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Livro - Politicas Sociais - Familia Crianca e Adolescente

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Políticas Sociais - 
Família, Criança e 
Adolescente
Arely Soares Carvalho Telles
Suely Cabral Quixabeira 
T274p Telles, Arely Soares de Carvalho
Políticas sociais: família, criança e adolescente / Arely Soares de 
Carvalho Telles, Suely Cabral Quixabeira.
134 p.: il.
1. Cidadania - Brasil 2. Administração pública - Brasil I. Quixabeira, 
Suely Cabral II. Título
CDD 323.60981
Sumário
Carta ao Aluno | 5
1. História social da criança no Brasil: do 
período Colonial à década de 1970 | 7
2. Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol 
dos direitos da criança e do adolescente | 17
3. Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica 
na área da infância e da adolescência | 29
4. Sistema de Garantia dos Direitos da 
Criança e do Adolescente | 47
5. A política de atendimento da criança e do 
adolescente e os Conselhos de Direitos | 61
6. Interfaces da questão social na área da 
criança e do adolescente | 75
7. Política Nacional de Atendimento da 
Criança e do Adolescente | 95
Gabarito | 111
Referências | 127
Prezado(a) aluno(a),
Você está recebendo o material referente à disciplina Polí-
ticas Sociais - Família, Criança e Adolescente. O conteúdo está 
organizado em sete capítulos.
Queremos convidá-lo à discussão sobre a política de aten-
dimento à criança e ao adolescente enquanto área de atuação do 
assistente social. Faremos, inicialmente, uma contextualização 
sobre a evolução histórica dos direitos da criança e do adoles-
cente desde o período Colonial à década de 1970 com a insti-
tuição do Código de Menores de 1979. Esse código tem como 
fundamento jurídico e social a Doutrina da Situação Irregular, 
que considera a criança e o adolescente como objetos de inter-
venção por parte do Estado nas situações de carentes, abandona-
dos, inadaptados e infratores.
Carta ao Aluno
– 6 –
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
Conheceremos a luta da sociedade civil organizada no período da 
promulgação da Constituição Federal de 1988 em prol da defesa dos direi-
tos da criança e do adolescente, que tem como fundamento a Doutrina 
da Proteção Integral das Nações Unidas. A referida doutrina considera a 
criança e o adolescente como prioridade absoluta, pessoas em condição 
peculiar de desenvolvimento e como sujeitos de direitos. A Constituição 
Federal de 1988 é considerada uma Constituição Cidadã para as crianças 
e os adolescentes brasileiros ao adotar o paradigma da proteção integral e 
romper definitivamente com o paradigma da situação irregular.
Discutiremos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei 
específica que regulamenta os direitos da população infanto-juvenil asse-
gurados pela Carta Magna de 1988. Discutiremos ainda a política de aten-
dimento e conheceremos os mecanismos de promoção, defesa e proteção 
dos direitos da criança e do adolescente garantidos pelo ECA. Por fim, 
faremos uma discussão sobre as interfaces da questão social na área da 
criança e do adolescente, como a violência doméstica e o trabalho infantil.
Desejamos a você um bom estudo sobre a política da criança e do 
adolescente. 
Às autoras.
1
História social da 
criança no Brasil: do 
período Colonial à 
década de 1970
Introdução
Caro estudante, neste capítulo, você fará uma contextuali-
zação histórica da emergência da questão da infância no Brasil 
desde o período Colonial até a década de 1970. Abordaremos a 
primeira política voltada para a criança, a Roda dos Expostos, 
que acolhia as crianças abandonadas, as legislações primárias, 
como a Constituinte de 1825, que se referia à criança negra. 
Conheceremos a Doutrina da Situação Irregular, que norteava os 
Códigos de Menores e que defendia a concepção de criança e 
adolescente como menores em situação irregular nas condições 
de carentes, abandonados, inadaptados e delinquentes. Para fina-
lizar o capítulo, você refletirá sobre a doutrina que considerava a 
criança e o adolescente como objetos de intervenção por parte do 
Estado e não como sujeitos de direitos. 
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 8 –
Para melhor compreensão desses conteúdos, você deve retomar a dis-
cussão do capítulo 2 da disciplina Introdução ao Serviço Social, que trata 
sobre o mercado de trabalho para o assistente social e traz como possibili-
dade de atuação a área da criança e do adolescente, que é o objeto de dis-
cussão desta disciplina. Essa revisão é necessária visto que, nessa disciplina, 
você teve o primeiro contato com a discussão sobre a área da criança. Este 
capítulo possibilitará a você conhecer a história social da criança desde o 
período Colonial até a criação dos Códigos de Menores para compreender o 
significado social da luta em prol dos direitos dessa população. Iniciaremos 
com a situação da criança e do adolescente no período Colonial.
1.1 A emergência da questão da criança no Brasil
Desde o período Colonial até a sociedade atual, a política social refe-
rente aos direitos da criança e do adolescente vem passando por constantes 
transformações, as quais merecem uma retrospectiva. Essa retrospectiva 
tem o objetivo de fazer você compreender os avanços conquistados na 
contemporaneidade na área da infância e adolescência.
Segundo Faleiros (1995), no Brasil Colônia, os padres jesuítas se pre-
ocupavam com as crianças índias no sentido de batizá-las e incorporá-las 
ao trabalho. Nessa época, os portugueses castigavam e matavam índios. 
Para enfrentar essa situação, os padres jesuítas criaram a casa de recolhi-
mentos para as crianças índias que ficavam sem os seus pais. Essas crian-
ças eram separadas da sua comunidade e recebiam ensinamentos sobre os 
costumes e as normas do cristianismo. O objetivo era propiciar a elas uma 
visão cristã. 
Ainda no período Colonial, a política social elementar adotada no 
Brasil, para atender às questões envolvendo crianças, foi a roda dos 
expostos, que “[...] foi uma das instituições brasileiras de mais longa vida, 
sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa história”: colonial, impe-
rial e republicano (MARCÍLIO, 2003, p. 53). Esse sistema teve sua gênese 
na Europa medieval, era de cunho missionário e seu alvo era a assistência 
sob a égide da caridade. Marcílio (2003, p. 54) informa que
O sistema de rodas de expostos foi inventado [...] para garantir 
o anonimato do expositor e assim estimulá-lo a levar o bebê que 
– 9 –
História social da criança no Brasil: do período Colonial à década de 1970
não desejava para a roda em lugar de abandoná-lo pelos caminhos, 
bosque, lixo, porta de igrejas ou casas de família, como era o cos-
tume na falta de outra opção. 
Com base na afirmação do autor, podemos observar que a roda dos 
expostos foi criada para diminuir o índice de abandono de crianças nas 
ruas, uma vez que garantia o anonimato dos responsáveis. Era comum, 
nessa época, mães abandonarem seus filhos devido serem mães solteiras e 
não terem o apoio da família e da sociedade. Assim, ao invés de abando-
nar as crianças nas ruas, deixavam-nas na roda dos expostos. 
A roda dos expostos era um cilindro oco de madeira, giratório, onde 
as crianças enjeitadas eram colocadas. Essas rodas eram instaladas nos 
muros das construções de famílias abastadas, conventos ou instituições 
públicas. Acreditava-se que, com isso, haveria diminuição do índice de 
morte por abandono.
Durante toda a história do sistema de rodas no Brasil, foram criadas 
13 instituições. As três primeiras emergiram no século XVIII, a primeira 
na cidade de Salvador, em 1726, a segunda no Rio de Janeiro, em 1738, 
e a terceira em Recife, em 1789. Essa política social teve vida longa no 
país, permaneceu em São Paulo até 1948 e só foi extinta definitivamente 
em 1950.
Conforme Marcílio (2003), para extinguir a política das rodas de 
expostos no Brasil, contou-se com o apoio e a adesão dos juristas. Eles 
começaram uma mobilização em prol da elaboração de leis que proteges-
sem as crianças abandonadas e, também, corrigir os problemas sociais 
concernentes à adolescênciainfratora que, naquela época, já estava inco-
modando a sociedade. 
A legislação primária que tratou assuntos envolvendo crianças foi a 
Constituinte de 1825, a qual enfocava a situação das crianças negras. A 
referida Lei assegurava, em suas linhas, o direito da mãe (escrava) de ter 
um mês de resguardo e, no decorrer de um ano após o parto, trabalhar com 
o filho ao seu lado. Essa atenção com a mãe e com a criança negra tinha 
uma finalidade maior do que a defesa do direito da criança, pois [...] “antes 
o que se pretendia era zelar por aquela que constituiria em breve força de 
trabalho gratuito: o escravo” (VERONESE 1997, p. 10).
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 10 –
Após cinco décadas, por meio do movimento em defesa da abolição 
da escravatura, foi decretado a Lei do Ventre Livre, em 1871. Essa Lei 
garantia uma indenização por parte do Estado aos proprietários de escra-
vos para libertar as crianças negras, entretanto os pais continuavam sob 
o regime escravocrata. Por fim, é decretada a abolição dos escravos, em 
1888, mediante a Lei Áurea, que extingui um sistema que perdurou por 
mais de um século no Brasil. 
Em 1889, ocorreu a Proclamação da República. Nessa época, pre-
dominava a omissão do Estado, e a infância abandonada passou a ser a 
preocupação de higienistas (representados pelos médicos) e filantropos 
que, “preocupados com a saúde da espécie e com a preservação da raça 
humana, propunham uma intervenção no meio ambiente, nas condições 
higiênicas das instituições e das famílias” (FALEIROS, 1995, p. 21). Os 
médicos, preocupados com a mortalidade infantil, sugerem a inspeção 
escolar e a criação de creches em substituição às Rodas dos Expostos. 
Os menores também eram preocupação dos juristas, dos advogados, dos 
desembargadores, que propuseram a criação dos tribunais especiais e casas 
correcionais para atender aos menores em situação irregular. Em 1902, o 
Congresso Nacional começou a discutir a situação dos menores abandonados 
e delinquentes. Em 1923, foi autorizada a criação do Juizado de Menores. 
Somente no início do século XX os juristas passaram a ser os principais pro-
tagonistas desse movimento com a criação dos Códigos de Menores. 
Vamos agora conhecer o sistema sociojurídico da Doutrina Situação 
Irregular que norteava os Códigos de Menores.
1.2 Códigos de Menores e a Doutrina 
da Situação Irregular
Em 1927, foi promulgado o primeiro Código de Menores do Uruguai 
(Lei n. 17.943) chamado de Código de Menores Melo Matos, homena-
gem ao primeiro Juiz de Menores da América Latina. Ele criou um conjunto 
de instituições apoiadas e administradas pelo Poder Judiciário como, por 
exemplo, alguns abrigos para menores. O Código de Menores se expandiu 
por toda a América Latina e permaneceu no Brasil durante 60 anos. 
– 11 –
História social da criança no Brasil: do período Colonial à década de 1970
Em 1979, o Código de Menores Melo Matos (Lei n. 17.943) sofreu 
uma reformulação e foi substituído pela Lei n. 6.698 que é norteada pela 
Doutrina da Situação Irregular. Essa Lei não se dirigia ao conjunto da 
população infanto-juvenil, era somente para os menores considerados em 
situação irregular. Ela defendia um paradigma de concepção da criança 
e do adolescente como menores carentes, abandonados, inadaptados 
e delinquentes. Costa (2006, p. 14) especifica o significado dos tipos de 
menores defendidos pelo Código. Vejamos.
1. carentes – menores em perigo moral em razão da manifesta 
incapacidade dos pais para mantê-los;
2. abandonados – menores privados de representação legal pela 
falta ou ausência dos pais ou responsáveis;
3. inadaptados – menores em grave desajuste familiar ou 
comunitário;
4. infratores – menores autores de infração penal (grifo do autor).
Essas quatro situações listadas pelo Código de Menores, na concep-
ção do autor, tiveram como resolução a intervenção do Juizado de Meno-
res. Com a Doutrina da Situação Irregular, crianças e adolescentes pas-
saram a ser considerados como objetos de intervenção jurídico-social do 
Estado. Assim o Estado passou a intervir por meio de ações paternalistas, 
nos casos de carência e abandono, e de ações repressivas, nos casos de 
inadaptação e infração.
 Saiba mais
O sítio <http://diviliv.blogspot.com/2007/10/lei-n-66971979-cdigo-de-
-menores.html> trata de pesquisas sobre direito da família. Nele, você 
encontrará o Código de Menores de 1979 na íntegra. Acesse o sítio e 
leia-o para melhor compreender a Doutrina da Situação Irregular - dou-
trina sociojurídica que norteou a lei.
O Código de Menores “[...] não considerava que crianças e adoles-
centes que, por algum motivo ficavam sob a proteção do Estado, fossem 
sujeitos de direitos [...]” (UNICEF, 1998, p. 152). O código de 1979 preo-
cupou-se apenas com o binômio proteção (para carentes e abandonados) 
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 12 –
e vigilância (para os inadaptados e infratores), contribuindo para a ela-
boração de uma Política Nacional do Bem-Estar do Menor (PNBEM). 
Veronese (1997) destaca que o Código de 1979 contribuiu incisiva-
mente para a consolidação de uma Lei que considerava a criança e o ado-
lescente como menor em situação irregular, por se tratar de pessoas mate-
rialmente em perigo moral, desassistidos juridicamente e com desvio de 
condutas. Assim toda criança e adolescente enquadrados nessas caracterís-
ticas eram recolhidos e levados para o juiz de menor, o qual os mandava 
para a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM). Essa ins-
tituição propiciou a criação da Fundação Estadual de Bem-Estar do Menor 
(FEBEM) em vários Estados da Federação. Costa (2006, p. 15) expõe que
O lado mais perverso de tudo isso reside no fato de que os meca-
nismos normalmente utilizados para o controle do delito (polícia, 
justiça, redes de internação) passaram a ser utilizados em estraté-
gias voltadas para o controle social da pobreza e das dificuldades 
pessoais e sociais de crianças e adolescentes problemáticos, mas 
que não chegaram a cometer nenhum delito.
Podemos concluir, a partir da afirmação do autor, que todas as crian-
ças e os adolescentes considerados em situação de risco pessoal, social e 
econômico estavam sujeitos à intervenção judicial. O juiz tinha o poder 
de decidir o destino dos menores, pois era o responsável pelos interesses 
e, quando necessário, aplicava medidas de internação, colocação em famí-
lia substituta, adoção, punição aos pais ou aos responsáveis. Para Costa 
(2006, p. 15), essa realidade representa “o ciclo perverso da instituciona-
lização compulsória - apreensão, triagem, rotulação, deportação e confi-
namento”. Vejamos como o autor conceitua cada uma dessas situações.
1. APREENSÃO: qualquer criança ou adolescente encontrado nas 
ruas em situação considerada de risco pessoal e social [...] poderia 
e deveria ser apreendido e conduzido à presença da autoridade res-
ponsável, ou seja, do juiz de menores;
2. TRIAGEM: [...] Encaminhar o menor a um centro de triagem (obser-
vação), a fim de que ali se procedesse ao competente estudo social do 
caso, ao exame médico e à elaboração do laudo psicopedagógico;
3. ROTULAÇÃO: [...] Enquadramento da criança e do adoles-
cente em uma das subcategorias da situação irregular (carente, 
abandonado, inadaptado ou infrator) [...];
– 13 –
História social da criança no Brasil: do período Colonial à década de 1970
4. DEPORTAÇÃO: [...] Como a família, na maioria dos estudos de 
caso, aparece como frágil e vulnerável em termos socioeconômi-
cos e morais, a decisão mais comum era o afastamento do menor 
para longe do continente afetivo de seu núcleo familiar e das vin-
culações socioculturais como seu meio de origem;
5. CONFINAMENTO: a medida de internação era aplicada 
indistintamente a menores carentes, abandonados, inadaptados 
e infratores. A única diferença é que estes últimos cumpriam 
sua “medida” em estabelecimento especializado, ou seja, dota-
dos de maiores índices de contenção e segurança (COSTA,2006, p. 15-16).
As situações expostas pelo autor demonstram o que representava 
o ciclo perverso da institucionalização compulsória para as crianças e 
os adolescentes enquadrados como menores em situação irregular. Esse 
ciclo violava o direito à liberdade das crianças e dos adolescentes consi-
derados em situação irregular. Violava também o direito do devido pro-
cesso, isto é, o direito de as crianças e os adolescentes terem um advo-
gado que os defendesse. 
A Doutrina da Situação Irregular se dirigia apenas para o conjunto 
das crianças e dos adolescentes considerados menores em situação irregu-
lar e não para o conjunto da população infanto-juvenil. A legislação para 
os menores visava, sobretudo, a exercer o controle social do delito e, com 
isso, controlar as mazelas sociais geradas pela imensa desigualdade social 
advinda da concentração de renda no Brasil. Ao invés de se garantirem 
políticas sociais básicas, como educação, saúde, esporte, cultura para a 
população infanto-juvenil pobre do país, o que se garantia era um trata-
mento de segregação e repressão. A solução do problema era sempre o 
afastamento dessa população do convívio familiar e social.
A realidade provocada pelos Códigos de Menores culminou em luta 
ético-política mundial em prol dos direitos das crianças e dos adolescentes na 
década de 1980 e contribuiu para a criação de grupos e organizações da socie-
dade civil que passaram a defender os interesses da infância e da adolescência 
em vulnerabilidade social, que sofriam de todas as formas de maus-tratos.
Portanto analisamos, neste capítulo, a história social da criança e do 
adolescente desde 1500 até a criação dos Códigos de Menores, que tra-
tavam a criança e o adolescente como objetos e não sujeitos de direito. 
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 14 –
O tratamento constrangedor, violento e vexatório dispensado à criança e 
ao adolescente com as políticas públicas implementadas para atender às 
exigências legais impostas pelos Códigos de Menores provocou a indig-
nação da sociedade civil organizada, que encampou um luta nacional para 
romper com a Doutrina da Situação Irregular dos Códigos de Menores. 
No próximo capítulo, conheceremos a contextualização histórica da 
luta da sociedade civil em prol dos direitos da população infanto-juvenil e 
a conquista do Artigo 227 da Constituição Federal de 1988.
Atividades 
1. A política social elementar adotada no Brasil, para atender às 
questões envolvendo crianças, foi a roda dos expostos, criada 
ainda no período Colonial. Aponte a gênese, o cunho, o público-
-alvo e a finalidade dessa política. 
2. A legislação primária, ao tratar de assuntos envolvendo crianças, 
foi a Constituinte de 1825. Os direitos conquistados nessa Cons-
tituinte são
a) direito da mãe (escrava) de ter um mês de resguardo e, no 
decorrer de um ano após o parto, trabalhar com o filho ao 
seu lado. 
b) direito da mãe (escrava) de ter quatro meses de resguardo 
e, no decorrer de um ano após o parto, trabalhar com o filho 
ao seu lado.
c) garantia de uma indenização por parte do Estado aos pro-
prietários de escravos para libertar as crianças negras, 
entretanto os pais continuavam sob o regime escravocrata.
d) abolição dos escravos, em 1888, extinguindo um sistema 
que perdurou por mais de um século no Brasil. 
3. Os Códigos de Menores não se dirigiam ao conjunto da popula-
ção infanto-juvenil, somente aos menores considerados em situ-
ação irregular. Para os Códigos de Menores, são considerados 
em situação irregular os menores 
– 15 –
História social da criança no Brasil: do período Colonial à década de 1970
a) carentes, meninos de rua, com desvio de conduta e delin-
quentes.
b) carentes, meninos de rua, inadaptados e delinquentes.
c) carentes, abandonados, inadaptados e delinquentes.
d) carentes, abandonados, com desvio de conduta e delinquentes.
4. Sobre o ciclo perverso da institucionalização compulsória tradu-
zida nas situações de apreensão, triagem, rotulação, deportação 
e confinamento, podemos afirmar que: 
I. referente à apreensão, qualquer criança ou adolescente 
encontrado nas ruas em situação considerada de risco 
pessoal e social deveria ser apreendida(o) e conduzida(o) 
à presença da autoridade responsável: o juiz de menores;
II. a triagem se referia ao enquadramento da criança e do 
adolescente em uma das subcategorias da situação irre-
gular (carente, abandonado, inadaptado ou infrator); 
III. a rotulação consistia no encaminhamento do menor a 
um centro de triagem (observação) para a realização de 
estudo social do caso, exame médico e elaboração do 
laudo psicopedagógico;
IV. a deportação se refere ao afastamento do menor para 
longe do continente afetivo de seu núcleo familiar e das 
vinculações socioculturais como seu meio de origem; 
V. o confinamento consistia na medida de internação, que 
era aplicada indistintamente aos menores carentes, 
abandonados, inadaptados e infratores. 
Estão corretas, apenas, as afirmativas
a) I, IV e V.
b) I, II e V.
c) II, III e IV.
d) II e IV e V.
2
Década de 1980: a 
luta da sociedade 
civil em prol dos 
direitos da criança 
e do adolescente
Introdução
Caro aluno, neste capítulo, você conhecerá a luta da socie-
dade civil para assegurar, na Constituição Federal de 1988, os 
direitos da criança e do adolescente e romper definitivamente 
com os Códigos de Menores. Verá quais os movimentos sociais 
que tiveram destaque nessa luta, como: Movimento de Meninos 
e Meninas de Rua (MMMR), Movimento de Defesa dos Direi-
tos da Criança e do Adolescente (MDDCA) e o Fórum Nacional 
Permanente dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum 
DCA). Todos esses movimentos encamparam uma luta em prol 
da população infanto-juvenil, no período de construção da Carta 
Magna de 1988, os quais defendiam que a criança e o adoles-
cente eram prioridade absoluta e sujeitos de direitos. 
Conheceremos, ainda, os tratados internacionais que garan-
tem os direitos humanos da criança e do adolescente: a Declara-
ção de Genebra, a Declaração Universal dos Direitos da Criança 
e a Convenção sobre os Direitos da Criança. A Constituição 
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 18 –
Federal de 1988 segue os princípios da proteção integral estabelecidos 
nos tratados internacionais. 
Para entender o processo de organização e o papel da sociedade civil 
na luta pela defesa dos direitos da criança e do adolescente marcados pela 
Constituição Federal de 1988 e conhecer os tratados internacionais de 
garantia dos direitos da criança e do adolescente, você precisa considerar 
a história social da criança desde o período Colonial até a década de 1970, 
a instituição dos Códigos de Menores, assunto trabalhado no capítulo 1. 
Iniciaremos com a análise da luta da sociedade civil em prol dos direitos 
da criança e do adolescente na década de 1980.
2.1 A luta dos movimentos sociais
A década de 1980 foi o divisor de águas na história de lutas em prol 
dos direitos das crianças e dos adolescentes brasileiros. Três movimentos 
sociais, liderados pela sociedade civil, tiveram uma participação impres-
cindível na disseminação do processo de ruptura da visão de criança e 
adolescente como menor carente e abandonado em situação irregular 
(doutrina defendida pelos Códigos de Menores). Nessa perspectiva, o 
UNICEF (1998, p. 152) salienta que
No Brasil a década de 80 foi profundamente marcada por intensas 
mobilizações populares em defesa de causas e direitos de cunho 
social para crianças e adolescentes, na medida em que era ampla-
mente difundida a existência de milhões de crianças carentes, 
desassistidas ou abandonadas. 
As mobilizações populares realizadas na década de 1980, mencionadas 
na citação, foram incisivas para as conquistas de direitos da criança e do ado-
lescente ao passo que denunciavam o tratamento dispensado à criança e ao 
adolescente pela Doutrina da Situação Irregular, doutrina sociojurídica que 
fundamentava os Códigos de Menores. Essasmobilizações tinham como 
finalidade romper definitivamente com os Códigos de Menores a partir da 
inserção dos direitos da criança e do adolescente na Carta Magna de 1988. 
Os movimentos que tiveram fundamental importância, nas mobili-
zações em prol da defesa dos direitos da população infanto-juvenil, foram 
o Movimento de Meninos e Meninas de Rua (MMMR), o Movimento de 
– 19 –
Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente
Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (MDDCA) e o Fórum 
Nacional Permanente dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum 
DCA). Esses movimentos defendiam que a criança e o adolescente deve-
riam ser reconhecidos e valorizados como pessoas em condição peculiar 
de desenvolvimento e necessitavam de atenção e cuidados especiais. 
Todos esses movimentos foram constituídos por organizações não-
-governamentais (ONGs), que tinham como finalidade lutar contra as for-
mas de violência e as péssimas condições de tratamento de crianças e 
adolescentes (considerados como “menores”). 
As formas de violência e as péssimas condições de tratamento de 
crianças e adolescentes ocorriam principalmente nas unidades da FEBEM, 
pois “entidades e profissionais que lidavam com este menor apontavam o 
Código de Menores e a PNBEM como os responsáveis pelo abandono e 
pela violência com que eram tratados no Brasil” (UNICEF, 1998, p. 152). 
O MMMR emergiu no Brasil em 1985 e foi a primeira organização a 
trabalhar em nível nacional com a questão dos meninos e das meninas de 
rua. Durante o processo constituinte, “[...] teve intensa participação, sem-
pre denunciando o tratamento brutal que era dado a crianças e adolescen-
tes em várias regiões do país” (GONH, 2003, p. 119). Sua principal meta 
de trabalho, na década de 1980, foi o combate às práticas de extermínio da 
população infanto-juvenil que vivia na rua.
 Saiba mais
Para você conhecer um pouco mais sobre o papel dos movimentos sociais 
na defesa dos direitos da criança e do adolescente, a partir do trabalho 
realizado pelo Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, 
assista ao documentário Ônibus 174, de José Padilha. O documentário 
retrata a trajetória de Sandro do Nascimento, que sequestrou o ônibus 
174, em 12 de junho de 2000, no Rio de Janeiro. Esse documentário 
retrata a realidade de vida de Sandro que o levou para a vida do crime na 
sua infância. Sandro é um dos sobreviventes da chacina dos meninos da 
Igreja da Candelária, também no Rio, em 1993. O documentário também 
traz um depoimento da assistente social do Movimento MNMMR que 
acompanhava o grupo de meninos da chacina. Boas reflexões!
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 20 –
A bandeira de luta do MMMR alcançou uma amplitude internacio-
nal por meio da sensibilização de ONGs internacionais, que lutavam pela 
defesa dos Direitos Humanos e, assim,
Com o propósito muito claro de lutar por direitos e cidadania para 
crianças e adolescentes, o MMMR começa a denunciar a violência 
institucionalizada, provocada pela estrutura social caracterizada 
na omissão completa por parte do Estado em relação às políticas 
sociais básicas, enfatizando, porém, a violência exercida pelos 
aparatos de repressão e controle do Estado: policiais e delegacias 
de polícia (MMMR citado por GONH, 2003, p. 119).
A partir dessa luta, o MMMR organizou o I Encontro Nacional de 
Meninos e Meninas de Rua, do qual resultou a elaboração de dois pro-
jetos. Um desses projetos foi de sua responsabilidade, no tocante aos 
meninos e às meninas de rua em situação de violência, e o outro sob a 
responsabilidade do UNICEF, com o título de Programa de Redução da 
Violência. Ambos os projetos caminhavam na mesma direção e tinham 
como finalidade precípua estudar a questão da violência que maltratava 
crianças e adolescentes, com vistas à elaboração de políticas sociais para 
o combate dessa problemática.
O MDDCA foi um movimento social que, na década de 1980, mar-
chou incansavelmente rumo à conquista de uma sociedade justa e cidadã 
para a população infanto-juvenil no processo de construção da Consti-
tuição Federal de 1988. Esse movimento nasceu da união de diversos 
segmentos da sociedade civil e política a partir de inúmeras denúncias 
de maus-tratos envolvendo crianças e adolescentes, no que se refere às 
prisões ilegais, tortura e assassinatos. O objetivo maior desse movimento 
era sensibilizar a sociedade brasileira para a situação de violência contra a 
população infanto-juvenil.
Segundo Gonh (2003), para encampar essa luta, o MDDCA teve 
como atores básicos diferentes setores sociais, como agentes que traba-
lhavam diretamente em instituições públicas e particulares com crianças e 
adolescentes, membros de ONGs, sindicatos, partidos políticos, técnicos 
sociais e assessores de entidades, ONGs internacionais, entre outros. E 
assim o MDDCA emergiu no cenário brasileiro nos anos de 1986 e 1987, 
anos que antecederam a homologação da Carta Magna.
– 21 –
Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente
 Considerando o exposto, podemos dizer que a década de 1980 teve 
como marco (na área da infância e adolescência) a reivindicação da ado-
ção do direito da criança e do adolescente na Constituição Federal de 
1988, lei maior do Brasil, que foi elaborada com intensa participação 
popular (UNICEF 1995). 
O Artigo 227da Constituição Federal dispõe que
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e 
ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação à educação, ao esporte, à profissionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligên-
cia, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
O princípio da prioridade absoluta e os direitos assegurados à criança 
e ao adolescente no Artigo 227 da Constituição Federal de 1988 estão 
fundamentados na Doutrina da Proteção Integral das Nações Unidas que 
fundamenta a Convenção Internacional dos Direitos da Criança. Ressal-
tamos que a Carta Magna de 1988 foi promulgada antes da aprovação da 
Convenção Internacional dos Direitos da Criança, a qual só foi aprovada 
em 20 de novembro de 1989 pela a Assembleia Geral da Organização das 
Nações Unidas (ONU). A Convenção vinha sendo discutida desde 1979, 
e as pessoas que redigiam a emenda popular Criança Prioridade Absoluta 
criaram o texto do Artigo 227 da Constituição Federal de 1988 com base 
nos princípios da Convenção. 
A adoção dos princípios norteadores da Convenção só foi possível 
devido à luta dos movimentos sociais para incorporar à Constituição os 
princípios defendidos pela Convenção, baseados na Declaração Universal 
dos Direitos da Criança de 1959.
Após a promulgação da Constituição de 1988, surgiu um novo 
movimento social no Brasil, o Fórum DCA, o qual é um apêndice do 
MDDCA. O Fórum nasceu do I Encontro Nacional de Meninos e Meninas 
de Rua, em março de 1988, articulado pelo MMMR. Nele se reuniram 
diversas entidades não-governamentais que participavam da campanha 
Criança Prioridade Nacional, a qual defendia a inserção dos direitos da 
população infanto-juvenil na Constituição de 1988. O objetivo do Fórum 
era criar uma frente permanente de luta na defesa dos direitos da criança e 
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 22 –
do adolescente, envolvendo diferentes atores sociais que atuavam direta e 
indiretamente com essa população.
De acordo com o UNICEF (1998), o Fórum DCA era integrado por 
entidades não-governamentais com atuação em âmbito nacional na área 
de promoção e defesa dos direitos da população infanto-juvenil. Firmou-
-se como uma importante organização não-governamental de luta em prol 
dos direitos das crianças e dos adolescentes. Seu objetivo era assegurar 
os direitos já conquistados em lei e contribuir para regulamentá-los legal-
mente no país por meio da criação deuma Lei específica em favor da 
infância e da adolescência, o que resultou na criação do ECA (Estatuto 
da Criança e do Adolescente, Lei n. 8.069). 
As principais entidades de destaques no Fórum DCA foram:
 2 Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua
 2 Pastoral do Menor (CNBB)
 2 Frente Nacional de Defesa da Criança e do Adolescente
 2 Articulação Nacional dos Centros de Defesa de Direitos
 2 Coordenação dos Núcleos de Estudos Ligados às Universidades
 2 Sociedade Brasileira de Pediatria
 2 Associação Brasileira de Proteção à Infância e à Adolescência 
(ABRAPIA)
 2 Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) 
A participação brilhante e decisiva da sociedade civil na conquista 
de direitos foi importante mediante a construção de uma Constituição 
Cidadã para a criança e o adolescente. A partir dessa época, nasceu 
“[...] um tempo em que criança é e vive como sujeitos de direitos” 
(BRASIL, 2002b, p. 26), surgindo, assim, um conceito de cidadania na 
área da infância e da adolescência. É importante entendermos que toda 
essa luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do ado-
lescente, no Brasil, teve como fundamento os tratados internacionais 
de garantia de direitos para a população infanto-juvenil. Então vamos 
conhecer esses tratados.
– 23 –
Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente
2.2 Direitos humanos das crianças e dos 
adolescentes: tratados internacionais
Toda a caminhada histórica sobre os direitos da criança teve início 
com a Declaração de Genebra, que foi redigida pela União Internacional 
Save the Children, em 1923. Essa declaração continha os princípios bási-
cos da proteção à infância. Após a 2ª Guerra Mundial, em abril de 1946, 
foi instituída a Organização das Nações Unidas (ONU) que aprovou uma 
declaração sobre os direitos da criança, que segue os princípios da Decla-
ração de Genebra. 
A ONU criou um mecanismo de ajuda multilateral à infância, o UNI-
CEF (Fundo Internacional de Emergência para as Crianças – United Nations 
Internacional Children’s Emergency Fund), estabelecido pela Assembleia 
Geral da ONU em 1946 e, em 1953, transformado em Agência Especiali-
zada do Sistema da ONU para auxiliar a infância carente do terceiro mundo. 
A Declaração sobre os Direitos da Criança permaneceu como marco refe-
rencial, inclusive para o trabalho da UNICEF, por trinta anos. 
Em 10 de dezembro de 1948, a ONU instituiu a Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos. Costa e Duarte (2004, p. 52) afirmam que
Essa Declaração é hoje o pilar fundamental dos Direitos Humanos, 
em todo o mundo, e todos os demais instrumentos da normativa 
internacional, nesse campo, estão direta ou indiretamente a ela 
referidos.
Conforme afirmam os autores, a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos se tornou o pilar fundamental dos direitos humanos e o motivo 
foi à aprovação unânime que ela teve de 48 Estados. A Declaração consi-
derou, no seu preâmbulo, que a criança tinha falta de maturidade física 
e mental. Assim, na esteira da Declaração dos Direitos Humanos, foram 
sinalizados vários projetos de humanidade, e um deles foi a garantia de 
direitos humanos para as crianças e os adolescentes.
Sob o ponto de vista jurídico, a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos não tinha poder para obrigar os Estados signatários a respeita-
rem e cumprirem o documento. Para viabilizar o cumprimento dos direi-
tos assegurados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, foram 
instituídas duas convenções: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e 
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 24 –
Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Cul-
turais, aprovados, em 1966, pela Assembleia Geral das Nações Unidas. 
Sobre esses documentos, Costa e Duarte (2004, p. 53) asseveram que,
Por meio do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, 
cada um dos estados que nele tomaram parte, compromete-se a 
respeitar e assegurar a todos os indivíduos – no espaço de seu ter-
ritório e sem qualquer distinção quanto à raça, cor, sexo, idioma, 
religião, opinião, origem nacional ou social - todos os direitos 
reconhecidos naquela convenção. [...] De forma semelhante o 
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
inclui basicamente todos os direitos proclamados pela Declaração 
Universal, como o direito ao trabalho em condições justas e favo-
ráveis; o direito à organização sindical, à seguridade social, a um 
padrão de vida adequado, incluindo o acesso à saúde, à educação, 
à ciência e à cultura. 
Podemos observar que o Pacto Internacional dos Direitos Civis e 
Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e 
Culturais, ao contrário da Declaração, obrigam legalmente os Estados 
signatários a cumprirem todos os direitos assegurados pela Declaração 
que foram inseridos nesses documentos. Para garantir com maior legali-
dade os direitos da criança, em 1979, a Assembleia Geral da ONU apro-
vou a ideia de se proceder, de imediato, a elaboração de um projeto que 
viesse dar efeito jurídico e força obrigatória aos direitos específicos da 
criança. Para tanto, em 20 de novembro de 1989, foi aprovada a Con-
venção sobre os Direitos da Criança, o qual contava com 195 adesões 
e ratificações e entrou em vigor em 2 de setembro de 1990. A Convenção 
sobre os Direitos da Criança reconhece, pela primeira vez, a criança 
como sujeito de direito. 
Esse novo instrumento da normativa internacional responsabiliza 
juridicamente os Estados-membros por suas ações no que diz respeito aos 
direitos da criança. Exige um compromisso legal, por parte dos Estados, 
de aceitar o que está enunciado em seu conteúdo e de assumir os deveres 
e as obrigações que a Convenção determina. 
Os destinatários da cobertura da Convenção são todas as pessoas 
menores de 18 anos. A Convenção tem como regra básica que as crian-
ças e os adolescentes tenham todos os direitos que são facultados aos 
– 25 –
Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente
adultos e que sejam aplicáveis à sua idade. Assegura também à criança 
os direitos especiais em decorrência da sua condição peculiar de pessoa 
em desenvolvimento. 
A Convenção reconhece que a criança, para o pleno e harmonioso 
desenvolvimento de sua personalidade, deve crescer no seio da família, 
em um ambiente de felicidade, amor e compreensão. Esse reconhecimento 
é respaldado pela Declaração de Direitos da Criança de 20 de novembro 
de 1959, que já considerava que a criança tem falta de maturidade física 
e mental e, por isso, necessita de proteção e cuidados especiais e ainda 
proteção legal, antes e após o seu nascimento. 
A Convenção reconhece também que, em todos os países, existem 
crianças vivendo sob condições de vulnerabilidade, excepcionalmente, 
difíceis, e que essas crianças necessitam de consideração especial. Para 
tanto, “[...] assegura as duas prerrogativas maiores que a sociedade e o 
Estado devem conferir à criança e ao adolescente, para operacionalizar a 
proteção de seus Direitos Humanos: cuidados e responsabilidades” (BRA-
SIL, 2006, p. 24). É proclamada reiteradamente a primazia do interesse 
fundamental da criança como prioridade absoluta.
A Convenção reconhece o valor intrínseco da criança enquanto pes-
soa humana em condição peculiar de desenvolvimento e o seu valor pro-
jetivo, uma vez que é portadora do futuro, da continuidade da sua família 
e de seu povo. A partir desse reconhecimento, a Convenção garante que a 
criança é titular de direitos individuais, como a vida, a liberdade, a digni-
dade, e também de direitos coletivos, como direitos econômicos, sociais 
e culturais. 
Portanto a década de 1980 é reconhecida como o divisor de águas 
para as crianças e os adolescentes do Brasil por meio do êxito alcançado 
pelos movimentos sociais com a inserção dos direitos da criança e do ado-
lescente na Constituição Federal de 1988 com a conquista do Artigo 227. 
A Doutrina daProteção Integral, fundamento sócio-jurídico dos tratados 
internacionais, é que consubstancia e referencia os instrumentos jurídicos 
nacionais de promoção, defesa e garantia dos direitos da criança e do ado-
lescente no Brasil: Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e 
do Adolescente – ECA.
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 26 –
No próximo capítulo, você conhecerá os princípios norteadores do 
ECA, bem como a nova concepção de criança e adolescente defendida 
por esse Estatuto. Conheceremos as três revoluções instituídas pelo 
ECA para o rompimento com a Doutrina da Situação Irregular dos 
Códigos de Menores: mudança de conteúdo, mudança de método e 
mudança de gestão.
Atividades 
1. A década de 1980 é considerada como o divisor de águas em 
prol da luta pelos direitos da criança e do adolescente. Três 
movimentos liderados pela sociedade civil organizada tiveram 
fundamental importância nessa luta. Aponte quais são esses 
movimentos e o trabalho desenvolvido por cada um deles.
2. Sobre os movimentos sociais que se destacaram na defesa dos 
direitos da população infanto-juvenil, na década de 1980, pode-
mos afirmar que 
a) todos os movimentos foram constituídos por Organizações 
Governamentais e Não-Governamentais (ONGs).
b) os movimentos tiveram uma participação imprescindível no 
processo de consolidação da visão da criança e do adolescente 
como menor carente e abandonado em situação irregular. 
c) a finalidade dos movimentos sociais era lutar para efetivar a 
Política Nacional de Bem-Estar do Menor e, assim, contribuir 
efetivamente para a implantação das unidades da FEBEM.
d) os movimentos sociais lutaram para incorporar à Constitui-
ção Federal de 1988 os princípios defendidos pela Conven-
ção dos Direitos da Criança de 1989, baseados na Declara-
ção Universal dos Direitos da Criança de 1959.
3. A luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do 
adolescente no Brasil teve como base os tratados internacionais 
de garantia de direitos para a população infanto-juvenil. Quais 
são esses tratados?
– 27 –
Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente
a) A Declaração de Genebra, a Declaração Universal dos Direi-
tos da Criança e a Convenção sobre os Direitos da Criança
b) A Declaração de Genebra, a Declaração Universal dos Direi-
tos da Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente 
c) A Declaração Universal dos Direitos da Criança, a Conven-
ção sobre os Direitos da Criança e o Estatuto da Criança e 
do Adolescente
d) A Declaração de Genebra, o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente e a Convenção sobre os Direitos da Criança
4. Em 20 de novembro de 1989, foi aprovada a Convenção sobre os 
Direitos da Criança que reconhece, pela primeira vez, a criança 
como sujeito de direito. Sobre a Convenção, podemos afirmar que:
I. sua regra básica é que as crianças e os adolescentes não 
tenham todos os direitos que são facultados aos adultos, 
somente os direitos especiais em decorrência da sua con-
dição peculiar de pessoa em desenvolvimento; 
II. reconhece que a criança, para o pleno e harmonioso desen-
volvimento de sua personalidade, deve crescer no seio da 
família, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão; 
III. reconhece o valor intrínseco da criança enquanto pessoa 
humana em condição peculiar de desenvolvimento e o 
seu valor projetivo, uma vez que é portadora do futuro, 
da continuidade da sua família e de seu povo; 
IV. garante que a criança é titular de direitos individuais, como 
a vida, a liberdade, a dignidade e também de direitos cole-
tivos, como direitos econômicos, sociais e culturais.
Estão corretas, apenas, as afirmativas
a) I, II e III.
b) II, III e IV.
c) I, III e IV.
d) I, II e IV.
3
Estatuto da Criança 
e do Adolescente: 
uma lei específica 
na área da infância 
e da adolescência 
Introdução
Caro aluno, neste capítulo, você conhecerá aspectos rele-
vantes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que 
introduz na sociedade brasileira uma nova concepção de criança 
e de adolescente. Conforme preconiza o ECA, a criança e o ado-
lescente são cidadãos de direitos e prioridade absoluta. O ECA é 
sustentado pelos princípios da Doutrina da Proteção Integral das 
Nações Unidas, que rompem definitivamente com a Doutrina da 
Situação Irregular norteadora dos Códigos de Menores.
Conheceremos, também, a Doutrina da Proteção Integral, 
que fundamenta o Estatuto da Criança e do Adolescente, que 
se destina, sem exceção alguma, a todas as crianças e os ado-
lescentes e que substitui a Doutrina da Situação Irregular que 
sustentava os Códigos de Menores. Faremos uma comparação 
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 30 –
entre a doutrina que fundamenta o ECA e a que fundamentava os Códigos 
de Menores para melhor distinção das doutrinas. Ao final deste capítulo, 
conheceremos quem são os violadores dos direitos da criança e do adoles-
cente, conforme especifica o ECA.
Para melhor compreensão deste capítulo, você precisa retomar os 
conteúdos do capítulo 2 no que se refere à trajetória histórica de luta pelos 
direitos da criança e do adolescente para romper com a Doutrina da Situ-
ação Irregular dos Códigos de Menores, bem como conhecer os marcos 
legais dos tratados internacionais que garantem os direitos humanos do 
segmento infanto-juvenil. Esses conteúdos são fundamentais para que 
você possa compreender o significado das mudanças sociais, jurídicas e 
políticas introduzidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente no nosso 
país e conhecer quem são os violadores dos direitos da criança e do ado-
lescente, conforme estão categorizados no ECA.
Iniciaremos o estudo com a análise de alguns aspectos nos quais o 
ECA se fundamenta.
3.1 Estatuto da Criança e do 
Adolescente: aspectos introdutórios
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi aprovado em 13 de 
julho de 1990 mediante a sanção presidencial da Lei 8.069. Foi elaborado 
a partir do Artigo 227 da Constituição Federal de 1988 com o objetivo de 
regulamentá-lo e como forma de exigibilidade dos direitos da criança e do 
adolescente, que já eram assegurados pela Carta Magna do país. 
 Saiba mais
Para saber mais sobre o ECA, recomendamos a leitura da obra Estatuto da 
Criança e do Adolescente comentado: comentários jurídicos, que foi orga-
nizada por Munir Cury, Antônio Fernando do Amaral e Silva e Emílio Gar-
cia Mendez, publicada pela editora Malheiros Editores. Essa obra comenta 
artigo por artigo do Estatuto e dá ao leitor uma melhor compreensão da 
legislação que garante os direitos humanos de crianças e adolescentes.
– 31 –
Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência 
O ECA adota uma nova concepção de atendimento à criança e ao 
adolescente, que passam a ser portadores de todos os direitos fundamen-
tais facultados aos adultos, além de serem pessoas carecedoras de uma 
proteção especial, haja vista estarem em condição peculiar de desenvolvi-
mento físico, social e espiritual. 
O ECA é norteado pela Doutrina da Proteção Integral e introduz na 
sociedade brasileira uma
[...] concepção da criança e do adolescente como sujeito de direi-
tos, isto é, cidadãos passíveis de proteção integral, vale dizer, de 
proteção quanto aos direitos de desenvolvimento físico, intelectual, 
afetivo, social e cultural (ANDRADE, 2000, p. 18) (grifo nosso). 
Conforme citação, o ECA concebe a criança e o adolescente como 
cidadãos cujos direitos devem ser garantidos na sua integralidade. Esse 
novo modelo de atendimento da população infanto-juvenil rompe defini-
tivamente com o paradigma da situação irregular. Assim as crianças e os 
adolescentes brasileiros comemoram o tão sonhado direito de exercer o 
título de cidadão e gozar de todos os direitos inerentes à pessoa humana 
com dignidade. O Artigo 3º do ECA garante que
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos inerentes 
à pessoa humana, sem prejuízo da proteçãointegral de que trata 
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas 
as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvol-
vimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de 
liberdade e de dignidade.
Enquanto as leis anteriores ao ECA eram portadoras de uma concep-
ção de marginalização da criança e do adolescente, utilizavam-se do termo 
menor para se referir a essa população,
[...] o ECA avança na discussão sobre a discriminação imposta 
pelo uso do termo “menor”, ao substituir a noção de “menor em 
situação irregular” pela de “sujeitos de direitos” (RIZZINI citado 
por ANDRADE 2000, p. 20). 
A citação confirma o caráter estigmatizante da terminologia adotada 
pelo antigo Código de Menores ao se referir às crianças e aos adoles-
centes em situação de risco como menores em situação irregular. Essa 
concepção se contrapõe aos princípios adotados pelo ECA, os quais con-
sideram a criança e o adolescente como sujeitos de direitos.
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 32 –
Liberati (1997), ao enfatizar em sua obra a questão da definição de 
criança e adolescente, salienta que a doutrina da situação irregular com sua 
terminologia de menor contribuía para a estigmatização e, sobretudo, para 
a ideia de marginalização da criança. Já o ECA proporcionou uma noção 
de criança e adolescente como seres humanos em condição de desenvolvi-
mento e, por isso, merecedores do respeito de todos. 
Outra prerrogativa importante, introduzida pela doutrina da proteção 
integral, é a questão da responsabilidade concernente à efetivação dos 
direitos assegurados pelo ECA, no qual “[...] é colocado, que a proteção 
das crianças e adolescentes, bem como a garantia dos seus direitos, não 
é responsabilidade apenas da família, mas [...] do Estado e da sociedade 
como um todo” (NEPOMUCENO, 2002, p. 145). Essa afirmativa expli-
cita a responsabilidade compartilhada que o ECA preceitua entre a famí-
lia, a sociedade e o Estado na garantia dos direitos das crianças e dos 
adolescentes e define de forma clara quem são os responsáveis legais pela 
garantia dos direitos assegurados pelas leis.
É importante enfatizar que a tríade responsável pela efetivação dos 
direitos preconizados no ECA foi definida ainda no ápice da elaboração do 
Artigo 227 da Carta Magna do Brasil, o qual foi praticamente transcrito no 
Artigo 4º do ECA. É preciso ficar explícito que
[...] a família, a sociedade e o Estado são os responsáveis pelas 
crianças e adolescentes, não cabendo a qualquer dessas entida-
des assumirem com exclusividade as tarefas, nem ficando alguma 
delas isenta de responsabilidade (ANDRADE, 2000, p. 17).
Veja que essa afirmativa aponta quem são os responsáveis legais pela 
garantia dos direitos da criança e do adolescente, cabe a todos igualmente a 
responsabilidade de zelar pelos direitos, pois só assim a população infanto-
juvenil poderá ter assegurados na íntegra o espírito da Doutrina das Nações 
Unidas norteadora da Lei n. 8.06. O 1º Artigo do ECA expõe que “esta Lei 
dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente” (ECA, 1990, p. 11). 
Para que a Doutrina da Proteção Integral seja realmente assegurada, 
o ECA compreende uma série de garantias no Artigo 4º parágrafo único.
A garantia de prioridade compreende:
a) Primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
– 33 –
Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência 
b) Precedência de atendimento nos serviços públicos ou relevân-
cia pública;
c) Preferência na formulação e na execução das políticas sociais 
públicas;
d) Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacio-
nadas com a proteção à infância e à juventude.
ECA dispõe sobre as garantias as quais as crianças e os adolescentes 
passam a ter em função da sua condição peculiar de desenvolvimento. 
Essas garantias, para serem concretizadas no atendimento ao conjunto da 
população infanto-juvenil, exigem que sejam desenvolvidas várias ações 
nas áreas das políticas sociais básicas, da assistência social, da proteção 
especial e das garantias. 
As políticas sociais básicas se referem às políticas reconhecidas legal-
mente como direito de todos e dever do Estado, como a saúde e a educa-
ção. A assistência social é destinada àquelas pessoas que se encontram em 
estado de necessidade, como os auxílios temporários, abrigos, entre outros. 
No que tange à proteção especial, são as medidas especiais de proteção 
adotadas nos casos de ameaça e/ou violação dos direitos da criança e do 
adolescente que, de alguma forma, tragam prejuízos para sua integridade 
física e psicológica. Na área da garantias de direitos, o ECA se refere 
aos direitos individuais e coletivos da criança e do adolescente, como, por 
exemplo, a garantia de defesa quando o adolescente for acusado de infração.
Ressaltamos que todas essas políticas são elaboradas e fiscalizadas 
pelo Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual 
é distribuído em três eixos distintos de trabalho (promoção, controle social 
e defesa). Esses eixos serão abordados no capítulo 4.
Vejamos a seguir sobre as várias mudanças introduzidas pelo ECA 
que passam a balizar o atendimento a ser dispensado às crianças e aos 
adolescentes brasileiros.
3.1.1 ECA: uma lei de três revoluções
As três revoluções promovidas pelo ECA trouxeram mudanças signi-
ficativas para a seara da criança e do adolescente e extrapolaram o campo 
jurídico. Vamos conhecê-las.
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 34 –
 2 Mudança de conteúdo: o ECA concebe a criança e o adolescente 
como sujeitos de direitos, os quais estão garantidos legalmente 
por leis. A partir do ECA, a criança e o adolescente deixam de ser 
tratados como meros objetos de direitos e intervenção por parte 
da família, do Estado e da sociedade e passam a ser considerados 
como cidadãos de direitos. O ECA reconhece a criança e o ado-
lescente como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento 
físico, mental, espiritual, psicológico, social e cultural. Por isso 
são detentores de todos os direitos que são facultados aos adul-
tos e ainda de direitos especiais pela sua condição de desenvolvi-
mento e incapacidade de prover suas necessidades básicas.
 2 Mudança de método: o ECA introduz as garantias processuais 
para o adolescente autor de ato infracional. Busca ainda superar 
a visão assistencialista e paternalista da Doutrina da Situação 
Irregular que norteava os Códigos de Menores. Com o ECA, os 
direitos da criança e do adolescente passam a ser garantidos por 
lei, e quem descumpri-los está sujeito a responder judicialmente 
pela ameaça ou pela violação desses direitos. Para que os direi-
tos da criança e do adolescente sejam assegurados, o ECA pro-
põe um novo modelo de atendimento por meio da articulação de 
um sistema de garantias de direitos, que tem a missão de zelar 
pelo cumprimento dos direitos garantidos pelo ECA.
 2 Mudança de gestão: o Eca introduz um nova divisão do tra-
balho e atribui competências e responsabilidades às três esfe-
ras de governo: União, Estado e Município e conta ainda com 
participação da sociedade civil organizada. O ECA estabelece a 
criação dos Conselhos de Direitos nas três esferas de governo, 
que têm como competência a deliberação, a formulação e a fis-
calização das políticas públicas para a criança e o adolescente. 
Também cria o Conselho Tutelar no âmbito municipal, que se 
constitui como porta de entrada para todas as denúncias de ame-
aça e/ou violação dos direitos assegurados pelo ECA à popula-
ção infanto-juvenil.
A compreensão dessas mudanças é indispensável para a garantia da 
proteção integral e o rompimento definitivo com a Doutrina da Situação 
– 35 –
Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência 
Irregular. Sabemos que a proteção integral é a doutrina que fundamenta o 
Estatuto da Criança e do Adolescente. Vamosconhecer melhor os princí-
pios que amparam essa doutrina.
3.2 Princípios da Doutrina da Proteção Integral 
A Doutrina da Proteção Integral consiste em garantir os direitos da 
criança e do adolescente referentes à sobrevivência, ao desenvolvimento 
pessoal e social, à integridade física, psicológica e moral. O Estatuto da 
Criança e do Adolescente é fundamentado na proteção integral e garante 
à criança e ao adolescente a condição de cidadãos de direitos como os 
adultos e ainda de direitos especiais. A Doutrina da Proteção Integral 
trouxe três avanços fundamentais ao considerar a criança e o adoles-
cente como:
 2 sujeitos de direitos
 2 pessoas em condição peculiar de desenvolvimento
 2 prioridade absoluta
Conheceremos a seguir, de forma detalhada, em que consiste cada 
um desses princípios.
3.2.1 Criança e adolescente: sujeitos de direitos
O ECA garante à criança e ao adolescente um conjunto de direitos 
que tem como finalidade precípua assegurar à população infanto-juvenil 
as condições de ter todas as suas necessidades básicas atendidas. Os direi-
tos regulamentados no ECA foram instituídos pela Constituição Federal 
de 1988, nos Artigos 227 e 228, e têm como fundamento os princípios da 
Convenção Internacional dos Direitos da Criança. O Artigo 227 da Cons-
tituição Federal de 1988 dispõe que
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e 
ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação à educação, ao esporte, à profissionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligên-
cia, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 36 –
Vamos compreender os direitos assegurados pelo Artigo 227, que 
estão regulamentados ao longo dos 267 Artigos do ECA.
 2 Direito à vida: crescer e viver com dignidade e ser protegido 
daquilo que possa prejudicar o seu desenvolvimento como pes-
soa e como cidadão.
 2 Direito à saúde: garantir a prevenção contra doenças.
 2 Direito à alimentação: garantir alimentação sadia, nutritiva e 
adequada à sua idade e às necessidades de seu organismo.
 2 Direito à educação: garantir educação universal e gratuita com 
oportunidades justas para que se formem como cidadãos qualifi-
cados para o ingresso no mercado de trabalho.
 2 Direito à cultura: conhecer e vivenciar os valores de sua comu-
nidade e desenvolver suas potencialidades artísticas por meio do 
exercício de atividades criativas.
 2 Direito de lazer: garantir lazer adequado à sua idade para favo-
recer o seu pleno desenvolvimento.
 2 Direito ao esporte: assegurar o desenvolvimento físico do corpo 
e da mente, o relacionamento com outros e a aprendizagem das 
regras para agir em conjunto.
 2 Direito à profissionalização: preparar-se para ingressar posi-
tivamente no mercado de trabalho sob orientação e condições 
adequadas.
 2 Direito à dignidade: ficar a salvo de toda e qualquer forma de 
exploração, tratamento desumano, humilhante ou constrange-
dor, negligência e abandono por ação ou omissão.
 2 Direito ao respeito como pessoa: ter seu espaço preservado, 
assim como seus objetos pessoais e, evidentemente, a salvo de 
agressões física e psicológica.
 2 Direito à liberdade: ter o direito de ir e vir, de estar, de opinar, 
de falar de crença ou de culto religioso, de participar da vida 
familiar, comunitária e cívica.
– 37 –
Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência 
 2 Direito à convivência familiar e comunitária: ter a garantia de 
atendimento às famílias com vistas a propiciar condições neces-
sárias para que as crianças e os adolescentes possam ser criados 
pelos seus pais. 
Os direitos à vida, à saúde e à alimentação se constituem no primeiro 
elenco de direitos assegurados pelo ECA, os quais garantem a subsistência 
da criança e do adolescente. Os direitos à educação, à cultura, ao lazer e à 
profissionalização fazem parte do segundo elenco de direitos assegurados 
pelo ECA, os quais correspondem ao desenvolvimento pessoal e social da 
criança e do adolescente. Os direitos à dignidade, ao respeito, à liberdade 
e à convivência familiar e comunitária fazem parte do terceiro elenco de 
direitos estabelecidos pelo ECA e referem-se à integridade física e psico-
lógica da criança e do adolescente.
Os três elencos de direitos assegurados pelo ECA são apresentados 
no Quadro 1.
Quadro 1 – Elencos de direitos assegurados pelo ECA
PRIMEIRO 
ELENCO
Direito à vida, à saúde e 
à alimentação
Garante a subsistência da 
criança e do adolescente.
SEGUNDO 
ELENCO
Direito à educação, à cul-
tura, ao lazer e à profis-
sionalização
Corresponde ao desen-
volvimento pessoal e 
social da criança e do 
adolescente.
TERCEIRO 
ELENCO
Direito à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e 
comunitária
Refere-se à integridade 
física e psicológica da 
criança e do adolescente.
Os direitos da criança e do adolescente obedecem aos princípios 
gerais dos direitos humanos representados pelos direitos políticos, civis 
e sociais. Os direitos políticos dizem respeito à participação dos cidadãos 
no governo, o direito de votar e de participar de órgãos de representação 
popular, como os Conselhos de Políticas e de Direitos. Os direitos civis 
asseguram a vida, a liberdade, a igualdade, a manifestação de pensamento 
e a participação em movimentos sociais. Os direitos sociais garantem o 
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 38 –
acesso às políticas públicas que propiciam condições de vida digna para os 
cidadãos, como educação, saúde, assistência social, habitação.
Detalharemos, na próxima seção, o segundo princípio do ECA.
3.2.2 Pessoas em condição peculiar 
de desenvolvimento
A criança e o adolescente são seres em condições peculiares de 
desenvolvimento físico, pessoal, psicológico, social, espiritual e cultural.
Nesse contexto, significa dizer que estão em processo de formação 
de suas personalidades e são detentoras de direitos especiais, além de 
todos aqueles direitos que são facultados aos adultos, uma vez que não 
dispõem de todos os meios necessários para satisfazer suas necessida-
des básicas e por estar em processo de aprendizagem. Dessa forma, a 
criança e o adolescente precisam do adulto para suprir suas necessida-
des e para orientá-los.
Por estarem em pleno desenvolvimento físico, emocional e sociocul-
tural, a criança e o adolescente não podem responder pelo cumprimento 
das leis igualmente aos adultos, necessitam, portanto, de um atendimento 
diferenciado por parte da justiça. Nesse sentido, o ECA prevê as medidas 
cabíveis e respeita a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
No intuito de concluir os princípios da proteção integral da criança e do 
adolescente, apresentaremos, a seguir, detalhes sobre a prioridade absoluta.
3.2.3 Prioridade absoluta
A garantia de prioridade absoluta está assegurada pelo ECA no Artigo 
4º, parágrafo único, que dispõe sobre
 2 primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
 2 precedência do atendimento nos serviços públicos ou de rele-
vância pública;
 2 preferência na formulação e na execução das políticas sociais 
públicas;
– 39 –
Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência 
 2 destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relaciona-
das com a proteção, a infância e a juventude.
O Artigo citado defende a prioridade absoluta e destaca algumas exi-
gências para que esse princípio seja de fato efetivado. 
A partir do estudo sobre os princípios norteadores do ECA, faremos 
uma comparação entre os Códigos de Menores e o Estatuto da Criança e 
do Adolescente no Quadro 2.
Quadro 2 – Comparação entre os Códigos de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente
CÓDIGOS DE MENORES
DOUTRINA DA SITUAÇÃO 
IRREGULAR
ESTATUTO DA CRIANÇA 
E DO ADOLESCENTEDOUTRINA DA 
PROTEÇÃO INTEGRAL
Destinam-se apenas aos menores em 
situação irregular: carentes, abando-
nados, inadaptados e infratores
Dirige-se a todas as crianças e a 
todos os adolescentes sem exceção 
alguma.
Tratam do direito tutelar do menor, 
ou seja, os menores são objetos 
de medidas judiciais quando se 
encontram em situação irregular, 
assim definidos legalmente.
Trata da Proteção Integral, isto é, 
da sobrevivência do desenvolvi-
mento e da integridade de todas as 
crianças e todos os adolescentes.
O menor é visto como objeto de 
intervenção jurídico-social do 
Estado.
A criança e o adolescente são vis-
tos como sujeitos de direitos exigí-
veis com base na lei.
São centralizadores e autoritários.
É descentralizador e aberto à par-
ticipação da cidadania por meio de 
conselhos paritários.
Instrumento de controle social das 
crianças e dos adolescentes vítimas 
da omissão da família, da socie-
dade e do Estado em relação aos 
seus direitos.
Desenvolvimento social voltado 
para o conjunto da população infanto-
-juvenil do país, garantia de proteção 
especial a esse segmento considerado 
pessoal e socialmente vulnerável.
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 40 –
CÓDIGOS DE MENORES
DOUTRINA DA SITUAÇÃO 
IRREGULAR
ESTATUTO DA CRIANÇA 
E DO ADOLESCENTE
DOUTRINA DA 
PROTEÇÃO INTEGRAL
Política nacional do bem-estar do 
menor, segurança pública, justiça 
de menores.
Políticas sociais básicas, políticas 
assistenciais, serviços de proteção 
e defesa das crianças e dos ado-
lescentes vitimizados e proteção 
jurídico-social.
São omissos a respeito de crimes e 
infrações cometidos pela violação 
dos direitos da criança e do ado-
lescente.
Pune o abuso de pátrio poder, das 
autoridades e dos responsáveis 
pela criança e pelo adolescente. 
Fonte: Socioeducação (2006, p. 20) 
Podemos entender e diferenciar, por meio do quadro, os fundamentos 
da Doutrina da Situação Irregular (Códigos de Menores) dos fundamentos 
da Doutrina da Proteção Integral (ECA). Os Códigos de Menores tratavam a 
criança e o adolescente como menor em situação irregular, sendo apenas obje-
tos de direitos e de intervenção por parte do Estado e da Família. Já o ECA 
considera a criança e o adolescente como sujeitos de direitos e responsabiliza 
a família, a sociedade e o Estado pela não proteção de suas crianças e seus 
adolescentes e pela não garantia dos seus direitos que estão instituídos em lei.
Portanto a família, a sociedade e o Estado são agentes responsáveis 
pela garantia dos direitos infanto-juvenis. Quando os direitos não são efe-
tivados, é porque algum desses agentes não cumpriu com a sua responsa-
bilidade. Vejamos, nesse caso, quem deve ser responsabilizado.
3.3 Quem são os violadores dos direitos 
da criança e do adolescente?
A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente asseguram que o zelo, a defesa e a garantia dos direitos consti-
– 41 –
Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência 
tucional e estatutário cabem à família, ao Estado e à sociedade em geral. 
Esses direitos devem ser assegurados para o crescimento sadio e digno da 
criança e do adolescente. Assim o ECA, com base no Artigo 227 da Carta 
Magna, estabelece no seu Art. 4º que
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do 
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos 
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao 
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
O Artigo do ECA citado define de quem é a competência em garantir 
a prioridade absoluta, princípio que se refere à subsistência, ao desenvol-
vimento pessoal e social e à integridade física e psicológica da criança e 
do adolescente.
Quando há ameaça e/ou violação desses direitos, algum ente (família, 
sociedade ou Estado) é responsabilizado por ação ou omissão dos direitos 
assegurados em Lei. Para que essa responsabilização ocorra, o ECA esta-
belece, no Artigo 98, quatro categorias de violadores: a família, a socie-
dade, o Estado e a própria criança ou o próprio adolescente.
O grupo da família envolve os pais e os responsáveis. Incluem-se 
também nesse grupo os parentes e as pessoas que são próximas da família, 
com livre acesso à convivência familiar. Acerca da família, especifica-
mente no que diz respeito aos pais, o ECA determina que
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação 
dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obri-
gação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.
Art. 249. Descumprir, dolosamente, os deveres inerentes ao pátrio 
poder ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação 
da autoridade judicial ou Conselho Tutelar.
Pena: multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o 
dobro em caso de reincidência (grifo nosso).
O ECA imprime responsabilidades à família no trato com a criança e o 
adolescente, para que os princípios do ECA sejam efetivados na sua totalidade. 
O termo pátrio poder foi retificado pelo Novo Código Civil de 
2002, o qual passa a adotar o termo poder familiar, conforme assinala o 
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 42 –
Art. 1.630 do referido Código: os filhos estão sujeitos ao poder familiar, 
enquanto menores.
Concernente à sociedade e ao Estado, o UNICEF (1998) certifica 
que o Estado compreende todo o setor público em âmbito federal, estadual 
e municipal. Assim como o Estado, a sociedade também está retratada em 
qualquer instituição da esfera pública, como escola, creches, hospitais, 
postos de saúde, de assistência e policial, orfanatos, entre outros. Acerca 
dos direitos fundamentais, que são de responsabilidade do Poder Público, 
o ECA assegura que
7º. A criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à 
saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que per-
mitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em 
condições dignas de existência.
53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao 
pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da 
cidadania e qualificação para o trabalho [...].
Os artigos citados apontam um elenco de direitos cujo propósito é 
garantir o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente.
No que se refere à responsabilidade da sociedade, o ECA estabelece 
no Artigo 245 o seguinte que
Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de 
atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de 
comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conheci-
mento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra 
a criança ou adolescente.
Pena: multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o 
dobro em caso de reincidência. 
Esse artigo do ECA atribui aos profissionais que lidam com a criança 
e o adolescente a responsabilidade de noticiar os casos que envolvam não 
somente a confirmação, mas a suspeita de violência praticada contra a 
criança e o adolescente. 
A criança e o adolescente são especificados pelo ECA como 
violadores de seus direitos “[...] nos casos em que os mesmos tenham se 
comportado de maneira tal que acabem negando seus próprios direitos” 
(UNICEF, 1998, p. 138). Os casos mais comuns estão relacionados ao uso 
– 43 –
Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência 
de drogas e à infrequência na escola. Essa afirmação completa o ciclo dos 
agentes violadores e aponta os casos em que a própria criança e o próprio 
adolescente são violadores dos seus direitos.
Diante do exposto sobre os violadores dos direitos assegurados ao 
conjunto da população infanto-juvenil, o ECA institui que 
É dever de todos velarem pela dignidade da criança e do 
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, 
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor (Art. 18).[...]
É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos 
direitos da criança e do adolescente (Art. 70).
O ECA determina que todo cidadão tem o dever de zelar pelos direi-
tos das crianças e dos adolescentes, inclusive na perspectiva de prevenção 
da violência praticada contra esse segmento, pois os direitos das crianças 
e dos adolescentes são direitos humanos. 
Portanto o ECA é a lei específica que regulamenta e assegura os direi-
tos da criança e do adolescente já garantidos na Constituição Federal de 
1988. É norteado pela Doutrina da Proteção Integral que rompe definiti-
vamente com a Doutrina da Situação Irregular dos Códigos de Menores. 
Considera a criança e o adolescente como sujeitos de direitos e prioridade 
absoluta na formulação de políticas públicas. A família, a sociedade e o 
Estado são os responsáveis legais pela garantia dos direitos da criança e do 
adolescente assegurados pela Constituição Federal de 1988 e pelo ECA. 
Esses direitos são soberanos e não podem ser violados ou ameaçados. No 
entanto sabemos que, constantemente, esses direitos são violados. Assim 
o ECA institui como abertura de defesa e proteção o dever de toda a socie-
dade em denunciar os casos de violação e ameaça desses direitos, como 
forma de ressarcimento e prevenção de qualquer fato que constitua mau-
-trato contra a população infanto-juvenil. 
Para que o ECA possa se traduzir em atendimento efetivo à criança 
e ao adolescente, é necessário que um conjunto de atores assuma suas 
responsabilidades com vistas à proteção e à defesa dos direitos da criança 
e do adolescente. Por isso, no próximo capítulo, conheceremos os órgãos 
que compõem o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adoles-
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 44 –
cente e qual o seu papel na defesa dos direitos garantidos pelo ECA e na 
proteção da criança e do adolescente nos casos de ameaça e/ou violação 
de seus direitos.
Atividades 
1. O ECA regulamenta os direitos da criança e do adolescente asse-
gurados na Constituição Federal de 1988. Descreva a concepção 
de criança e adolescente adotada pelo ECA.
2. O ECA provocou três revoluções que trouxeram mudanças signi-
ficativas para a seara da criança e do adolescente e extrapolou o 
campo jurídico. Sobre as três revoluções, é incorreto afirmar que
a) as revoluções provocadas pelo ECA são mudança de conte-
údo, mudança de método e mudança de gestão.
b) o ECA, com a mudança de conteúdo, concebe a criança 
e o adolescente como objeto de intervenção por parte do 
Estado e da família. 
c) o ECA, com a mudança de método, introduz as garantias 
processuais para o adolescente autor de ato infracional. 
d) o ECA, com a mudança de gestão, introduz um nova divi-
são do trabalho e atribui competências e responsabilidades 
às três esferas de governo (União, Estado e Município) e 
conta ainda com participação da sociedade civil organizada. 
3. Com base no quadro comparativo entre os Códigos de Menores 
e o Estatuto da Criança e do Adolescente, podemos afirmar que 
a) o ECA é instrumento de controle social das crianças e dos 
adolescentes vítimas da omissão da família, da sociedade e 
do Estado em relação aos seus direitos.
b) os Códigos de Menores primavam pelo desenvolvimento 
social voltado para a população infanto-juvenil do país e 
garantiam proteção especial àqueles segmentos considera-
dos pessoal e socialmente vulneráveis. 
– 45 –
Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência 
c) os Códigos de Menores eram centralizadores e autoritários. 
O ECA é descentralizador e aberto à participação da cida-
dania por meio de conselhos paritários. 
d) os Códigos de Menores tratavam da Proteção Integral, isto 
é, da sobrevivência, do desenvolvimento e da integridade 
de todas as crianças e todos os adolescentes.
4. A Constituição Federal de 1988, no Artigo 227, e o Estatuto 
da Criança e do Adolescente, no Artigo 4º, estabelecem que a 
família, o Estado e a sociedade são responsáveis pelo zelo, pela 
defesa e pela garantia dos direitos da criança e do adolescente. 
Sobre os violadores de direitos da população infanto-juvenil, 
podemos afirmar que
a) são a família, a sociedade, o Estado e a própria criança e o 
próprio adolescente.
b) aos pais é incumbido o dever somente pelo sustento, pela 
guarda e pela educação dos filhos menores.
c) o ECA não inclui a criança e o adolescente como violadores 
de seus direitos.
d) o grupo da família envolve somente os pais. 
4
Sistema de Garantia 
dos Direitos da Criança 
e do Adolescente 
Introdução
Caro aluno, neste capítulo, você conhecerá o Sistema de 
Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, instituído 
para exigir o cumprimento dos direitos assegurados pelo ECA. 
O Sistema de Garantia compreende três grandes eixos: promo-
ção, defesa e controle social. É acionado sempre que os direitos 
assegurados na Constituição Federal de 1988 e no ECA para o 
conjunto da população infanto-juvenil forem ameaçados e/ou 
violados. A partir da homologação do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, surgiu um novo tempo na área da infância e adoles-
cência. Foi retirada do juiz de menores a exclusividade do aten-
dimento de questões concernentes à população infanto-juvenil 
e suas famílias. O ECA instituiu o Conselho Tutelar para zelar 
pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente nos 
casos de ameaça ou violação desses direitos. Abordaremos mais 
detalhadamente sobre a finalidade, a importância, as atribuições 
e as competências desse conselho. 
Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente
– 48 –
Você terá um melhor aproveitamento deste capítulo se compreendeu 
o conteúdo apresentado no capítulo 3, no qual trabalhamos o Estatuto da 
Criança e do Adolescente e destacamos a Doutrina da Proteção Integral, as 
revoluções que trouxeram mudanças significativas para a área da criança e 
do adolescente, bem como os violadores dos direitos da criança e do ado-
lescente previstos no ECA. Compreender a dimensão da grande mudança 
de paradigma que o ECA nos apresenta, em que a situação irregular do 
antigo Código de Menores é substituída pelo paradigma de sujeito de direi-
tos se constitui ponto fundamental para o entendimento da importância do 
Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente na concre-
tização dos direitos assegurados em lei e do papel do Conselho Tutelar 
como porta de entrada do Sistema de Garantia para todas as denúncias de 
ameaça e/ou violação dos direitos da criança e do adolescente.
Vamos iniciar os nossos estudos tratando sobre o papel do Sistema 
de Garantia na concretização dos direitos das crianças e dos adolescentes.
4.1 O papel do Sistema de Garantia dos 
Direitos da Criança e do Adolescente 
O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente foi 
instituído a partir da promulgação do ECA para exercer a missão de asse-
gurar que os 267 artigos da Lei n. 8.069 sejam garantidos à população 
infanto-juvenil, sem exceção alguma. Ele atua na defesa dos direitos rela-
tivos à sobrevivência, ao desenvolvimento pessoal e social e à integri-
dade física, psicológica e moral da criança e do adolescente. Dessa forma, 
sempre que os direitos assegurados pela Constituição Federal e pelo ECA 
forem ameaçados e/ou violados, o Sistema de Garantias é acionado, pois 
sua função primordial é viabilizar a proteção, a defesa e a promoção dos 
direitos já conquistados com o ECA. A partir da homologação dessa Lei,
Não se cuida mais de crianças em situação regular ou irregular, mas 
apenas de crianças e de adolescentes que precisam ter seus direitos 
respeitados independente de cor, religião ou da classe social a que 
pertence. O atendimento a necessidades como educação, saúde ou 
lazer deixam de ser favores para se transformarem em direitos a 
serem exigidos e respeitados (NEPOMUCEMO, 2002, p. 145).
– 49 –
Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente 
Nessa perspectiva, o Sistema de

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