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Risco: Uma Breve Retrospectiva

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28/04/2020 Risco: AUDITORIA - Ciências Contábeis - CAMPUS CONTAGEM - PCO - NOITE - 2020/1
https://pucminas.instructure.com/courses/14379/pages/risco?module_item_id=355976 1/2
Risco
 "Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências."
UMA BREVE RETROSPECTIVA SOBRE RISCO - O que distingue os milhares de anos de história do que consideramos os tempos
modernos? A resposta transcende em muito o progresso da ciência, da tecnologia, do capitalismo e da democracia. O passado remoto foi
repleto de cientistas brilhantes, de matemáticos, de inventores, de tecnólogos e de filósofos políticos. Centenas de anos antes do nascimento
de cristo, os céus haviam sido mapeados, a grande biblioteca de Alexandria fora construída e a geometria Euclidiana era ensinada. A demanda
por inovações tecnológicas para fins bélicos era tão insaciável quanto atualmente. O carvão, óleo, ferro e cobre, estiveram a serviço dos seres
humanos por milênios, e as viagens e comunicações marcaram os primórdios da civilização conhecida. A ideia revolucionária que define a
fronteira entre os tempos modernos e o passado é o domínio do risco: a noção de que o futuro é mais do que um capricho dos deuses. Até os
seres humanos descobrirem como transpor essa fronteira, o futuro era um espelho do passado ou o domínio do obscuro de oráculos e
adivinhos que detinham o monopólio sobre o conhecimento dos eventos previstos. Para os antigos gregos, antever o futuro era privilégio de
Tirésias. Triste figura, cego por vingança divina, Tirésias recebeu de Zeus o dom da profecia para compensar-lhe a escuridão do presente. Os
romanos atribuíam à deusa Fortuna, filha de Júpiter, a roda na qual o destino humano ia sendo decidido por seu capricho. Mas atualmente, é
imprescindível colocar o futuro a serviço do presente. Para isso, temos que compreender o risco, saber medi-lo e avaliar suas consequências.
Por isso, já existe atualmente nas grandes corporações, a figura do CRO´s (chief risck officer), pois nos velhos tempos, as falhas ocorridas nas
empresas eram estanques e não tinham efeito cascata. Hoje as operações são integradas e falhas em uma determinada área têm impacto
direto em outras. Se não houvesse um domínio da administração do risco, os engenheiros jamais teriam projetados as grandes pontes que
transpõem nossos rios mais largos, os lares ainda seriam aquecidos por lareiras ou fogareiros, as usinas elétricas não existiriam. A poliomielite
não seria erradicada, não haveria aviões e as viagens espaciais seriam apenas um sonho. O cientista que desenvolveu o foguete Saturno 5,
que lançou a primeira missão Apolo à lua, expressa este sonho da seguinte forma: “Você deseja uma válvula que não vaze e faz todo o
possível para desenvolvê-la. Mas no mundo real só existem válvulas que vazam. Você tem de determinar o grau de vazamento que pode
tolerar”. Em outras palavras, o risco existe, temos então que conhecê-lo para determinar o nível de risco que estamos dispostos a correr. Se os
investidores pudessem possuir somente uma ação, sem diversificarem seu risco, as grandes empresas inovadoras que definem nossa época,
como Microsoft, Merck, Dupont, MacDonald´s, GE etc. talvez jamais viessem a existir. Mas o estudo sério do risco começou no Renascimento,
quando as pessoas se libertaram das restrições do passado e desafiaram abertamente as crenças consagradas. Em 1654, época em que o
Renascimento estava em pleno alvorecer, o cavaleiro de Méré, um nobre francês com gosto pelo jogo e pela matemática, desafiou o famoso
28/04/2020 Risco: AUDITORIA - Ciências Contábeis - CAMPUS CONTAGEM - PCO - NOITE - 2020/1
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matemático Frances, Blaise Pascal, a decifrar um enigma. A pergunta era: como dividir as apostas de um jogo de azar entre dois jogadores,
que foi interrompido quando um deles estava vencendo. O enigma confundira os matemáticos desde sua formulação, duzentos anos antes,
pelo Monge Luca Paccioli, o homem que trouxe a contabilidade das partidas dobradas à atenção dos homens de negócios e ensinos a s
tabuadas de multiplicação a Leonardo da Vinci. Pascal pediu ajuda a Pierre de Fermat, advogado que também era brilhante matemático. O
resultado de sua colaboração era pura dinamite intelectual. Ele levou a descoberta da teoria das probabilidades, ou seja, o núcleo matemático
do conceito de risco. Em 1725 os matemáticos competiam entre si na invenção de tabelas de expectativas de vidas e o governo inglês se
autofinanciava com a venda de anuidades vitalícias. Em meados do século, os seguros marítimos haviam emergido com ido como um
florescente e sofisticado negocio em Londres. Em 1730 descobriu-se o conceito do desvio Padrão. Em 1952 o ganhador do prêmio Nobel, um
jovem estudante de doutorado, demonstrou matematicamente por que colocar todos os ovos na mesma cesta é uma estratégia
inaceitavelmente arriscada e porque a diversificação é o melhor negócio para um investidor ou gerente de empresa. Essa revelação
desencadeou o movimento intelectual que revolucionou Wall Street, as finanças corporativas e as decisões empresariais em todo o mundo e
seus efeitos, até hoje, se fazem sentir. O mundo certamente seria muito monótono se faltassem às pessoas a confiança na própria sorte, ou
seja, se a natureza humana não caísse na tentação de enfrentar riscos. O conde de sandwich inventou a refeição que leva o seu nome para
não precisar se afastar da mesa do jogo. A titulo de curiosidade os jogos de azar que fascinam os seres humanos durante milênios em toda
parte do mundo, desde a escoria da sociedade aos mais respeitáveis círculos, tem no Astrágalo (osso metatársico retirado do tornozelo de
carneiros e veados) o mais antigo jogo de azar. A palavra azar tem sua origem na palavra árabe “AL zahr” que quer dizer “dados”. Para explicar
o inicio de tudo, a mitologia grega recorreu a um gigantesco jogo de dados para explicar o que os cientistas modernos denominam de Big
Bang. Três irmãos, através dos dados, partilharam o universo. Zeus ganhou os céus, Poseidon os mares e Hades, o perdedor, tornou-se o
senhor do inferno. A palavra risco vem do italiano antigo “risicare” que significa “ousar”. Neste sentido, o risco é o ato de ousar e tornar-se,
portanto uma opção e não um destino.
Leitura recomendada: Desafio Aos Deuses: A Fascinante História do Risco - Peter L Bernstein

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