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CAPA ISBN 978-65-86694-01-7 REFLEXÕES E NARRATIVAS PEDAGÓGICAS Organizadores: Rachel Colacique Diego Vargas Anelize Reynozo 1ª Edição UNIRIO Rio de Janeiro 2020 Colacique, Rachel; Vargas, Diego; Reynozo, Anelize. C683 Reflexões e Narrativas Pedagógicas. 1ª ed. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2020. 195 f. Organizadores: Rachel Colacique, Diego Vargas, Anelize Reynozo. ISBN 978-65-86694-01-7 1. Educação 2. Formação de professores I. Título II Série. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO.............................................................................................................6 A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem ....................................................................................................9 A EDUCAÇÃO VISUAL SOB A PERSPECTIVA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND: a arte e a natureza na educação infantil ....................................................... 27 A LINGUAGEM TEATRAL COMO ELEMENTO SOCIOCULTURAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL......................................................................................................................... 43 AS CIÊNCIAS NATURAIS E A EDUCAÇÃO INFANTIL: discutindo o papel docente . 57 CAMINHOS HISTÓRICOS DO ENSINO DE MÚSICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORAS UNIDOCENTES: normalistas e pedagogas ...................................... 76 DEFICIÊNCIA VISUAL E GRADUAÇÃO À DISTÂNCIA EM EDUCAÇÃO FÍSICA: um estudo de caso .............................................................................................................. 105 EDUCAÇÃO DE QUALIDADE: um falso dilema ......................................................... 115 O HOMEM EPISTÊMICO: uma busca filosófico-pedagógica pelas origens da inteligência humana....................................................................................................... 125 O TERMO TUTOR E SEUS CODINOMES NA EAD BRASILEIRA ............................ 145 PEDAGOGIA DE PROJETOS: conversando com os professores da educação infantil ....................................................................................................................................... 161 PRÁTICAS DE MEDITAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: uma visão holística de alunos com TDAH.......................................................................................................... 181 6 APRESENTAÇÃO Este livro – Reflexões e Narrativas Pedagógicas – é o primeiro de uma série que tratará sobre a formação docente em seus múltiplos aspectos. Nosso desejo é contribuir para os debates sobre Educação, apresentando por meio desta coletânea, artigos que discutem questões fundamentais em diferentes áreas temáticas. No primeiro capítulo, intitulado “A dialética sociointerativa de Vygotsky: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem”, os autores Marcorelio Fortini de Andrade e Rosângela Maria Gonçalves, por meio de uma revisão bibliográfica, buscam compreender a inter-relação entre pensamento e linguagem, tão fundamentais para o desenvolvimento humano, procurando entender como a consciência e significação da realidade empírica e simbólica se edificam na dialética das relações. Em seguida, no capítulo intitulado “A educação visual sob a perspectiva do imaginário de Gilbert Durand: a arte e a natureza na educação infantil”, os autores José Luiz da Silva Rodrigues e Anelize Pires Reynozo da Silva, abordam a temática do imaginário e sua formação na contemporaneidade, ancorados nas teorias da Pedagogia do Imaginário, do antropólogo francês Gilbert Durand. Procurando apresentar a essencialidade da arte e da natureza na educação do imaginário, os autores ressaltam caminhos que podem auxiliar na construção de um imaginário mais criativo e autônomo, principalmente focados no atendimento às crianças menores de seis anos. O terceiro capítulo, “A linguagem teatral como elemento sociocultural na Educação Infantil” de autoria de Bruna da Silva Bernardino e Valéria da Silva Lima, traz reflexões sobre o desenvolvimento da linguagem teatral como um instrumento pedagógico socializador e dinâmico, capaz de colaborar como elemento sociocultural na Educação Infantil, por meio da valorização do desenvolvimento integral do aluno em uma prática diversificada pela linguagem e suas especificidades. No quarto capitulo, “As Ciências Naturais e a Educação Infantil: discutindo o papel docente”, as autoras Anelize Pires Reynozo da Silva, Simone de Oliveira Coelho e Márcia Cristina Alves dos Santos, abordam a temática do ensino de ciências naturais e o desenvolvimento do espírito investigativo e da curiosidade infantil, por meio das contribuições do professor mediador nesse processo. Com autoria de Anderson Carmo de Carvalho e Celso Garcia de Araújo Ramalho, o quinto capítulo deste livro, intitulado “Caminhos históricos do ensino de 7 música na formação de professoras unidocentes: normalistas e pedagogas”, aborda a temática da presença da música nos cursos de formação de professoras no Brasil. Por meio de um levantamento bibliográfico, os autores pontuam momentos importantes na história da formação de professoras unidocentes, destacando a importância da música no currículo escolar. O sexto capítulo, com título “Deficiência visual e graduação à distância em Educação Física: um estudo de caso”, de autoria de Rafaela Pinheiro Lacerda e Leonardo Conceição Gonçalves, aborda alguns dos desafios impostos quanto à garantia de acessibilidade para uma estudante com deficiência visual. São apontados, entre outros aspectos, a falta de formação dos professores e tutores do curso, falta de acessibilidade nos materiais didáticos e no ambiente virtual de aprendizagem, além da inexistência de apoio em tutorial presencial para a estudante. O texto explora essa temática, reforçando o direito ao acesso aos conteúdos e trazendo luz a alguns desses desafios. Intitulado “Educação de qualidade: um falso dilema”, o sétimo capítulo deste livro busca apresentar uma análise semântica e histórica do conceito de educação – distinguindo da ideia de ensino e escolaridade – explorando a grande controvérsia existente no termo “educação de qualidade”. De autoria de Simone de Oliveira Coelho, o capítulo provoca o leitor a pensar no falso dilema estabelecido pelo conceito utilitarista do termo, ao abarcar questões que vão além dos simples resultados expressos por índices e testes. No oitavo capítulo, de autoria de Gustavo Roncetti Gomes e Anelize Pires Reynozo da Silva, intitulado “O homem epistêmico: Uma busca filosófico-pedagógica pelas origens da inteligência humana”, são abordadas questões sobre a origem da inteligência humana – principalmente ancorada na perspectiva sociointeracionista – e sua construção na relação com o outro. Os autores procuram apresentar elementos que corroboram com as teorias que apresentam a inteligência humana vinculada a diversos fatores, sociais, culturais e historicamente constituídos. O capítulo intitulado “O termo tutor e seus codinomes na EAD brasileira”, de autoria de Leonardo Villela de Castro, Daniela Reis Freitas e Anelize Pires Reynozo da Silva, apresenta reflexões e problemáticas envolvendo o uso do termo tutor como designação para os profissionais que atuam como docentes na educação a distância. Por meio de uma revisão bibliográfica, e ressaltando os processos de invisibilidade e 8 precarização do trabalho docente, os autores discutem as atribuições dos tutores no Âmbito do Consórcio Cederj/UAB. O décimo capítulo, “Pedagogia de Projetos: conversando com os professores da Educação Infantil”, dos autores Kamilla Silva de Rezende Souza Nunes, Anelize Pires Reynozo da Silva e Carlos Vinícius Costa Amado, por meio de pesquisa bibliográfica e trabalho de campo, as autoras apresentam a temática da Pedagogia de Projetos na construção de saberes e naautonomia infantil, com foco no protagonismo da criança. O último capítulo, intitulado “Práticas de meditação na educação infantil: uma visão holística de alunos com TDAH”, de autoria de Júlia Cássia Viana e Márcia de Oliveira Lima Fitaroni, apresenta uma proposta de atuação pedagógica por meio da meditação, baseada numa visão de Educação Holística e integral. O texto tem por objetivo “refletir sobre os benefícios da meditação no desenvolvimento integral dos aspectos cognitivos, motores, sociais e emocionais da criança com ênfase em atividades expressivas e relaxamentos de acordo com o currículo da Educação Infantil”. Boa leitura a todos! Rachel Capucho Colacique Diego da Silva Vargas Anelize Pires Reynozo 9 A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem Marcorelio Fortini de Andrade1 Rosângela Maria Gonçalves2 Resumo O presente estudo apresenta como objetivo geral compreender a inter-relação entre pensamento e a linguagem como engrenagens para o desenvolvimento humano e, no contexto, explicitar como a consciência, as funções cognitivas e afetivas são formadas empiricamente no meio das interações socioculturais. Corroborando a tese de que a formação integral do sujeito depende essencialmente das interações culturais mediadas pelos códigos de comunicação social, o referido texto aborda as principais concepções de Vygotsky (2008), acerca do desenvolvimento humano intelectual fundamentado a partir da obra Pensamento e Linguagem. Apresenta como metodologia uma revisão bibliográfica da obra citada, procurando entender como a consciência e significação da realidade empírica e simbólica se edifica na dialética das relações. Abordando colocações da teoria no campo da psicologia da aprendizagem e da linguística, a diferença essencial do ambiente, dos estímulos do meio, dos contatos assimétricos na esteira da Zona de Desenvolvimento Proximal e como a compreensão das funções cognitivas, são fundamentais para o trabalho complexo da educação. Por fim, foi possível concluir que Vygotsky (2008) defendia que as relações sociais e o processo de socialização são as fontes do aparato cognitivo. Para tanto é preciso haver comunicação e entendimento recíproco. Palavras-chave: Vygotsky. Relação. Consciência. Linguagem. Pensamento. Introdução O texto apresenta um estudo sistemático sobre a obra “Pensamento e Linguagem” de Lev Semenovitch Vygotsky (2008), procurou-se entender a dimensão essencial que a linguagem tem para a vida de acordo com sua abordagem. Estudar a relação do pensamento com a linguagem mostra-se como incumbência pedagógica e existencial em virtude de compreender melhor a realidade da condição humana, bem como a necessidade histórica ontológica de aprendermos a comunicar, a falar, a escrever, a denominar os seres, a abstrair o significado dos objetos e ideias metafísicas. 1 Licenciado em Pedagogia - UNIRIO 2 Mestrado Acadêmico em Ensino de Ciências - IFRJ - Nilópolis/RJ A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 10 Saber aplicar e entender os sentidos dos signos e mensagens em cada contexto. E nesse bojo explanar a dimensão fundamental da socialização do sujeito no meio social, escolar e cultural. O que para a teoria socioconstrutivista de Vygotsky é algo fundamental na formação da consciência e da própria identidade vital do sujeito. Na referida obra também é cardeal destacar a concepção de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Uma ferramenta teórica pertinente para o trabalho de ensino-aprendizagem com os alunos, sobretudo, no processo de alfabetização que envolve relações assimétricas, sob a intervenção de adultos. Etapa em que Vygotsky (2008) apresenta um grande interesse, diversas pesquisas e experiências realizadas. O problema que norteou a pesquisa se expressa pela seguinte indagação: por que o desenvolvimento intelectual e humano depende essencialmente das relações interativas na vida cultural e do aprimoramento consciente da linguagem? De fato, é uma necessidade acadêmica e pedagógica entender a engrenagem do desenvolvimento intelectual que depende essencialmente da dimensão sociocultural, da formação do pensamento vinculado ao aprendizado complexo da plural linguagem. Algo que Vygotsky (2008) mostra como uma notável referência e fonte de estudo praticamente obrigatória. O objetivo geral da pesquisa é compreender a inter-relação entre o pensamento e a linguagem como engrenagens para o desenvolvimento humano, explicitando de que maneira a consciência, as funções cognitivas e afetivas são formadas empiricamente no meio das interações socioculturais. Explanar como objetivos específicos o método dialético, o método da análise semântica destacada pelo autor como chave hermenêutica como também os tópicos da filogênese, sociogênese e da ontogênese na construção sociocultural do sujeito. Ainda nesse contexto, tem- se intenção de refletir a respeito da concepção de linguagem e suas funções, dialogando com Bakhtin (1992), trazer uma breve concepção de consciência relacionando com Ivic (2010), o percurso evolutivo do pensamento e a formação dos conceitos cotidianos e científicos no aparato cognitivo sob a tutela da educação formal, o entendimento prático da Zona de Desenvolvimento Proximal, e, por fim, reflexões e questionamentos pertinentes e viáveis para a formação de professores e demais educadores. Nessa perspectiva, explanar como o aprendizado da língua oral e escrita será fundamental para o desenvolvimento integral sociocultural da criança. Em suma, as contribuições e as pertinentes teorias de Vygotsky (2008) são saberes e valores imprescindíveis para a formação docente em vista de entender A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 11 gradativamente a formação do intelecto em conexão com a energia semiótica da linguagem, com o desenvolvimento natural vinculado ao cultural e a formação humana social da pessoa. 1 Referencial Teórico 1.1 Autor e obra: Lev Semenovitch Vygotsky Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 17 de novembro de 1896, em Orsha, próximo à Mensk - capital da Bielarus, país da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Viveu grande parte de sua vida com a família em Gomel, de origem judia, segundo filho de oito irmãos. Interessou-se por várias áreas do conhecimento, organizando grupos de estudos e aprendendo sobre diversos campos de conhecimento, tais como as artes, psicologia, linguística etc. Estudou Direito na Universidade de Moscou (1913), frequentou cursos de História e Filosofia na Universidade Popular de Shanyavskii; colaborador do Instituto de Psicologia Experimental de Moscou, sendo um dos fundadores da Psicologia Educacional da União Soviética; estudou o funcionamento das funções psíquicas superiores objetivando compreender o desenvolvimento psicológico da criança. Como professor e pesquisador, trabalhou nas áreas da Psicologia, Pedagogia, Filosofia, Literatura, deficiência física e mental, dentre outras. Morreu precocemente no dia 11 de junho de 1934, antes de completar 38 anos, vítima de tuberculose. A obra em foco “Pensamento e Linguagem”, considerada uma compilação de estudos inacabados, devido a sua morte precoce. Foi publicada postumamente e divulgada por seus colaboradores. A obra apresenta um estudo detalhado sobre o desenvolvimento intelectual e humano, orientado para a psicologia da aprendizagem, pedagogia e linguística. Apresenta-se conceitos, processos, estágios dialéticos, métodos e etapas sobre o aprimoramento cognitivo e afetivo, expondo suas críticas, argumentos e posições, o que para o leitor no primeiro momento tenha a impressão de ler abordagens repetitivas, por ser um dos temas mais complexos da psicologia, a inter-relaçãoentre o pensamento e linguagem. O referido texto apresenta-se em seções e procurou-se abordar o método de análise semântica, a abordagem entre a relação e linguagem, o método dialético, a abordagem sobre as raízes genéticas do pensamento e da linguagem, um estudo A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 12 experimental da formação dos conceitos, o desenvolvimento dos conceitos espontâneos e científicos na infância e, por fim, o pensamento e a palavra. 1.2 A engrenagem do método dialético na teia do livro Pensamento e Linguagem Na pesquisa em questão advoga-se que a estrutura da obra de Vygotsky (2008) é ordenada pelo método dialético fundamentado na perspectiva marxista e, sobretudo na linha epistêmica do filósofo alemão Hegel (2002). Este criou uma leitura da realidade e do conhecimento a partir do movimento espiral, ascendente e triádico das ideias e das coisas. Dizia que tudo está em permanente mudança e evolução. Coexiste um conflito ordenado de opostos. A vida orgânica é essencialmente alimentada pelas contradições, que se situam no devir do tempo seguindo o ciclo das mudanças e avanços. Todas as coisas são contraditórias em si mesmas como afirma Konder (2012) interpretando a teoria hegeliana: “a contradição é reconhecida pela dialética como princípio básico do movimento pelo qual os seres existem” (p. 47). Assim ela - a contradição - seria a mola propulsora de todo movimento e de toda manifestação vital. No que tange a dimensão ontológica cultural da existência, Hegel (2002) defendia que o conhecimento é alimentado pelos conceitos edificados num movimento dialético sistematizado pelo intelecto. Umas das chaves para entender o processo idealista da dialética é o conceito alemão de aufhebung que quer dizer aproximadamente “superação ou suspensão - um negar, conservar e elevar”. (Konder, 2012, p. 25). Esse eixo evidencia-se pela operação imanente em que cada momento refuta e reprime, e concomitantemente mantêm, conserva os elementos anteriores e os joga e eleva a outro patamar progressivo. Os conceitos na construção do conhecimento e da consciência seguem uma linha processual da tese, da antítese e da síntese numa relação de sinergia com o mundo, porém enaltecendo o plano idealista. Primeiro existe o ser (pensar). Depois acontece na superação dialética o não ser, a negação e conservação da matéria e intuições do mundo. E por fim a devir na síntese da ideia com o fenômeno sensível convergindo para a forma do conceito. “O ser atinge a verdade quando conceito e objeto formam uma amálgama” (Hegel, 2002, p. 166). É nesse movimento intelectual trabalhoso e complexo do Espírito ou do “ser consciente” que a pessoa vai se aprimorando e participando da teia cultural. O ser humano é quem cria ou significa a realidade e a cultura sempre no horizonte processual imediato e também cheio de mediações simbólicas e materiais. A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 13 Mas não é tão simples esse cenário. É necessário muito trabalho, energia, reflexão e tempo empregados. Nessa esteira vale frisar que o trabalho aqui visto por eles não é só pela questão da subsistência material e pelo controle da natureza. Abrange também, sobremaneira, a faina intelectual, afetiva e sociointerativa da educação. Deveras se infere como a forma de trabalho mais complexa e desafiante ser a formação humana moral, emocional e epistemológica nunca acabada e sempre em modificação. De fato Vygotsky (2008) teve sua formação acadêmica muita influenciada pela doutrina da obra marxista, que predominava no contexto da época no início do século XX na União Soviética. E Marx aprendeu e utilizou a teoria de Hegel, mas procurou dar-lhe uma conotação materialista, cultural e histórica. “a dialética de Hegel estava de cabeça para baixo; decidiu então colocá-la sobre seus próprios pés” (Konder, 2012, p. 26). Não existe um sujeito ideal e nem um saber apenas ontológico, mas homens concretos vivendo na sociedade com seus desafios, conflitos e condições antropológicas e sociais. Todo saber deve ser contemplado na “práxis” da vida real. Tal visão é fruto das suas experiências, escolhas e circunstâncias reais, pois como descreve Konder (2012) Marx teve uma vida atribulada, ligou-se bem cedo ao movimento operário e socialista, lutou na política ao lado dos trabalhadores, viveu na pobreza e passou a maior parte de sua vida no exílio (na Inglaterra) (p. 26). Embora Marx tenha sido discípulo de Hegel, se afastou do idealismo alemão, escolheu outro caminho e colocou o conhecimento na prática da vida social na linha em favor da classe oprimida e desfavorecida na dialética concreta da luta de classe. Percebia o poder que o meio estrutural e cultural tem na formação da identidade de cada um. Ele pesquisou, criou uma obra monumental e participou nas lutas e dramas do povo. O legado de Marx gerou uma imensurável repercussão na história, dividiu o mundo e espalhou sementes de ideias em todos os cantos. Dito isto nota-se que ao realizar a leitura da obra com atenção, ciente das entrelinhas e influências absorvidas por Vygotsky (2008) pode-se perscrutar que praticamente toda a obra segue o fluxo das guinadas, intercâmbios teóricos, superações e saltos dialéticos na teia da formação da consciência e das demais funções superiores. Vygotsky realiza citações, reflexões e diálogos com outros autores, tais como, Piaget (1923) e Stern (1914), dentre outros citados. Assim, o crescimento do indivíduo e o trabalho pedagógico seguem um movimento ascendente de evolução integral em etapas bem entrelaçadas e A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 14 multifacetadas. E a cada novo degrau precisa do anterior para se afirmar e continuar desbravando o caminho. A identidade bem como o aprendizado continuamente construído tem toda uma visão de totalidade na conjunção harmônica e dinâmica das partes. 1.3 As possibilidades do método: a relação entre Pensamento e Linguagem Segundo o autor ainda não havia uma investigação sistemática sobre o assunto. Vygotsky (2008) procurou desvelar cientificamente as raízes genéticas do pensamento e da linguagem mesmo sem tantos recursos tecnológicos para a época na década de 1930. Percebeu que tal desafio estaria em conexão com outras áreas científicas, como a Linguística, a Filosofia e a Psicologia da Educação. A compreensão do desenvolvimento da pessoa e até da vida humana passa inexoravelmente pelo entendimento dessa inter-relação entre pensamento e signo – palavra. Criticou os métodos de análise atomísticos e funcionais como fragmentados e insuficientes. Mostrou que os resultados anteriores desde a antiguidade apresentaram um pêndulo ora de “identificação ou fusão” do pensamento e da fala, e ora como “disjunção e segregação quase metafísicas” (p. 2). Ambos ficaram superficiais e sem efetiva credibilidade. Vygotsky (2008) fundamentou sua tese na análise em unidades, compreender as partes e manter o prisma do conjunto. Ou seja, separar os componentes do pensamento verbal o desmembrar da palavra o som e o significado poderiam ser interessante para estudar desde que mantivesse a amálgama do todo, pois também iria prejudicar a compreensão dinâmica da linguagem nos aspectos fonéticos e semânticos. E nessa análise de unidades o autor acreditava que a chave para entender o pensamento verbal estava numa característica inerente à palavra, que era o seu significado. Assim, o elo crucial entre o pensamento e a palavra estaria no significado que possibilitaria o pensamento verbal. “É no significado, então, que podemos encontrar as respostas às nossas questões sobre a relação entre pensamento e a fala”. (2008. p. 5). E como explicou toda palavra é uma generalização, não se refere a apenas um objetoem questão. “É um ato verbal do pensamento e reflete a realidade de modo bem diverso daquele da sensação e da percepção” (2008, p. 6). Com efeito, o paradoxo de uma palavra sem significado seria um som vazio sem efeito na consciência e logo impossível para a expressão ou inútil para a comunicação. A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 15 Então o método que o autor julgou mais adequado para avaliar a fundamentação da relação entre pensamento e a linguagem é a análise semântica (2008, p. 6), ou seja, o estudo semiótico das palavras, a compreensão da representação dos signos, dos significados dos conceitos e dos enunciados. Portanto, esse método dialético semântico será o horizonte a seguir para entender sistematicamente o objetivo da verdadeira comunicação e da interação social que depende essencialmente do processo de significação em harmonia com os signos (palavras e sons). Essa análise também permite mensurar que a consciência do sujeito e a construção da realidade dependem basicamente de um sistema de significados mesclando além da dimensão intelectual o lado afetivo integrado. 1.4 Concepção da linguagem e suas funções Como afirmava Vygotsky (2008) “A função primordial da fala é a comunicação, o intercâmbio social”. (p. 6). A linguagem é essencialmente o processo mediador da comunicação. Abrange um conjunto de mensagens, códigos, signos, símbolos, sinais e gestos que possibilitam a troca de informações entre os membros do grupo. E nesse jogo de interação a mensagem pelas mediações usadas requer significado e compreensão recíproca. De acordo com o autor: A transmissão racional e intencional de experiência e pensamento a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala humana, oriunda da necessidade de intercâmbio durante o trabalho. De acordo com essa tendência dominante, até recentemente a psicologia tratou o assunto de um modo demasiadamente simplificado. (p. 7). Dessa forma as relações são possíveis pela comunicação desde que permeada de sentido e valor sociocultural. Os signos são elos fundamentais nas trocas simbólicas e nos diálogos estabelecidos. Todavia é mister que haja uma mútua partilha consciente e significativa, pois de acordo com o autor, “uma palavra sem significado, é um som vazio, que não faz parte da fala humana”. Na mesma passagem explana que “a união viva de som e significado a que chamamos palavra, se mantém unidas por conexões associativas mecânicas” (Vygotsky, 2008, p. 4). A corrente de linguagem depende de muitas unidades, de energia pulsante, elos e tópicos sociais comuns. Vygotsky (2008) é considerado um dos autores da Psicologia da Educação que mais investigou a importância imensurável da linguagem e as funções sensoriais e cognitivas agregadas para a formação do sujeito, sobretudo, para o desenvolvimento da criança. E ao pesquisar tal concepção nota-se nitidamente que ela é natural ao processo A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 16 mediador das inter-relações humanas. O autor tinha a noção evidente de que a linguagem é complexa, essencial e plural, transcendia a dimensão verbal e sonora. De acordo com o autor: A linguagem não depende necessariamente do som. Há por exemplo, a linguagem dos surdos-mudos e a leitura dos lábios, que é também interpretação dos movimentos. Na linguagem dos povos primitivos, os gestos tem um papel importante e são usados juntamente com o som. Em princípio a linguagem não depende da natureza do material que utiliza (p. 47). Com efeito, encontram-se poucas referências em sua obra sobre as mediações tecnológicas e midiáticas de interação. Pois no início do século XX não tinha a presença popular dos meios de comunicação em massa, mídias e das tecnologias da informação e da comunicação - (TICs). Essas categorias não foram contempladas. O foco principal da pesquisa é estudar a linguagem oral e escrita, e como a criança aprende a falar, a entender o significado das palavras e signos, a decodificar os enunciados e o sentido da mensagem. Vygotsky (2008) dizia que antes de conseguir falar a criança faz meio que naturalmente gestos de apontar ao se referir a algum objeto ou fenômeno que aparece mediante aos sentidos e na sua consciência. A convivência com os outros e a presença de objetos e utensílios ao entorno vão despertando a necessidade de expressão e entendimento. Vygotsky (2008) defendia que a “linguagem não depende necessariamente do som. Há, por exemplo, a linguagem dos surdos-mudos e a leitura dos lábios, gestos (p. 47)”. Inclusive os povos primitivos utilizavam mais os gestos e expressões faciais para se comunicar. Assim, “não importa o meio, mas sim o uso funcional dos signos” para atingir a salutar comunicação (p. 47). Vale a pena citar outra referência na área de linguística e Semiótica que foi o russo Bakhtin (1992), que produziu uma vasta obra sobre literatura, estética e gêneros textuais. Bakhtin (1992) citava que é pela linguagem que a cultura se perpetua e se recria na dinâmica da convivência. A linguagem reflete a história, o espaço e tempo da vida. A sociedade está sempre aprendendo e reinventado suas formas de comunicação. Defendia que as relações são possíveis pelo diálogo, alimentado pelos signos. Mesmo quem escuta, está ativo na compreensão e reflexão da mensagem. E quem fala precisa dominar os códigos, gerar sentido e buscar entendimento do outro. E esse diálogo vai ser acima de tudo um encontro de corpos, consciências e de afetos. Para Bahktin (1992), o contato interpessoal é uma dinâmica troca de enunciados, discursos verbais e corporais cheios de energia, história e projeção. Embora tenha sua A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 17 presença local e individual, traz uma conotação social refletindo a cultura do povo e os laços simbólicos. Sobre isso o autor relata: [...] “o dito dentro do universo já dito” é apenas um elo de cadeia [...] o ato da fala, ou, mais exatamente, seu produto, a enunciação, não pode de forma alguma ser considerado como individual no sentido estrito do termo; não pode ser explicado a partir de condições psicofisiológicos do sujeito falante. A enunciação é sempre de natureza social (p. 95). Portanto, as relações humanas pela visão humanista e social de Bahktin (1992) são permeadas pelo diálogo em virtude de estabelecer o profícuo encontro interativo. E tal diálogo é alimentado pelos enunciados, pelas ações comunicativas entre os interlocutores. O fato central é que precisamos interagir dialogar e estabelecer relações sociais. E pela natureza sociável da condição humana vai se desenvolvendo gradativamente a linguagem. Aprendemos inicialmente de maneira espontânea pela imitação dos gestos e dos sons junto aos outros. 1.5 Tópicos da: filogênese, ontogênese e sociogênese na construção cultural do ser humano Vygotsky (2008) envereda-se pelo legado do pensamento Marxista e do materialismo dialético, os quais defendem que o ser humano é primeiro formado e depois continua se formando no bojo dinâmico e conflituoso das relações sociais, concretas e culturais. A identidade do sujeito, a consciência e todo seu aparato cognitivo-afetivo estão inexoravelmente ligados à vida cultural e a realidade histórica social. Como averigua Fonseca (2018): Em Vygotsky, o social é a origem da cognição (funções superiores da mente). As raízes desta não estão no biológico ou no neurológico, pois embora seja o cérebro o órgão da cognição, ele não é a sua fonte. A fonte da cognição emana das relações interativas sociais, históricas, culturais e linguísticas entre os sujeitos (p. 69). Assim sendo, o processo de socialização e as mediações sociogenéticas possibilitam o intercâmbio cultural entre as gerações e a evolução humana. Embora não haja determinismoacabado e contradição da liberdade, o fluxo dos acontecimentos e o lócus biológico e social da vida do sujeito vão moldar sua existência. O conceito de filogênese acompanha o da sociogênese, pois aborda a evolução do grupo, a busca por crescimento e adaptações ao meio natural e cultural. Segundo atesta Fonseca (2018): “A adaptação à mudança e a conservação das suas proezas adaptativas estiveram assim sempre na origem da psicogênese da cognição. Para sua A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 18 perpetuação histórica bastou transmitir tais conquistas às gerações futuras”... (p. 66). Desta forma nota-se a confirmação da primazia do “social que aparece antes do individual”. Na ótica da sua linha marxista evidentemente a filogênese vem primeiro, haja vista que quando a pessoa vem ao mundo já existe toda uma sociedade estruturada. Não se escolhe nascer, onde ou em qual família. Não se escolhe a cor da pele, dos olhos. Enfim, as características genéticas são heranças do grupo em que se devem adequar. A acepção de ontogênese procura abordar a evolução singular do indivíduo desde o seu nascimento, ascendendo estágios de crescimento integral até um nível satisfatório de maturidade corporal, mental, espiritual e afetiva. Mesmo assim como explica Fonseca (2018): A ontogênese da criança consiste em uma história seletiva de interações sociais e de transformações cognitivas estruturais que não podem emergir em situação de isolamento completo de contato com outros seres humanos mais experientes e competentes (p. 70). Apesar de cada pessoa ser única, ter seu organismo, seu código genético, sua aparência, personalidade, jeito de ser, percepção e inteligência, o legado “biosociocultural” fará toda diferença. Portanto, de acordo com Vygotsky (2008), o comportamento e a vida integral do sujeito, dependem do contexto sociointerativo em que a criança ou a pessoa estiver inserida. 1.6 Breve conceito da Consciência O conceito de consciência é fundamental na obra de Vygotsky (2008) e citado constantemente. Utiliza o termo para “indicar a percepção da atividade da mente – a consciência de estar consciente”. (p. 114). Coloca como uma função intelectual superior da mente, que possibilita o sujeito deliberar, sentir e realizar uma ação percebendo a si mesmo e o mundo a sua volta. Dizia que a “consciência significa generalização, a generalização por sua vez, significa a formação de um conceito supra-ordenado que, inclui o conceito dado como um caso específico” (p. 116). A consciência é como se fosse um caleidoscópio processual e mutável projetado a partir das relações imediatas, mediatas e dos conceitos espontâneos, mas principalmente no aprendizado dos conceitos científicos na instituição escolar sob uma orientação sistemática. Como afirma Vygotsky (2008), “nos conceitos científicos que a criança adquire na escola, a relação com um objeto é mediada, desde o início por algum outro conceito” (p. 116). A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 19 Com certeza tal concepção é uma das mais valiosas e amplas na obra de Vygotsky (2008), mesmo sem ter aprofundado satisfatoriamente. Mas vale reforçar a interpretação feita por Ivic (2010) com base na obra Pensamento e Linguagem, que aborda a concepção de consciência com mais riqueza e persuasão como uma dimensão fundamental construída com a inter-relação pensamento e linguagem. 1.7 O percurso evolutivo do pensamento Vygotsky (2008) defende que o “pensamento e a linguagem têm raízes genéticas diferentes”, que não há provas que se desenvolvem juntas, ou seja, paralelas. Mas argumenta que a partir dos dois anos de idade eles tendem a desenvolver simultaneamente em harmonia e simbiose na estrutura cognitiva da criança. A evolução do pensamento está dessa maneira em conexão genética e cultural com a fala e com as formas de expressão semiótica. Logo, “a fala se torna racional e o pensamento verbal”. Fica praticamente impossível definir o progresso do pensamento sem levar em conta a evolução da linguagem (p. 61). Antes de delimitar as etapas do pensamento, vale explanar uma proposição teórica importante na psicologia e na obra que é a fala interior, que está diretamente ligada à teia da relação entre pensamento. Para Vygotsky (2008) a fala interior segue um curso de desenvolvimento dialético para que a simbiose ou encontro do pensamento e da fala aconteça cabalmente. Primeiro a dimensão da fala exterior, depois a fala egocêntrica e a própria fase da fala interior. Todo desenvolvimento da fala interior acontece inseridos na realidade empírica da vida, das relações sociais, na percepção dos gestos e signos, na imitação significativa dos mesmos, na memorização e reprodução dos códigos. Tal processo ainda passa por outros estágios internos: natural ou primitivo – pensamento pré-verbal, depois a “psicologia ingênua” – experiência com as propriedades físicas do corpo e dos objetos a sua volta, depois os “signos exteriores” – operações externas para a solução de problemas internos; como por exemplo, contar com os dedos; e a quarta etapa que é o “crescimento interior” – uso da memória lógica, operar com relações próprias e signos interiores (p. 57 e 58). Nesse caminhar, o pensamento sincrético acontece quando a criança agrupa objetos de forma desorganizada ou amontoada para resolver problemas. As imagens ainda estão desarticuladas e os signos não estão coerentes na mente da criança. “O significado das palavras denota, para a criança, nada mais do que um conglomerado vago e sincrético de objetos isolados que, de uma forma ou outra, aglutinaram-se numa A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 20 imagem em sua mente. Devido à sua origem sincrética, essa imagem é extremamente instável” (Vygotsky, 2008, p. 74). Assim o pensamento vai escalando níveis aperfeiçoamento na compreensão e decodificação significativa da realidade. A segunda fase é denominada pensamento por complexos, quando “os objetos isolados associam-se na mente da criança, mas também devido às relações que de fato existem entre esses objetos. Trata-se de uma nova aquisição, uma passagem para um nível mais elevado” (Vygotsky, 2008, p. 76). Desse modo nota-se que o raciocínio já está mais coerente e objetivo. Pensar por complexos é conseguir realizar operações agrupando objetos por ligações concretas e factuais. Nessa fase constam cinco formas básicas de complexos: tipo associativo; por coleções naturais ou combinações concretas; complexo em cadeia – junção de objetos em sequência numa corrente; o quarto é o complexo difuso – atributos fluidos e generalizações que unem os elementos; e por fim a ponte chamada de pseudoconceito – pois existe uma generalização formada na mente da criança, mas ainda está presa ao objeto tangível e não chegou ao nível do pensamento conceitual. “O pseudoconceito é o elo entre o pensamento por complexos e o pensamento por conceitos” (Vygotsky, 2008, p. 95). Assim, chega-se ao último estágio dialético que é o nível conceitual. Vygotsky (2008) faz questão de ressaltar o diálogo teórico com a linguística moderna abordando a diferença entre o “significado de uma palavra, ou expressão e o seu referente, isto é, o objeto que designa”. O propósito das palavras é denominar as coisas, atribuir nomes próprios e dar a referência. Nesse processo de abstração, análise e síntese para formar os conceitos tem-se como primeiro passo, a capacidade da criança de conseguir “agrupar objetos com um grau máximo de semelhança” (p. 95). A criança o faz pelas marcas comuns como nas cores e formas espaciais, no próximo passo o máximo de semelhança entre os objetos é substituído por um único atributo de identificação, como por exemplo, a forma redonda, a cor azul, o jeito achatado.Assim instaura-se uma forma intermediária denominada “conceito potencial”, uma abstração primitiva e básica. E por fim, o último passo é a formação do conceito propriamente internalizado e significativo. Depois de todo um percurso de maturação e crescimento cognitivo alcança-se o nível em que o sujeito na fase etária da adolescência já consegue analisar a realidade do mundo com a ajuda dos conceitos, embora ainda não consiga explicar a essência semiótica dos conceitos. Ou seja, sabe ligar o conceito a situação ou ao objeto, mas não consegue explicar o conceito de modo abstrato sem a referência com as impressões concretas. Vygotsky (2008) averiguou que a formação do conceito depende A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 21 de uma operação complexa em que todas as funções cognitivas e sensitivas básicas estão envolvidas. Nesse contexto da formação dos conceitos vale a pena estudar a distinção e investigações feitas por Vygotsky (2008) entre conceitos espontâneos ou cotidianos e científicos. Cada pessoa tem um processo singular de desenvolvimento e aprendizagem. A construção dos conceitos vai depender de muitos fatores internos e externos na vida. Os conceitos espontâneos surgem na própria convivência, na observação, na imitação e reprodução dos gestos, sons e sinais. Os conceitos científicos supõem maior abstração, controle, consciência e visão global. A escola é a principal instituição responsável para incentivar, acompanhar metodicamente e estimular a construção desses conceitos e conhecimentos científicos dentro de um projeto humano, cultural, curricular e pedagógico. Todavia, Vygotsky (2008) ressaltava que “é impossível ensinar ou passar os conceitos prontos, pois nunca estarão sempre evoluem” (p.104). É incumbência dos professores propiciarem aulas, ensejos e situações de aprendizagem para desenvolver as funções superiores e para que cada sujeito vá construindo seus saberes, valores e compreensão da realidade. 1.8 A Zona de Desenvolvimento Proximal – ZDP O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) certamente é uma operação genial e prática empregada no processo de ensino-aprendizagem na educação formal escolar e também se estende a não formal nos vários cenários da vida em sociedade. É uma ferramenta que mescla harmonicamente a psicologia e a pedagogia, pois lida diretamente com as funções cognitivas e afetivas da criança em virtude das etapas do seu desenvolvimento. Segundo Vygotsky (2008) a ZDP reflete “a discrepância entre a idade real de uma criança e o nível que ela atinge ao resolver problemas com o auxílio de outra pessoa” (p. 128). Em outras palavras aborda a diferença de desempenho (normalmente em mensurações temporais) entre as atividades e tarefas que a criança consegue realizar sozinha e aquelas que ela precisa da colaboração dos outros, geralmente dos adultos nas relações assimétricas de aprendizagem. Vygotsky (2008) defendia a existência de dois níveis de desenvolvimento infantil. O primeiro é chamado de real e engloba as funções mentais que já estão completamente desenvolvidas, resultado de habilidades e conhecimentos adquiridos pela criança. E o segundo nível se encaixa precisamente na dialética da ZDP. No qual A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 22 expressa o potencial e os propósitos da educação, sobretudo, na fase inicial, que é a formação integral, a construção do conhecimento, estimular a reflexão, a capacidade de realizar as tarefas e exercícios com autonomia e significado. Como o autor expressou “a zona proximal de hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã. Assim aquilo que nesse momento uma criança só consegue fazer com a ajuda de alguém, um pouco mais adiante ela certamente conseguirá fazer sozinha” (Vygotsky, 2008, p. 129). Essa integração poderia facilitar a socialização, o trabalho em equipe e a aprendizagem mútua de acordo com sua teoria. Vygotsky (2008) entendia que o aprendizado para ser positivo deve anteceder o desenvolvimento. Este alcançará mais resultado se tiver a mediação pedagógica e prospectiva do adulto. “Para imitar é necessário possuir os meios para se passar de algo que já se conhece para algo novo” (p. 129). Logo, é saber aplicar a ZDP em virtude do ensino adequado de matérias ao período sensível da infância ou da vida. Perceber, analisar o que a criança já aprendeu, todavia, concentrar o planejamento, conteúdos, habilidades e competências que ela precisa aprender ou está aprendendo. 2 Metodologia de Pesquisa A metodologia empregada foi à pesquisa bibliográfica fundamentada na obra de Vygotsky (2008) “Pensamento e Linguagem”, complementada com os estudos de Ivic (2010) comentando e explicando a obra de Vygotsky. Os estudos sobre dialética de Konder (2012); A questão do método de alfabetização de Soares (2003). E finalizando sobre o processo cognitivo nos estudos de Fonseca (2018). Foi realizada uma revisão da literatura citada explorando as principais categorias teóricas da principal obra, as questões relacionadas como o método dialético, a concepção de linguagem, a consciência, a evolução dialética do pensamento na teia da cognição, a Zona de Desenvolvimento Proximal e algumas contribuições e perspectivas pragmáticas viáveis para utilizar a obra de Vygotsky no labor pedagógico e na educação formal, informal e não formal. A teoria sociointerativa ou socioconstrutivista é profícua e salutar para qualificação docente. 3 Resultados e Discussões A obra de Vygotsky (2008) impreterivelmente é uma referência obrigatória de estudo na formação acadêmica e pedagógica. Sua práxis – teoria e prática – tem um brilho clássico que norteia a educação para uma proposta socioconstrutivista. Esta A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 23 procura estimular a autonomia da criança, a consciência sociocultural, o potencial cognitivo e o aprimoramento das faculdades mentais, sensoriais e afetivas. O autor proporcionou muitas guinadas pertinentes no que tange aos métodos de ensino, organização do espaço escolar, currículo, projeto pedagógico, postura e ofício do professor, e principalmente no foco central da educação, que deve ser a aprendizagem e o desenvolvimento do aluno. Suas investigações muito ajudaram na compreensão das funções cognitivas e afetivas da criança. A teoria de Vygotsky (2008) é pragmática e iluminadora no que concerne ao trabalho de alfabetização e letramento. Defendia que o contexto linguístico e o ambiente social tem um papel decisivo na formação do ser humano, é na convivência que se aprende a usar a linguagem. Passou a existir uma maior riqueza de sons e grafias. Aprender a falar e entender os sons são mais fáceis e espontâneos. A capacidade “mimética” é praticamente natural no ser humano. A própria interação espontânea estimula a imitação. A criança aprende muito pela imitação. Contudo, a tarefa de registrar os sons, transformar fonemas em grafemas, aprender a ler, interpretar e a escrever é algo difícil e laborioso no início. Exige muito além da imitação. Requer o exercício ordenado das funções superiores, tais como a percepção, reflexão, memória, controle, imaginação etc. E tal trabalho precisa de ajuda, de apoio pedagógico, de relação assimétrica, definida por Vygotsky (2008) como a aplicação da Zona de Desenvolvimento Proximal, como foi detalhado acima. Com efeito, a densa atividade de alfabetização e letramento na ótica socioconstrutivista carece de ensejo dialético, abertura para dialogar e debater, e sobremaneira, de um ambiente alfabetizador, do amplo contato com os gêneros textuais e com o entendimento de que se precisa dominar a leitura e a escrita para viver ativa e conscientemente em sociedade com autonomia e compreensão da realidade. Soares (2003)defende que: Em sua prática nos contextos de ensino, a aprendizagem inicial da língua escrita, embora entendida e tratada como fenômeno multifacetado, deve ser desenvolvida em sua inteireza, como um todo, porque essa é a natureza real dos atos de ler e de escrever, em que a complexa interação entre as práticas sociais da língua escrita e aquele que lê ou escreve pressupõe o exercício simultâneo de muitas e diferenciadas competências. É o que se tem denominado alfabetizar letrando (p. 35). A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 24 Assim, a interação ativa de leitura e escrita com as fontes de textos e materiais gráficos, tais como livros, revistas, jornais, cartazes, panfletos, placas etc. será fundamental para a etapa de letramento, motivando a compreensão gradativa. Nessa vereda, Vygotsky (2008) chamava aproximadamente em outros termos de mediar com mediações, usar conceitos dentro de um sistema de relações de conceitos. Ao passo que a inteligência se desenvolve em harmonia com a linguagem, com os enunciados do ambiente, a criança vai evoluindo continuamente de fase. Evidente que em cada faixa etária e ciclo escolar as aulas, conteúdos e habilidades devem se concentrar no que a criança precisa e pode aprender potencialmente. Sua obra socioconstrutivista ajuda a avaliar e repensar o sistema educacional com seus métodos e abordagens tradicionais ainda amiúde genéricos e presos a “educação bancária”, à memorização e repetição, como questionou o mestre Freire (1983). Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que os educandos, meras incipiências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a conexão “bancária da educação”, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. (p. 66). Assim, mostra-se necessário rever criticamente a gestão escolar, a organização sistêmica da educação, os métodos de ensino-aprendizagem, a formação e o ofício dos professores e os projetos a serem construídos. Esse modelo bancário está reacionário e obsoleto. Mas não por acaso. Funciona dentro de um status quo segundo a ideologia dominante na sociedade. De fato, estudar sobre a teoria clássica de Vygotsky (2008) faz pensar e agir sobre o rumo histórico da educação, as influências culturais e sociais que refletem na constituição intelectual e vital de cada pessoa. E nessa vereda fica como incumbência acadêmica dos educadores perceberem as fontes científicas, segundo ele, da psicologia da aprendizagem e dos mecanismos sensoriais, cognitivos e neurológicos que estão na dialética interativa das relações interpessoais e das mediações simbólicas e concretas do mundo. Os professores e a educação formal precisam levar em conta, pesquisar, atualizar e tentar explorar a favor do labor pedagógico o uso de tantos recursos e inovações. Atualmente a alfabetização precisa levar em consideração tais espaços interativos e o universo tecnológico. A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 25 Considerações Finais O presente estudo teve como propósito realizar uma abordagem hermenêutica na linha da pesquisa bibliográfica da obra Vygotsky (2008). Outros autores foram pesquisados e contribuíram para a análise e reflexão, como Bakhtin (1992), Fonseca (2018), Freire (1983), (Hegel (2002), Ivic (2010), Konder (2012), Marx (2012) e Soares (2003). Traçando uma interpretação e corroborando a ideia de que, o desenvolvimento da cognição ou das funções superiores depende da mediação da linguagem. O problema central da foi procurar saber por que o desenvolvimento intelectual e humano depende essencialmente das relações interativas na vida cultural e do aprimoramento consciente da linguagem? Vygotsky (2008) defendia que as relações sociais e o processo de socialização são as fontes do aparato cognitivo. Para tanto é preciso haver comunicação e entendimento recíproco. O que faz surgir à mediação dos códigos linguísticos progressivamente aperfeiçoados pelas condições filogenéticas e ontogenéticas de adaptação “aos tempos e espaços da vida”. A tessitura do texto procurou contemplar alguns capítulos e aspectos importantes da referida obra. As seções procuraram explicar ideias pertinentes sobre obra e como foram detalhadas a saber. A engrenagem dialética, o método específico usado para entender a relação entre o pensamento e a linguagem, que acreditava ser a análise semântica, para estudar as unidades que os compõem e tendo no significado o elo entre o pensamento e a palavra. Como explicar o amplo conceito de linguagem, com foco na linguagem verbal e no diálogo, abordando um pouco das ideias de Bakhtin (1992). Apresentou-se um pequeno esboço dos termos técnicos da filogênese, da sociogênese e da ontogênese que estão inerentes a construção social do sujeito. A perspectiva de Vygotsky sobre a evolução do pensamento e suas fases dialéticas de evolução na criança até chegar aos conceitos científicos sob a tutela da escola. A Zona de Desenvolvimento Proximal, uma ferramenta metódica fascinante no trabalho pedagógico orientando sobre o apoio assimétrico na aprendizagem dos alunos. E por fim, algumas contribuições e lampejos referentes à obra de Vygotsky como legado e inspiração para o trabalho educacional. Dando ênfase na importância de conhecer um pouco sobre a psicologia da educação, psicogênese da criança, as inter- relações e o processo de socialização fundamental na formação do sujeito. Em suma, Vygotsky é um clássico que merece valor e consideração pela vasta obra que deixou em pouco tempo de vida. Evidente que muitas de suas ideias ficaram A DIALÉTICA SOCIOINTERATIVA DE VYGOTSKY: o desenvolvimento humano pela mediação da linguagem 26 superadas com o tempo pelo avanço das ciências, da tecnologia, dos recursos e fontes de pesquisa. Todavia, são eloquentes e verossímeis as teses de que o social antecede o individual, de que o meio cultural e natural vai determinar quase totalmente a identidade do sujeito, de que as relações interpessoais dialéticas e as mediações culturais são as fontes primordiais da consciência e da cognição. Sua teoria defendia que linguagem e pensamento em um determinado ponto da vida, a partir dos dois anos aproximadamente formam uma amálgama indissociável. Deveras, um precisa do outro para existir, desenvolver e operar. Como já dizia o filósofo Platão “a palavra é o fio de ouro do pensamento”. Logo, a mediação ascendente da linguagem verbal, dos signos e dos diversos códigos linguísticos será essencial, para o desenvolvimento intelectual e integral do ser humano. Referências BAKHTIN, M. (V.N. Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. 6.ed. São Paulo: Editora Huritec, 1992. FONSECA, Vitor. da. Desenvolvimento cognitivo e processo de ensino- aprendizagem: Abordagem psicopedagógica à luz de Vygotsky. Petrópolis: Ed.Vozes, 2018. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 12 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. 2 ed. Petrópolis: Ed.Vozes, 2002. IVIC Ivan. Lev Semenovich Vygotsky. Recife: Fundação Joaquim Nabuco: Editora Massangana, 2010. KONDER, Leandro. O que é Dialética. São Paulo: Editora brasiliense, 2012. SOARES, Magda. Alfabetização: a questão dos métodos . São Paulo, SP: Editora Contexto, 2003. VYGOTSKY, Lev. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1934/2008. _____. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7ªed. São Paulo: Martins Fontes, 2008. 27 A EDUCAÇÃO VISUAL SOB A PERSPECTIVA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND: a arte e a natureza na educação infantil José Luiz da Silva Rodrigues3 Anelize Pires Reynozo da Silva4 Resumo Este trabalho busca apontar caminhos para uma melhor educação doimaginário, principalmente o das crianças menores de seis, utilizando como base para a pesquisa as teorias da pedagogia do imaginário, de Gilbert Durand – antropólogo francês, fundador da disciplina “As Estruturas Antropológicas do Imaginário”, e autor do livro homônimo, de 1992. Para a compreensão das teorias de Durand sobre a formação do imaginário na contemporaneidade, fizemos um percurso pela civilização da imagem e vimos como ela incide sobre as estruturas do imaginário teorizadas pelo antropólogo. O interesse na construção do imaginário infantil foi mola propulsora para a execução deste trabalho, cujas pesquisas bibliográficas iniciais realizadas para a obtenção de respostas acerca do tema nos conduziram a Gilbert Durand. O autor nos mostrou a essencialidade da arte e da natureza na educação do imaginário e objetivamos, com esta pesquisa, validar a pedagogia do imaginário como ferramenta auxiliadora na construção de um imaginário mais criativo e autônomo. Palavras-chaves: Educação. Criança. Imaginário. Arte. Natureza. 3 Licenciado em Pedagogia - UNIRIO 4 Doutora em Educação - UNIRIO A EDUCAÇÃO VISUAL SOB A PERSPECTIVA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND: a arte e a natureza na educação infantil 28 Introdução A construção do imaginário da criança vem sendo debatida há décadas e desperta profundo interesse naqueles que se ocupam da educação infantil, conhecedores do fato de que, os estímulos que recebemos na infância refletem, de sobremodo, em nossa vida adulta e são responsáveis pela manutenção dos valores e interesse que nutrimos. Desta maneira, tendo em vista compreendermos o funcionamento do imaginário, no intuito de contribuirmos para uma educação visual mais humanizada na infância, demos início às investigações acerca da formação do imaginário, segundo Gilbert Durand, cujo pensamento pedagógico visa mitigar as distorções e desequilíbrios gerados pela educação excludente e mercantilizada contra a qual praticamos. Por esse ângulo, discutiremos a pedagogia do imaginário contextualizando a contribuição desse pensamento para as práticas de ensino/aprendizagem na educação infantil por meio de Bruno Duborgel (1992). O pedagogo francês realizou uma análise das imagens de um livro de ilustrações referencial para crianças, mostrando que, fundamentalmente, as imagens ali encontradas são tendenciosas, formadoras de opinião, e que refletem a pedagogia social e excludente na qual se insere a escola do ocidente. Abordaremos os conceitos desenvolvidos por Gilbert Durand para a fundamentação de seu pensamento pedagógico, chamando a atenção para a produção e a difusão de imagens surgidas da pós-modernidade iconoclasta, e para o modo como são acomodadas no imaginário, obedecendo aos regimes de diurnos e noturnos de imagens estabelecidos pelo autor. Na sequência, veremos como o jugo dominante do mundo ocidental gerou um desequilíbrio entre esses dois regimes, o da razão e o da sensibilidade, e de que maneiras esse contexto descompensa a imaginação da criança em idade escolar. Complementaremos este estudo com as teorias do autor que promovam a necessidade de uma pedagogia libertadora, que busque estimular a atitude imaginante por meio da reaproximação da criança com a Arte e a Natureza, debate que exporemos em literaturas e documentos que abordam a exiguidade da natureza e da arte na escola, e de que maneira essas esferas favorecem os pensamentos artístico e científico. Assim, nossa proposta buscará uma discussão a respeito da pedagogia do imaginário na Educação Infantil, expondo as consequências decorrentes do mau uso da imagem utilizada meramente como passagem para o mundo da palavra escrita nos livros didáticos e apresentamos, segundo Duborgel (1992), o que são boas imagens. A EDUCAÇÃO VISUAL SOB A PERSPECTIVA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND: a arte e a natureza na educação infantil 29 Não menos importante, apresentaremos um panorama da pedagogia do imaginário no Brasil, apontando as universidades que adotam a disciplina fundamentada por Durand, utilizando como metodologia a pesquisa bibliográfica, contatos com autores e a revisão de literatura sobre o tema. 1. As estruturas do imaginário de Gilbert Durand: primeiras aproximações O status de subalternidade ao qual fora rebaixada a imagem educativa tem sido amplamente estudado e debatido por meio de numerosos estudos científicos confirmando sua quase total redundância, causando preocupação e perplexidade, a nós, pesquisadores interessados na questão da função da imagem como elemento fundamental para a educação do imaginário. A ligação intrínseca entre imagem e imaginário, para Durand (1984) apud Teixeira (2009), se explica, quando o autor afirma que o imaginário se autoconfigura por meio de um mecanismo sistemático do qual faz uso para executar o armazenamento de todas as imagens que percebemos. O antropólogo compara o imaginário a “um Museu (palavra que Durand muito aprecia), que designa o conjunto de todas as imagens possíveis produzidas pelo animal simbólico (Ernst Cassirer) que é o homem.” (ARAUJO; TEIXEIRA, 2009, pág. 7). Sendo assim, considerando o alcance da imagem na era digital, a cultura de Durand envolve compreender mais profundamente como as imagens são produzidas e difundidas e de que maneira são classificadas no imaginário. Conforme explicam Araujo e Teixeira (1994) tal classificação obedece a dois regimes de imagem: o diurno, de alerta e o noturno, de sonhos. “[...] o imaginário deve ser compreendido à luz do schème e da “classificação isotópica das imagens” – Regime Diurno (estruturas esquizomorfas) e Regime Noturno (estruturas sintéticas e místicas). (ARAÚJO, TEIXEIRA apud DURAND, 1984, Anexo II, p. 506-507) Sob tal ponto de vista, compreendemos que as potencialidades do imaginário são determinadas pela equivalência entre essas duas polaridades, fator que é determinante para a construção da mente criativa. Contudo, a ordem positivista imposta no ocidente sobre a educação do imaginário gerou um desequilíbrio entre esses dois regimes. Herança que remonta ao Velho Testamento, a iconoclastia, de igual maneira, é responsável por essa desproporção. Na atualidade, ela pode ser percebida, por exemplo, no formato A EDUCAÇÃO VISUAL SOB A PERSPECTIVA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND: a arte e a natureza na educação infantil 30 apresentado pelas imagens de propaganda. São produtos acabados, desprovidos da abordagem fantástica necessária à formação de um imaginário criativo e autônomo. A iconoclastia reside, justamente, no medo do que uma imagem possa suscitar no imaginário, medo das produções oriundas do devaneio, da autonomia de pensamento. Seguindo este raciocínio, veremos que a atual pedagogia social atua contra a cultura do imaginário de duas maneiras paradoxais, reprimindo o uso de figuras metafóricas, mas, ao mesmo tempo, angariando nossa atenção com imagens provindas dos meios de comunicação de massa, todas aniquiladas de suas porções de afeto e imaginação. A este respeito, Silva e Gomes (2015) assinalam que, Durand (2003) inicia sua base sob o pressuposto do “Ocidente iconoclasta”, que a primeira vista parece um paradoxo. A civilização que transborda de imagens, que gerou o cinema, a fotografia e vários meios de comunicação iconográfica sofrer a acusação de iconoclasmo? (SILVA; GOMES, 2015, p. 11) Para comprovar o medo da imagem nutrido pelo ocidente monoteísta, Durand (2003) nos mostra que existem dois tipos de iconoclasmos, um rigorista, que atua em nome da ortodoxia religiosa e outro insidioso que opera em nome da razão científica, do mercado (SILVA; GOMES, 2015, p. 11). A propósito do segundo, a repressão à imagem na escola será abordada adiante por estar diretamente associada às metodologias do ensino/aprendizagem, preocupação daqueles dedicados a esta pesquisa.Sendo assim, retomando o raciocínio em torno da desproporção entre os dois regimes de imagens, tendo em vista as limitações imputadas ao imaginário pela atuante didática tecnicista. Araújo (2010), citando Duborgel, nos oferece um perfil da pedagogia que melhor vai ao encontro da natureza do imaginário criativo. O autor a descreve como sendo aquela que se opõe “à pedagogia saturada pelas exigências do imperialismo positivista e à pedagogia do ‘vazio’ que, ligada à ideologia difusa da ‘espontaneidade criativa’, condena o imaginário infantil a extrair os recursos do seu impulso das suas próprias fragilidades” (Duborgel, 1983, p. 413). Com esta afirmação, o autor nos faz perceber de que maneira a criança é subtraída das conseqüências de sua criatividade por um sistema predominantemente ditatorial desenhado para formatar tendências e gostos. A propósito das conseqüências funestas sofridas por nossa sociedade que se tornou tão dependente da veiculação de imagens, Durand (1984) apud Araujo, Teixeira (2009) também discorrem enfáticos a respeito das conseqüências funestas de uma sociedade que se tornou tão dependente da veiculação de imagens. Para os autores, o amalgama imagético oriundo do árido e A EDUCAÇÃO VISUAL SOB A PERSPECTIVA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND: a arte e a natureza na educação infantil 31 intrincado universo digital que nos chega aos milhões é destituído de contexto e vitalidade, e afirmam que o empobrecimento do imaginário, “[...] compromete grandemente a condensação de imagens na alma humana, desencadeadas pela contemplação da natureza (terra, ar, água, fogo), pela leitura dos grandes romances e dos grandes poemas, pela audição da música sacra, dos grandes compositores clássicos, bem como pelas imagens, muito ricas afectivamente, estimuladas pelos laços comunitários.” (ARAÚJO; TEIXEIRA, 2009, p.7). Diante dessa perspectiva, podemos afiançar que a arte e a natureza são veículos essenciais ao estímulo da atitude criativa e à riqueza do imaginário, e que elas promovem a verdadeira educação para a consciência simbólica, moderando, assim, as consequências sofridas pelo imaginário em decorrência da pedagogia competitiva e alienante na qual se apóia a civilização da era digital. 1.1. A arte e natureza na cultura do imaginário criativo Ocorrendo no rastro de políticas econômicas e socioambientais adotas por governos por indicação de uma agenda internacional, o empobrecimento do imaginário está organicamente relacionado com a dispersão da sociedade contemporânea dos espaços naturais, com a falta de observação aos movimentos da natureza, e com o desinteresse banalizado pelo contato seus elementos. No que tange à arte, o definhamento de nossa sensibilidade visual, a falta de reconhecimento do belo, ocorre principalmente como resultado da massificação das imagens vazias de simbolismo disseminadas pelos meios digitais. Não há como supor que a máquina geradora desses elementos visuais se ocupe em criá-los em benefício da liberdade de pensamento e do desprendimento criativo da massa consumidora. Entendemos que este panorama faz parte de uma pedagogia social que incide sobre a Educação e entra na escola sob a forma de diretrizes para que se mantenham a presente conjuntura do mercado. Por tudo isso, defendemos uma educação do imaginário fundamentada na ideia da experiência estética que somente a arte e a natureza são capazes de preconizar. Neste sentido, mencionamos Losada (2012) que, contribuindo com suas teorias sobre a exiguidade da natureza e da arte no mundo da criança referencia Kant para falar da construção do conhecimento sob o prisma do Romantismo: “O sentimento de beleza que derivamos da natureza e da arte é algo livre, desinteressado e irredutível a conceitos. Kant também destaca a A EDUCAÇÃO VISUAL SOB A PERSPECTIVA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND: a arte e a natureza na educação infantil 32 importância cognitiva da imaginação, faculdade necessária tanto ao desenvolvimento da arte, quanto da ciência.” (LOSADA, 2012, p. 41). Com uma abordagem diferenciada, mas que contribui ao debate, Pires (2011) analisa o sequestro da natureza na área da educação sob a ótica do direito civil. O foco da autora recai sobre o direito fundamental da criança ao contato com a natureza, e esclarece que esta prerrogativa é expressa em documentos e literaturas, tais como os “Critérios para um atendimento em Creches que respeite os Direitos Fundamentais das crianças” (2009), e o texto da Maria Malta Campos, “Esta creche respeita a criança - Critérios para a unidade creche”. A preocupação com o distanciamento do mundo natural das salas de aula, causado pela preponderância do pensamento positivista sobre os pilares da nossa sociedade, é manifestada por Tiriba (2005) como objeto de pesquisa investigativa, na qual a ambientalista afirma que “as crianças declaram sua preferência pelos espaços abertos, em contato com a natureza, porque são modos de expressão desta mesma natureza” (ESPINOSA, 1983 apud TIRIBA, 2005). Em suas discussões, a pesquisadora apresenta o conceito de natureza defendido por Chauí (2001). Para esta autora, a natureza é vista como um “principio ativo que anima e movimenta os seres, força espontânea capaz de gerar e de cuidar de todos os seres por ela criados e movidos, substância (matéria e forma) dos seres”. (CHAUÍ, 2001:203 apud TIRIBA, 2005). Correlata à natureza em relevância no que tange a educação do imaginário, o papel da arte e de suas aplicações na infância, em brincadeiras com formas, texturas e cores, vai muito além de estimular criação artística, que por si só, já representaria um extraordinário exercício de expressão de identidade. Ela é, igualmente, de vital importância no favorecimento de elaborações científicas, como nos mostra Santos (2010) a seguir: O sistema da arte é uma forma de conhecimento por meio do qual é acionado o raciocínio lógico, a imaginação, a pesquisa e a análise sistematizada. Por isso, a arte apresenta um caráter inovador, muitas vezes, vinculando-se às invenções científicas. Sua contribuição para a História humana, ao ser veículo do questionamento, da emoção, de reflexão, ou, ainda, um dos meios na representação de crenças, idéias e pessoas, é, também, um procedimento para reflexão (SANTOS, 2010, p.21). O educador também nos explica o papel da arte como operadora de um processo de refinamento do imaginário que auxilia o aluno na construção de suas próprias leituras do mundo. Santos (2010) nos faz compreender que o objetivo geral da leitura de obras de arte consiste em valorizar a expressão individual do aluno e desenvolver sua A EDUCAÇÃO VISUAL SOB A PERSPECTIVA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND: a arte e a natureza na educação infantil 33 percepção visual e imaginação criadora para que ele se sinta um indivíduo integrante da cultura. Para desenvolver a percepção visual e a imaginação criadora dos alunos,é preciso ampliar o seu repertório de leitura e construção da imagem do mundo, através das imagens de obras de arte; e, para tal, a visita orientada a museus e galerias de arte deve ser incentivada nas escolas. É importante apresentar a obra de arte como objeto significativo, vinculado às leituras de mundo do artista, em um determinado tempo, lugar e espaço (SANTOS, 2010, p.59). Salientando o eufemismo que a arte é capaz de gerar, e ressaltando que ela deva ocupar o lugar que lhe é devido na educação do imaginário, Araujo e Teixeira (2009) exprimem suas idéias, mencionando Durand: “[...] pensamos que compete à pedagogia do imaginário, mediante a reabilitação da retórica, criar condições para acedermos às produções do imaginário, muito particularmente através dos estudos literários e artísticos, visto que Gilbert Durand considera crucial que a obra de arte volte a encontrar um estatuto antropológico conveniente no museu das culturas, na sua qualidade de hormônio e de suporteda esperança humana, (ARAUJO/TEIXEIRA, 2009, p.12). Encerramos esta parte do trabalho ressaltando a autoridade do pedagogo na condução prática do ensino. A pedagogia do imaginário que estamos desvelando nos disponibiliza conhecimento e nos habilita a identificar os fatores responsáveis pelas limitações causadas à imaginação no que tange o uso da imagem educativa, e cabe a nós, pedagogos, aprofundarmos essas discussões e buscarmos iniciativas como as que veremos nas considerações finais deste trabalho, exercícios visuais que promovem a autonomia de pensamento e a escuta na criança por meio da arte. 1.2. Panorama da Pedagogia do Imaginário no Brasil As pesquisas na área da pedagogia do imaginário e sua integração com a educação ainda são incipientes no Brasil, contudo, nesta pesquisa conseguimos inventariar notáveis e inovadoras iniciativas no território da educação do imaginário, segundo Durand, tomadas por universidades federais brasileiras. A Universidade Federal da Paraíba adota “As Estruturas Antropológicas do Imaginário” como componente curricular no quinto período dos cursos de bacharelado e licenciatura plena em Ciências das Religiões desde 2011. Ali, a disciplina explora e aprofunda as noções em torno das estruturas antropológicas do imaginário, atualiza o quadro teórico da matéria, percorre o caminho do imaginário no debate cultural e em seus usos científicos, e teoriza sobre o imaginário e suas possíveis vertentes. No 6º A EDUCAÇÃO VISUAL SOB A PERSPECTIVA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND: a arte e a natureza na educação infantil 34 período destes mesmos cursos, a UFPB adota a disciplina Mitocrítica e Mitanálise, também fundamentada em Durand, onde aborda os métodos e o sentido do imaginário, assim como noções metodológicas de outras áreas do conhecimento em torno das “Estruturas Antropológicas do Imaginário”. Esse estudo vislumbra a Mitocrítica e Mitanálise como proposições metodológicas específicas das Estruturas Antropológicas do Imaginário e sua aplicabilidade. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul, outro pólo importante de estudos de Durand, em seu programa de pós-graduação em Comunicação e Informação, sob a supervisão da Prof. Ana Taís Martins Portanova Barros, adota Gilbert Durand na Disciplina “Comunicação e Imaginário”, que contempla o exame acerca do desenvolvimento histórico dos estudos do imaginário. Esses estudos abordam questões de léxico e heurística: imaginário, imagem, mito, símbolo; avançam pelo campo das características do pensamento mítico e das formas de organização do imaginário: do arquétipo ao mito, da imagem simbólica ao estereótipo e ao preconceito; abordam o papel do imaginário na comunicação e o da comunicação no imaginário; exploram metodologias e modelizações do imaginário. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul abriga, ainda, o Centro Internacional de Pesquisas sobre o Imaginário5, instituição que realizou em 2015 seu 2º Congresso Internacional com o título de A Teoria Geral do Imaginário 50 anos depois: Conceitos, Noções, Metáforas. Ainda no contexto desse evento, salientamos que foram produzidos trabalhos que abordam o imaginário sob a luz da ciência e da tecnologia, do cotidiano, da mídia, e das linguagens. Ali, foi lançado o Manifesto de Porto Alegre sobre a pesquisa pluridisciplinar de imaginários. As informações obtidas junto ao Imaginalis, Grupo de Pesquisa sobre Comunicação e Imaginário, que produz o evento, nos mostram que, de acordo com este documento: “as pesquisas sobre o imaginário conheceram crescente desenvolvimento”, e vislumbram “diversas disciplinas como Literatura, Sociologia, Psicologia, Educação, Filosofia, Artes, etc.” e que houve uma “expansão geográfica da disciplina através da criação de dezenas de grupos de pesquisa, da Coréia ao Brasil, passando pela América do Norte e toda Europa”; essa expansão, “corresponde a uma vontade dos pesquisadores de voltar aos fundamentos epistemológicos e metodológicos para melhor se distinguir de orientações advindas do enfraquecimento teórico e 5 CRI2i - Centre de Recherches Internationales sur l’Imaginaire. A EDUCAÇÃO VISUAL SOB A PERSPECTIVA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND: a arte e a natureza na educação infantil 35 dos usos abusivos do imaginário nas fronteiras das modas e das publicidades.” (PORTO ALEGRE, 2015). O manifesto expressa também que o “CRI2i deseja se reforçar e se impor como plataforma multidisciplinar e internacional de pesquisas sobre as imagens, a imaginação e o imaginário seguindo o caminho do “estruturalismo figurativo, da hermenêutica simbólica e da fenomenologia das iconosferas.”, e que seu objetivo é “coordenar, encorajar, validar, valorizar os trabalhos de equipes e de pesquisadores individuais.”. De acordo com essa declaração, o CRI2i deseja ajudar também a “identificar e estimular novos territórios e projetos de pesquisa, a relacionar os trabalhos teóricos com os campos de aplicações práticas”, assim como “buscar fontes de financiamentos institucionais e propostas dos meios profissionais que esperam cada vez mais a competência especializada e o aconselhamento.” O Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) possui em seus registros de disciplinas de pós-graduação a adoção de Gilbert Durad como referência bibliográfica, fazendo uso de As estruturas antropológicas do imaginário (1992). Por sua vez, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo desta universidade, utiliza A imaginação simbólica (2000), de Durand, em sua bibliografia de pós-graduação com a disciplina Representações: Imaginário e Tecnologia. A Pedagogia do Imaginário está presente também nos programas de estudos pós- graduados em Ciências da Religião, níveis mestrado e doutorado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) com “A imaginação simbólica (1995)”, de Durand. Da mesma forma, Durand está presente no curso de pós-graduação Stricto Sensu de Comunicação e Semiótica desta universidade, assim como em seu Programa de Tecnologias da Inteligência e Design Digital, com o livro As estruturas antropológicas do imaginário, (2002). 2. Metodologia da pesquisa Para a realização desta investigação recorremos à pesquisa bibliográfica, buscando a literatura que melhor a fundamentasse, pois segundo Gerhardt e Silveira (2009), A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na A EDUCAÇÃO VISUAL SOB A PERSPECTIVA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND: a arte e a natureza na educação infantil 36 pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (GERHARDT/SILVEIRA, 2009, p.37). O levantamento bibliográfico deste estudo começou por ocasião do TCC1 (Trabalho de Conclusão de Curso I), quando investigávamos as teorias pedagógicas que tratavam do funcionamento e da manutenção do imaginário da criança. A busca preliminar por este material rendeu dois textos baseados na Pedagogia do Imaginário, de Gilbert Durand, os quais cita neste trabalho, que são: “Pedagogia do Imaginário e Função Imaginante: Redefinindo o Sentido da Educação”, de Maria Teixeira (2006), e “Gilbert Durand e a pedagogia do imaginário”, de Alberto Araújo e Maria Teixeira (2009). Ambos os artigos ressaltam a importância do imaginário na educação e tentam apontar pistas para uma pedagogia do imaginário, no sentido de ensinar a criança a se comportar imaginativamente. A partir do estudo
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