Buscar

04 [L ROQUE] Sobre a Impossibilidade do Estado Mínimo Uma Abordagem Sem Juízo de Valor (Anarcocapitalismo)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

No campo liberal é possível identificar 
quatro correntes distintas: os liberais 
tradicionais, os libertários, os liberais clássicos e 
os anarcocapitalistas. 
Os liberais tradicionais ainda são a 
maioria. Trata-se daqueles que querem o estado 
cuidando de educação, saúde, segurança, justiça, 
forças armadas e alguma infraestrutura. 
Defendem também o monopólio da moeda pelo 
banco central. A discussão dentro desse grupo se 
limita a qual educação o estado deve bancar: se 
apenas o ensino fundamental, se o ensino 
fundamental e médio, se apenas o ensino 
superior, ou se todos estes. Saúde, segurança e 
infraestrutura são pontos pacíficos. Consideram 
a democracia o melhor sistema de governo que 
existe. Roberto Campos foi seu maior expoente 
aqui no Brasil. 
Os libertários admitem o monopólio do 
estado na segurança, nas forças armadas e na 
justiça. Na saúde, costumam defender o sistema 
de vouchers, o que significa que o estado apenas 
dá o dinheiro, mas não gerencia os hospitais e 
postos de saúde. Não são contra um livre 
mercado de moedas, mas também não defendem 
 
 
com vigor essa ideia. Na segurança e na justiça, 
defendem o monopólio absoluto do estado. 
Embora sejam a favor da democracia, defendem 
um amplo federalismo. 
Os liberais clássicos (liberal clássico é 
sinônimo de laissez-faire) admitem o monopólio 
do estado apenas na segurança, na justiça e nas 
forças armadas. Saúde é um serviço como 
qualquer outro, e é mais bem provido por um 
livre mercado. São contra o banco central e seu 
monopólio sobre a moeda. O melhor argumento 
que eu já vi a favor do monopólio da provisão de 
segurança, justiça e forças armadas pelo governo 
é o seguinte: 
Como esses serviços são, segundo eles, 
“inerentemente governamentais”, a compra e 
venda de tais serviços no livre mercado acaba na 
verdade gerando algo que realmente deve ser 
combatido: uma livre concorrência entre 
governos. Segundo eles, quando se advoga que 
tais serviços sejam ofertados pelo livre mercado, 
está-se na verdade fazendo uma defesa 
(implícita) de uma ação desregulamentada e 
descontrolada da força física. Ou seja, está-se 
dando a agentes privados a licença de agir como 
 
 
se fossem governos, só que com um agravante: 
agir desta forma de maneira desregulamentada e 
descontrolada — ou seja, fazendo uso livre da 
força física. Segundo eles, essa é a consequência 
lógica de se tratar atividades inerentemente 
governamentais como se fossem atividades de 
livre mercado. 
Consequentemente, concluem eles, um 
monopólio legal do uso da força — desde que 
fortemente regulado e estritamente controlado — 
é necessário para permitir que os mercados 
privados de todos os bens e serviços (inclusive 
saúde, educação e infraestrutura) funcionem 
totalmente livres de qualquer ameaça de força 
física. Ou seja: um monopólio fortemente 
regulado da força é necessário para gerar as 
fundações básicas que irão permitir o 
funcionamento desregulamentado e desimpedido 
dos mercados privados. 
Não defendem a democracia como 
conhecemos hoje. Defendem uma república 
constitucionalista — um federalismo pleno, no 
qual o governo federal é reduzido apenas a 
funções decorativas —, exatamente nos moldes 
daquela criada pelos pais fundadores dos EUA 
 
 
(George Washington, John Adams, Thomas 
Jefferson, James Madison, Alexander Hamilton, 
Benjamin Franklin e John Jay) e que hoje 
encontra-se totalmente deturpada. 
Já os anarcocapitalistas (ou “livre-
mercadistas puros”, para aqueles que não gostam 
desse epíteto) defendem a completa ausência do 
estado de tudo. Os mais moderados dizem 
apenas não querer que o estado tenha 
monopólios, principalmente da segurança e da 
justiça, o que exige por conseguinte a tributação 
de pessoas que não querem usar tais serviços — 
algo não só imoral, como também escravagista. 
Já os mais diretos dizem que o estado é um mal a 
ser extirpado de qualquer maneira, pois só assim 
haverá liberdade e moralidade plenas; só assim 
haverá de fato o “ganharás o pão com o suor do 
teu rosto”. 
Para um livre-mercadista, o estado nada 
mais do que um ente parasitário, cujos membros 
vivem à custa daqueles que trabalham. Em suma, 
o estado é o assaltante que toma de quem produz 
para dar àqueles que parasitam. A verdadeira 
luta de classes se dá entre aqueles que estão fora 
do estado — logo, que o sustentam — e aqueles 
 
 
que ou estão dentro do estado ou possuem fortes 
conexões com este (pense naquelas grandes 
empresas que ganham rios de dinheiro em 
decorrência de contratos e ligações com o 
governo. Empreiteiras e bancos são os principais 
exemplos). 
Deixando os detalhes de lado, é inegável 
que essa definição seja, per se, indiscutivelmente 
correta. Agora, se ela é boa ou não, se é justa ou 
não, se é moralmente aceitável ou não, aí já é 
outra discussão. 
Os anarcocapitalistas desprezam a 
democracia, a qual consideram ser um exemplo 
irrefutável de tirania da maioria. Caso tivessem 
obrigatoriamente de escolher uma forma de 
governo, muitos prefeririam uma monarquia, na 
qual o rei teria todos os incentivos para tratar seu 
território como uma propriedade privada a ser 
repassada a seus herdeiros, o que faria com que 
ele tivesse uma visão voltada para o longo prazo, 
tendo todo o interesse em manter o valor capital 
de sua propriedade — o contrário do que ocorre 
numa democracia, em que os políticos, por 
estarem preocupados com o curto prazo, 
 
 
possuem todo o incentivo para dilapidar ao 
máximo as riquezas concentradas em suas mãos. 
Desses quatro, os mais próximos entre si 
são os libertários e os liberais clássicos. Os 
liberais tradicionais são apenas aliados pontuais 
— como, por exemplo, para combater social-
democratas —, mas não são frequentemente 
chamados para um cafezinho. Já os 
anarcocapitalistas costumam se dar bem com os 
liberais clássicos, relativamente bem com os 
libertários e absolutamente nada bem com os 
liberais tradicionais. Estes, por sua vez, 
desprezam os anarcocapitalistas. 
Libertários em sua maioria e liberais 
clássicos em sua totalidade são defensores do 
estado mínimo, ao passo que os 
anarcocapitalistas defendem o estado nulo. É 
óbvio que cada um deles possui a melhor das 
intenções naquilo que defendem, e não serei eu 
quem irá fazer qualquer juízo de valor nesse 
artigo. 
Gostaria, isso sim, de abordar um detalhe já 
amplamente discutido nesse site: a 
impossibilidade de um estado mínimo — 
 
 
argumento esse utilizado amplamente pelos 
anarcocapitalistas. 
O argumento principal já foi exposto e 
debatido nesse artigo: 
Quanto menor é o estado, quanto mais você 
o restringe, mais produtivo torna-se o mercado. 
Quanto mais produtivo é o mercado, mais rápido 
a economia cresce e mais riqueza ela gera. E o 
livre mercado é tão produtivo que ele é capaz de 
aguentar por muito tempo um enorme 
crescimento da tributação e um grande 
agigantamento do poderestatal — até chegar a 
um ponto em que ele inevitavelmente irá ceder. 
Portanto, o que acontece é que, quando 
você minimiza o governo, paradoxalmente você 
faz com que a lucratividade de se aumentar 
posteriormente o tamanho do governo seja muito 
maior, pois haverá muito mais riqueza para 
tributar e mais recursos para se controlar — 
ambas as coisas que mais seduzem qualquer 
governo. 
E como o governo adquire muito mais 
dinheiro e poder quando ele tributa uma 
economia que se desenvolveu e enriqueceu com 
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=291
 
 
um livre mercado, ele ganha a capacidade de 
fazer coisas terríveis, como desenvolver armas de 
destruição em massa, manter um incomparável 
estado belicista e assistencialista e comprar 
grandes seções da população, tornando-as 
permanentemente dependentes do estado. 
O exemplo americano dessa impossibilidade 
é o mais flagrante. 
Entretanto, para o bem da contra-
argumentação, gostaria de dar três exemplos de 
governos que vêm se mantendo relativamente 
enxutos ao longo do tempo, e em seguida ver se 
eles refutam a tese acima: Hong Kong, 
Liechtenstein e Suíça. 
Hong Kong é uma cidade-estado que não 
possui eleições para o executivo. O chefe do 
executivo é eleito por um comitê de apenas 800 
pessoas. Isso já torna o modelo impensável para 
os liberais tradicionais e para os libertários. Os 
liberais clássicos e os anarcocapitalistas não são 
afetados. 
Liechtenstein é uma democracia 
parlamentarista que funciona sob uma 
monarquia constitucional. Embora haja um 
 
 
parlamento eleito pelo povo, os principais 
poderes ainda são exercidos diretamente pelo 
príncipe. Isso também torna o modelo 
impensável para os liberais tradicionais e para os 
libertários. Os liberais clássicos são favorecidos e 
os anarcocapitalistas pró-monarquia também. 
Entretanto, ambos esses “países” são 
localidades minúsculas em relação aos outros 
países do mundo, o que torna qualquer 
comparação um tanto quanto infrutífera. 
Passemos então à Suíça, um país “genuíno”. 
Responda sem recorrer ao Google: qual o 
sistema de governo da Suíça? O país tem 
presidente ou primeiro-ministro? Qual o seu 
chefe de estado? Qual o seu chefe de governo? 
Fale o nome de pelo menos um político suíço? 
Curiosamente você sabe o nome do 
presidente da França, da chanceler da Alemanha, 
do primeiro-ministro e do rei da Espanha, do 
primeiro-ministro e da rainha do Reino Unido e 
do primeiro-ministro da Itália. Se for bem 
informado saberá o nome do presidente e do 
primeiro-ministro de Portugal, e dos presidentes 
da Itália e da Alemanha. Mas, 
 
 
surpreendentemente, não saberá nada sobre a 
política da Suíça, um dos mais importantes e 
mais ricos países da Europa. Por quê? 
Porque se trata de um sistema altamente 
descentralizado. Não existe um presidente e nem 
um primeiro-ministro. O poder é exercido por 
um comitê formado por sete políticos de partidos 
distintos. O poder não está concentrado em uma 
só pessoa. Ademais, há um federalismo quase 
pleno — só não é pleno porque ainda existe um 
governo federal. 
Isso torna o modelo impensável para os 
liberais tradicionais. Os libertários saem-se bem, 
assim como os liberais clássicos. Já os 
anarcocapitalistas ficam em situação mais difícil. 
Entretanto vale lembrar que, embora ainda 
enxuto quando comparado aos seus vizinhos 
europeus, o governo suíço é o mais inchado 
desses três exemplos citados quando analisado 
em termos fiscais: gastos do governo e carga 
tributária em porcentagem do PIB. 
Mais ainda: quando nos concentramos 
nessas duas variáveis, percebemos que todos os 
países do mundo apresentaram aumentos ao 
 
 
longo dos últimos anos, o que de certa forma dá 
respaldo ao argumento anarcocapitalista sobre a 
impossibilidade do estado mínimo. (Se há algum 
país que vem reduzindo ano após ano seus gastos 
e tributos em porcentagem do PIB eu realmente 
desconheço). 
E é exatamente nesse ponto que os 
libertários e os liberais clássicos ainda ficam a 
dever uma teoria ou mesmo um exemplo prático 
que demonstre que aquilo que defendem é 
exequível. Sem qualquer juízo de valor, não é 
nada desarrazoado dizer que suas teorias na 
prática revelaram-se insustentáveis. 
Isso deixa o caminho livre para os 
anarcocapitalistas? De modo algum. Entretanto, 
estes ainda possuem a teoria ao seu lado — 
embora ainda careçam de uma chance para 
colocá-la em prática. Já os libertários e os liberais 
clássicos possuem tanto a teoria quanto a 
prática contra eles. 
Como bem resumiu Hans-Hermann Hoppe: 
O objetivo de se ter um governo “limitado” 
ou “constitucional” é um objetivo impossível, 
tanto quanto é impossível tentar fazer um círculo 
http://www.lewrockwell.com/hoppe/hoppe24.1.html
 
 
quadrado. Você não pode estabelecer um 
monopólio territorial da lei e da ordem e, em 
seguida, achar que esse monopolista não fará uso 
desse fabuloso privilégio de legislar em causa 
própria. Da mesma forma, você não pode 
estabelecer um monopólio territorial da 
produção de dinheiro e achar que o monopolista 
não irá utilizar seu poder de imprimir cada vez 
mais dinheiro. 
Limitar o poder do estado — uma vez que já 
lhe foi dado o monopólio territorial da legislação 
— é impossível; é um objetivo intrinsecamente 
contraditório. Acreditar que é possível limitar o 
poder do governo — a não ser submetendo-o à 
concorrência, isto é, não permitindo que 
privilégios monopolísticos sejam estabelecidos 
em primeiro lugar — é supor que a natureza 
humana se altera em decorrência da criação de 
um governo (algo bastante parecido com a 
miraculosa transformação do homem que os 
socialistas acreditam que irá acontecer tão logo o 
socialismo pleno seja implementado). 
Um governo limitado é um objetivo 
ilusório. Acreditar que isso é possível é o mesmo 
que acreditar em milagres. 
 
 
Agora compare essa argumentação à 
argumentação dada pelos liberais clássicos em 
prol de um monopólio governamental nas áreas 
de segurança, justiça e forças armadas (a 
desestatização da moeda é, felizmente, um ponto 
pacífico que a atual crise econômica vem 
ilustrando perfeitamente), e procure definir qual 
das duas faz mais sentido. 
Em minha opinião, esse é o real debate 
pendente.

Continue navegando