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ESTUDO DO EMPENAMENTO DE CHAPAS DE AÇO SAE 1020 E INOX AISI 304L EM SOLDAGEM COM ELETRODOS REVESTIDOS Mateus Antônio Queiroz 1 , Warley Augusto Pereira 2 RESUMO O presente trabalho estudou a influência da corrente de soldagem, da espessura da chapa e do metal de base sobre o empenamento de chapas de aço SAE 1020 e AISI 304L, em soldagem com eletrodo revestido. Ambos os aços são muito comuns na indústria, e possuem características operacionais parecidas como ductilidade e resistência ao desgaste, ao mesmo tempo em que se comportam diferente dependendo das condições que forem submetidos. Para a verificação da influência dos parâmetros sobre o empenamento das chapas, foi realizado um planejamento estatístico fatorial com dois níveis de corrente, dois níveis de espessura e dois níveis de materiais, com duas réplicas de cada, totalizando 16 corpos de prova, cujas dimensões finais foram de 66 mm x 50,8 mm, com uma junta “V” no centro. Foram soldados manualmente, tendo os sinais de corrente e tensão capturados em tempo real por um sistema de aquisição de sinais auxiliado por computador. Os empenamentos foram medidos com relógio comparador, e foi feita uma macrografia para verificação da macroestrutura e dimensões dos cordões. Houve diversas semelhanças de comportamento entre os materiais, porém com algumas diferenças pontuais, como o maior nível de empenamento e ocorrência de defeitos nas chapas de inox 304L, e penetrações mais efetivas nos cordões executados nas chapas de SAE 1020. Foram obtidos resultados condizentes com as respectivas propriedades de cada material, mas é válido que sejam feitos novos estudos semelhantes, avaliando outras diferenças e semelhanças de cada um. Palavras-chave: Cordão de solda. Aquecimento. Deformação. Penetração. Macrografia. Abstract The following work studied the influence of the welding current, the thickness of the plate and the base metal in the warping of steel plates of SAE 1020 and AISI 304L, in welding with coated electrode. Both steels are very common in the industry, having similar operational characteristics like ductility and resistance against attrition, at the same time they behave differently depending on the conditions they are submitted. For verification of the parameters influence on the warping of the plates, it was realized a factorial statistic planning with two levels of current, two levels of thickness and two levels of materials, with two replicas of each, totalizing 16 prove bodies, which had final dimensions of 1 5/8” x 2” with a “V” joint on the center. They were welded manually, having the signals of tension and current being captured in real time by a signal acquisition system aided by computer. The warps were measured by a comparator clock, and submitted to macrography, for verifying the macrostructure and dimensions of the beads. There were some similarities on the behavior of the materials, although with some punctual differences, like the higher level warping and defect occurring on the beads executed in 304L plates, and a more effective penetration in the beads executed in 1020 plates. There were gotten befitting results with the respective properties of each material, but its valid the making of other similar studies, evaluating other differences/similarities of each. Key words: Weld bead. Heating. Deformation. Penetration. Macrography. 1 queiroz9670@hotmail.com, Universidade de Rio Verde, Faculdade de Engenharia Mecânica. 2 warley@unirv.edu.br, Universidade de Rio Verde, Faculdade de Engenharia Mecânica. mailto:queiroz9670@hotmail.com mailto:Warley@unirv.edu.br Introdução A AWS (American Welding Society) define que “Soldagem é o processo de união de materiais usado para obter a coalescência (união) localizada de metais e não metais, produzida por aquecimento até uma temperatura adequada, com ou sem a utilização de pressão e/ou material de adição” (MARQUES; MODENESI; BRACARENSE, 2005). Segundo Modenesi, Marques e Santos (2012), a soldagem é uma solução funcional para muitos dos serviços de fabricação e reparo no cotidiano, porém em muitos casos ela pode agir de maneira muito agressiva, danificando o material de base e/ou a peça que está sendo soldada, tanto em sua estrutura interna quanto externa. O desconhecimento de certos fatores pode prejudicar um serviço tanto em baixa como em alta proporção, seja na produtividade, em gastos inesperados, ou até mesmo em vidas nos casos mais extremos. Um dos problemas enfrentados durante operações de soldagem são as distorções provocadas no material de base e na zona termicamente afetada (ZTA). Marques e Modenesi (2014) definem que durante o processo de soldagem, toda a área do cordão de solda e mais as proximidades no metal de base são submetidas a intensas contrações e expansões térmicas que ocorrem conforme o limite de escoamento do material é ultrapassado. Devido às diferenças de temperatura ao longo do material, essas contrações ocorrem de maneira desigual, provocando uma estrutura irregular, ou seja, com distorção. Marques, Modenesi e Santos (2012) afirmam que o nível destas distorções varia de acordo com diversas propriedades mecânicas e térmicas do material, em especial o módulo de elasticidade (E), condutividade térmica (k), coeficiente de expansão () e limite de escoamento (YS). Também afirmam que metais de módulo de elasticidade maior tendem a resistir mais à distorção. Quanto às propriedades térmicas, Cordeiro (2015) cita a influência da condutividade térmica, que aumenta levemente conforme a temperatura do material aumenta. Condutividades térmicas maiores resultam em distribuição uniforme de calor ao longo da largura e espessura da chapa. Com isso, os gradientes térmicos responsáveis por tensões de encolhimento diminuem, reduzindo a distorção proveniente da soldagem. Soares (2006) afirma que cada material possui um coeficiente de dilatação diferente e, por isso, expandem em proporções diferentes conforme são aquecidos, sendo que na soldagem isso pode ser considerado tanto para a contração do material de base quanto para o material que está sendo depositado. De forma geral, quanto maior o coeficiente de dilatação, maior a tendência à deformação/distorção. Além disso, ele afirma que a tensão de escoamento também é um parâmetro importante para prever/analisar a distorção em um dado material, sendo que materiais menos resistentes terão deformações mais amenas, enquanto materiais mais resistentes terão maiores distorções para amenizar as tensões residuais que se formarão durante o resfriamento. Quanto à influência da espessura, Hashemzadeh, Chen e Soares (2014) realizaram em seu trabalho soldagens de topo entre duas chapas de aço inoxidável com espessuras diferentes e observaram que a deflexão uniforme na chapa com menos espessura é menor do que na chapa mais espessa. No lado mais espesso, a deflexão vertical é mais constante e próxima à zero. Coraini, Kobayashi e Gonçalves (2011) explicam que os projetos modernos, mesmo os que envolvem soldagem são desenvolvidos com cada vez mais precisão, admitindo menos erros em suas dimensões e geometria. Portanto, uma indústria que não se atentar a problemas operacionais como a distorção estará sujeita a diversas falhas de produção e perda de confiabilidade. Considerado isso, é importante compreender o que pode causar e como evitar essas deformações, otimizando a qualidade e eficiência do seu serviço. Assim, o objetivo desta pesquisa é estudar, de forma comparativa, as diferenças de comportamento de distorção na soldagem de chapas de aço carbono SAE 1020 e aço inox AISI 304L, com parâmetros similares (adequados ao material de acordo com o fabricante dos eletrodos) e previamente definidos, buscando verificar a influência do tipo de material, da espessura da chapa e da corrente utilizada sobre a distorção naschapas soldadas. Para atingir esses objetivos, procurou-se obter dados relativos à distorção dos corpos de prova variando a intensidade da corrente e a espessura da chapa. Comparar os tipos e níveis de deformação dos corpos de prova de aço inox 304L com a dos de aço1020. Identificar e justificar alguma possível particularidade de comportamento de um material para outro, além de realizar uma macrografia após a soldagem dos corpos de prova. Identificar semelhanças e diferenças na macroestrutura dos corpos de prova quando submetidos aproximadamente às mesmas condições de ensaio. Material e métodos Para a realização desta pesquisa, foi utilizado o processo de soldagem por eletrodo revestido, utilizando a máquina de solda transformadora para eletrodo revestido do Laboratório de Soldagem da Faculdade de Engenharia Mecânica da UniRV (Modelo Bantam 250 Serralheiro da ESAB, até 250 A). Além disso, foi utilizado um computador com um programa responsável por ler e identificar a corrente e tensão médias relativas ao tempo de duração do cordão de solda. Para a verificação da influência dos parâmetros sobre o empenamento das chapas, foi realizado um planejamento estatístico fatorial com posterior análise de variância. Neste planejamento foram usados dois níveis de corrente, dois níveis de espessura e dois tipos de material, com duas réplicas de cada, totalizando 16 corpos de prova, sendo oito de aço carbono SAE1020 e oito de aço inox AISI 304L. Para os corpos de prova, foram usadas chapas com espessura de 1/8” (3,175 mm) e 3/16” (4,76 mm), todas com largura de 2” (50,8 mm). Os eletrodos utilizados foram selecionados de acordo com o tipo de material, sendo no caso do SAE1020 um eletrodo AWS E6013, e para o 304L um eletrodo E308L-16. Todos os eletrodos com diâmetro da alma de 2,5 mm. A preparação dos corpos de prova seguiu as seguintes etapas: - primeiramente foram feitos chanfros de aproximadamente 45° em uma das laterais de todas as chapas, utilizando esmerilhadeira com disco flap, de modo que os corpos de prova quando prontos formassem uma junta tipo “V”; - os materiais foram cortados utilizando esmerilhadeira (disco de corte) em pedaços de 205 mm de comprimento, e posteriormente ponteados com eletrodo revestido em pares iguais com a máquina de solda transformadora e o auxílio de uma morsa (que limitou a distorção, não desejada nesse momento). Foi utilizado um arame de 0,8 mm como gabarito para padronizar a folga na raiz de todas as juntas dos corpos de prova; - ainda durante a etapa do ponteamento, mesmo com o uso da morsa já se podiam observar pequenas distorções em todos os corpos de prova, e por isso foi necessária a execução de ajustes por martelamento nos mesmos, para que antes do ensaio todos estivessem com ângulo mais próximo possível de 0º. Uma observação importante é que durante esta etapa foi observada uma tendência nos corpos de prova de reduzirem a folga na raiz das juntas em “V”, logo após o ato do ponteamento, prensando o arame que ali estava posicionado, sendo que as chapas de 1/8” tendiam a se aproximar mais do que as de 3/16”; - após o ponteamento das chapas, todos os pedaços de 205 mm foram repartidos em três (com esmerilhadeira e disco de corte), e finalmente passando por uma etapa de acabamento com disco flap nas laterais submetidas ao corte. Ao final desta preparação, foram confeccionados então os 16 corpos de prova, sendo oito de inox 304L (quatro de 1/8” e quatro de 3/16”) e oito de SAE 1020 (quatro de 1/8” e quatro de 3/16”). Cada corpo de prova passou a ter no final um comprimento nominal de 66 mm (variando 0,5 mm para mais ou para menos) e mantendo a largura de 2”. A Figura 1 mostra um dos corpos de prova. Figura 1 - Corpo de prova pronto Fonte: Próprio Autor (2019). Para a execução da soldagem final nos corpos de prova, as chapas foram posicionadas em um apoio feito por duas cantoneiras presas de frente entre si por uma morsa, de modo que os corpos de prova estivessem firmes o bastante para serem soldados, e ao mesmo tempo não houvesse nenhum agente limitador da distorção (Figura 2). A cantoneira neste caso também foi usada como material de base para abertura do arco antes que este fosse conduzido ao corpo de prova. Figura 2: Apoio para soldagem Fonte: Próprio Autor (2019). Os corpos de prova foram então soldados na posição plana de forma manual com a máquina disponível, com o eletrodo atuando no sentido da esquerda para a direita, visando apenas o preenchimento da junta. Durante a soldagem, um sistema de aquisição de sinais controlado pelo software RsView, simultaneamente capturou os sinais de corrente e tensão do arco elétrico das soldagens, através de um transformador de corrente TC conectado ao cabo terra e ao porta eletrodo da máquina de solda. A corrente de soldagem utilizada foi selecionada de acordo com as respectivas definições do fabricante para cada tipo de eletrodo. Segundo o catálogo de eletrodos da ESAB, a corrente para o E6013 para a bitola de 2,5 mm varia entre 60 e 100 A, e para o eletrodo de inox E308L-16, a corrente varia de 60 a 90 A. Neste caso, os dois níveis de corrente selecionados para os testes foram de 70 A e 90 A. Os corpos de prova seguiram as seguintes nomenclaturas em função dos parâmetros de ensaio (com “I” referente a inox e “A” referente a aço carbono): - I1, I2 (304L), A1 e A2 (1020): espessura 1/8” com corrente teórica de 70 A; - I3, I4, A3 e A4: espessura 3/16” com corrente teórica de 70 A; - I5, I6, A5 e A6: espessura 1/8” com corrente teórica de 90 A; - I7, I8, A7 e A8: espessura 3/16” com corrente teórica de 90 A. A Figura 3 mostra as primeiras oito réplicas das combinações de parâmetros para os dois materiais. Figura 3: Primeira réplica de corpos de prova soldados Fonte: Próprio Autor (2019). Após a soldagem, o ângulo de distorção dos corpos de prova foi medido com um relógio comparador (Figura 4). A distorção foi medida posicionando a superfície frontal da chapa em contato com uma morsa de precisão (morsa da fresadora). O ponto onde se iniciou a medição foi considerado como 0, e comparado com o último ponto de contato entre a ponta de contato e o corpo de prova. Neste caso, empenamento positivo ou para cima significou um deslocamento vertical para cima da ponta de contato e vice-versa. O mesmo padrão de medição foi repetido em três pontos diferentes do corpo de prova (extremidade esquerda, meio e extremidade direita) definindo-se assim uma medida de distorção das chapas soldadas tanto longitudinalmente quanto verticalmente. Figura 4 - Medição das distorções após soldagem: (a) início de medição relógio posicionado no 0; (b) final da medição, com relógio indicando empenamento (a) (b) Fonte: Próprio Autor (2019). Após as medidas dos empenamentos, foi feita uma macrografia da seção transversal das juntas em oito corpos de prova (um de cada combinação de parâmetros) para verificar as dimensões do cordão de solda. O corte dos corpos de prova foi feito pelo policorte refrigerado do Laboratório de Metalografia e Ensaios Mecânicos da Faculdade de Engenharia Mecânica da UniRV. As lixas utilizadas foram sequencialmente 120, 220, 320, 400 e 600, utilizando-se uma lixadeira manual. O ataque químico foi feito pelos reagentes Nital 5%, para as amostras de aço 1020 e pelo reagente Hcl/ HNO3/ CuCl2/ FeCl2, para o inox 304L. As dimensões do cordão foram obtidas em um sistema de aquisição e medição de imagens composto por um estereomicroscópio NOVA OPTICAL SYSTEMS e uma câmera digital “BEL PHOTONICS” de 1,3 Megapixel, ambos disponibilizados pelo Laboratório de Metalografia e Ensaios Mecânicos da Faculdade de Engenharia Mecânica da UniRV. Resultados e discussão Conforme mencionado anteriormente, os corpos de prova foramsoldados com ajuste de corrente de 70 A e 90 A, sendo que nos dois níveis de corrente, todos os corpos de mesma corrente foram soldados sem que houvesse alteração no ajuste da máquina. Apesar disso, foi detectado pelo computador que as correntes reais tiveram pequenas diferenças daquelas selecionadas na máquina. Na Tabela 1 são apresentadas as correntes e as tensões médias obtidas pelo sistema de aquisição de sinais, juntamente com os respectivos tempos de duração da soldagem para cada corpo de prova soldado. Tabela 1 – Valores de corrente, tensão e tempo de soldagem Corpo de prova Espessura da chapa (pol.) Corrente média (A) Tensão média (V) Tempo de soldagem (s) I1 1/8 60 28 30 I2 1/8 62 28 27 A1 1/8 66 23 28 A2 1/8 70 21 28 I3 3/16 62 25 34 I4 3/16 60 27 30 A3 3/16 68 22 33 A4 3/16 68 23 33 I5 1/8 76 33 24 I6 1/8 78 30 22 A5 1/8 82 26 24 A6 1/8 85 27 24 I7 3/16 80 28 26 I8 3/16 74 30 26 A7 3/16 88 24 27 A8 3/16 84 25 25 Fonte: Próprio Autor (2019). As Figuras 5 e 6 mostram a tela do software usado para aquisição e tratamento dos sinais da soldagem para testes em inox e aço 1020, respectivamente. Figura 5 - Gráfica de tensão e corrente no corpo de prova I4 Fonte: Próprio Autor (2019). Figura 6 - Gráfica de tensão e corrente no corpo de prova A4 Fonte: Próprio Autor (2019). Através dos valores coletados nos gráficos e apresentados na Tabela 1, observou-se que as soldagens dos corpos de prova de inox 304L tenderam a ter uma tensão de soldagem maior e uma corrente menor quando comparados aos de aço 1020 de mesma espessura e para os mesmos ajustes na fonte de soldagem. Provavelmente a queima mais fácil do revestimento do eletrodo de inox que gera um gás de menor potencial de ionização, promoveu a elevação do arco e, consequentemente a elevação da tensão e redução da corrente. Verificou-se também que a espessura do material não teve influência significativa na variação de corrente se comparados a outras amostras de mesmo tipo de material, já no caso da tensão, houve uma tendência à queda (muito pequena) na tensão de soldagem das espessuras mais grossas. Observou-se que, para os mesmos ajustes, os gráficos de corrente apresentaram variações pequenas para ambos os materiais, enquanto os gráficos de tensão mostraram comportamentos diferentes de um material para outro. Os corpos de prova de aço 1020 tiveram gráficos sempre mais lineares se comparados aos de inox 304L, conforme exemplificado nas figuras 5 e 6; O tipo de material não influenciou significativamente nos tempos de soldagem, ou seja, para os mesmos níveis de corrente as taxas de deposição foram equivalentes entre os dois materiais testados. A Tabela 2 apresenta as dimensões do cordão obtidas através da macrografia dos corpos de prova. Tabela 2 – Dimensões dos cordões obtidos na macrografia Corpo de prova Penetração no fundo do chanfro (mm) Largura do cordão (mm) A2 - 1020 de 1/8”, corrente 70 A 2,06 12,11 A4 - 1020 de 3/16”, corrente 70 A 2,66 10,88 A6 - 1020 de 1/8”, corrente 90 A 3,39 (penetração completa) 12,78 A8 - 1020 de 3/16”, corrente 90 A 3,36 11,21 I1 - 304L de 1/8”, corrente 70 A 2,61 10,31 I4 - 304L de 3/16”, corrente 70 A 2,67 10,52 I6 - 304L de 1/8”, corrente 90 A 3,18 (penetração completa) 11,12 I7 - 304L de 3/16”, corrente 90 A 2,55 11,78 Fonte: Próprio Autor (2019). Os cordões de solda realizados nos aços 1020 com a corrente mais alta tenderam a penetrar mais, inclusive havendo ocorrência de um furo no corpo de prova A5 (Figura 7). Figura 7 - Corpo de prova A5, com penetração profunda e furo Fonte: Próprio Autor (2019). Tanto para o aço 1020 quanto para o inox 304L, houve falta de penetração na raiz da solda quando soldados com a corrente ajustada em 70 A, conforme se observa na Figura 8. Figura 8 - Vista traseira dos corpos de prova: (a) corpo de prova A3; (b) corpo de prova I3 (a) (b) Fonte: Próprio Autor (2019). As larguras dos cordões de solda nas chapas de 1/8” do aço 1020 tenderam a ser maiores que nas chapas de 1/8” de inox 304L. Já nas chapas de 3/16” a variação não foi significativa de um material para outro, conforme observado na Tabela 2. Para os dois tipos de material analisado, as únicas condições onde houve penetração completa foi para chapas de 1/8” com corrente ajustada em 90 A, conforme se observa nas figuras 9 (a) e (b). Figura 9 - Vista traseira dos corpos de prova: (a) A6; (b) I5 (a) (b) Fonte: Próprio Autor (2019). ESAB (2019) afirma que há diferença na capacidade de metais absorverem e transmitirem calor mais rapidamente que outros, sendo estes classificados como de alta condutividade térmica, o que pode justificar a ocorrência de furo no corpo de prova A5 e visível maior penetração do corpo de prova A6 (de aço 1020) quando comparando com o I5 de inox. Através da macrografia, também foi possível observar diferenças de comportamento de um material para outro, levando em conta a macroestrutura interna, especificamente se tratando de defeitos. Foi observada uma pequena falta de fusão em três dos corpos de prova de inox 304L, além de uma trinca na chapa de 1/8” submetida à corrente ajustada em 90 A, cuja penetração foi completa. Já nos corpos de prova de aço SAE 1020 não foi percebido nenhum defeito, o que indica possível propensão maior a defeitos de soldagem no aço inox 304L (nos casos de falta de fusão, pode ser que tenha uma relação entre as correntes reais mais baixas da solda de inox). Os corpos de prova com defeitos são mostrados na Figura 10. Figura 10 - Corpos de prova com defeitos: (a) CP I6, com trinca; (b) CP I1, com falta de fusão; (c) CP I4, com falta de fusão; (d) CP I7, com falta de fusão (a) (b) (c) (d) Fonte: Próprio Autor (2019). Quanto aos empenamentos verticais, foram obtidas as medidas dispostas na Tabela 3, onde as medidas positivas significam empenamento para cima e medidas negativas empenamento para baixo. Vale ressaltar que nem todos os corpos de prova estavam rigorosamente em 0° quando ponteados, visto que o martelamento por si só não proporcionou precisão suficiente para tal. Por esse motivo, para os cálculos da média geral de empenamento vertical, foi considerada uma margem de erro de ± 10 centésimos de mm. Tabela 3 - Medidas de distorções dos corpos de prova Corpo de Prova. Medida aferida na extremidade direita, meio e extremidade esquerda do corpo de prova, respectivamente (centésimos de mm). Média geral de empenamento vertical, já calculada com a margem de erro (centésimos de mm). I1 95, 78, 22 68 ±10 I2 90, 93, 75 86 ±10 A1 130, 118, 105 118 ±10 A2 29, 18, 20 22 ±10 I3 -90, -102, -109 -100 ±10 I4 -183, -186, -193 -187 ±10 A3 43, 45, 31 40 ±10 A4 44, 60, 69 58 ±10 I5 31, 27, 23 27 ±10 I6 137, 142, 152 144 ±10 A5 21, 29, 22 24 ±10 A6 146, 107, 70 108 ±10 I7 -139, -148, -153 -147 ±10 I8 -3, -5, -18 -9 ±10 A7 -13, 7, 16 3 ±10 A8 -36, -55, -104 -65 ±10 Fonte: Próprio Autor (2019). Analisando os dados demonstrados na Tabela 3, mais uma vez pode-se notar diferenças de comportamento relativas à variação do tipo de material e espessura, além de algumas semelhanças e tendências. Pode-se observar que: - na maior parte dos corpos de prova, a extremidade esquerda (local onde foram iniciados os cordões) tendeu a ter maior distorção pra cima do que a extremidade direita (local onde o cordão foi finalizado); - em relação às medidas de distorção, os corpos de prova de 1/8” de ambos os materiais comportaram-se de maneira similar entresi, independente da corrente utilizada; - apenas corpos de prova com espessura 3/16” tiveram empenamentos para baixo, sendo que os mais expressivos ocorreram em corpos de prova de inox 304L; - os corpos de prova de 3/16” de inox submetidos à corrente menor tiveram empenamentos relativamente expressivos, enquanto os de 3/16” de 1020 submetidos à mesma corrente tiveram empenamentos discretos; - os corpos de prova de inox AISI 304L apresentaram tendência a deformações maiores, visto que quatro dos oito corpos de prova tiveram empenamento de ordem superior a 1 mm (I3, I4, I6 e I7), enquanto que apenas dois corpos de prova do aço SAE 1020 passaram dessa medida (A1 e A6). - os corpos de prova I6 e A6, cuja penetração foi completa conforme mostrado na macrografia, demonstraram empenamentos significativamente superiores às suas réplicas I5 e A5, cujo cordão visivelmente aqueceu mais a chapa. Pode-se observar na Figura 7 que o corpo de prova A5 chegou a furar, e pela Figura 11 que a soldagem do I5 passou a aquecer a chapa demasiadamente a partir da metade do cordão, diferente de sua réplica I6, cujo aspecto do cordão foi mais constante (Figura 12). Pela Figura 13, nota-se também que o declive do cordão de solda no corpo de prova A6 foi mais acentuado que o do I5; Figura 11 - Corpo de prova I5, com elevação do aquecimento a partir da metade do cordão Fonte: Próprio Autor (2019). Figura 12 - Corpo de prova I6, com aspecto do cordão mais constante Fonte: Próprio Autor (2019). Figura 13 - Corpo de prova A6, com elevação do aquecimento já no início do cordão Fonte: Próprio Autor (2019). A Tabela 4, segundo Marques, Modenesi e Santos (2012), apresenta as propriedades relativas dos materiais, considerando aço carbono = 1. Tabela 4: Valores relativos de propriedades de aços Material E (módulo de elasticidade) YS (limite de escoamento) (coeficiente de expansão) k (condutividade térmica) Aço carbono 1,0 1,0 1,0 1,0 Aço inoxidável 1,0 1,2 1,4 0,3 Fonte: Marques, Modenesi e Santos (2012). Através da Tabela 3, dos valores coletados no decorrer do trabalho, e das informações citadas dos autores, pode-se interpretar as influências das propriedades descritas na Tabela 4 da seguinte maneira: - Módulo de elasticidade: Ambos possuem aproximadamente o mesmo valor de “E”, indicando que os dois aços estudados possuem aproximadamente a mesma resistência à distorção, caso se considere apenas essa variável. - Limite de escoamento: O fato de o aço inoxidável possuir um “YS” um pouco maior e as chapas de aço inox terem tendido a empenar mais concorda com o que foi explicado por Soares (2006), que materiais mais resistentes tendem a apresentar maiores deformações/distorções. - Coeficiente de expansão: O aço inox possui maior coeficiente de expansão, logo era esperado que os corpos de prova de 304L tendessem a apresentar maiores valores de distorção, conforme explicado por Soares (2006). - Condutividade térmica: O aço inox possui um “k” inferior ao do aço carbono, e conforme explicado por Cordeiro (2015), isso também pode justificar a maior tendência de empenamento nos corpos de prova de 304L. Para verificar a influência da corrente, da espessura das chapas e do tipo de metal de base sobre o nível de empenamento das juntas soldadas foi realizado o planejamento fatorial apresentado no Quadro 1. Foram usados dois níveis de corrente (70 A e 90 A), dois níveis de materiais (aço SAE 1020 e Inox AISI 304L) e dois níveis de espessura das chapas (1/8” e 3/16”). Quadro 1 – Planejamento fatorial experimental Corrente ajustada na fonte de soldagem (A) Aço SAE 1020 Inox AISI 304L Espessura da chapa (polegada) 1/8 3/16 1/8 3/16 70 108; 12 30; 48 58; 76 -110; -197 90 14; 98 -7; -75 17; 134 -157; -19 Fonte: Próprio Autor (2019). O Quadro 2 apresenta a análise de variância para verificar a influência da corrente de soldagem, do tipo de metal de base soldado e da espessura da chapa sobre o nível de empenamento da junta soldada. Quadro 2 – Análise de variância Variável Soma de Quadrados Graus de Liberdade Média Quadrática F0cal F0tab Efeito (centésimos de mm) Corrente 25 1 25 0,006 5,32 -2,5 Metal de base 11342,25 1 11342,25 2,93 5,32 -53,25 Espessura da chapa 63001 1 63001 16,30 5,32 -125,5 Interação corrente-metal de base 6241 1 6241 1,61 5,32 39,5 Interação corrente- espessura da chapa 90,25 1 90,25 0,02 5,32 -4,75 Interação metal de base- espessura da chapa 17689 1 17689 4,58 5,32 -66,5 Interação corrente-metal de base-espessura da chapa 4422,25 1 4422,25 1,14 5,32 33,25 Erro 30923 8 3865,375 Total 133733,8 15 Fonte: Próprio Autor (2019). A análise de variância demonstrou que a um nível de significância = 5%, apenas a variável espessura da chapa influenciou no nível de empenamento desta. Observou-se que, de acordo o resultado calculado do efeito, a mudança da espessura baixa para a alta causou uma diferença média de -125,5 centésimos de mm. Nem a corrente nem o metal de base demonstraram influência significativa e também não houve nenhum efeito de interação entre as variáveis. Conclusões Os aços inox 304L possuem maior tendência de empenar e/ou acumular tensões residuais, enquanto os aços 1020 são mais sensíveis ao calor gerado. A macrografia demonstrou a boa efetividade na penetração dos cordões nos corpos de prova de aço 1020, além de uma possível tendência do inox 304L de acumular mais defeitos, sobretudo por falta de fusão. A análise de variância mostrou que nem a corrente de soldagem nem o material influenciaram significativamente no comportamento de empenamento dos corpos de prova. Mostrou também que a espessura foi a única variável que realmente afetou o empenamento dos aços devido à soldagem. Sugere-se novos trabalhos semelhantes, que abordem outras questões não aprofundadas neste trabalho, como a propensão a defeitos, as dimensões da Zona termicamente afetada (ZTA), crescimento de grãos, se possível com cordões de solda feitos automaticamente que reduzam a variação da corrente e tensão. Referências CORAINI, R.; KOBAYASHI, Y.; GONÇALVES, G. M. B. Influência do tipo de chanfro, tecimento e sentido de laminação na distorção angular em soldagem GMAW-P robotizada de alumínio. UNESP. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?frbrVersion= 3&script=sci_arttext&pid=S0104-92242011000200005&lng=en&tlng=en> Acesso em 26 de abril de 2019. CORDEIRO, F.D.V. A Critical Analysis on Weld’s Distortion. Universidade de Coimbra, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Departamento de Engenharia Mecânica. Disponível em: <https://eg.uc.pt/bitstream/10316/38969/1/A%20Critical%20Analysis%20on%20Weld%20s% 20Distortion.pdf> Acesso em 30 de maio de 2019. ESAB. Apostila de metalurgia da soldagem. Disponível em: <https://www.esab.com.br/br/pt/education/apostilas/upload/apostilametalurgiasoldagem.pdf> Acesso em 30 de outubro de 2019. HASHEMZADEH, M.; CHEN, B. Q.; SOARES, C. G. Numerical and experimental study on butt weld with dissimilar thickness of thin stainless steel plate. International Journal of Advanced Manufacturing Technology. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/269290057_Numerical_and_experimental_study_ on_butt_weld_with_dissimilar_thickness_of_thin_stainless_steel_plate> Acesso em 27 de maio de 2019. MARQUES, P. V.; MODENESI, P. J. Algumas equações úteis em soldagem. Soldagem & Inspeção São Paulo, Vol. 19, Nº. 01, p.091-102, Jan/Mar 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/si/v19n1/a11v19n1.pdf> Acesso em 23 de abril de 2019. MARQUES, P. V.; MODENESI, P. J.; BRACARENSE, A. Q. Soldagem: Fundamentos e Tecnologia. Editora UFMG, Belo Horizonte, 2005. MODENESI, P. J.; MARQUES; P. V.; SANTOS, D. B. Introdução à Metalurgia da Soldagem. UFMG. Disponível em: <http://demet.eng.ufmg.br/wp-content/uploads/2012/10/metalurgia.pdf> Acesso em 23 de abril de 2019. SOARES, H. C. G. Estudo de sequências de soldagem para redução e eliminação de distorções. UFMG. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/ handle/1843/SBPS-7B5JET/disserta_o_de_mestrado_helio_coelho_guimaraes_soares_pdf? sequence=1> Acesso em 18 de março de 2019. http://www.scielo.br/scielo.php?frbrVersion=3&script=sci_arttext&pid=S0104-92242011000200005&lng=en&tlng=en http://www.scielo.br/scielo.php?frbrVersion=3&script=sci_arttext&pid=S0104-92242011000200005&lng=en&tlng=en https://eg.uc.pt/bitstream/10316/38969/1/A%20Critical%20Analysis%20on%20Weld%20s%20Distortion.pdf https://eg.uc.pt/bitstream/10316/38969/1/A%20Critical%20Analysis%20on%20Weld%20s%20Distortion.pdf https://www.esab.com.br/br/pt/education/apostilas/upload/apostilametalurgiasoldagem.pdf https://www.researchgate.net/publication/269290057_Numerical_and_experimental_study_on_butt_weld_with_dissimilar_thickness_of_thin_stainless_steel_plate https://www.researchgate.net/publication/269290057_Numerical_and_experimental_study_on_butt_weld_with_dissimilar_thickness_of_thin_stainless_steel_plate http://www.scielo.br/pdf/si/v19n1/a11v19n1.pdf http://demet.eng.ufmg.br/wp-content/uploads/2012/10/metalurgia.%20pdf http://demet.eng.ufmg.br/wp-content/uploads/2012/10/metalurgia.%20pdf http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/%20handle/1843/SBPS-7B5JET/disserta_o_de_mestrado_helio_coelho_guimaraes_soares_pdf?%20sequence=1 http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/%20handle/1843/SBPS-7B5JET/disserta_o_de_mestrado_helio_coelho_guimaraes_soares_pdf?%20sequence=1 http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/%20handle/1843/SBPS-7B5JET/disserta_o_de_mestrado_helio_coelho_guimaraes_soares_pdf?%20sequence=1
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