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CRIMINOLOGIA Apresentação .......................................................................................................................................... 4 Aula 1: Conhecendo a Criminologia ............................................................................................... 5 Introdução ................................................................................................................................................ 5 Conteúdo ................................................................................................................................................... 6 Conceito de criminologia, sua natureza e funções ............................................................ 6 Conceito de criminologia ............................................................................................................... 6 Natureza da criminologia ................................................................................................................ 7 Nascimento da criminologia enquanto ciência ................................................................... 8 Objetos da criminologia ................................................................................................................. 8 Funções da criminologia ................................................................................................................ 9 A criminologia e outras ciências ................................................................................................. 9 Criminologia e política criminal ................................................................................................ 10 Criminologia x Capitalismo .......................................................................................................... 11 Indicações estratégicas de política criminal ........................................................................ 12 Política criminal, direito penal e processo penal ............................................................... 12 Períodos de evolução da criminologia ................................................................................... 12 Período da antiguidade aos precursores da Antropologia Criminal ......................... 13 Período da antropologia criminal ............................................................................................. 15 Período de política criminal ........................................................................................................ 16 Atividade proposta .......................................................................................................................... 17 Referências ............................................................................................................................................. 18 Exercícios de fixação ......................................................................................................................... 18 Chaves de resposta ..................................................................................................................................................... 22 Aula 2: As Escolas Criminológicas ................................................................................................. 24 Introdução .............................................................................................................................................. 24 Conteúdo ................................................................................................................................................. 25 As Escolas Pré-Clássicas ............................................................................................................... 25 A Escola Clássica .............................................................................................................................. 25 O homem deliquente ..................................................................................................................... 26 A Escola Positiva ............................................................................................................................... 27 As teses iluministas ......................................................................................................................... 28 Sociologia criminal .......................................................................................................................... 29 A criminologia americana ............................................................................................................ 30 A criminologia dos países socialistas ...................................................................................... 31 A criminologia nos dias atuais: seleção penalizante ....................................................... 32 Estereótipo criminal ........................................................................................................................ 33 CRIMINOLOGIA Programas de prevenção ............................................................................................................. 34 Encerramento .................................................................................................................................... 35 Aprenda Mais ........................................................................................................................................ 35 Referências ............................................................................................................................................. 36 Exercícios de fixação ......................................................................................................................... 36 Chaves de resposta ...................................................................................................................................................... 41 Aula 3: Vitimologia .............................................................................................................................. 43 Introdução .............................................................................................................................................. 43 Conteúdo ................................................................................................................................................. 44 O foco na vítima ............................................................................................................................... 44 Classificação das vítimas .............................................................................................................. 44 A vitimologia e seus precursores .............................................................................................. 45 A vítima como um dos objetos da criminologia ............................................................... 46 Conceito e natureza da vitimologia ........................................................................................ 46 Relação entre o delinquente e a vítima ................................................................................. 48 Aspectos sociológicos e psicológicos da relação vítima e delinquente ................. 48 A classificação de Mendelsohn .................................................................................................. 49 Vitimologia radical ........................................................................................................................... 50 Compensação à vítima do dano decorrente do delito ................................................... 50 Espécies de vitimização ................................................................................................................ 51 Atividade proposta ..........................................................................................................................52 Aprenda Mais ........................................................................................................................................ 53 Referências ............................................................................................................................................. 53 Exercícios de fixação ......................................................................................................................... 53 Chaves de resposta ......................................................................................................................................................57 Aula 4: Os saberes psi. Criminologia crítica ................................................................................ 60 Introdução .............................................................................................................................................. 60 Conteúdo ................................................................................................................................................. 61 Psicologia, psiquiatria e psicanálise ......................................................................................... 61 Olhar psicanalítico para a criminologia ................................................................................. 61 A psicanálise freudiana e novos objetos de pesquisa ..................................................... 62 Os saberes psi e a criminologia brasileira ............................................................................. 63 Criminologia crítica ......................................................................................................................... 63 Criminologia radical ........................................................................................................................ 64 Criminologia dialética ou crítica ............................................................................................... 65 Conclusão ............................................................................................................................................ 66 Aprenda Mais ........................................................................................................................................ 67 Referências ............................................................................................................................................. 67 CRIMINOLOGIA Exercícios de fixação ......................................................................................................................... 67 Chaves de resposta ...................................................................................................................................................... 73 Conteudista .....................................................................................................................................................................75 CRIMINOLOGIA Nesta disciplina, analisaremos o conceito, o objeto e as funções da Criminologia, a sua evolução até adquirir o status de ciência, assim como as principais teorias em seus mais diversos momentos. Observaremos a estreita ligação da criminologia com as demais disciplinas que formam as ciências criminais ou penais e o quanto a Criminologia influencia diretamente o Direito Penal e a política criminal. Abordaremos a criminologia crítica, seu conceito, principais precursores e sua influência em uma política criminal moderna e diferenciada. Sendo assim, esta disciplina tem como objetivos: 1. A análise, compreensão e comparação dos conceitos clássicos e modernos da Criminologia, sua natureza, objetos e funções; 2. O entendimento acerca da Criminologia como ciência interdisciplinar e influenciadora das demais ciências criminais; 3. A diferenciação dos diversos momentos históricos da Criminologia, com abrangência das principais escolas até o surgimento da criminologia crítica. CRIMINOLOGIA Introdução Olá, pessoal! Sejam bem-vindos! Hoje é nossa primeira aula e vamos iniciar nossos estudos sobre a criminologia. O reconhecimento da criminologia como ciência autônoma é algo relativamente novo. Todavia, a criminologia enquanto análise dos fatores que levam ao crime é bastante antiga. Dessa forma, torna-se essencial, para entender a disciplina, que possamos analisar quais são os conceitos clássicos e modernos desta ciência, sua origem e surgimento, assim como sua interdisciplinaridade. Ao longo da nossa aula, poderemos entender a direta ligação entre as ciências penais, percebendo a interferência da criminologia em relação ao Direito Penal e à política criminal, e o quanto estas são influenciadas pelo momento histórico e político das sociedades. O estudo da criminologia é essencial para aqueles que pretendem se dedicar à área penal, pois como destaca Jason Albegaria, em sua obra Criminologia – Teoria e Prática (Aide Editora, 1988) – “A experiência vem demonstrando que a falta de formação especializada do pessoal do sistema penal é responsável pelo malogro da aplicação ou eficácia das inovações do Código Penal, Código de menores e Lei de Execução Penal. Objetivos: 1. Compreender os diversos conceitos de criminologia, assim como identificar sua natureza, objetos e funções; 2. Relacionar as diversas etapas na evolução histórica da criminologia. CRIMINOLOGIA Conteúdo Conceito de criminologia, sua natureza e funções A significação etimológica da criminologia é “tratado do crime”. Aponta-se a sua primeira utilização por Rafael Garófalo, em 1885. No entanto, pensar o conceito de criminologia vai muito além da etimologia. Lola Aniyar de Castro conceitua a criminologia de uma forma abrangente e crítica: Atividade intelectual que estuda os processos de criação das normas penais e das normas sociais que estão relacionadas com o comportamento desviante dessas normas; e a reação social, formalizada ou não, que aquelas infrações ou desvios tenham provocado: o seu processo de criação, a sua forma e os seus efeitos (CASTRO, Lola Aniyar de. Criminologia da reação social. RJ: Forense, 1983. p. 52). Conceito de criminologia Há definições convencionais e definições modernas da criminologia. Anitua apresenta, em seu conceito, uma tradução de Edwin Sutherland, como corpo de conhecimentos que observa o delito como fenômeno social. Alessandro Baratta trabalha com o enfoque macrossociológico. A moderna criminologia crítica é trabalhada por criminólogos como Dario Melossi, Massimo Pavarini e Roberto Bergalli, que se afastaram dos esquemas causais explicativos para voltar ao principal objeto da criminologia, para o controle social. Em sua obra Introdução crítica à Criminologia Brasileira, Vera Malaguti Batista destaca o conceito trazido por Raul Zaffaroni, de que a criminologia seria “saber e arte de despejar discursos perigosistas” e nada mais que o “curso dos discursos sobre a questão criminal”. Consoante destaca Albegaria (ob cit, p. 17), “o Colóquio da Unesco enumera as matérias ensinadas nos institutos de criminologia ou fora deles: São ciências criminológicas e ciências anexas. Consoante o referido colóquio, a criminologia CRIMINOLOGIA consistiria no ensino e pesquisa de certas disciplinas fundamentais. Duas novas direções se lhe entreabriam: a da criminologia geral e a da criminologia clínica. A criminologia geral ou criminologia sintética compara, coordena e classifica os resultados obtidos no quadro de cada uma das ciências criminológicas. Constitui um útil trabalho de síntese. A criminologiaclínica ou microcriminologia vai mais longe. Consiste na aplicação de métodos e princípios das ciências criminológicas fundamentais à observação e tratamento do delinquente, isto é, ao exame médico-psicológico e social, diagnóstico criminológico, prognóstico social, tratamento e reinserção social.” Natureza da criminologia Atualmente, a criminologia é considerada uma ciência. No dizer de Luis Jimenez Asúa, uma ciência causal explicativa, integrante das Ciências Penais (FERNANDES, Valter; FERNANDES, Newton. Criminologia Integrada. RT, 3. ed, p. 47). É cediço que toda ciência se caracteriza pela existência de método e objeto próprios. Sua natureza de ciência deriva do fato de satisfazer aos requisitos da epistemologia, já que possui objetos específicos (estuda o crime, o criminoso, a vítima e o controle social, usa um método próprio (método indutivo e empírico), partindo dos fatores exógenos e endógenos para chegar, à época do positivismo, por exemplo, à formação do caráter do criminoso; vale-se da estatística, biologia, história, sociologia, psicologia, psiquiatria e demais ciências humanas e sociais. A criminologia se tornou autônoma e adquiriu status de ciência quando o positivismo passou a se utilizar largamente do método empírico, quando a análise, a observação e a indução substituíram a especulação e o silogismo, abandonando o método abstrato, formal e dedutivo. No entanto, durante muito tempo, esta natureza foi combatida, seja pelo fato de a criminologia utilizar CRIMINOLOGIA mais de um método, seja por muitos terem lhe atribuído um caráter de não universalidade. “Nas ciências sociais e humanas, trabalhamos com mecanismos mentais, psicológicos e outros mecanismos influenciadores do comportamento, onde a certeza tem que ser relativa, onde suas leis implicam um grande número de exceções. Fazendo com que a criminologia, como uma ciência humana e social que é, depare-se com pontos até sem resposta, ou com repertório de fatos que, para coligi-los exige metodologia e preparo.” Alexis Carrel (CARREL, Alexis. O homem, este desconhecido. Portugal: Educação Nacional, 1938). Nascimento da criminologia enquanto ciência Alguns autores tendem a fazer coincidir o nascimento da criminologia enquanto ciência com o surgimento da escola positivista. Todavia, antes da escola positivista, e após a pré-clássica, tivemos a escola clássica que, em virtude de sua natureza sistemática, nos permite atribuir-lhe a origem da caracterização da criminologia enquanto ciência. Calcada nas ideias iluministas de que o principal objetivo do direito penal (enquanto ciência) seria prevenir os abusos por parte do Estado, bem como de que o crime não seria uma entidade de fato, mas sim de direito, autores como Beccaria, Bentham e Carrara debruçaram-se sobre o tema (DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDADE, Manuel da Costa. Criminologia: o homem delinquente e a sociedade criminógena. Coimbra, 1997. p. 8). Objetos da criminologia Ao longo da história, a abordagem dos criminólogos quanto aos objetos da criminologia não foram estanques. Como vimos anteriormente, a criminologia possui, atualmente, como objetos, o delinquente, o delito, a vítima e o controle social. Analisando diversas obras doutrinárias, em diferentes épocas, podemos perceber tal variação na conformação desses objetos. CRIMINOLOGIA Para Jason Albergaria (ob. Cit, p. 27), assim delimitados os dois aspectos do crime, seriam objeto das ciências criminológicas a realidade social e humana da infração, e objeto das ciências criminais os elementos normativos. Funções da criminologia Quanto às funções da criminologia, em uma análise meramente tradicional e acrítica, podem ser identificadas as seguintes: Explicar o crime Definir o crime Prevenir o crime Intervir no infrator Avaliar modelos de respostas ao crime A criminologia e outras ciências A criminologia é interdisciplinar A criminologia é interdisciplinar, uma vez que se relaciona com diversas outras ciências, formando a denominada Enciclopédia das Ciências Penais ou síntese criminológica, que se destina a perquirir, enfrentar e aplicar de forma interativa os princípios e normas dos elementos do episódio criminal: o delito, o criminoso e a pena. Modernamente, os criminólogos críticos se debruçam sobre um objeto em especial: o controle social, abandonando o paradigma etiológico da criminologia tradicional. Dessa forma, a criminologia se relaciona com o Direito Penal, a medicina social, a psiquiatria, a psicologia e a sociologia. A medicina social colabora diretamente com a criminologia, notadamente nos casos de infortunística, facilitando o funcionamento harmonioso da justiça na ambiência coletiva. A criminologia é uma ciência do "ser", empírica; o Direito, uma ciência cultural, do "dever ser", normativa. Em consequência, enquanto a primeira se serve de um método indutivo, empírico, baseado na análise e na observação da CRIMINOLOGIA realidade, as disciplinas jurídicas utilizam um método lógico, abstrato e dedutivo. Para qualquer dos objetos que se destina estudar, poderá fazê-lo sob vários enfoques distintos, podendo se apoderar de diversas esferas do conhecimento a fim de melhor entender determinada situação. Criminologia e política criminal O II Congresso Internacional de Criminologia de 1950 não considerou a penologia e a política criminal como objetos da criminologia. O fundamento é de que a criminologia seria vaga e heterogênea, com métodos de tratamento ainda em evolução e com incerteza sobre o valor de tais métodos. Não se trataria de uma ciência pura, mas tão complexa como a medicina, compreendendo uma parte teórica e outra prática, abrangendo, como vimos anteriormente, a criminologia geral e a clínica ou aplicada. Nilo Batista apresenta a política criminal como um conjunto de princípios e recomendações para a reforma ou transformação da legislação criminal e dos órgãos encarregados de sua aplicação. Dessa forma, o conceito de política criminal estaria abrangendo a política de segurança pública, a política judiciária e a política penitenciária, estando diretamente conectado à ciência política (MALAGUTI, ob cit, p. 23). Se desenvolvermos a ideia, conforme estudaremos mais adiante, de uma criminologia crítica, aliada a uma visão também crítica do Direito Penal e da Política Criminal, poderemos chegar à conclusão de que a criminologia não mais está em busca de explicar a delinquência, buscar sua causa e apresentar meios para sua prevenção, assim como a política criminal não mais deve se reduzir a uma mera função de “conselheira da sanção legal”. CRIMINOLOGIA Criminologia x Capitalismo A questão criminal está diretamente relacionada com o poder e com as necessidades de determinada classe social e, com isso, a sua história possui ligação intrínseca com a história do capitalismo. Quando há um marco na modificação das relações de poder, há também uma mudança direta na criminologia e na política criminal. A doutrina aponta o século XIII como um desses marcos. Com a invenção da pena pública, Vera Malaguti Batista, com fundamento em Nilo Batista, afirma ter havido o confisco do conflito da vítima. A partir desta época, com grandes mudanças políticas e com uma nova roupagem para a política criminal, passa-se a ter um novo modelo de poder punitivo, com uma relação entre as noções de delito e de castigo que ocasionará os conceitos de infração e de pena pública. Foi justamente esse modelo punitivo, inquisitorial, centralizadoe burocratizado que ocasionou a expropriação do conflito em favor do Estado. A vítima passa a ser mero coadjuvante. Atenção A partir do século XVI, o encarceramento ou internamento passa a constituir pena. O contexto revolucionário dos séculos XVII e XVIII exigia críticas e ações efetivas contra os rigores punitivos do absolutismo. O que se pode perceber, portanto, é que situações específicas como a Escola Francesa dos Annales, a Inquisição, o fortalecimento do contrato social ocorrido a partir do século XVIII, o grande internamento, também no século XVIII, irão influenciar na própria história da criminologia e na política criminal adotada ao longo dos séculos. CRIMINOLOGIA Indicações estratégicas de política criminal Alessandro Baratta (Defesa dos direitos humanos e política criminal, Instituto Carioca de Criminologia, 1997) traça indicações estratégicas de política criminal: • Não reduzir a política de transformação social à política penal; • Entender que o sistema penal é ontologicamente desigual, a seletividade faz parte da sua natureza; • Lutar pela abolição da pena privativa de liberdade; • Travar a batalha cultural e subjetiva contra a legitimação do direito desigual através das campanhas de lei e ordem. Política criminal, direito penal e processo penal Beccaria foi quem produziu pela primeira vez uma exposição articulada e globalizada entre política criminal, direito penal e processo penal. Segundo Consoante Vera Malaguti Batista (Ob cit, p. 39): “Beccaria faz uma defesa da coexistência, do Estado sem conflito, presente na maneira de pensar de Hobbes, Locke e Rousseau, com todas as suas nuances. A pena, aqui, se contrapõe ao sacrifício da liberdade. O juiz deverá subordinar-se à lei, e não ao soberano. A ideia de dano social e de defesa social (incólumes até os dias de hoje) são elementos fundamentais dessa teoria.” Períodos de evolução da criminologia Por uma questão tão somente didática, ao analisar a história da criminologia, podemos apontar uma sequência de evolução que abarca as seguintes etapas: CRIMINOLOGIA Figura 01: Evolução da criminologia Período da antiguidade aos precursores da Antropologia Criminal O primeiro momento deste período, que varia de 1728 a 4 a.C., teve pensadores como Confúcio, Alcmeon, Esopo, Isócrates, Protágoras, Sócrates, Hipócrates, Platão, Aristóteles e Sêneca. Todos esses pensadores, em algum momento, destacaram o delito ou o delinquente, muito embora este não tenha sido o objeto principal de suas filosofias. Na Idade Média, que para alguns, inicia-se em 395 d.C e se estende até 1453, enquanto para outros se inicia com a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C e se estende até a tomada de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, pelos turcos em 1453. Nesta época, os escolásticos e os “doutores da Igreja” não se preocupavam em reparar a criminalidade. Foi com o surgimento de São Tomás de Aquino (1226 a 1274) que se criou a Justiça distributiva, que manda dar a cada um aquilo que é seu, que afirmava que a pobreza pode ser incentivadora do roubo. Nessa época, houve também a defesa do furto famélico (atualmente furto praticado em estado de necessidade para saciar a fome, o que exclui a ilicitude). Embora Santo Agostinho tenha vivido entre 354 e 430 d.C, ele também é considerado como um pensador medieval, que considerava a pena de Talião como a justiça dos injustos. Sustentava que a pena deveria ser uma medida de CRIMINOLOGIA defesa social, a contribuir para a regeneração do culpado, além de representar uma ameaça e um exemplo. No século XIII surge Afonso X, o sábio, que definiu assassínio e tratou dos crimes premeditados e mediante remuneração, no Código das 7 partidas. Pode-se destacar ainda o período das ciências ocultas. Este período está localizado na transição da Idade Média para os tempos modernos e durou do século XIV ao XVI. Tais ciências, denominadas pseudociências, seriam: a astrologia, a oftalmoscopia, a metoposcopia, a quiromancia, a fisiognomonia e a demonologia. Antes do período estudado a seguir, de Lombroso, vários autores foram considerados como precursores da criminologia. Entre eles filósofos e pensadores, como Thomas More, autor de A Utopia; Martinho Lutero, influenciador de revoltas camponesas na Alemanha; Francis Bacon, que admitia como causas determinantes da criminalidade os fatores socioeconômicos, no que foi acompanhado por Descartes; Jean Mabilon, padre francês que introduziu as primeiras prisões monásticas; Filippo Franci, que introduziu a primeira prisão celular; Montesquieu, que teve grande influência durante o Iluminismo, período caracterizado pela modificação de ideias e de concepções que culminaram com a Revolução Francesa. Montesquieu defendia que em vez de um mero castigo, a pena deveria ter um caráter de reeducar. Podem ser citados ainda: Marat, Jean-Jacques Rousseau, que em sua obra, O Contrato Social, afirmou que “a miséria é a mãe dos grandes delitos”; Voltaire, que se destacou por sua luta pela reforma das prisões e pela defesa do trabalho imposto ao condenado; Cesar Bonesana, mais conhecido como Marquês de Beccaria, que afrontou os costumes penais de sua época, publicando sua obra Dos delitos e das penas, tendo se rebelado contra as arbitrariedades da justiça criminal. CRIMINOLOGIA Entre os ensinamentos de Marquês de Beccaria, avançados para a sociedade da época, defendia-se que a atrocidade das penas opõe-se ao bem público, que aos juízes não deve ser dado interpretar as leis penais, que as acusações não podem ser secretas, que as penas devem ser proporcionais aos delitos, que não se pode admitir a tortura do acusado no processo, somente os magistrados podem julgar os acusados, o objetivo da pena não deve ser atormentar, elas devem estar previstas em lei, o réu não poderia ser considerado culpado antes da sentença condenatória, o roubo geralmente é ocasionado pela miséria e pelo desespero, as penas devem ser moderadas, mais útil que a repressão penal é a prevenção dos delitos e que a sociedade não tem o direito de aplicar a pena de morte ou de banimento. Ainda nessa época, destacam-se Bentham e John Howard. Período da antropologia criminal Este período será estudado de forma mais detalhada ao longo da próxima aula, em que se destacam principalmente os estudos de Lombroso, muito embora falar em antropologia criminal não seja necessariamente pensar em uma antropologia positivista. De forma geral, pode-se pensar em um estudo morfo-psico-moral do delinquente, com absorção da anatomia, psicologia e psicopatologia do delinquente. A antropologia ou biologia criminal parte do estudo do homem, seja de sua vida física ou psíquica, sendo definida como a ciência que pesquisa os fatores individuais do crime, compreendendo fatores somáticos e psíquicos da vida do homem (fatores endógenos). Assim, a psicologia criminal está inserida na antropologia criminal. O período sociológico abarca todas as teses e teorias combatentes em relação a Lombroso, tendo surgido em meados do século XIX, com influência direta de Augusto Comte e Adolphe Quetelet. A sociologia tem como estudo o ser social CRIMINOLOGIA em seu conjunto. Seu objeto é a delinquência como fenômeno social ou de massa. Comte é considerado o pai da sociologia moderna. Foram Comte e Durkheim que deram à sociologia o contexto de ciência. Quetelet foi o criador da estatística científica, que posteriormente fundamentou o surgimento daestatística criminal. No entanto, apesar da grande influência desses sociólogos, foi Enrico Ferri que efetivamente pôde ser considerado como o criador da sociologia criminal, ciência que para ele encamparia todas as demais disciplinas criminalísticas, inclusive o Direito Penal. Neste período destacam-se ainda o médico Francês Alexandre Lacassagne, segundo o qual os fatores sociais, atuando sobre o indivíduo predisposto, podem dar origem ao crime; Paul Aubry, Dubuisson. Já os autores das denominadas teorias sociais propriamente ditas foram Gabriel Tarde, Vaccaro, Max Nordau e Auber. Gabriel Tarde sepultou o atavismo, aceitando apenas o atavismo equivalente, que não seria um retrocesso até os selvagens, mas sim a ideia de consubstanciar-se em determinadas predisposições mentais, psíquicas, que apenas permitiriam a comparação ao homem primitivo no que tange ao condicionamento e reações psíquicas, mas sem a comparação morfológica de Lombroso. O conceito de atavismo por equivalente foi desenvolvido por Guilherme Ferrero. Gabriel Tarde, em sua obra Leis de Imitação, afirma que a delinquência é um fenômeno marcadamente social e que a alavanca que o ativa é a imitação. Período de política criminal Este período estabeleceu uma certa trégua entre as escolas francesa e Italiana, no debate infindável sobre a validade ou não das teses de Lombroso. Buscou-se CRIMINOLOGIA uma posição intermediária para se alcançar um resultado comum, sendo abandonadas as posturas extremadas. Nesse período, surgem as novas escolas: Terza Scuola, Escola espiritualista, Escola neoespiritualista e Escola de política criminal. Atividade proposta Cite os pensamentos dos seguintes autores: a) Santo Agostinho b) Marquês de Beccaria c) Quetelet d) Gabriel Tarde e) Lombroso Chave de resposta: É preciso atentar para as diversas épocas em que os pensadores viveram e os argumentos utilizados por cada um deles. a) Santo Agostinho: Considerado como um pensador medieval, que via a pena de Talião como a justiça dos injustos. Sustentava que a pena deveria ser uma medida de defesa social, a contribuir para a regeneração do culpado, além de representar uma ameaça e um exemplo. b) Marquês de Beccaria: Afrontou os costumes penais de sua época, publicando sua obra Dos delitos e das penas, tendo se rebelado contra as arbitrariedades da justiça criminal. Entre seus ensinamentos avançados para a sociedade da época, ele defendeu que a atrocidade das penas opõe-se ao bem público. c) Quetelet: Criador da estatística científica, que posteriormente fundamentou o surgimento da estatística criminal. CRIMINOLOGIA d) Gabriel Tarde: Em sua obra Leis de Imitação, afirma que a delinquência é um fenômeno marcadamente social e que a alavanca que o ativa é a imitação. e) Lombroso: Médico Italiano, considerado pai do positivismo, desenvolveu o estudo do atavismo morfológico, associando a predisposição criminosa a características morfológicas primitivas. Referências ALBEGARIA, Jason. Criminologia – teórica e prática. 2. ed. RJ: Aide, 1988. FERNANDES, Valter; FERNANDES, Newton. Criminologia integrada. 3. ed. SP: RT, 2010. MOLINA, Antonio Garcia-Pablos de; GOMES, Luiz Flavio. Criminologia. 7 ed. SP: RT, 2010. Exercícios de fixação Questão 1 São objetos de estudo da criminologia moderna __________, o criminoso, _________ e o controle social. Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas do texto. a) a desigualdade social ... o Estado b) a conduta ... o castigo c) o direito ... a ressocialização d) a sociedade ... o bem jurídico e) o crime ... a vítima Questão 2 Conceitua-se a criminologia por ser baseada na experiência e por ter mais de um objeto de estudo, como uma ciência: CRIMINOLOGIA a) Abstrata e imensurável b) Biológica e indefinida c) Empírica e interdisciplinar d) Exata e mensurável e) Humana e indefinida Questão 3 Sobre a criminologia é INCORRETO afirmar: a) Estuda crimes socialmente relevantes, tendo interesse em estudar homicídios dolosos e roubos. b) Moderna, tem como meta erradicar as causas do crime, pois desta forma também se estará eliminando os seus efeitos. c) Tem como um dos objetivos orientar a política criminal na prevenção especial e direta dos crimes socialmente relevantes. d) É uma ciência que trata do delito, do delinquente e da pena. e) É um conjunto de conhecimentos que estuda o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinquente e sua conduta delituosa, incluindo também a maneira de ressocializá-lo. Questão 4 (MPE-MG - 2013 - MPE-MG - Promotor de Justiça) É característica da chamada “nova criminologia”: a) A concepção de que a reação penal aplica-se de igual maneira a todos os autores de delitos. b) A busca da explicação dos comportamentos criminalizados partindo da criminalidade como um dado ontológico pré-constituído à reação social. c) O estudo do comportamento criminoso com o emprego do método etiológico das determinações causais de objetos naturais. CRIMINOLOGIA d) O deslocamento do interesse cognoscitivo das causas do desvio criminal para os mecanismos sociais e institucionais através dos quais é construída a “realidade social” do desvio. Questão 5 A microcriminologia, também conhecida por criminologia: a) Do desenvolvimento, dedica-se ao estudo, centrado no comportamento criminoso do indivíduo, ao longo de sua vida. b) Geral, dedica-se ao estudo sociológico do crime. c) Aplicada, dedica-se às pesquisas de cunho acadêmico. d) Clínica, estuda a pessoa do criminoso, em busca de sua ressocialização. e) Analítica, estuda as relações entre as ciências sociais e as políticas de segurança pública. Questão 6 (VUNESP - 2013 - PC-SP - Auxiliar de Papiloscopista Policial) A _________surgiu na Europa, influenciada pelos fisiocratas e iluministas; possui três fases: antropológica, sociológica e jurídica; priorizou os interesses sociais aos individuais. Em 1876, foi publicado o livro O homem delinquente, que instaurou um período científico de estudos criminológicos, assim, é conhecida ainda como “surgimento da fase científica da criminologia”. Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna do texto. a) Escola Clássica b) Terza Scuola c) Escola Criminológica d) Escola Positiva e) Escola Política Criminal ou Moderna Alemã CRIMINOLOGIA Questão 7 Este autor foi o criador da chamada “sociologia criminal”. Para ele, a criminalidade derivava de fenômenos antropológicos, físicos e culturais. Trata- se de: a) Francesco Carrara b) Cesare Lombroso c) Rafael Garófalo d) Enrico Ferri e) Franz von Lizst Questão 8 A história da criminologia conta com grandes autores que, com suas obras, contribuíram significativamente na construção desse ramo do conhecimento. É correto afirmar que Cesare Bonesana (1738~1794), o marquês de Beccaria, foi autor da obra: a) O Homem Delinquente b) Dos Delitos e das Penas c) Antropologia Criminal d) O Ambiente Criminal e) Sociologia Criminal Questão 9 Assinale a afirmativa correta: a) A Escola de Chicago faz parte da Teoria Crítica. b) O delito não é considerado objeto da criminologia. c) A criminologia não é uma ciência empírica. d) A Teoria do Criminoso Nato é de Merton. e) Cesare Lombroso e Raffaelle Garofalo pertencem à Escola Positiva. CRIMINOLOGIA Questão 10Na evolução da criminologia, alguns períodos podem ser claramente identificados, com uma enorme variação entre eles acerca do paradigma etiológico dominante. Entre as várias etapas, é correto afirmar que: a) O paradigma etiológico surge desde a Idade Média, que se estende até o século XVIII. b) O século XVIII, conhecido como século das luzes, representa o apogeu do Iluminismo, que influenciou diretamente a criminologia. Nesta época, destaca-se a publicação da obra de Beccaria, Dos delitos e das penas. c) O positivismo criminológico tem sua base principal na Idade Média, época em que foi publicada a obra de Lombroso. d) A sociologia criminal foi essencialmente desenvolvida por Beccaria. Aula 1 Exercícios de fixação Questão 1 - E Justificativa: Com a variação até os dias atuais, a criminologia passou a ter como objeto o crime, o delinquente, a vítima e o controle social. Questão 2 - C Justificativa: Uma ciência empírica abandona o silogismo, o misticismo e a adivinhação e trabalha com base em dados concretos e reais. Questão 3 - B Justificativa: A criminologia moderna busca erradicar o paradigma etiológico de causa e efeito e se preocupa primordialmente com a ênfase no controle social. Questão 4 - C Justificativa: A moderna criminologia abandona o paradigma etiológico. CRIMINOLOGIA Questão 5 - D Justificativa: A criminologia abrange a microcriminologia, que é a criminologia clínica, buscando a ressocialização do delinquente. Questão 6 - D Justificativa: O principal expoente do positivismo criminológico foi Lombroso, causando grande impacto com sua obra, publicada em 1876. Questão 7 - D Justificativa: Embora muitos filósofos e pensadores tenham influenciado essa época, Ferri é considerado o criador da Sociologia Criminal. Questão 8 - B Justificativa: Marquês de Beccaria, após publicar sua obra, causou tanto impacto que foi obrigado a se afastar de seus estudos filosóficos. Para sua época, sustentou teses inovadoras e consideradas revolucionárias para o período. Muitas delas deram base a direitos constitucionais, como o princípio da legalidade e da não culpabilidade. Questão 9 - E Justificativa: Lombroso é considerado o pai do positivismo, inaugurando uma nova era na criminologia e sofrendo duras críticas em relação ao seu estudo sobre o atavismo morfológico. Questão 10 - B Justificativa: A obra de Beccaria trouxe teses inovadoras e foi publicada em 1764. CRIMINOLOGIA Introdução Seja bem-vindo! Além de entender o conceito da Criminologia e definir seus objetos e funções, assim como entender sua natureza de ciência e sua evolução histórica, o que fizemos no decorrer da nossa aula 01, também é fundamental visualizarmos as diversas abordagens ao longo desta evolução. Perceberemos, nesta aula, a grande influência de Lombroso na escola positivista, assim como as ferrenhas críticas que suscitou. Teremos ainda a oportunidade de analisar o antecedente dessa escola e suas sustentações. Abandonando um paradigma etiológico, veremos que a criminologia crítica passa a manter seu foco no controle social, trazendo novos preceitos e preocupações para a criminologia. Objetivos: 1. Identificar as diversas escolas criminológicas tradicionais; 2. Reconhecer a abordagem criminológica diferenciada em algumas regiões, assim como demonstrar a enorme influência prática da criminologia crítica. CRIMINOLOGIA Conteúdo As Escolas Pré-Clássicas As Escolas Pré-Clássicas possuíam como fundamento um aspecto punitivo, aflitivo e retributivo. Nelas, existia uma função de intimidação e de emenda do criminoso, tendo como fundamento o livre-arbítrio e a responsabilidade moral. Para essas escolas, não havia a concepção de que o delinquente seria produto de causas ou fatores criminógenos. “Beccaria-César Bonesana, Marquês de Beccaria, foi uma das primeiras vozes a repercutir na consciência pública para a reforma da sistemática penal operada no fim do século XVIII, estendendo-se até o início do século XIX e culminando com a consolidação da Escola Clássica.” (CONSOANTE João Farias Júnior. Manual de criminologia, 4. ed. Ed. Juruá). A obra de Beccaria (Dei delitti e delle pene, 1764), inclusive, é considerada um marco. Ele procurou fundamentar a legitimidade do direito de punir por parte do Estado, considerando ilegítimas todas as penas que violassem o contrato social. Para explicar o crime, Beccaria afirmava que o homem atuava pela procura do prazer, de modo que as penas deveriam surgir como um mecanismo de anulação das gratificações conseguidas pelo crime. A Escola Clássica A Escola Clássica teve, além de Beccaria, vários precursores: Pellegrino Rossi Carmignani Enrico Pessina Emmanuel Kant Francesco Carrara “O homem é submetido às leis criminais por causa de sua natureza moral; por conseguinte ninguém pode ser socialmente responsável por seu ato se não for moralmente responsável.” CRIMINOLOGIA Neste pensamento, é possível perceber o nascimento das ideias do livre- arbítrio, da responsabilidade penal e da pena. De acordo com este pensador, o delito é um ente jurídico (e não um ente de fato), porque sua essência deve consistir na violação de um direito (uma lei que é considerada absoluta porque constituída pela única ordem possível para a humanidade, segundo as previsões e a vontade do Criador). Para Carrara, o fim da pena não é a retribuição e nem a emenda do delinquente, mas a eliminação do perigo social que poderia advir com a impunidade do delito. A Escola Clássica se fundamentou em alguns princípios. Dentre eles, o princípio da legalidade dos delitos e das penas, a igualdade das pessoas perante a lei penal, a inexistência de lacunas ou obscuridades na lei, a proporcionalidade das penas em relação aos delitos. O homem deliquente Para a Escola Clássica, o homem criminoso é dotado de livre-arbítrio. Não há que cogitar das causas ou fatores criminógenos ou de influxos exógenos ou endógenos influenciadores do comportamento criminoso, mas para a Escola Positiva, o determinismo desse comportamento é o centro gravitacional de toda a sua doutrina. Por que o homem é criminoso? Quais os fatores o levam a ser criminoso? Como desvendar esses fatores? Só a partir da obra de Lombroso, em 1876, sob o título O homem deliquente, é que as respostas passaram a ser dadas, e só a partir dessa obra é que se pode considerar a existência tanto da Criminologia como da Escola Positiva. CRIMINOLOGIA A Escola Positiva A Escola Positiva passou a utilizar um paradigma etiológico, de causa e efeito. Foi nesta época que se pode perceber o quanto a curiosidade científica da Idade Média influenciou na ciência que estamos estudando. A ciência começou a buscar traços ou elementos que pudessem indicar a propensão criminosa de alguns indivíduos. A fisiognomonia foi fundada por Juan Bautista Della Porta Funda e objetivava conhecer o caráter do homem através dos traços fisionômicos do rosto, do crânio, e análise da superfície do corpo, tronco, extremidades etc. No século XVIII, Lavater criou a Frenologia com o fim de determinar sintomas da personalidade através de traços fisionômicos, conformação do cérebro e protuberâncias cranianas com o objetivo de revelar as faculdades e predisposições inatas do homem, com ênfase no estudo do homem delinquente. Já Johan Franz Gall ficou conhecido como o criador da antropologia criminal, por tersido autor dos estudos frenológicos mais importantes. Phillipe Pinel criou o Instituto de Antropologia Criminal e equiparava o delinquente ao louco. Césare Lombroso foi um dos mais conhecidos expoentes da Escola Positiva. Era médico do Sistema Penitenciário Italiano e se inspirou nos estudos da antropologia criminal e ainda nos estudos de Darwin sobre a evolução da espécie humana. O médico dissecou mais de 380 cadáveres e principalmente por ter encontrado características de cérebro primitivo no caráter de um famoso fascínora (Milanês Vilela), passou a defender algumas premissas: a existência de uma relação entre a predisposição delinquente e a regressão atávica e, ao lançar o seu livro L’uomo delinqüente, em 1876, admitia as seguintes hipóteses: o homem CRIMINOLOGIA criminoso é nato; o delinquente é igual ao louco moral e apresenta base epiléptica, constituindo, por um conjunto de anomalias, um tipo diferenciado. As teses iluministas As teses iluministas não haviam conseguido resolver o problema da criminalidade; esta havia aumentado, bem como as taxas de reincidência. Além disso, vivia-se o apogeu das ciências naturais e do método experimental, de modo que “era lógico que se propugnava fazer o mesmo com o protagonista principal do delito: o delinquente, submetendo-o à observação, analisando e medindo seus dados corporais”. O positivismo, enquanto escola, negava o livre- arbítrio. Todavia, tal assertiva não o explica como um todo. (MUÑOZ CONDE, Francisco; HASSEMER, Winfred. Introdução à criminologia. Trad.: Cíntia Toledo Miranda Chaves. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 25) Desta forma, dentro da escola positivista existiram inúmeros estudiosos que tentaram explicar as origens do crime e do criminoso: Lombroso e o fator antropológico A tese central de Lombroso era o atavismo, ou seja, o criminoso poderia ser reconhecido por seus caracteres físicos e corresponderia a um homem menos civilizado. Para Lombroso, “os ladrões têm, em geral, marcas no rosto e as mãos muito móveis; seus olhos são pequenos (...); barba escassa; pouco cabelo (...); orelhas em forma de asa. Os assassinos têm olhar frio e duro (...). O nariz grande (...); orelhas grandes; amplas bochechas; cabelos crespos (...).” (LOMBROSO, apud MOÑOZ CONDE; HASSEMER, op. cit., p. 25) Ferri e as condicionantes sociológicas Ferri, discípulo do Lombroso, era advogado e militante político. Para ele, o criminoso poderia ser de cinco tipos: nato; ocasional; passional; habitual; e louco. Ferri privilegiou fatores sociológicos, razão pela qual defendia a aplicação de substitutivos penais. CRIMINOLOGIA Garófalo e o elemento psicológico Para Garófalo, o delito violaria sentimentos básicos universais, sendo assim, em algumas pessoas tal sentimento poderia estar ausente ou inoperante, razão pela qual se produziria o crime. (MUÑOZ CONDE; HASSEMER, op. cit., p. 15-17) Sociologia criminal No final do século XIX surgiu a sociologia criminal, que atribuía a fatores sociológicos (tais como a miséria, o ambiente moral e material, a educação e a família) a causa do crime. Podemos atribuir a três estudiosos a construção dos contornos do que hoje temos como sociologia criminal. Durkhein formulou sua tese sobre anomia, ou seja, “sobre o vazio normativo de que produz quando a sociedade não facilita ao indivíduo os meios necessários para conseguir os fins que esta mesma sociedade considera como meta e ideal que deve ser alcançado” (MUÑOZ CONDE; HASSEMER, op. cit., p. 72). A anomia, portanto, é um sentimento de perda da sensação de que se pertence à sociedade; é um sujeito sem padrões e sem responsabilidades para com ninguém. Para Durkhein, o crime se explica pela postura de uma sociedade que supervaloriza o sucesso financeiro sem estabelecer limites à ambição humana. Para Lacassane, cada sociedade tem os criminosos que merece de acordo com o meio social. Para explicar o fenômeno do crime, ele fez uma relação entre os fatores climáticos, físicos, econômicos e sociais. Além disso, atribuía grande responsabilidade à miséria enquanto condicionante criminógena (DIAS; ANDRADE, op. cit., p. 24). Para Tarde, o crime é um fenômeno social. O crime muda conforme mudam os tipos de sociedade. Para ele, existem leis da limitação que funcionam de cima para baixo (exemplo: do pai para o filho, do superior para com o subordinado etc.). Tarde, por sua vez, tira a responsabilidade pelo crime exclusivamente da situação de miserabilidade, ou seja, defende que mais CRIMINOLOGIA determinante que a miséria, é o sentimento de querer ter sempre mais (a desproporção entre os desejos e os recursos); isso mesmo em relação às pessoas mais ricas. Em suma: para Tarde, a “criminalidade não era mais que o resultado de uma ‘imitação’ ou reprodução de um ‘mau exemplo’” (MUÑOZ CONDE; HASSEMER, op. cit., p. 50). A criminologia americana Após a primeira grande guerra, a criminologia americana surgiu com um discurso sociológico, segundo o qual o crime deveria ser encarado como um “comportamento desviante” (DIAS; ANDRADE, op. cit., p. 32), sendo certo que tal comportamento deveria ser tido como normal; inerente à sociedade (a sociedade, portanto, seria intrinsecamente criminógena). Assim como as outras escolas, a criminologia americana abarcou diversas teorias. A teoria ecológica coincidiu com um período de grandes migrações e, consequentemente, da formação das grandes metrópoles. Nessas metrópoles, os imigrantes formavam grupos, os quais davam origem a comunidades estanques que tinham dificuldade em se adaptar aos costumes da classe dominante. Esses grupos viviam em zonas diferentes das que viviam os indivíduos mais abastados; eram as conhecidas “zona de ninguém, altamente deterioradas e com infra-estrutura deficiente, nas quais se dão os mais altos graus de criminalidade (...).” (MUÑOZ CONDE; HASSEMER, op. cit., p. 52) Segundo a teoria ecológica, podemos perceber que alguns locais facilitam a prática do crime, como locais abandonados, mal iluminados, o que pode gerar ao delinquente uma sensação de segurança e de que outras pessoas não presenciarão o fato praticado. CRIMINOLOGIA A Escola de Chicago relaciona o aumento da criminalidade com a industrialização, imigração e migração, observadas especificamente na cidade de Chicago. Trata-se de afirmações da chamada Ecologia Criminal, que relaciona o crime aos ambientes e suas formas de ocupação e organização. A teoria culturalista traz a ideia de que o crime expressa um conflito entre o delinquente e as definições socioculturais. Nesse sentido, à medida que a urbanização cria um contraste entre o gueto e as áreas onde vivem as pessoas ricas, entra em crise o sentimento de que deveria existir uma situação igualitária no plano material (DIAS e ANDRADE, op. cit., p. 35). Sendo assim, o delinquente atua como tal do ponto de vista da cultura oficial; todavia, do ponto de vista da subcultura a qual pertence, esse indivíduo não está atuando de maneira delituosa. A criminologia dos países socialistas Os países socialistas passaram por três fases de evolução da criminologia. Na primeira fase (1917-1930), viveu-se o período mais fecundo, pois era uma época onde se assegurava a liberdade de investigação e a interdisciplinaridade. Na segunda (1930-1956), que historicamente coincidiu com a época do estalinismo, o estudo da criminologia foi quase abolido. E, por fim, na terceira fase (a partir de 1956), começou-se a reclamar por mais respostas por parte da criminologia; queria-se sabermais sobre as causas do crime e o melhor meio de prevenção. Cumpre-nos salientar, todavia, o fato de que as teorias criminológicas preponderantes até então relacionavam de alguma forma o crime com a realidade capitalista. Nesse sentido, um país socialista (sem divisão de classes) deveria ver erradicada a criminalidade, não é mesmo? Ocorre que não foi isso o que se observou, pois mesmo em uma sociedade sem divisão de classes, o fenômeno do crime continuava. A doutrina oficial de base marxista procurou explicar tal fenômeno argumentando que a responsabilidade eram dos CRIMINOLOGIA “resíduos subsistentes na consciência dos cidadãos socialistas, do modelo de comportamento capitalista” (DIAS; ANDRADE, op. cit., p. 40.). A criminologia nos dias atuais: seleção penalizante A criminologia, como compreendida atualmente, busca compreender os critérios adotados pelo Estado e sociedade para fins de seleção dos bens jurídicos a serem tutelados pelo Direito e, consequentemente, escolha das sanções a serem aplicadas às condutas lesivas a esses bens e direitos. Não obstante, a afirmação acerca da existência de um Controle Social Penal pautado nos direitos e garantias fundamentais, como dito anteriormente, acerca dos critérios de política criminal segundo os quais são selecionadas as condutas consideradas lesivas aos bens jurídicos, bem como as referidas sanções (natureza e quantum de fixação), as denominadas “criminalização primária” e “criminalização secundária” corroboram com a noção de “sociedade excludente” desenvolvida por Jock Young, ou em outras palavras, corroboram com a inexorável relação entre a criminalidade e as estruturas sociais desiguais (YOUNG, Jock. A sociedade excludente: exclusão social, criminalidade e diferença na modernidade recente. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Revan, 2002). Criminalização primária A criminalização primária, elaboração de leis penais, consoante entendimento de Eugênio Zaffaroni, não obstante as características da imperatividade, generalidade e impessoalidade das normas penais, tem grande carga seletiva (ZAFFARONI, Eugenio Raul et al. Direito penal brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 2003. p. 43), isso porque o legislador possui uma série de preconceitos, os quais lhe trazem a falsa ideia de que é através da criminalização de condutas que conseguirá responder aos anseios de segurança da sociedade. Na verdade, o que se consegue é tão somente o aumento do caráter estigmatizante do direito penal. CRIMINOLOGIA Criminalização secundária A criminalização secundária, por sua vez, compreendida como a ação punitiva exercida sobre pessoas concretas (conforme ZAFFARONI, op. cit., p. 43), também tem grande carga seletiva. A regra é que a criminalização secundária recaia sobre as pessoas que se encontrem em um certo estado de vulnerabilidade, ou seja, que correspondam a um determinado estereótipo criminal. Estereótipo criminal Por estereótipo criminal, podemos diferenciar três grupos: O primeiro grupo (e maior) compreende aqueles que praticaram delitos grosseiros, ou seja, aqueles delitos considerados não tão graves, mas que são de fácil detecção (geralmente delitos contra o patrimônio); são pessoas que, via de regra, pertencem à mesma classe social, étnica e etária. O segundo grupo compreende aqueles que atuaram com grande brutalidade e que, por isso, se tornaram mais vulneráveis (os autores de homicídio contra membros da própria família, por exemplo). O terceiro grupo, por fim, compreende aqueles que, antes invulneráveis ao poder punitivo, devido a uma situação muito excepcional (de perda de poder) acabaram por ficar em um estado de vulnerabilidade - são os autores dos crimes de “colarinho branco”, por exemplo (idem, p. 42). Ainda, exemplos do caráter estigmatizante do direito penal podem ser extraídos, por exemplo, da seguinte mensagem veiculada pela mídia: “O que considero grave, no entanto, é que esses locais atraem o que chamo de lixo humano. São os vendedores e consumidores de drogas, prostitutas etc.” (Um juiz de direito, em palestra para alunos do primeiro período de uma faculdade de direito, transcrito no jornal O Dia, 18 de outubro de 1995). CRIMINOLOGIA Em síntese, significa dizer que, de um lado, o Direito Penal, através das suas instituições, apresenta suas missões declaradas, queridas, assim conhecidas como prevenção, retribuição e ressocialização. De outro, busca “esconder” suas missões não declaradas, dentre elas, o caráter simbólico, estigmatizante, nocivo do Controle Social Penal. Neste sentido, assevera Alessandro Baratta que a utilização simbólica do Direito Penal está transformando-o em um “instrumento de administração de situações particulares, de riscos excepcionais, ou melhor, em um instrumento de resposta contingente a situações de emergência concreta” (BARATTA, Alessandro apud PACHOAL, Janaína Conceição. Constituição, criminalização e direito penal mínimo. São Paulo: RT, 2003. p. 127). Programas de prevenção Não podemos confundir as noções de criminalização primária e secundárias com as noções de prevenção primária, secundária e terciária. Os programas de prevenção primária orientam-se às mesmas causas, à raiz do conflito criminal, para neutralizá-lo antes que o problema se manifeste. As exigências de prevenção primária correspondem a estratégias de política cultural, econômica e social. Os programas de prevenção secundária atuam posteriormente - não quando, nem onde - o conflito criminal se produziu ou foi gerado, mas sim na sua manifestação e exteriorização. Opera a curto e médio prazos e se orienta seletivamente a determinados setores da sociedade: grupos que ostentam maior risco de sofrer ou causar o problema criminal. A prevenção secundária possui conexão direta com a política legislativa, assim como com a ação policial, voltada aos interesses de prevenção geral. Programas de prevenção policial, de controle dos meios de comunicação, de ordenação urbana e utilização do desenho arquitetônico como instrumento de autoproteção, desenvolvidos em bairros de classes menos favorecidas, são exemplos de prevenção "secundária". CRIMINOLOGIA Os programas de prevenção terciária têm destinatário específico: é o preso, o condenado; e um objetivo também específico: evitar a reincidência. Trata-se da forma de prevenção com maior carga punitiva. Encerramento Podemos concluir que o desrespeito aos princípios que informam e limitam o direito penal acaba por gerar uma criminalização seletiva. Tal constatação é por demais gravosa, pois a seletividade na criminalização (seja ela primária ou secundária) enseja na utilização do direito penal como mecanismo de controle social. Aqueles que se encontram em situação mais vulnerável de sofrerem a incidência do direito penal acabam ficando estigmatizados, e a prisão surge, então, como o grande gueto da atualidade. Aprenda Mais Material complementar Para saber mais sobre os pensamentos da escola positivista de Lombroso, leia o livro O homem delinquente, disponível em nossa biblioteca virtual. Material complementar Para saber mais sobre os pensamentos do marquês de Beccaria, leia o livro Dos delitos e das penas, disponível em nossa biblioteca virtual. CRIMINOLOGIA Referências ANDRADE, Vera Regina P. de. Pelas mãos da criminologia: o controle penal para além da (des)ilusão. Instituto Carioca de Criminologia, 2012. BATISTA, Vera Malaguti. Introdução crítica à criminologia brasileira. Rio de Janeiro:Editora Revan, 2011. BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. SP. Quartier Latin, 2005. LOMBROSO. Cesare. Tradução de Sebastião José Roque. O homem delinquente. São Paulo: Ícone Editora, 2010. Seleção pensamentos do direito. Exercícios de fixação Questão 1 São considerados autores que desenvolveram trabalhos na Escola Clássica: a) Manuel Carnevale, Bernardino Alimena e João Impallomen. b) Cesare Bonesana, Francesco Carrara e Giovanni Carmignan. c) Enrico Ferri, Cesare Lombroso e Marquês de Pomba. d) Franz von Lizst, Adolphe Prins e Von Hamme. e) Cesare Lombroso, Paul Topinard e Rafael Garófal. Questão 2 O Positivismo Criminológico, com a escola Positiva italiana, foi encabeçado por: a) Lombroso, Garofalo e Ferri b) Luchini, Ferri e Del Vecchio c) Dupuy, Ferri e Vidal d) Lombroso, Dupuy e Garofolo e) Baratta, Adolphe e Vidal CRIMINOLOGIA Questão 3 “Para o positivismo criminológico, o infrator é um prisioneiro de sua própria patologia ou de seus processos causais alheios ao mesmo, um ser escravo de sua carga hereditária, enclausurado em si e separado dos demais, que mira o passado e sabe, fatalmente escrito, seu futuro: um animal selvagem e perigoso. O positivismo concede prioridade ao estudo do delinqüente, que está acima do exame do próprio fato, razão pela qual ganha particular significação os estudos tipológicos e a própria concepção do criminoso como subtipo humano, diferente dos demais cidadãos honestos, constituindo esta diversidade a própria explicação da conduta delitiva.” Considerando os estudos acerca desta escola, o atavismo morfológico foi estudado principalmente por: a) Sutherland b) Garófalo c) Gall d) Lombroso Questão 4 Para Tarde, o crime é um fenômeno social. O crime muda conforme mudam os tipos de sociedade. Para ele, existem leis da limitação que funcionam de cima para baixo (exemplo: do pai para o filho, do superior para com o subordinado etc). Tais ideias estão ligadas a uma etapa histórica da Criminologia, que pode ser definida como: a) Escola clássica b) Positivismo criminológico biológico c) Sociologia criminal d) Microcriminologia CRIMINOLOGIA Questão 5 Considerando a sociologia criminal e suas diversas vertentes, é correto afirmar que: a) Durkheim e suas leis de imitação tiveram grande influência em um período caracterizado por atribuir a fatores sociológicos (tais como a miséria, o ambiente moral e material, a educação e a família) a causa do crime. b) A teoria da anomia foi desenvolvida por Tarde. Segundo esta teoria, o crime é um fenômeno social. O crime muda conforme mudam os tipos de sociedade. c) Gabriel Tarde, autor das leis de imitação foi um dos grandes influenciadores da Sociologia Criminal, desenvolvida por Garófalo. d) Para Lacassane, cada sociedade tem os criminosos que merece de acordo com o meio social. Para explicar o fenômeno do crime, ele fez uma relação entre os fatores climáticos, físicos, econômicos e sociais. Além disso, atribuía grande responsabilidade à miséria enquanto condicionante criminógena. Questão 6 Em 2008 vários crimes cibernéticos foram descobertos, todos praticados em uma laboratório de informática de determinada universidade pública. Em perícia no local, foi percebido que os computadores utilizados se localizavam em cantos que não podiam ser vistos por outras pessoas, o que facilitava o cometimento dos delitos. O caso demonstra a aplicação de argumentos: a) Da teoria positivista b) Da escola clássica c) Da Escola de Chicago d) Da Escola pré Clássica CRIMINOLOGIA Questão 7 (VUNESP - 2013 - PC-SP - Auxiliar de Papiloscopista Policial) Assinale a alternativa correta quanto aos fatores condicionantes e desencadeantes da criminalidade. A migração pode causar dificuldades de adaptação em face das diferenças culturais, hábitos e valores, bem como um excedente de mão de obra, propiciando uma alta taxa de desemprego, o que influencia na criminalidade. a) O desrespeito entre as pessoas quanto a raça, cor, sexo e etnia não são fatores relevantes que propiciam a criminalidade na sociedade. b) O crescimento populacional ordenado ou planejado, a presença do poder público em todas as áreas sociais e a educação de qualidade são fatores desencadeantes da criminalidade. c) As condições desfavoráveis de habitação e moradia propiciam a promiscuidade, o desaparecimento de valores, o desrespeito ao próximo e a baixa auto-estima, portanto, não são fatores desencadeantes da criminalidade. d) A distribuição de renda adequada, a mão de obra qualificada e um sistema de ensino de qualidade favorecem a criminalidade. Questão 8 A avaliação do espaço urbano é especialmente importante para compreensão das ondas de distribuição geográfica e da correspondente produção das condutas desviantes. Este postulado é fundamental para compreensão da corrente de pensamento, conhecida na literatura criminológica como: a) Teoria da anomia b) Escola de Chicago c) Teoria da associação diferencial d) Criminologia crítica e) Labelling approach CRIMINOLOGIA Questão 9 A criminalização primária, realizada pelos legisladores, é o ato e o efeito de sancionar uma lei penal material que incrimina ou permite a punição de determinadas pessoas; enquanto a criminalização secundária, exercida por agências estatais como o Ministério Público, Polícia e Poder Judiciário, consiste na ação punitiva exercida sobre pessoas concretas, que acontece quando é detectado uma pessoa que se supõe tenha praticado certo ato criminalizado primariamente. Quanto à criminalização secundária: a) Ação punitiva exercida sobre pessoas abstratas. Ou seja, incidente sobre a população como um todo. b) Recai sobre as pessoas que se encontrem em um certo estado de vulnerabilidade, ou seja, que correspondam a um determinado estereótipo criminal. c) É representada pela aplicação da pena, desde que para os delitos mais graves. d) Está direta e necessariamente ligada à criminalização terciária, que seria a possibilidade de aplicação da pena. Questão 10 A prevenção criminal secundária é aquela que atua: a) Na recuperação do recluso, visando a sua socialização por meio do trabalho e estudo, evitando sua reincidência. b) Em setores específicos ou de maior vulnerabilidade da sociedade, por meio de ação policial, programas de apoio e controle das comunicações. c) Na qualidade de vida de um povo, a proteção aos bens patrimoniais e nos direitos individuais e sociais. d) Nos direitos sociais universalmente conhecidos, como educação, moradia e segurança. e) Na reparação do dano causado em razão da delinquência, assistindo o recluso com programas psicológicos e de assistência social. CRIMINOLOGIA Aula 2 Exercícios de fixação Questão 1 - B Justificativa: Os autores são: Cesare Bonesana, Francesco Carrara e Giovanni Carmignani. Bonesana ficou conhecido como Marquês de Beccaria, com a publicação de sua obra Dos delitos e das penas. Questão 2 - A Justificativa: O Positivismo Criminológico, com a escola Positiva italiana, foi encabeçado por Lombroso, Garofalo e Ferri. Lombroso é conhecido como o pai do positivismo. Questão 3 - D Justificativa: Lombroso, médico Italiano, ao dissecar diversos cadáveres e se deparar com o de um grande fascínora, reconheceu características primitivas nele, o que representou a base de seu estudo atávico. Questão 4 - C Justificativa: A sociologia criminal abandona o paradigma biológico e dá ênfase ao social.Questão 5 - D Justificativa: A teoria da anomia foi desenvolvida por Durkhein e as leis de imitação por Gabriel Tarde. O criador da sociologia criminal foi Enrico Ferri. Questão 6 - C Justificativa: Na Escola de Chicago foi desenvolvida a teoria ecológica. Um dos fatores destacados a facilitar o cometimento dos delitos é a falta de estrutura adequada de alguns locais, sejam por seu abandono, má organização ou CRIMINOLOGIA iluminação. Os laboratórios deveriam utilizar vidros claros, de forma a inibir o cometimento de tais delitos. Questão 7 - A Justificativa: Trata-se de um dos argumentos estudados na sociologia criminal, pela Escola de Chicago, onde foi desenvolvida a Teoria ecológica. Questão 8 - B Justificativa: Trata-se de um dos argumentos estudados na sociologia criminal, pela Escola de Chicago, onde foi desenvolvida a Teoria ecológica. Questão 9 - B Justificativa: A criminalização secundária é concreta, incidindo sobre pessoas concretas e determinadas, sem caráter de abstração, ao contrário do que ocorre na criminalização primária. Questão 10 - A Justificativa: A prevenção secundária é voltada a grupos e subgrupos, muito embora não seja tão concreta como a terciária, que se volta especificamente à pessoa reclusa. CRIMINOLOGIA Introdução Nesta aula, abordaremos um dos objetos da criminologia, a vitimologia. Com ênfase na análise da importância deste estudo para diversas ciências, veremos o surgimento da vitimologia, sua evolução, os principais precursores deste estudo, assim como o seu impacto na atual legislação penal e processual. Para isso, passaremos por uma análise clássica, assim como por vertentes radicais na abordagem do tema. A correta análise da vitimologia nos permite uma correta associação entre a criminologia e a sociologia, assim como a psiquiatria. Objetivos: 1. Identificar o conceito de vitimologia, a classificação das vítimas e sua importância para o estudo da Criminologia; 2. Relacionar as diversas classificações da vitimologia, assim como compreender sua natureza. CRIMINOLOGIA Conteúdo O foco na vítima O Direito Penal sempre manteve seu foco no crime, no criminoso e na pena. Foi apenas com o advento de outras ciências, como a criminologia, que um outro componente do contexto criminal começou a ser analisado: a vítima Podemos apontar o criminólogo Hans Von Hentig como o pioneiro nos estudos acerca da vítima. No entanto, as primeiras formulações sobre a vítima, suas tragédias e o impacto sobre seus familiares e dependentes deveram-se a Etiene de Greef e Wilhelm Saver. Classificação das vítimas Segundo Hans Von Henting, as vítimas podem ser classificadas em: Vítima isolada: aquela que, por viver na solidão e não se relacionar com certas pessoas, acaba se colocando em situação de risco. Vítima por proximidade: este grupo subdivide-se em vítima por proximidade espacial, por proximidade familiar e por proximidade profissional. Em tais hipóteses, a condição de vítima acaba por decorrer da proximidade com o delinquente. Vítima com ânimo de lucro: são vítimas que se colocam como fáceis alvos de delinquentes, principalmente na prática de estelionatos, por visarem lucro fácil. Geralmente, são casos em que existe torpeza bilateral no estelionato, como nos conhecidos casos de bilhete premiado, em que a vítima quer se valer da própria esperteza, comprando um suposto bilhete premiado (de valor bem superior) por um valor absurdamente inferior ao do suposto prêmio. Vítima com ânsia de viver: trata-se de vítima que, com ânimo de aventura extrema, acaba por se colocar em situação de perigo. CRIMINOLOGIA Vítima agressiva: são situações recorrentes que se caracterizam por uma reação de vítima em relação ao seu algoz. Vítima sem valor: são casos de vítimas repudiadas pela própria sociedade, que se colocam em situação de vítima pela prática de atos criminosos ou reprováveis, como o caso de pedófilo que acaba sofrendo homicídio por pessoas que descobrem sua conduta. Vítima pelo estado emocional: pessoas que se colocam em situação de vítima pela vulnerabilidade de seu estado emocional, seja ele de depressão, medo, perseguição ou vingança. Vítima por mudança da fase de existência: pessoa que muda suas atitudes quando passa de um estágio de existência para outro, passando a facilitar as práticas criminosas de terceiros. Podemos citar como exemplo a época da adolescência, em que geralmente ocorrem diversas modificações comportamentais. Vítima perversa: vítimas que provocam reações violentas em pessoas próximas ou de sua comunidade, pela forma como tratam terceiros. Geralmente com ausência de sentimento, como é o caso dos psicopatas. Vítima alcoólatra: o alcoolismo coloca a vítima em constante situação de vulnerabilidade. A vitimologia e seus precursores Hans Von Hentig publicou, no ano de 1948, a pesquisa intitulada “O criminoso e suas vítimas” (The Criminal and His Victim), na Universidade de Yale nos Estados Unidos. A vitimologia também foi abordada por Fritz Paasch, Franz Exner, Weiss, Eisemberg, Gasper e Elemberger. Em um contexto histórico bem mais CRIMINOLOGIA remoto, no século XIX, Viveiros Castro abordava as vítimas de má-fé em crimes que envolviam patrimônio. No início do século XX, Hans Gross se referia à credulidade das vítimas das fraudes. Já Gabriel Tarde foi um grande crítico da falta de atenção legislativa no que tange ao relacionamento entre criminoso e vítima. Edwin Sutherland também abordou o tema sob a ótica dos crimes econômicos. A vítima como um dos objetos da criminologia No entanto, apesar de todas as abordagens vistas nas telas anteriores, foi a partir dos estudos de Benjamin Mendelsohn que a vitimologia passou a ter esta denominação dentro do contexto da disciplina criminologia. A partir daí, pode-se afirmar que a vítima também passou a ser um dos objetos da criminologia. Em 1958, o assunto foi amplamente abordado em Simpósio de Criminologia realizado na Universidade de Bruxelas, na Bélgica. Um dos pontos de importância do estudo da vitimologia é demonstrar que o comportamento inadequado da vítima de certo modo facilita, instiga ou provoca a ação de seu algoz, o que se denomina periculosidade vitimal. Conceito e natureza da vitimologia Conheça alguns conceitos de vitimologia sob a perspectiva de alguns autores: “Acreditamos ser a Vitimologia um ramo da Criminologia, que estuda cientificamente as vítimas visando adverti-las, orientá-las, protegê-las e repará- las contra o crime. Entendemos que a Vitimologia deve, também, oferecer à sociedade meios capazes de dificultar a ação dos delinquentes habituais e erradicar de nosso convívio o denominado criminoso ocasional, tornando a vida das pessoas, principalmente das grandes cidades, mais seguras e ao mesmo tempo, por intermédio da ampla campanha, diminuir a criminalidade, atingindo CRIMINOLOGIA a nova dupla penal vítima-criminoso.” (MOREIRA FILHO, Guaracy. Vitimologia: o papel da vítima na gênese do delito, p. 23) “Irrelevante que a Vitimologia seja ou não uma ciência. Na realidade ela desponta como um dos ramos da Criminologia, ramo que, sob a filtragem do Direito Penal e da Psiquiatria, tem por escopo a observação biológica, psicológica e social da vítima em face do fenômeno criminal.” (Criminologia integrada, p. 480) Fernandes (op. cit., p. 481) sustenta uma maior abrangência do estudo da vitimologia, defendendo que ela também deve
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