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Resenha - sistema carcerario

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Resenha Crítica: Encarceramento em massa – A tragédia prisional brasileira
Muitos são os problemas que podem ser trazidos à tona quando se fala em sistema carcerário. A lei penal descreve, em seus vários artigos, como o sistema carcerário deveria funcionar, como os encarcerados deveriam ser tratados, bem como todos os seus direitos e deveres. 
O Art. 5°, III, CF/88 diz que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. Será que o que acontece diariamente nos presídios está de acordo com esse direito fundamental?
Primeiramente, pode-se falar sobre a saúde no sistema carcerário. Existe uma superlotação de celas - o que já pode ser elencado como outro problema -, que são precárias e insalubres e isso contribui para a proliferação de várias doenças. Além desses fatores estruturais, deve-se salientar também outros, como a má alimentação dos presos, o sedentarismo em que vivem, o uso de drogas, a falta de higiene que ali prevalece. Além de todas essas doenças, há que ser falado também dos encarcerados que tem algum tipo de deficiência mental, deficiências físicas, pacientes com doenças que exigem um tratamento cuidadoso. O Estado, como provedor e garantidor da efetividade dos direitos previstos não só na Constituição, como em todos os ordenamentos jurídicos, é o responsável por todas as violações aos direitos que ali ocorrem.
Os tratamentos dentários, por exemplo, que ocorrem ali se resumem basicamente a extração dos dentes. Quanto aos outros tipos de tratamento, para se dirigirem à uma localidade hospitalar os presos dependem de escolta da Polícia, o que muitas vezes é demorada, além do que são levados à hospitais do SUS, correndo o risco de não haverem mais vagas para o tipo de atendimento necessitado em razão da igual debilidade do nosso sistema de saúde. A manutenção desses indivíduos nesse estado execrável de saúde faz também com que a pena perca seu caráter ressocializador.
Pode-se falar também sobre o despreparo e desqualificação dos agentes carcerários e dos policiais para conter qualquer tipo de situação que possa ocorrer ali dentro. A chacina ocorrida no Carandiru em 1992 é um claro exemplo desse despreparo e desqualificação. Ainda há, infelizmente, o pensamento de que apenas pelo fato de aquelas pessoas terem tido um comportamento criminoso, elas se tornam menos gente do que quem não teve esse tipo de comportamento. O caput do Art. 5° da CF/88 diz que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”, onde está essa igualdade que não se faz presente em ambientes como esse?
A igualdade relacionada aos direitos humanos e fundamentais, tão falada por tantas pessoas, não deveria ser efetivada de forma relativa, mas sim como um todo. Se, de acordo com a Constituição, não se deve fazer distinção de qualquer natureza, os presos deveriam ser tratados de forma digna. 
Por trás disso tudo, deve-se buscar a fonte, onde todas essas coisas começam. O Brasil é um país deficiente em questões de educação também, a maioria das escolas públicas não tem recursos suficientes e, muitas vezes, professores qualificados o suficiente para trazer uma educação de qualidade para todos. Tudo começa com a educação, ou pelo menos, ela é fundamental para que haja uma diminuição significativa no número de pessoas envolvidas no mundo do crime, especialmente em se tratando de jovens. 
A entrada no mundo do crime, em sua maioria, acontece devido a uma situação de pobreza. O indivíduo não encontra um trabalho em que ganhe o suficiente para sustentar sua família, e acaba se envolvendo em um negócio que lhe rende mais dinheiro, assim garantindo o sustento da família. No entanto, quando esses indivíduos são levados à prisão e lá são tratados como lixo, sem dignidade alguma, sem respeito, perde-se a esperança de que ele irá se ressocializar, fazendo assim com que a reincidência criminal seja muito mais frequente. 
Outro ponto importante a ser salientado é o fato de os magistrados julgarem mal. Para certos tipos de crimes, analisando-se cada caso em específico, não há qualquer necessidade de que esse indivíduo seja levado ao sistema prisional, ele poderia ser designado a cumprir sua pena de outra forma, claro que sempre sendo monitorado. Essa atitude mal pensada do judiciário leva à superlotação dos presídios, fazendo com que o lugar se torne indigno, insalubre, um lugar de miséria e tortura para aqueles que ali estão vivendo (ou sobrevivendo). 
Cesare Beccaria, famoso criminologista Italiano, escreveu Dos Delitos e das Penas, livro que é famoso até hoje por seus pensamentos muito à frente de seu tempo ao tratar de ressocialização do detento e prevenção aos crimes. Para ele, a prevenção dos crimes é feita de forma simples. As leis devem ser elaboradas de maneira clara, que sejam de fácil compreensão e que a maioria da população concorde em defendê-las e cumpri-las. Ao final de sua obra, Beccaria faz uma espécie de resumo dos assuntos mais relevantes de seu livro, especialmente sobre as questões de não haver proporcionalidade nas penas, não havendo necessidade de tortura ou qualquer outro comportamento que viole a dignidade da pessoa humana. 
“é melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo legislador sábio deve procurar antes impedir o mal do que repará-lo, pois uma boa legislação não é senão a arte de proporcionar aos homens o maior bem-estar possível e preservá-los de todos os sofrimentos que se lhe possam causar, segundo o cálculo dos bens e dos males desta vida”. (BECCARIA, 1764)

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