, por vielas, em quatro setores. No portão
principal, estava esculpido um texto em latim, cujo primeiro parágrafo dizia “em
louvor e honra de Deus Todo-poderoso, para a glória de minha cidade natal,
para o uso de amigos e estudantes da botânica”. No jardim, havia plantas nativas
e exóticas. O primeiro setor era o das plantas ornamentais, de flores vistosas, mas
todas plantas nativas. Ilustrações dessas plantas eram feitas por artistas da cidade.
O setor mais importante era o jardim das plantas medicinais, o “jardim dos
simples”. Continha 385 espécies, entre elas muitas plantas ​ exóticas. Junto com as
medicinais, manti​nham-se ervas aromáticas e algumas plantas que os portugueses
tinham acabado de trazer da Índia. Havia também o setor das árvores. Depois o
setor do labirinto, com muitas trepadeiras. Fontes adornavam o centro dos
setores. O jardim possuía também uma estufa, onde cresciam romãzeiras,
loureiros e espirradeiras.
O atual jardim é uma instituição científica cria​da pela Universidade de
Breslau em 1811. Foram diretores do Jardim de Breslau o paleobotânico H. R.
Goeppert e o taxonomista A. Engler, que criou um novo sistema de classificação
das plantas. Durante a Segunda Guerra Mundial, cerca de 50% das árvores e
quase a totalidade das herbáceas e das plantas mantidas em casa de vegetação
foram destruídas. O jardim foi reconstruído somente em 1948.
O Jardim Botânico de Wroclaw é um oásis de beleza e tranqüilidade no
centro antigo da cidade, o Ostrw Tumski, em meio a magníficas igrejas góticas.
Funciona como um ponto de recreação para os visitantes. A vegetação atrai os
olhos o ano todo pela variação das cores das folhas das árvores a cada estação.
É sua função coletar, cultivar e estudar plantas, o que aumentou a pesquisa
de aclimatação. Novas espécies são sempre incluídas nas coleções, provenientes
de outros jardins botânicos ou coletadas em diversas partes do mundo. As
plantas são agrupadas em seções e usadas como material de ensino e de pesquisa.
O jardim oferece aulas especiais de botânica para estudantes e crianças.
Há no Jardim Botânico de Wroclaw 11.500 espé​cies de plantas. Ele ocupa
uma área de 700.000 m² e as casas de vegetação cobrem 3.300 m² do terreno.
Nas casas de vegetação são mantidas plantas da região tropical e subtropical. Há
cerca de trezentas espécies de plantas aquáticas e de locais inundados, que
constituem uma das maiores coleções desse tipo no mundo. Há 1.300 espécies
de plantas suculentas, a maioria das Américas e do sul da África. O jardim
mantém, além das casas de vegetação, uma seção de taxonomia, uma de plantas
ornamentais, um arboreto e uma de plantas alpinas (alpinário). A seção de
taxonomia é a mais importante do ponto de vista educacional e cobre cerca de
200.000 m². Fica na parte central e é dividida em canteiros, agrupando as
espécies de acordo com o sistema de Engler, que é baseado na afinidade natural
entre as espécies. Árvores, arbustos, plantas perenes e anuais crescem em
abundância, além de samambaias e musgos. Em 1880, no centro dessa seção, foi
erigida uma estátua de Lineu. A seção de plantas ornamentais, mantida ao ar
livre, é muito atraente em todas as estações do ano, com árvores, arbustos,
plantas perenes e anuais e plantas com bulbo. Há 250 variedades de íris. O
arboreto funciona como um parque de recreação, com espécies de árvores e
arbustos nativos e exóticos. Há nele três grupos geográficos representados: o
norte-americano, o caucasiano e o asiático oriental. Há um tronco petrificado
com mais de 250 milhões de anos. O alpinário exibe espécies das montanhas das
mais diferentes partes do globo, que crescem acima do limite das florestas e
abaixo do limite da neve permanente. No alpinário está uma das grandes
atrações: uma secção transversal de um depósito de carvão endurecido, há mais
de cem anos, com incrustações de fósseis de plantas extintas. O Museu de
História Natural apresenta uma exibição sobre o mundo das plantas. Junto da
casa de vegetação que abriga as palmeiras, há um café, aberto ao público no
verão. O arboreto em Wojsawice, com 150.000 m2, perto de Nemcza, a 50 km
ao sul de Wroclaw, pertence desde 1880 ao Jardim Botânico de Wroclaw. Esse
arboreto é muito​ conhecido por sua coleção do gênero Rhododendron.
Os pesquisadores da instituição trabalham com ecologia de plantas aquáticas
e do brejo, cultivo hidropônico, conservação e aclimatação de espécies. Além
disso, há um grupo de pesquisadores na área de biologia vegetal, pois é necessário
educar a sociedade em relação aos perigos que sofre a natureza. Por isso, o jardim
criou caminhos pelo parque para fazer com que o público conheça as plantas
mais interessantes e em perigo. Assim, tabuletas coloridas indicam ao público as
atrações mais importantes. A placa alaranjada indica as plantas nativas e
protegidas da Polônia e a vermelha as plantas do resto do mundo, raras e que
estão desaparecendo. Cerca de cem quadros coloridos bastante didáticos estão
espalhados por todo o jardim. Fazem-se exibições permanentes, como
“Panorama da natureza”, que ilustra a evolução de plantas e animais desde o pré-
cambriano até os dias de hoje e “As suculentas do México”, com representantes
da flora mexicana.
O jardim publica uma variedade de material didático e oferece aulas de
botânica aplicada. ​Colabora com jardins botânicos do mundo todo permutando
plantas, sementes e esporos de samambaias. Os pesquisadores da instituição
fazem pesquisa em ecologia de plantas aquáticas e do brejo, cultivo hidropônico,
conservação e aclimatação de espécies.
Jardim Botânico de Montpellier
Jardin des Plantes de Montpellier
163, Rue Auguste Broussonnet
34000 Montpellier
França
http://www.jardindesplantes.univ-montp1.fr/
http://www.aes.univ-montp1.fr
inscraes@univ-montp1.fr
http://www.jardindesplantes.univ-montp1.fr/
http://www.aes.univ-montp1.fr
mailto:inscraes@univ-montp1.fr
Montpellier, cidade do sul da França, é a capital da região do Languedoc-
Roussillon e capital administrativa do departamento de Hérault. Fica a 10 km da
costa do Mediterrâneo. Montpellier, mencionada pela primeira vez em um
documento de 985, foi fundada pela dinastia feudal dos condes de Toulouse. No
século XVI, na época da Reforma religiosa, grande parte dos habitantes da
cidade tornou-se protestante e a cidade passou a ser ponto de resistência contra o
catolicismo.
A Faculdade de Medicina da Universidade de Montpellier (conhecida como
Universidade de Montpellier I) já existia em 1180. Na época, havia outras
faculdades espalhadas pela cidade, como as de Letras, Teologia e Direito. Em
1289, por ordem do papa Nicolau IV (papa de 1288 a 1292), todas as
faculdades da cidade foram agrupadas em uma universidade, que foi fechada
durante a Revolução Francesa, voltando a funcionar em 1896.
François Rabelais, um dos maiores escritores franceses da Renascença, e
Michel de Nostredame, conhecido como Nostradamus, famoso por suas
profecias, receberam seus títulos de doutor em medicina pela Universidade de
Montpellier.
A expressão “jardin des plantes” é tipicamente francesa, sendo traduzida, em
outros países por “jardim botânico”. O de Montpellier pertence à sua
universidade e é administrado pela Faculdade de Medicina. Foi criado em 1593
pelo botânico e médico Pierre Richer de Belleval, durante o reinado de Henrique
IV, sendo o mais antigo da França. Serviu-lhe de modelo o Jardim Botânico de
Pádua, na Itália. A intenção do criador era fazer uma enciclopédia viva de plantas
medicinais, que poderiam ser usadas pelos estudantes da Faculdade de Medicina
para produzir remédios e para a pesquisa de médicos e farmacêuticos. O projeto
de Belleval foi além e logo se tornou um verdadeiro estudo de botânica.Seu
herbário contém exemplares coletados por botânicos célebres, incluindo a
coleção da flora da região do Languedoc do próprio Belleval.
O jardim foi precursor na maneira de ver a diversidade apresentada pelo
mundo das plantas, reproduzindo, por exemplo, vários tipos de ambiente.
Iniciou também uma coleção de plantas exóticas. Por seu valor pedagógico,
passou a ser freqüentado por botânicos, médicos, farmacêuticos e estudantes,
sendo finalmente aberto, em 1841, ao público em geral.
O famoso botânico De Candolle trabalhou em Montpellier. Augustin
Pyrame de Candolle, que utilizava a abreviatura DC, é um dos maiores
botânicos do passado. Era descendente de uma família de huguenotes
(protestantes calvinistas) da Provença, na França, que emigrou na metade do
século XVI para Genebra, na Suíça, devido a problemas religiosos. Começou
seus estudos em Genebra, tendo muito interesse em botânica. Em 1796, decidiu
mudar-se para Paris, onde, em 1804, recebeu o titulo de doutor em medicina
pela Universidade de Paris. Durante os verões dos seis anos seguintes, fez um
levantamento florístico de toda a França, publicado em 1813. Em 1807, foi
nomeado para a Universidade de Montpellier, primeiro como professor de
botânica da Faculdade de Medicina, sendo, em 1810, transferido para a nova
cátedra de botânica da Faculdade de Ciências. Naquela cidade, ele publicou
Théorie élémentaire de la botanique. Retornou a Genebra em 1816, onde ficou
com a nova cátedra de história natural. Em 1824, começou um novo trabalho, o
Prodromus systematis naturalis regni vegetabilis, do qual conseguiu terminar
apenas sete volumes (dois terços do projeto) até sua morte, em 1841. Seu filho, o
francês Alphonse Louis Pierre Pyrame de Candolle, que utilizava a abreviatura
DC, A., continuou o trabalho interrompido e o sucedeu na Cátedra de História
Natural, em Genebra.
O jardim ocupa uma área de 46.460 m². Está situado no bairro do Peyrou,
próximo à Faculdade de Medicina e à Catedral de Saint Pierre. Encerra 2.771
espécies, sendo 760 árvores, todas mantidas a céu aberto. Nas casas de vegetação
tropical, que ocupam uma área de 688 m², são mantidas 679 espécies, muitas
delas da América do Sul, como cactáceas, suculentas e arbustos tropicais. Uma
orangerie, com 267 m² foi construída em 1804. Tem, também, uma escola de
taxonomia e um suntuoso jardim inglês. Em suas dependências, há um
monumento a Rabelais, construído em 1921, uma estátua de Lineu e o famoso
monumento de Narcissa. No fim do século XIX, o observatório astronômico da
Faculdade de Ciências realizava suas observações nas dependências do jardim
botânico. A cúpula astronômica, uma das mais antigas da França, com palmeiras
cercando um espelho de água onde se vêem nenúfares, é classificada como
monumento histórico. As reuniões do planetário ​atual são realizadas sob a
cúpula desse observatório. É utilizado um planetário móvel, sob um domo
inflável de 5 m de diâmetro.
A área do jardim é dividida em um jardim paisagístico na parte norte,
ficando o jardim histórico na parte sul. Não existe uma estrutura apropriada para
a pesquisa, mas são desenvolvidos trabalhos científicos com outras instituições.
Próximo ao Jardim Botânico foi criado, a partir de 1889, o Instituto de
Botânica, que se dedica à pesquisa em ecologia e taxonomia.
O Jardim Botânico de Montpellier tem coleções de plantas de várias
procedências. Há cerca de quinhentas espécies da região do Mediterrâneo, uma
coleção de 250 espécies de plantas medicinais, plantas pitorescas como hortaliças
antigas e uma pequena coleção de palmeiras. Na coleção de árvores, há oito
exemplares de Cupressus dupreziana, espécie quase extinta na Argélia – seu país
de origem –, Zelkova serrata, Cinnamomum camphora e Ginkgo biloba. A
coleção de plantas suculentas tem 183 espécies. As casas de vegetação contêm
bromélias, orquídeas e samambaias. Plantas que não suportam baixas
temperaturas são mantidas em vasos ou cestas e levadas para a orangerie durante
o inverno. Há muitas plantas naturalizadas, importadas de outras regiões,
mantidas ao ar livre, como a americana Modiola caroliniana. A coleção de plantas
subtropicais inclui até hoje o lótus, Nelumbo nucifera, que foi trazido do Egito
pelo botânico Alire Raffeneau-Delile durante a campanha napoleônica de 1798.
Ele foi cônsul da França na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, de onde
levou duas mudas de Maclura pomifera para o Jardim Botânico de Montpellier,
do qual se tornou diretor. Por seu valor profissional, Raffeneau-Delile foi
homenageado pelos botânicos com dois gêneros de plantas.
Curiosidades
Há um fato bastante curioso a respeito desse Jardim Botânico. Ele encerra o túmulo de
Narcissa, atração turística da cidade. Afinal, quem foi Narcissa? É a personagem-título de um
poema de Edward Young que consta do livro Night Thoughts, ilustrado pelo famoso poeta e
ilustrador inglês William Blake. Conta a história trágica de uma bela jovem que morreu de
tuberculose e teve seu corpo enterrado pelas próprias mãos do poeta. Mas a personagem do
poema realmente existiu: era Elizabeth Lee-Temple, enteada de Young, filha de sua esposa
com o primeiro marido. Com 17 anos, casou-se e ficou tuberculosa. Young levou-a para a
França, pois o clima da região, supostamente, fazia bem aos tuberculosos. Mas Elizabeth
não resistiu. Na ocasião da morte de Young, a Enciclopédia Britânica publicou que Elizabeth
havia morrido e sido enterrada em Montpellier. Em 1770, os poemas de Young foram
traduzidos para o francês, fazendo muito mais sucesso na França do que na Inglaterra, seu
lugar de origem. Houve muita curiosidade a respeito de Narcissa (na verdade, Elizabeth) e o
local de seu sepultamento. Um antigo funcionário do Jardim Botânico de Montpellier
confessou que havia visto o corpo de uma jovem, que seria Narcissa, ser enterrado em uma
cova rasa. Anos mais tarde, foi erguido um túmulo no local, com as palavras em italiano
designando-o como o túmulo de Narcissa. É muito visitado e diz-se que aí choraram
inúmeros famosos, como Alfred de Musset, Paul Valéry e André Gide. O mais interessante é
que o sepultamento em Montpellier é uma informação falsa da Enciclopédia Britânica, pura
invenção popular e poética. De acordo com a história verdadeira, Elizabeth nunca esteve em
Montpellier, viva ou morta. Ela morreu em Lyon, onde está enterrada. Tanto o certificado do
óbito como o túmulo existem em Lyon até hoje. Mas, sem dúvida, é uma boa história para o
Jardim Botânico de Montpellier.
O jardim mantém, igualmente, uma coleção de sementes e esporos. Um
catálogo com todos os itens disponíveis dessa coleção é publicado e distribuído
anualmente para outros jardins botânicos, tendo em vista a troca.
O Jardim Botânico, um patrimônio de Mont​pellier, foi classificado como
Monumento Histórico em 1992.
Jardim Botânico de Heidelberg
Botanischer Garten
Heidelberger Institut für Pflanzenwissenschaften
Der Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg
Im Neuenheimer Feld, 340
D-69120 Heidelberg
http://www.botgart.uni-hd.de
e-mail: sekretariat@botgart.uni-hd.de
Heidelberg é uma cidade no vale do Neckar – rio que deságua no Reno daí a
20 km –, estado de Baden-Württemberg na Alemanha. O primeiro documento
que a menciona data de 1196. O nome deriva de Heidelbeerenberg, que
significa montanha do mirtilo-azul ou blueberry. A cidade tem o privilégio de
abrigar a mais antiga biblioteca alemã intacta, fundada em 1421. Para evitar sua
destruição, a coleção foi enviada para o Vaticano, em 1623, tendo retornado
para Heidelberg em 1986. Foi o centro do calvinismo na Alemanha no século
http://www.botgart.uni-hd.de
mailto:sekretariat@botgart.uni-hd.de
XVI. O Catecismo de Heidelberg, publicado em 1563, que definia as diferenças
entre a reforma calvinista e o catolicismo, foi adotado por muitas igrejas da
época da Reforma.
A Universidade Ruprecht-Karls de Heidelberg é a mais antiga universidade
da Alemanha. Foi fundada em 1386, por Rupert I de Wittelsbach, tendo como
modelo a Universidadede Paris. Inicialmente, dedicava-se aos estudos de
filosofia, teologia, direito e medicina. Alguns nomes famosos como o filósofo
Georg Wilhelm Friedrich Hegel e o sociólogo Max Weber foram ali professores.
Deve-se a descoberta de que a nicotina era o principal componente ativo das
folhas de tabaco (1828) aos químicos dessa universidade.
O Jardim Botânico da Universidade de Heidel​berg foi estabelecido em 1593
como um hortus medicus, ou seja, para o cultivo de plantas medicinais. Ficava em
um terreno próximo à Markbron​ner Tor, onde funcionou até 1645. No local
funciona, hoje, a penitenciária municipal. Passou, nos séculos seguintes, por
muitos endereços. Foi abandonado por vários anos depois de 1645. De 1679 a
1693, passou a funcionar em Kapuziner​kloster, mas logo foi, mais uma vez,
deixado ao abandono. Em 1705, sua sede era em Plöck Wredeplatz, hoje
Friedrich-Ebert Platz, ocupando uma área de 3.000 m². Em 1804, foi
transferido para uma área de 7.000 m², em Dominikanerkloster (hoje área de
Brunnengasse). Houve nova transferência em 1834, para uma área de 17.500 m²
próxima a Mannheimer Tor, local onde hoje é o correio central. De 1880 a
1915, ocupou uma área de 25.000 m² em Bergheim. Desde 1915, está no
endereço atual em Neuenheimer Feld, ocupando uma área de 29.000 m². Os
cientistas do jardim botânico consideram que as instalações atuais estão ficando
pequenas e antiquadas para sua missão em ciência e educação, razão pela qual
estão planejadas novas instalações, na mesma rua, em terreno de 100.000 m² de
área, já pertencente à universidade, mas faltam os recursos financeiros necessários
à efetivação do projeto.
Este jardim botânico é uma instituição importante, cujas funções principais
são a pesquisa científica e o ensino. O ensino é voltado tanto para estudantes
como para o público em geral e, assim como a pesquisa, tem caráter
interdisciplinar. O jardim é, igualmente, depositário de espécies vegetais em
perigo de extinção, local da arte da horticultura, centro de treinamento para
jardineiros e local de recreação e tranqüilidade.
Cerca de 14 mil espécies são cultivadas lá, 90% delas mantidas em casas de
vegetação. Dentre elas, chamam a atenção alguns exemplares de grande porte de
Dendrocalamus giganteus. Há coleções especiais consideradas de muita
importância, tais como a de suculentas do Velho Mundo, de suculentas de
Madagascar e do Novo Mundo, de orquídeas, de bromélias, de cicas e de
samambaias tropicais. Há também uma coleção de germoplas​ma de brássicas,
família da couve e da mostarda, entre outras. A grande maioria das orquídeas,
bromélias e suculentas, muitas delas correndo perigo de extinção em seus locais
de origem, foram coletadas em expedições científicas realizadas entre 1965 e
1995 em regiões tropicais, subtropicais e áridas das Américas, Ásia e África. A
coleção de suculentas de Madagascar é a mais importante da Europa. Todas as
espécies lá cultivadas são objetos de estudos botânicos.
Mas a instituição tem outra grande preocupação: criar especialistas em
horticultura. A horticul​tura moderna exige um alto grau de especialização, como
técnicas modernas de climatiza​ção, condi​cionamento de ar, irrigação,
armazenamento eletrônico de dados, além de bom treinamento pessoal para lidar
com plantas delicadas. Essas necessidades encorajaram a criação de um curso de
aprendizagem em horticultura de três anos, sendo um deles dedicado à parte
econômica, quando o aluno faz estágio em uma firma comercial de jardinagem
sob a supervisão do jardim botânico. Cada turma é de treze alunos. No final do
curso, o novo horticultor está totalmente familiarizado com a produção de
plantas ornamentais, de sementes, de frutas, com o crescimento inicial de
plantas, a produção de hortaliças e o paisagismo.
Jardim Botânico de Leiden
Rapenburg, 73
PO Box 9516
NL-2300 RA Leiden
Holanda
e-mail: hortus@hortus.leidenuniv.nl
Leiden é uma cidade da província de Zuid-Holland, cortada pelo Oude Rijn
(Velho Reno braço do delta do Reno) e vários canais menores. No século IV, já
havia um forte romano na região, mas só teve os direitos de cidade em 1266.
Floresceu nos séculos XVI e XVII, sendo um importante centro de tecelagem;
seus tecidos passaram a ser mais conhecidos após a queda dos espanhóis que
dominaram a região por anos. O centro antigo da cidade está muito bem
preservado.
A Universidade de Leiden, que se autodenomina Praesidium Libertatis
(Bastião da Liberdade), foi fundada em 1575, e é a mais antiga universidade da
Holanda. Não tem um campus central. É espalhada por toda a cidade, da qual
ocupa alguns dos edifícios mais antigos. Seu fundador, o príncipe Guilherme I
de Orange-Nassau, foi o líder da revolta holandesa contra os espanhóis. A
história tradicional diz que o soberano permitiu aos cidadãos, como recompensa
mailto:hortus@hortus.leidenuniv.nl
por sua bravura contra os espanhóis, escolher entre duas recompensas: uma
isenção de impostos ou a criação de uma universidade. Escolheram a
universidade, que iniciou suas atividades no Convento de Santa Bárbara, mas foi
transferida em 1581 para o local que ocupa até hoje (embora o edifício original
tenha sido destruído em 1616). Ela conta com nove faculdades e mais de
cinqüenta departamentos. Usufrui de posição de destaque entre institutos de
pesquisa do mundo nas áreas de ciências naturais, medicina, sociologia, direito,
artes e literatura.
Curiosidades
A garrafa de Leiden, condensador elétrico, foi inventada por Pieter van Musschenbroek, em
1746, em Leiden (na verdade, já havia sido inventada no ano anterior por Ewald Georg von
Kleist). É um frasco de vidro revestido por uma folha de estanho, que cobre cerca de quatro
quintos de sua altura a partir da base (é a armadura externa). No interior há folhas de ouro
(armadura interna), que escondem uma haste de metal que atravessa uma rolha de cortiça.
Quatro cientistas agraciados com o Prêmio Nobel foram professores da
Universidade de Leiden: os físicos Heike Kamerlung Onnes, Hendrik Antoon
Lorentz e Pieter Zeeman, e o fisiologista Willem Einthoven. Além disso, o físico
alemão Albert Einstein lá ministrou cursos como professor convidado, entre
1920 e 1946.
O Jardim Botânico de Leiden, o mais antigo da Holanda, situa-se na parte
sudoeste do centro histórico da cidade. Dele faz parte o jardim recons​truído de
Clusius.
Em 1587, a Universidade de Leiden pediu permissão, às autoridades da
cidade, para a construção de um horto acadêmico que servisse como auxílio aos
estudos de medicina. A permissão foi concedida em 1590. Clusius foi nomeado
diretor. Ele chegou à cidade em 1593 para ser professor da universidade (data
oficial da fundação do jardim) e plantou a primeira espécie do jardim, que no
início​ era pequeno, cerca de 35 m por 40 m. Era dividido em quatro quadrados,
cada um deles sub​di​vi​dido em canteiros retangulares. Mais de mil espécies foram
lá cultivadas, incluindo uma coleção de plantas medicinais e outra de arbustos
ornamentais da região do Mediterrâneo. Clusius colocou plantas provenientes da
Ásia e Américas, até então desconhecidas na região. Havia também uma coleção
de plantas com bulbo, incluindo as tulipas, provenientes da Turquia.
Em 1931, o Jardim de Clusius foi reconstruído próximo do local original,
no jardim botânico. A reconstrução levou em conta dados do fim do século XVI,
como um esquema do jardim e as plantas que constavam de uma lista. Com o
passar dos anos, houve uma grande deterioração, até que, em 1990, foi
restaurado.
Carolus Clusius (Charles de l’Écluse), médico e botânico formado em
Montpellier, França, é considerado o pesquisador mais importante no campo da
horticultura científica do século XVI. Fez a lista detalhada das plantas do jardim,
lista que viabilizou a recriação deste no Jardim Botânico de Leiden. Realizou
muitas observações interessantes a respeito das tulipas e estabeleceu muitas das
normas, ainda hoje utilizadas, pela indústria holandesa dessas flores. Foi,
também, um dos primeirosestudiosos da flora alpina da Áustria. De 1564 a
1565, Clusius esteve na península Ibérica e conseguiu, em Portugal, um volume
do livro do português Garcia da Orta sobre plantas e remédios da Índia,
Colóquio dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia, impresso em Goa, em
1563. Ficou tão interessado pelo assunto que traduziu o livro para o latim,
publicado com o título de Aromatum et Simplicium aliquot medicamentorum
apud Indios nascentium historia.
Na década de 1730, o jardim botânico passou a ter 1.600 m² e a coleção
chegava a 7 mil espécies, plantas demais, espaço de menos. Em 1816, aumentou
seu tamanho com um jardim ao estilo inglês. Mas, em 1857, perdeu parte de sua
área para a construção de um observatório astronômico, em frente do qual fica a
rua que é o limite sul do jardim. Na parte oeste, foi construído, em 1990, o
jardim japonês.​
O parque, com muitas plantas interessantes, é um oásis no meio da cidade
antiga. Entra-se no Jardim Botânico de Leiden através de um pátio, onde há a
casa de vegetação das palmeiras, cons​truída em 2000, e alguns prédios antigos
usados como laboratórios. Tudo bem ajardinado. Na parte central, fica o
restaurado Jardim de Clusius e, perto dele, a seção de taxonomia, com as famílias
de plantas distribuídas pelos canteiros, no meio dos quais foi colocado um busto
de Lineu (Carl von Linné).
Lineu esteve em Leiden quando tinha 28 anos. O então professor de
botânica de Leiden da universidade, Jan Fredrik Gronovius, ficou tão
impressionado com um manuscrito de setenta páginas do visitante que resolveu
pagar imediatamente por sua publicação. É o Systema Naturae, um esboço do
que Lineu iria fazer pelo resto de sua vida. Durante sua visita, o jardim botânico
foi expandido, dobrando de tamanho. Com seu auxílio, a coleção de plantas foi
reorganizada de acordo com as idéias mais modernas da taxono ​mia. Perto da
seção de taxo​nomia, a coleçãode plantas tropicais e da região do Mediterrâneo,
mantidas na orangerie pelo resto do ano, fica, em vasos, durante o verão. A
orangerie, recentemente restaurada, foi construída ao redor de 1740. Na parte
mais ao sul, há uma colina – construída pelo homem e que fazia parte das
fortificações da cidade – onde uma infinidade de samambaias fica sob a proteção
de árvores antigas. ​
No Jardim Botânico de Leiden são várias as casas de vegetação, nem todas
abertas ao público. A primeira foi construída na segunda metade do século XVII.
Algumas são usadas para manter material de pesquisa dos botânicos do jardim e
do herbário (Rijksherbarium). Uma delas abriga a coleção de orquídeas; outra, a
coleção de passifloras (maracujás), muitas da América do Sul; e, uma terceira, a
coleção de samambaias da Ásia. Há uma coleção importante de aráceas asiáticas,
devendo ser mencionada a Amorphophallus titanum . Há casas de vegetação com
plantas tropicais, incluindo a Victoria amazonica.
Possui exemplares históricos, como o Laburnum anagyroides plantado em
1601 (que estava com 27 m em 1937), o Liriodendron tulipifera plantado em
1682 e o Ginkgo biloba plantado em 1785. Havia também um excelente
herbário, que atualmente faz parte do NHN-Leiden.
Em 1829, foi criado um herbário em Bruxelas, na Bélgica, o Rijksherbarium,
com o objetivo principal de estudar os recursos vegetais das colônias holandesas.
Em 1830, devido a problemas políticos, suas coleções foram transferidas para
Leiden e o Rikjsherbarium passou a pertencer à universidade. O NHN-Leiden, o
ramo de Leiden do Herbário Nacional da Holanda, é o resultado da fusão, em
1989, do herbário do Jardim Botânico de Leiden com o Rijksherbarium. Ele
possui mais de 4 milhões de exsicatas.
Jardim Botânico de Copenhague
Botanisk Have
Oester Farimagsgade, 2B
DK – 1353
Kobenhavn K
Dinamarca
www.botanic-garden.ku.dk
e-mail: bothave@snm.ku.dk
Kobenhavn, Copenhague em português, a capital da Dinamarca, localiza-se
na parte leste da ilha de Zealand e na ilha de Amager. A leste da cidade, o
estreito de Oresund separa a Dinamarca da Suécia. No lado sueco, exatamente
em frente, fica a cidade de Malmoe.
Foi fundada por volta do ano 1000 da era cristã pelo guerreiro viking Svend
Tveskoeg, rei da Dinamarca e da Inglaterra, e por seu filho Knud, o Grande, rei
da Dinamarca, da Inglaterra, da Norue​ga e da Suécia. Era, até a metade do
http://www.botanic-garden.ku.dk
mailto:bothave@snm.ku.dk
século XII, uma vila de pescadores denominada Havn. Tendo crescido muito em
importância, recebeu, em 1254, o título de cidade. Durante a Segunda Guerra
Mundial, foi ocupada pelas tropas alemãs entre 1940 e 1945. Depois do
conflito, a cidade teve um desenvolvimento muito grande.
A Universidade de Copenhague (Kobenhavns Universitet) é a mais antiga e a
maior universidade da Dinamarca, com oito faculdades. Tem mais de 37 mil
alunos, a maioria mulheres; a primeira delas foi admitida em 1877. Foi fundada
por um ato de Sisto IV (papado de 1471 a 1484), em 1475, a pedido do rei da
Dinamarca e da Noruega, Cris ​tiano I, mas teve seus estatutos promulgados
somente em 1479. Era um centro de teologia da Igreja Católica romana, mas
também oferecia cursos de direito, medicina e filosofia. Em 1537, a universidade
foi reorganizada, após a Reforma protestante, por Cristiano III, rei da
Dinamarca e da Noruega. Hoje ela tem vários campi localizados em Copenhague
e redondezas; o campus mais antigo fica no centro da cidade.
Curiosidades
Entre as várias curiosidades que a destacam, Copenhague é conhecida pela estátua da
“Pequena Sereia”, homenagem a Hans Christian Andersen, famoso autor dinamarquês de
contos de fadas. E o Tivoli, parque de diversões inaugurado em 1843.
A escritora Karen Blixen ou Isak Dinesen, na realidade a Baronesa Karen von Blixen-Finecke,
autora de A festa de Babette, é natural daquela cidade.
Há vários nomes ilustres na história da universidade: dois vencedores do
Prêmio Nobel de Física, Niels Bohr, que recebeu o prêmio em 1922, e seu filho
Aage Niels Bohr, agraciado em 1975.
O atual Jardim Botânico de Copenhague, da Universidade de Copenhague,
fica no centro da cidade, próximo ao Museu Nacional de Arte.
Foi fundado em 2 de agosto de 1600, através de um édito real, em uma área
em Skidenstraede (hoje Krystalgade), na parte central da cidade antiga, como um
horto médico. Uma residência com um jardim foi construída para um dos
professores, que deveria cultivar e propagar as plantas, principalmente as
medicinais. Em torno de 1620, embora não muito bem cuidado, o jardim foi
enriquecido com um grande número de plantas medicinais dinamarquesas e
exóticas. Somente em 1696 o jardim obteve dinheiro para, finalmente, contratar
um jardineiro, mas as dificuldades continuaram até que ele foi fechado em 1778.
O segundo jardim botânico, chamado Jardim de Oeder, existiu ao mesmo
tempo que o primeiro. Foi, originalmente, planejado pelo médico e botânico
alemão Georg Christian Oeder em 1752, em área cedida pelo rei Frederico V, da
Dinamarca e da Noruega. Ficava ao norte do Hospital Frede​rico, e a Amaliegade
dividia o jardim em duas partes, oeste e leste. A parte leste nunca foi utilizada; a
oeste, nunca totalmente completada, recebeu uma casa de vegetação e foi aberta
ao público em 1763. Oeder foi seu primeiro diretor e iniciou a Flora Danica, um
levantamento bem ilustrado de todas as plantas da Dinamarca e da Noruega. O
jardim durou pouco. Em 1778, o rei Cristiano VII retomou a área cedida e doou
outra para um novo jardim botânico, perto de Charlottenborg.
O projeto do terceiro jardim botânico da universidade, o de Charlottenborg,
foi aprovado pelo rei em julho de 1778. Ficava em uma área alagada, limitada
por Charlottenborg, Nyhavn, Mynten e Bremerholm. Foi construído o edifício
principal, cuja ala norte era a residência de trabalho de seu diretor e também o
Museu Botânico. No andar superior, ficava a biblioteca, que mais tarde tornou-
se a principal Biblioteca Botânica. Na ala sul, eram mantidas plantas tropicais
durante o inverno. Duas casas de vegetaçãoforam construídas em 1784 e em
1803, e uma série delas teve a construção iniciada em 1837. Em 1778, foi
decidido que o jardim teria um professor associado de botânica, o primeiro deles
tendo sido Martin Vahl, que transferiu as plantas do Jardim de Oeder para a área
de Charlottenborg. A criação do posto de professor associado levou à fundação
do setor de taxonomia vegetal, que vem funcionando há mais de duzentos anos.
A botânica tornou-se uma ciência independente, na Dinamarca, em 29 de
setembro de 1797, com a nomeação do primeiro professor titular da disciplina.
Mas a área do jardim era pequena e, em 1842, considerou-se a necessidade de
uma área bem maior.
O quarto e atual jardim botânico, com uma área de 120.000 m², foi aberto
ao público em 9 de outubro de 1874. A área escolhida foi a remanescente das
fortificações que até aquela época cercavam a cidade, hoje Oester Farimagsgade.
As casas de vegetação foram construídas entre 1872 e 1874, com estrutura de
ferro fundido, madeira e vidro, ocupando uma área de 2.400 m². Por volta de
1900, o jardim botânico perdeu parte de sua área com a construção de uma
universidade técnica. Na década de 1950, devido à construção do edifício do
Departamento de Botânica, mais uma área foi perdida. Mas houve
compensações: em 1905, recebeu terras que pertenciam ao governo da cidade,
área expandida em 1963, usada para cultivar plantas anuais. O desenho original
foi sendo alterado com o passar dos anos por exigências práticas.
A partir da década de 1960, outros prédios foram construídos, tendo os
antigos sido totalmente renovados, assim como as imensas casas de vegetação,
dentre elas a que abrigava as palmeiras. As novas foram adaptadas às plantas de
clima ártico e alpinas, e para trabalho experimental.
O Jardim Botânico mantém, igualmente, arbo​retos de árvores perenes e uma
área experimental em outros locais da cidade.
Ele passou a ser área preservada a partir de 1977. Em 1995, estavam lá
registradas cerca de 22 mil plantas vivas, representando 359 famílias, 3 mil
gêneros e mais de 13 mil espécies, além de muitas subespécies, variedades e
cultivares. Há coleções especiais, como a de cactáceas, de orquídeas da Tailândia
e do leste da Ásia, plantas das montanhas gregas, outras da Dinamarca e
Groenlândia.
Recentemente, foi montado um laboratório de cultura de células e tecidos, e
mais de cinqüenta espécies são mantidas em cultura. O trabalho experimental
está focalizado nas gimnospermas, em métodos de micropropagação de espécies
lenhosas e em criopreservação – a preservação em temperatura baixa. A pesquisa
com banco de sementes e esporos é mantida desde seu início em 1790. O jardim
publica anualmente o Index Seminum, com a finalidade de distribuir e permutar
sementes e esporos. Há facilidades para banco de genes, pesquisas em taxonomia,
filogenia e evolução, além de um projeto que estuda a flora das ilhas Galá​pagos.
Parte da coleção de plantas vivas é mantida especialmente para o uso de
estudantes de biologia da Universidade de Copenhague, assim como professores
do Instituto de Botânica, das escolas de Agricultura e de Farmácia. O jardim
mantém um curso de treinamento em horticultura para estudantes das escolas de
Veterinária e Agricultura.
Atrás da casa de vegetação das palmeiras, próxima da entrada administrativa
(a entrada principal para o público fica em Gothersgade, 140), em uma casa do
século XIX, funciona a loja especial do jardim. Há também um café ao ar livre,
que funciona do dia 1º de maio até quando a temperatura ficar baixa demais
para se permanecer ao ar livre.
O Museu Botânico, fundado na época do Jardim Charlottenborg, foi
administrado pelo jardim botânico até 1970, quando passou a ser um instituto
independente. Em 1993, tudo o que era ​referente à botânica foi reorganizado
administra ​tivamente em três institutos: o Museu Botânico e Biblioteca, o Jardim
Botânico e o Instituto de Botânica.
O Museu Botânico e Biblioteca abrigam o herbário, que conserva 230 mil
exemplares de plantas vasculares da Dinamarca, 179 mil exemplares de plantas
vasculares da Groenlândia, 1.252.000 exemplares de plantas vasculares do resto
do mundo, 325 mil exemplares de briófitas, 152 mil exemplares de algas, 150
mil exemplares de fungos e 225 mil exemplares de liquens.
Curiosidades
Para os brasileiros é importante lembrar do dinamarquês Johannes Eugenius Bülow
Warming. Ele esteve em Lagoa Santa, Minas Gerais, entre 1863 e 1866. Durante esse
período, realizou o primeiro levantamento do cerrado da região. Todo o material, incluindo o
de cerrado, obtido por ele, como exsicatas (exemplares de plantas secas), fotografias,
anotações, desenhos, fazem parte do acervo do Museu Botânico e Biblioteca. Warming é o
autor do livro Lagoa Santa: contribuição para a geografia fitobiológica, publicado em
dinamarquês em 1892 e em português em 1908. Suas observações feitas no Brasil, como
também sobre as floras dinamarquesa e ártica, resultaram em um livro publicado em 1895,
Populações vegetais: fundamentos de geografia ecológica vegetal, que lhe valeu o título de
fundador da ecologia vegetal. Várias exsicatas de espécies brasileiras de cerrado, coletadas
por ele, estão no herbário de Copenhague, entre elas Stryphnodendron adstringens e
Kielmeyera coriacea.
Quanto às plantas existentes no Brasil na região Nordeste, é muito importante a obra do
pintor holandês Eckhout, que pode ser vista no Museu de Copenhague. No século XVII, os
holandeses invadiram a região onde hoje é Pernambuco. De 1637 a 1644, a região foi
governada pelo conde João Maurício de Nassau-Siegen, que trouxe para Recife alguns
artistas, entre eles Albert Eckhout, que chegou com 27 anos e morou ali até seus 34 anos.
Era um pintor bem detalhista e perfeccionista, tendo muito bem representado os costumes da
época na região. Documentou igualmente a flora, com boas ilustrações que documentam as
plantas existentes da região na época, como as nativas Anacardium occidentale e Jatropha
curcas e plantas exóticas como Carica papaya e Ricinus communis, já cultivadas em
Pernambuco. As telas foram dadas de presente ao rei da Dinamarca Frederico III por
Maurício de Nassau-Siegen.
Jardim Botânico de Estrasburgo
Jardin Botanique de Strasbourg
28, rue Goethe
67000 Strasbourg
França
http://www-ulp.u-strasbg.fr
Estrasburgo (Strasbourg) fica no leste da França, na margem esquerda do rio
Reno, e é a principal cidade da região da Alsácia. Na margem direita do rio fica a
cidade alemã de Kehl. É o maior porto do Reno depois de Duisburg, na
Alemanha. Em alemão é Strassburg. Teve um primeiro nome celta: Argentorate,
que para os romanos passou a ser Argentoratum, mencionado pela primeira vez
no ano 12 a.C. Em 1988, a cidade, cujo centro é considerado Patrimônio
Mundial da Humanidade pela Unesco, comemorou 2.000 anos. É sede do
Parlamento Europeu.
http://www-ulp.u-strasbg.fr
A Universidade de Estrasburgo foi fundada em 1538 como Academia de
Estrasburgo, passando a universidade em 1621. Fechada pela Revolução
Francesa (que teve início em 1789 com a queda da Bastilha em Paris), foi
restabelecida por Napoleão Bonaparte. Em 1871, passou a ser uma universidade
alemã, quando, em decorrência de sua derrota na Guerra Franco-prussiana, a
França perdeu as regiões da Alsácia e da Lorena para a Alemanha. Em 1918,
tendo ficado do lado vencedor na Primei ​ra Guerra Mundial, a França recuperou
as regiões ​ e a Universidade de Estrasburgo. A universi​dade tem, hoje, cerca de 39
mil estudantes. Foi reorganizada, em 1970, em três universidades: Estrasburgo I
– Louis Pasteur (ciências), Estrasburgo II – Marc Bloch (ciências humanas) e
Estrasburgo III – Robert Schuman (direito, ciências políticas).
Estudaram, em Estrasburgo, o poeta e dramaturgo Johann Wolfgang von
Goethe, o grande político austríaco Klemens Wenzel Fürst von Metternich, o
químico Louis Pasteur e o laureado com o Prêmio Nobel da Paz de 1952, Albert
Schweitzer.
O Jardim Botânico de Estrasburgo foi fundado em 1619 onde era um velhocemitério que tinha sido comprado pela Academia de Estrasburgo. Em 1633, a
cidade construiu, ali, uma casa de vegetação. Em 1670, foi editado o primeiro
catálogo do jardim, com 1.600 espécies. Durante a Revolução Francesa, o
diretor do jardim botânico enterrou, no local, as mais belas estátuas da catedral
da cidade, salvando-as da destruição. Na época, os revolucionários locais
queriam, também, destruir todas as plantas do jardim, que seriam “plantas
aristocráticas” para, em seu lugar, cultivar só plantas “mais populares”, como
hortaliças e árvores frutíferas. A direção do jardim se opôs a isso e o manteve
como era. Quando a cidade foi sitiada pelos alemães, em 1870, os habitantes
foram proibidos de enterrar seus mortos nos cemitérios fora dos muros de
Estrasburgo: o jardim botânico voltou a ter sua velha função e mais de 1.600
pessoas foram enterradas ali. Do antigo jardim pouco subsiste hoje, apenas umas
poucas velhas árvores e um túmulo.
Este jardim botânico, que pertence à Universidade Louis Pasteur, fica um
quilômetro a leste da Catedral de Estrasburgo e dois a oeste do rio Reno. Situa-se
no bairro da universidade, entre o Palácio Universitário e o Observatório
Astronômico. O terreno atual foi estabelecido entre 1880 e 1884 pela
Universidade Imperial, criada pelas autoridades alemãs, depois da anexação da
Alsácia, no local das antigas muralhas a leste da cidade. A função primordial do
jardim era auxiliar os estudantes de medicina e de farmácia. O lago é o que
restou do antigo fosso das muralhas. O novo jardim foi inaugurado em 1884.
Desde o início, tinha uma monumental casa de vegetação tropical e várias casas
de vegetação especializadas. Todo o conjunto foi demolido em 1963, quando o
interesse do público estava muito baixo e seu valor histórico ainda não era
compreendido.
Em 1967, no lugar da antiga casa de vegetação tropical, foi construído o
novo Instituto de Botânica, acompanhado de uma casa de vegetação tropical e
outra de clima frio.
O jardim ocupa 40.000 m² e abriga várias coleções importantes, com cerca
de 6 mil espécies em um arboreto, em ecossistemas – com plantas aquá ​ticas, de
solo arenoso, de solo rochoso –, e nas casas de vegetação. Há uma colina rochosa
artificial, onde ficam as cicas, as bromélias e as samambaias. O arboreto mantém
uma coleção de 2.200 árvores e arbustos de todas as regiões temperadas, como
Ginkgo biloba e o Taxodium ascendens, este uma planta muito rara na Europa. A
casa de vegetação tropical abriga, em dois níveis, uma coleção para
demonstração, com muitas palmeiras e bananeiras. A casa de vegetação fria, com
207 m², abriga, no inverno, mais de quinhentas espécies de coní​feras do
hemisfério sul e plantas com bulbos. Em uma época em que o virtual ganha cada
vez mais espaço, é inestimável um jardim botânico com plantas reais, que
possam ser tocadas, estudadas e analisadas.
O herbário do Instituto de Botânica, o sexto da França, tem cerca de 400
mil exsicatas. Há coleções muito importantes do ponto de vista histórico e do
local de origem. As exsicatas são, em sua grande maioria, de plantas coletadas
entre 1800 e 1900; as mais antigas datam da época da Revolução Francesa.
Jardim Botânico de Oxford
The University of Oxford Botanic Garden
Rose Lane
Oxford OX1 4AZ
Inglaterra
Grã-Bretanha
www.botanic-garden.ox.ac.uk
postmaster@obg.ox.ac.uk
Oxford, cidade de Oxfordshire, na Inglaterra, é sede da mais antiga
universidade de língua inglesa do mundo. É cortada pelo rio Tâmisa, que ali
recebe o nome de Isis. A cidade começou com a fundação do Convento de Santa
Friedeswide, no século VIII, sendo mencionada pela primeira vez em 912, na
Crônica anglo-saxônica. No século X, foi várias vezes saqueada pelos
dinamarqueses. A padroeira da cidade, comemorada em 19 de outubro, é santa
Friedeswide, que fundou uma abadia perto de Oxford. O convento que levava
seu nome tornou-se o Christ Church de Oxford, depois da dissolução das ordens
religiosas.
http://www.botanic-garden.ox.ac.uk
mailto:postmaster@obg.ox.ac.uk
Trata-se de uma cidade onde moraram muitos famosos, como os escritores
Lewis Carroll – pseudônimo de Charles Ludwidge Dodgson, que também era
matemático –, Iris Murdoch, T. E. Lawrence, J. R. R. Tolkien e Ian McEwan.
A Universidade de Oxford é uma das mais importantes do mundo, com
mais de novecentos anos de atividade. A data da fundação é incerta. Evidências
de ensino aparecem somente em 1096. Teve um rápido crescimento quando os
estudantes ingleses foram proibidos de estudar na Universidade de Paris, em
1167.
É formada por um colegiado, com 39 colleges, de administração autônoma,
que se relacionam com a universidade em um sistema federativo. Há também os
sete halls permanentes privados, fundados por diferentes correntes cristãs. A
Universidade de Oxford tem quatro divisões acadêmicas: humanidades, ciências
matemáticas, físicas e da vida, ciências médicas e ciências sociais.
Muita gente famosa teve ligação com a universidade, como o arcebispo de
Canterbury Thomas Bradwardine, o mártir católico e autor de Utopia, sir
Thomas More, o explorador sir Walter Raleigh, o cientista Robert Hooke, o
pintor pré-rafaelita Edward Burne-Jones, a primeira-ministra indiana Indira
Priyadarshini Gandhi e o compositor Andrew Lloyd Webber.
O Jardim Botânico de Oxford, criado em 1621, é o mais antigo da Grã-
Bretanha. Os jardins de plantas medicinais que o precederam, na Inglaterra,
eram todos particulares. O mais antigo deles pertencia ao herbalista John
Gerarde e ficava em Holborn, Londres. Ele publicou um catálogo de suas plantas
no fim do século XVI.
Henry Danvers, lorde Danby, doou 5 mil libras (o que equivale, hoje, a 3,5
milhões de libras) para a construção de um jardim botânico, com o objetivo de
encorajar os estudos de medicina e botânica. O jardim foi implantado em uma
área de cerca de 4.000 m², situada em frente ao Magdalen College, que era o
local onde antes eram sepultados os judeus. A cerimônia de inauguração ocorreu
em 25 de julho de 1621, com a presença do vice-reitor e professores da
Universidade de Oxford. A pedra fundamental foi lançada por lorde Danby.
Estava criado o Jardim Botânico, originalmente um jardim de ervas medicinais,
um physic garden, como são chamados pelos ingleses.
O gateway, portão de entrada, desenhado por Inigo Jones, o primeiro
arquiteto inglês de valor e que levou a arquitetura da Renascença para a
Inglaterra, apresenta a inscrição: “À glória de Deus, o maior e o melhor, e em
honra do rei Carlos, este foi dado por Henrique, conde de Dan, como um
presente a ser utilizado pela universidade e pela nação. 1632”.[3] Ficou pronto
em 1632. Os muros foram terminados em 1633 e pouco modificados desde
aquela época. Plantas de várias partes do mundo são cultivadas nos muros. O
dinheiro doado por lorde Danby viabilizou a construção dos muros e do portão
de entrada, mas não sobrou dinheiro para manter o jardim.
Seu primeiro curador (Horti Praefectus), Jacob Bobart, foi nomeado em
1642. Durante sete anos, não recebeu nenhum salário. Manteve-se, durante o
período, vendendo frutas ali cultivadas, entre elas Mespilus germanica, planta
listada no catálogo de 1648. A árvore mais antiga do jardim é a Taxus baccata,
plantada por Bobart em 1645 (a espécie é fonte de droga usada no tratamento de
câncer de mama e ovário).
Seu filho, também de nome Jacob Bobart, sucedeu-o como curador e foi,
como o pai, professor de botânica da universidade. Fez um levantamento das
plantas do jardim e delas coletou as sementes. A lista foi enviada a outros jardins
botânicos, sugerindo permuta de sementes. Em 1683, foi organizada, pela
primeira vez, uma lista de sementes, distribuída entre agricultores e jardineiros.
No desenho do Jardim Botânico de Oxford, de 1675, consta a primeira casa
de vegetação da Grã-Bretanha. Ela foi construída em pedra, com teto de ardósia
e janelas muito pequenas – os jardineiros do século XVII ainda não sabiam que
as plantas precisam de muita luz paracrescer!
Em 1710, a coleção de plantas já era grande, mas muito inferior, por
exemplo, à do Jardim Botânico de Leiden. Em 1800, foi plantado um exemplar
de Pinus nigra ssp. nigra, hoje o mais antigo dessa va ​riedade na Grã-Bretanha.
Sementes da espécie haviam chegado a Oxford em 1795. Era a árvore favorita de
J. R. R. Tolkien, o autor de O senhor dos anéis.
Atualmente, a universidade repassa 400 mil libras por ano para a
manutenção do jardim botânico, que tem uma coleção de 7 mil espécies, a mais
compacta do mundo, com as mais diversas plantas de todos os continentes. Há
mais diversidade ali do que existe, por exemplo, nas florestas tropicais úmidas. As
plantas são cultivadas para auxiliar na pesquisa, no ensino da universidade e
como parte de projetos de conservação. Além disso, em Oxford, as plantas são
distribuídas de modo atraente e servem de inspiração para os amantes da
jardinagem.
O jardim consiste de três seções: as casas de vegetação que – hospedam as
espécies que requerem proteção do clima adverso da Inglaterra; o Jardim
Murado, em que as plantas são agrupadas de modos diversos – por exemplo,
pelo país de origem ou por seu uso pelo homem; e a área fora dos muros. A área
fora dos muros foi anexada em 1947, quando o college Christ Church desistiu
dela. Esta é uma parte mais voltada para a horticultura do que para a botânica; é
dividida por temas clássicos de jardins para visitação, como plantas de borda ​dura
e o caminho à beira do rio, com flores vistosas para o fim do inverno e início da
primavera, que leva o visitante ao jardim aquático. O rock garden é um jardim
ornamental com pedras e plantas, com plantas européias na parte leste, enquanto
as exóticas estão no lado oeste.
Curiosidades
Vale aqui uma palavra sobre o sistema de classificação taxonômica apresentado em Genera
plantarum ad exemplaria imprimis in herbariis kewensibus servata definita, de Bentham e
Hooker, um trabalho de mais de vinte anos, publicado em três volumes, entre 1862 e 1883.
As descrições das espécies foram baseadas no estudo dos exemplares do Kew Herbarium e
não de descrições compiladas da literatura internacional. Joseph Dalton Hooker, amigo de
Charles Darwin, considerado por muitos o botânico britânico mais importante do século XIX,
foi diretor do Jardim Botânico de Kew, perto de Londres. George Bentham é considerado, por
muitos, o maior taxonomista do século XIX. Esses dois cientistas foram, em grande parte, os
responsáveis pela transformação do Jardim Botânico de Kew na mais importante instituição
de botânica sistemática do mundo.
O sistema de classificação de plantas, porém, tem sido alvo, ultimamente, de muitas
novidades. Mark Chase, da Seção de Sistemática Molecular do Laboratório Jodrell, do Jardim
Botânico de Kew, estuda a filogenia e a classificação de angiospermas, principalmente as
orquídeas. O grupo do dr. Chase, utilizando DNA-fingerprinting (impressões digitais de DNA –
ou seqüências de DNA) e microscopia eletrônica, em adição aos dados de Bentham e
Hooker, criou um sistema evolutivo que mostra as relações genéticas entre as famílias de
plantas. Antes de Chase, os taxonomistas classificavam as espécies considerando a
aparência física e o tipo de desenvolvimento das plantas. O sistema de Chase afirma, falando
de modo bem coloquial, que plantas tão diferentes como os aspargos e as orquídeas são
muito próximas e que o mamão nada mais seria que um repolho. Por outro lado, plantas tão
parecidas, até mesmo pelo ambiente onde vivem, como as ninféias e o lótus, são bem
distantes. Esse novo sistema está sendo implantado no Jardim Murado para o ensino de
taxonomia aos alunos da Universidade de Oxford.
O Jardim Murado parece uma livraria viva, de plantas. Elas são agrupadas
em canteiros longos e estreitos, de acordo com suas famílias botânicas. Sir Isaac,
Bayley-Balfour organizou as famílias no sistema natural de classificação de
Bentham e Hooker, com uma adaptação própria. Durante todo o século XX,
elas foram distribuídas dessa maneira e usadas para ensinar aos alunos dos cursos
de graduação o modo como as plantas são classi​ficadas. ​
No canto sudoeste do Jardim Murado há, ainda, oito canteiros de plantas
úteis e de valor econômico: para uso como alimento, vestimenta, abrigo ou na
medicina. No canto noroeste, há dois canteiros com plantas variadas. Um outro
apresenta híbridos entre espécies do mesmo gênero. Outro agrupa vários tipos de
íris. Ao longo dos muros, existem plantas que se dão bem nesse microclima. Há
coleções de plantas de acordo com sua origem geográfica, como plantas da China
e do Japão, da América do Norte, da América do Sul, da África do Sul e plantas
da região mediterrânea.
O jardim tem oito casas de vegetação com, por exemplo, plantas de deserto
ou das florestas tropicais. O jardim de inverno foi reconstruído em 1973 de
acordo com o desenho vitoriano original, mas com uso de alumínio no lugar de
ferro e madeira. A disposição dos potes de terracota dá uma idéia de como era
um jardim de inverno no século XIX. Essa casa é utilizada em eventos, como
aulas de ilustração botânica e demonstrações práticas, por ser o único local
coberto do jardim. Ali ocorre a grande atração natalina, com a presença de todas
as plantas de que se precisa para fazer o Christmas pudding, o pudim de Natal. As
maiores casas de vegetação são as das plantas alpinas e das samambaias. A
primeira abriga plantas que nascem ou crescem a mais de 1.000 m de altitude.
Elas são mantidas em vasos de cerâmica, sendo trocadas periodicamente para que
se tenha sempre, em exibição, plantas floridas. A casa das samambaias é uma
demonstração de todos os diferentes hábitos de crescimento desse grupo de
plantas, como as aquáticas, mantidas em tanques, as epífitas, como a Platycerium
bifurcatum dependurado do teto, as trepadeiras como Lygodium japonicum, que
cresce na parede do fundo dessa casa de vegetação e as arbóreas como Dicksonia
antarctica. As plantas insetívoras do mundo todo são abrigadas em ​outra casa. A
das palmeiras, a maior das casas de vegetação, hospeda uma coleção de plantas
econô​micas dos trópicos; nela também é cultivada a Catharan​thus roseus, planta
que produz substâncias utilizadas no tratamento de leucemia em crianças. A casa
de vegetação “árida” abriga plantas de áreas com menos de 100 mm de chuva
por ano; em seu centro há a Cereus peruvianus e a Euphorbia abyssinica. Uma
outra casa de vegetação abriga as ninféias, como a Victoria cruziana . Vale a pena
contar como a primeira Victoria amazonica chegou a este Jardim Botânico. Foi
em Chatsworth House, do duque de Devonshire, que uma das primeiras plantas
dessa espécie cresceu e produziu flores na Grã-Bretanha. Trabalhou para o duque
o arquiteto e jardineiro sir Joseph Paxton, que replicou o ambiente natural da
espécie em uma casa de vegetação. O duque presenteou a rainha Vitória com
uma das flores da planta, para a qual deu o nome de Victoria regia. A arquitetura
da folha da espécie serviu de inspiração para Paxton construir o Palácio​ de
Cristal para a Exposição Universal de Londres​ de 1851, um edifício inteiramente
pré-fabricado, em ferro e vidro, considerado um grande feito da arquitetura
moderna. Depois da Exposição Universal, o Palácio de Cristal foi desmontado e
reconstruído em Sydenham, no sul de Londres, tendo sido destruído pelo fogo
em 1936. Em 1849, o duque de Devonshire organizou uma festa para eminentes
botânicos e jardineiros, entre eles o químico, geólogo e botânico Charles
Daubeny, nomeado professor de botânica em 1834, para conhecer sua Victoria
regia, que estava em flor. Daubeny ficou tão impressionado que financiou a
construção da casa de vegetação das ninféias, no jardim botânico, com um
tanque para a Victoria amazonica. Esta floresceu, finalmente, em 1851 e
Daubeny passou a cobrar um xelim (antes de o sistema monetário decimal ser
adotado na Grã-Bretanha uma libra (£) valia 20 xelins) dos habitantes da cidade,
para que pudessem conhecer a famosa planta. O povoda cidade não
compareceu, além de enviar, ao jardim e às autoridades, muitas cartas de
protesto. Em 1859, Daubeny decidiu suspender a cobrança de ingresso e a
planta deixou de ser cultivada nos 150 anos seguintes.
Ao sul da cidade de Oxford, fazendo parte da coleção de plantas do Jardim
Botânico, fica o Arboreto Harcourt, que nada tem da formalidade do jardim.
Não há muros, casas de vegetação ou caminhos retos. Além da coleção de árvores
e arbustos, há coleções de azáleas, um grande bosque, um prado e uma ravina
com samambaias. Em canteiros, ficam as plantas de altitude, por exemplo, do
Himalaia, dos Pireneus e dos Andes. O arboreto pertence à Universidade de
Oxford desde 1963. Ele foi originalmente criado pelo arcebispo de York,
Edward Harcourt, como uma plantação de pinheiros, em 1835.
O herbário da Universidade de Oxford fica no Departamento de Biologia
Vegetal (Plant Sciences); na realidade, são dois herbários e, como tal, descritos
no Índice Internacional: Herbário Fielding-Druce (da antiga Escola de Botânica)
e o Herbário Daubeny (do antigo Departamento de Florestas). A coleção abriga
800 mil exemplares de diversos grupos taxonômicos. Uma coleção de livros raros
está associada a eles.
O Jardim de Oxford não possui restaurante nem cafeteria abertos ao público
e proíbe a entrada de cães, excetuando-se os cães-guia.
Ele desperta o interesse de pessoas de todas as idades e dos mais variados
níveis educacionais. Estudantes da universidade, dos cursos de ciências, visitam-
no para melhorar seus conhecimentos sobre aspectos de biologia vegetal.
Também recebe a visita de aproximadamente 7 mil crianças por ano, e há cursos
especiais para adultos.
A instituição está envolvida em conservação de espécies, trabalhando em
conjunto com outras instituições de pesquisa de todo o mundo. Na coleção de
eufórbias, a Euphorbia stygiana é uma das mais importantes, por ser muito rara
hoje em dia, com apenas dez exemplares no local de origem. Ela foi propagada
pelo Jardim Botânico de Oxford, que distribuiu suas mudas a todos os outros
jardins botânicos do Reino Unido e Irlanda, assegurando assim que, mesmo se
desaparecer de seu local de origem, a Euphorbia stygiana continuará existindo.​
Jardim Botânico de Paris
Jardin des Plantes
57, rue Cuvier
75005 Paris V
França
www.mnhn.fr
Paris, a Cidade Luz, capital e maior cidade da França, conservou uma
configuração particular que lembra seu desenvolvimento concêntrico de um lado
e outro do rio Sena. Pequeno burgo de marinheiros e pescadores celtas (os
parisii) que se instalaram, originalmente, na maior ilha (île de la Cité), a antiga
aldeia de Lutetia foi conquistada pelos romanos em 52 a.C. Ameaçada pelos
hunos de Átila (451), depois pelos francos (em torno de 460), a cidade retomou
seu desenvolvimento quando o rei Clóvis I fez dela sua capital em 486. A cidade
com a maior população do mundo ocidental durante a Idade Média foi palco de
um dos acontecimentos mais marcantes da história da humanidade, a Revolução
Francesa, que teve início em 1789 com a queda da Bastilha. Sob Napoleão
Bonaparte, foi capital de um império que se espalhava pelos cinco continentes. A
partir do século XVII, passou a ser uma das cidades mais belas do mundo: uma
das principais capitais turísticas e a mais visitada.
http://www.mnhn.fr
A Universidade de Paris já existia na segunda metade do século XII, sendo,
portanto, a mais antiga da Europa ocidental. Começou com quatro faculdades, a
de Artes, a de Medicina, a de Direito e a de Teologia, em torno da Catedral de
Notre Dame. Mas, somente no século XIII, em 1231, com o papa Gregório IX
(papado de 1227 a 1241), recebe​ a autorização da Igreja, tendo, assim, um
estatu​to garantido pela Igreja e pelo Estado. A univer​sidade, considerada contra-
revolucionária, foi fechada em 1793 pela Revolução Francesa, sendo substituída
pela Universidade da França. Em 1896, foi reesta​belecida a antiga universidade,
mas agora sem a Faculdade de Teologia. Em 1970, foi reorganizada em treze
universidades autônomas: I. Panthéon-Sorbonne; II. Panthéon-Assas; III.
Sorbonne Nouvelle; IV. Paris-Sorbonne; V. René Descartes; VI. Pierre & Marie
Curie; VII. Denis Diderot; VIII. Vincennes-Saint-Denis; IX. Dauphine; X.
Nanterre; XI. Paris-Sud; XII. Val-de-Marne; e XIII. Paris-Nord, todas sob as
ordens de um mesmo reitor.​
Um grande número de cientistas da Universidade de Paris recebeu o Prêmio
Nobel, tendo sido os primeiros Maria e Pierre Curie. Maria Sklo​dowska-Curie
recebeu dois, o de Física (em 1903) e o de Química (1911). Pierre Curie recebeu
o Prêmio Nobel de Física de 1903, com sua esposa.
O Jardim Botânico de Paris foi criado em 1635 como um jardim real, sem
vínculo com a univer​sidade. Bem antes, em 1558, o naturalista francês Pierre
Belon defendia a criação de um jardim botânico em Paris, um jardim público
onde os médicos e estudantes de medicina pudessem cultivar as plantas de que
necessitavam em seus estudos. Guy de la Brosse e Jean Héroard, ambos médicos
do rei Luís XIII, convenceram este da necessidade de criá-lo e, em janeiro de
1626, um édito do rei indicava a necessidade de um jardim de plantas
medicinais. Em 1633, foi comprado um terreno na rua Saint Victor – na época,
fora dos muros de Paris – e, em 1635, um edital proclamou a criação oficial do
Jardim Real, com plantas medicinais, sob a responsabilidade de Guy de la
Brosse.
Uma das razões para o jardim ficar fora dos muros de Paris foi para que nem
a Igreja nem a Faculdade de Medicina da universidade tivessem jurisdição sobre
ele. Ocupava um terreno de 60.000 m² e tinha mais de 2 mil plantas em cultivo,
tanto plantas da região como exóticas. O Jardim Real foi aberto ao público em
1640. O primeiro projeto do jardim foi de Abraham Bosse, em 1640, e o previa
totalmente murado. Era um local para a investigação da natureza, de pesquisa,
onde as aulas e demonstrações, proferidas em francês, podiam ser acompanhadas
por todos. Em 1739, George Louis Leclerc, conde de Buffon, tornou-se seu
diretor. Naturalista, seu projeto era aumentar e embelezar o jardim durante a
década de 1770. Terrenos foram sendo comprados e anexados ao já existente,
além de transformar de modo impressio​nante a propriedade original. A
residência oficial de Buffon, de quatro andares, construída em 1788, abriga hoje
escritórios administrativos e uma livraria. Atualmente, a alameda que ganhou seu
nome é toda sombreada com árvores de Platanus x acerifolia.
Em 1793, o Jardin du Roi passa a se chamar Jardin des Plantes, Jardim
Botânico, que hoje ocupa uma área de 260.000 m², delimitada pelas ruas
Cuvier, Buffon, Geoffroy-Saint-Hilaire e praça Valhubert, com entradas por
todas elas. No jardim ficam os principais prédios do Museu Nacional de História
Natural, que o administra desde a Revolução Francesa.
Em 1993, o Jardim Botânico recebeu o título de Monumento Histórico da
Humanidade. Lá, o público encontra milhares de espécies, apresentadas de
acordo com seu habitat natural ou por famílias botânicas, canteiros de plantações
sazonais e cerca de vinte árvores históricas, entre elas Ginkgo biloba.
Os canteiros e edifícios evocam o período em que foram concebidos e
contam a aventura das ciências naturais. O mais antigo é o Hôtel de Magny,
construído em 1650, fora dos limites do jardim de então e que passou a dele
fazer parte em 1787. Perto desse edifício, há uma estátua do químico Michel-
Eugène Chevreul. O anfiteatro é de 1794. Na mesma data, foi aberta a ménagerie
(pátio de animais) por iniciativa de Etienne Geoffroy Saint-Hilaire, que foi
professor de zoologia no Museu Nacional de Ciências Naturais de Paris. É,
juntamente com o de Schönbrunn, perto de Viena, o zoológico mais antigo do
mundo. A coleção de animais foi inicialmente constituída pela fauna dos parques
zoológicos reais de Versalhes e de Raincy, além de animais de feiras das ruas de
Paris. Em 1808, Saint-Hilaire conseguiu uma coleção de animais do Brasil. O
público podia ver mais de 900animais, sendo 50 espécies de mamíferos, 120 de
aves e 50 de répteis. Hoje, o objetivo do zoológico do Jardim Botânico de Paris é
o estudo e a conservação de espécies ameaçadas. Mas mantém o aspecto ​-
recreativo e de diversão para o público, prin​ci​palmente as crianças. A rotunda foi
cons​truída em 1804 e a caverna dos ursos em 1805. Durante a ocupação nazista,
o chapéu de um oficial alemão caiu na caverna e um dos ursos o colocou na
cabeça. O oficial mandou matar o urso e acabar com a caverna. Depois da
Segunda Guerra, aquela área passou a fazer parte do jardim alpino. As
edificações da ménagerie são antigas e bonitas. No início de 2007, aumentou sua
coleção com a chegada de um pangolim, mamífero pequeno, asiá​tico e africano,
que se enrola em forma de bola ao ser atacado. Embora o acesso ao jardim seja
gratuito, a entrada à ménagerie é paga.
A arquitetura metálica é representada no prédio da Grande Galeria da
Evolução, inaugurada em 1889 com o nome de Galeria de Zoologia. Em frente​-
dela encontra-se uma estátua do conde de Buffon. O lado oposto abriga a do
naturalista Jean-Baptiste Lamarck, que desenvolveu a teoria dos caracteres
adquiridos – uma teoria de evolução hoje desacreditada – e introduziu na ciência
o termo “biologia”. Pela entrada da praça Valhubert, há uma perspectiva de 500
m de canteiros, em que todas as plantas são etiquetadas, que leva à Grande
Galeria da Evolução e às casas de vegetação.
Sob o peristilo da Mineralogia há uma estátua do botânico Antoine Laurent
de Jussieu, nomeado diretor do Museu Nacional em 1794 e que foi o criador de
uma biblioteca no local. Todos esses grandes homens reinam sobre um
patrimônio vegetal excepcional. O labirinto, com caminhos ir​regulares, era
coberto por videiras até 1670, quando passou a receber vegetação mediterrânea e
árvores de folhas persistentes, como Acer sempervirens, plantada em 1702 pelo
botânico Joseph Pitton de Tournefort, que criou o conceito de gênero no livro
Eléments de botanique ou Méthode pour reconnaître les plantes. O solo do
labirinto, muito seco, é constituído de detritos calcários do século XIV. Na parte
mais alta desse labirinto, no topo de uma colina artificial feita de entulho do
passado, há um pequeno mirante, a Gloriette de Buffon, construída em 1788,
antes, portanto, da Iron Bridge, sobre o rio Severn, em Coalbrookdale, na
Inglaterra (1779). É a mais antiga edificação metálica do mundo, precedendo,
em um século, as criações arquitetônicas de Eiffel.
Canteiros com todas as espécies de rosas cobrem uma grande área. Lá se
encontram desde as espécies​ botânicas que ocorriam na natureza, as varieda ​des
criadas antes de 1867 e as rosas mais moder ​nas. O jardim alpino mostra plantas
das montanhas do mundo todo. Além do jardim alpino, há três casas de
vegetação majestosas. Uma é o jardim de inverno, construído em 1937, com 50
m de comprimento, que abriga, sob estruturas de ferro de 16 m de altura, uma
vegetação luxuriante dos países tropicais e florestas tropicais úmidas, onde a
temperatura é mantida a 22 °C e a umidade relativa do ar a 80%. Muito
próxima fica a casa de vegetação mexicana, com plantas suculentas de clima seco
e quente. A terceira é uma casa de vegetação australia ​na. As duas últimas,
quadradas, são exemplos das inovações arquitetônicas em metal. São as mais
antigas casas de vegetação em ferro e vidro do mundo.
Cerca de 4 mil espécies são distribuídas de acordo com suas famílias
botânicas na seção de botânica, a école de botanique. Existe desde a criação do
jardim em 1635. Tournefort e Jussieu davam suas palestras sob as árvores ou
caminhando por suas alamedas. A seção foi totalmente renovada em 1954. Além
de sua função de pesquisa, é esclarece​dora para estudantes das várias áreas da
botânica.
Não se deve esquecer o Herbário Nacional, que pertence ao Museu Nacional
de História Natural. As exsicatas são mantidas em 42 mil armários metálicos
divididos em três corredores com 60 m de comprimento. Sua coleção de plantas
que produzem sementes (gimnospermas e angiospermas) e de pteridófitas
(samambaias) é muito grande, sem contar os musgos e líquens.
Há um fato curioso a respeito do Jardin des Plantes. Durante a Guerra
Franco-prussiana, no inverno de 1870-1871, Paris estava sitiada. Os alimentos
alcançaram preços exorbitantes, e, mesmo assim, não havia carne para comprar.
A ménagerie do jardim não tinha dinheiro para alimentar seus animais. A solução
foi vendê-los. Quase todos eles foram parar em um açougue do bulevar Hauss​-
mann. Os últimos animais do jardim botânico foram a carne das festas de Natal
e Ano-Novo de 1870 em alguns restaurantes da cidade. Assim, constavam dos
cardápios, pratos como sopa de elefante ou antílope e camelo cozido.
Jardim Botânico de Amsterdã
Hortus Botanicus Amsterdam
Plantage Middenlaan 2a
1018 DD Amsterdam
Amsterdã
Holanda
http://www.dehortus.nl
info@dehortus.nl
Amsterdã, capital da Holanda (embora a sede do governo esteja em Haia),
foi fundada no fim do século XII, como uma pequena vila de pescadores na foz
do rio Amstel. O primeiro documento que menciona a cidade é de 1275. Em
1578, Amsterdã aderiu ao protestantismo e todas as igrejas católicas foram
confiscadas. O centro histórico, com seus canais concêntricos, foi construído
durante a Idade de Ouro holandesa, no século XVII, época em que Amsterdã era
uma das mais ricas cidades do mundo. Em 1940, foi invadida pelos nazistas
alemães. Nos últimos meses de ocupação, a população ficou quase sem
alimentos. Cães, gatos e beterraba crua passaram a ser consumidos. A maio ​ria das
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mailto:info@dehortus.nl
árvores da cidade foi cortada e usada para lenha como aquecimento e para
cozinhar.
Hugo Marie de Vries, famoso botânico holandês, nascido em Haarlem e
falecido em Amsterdã, foi um dos ilustres habitantes da cidade. De Vries foi um
dos cientistas que redescobriram os trabalhos de Gregor Mendel.
Amsterdã tem duas universidades. A Universidade de Amsterdã, que teve
início em 1632 como Athenaeum Illustree, é a mais importante delas. Hoje tem
mais de 25 mil alunos, sendo uma das mais conceituadas da Europa. É composta
de sete faculdades, entre elas as de Ciências, Direito e Medicina. A Universidade
Livre, fundada em 1880, foi a primeira universidade protestante da Holanda e
tem seu próprio jardim botânico, estabelecido em 1967. Criado para uso da
Faculdade de Biologia, fica situado atrás do Hospital Acadêmico da
Universidade.
O Jardim Botânico de Amsterdã, conhecido hoje como o Horto, foi,
originalmente, em 1638, criado como um horto médico pelas autoridades da
cidade. Na época, as plantas medicinais eram a base dos remédios – os habitantes
das cidades de Leiden e Utrecht tinham sofrido uma epidemia severa (1634-
1637) e não havia espaço suficiente em Amsterdã para cultivar ervas medicinais.
Os médicos e farmacêuticos eram treinados no jardim botânico. Em 1682, ele
passou para um novo endereço – o atual –, e tinha plantas desconhecidas em
outras cidades européias. O jardim progrediu muito nos séculos XVII e XVIII,
graças à Companhia das Índias Orientais, cujos navios traziam para ali muitas
espécies vegetais.
Em 1877, passou a pertencer à Universidade de Amsterdã. Pequeno (com
área de 12.000 m²), fica no distrito de Plantage, perto do centro da cidade. Tem,
no entanto, uma coleção de mais de 6 mil espécies, ao ar livre ou abrigadas em
sete casas de vegetação. O clima é diferente em cada uma delas. A umidade e a
temperatura são ajustadas através de computadores, sendo possível acomodar
plantas de pelo menos seis climas diferentes.
O jardim ao ar livre foi desenhado, em 1863 e depois reorganizado em
1898. Tem mais de cinqüenta árvores, algumas muito antigas ou raras; 24 delas
estão incluídas no que chamam de “o caminho das árvores”. Um exemplar de
Corylus colurna, a avelã-da-turquia, foi plantado em 1795. Em 1682, as plantas
ornamentais eram mantidas em arcos simétricos e as medicinais em canteiros
retangulares.Hoje, há um traçado no estilo romântico, com formas mais
arredondadas e caminhos circulares, especialmente desenhado para os visitantes
se esquecerem da cidade que cerca a área.
Há ainda outros setores, como a casa das borboletas (construída em 1896),
também conhecida como a casa de vegetação educacional, com centenas de
borboletas tropicais. As plantas tropicais que lá crescem são plantas de interesse
econômico, como cafeeiros, cacaueiros, plantas de arroz, pimenteiras, planta do
chá, cana-de-açúcar.
A “casa de vegetação de três climas” é a grande atração do jardim e foi
construída em 1993. Como o nome indica, ela abriga plantas que crescem em
três tipos de climas. É uma construção ultra​moderna, em que um sistema de
computadores controla automaticamente a temperatura e a umidade nas três
diferentes seções da casa. Sua seção subtropical apresenta um tipo de vegetação
da África do Sul (o jardim é especializado em plantas daquela região) e plantas da
Austrália. Nessa zona, a temperatura diurna é muito alta no verão, mas chega a 8
ºC de noite, durante o inverno. Na seção quente de deserto há uma variedade de
plantas suculentas. Finalmente, a seção tropical parece uma floresta de verdade.
A casa das palmeiras foi construída para satisfazer um desejo do professor
Hugo de Vries, a fim de impedir que ele partisse para Nova York. Tem uma
atmosfera vitoriana e conserva ainda as palmeiras e cicadáceas da época daquele
professor. A maioria das plantas é mantida em recipientes grandes de madeira
que, durante o verão é transferida para o ar livre. Outras, plantadas por De Vries
em canteiros logo que a casa ficou pronta em 1912, nunca deixam a casa de
vegetação.
As ervas têm muito destaque na vida diária, para aromatizar ou condimentar
os alimentos, como ingredientes de remédios e na produção de fibras e
pigmentos. No Jardim de Amsterdã, há um canteiro para cada uso, com as
informações do que são e respectiva utilidade. No centro desse jardim de ervas
há uma enorme árvore de Ficus carica.
O jardim de sistemática em semicírculo, ao ar livre, desenhado
originalmente em 1863, é um mar de flores coloridas no verão, mas as linhas
simétricas retas dos canteiros podem ser vistas durante o inverno. A forma
lembra os jardins formais da arquitetura que era popular antes do movimento
romântico. Hoje, tudo está reorganizado. As espécies botanicamente próximas
são apresentadas lado a lado e as que nada têm em comum ficam em canteiros
distantes. Este foi o primeiro jardim de sistemática da Holanda (o segundo é o
de Leiden), em que as espécies são agrupadas de acordo com a sistemática
molecular, isto é, pela similaridade do material genético.
Nove plantas, crescendo ao ar livre ou em casas de vegetação, são
consideradas as “jóias da coroa” do jardim. A Victoria amazonica é cultivada em
um tanque aquecido, ao ar livre, e vem florescendo, em intervalos regulares,
desde 1859. Os exemplares de Aloe dichotoma, atualmente mantidos no setor de
deserto da “casa de vegetação de três climas”, ali estão desde 1990. No mesmo
setor, há a estranha Welwitschia mirabilis. Na casa das palmeiras há, entre as
cicadáceas, alguns exemplares de Micro​cycas calocoma, vários exemplares de
Encephalartos altensteinii – um deles, masculino, está entre os mais antigos
exemplares de plantas mantidos em recipiente do Ocidente. A planta chegou a
Amsterdã há trezentos anos, vinda da África do Sul; uma das femininas tem
cerca de 200 anos. Também lá se encontra uma planta masculina de
Encephalartos woodii (nunca foi encontrada uma planta feminina) originária da
África do Sul, que produz ramos laterais na base do caule, os quais são removidos
e enraizados. A instituição envia essas mudas para outros jardins botânicos do
mundo, o que evita o perigo de extinção e permite que a espécie continue a
existir sem a planta feminina. Há também a Elaeis guineensis, a palmeira-dendê.
Sementes dessa espécie chegaram ao jardim na primeira metade do século XIX;
em 1848, duas pequenas plantas foram enviadas para o Jardim de Bogor (na
época Buitenzorg), na Indonésia. Essas duas palmeiras foram a base das grandes
plantações da espécie por toda a Indonésia. Também em casa de vegetação há
plantas de Coffea arabica, descendentes das plantas que foram cultivadas no
jardim, com sementes que lá chegaram em 1706. As plantas de café cultivadas no
jardim naquele período são responsáveis por toda a cultura dessa espécie nas
Américas Central e do Sul. A nona “jóia da coroa” é o pinheiro da Austrália,
considerado um fóssil vivo, a Wollemia nobilis, da mesma família do pinheiro-
do-paraná.
A orangerie está localizada no centro do jardim e tem um dos mais belos
cafés ao ar livre de Amsterdã. Foi totalmente restaurada e novamente aberta ao
público em 2003. Possui ainda duas grandes salas, que podem ser alugadas para
festas e reu​niões. Há também uma loja onde são vendidos bulbos, plantas e
sementes, além de brinquedos e livros sobre plantas.
A educação é uma das tarefas principais do jardim, que apresenta programas
específicos para crianças e adolescentes. Além disso, há um grande número de
cursos para os alunos da Faculdade de Biologia da Universidade de Amsterdã.
Jardim Botânico de Tübingen
Botanischer Garten der Universität Tübingen
Hartmeyerstr. 123
D-72076 Tübingen
Alemanha
http://www.botgarten.uni-tuebingen.de/
botgarden@uni-tuebingen.de
http://www.botgarten.uni-tuebingen.de/
mailto:botgarden@uni-tuebingen.de
Tübingen é uma cidade universitária alemã, na região de Baden-
Württemberg, a 30 km de Stutt​gart. Foi fundada no século VI ou VII. O
primeiro documento que a menciona é de 1191. Em 1342, foi incorporada ao
condado de Württemberg. Em 1995, Tübingen tinha a melhor qualidade de
vida de toda a Alemanha. Na cidade, vivem muitos estudantes, o que lhe garante
a população mais jovem da Alemanha.
A Universidade de Tübingen Eberhard Karls, que tem cerca de 25 mil
estudantes, é uma das mais antigas da Alemanha, tendo sido criada em 1477. É
internacionalmente conhecida nas áreas de medicina, ciências naturais e
humanas. Há, na cidade,​ dezessete hospitais filiados à Faculdade de Medicina,
com cerca de 1.500 leitos.
Joseph Alois Ratzinger, hoje papa Bento XVI, foi catedrático de teologia
dogmática da Universidade de Tübingen e vários cientistas que lá estudaram ou
lecionaram receberam o Prêmio Nobel, como o escocês sir William Ramsey
Prêmio – Nobel de Química em 1904 –, que se doutorou naquela universidade.
O Jardim Botânico de Tübingen foi criado como um horto médico, em
1663, por ordem do duque de Württemberg, Eberhard III, entre Bursa e Alter
Aula, onde hoje estão os prédios antigos da universidade. Em 1688, um
professor da universidade, Rudolph Jacob Camerarius, assumiu a direção do
jardim e, em 1721, foi substituído por seu filho Alexander, que permaneceu no
cargo até sua morte. Com esses dois diretores, professores da Faculdade de
Medicina, o jardim progrediu muito. Fizeram edificar uma casa de vegetação e
um laboratório para pesquisas. Em 1771, Johann Gmelin assumiu o posto de
diretor. Gmelin fez expedições pela Sibéria e publicou a Flora Sibirica. Nesse
período, aumentou muito a coleção do horto médico.
Em 1804, por decreto do duque Frederico II, o jardim botânico passou a ter
novas instalações em área próximo às portas da cidade e a ser administrado por
um professor de química, farmácia e medicina da Universidade de Tübingen,
Karl Friedrich Keilmeyer. Esse jardim é o Alter Botanischer Garten (Velho
Jardim Botânico). Foram construídas quatro casas de vegetação, uma sala de
conferências e outras comodidades. A instituição criou, também, um jardim de
plantas de interesse econômico. Progrediu muito e novas plantas foram
incorporadas. Havia coleções de plantas aquáticas, de altitude e samambaias. Em
1820, foi publicado o primeiro catálogo de sementes do jardim. As casas de
vegetação receberam teto de vidro e novas casas foram construídas e criado um
arboreto. Incorporaram-se novasáreas, como a de um cemitério e de uma escola
de equitação. Em 1846, foi construído o prédio do Instituto de Botânica. Na
metade do século XIX, o jardim abrigava mais de 5 mil espécies. Em 1959, Karl
Mägdefrau foi nomeado diretor, ficando responsável pelo Alter Botanicher
Garten, tendo supervisionado o planejamento e a criação do Neuer Botanischer
Garten, o Novo Jardim Botânico (o atual), que dirigiu até 1972. As casas de
vegetação foram destruídas e hoje o antigo jardim é um parque da cidade.
O Jardim Botânico de Tübingen foi inaugurado, no endereço atual, em 8 de
maio de 1969 e é considerado um oásis na cidade. Em 1969, foi inicia​do o novo
arboreto, com o plantio de Pinus griffi​thii. Na década de 1970, todo o jardim foi
reorganizado, as plantas sendo distribuídas de acordo com suas famílias
botânicas. Foram construídas casas de vegetação, para exibição e propagação de
novas plantas.
O Tropicarium é uma casa de vegetação poligo​nal, com quase 3.000 m² de
área para cultivo de plantas tropicais. Há casas de vegetação para plantas
subtropicais, aquáticas, da África do Sul, fúcsias, plantas de altitude e insetívoras.
A área ao ar livre é dividida em várias seções, organizadas por tema, de acordo
com a geografia, a ecologia e a sistemática das espécies. Essas seções incluem a de
plantas de altitude, asiáticas, o arboreto, o jardim japonês, da região do Jura, da
América do Norte, de plantas medicinais, de plantas utilizadas em agricultura, de
ornamentais, o rock garden, além das seções de ecolo​gia e sistemática. A coleção
de rododendros está orga​nizada de acordo com o local de origem. É importante,
ao ar livre, a coleção de videiras, com tipos de uva importantes para o fabrico de
vinho. O jardim tem, também, uma função técnica e ​científica.
Curiosidades
É necessário falar um pouco de Camerarius, Rudolph Jacob Camerarius (1655-1721), que
dirigiu o jardim de 1688 a 1721. Ele mostrou o que era uma flor e como as plantas com flores
(que contêm os órgãos sexuais das plantas) faziam sexo. Demonstrou, através da
observação cuidadosa, que o pólen e o óvulo eram responsáveis pela formação da semente,
informações contidas no documento De sexu plantarum epistola [Carta sobre o sexo das
plantas], publicado em Tübingen em 1694. O princípio da sexualidade em plantas de
Camerarius foi utilizado, mais tarde, pelo cientista Carl Linnaeus (Lineu, em português) em
seu Systema naturae [Sistema natural], publicado em 1735.
Em 2001, a seção de taxonomia foi reorganizada de acordo com as novas
teorias de um sistema evolutivo, que mostra as relações genéticas entre as famílias
de plantas usando impressões digitais de DNA (DNA fingerprinting). Além de
importante para a pesquisa e atividade didática da universidade, o jardim é um
centro onde o público pode constatar a diversidade do reino vegetal, aprender
um pouco de evolução e ecologia. São organizadas, durante o ano, exposições de
interesse para os botânicos e para o público em geral.
Jardim Botânico de Uppsala
Villavägen 8
SE-752 36, Uppsala
Suécia
http://www.botan.uu.se/
botanical.garden@botan.uu.se
Uppsala, capital do condado de mesmo nome, fica a 70 km de Estocolmo. É
o centro eclesiástico da Suécia, sede da arquidiocese desde 1164. A cate​dral
gótica da cidade, Domkyrka, é uma das maio​res do norte europeu. O rio Fyrisån
divide a cidade em duas partes, tendo a oeste o centro histórico e a leste a parte
administrativa, residencial e comercial.​
Sua universidade (Uppsala Universitet) é a mais antiga da Suécia. Foi
fundada em 1477, pelo papa Sixto IV (papado de 1471 a 1484), com quatro
faculdades: Teologia, Direito, Medicina e Filosofia. Como era considerada um
centro de catolicismo foi fechada em 1580 pelos reformadores protestantes,
sendo reaberta em 1595 como instituição luterana, com as faculdades de
Teologia protestante e Filosofia. As outras foram criadas ao longo do tempo. O
http://www.botan.uu.se/
mailto:botanical.garden@botan.uu.se
antigo prédio principal, o Gustavia​num – em homenagem ao rei sueco Gustavo
II, conhecido pelos protestantes da época como o “Leão do Norte” –, construído
em 1625, tem um famoso anfiteatro de anatomia sob a cúpula, que hoje
funciona como museu. Atualmente, a universidade tem nove faculdades, com
cerca de 40 mil alunos nos cursos de graduação.
Nomes conhecidos que passaram pela Universidade de Uppsala são muitos,
entre eles, Anders Celsius, fundador do Observatório Astronômico em 1741,
que propôs a escala Celsius de temperatura em 1742; o químico Svante August
Arrhenius, um dos fundadores da físico-química; o físico Anders Jonas Ångströn,
fundador da espectros​copia, homenageado com as unidades de ångstron, que
medem os comprimentos de onda da luz. E não se pode esquecer de Lineu!
Carl von Linné, conhecido também como Carolus Linnaeus e Carl
Linnaeus, nasceu em Älmhult, no sul da Suécia, e morreu em Uppsala. A grande
parte de sua formação em botânica foi feita na universidade dessa cidade,
escolhida por ele devido ao jardim botânico. Lineu, que era botânico, zoólogo e
médico, é considerado o pai da taxonomia moderna, sendo o botânico mais
famoso de seu tempo. Publicou, em 1735, o Systema naturae, e, em 1753, Species
plantarum [Espécies das plantas]. Levando em consideração os conhecimentos de
pesquisadores mais antigos e suas próprias observações, Lineu foi o responsável
pelo maior avanço na biologia do século XVIII, a nomenclatura binomial, usada
até hoje na botânica e na zoologia. Com a criação dessa nomenclatura, as plantas
passaram a ter um nome e um sobrenome científicos, escritos em latim. O nome
corres​ponde ao gênero e o sobrenome, à espécie à que a planta pertence. O
cajueiro, por exemplo, passou a se chamar Anacardium occidentale por pertencer
ao gênero Anacardium, espécie occidentale. Graças a essa invenção, as plantas
puderam ser cientificamente identificadas e as relações entre elas, estudadas.
O primeiro Jardim Botânico de Uppsala foi cria​do em 1655 pelo professor
de medicina da universidade, Olaus Rudbeck, que também construiu a casa
adjacente ao jardim. Era situado no centro da cidade, junto ao rio Fyrisån, na
Svartbäcksgatan 27. Sua função era o ensino de botânica e farmácia aos
estudantes da universidade. No final do século XVII, continha cerca de 1.800
espécies cultivadas. Em 1702, foi quase totalmente destruído pelo fogo; como a
universidade não tinha fundos para recuperá-lo, ficou abandonado por cerca de
quarenta anos. A partir de 1741, em péssimo estado, passou a ser cuidado por
Lineu, que era professor de medicina da instituição. Ele reorganizou o jardim de
acordo com suas idéias, que documentou-o em seu trabalho Hortus Upsaliensis,
de 1748, e o transformou em um dos mais importantes da sua época. Através
dos contatos de Lineu com cientistas de todo o mundo, o jardim recebeu uma
infinidade de plantas exóticas para cultivo. Em 1917, o Jardim de Lineu foi
comprado pela Sociedade Sueca de Lineu e restaurado de acordo com seu
projeto de 1745, seguindo as especificações do Hortus Upsaliensis. Hoje
pertence à universidade e é mantido como um jardim botânico do século XVIII,
com o nome de Jardim de Lineu (Linnéträd​gården). Nele são cultivadas cerca de
1.300 espécies, todas elas tendo sido cultivadas pelo próprio Lineu.
Em 1758, Lineu comprou uma pequena fazenda, Hammarby, a 15 km de
Uppsala, perto de Edeby, para passar o verão com a família, longe do
burburinho da cidade. A casa principal foi derrubada e reconstruída no mesmo
local em 1762. Os canteiros de flores em frente da casa principal foram recriados
utilizando as mesmas espécies que Lineu tinha ali cultivado. O chamado Jardim
Siberiano é resultado de um presente da imperatriz Catarina II, da Rússia, que
lhe deu sementes e bulbos. Na parte mais elevada do parque foi construído, em
1769, o Museu de História Natural. Quando Lineu faleceu, sua viúva morou ali
por muitos anos. Em 1879, Hammarby foi comprada pelo governo sueco e
passada para a administração da universidade.A propriedade reflete tanto a vida
privada de Lineu como seu trabalho científico. ​
O terreno do Jardim de Lineu, junto ao rio Fyrisån, era muito úmido,
portanto pouco apropriado; além disso, pelo fim do século XVIII, precisava de
mais espaço. Em 1787, sucedeu a Carl Linné filho, o discípulo de Lineu Carl
Peter Thunberg, “o pai da botânica sul-africana” e o “Lineu japonês”, como
professor da universidade. Ele persuadiu o rei Gustavo III a doar à universidade
os jardins do Castelo de Uppsala para trans​formá-los em um novo jardim
botânico. O desenho desses jardins era barroco. O rei também doou uma
quantia para a construção de uma orangerie, a que se deu o nome de
Linnaeanum. Todo o material botânico foi transferido do antigo jardim, deixado
em péssimo estado.
Hoje, o jardim botânico mantém pesquisas em horticultura, biologia floral e
taxonomia e ocupa uma área de cerca de 140.000 m² e mais de 12 mil espécies,
de todo o mundo, são ali cultivadas. Há coleções especiais, como a de violetas-
africanas, anêmonas e peônias. É dividido em seções: jardim de plantas de
montanhas, de zonas áridas, plantas de uso econômico, canteiros de plantas
anuais e áreas para recreio e educação. Uma orangerie de temperatura fria foi
suplementada com uma casa de vegetação tropical, com mais de 4 mil espécies
de regiões de climas quentes. O Jardim Barroco foi restaurado de acordo com o
desenho da década de 1750. A antiga orangerie, onde há quatro exemplares de
Laurus nobilis originalmente plantados por Lineu, ainda é mantida. Suas
principais funções são providenciar material botânico e suporte de horticultura
para pesquisa e educação na universidade e promover a consciência pública para
tudo que diz respeito à biodiversidade. Anualmente, um grande número de
estudantes recebe informações em seus estudos de botânica, farmacologia, horti​-
cultura e ecologia.
A coleção de exsicatas do herbário teve início em 1785, quando Thunberg
tornou-se professor da Universidade de Uppsala. A coleção atual tem cerca de 3
milhões de exemplares, sendo 1,7 milhão de plantas vasculares, 250 mil de
briófitas, 60 mil de algas, 360 mil de fungos e 500 mil de liquens. O material
coletado por Thunberg na África do Sul, Sri Lanka, Java e Japão é uma das mais
importantes coleções do herbário, constando de cerca de 27 mil exsicatas. O
herbário faz parte da Seção de Botânica do Museu da Evolução, que, desde
1999, engloba também o Museu de Paleontologia e o Museu de Zoologia,
situado na rua Norbyrägen 16, na região sudeste de Uppsala. O herbário publica
uma revista, denominada Thunbergia em homenagem a Carl Peter Thunberg.
Jardim Botânico de Hannover
Herrenhausen Gärten
Herrebgaeuser Strasse, 4
Herrenhausen
30419 Hannover
Alemanha
http://www.hannover.de/herrenhausen
herrenhaeuser-gaerten@hannover-stadt.de
Em 1241, foi fundada, à margem esquerda do rio Leine, uma pequena vila
de pescadores. Trata-se de Hannover, a capital da Baixa Saxônia, na Alemanha.
As grandes igrejas e as muralhas da cidade só foram construídas no século XIV.
Em 1814, George III, rei da Grã-Bretanha, tornou-se rei de Hannover. A partir
de então, a cidade cresceu muito, expandindo-se para a margem direita do rio
Leine. Os membros da casa de Hannover, que governava a cidade, formaram a
dinastia real que suce​deu a casa dos Stuart como monarcas da Grã-Bretanha a
partir de 1714.
A Universidade de Hannover foi fundada em 1831, com apenas 64
estudantes, como escola técnica. Tornou-se universidade somente em 1978. É
constituída por nove faculdades, principalmente de ciência e tecnologia, com
cerca de 23 mil estudantes. Em 2006, passou a se chamar Gottfried Wilhelm
http://www.hannover.de/herrenhausen
mailto:herrenhaeuser-gaerten@hannover-stadt.de
Leibniz Universität Hannover, em homenagem ao filósofo e matemático que
viveu entre 1646 e 1716.
O Jardim Botânico de Hannover foi criado em 1666, no estilo barroco, pela
princesa Sofia, originalmente como o jardim do Castelo de Herrenhäu​sen, onde
ela vivia. Mulher de personalidade e bom gosto, planejou muito bem os jardins
com o auxílio dos melhores jardineiros europeus da época.
O Herrenhäuser Gärten fica no bairro de Herrenhäusen e foi planejado pela
princesa Sofia como um conjunto de quatro jardins: Grösser Gärten,
Georgengärten, Welfengärten e Berggärten. O Grösser Gärten, criado em 1666,
é considerado um dos mais bonitos da Europa. São 500.000 m² muito bem
organizados, com gramados, aléias, caminhos e estátuas, em um padrão
geométrico. No centro ficava o Castelo de Herrenhäusen, destruído na Segunda
Guerra Mundial. Sobrou apenas a escadaria principal, que foi transferida para
junto da orangerie, utilizada durante o verão para exposições de arte e concertos
de música clássica. É ponto-chave desse jardim, um dos últimos trabalhos de
Niki de Saint Phalle. Na parte noroeste existia uma gruta – utilizada, no século
XVIII, para guardar material utilizado nos jardins – com um espaço central
octogonal, de onde saem duas salas. A artista cobriu todo o interior da gruta com
cristais, vidro, conchas e mosaicos moldados em vidro e espelho. Em cada sala,
no recesso de uma parede, há uma estátua. Os visitantes usam a gruta para se
refrescarem durante os dias quentes. Durante o verão, o Grösser Gärten é palco
de uma infinidade de festivais de arte, além de uma competição de fogos de
artifício.
O Georgengärten e o Welfengärten, posteriores ao Grösser Gärten, foram
criados no estilo paisagístico de jardim inglês e hoje o Georgen​gärten é uma área
popular de recreação para os habitantes da cidade. Formam um belo exemplo de
jardins europeus dos últimos trezentos anos, em uma área que cobre 2 km de
ponta a ponta. Foram restaurados após serem quase totalmente destruídos
durante a Segunda Guerra Mundial. O Welfengärten foi reconstruído como
jardim do campus da Universidade de Hannover, que utiliza o Castelo de
Welfenschloss, no centro do Welfengärten, como seu prédio principal desde
1870. Somente em 1961 essa área foi comprada pelo governo da cidade. Esses
três jardins deliciam o povo da cidade, com suas aléias e plantas floridas. À noite
são muito bem iluminados.
Do lado oposto, em uma colina ao norte do Castelo de Herrenhäuser, fica o
Berggärten, cons​truído em 1666 para abrigar plantas utilizadas na culinária.
Mais tarde, foi transformado pela princesa Sofia em um jardim para plantas
exóticas. Um jardim de inverno – chegou a ser um jardim experimental – foi
construído em 1686. Foi uma tentativa de aclimatizar, na Baixa Saxônia, plantas
cultivadas nas regiões do sul da Europa. As pesquisas tiveram muito sucesso no
cultivo da Nicotiana tabacum, o fumo, e das amoreiras Morus nigra e Morus alba.
De 1706 a 1750, o bicho-da-seda, utilizado na produção do tecido para os
nobres da região, foi alimentado com folhas de amoreiras do Berggärten; depois,
a produção da seda passou para outra localidade, com mais sucesso.
Entre 1846 e 1849, foi construída a casa de vegetação para palmeiras. Em
cinco anos, tornou-se a coleção mais importante da Europa no gênero. Em
1880, foi construída outra casa de vegetação para as palmeiras, bem maior que a
anterior, de vidro e aço, com galerias e fontes.
Grande parte do jardim teve de ser refeita depois da Segunda Guerra, devido
aos ataques aéreos britânicos. Em 1952, foi construída a biblioteca, onde hoje
funciona a administração. Em 2000, foi a vez da casa de vegetação que abriga
espécies de plantas da floresta tropical úmida, além de borboletas e aves. Há um
campo de gramíneas e um pátio com plantas ornamentais mantidas em vasos,
algumas muito aromáticas, como os pelargônios. Orquídeas em flor podem ser
admiradas no Berg​gär​ten durante o ano todo. Lá floresceram os primeiros
exemplares de Saintpaulia ionantha (violeta-africana) trazidos para a Europa.
Hoje em dia, o Berggärten não é, na verdade, um jardim botânico oficial,
mas um jardim de exposição botânica. Como tal, não possui um her​bário.
Antigamente, havia um, mas ele foidado como presente para a Universidade de
Göttingen.
Jardim Botânico de Edimburgo
Royal Botanic Garden Edinburgh
20A, Inverleith Row
Edinburgh EH3 5LR
Escócia
Reino Unido
http://www.rbge.org.uk
e-mail: info@rbge.org.uk
Edimburgo, segunda maior cidade escocesa – depois de Glasgow –, e capital
da Escócia desde 1437, é atualmente a sede do Parlamento escocês. Está situada
na costa leste da Grã-Bretanha, na margem sul do estuário do rio Forth no mar
do Norte. Devido ao grande número de prédios de arenito rosa, medievais e do
período georgiano, é uma das cidades mais impressionantes da Europa. Recebe
anualmente cerca de 13 milhões de turistas, número inferior, na Inglaterra,
apenas ao núme​ro de visitantes de Londres. Todo ano, Edim​burgo é sede do
Edinburgh Festival, famoso festival de arte. Também é a sede oficial da Igreja
Nacional da Escócia (Church of Scotland). A cidade é carinhosamente
http://www.rbge.org.uk
mailto:info@rbge.org.uk
denominada Auld Reekie, que é Old Smoky em escocês, porque, nos velhos
tempos, estava sempre coberta pela fumaça das chaminés das casas em virtude da
queima contínua de carvão e lenha.
Muitos famosos são originários de Edimburgo, como o ator sir Sean
Connery, o primeiro James Bond do cinema, e o escritor sir Arthur Conan
Doyle, criador do personagem Sherlock Holmes. J. K. Rowling, autora que
escreveu a saga de Harry Potter, viveu e escreveu alguns volumes da série na
cidade. Nasceram em Edimburgo os pintores sir David Wilkie, sir Henry
Raeburn e Allan Ramsay. No ramo das ciências, Alexander Graham Bell, o
pioneiro do telefone, e John Napier of Merchistoun, o inventor dos logaritmos
são da cidade onde nasceu, igualmente, Anthony Charles Lynton Blair,
conhecido como Tony Blair, primeiro-ministro do Reino Unido de 1997 a
2007.
A Universidade de Edimburgo, Edinburgh University, foi fundada em 1582,
sob o reinado de James VI. No século XVIII, tornou-se uma das principais
instituições universitárias européias, situação de que ainda desfruta. Em 2002,
ela foi reorganizada e as nove faculdades tornaram-se três colleges – Humanidades
e Ciências Sociais, Ciência e Engenharia, e Medicina e Medicina Veterinária –,
subdivididos em 21 schools, bem maiores que os antigos departamentos. Em
2006, em termos acadêmicos, ela foi avaliada como a 6ª universidade do Reino
Unido, a 11ª da Europa e a 52ª do mundo. ​
Charles Robert Darwin foi estudante da universidade, assim como o
matemático e físico James Clerk Maxwell e o autor de A ilha do tesouro, Robert
Louis Stevenson.
O Jardim Botânico de Edimburgo foi criado pelos médicos Sibbald e
Balfour. Robert Sibbald, que estudou em Edimburgo, Leiden e Paris, foi o
primeiro professor de medicina da Universidade de Edimburgo. Andrew
Balfour, que se graduou na Universidade de St. Andrew, em seu país, e
posteriormente, estudou em Paris, foi o primeiro médico a fazer uma dissecação
do corpo humano. O jardim foi criado por eles em 1670, quando a botânica era
utilizado no curso de medicina para o estudo de ervas medicinais.
O primeiro jardim foi criado em um terreno situado em St. Anne’s Yard,
área do Palácio de Holyroodhouse, o chamado The Holyrood Physic Garden,
com cerca de 150 m². As plantas eram provenientes de sementes que o dr.
Balfour recebia do continente europeu e uma coleção de mil plantas que
pertencera a um jovem nobre seu amigo, Patrick Murray, que as cultivara em
suas terras em Livingston. Murray morreu jovem e as plantas foram todas
transferidas para o Jardim Botânico de Edimburgo. De 1699 a 1715, o curador
do jardim foi James Sutherland, que, em 1695, se tornara o professor de
botânica da Universidade de Edimburgo. A partir de então, até meados do
século XX, o curador do jardim botânico sempre era o professor de botânica da
universidade. Sutherland escreveu Hortus medicus edinburgensis: ou um catálogo
das plantas no Jardim Botânico de Edimburgo, publicado em 1683. O jardim
progrediu tanto, sob os cuidados de Sutherland, que, em 1675, o governo da
cidade cedeu-lhe outra área. O terreno ficava próximo ao Trinity Hospital daí o
nome The Trinity Hospital Garden. Media cerca de 5.000 m². Nele havia
canteiros de sistemática, com as plantas distribuídas em famílias botânicas,
canteiros de plantas ornamentais, de ervas medicinais distribuídas em ordem
alfabética e plantas aquáticas, além de um pequeno arboreto. Havia, ao todo,
cerca de 2 mil plantas. Em 1684, o jardim teve sua área aumentada, com a
adição do cemitério do Trinity College. Por algum tempo existiram, pois, dois
jardins botânicos, um em St Anne’s Yard, Holyrood, e outro junto ao Trinity
Hospital, ambos sob a curadoria de Sutherland.
Em 1763, as coleções de plantas dos dois ​jardins foram transferidas para
Leith Walk, onde hoje fica Haddington Place, com pouco mais de 20.000 m².
Era The Leith Walk Garden, que, na época, ficou livre da grande poluição que
afligia os antigos jardins da parte central da cidade. Havia um conjunto de casas
de vegetação com cerca de 50 m de comprimento, sendo que, na primeira e na
última casa, eram mantidas temperaturas altas para cultivo de plantas tropicais.
O governo britânico passou, então, a custear as despesas e manutenção do jardim
botânico.
Entre 1820 e 1823, todo o material do jardim foi transferido para Inverleith.
O local foi comprado do Inverleith State. Era o Inverleith Botanic Garden, que
ficava na parte norte da cidade, onde se encontra até hoje. Mais terras foram
sendo adquiridas durante todo o século XIX e também no século XX, para
acomodar novas coleções de plantas. Em 1864, ganhou mais terras com a
aquisição do jardim experimental da Sociedade Real Cale​dônia de Horticultura,
cuja sede passou a ser o her​bário do jardim botânico pelos cem anos seguintes. A
Inverleith House, construída em 1774, e as terras que a circundavam, onde hoje
fica o arboreto, foram compradas do Inverleith State pela cidade de Edimburgo,
em 1876, para ampliar o jardim botânico. Inverleith House passou a ser a
moradia do curador do jardim. De 1960 a 1984, a Inverleith House passou a
abrigar a Galeria Nacional de Arte Moderna e, nos gramados a seu redor,
podiam ser vistas, entre outras, esculturas monumentais de Henry Moore.
Passou então a fazer parte do jardim como uma galeria, com exposições
temporárias. Assim, durante todo o ano, há uma série de eventos e atividades
para todas as idades, tanto na Inverleith House como no Centro de Exibições; a
primeira apresentando exposições de arte e, o segundo, exposições científicas e
educacionais. Em 1958, mais terreno foi adquirido e chegou-se a cerca de
300.000 m², sua área atual. Em 1964, foi inaugurado o novo prédio, que abriga
o herbário e a biblioteca, o Science Buildings.
Até 1956, os cargos de curador do Jardim Botânico e de professor
catedrático de botânica da universidade cabiam a uma só pessoa. Naquele ano, o
dr. Harold Fletcher foi nomeado curador do jardim. Dois anos depois, o dr.
Robert Brown foi nomeado professor de botânica, sendo, com ele, iniciada a
mudança do Departamento de Botânica para o complexo de King’s Buldings da
universidade. A mudança final ocorreu em 1965, e o jardim​ botânico e o
Departamento de Botânica passa​ram a ser totalmente independentes entre si.
A coleção de plantas vivas do jardim botânico contém representantes da flora
mundial, mas não apenas as populares. A biblioteca é a melhor e ​maior da
Escócia, e o herbário é um dos mais conceituados da Grã-Bretanha.
O trabalho no jardim está dividido em três ​áreas: pesquisa, educação e
conservação. A pesquisa é realizada com plantas vivas: as espécies são
identificadas e descritas, pesquisa-se sua evolução, onde estão distribuídas, como
crescem e como inte​ra ​gem com outros organismos. A pesquisa, às vezes, trata de
grupos de plantas que deram origem a algumas ornamentais populares, como as
violetas-africanas. Esses conhecimentos permitem que a conservação, a
hibridização e a engenharia genética sejam alcançadas. A parte educacionalmudou através dos séculos. Inicialmente era voltada só para estudantes de
medicina; agora envolve todas as pessoas: turistas curiosos, estudantes
universitários, alunos das escolas primárias e pessoas idosas. Muito da parte
educacional tem como objetivo a conservação. Entretanto, há um curso de
treinamento em horticultura – curso pago com o trabalho manual dos estudantes
no próprio jardim. A conservação de espécies vegetais é ainda uma coisa muito
nova – espécies estão desaparecendo ​rapidamente –, assim, pesquisa, educação e
conser​vação têm de estar fortemente ligadas, a fim de evitar maiores perdas em
biodiversidade. As plantas são essenciais para a vida na terra e cada espécie é
responsável pelo crescimento de pelo menos outros trinta organismos vivos, o
que torna muito importante o trabalho de conservação.
A coleção de plantas está sempre aumentando, graças às excursões científicas.
No início do século XX, de 1904 a 1932, por exemplo, a instituição organizou
excursões de coleta para a região do Hima ​laia e da China ocidental, de onde
vieram os rododendros, magnólias e prímulas que o enriquecem. Depois de
1950, as excursões passaram a ser voltadas para a parte leste do Mediterrâneo,
sudoeste e sudeste da Ásia e Brasil.
O Jardim Botânico de Edimburgo cultiva mais de 34 mil plantas, o que
representa cerca de 17 mil espécies de todos os lugares do mundo. Todo ano
recebe entre 2 mil a 3 mil materiais botânicos, como sementes, bulbos, estacas,
muitos deles resultantes de expedições.
São mantidas várias coleções. A de plantas alpinas atrai a atenção de todos os
visitantes. Uma das especializações do jardim botânico é o estudo dos
criptógamos, plantas que não produzem sementes – briófitas, liquens, fungos,
algas e fetos. O herbário é muito rico em exemplares desses grupos. O jardim dos
criptógamos foi iniciado na década de 1990 e é o primeiro do seu tipo a ser
criado em um jardim botânico. O jardim ecológico apresenta a flora escocesa em
seus diferentes ambientes e foi iniciado em 1995. Árvores e arbustos de interesse
botânico estão espalhados por toda a sua área, especialmente no arboreto, que
contém mais de 2 mil exemplares. A sua coleção de rododendros é muito
importante – ela contém cerca de 50% das espécies conhecidas. Há um pequeno
lago, um rock garden e um jardim chinês – inaugurado na década de 1990 – que
inclui muitas espécies medicinais da China. O jardim de demonstração é como
um livro vivo: há uma parte dedicada à classificação das plantas, há canteiros de
espécies utilizadas em culinária, outro de plantas anuais, de plantas medicinais.
Cerca de 2.300 espécies são mantidas nas onze casas de vegetação. Em 1834,
foi aberta a casa das palmeiras tropicais e, em 1858, a das de clima temperado.
Entre 1888 e 1889, novas casas de vegetação​ foram construídas e os laboratórios
reorga​nizados – nesse período, o Jardim de Edimburgo tornou-se um centro
importante de pesquisa taxonômica. As casas de vegetação foram demolidas em
1965 e substituídas por outras, inauguradas em 1967. As casas de vegetação têm
um desenho muito moderno, sendo suspensas externamente. Mais tarde, em
1993, as onze casas de vegetação foram agrupadas em um único conjunto, que se
tornou a Glasshouse Experience. A parte principal do conjunto tem 128 m de
comprimento e 18 m de largura. Construído em dois níveis, é dividido em cinco
zonas climáticas controladas por computadores, sendo que o nível superior está
ligado às históricas casas das palmeiras. A casa de vegetação das palmeiras
tropicais, inaugurada em 1834, era a maior e mais suntuosa de todo o Reino
Unido na época. Tem forma octogonal, com um diâmetro de 20 m e altura de
15 m. A atmosfera é de uma floresta úmida tropical, com temperatura mínima
mantida a 18 ºC. Seu principal exemplar é a palmeira das Índias Ocidentais
(Sabal bermudana), plantada em 1793 no Jardim Botânico de Leith e
transplantada para Inverleith em 1822. Floresce todo ano. Em 1858, foi
construída a casa de vegetação para as palmeiras de clima temperado, que é, até
hoje, a mais alta da Grã-Bretanha, com quase 25 m de altura, e temperatura
mínima de 10 ºC. Nela são mantidas palmeiras, árvores e arbustos de regiões
subtro ​picais, além de coníferas do hemisfério sul. Dois exemplares são
magníficos: a palmeira da Austrália​ (Livistona australis) e a árvore da cânfora
(Cinna​momum camphora), esta com 16 m de altura, sendo a planta mais alta nas
casas de vegetação do jardim. A casa de vegetação temperada abriga plantas de
zonas temperadas, com clima mais seco e quente do que o da Escócia. A casa de
plantas tropicais tem como atração principal a Victoria amazonica, planta perene
tratada em Edimburgo como anual, porque não há luz suficiente durante o
inverno para manter a espécie. A casa das samambaias tem atmosfera de alta
umidade e abriga também algumas coníferas. Há, igualmente, casas de vegetação
para orquídeas, cicas, cactos e outras suculentas, e uma onde são cultivadas
apenas espécies da América do Sul. Além disso, há o jardim de vegetação
utilizado em pesquisa, para quarentena de novas aquisições e propagação em
grande escala.
Curiosidades
Em 29 de junho de 1964, na inauguração do prédio novo do herbário e da biblioteca, a rainha
Elizabeth II plantou uma muda de Betula pendula ao lado do prédio. Conta a história
(confirmada por antigos funcionários do jardim) que, meses depois, a muda morreu. Na
calada da noite, foi substituída por outra que cresceu e está lá até hoje. A árvore atual não é
a que foi plantada pela rainha Elizabeth II. É um segredo guardado a sete chaves.
O herbário contém mais de 2 milhões de exemplares, o mais antigo sendo de
1697. É muito rico em plantas escocesas e o mais completo (fora da China) em
plantas chinesas. A biblioteca possui 100 mil livros, muitos raros, além de
revistas científicas e de divulgação técnica, e coleção de gravuras, fotografias e
manuscritos.
O novo café foi inaugurado em 1989 e a loja botânica em 1993.
Desde 1986, o Jardim Botânico de Edimburgo passou a ser supervisionado
pelo Departamento Executivo de Assuntos Rurais e do Meio Ambiente da
Escócia e deixou de ser um departamento público. O acesso ao jardim botânico é
gratuito, mas é preciso pagar £3,50 por pessoa para visitar as casas de vegetação.
Fora da cidade há outros três jardins botânicos que oficialmente pertencem
ao de Edimburgo: o Younger Botanic Garden Benmore, o Logan Botanic
Garden e o Dawyck Botanic Garden.
O Jardim Botânico de Edimburgo mantém interesse até fora dos limites do
Reino Unido. Um exemplo disso é que, em 2001, junto com três organizações
governamentais chinesas, instalou um novo jardim botânico em Yunnan, China.
Um fato curioso do Jardim Botânico de Edimburgo...
Jardim Botânico de Chelsea
Chelsea Physic Garden
66, Royal Hospital Road
London SW3 4HS
Inglaterra
http://www.chelseaphysicgarden.co.uk
e-mail: enquiries@chelseaphysicgarden.co.uk
Londres, a capital da Inglaterra e do Reino Unido, foi fundada no ano de 43
d.C. pelos romanos, com o nome de Londinium. No ano 61, os celtas,
comandados pela rainha Boudica ou Boadicea (que morreu pouco tempo
depois), atacaram e destruíram a cidade. Uma nova cidade foi construída, no
lugar, pelos romanos. No século II, a Londres romana tinha uma população de
60 mil habitantes. O grande desenvolvimento a partir do século XVIII
transformou-a na cidade mais populosa do mundo entre 1831 e 1925. O
crescimento deveu-se, sobretudo, ao transporte ferroviário, com a criação da
primeira estrada de ferro em 1836.
http://www.chelseaphysicgarden.co.uk
mailto:enquiries@chelseaphysicgarden.co.uk
Hoje é um dos mais importantes centros mundiais de negócios, finanças e
cultura. Tem entre 12 e 14 milhões de habitantes, e é a cidade mais populosa da
União Européia. Cinco aeroportos inter​nacionais servem Londres, sendo que o
aero​porto de Heathrow é o mais movimentado do mundo.
O Jardim Botânico de Chelsea, que nunca teve nada a ver com uma
universidade, foi fundadoem 1673 como um physic garden (jardim de plantas
medicinais ou Orto dei Semplici), pela Sociedade dos Boticários de Londres
(Society of Apothecaries of London) para que os aprendizes pudessem cultivar
plantas medicinais e descobrir-lhes a utilidade. Assim, por exemplo, poderiam
aprender as diferenças mais sutis entre plantas venenosas e benéficas muito
semelhantes.
Curiosidades
Esse famoso médico, dr. Hans Sloane, quando jovem, estudara botânica no Jardim de
Chelsea, época em que ficou amigo do naturalista John Ray, o “pai da história natural
inglesa”, e do químico Robert Boyle, “pai da química”. Sloane foi um grande colecionador de
plantas e de tudo mais que podia conseguir. Ele doou para a nação (em testamento) todas as
suas coleções (livros, flora e fauna, desenhos, medalhas, moedas, etc.) que, com algumas
outras, foi aberta ao público, em 1759, como o Museu Britânico. Mais tarde, uma parte da
coleção serviu para dar início ao Museu de História Natural. Em uma viagem à Jamaica, ele
provou chocolate, muito popular naquela ilha; detestou a bebida, mas, depois de misturá-la
com leite, considerou o chocolate mais apetitoso. Voltou à Inglaterra com a receita e o
chocolate passou a ser produzido e vendido pelos farmacêuticos como remédio. No século
XIX, os irmãos Cadbury passaram a vender latas de chocolate de acordo com a receita em
questão.
O jardim foi estabelecido em uma parte alugada do jardim da Danvers
House, casa que pertencera a sir John Danvers, um dos políticos que assinaram a
sentença de morte do rei Charles I. Ficava em Chelsea e foi demolida, em 1696,
para dar lugar à Danvers Street. Em 1712 (ou 1713), o dr. Hans Sloane
comprou uma mansão com jardins (Manor of Chelsea), adjacente à Danvers
House.
Em 1722, Sloane arrendou cerca de 16.000 m² de seus jardins para a
Sociedade dos Boticários pela quantia perpétua de cinco libras esterlinas anuais.
(O jardim perdeu parte do terreno, em 1874, com a construção do Chelsea
Embankment na beira do Tâmisa, e mais uma pequena faixa, usada para alargar
a Royal Hospital Road, que é outro limite.) Com a doação, iniciou-se a idade de
ouro daquele que se tornou, na época, o jardim botânico mais ricamente
abastecido do mundo. O programa de troca de sementes foi iniciado logo depois
de 1682. O maior sucesso desse programa foi a introdução do algodão na
Geórgia, Estados Unidos, então colônia britânica.
Em 1730, o botânico Isaac Rand publicou um catálogo das plantas
medicinais do Jardim Botânico de Chelsea – Index plantarum officinalium, quas
ad materiae medicae scientiam promovendam, in horto Chelseiano [Índice oficial de
plantas, e suas utilidades médicas e científicas, no horto de Chelsea]. A
ilustradora botânica Elizabeth Black​well, nascida em Aberdeen, Escócia, baseada
no trabalho de Rand, fez gravuras, desenhos e aquarelas de quinhentas plantas
vivas, a maior parte delas do Jardim de Chelsea. Todo esse material se encontra
nos dois volumes, publicados entre 1737 e 1739, de Um curioso herbal contendo
500 cortes, das plantas mais úteis, que são agora aproveitadas na prática da física:
entalhado em placas de cobre, inspirados em desenhos tirados da vida.
Em 1889, a Sociedade dos Boticários desistiu da administração do jardim,
que passou para a Fundação Paroquial do Município. Durante todo esse
período, o jardim foi freqüentado por estudantes e professores para pesquisa, não
sendo aberto​ ao público. Em 1983, passou a ser uma insti​tuição de caridade
autônoma e, finalmente, abriu suas portas ao grande público.
O Jardim Botânico de Chelsea, um jardim murado do século XVII, ocupa
hoje uma área de cerca de 15.000 m². O fato de estar situado junto a um rio,
que cria um microclima mais quente, permite o cultivo de plantas exóticas. Sua
entrada principal se encontra na Royal Hospital Road, mas há outras na Swan
Walk e no Chelsea Embankment. Tem a aparência de um jardim ornamental. O
desenho formal é quebrado por árvores de uso varia​do. O tanque, Fortune’s
Tank Pond, foi restaurado em 2004. O jardim ornamental, construído em 1773
com pedras (da Torre de Londres e lava de um vulcão da Islândia) e plantas (rock
garden), é o mais antigo da Inglaterra e um dos mais antigos do mundo. As casas
de vegetação abrigam coleções de plantas tropicais, subtropicais e espécies da
região do Mediterrâneo, além das que não suportam o ar livre durante o inverno.
No jardim são pesquisadas as propriedades, a origem e a conservação de mais
de 5 mil espécies vegetais. Lá está o maior exemplar, na Grã-Breta​nha, de Olea
oleracea produzindo frutos, além de árvores de Citrus x paradisi em sua posição
mais setentrional da Terra, crescendo ao ar livre, graças ao microclima protegido
criado pelos altos muros de pedra. A temperatura máxima no jardim é de 24 °C
em julho e a mínima é de 2 °C em janeiro.
Há uma boa coleção de ervas e plantas medicinais, distribuídas em quatro
grupos: o jardim dos boticários, o jardim de medicina mundial, os canteiros de
perfumaria e aromaterapia e a horta. Apresenta, também, o chamado passeio
histórico, o jardim de taxonomia e a flora endêmica de ilhas, como Creta e ilhas
Canárias.
Na coleção de ervas e plantas medicinais, o jardim dos boticários apresenta
as que possuem compostos terapêuticos em uso na prática médica mundial. Os
canteiros são organizados pela finalidade das drogas derivadas das plantas. Inclui
a Mandragora officinarum , utilizada como anestésico e analgésico. As plantas
estão distribuídas nos canteiros de oncologia, do sistema respiratório, de
dermatologia, cardiologia, anestesia, analgesia, neurologia, reumatologia,
psiquiatria, oftalmologia, parasitologia e do sistema digestivo. O jardim de
medicina mundial é uma coleção etnobotânica que mostra os vários usos das
plantas por diferentes povos do mundo, como os indígenas da América do
Norte, os maori da Austrália e Nova Ze​lân ​dia, os chineses, os nativos do sul da
África, assim como tradições folclóricas do norte da Europa (como Angelica
archangelica e Galium odora​tum) e do Mediterrâneo. Não é um jardim de plantas
aprovadas pela medicina atual, mas de plantas aceitas como medicinais por
diferentes povos. Entretanto, em cada canteiro há uma planta cujas propriedades
medicinais a ciência reconheceu. No jardim da perfumaria e aromaterapia, há
plantas utilizadas na indústria de perfumes e outras que produzem óleos
essenciais empregados em aromaterapia, como Rosmarinus officinalis. Em um dos
canteiros da horta são cultivados verduras e legumes raros, ou pouco utilizados,
para a produção de sementes – que são enviadas para uma associação de caridade
que trabalha com produtos orgânicos, a Henry Doubleday Research Associa ​tion
(HDRA). Essa instituição distribui as sementes​ para os agricultores, o que
mantém a sobrevivência dessas plantas raras. Há ainda canteiros de ervas
aromáticas para culinária, frutas, sementes e flores comestíveis, de plantas
venenosas e de plantas empregadas para fabricar fibras e pigmentos.
O jardim de taxonomia apresenta espécies de famílias de dicotiledôneas e
monocotiledôneas. As primeiras estão agrupadas de acordo com uma variação do
sistema de classificação de Bentham & Hooker, que mostra a relação entre as
espécies. As monocotiledôneas foram distribuídas de acordo com o sistema de
classificação de John Lindley.
O passeio histórico, situado na parte oeste, foi criado na década de 1980
para mostrar o trabalho de botânicos conhecidos associados à história da
instituição. Lá se encontram as plantas introduzidas por eles ou que foram
batizadas com seus nomes. Entre elas estão espécies introduzidas na Inglaterra
antes da criação do jardim, como a Rosmarinus officinalis . A maioria das espécies
exibidas é da Europa, mas também dos Estados Unidos. Há espé​cies que eram
utilizadas pelos boticários no século XVIII para preparar seus remédios. Outros
canteiros são dedicados a botânicos que foram curadores ou diretores do Jardim.
A seção da flora endêmica de ilhas abriga espécies rarase em perigo de
extinção de Creta, da Madeira e das Canárias. As espécies das duas últimas –
dentre as quais o Echium candicans, que apresenta uma inflorescência de flores
azuis de quase 3 m – ficam junto ao muro mais quente do jardim. Nos invernos
rigorosos, essas plantas são mantidas nas casas de vegetação. A coleção de plantas
de Creta cresce em uma das casas de vegetação e também no rock garden. Há
uma boa coleção de espécies nativas da Grã-Bretanha, além de espécies da África
do Sul e das Américas do Norte e do Sul.
O Jardim Botânico de Chelsea faz permuta de sementes desde 1683;
atualmente, essa operação é feita com 368 jardins botânicos e universidades de
37 países. A primeira lista de sementes para permuta foi publicada em 1901,
procedimento que continua até hoje.
É mantido um departamento dedicado a eventos e cursos, como o de
jardinagem, para adultos e crianças. Um dos eventos mais concorridos é a série
de palestras e aulas práticas em que se ensina como preparar adubo orgânico. Há
uma pequena loja que vende produtos relacionados com o jardim,​ como plantas
e sementes, sabonetes e chocolates feitos à mão, mel, livros de botânica, cartões-
postais, brinquedos para crianças, entre muitas outras coisas. No café, até
almoços são servidos.
Já que não tem financiamento do governo, sendo uma instituição autônoma,
uma das maneiras de aumentar sua renda foi a formação do grupo dos “Amigos
do Jardim”, cuja contribuição anual ajuda a manter os trabalhos de pesquisa e
educação. Fazer parte desse grupo dá uma série de vantagens; por exemplo, o
jardim fica fechado de novembro a abril, mas, aos Amigos do Jardim, o acesso é
franqueado o ano inteiro. Outra maneira de conseguir fundos é o aluguel de
várias salas de que o jardim dispõe: junto com os jardins, são apropriadas para
festas em geral, como casamentos. Uma outra fonte de renda é o Chelsea Flower
Show, realizado anualmente no verão, que é considerado uma das grandes
atrações turísticas de Londres. Rende muito, pela venda de flores, de plantas, de
artigos especiais como geléias, além do arrecadado nas bilheterias.
As metas do Jardim Botânico de Chelsea são, hoje: mostrar, através do
cultivo e de publicações, a variedade de espécies ali introduzidas; publicar
trabalhos de qualidade em horticultura, especialmente sobre plantas raras ou
frágeis; ensinar a todos os visitantes os múltiplos usos de plantas e o
conhecimento acumulado de usos medicinais.
Jardim Botânico de Berlim
Botanischer Gärten und Botanisches Museum
Königin-Luise-Str. 6-8
Dahlem
14191 Berlin
Alemanha
www.bgbm.fu-berlin.de/
zebgmb@zedat.fu-berlin.de
Berlim é a capital e a maior cidade da Alemanha, localizada no nordeste do
país. As primeiras menções históricas de pequenas cidades onde hoje fica Berlim
datam do fim do século XII e início do XIII. Já foi capital do reino da Prússia a
partir de 1701, do Império alemão (1871-1918), da República de Weimar
(1919-1932) e da Alemanha nazista (1933-1945). A cidade foi dividida por um
muro depois da Segunda Guerra em 1961. Berlim Oriental passou a ser a capital
da Alemanha Oriental, enquanto a outra metade passou a ser um simples enclave
da Alemanha Ocidental, até 1989. Depois da reunificação, em 1990, Berlim
voltou a ser a capital da Alemanha.
A maior universidade de Berlim é a Freie Uni​ver​sität Berlin, com cerca de 35
mil estudantes. Grande parte dela, que foi fundada em 1948, fica no bairro de
Dahlem. Tem doze faculdades, entre elas, as de Biologia, Química e Farmácia,
de Geologia e Direito.
O sociólogo Jacob Taubes e o filólogo Peter Szondi estão entre seus antigos
professores.
No início do século XVII, o Castelo de Berlim, no centro da cidade, tinha
um jardim real com plantas ornamentais, medicinais, hortaliças e lúpulo (para a
fabricação da cerveja real). Como se tornou muito acanhado, em 1679, Friedrich
Wilhelm, o grande príncipe eleitor, decidiu criar um jardim-modelo, com
plantas medicinais e para a culinária, na vila de Schöneberg, perto de Berlim
(hoje um bairro da cidade), onde é atualmente o Parque Kleist. Foi criado então,
em 1679, o primeiro Jardim Botânico de Berlim. Em 1718, ele foi doado por
Frederico Guilherme I à Academia de Ciências da Prússia. Por anos, esteve
totalmente negligenciado, mas foi restaurado por volta de 1801 pelo botânico e
farmacêutico Carl Ludwig Willdenow. Nascido em Berlim, Willdenow estudou
botânica e medicina na Universidade de Halle, Alemanha. Tendo sido diretor do
jardim de 1801 a 1812, estudou, nesse período, muitas plantas da América do
Sul, trazidas pelo naturalista Alexander von Humboldt. O herbário real teve um
grande desenvolvimento, pois ele lá organizou cerca de 20 mil espécies.
Em 1879, foi estabelecido o Museu Botânico, para abrigar a coleção de
exsicatas e promover a pesquisa. Com o tempo, o grande crescimento da cidade
exigiu nova mudança de endereço.
Assim, entre 1879 e 1910, foi criado um novo jardim botânico, em uma
fazenda de batatas no bairro de Dahlem, que ficou sob a direção do botânico
Heinrich Gustav Adolf Engler entre 1889 e 1921. Engler deixou importantes
obras de taxo​nomia e fitogeografia; o sistema de classificação das angiospermas
criado por ele e Karl Anton Eugen Prantl foi um dos mais utilizados na área de
taxo ​nomia até a década de 1970.
Uma das funções do novo jardim era apresentar e examinar plantas exóticas
trazidas das colônias alemãs.
O Jardim Botânico de Berlim, que pertence à Freie Universität, ocupa,
atualmente, uma área de 430.000 m² e abriga 22 mil espécies de plantas, é um
dos maiores do mundo. Abriga também o Museu Botânico, com uma grande
coleção de exsicatas (o Herbarium Berolinense), e uma grande biblioteca
científica.
Uma área de 6.000 m² é ocupada por dezesseis casas de vegetação com
coleções de plantas exóticas como as orquídeas e as carnívoras. Há uma casa de
vegetação com um grande tanque no centro, atravessado por pontes de bambu,
com exemplares de Victoria amazonica, Victoria cruziana e Nym ​phaea gigantea.
Ao redor do tanque principal, há outros bem menores, cada um hospedando
uma espécie diferente de ninféia. Uma casa de vegetação abriga plantas úteis dos
trópicos. Várias delas mantêm temperatura baixa, cada uma com finalidade
específica: casa de vegetação com azaléias e camélias; com plantas da África do
Sul; com espécies da Austrália e da Nova Zelândia; com plantas do hemisfério
sul e plantas insetívoras; com suculentas da parte tropical e subtropical do Velho
Mundo; uma casa de vegetação com uma paisagem do Novo Mundo, muitas
cactáceas e agave; plantas do Mediterrâneo e das Canárias, muitas samambaias
arbóreas em sua parte posterior. O Grande Pavilhão é a maior casa de vegetação
do mundo, uma estrutura de aço coberta por vidro, com 25 m de altura. Por
hospedar plantas tropicais, a temperatura é sempre mantida a 30 ºC, com alta
umidade do ar. Apresenta encostas rochosas e quedas de água e abriga palmeiras
muito grandes, trepadeiras, bambu-gigante e epífitas em quantidade. Há uma
infinidade de bromélias, orquídeas, cactos, samambaias. Defronte da Grosse
Trope​nhaus, ao ar livre, há tanques com liliáceas que suportam bem o inverno.
A área ao ar livre (130.000 m²) é organizada de acordo com a origem
geográfica das espécies. A seção de fitogeografia, desenhada por Engler, ocupa
quase um terço da superfície total e tem uma infinidade de caminhos que passam
por diferentes formações vegetais de clima temperado do hemisfério norte. Diz-
se que lá se pode passear ao redor de todo aquele hemisfério!
Na seção de taxonomia, mil espécies vegetais estão agrupadas de acordo com
o sistema de classificação de Engler. Há um jardim de plantas aquá ​ticas, de
brejos, que estão em perigo de extinção na Europa central devido à drenagem de
seus ambientes naturais – muitas delas só existem no jardim botânico. Em 1984,
foi construído o jardim para os deficientes, com plantas aromáticas, plantas com
espinhos e plantas de texturas diferentes. O jardim de plantasmedicinais foi
renovado recentemente; tem a forma de um corpo humano e por ele são
distribuídas cerca de 230 plantas medicinais – que podem ser cultivadas ao ar
livre em Berlim – de maneira a mostrar em que parte do corpo as espécies devem
agir. Há informações sobre os nomes científicos das plantas, componentes
químicos e sua importância farmacológica. Há também um jardim em estilo
italiano e o jardim dos musgos aberto ao público em 2006. Um arboreto, que
ocupa 140.000 m², tem cerca de 1.800 espécies de árvores e arbustos.
O museu apresenta exposições de botânica e é o único desse tipo na Europa
central. Ele comple​menta o jardim botânico, pois exibe modelos que mostram
detalhes morfológicos que não são visíveis na planta viva.
A pesquisa na instituição envolve biossiste​mática, biodiversidade (de
plantas), genética molecular e conservação ambiental. Além da contribuição à
botânica, nas noites de sexta-feira do mês de agosto são apresentados concertos
ao ar livre.​
[1] Tradução de André Luiz Alvarenga do original: “Triumviri Litterarii. I. Portam hanc decumanam ne
pulsato ante diem Marci Evangelistæ nec ante horam XXII. II. Per decumanam ingressus extra decumanum
ne declinato. III. In viridario scapum ne confringito neve florem decerpito ne semen fructumve sustollito
radicem ne effodito. IV. Stirpem pusillam succrescentemque ne attrectato neve areolas conculcato
transilitove. V. Viridarii injuria nom afficiuntor. VI. Nihil invito Praefecto attentato. VII. Qui secus faxit
aere carcere exilio multator”.
[2] Disponível em http://www.unesco.org.
[3] Tradução livre de “Gloriae Dei Opt. Max. Honori Caroli Regis, in usum Acad. et Reipub. Henricus
comes Danby DD. MDCXXXII”.
http://www.unesco.org
Jardins botânicos portugueses
Jardim Botânico da Madeira
Caminho do Meio – Bom Sucesso
9050-251 Funchal
Ilha da Madeira
www.sra.pt/jarbot
jardimbotanico.sra@gov-madeira.pt
http://www.sra.pt/jarbot
mailto:jardimbotanico.sra@gov-madeira.pt
Os primeiros jardins botânicos portugueses foram criados muito depois dos
descobrimentos. Durante a Renascença portuguesa, os portugueses tratavam suas
ilhas do oceano Atlântico – Madeira, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe –
como se fossem jardins botânicos. A ilha da Madeira, no entanto, que
imaginavam ser o Jardim do Éden, foi ter seu jardim botânico só em 1960! Na
realidade, o primeiro jardim botânico de Portugal, o da Ajuda, é de 1768,
seguido pelo de Coimbra e, muito mais tarde, pelo de Lisboa.
O Jardim Botânico da Madeira foi criado na Quinta do Bom Sucesso em
1960 e é administrado pelo governo regional da ilha. Está situado a 3 km do
centro de Funchal. Junto da Quinta do Bom Sucesso fica o Loiro Parque, e o
conjunto todo ocupa uma área de 80.000 m².
O Loiro Parque reúne aves exóticas e raras, como cacatuas, papagaios e
periquitos. Passear por lá é como fazer um safári pelo mundo dos papagaios. O
bilhete de entrada é único, englobando o jardim e o Loiro Parque.
O jardim botânico, com uma grande área ajardinada, abriga, além de
espécies indígenas, mais de 2 mil plantas exóticas, oriundas de todo o mundo,
tão bem adaptadas como se estivessem em seu local de origem. Parte da flora
indígena é considerada uma relíquia do Terciário, por ter espécies que existiram
nas floras primitivas do sul da Europa e do norte da África – onde se extinguiram
devido a alterações climáticas.
As plantas têm etiquetas que mostram sua origem e os nomes científico e
popular. Estão distribuídas em quatro grupos: as indígenas e endêmicas, com
cerca de cem espécies da ilha da Madeira, dos Açores, das Canárias e de Cabo
Verde; o arboreto, com espécies de zonas ecologicamente opostas, como plantas
do Himalaia e dos trópicos, plantas suculentas, principalmente da América do
Sul, e o grupo das tropicais – cultivares, aromáticas e medicinais, com árvores
frutíferas tropicais e subtro​picais –, além de plantas para a culinária e medicina
popular da população madeirense.
O Jardim Botânico da Madeira dedica-se ao estudo da flora macaronésia, em
especial da biodiversidade vegetal. Tem por objetivo, entre outros, promover e
desenvolver a pesquisa da botânica, divulgar a flora, fazer permutas, tanto de
mudas como de sementes, de espécies de interesse científico, manter o herbário,
aclimatar plantas de outras regiões e promover a formação profissional de pessoal
técnico. É um pólo de ciência e cultura, dedicado à conservação de plantas
ameaçadas de extinção.
Há, no jardim, um Museu de História Natural e um herbário. O museu
funciona em três salas do prédio principal desde 1981. Lá se encontra o espólio
do antigo Museu Diocesano de Funchal, com coleções de plantas e animais
obtidas entre 1882 e 1908. Ele abriga, também, o herbário, com coleções de
plantas da Madeira, das ilhas Canárias, espécies de deserto e de plantas
cultivadas.
Jardim Botânico da Ajuda
Instituto Superior de Agronomia
Calçada da Ajuda, s/n
1349-017 Lisboa
Portugal
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O Instituto Superior de Agronomia (ISA) tem suas raízes no Instituto
Agrícola e Escola Regional de Lisboa, criado, em 1852, pela rainha dona Maria
II. Em 1864, a Escola de Veterinária Militar e o Instituto Agrícola foram
reunidos com o nome de Instituto Geral de Agricultura, que, em 1886, passou a
ser denominado Instituto de Agronomia e Veterinária. Depois da implantação
da República portuguesa, esse instituto foi extinto e substituído pela Escola
Superior de Medicina Veterinária e pelo Instituto Superior de Agronomia, que,
em 1930, foi integrado à Universidade Técnica de Lisboa. O ISA é a maior e a
mais qualificada escola de ciências agrárias de Portugal, com cursos de graduação
e pós-graduação. Em 1918, a instituição incorporou o Jardim Botânico da
Ajuda.
O Jardim Botânico da Ajuda fica na Calçada da Ajuda, logo depois do
Museu dos Coches. Fica próximo do Palácio da Ajuda, do Mosteiro dos
Jerônimos, do Centro Cultural e da Torre de Belém e do Jardim-museu Agrícola
Tropical. Do local, tem-se uma vista magnífica do rio Tejo.
É o mais antigo de Portugal, tendo sido criado em 1768, no fim do período
barroco, por ordem do marquês de Pombal, primeiro-ministro do rei dom José,
de 1750 a 1777. É considerada a primeira e mais importante instituição
dedicada à história natural do país.
Para sua implantação, dom José I comprou uma quinta que ficava próxima
ao Paço da Ajuda – na época, Ajuda era subúrbio de Lisboa. No início, a quinta
destinava-se à cultura de frutas e hortaliças para o palácio real. O jardim foi
desenhado para manter, estudar e colecionar espécies vegetais e para diversão da
realeza que vivia no Palácio da Ajuda. Para lá eram levadas as espécies vegetais
coletadas nas diversas colônias portuguesas. Chegou a ter mais de 5 mil espécies,
organizadas de acordo com as idéias de Lineu. Foi projetado pelo botânico
italiano, natural de Pádua, Domenico Vandelli. Entretanto, no final do século
XVIII, só tinha cerca de 1.200 espécies, pois o jardineiro italiano contratado por
Vandelli preocupou-se em fazer obras e descuidou-se do cultivo das plantas.
Com o estabelecimento da Escola Politécnica em 1837, o jardim passou a ser
administrado por ela, para o ensino da botânica. Em 1918, passou a pertencer ao
Instituto Superior de Agronomia. Foi totalmente restaurado entre 1993 e 1997.
Possui uma área de 35.000 m², dividida em dois níveis (tabuleiros), com um
desnível de quase 7 m entre eles. Sua arquitetura segue modelos renas​centistas,
mas os ornamentos são tipicamente barrocos, como a fonte central e as escadarias
laterais e central. No tabuleiro de cima fica a coleção botânica e o inferior é um
jardim ornamental, um jardim de recreio. Há também um arboreto e o jardim
das plantas aromáticas e medicinais. Há três lagos, canteiros de porcelana do
século XIX e uma fonte do século XVIII. Algumas de suas árvores têm mais de
cem anos.
Há quatro estufas. A das avencas e a dos pás​saros foramconstruídas durante
o reinado de dom João VI para o cultivo de plantas exóticas. A das avencas
continua sendo usada para o cultivo de plantas ornamentais de interior. A estufa
dos pássaros foi restaurada entre 1993 e 1997 e é, hoje, o Restaurante Estufa
Real. A das orquídeas foi construída em 1879, por ordem do rei dom Luís I. É
semi-enterrada: o isolamento dado pelo solo evita as perdas de calor durante o
inverno e o aquecimento excessivo durante o verão. Nela já foram cultivadas 286
espécies de orquídeas. Uma outra, denominada Estufa Dom Luís, da mesma
época, é usada para a propagação das plantas.
O jardim oferece atividades aos freqüentadores, como demonstrações de
técnicas de jardinagem e consultório de plantas. É possível fazer troca de plantas
e sementes. São organizadas visitas temá​ticas para escolas, com temas como
árvores, aromas, herbário, hortas e plantas de todo o mundo.​
O Herbário João de Carvalho e Vasconcelos, que pertence ao Instituto
Superior de Agronomia, possui mais de 98 mil exsicatas.
Jardim Botânico de Coimbra
Universidade de Coimbra
Calçada Martim de Freitas
Arcos do Jardim
3001-455 Coimbra
Portugal
http://www.uc.pt/botanica/jardbot.htm
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Coimbra, no centro de Portugal, tem uma localização privilegiada, sendo
ligada ao sul e ao norte do país por uma auto-estrada e uma linha ferro​viária. É
uma das mais antigas cidades de Portugal, tendo sido um entreposto entre o
norte cristão e o sul árabe durante o período em que os mouros dominavam a
península Ibérica.
A Universidade de Coimbra é uma das mais antigas da Europa. Ela foi
autorizada pela Igreja em 1290 e funcionou inicialmente em Lisboa. Houve
várias idas e vindas, durante séculos, entre as duas cidades, mas ficou
definitivamente em Coim​bra a partir de 1537. Hoje, a universidade tem oito
faculdades e espalha-se por três pólos. O primeiro é a ala universitária, onde
ficam a reitoria e a parte administrativa, as faculdades de Direito, de Letras, de
Ciências, entre outras. O segundo é o pólo das engenharias e o terceiro o das
ciências da saúde.
O Jardim Botânico de Coimbra, fundado em 1772, pertence, atualmente, ao
Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra. Na época, com o
nome de Horto Botânico, era parte de uma área do Colégio de São Bento. Dois
botânicos italia​nos de Pádua, Giovanni Dalla Bella e Domenico Vandelli,
colaboraram em seu projeto – considera​do dispendioso demais pelo marquês de
Pombal –, e os trabalhos se iniciaram em 1774 com outro, mais modesto.
As plantas vieram do jardim do Palácio da Ajuda, em Lisboa. Em 1809, mais
uma área foi comprada para ampliar o jardim, que foi sendo embelezado durante
muitos anos. Em meados do século XIX, foi construída a Estufa Grande. Sempre
houve permuta de plantas e sementes com outros jardins botânicos do mundo.
Do Jardim Botânico de Buitenzorg (hoje Bogor), na Indonésia, chegaram
sementes de cinchona, uma planta da família das rubiáceas, de cuja casca é
extraído quinino. Na época, era importante para combater a malária, que
dizimava muita gente em Portugal e respectivas colônias.
Hoje, o jardim ocupa uma área de cerca de 140.000 m². Ele foi delineado à
maneira italiana, com diferentes níveis, escadarias e avenidas, rodea​do de grades
de ferro e bronze, com cinco portões.
Compreende duas zonas principais, uma mais elevada, no topo de uma
pequena colina, ajardi​nada, e uma em declive, a chamada mata, o arboreto. A
zona ajardinada é composta de seis terraços, sendo o inferior denominado
Quadrado Central, com traçado dos jardins do século XVIII e uma bela fonte. É
o terraço onde são exibidas plantas ornamentais e árvores que datam da época da
fundação do jardim. Nos demais terraços, ficam as chamadas escolas, onde as
plantas são agrupadas sistematicamente e servem como material de ensino e
fornecedoras de sementes. Nesses mesmos terraços ficam as estufas: a Estufa
Grande, onde se cultivam plantas tropicais e subtropicais; a Estufa Pequena, que
tem um lago artificial, no qual é cultivada a vitória-régia; a Estufa Fria, que fica
próxima ao Quadrado Central e abriga plantas de sombra de clima temperado; a
Estufa das Reproduções para a multiplicação das plantas. O arboreto, com
vegetação densa de árvores exóticas, fica em um vale, onde corria um pequeno
riacho. Ele abriga a Capela de São Bento, construção do século XVII.
No Departamento de Botânica, situam-se também a biblioteca, os
laboratórios, o herbário e o museu. Os laboratórios são utilizados para pesquisa
em ecologia, fisiologia, citogenética, taxonomia e bioquímica. A biblioteca abriga
mais de 15 mil volumes. O herbário tem uma coleção de mais de 1 milhão de
exsicatas. As principais coleções são de Portugal continental e das ilhas, dos
países africanos de influência portuguesa e de plantas de todo o mundo. Há
também material de Timor. O Museu Botânico foi criado em 1772, pela
reforma do marquês de Pombal, como Gabinete de História Natural. No fim do
século XIX, foi dividido em três seções correspondentes às grandes áreas das
ciências naturais. Hoje, está instalado no prédio do Departamento de Botânica.
Possui uma grande coleção de frutos, secos ou conservados em álcool, e muitos
outros produtos vegetais. As madeiras originárias do Brasil e de outras antigas
colônias também são representadas.
Jardim Botânico da Universidade de Lisboa
R. Escola Politécnica, 58
1250-102 Lisboa
Portugal
www.jb.ul.pt
jb@fc.ul.pt
http://www.jb.ul.pt
mailto:jb@fc.ul.pt
Lisboa, capital e maior cidade de Portugal, situada na foz do rio Tejo, conta
com quatro universidades principais: a Universidade de Lisboa, a Universidade
Técnica, a Nova Universidade e o Instituto Superior de Ciências e da Empresa.
No século XIX, foram criadas, em Lisboa, a Escola de Medicina, a de
Farmácia, a Politécnica e a de Letras. Em 1911, foram reunidas para formar a
Universidade de Lisboa, que tem, atualmente, cerca de 20 mil alunos. O Museu
Nacional de História Natural, que lhe pertence, é constituído de três
departamentos: Botânica (Jardim Botânico), Zo​ologia e Antropologia e
Mineralogia e Geologia.
O Jardim Botânico de Lisboa foi fundado em 1873 e inaugurado em 1878,
pelo conde de Ficalho, Francisco Manuel de Melo, professor de botânica da
Escola Politécnica.
O jardim começou a ser organizado, a partir do nível superior, em uma área
vizinha da Escola Politécnica. O ajardinamento da parte inferior foi muito lento.
Essa área era, na época, uma chácara com oliveiras, vinhas, árvores frutíferas e
terreno para cultivo de cevada, milho, fava e batata. A exploração agrícola foi
desaparecendo, dando lugar ao arboreto. Na parte superior, chamada de escola
botânica, foram colocadas as plantas das principais famílias das dicotiledôneas e
algumas gimnos​permas. As monocotiledôneas foram estabelecidas na parte
inferior. No nível superior foi construída a primeira estufa, em madeira, que deu
lugar, mais tarde, ao conjunto de estufas que funcionou até 1962. Em 1966, foi
construída a nova estufa. Em torno de 1877, o novo jardim já tinha 10.900
plantas, entre as quais, 1.500 exemplares eram abrigados na estufa – o que
representava cinqüenta famílias botânicas. Na escola botânica, 3.400 espécies
representavam 157 famílias. O restante eram as plantas da parte inferior e dos
viveiros. Em 1877, o jardim passou a receber catálogos de sementes de outros
jardins botânicos e, no ano seguinte, fez seu primeiro índice de sementes.
Hoje, tem uma área de 40.000 m² e boas coleções de cicadáceas,
gimnospermas, palmeiras e figueiras tropicais. Estão referenciadas cerca de 1.500
espécies distintas.
No banco de sementes são mantidas as sementes de espécies raras e
ameaçadas de extinção. O herbário tem boas coleções de criptógamas, as
chamadas plantas inferiores, como musgos, fungos e liquens (iniciadas no século
XIX), de plantas supe​riores (120 mil exemplares) e as chamadas coleções​-
históricas, com plantas coletadas por natura​listas famosos, portuguesese
estrangeiros.
O objetivo do jardim é contribuir para o conhecimento científico de plantas
e de fungos, para o estudo​ e a manutenção da biodiversidade, além de aproximar
a sociedade das várias espécies de plantas.
A Estufa Fria, que fica no Parque Eduardo Prado, não faz parte do Jardim
Botânico de Lisboa, mas merece menção. O local era uma antiga pedreira, onde
um jardineiro colocou vasos com plantas que iriam arborizar a avenida da
Liberdade e lá acabaram ficando. Ela foi inaugurada em 1933, em uma área com
pouco mais de 10.000 m². Além dela, estão no local a Estufa Quente, para
plantas tropicais, a Estufa Doce, para cactos, lagos, cascatas, viveiros com peixes
e um viveiro natural. O recanto abriga um patrimônio rico em espécies exóticas,
como as samambaias arbóreas.
Bogor e Harvard: primeiros jardins botânicos na Ásia e
na América do Norte
Jardim Botânico de Bogor
(antigamente Jardim Botânico de Buitenzorg)
Kebun Raya Bogor
Jalan Juanda, 11
Bogor, WJ
16122 Indonesia
Bogor é uma cidade da Indonésia, no oeste da ilha de Java, um popular local
de férias de verão, com uma população de 3 milhões de habitantes. A ilha de
Java ficou sob o domínio holandês desde o século XVII até 1946, quando foi
declarada a criação de uma república que, em 1950, passou a fazer parte da
Indonésia. Houve duas interrupções do domínio holandês em Java: foi colônia
britânica de 1811 a 1815 e colônia japonesa de 1942 a 1945. Ao redor de 450
a.C., Bogor era parte do primeiro reino hindu da ilha de Java e o segundo da
Indo​nésia. Foi a capital da ilha de Java durante a ocu​pação britânica e a capital
dos colonizadores holan​deses durante a época das secas e denominada por eles
Buitenzorg. No centro da cidade ficam o palácio presidencial, um parque com
veados domesticados e o jardim botânico.
A Universidade de Agricultura de Bogor, também conhecida como Instituto
Pertanian Bogor, é uma das mais importantes da Indonésia. Como colônia
holandesa, a Indonésia era uma das principais fontes de produtos agrícolas para a
Holanda e para o resto da Europa. Por essa razão, foram cria​das, no fim do
século XIX, escolas de agricultura, de veterinária e de florestas, de nível médio.
No fim da década de 1930, os holandeses decidiram estabelecer um sistema de
educação superior na Indonésia. Bogor foi escolhida para sediar a Faculdade de
Agricultura, em 1940, e a Faculdade de Veterinária, em 1946, como parte da
Universidade da Indonésia. Até o fim da década de 1950, os estabelecimentos
eram dirigidos pelo governo holandês. A partir de então, começou a
nacionalização das entidades educacionais e os professores holandeses voltaram
para seu país. Em 1963, universida​des nacionais foram criadas em todas as pro​-
vín​cias da Indonésia. Em Bogor, a Faculdade de Agricultura e a Faculdade de
Veterinária foram separadas da Universidade da Indonésia e criadas outras três
faculdades, sempre ligadas à agricultura. Essas faculdades formaram uma
universidade chamada Instituto Pertanian de Bogor, que se tornou autônomo
em 2000. O campus principal do instituto fica em Darmaga, cerca de 11 km a
oeste de Bogor; os outros, Baranangsiang, Taman Kencana, Gunung Gede e
Cilibende, situam-se na área municipal da cidade.
O Jardim Botânico de Bogor, um dos mais antigos da Ásia, foi fundado em
1817, como o jardim particular do que é hoje o Palácio Presidencial, usado no
verão pelo presidente do país, em cujo parque pastam 250 veados domesticados.
Em 1816, foi enviado para Java o professor de botânica de Amsterdã, nascido na
Alemanha, C. G. C. Rein ​wardt, que fundou o Jardim Botânico de Buiten​zorg
em 18 de maio de 1817. Para ele, o jardim era importante para cultivar as
plantas das colônias holandesas e tentar o cultivo de plantas economicamente
importantes de outros lugares do mundo. Além disso, o jardim deveria enviar
plantas para outros jardins botânicos da Holanda e do resto do mundo. Esse foi
o início do desenvolvimento, principalmente da botânica, nas colônias
holandesas da Ásia. Em 1822, Reinwardt foi substituído por C. L. Blume, que
foi diretor por quatro anos. O jardim evoluiu muito sob a direção desses dois
pesquisadores: grande número de espécies passou a ser conhecidas e descritas, e
foram introduzidas muitas espécies importantes de outros locais do mundo.
Após esse início auspicioso do jardim, devido às guerras internas em Java, o
governo da Holanda reduziu verbas e, por quarenta anos, não foi nomeado um
diretor e o responsável pelo jardim era o governador militar que ocupava a
residência de verão. O jardim só não foi destruído porque um desses
governadores foi J. E. Teysmann. Com ele, o jardim voltou a progredir,
sobretudo pela coleção de árvores e pela importação de espécies economicamente
importantes. Somente em 1868 voltou a ser nomeado um diretor, o botânico R.
H. C. C. Sheffer. Com esse diretor, muitas plantas chegaram a Java, entre elas a
primeira coleção de seringueiras. Outras plantas foram melhoradas nesse jardim,
como mandioca, cacau, tabaco, lichia e chá. No fim de seu mandato, a
instituição tinha se expandido muito nos campos da botânica e também da
zoologia, agricultura e horticultura. Assim, em 1905, foi criado o Departamento
de Agricultura, sendo o jardim botânico uma divisão desse departamento. Por
volta de 1910, o jardim tornou-se uma instituição apenas de ciência pura
(botânica e zoologia), sem a parte de ciência aplicada. Então, deixou de ser o
importante centro de botânica aplicada, que tinha feito sua fama, e passou a ser
um jardim botânico como os demais. A separação entre ciência aplicada e pura
deixou de existir nos anos mais recentes.
Atualmente, o Jardim Botânico de Bogor, que cobre uma área bem grande,
possui uma coleção de 17 mil espécies. Há um grande arboreto, com as plantas
distribuídas de acordo com as regras ​atuais de classificação botânica, seções de
plantas anuais e perenes, além da seção de trepadeiras. Além disso, há uma
grande extensão com a floresta natural preservada, onde as árvores podem ser
estudadas em seu ambiente. Na verdade, as árvores são representantes de 15 mil
espécies, e há quatrocentas variedades de palmeiras. Há muitas lagoas pequenas
cobertas de lótus. O jardim ostenta uma coleção de 170 espécies de plantas
medicinais, o que é muito importante, pois mais e mais gente passou a utilizar
essas plantas ou seus produtos na cura de muitas doenças. Apresenta também
uma coleção de plantas da família das aráceas originárias da Indonésia, como a
fantástica Amorphophallus titanum.
Há muitas casas de vegetação, onde plantas variadas, como samambaias, são
mantidas. Na parte nordeste da área, ficam as orquídeas, distribuídas em duas
casas. A primeira é uma antiga casa de vegetação onde é mantida a maior parte
da coleção, sendo usada principalmente para pesquisa. Nela, as orquídeas estão
agrupadas em três grupos. ​ No primeiro, a coleção é apresentada por gêne​ros
botânicos, para demonstrar a grande diversidade das orquídeas da Indonésia. No
segundo, são organizadas geograficamente, a fim de apresentar as espécies
encontradas nas principais ilhas do país. No terceiro, são cultivadas mais
naturalmente ao ar livre. A outra seção foi aberta ao público em 2002 e funciona
como uma área de exposição de orquídeas. Há aqui mais 10 mil plantas dos mais
diversos recantos indonésios representando 500 espécies e 95 gêneros. Estão
agrupadas em orquídeas silvestres (espécies originais) na parte esquerda e
híbridas na ala direita da casa de vegetação.
O jardim é uma instituição de pesquisa muito importante, especialmente nas
áreas de seleção e de melhoramento de plantas. É, também, um local de visitas,
pois apresenta um grande número de atrações para o público em geral.
Com o desenvolvimento do Jardim Botânico de Bogor, foram criados o
Herbário Bogoriense e o Museu de Zoologia. Devido a mudanças na situação do
país, foram transformados em instituições científicas independentes, afiliadas ao
Instituto de Ciências da Indonésia.Certas espécies de plantas necessitavam de condições ecológicas especiais e
não cresciam bem em Bogor. Para abrigar essas plantas, outros jardins botânicos
foram criados. Jardim Botânico de Cibodas, no oeste de Java; Jardim Botânico
de Sibolangit, no norte de Sumatra; Jardim Botânico de Purwodadi, no leste de
Java; Jardim Botânico de Setia Mulia, Pandang, no oeste de Sumatra; e o Jardim
Botânico de Eka Karya, em Bali.
O Jardim Botânico de Bogor pretende tornar-se um dos mais importantes
jardins botânicos do mundo no que se refere à conservação e à pesquisa de
plantas tropicais, educação ambiental e turismo. Tem uma posição importante
na luta pela conservação ambiental e, desde 2001, passou a ser o Centro de
Conservação de Plantas, em conjunto com os jardins botânicos de Cibodas,
Purwodadi e Bali.
Jardim Botânico da Universidade de Harvard
Arnold Arboretum of Harvard University
125 Arborway
Boston
MA 02130-3500
Massachusetts
Estados Unidos da América
arbweb@arnarb.harvard.edu
mailto:arbweb@arnarb.harvard.edu
Um jardim botânico em que a maioria da coleção de plantas vivas é de
lenhosas, em geral é chama​do de arboreto. O Jardim Botânico da Univer​sidade
de Harvard, o Arnold Arboretum, é o mais antigo dos Estados Unidos.
Foi estabelecido em 1872, quando parte dos bens do comerciante James
Arnold foi transferida para a Faculdade de Harvard, para que fosse criado um
arboreto, que deveria ter, se possível, todas as árvores e arbustos, até mesmo os
exóticos, que pudessem crescer ao ar livre.
O primeiro diretor, o professor de botânica Charles Sprague Sargent, passou
54 anos moldando e aprimorando a instituição. Em 1885, teve início o plantio
permanente de árvores. A coleção foi organizada em famílias e gêneros, seguindo
o sistema de Bentham e Hooker (ver [Jardim Botânico de Oxford]).
Sargent queria que os visitantes pudessem passear em viaturas pela área e
tivessem uma idéia geral da vegetação de árvores e arbustos da zona temperada
norte. De acordo com ele, desse modo seriam evitadas as linhas formais de
organização de um jardim botânico convencional. Tudo era organizado de
maneira a facilitar um estudo das coleções em seus aspectos científicos e
pitorescos. Sargent também criou uma biblioteca dedicada à botânica, à
horticultura e à dendrologia, além de um herbário com espécimes de plantas
lenhosas de todo o mundo.
Hoje, o arboreto tem uma área de mais de 1.000.000 m² no setor de Boston
denominado Jamaica Plain e é um departamento da universidade. É aberto ao
público durante todo o ano. Na década de 1950, o antigo herbário de Sargent
foi transferido para o novo prédio do Herbário Harvard, em Cambridge,
Massachusetts. Entretanto, hoje há o Herbário de Plantas Cultivadas que
continua em Jamaica Plain, com cerca de 130 mil exemplares de origem
cultivada, dos quais cerca de 50 mil deles foram cultivados no arboreto durante
toda a sua história. O Herbário Harvard, do qual o Herbário de Plantas
Cultivadas faz parte, tem mais de 5 milhões de exemplares.
Na década de 1950, a biblioteca de Sargent também foi transferida para
Cambridge. Hoje, há uma biblioteca com 40 mil títulos no arboreto em Jamaica
Plain, administrada pela grande biblioteca da Universidade de Harvard, em
Cambridge.
Há mais de 10 mil plantas vivas na coleção do arboreto, sendo de muito
interesse as espécies lenhosas da América do Norte e da Ásia. Há coleções
históricas, como as plantas asiáticas, introduzidas ali por seu primeiro diretor.
Um complexo com quatro casas de vegetação foi completado em 1963 e ocupa
348 m². Há também um pavilhão usado para bonsai – durante o inverno, a
coleção de bonsai é transferida para uma unidade de armazenamento a frio, com
temperaturas um pouco acima da de congelamento.
A instituição propõe-se a aumentar o conhecimento da evolução e biologia
de plantas lenhosas. Historicamente, a pesquisa investigou a distribuição global e
a história evolucionária de árvores, arbustos e trepadeiras, principalmente de
espécies do leste da Ásia e da América do Norte. Hoje, tudo continua, com
estudos moleculares de evolução e biogeografia das floras da Ásia, Europa e
América do Norte. As pesquisas incluem estudos mole​culares da evolução de
genes, investigam-se as relações entre plantas e água, o monitoramento da
fenologia, sucessão vegetal, suprimento de nutrien​tes, estuda-se a biodiversidade
de plantas da região das montanhas Hengduan, na China, a biodiver​sidade e a
biogeografia da Tailândia, a evolução dos sistemas de fitocromo e a filogenia de
plantas lenhosas, entre outras.
O jardim oferece um vasto programa educativo para alunos de escolas
secundárias e o público em geral, através de palestras e cursos teóricos e práticos.
Desde 1997, há um curso de horticultura, para criar mão-de-obra qualificada
capaz de tratar e manter a coleção de plantas vivas da instituição.
Jardins botânicos no século XX
Estabelecendo conceitos
Quando o astronauta exclamou: “A Terra é azul!”, ele tinha toda a razão. A
Terra tem uma cor azul-brilhante quando vista do espaço e isso é devido à
presença dos oceanos e à dispersão da luz solar sobre sua atmosfera. Cerca de
70% da superfície do planeta é coberta por água. No entanto, deve-se lembrar
que apenas 3% da água do planeta é de água doce, o resto é água salgada. A
atmosfera terrestre é formada por uma mistura de gases, principalmente
nitrogênio (N
2
), com 78%, e oxigênio (O
2
), com 21%. Outros gases
comparecem com traços, como o gás carbônico (CO
2
), além do vapor de água.
Aproximadamente um terço da energia solar que chega à Terra é reemitida
para o espaço na forma de radiação infravermelha. No entanto, o vapor de água
e gases como o CO
2
, o metano (CH
4
) e o óxido nítrico (N
2
O) prendem o calor
na atmosfera, impedindo que toda a radiação da superfície terrestre retorne ao
espaço. Esse é um efeito estufa natural, sem o qual a superfície da Terra seria
cerca de 30 °C mais fria do que é atualmente.
Durante o curso da civilização, o homem foi, antes de tudo, um explorador
do meio ambiente, retirando da natureza tudo de que precisava para sua
subsistência: alimentos, medicamentos, material para confeccionar vestimentas e
fazer abrigos para se proteger ou, ainda, para produzir calor, preparar alimentos
ou para se locomover. Assim, por muitos séculos, o homem vem tomando da
natureza muito mais do que ela pode repor. Essa situação agravou-se muito a
partir da Revolução Industrial (fim do século XVIII e início do XIX). Com a
queima de madeira e carvão, para alimentar os fornos das fábricas e gerar energia
para o aquecimento e o funcionamento das máquinas, tiveram início as emissões
de gás carbônico em quantidades elevadas. Na seqüência, surgiram os motores a
explosão – utilizando derivados de petróleo, os combustíveis fósseis, também
prove​nientes de material orgânico –, que contribuíram ainda mais para elevar os
índices atmosféricos de CO
2
 e dos outros gases do efeito estufa (GEE).
Conseqüentemente, o efeito estufa natural, que é benigno e proporcionou o
aparecimento das inúmeras formas de vida na Terra, vem se intensificando,
resultando em um aquecimento adicional da superfície e da atmosfera da Terra.
O aquecimento global está gerando mudanças climáticas, com velocidade e
violência muito superiores às previstas pelos cientistas.
Em 1972, a preocupação mundial em relação ao meio ambiente levou
representantes de vários países a Estocolmo, na Suécia, para discutirem o
assunto. Esse tema deixou então de ser preocupação exclusiva dos cientistas para
entrar na agenda dos governantes. Para tentar evitar que o aumento adicional das
emissões dos gases de efeito estufa pelos homens viesse a colocar em risco a
sobrevivência do planeta, foi criado em 1988, no âmbito da Organização das
Nações Unidas (ONU), o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima,
conhecido como IPCC, sua sigla em inglês. A cada cinco anos, é avaliado o
conhecimento humano sobre as mudanças climáticasprovocadas pelo aumento
dos GEE na atmosfera em conseqüência das ações do homem. Na última
reunião, em fevereiro de 2007, em Paris, o quadro apresentado foi bastante
pessimista. Nos últimos cem anos, a elevação de 0,74 °C (portanto, menos de 1
°C) provocou diversos desequilíbrios no sistema climático da Terra, como
furacões com intensidade muito alta (lembram-se do Katrina, em Nova
Orleans?), ondas de calor no hemisfério norte, secas prolongadas na Ásia,
monções enfraquecidas e plantas que florescem fora de época. O aquecimento
anormal também vem causando o degelo dos lençóis glaciais e a redução das
áreas cobertas por neve, nas montanhas Rochosas, nos Alpes, nos Andes, no
Himalaia. Prevê-se que o nível do mar será elevado de 15 a 90 cm até 2100, para
quando se estima um aquecimento da ordem de 3 °C, com o desaparecimento de
ilhas e cidades litorâneas.
Encontros de que participam cientistas, gover​nantes e representantes da
sociedade civil organizada têm acontecido com certa periodicidade, em razão da
gravidade do cenário que se vislumbra para a humanidade. Finalmente se
percebeu que o meio ambiente é uma questão a ser tratada política e
cientificamente, e com o envolvimento de toda a sociedade. Em 1992, durante a
reunião da “Cúpula da Terra”, realizada no Brasil, também conhecida como
Rio-92 ou Eco-92, foi assinada a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças do Clima, tratado ratificado por mais de 170 países ou partes. Essa
convenção estabeleceu que os países desenvolvidos deveriam liderar o combate ao
aquecimento global e reduzir suas emissões de GEE aos níveis anteriores a 1990.
No entanto, a primeira conferência dos países que fazem parte da Convenção
Quadro, realizada em Berlim, em 1995, concluiu que os compromissos definidos
para os países desenvolvidos eram inadequados. Durante os dois anos seguintes,
foi discutido um protocolo que definisse novos compromissos legais para ações a
serem implantadas na primeira década do século XXI, com responsabilidades
mais severas para os países desenvolvidos. Esse protocolo culminou na Terceira
Conferência das Partes, em 1997, em Kyoto, no Japão, quando foi assinado o
famoso Protocolo de Kyoto. Os países que o assinaram assumiram o
compromisso de reduzir, até 2008-2010, as emissões de GEE em pelo menos
5% em relação aos índices de 1990. A grande discussão, entre ambien ​talistas,
cientistas e governos, é que emissores importantes de GEE, como os Estados
Unidos da América, não assinaram esse acordo, principalmente devido a fatores
de ordem econômica. Na verdade, em vez de apontar soluções, o Protocolo de
Kyoto acabou por gerar apenas debates, impasses e negociações, pois seu
cumprimento envolve questões políticas, econômicas, culturais, sociais,
tecnológicas e ambientais. Até hoje ele não foi ratificado, apesar dos esforços e da
pressão de alguns governos e de muitos cientistas e ambientalistas.
Mas qual a relação dessas questões com as plantas? Desde o início do século
XVII, sabe-se que as plantas, na presença de luz e a partir da retirada de água do
solo pelas raízes e de CO
2
 da atmosfera, produzem carboidratos, como a glicose
e a sacarose, que são substâncias ricas em energia. A energia liberada pela quebra
das moléculas dos açúcares é usada para o crescimento das plantas e para outros
processos do seu metabolismo. A transformação da energia luminosa em energia
química, pelas plantas, é chamada fotossíntese. Foi a fotossíntese que permitiu o
início e o desenvolvimento das diferentes formas de vida superior na Terra, pois,
nesse processo, as plantas liberam oxigênio para a atmosfera. Todos os seres vivos
que respiram ​oxigênio dependem das plantas para sua sobre​vivência. ​ Foi prevista
no Protocolo de Kyoto a possibilidade de as plantas absorverem, através da
fotossíntese, parte do CO
2
 gerado pelas atividades antrópicas, o que poderia
mitigar os efeitos de alteração no clima, sem afetar substancialmente o modelo
de desenvolvimento nas regiões mais industrializadas. Assim, haveria um
incentivo para o reflorestamento e a conservação da vegetação natural​ nos países
em desenvolvimento, que são aqueles que detêm as maiores áreas naturais de
vege​tação. Após séculos de derrubada de árvores, a humanidade descobriu que é
melhor plantá-las. No entanto, isso não será suficiente para salvar a Terra.
Mudanças de atitude e no padrão de vida das populações terão que ocorrer.
É no bojo dessas questões que se inserem a conservação e o uso sustentável
dos recursos naturais. Diversas organizações têm tido uma atuação forte em
temas como a conservação da diversidade biológica e da sustentabilidade dos
ecossistemas naturais. Uma delas é a IUCN (sigla em inglês da União Mundial
para a Natureza), que agrega, em redes, instituições governamentais e não-
governamentais, cientistas e especialistas em conservação para estabelecer
prioridades, estratégias de conservação e monitoramento dos ecossistemas e das
espécies ameaçadas em todo o mundo. A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas,
organizada anualmente pela IUCN, contou em 2007 com quase duzentas
espécies de animais e plantas a mais do que na lista anterior. Os cálculos são
alarmantes: um em cada quatro mamíferos, uma em cada oito aves, um terço dos
anfíbios e 70% das plantas já catalogadas estão em risco. A conservação da
biodiversidade é, portanto, um tema que deve ser tratado em escala mundial.
Uma das atividades específicas da IUCN é o Programa de Conservação de
Plantas, do qual faz parte a Estratégia de Conservação em Jardins Botânicos,
conhecida pela sigla BGCS.
Em 1989, o BGCS desligou-se da IUCN e passou a ser conhecido por
BGCI (Botanical Gardens Conservation International). Essa entidade é
legalmente registrada no Reino Unido e tem o príncipe Charles, herdeiro da
coroa, como seu real patrono. A independência do BGCI permitiu à entidade
atuar​ com mais autonomia e determinação em algumas questões relativas aos
jardins botânicos, receber doações e apoios específicos, como o que é dado pelos
jardins botânicos de Kew e de Edimburgo. O escritório central do BGCI é em
Kew, com representações nacionais nos Estados Unidos e na Rússia e escritórios
regionais na China, Colômbia, Indonésia, Holanda e Espanha. O BGCI atua
através de um sistema de redes de jardins botânicos que compartilham
informações e notícias sobre as diversas atividades que desenvolvem, sempre
tendo como objetivos a conservação da diversidade das plantas e a educação.
Para o BGCI, isso só será conseguido se houver fortalecimento institucional em
cada um e em todos os jardins botânicos. É para atingir essa meta que publica
manuais técnicos e guias sobre implementação de políticas para jardins botânicos
e seu papel, reintrodução de plantas na natureza, conservação ex situ , educação
ambiental, sustentabilidade, programas de computação para o registro de
espécimes e coleções, planos de ação para a conservação da diversidade biológica
e comercialização de espécies de animais e vegetais em perigo de extinção. Para
agilizar o contato e a troca de experiências entre os profis​sionais que atuam em
jardins botânicos, o BGCI promove uma reunião internacional sobre
conservação em jardins botânicos a cada três anos. Essas ações do BGCI geraram
uma grande reação mundial em cadeia, que resultou na criação de redes
nacionais e regionais de jardins botânicos atuando sob a égide da instituição-
mãe, em Kew. Os bancos de dados do BGCI listam cerca de 10 mil espécies
raras ou ameaçadas de extinção, mantidas em cultivo em jardins botânicos.
Portanto, hoje em dia, todos os jardins botânicos devem seguir determinadas
regras e obedecer a padrões para serem considerados como tais, sendo o ponto
principal ter uma atuação eficaz na conservação de plantas. Nesse processo, seu
papel é principalmente o de preservar a diversidade genética e auxiliar o uso
sustentável das espécies de plantas e dos ecossistemas em que elas ocorrem.
Por que isso é importante? Há váriosmotivos. O reconhecimento do valor
da diversidade biológica para esta e para as futuras gerações é valorizado por
todos, apesar de os homens viverem há séculos muito além da capacidade da
Terra. Estima-se que cerca de 60 mil espécies de plantas estejam ameaçadas de
extinção e possam desaparecer nas próximas décadas porque os ambientes em
que vivem estão sendo destruídos, sobretudo nos trópicos. O extrativismo de
plantas usadas para vá​rios fins, como ornamentais e medicinais, ou mesmo para
construção de abrigos para pessoas de baixa renda, está esgotando as populações
naturais dessas plantas. Do grande número de espécies das plantas que produzem
flores (estima-se esse número ao redor de 300 mil), o homem utiliza em sua
alimentação apenas cerca de vinte espécies vegetais para suprir 85% de sua
alimentação. Assim, alimentos básicos de muitas populações, como o arroz, o
trigo, o milho e a mandioca, já passaram por inúmeros processos de seleção e
melhoramento genético, o que praticamente esgotou a capacidade de se
modificar essas plantas. Em contraponto, há milhares de espécies ainda
desconhecidas da ciência, seja pelas suas características botânicas básicas, seja por
sua utilidade potencial para o homem como alimento, como medicinal, como
combustível ou qualquer outro emprego. O grande papel dos jardins botânicos,
hoje, é integrar ações de desenvolvimento e de conservação, de modo a garantir a
conservação dos ecossistemas simultaneamente à sua sustentabilidade.
Um jardim é uma paisagem construída. Mas um jardim botânico difere
muito de um jardim clássico ou comum, de um parque ou de um jardim público
como, por exemplo, o Jardim da Aclimação e o Parque do Ibirapuera em São
Paulo, o Jardim de Alá no Rio de Janeiro, o Central Park em Nova York ou o
Hyde Park em Londres. Jardins públicos, praças e parques, sejam eles públicos
ou privados, são, em sua essência, jardins com plantas dispostas de forma
harmônica e refletem, no seu planejamento, conceitos estéticos da época em que
se formaram, geralmente seguindo modismos. ​Países com grande tradição
horticultural, como a Grã-Bretanha ou a Itália, possuem centenas de jardins​ –
com estilos variados, contendo espécimes interessantíssimos, às vezes plantas
raras, cuidadosamente mantidos – que não são considerados jardins botânicos.
Um jardim botânico se distingue de um jardim clássico por suas coleções e
exposição de plantas vivas, raras ou comuns, corretamente identificadas. Deve
possuir uma coleção documentada de plantas arbóreas e herbáceas que permita a
realização de ensino e pesquisas científicas. A disposição das plantas em um
jardim botânico tem um planejamento, geralmente seguindo uma seqüência
evolutiva, ou por origem geográfica, ou ainda por suas funções e usos específicos.
Quando essa coleção é constituída primordialmente por plantas lenhosas, ou
seja, por árvores, pode receber o nome de arboreto. O conceito atual de jardim
botânico inclui arboretos e outras formas especializadas de coleções de plantas.
Todos serão chamados aqui de jardins botânicos.
Afinal, o que é um jardim botânico? Essa definição é uma questão ainda
aberta, amplamente discutida. De modo geral, jardins botânicos são instituições
públicas ou privadas, ligadas ou não a universidades, criadas para manter
atividades de ensino e pesquisa e oferecer oportunidades de educação e lazer. A
história dessas instituições e a evolução de seu conceito refletem a trajetória da
própria humanidade. Criados inicialmente para abrigar plantas que pudessem
curar doenças, tornaram-se espaços que detinham o conhecimento e os avanços
científicos de cada época. Foram muito importantes no período da expansão
geográfica imperialista e à época dos grandes descobrimentos, por receberem
amostras das plantas trazidas das terras recém-descobertas no Novo Mundo, na
África e na Ásia. Atualmente, são considerados locais essenciais para a
conservação da diversidade vegetal. Por ser a Europa o berço da civilização
ocidental e de onde partiram os grandes navegantes, explica-se por que a maioria
dos jardins botânicos está localizada nesse continente, apesar da maior
diversidade de plantas ocorrer principalmente nos trópicos. Assim como as
plantas, jardins botânicos também apresentam uma grande diversidade entre si,
por suas diferentes origens e finalidades.
O conceito atual mais aceito é o de Peter S. Wyse Jackson, que foi
secretário-geral do BGCI por vários anos e talvez seja o maior responsável pelo
papel atual dos jardins botânicos na conservação da biodiversidade vegetal.
Segundo ele, jardins botânicos são “instituições que guardam coleções
documentadas de plantas vivas, visando à pesquisa científica, à conservação, à
exibição e à educação”.[1] Essa definição, apesar de bem restritiva, reflete com
precisão o significado verdadeiro dos jardins botânicos. São reconhecidos cerca
de 2.500 jardins botânicos, espalhados por quase 150 países. Aproximadamente
60% deles estão localizados nas regiões temperadas da América do Norte,
Europa e nos países que pertenciam à antiga União Soviética. Paradoxalmente, a
América do Sul, a África e o Sudeste Asiático, regiões que detêm grande
biodiversidade e alto grau de endemismo, apresentam pequeno número de
jardins botânicos. Endemismo é um termo da biologia usado quando a
distribuição de um organismo é restrita, ou seja, o organismo é encontrado de
forma natural exclusivamente em um determinado local, que pode ser o pico de
uma montanha, um lago, uma região, uma ilha, um continente. Alguns
exemplos de endemismo seriam: certas aves e iguanas das ilhas Galápagos, as
sequóias gigantes (Sequoia​dendron giganteum), só encontradas na região de serra
Nevada, na Califórnia, Estados Unidos; a maior parte da flora da ilha de
Madagascar (cerca de 80% das espécies). Acima de 10% da flora (165 espécies)
dos arquipélagos da Madeira e das Selvagens é endêmica. Além de espécies,
gêneros e mais raramente famílias, subespécies e variedades também podem ser
endêmicas.
Mas há vários jardins botânicos em construção, como o primeiro jardim
botânico de Aman, na Jordânia, que será um dos maiores do mundo e abrigará
exemplares da flora silvestre das regiões desérticas do país, além de jardins
temáticos, como o de plantas medicinais e um típico jardim islâmico.
Dados atuais indicam que são mantidos representantes de mais de 80 mil
espécies em jardins botânicos, portanto quase um terço das espécies estimadas de
plantas vasculares. Muitas dessas espécies são mantidas em coleções, com
curadores próprios, sendo os grupos mais representados os de orquídeas, cactos e
outras suculentas, palmeiras e plantas bulbosas. Espécies silvestres, em particular
as ameaçadas, diversos tipos de pinheiros, plantas frutíferas, medicinais, as usadas
como condimentos e espécies cultivadas por sua importância econômica,
também figuram nas coleções. Associadas às coleções vivas de plantas, os jardins
botânicos mantêm outras coleções importantes e valiosas, como bancos de
sementes e herbários.
Como diz o nome, os bancos de sementes guardam representantes das
sementes produzidas pelas plantas que crescem no jardim botânico ou que foram
coletadas em áreas de interesse e que poderão ser incorporadas às coleções de
plantas já existentes no próprio jardim. Com a necessidade de conservação de
espécies, os bancos de sementes passaram a ter uma importância vital, pois neles
podem ser armazenados milhares de sementes de uma única espécie por períodos
muito longos, desde que sejam fornecidas as condições de umidade e
temperatura que garantam a sua longevidade. Potencialmente, cada semente
pode originar uma nova planta e, como as sementes trazem consigo a
variabilidade genética das populações de onde foram colhidas, a diversidade
genética da espécie é preservada nos bancos de sementes. Mantidas em
embalagens especiais dentro de gavetas ou em câmaras frias, ocupam menos
espaço físico do que as plantas que originam, além de exigirem menoscuidados
diários. Todas essas características fazem as sementes serem um material
excelente para a conservação de espécies. Os diferentes lotes de cole​tas de
sementes são devidamente catalogados e contêm o nome da espécie, o coletor, o
local de coleta, preferencialmente georreferenciado (dados de latitude e
longitude, determinados por GPS), e outras informações que possam ser
relevantes para sua conservação. Periodicamente é verificado o esta​do
fitossanitário das amostras e são realizados testes para monitorar a qualidade
fisiológica das sementes.​
Algumas das sementes preservadas em bancos podem ser doadas ou trocadas
por outras, entre os diferentes jardins botânicos, de modo a ampliar o número de
indivíduos de uma determinada espécie de planta, disseminando-o por todo o
mundo. Para facilitar a divulgação das sementes disponíveis, cada jardim
botânico publica periodicamente seu Index Seminum, um tipo de catálogo das
sementes disponíveis para intercâmbio. Em geral, os bancos de sementes de
jardins botânicos contêm amostras de sementes de espécies silvestres, uma vez
que outras instituições mantêm bancos de sementes de espécies de interesse
econômico, como arroz, trigo, milho, soja. Exemplos desses bancos seriam
aqueles mantidos pela FAO (sigla em inglês da Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação) em diversos países, onde são preservadas
sementes de cultivares e de espécies selvagens das plantas cultivadas mais
importantes para a alimentação humana ou animal. No Brasil, a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mantém, através do Centro de
Recursos Genéticos (Cenargen), bancos de sementes de espécies de interesse
variado, como as oleaginosas, as frutíferas e as medicinais.
O banco de sementes de espécies silvestres mais importantes é o do Jardim
Botânico de Kew, no Reino Unido, conhecido como Banco de Sementes do
Milênio. Projetado inicialmente para armazenar sementes de espécies nativas do
Reino Unido, muitas das quais estavam em rápido processo de extinção, passou a
abrigar sementes do Sudeste Asiático e de regiões semi-áridas, como África e
Oriente Médio. Em seus laboratórios são realizados estudos sobre todos os
aspectos envolvidos na conservação de sementes, as quais são disponi​bilizadas
para pesquisas científicas e reintrodução na natureza. O Banco de Sementes do
Milênio é aberto a cientistas de outros países e dá asses​soramento para a
instalação de bancos de sementes. Nos anos mais recentes, o conceito de banco
de sementes estendeu-se para outras formas de unidades de dispersão das plantas,
como os esporos das samambaias, seguindo os mesmos princípios de conservação
e distribuição entre jardins botânicos.
No século XVIII e na maior parte do século XIX, a ciência botânica foi
dominada pela taxonomia, ou seja, grande importância foi dada para a
classificação e a identificação das plantas. Os jardins botânicos passaram a ser
valorizados por seus herbários e bibliotecas, depois por seus laboratórios, em
detrimento das coleções de plantas vivas mantidas nos jardins. Os herbários são
coleções organizadas de plantas secas – devidamente identi​ficadas por
especialistas –, essenciais para a pesquisa científica. Sempre que um cientista faz
uma pesquisa com plantas, o material vegetal utilizado precisa estar corretamente
identificado. Os her​bários abrigam excelente material de referência e para
estudos científicos.
As amostras de plantas, contendo principalmente flores e/ou frutos, que são
os órgãos em que se baseia a classificação botânica de uma espécie, são secas,
preparadas por técnicas especiais e depois costuradas em cartolina. Nesta, são
colocadas outras informações relevantes, como local e data da coleta, observações
sobre a planta (se é árvore, arbusto, erva ou trepadeira, altura, cor das flores e
frutos, tipo de ambiente em que cresce, nomes populares, usos da planta), nome
do coletor e o nome científico. As folhas de cartolina contendo as plantas secas
são envolvidas por papel e guardadas em armários de aço, de acordo com os
agrupamentos vegetais. Amostras de madeira também fazem parte de um
herbário e, nesse caso, são mantidas em caixas de papelão. Frutos e alguns tipos
de sementes são preservados em líquidos. Praticamente todos os grupos de
plantas podem ser preservados dessa forma.
Cada material depositado em um herbário recebe um número. Há livros de
registros nos herbários com as informações sobre cada material depositado e seu
coletor. A observação desses materiais permite obter informações sobre a planta:
o formato e o tamanho das folhas, como elas se inserem no caule da planta, o
número e a disposição das pétalas das flores, a ocorrência de pêlos ou espinhos e
muitas outras características que permitem aos especialistas dar um nome a cada
espécie existente, diferenciando-a das demais.
As coleções dos herbários fornecem informações importantes sobre a flora de
uma determinada área. Por comparação da quantidade e de quais espécies são
coletadas em diferentes épocas, auxiliam o monitoramento e a avaliação da
degradação dos ambientes, bem como o conhecimento e a reconstituição do
clima de uma região. Materiais depositados em herbários são enviados a
especialistas para serem estudados e as duplicatas podem ser doadas a outras
instituições. Atualmente, para facilitar a consulta e o trabalho dos botânicos, o
material depositado nos herbários é digitalizado e disponibilizado on-line. Dessa
forma, um botânico de qualquer parte do mundo poderá consultar um
determinado material da coleção de um herbário, sem precisar se deslocar até lá.
É interessante mencionar que nas coleções dos herbários europeus há muito
material de referência de espécies brasileiras, em decorrência das coletas feitas
durante as expedições promovidas pelos jardins botânicos europeus nos séculos
XVIII e XIX.
Existe um conjunto de características e atividades que definem o que é um
jardim botânico. Vamos a elas:
Possuir um grau razoável de estabilidade.
Manter a coleção de plantas identificadas adequadamente por seus nomes,
em placas visíveis, com informações sobre a origem e o habitat silvestre da
espécie.
Assumir compromissos e responsabilidades de longa duração para com a
manutenção das coleções de plantas.
Ser aberto ao público.
Manter nos seus herbários programas de pesquisa, principalmente em
taxonomia.
Desenvolver atividades de educação am​biental e de extensão voltadas à
conservação para escolas e para o público visitante.​
Promover o intercâmbio de sementes e de material botânico com outros
jardins botânicos e centros de pesquisa.
Estabelecer uma base científica consistente para as coleções.
Monitorar as plantas nas coleções abertas ao público.
Assegurar a conservação in situ das espécies, por meio de estudos da
biodiversidade e do uso sustentável dos recursos vegetais.
Permitir o acesso de pesquisadores às coleções científicas.
Promover o enriquecimento contínuo das coleções e dos bancos de
sementes.
Participar da formação de recursos humanos em horticultura, paisagismo e
botânica.​
Promover a missão turística do jardim.
Fornecer ao público informações sobre plantas em geral e sua importância
para o homem.
Participar do intercâmbio mundial dos jardins botânicos, por meio de
publicações e trocas de informações on-line.
Nem todos os jardins botânicos possuem todas essas características. Mesmo
assim, continuam sendo considerados como tal e vêm se reformulando para
atender, se não a todos, pelo menos à maioria desses critérios gerais e às normas
internacionais para conservação da biodiversidade. Além disso, se, por um lado,
existem jardins botânicos com excelente infra-estrutura e grande número de
funcionários e de atividades, por outro, há jardins com áreas modestas e poucos
recursos.Os jardins botânicos, por suas principais características e finalidades
específicas, podem ser de vários tipos. No entanto, em um mesmo jardim
botânico, suas coleções de plantas específicaspodem configurar um grande
mosaico de tipos de jardins. Por exemplo, o Jardim Botânico de Kew possui
coleções de plantas ornamentais, de plantas tropicais e de plantas alpinas, entre
outras, e nem por isso pode ser considerado um jardim ornamental, alpino ou
temático.
Alguns tipos de jardins botânicos são:
Jardins históricos: remontam aos antigos jardins criados para o ensino da
medicina, os jardins de ervas medicinais. Alguns mantiveram seus
princípios e propósitos religiosos, pois tiveram início em mosteiros. São de
grande importância para a conservação e as pesquisas da flora medicinal e
da conscientização do público sobre o uso das plantas para esses fins. Os
primeiros jardins de ervas medicinais apareceram na Itália, no século XVI,
sendo o primeiro o de Pisa (1543). Após este, outros foram surgindo na
Itália e em outros países europeus. Muitos desses jardins existem até hoje,
alguns continuando em seus locais de origem. As propriedades das ervas
medicinais cultivadas eram conhecidas graças às descrições contidas nos
livros dos antigos herboristas, copilados e revisados por cerca de 1.500 anos,
a partir da publicação do clássico tratado De materia medica, de autoria de
Dioscórides, no primeiro século da era cristã. Outras plantas, cujas
propriedades e uso medicinal eram pouco conhecidos, foram introduzidas
nesses jardins e estudadas. Assim, teve origem a prática legítima de se
manter nos jardins botânicos um número sempre crescente de espécies para
serem estudadas. Muitos jardins botânicos europeus tinham esse modelo
em sua origem e foram mudando suas funções à medida que se
desenvolviam. O Jardim Botânico de Pádua (1545) foi recentemente
incluído pela Unesco na lista dos Centros Mundiais de Patrimônio da
Humanidade, por constituir um exemplo raro no campo da cultura
botânica durante quase quinhentos anos de atividade, influenciando muito
o conhecimento. Ele é considerado o berço da ciência botânica, do
intercâmbio científico e do conhecimento das relações entre natureza e
cultura, tendo contri​buído para o desenvolvimento de várias ​ciências
modernas, especialmente os estudos de botânica, medicina, química,
ecologia e far​mácia.
Jardins ornamentais: de grande beleza estética, abrigam coleções diversas e
bem documentadas de plantas. Podem ou não desenvolver programas de
pesquisa, educação e conservação. Muitas vezes, pertencem a particulares ou
constituem um truste. Muitos jardins municipais entram nessa categoria.
Jardins de conservação: são jardins criados mais recentemente para atender
às necessidades locais de conservação de plantas. Além das coleções de
plantas cultivadas, têm áreas com vegetação nativa. Nesta categoria estão os
jardins de plantas nativas, os que cultivam as plantas que ocorrem na sua
circunvizinhança ou as da flora nacional. Um bom exemplo é o Jardim
Botânico de Brasília (JBB), também conhecido como o Jardim do Cerrado.
A flora do cerrado é, hoje em dia, uma das mais ameaçadas pela rápida
substituição das áreas naturais por centros​ urbanos e projetos agropecuários.
O JBB é uma vasta área natural, com mais de 45.000.000 m², em que a
vegetação e a fauna típicas do cerrado são preservadas. Cerca de um décimo
da área está aberto à visitação pública. Na área de visitação, destacam-se o
Modelo Filogenético, uma coleção de plantas organizada segundo a
evolução dos principais grupos de plantas, o Jardim de Cheiros e o Horto
Medicinal do Cerrado. O JBB, por meio de um convênio de cooperação
técnica com o Cenargen, mantém uma coleção de plantas ornamentais e
medicinais do cerrado. Dentre as primeiras, destacam-se orquídeas,
bromélias e aráceas, pela sua beleza e potencial comercial. Com relação às
medicinais, dez espécies foram consideradas prioritárias para estudos de
conservação. Dentre estas, a catuaba (Anemopaegma arvense), o faveiro
(Dimorphandra mollis) e o barbatimão (Stryphnodendron adstringens).
Jardins universitários: ligados a universidades, mantêm coleções de plantas
para demonstração em atividades de ensino e pesquisa.
Jardins zoobotânicos: oferecem informações extremamente interessantes
para o público, por combinar dados sobre a flora e a fauna e suas inter-
relações, como o fornecimento de alimento e de habitats específicos para os
animais, a participação de alguns tipos de animais na fecundação das flores
e na dispersão de sementes. Realizam pesquisas em botânica e zoologia,
possuindo, portanto, herbários e coleções de animais.
Jardins agrobotânicos e coleções de germo​plasma: apresentam coleções de
plantas com valor ou potencial econômico para agricultura. São ligados a
centros ou estações experimentais, institutos agrícolas ou de silvicultura.
Em geral, não são abertos ao público.
Jardins de horticultura: muitas vezes perten​centes a fundações privadas ou
sociedades horticul​turais, dedicam-se à educação pública e fornecem cursos
de treinamento e de formação de jardineiros profissionais que envolvem a
propagação de plantas, a conservação de plantas ornamentais, podas,
cuidados fitossa​ni​tários, adubação. Muitos jardins botânicos dos Estados
Unidos enquadram-se nesta categoria. São jardins recentes, criados no
século XX.
Jardins alpinos ou monteses: localizam-se nas regiões montanhosas da
Europa e de alguns países tropicais, e apresentam exemplares de plantas
típicos da flora dessas regiões. Mais comumente, são encontradas amostras
da flora alpina ou montesa, como em uma das grandes estufas no Jardim
Botânico de Kew. As flores de muitas plantas alpinas têm cores vibrantes,
essenciais para atrair seus polinizadores, em geral escassos nas altitudes
elevadas. Folhas com pigmentos vermelhos também são vistas com
freqüência, pois esses pigmentos conferem proteção contra a radiação
ultravioleta, além de auxiliarem as plantas a manter a temperatura alguns
graus mais elevada em relação à temperatura do ar. Outra adaptação
interessante nas plantas de montanhas é a presença de pêlos densos nas
folhas, que ajudam a reter à noite o calor absorvido durante o dia. Ali
podem ser vistos, por exemplo, exemplares de edelvais, ou edelweiss
(Leontopodium alpinum), a flor nacio​nal da Áustria e da Suíça, hoje difícil
de ser encontrada nos Alpes.
o Jardins temáticos: são especializados no cultivo de plantas relacionadas
filogenetica​mente ou com características semelhantes ou, ainda, de plantas
cultivadas para exem​plificar um tema particular. Incluem jardins de
orquídeas, palmeiras, rosas, suculentas, medicinais, plantas carnívoras,
aquáticas, jardins de sentidos, jardins de borboletas, bonsais, de topiaria,
etc. Os jardins botânicos mexicanos têm como prioridade a conservação da
flora de seu país, dividindo entre si essa responsabilidade. Assim, um desses
jardins conserva a flora de cactos e suculentas; em outro, a coleção é de
orquídeas, enquanto, em outro, as plantas da família dos agaves é que são
conservadas.
Jardins comunitários: são de pequeno porte e recursos limitados,
desenvolvidos por e para pequenas comunidades locais, para atender neces​-
sidades particulares, como recreação, educa​ção, treinamento de horticultura
e cultivo de plantas​ medicinais e outras de interesse econômico.
Jardins clássicos de múltiplos fins: são instituições com vasta diversidade de
funções e atividades em horticultura, pesquisas diversas, mas especialmente
em taxonomia, possuem herbá​rios agregados e laboratórios bem montados,
desenvolvem programas de educação para diferentes tipos de público e têm
atividades de lazer. São, geralmente, mantidos pelo governo. Nessa
categoria enquadram-se os grandes jardins botânicos da atualidade, como os
de Kew, Nova York, Edimburgo, Missouri, Paris, Genebra e Madri, bem
como alguns da Ásia e da Austrália.
A identificação de jardins botânicos com a taxonomia persiste até os dias
atuais, sobretudo quando as coleções depositadas em herbários têm importância
internacional. Como conseqüência, muitos taxonomistas de renome tornaram-se
diretores dessas instituições,mas, por terem seu interesse mais voltado para a
ciência, chegaram a negligenciar aspectos como a manutenção física do jardim e
a administração das coleções vivas.
No contexto da Agenda Internacional para Jardins Botânicos na
Conservação, o órgão interna​cional que fornece as políticas, programas e
prioridades para todos os jardins botânicos existentes, a expressão “jardim
botânico” inclui arboretos e outros tipos de coleções de plantas.
A maioria dos jardins botânicos encontra-se na América do Norte e na
Europa, sendo o de Kew, na Inglaterra, e o de Nova York, nos Estados Unidos,
os mais importantes do mundo.
Jardim Botânico de Kew
Royal Botanic Gardens
Kew
Richmond, Surrey,
TW9 3AB United Kingdom
Telefone: 020 8332 5655
http://www.rbgkew.org.uk
info@kew.org
http://www.rbgkew.org.uk
mailto:info@kew.org
O Jardim Botânico de Kew, além de ser o maior, ​ é considerado o melhor e,
por isso, o mais importante jardim botânico da época atual. Sua origem está
intimamente ligada à realeza, à semelhança do Jardin des Plantes em Paris, mas
de forma diferente. Enquanto este último foi criado por decreto real para fins
científicos, os primeiros jardins em Kew foram utilizados durante quase dois
séculos como lugar de veraneio dos membros da família real inglesa e para o lazer
dos ricos proprietários de terras da redondeza.
A história do Jardim Botânico de Kew remonta aos séculos XVI e XVII. O
rei Henrique VII construiu o Palácio de Richmond, próximo ao local onde
posteriormente o jardim botânico foi implantado. O palácio era usado por toda
a corte durante o verão. Sua localização, às margens do rio Tâmisa, era muito
conveniente, pois permitia ao rei e seus cortesãos chegarem rapidamente e com
mais conforto a Londres, navegando pelo rio, em vez de utilizarem as estradas. A
presença da corte levou vários nobres influentes a se mudar para lá, de modo que
a pequena vila de Kew, próxima ao palácio, cresceu rapidamente nos cem anos
seguintes. Data dessa época o Palácio de Kew – construído em 1631 por artesãos
holandeses e, por isso, também conhecido como Dutch House –, que ainda hoje
pode ser visto na área do jardim botânico. No entanto, a maior parte da área
ajardinada, hoje visitada pelo público, só foi formada mais recentemente.
No início do século XVIII, Carolina de Anspach, mulher do rei George II e
entusiasta da jardinagem, dedicou-se a desenvolver os jardins de Richmond
Lodge, sua residência de campo em Kew. Mas foram seu filho Frederico e a
esposa deste, Augusta, príncipe e princesa de Gales e jardineiros dedicados, que
iniciaram o que hoje se conhece como o Jardim Botânico de Kew. Em 1759, a
princesa Augusta reservou 35.000 m² de suas terras para fazer um jardim
botânico. Seu amigo John Stuart, conde de Bute, que estudara botânica no
Jardim Botânico de Leiden, Holanda, na mesma época em que Lineu ali
trabalhava, passou a atuar como seu assessor de botânica e sir William
Chambers, um arquiteto, desenhou várias edificações para o jardim botânico e as
áreas de lazer que o circundavam. ​
Bute também era paisagista e trouxe novas plantas para o jardim, além de
aumentar o número de jardineiros que ali trabalhavam. Com o falecimento do
marido, Augusta herdou Kew e concretizou os planos de ali formar um jardim
exótico. Por outro lado, Bute foi nomeado tutor do futuro rei George III. Bute
deu início, então, à coleção botânica, que deveria conter plantas do mundo todo.
Algumas árvores plantadas nessa época sobreviveram até nossos dias, como uma
ginco que data de 1762. Também sobreviveram algumas edificações dessa época,
como três pequenos templos, onde as pessoas se sentavam para apreciar o jardim,
o Pagode Chinês, com seus dez andares, e o Arco em Ruína, uma imitação de
uma ruína romana. Com a morte de Augusta, em 1772, George III herdou o
jardim de Kew e incorporou a este as terras de seu avô em Richmond,
aumentando significativamente sua área. É por isso que o Jardim​ Botânico de
Kew é conhecido como Kew Gardens, no plural.
Sir Joseph Banks, um rico proprietário de terras, aventureiro e apreciador de
plantas, passou a ser o diretor extra-oficial de Kew, orientando o
desenvolvimento do jardim e recrutando coletores de plantas para viajar pelo
mundo à procura de novas espécies. Foi ele quem organizou o transporte por
navio de plantas de Artocarpus altilis, a planta que produz a fruta-pão, do Taiti
para as Índias Ocidentais, onde seriam cultivadas para alimento dos escravos. O
nome da espécie Strelitzia reginae foi dado por Banks em homenagem à esposa
de George III, a rainha Sofia Carlota, nascida duquesa de Mecklenburg-Strelitz.
Em 1784, William Aiton, responsável pelas primeiras coleções de plantas do
jardim, tornou-se jardineiro-chefe de Kew. Durante a primeira metade do século
XIX, muitos tipos de plantas foram trazidas de navio para Kew ou saíram de lá
para outras regiões, embaladas em caixas especiais de madeira para sobreviver às
longas viagens marítimas. Com as mortes de George III e de Banks, ambas
ocorridas em 1820, o jardim sofreu um período de declínio e passou aos
cuidados da nação. Em 1841, sir William Hooker, seu primeiro diretor, deu
uma orientação científica ao Jardim Botânico de Kew, com a criação do
herbário, da biblioteca e do Museu de Botânica Econômica para darem
informações sobre plantas ao grande público. São dessa época a construção da
Estufa de Palmeiras (Palm House) e o início da edificação da Estufa Temperada
(Temperate House). Sir William foi seguido na direção de Kew por seu filho
Joseph, e este por seu genro, sir William Thistleton Dyer. O Laboratório Jodrell,
onde hoje se concentram as pesquisas sobre anatomia, fitoquímica e biologia
molecular de plantas, foi inaugurado em 1876, quando sir Joseph Hooker era
diretor. Esses primeiros diretores foram de extrema importância para firmar e
manter a vocação científica e educacional do Jardim Botânico de Kew, numa
época em que havia grande pressão política e popular para tornar a área um mero
parque de lazer ou um local para cultivar plantas de valor econômico.
Em 1896, foram contratadas as primeiras mulheres para a função de
jardineiras, que eram obrigadas a usar roupas discretas, para não provocar seus
colegas homens. A contratação de mulheres para serviços de jardinagem foi uma
decisão sábia, pois puderam substituir os homens que partiram para a Primeira
Guerra Mundial, garantindo a sobrevivência das plantas. Em 1941, uma porção
das terras de Kew foi usada para cultivo de plantas de interesse econômico, como
parte da campanha “Dig for Victory” [Cave pela Vitória], durante a Segunda
Guerra Mundial, para encorajar as pessoas a plantar seu próprio alimento. De
forma ​semelhante, as terras de Kew também foram utili​zadas para o plantio de
plantas medicinais para a produção de remédios que estavam em falta durante a
guerra.
Desde 1776, ainda no tempo do rei George III, o Jardim Botânico de Kew é
aberto à visitação pública. A parte localizada na área de Richmond era aberta ao
público aos domingos e a área de Kew, às quintas-feiras. Em 1865, o jardim era
aberto dia ​riamente, na parte da tarde. Os visitantes do jardim eram
principalmente moradores de Londres que faziam a viagem de trem ao campo,
numa região próxima e de fácil acesso, e passavam o dia todo entre as plantas do
jardim. Em 2007, recebeu cerca de 1.840.000 visitantes, não apenas britânicos,
mas gente de todas as partes do mundo. A meta para 2008 é atingir 2 milhões de
visitantes.
No Jardim Botânico de Kew há 39 edificações, incluindo três das maiores
estufas do mundo. Algumas dessas construções têm importância histórica,
científica ou para a conservação das espécies de plantas que abrigam. Em Kew,
existe tal entrosamento de diferentes atividades que se torna difícil separar a
finalidade principal de suas estruturas. Vamos destacar aquelas que nos parecem
mais relevantes em relação àqueles três aspectos: a Estufa de Palmeiras, a Estufa
Temperada e a Estufa da Princesa de Gales.A Estufa de Palmeiras foi construída entre 1844 e 1848 e marca o
ressurgimento do Jardim Botânico de Kew, depois de um período de declínio.
Sob a direção de sir William Hooker, o Jardim Botânico vinha apresentando um
grande desenvolvimento e necessitava de um chamariz para atrair mais visitantes.
A escolha recaiu na construção de uma estufa suficientemente alta para abrigar
plantas de grande porte, como as palmeiras. Em 1837, a rainha Vitória ascendera
ao trono britânico, ali permanecendo por mais de sessenta anos, um período de
grande expansão colonial e industrial. Com a perda das colônias em território
americano, os interesses comerciais da coroa britânica voltaram-se para a Índia, a
África e o Extremo Oriente. A prosperidade econômica da nação despertou
outras paixões em seus cidadãos, como um grande interesse pela natureza e, em
especial, pelas plantas de áreas tropicais, com as quais começavam a ter contato.
Foi a época da publicação dos trabalhos de Charles Darwin, um dentre muitos
que navegaram para regiões longínquas, coletando e trazendo exemplares
preservados de animais e plantas para serem incorporados às grandes coleções dos
museus e herbários. No projeto da Estufa de Palmeiras, foram contratados um
arquiteto paisagista, William Nesfield, e um arquiteto para elaborar o projeto,
Decimus Burton. Richard Turner, um irlandês com larga experiência em
trabalhos de ferro batido, auxiliou na elaboração do projeto. A estufa foi feita
com vigas finas de ferro, resistentes e capazes de agüentar o peso de um grande
vão livre sem a colocação de pilares internos para sustentar a cobertura, além de
permitir a passagem de mais luz para as plantas. A estrutura metálica foi
recoberta por grandes painéis de vidros curvos que receberam óxido de cobre
durante sua fabricação, ficando com uma cor esverdeada, prote ​gendo as plantas
dos efeitos da insolação direta durante o verão. Essa estufa tem uma área total de
2.174 m², com 20 m de altura na parte central, e era aquecida por caldeiras
localizadas sob a estufa. A fumaça gerada era canalizada e percorria cerca de 150
m até atingir uma chaminé, próxima a um dos portões de acesso ao jardim.
Trilhos subterrâneos levavam lenha à caldeira e traziam as cinzas produzidas.
Esse procedimento era necessário para manter as plantas aquecidas durante o
inverno, uma vez que a maioria delas era originária de climas tropicais. A estufa
foi construída ao lado de um espelho d’água, de modo a ficar refletida na água e
rapidamente tornou-se um ícone do Jardim Botânico de Kew.
As palmeiras atraíam muito interesse na época vitoriana e, em 1882, já havia
mais de quatrocentas espécies de palmeiras sendo cultivadas em Kew. Logo
outras plantas tropicais juntaram-se a elas, uma vez que, apesar do nome, essa
estufa foi concebida para abrigar várias espécies de plantas. Ainda hoje, pode-se
observar um exemplar de Encephalartos altensteinii, uma espécie do grupo das
cicas, coletado na África do Sul em 1775, que é a planta mais antiga da estufa.
Subindo por uma escada de ferro trabalhado, o visitante atinge uma
plataforma de metal e pode percorrer as laterais da Estufa de Palmeiras
observando as plantas de cima, como se estivesse a olhá-las a partir do dossel da
floresta. Dessa perspectiva, pode vislumbrar os três estratos típicos das florestas
tropicais: árvores com inúmeras trepadeiras, orquídeas, bromélias e outras
epífitas crescendo sobre seus troncos, arbustos e árvores de pequeno porte, e as
plantas herbáceas, adaptadas para crescer sob baixa intensidade luminosa. Para se
entender o impacto da vegetação dessa estufa para os britânicos, basta lembrar
que um hectare (10.000 m²) de floresta no sul da Inglaterra tem entre dez e
quinze espécies de plantas superiores, enquanto a mesma área numa floresta
tropical tem cerca de quatrocentas espécies!
Ao longo do tempo, essa estufa sofreu várias reformas, desde trocas de vidros
até do sistema de aquecimento, hoje a gás, com resultados bem mais eficientes
para a manutenção das plantas. Com a troca do sistema de aquecimento, o
espaço ocupado pelas caldeiras foi liberado e aproveitado para o cultivo de
plantas de costões rochosos, manguezais e brejos. Hoje em dia, podem ser vistas
na estufa plantas de diferentes origens: sul-africanas, das Américas do Sul e
Central, das ilhas do Pacífico, da Austrália e da Ásia, formando uma grande
amostra da flora tropical. Há mamoeiros, bananeiras (inclusive produzindo
frutos), várias espécies de coqueiros, como o bem conhecido coco e o coco-do-
mar (Lodoicea malvidica), famoso por produzir a maior semente conhecida do
reino vegetal, árvores de fruta-pão, a seringueira, a planta do urucum, de onde é
extraído o colorau, a palmeira triangular Dypsis decaryii, muito utilizada em
paisagismo, a trepadeira-jade (Strogylodon macrobotrys), com suas flores de cor
verde-jade, inúmeras palmeiras com estipes de 15 m de altura e até plantas de
Cola nitida, empregadas na fabricação do famoso refrigerante.
A conservação e o inventário de plantas tropicais é uma das principais linhas
de pesquisa de Kew. Os botânicos estudam as plantas da Estufa de Palmeiras e
fazem observações sobre a época de floração, a estrutura das folhas, flores e do
pólen, e a composição química das plantas, além de coletarem material genético
para estudos posteriores. Coletam e classificam plantas pelo mundo afora,
comparam os exemplares e, incorporando-os à coleção do herbário, podem
disponibilizar material para estudos de especialistas do mundo inteiro. ​
A Estufa Temperada, construída entre 1860 e 1898, é a maior do jardim,
com 4.880 m², o dobro da área da Estufa de Palmeiras. Diferentemente desta,
que tem estrutura curva e conserva em seu interior plantas tropicais, a Estufa
Temperada tem um desenho retilíneo e abriga plantas encontradas nas
montanhas do Himalaia, nos bosques ​neozelandeses, na vegetação de carrasco da
África do Sul. Essas plantas não sobreviveriam no clima britânico se não
permanecessem nessa estufa, sob temperaturas de 6-7 °C durante o inverno. Foi
também projetada por Decimus Burton e construída em cinco módulos, como
se fossem cinco estufas interligadas. A Estufa Temperada foi completamente
restaurada e recebeu um novo paisagismo entre 1978 e 1982, quando foi
reaberta oficialmente pela rainha Elizabeth II.
As plantas da estufa estão dispostas segundo sua origem geográfica. O
módulo mais ao norte abriga espécies da Ásia temperada, especialmente da
China e do Japão, como inúmeras espécies de ciprestes e a planta com a qual se
fabrica o papel de arroz (Tetrapanax papyrifer). Seguindo a direção sul, encontra-
se uma estrutura octogonal em que são cultivadas plantas da Nova Zelândia e
das ilhas do Pacífico. Segue-se o módulo central, o maior deles, com árvores
subtropicais e palmeiras de várias partes do mundo, como a tamareira e a Jubaea
chilensis, dos Andes chilenos, plantada em 1846 a partir de sementes coletadas no
Chile e que hoje ameaça atingir os vidros da cobertura da estufa. Outras plantas
arbóreas de interesse econômico também estão presentes, como oliveiras,
laranjeiras e a árvore de onde se extrai o quinino (Cinchona pubescens). As plantas
australianas dessa área sofrem queimadas regulares para reproduzir as condições a
que estão sujeitas em seu ambiente natural. A estrutura espiralada das frondes das
samambaias arbóreas são mais bem visualizadas da parte superior da estufa. O
octógono sul contém uma coleção de plantas dos campos abertos sul-africanos,
como Erica e Protea, a flor nacional da África do Sul; na ala sul, sob temperatura
mais elevada e menor umidade, crescem plantas da região do Mediterrâneo e da
África, como as estrelitzias e um indivíduo masculino de uma cicadácea, trazido
da Zululândia em 1895. Esse indivíduo foi o único exemplar de sua espécie até
hoje encontrado na natureza, e é um testemunho vivo do papel dos jardins
botânicos na conservação da biodiversidade vegetal. Outra espécie interessanteé
a Dracaena draco, a árvore-dragão, originária das ilhas Canárias, valiosa pela
resina vermelha de sua casca e hoje rara na natureza.
Na Estufa Temperada há numerosas plantas que crescem em ilhas e que hoje
são extremamente vulneráveis e passíveis de extinção por estarem sujeitas, em
seus habitats naturais, a toda sorte de competição por plantas de espécies mais
agressivas que foram ali introduzidas. Exemplares de espécies ameaçadas são ali
mantidos e propagados com vistas à sua reintrodução na natureza.
O nome Estufa da Princesa de Gales é uma homenagem tanto à princesa
Augusta, que, no século XVIII, dedicou anos de sua vida ao que viria depois a ser
conhecido como Jardim Botânico de Kew, como a lady Diana Spencer, que
inaugurou essa estufa em 1986, quando era a princesa de Gales. É uma estufa de
desenho inovador, muito moderno, e em sua construção foi aplicada a mais alta
tecnologia então disponível para se obter a máxima eficiência quanto à energia e
ao controle ambiental. Não existem paredes laterais, apenas painéis de vidro, e
boa parte de seu espaço fica abaixo do nível do solo para manter o calor.
Aquecimento, luminosidade, ventilação e umidade são controlados
constantemente por computadores. Dez tipos de clima são reproduzidos dentro
dessa estufa, da aridez à umidade dos trópicos, o que permite ao visitante
caminhar por diferentes tipos de ambientes e ter contato com as plantas que
crescem em cada um deles. A construção dessa estufa foi necessária para abrigar
diversas coleções científicas de plantas vivas, um dos trabalhos mais importantes
feitos em Kew, visando à conservação de espécies para as gerações futuras.
Na área quente e úmida, é encontrada a vegetação típica de áreas alagadas,
como mangues, pânta​nos e beira de rios. Ali podem ser vistos exem​plares de
aguapés, que crescem rapidamente em lagos e represas ricos em matéria orgânica,
e as vitórias-régias, com suas imensas folhas flutuantes. Também são encontradas
plantas úteis originárias dos trópicos úmidos, como bananeira, cana-de-açúcar,
mandioca, abacaxi. Há uma coleção fantástica de plantas carnívoras que, com
suas folhas e estruturas adaptadas à captura de insetos, atraem a curiosidade de
muitos visitantes. A zona árida abriga plantas de áreas de deserto, em particular
cactos e plantas suculentas, algumas úteis para o homem, como a babosa, muito
utilizada na indústria de cosméticos, a mirra (Commiphora myrrha), os agaves
que fornecem o sisal, a figueira-da-índia. Representantes da vegetação das
savanas, das florestas de neblina, de habitats muito específicos só encontrados em
algumas ilhas podem também ser observados nessa estufa.
O Jardim Botânico de Kew tem um papel importantíssimo na conservação
de espécies de plantas que foram coletadas pelo mundo afora e adaptadas para
crescerem nas estufas, onde podem ser vistas e apreciadas por seus visitantes.
Tudo isso tem um custo alto, pois a manutenção das plantas exige condições
específicas de calor, luz e umidade, de acordo com os hábitos de vida de cada
espécie. Além disso, são necessários grandes espaços para manter os exemplares,
seja dentro das estufas, seja em áreas externas. Uma forma eficaz e econômica de
conservar plantas é por meio de bancos de sementes. Esses bancos contêm
sementes coletadas nos locais em que vivem as plantas que as produzem. As
sementes devem ser colhidas de várias plantas diferentes, de modo a garantir a
variabilidade genética da amostra. Após a limpeza e a secagem das sementes, elas
são armazenadas no banco a temperaturas inferiores a 0 ºC. Nessas condições, as
sementes retêm sua capacidade de germinar e podem sobreviver por décadas ou
mesmo séculos. Amostras dessas sementes podem ser distribuídas para cientistas
e conservacionistas de todo o mundo, para estudos específicos e reintrodução na
natureza.
O Jardim Botânico de Kew é responsável pelo Banco de Sementes do
Milênio, um dos projetos que conseguiu financiamento parcial da Loteria
Nacional britânica na virada dos anos 2000, como o Projeto Éden. Esse banco
tem como meta conservar sementes de toda a flora nativa britânica e de 10% das
espécies de plantas superiores, especialmente as dos trópicos secos, até 2010, o
que equivaleria a amostras de sementes de cerca de 25 mil espécies de plantas. O
projeto conta com a parceria de instituições congêneres de outros países como
Austrália, Índia, Quênia, Madagascar, México, Irã e Síria, e a maior parte das
coletas é feita por botânicos locais que receberam treinamento no Banco de
Sementes do Milênio. A idéia é treinar pessoas e fixá-las em seus países de
origem, de modo a auxiliarem na organização de bancos de sementes locais para
conservar as espécies em seus locais de origem.
O Banco de Sementes do Milênio foi construído em Wakehurst, a 31 km de
Kew. Ali, o clima é diferente, com mais chuvas, e o solo é mais fértil. Em
Wakehurst são conservadas plantas nativas britânicas e muitas das coleções
exóticas do Jardim Botânico de Kew que foram transferidas para lá. O prédio do
banco tem um grande espaço subterrâneo, onde as sementes são conservadas em
gavetas de aço colocadas em câmaras especiais com controle de temperatura e
umidade. Há espaço para limpeza e secagem de sementes, além de laboratórios
para testes de viabilidade e outros estudos em sementes, como pesquisas sobre
métodos de conservação de embriões isolados, quando a semente não suporta as
condições usuais de armaze​namento. O local pode ser visitado pelo público que,
andando entre os diferentes blocos, pode acompanhar o trabalho dos cientistas
do banco e de países colaboradores do projeto.
Pode-se perceber que os cientistas de Kew ​atuam em vários campos de
pesquisa, desde a classificação das plantas até sua conservação ex situ e in situ, e
são responsáveis por manterem um grande número de plantas crescendo nas
diferentes coleções. Coletam plantas em todos os lugares do mundo,
especialmente em ambientes sob ameaça, nos quais as espécies de plantas
poderão ser extintas. Dão treinamentos específicos a pesquisadores de várias
partes do mundo que visitam as coleções do herbário para estudar grupos de
plantas de floras regionais. As atividades de educação ambiental na área do
jardim são muito interessantes e atraem milhares de estudantes a cada ano.
Apenas para lembrar algumas, estudantes passeiam pelas estufas de plantas de
clima tropical portando fones de ouvido para escutar os ruídos da mata que estão
conhecendo: insetos voando, grilos, pássaros, sapos. Até tabuada se pode
aprender em Kew, por exemplo, examinando flores de uma monocoti​ledônea em
que as partes das flores são sempre múltiplos de três.
Formalmente, o Jardim Botânico de Kew está ligado ao Ministério da
Agricultura britânico, de onde vem parte de seu orçamento. O resto é
complementado com a arrecadação obtida pela venda de ingressos, locação de
áreas para eventos, fundos levantados com empresas e doadores particulares e
uma Fundação de Amigos do Jardim, que é bastante ativa e competente para
levantar os fundos necessários para o cumprimento de todas as atividades.
Todos esses aspectos fazem do Jardim Botânico de Kew o mais importante
entre todos os jardins existentes.
Jardim Botânico de Nova York
Bronx River Parway (Exit 7W) at Fordham Road
Bronx, New York 10458-5126
Telefone: 718 817 8700
http://www.nybg.org
http://www.nybg.org
Em 1888, o casal de nova-iorquinos Elizabeth Knight e Nathaniel Lord
Britton decidiu passar sua lua-de-mel na Inglaterra e conhecer museus e outros
espaços culturais. Como botânicos, os Britton visitaram o Jardim Botânico de
Kew, em Londres, não apenas como turistas, mas também por seu interesse nas
plantas medicinais. Ficaram tão impressionados pela beleza dos canteiros e das
estufas que, ao retornarem a Nova York, Elizabeth Britton proferiu uma série de
discursos apaixonados para vender a idéia de que a cidade em crescimento
necessitava ter um jardim botânico nos moldes de Kew. O casal Britton erabem
relacionado na sociedade local e no meio científico, e, com o apoio dos jornais,
foi iniciada uma campanha para concretizar essa idéia.
Em abril de 1891, o estado de Nova York aprovou o uso de 1.000.000 m²
na região do Bronx, extremo norte da cidade, para o jardim botânico. A
Prefeitura de Nova York concordou em passar 500 mil dólares para a construção
de prédios e o paisagismo do jardim, desde que 250 mil dólares fossem
conseguidos de fundos privados. Milionários como Carnegie, Vanderbilt e P. J.
Morgan, três dos homens mais ricos e poderosos do país, doaram altas quantias
de dinheiro e convenceram amigos a fazerem o mesmo. Assim teve início o
jardim botânico, com uma excelente base financeira e o envolvimento da elite
intelectual e financeira de Nova York. Até hoje, após mais de cem anos de vida,
o Jardim Botânico de Nova York ainda é, em grande parte, sustentado por
doadores particulares, uma vez que o governo cobre apenas 20% dos custos.
No início de 1896, Nathaniel Lord Britton deixou seu emprego de professor
na Universidade de Colúmbia e foi nomeado diretor do Jardim Botânico. O
planejamento do jardim foi feito por Calvert Vaux, que também participou do
projeto do Central Park de Nova York. Vaux faleceu prematuramente e os
Britton e alguns colegas, como Samuel Parsons Jr. e John R. Brinley, assumiram
o paisagismo e os projetos de arquitetura. Decidiram preservar uma área com
vegetação nativa ao longo do rio Bronx e implantar o jardim na parte oeste, mais
plana. Já no ano seguinte, mais de 1.500 plantas herbáceas cresciam no jardim.
As maiores e mais importantes edificações, a Biblioteca e a Grande Estufa, foram
construídas em lugares mais afastados, já prevendo a quantidade de visitantes
que o jardim viria a receber.
O plano original foi feito aproveitando os recursos paisagísticos já existentes.
Não foi preciso deslocar pedras e rochas, cavar vales, construir lagos, elevar
colinas. A paisagem natural, suficientemente pitoresca, só foi adaptada para
acolher as diferentes coleções. Como a área é extensa, dificilmente se consegue
conhecer o jardim em uma única visita. São cinqüenta áreas ajardinadas e
coleções, além de uma floresta primária, onde crescem vá​rios exemplares de
carvalhos, uma amostra da vegetação que, tempos atrás, cobria a cidade de Nova
York.
Apesar de seu marido se envolver em todas as questões relativas ao jardim,
Elizabeth Britton também deixou sua marca pessoal. Além de ser uma
especialista em musgos, que coletava e classificava, tendo publicado uma série de
trabalhos sobre esse grupo de plantas, foi uma voluntária devotada que promovia
encontros na hora do chá da tarde para trazer novos doadores. É por isso que
inúmeras edificações e coleções de plantas receberam o nome de seus
patrocinadores, como o Jardim de Rosas Peggy Rockefeller, o Jardim Perene
Jane Watson Irwin, a coleção Benenson de Coníferas Ornamentais, o Arboreto
de Coníferas Arthur e Jane Ross.
Grande parte das coleções de plantas está disposta em canteiros, ao ar livre,
especialmente as plantas que têm comportamento sazonal. Com invernos
rigorosos, há necessidade de se refazer esses canteiros a cada ano, o que é um
gasto enorme de dinheiro e exige muita mão-de-obra. Desse modo, cerca de 15
mil bulbos de tulipas têm que ser enterrados na época certa para ficarem
expostos a alguns dias de frio durante o inverno e virem a florescer no início da
primavera. Após a floração, os bulbos são recolhidos e as tulipas substituídas por
zínias e peônias, plantas anuais que morrem após florescer. Desse modo, há uma
renovação contínua das plantas dos canteiros, de modo a sempre haver plantas
floridas na primavera, verão e início do outono. Mesmo durante o inverno são
encontradas plantas em flor, como as camélias e os abricós japoneses, que
emprestam seu perfume à paisagem coberta de neve.
O Jardim de Ervas, no verão, apresenta cerca de 150 espécies utilizadas como
medicinais e em culinária. Ali, as plantas são cultivadas em canteiros, à
semelhança dos antigos hortos medicinais europeus. O aroma das plantas é
muito agradável, especialmente nos dias mais quentes. Próximo, encontra-se o
Arboreto de Coníferas, muito visitado durante o inverno, uma vez que as
árvores, cobertas de neve, são um belo espetáculo. Há espaços no jardim
reservados para o cultivo de plantas perenes que crescem bem à sombra ou sob
sol intenso.
A Grande Estufa (Great Conservatory) é um dos símbolos do Jardim
Botânico de Nova York. É uma casa de vegetação vitoriana, com desenho
inspirado na Estufa de Palmeiras do Jardim Botânico de Kew. Muitos acreditam
ser até mais bonita do que a estufa inglesa, devido ao desenho elegante de sua
estrutura. Essa estufa, em volta da qual todas as outras edificações foram sendo
construídas, simboliza o compromisso do Jardim Botânico de Nova York com
educação e conservação de plantas. A empresa Lord & Burnham, que desenhava
e construía casas de vegetação para a aristocracia norte-americana, foi responsável
pela obra. É a melhor amostra americana do estilo dos palácios de cristal da
Inglaterra e da Irlanda de meados do século XIX. Concluído em 1902, esse
Palácio de Cristal tem 4.050 m² (1 acre americano) de área e o domo central, 30
m de altura, ideal para conter em seu interior plantas arbóreas e palmeiras. A
estufa tem a forma de um “C” retilíneo e simétrico, com diversos jardins e
espelhos d’água interligados. Foi aberta ao público em 1900 e milhares de
pessoas faziam filas para conhecer seu interior, com cerca de 9 mil plantas
tropicais que foram trazidas da Universidade Columbia. Várias doações de
plantas foram feitas, como palmeiras, seringueiras, samambaias arbóreas e
orquídeas, o que tornou possível inaugurar a estufa com um gasto irrisório de
dinheiro para deixá-la repleta de plantas. Essa estufa atraía muita curiosidade
pelo exotismo de suas plantas, de diferentes regiões climáticas, como a floresta
pluvial tropical de terra baixa e alta, desertos da América e da África. Se alguns se
sentiam estranhos em meio a essa diversidade de plantas, outros se sentiam à
vontade em seu interior, como um leão que, em 1916, escapou do vizinho
jardim zoológico e acabou sendo encontrado e capturado dentro da estufa, sobre
uma árvore no domo central.​
Plantas tropicais exigem temperatura alta e condições de muita umidade para
seu crescimento. Quando são cultivadas em estufas, o somatório dessas
condições causa o aparecimento de ferrugem na estrutura de ferro e
apodrecimento nas vigas de madeira. Por esse motivo, a Grande Estufa sofreu
três grandes reformas estruturais desde a sua inauguração, em 1935, 1953 e
1975, quando a estufa quase veio abaixo. Naquele ano, a cidade de Nova York
estava passando por uma crise fiscal e financeira, e a quebra de alguns bancos
parecia iminente. O governo ofereceu uma pequena quantia para a reforma,
insuficiente para cobrir grande parte dos gastos. Os membros da diretoria do
jardim botânico foram bater às portas de investidores privados para conseguir o
dinheiro para as obras de recuperação da estufa. Foi quando a sra. Enid
Annenberg Haupt, herdeira de uma editora, entrou em cena e fez uma doação de
5 milhões de dólares para a reforma e outro tanto para um fundo de
manutenção. Vinte anos depois, em 1995, essa estufa necessitou de outra
reforma, dessa vez num valor de 25 milhões de dólares. Novamente a sra. Haupt
fez uma doação e outros filantropos a acompanharam, assim como alguns
segmentos do governo, o que permitiu a recuperação completa da estufa, com a
instalação de um novo sistema de aquecimento e ventilação, além da recuperação
do delicado trabalho de filigrana de sua fachada, que a faz uma das construções
mais bonitas em jardins botânicos do mundo todo. E a sra. Haupt será para
sempre lembrada, uma vez que a Grande Estufa passou a ter seu nome.
Uma das características mais interessantes desse jardim botânico é seu
envolvimento com atividades educacionais. Não há melhor lugarpara se
aprender sobre plantas e seu papel para a vida na Terra. A educação sempre
ocupou uma posição importante nele, desde sua fundação. Enquanto os
primeiros jardins botânicos se voltaram para as coleções de plantas medicinais e
sua propagação, e depois para a exploração científica e o estudo das plantas da
flora mundial, nos Estados Unidos essas instituições se voltaram para a
jardinagem, a horticultura e a educação. É reconhecido que a contribuição mais
significativa dos jardins botânicos norte-americanos ocorre no campo
educacional. Os Britton criaram programas de palestras para o grande público e
grupos de estudantes aprendiam botânica no jardim, observando plantas do
mundo todo. Ao longo dos anos, gerações de crianças nova-iorquinas visitam o
Jardim Botânico e ali aprendem a conhecer as plantas e a natureza. A Grande
Estufa é utilizada para expor plantas e flores de todos os tipos e lugares do
mundo, com informações acessíveis ao público sobre sua ​ecologia, conservação e
importância para a pesquisa ​científica.
Os programas desenvolvidos estão fortemente relacionados ao currículo das
escolas públicas e complementam o conteúdo das aulas dadas em classe. Deve ser
levado em conta que o Bronx é uma área pobre, onde tanto famílias como
escolas contam com poucos recursos. Há atividades dinâmicas antes e após as
visitas para introduzir temas e, assim, preparar os alunos para as ações que irão
desenvolver e que depois terão continuidade em classe ou em suas casas. Todo o
material didático está disponível on-line, para facilitar o acesso a professores e aos
pais dos alunos.
Nessa vertente, existem no Jardim Botânico de Nova York espaços criados
especialmente para crian​ças e escolares. Em uma grande área (4,8 ha), foi
implementado o que é conhecido como o Jardim Everett de Aventuras para
Crianças, onde elas são estimuladas a olhar, tocar e explorar as plantas. Há três
labirintos, com seixos, grama e cercas baixas de madeira que convidam as
crianças a brincar de esconde-esconde, um modo de deixá-las à vontade e
prepará-las para as descobertas que serão feitas durante o período em que
estiverem no jardim botânico. São organizadas exposições interativas, nas quais
as crianças aprendem conceitos básicos de botânica, utilizando elementos lúdicos
como topiarias e os já mencionados labirintos, que capturam a atenção dos
pequenos e criam​ uma atmosfera de exploração e diversão. A jardinagem
também é ensinada às crianças em espaços criados e mantidos por elas, onde
podem cavar, retirar ervas daninhas, adubar e plantar. Os programas para
crianças incluem atividades ao ar livre e em salas equipadas como pequenos
laboratórios, onde fazem observações ao microscópio e aprendem que fazer
perguntas é o início de toda ciência. Ao ar livre, há várias propostas, tais como
utilizar os diferentes órgãos dos sentidos para explorar o jardim, uma jornada
através dos ciclos de vida das plantas, as interações entre plantas e animais, o
papel do Sol no crescimento e na vida das plantas. Uma das atividades de maior
sucesso é a “Aventura do chocolate e da baunilha”. No Jardim da Aventura, as
crianças aprendem sobre sua história e procedência e como se transformaram nos
produtos que conhecemos e apreciamos. Examinam as sementes de cacau e as
vagens da baunilha onde estão as sementes, preparam um chocolate quente
usando ingredientes que os maias utilizavam e comparam com o chocolate
quente dos tempos atuais, que bebem em suas casas. As mudanças sazonais
também são usadas para ensino. No outono, as mudanças da coloração das
folhas são acompanhadas pelas crianças; elas passam a examinar o folhedo que
vai se depositando sobre o solo, descobrem animais que começam a se preparar
para o inverno, examinam sementes e ​especulam sobre os benefícios ou
problemas da germinação nessa época do ano. Na primavera, observam o
despertar da natureza, o ciclo de vida das borboletas e seu papel na polinização
das flores. No verão, as crianças exploram os lagos do jardim, as plantas e os
pequenos animais que ali vivem e descobrem como a água é vital para os seres
vivos.
Outra edificação importante é o prédio da biblioteca, que simboliza a missão
acadêmica e científica do jardim botânico. Esse edifício foi projetado por Robert
Gibson em 1901, em estilo renascentista italiano, com colunas coríntias e um
domo com telhado de cobre esverdeado. Uma aléia de ciprestes italianos termina
numa majestosa fonte, bem em frente de sua entrada principal. Conhecida como
a Fonte da Vida Lillian Goldman, as esculturas e o desenho do conjunto são do
escultor Charles E. Tefft, inspirados nas fontes romanas. Algumas preciosidades
dessa biblioteca são uma edição da obra De historia plantarum, de Teofrasto,
publicada em 1522, e uma antiga farmacopéia de Dioscórides contendo
anotações feitas durante suas viagens com o imperador romano Nero em uma
edição publicada em 1529, livros com ilustrações botânicas originais. Gravuras,
aquarelas e pinturas a óleo de plantas e sobre jardinagem e horticultura também
compõem o acervo.
O Jardim Botânico de Nova York possui um intenso programa de trabalho
voluntário. Não é exigida experiência prévia de quem se candidata a trabalhar
como tal em muitas das possíveis atividades, pois são dados treinamentos
específicos. O voluntário pode ter atividades de monitoramento, ao guiar grupos
pelo jardim, sejam eles de adultos ou crianças; de horticultura e jardinagem,
trabalhando nos canteiros; de ensino para as crianças nos programas especiais
criados para elas; de auxílio na manutenção de livros e documentos da biblioteca;
de atendimento a fregueses nas lojas do jardim. Como seu orçamento é pequeno
para atender a todos os seus programas, o trabalho voluntário é muito bem
recebido e realmente cobre a falta de funcionários contratados, uma prática que
poderia ser adotada por outros jardins que têm problemas semelhantes de falta
de pessoal.
O Jardim Botânico de Nova York, à semelhança do de Kew, possui um
corpo de cientistas de plantas altamente competente e envolvido no problema da
conservação mundial das espécies ameaçadas de plantas. O herbário tem mais de
7 milhões de espécimes que documentam a vegetação passada e presente de
grande parte do nosso planeta, com material coletado desde o século XVI e um
incremento anual de 50 a 70 mil espécimes. É o quarto maior herbário do
mundo e o maior do hemisfério ocidental, sendo especialmente forte em
representantes da flora das Américas. As coleções incluem todos os grupos do
reino vegetal: plantas com flores, gimnospermas, samambaias, musgos, hepáticas,
algas, além de fungos e liquens. Os exemplares de plantas existentes no herbário
são referências importantes para os especialistas em todos os grupos de plantas,
em particular os que estudam as famílias botânicas das compostas (à qual
pertencem os girassóis), das leguminosas (como o feijão e a soja) e das rubiáceas
(como o café). A coleção do herbário é resultante em boa parte das inúmeras
expedições científicas de coleta feitas pelos botânicos do jardim, mas também
foram conseguidas por doações, por compras ou mesmo trocas com outros
herbários, uma prática comum entre essas instituições. Mais de 13 mil novas
espécies de plantas foram descritas pelos cientistas do Jardim Botânico de Nova
York.
Nos tempos antigos, os cientistas faziam as viagens de coleta de material
botânico levando ilustradores que iam desenhando os espécimes que eram
coletados. Anotavam informações em cadernos de campo, descrevendo os locais
de coleta que, na ausência de mapas acurados, muitas vezes eram mencionados
pelo tempo que se levava, a pé ou a cavalo, de uma localidade conhecida até
encontrar a planta na natureza. Atualmente, essas excursões são feitas em jipes ou
helicópteros equipados com câmaras digitais, e laptops e GPS (Global
Positioning System) utilizando bancos de dados e imagens de satélite. O material
botânico coletado é preparado para estudos posterioresem laboratórios de
biologia molecular que irão fornecer dados​ mais acurados sobre ele e suas
relações evolu​tivas com outras plantas. São também estudadas as relações entre as
plantas e seus polinizadores e dispersores de frutos e, pelos etnobotânicos, os
diferentes usos das plantas pelas populações nativas para alimentação, remédios
ou uso em cerimô​nias. Uma amostra do material coletado é sempre depositada
em um herbário da região de coleta para atender a estudos de interesse local e dar
treinamento a futuros botânicos. Como o único método de identificação de
plantas ainda é o exame visual do material, o Jardim Botânico de Nova York
iniciou, em 1995, a catalogação eletrônica do herbário. Hoje, no herbário
virtual, já há perto de 1 milhão de entradas de espécimes, em imagens
digitalizadas com alta definição, passíveis de ser acessadas por qualquer pessoa
em qualquer parte do mundo. Dentre elas, um catálogo de plantas do Nordeste
do Brasil, uma região sujeita a fortes impactos ambientais que estão afetando a
sobrevivência de inúmeras espécies. Essa quantidade de dados pode fornecer
informações de interesse; por exemplo, quais os tipos de organismos que crescem
em determinados ambientes e predizer os efeitos da interferência humana nesses
ambientes. Até o início deste século, mais de 2 mil expedições científicas pelo
mundo foram feitas pelos botânicos do jardim e centenas de pesquisadores
concluíram lá seus estudos de pós-graduação. Existe colaboração de seus
cientistas com botânicos de outros jardins, universidades e instituições de
pesquisa do mundo todo. Há grande interesse pelas plantas do sudoeste da região
amazônica, menos conhecido. As coletas de plantas ali realizadas geraram
inúmeras publicações de interesse. Há coletas extensivas também na Guiana
Francesa e em Bornéu e nos Andes equatorianos e peruanos.
Apesar da entrada em cena nos anos mais recentes das técnicas da biologia
molecular, permanecem no ar as mesmas perguntas que os botânicos sempre se
fizeram: Como as plantas evoluíram em nosso planeta? Como podem ser úteis
para o homem à medida que acumulamos conhecimento sobre elas? Como
podemos promover sua real conservação em todo o mundo, apesar das ameaças
constantes que sofrem?
[1] P. S. Wyse Jackson, “Experimentation on a Large Scale: an Analysis of the Holdings and Resources of
Botanic Gardens”, em BGCNews, 3 (3), Londres, 1999.
Jardins botânicos brasileiros
O Brasil possui um pequeno número de jardins botânicos, se for levada em
conta sua vasta extensão territorial e a grande diversidade de plantas, bem como
os diferentes biomas aqui representados. Em 2008, a Rede Brasileira de Jardins
Botânicos conta com 34 jardins botânicos registrados. Destes, dezessete estão
inscritos nas Normas Internacionais para Conservação em Jardins Botânicos, o
que indica haver um compromisso formal dessas instituições com a conservação
de plantas, conforme atualmente é entendida em escala global.
Hoje em dia, a conservação de plantas é assunto de interesse mundial e como
tal vem sendo tratada. O órgão que estabelece normas e regras para que a
conservação de plantas seja um processo eficaz e bem-sucedido é o BGCI, que
tem sede no Jardim Botânico de Kew, no Reino Unido. O BGCI procura
oferecer meios para que todos os jardins botânicos compartilhem experiências e
informações que possam contribuir para a conservação de plantas e a educação,
esta última primordial para a efetiva manutenção das espécies no nosso planeta.
O BGCI atua através de redes regionais e nacionais de jardins botânicos criadas
nos diferentes países. Edita uma série de publicações, como livros, manuais
técnicos e guias para a implantação de políticas de atuação dos jardins botânicos,
da reintrodução de espécies em seus ambientes originais à educação voltada para
a sustentabilidade das áreas naturais. Fornece programas para computadores para
o registro de espécies e monitoramento de coleções e apóia planos de ação
regional voltados para a conservação. A cada três anos são feitas reuniões
internacionais, nas quais são discutidos os progressos alcançados, as dificuldades
encontradas e as possíveis soluções para a efetiva conservação de espécies de
plantas. Projetos de educação são indissociáveis do processo de conservação da
biodiversidade e merecem atenção especial do BGCI, que promove encontros
específicos para tratar do assunto. Em 2001, o BGCI estimou em 80 mil o
número de espécies e em 6 milhões o número de acessos (espécimes) de plantas
vivas cultivadas em jardins botânicos em todo o mundo. Como a maioria dos
jardins botânicos encontra-se na América do Norte e na Europa, é fácil concluir
que há necessidade de criação de jardins botânicos em áreas tropicais. Mas não
basta criá-los. É preciso que sejam instituições fortes, capazes de contribuir de
fato para a conservação da flora e para o conhecimento de seu valioso patrimônio
genético.
A Rede Brasileira de Jardins Botânicos, criada em 1991, é uma das redes de
atuação ligadas ao BGCI. Tem finalidades semelhantes às daquele, atuando
firmemente no fortalecimento dos jardins botânicos nacionais. Estima-se que,
atualmente, cerca de 3 mil pessoas, entre pesquisadores e técnicos, trabalhem em
atividades relacionadas a jardins botânicos no Brasil. Dezesseis estados brasileiros
e o Distrito Federal contam com jardins botânicos. Só no estado de São Paulo,
há nove jardins botânicos; no entanto, eles não existem nos estados do Amapá,
Acre, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Piauí, Alagoas,
Maranhão e Sergipe. A Região Norte, a maior em extensão e onde está situada a
maior parte da Amazônia, conta com apenas três jardins botânicos, dois deles no
Pará. Em toda a Região Nordeste, há cinco jardins botânicos; na Região Centro-
Oeste, onde se localiza a área central do cerrado, há três jardins botânicos, o
maior deles no Distrito Federal; na Região Sudeste, são dezesseis e na Região
Sul, sete.
Muitos dos jardins botânicos brasileiros possuem áreas de vegetação nativa
próximas de seus locais de visitação propriamente ditos, na forma in situ de
conservação. Neles, o público pode ter contato, mesmo em áreas urbanizadas,
com amostras da vegetação que foram perdidas devido à interferência dos
homens. Aqui, cabe lembrar o Jardim Botânico de São Paulo, com sua área de
mata atlântica com trilhas que podem ser percorridas pelo público, apesar de
localizado numa zona fortemente atingida pelo crescimento da cidade. A
vegetação de cerrado, com suas diversas fisionomias, aparece bem conservada na
Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília e no Jardim Botânico da
Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte.
Com relação à representatividade de espécies de plantas nativas nos jardins
botânicos brasileiros, foi feita há alguns anos uma avaliação procurando
relacionar os biomas brasileiros e a existência de jardins botânicos em suas áreas
de ocorrência.[1] A mata atlântica, reduzida hoje a cerca de 8% de sua extensão
original, é uma das áreas mais amea​çadas do mundo, constituindo um hot spot
por abrigar inúmeras espécies endêmicas cuja conservação é premente. Ali, tem-
se onze jardins botânicos implantados, desde os situados ao nível do mar (JB do
Rio de Janeiro, JB de Pipa) como em altitudes mais elevadas (JB de São Paulo,
JB de Curitiba). Apesar de a caatinga apresentar uma vegetação de grande beleza,
fortemente dependente do regime das chuvas, estendendo-se pelos estados do
Nordeste e parte de Minas Gerais, carece de jardins botânicos que poderiam
mostrar plantas de interesse para o homem, utilizadas há gerações como
medicinais, na culinária, em ritos religiosos ou em diferentes tipos de artesanato.
Diversos exemplares de espécies arbóreas da Amazônia estão representados nos
três jardins botânicos que ali se encontram e também em outros jardins do país e
do exterior. O cerrado, hoje reduzido a 20% de sua extensão original e com uma
grande diversidade florística, abriga sete jardins botânicos,todos com áreas
associadas de vegetação nativa representativa de suas diversas fisionomias. Na
região do Pantanal, há apenas um jardim botânico, recentemente implantado e
nenhum nos campos sulinos que pudesse mostrar a vegetação
predominantemente herbácea e com alta diversidade.
No que se refere às coleções de plantas mantidas nos jardins botânicos
brasileiros, portanto na ​forma ex situ de conservação, algumas famílias botânicas
estão muito bem representadas, possivel​mente por serem grupos de plantas
freqüentes na flora do país. Destacam-se as orquídeas, as bromé​lias, as palmeiras,
as cactáceas e as pteridófitas (samambaias). Outra forma de estabelecer coleções
de plantas vivas, adotada por alguns jardins botânicos do país, é por coleções
temáticas, como as de plantas aquáticas, insetívoras (carnívoras), suculentas,
medicinais, aromáticas. Também pode haver coleções por ecossistema, como as
de plantas da mata atlântica, do cerrado, da caatinga. De modo geral, o enfoque
principal da conservação de plantas nesses jardins é sempre a flora nativa e,
especialmente, a flora de onde está situado um determinado jardim botânico.
Dentre os jardins botânicos que exibem plantas regionais conservadas, destacam-
se o Museu Paraense Emílio Goeldi, o Jardim Botânico de Brasília, o Jardim
Botânico de Pipa, no Rio Grande do Norte, o Museu de Biologia Prof. Mello
Leitão, no Espírito Santo.​
Coleções de plantas são imprescindíveis para o estudo da biodiversidade
vegetal. O material depositado nos herbários fornece informações valio​sas para
qualquer botânico, desde o local de ocorrência de determinada espécie até a
época de sua floração e o ambiente em que vive. Essas coleções de plantas
preservadas são encontradas associadas aos grandes jardins botânicos do mundo,
como o de Kew e de Nova York. Também no Brasil isso acontece. Os três
maiores herbários do país, o do Museu Nacional, com 500 mil exemplares, o do
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com 350 mil
exemplares, e o do Instituto de Botânica de São Paulo, com 320 mil exemplares,
são instituições com jardins botânicos vinculados às suas atividades. A
informatização dessas coleções, à maneira como hoje é feita internacionalmente,
é o grande desafio que esses herbários vêm enfrentando nos últimos anos.
O Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), ligado ao Ministério
do Meio Ambiente, por meio da Resolução nº 266, de 3 de agosto de 2000,
estabeleceu diretrizes para a criação, a nor​matização do funcionamento e a
definição dos objetivos para os jardins botânicos brasileiros. O Conama recebe o
auxílio da CNJB (Comissão Nacional de Jardins Botânicos) no
acompanhamento e na análise de assuntos relacionados a jardins botânicos.
Fazem parte do CNJB representantes dos ministérios de Ciência e Tecnologia,
do Meio Ambiente e da Educação, da Rede Brasileira de Jardins Botânicos e da
Sociedade Botânica do Brasil. Por essa resolução, os jardins botânicos são
classificados nas categorias A, B ou C, de acordo com critérios​ técnicos que
levam em conta sua infra-estrutura, a qualificação de seu corpo técnico e de
pesquisadores, os objetivos do jardim, sua localização e especialização
operacional. Na primeira avaliação feita, nenhum jardim botânico foi
enquadrado na categoria A, a mais alta delas.
São estes os jardins botânicos brasileiros:
Bosque Rodrigues Alves – Jardim Botânico da Amazônia (Belém, PA).
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro,
RJ).
Jardim Botânico Amália Hermano Teixeira (Goiânia, GO).
Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte (Belo
Horizonte, MG).
Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (Porto
Alegre, RS).
Jardim Botânico de Brasília (Brasília, DF).
Jardim Botânico de Lajeado (Lajeado, RS).
Jardim Botânico de Pipa (Tibau do Sul, RN).
Jardim Botânico de Salvador (Salvador, BA).
Jardim Botânico de São Paulo (São Paulo, SP).
Jardim Botânico do Instituto Agronômico de Campinas (Campinas, SP).
Jardim Botânico do Instituto de Biociências da Unesp (Botucatu, SP).
Jardim Botânico Municipal de Bauru (Bauru, SP).
Jardim Botânico Municipal de Paulínia Adelelmo Piva Júnior (Paulínia,
SP).
Jardim Botânico Municipal Francisca Maria Garfunkel Rischbieter
(Curitiba, PR).
Museu de Biologia Prof. Mello Leitão (Santa Teresa, ES).
Museu Paraense Emílio Goeldi e Parque Zoobotânico (Belém, PA).
Jardim Botânico de Poços de Caldas (Poços de Caldas, MG).
Horto Botânico do Museu Nacional da UFRJ (Rio de Janeiro, RJ).
Jardim Botânico Adolpho Ducke (Manaus, AM).
Jardim Botânico Benjamim Maranhão (João Pessoa, PB).
Jardim Botânico da Universidade Federal de Santa Maria (Santa Maria,
RS).
Jardim Botânico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Itaguaí,
RJ).
Jardim Botânico da Universidade Univille (Joinville, SC).
Jardim Botânico de Caxias do Sul (Caxias do Sul, RS).
Jardim Botânico de Jundiaí Wlamor de Sousa (Jundiaí, SP).
Jardim Botânico de Londrina (Londrina, PR).
Jardim Botânico de Mato Grosso (Cuiabá, MT).
Jardim Botânico de Recife (Recife, PE).
Jardim Botânico Municipal Chico Mendes (Santos, SP).
Jardim Zoobotânico Municipal de Franca (Franca, SP).
Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de
Minas Gerais (Belo Horizonte, MG).
Parque Botânico do Ceará (Caucaia, CE).
Parque Zoobotânico Orquidário Municipal de Santos (Santos, SP).
Jardim Botânico de São Paulo
Avenida Miguel Estéfano, 3031
Água Funda
04301- 012 São Paulo, SP
Telefone: (11) 5073 6300
www.ibot.sp.gov.br
http://www.ibot.sp.gov.br
Dona Maria I, a rainha de Portugal entre 1777 e 1816, dedicava especial
atenção às ciências, tendo criado a Academia Real de Ciências de Lisboa em
1779. Dava importância, também, aos produtos agrícolas de suas colônias.
Devido a seus problemas de saúde, com crises de insanidade, dona Maria I era
auxiliada pelo filho, o príncipe João, que veio a ser dom João VI, e pelo ministro
dom Rodrigo de Sousa Coutinho, o conde de Linhares, considerado o mais culto
do corpo administrativo. O conde acumulava o cargo de ministro com o de
inspetor geral do Gabinete de História Natural e do Jardim Botânico da Ajuda.
Em 19 de novembro de 1798, uma ordem régia determinava ao então
capitão-general de São Paulo, Antônio Manuel de Melo Castro e Mendonça, a
construção de um jardim botânico. O local escolhido recaiu sobre um grande
terreno localizado no antigo “arrabalde do Guarepe”, imediações da Capela de
Nossa Senhora da Luz. Esse local estava destinado à construção de um quartel
militar e, para financiar as obras, uma subscrição pública estava em andamento.
Recebida, porém, a ordem de criação de um horto, parte do dinheiro arrecadado
foi utilizado nessa nova empreitada. Na mesma época em que chegava a ordem
de construção do horto, a rainha de Portugal determinava que fossem realizadas
pesquisas em São Paulo com o fim de se “promover a agricultura”, especialmente
com os gêneros mais próprios às condições da capitania. Determinava também a
soberana que o capitão-general deveria promover a “transplantação e introdução
de novas plantas” que se adaptassem ao clima paulista, como o cacau – que já
produzia “vantajosamente no Rio de Janeiro” – e a baunilha, planta que crescia
espontaneamente nos “matos silvestres” da capitania de São Paulo, conforme
fora informado à rainha. Em outra ordem no mesmo ano, dona Maria I
determinava a realização de pesquisas na capitania com madeiras nativas para
utilização na fabricação de papel. Diante dessa preocupação da Coroa portuguesa
com as madeiras e plantas brasileiras, tanto nativas como as que poderiam se
adaptar ao solo e clima da capitania de São Paulo, o conde de Linhares enviou
uma missiva ao capitão-general de São Paulo. Nela, o conde informava que, no
Pará, o general dom Francisco de Sousa havia fundado um horto botânico e
ordenava ao capitão que fizesse o mesmo em São Paulo. No entanto, esse jardim,
estabelecido onde agora se encontrao Jardim da Luz, durou pouco tempo. Em
1838, a Assembléia Legislativa provincial, na lei de orçamento, mudou o antigo
nome de Jardim Botânico para Jardim Público, o que o fez perder suas
características originais. O Jardim da Luz tem, hoje, uma vegetação bastante
diversificada, com espécies nativas e exóticas, como árvores de pau-ferro,
figueiras, palmeiras-reais, chichá (Sterculia chicha), sol-da-bolívia (Brownea
grandiceps) e eucalipto-vermelho.
Uma segunda tentativa de se criar um jardim botânico em São Paulo deve-se
ao engenheiro e botânico Alberto Loefgren. Em 1898, ele fundou, na Cantareira,
um horto botânico, depois transformado em horto florestal de interesse
econômico. Loefgren, na época, não compreendeu as vantagens de se ter um
jardim botânico. Hoje em dia, esse horto faz parte do Instituto Florestal de São
Paulo. À mesma época, os naturalistas Hermann von Ihering e Hermann
Luederwaldt, este como realizador técnico, iniciaram um horto botânico nos
fundos do Museu Paulista (mais conhecido como Museu do Ipiranga), com
espécies nativas e exóticas. Com a morte deles, o horto botânico se perdeu e
acabou sendo transformado em bosque público.
Portanto, houve três tentativas frustradas de se dotar São Paulo de um
jardim botânico. Finalmente, em 1917, foi trazido do Rio de Janeiro o
naturalista Frederico Carlos Hoehne para desenvolver um horto botânico, em
parceria com o Instituto Butantã, para o estudo de plantas medicinais. No
chamado Horto Oswaldo Cruz, começou a funcionar uma Seção de Botânica,
com um pequeno herbário e uma biblioteca especializada. Em 1923, a Seção de
Botânica, dirigida por Hoehne, foi transferida para o Museu Paulista, ficando-
lhe anexado o antigo Horto Botânico, que tinha perdido sua finalidade. Cinco
anos depois, em 1928, a Seção de Botânica foi transferida para o Instituto Bio​-
lógico, que fora criado na Secretaria da Agricultura, passando a chamar-se Seção
de Botânica e Agronomia, mantendo-se Hoehne como chefe.
Nesse mesmo ano, Hoehne foi convidado pelo dr. Fernando Costa,
secretário da Agricultura, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo, para
implantar um horto botânico no Parque do Estado, uma área com cerca de 580
hectares de matas e capoeiras, conhecida como “Mata do Governo”. Nessa área
ficavam as nascentes do riacho Ipiranga, às margens do qual dom Pedro I
proclamou a ​independência do Brasil. Relatos históricos indicavam​ que as trilhas
dessa mata teriam sido per​cor​​ridas por José de Anchieta e Manuel da Nóbrega,
padres jesuítas ligados à história de São Paulo. Além do interesse histórico, o
governo pretendia utilizar os recursos hídricos da região para abastecer parte da
capital, o que não foi concretizado por ser insuficiente a quantidade de água ali
existente. Então, Hoehne deu início, em 1928, ao que viria a ser o Jardim
Botânico de São Paulo.
A firma Mário Whately & Co. elaborou um plano básico de urbanização da
área, abrindo caminhos, ruas e avenidas. As primeiras obras foram o Jardim de
Lineu e duas grandes estufas, entre as quais foram construídas pérgolas para
abrigar a coleção de orquídeas, embrião do que viria ser o Orquidário do Estado.
O desenho do Jardim de Lineu, com seu espelho d’água, foi baseado no
Jardim Botânico de Uppsala, na Suécia, onde trabalhou o grande botânico
sueco. É um jardim simétrico, com um espelho d’água no centro e duas
escadarias de pedra, uma de cada lado, que levam a trilhas na área de mata
preservada que margeia a área ajardinada. Exemplares de eritrina delimitam a
área do Jardim de Lineu. Como essas plantas florescem no inverno, quando
ainda estão sem folhas, o vermelho das flores dá um colorido especial ao espaço.
A ilustradora botânica Maria Cecília Tomasi representou em aquarela a
inflorescência dessas eritrinas, que estavam em flor à época da visita do primeiro-
ministro britânico Tony Blair, e que constituiu o presente oficial do Governo do
Estado de São Paulo ao visitante ilustre.
As duas grandes estufas possuem estrutura de ferro inglês e vidros curvos na
parte superior. Uma delas abriga plantas tropicais, principalmente espécies
representativas da vegetação de mata atlânti​ca, como bromélias, orquídeas, várias
samam​baias, begônias. A temperatura e a umidade no interior dessa estufa são
altas, o que permite o crescimento apropriado das espécies de plantas ali
representadas. A outra estufa é utilizada para mostras temporárias de plantas ou
exposições sobre temas ligados a plantas ou a questões do meio ambiente. Duas
exposições podem aqui ser lembradas. Em 1995, “A aventura das plantas e os
descobrimentos portugueses”, sobre as navegações dos portugueses à época dos
descobrimentos, trazendo e levando plantas ao redor do mundo e auxiliando a
disseminar o conhecimento sobre seu uso. Foi organizada pela Comissão
Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (Portugal), o
Jardim Botânico de São Paulo, o Instituto de Botânica e a Secretaria do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo. Essa exposição era apresentada em dois
núcleos: em um deles, havia material documental e, no outro, exemplares de
plantas vivas representativas de algumas das espécies disseminadas pelos
portugueses, como a cana-de-açúcar, o trigo, especiarias. A outra exposição,
realizada em 1998, “A floresta no olhar da história”, foi organizada pela
Coordenadoria de Educação Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de São
Paulo, em parceria com o Jardim Botânico de São Paulo, para mostrar ao grande
público as características e a importância da preservação das florestas. Ao
percorrer a exposição, as pessoas podiam perceber os principais elementos
existentes nas matas, os tipos de vegetação do Brasil, a sua importância, seus usos
e seu significado para o homem ao longo do tempo. Em meio a textos e
ilustrações, eram mostradas as mais diversas formas da relação simbólica entre os
homens e a floresta. No final do espaço, foi montada uma amostra de mata
virtual, para que cada visitante desse a sua interpretação do significado da
floresta. Existem planos de instalar nessa estufa uma amostra representativa de
plantas típicas da vegetação de cerrado, o segundo bioma mais importante do
estado de São Paulo, com informações sobre as plantas e sua utilização pelo
homem, as características do ecossistema, como os efeitos do fogo na vegetação e
a forte sazonalidade imposta principalmente pelo regime das chuvas.
Atrás das estufas há uma área com várias espécies de palmeiras, conhecida
como Palmeto Histórico. As primeiras palmeiras do Jardim Botânico de São
Paulo foram plantadas por Hoehne para que ali se caracterizasse a Pindorama,
termo dado ao Brasil pelos índios tupis e que significa “lugar que tem muitas
palmeiras”.
O lago das Ninféias é um dos locais de maior beleza desse jardim botânico.
As flores se abrem apenas pela manhã e há uma grande quantidade delas,
principalmente as de cor amarela. As folhas das plantas são flutuantes,
permanecendo, portanto, à superfície da água e ajudando a formar um conjunto
de cores harmônicas. Segundo os botânicos, a ninféia de cor amarela e a rósea
são plantas híbridas, enquanto a lilás é uma espécie brasileira.
Algumas plantas que crescem nesse jardim merecem destaque por sua
importância. Uma delas é o palmito, uma palmeira característica da mata
atlântica hoje ameaçada de desaparecer devido às retiradas constantes de
indivíduos para o consumo do palmito. O palmito é, na verdade, a gema apical,
e sua retirada implica a morte da planta, uma vez que ela não pode rebrotar. O
xaxim, uma planta do grupo das samambaias, era comum nas matas das regiões
Sudeste e Sul do Brasil, mas hoje se encontra em extinção, sendo proibida sua
comer​cialização. Foi durante anos retirado das matas para a confecção de vasos e
suportes para plantas e, apesar das inúmeras tentativas de utilizar outros
materiais para substituí-lo, ainda não se conseguiu reproduzir os resultados
obtidos com o xaxim. Outra planta que encanta os visitantesé a samambaia
gigante, de grande beleza. O visitante do Jardim Botânico de São Paulo pode
também conhecer plantas que provavelmente nunca viu, mas de que já ouviu
falar, por consumir seus frutos, como o pinhão das festas juninas, produzido pelo
pinheiro-do-paraná, as azeitonas da oliveira, o café.
O Jardim Botânico de São Paulo tem duas alamedas principais. A alameda
Von Martius é ladeada por indivíduos de palmeira-real intercalados por
espécimes de ipê-rosa. Aqui é feita uma homenagem ao naturalista bávaro Carl
Friedrich Philipp von Martius que, durante três anos de viagens de coleta no
início do século XIX, estudou a flora brasileira e foi um dos editores da Flora
Brasiliensis, ainda hoje a mais importante obra de referência sobre as plantas do
Brasil. A alameda Fernando Costa, assim chamada em honra do secretário da
Agricultura que decidiu criar o Jardim Botânico de São Paulo, é margeada por
palmeiras jerivás, típicas do Brasil. É a via de acesso do visitante do jardim. Dali
pode-se ver o córrego do Pirarungaua, um dos cursos d’água que formam a bacia
do riacho Ipiranga, correndo entre os taludes das margens recobertos por
espécies da mata atlântica.
Além das duas grandes estufas, outra edificação chama a atenção na área do
Jardim Botânico. Trata​-se do Museu Botânico Dr. João Barbosa Rodri​gues,
inaugurado em 1942, no centenário do nascimento desse grande naturalista que
dedicou anos de sua vida ao estudo das palmeiras e orquídeas, tendo descrito
inúmeros gêneros e espécies novas de plantas. É construído em forma de cruz e,
externamente, exibe oito placas de terracota em baixo-relevo representando
plantas nativas brasileiras, desde algas até plantas superiores. No teto da sala
central há um belíssimo vitral decorado com desenhos coloridos de plantas
brasileiras, com destaque às orquídeas. Esse vitral foi feito pela Casa Conrado, a
mesma que fabricou os magníficos vitrais do Mercado Municipal de São Paulo.
As cinco salas mostram aspectos dos diferentes tipos de vegetação encontrados
no estado de São Paulo, como mata atlântica, cerrado, manguezal, restinga.
Exemplares de plantas herborizadas, frutos e sementes ilustram as características
dessas formações vegetais. ​
Em 2006, foi aberta aos visitantes a Trilha da Nascente do Riacho Ipiranga.
É um deque de madeira de reflorestamento apoiado em uma estrutura de
eucalipto tratado. A trilha foi projetada e construída para não causar impacto na
vegetação. Sendo totalmente elevada, chegando a atingir 4 m de altura em alguns
trechos, evita o contato do visitante com o solo, e permite chegar bem próximo
às copas das árvores. Com 360 m de extensão e três pontos de observação, o
visitante percorre inicialmente um trecho de mata em recuperação, seguindo
para uma área com elevada diversidade de espécies com samambaias, bromélias e
palmitos, além de árvores altas. No final do percurso, o visitante chegará a uma
das nascentes do riacho do Ipiranga. Na sua construção foram observados
conceitos de conservação da biodiversidade e educação ambiental. A trilha está
adaptada para receber pessoas com dificuldade de movimentação, como idosos e
usuários de cadeiras de rodas. Há moni​tores treinados para acompanhar os
visitantes pela trilha, mostrar as diferentes espécies de plantas e sua importância
no ecossistema. Durante o percurso, exemplares da fauna do Parque Estadual das
Fontes do Ipiranga poderão ser vistos, como o bicho-preguiça, macacos bugios,
gambás e aves diversas.
O Jardim Botânico de São Paulo é administrado pelo Instituto de Botânica
da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Como em todo jardim
botânico moderno, a conservação de espécies e o estudo da biodiversidade
vegetal são vinculados à pesquisa científica. Seus pesquisadores dedicam-se a
estudar todos os grupos de plantas, desde algas marinhas e de água doce às
plantas superiores e aos fungos, passando pelos grupos dos musgos e das
samambaias. O enfoque dos estudos é em espécies nativas, com ênfase nas
encontradas nos principais ecossistemas do estado de São Paulo. O Herbário do
Estado Maria Eneyda P. Kauff​mann Fidalgo é o terceiro do Brasil em número de
espécimes e conserva o material de referência da flora do estado. Além do
material conservado em herbário, há coleções de material botânico vivo que
merecem menção, como o Orquidário do Estado, com cerca de 700 espécies e
16 mil vasos de orquídeas, principalmente espécies nativas brasileiras, a coleção
de bromélias, cactos, palmeiras e marantas. Mas os estudos não são apenas de
taxonomia. Pesquisas sobre a germinação e a conservação de sementes, o
crescimento das plantas, a indução da floração, os componentes das plantas
(como car​boi​dratos e substâncias de interesse farmacológico, suas características
químicas e variações ao longo do crescimento do vegetal), as respostas das
plantas às mudanças ambientais impostas pelas alterações de temperatura,
umidade e duração do dia nas diferentes estações do ano até efeitos de poluentes
e gases atmosféricos, entre outras.
A conservação da biodiversidade vegetal em geral e paulista, em particular, é
feita pela manutenção das coleções de plantas ali existentes, conhecida como
conservação ex situ , ou fora do lugar de ocorrência das espécies. Mas também é
feita conservação in situ, ou no próprio local em que crescem as plantas, na área
de reserva de mata atlântica (147 ha) sob sua responsabilidade no Parque
Estadual das Fontes do Ipiranga e em outras duas áreas, a Reserva Biológica do
Alto da Serra de Paranapiacaba, em Santo André, e a Reserva Biológica e Estação
Experimental de Mogi-Guaçu, no município de mesmo nome.
Em 1909, quando era diretor do Museu Paulista, Hermann von Ihering
adquiriu com recursos próprios uma área de mata primitiva no alto da serra de
Paranapiacaba, onde os trens da ferrovia Santos–Jundiaí sobem e descem
auxiliados por cabos. Essa área de mata atlântica fica vizinha à vila de
Paranapiacaba, local que ainda mantém resquí​cios da época em que foi habitada
pelos ingleses que vieram trabalhar na construção da ferrovia, como a estação de
trens com sua pequena reprodução do Big Ben e as casas de madeira importada.
Essa área foi transformada em uma estação biológica e é considerada a mais
antiga área de reserva do Brasil. Em 1912, foi vendida ao Governo do Estado de
São Paulo, que a colocou sob a responsabilidade da Secretaria da Agricultura, até
passá-la ao Instituto Butantã, em 1917. A partir daí, sua trajetória administrativa
segue as do Jardim Botânico e do Instituto de Botânica. A área é rica em espécies
típicas da mata atlântica, como orquídeas, bromélias, numerosas trepadeiras e
palmeiras, dentre elas os palmitos, vítimas constantes do extrativismo. Na década
de 1970, a vegetação sofreu os efeitos nocivos dos gases poluentes produzidos
pelo complexo Industrial de Cubatão. Esses gases causaram danos sérios à
vegetação, com a morte de muitas árvores. Felizmente, foram tomadas medidas
drásticas para o controle da poluição na região e para a defesa da mata que hoje
apresenta sinais de recuperação. A reserva foi visitada por pesquisadores, alguns
ilustres, como o casal Marie e Pierre Curie, e continua sendo-o por alunos de
graduação e de pós-graduação de diversas universidades, que ali têm contato com
uma amostra preciosa de mata atlântica.
Em 1970, por decreto governamental, foi transferida do Instituto Florestal
para o Instituto de Botânica uma área de cerrado da Fazenda Campininha, em
Mogi-Guaçu. Essa área de cerrado, apesar de ter dimensões relativamente
modestas, tem sido muito utilizada para estudos sobre as espécies de plantas e
animais que ali ocorrem. Como o cerrado tem sua maior área de distribuição na
região central do país, em São Paulo as ​áreas de cerrado correspondem ao limite
sul de distribuição desse bioma, com características próprias, que interessam aos
pesquisadores. Campo cerrado, cerrado, cerradão e mata ciliar ali estão
representados. Na década de1980, a área da Reserva Biológica foi dividida e
demarcada em zonas que permitem tipos específicos de pesquisas que podem ou
não perturbar o ambiente. Essa medida teve que ser adotada para disciplinar o
uso e manter preservada a área, bastante utilizada por estudantes e professores
das universidades públicas e privadas de São Paulo, por botânicos de diferentes
especialidade, químicos e bioquímicos, zoólogos e ecólogos em seus trabalhos de
campo.
O Jardim Botânico de São Paulo é o segundo mais antigo do Brasil em
atividade. Com seus 360.000 m² de área destinados à visitação pública, ocupa
mais de um terço da área total do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga. O
Jardim Botânico de São Paulo tem uma característica peculiar, diferente de
outros jardins botânicos. Por ter sido construído dentro de uma área preservada
de mata, um dos últimos resquícios da mata atlântica no município de São
Paulo, a área ajardinada é relativamente pequena se comparada à área de
vegetação natural. Por onde se olhe, ao longo de um passeio por ele, vê-se a mata
em todo seu esplendor e suas espécies mais características, como as quaresmeiras,
com suas flores roxas ou róseas. O visitante pode, literalmente, penetrar na mata
atlântica sem sair da cidade de São Paulo.
Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Rua Jardim Botânico, 1008
Jardim Botânico
22460-070 Rio de Janeiro, RJ
Telefone: (21) 3874 1808
www.jbrj.gov.br
No dia 29 de novembro de 1807, um dia antes de as tropas napoleônicas
chegarem a Lisboa, a família real portuguesa, acompanhada da corte e de
inúmeras figuras importantes do país, buscou refúgio no vice-reino do Brasil.
Com isso, estabeleceu-se a capital do Império português no Rio de Janeiro.
Dona Maria I era a rainha de Portugal e, devido a seus problemas de saúde, seu
filho João era o príncipe regente. Com a morte da mãe, em 1816, subiu ao trono
português, passando a reinar como dom João VI de Portugal.
http://www.jbrj.gov.br
A mudança da família real e da corte portuguesa para o Brasil e sua
instalação no Rio de Janeiro trouxe diversos benefícios para a cidade, uma vez
que era preciso pensar em sua defesa, prover alimentos à população, zelar por sua
saúde, instalar indústrias. Uma das primeiras medidas tomadas foi a construção
de uma fábrica de pólvora, uma fundição e uma tornearia para fabricar canhões.
O local escolhido foi um antigo engenho de cana-de-açúcar chamado Nossa
Senhora da Conceição da Lagoa, de grande beleza, localizado entre o morro do
Corcovado e o morro dos Dois Irmãos. Dom João VI encantou-se tanto com o
lugar que, em decreto de 13 de junho de 1808, criou lá um Jardim de
Aclimatação, com o objetivo de aclimatar especiarias como a noz-moscada, a
canela, a pimenta-do-reino, que vinham das Índias Orientais. Em 11 de outubro
do mesmo ano, dom João transformou o Jardim da Aclimatação em Real Horto.
Ao ser coroado dom João VI do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o
nome foi mudado para Real Jardim Botânico. Depois, passou a ser simplesmente
Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Em 1937, foi tombado pelo Patrimônio
Histórico Nacional e em 1991 tornou-se Reserva da Biosfera. A partir de 1996,
o nome oficial passou a ser Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de
Janeiro. Administrativamente, é subordinado ao Ministério do Meio Ambiente.
O imperador dom Pedro I continuou o projeto do pai e, em 1819, o Jardim
Botânico foi aberto à visitação pública, mas ainda com muitas restrições, uma
vez que os visitantes deviam ser acompanhados por guardas imperiais.
Os primeiros diretores foram o marquês de Sabará e o marquês de Queluz,
seguidos por frei Leandro de Sacramento, da Ordem dos Carmelitas. Frei
Leandro era formado em ciências naturais pela Universidade de Coimbra. Foi o
primeiro professor de botânica da recém-criada Escola de Medicina do Rio de
Janeiro e o primeiro diretor técnico do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, entre
1824 e 1829. Deu início a transformações na paisagem do jardim, com a
construção de um lago artificial, hoje denominado lago Frei Leandro, um dos
pontos mais belos e visitados atualmente no Jardim Botânico, com suas vitórias-
régias e ninféias, e ladeado por exemplares de Ravenala madagascariensis, a árvore
dos viajantes. A escavação do lago resultou em grande quantidade de terra que
foi usada para elevar um cômoro, onde foi construída a Casa dos Cedros. Ao
lado desta, encontra-se hoje um relógio de sol e uma mesa de granito, na qual
dom Pedro I e dom Pedro II merendavam quando iam visitar o Jardim
Botânico. Essa mesa é conhecida como Mesa do Imperador.
Já na época da República, em 1890, o então diretor, João Barbosa
Rodrigues, inaugurou uma nova fase, implantando uma série de melhorias,
como a criação de uma biblioteca e a Estufa do Herbário, além de incentivar a
pesquisa científica.
As primeiras plantas que chegaram ao Jardim Botânico vieram das ilhas
Maurício, no oceano Índico. O português Luiz de Abreu estava a caminho do
Brasil quando naufragou em Goa e foi feito prisioneiro dos franceses. Foi
mandado para a ilha de França, hoje ilha Maurício, onde havia um grande
jardim, chamado Gabrielle. Ao fugir da prisão, acondicionou em um caixote
várias mudas de plantas de espécies locais, como jaqueira, fruta-pão, cajá-manga,
olho-de-boi e flor-de-coral, uma orquídea de flores vermelhas que vive até hoje,
apoia​da nos troncos das árvores mais antigas do Jardim Botânico. Trouxe
também mudas de palmeiras, entre elas, aquela que seria a “mãe” de todas as
palmeiras do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a palmeira-imperial (Roystonea
oleracea). Segundo consta, uma muda dessa palmeira teria sido plantada pelo
próprio dom João VI, em 1809. Por isso, ficou conhecida como palmeira-real e,
posteriormente, palmeira-imperial. Essa planta floresceu pela primeira vez em
1829. O diretor do jardim na época, Serpa Brandão, mandou colher e queimar
todos os frutos para que o Jardim Botânico tivesse o monopólio daquela
palmeira plantada pelas mãos de dom João VI. Mas a proibição teve efeito
contrário. À noite, os escravos subiam pelo estipe da palmeira, colhiam e
vendiam os frutos. Rapidamente essa palmeira foi disseminada por todo o país,
ficando mais conhecida do que muitas espécies da flora nativa. Com o passar do
tempo, a palmeira plantada por dom João VI passou a ser conhecida como
Palma Mater – palmeira-mãe. Em 1842, foram plantadas as palmeiras imperiais
da aléia Barbosa Rodrigues, originárias, todas elas, de mudas da palmeira-mãe.
Simbolicamente, são denominadas de Palma Filia – palmeira-filha. Em 1972,
um raio abateu o estipe da Palma Mater, com seu 39 m e, em seu lugar, outro
exemplar de Palma Filia foi plantado. O estipe da Palma Mater está exposto no
Museu do Jardim Botânico.
Portanto, não é sem razão que a palmeira-imperial é o símbolo do Jardim
Botânico do Rio de Janeiro. A aléia Barbosa Rodrigues, ladeada por duas
colunatas dessas palmeiras, aparece no logotipo do jardim e é, sem dúvida, sua
paisagem mais marcante. Na confluência dessa aléia com a aléia Frei Leandro
está o chafariz central, que é de fabricação inglesa, em ferro forjado, e
encontrava-se no bairro da Lapa, tendo sido trazido para o jardim quando
Barbosa Rodrigues era o diretor (1880-1909). O chafariz é um conjunto de duas
bacias, a maior delas com esculturas representando​ a música, a poesia, a ciência e
a arte, além de outras alegorias.
Dom João empenhou-se pessoalmente em aumentar a coleção do Jardim
Botânico, instituindo recompensas e isenções fiscais aos que trouxessem novas
plantas. A invasão da Guiana Francesa, ainda em 1809, proporcionou o
incremento de plantas de várias espécies, trazidas como despojos de guerra.
Assim, a coleção foi aumentando, com a introdução de espécies exóticas e
interessantes, provenientes de várias partes do mundo. Mais recentemente, à
época da conferência Eco-92 (ou Rio-92), representantes dos diversos países
participantes trouxeram mudas de espécies nativas de seus países e

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