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Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente Arely Soares Carvalho Telles Suely Cabral Quixabeira T274p Telles, Arely Soares de Carvalho Políticas sociais: família, criança e adolescente / Arely Soares de Carvalho Telles, Suely Cabral Quixabeira. 134 p.: il. 1. Cidadania - Brasil 2. Administração pública - Brasil I. Quixabeira, Suely Cabral II. Título CDD 323.60981 Sumário Carta ao Aluno | 5 1. História social da criança no Brasil: do período Colonial à década de 1970 | 7 2. Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente | 17 3. Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência | 29 4. Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente | 47 5. A política de atendimento da criança e do adolescente e os Conselhos de Direitos | 61 6. Interfaces da questão social na área da criança e do adolescente | 75 7. Política Nacional de Atendimento da Criança e do Adolescente | 95 Gabarito | 111 Referências | 127 Prezado(a) aluno(a), Você está recebendo o material referente à disciplina Polí- ticas Sociais - Família, Criança e Adolescente. O conteúdo está organizado em sete capítulos. Queremos convidá-lo à discussão sobre a política de aten- dimento à criança e ao adolescente enquanto área de atuação do assistente social. Faremos, inicialmente, uma contextualização sobre a evolução histórica dos direitos da criança e do adoles- cente desde o período Colonial à década de 1970 com a insti- tuição do Código de Menores de 1979. Esse código tem como fundamento jurídico e social a Doutrina da Situação Irregular, que considera a criança e o adolescente como objetos de inter- venção por parte do Estado nas situações de carentes, abandona- dos, inadaptados e infratores. Carta ao Aluno – 6 – Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente Conheceremos a luta da sociedade civil organizada no período da promulgação da Constituição Federal de 1988 em prol da defesa dos direi- tos da criança e do adolescente, que tem como fundamento a Doutrina da Proteção Integral das Nações Unidas. A referida doutrina considera a criança e o adolescente como prioridade absoluta, pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e como sujeitos de direitos. A Constituição Federal de 1988 é considerada uma Constituição Cidadã para as crianças e os adolescentes brasileiros ao adotar o paradigma da proteção integral e romper definitivamente com o paradigma da situação irregular. Discutiremos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei específica que regulamenta os direitos da população infanto-juvenil asse- gurados pela Carta Magna de 1988. Discutiremos ainda a política de aten- dimento e conheceremos os mecanismos de promoção, defesa e proteção dos direitos da criança e do adolescente garantidos pelo ECA. Por fim, faremos uma discussão sobre as interfaces da questão social na área da criança e do adolescente, como a violência doméstica e o trabalho infantil. Desejamos a você um bom estudo sobre a política da criança e do adolescente. Às autoras. 1 História social da criança no Brasil: do período Colonial à década de 1970 Introdução Caro estudante, neste capítulo, você fará uma contextuali- zação histórica da emergência da questão da infância no Brasil desde o período Colonial até a década de 1970. Abordaremos a primeira política voltada para a criança, a Roda dos Expostos, que acolhia as crianças abandonadas, as legislações primárias, como a Constituinte de 1825, que se referia à criança negra. Conheceremos a Doutrina da Situação Irregular, que norteava os Códigos de Menores e que defendia a concepção de criança e adolescente como menores em situação irregular nas condições de carentes, abandonados, inadaptados e delinquentes. Para fina- lizar o capítulo, você refletirá sobre a doutrina que considerava a criança e o adolescente como objetos de intervenção por parte do Estado e não como sujeitos de direitos. Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 8 – Para melhor compreensão desses conteúdos, você deve retomar a dis- cussão do capítulo 2 da disciplina Introdução ao Serviço Social, que trata sobre o mercado de trabalho para o assistente social e traz como possibili- dade de atuação a área da criança e do adolescente, que é o objeto de dis- cussão desta disciplina. Essa revisão é necessária visto que, nessa disciplina, você teve o primeiro contato com a discussão sobre a área da criança. Este capítulo possibilitará a você conhecer a história social da criança desde o período Colonial até a criação dos Códigos de Menores para compreender o significado social da luta em prol dos direitos dessa população. Iniciaremos com a situação da criança e do adolescente no período Colonial. 1.1 A emergência da questão da criança no Brasil Desde o período Colonial até a sociedade atual, a política social refe- rente aos direitos da criança e do adolescente vem passando por constantes transformações, as quais merecem uma retrospectiva. Essa retrospectiva tem o objetivo de fazer você compreender os avanços conquistados na contemporaneidade na área da infância e adolescência. Segundo Faleiros (1995), no Brasil Colônia, os padres jesuítas se pre- ocupavam com as crianças índias no sentido de batizá-las e incorporá-las ao trabalho. Nessa época, os portugueses castigavam e matavam índios. Para enfrentar essa situação, os padres jesuítas criaram a casa de recolhi- mentos para as crianças índias que ficavam sem os seus pais. Essas crian- ças eram separadas da sua comunidade e recebiam ensinamentos sobre os costumes e as normas do cristianismo. O objetivo era propiciar a elas uma visão cristã. Ainda no período Colonial, a política social elementar adotada no Brasil, para atender às questões envolvendo crianças, foi a roda dos expostos, que “[...] foi uma das instituições brasileiras de mais longa vida, sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa história”: colonial, impe- rial e republicano (MARCÍLIO, 2003, p. 53). Esse sistema teve sua gênese na Europa medieval, era de cunho missionário e seu alvo era a assistência sob a égide da caridade. Marcílio (2003, p. 54) informa que O sistema de rodas de expostos foi inventado [...] para garantir o anonimato do expositor e assim estimulá-lo a levar o bebê que – 9 – História social da criança no Brasil: do período Colonial à década de 1970 não desejava para a roda em lugar de abandoná-lo pelos caminhos, bosque, lixo, porta de igrejas ou casas de família, como era o cos- tume na falta de outra opção. Com base na afirmação do autor, podemos observar que a roda dos expostos foi criada para diminuir o índice de abandono de crianças nas ruas, uma vez que garantia o anonimato dos responsáveis. Era comum, nessa época, mães abandonarem seus filhos devido serem mães solteiras e não terem o apoio da família e da sociedade. Assim, ao invés de abando- nar as crianças nas ruas, deixavam-nas na roda dos expostos. A roda dos expostos era um cilindro oco de madeira, giratório, onde as crianças enjeitadas eram colocadas. Essas rodas eram instaladas nos muros das construções de famílias abastadas, conventos ou instituições públicas. Acreditava-se que, com isso, haveria diminuição do índice de morte por abandono. Durante toda a história do sistema de rodas no Brasil, foram criadas 13 instituições. As três primeiras emergiram no século XVIII, a primeira na cidade de Salvador, em 1726, a segunda no Rio de Janeiro, em 1738, e a terceira em Recife, em 1789. Essa política social teve vida longa no país, permaneceu em São Paulo até 1948 e só foi extinta definitivamente em 1950. Conforme Marcílio (2003), para extinguir a política das rodas de expostos no Brasil, contou-se com o apoio e a adesão dos juristas. Eles começaram uma mobilização em prol da elaboração de leis que proteges- sem as crianças abandonadas e, também, corrigir os problemas sociais concernentes à adolescênciainfratora que, naquela época, já estava inco- modando a sociedade. A legislação primária que tratou assuntos envolvendo crianças foi a Constituinte de 1825, a qual enfocava a situação das crianças negras. A referida Lei assegurava, em suas linhas, o direito da mãe (escrava) de ter um mês de resguardo e, no decorrer de um ano após o parto, trabalhar com o filho ao seu lado. Essa atenção com a mãe e com a criança negra tinha uma finalidade maior do que a defesa do direito da criança, pois [...] “antes o que se pretendia era zelar por aquela que constituiria em breve força de trabalho gratuito: o escravo” (VERONESE 1997, p. 10). Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 10 – Após cinco décadas, por meio do movimento em defesa da abolição da escravatura, foi decretado a Lei do Ventre Livre, em 1871. Essa Lei garantia uma indenização por parte do Estado aos proprietários de escra- vos para libertar as crianças negras, entretanto os pais continuavam sob o regime escravocrata. Por fim, é decretada a abolição dos escravos, em 1888, mediante a Lei Áurea, que extingui um sistema que perdurou por mais de um século no Brasil. Em 1889, ocorreu a Proclamação da República. Nessa época, pre- dominava a omissão do Estado, e a infância abandonada passou a ser a preocupação de higienistas (representados pelos médicos) e filantropos que, “preocupados com a saúde da espécie e com a preservação da raça humana, propunham uma intervenção no meio ambiente, nas condições higiênicas das instituições e das famílias” (FALEIROS, 1995, p. 21). Os médicos, preocupados com a mortalidade infantil, sugerem a inspeção escolar e a criação de creches em substituição às Rodas dos Expostos. Os menores também eram preocupação dos juristas, dos advogados, dos desembargadores, que propuseram a criação dos tribunais especiais e casas correcionais para atender aos menores em situação irregular. Em 1902, o Congresso Nacional começou a discutir a situação dos menores abandonados e delinquentes. Em 1923, foi autorizada a criação do Juizado de Menores. Somente no início do século XX os juristas passaram a ser os principais pro- tagonistas desse movimento com a criação dos Códigos de Menores. Vamos agora conhecer o sistema sociojurídico da Doutrina Situação Irregular que norteava os Códigos de Menores. 1.2 Códigos de Menores e a Doutrina da Situação Irregular Em 1927, foi promulgado o primeiro Código de Menores do Uruguai (Lei n. 17.943) chamado de Código de Menores Melo Matos, homena- gem ao primeiro Juiz de Menores da América Latina. Ele criou um conjunto de instituições apoiadas e administradas pelo Poder Judiciário como, por exemplo, alguns abrigos para menores. O Código de Menores se expandiu por toda a América Latina e permaneceu no Brasil durante 60 anos. – 11 – História social da criança no Brasil: do período Colonial à década de 1970 Em 1979, o Código de Menores Melo Matos (Lei n. 17.943) sofreu uma reformulação e foi substituído pela Lei n. 6.698 que é norteada pela Doutrina da Situação Irregular. Essa Lei não se dirigia ao conjunto da população infanto-juvenil, era somente para os menores considerados em situação irregular. Ela defendia um paradigma de concepção da criança e do adolescente como menores carentes, abandonados, inadaptados e delinquentes. Costa (2006, p. 14) especifica o significado dos tipos de menores defendidos pelo Código. Vejamos. 1. carentes – menores em perigo moral em razão da manifesta incapacidade dos pais para mantê-los; 2. abandonados – menores privados de representação legal pela falta ou ausência dos pais ou responsáveis; 3. inadaptados – menores em grave desajuste familiar ou comunitário; 4. infratores – menores autores de infração penal (grifo do autor). Essas quatro situações listadas pelo Código de Menores, na concep- ção do autor, tiveram como resolução a intervenção do Juizado de Meno- res. Com a Doutrina da Situação Irregular, crianças e adolescentes pas- saram a ser considerados como objetos de intervenção jurídico-social do Estado. Assim o Estado passou a intervir por meio de ações paternalistas, nos casos de carência e abandono, e de ações repressivas, nos casos de inadaptação e infração. Saiba mais O sítio <http://diviliv.blogspot.com/2007/10/lei-n-66971979-cdigo-de- -menores.html> trata de pesquisas sobre direito da família. Nele, você encontrará o Código de Menores de 1979 na íntegra. Acesse o sítio e leia-o para melhor compreender a Doutrina da Situação Irregular - dou- trina sociojurídica que norteou a lei. O Código de Menores “[...] não considerava que crianças e adoles- centes que, por algum motivo ficavam sob a proteção do Estado, fossem sujeitos de direitos [...]” (UNICEF, 1998, p. 152). O código de 1979 preo- cupou-se apenas com o binômio proteção (para carentes e abandonados) Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 12 – e vigilância (para os inadaptados e infratores), contribuindo para a ela- boração de uma Política Nacional do Bem-Estar do Menor (PNBEM). Veronese (1997) destaca que o Código de 1979 contribuiu incisiva- mente para a consolidação de uma Lei que considerava a criança e o ado- lescente como menor em situação irregular, por se tratar de pessoas mate- rialmente em perigo moral, desassistidos juridicamente e com desvio de condutas. Assim toda criança e adolescente enquadrados nessas caracterís- ticas eram recolhidos e levados para o juiz de menor, o qual os mandava para a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM). Essa ins- tituição propiciou a criação da Fundação Estadual de Bem-Estar do Menor (FEBEM) em vários Estados da Federação. Costa (2006, p. 15) expõe que O lado mais perverso de tudo isso reside no fato de que os meca- nismos normalmente utilizados para o controle do delito (polícia, justiça, redes de internação) passaram a ser utilizados em estraté- gias voltadas para o controle social da pobreza e das dificuldades pessoais e sociais de crianças e adolescentes problemáticos, mas que não chegaram a cometer nenhum delito. Podemos concluir, a partir da afirmação do autor, que todas as crian- ças e os adolescentes considerados em situação de risco pessoal, social e econômico estavam sujeitos à intervenção judicial. O juiz tinha o poder de decidir o destino dos menores, pois era o responsável pelos interesses e, quando necessário, aplicava medidas de internação, colocação em famí- lia substituta, adoção, punição aos pais ou aos responsáveis. Para Costa (2006, p. 15), essa realidade representa “o ciclo perverso da instituciona- lização compulsória - apreensão, triagem, rotulação, deportação e confi- namento”. Vejamos como o autor conceitua cada uma dessas situações. 1. APREENSÃO: qualquer criança ou adolescente encontrado nas ruas em situação considerada de risco pessoal e social [...] poderia e deveria ser apreendido e conduzido à presença da autoridade res- ponsável, ou seja, do juiz de menores; 2. TRIAGEM: [...] Encaminhar o menor a um centro de triagem (obser- vação), a fim de que ali se procedesse ao competente estudo social do caso, ao exame médico e à elaboração do laudo psicopedagógico; 3. ROTULAÇÃO: [...] Enquadramento da criança e do adoles- cente em uma das subcategorias da situação irregular (carente, abandonado, inadaptado ou infrator) [...]; – 13 – História social da criança no Brasil: do período Colonial à década de 1970 4. DEPORTAÇÃO: [...] Como a família, na maioria dos estudos de caso, aparece como frágil e vulnerável em termos socioeconômi- cos e morais, a decisão mais comum era o afastamento do menor para longe do continente afetivo de seu núcleo familiar e das vin- culações socioculturais como seu meio de origem; 5. CONFINAMENTO: a medida de internação era aplicada indistintamente a menores carentes, abandonados, inadaptados e infratores. A única diferença é que estes últimos cumpriam sua “medida” em estabelecimento especializado, ou seja, dota- dos de maiores índices de contenção e segurança (COSTA,2006, p. 15-16). As situações expostas pelo autor demonstram o que representava o ciclo perverso da institucionalização compulsória para as crianças e os adolescentes enquadrados como menores em situação irregular. Esse ciclo violava o direito à liberdade das crianças e dos adolescentes consi- derados em situação irregular. Violava também o direito do devido pro- cesso, isto é, o direito de as crianças e os adolescentes terem um advo- gado que os defendesse. A Doutrina da Situação Irregular se dirigia apenas para o conjunto das crianças e dos adolescentes considerados menores em situação irregu- lar e não para o conjunto da população infanto-juvenil. A legislação para os menores visava, sobretudo, a exercer o controle social do delito e, com isso, controlar as mazelas sociais geradas pela imensa desigualdade social advinda da concentração de renda no Brasil. Ao invés de se garantirem políticas sociais básicas, como educação, saúde, esporte, cultura para a população infanto-juvenil pobre do país, o que se garantia era um trata- mento de segregação e repressão. A solução do problema era sempre o afastamento dessa população do convívio familiar e social. A realidade provocada pelos Códigos de Menores culminou em luta ético-política mundial em prol dos direitos das crianças e dos adolescentes na década de 1980 e contribuiu para a criação de grupos e organizações da socie- dade civil que passaram a defender os interesses da infância e da adolescência em vulnerabilidade social, que sofriam de todas as formas de maus-tratos. Portanto analisamos, neste capítulo, a história social da criança e do adolescente desde 1500 até a criação dos Códigos de Menores, que tra- tavam a criança e o adolescente como objetos e não sujeitos de direito. Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 14 – O tratamento constrangedor, violento e vexatório dispensado à criança e ao adolescente com as políticas públicas implementadas para atender às exigências legais impostas pelos Códigos de Menores provocou a indig- nação da sociedade civil organizada, que encampou um luta nacional para romper com a Doutrina da Situação Irregular dos Códigos de Menores. No próximo capítulo, conheceremos a contextualização histórica da luta da sociedade civil em prol dos direitos da população infanto-juvenil e a conquista do Artigo 227 da Constituição Federal de 1988. Atividades 1. A política social elementar adotada no Brasil, para atender às questões envolvendo crianças, foi a roda dos expostos, criada ainda no período Colonial. Aponte a gênese, o cunho, o público- -alvo e a finalidade dessa política. 2. A legislação primária, ao tratar de assuntos envolvendo crianças, foi a Constituinte de 1825. Os direitos conquistados nessa Cons- tituinte são a) direito da mãe (escrava) de ter um mês de resguardo e, no decorrer de um ano após o parto, trabalhar com o filho ao seu lado. b) direito da mãe (escrava) de ter quatro meses de resguardo e, no decorrer de um ano após o parto, trabalhar com o filho ao seu lado. c) garantia de uma indenização por parte do Estado aos pro- prietários de escravos para libertar as crianças negras, entretanto os pais continuavam sob o regime escravocrata. d) abolição dos escravos, em 1888, extinguindo um sistema que perdurou por mais de um século no Brasil. 3. Os Códigos de Menores não se dirigiam ao conjunto da popula- ção infanto-juvenil, somente aos menores considerados em situ- ação irregular. Para os Códigos de Menores, são considerados em situação irregular os menores – 15 – História social da criança no Brasil: do período Colonial à década de 1970 a) carentes, meninos de rua, com desvio de conduta e delin- quentes. b) carentes, meninos de rua, inadaptados e delinquentes. c) carentes, abandonados, inadaptados e delinquentes. d) carentes, abandonados, com desvio de conduta e delinquentes. 4. Sobre o ciclo perverso da institucionalização compulsória tradu- zida nas situações de apreensão, triagem, rotulação, deportação e confinamento, podemos afirmar que: I. referente à apreensão, qualquer criança ou adolescente encontrado nas ruas em situação considerada de risco pessoal e social deveria ser apreendida(o) e conduzida(o) à presença da autoridade responsável: o juiz de menores; II. a triagem se referia ao enquadramento da criança e do adolescente em uma das subcategorias da situação irre- gular (carente, abandonado, inadaptado ou infrator); III. a rotulação consistia no encaminhamento do menor a um centro de triagem (observação) para a realização de estudo social do caso, exame médico e elaboração do laudo psicopedagógico; IV. a deportação se refere ao afastamento do menor para longe do continente afetivo de seu núcleo familiar e das vinculações socioculturais como seu meio de origem; V. o confinamento consistia na medida de internação, que era aplicada indistintamente aos menores carentes, abandonados, inadaptados e infratores. Estão corretas, apenas, as afirmativas a) I, IV e V. b) I, II e V. c) II, III e IV. d) II e IV e V. 2 Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente Introdução Caro aluno, neste capítulo, você conhecerá a luta da socie- dade civil para assegurar, na Constituição Federal de 1988, os direitos da criança e do adolescente e romper definitivamente com os Códigos de Menores. Verá quais os movimentos sociais que tiveram destaque nessa luta, como: Movimento de Meninos e Meninas de Rua (MMMR), Movimento de Defesa dos Direi- tos da Criança e do Adolescente (MDDCA) e o Fórum Nacional Permanente dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum DCA). Todos esses movimentos encamparam uma luta em prol da população infanto-juvenil, no período de construção da Carta Magna de 1988, os quais defendiam que a criança e o adoles- cente eram prioridade absoluta e sujeitos de direitos. Conheceremos, ainda, os tratados internacionais que garan- tem os direitos humanos da criança e do adolescente: a Declara- ção de Genebra, a Declaração Universal dos Direitos da Criança e a Convenção sobre os Direitos da Criança. A Constituição Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 18 – Federal de 1988 segue os princípios da proteção integral estabelecidos nos tratados internacionais. Para entender o processo de organização e o papel da sociedade civil na luta pela defesa dos direitos da criança e do adolescente marcados pela Constituição Federal de 1988 e conhecer os tratados internacionais de garantia dos direitos da criança e do adolescente, você precisa considerar a história social da criança desde o período Colonial até a década de 1970, a instituição dos Códigos de Menores, assunto trabalhado no capítulo 1. Iniciaremos com a análise da luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente na década de 1980. 2.1 A luta dos movimentos sociais A década de 1980 foi o divisor de águas na história de lutas em prol dos direitos das crianças e dos adolescentes brasileiros. Três movimentos sociais, liderados pela sociedade civil, tiveram uma participação impres- cindível na disseminação do processo de ruptura da visão de criança e adolescente como menor carente e abandonado em situação irregular (doutrina defendida pelos Códigos de Menores). Nessa perspectiva, o UNICEF (1998, p. 152) salienta que No Brasil a década de 80 foi profundamente marcada por intensas mobilizações populares em defesa de causas e direitos de cunho social para crianças e adolescentes, na medida em que era ampla- mente difundida a existência de milhões de crianças carentes, desassistidas ou abandonadas. As mobilizações populares realizadas na década de 1980, mencionadas na citação, foram incisivas para as conquistas de direitos da criança e do ado- lescente ao passo que denunciavam o tratamento dispensado à criança e ao adolescente pela Doutrina da Situação Irregular, doutrina sociojurídica que fundamentava os Códigos de Menores. Essasmobilizações tinham como finalidade romper definitivamente com os Códigos de Menores a partir da inserção dos direitos da criança e do adolescente na Carta Magna de 1988. Os movimentos que tiveram fundamental importância, nas mobili- zações em prol da defesa dos direitos da população infanto-juvenil, foram o Movimento de Meninos e Meninas de Rua (MMMR), o Movimento de – 19 – Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (MDDCA) e o Fórum Nacional Permanente dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum DCA). Esses movimentos defendiam que a criança e o adolescente deve- riam ser reconhecidos e valorizados como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e necessitavam de atenção e cuidados especiais. Todos esses movimentos foram constituídos por organizações não- -governamentais (ONGs), que tinham como finalidade lutar contra as for- mas de violência e as péssimas condições de tratamento de crianças e adolescentes (considerados como “menores”). As formas de violência e as péssimas condições de tratamento de crianças e adolescentes ocorriam principalmente nas unidades da FEBEM, pois “entidades e profissionais que lidavam com este menor apontavam o Código de Menores e a PNBEM como os responsáveis pelo abandono e pela violência com que eram tratados no Brasil” (UNICEF, 1998, p. 152). O MMMR emergiu no Brasil em 1985 e foi a primeira organização a trabalhar em nível nacional com a questão dos meninos e das meninas de rua. Durante o processo constituinte, “[...] teve intensa participação, sem- pre denunciando o tratamento brutal que era dado a crianças e adolescen- tes em várias regiões do país” (GONH, 2003, p. 119). Sua principal meta de trabalho, na década de 1980, foi o combate às práticas de extermínio da população infanto-juvenil que vivia na rua. Saiba mais Para você conhecer um pouco mais sobre o papel dos movimentos sociais na defesa dos direitos da criança e do adolescente, a partir do trabalho realizado pelo Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, assista ao documentário Ônibus 174, de José Padilha. O documentário retrata a trajetória de Sandro do Nascimento, que sequestrou o ônibus 174, em 12 de junho de 2000, no Rio de Janeiro. Esse documentário retrata a realidade de vida de Sandro que o levou para a vida do crime na sua infância. Sandro é um dos sobreviventes da chacina dos meninos da Igreja da Candelária, também no Rio, em 1993. O documentário também traz um depoimento da assistente social do Movimento MNMMR que acompanhava o grupo de meninos da chacina. Boas reflexões! Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 20 – A bandeira de luta do MMMR alcançou uma amplitude internacio- nal por meio da sensibilização de ONGs internacionais, que lutavam pela defesa dos Direitos Humanos e, assim, Com o propósito muito claro de lutar por direitos e cidadania para crianças e adolescentes, o MMMR começa a denunciar a violência institucionalizada, provocada pela estrutura social caracterizada na omissão completa por parte do Estado em relação às políticas sociais básicas, enfatizando, porém, a violência exercida pelos aparatos de repressão e controle do Estado: policiais e delegacias de polícia (MMMR citado por GONH, 2003, p. 119). A partir dessa luta, o MMMR organizou o I Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua, do qual resultou a elaboração de dois pro- jetos. Um desses projetos foi de sua responsabilidade, no tocante aos meninos e às meninas de rua em situação de violência, e o outro sob a responsabilidade do UNICEF, com o título de Programa de Redução da Violência. Ambos os projetos caminhavam na mesma direção e tinham como finalidade precípua estudar a questão da violência que maltratava crianças e adolescentes, com vistas à elaboração de políticas sociais para o combate dessa problemática. O MDDCA foi um movimento social que, na década de 1980, mar- chou incansavelmente rumo à conquista de uma sociedade justa e cidadã para a população infanto-juvenil no processo de construção da Consti- tuição Federal de 1988. Esse movimento nasceu da união de diversos segmentos da sociedade civil e política a partir de inúmeras denúncias de maus-tratos envolvendo crianças e adolescentes, no que se refere às prisões ilegais, tortura e assassinatos. O objetivo maior desse movimento era sensibilizar a sociedade brasileira para a situação de violência contra a população infanto-juvenil. Segundo Gonh (2003), para encampar essa luta, o MDDCA teve como atores básicos diferentes setores sociais, como agentes que traba- lhavam diretamente em instituições públicas e particulares com crianças e adolescentes, membros de ONGs, sindicatos, partidos políticos, técnicos sociais e assessores de entidades, ONGs internacionais, entre outros. E assim o MDDCA emergiu no cenário brasileiro nos anos de 1986 e 1987, anos que antecederam a homologação da Carta Magna. – 21 – Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente Considerando o exposto, podemos dizer que a década de 1980 teve como marco (na área da infância e adolescência) a reivindicação da ado- ção do direito da criança e do adolescente na Constituição Federal de 1988, lei maior do Brasil, que foi elaborada com intensa participação popular (UNICEF 1995). O Artigo 227da Constituição Federal dispõe que É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação à educação, ao esporte, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligên- cia, discriminação, exploração, crueldade e opressão. O princípio da prioridade absoluta e os direitos assegurados à criança e ao adolescente no Artigo 227 da Constituição Federal de 1988 estão fundamentados na Doutrina da Proteção Integral das Nações Unidas que fundamenta a Convenção Internacional dos Direitos da Criança. Ressal- tamos que a Carta Magna de 1988 foi promulgada antes da aprovação da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, a qual só foi aprovada em 20 de novembro de 1989 pela a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). A Convenção vinha sendo discutida desde 1979, e as pessoas que redigiam a emenda popular Criança Prioridade Absoluta criaram o texto do Artigo 227 da Constituição Federal de 1988 com base nos princípios da Convenção. A adoção dos princípios norteadores da Convenção só foi possível devido à luta dos movimentos sociais para incorporar à Constituição os princípios defendidos pela Convenção, baseados na Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959. Após a promulgação da Constituição de 1988, surgiu um novo movimento social no Brasil, o Fórum DCA, o qual é um apêndice do MDDCA. O Fórum nasceu do I Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua, em março de 1988, articulado pelo MMMR. Nele se reuniram diversas entidades não-governamentais que participavam da campanha Criança Prioridade Nacional, a qual defendia a inserção dos direitos da população infanto-juvenil na Constituição de 1988. O objetivo do Fórum era criar uma frente permanente de luta na defesa dos direitos da criança e Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 22 – do adolescente, envolvendo diferentes atores sociais que atuavam direta e indiretamente com essa população. De acordo com o UNICEF (1998), o Fórum DCA era integrado por entidades não-governamentais com atuação em âmbito nacional na área de promoção e defesa dos direitos da população infanto-juvenil. Firmou- -se como uma importante organização não-governamental de luta em prol dos direitos das crianças e dos adolescentes. Seu objetivo era assegurar os direitos já conquistados em lei e contribuir para regulamentá-los legal- mente no país por meio da criação deuma Lei específica em favor da infância e da adolescência, o que resultou na criação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n. 8.069). As principais entidades de destaques no Fórum DCA foram: 2 Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua 2 Pastoral do Menor (CNBB) 2 Frente Nacional de Defesa da Criança e do Adolescente 2 Articulação Nacional dos Centros de Defesa de Direitos 2 Coordenação dos Núcleos de Estudos Ligados às Universidades 2 Sociedade Brasileira de Pediatria 2 Associação Brasileira de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA) 2 Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) A participação brilhante e decisiva da sociedade civil na conquista de direitos foi importante mediante a construção de uma Constituição Cidadã para a criança e o adolescente. A partir dessa época, nasceu “[...] um tempo em que criança é e vive como sujeitos de direitos” (BRASIL, 2002b, p. 26), surgindo, assim, um conceito de cidadania na área da infância e da adolescência. É importante entendermos que toda essa luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do ado- lescente, no Brasil, teve como fundamento os tratados internacionais de garantia de direitos para a população infanto-juvenil. Então vamos conhecer esses tratados. – 23 – Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente 2.2 Direitos humanos das crianças e dos adolescentes: tratados internacionais Toda a caminhada histórica sobre os direitos da criança teve início com a Declaração de Genebra, que foi redigida pela União Internacional Save the Children, em 1923. Essa declaração continha os princípios bási- cos da proteção à infância. Após a 2ª Guerra Mundial, em abril de 1946, foi instituída a Organização das Nações Unidas (ONU) que aprovou uma declaração sobre os direitos da criança, que segue os princípios da Decla- ração de Genebra. A ONU criou um mecanismo de ajuda multilateral à infância, o UNI- CEF (Fundo Internacional de Emergência para as Crianças – United Nations Internacional Children’s Emergency Fund), estabelecido pela Assembleia Geral da ONU em 1946 e, em 1953, transformado em Agência Especiali- zada do Sistema da ONU para auxiliar a infância carente do terceiro mundo. A Declaração sobre os Direitos da Criança permaneceu como marco refe- rencial, inclusive para o trabalho da UNICEF, por trinta anos. Em 10 de dezembro de 1948, a ONU instituiu a Declaração Uni- versal dos Direitos Humanos. Costa e Duarte (2004, p. 52) afirmam que Essa Declaração é hoje o pilar fundamental dos Direitos Humanos, em todo o mundo, e todos os demais instrumentos da normativa internacional, nesse campo, estão direta ou indiretamente a ela referidos. Conforme afirmam os autores, a Declaração Universal dos Direitos Humanos se tornou o pilar fundamental dos direitos humanos e o motivo foi à aprovação unânime que ela teve de 48 Estados. A Declaração consi- derou, no seu preâmbulo, que a criança tinha falta de maturidade física e mental. Assim, na esteira da Declaração dos Direitos Humanos, foram sinalizados vários projetos de humanidade, e um deles foi a garantia de direitos humanos para as crianças e os adolescentes. Sob o ponto de vista jurídico, a Declaração Universal dos Direitos Humanos não tinha poder para obrigar os Estados signatários a respeita- rem e cumprirem o documento. Para viabilizar o cumprimento dos direi- tos assegurados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, foram instituídas duas convenções: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 24 – Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Cul- turais, aprovados, em 1966, pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Sobre esses documentos, Costa e Duarte (2004, p. 53) asseveram que, Por meio do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, cada um dos estados que nele tomaram parte, compromete-se a respeitar e assegurar a todos os indivíduos – no espaço de seu ter- ritório e sem qualquer distinção quanto à raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião, origem nacional ou social - todos os direitos reconhecidos naquela convenção. [...] De forma semelhante o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais inclui basicamente todos os direitos proclamados pela Declaração Universal, como o direito ao trabalho em condições justas e favo- ráveis; o direito à organização sindical, à seguridade social, a um padrão de vida adequado, incluindo o acesso à saúde, à educação, à ciência e à cultura. Podemos observar que o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ao contrário da Declaração, obrigam legalmente os Estados signatários a cumprirem todos os direitos assegurados pela Declaração que foram inseridos nesses documentos. Para garantir com maior legali- dade os direitos da criança, em 1979, a Assembleia Geral da ONU apro- vou a ideia de se proceder, de imediato, a elaboração de um projeto que viesse dar efeito jurídico e força obrigatória aos direitos específicos da criança. Para tanto, em 20 de novembro de 1989, foi aprovada a Con- venção sobre os Direitos da Criança, o qual contava com 195 adesões e ratificações e entrou em vigor em 2 de setembro de 1990. A Convenção sobre os Direitos da Criança reconhece, pela primeira vez, a criança como sujeito de direito. Esse novo instrumento da normativa internacional responsabiliza juridicamente os Estados-membros por suas ações no que diz respeito aos direitos da criança. Exige um compromisso legal, por parte dos Estados, de aceitar o que está enunciado em seu conteúdo e de assumir os deveres e as obrigações que a Convenção determina. Os destinatários da cobertura da Convenção são todas as pessoas menores de 18 anos. A Convenção tem como regra básica que as crian- ças e os adolescentes tenham todos os direitos que são facultados aos – 25 – Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente adultos e que sejam aplicáveis à sua idade. Assegura também à criança os direitos especiais em decorrência da sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. A Convenção reconhece que a criança, para o pleno e harmonioso desenvolvimento de sua personalidade, deve crescer no seio da família, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão. Esse reconhecimento é respaldado pela Declaração de Direitos da Criança de 20 de novembro de 1959, que já considerava que a criança tem falta de maturidade física e mental e, por isso, necessita de proteção e cuidados especiais e ainda proteção legal, antes e após o seu nascimento. A Convenção reconhece também que, em todos os países, existem crianças vivendo sob condições de vulnerabilidade, excepcionalmente, difíceis, e que essas crianças necessitam de consideração especial. Para tanto, “[...] assegura as duas prerrogativas maiores que a sociedade e o Estado devem conferir à criança e ao adolescente, para operacionalizar a proteção de seus Direitos Humanos: cuidados e responsabilidades” (BRA- SIL, 2006, p. 24). É proclamada reiteradamente a primazia do interesse fundamental da criança como prioridade absoluta. A Convenção reconhece o valor intrínseco da criança enquanto pes- soa humana em condição peculiar de desenvolvimento e o seu valor pro- jetivo, uma vez que é portadora do futuro, da continuidade da sua família e de seu povo. A partir desse reconhecimento, a Convenção garante que a criança é titular de direitos individuais, como a vida, a liberdade, a digni- dade, e também de direitos coletivos, como direitos econômicos, sociais e culturais. Portanto a década de 1980 é reconhecida como o divisor de águas para as crianças e os adolescentes do Brasil por meio do êxito alcançado pelos movimentos sociais com a inserção dos direitos da criança e do ado- lescente na Constituição Federal de 1988 com a conquista do Artigo 227. A Doutrina daProteção Integral, fundamento sócio-jurídico dos tratados internacionais, é que consubstancia e referencia os instrumentos jurídicos nacionais de promoção, defesa e garantia dos direitos da criança e do ado- lescente no Brasil: Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 26 – No próximo capítulo, você conhecerá os princípios norteadores do ECA, bem como a nova concepção de criança e adolescente defendida por esse Estatuto. Conheceremos as três revoluções instituídas pelo ECA para o rompimento com a Doutrina da Situação Irregular dos Códigos de Menores: mudança de conteúdo, mudança de método e mudança de gestão. Atividades 1. A década de 1980 é considerada como o divisor de águas em prol da luta pelos direitos da criança e do adolescente. Três movimentos liderados pela sociedade civil organizada tiveram fundamental importância nessa luta. Aponte quais são esses movimentos e o trabalho desenvolvido por cada um deles. 2. Sobre os movimentos sociais que se destacaram na defesa dos direitos da população infanto-juvenil, na década de 1980, pode- mos afirmar que a) todos os movimentos foram constituídos por Organizações Governamentais e Não-Governamentais (ONGs). b) os movimentos tiveram uma participação imprescindível no processo de consolidação da visão da criança e do adolescente como menor carente e abandonado em situação irregular. c) a finalidade dos movimentos sociais era lutar para efetivar a Política Nacional de Bem-Estar do Menor e, assim, contribuir efetivamente para a implantação das unidades da FEBEM. d) os movimentos sociais lutaram para incorporar à Constitui- ção Federal de 1988 os princípios defendidos pela Conven- ção dos Direitos da Criança de 1989, baseados na Declara- ção Universal dos Direitos da Criança de 1959. 3. A luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente no Brasil teve como base os tratados internacionais de garantia de direitos para a população infanto-juvenil. Quais são esses tratados? – 27 – Década de 1980: a luta da sociedade civil em prol dos direitos da criança e do adolescente a) A Declaração de Genebra, a Declaração Universal dos Direi- tos da Criança e a Convenção sobre os Direitos da Criança b) A Declaração de Genebra, a Declaração Universal dos Direi- tos da Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente c) A Declaração Universal dos Direitos da Criança, a Conven- ção sobre os Direitos da Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente d) A Declaração de Genebra, o Estatuto da Criança e do Ado- lescente e a Convenção sobre os Direitos da Criança 4. Em 20 de novembro de 1989, foi aprovada a Convenção sobre os Direitos da Criança que reconhece, pela primeira vez, a criança como sujeito de direito. Sobre a Convenção, podemos afirmar que: I. sua regra básica é que as crianças e os adolescentes não tenham todos os direitos que são facultados aos adultos, somente os direitos especiais em decorrência da sua con- dição peculiar de pessoa em desenvolvimento; II. reconhece que a criança, para o pleno e harmonioso desen- volvimento de sua personalidade, deve crescer no seio da família, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão; III. reconhece o valor intrínseco da criança enquanto pessoa humana em condição peculiar de desenvolvimento e o seu valor projetivo, uma vez que é portadora do futuro, da continuidade da sua família e de seu povo; IV. garante que a criança é titular de direitos individuais, como a vida, a liberdade, a dignidade e também de direitos cole- tivos, como direitos econômicos, sociais e culturais. Estão corretas, apenas, as afirmativas a) I, II e III. b) II, III e IV. c) I, III e IV. d) I, II e IV. 3 Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência Introdução Caro aluno, neste capítulo, você conhecerá aspectos rele- vantes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que introduz na sociedade brasileira uma nova concepção de criança e de adolescente. Conforme preconiza o ECA, a criança e o ado- lescente são cidadãos de direitos e prioridade absoluta. O ECA é sustentado pelos princípios da Doutrina da Proteção Integral das Nações Unidas, que rompem definitivamente com a Doutrina da Situação Irregular norteadora dos Códigos de Menores. Conheceremos, também, a Doutrina da Proteção Integral, que fundamenta o Estatuto da Criança e do Adolescente, que se destina, sem exceção alguma, a todas as crianças e os ado- lescentes e que substitui a Doutrina da Situação Irregular que sustentava os Códigos de Menores. Faremos uma comparação Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 30 – entre a doutrina que fundamenta o ECA e a que fundamentava os Códigos de Menores para melhor distinção das doutrinas. Ao final deste capítulo, conheceremos quem são os violadores dos direitos da criança e do adoles- cente, conforme especifica o ECA. Para melhor compreensão deste capítulo, você precisa retomar os conteúdos do capítulo 2 no que se refere à trajetória histórica de luta pelos direitos da criança e do adolescente para romper com a Doutrina da Situ- ação Irregular dos Códigos de Menores, bem como conhecer os marcos legais dos tratados internacionais que garantem os direitos humanos do segmento infanto-juvenil. Esses conteúdos são fundamentais para que você possa compreender o significado das mudanças sociais, jurídicas e políticas introduzidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente no nosso país e conhecer quem são os violadores dos direitos da criança e do ado- lescente, conforme estão categorizados no ECA. Iniciaremos o estudo com a análise de alguns aspectos nos quais o ECA se fundamenta. 3.1 Estatuto da Criança e do Adolescente: aspectos introdutórios O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi aprovado em 13 de julho de 1990 mediante a sanção presidencial da Lei 8.069. Foi elaborado a partir do Artigo 227 da Constituição Federal de 1988 com o objetivo de regulamentá-lo e como forma de exigibilidade dos direitos da criança e do adolescente, que já eram assegurados pela Carta Magna do país. Saiba mais Para saber mais sobre o ECA, recomendamos a leitura da obra Estatuto da Criança e do Adolescente comentado: comentários jurídicos, que foi orga- nizada por Munir Cury, Antônio Fernando do Amaral e Silva e Emílio Gar- cia Mendez, publicada pela editora Malheiros Editores. Essa obra comenta artigo por artigo do Estatuto e dá ao leitor uma melhor compreensão da legislação que garante os direitos humanos de crianças e adolescentes. – 31 – Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência O ECA adota uma nova concepção de atendimento à criança e ao adolescente, que passam a ser portadores de todos os direitos fundamen- tais facultados aos adultos, além de serem pessoas carecedoras de uma proteção especial, haja vista estarem em condição peculiar de desenvolvi- mento físico, social e espiritual. O ECA é norteado pela Doutrina da Proteção Integral e introduz na sociedade brasileira uma [...] concepção da criança e do adolescente como sujeito de direi- tos, isto é, cidadãos passíveis de proteção integral, vale dizer, de proteção quanto aos direitos de desenvolvimento físico, intelectual, afetivo, social e cultural (ANDRADE, 2000, p. 18) (grifo nosso). Conforme citação, o ECA concebe a criança e o adolescente como cidadãos cujos direitos devem ser garantidos na sua integralidade. Esse novo modelo de atendimento da população infanto-juvenil rompe defini- tivamente com o paradigma da situação irregular. Assim as crianças e os adolescentes brasileiros comemoram o tão sonhado direito de exercer o título de cidadão e gozar de todos os direitos inerentes à pessoa humana com dignidade. O Artigo 3º do ECA garante que A criança e o adolescente gozam de todos os direitos inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteçãointegral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvol- vimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Enquanto as leis anteriores ao ECA eram portadoras de uma concep- ção de marginalização da criança e do adolescente, utilizavam-se do termo menor para se referir a essa população, [...] o ECA avança na discussão sobre a discriminação imposta pelo uso do termo “menor”, ao substituir a noção de “menor em situação irregular” pela de “sujeitos de direitos” (RIZZINI citado por ANDRADE 2000, p. 20). A citação confirma o caráter estigmatizante da terminologia adotada pelo antigo Código de Menores ao se referir às crianças e aos adoles- centes em situação de risco como menores em situação irregular. Essa concepção se contrapõe aos princípios adotados pelo ECA, os quais con- sideram a criança e o adolescente como sujeitos de direitos. Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 32 – Liberati (1997), ao enfatizar em sua obra a questão da definição de criança e adolescente, salienta que a doutrina da situação irregular com sua terminologia de menor contribuía para a estigmatização e, sobretudo, para a ideia de marginalização da criança. Já o ECA proporcionou uma noção de criança e adolescente como seres humanos em condição de desenvolvi- mento e, por isso, merecedores do respeito de todos. Outra prerrogativa importante, introduzida pela doutrina da proteção integral, é a questão da responsabilidade concernente à efetivação dos direitos assegurados pelo ECA, no qual “[...] é colocado, que a proteção das crianças e adolescentes, bem como a garantia dos seus direitos, não é responsabilidade apenas da família, mas [...] do Estado e da sociedade como um todo” (NEPOMUCENO, 2002, p. 145). Essa afirmativa expli- cita a responsabilidade compartilhada que o ECA preceitua entre a famí- lia, a sociedade e o Estado na garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes e define de forma clara quem são os responsáveis legais pela garantia dos direitos assegurados pelas leis. É importante enfatizar que a tríade responsável pela efetivação dos direitos preconizados no ECA foi definida ainda no ápice da elaboração do Artigo 227 da Carta Magna do Brasil, o qual foi praticamente transcrito no Artigo 4º do ECA. É preciso ficar explícito que [...] a família, a sociedade e o Estado são os responsáveis pelas crianças e adolescentes, não cabendo a qualquer dessas entida- des assumirem com exclusividade as tarefas, nem ficando alguma delas isenta de responsabilidade (ANDRADE, 2000, p. 17). Veja que essa afirmativa aponta quem são os responsáveis legais pela garantia dos direitos da criança e do adolescente, cabe a todos igualmente a responsabilidade de zelar pelos direitos, pois só assim a população infanto- juvenil poderá ter assegurados na íntegra o espírito da Doutrina das Nações Unidas norteadora da Lei n. 8.06. O 1º Artigo do ECA expõe que “esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente” (ECA, 1990, p. 11). Para que a Doutrina da Proteção Integral seja realmente assegurada, o ECA compreende uma série de garantias no Artigo 4º parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) Primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; – 33 – Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência b) Precedência de atendimento nos serviços públicos ou relevân- cia pública; c) Preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacio- nadas com a proteção à infância e à juventude. ECA dispõe sobre as garantias as quais as crianças e os adolescentes passam a ter em função da sua condição peculiar de desenvolvimento. Essas garantias, para serem concretizadas no atendimento ao conjunto da população infanto-juvenil, exigem que sejam desenvolvidas várias ações nas áreas das políticas sociais básicas, da assistência social, da proteção especial e das garantias. As políticas sociais básicas se referem às políticas reconhecidas legal- mente como direito de todos e dever do Estado, como a saúde e a educa- ção. A assistência social é destinada àquelas pessoas que se encontram em estado de necessidade, como os auxílios temporários, abrigos, entre outros. No que tange à proteção especial, são as medidas especiais de proteção adotadas nos casos de ameaça e/ou violação dos direitos da criança e do adolescente que, de alguma forma, tragam prejuízos para sua integridade física e psicológica. Na área da garantias de direitos, o ECA se refere aos direitos individuais e coletivos da criança e do adolescente, como, por exemplo, a garantia de defesa quando o adolescente for acusado de infração. Ressaltamos que todas essas políticas são elaboradas e fiscalizadas pelo Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual é distribuído em três eixos distintos de trabalho (promoção, controle social e defesa). Esses eixos serão abordados no capítulo 4. Vejamos a seguir sobre as várias mudanças introduzidas pelo ECA que passam a balizar o atendimento a ser dispensado às crianças e aos adolescentes brasileiros. 3.1.1 ECA: uma lei de três revoluções As três revoluções promovidas pelo ECA trouxeram mudanças signi- ficativas para a seara da criança e do adolescente e extrapolaram o campo jurídico. Vamos conhecê-las. Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 34 – 2 Mudança de conteúdo: o ECA concebe a criança e o adolescente como sujeitos de direitos, os quais estão garantidos legalmente por leis. A partir do ECA, a criança e o adolescente deixam de ser tratados como meros objetos de direitos e intervenção por parte da família, do Estado e da sociedade e passam a ser considerados como cidadãos de direitos. O ECA reconhece a criança e o ado- lescente como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento físico, mental, espiritual, psicológico, social e cultural. Por isso são detentores de todos os direitos que são facultados aos adul- tos e ainda de direitos especiais pela sua condição de desenvolvi- mento e incapacidade de prover suas necessidades básicas. 2 Mudança de método: o ECA introduz as garantias processuais para o adolescente autor de ato infracional. Busca ainda superar a visão assistencialista e paternalista da Doutrina da Situação Irregular que norteava os Códigos de Menores. Com o ECA, os direitos da criança e do adolescente passam a ser garantidos por lei, e quem descumpri-los está sujeito a responder judicialmente pela ameaça ou pela violação desses direitos. Para que os direi- tos da criança e do adolescente sejam assegurados, o ECA pro- põe um novo modelo de atendimento por meio da articulação de um sistema de garantias de direitos, que tem a missão de zelar pelo cumprimento dos direitos garantidos pelo ECA. 2 Mudança de gestão: o Eca introduz um nova divisão do tra- balho e atribui competências e responsabilidades às três esfe- ras de governo: União, Estado e Município e conta ainda com participação da sociedade civil organizada. O ECA estabelece a criação dos Conselhos de Direitos nas três esferas de governo, que têm como competência a deliberação, a formulação e a fis- calização das políticas públicas para a criança e o adolescente. Também cria o Conselho Tutelar no âmbito municipal, que se constitui como porta de entrada para todas as denúncias de ame- aça e/ou violação dos direitos assegurados pelo ECA à popula- ção infanto-juvenil. A compreensão dessas mudanças é indispensável para a garantia da proteção integral e o rompimento definitivo com a Doutrina da Situação – 35 – Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência Irregular. Sabemos que a proteção integral é a doutrina que fundamenta o Estatuto da Criança e do Adolescente. Vamosconhecer melhor os princí- pios que amparam essa doutrina. 3.2 Princípios da Doutrina da Proteção Integral A Doutrina da Proteção Integral consiste em garantir os direitos da criança e do adolescente referentes à sobrevivência, ao desenvolvimento pessoal e social, à integridade física, psicológica e moral. O Estatuto da Criança e do Adolescente é fundamentado na proteção integral e garante à criança e ao adolescente a condição de cidadãos de direitos como os adultos e ainda de direitos especiais. A Doutrina da Proteção Integral trouxe três avanços fundamentais ao considerar a criança e o adoles- cente como: 2 sujeitos de direitos 2 pessoas em condição peculiar de desenvolvimento 2 prioridade absoluta Conheceremos a seguir, de forma detalhada, em que consiste cada um desses princípios. 3.2.1 Criança e adolescente: sujeitos de direitos O ECA garante à criança e ao adolescente um conjunto de direitos que tem como finalidade precípua assegurar à população infanto-juvenil as condições de ter todas as suas necessidades básicas atendidas. Os direi- tos regulamentados no ECA foram instituídos pela Constituição Federal de 1988, nos Artigos 227 e 228, e têm como fundamento os princípios da Convenção Internacional dos Direitos da Criança. O Artigo 227 da Cons- tituição Federal de 1988 dispõe que É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação à educação, ao esporte, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligên- cia, discriminação, exploração, crueldade e opressão. Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 36 – Vamos compreender os direitos assegurados pelo Artigo 227, que estão regulamentados ao longo dos 267 Artigos do ECA. 2 Direito à vida: crescer e viver com dignidade e ser protegido daquilo que possa prejudicar o seu desenvolvimento como pes- soa e como cidadão. 2 Direito à saúde: garantir a prevenção contra doenças. 2 Direito à alimentação: garantir alimentação sadia, nutritiva e adequada à sua idade e às necessidades de seu organismo. 2 Direito à educação: garantir educação universal e gratuita com oportunidades justas para que se formem como cidadãos qualifi- cados para o ingresso no mercado de trabalho. 2 Direito à cultura: conhecer e vivenciar os valores de sua comu- nidade e desenvolver suas potencialidades artísticas por meio do exercício de atividades criativas. 2 Direito de lazer: garantir lazer adequado à sua idade para favo- recer o seu pleno desenvolvimento. 2 Direito ao esporte: assegurar o desenvolvimento físico do corpo e da mente, o relacionamento com outros e a aprendizagem das regras para agir em conjunto. 2 Direito à profissionalização: preparar-se para ingressar posi- tivamente no mercado de trabalho sob orientação e condições adequadas. 2 Direito à dignidade: ficar a salvo de toda e qualquer forma de exploração, tratamento desumano, humilhante ou constrange- dor, negligência e abandono por ação ou omissão. 2 Direito ao respeito como pessoa: ter seu espaço preservado, assim como seus objetos pessoais e, evidentemente, a salvo de agressões física e psicológica. 2 Direito à liberdade: ter o direito de ir e vir, de estar, de opinar, de falar de crença ou de culto religioso, de participar da vida familiar, comunitária e cívica. – 37 – Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência 2 Direito à convivência familiar e comunitária: ter a garantia de atendimento às famílias com vistas a propiciar condições neces- sárias para que as crianças e os adolescentes possam ser criados pelos seus pais. Os direitos à vida, à saúde e à alimentação se constituem no primeiro elenco de direitos assegurados pelo ECA, os quais garantem a subsistência da criança e do adolescente. Os direitos à educação, à cultura, ao lazer e à profissionalização fazem parte do segundo elenco de direitos assegurados pelo ECA, os quais correspondem ao desenvolvimento pessoal e social da criança e do adolescente. Os direitos à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária fazem parte do terceiro elenco de direitos estabelecidos pelo ECA e referem-se à integridade física e psico- lógica da criança e do adolescente. Os três elencos de direitos assegurados pelo ECA são apresentados no Quadro 1. Quadro 1 – Elencos de direitos assegurados pelo ECA PRIMEIRO ELENCO Direito à vida, à saúde e à alimentação Garante a subsistência da criança e do adolescente. SEGUNDO ELENCO Direito à educação, à cul- tura, ao lazer e à profis- sionalização Corresponde ao desen- volvimento pessoal e social da criança e do adolescente. TERCEIRO ELENCO Direito à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária Refere-se à integridade física e psicológica da criança e do adolescente. Os direitos da criança e do adolescente obedecem aos princípios gerais dos direitos humanos representados pelos direitos políticos, civis e sociais. Os direitos políticos dizem respeito à participação dos cidadãos no governo, o direito de votar e de participar de órgãos de representação popular, como os Conselhos de Políticas e de Direitos. Os direitos civis asseguram a vida, a liberdade, a igualdade, a manifestação de pensamento e a participação em movimentos sociais. Os direitos sociais garantem o Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 38 – acesso às políticas públicas que propiciam condições de vida digna para os cidadãos, como educação, saúde, assistência social, habitação. Detalharemos, na próxima seção, o segundo princípio do ECA. 3.2.2 Pessoas em condição peculiar de desenvolvimento A criança e o adolescente são seres em condições peculiares de desenvolvimento físico, pessoal, psicológico, social, espiritual e cultural. Nesse contexto, significa dizer que estão em processo de formação de suas personalidades e são detentoras de direitos especiais, além de todos aqueles direitos que são facultados aos adultos, uma vez que não dispõem de todos os meios necessários para satisfazer suas necessida- des básicas e por estar em processo de aprendizagem. Dessa forma, a criança e o adolescente precisam do adulto para suprir suas necessida- des e para orientá-los. Por estarem em pleno desenvolvimento físico, emocional e sociocul- tural, a criança e o adolescente não podem responder pelo cumprimento das leis igualmente aos adultos, necessitam, portanto, de um atendimento diferenciado por parte da justiça. Nesse sentido, o ECA prevê as medidas cabíveis e respeita a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. No intuito de concluir os princípios da proteção integral da criança e do adolescente, apresentaremos, a seguir, detalhes sobre a prioridade absoluta. 3.2.3 Prioridade absoluta A garantia de prioridade absoluta está assegurada pelo ECA no Artigo 4º, parágrafo único, que dispõe sobre 2 primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; 2 precedência do atendimento nos serviços públicos ou de rele- vância pública; 2 preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; – 39 – Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência 2 destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relaciona- das com a proteção, a infância e a juventude. O Artigo citado defende a prioridade absoluta e destaca algumas exi- gências para que esse princípio seja de fato efetivado. A partir do estudo sobre os princípios norteadores do ECA, faremos uma comparação entre os Códigos de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente no Quadro 2. Quadro 2 – Comparação entre os Códigos de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente CÓDIGOS DE MENORES DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTEDOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL Destinam-se apenas aos menores em situação irregular: carentes, abando- nados, inadaptados e infratores Dirige-se a todas as crianças e a todos os adolescentes sem exceção alguma. Tratam do direito tutelar do menor, ou seja, os menores são objetos de medidas judiciais quando se encontram em situação irregular, assim definidos legalmente. Trata da Proteção Integral, isto é, da sobrevivência do desenvolvi- mento e da integridade de todas as crianças e todos os adolescentes. O menor é visto como objeto de intervenção jurídico-social do Estado. A criança e o adolescente são vis- tos como sujeitos de direitos exigí- veis com base na lei. São centralizadores e autoritários. É descentralizador e aberto à par- ticipação da cidadania por meio de conselhos paritários. Instrumento de controle social das crianças e dos adolescentes vítimas da omissão da família, da socie- dade e do Estado em relação aos seus direitos. Desenvolvimento social voltado para o conjunto da população infanto- -juvenil do país, garantia de proteção especial a esse segmento considerado pessoal e socialmente vulnerável. Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 40 – CÓDIGOS DE MENORES DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL Política nacional do bem-estar do menor, segurança pública, justiça de menores. Políticas sociais básicas, políticas assistenciais, serviços de proteção e defesa das crianças e dos ado- lescentes vitimizados e proteção jurídico-social. São omissos a respeito de crimes e infrações cometidos pela violação dos direitos da criança e do ado- lescente. Pune o abuso de pátrio poder, das autoridades e dos responsáveis pela criança e pelo adolescente. Fonte: Socioeducação (2006, p. 20) Podemos entender e diferenciar, por meio do quadro, os fundamentos da Doutrina da Situação Irregular (Códigos de Menores) dos fundamentos da Doutrina da Proteção Integral (ECA). Os Códigos de Menores tratavam a criança e o adolescente como menor em situação irregular, sendo apenas obje- tos de direitos e de intervenção por parte do Estado e da Família. Já o ECA considera a criança e o adolescente como sujeitos de direitos e responsabiliza a família, a sociedade e o Estado pela não proteção de suas crianças e seus adolescentes e pela não garantia dos seus direitos que estão instituídos em lei. Portanto a família, a sociedade e o Estado são agentes responsáveis pela garantia dos direitos infanto-juvenis. Quando os direitos não são efe- tivados, é porque algum desses agentes não cumpriu com a sua responsa- bilidade. Vejamos, nesse caso, quem deve ser responsabilizado. 3.3 Quem são os violadores dos direitos da criança e do adolescente? A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Ado- lescente asseguram que o zelo, a defesa e a garantia dos direitos consti- – 41 – Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência tucional e estatutário cabem à família, ao Estado e à sociedade em geral. Esses direitos devem ser assegurados para o crescimento sadio e digno da criança e do adolescente. Assim o ECA, com base no Artigo 227 da Carta Magna, estabelece no seu Art. 4º que É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. O Artigo do ECA citado define de quem é a competência em garantir a prioridade absoluta, princípio que se refere à subsistência, ao desenvol- vimento pessoal e social e à integridade física e psicológica da criança e do adolescente. Quando há ameaça e/ou violação desses direitos, algum ente (família, sociedade ou Estado) é responsabilizado por ação ou omissão dos direitos assegurados em Lei. Para que essa responsabilização ocorra, o ECA esta- belece, no Artigo 98, quatro categorias de violadores: a família, a socie- dade, o Estado e a própria criança ou o próprio adolescente. O grupo da família envolve os pais e os responsáveis. Incluem-se também nesse grupo os parentes e as pessoas que são próximas da família, com livre acesso à convivência familiar. Acerca da família, especifica- mente no que diz respeito aos pais, o ECA determina que Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obri- gação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. Art. 249. Descumprir, dolosamente, os deveres inerentes ao pátrio poder ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judicial ou Conselho Tutelar. Pena: multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência (grifo nosso). O ECA imprime responsabilidades à família no trato com a criança e o adolescente, para que os princípios do ECA sejam efetivados na sua totalidade. O termo pátrio poder foi retificado pelo Novo Código Civil de 2002, o qual passa a adotar o termo poder familiar, conforme assinala o Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 42 – Art. 1.630 do referido Código: os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores. Concernente à sociedade e ao Estado, o UNICEF (1998) certifica que o Estado compreende todo o setor público em âmbito federal, estadual e municipal. Assim como o Estado, a sociedade também está retratada em qualquer instituição da esfera pública, como escola, creches, hospitais, postos de saúde, de assistência e policial, orfanatos, entre outros. Acerca dos direitos fundamentais, que são de responsabilidade do Poder Público, o ECA assegura que 7º. A criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que per- mitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho [...]. Os artigos citados apontam um elenco de direitos cujo propósito é garantir o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente. No que se refere à responsabilidade da sociedade, o ECA estabelece no Artigo 245 o seguinte que Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conheci- mento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra a criança ou adolescente. Pena: multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Esse artigo do ECA atribui aos profissionais que lidam com a criança e o adolescente a responsabilidade de noticiar os casos que envolvam não somente a confirmação, mas a suspeita de violência praticada contra a criança e o adolescente. A criança e o adolescente são especificados pelo ECA como violadores de seus direitos “[...] nos casos em que os mesmos tenham se comportado de maneira tal que acabem negando seus próprios direitos” (UNICEF, 1998, p. 138). Os casos mais comuns estão relacionados ao uso – 43 – Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência de drogas e à infrequência na escola. Essa afirmação completa o ciclo dos agentes violadores e aponta os casos em que a própria criança e o próprio adolescente são violadores dos seus direitos. Diante do exposto sobre os violadores dos direitos assegurados ao conjunto da população infanto-juvenil, o ECA institui que É dever de todos velarem pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor (Art. 18).[...] É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente (Art. 70). O ECA determina que todo cidadão tem o dever de zelar pelos direi- tos das crianças e dos adolescentes, inclusive na perspectiva de prevenção da violência praticada contra esse segmento, pois os direitos das crianças e dos adolescentes são direitos humanos. Portanto o ECA é a lei específica que regulamenta e assegura os direi- tos da criança e do adolescente já garantidos na Constituição Federal de 1988. É norteado pela Doutrina da Proteção Integral que rompe definiti- vamente com a Doutrina da Situação Irregular dos Códigos de Menores. Considera a criança e o adolescente como sujeitos de direitos e prioridade absoluta na formulação de políticas públicas. A família, a sociedade e o Estado são os responsáveis legais pela garantia dos direitos da criança e do adolescente assegurados pela Constituição Federal de 1988 e pelo ECA. Esses direitos são soberanos e não podem ser violados ou ameaçados. No entanto sabemos que, constantemente, esses direitos são violados. Assim o ECA institui como abertura de defesa e proteção o dever de toda a socie- dade em denunciar os casos de violação e ameaça desses direitos, como forma de ressarcimento e prevenção de qualquer fato que constitua mau- -trato contra a população infanto-juvenil. Para que o ECA possa se traduzir em atendimento efetivo à criança e ao adolescente, é necessário que um conjunto de atores assuma suas responsabilidades com vistas à proteção e à defesa dos direitos da criança e do adolescente. Por isso, no próximo capítulo, conheceremos os órgãos que compõem o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adoles- Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 44 – cente e qual o seu papel na defesa dos direitos garantidos pelo ECA e na proteção da criança e do adolescente nos casos de ameaça e/ou violação de seus direitos. Atividades 1. O ECA regulamenta os direitos da criança e do adolescente asse- gurados na Constituição Federal de 1988. Descreva a concepção de criança e adolescente adotada pelo ECA. 2. O ECA provocou três revoluções que trouxeram mudanças signi- ficativas para a seara da criança e do adolescente e extrapolou o campo jurídico. Sobre as três revoluções, é incorreto afirmar que a) as revoluções provocadas pelo ECA são mudança de conte- údo, mudança de método e mudança de gestão. b) o ECA, com a mudança de conteúdo, concebe a criança e o adolescente como objeto de intervenção por parte do Estado e da família. c) o ECA, com a mudança de método, introduz as garantias processuais para o adolescente autor de ato infracional. d) o ECA, com a mudança de gestão, introduz um nova divi- são do trabalho e atribui competências e responsabilidades às três esferas de governo (União, Estado e Município) e conta ainda com participação da sociedade civil organizada. 3. Com base no quadro comparativo entre os Códigos de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente, podemos afirmar que a) o ECA é instrumento de controle social das crianças e dos adolescentes vítimas da omissão da família, da sociedade e do Estado em relação aos seus direitos. b) os Códigos de Menores primavam pelo desenvolvimento social voltado para a população infanto-juvenil do país e garantiam proteção especial àqueles segmentos considera- dos pessoal e socialmente vulneráveis. – 45 – Estatuto da Criança e do Adolescente: uma lei específica na área da infância e da adolescência c) os Códigos de Menores eram centralizadores e autoritários. O ECA é descentralizador e aberto à participação da cida- dania por meio de conselhos paritários. d) os Códigos de Menores tratavam da Proteção Integral, isto é, da sobrevivência, do desenvolvimento e da integridade de todas as crianças e todos os adolescentes. 4. A Constituição Federal de 1988, no Artigo 227, e o Estatuto da Criança e do Adolescente, no Artigo 4º, estabelecem que a família, o Estado e a sociedade são responsáveis pelo zelo, pela defesa e pela garantia dos direitos da criança e do adolescente. Sobre os violadores de direitos da população infanto-juvenil, podemos afirmar que a) são a família, a sociedade, o Estado e a própria criança e o próprio adolescente. b) aos pais é incumbido o dever somente pelo sustento, pela guarda e pela educação dos filhos menores. c) o ECA não inclui a criança e o adolescente como violadores de seus direitos. d) o grupo da família envolve somente os pais. 4 Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente Introdução Caro aluno, neste capítulo, você conhecerá o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, instituído para exigir o cumprimento dos direitos assegurados pelo ECA. O Sistema de Garantia compreende três grandes eixos: promo- ção, defesa e controle social. É acionado sempre que os direitos assegurados na Constituição Federal de 1988 e no ECA para o conjunto da população infanto-juvenil forem ameaçados e/ou violados. A partir da homologação do Estatuto da Criança e do Adolescente, surgiu um novo tempo na área da infância e adoles- cência. Foi retirada do juiz de menores a exclusividade do aten- dimento de questões concernentes à população infanto-juvenil e suas famílias. O ECA instituiu o Conselho Tutelar para zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente nos casos de ameaça ou violação desses direitos. Abordaremos mais detalhadamente sobre a finalidade, a importância, as atribuições e as competências desse conselho. Políticas Sociais - Família, Criança e Adolescente – 48 – Você terá um melhor aproveitamento deste capítulo se compreendeu o conteúdo apresentado no capítulo 3, no qual trabalhamos o Estatuto da Criança e do Adolescente e destacamos a Doutrina da Proteção Integral, as revoluções que trouxeram mudanças significativas para a área da criança e do adolescente, bem como os violadores dos direitos da criança e do ado- lescente previstos no ECA. Compreender a dimensão da grande mudança de paradigma que o ECA nos apresenta, em que a situação irregular do antigo Código de Menores é substituída pelo paradigma de sujeito de direi- tos se constitui ponto fundamental para o entendimento da importância do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente na concre- tização dos direitos assegurados em lei e do papel do Conselho Tutelar como porta de entrada do Sistema de Garantia para todas as denúncias de ameaça e/ou violação dos direitos da criança e do adolescente. Vamos iniciar os nossos estudos tratando sobre o papel do Sistema de Garantia na concretização dos direitos das crianças e dos adolescentes. 4.1 O papel do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente foi instituído a partir da promulgação do ECA para exercer a missão de asse- gurar que os 267 artigos da Lei n. 8.069 sejam garantidos à população infanto-juvenil, sem exceção alguma. Ele atua na defesa dos direitos rela- tivos à sobrevivência, ao desenvolvimento pessoal e social e à integri- dade física, psicológica e moral da criança e do adolescente. Dessa forma, sempre que os direitos assegurados pela Constituição Federal e pelo ECA forem ameaçados e/ou violados, o Sistema de Garantias é acionado, pois sua função primordial é viabilizar a proteção, a defesa e a promoção dos direitos já conquistados com o ECA. A partir da homologação dessa Lei, Não se cuida mais de crianças em situação regular ou irregular, mas apenas de crianças e de adolescentes que precisam ter seus direitos respeitados independente de cor, religião ou da classe social a que pertence. O atendimento a necessidades como educação, saúde ou lazer deixam de ser favores para se transformarem em direitos a serem exigidos e respeitados (NEPOMUCEMO, 2002, p. 145). – 49 – Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente Nessa perspectiva, o Sistema de
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