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., " É inevitável que a abro qui- cOllS1ruímos como arquitetos,sirva de ponto de partida parti o. nosSo ensino, e obviamente o melhor (omí~ho paio explicor o. " ' I ' , , que se tem o dizer é fozê-lo com base fio experíêndo i /',' ..', " r, prático: este é, no verdade, o fio condutor deste livro, " .' Em ve.z de opresentar separCHlomente coda obro , individuól e exptKor em .110 todos os seus ospWos cllfl!derísticos, os div8l5OS componentes textuais forom organizadós de IaImodo que, como um todo, oferecem r:' algo seniélhoMe a uma teoria; é o moneira (umu os ' , elementos ~IiIdos que IransforÍlllllÍprólico ".em teoria. O objetivo de minhas '~ões" sempre 'foi , eslillllJlar os estudantes, despertar neles umo " ' mentatMlode arquitetônico que pudesse (opocitÍl-los o. fozer seu próprio troboIho; mw objetivo nesfê bvn) , continua o mesmo. , ,I , HERMAN HERTZBERGER -UCOES DÉ ARQUITETURA Tradução CARLOS mUARDO UMA MACHADO Martins Fontes __ ._s.2,~~~(j"",,,---- . U f'.l I R ~_ . ,., G!::::: ~ R lOTe .;',~ .,\ :- !~ ;., r' RI 'r·:-.t r R Este livro reRete o material discutido nos palestras de Hertzberger sobre arquitetura no Universidade Técnico de DelFt o partir de 1973 e contém versões elaborados dos notas de palestras anteriormente publicados como 'Het openbare riik' (Domínio público), 1982, "Ruimte maken, ruimte laten' (Criando espaço, deixando espaço), 1984, e "Uitnadigende vorm' (Formo convidativo), 1988. Eua obra foi publictuUJ origilllJirfUnlt em inglis com o titulo LESSONS FOR STUDENTS IN ItRCHlTECI'URE por Uilgtvtrij 010 Publishtrs, Amsttrdam, em 199/. Copyrighl CI 1991, Uilgtverij 010 P!lblishers. Copyright C 1996, Livraria MeTlins FOMes EdilOra LIda., $dQ Paulo, para a presente edição. 1" tdlçá[) 1996 2' edição 1999 2' tiragem 2006 Revisio da tradução LuIs Carlos Borges Reri.roes arâfi C'JIS Silva!la Cobucci úile Agnaldo A/W!s de Oliveira DifUlfU ].Qnantlli da Silva Produção gri nta Gtraldo Alvu Paginação Sludio 3 D~t'lVolvimtnto Editorial Dado6õ Intemacíonais de CataJopção na PubUcaçio (CIP) (CAmara BrUleira do ü vro, SP, Brasil) Herttberger. Hennan . Lições de Brquitcrunl I Herman Henzbe'1ler ; (traduç1o Carlo. EduardoLimaM.madoJ. - 21ed.-Sio Paulo: Martins Fontes, 1999. Título original: Lessons for studenlS in architecture. Bibliografia. ISBN 85-336-1034-3 I. Arquitetura 2. Design arquitetônico I. Título. 99-1477 tndlct5 para catálogo sl5ttmUico; 1. AIqUilCtwa 720 2. Dcsign arquitctônico 720 CDD·720 Todos os direitos desta edição para o Brasil reurvados li Livraria Martins Fontes Editora Lida. Rua Conse/lu!jro Ramo.lho, 330 01325-000 São Paulo SP Brasil Tel. (JJ) 3241 36n Fax (JJ)3J01 .1042 e-mail: info@martinsfontes.com.br htrp://www.mo.rtinsfontes.com.br PREFÁCIO "Les choses ne sonl pas difficiles à faire, ce qui esl diffici le, c' esl de nous meijre en élal de les fa ire." IBrancusi) É inevitável que a obra que construímos como arquitetos sirva de ponto de partida para o nosso ensino, e obviamente o melhor caminho para explicar o que se tem a dizer é fazê-lo com base no experiência prática: este é, na verdade, o fio condutor deste livro. Em vez de apresentar separadamente cada obra individual e explicar em seguido todos os seus aspectos característicos, os diversos componentes textuais foram organizados de tal modo que, como um todo, oferecem algo semelhante a uma teoria; é a maneira como os elementos são organizados que transforma a prática em teoria. Quando discutimos nosso próprio trabalho, temos de nos perguntar O que adquirimos de quem. Pois tudo o que descobrimos vem de algum lugar. A lonte não loi nossa próprio mente, mas a cultura a que pertencemos. E é por isso que a obra dos outros está presente aqui de maneira tão patente á guisa de contexto. Seria possível dizer que este livro contém lições, lições dados por Bramonte, Cerdá, Chareou, le Corbusier, Duiker & Bijvoet, Van Eyck, Gaudí & Jujol, Horto, labrouste, PaI/adio, Peruzzi, Rietveld, Von der Vlugt & Brinkman, e por todos os outros que me emprestaram seus olhos para que eu pudesse ver e selecionar exatamente o que eu precisava para levar adiante o meu trabalho. Os arquitetos (e não apenas eles) têm o hábito de ocultar suas lontes de inspiração e até mesmo de tentar sublimá-Ias - como se isto losse possível. Mas, ao lazê-Io, o processo de projetar se torna nebuloso, ao passo que, ao revelarmos o que nos moveu e estimulou em primeiro lugar, podemos nos explicar a nós mesmos e motivar nossas decisões. Os exemplos e influências que abundam neste livro constituem o contexto cultural dentro do qual um arquiteto trabalha e olerecem uma idéia do alcance dos conceitos e imagens mentais que devem servir como instrumentos (será que o oulpul de idéias de uma pessoa pode ser maior que . 2) o mpu/. . Tudo o que é absorvido e registrado por nossa mente soma-se à coleção de idéias armazenadas na memória: uma espécie de biblioteca que podemos consultar toda vez que surge um problema. Assim, essencialmente, quanto mais tivermos visto, experimentado e absorvido, mais pontos de relerência teremos para nos ajudar a decidir que direção tomar: nosso quadro de relerência se expande. A capacidade para descobrir uma solução lundamentalmente dilerente para um problema, i.e., para criar Ilum mecanismo" clJferente, depende da riqueza de nossa experiência, assim como o potencial expressivo de linguagem de uma pessoa não pode transcender o que é exprimível em seu vocabulário. É impossível dar receitas de como projetar, como todo o mundo sabe. Não tentei lazer isto, e a questão de saber se, de algum modo, é possível aprender a fazer um projeto não é tratada aqui. O objetivo de minhas "lições" sempre loi estimular os estudantes, despertar neles uma mentalidade arquitetônica que pudesse capacitá-los a fazer seu próprio trabalho; meu objetivo neste livro continuo o mesmo. Herman Hertzberger íNDICE A Domínio Público 1 Público e Privado 12 2 Demarcações Territoriais 14 3 Diferenciação Territorial 20 4 Zoneamento Territorial 22 5 De Usuário a Morador 28 6 O "Intervalo" 32 7 Demarcações Privadas no Espaço Público 40 8 Conceito de Obra Pública 44 9 A Rua 48 10 O Domínio Público 64 11 O Espaço Público como Ambiente Construído 68 12 O Acesso Público ao Espaço Privado 74 B Criando Espaço, Deixando Espaço 1 Estrutu ra e Interpretação 92 2 Forma e Interpretação 94 3 A Estrutura como Espinha Dorsal Gerativa: Urdidura e Trama 108 4 Grelha 122 5 Ordenamento da Construção 126 6 Funcionalidade, Flexibilidade e Polivalência 146 7 Forma e Usuários: o Espaço da Forma 150 8 Criando Espaço, Deixando Espaço 152 9 Incentivos 164 10 A Forma como Instrumen!o 170 C Forma Convidativa 1 O Espaço Habitável entre as Coisas 176 2 Lugar e Articulação 190 3 Visão I 202 4 Visão II 216 5 Visão 111 226 6 Equivalência 246 Biografia, Projetos e Referências 268 A DOMíNIO PÚBLICO • 10 liÇÕES DE ARQU ITET URA • 1 Público e Privado 12 2 Demarcações Territoriais 74 Ruas e Residências, Bali Edifícios Públicos Aldeio de Morbisch, Áustria Biblioteca Nacionol, Paris / H. Labrouste Edifício de Escritórios Centraol Beheer, Apeldoorn 3 Diferenciação Territorial 20 4 Zoneamento Territorial 22 Edifício de Escritórios Centra0 I Beheer, Apeldoorn Faculdade de Arquitetura do MIT, Cambridge, USA Escola Montessori, Delft Centro Musical Vredenburg, Utrecht 5 De Usuário a Morador 28 Escola Montessori, Delft Escolas Apollo, Amsterdam 6 O "Intervalo" 32 Escola Montessori, Delft De Overloop, Lar para Idosos, Almere De Drie Hoven, Lar para Idosos, Amsterdam Res idências Documenta Urbana, Kassel , Alemanho Cité Napoléon, Paris / M. H. Veugny 7 Demarcações Privadas no Espaço Público 40 De Drie Hoven, Lar para Idosos, Amsterdam Residências Diagoon, Delft Moradias LiMa, Berlim 8 Conceito de Obra Pública44 Moradias Vroesenlaan, RoHerdam / J. H. van den Broek De Drie Hoven, Lar para Idosos, Amsterdam 9 A Rua 48 Moradias Haarlemmer HauHuinen, Amsterdam Coniunto Habitacional Spangen, RoHerdam / M. Brinkman Aloiamento para Estudantes Weesperstraat, Amsterdam Princípios de Assentamento Royal Crescents, Bath, Inglaterra / J. Wood, J. Nash Romerstadt, Frankfurt, Alemanha / E. May Het Gein, Moradias, Amersfoort Acesso aos Apartamentos Familistere, Guise, França De Drie Hoven, Lar para Idosos, Amsterdam Escola Montessori, Delft Kasbah, Hengelo / P. Blom 10 O Dominio Público 64 Palais Royal, Paris Praça Pública, Vence, França Rockefeller Plaza, Nova York Piazzo dei Campo, Siena, Itália Plaza Mayor, Chinchón, Espanha Fonte Dionne, Tonnerre, França 11 O Espaço Público como Ambiente Construído 68 Vichy, França Les Halles, Paris / V. Ba ltard Centros Comunitários / F. van Klingeren Torre Ei ffel, Paris / G. Eiffel Pavilhões de Exposição Laias de Departamentos, Paris Estações Ferroviárias Estações Ferroviárias Subterrâneas 12 O Acesso Público ao Espaço Privado 74 Passage du Caire, Paris Galerias de Laias Mi nistério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro / Le Corbusier Edifício de Escritórios Centraal Beheer, Apeldoorn Centro Musical Vredenburg, Utrecht Cinema Cineac, Amsterdam / J. Duiker Hotel Solvay, Bruxelas / V. Horta Passage Pommeraye, Nantes, França - "A Carta" / Pieter de Hoogh DOMíNIO PÚBliCO 11 1 PÚBLICO E PRIVADO 05 conceitos de "público" e "privado" podem ser interpretados como a tradução em termos espaciais de IIcoletivo" e HindividuaJ". Num sentido mais absoluto, podemos dizer: pública é uma área acessível a todos a qualquer momento; a responsabilidade por sua manutenção é assumida coletivamente. Privada é uma área cu jo acesso é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa, que tem Q responsabilidade de mantê-Ia. Esta oposição extrema entre o público e o privado - como a oposição entre o coletivo e o individual - resultou num clichê, e é tão sem matizes e falsa como a suposto oposição entre o geral e o específico, o obietivo e o subietivo. Tais oposições são sintomas da desintegração das relações humanas básicas. Todo mundo quer ser aceito, quer se inserir, quer ter um lugar seu. Todo comportamento no sociedade em geral é, no verdade, determinado por papéis, nos quais o personalidade de cada indivíduo é afirmado pelo que os outros vêem nele. No nosso mundo, experimentamos uma polarização entre a individualidade exagerada, de um lado, e a coletividade exagerada, de outro. Coloca-se excessiva ênfase nestes dois pólos, embora não exista uma única relação humano que nos interesse como arquitetos que se concentre exclusivamente em um indivíduo ou em um grupo, ou mesmo que se concentre de modo exclusivo em todos os outrosl ou seja, no "mundo externo". É sempre uma questão de pessoas e grupos em inter-relação e compromisso mútuo, i.e. , é sempre uma questão de coletividade e indivíduo, um em face do outro. 12 LIÇÕ ES DE ARQUITElURA Wenn aber der Individualismus nur einen Teil des Menschen erlasst so erlasst der Kollektivismus nur den Menschen oIs Teil: zur Ganzheit des Menschen, zum Menschen aIs Ganzes dringen beide nicht vor. Der Individualismus sieht den Menschen nur in der Bezogenheit aul sich se/bst, aber der Kollekfivismus sieht den Menschen überhaupf nichf, er siehf nur die "Gesellschalt", Beide lebensanschauungen sind Ergebnisse oder Aeusserungen des g/eichen menschlichen Zusfands . Dieser Zusfand isf durch das Zusammensfriimen von kosmischer und sozia/er Heim/osigkeit, von Welfangsf und lebensangsf, zu einer Daseinsverlassung der Einsamkeit gekennzeichnef, wie es sie in diesem Ausmass vermuflich noch nie zuvor gegeben hat. Um sich vor der Verzweil/ung zu reffen, mif der ihn siene Vereinsamung bedroht, ergreilt der Mensch den Ausweg, diese zu glorilizieren. Der moderne Individua/ismus haf im wesentlichen eine imaginare Gru~dlage. An diesem Charakfer scheiferf er, denn die Imaginafion reicht nichf zu, die gegebene Situafion laktisch zu bewalfigen. Der moderne Kollektivismus isf die lefzfe Schranke, die der Mensch vor der Begegnung mif sich se/bsf aulgerichfef haf ... ; im Kollektivismus gibf sie, mit dem Verzicht aul die Unmiffelbarkeit personlicher Entscheidung und Veranfworfung, sich selber aul. In beiden Fallen isf sie unlahig, den Durchbruch zum Anderen zu vollziehen: nur zwischen ech fen Personen gibf es echte Beziehung. Hier gib f es keinen anderen Ausweg aIs den Aulsfand der Person um der Belreiung der Beziehung willen. Ich sehe am Horizonf, mit der langsamkeif aller Vorgange der wahren Menschengeschich fe, eine grosse Unzulriedenheif heraulkommen. Man wird sich nichf mehr bloss wie bisher gegen eine bestimmfe herrschende Tendenz um anderer Tendenz willen emporen, sondem gegen die la/sche Rea/isierung eines grossen Sfrebens, des Sfrebens zur Gemeinschaft, um der echfen Realisierung willen. Man wird gegen die Verzerrung und lür die reine Ges falt kamplen. Ihr ersfer Schriff muss die Zerschlagung einer fa/schen Alternafive sein, der Alfernative "/ndividualismus oder Kollektivismus".' (Martin Buber, Das Problem des Menschen, Heidelberg, 1948, também publicodo ,m Forum 7-1959, p. 249) "Se, porém, o individualismo compreende apenas parte da humanidade, o coletivismo só compreende a humanidade como parte; nenhum deles apreende o todo da humanidade, a humanidade como um todo. O individualismo vê a humanidade apenas na relação consigo mesmo, mas o coletivismo não vê o homem de maneiro nenhuma, vê apenas a 'sociedade'. Ambas as visões de mundo são produtos ou expressões dó mesma condição humana. Esta condição caracteriza-se pela con fluência de um desomparo cósmico e sociol, de uma angústia diante do mundo e da vida, por um estado existencial de solidão, que provavelmente nunca se manifestaram antes nesse nível. Na tentativa de fugir do desespero trazido pelo isolamento, o homem, como escapatória, procura glorificá-lo. O individualismo moderno possui um fundamento imaginário. Neste aspecto, ele fracassa, pois a imaginação é incapaz de lidar factualmente com uma situação dada. O coletivismo moderno é a última barreira que o homem construiu para evitar o encontro consigo mesmo [ ... i; no coletivismo, com a renúncia à imediaticidade da decisão e da responsabilidade pessoal, ela se rende. Em ambos os casos é incapaz de efetuar uma abertura para o outro: só entre pessoas reais pode haver uma relação real. Não há alternativa, neste caso, a não ser a rebelião do indivíduo em favor da libertação do relacionamento. Vejo surgir no horizonte, com a lentidão de todos os processos da história humana, um grande descontentamento. As pessoas não mais se levantarão como fizeram no passado contra certa tendência predominante e a favor de uma tendência diferente, mas contra a falsa realização de um grande anseio, o anseio pelo comunitário, em nome da verdadeira realização. As pessoas lutarão contra a distorção e pela pureza. O primeiro passo deve ser a destruição de uma fa lsa escolha, a escolha: 'individualismo ou coletivismo'.' Os conceitos de "públicoR e uprivado" podem ser vistos e compreendidos em termos relativos como uma série de qualidades espaciais que, diferindo gradualmente, referem-se ao acesso, à responsabilidade, à relação entre a propriedade privada e a supervisão de unidades espaciais específicas. DOMíN IO PÚ BLICO 13 2 DEMARCACÕES , TERRITORIAIS Uma área aberta , um quarto o~ um espaço podem ser concebidos como um lugar mais ou menos privado ou como u'!10 área pública, dependendo do grau de acesso, da forma de supervisão, de quem o utiliza, de quem tomo conta dele e de suas respectivas responsabi lidades. O seu quarto, por exemplo, é um espaço privado em comparação com a sala de estar e a cozinha da casa em que mora. Você tem o chave do seu quarto, do qual você mesmo cuida. O cuidado e a manutençãoda sala de estar e da cozinha são basicamente uma responsabilidade compartilhado por todos 05 que moram na casa, que têm a chave da porta de entrada. Numa escola, cada sala de aula é privada em comparação com o hall comunitário. Este hall, por sua vez, é, como a escola em sua totalidade, privado em comparação com a rua. RUAS E RESIDÊNCIAS, BAU (1-4) Os quartas de várias habitações em Bali são muitas vezes pequenas casas construidos separadamente, agrupadas em volta de uma espécie de pátio inte rno, no qual se entra por um portão. Depois que atravessamos o portão, não temos a sensação de que estamos entrando numa residência, embora isso seja o que acontece de fato. As unidades separadas do residência - área de cozinha, dormitórios e, às vezes, uma câmara mortuória e um berçário - possuem uma intimidade maior e são, certamente, de acesso menos fácil para um estranho. Deste modo, a' casa abrange uma seqüência de gradações distintas de acesso. 14 LIÇÕES DE ARQUITETURA [JJ] 000 , . • 1· . • D O , o , [[J • O ... D . . . . 4 ~ • ---7 • I rn .. 5 • • ~ID [ZJ I: .. . ·: 8 .· ·.· S • 1. Dormitório poro os pais 5. Dormitório 2. Aliar 6. Cozinho 3. Templo familiar .4. Área. de estar/ convidodos 7. Depósito de arroz 8. Eira Muitas ruas em Bali constituem o território de uma família extensa. Nessas ruas estão situadas as casas das diversas unidades familiares, que iuntas compõem a família extensa. Essas ruas têm um portõo de entrada, que é muitos vezes provido de uma pequeno cerca de bambu encarregada de manter as crianças e os animais do lado de dentro, e, embora seiam basicamente acessíveis a qualquer um, tendemos o nos sentir como intrusos ou, no máximo, como visitantes. Além das diversas nuances nas demarcações territoriais, os balineses fazem uma distinção dentro do espaço público: a área do templo, que compreende uma série de recintos sucessivos com entradas claramente marcadas, aberturas nas cercas ou portões de pedra (conhecidos como t;andi bentar). Esta área do templo serve como rua e como playground para as crianças. Para o visitante também é acessível como rua - pelo menos quando não estõo acontecendo manifestações religiosas - , mas, mesmo assim, visitante sente certa relutância. Como alguém estranho ao lugar, sente"se honrado por ter permissão de entrar. No mundo inteiro encontramos gradações de demarcações territoriais, acompanhadas pela sensação de acesso. Às vezes o grau de acesso é uma questão de legislação, mas, em gerat é exclusivamente uma questão de convenção, que é respeitada por todos. EDIFíCIOS PÚBliCOS Os chamados edi fícios públicos, tais como o hall do correio central ou uma estação ferroviária, podem Ipelo menos durante as horos em que ficam abertos) ser vistos como um espaço de rua no sentido territorial. Outros exemplos de graus diferenciados de acesso ao público estão listados abaixo, mas a lista, naturalmente, pode ser ampliada para incluir oulras experiências pessoais: • os pátios quadrangulares das universidades na Inglaterra, como em Oxford e Cambridge; são acessíveis a todos pelos pórticos, formando uma espécie de subsistema de caminhos para pedestres que atravessa todo o centro da cidade. • edifícios públicos, como, por exemplo, o hall do co:reio, a estaçõo ferroviária, etc, . • os pátios de blocos de moradia em Paris, onde a concierge em geral reina suprema. • ruas "fechadas", encontradas em grande variedade por todo o mundo, às vezes patrulhadas por guardas de segurança privada. DOMíNIO PÚBliCO IS Estação Central, Hoorlem, Holanda 6 7 lO 11 Ruo ho/ondeso, século XIX AlDEIA DE MÓRBISCH, ÁUSTRIA 16-B} As ruas na aldeia austríaca de Morbisch, perto da fronteira húngara (publicado em Forum 9-1959), têm portões largos, como os que dão acesso a fazendas - mas aqui dõo acesso a ruas laterais ao longo das quaís se situam residências, estóbulos, celeiros e hortas. Estes exemplos mostram como são inadequados os termos público e privado, enquanto as áreas chamadas semiprivadas ou semi públicas, que muitos vezes estão espremidas na zona intermediária, são equívocas demais paro acomodar as sutilezas que devem ser levadas em conto ao projetar cada espaço e cada área . • Onde quer que indivíduos ou grupos tenham a oportunidade de usar partes do espaço público para seus próprios interesses, e apenas indiretamente no interesse dos outros, o caráter público do espaço é temporária ou permanentemente colocado em questão por meio do uso. Exemplos desse tipo podem ser encontrados em qualquer parte do mundo. Em Bali - mais uma vez usada como exemplo - o arroz é espalhado para secar em amplas óreas dos caminhos 16 LIÇÕES DE ARQUITETURA ,. -___ ~ _ _ 'J_ ~_---' públ icos e até mesmo no meio-fio das estradas de macadame, onde permanece intocado pelos veículos e pelos pedestres, pois toaas estão conscientes do importância do contribuição de cada membro da comunidade para a colheita de arroz. 19} Um outro exemplo de mistura do público com o privado é a roupa pendurada para secar nas ruas estreitas de cidades do sul da Europa: uma expressão coletiva de simpatia pela lavagem de roupa de cada fa míl ia, que fica pendurada numa rede de cabos que atravesso a rua de uma casa a outra. Nápoles Outros exemplos são as redes e navios sendo reparados nos cais de aldeias e portos pesqueiros, e o Dogon: a lã estirada na praça da aldeia. o uso do espaço público por residentes, como se fosse "privado", fortalece a demarcação por parte do usuário desta área aos olhos dos outros. A dimensão extra dada ao espaço público por essa demarcação sob a formo de uso para objetivos privados será discutida detalhada mente mais adiante, mas antes devemos procurar saber quais as conseqüências que traz para o arquiteto. BIBLIOTECA NACIONAL, PARIS, 1862-1868 / H. LABROUSTE 112) Na principal sala de leitura da Biblioteca Nacional em Paris, os espaços de trabalho individual, dispostos um em frente ao outro, são separados por uma I'zono'l média mais elevada; as lâmpadas no centro dessa prancha fornecem luz para as quatro superfícies de trabalho diretamente adjacentes. Esta zona central é mais acessível do que os espaços de trabalho individual, mais baixos, e tem como claro objetivo o uso compartilhado por aqueles que se sentam de ambos os lados. EDIFíCIO DE ESCRITÓRIOS CENTRAAl BEHEER 113·19) Há muitos anos, antes de se estabelecer a moda de "escrivaninha lisa", as escrivaninhas dos escritórios eram providas de pranchas que, quando as escrivaninhas eram colocados uma contra a outra, formavam uma zona central semelhante às que dividem as mesas de le itura da Biblioteca Nacional em Paris. Por meio dessa articulação, reserva-se um lugar para os objetos compartilhadas por diversos usuários, tais como telefones e vasos. O espaço sob as pranchas cria uma área maior de armazenamento privado para cada usuário ind ividual. A articulação em termos de maior ou menor acesso (pública) também pode revelar sua utilidade nas detalhes. DOMíNIO PÚSlICO 17 13 12 u 15 16 17 16 19 18 liÇÕES DE ARQU ITET URA Portos de vidro entre espaços igualmente públicos e portanto igualmente acessíveis, por exemplo, proporcionam ampla visibilidade de ambos os lados, de modo que as colisões podem ser facilmente evitadas. Portas sem painéis transparentes têm de dar acesso a espaços mais privados, menos acessíveis. Quando um código desse tipo é adotado coerentemente em todo o edifício, é entendido racional ou intuitivamente por todos os usuários do prédio e assim pode contribuir para esclarecer os conceitos subjacentes à organização do acesso. Uma classificação adicional pode ser obtida mediante a forma dos painéis de vidro, o tipo do vidro empregado: semitransparente ou opaco, ou a meia-porta. Quando, ao projetar cada espaço e segmento, temos consciência do grau de relevância da demarcação territorial e das formas concomitantesdas possibi lidades de "acesso" aos espaços vizinhos, podemos expressar essas diferenças pela articulação de forma, mate ria l, luz e cor, e introduzir certo ordena'mento no projeto como um todo. Isto, por sua vez, pode aumentar a consciência dos moradores e visitantes quan to à composição do edifício, formado por ambientes diferentes no que diz respe ito ao ccesso. O grau de acesso de espaços e lugares fornece padrões poro o projeto. A escolha de motivos arqui tetônicos, sua articulação, forma e material são determinados, em parte, pelo grau de acesso exigido por um espaço. DOMíNIO PÚBlICO 19 20 21 12 23 U -3 DIFERENCIACAO , TERRITORIAL 20 l iÇÕ ES DE AlQUllElURA -._-.-: •. •. ; , --"._ -.;;-._-~ -'!:l ; .... '~:-'7 -::'~~J~:-,,:i 't~l Escora Monfessori, De/fi Hotel Solvoy, Bruxe/os, 1896/V. Horto {ver tombém págino 84} Ao marcar as gradações de acesso público às diferentes áreas e partes de um edifício em uma planta, obtemos uma espécie de mapa mostrando a Ildiferenciação territorial". Este mapa mostrará claramente que aspectos de acesso existem na arquitetura, quais são as demarcações de áreas específicas e a quem se destinam, e que espécie de divisão de responsabilidades pode ser esperada no que diz respeito aos cuidados e à manutenção dos diferentes espaços, de modo que essas forças possam ser intensificadas (ou atenuadas) na elaboração posterior da planta. DOM iNIO PÚBliCO 21 15 26 1J 28 29 4 ZONEAMENTO TERRITORIAL 30 r. - 22 lI ÇÔES DE ARQUITETURA o caráter de cada área dependerá em grande parte de quem determina o guarnecimento e o ordenamento do espaço, de quem está encarregado, de quem zela e de quem é ou se sente responsável por ele. ,. -- I -I :1 L ' --- - -- --, EDIFíCIO DE ESCRITÓRIOS CENTRAAl BEHEER (30, 31 1 Os efeitos surpreendentes obtidos pelos fu nc ionários do Centraol Beheer na maneiro como ordenaram e persona lizaram o espaço de seus escritórios com cores de sua escolha, vasos e obietos de estimação, não são apenas a conseqüência lógica do fato de o acabamento dos interiores ter sido deliberadamente entregue aos usuários do edifíc io. Embora a nudez do interior severo e cinzento sejo um convite t :':"\ {,:=ry ~_:. ~~~/ I ... ~ . -:-, ." DOMINIO PÚ BLICO 23 31 32 3J óbvio poro que os usuórios dêem os toques de acabamento ao espaço de acordo com seus gostos pessoais, isto, por si só, não é garantia de que irão fazê-lo. É preciso algo mais para que isso aconteça: para começar, a própria forma do espaço deve oferecer as oportunidades, incluindo os acessórios básicos, etc., para que os usuários preencham os espaços de acordo com suas necessidades e deseios pessoais. Mas, além disso, é essencial que a liberdade de tomar iniciativas pessoais esteio presente na estruturo organizacional da instituição, e este aspecto tem 24 LIÇÕ ES DE ARQUITElUIA conseqüências muito maiores do que se pode pensar à primeira vista. Pois a questão fUndamentai é saber quanta responsabilidade a alta direção está disposta a delegar, isto é, quanta responsabilidade será dada aos usuários individuais dos escalões mais baixos. É importante ter em mente que, neste caso, um empenho tão excepcional para investir amor e cuidado no ambiente de trobalho só se tornou possível porque a responsabi lidade de ordenamento e acabamento dos espoços foi deixada aos usuários, de maneira muito explícita. Foi graças a isso que as oportunidades oferecidas pelo arquiteto foram efetivamente aproveitados, gerondo um resultado de êxito surpreendente. Mas, se este edifício foi originalmente construído como uma expressão espacial da necessidade de um ambiente mais humano (embara muitos suspeitassem que isso teria sido motivado por considerações relativas ao recrutamento de pessoal), há no momento uma tendência paro a desumanização, em gronde parte decorrente de cortes nos custos, que afetam particularmente o quadro de funcionários. Mas pelo menos pode-se dizer que o edifício oferece uma resistência louvável a essa tendência, e que, com um pouco de sorte, conseguirão conservar o seu esti lo. O que desaponta é que o que pensóvamos ser um passo in icial rumo o uma responsabilidade maior poro com os usuários revelou ser apenas o último passo que pode ser dado no momento. Hoie, isto é, em 1990, restou muito pouco da decoroção expressivo e colorida dos ambientes de trobalho. O apogeu da expressividade pessoal da década de 1970 deu lugar à li mpeza e à ordem. Parece que o impulso de expressão pessoal desapareceu e que neste momento as pessoas tendem mais ao conformismo. Talvez em rozão do medo diante do crescente desemprego da década de 1980, considero-se mais sensato assumir uma posição menos extrovertida, e os efeitos dessa situação iá podem ser vistos na atmosfera fria e impessoal da maioria dos escritórios de hoie. FACULDADE DE ARQUITETURA DO MIT, CAM8RIDGE, USA OFICINA DE TRA8ALHO 1967 132, 331 O grau de influência que os usuários podem exercer, em casos extremos, sobre seu ambiente de trobalho ou de moradia é claromente demonstrodo nos aiustes feitos à arquitetura existente pelos estudantes de arquiteturo do Mil Os estudantes opuseram-se a ter de trabalhar em pranchetas de desenho arrumados em fi las longas e rígidas, todas voltadas na mesma direção. Usando restos de material de construção, eles construíram o tipo de espaço que queriam - no qual podiam trabalhar, comer, dormir e receber seus orientadores. Seria de esperar que cada novo grupo de estudantes deseiasse fazer seu próprio aiuste, mas o situação evoluiu de outro maneiro. O resultado da feroz disputa com as autoridades locais de prevenção a incêndios foi que todas as estruturas teriam de ser derrubadas, a rT)enos que um sistema completo de sprink/ers fosse instalado. Depois que essa providência foi tomada, a situação tornou-se permanente, e a ambiente, se é que ainda existe, pode ser visto como um monumento ao entusiasmo de um grupo de estudantes de arquitetura. Mas não devemos nos surpreender se tudo já não foi eliminado lou venha a sê-lo) - a burocracia da administração centralizadora voltou a assumir o controle. A inFluência dos usuários pode ser estimulada, pelo menos nos lugares certos, Le., onde se pode esperar o envolvimento necessário; e como isto depende do grau de acesso, das demarcações territoriais, da organização da manutenção e da divisão de responsabilidades t é essencial que o projetista esteja plenamente" consciente desses fatores nas suas gradações adequadas. Nos casos em que a estrutura organizacional impede os usuários de exercerem qualquer inFluência pessoal em seu ambiente, ou quando a natureza de determinado espaço é tão pública que ninguém se sente inclinado a exercerem influência nele, não há motivo pora que o arquiteto tente fazer uma contribuição nesse sentido. No entanto, o arquiteto ainda assim pode tirar vantagem da reorganização que o ato de ocupar um novo edifício sempre requer e tentar exercer a lguma influência na reavaliação da divisão de responsabilidades, pelo menos no que diz respeito ao ambiente físico. Uma coisa pode levar à outra. Pelo simples fato de apresentar argumentos capazes de assegurar à alta direção de que delegar responsabilidades pelo ambiente aos usuários não resulta necessariamente em caos, o arquiteto coloca-se em posição de contribuir para melhorar as coisas, e certamente é seu dever fazer pelo menos uma tentativa !lesse sentido. ESCOlA MONTESSORI, DElFT )3A, 35) Uma prancha de madeira acima da porta, com uma largura extra para que sobre ela possam ser colocados objetos - como neste caso entre a sala de aula e o hall-, presta-se mais a ser usada se for acessivel pelo lado adequado, i.e., pela lado de dentro da sala de aula. A estante acima pode criar um efeito estético agradável se a vidraça for recuada, mas é improvável que seja usada . EDIFíCIO DE ESCRITÓRIOS CENTRAAlBEHEER )36-39) Embora o cuidado pelas espaços dos escritórios no edifício Centra0 I Beheer, nos quais cada funcionário tem sua própria ilha particular para trabalhar, seja da responsabilidade dos usuárias, nenhum membro do quadro de funcionários sente-se diretamente responsável pelo espaço central do edifício. A área verde neste espaço central é mantida por uma equipe especiallcf. Obras DnMí NI O PÚBliCO 2S J4 35 36 37 38 39 40 Públicas), e os quadros nas paredes são colocados por uma equipe de profissionais. Estes empregados também fazem seu trabalho com grande dedicação e cuidodo, mas há uma diferença de atmosfera marcante entre a área comunitária e os espaços individuais de trabalho com toda a sua diversidade. Nos balcões de lanches deste espaço central , o serviço é fei to pela mesma moça todo dia; o serviço de lanches foi organizado de tal modo que cada garçonete foi alocada num balcão específico. Ela se sentia responsável por aquele balcão e, com o tempo, acabou por considerá- lo seu 26 lIÇÓES DE ARQUITElURA domínio, dando-lhe um toque pessoal. Estes balcões de café já foram removidos, e bancos e máquinas de café foram instalados em seu lugar. Todo o edifício está passando por uma renovação e uma limpeza, e duronte este processo um grande número de ajustes será feito para otender aos requisitos de um locol de trabolho contemporâneo. CENTRO MUSICAL VREDENBURG (40) A idéia subjacente que teve êxito no Centraal Beheer não se aplica aos balcões de lanches do Centro Musical em Utrecht. Ali a situoção varia consideravelmente de um concerto para outro, com diferentes balcões e diferentes balconistas servindo o público. Já que, no caso, não se esperava uma afinidade especial entre os empregados e os espaços específicos de trabalho, havia motivo suficiente para que as áreas de lanches fossem completadas e inteiramente mobiliadas pelo orquiteto. Em ambos os edifícios - no Centra0 I Beheer e no Centro Musical - as paredes dos fundos são providas de espelhos. No primeiro, porém, eles foram instalados pelos funcionários e no segundo foram escolhidos pelo arquiteto de acordo com os mesmos princípios gerais que regem todo o edifício. Os espelhos da parede dos fundos permitem que se possa ver quem está à frente, atrás e perto de nós. Eles evocam as pinturas de teatro de Manet (41), que usou espelhos para desenhar o espaço dentro do plano do quadro e, assim, definir o espaço mostrando as pessoas e como estão agrupadas. O Centro Musical tem um quadro de funcionários competente e dedicado que cuida do lugar. o mesmo não pode ser dito, por exemplo, dos vagões de refeição das ferrovias holandesas: os garçons constantemente trocam de trem. Seu único compromisso consiste em deixar ó vagão limpo e asseado para o turno seguinte, Imagine como as coisas seriam diferentes se o mesmo garçom trabalhasse sempre no mesmo trem, Embora o vagão-restaurante tenha desaparecido - dos trens holandeses pelo menos - , uma nova forma de serviço surgiu nas viagens aéreos. Mas as refeições servidas nos aviões são mais uma imposição ao passageiro do que um serviço; são servidas em horas que convêm mais à companhia do que ao passageiro (além de serem muito caras, pois estão incluídas no preço iá bastante alto da passagem), Do LuHhan,a Borclbuch, 6/ 88 DO MiN IO PÚ8L ICO 27 41 41 '3 S DE USUÁRIO A MORADOR A tradução dos conceitos de "público" e "privado" à luz de responsabilidades diferenciadas torna mais fácil para o arquiteto decidir onde devem ser tomadas medidtJ5 para que os usuários/habitantes possam dar suas contribuições ao projeto do ambiente e onde isto é menos relevante. Na organização de um projeto em função de plontas-baixas e de cortes, e também de acordo com o princípio das insta lações l podem-se criar as condições para um maior senso de responsabilidade e, conseqüentemente, também um maior envolvimento no arranjo e no mobiliamento de uma área. Deste modo os usuários tornam-se moradores. ESCOlA MONTESSORI, DElFT )44-471 As solos de aula desta escala são concebidos como un idades autônomos, pequenos lares, por assim dizer, já que todos estão situados 00 longo do halJ do escola, como uma ruo comunitária_ A professora, o "tia", de cada cosa decide, junto com as crianças, que aparência terá o lugar e, portanto, qual será o seu tipo de atmosfera_ Cada sala de aula também tem seu pequeno vestíbulo, em vez do usual espoço comunitário pora toda a escola, que em geral significa a ocupação total do espaço por filas de cabides e sua inutilização para qualquer outro fim_ E, sé cada sala de aula tivesse seu próprio banheiro, isto também ,. :f' 28 liÇ ÕES DE ARQU ITETUR A contribuiria para aprimorar o sentido de responsabilidade da criança (a proposto foi rejeitada pelas autoridades educacionais sob o pretexto de que seriam necessários banheiros separados para meninos e meninas - como se fosse assim na casa deles -, o que exigiria o dobro de banheiros). É perfeitamente concebível que as crianças de cada sala mantenham seu IJlarH limpo, como os pássaros fa zem com seu ninho, dando deste modo expressão à ligação emocional com seu ambiente diário_ A idéia Montessori, na verdade, compreende os chamados deveres domésticos como parte do programa diário pora todas as crianças_ Assim, dá-se muito ênfase 00 cuidado com o ambiente, fortalecendo com isso a afinidade emocional das crianças com o espaço à sua volta. Cada criança também pode trazer sua própria planta para a sala de aula e cuidar dela_ (A consciência do ambiente e a necessidade de cuidar dele ocupam um lugar proeminente no conceito de Montessori. Exemplos típicos são a tradição de trabalhar no assoalho sobre tapetes especiais - pequenas áreas temporárias de trabalho que são respeitados pelos outros - e a importância atribuída ao hábito de arrumar as coisas em armários abertos.) Um passo à frente, no sen tido de uma abordagem mais pessoal poro os espoços que circundam diariamente as crianças, incluiria a possibilidade de regular o aquecimento central de cada sala . Isso aumentaria a consciência das crianças quanto ao fenômeno da calor e ao cuidado que temos de tomar para nos mantermos aquecidos, ao mesmo tempo em que as tornaria mais conscientes dos usos da energia. Um Uninho seguro» - um espaço conhecido à nossa volta, onde sabemos que nossas coisas estão seguras e onde podemos nos concentrar sem sermos perturbados pelos outros - é olgo de q~e cada indivíduo precisa tanto quanto o grupo. Sem isso, não pode haver colaboração com os outros. Se você não tem um lugar que pano chamar seu, você não sabe onde está! Não pode haver aventura sem uma base para onde retornar: todo mundo precisa de alguma espécie de ninho para pousar. o domínio de um grupo particular de pessoas deveria ser respeitado tanto quanto possível pelos "estranhos". Por esta razão, há certos riscos ligados ao chamado uso multi funcional. Vamos tomar como exemplo uma sala de aula: se é usada para outras finalidades fora do horário escolar, por exemplo, paro atividades do vizinhança, toda a mobília tem de ser deslocada temporariamente e, claro, nem sempre é colocada de volta a seu lugar adequado_ Em tais circunstâncias, figuras de barro modelado deixadas para secar, por exemplo, podem ser quebradas "ac identalmente" com facilidade, ou então o apontador de lápis de alguém pode desaparecer. 45 DOMíNIO PÚBLICO 29 {} É importante que as crianças possam exibir as coisas que fizeram, digamos, na aula de trabalhos manuais, sem medo de que possam ser destruídas, e que possam também deixar trabalhos inacabados sem que haja o perigo de serem retirados ou "arrumados" por "estranhos/I, Afinal de contas, uma faxina complela feila par outra pessoa pode fazer 30 LIÇÕ ES DE ARQUITEIUIA alguém senlir-se perdido em seu próprio espaço na manhã seguinte. Uma sala de aula, concebida como o domínio de um grupo, pode mostrar suaprópria identidade ao resto da escola se lhe for dada o oportunídade de fazer uma exposição das coísas com os quais o grupo está especialmente envolvido Icoisas que as crianças fizeram dentro ou fora da sala de aulal. Isto pode ser executado de modo informal usando-se a divisória entre o hal! e a sala de aula como espaço de exposição e abrindo-se muitas janelas com peitoris generosos na divisória. Um pequeno mostruário Ineste caso, até iluminado) é um desafio para o grupo apresentar-se de maneira mais formal. O exterior da sala de aula pode então funcionar como uma espécie de "vitrinell que mostra o que o grupo tem a I/oferecer", Desse modo, cada turma pode apresentar uma imagem com que os outros podem se relacionar e que marca a transição enlre cada sala de aula e o espaço comunitário do hal!. ESCOlAS APOLLO 148·50) Se o espaço entre as salas de aula foi usado para criar áreas semelhantes a alpendres, como na escola Montessori de Amsterdom, essas áreas podem servir como lugares de trabalho adequados onde se pode estudar sozinho, i,e., sem estar na sala de aula mas também sem ficar isolado desta. Esses lugares consistem numa superfície de trabalho com il uminação própria e num banco encostado a uma parede baixa, Para regular o contato en tre a sala de aula e o hall da maneira mais sutil possivel , foram instaladas meias·portas, cu ja ambigüidade pode gerar o grau adequado de abertura para o hall e, ao mesmo tempo, oferecer o isolamento necessário a cada situação. Aqui encontramos mais uma vez Icomo na escola de Delk) o mostruário de vidro contendo o museu-miniatura e a expos ição da sala de aula. "," . ._._ ---; .. ...:...~ . , ~p.. "~!" :/ AS A9 50 DOMíNIO PÚBLICO 31 6 O "INTERVALO" li ~4i.~. :>: .... ' ~:;;~ ,- ;.: ~o , "; o significado mais amplo do conceito de intervalo foi introduzido em Forum 7, 1959 (la plus grande réolité du seuil) e em Forum 8, 1959 IDas Gestalt gewordene Zwischen: lhe concretization of lhe in·between) A soleira fornece a chave para a transição e a conexõo entre áreas com demarcações territoriais divergentes e, na qualidade de um lugar por direito próprio, constitui, essencialmente, a condição espacial para o encontro e o diálogo entre áreas de ordens diferentes. -~-~. ~' ~:; .. ' .. . , 32 IIÇÕ fS Df ARQUllfTURA o valor deste conceito é mais explícito na soleira par excellence, a entrada de uma casa. Estamos lidando aqui com o encontro e a reconciliação entre a rua, de um lado, e o' domínio privado, de outro. A criança sentada no degrau em frente à sua casa está suficientemente longe da mãe para se sentir independente, para sentir a excitação e o aventuro do grande desconhecido. Mas, ao mesma tempo, sentada ali no degrau, que é parte da rua assim como da casa, ela se sente segura, pois sabe que sua mãe está por perto. A criança se sente em casa e ao mesmo tempo no mundo exterior. Esta dualidade existe graças à qual idade espacial da soleira como uma plataforma, um lugar em que os dois mundos se superpõem em vez de estarem rigidamente demarcados. ,. , . . , . ..;;- ;, :":.." ; ~.'l.. . .. , ~. ..~. ":P .. _~~ .f:' T ... ; .(' ;.' . ,: ..... . .. . · , ~ . . J': ~-' .• ' E5COLA MONTE550RI, DElFT (52·56) A entrada de uma escola primária devia ser mais do que uma mera abertura através da qual as crianças são engolidos quando os aulas começam e expelidas quando elas terminam. Deveria ser um lugar que oferecesse algum tipo de conforto para os crianças que chegam cedo e para os alunos que não querem ir logo para casa depois das aulas. As crianças também têm seus encontras e compromissos. Muros baixos em que se possa sentar são o mínimo a se oferecer; um canto bem abrigado é melhor, mas o melhor mesmo seria uma área coberta para quando chove. A entrado de um iordim-de-infôncia é freqüen tado pelos pois - ali eles se despedem de seus filhos e esperam por eles quando as aulas terminam. Os pois que esperam os filhos têm assim uma belo oportunidade para se conhecer e para combinar visitas das crianças às cosas dos colegas. Em sumo, este pequeno espaço públi co, como local de encontro para pessoas com interesses comuns, cumpre uma importante função social. Como resultado do mais recente transformação, em 1981 [56), esta entrada não mais existe. DOMíNIO PÚ8l1CO 33 52 5~ 53 55 56 57 59 58 DE OVERLOOP, lAR PARA IDOSOS {57, 58) Uma órea coberta na porta do frente, o começo da "soleira" / é o lugar em que dizemos olá ou adeus aos visitantes, limpamos a neve das botas e penduramos o guarda-chuva. As entradas cobertas para os apartamentos do abrigo De Overloop, em Almere, são equipadas com bancos perto das portas da frente. As portas da frente estão dispostos de duas em duas para forma r um alpendre combinado, o qual, porém, é dividido em entradas separadas por uma divisório vertical que se proieta a partir da fachada. As meias-portas permitem a quem esteio sentado do lado de foro manter contato com o interior do apartamento, de modo que se pode pelo menos ouvir o telefone tocar. Esta zona de entrada é vista como uma extensão da caso, como se pode perceber pelos capachos colocados do lado de foro. 34 II(OES DE ARQUlmUiA Graças à saliência da cobertura, ninguém precisa esperar na chuva até que a porto seio aberta, enquanto a atmosfera hospitaleira do lugar dá a quem chega o sensação de que iá está quase dentro da caso. Pode-se dizer que o banco na porta da frente é um motivo tipicamente holandês - pode ser visto em muitas pinturas antigasl mas, no nosso século, Rietveld, por exemplo, criou o mesmo arranjo, completado por uma meia-porta, em sua famosa casa Schroder. Utrecht, 1924 159) . . ~ '- DE DRIE HOVEN, LAR PARA IDOSOS 1601 Em situações nas quais possa ser necessário um contalo entre o interior e o exterior - num [ar para idosos{ por exemplo, alguns dos moradores passam boa parte de seu tempo na solidão de seus próprios quartos por causa da mobilidade reduzida, esperando que alguém vá visitá-los, enquanto outros moradores que ficam do lodo de fora também gostariam de algum contato - , em tais situações, uma boa idéia é instalar portas qlm duas seções, de maneiro que o porte de cimo posso ser mantido aberto e a porte de baixo fechado. Essas "meio-portas" constituem um cloro gesto de convite: o porto está aberto e fechado 00 mesmo tempo, i.e., suficientemente fechado para evitar que as intenções dos que estão lá dentro fiquem demasiadamente explícitos, mos aberto o bastante para fac ilitar o converso casual com quem está passando, o que pode levar o um contato mais íntimo. A concretização da soleira como intervalo significa, em primeiro luga r e acima de tudo~ criar um espaço para as boas-vindas e as despedidas, e, portanto, é a tradução em termos arqu itetônicos da hospitalidade. Além disso, a soleira é tão importante para o contato s'Ocia l quanto as paredes grossas para a privacidade. Condições para a privacidade e condições para manter os contatos sociais com os outros são igua lmente necessórias. Entradas, alpendres e mu itas outras formas de espaços de intervalo forn ecem uma oportunidade para a lIacomodaçãorl entre mundos contíguos . Esto espécie de dispositivo dá margem a certa articulação do edifício em foco, o que requer espaço e dinheiro, sem que sua função possa ser faci lmente demonstrável - e ainda menos quantificável -, e, por esse motivo, torna-se muitas vezes difícil de realizar, exigindo esforço e trabalho de persuasão constante durante a fase de planejamento. RESIDÊNCIAS DOCUMENiA URBANA (61-701 O edifício em forma de meandro, denominado Ilserpente'!! é composto de segmentos, cada um deles proietado por arquitetos diferentes. As escadas comunitários foram colocadas numa situação de ampla lum inosidade, bem maior que a do espaço residual costumeiro, em geral de pouco luminosidade. Numa residência para váriosfamílias, o ênfase não deve recair exclusivamente sobre medidas arquitetônicas destinadas a prevenir o barulho excessivo e o inconveniência dos vizinhos; uma atenção especial deve ser dado em particula r à disposição espacial, que pode conduzir aos contatos sociais esperados entre os vários ocupantes de um mesmo edifício. Por conseguinte, atribuímos às escadas mais importância do que de costume. As escadas comunitárias não devem ser apenas uma fonte de aborrecimento no que diz respeito 00 acúmulo de suieira e à limpeza - devem servir também, por exemplo, como um playground para os crianças de famílias vizinhos. Por este motivo, foram proietadas com o máximo de luz e abertura, como ruas com telhado de vidro, e podem ser avistados das cozinhas. Os alpendres de entrado abertos, com duas portos, uma após o outro, expõem ao território comunitário um pouco mais de seus moradores do que as portas fechados tradicionais. Embora, naturalmente, tenho-se tomado cuidado poro assegurar a privacidade adequada nos terraços, os famílias vizinhos não estão de todo isolados umas das outras. Procuramos proietar os espaços exteriores de tal modo que o vedação necessário roube o mínimo possível dos DO MíNIO PÚBliCO 3S 60 61 36 ti ÇÕES DE AIQUITETUIA ••••• llIl . . II .~ li iD 'l!I : I!IIII 62 63 64 45 6/, 67 :ondições espaciais para cantatas entre os vizinhos. Tal , ,,cansão do espaço mínimo requerido para "finalidades de :":culação" mostrou-se capaz não apenas de atrair as :"ianças - serve também como um lugar em que as vizinhos ;:odem se sentar e conversar. Neste caso os moradores ': mbém providenciaram os equipamentos. Edifício à direito: O. Steidle, arquiteto. DaM·,N la PÚBLICO 37 68 69 70 Além da tradicional porta da frente, as moradias têm uma segunda porta de vidro que também pode ser trancada e que conduz à escada, obtendo-se assim um espaço de entrada aberto. Uma vez que esse espaço intermediário entre a escada e a porta da frente é interpretado de maneira diferente por pessoas diferentes - i.e., não apenas como parte das escados mas também como uma extensão da casa - , é usado por alguns como um hall aberto, no qual a atmosfera da casa pode penetrar. Deste modo, dependendo de qual das duas porias é considerada como a verdadeira porta da frente, os moradores podem expor sua 38 IIÇÔES DE ARQUITETURA individualidade, em geral restrita à intimidade do lar, ao mesmo tempo em que a escadaria perde algo de sua característica de terra-de-ninguém e pode até adquirir uma atmosfera autenticamente comunitária. O princípio do caminho vertical para o pedestre, tal como aplicado no projeto habitacional de Kossel, foi posteriormente elaborado no conjunto habitacional LiMo em Berlim. As escadas desse conjunto conduzem a terraços comunitários nos telhados. No final , dec idiu-se que não seria necessário incorporar as varandas para lazer previstas no projeto de Kassel, já que o pátio isolado oferecia o espaço de lazer adequado, especialmente para as cnanças mOls novas. C IÉ NAPOlÉON, PARIS, 1849 / M. H. VEUGNY 171 ·74) ' . Cité Napoléon, em Paris, fo i uma dos primeiros ·~;'ltatjvas, e certamente a mais notável, de solução razoável :oro o problema da distôncio entre o ruo e o porto do '-ente num prédio residencial de muitos andares. Este =-3paço interior, com suas escadas e passarelas , evoca as ,dificoções de vários andores de uma aldeia nos -contonhos. Uma razoável quonlidade de luz alcança os ondores mais altos através do telhado de vidro. Os moradores dos andores de cima obrem suas janelas ;mo este espaço interior, e o presença de vasos de plantas "ostra, pelo menos, que os pessoas dão valor o esse 2=tolhe. Embora não tenho sido possível - em que pesem os : oos intenções dos construtores - transformar esse espaço -.ierior (fechado como é em relação à rua lá foro) numa '!ia interno verdadeiramente funcional segundo nossos "cdrões, não há dúvida de que este exemplo se desloco de -caneiro brilhante, sobretudo quando se penso em todas oiuelos sombrios escadarias construídos desde 1849. ,,- o 5 10 IULJ 71 72 73 DOMíNIO PÚBLICO 39 75 76 77 7 DEMARCACÕES PRIVADAS , NO ESPACO PÚBLICO , o conceito de intervalo é a chave para eliminar a divisão rígida entre áreas com diferentes demarcações territoriais. A questão está , portanto, em criar espaços intermediários que, embora do ponto de vista administrativo possam pertencer quer ao domínio público quer ao privado, sejam igualmente acessíveis para ambos os lados, isto é, quando é inteiramente aceitável, paro ambos os ladosf que o "outro" também possa usá-lo. DE DRIE HOVEN, LAR PARA IDOSOS 175·77) Os corredores servem como ruas num edifício que deve funcionar como uma cidade para seus moradores, afetados por sérios limitações, jé que a maior porte deles é incapaz de deixar a éreo sem ajudo. As unidades de habitaçõo situadas ao longo desta Hrua" têm, aos pares, óreas semelhantes o alpendres, que, por um lodo, pertencem às habitações, mas, por oulro, também fazem parte da Hrua". Os moradores colocam suas coisas ali , cuidam deste espaço e com freqüência criam plantas e Aores ali , como se este fosse parte de suo próprio coso, uma espécie de varando no nivel do ruo. Embora o érea do alpendre seja completamente acessível aos transeuntes, permanece como parte da rua. É extremamente difícil reservar os poucos metros quadrados necessérios o um objetivo como esse dentro da infinita rede de regulamentos e normas que se referem às dimensões mínimas e méximas que governam cada um dos aspectos do projeto arquitetônico. No coso dos obrigas sociais, esse aspecto é considerado, 40 liÇÕES DE ARQUITETURA do ponto de visto admin istrativo, como uma redução indevida do tamanho da unidade domiciliar, ou como uma expansão indevida do corredor: o funciona lidade de cada metro quadrado é, afinal, medida de acordo com a utilidade quantificáve l. O amor e o cuidado que os moradores investem neste espaço, que, estritamente, não é porle do apartamento, dependem de um detalhe aparentemente menor, ou seja, a janela que lhes permite vigiar os objetos que foram colocados lé fora, não só como uma precaução contra o roubo, mos simplesmente porque é agradável poder ver as próprias coisas ou verificar como as plantas vão indo. O arquiteto preciso de uma dose incomum de engenhosidade para que esta idéio consiga paslar pela vigilância cuidadosa das autoridades responsáveis pela prevenção de incêndios. Os quadros de luz no "De Drie Hoven" perto dos portas da frente foram instalados em pequenos muretas salientes, de tal modo que se pode colocar facilmente um to pete ao lado. ! . Usando pedaços de tapete, os moradores se apropriam do cequeno espaço assim criado e o equipam, estendendo desta aneira os limites de sua casa além da porta da Irente. Se incorporamos as sugestões espaciais adequados em osso projeto, os moradores sentem-se mais inclinados c expandir sua esfera de inFluência em direção à área pública. Até mesmo um pequeno ajustamento, na forma de uma articulação espacial da entrada, pode ser o bastante para estimular a expansão da esfera de influência pessoal, e, deste modo, a qualidade do espaço público será consideravelmente aprimorada no ;nteresse comum. ; :;'OÊNCIAS DIAGOON 178·831 :) que poderia ser leito com as calçadas nas "ruas ":-sidenciais", se coubesse aos moradores a ' .'ponsabil idode pelo espaço, pode ser imaginado com : :::Ee na experiência com as calçadas em frente às -ê;,dências Diagoon, em Delk. A área em Irente às -"adias não loi projetada como jardim; loi simplesmente !"3/!mentada como uma calçada comum e, :olseqüentemente, como parte do domínio público, ~-bora , de modo estrito, não o seja . ' L ;-; , . "-L !! óreas pertencentes às diversas casas não loram :~marcadas, e o layout não contém nenhuma sugestão de :;marcaçõo privado. A pavimentação loi leita com blocos de ; :;;creto comum, o que desperta automaticamente associações :0'" uma rua pública porque as calçadas em geral são : :vimentadas com o mesmo material. Os moradores então ':>meçaram a remover alguns dos blocos de concreto para d ocar plontas no lugar. "Dessous les pavés lo plage." ~ resto dos blocos loi deixado intacto para proporcionar um ~crminho até a porto ou um espaço para estacionar o carro :a lamília perto da casa. Cada morador usa a área em Irente : sua casa de acordo com suos necessidades e desejos, """ orparando a parte da área de que necessita e deixando o 'esto acessível para o uso público. Se o layoul tivesse partido da idéia de áreas separadas, !:rivadas, então sem dúvida todos iriam usá-Ias ao máximo ~m seu pró·prio benefício, mas surgiria uma divisão irreversivelmente abrupta entre o espaço público e o privado, em vez da zona intermediária que loi criada, uma lusão do território estritamente privado das casas e da área pública da rua. Nesta área de intervalo, entre o público e o privado, demarcações ind ividuais e coletivas podem superpor'se e os conllitos resultantes devem ser resolvidos mediante um acordo entre os partes. É aqui que cada morador desempenha o papel que revela o tipo de pessoa que quer ser e, por conseguinte, como deseia que os outros o vejam. Aqui se decide também o que o indivíduo e a coletividade podem olerecer um 00 outro. DOMi NIO PÚBLI CO 41 78 79 811 81 81 83 85 86 MORADIAS liMA [84·891 O conjunto de moradias LiMa está localizado na ponta de uma área triangular, cuja esqu ina é ocupada por uma igreja. Os volumes desta igreja não se 'relacionam claramente com o alinhamento arquitetônico geral. 42 LlÇÓES DE ARQUITETURA Construir nesta ilha triangular implica manter a igreja à parte como uma estrutura destacada e autônoma. O pátio é bastante diferente do tradicional e muitas vezes deprimente pátio berli nense, e sua concepção é a de um espaço público com seis caminhos de acesso para os pedestres, incluindo conexões com a rua e com o pátio vizinho. Estes caminhos para pedestres constituem parte das escadarias comunitárias. No centro do pá tio há um amplo tanque de areia dividido em segmentos, cuias laterais foram decoradas com mosaicos pelas próprias famí lias dos moradores . Não foi difícil despertar o entusiasmo dos moradores - os quais já estavam profundamente interessados no projeto do pátio - especialmente depois que eles viram as fotografias do parque de Gaudí e as Torres Waij. A ajuda técnica e organizacional foi fornec ida por Akelei Hertzberger, que empreendeu vários projetos semelhantes no passado com resultados igualmente bem· sucedidos. No começo, foram principalmente as crianças que contribuíram com seus "Iadrilhos", mas logo em seguida os adultos aderiram, trazendo qualquer pedaço de cerâmica que pudessem obter. I I I ·enhum arquiteto hoje seria capaz de dedicar tanta ::J lenção a um tanque de creiol nem isto seria necessário, :~'que é algo que pode ser deixado para os próprios -oradores. É di~ci l imaginar uma maneira melhor de 'õmonder ao incentivo oferecido. Mas ainda mais l1portante é o fa to de que o tanque de areia se tornou o 80 que pertencia a eles e um objeto de seus cuidados: se . -, fragmento do mosaico cai ou revela ser pontudo :emois, por exemplo, algo seró fei to sem que haja ,scessidade de reuniões especiais l cartas oficiais ou cocessos contra o arquiteto. Uma área de rua com a qual os moradores estão envolvidos, onde marcas individuais são criadas por eles pr,;prios, é apropriada conjuntamente e transFormada num espaço comunitário. DOMíNIO PÚBliCO 43 87 88 89 8 CONCEITO DE OBRA PÚBLICA Conjunto residencial Biilmermeer, Amsterdam \\I 91 92 Fotomonfagem 44 lIÇÕ,S Df ARQUIHTURA Projeto residencial Fomílistere, Guise, França o segredo é dar aos espaços públicos uma forma tal que a comunidade se sinta pessoalmente responsável por eles, fazendo com que cada membro da comunidade contribua à sua maneira para um ambiente com o qual possa se relacionar e se identificar. O grande paradoxo do concei to de bem-estar coletivo, tal qual se desenvolveu lado a lado com os ideais do socialismo, é que ele acaba subordinando as pessoas 00 sistema que foi construído para libertá-Ias. Os serviços prestados pelos departamentos de Obras Públicas Municipa is são vistos, por aqueles em cujo benefício esses departamentos foram criados, como umo abstração opressiva; é como se as obras públicas fossem uma imposição vinda de cima; o homem comum sente que "não tem nada a ver com e le", e, deste modo, o sistema produz um sentimento generalizado de alienação. Ds jardins públicos e os cinturões verdes em volta dos il ecos de apartamentos nas novas áreas urbanas são de -~sponsobi lidade dos departamentos de Obras Públicas, que fazem o que podem para tornar essas áreas tão atraentes quanto possível - dentro dos li mites dos orçamentos alocados - em benefício da comunidade. Mas os resultados conseguidos desta maneiro não deixam de ser rígidos, impessoais e anti econômicos, comparados com os que poderiam ser alcançados se todos os moradores dos apartamentos tivessem a oportunidade de usar um pequeno pedaço de terra Imesmo que fosse apenas do tamanho de uma vaga de estacionamento) para seus próprios ob jetivos. O que foi negado à coletividade poderia ter sido o contribuição de cada morador da comunidade. O espaço poderia ser usado de modo mais intensivo se nele fossem investidos amor e cuidado pessoal. Um exemplo desta afirmação pode ser visto no Familistere em Guise, na França, um projeto de moradias construído para a fóbrica de fogões Godin: uma comunidade de moradores e trabalhadores moldado de acordo com as idéias de Fourier. Embora construída no século XIX, ainda conserva seu in teresse como um exemplo do que pode ser feito. MORADIAS VROESENlAAN, ROnERDAM, 1931-34 / J. H. VAN DEN BROEK 193,941 As áreas de lazer e conforto comunitárias só podem florescer pelo esforço comunitário dos usuários. Essa deve ter sido a idéia subjacente aos espaços comunitários interiores - sem cercas e divisórias - que foram pro jetados nos anos 20 e nos anos 30. DOMíN IO PÚBliCO 4S 95 DE DRIE HOVEN, lAR PARA IDOSOS 195) O espaço cercado contendo animais, que deve sua existência à iniciativa de um membro da equipe do "De Drie Haven" , desenvolveu-se até tornar-se um zoológico em miniatura, com um faisão, um pavão, galinhas, cabras, uma porção de patos num lago cheio de peixes, Paro os idosos que moram no lar, os animais compõem uma visto agradável e interessante, e os quartos com vista paro a menagerie são os mais procurados. Abrigos de fabricação caseiro poro os animais passarem a noite foram providenciados por entusiastas, mas, logo que esse esquema popular virou um sucesso e a expansão se tornou necessário, o Departamento de Inspeção de Moradias decidiu que as coisas não podiam mais continuar assim; estipularam então que era preciso submeter à aprovação de autoridades e comissões competentes uma planta de construção elaborado por profi ssionais, Poro a população loca l, o menagerie represento um convite ao envolvimento nos cuidados com os animais ou simplesmente um passeio para ver como eles estão, Quando é que as crianças da cidade vêem animais2 Os únicos que a maioria delas vê em seu ambiente são animais domésticos de estimação, cachorros presos em coleiras, já que parece impossível organ izar formas de posse coletiva de animais com divisão de responsabilidades pela suo manutenção, Uma idéio dessa natureza nem sequer é sugerida - os moradores locais, afinal, normalmente não exercem nenhuma influência na maneira como seus espaços comunitários são organizados e usados, Mos não podemos 46 LIÇÕES DE ARQUITETURA . ': ~.~ :" , '/"'-: .,j esperar que o setor de Obras Públicas vá cuidar de animais por toda a cidade. Paro isso, seria ne<:essário um novo . departamento com funcionáriosespecializados, para não falar dos milhares de avisos dizendo "Não dê comida aos • • 1/ anImaiS. A distribuição dos espaços e os animais no "De Drie Hoven" constituem um fator de indução natural para o contato social entre os seus idosos moradores e a população local- dois grupos com limitações diferentes, Os moradores do lar são forçados pelas circunstâncias a ser estranhos na cidade, mas graças a "seu" jardim podem oferecer alguma compensação pora os outros - os quais, por sua vez, são estranhos na área do "De Drie Hoven", Estes exemplos servem para ilustrar como as melhores intenções podem levar à desilusão e à indiferença. As coisas começam a dar errado quando as escalas se tornam grandes demais, quando Q conservação e o administração de uma área comunitária não podem mais ser entregues àqueles que estõo diretamente envolvidos e se torna necessária uma organização especial, com sua equipe especializada, com interesses e preocupações próprios quanto à sua continuidade e, possivelmente, à sua expansão. Quando se atinge o ponto em que o principal preocupação de uma organizaçõo é assegurar a continuidade de sua existência - independente dos objetivos para as quais foi criada, ou seja, fazer pelos outros o que não se pode esperar que eles mesmos façam -, neste momento a burocracia assume o controle. As regras tornam-se uma camisa-de-Força de regulamentos_ O sentido de responsabi lidade pessoal perde-se numa burocracia sufocante de responsabilidades para com superiores. Embora não exista nada de errado com as intenções do elo individual nesta interminável cadeia de interdependências, elas se tornam virtualmente irrelevantes porque estão demasiado afastadas daqueles em cu jo benefício todo o sistema foi inventado. A razão pela qual os habitantes da cidade se tornam estranhos em seu próprio ambiente de vida é porque o potencial da iniciativa coletiva foi grosseiramente superestimado ou porque a participação e o envolvimento foram subestimados. Os moradores de uma casa não estão de fato preocupados com o espaço fora de seus lares, mas ~'iÜ mbém não podem ignorá-lo. Esta oposição conduz à dienação diante de seu ambiente e - na medida em '~ue suas relações com os outros são influenciadas por ate - conduz também à alienação dia nte dos ,,,,,:,,.oradores vizinhos, O crescimento do nível de controle imposta de cima ~ra baixo está tornando o mundo à nossa volta cada ~z mais inexorável: e isso abre caminho para a -'J.gressividade que, por sua vez, conduz a um >;:::1ri jecimento ainda maior da teia de regulamentos. o resultado é um círculo vicioso, a falta de c.omprometimento e o medo exagerado do caos ,,= limentando-se mutuamente. A incrível destruição da propriedade pública, c~,;truição que está aumentando nas principais cidades "' .;) mundo, pode ser provavelmente imputada à -=1ienaçõo diante do ambiente de vida. O fato de que :;~. abrigos de transporte público e os telefones :viblicos venham senda, semana após semana, ~~mpletamente destruídos é na verdade uma ~~ormante acusação à nossa sociedade como um todo. !Jose tão alarmante, no entanto, é que essa tendência .- e sua escala - é enfrentada como se fosse um mero ?foblema de organização: por meio do expediente de reporos periódicos, como se tudo não passasse de uma questão rotineira de manutenção, e da aplicação de retorças-extras ("à prova de vândalos") . Desta rr: oneira, a situação parece estar sendo aceita como ' apenas mais uma dessas coisas". Todo o sistema repressivo da ordem estabelecida é gerado para evitar iConflitos, para proteger os membros individuais da i.omunidade das incursões de outros membros do ~esma comunidade, sem o envolvimento direto dos .... , divíduos em questão. Isso explica por que há um !O::edo profundo da desordem, do caos e do .. esperado, e por que os regulamentos impessoais, .... objetivos'I, são sempre preferidos ao envolvimento pressoal. É como se tudo devesse ser regulamentado e quantificável, de modo que permitisse um controle total e criasse as condições para que o sistema repressivo da ordem nos torne locatários em vez de co-proprietários, subordinados em vez de participantes. Assim, o próprio sistema cria a a lienação e, embora afirme representar o povo, na verdade impede o desenvolvimento de condições que poderiam resultar num ambiente mais hospitaleiro. • O arquiteto pode contribuir para criar um ambiente que ofereça muito mais oportunidades para que as pessoas deixem suas marcas e identificações pessoais, que posso ser apropriado e anexado por todos como um lugar que realmente lhes "pertença", O mundo que é controlado e ad ministrado por todos e para todos terá de ser construído com entidades pequenas e funciona is, não ma iores do que as capacidades de cada um para mantê-Ias. Cada componente espacial será usado mais intensamente lo que valoriza o espaço), ao mesmo tem po em que se espera que os usuários demonstrem suas intenções. Mais emancipação gera mais motivação, e deste modo pode-se liberar a energia represada pelo sistema de decisões centralizadas. Isto constitui um apelo em favor da descentra lização dos responsabilidades, de sua restituição onde for possível, e em favor da delegação de responsabilidade a quem de direito - para que possam ser tomadas medidas eficazes, para resolver os problemas da inevitável alienação diante do "deserto urbano", DOMíNIO PÚBliCO 47 96 9 A RUA Amsterdam, bairro operário, a vida nas ruas: bem diferente de hoie, mos lembre'se de como as moradias eram apertadas e inadequadas naquele tempo 97 9S Gioggia, It6lio. Ruo de convivência, sem trânsito. Procurando um fugor no sombra 48 liÇÕES DE AlQUllfTURA Para além de nossa porta ou do portão do jardim, começa um mundo com o qual pouco temos a ver, um mundo sobre o qual praticamente não conseguimos exercer influência. Há um sentimento crescente de que o mundo para além de nossa porta é um mundo hostil, de vandalismo e agressão, onde nos sentimos ameaçados, nunca em casa. No entanto, tomar esse sentimento generalizado como ponto de partida para o planejamento urbano seria fatal. Certamente seria bem melhor voltar ao conceito otimista e utópico da "rua reconquistada", que podíamos ver tão claramente diante de nós há menos de duas décadas. Nesta visão, inspirada pelo prazer existencialista diante da vida no pós-guerra (especialmente o Provo, no coso da· Holanda), a rua é de novo concebida como o que deve ter sido originalmente, ou seja, um lugar onde o contato social entre os moradores pode ser estabelecido: como uma sala de estar comunitária. E o concei to de que as relações sociais podem até ser estimuladas pela aplicação eficiente ele recursos arquitetônicos pode ser encontrado em Team X e especialmente em FOTurn, onde, como um tema central, esta questão era repetidamente levantada. A desvalorização desse conceito de rua pode ser atribuído aos seguintes fatores: I I I i I l , I , • o aumento do tráfego motorizado e a prioridade que recebe; • a organização sem critérios de áreas de acesso às moradias, em particular as portas da frente, por causa de vias indiretas e impessoais de acesso, tais como galerias, elevadores, passagens cobertas (os inevitáveis subprodutos de construções muito altas) que diminuem o contato com o nível da rua; • a anulação da rua como espaço comunitário por -causa do assentamento dos blocos; • densidades reduzidas de moradias, enquanto o número de moradores por unidade também diminui ocentuadamente. Assim, o queda da densidade populacional vem acompanhada por um acréscimo no -espaço de habitações por moradores e na largura das ruas. A conseqüência inevitável é que as ruas de hoje estão bem mais vazias do que as do passado; a lém dissol o melhoria no tamanho e na qualidade das moradias significa que as pessoas passam mais tempo ~entro de casa e menos na ruai • quanto melhores as condições econômicasdas ~essoas, menos ela necessitam dos vizinhos, e tendem :;! fazer menos coisas juntas. A prosperidade crescente parecei por um lado, ter estimulado o individualismo, enquanto, por outro lado, permite que o coletivismo assuma proporções além da nossa compreensão. Devemos tentar lidar com esses fatores - ainda que o arquiteto seja incapaz de fazer mais do que exercer uma influência incidental nos aspectos fundamentais de mudança social mencionados acima - criando condições paro uma área mais viável de rua onde quer que seja possível. O que significa que isto deve ser feito no âmbito da organização espacial, isto é , por meios arquitetônicos. • Situações em que o rua serve como uma extensão comunitária das moradias são familiares a todos nós. Dependendo do clima, as partes ensolaradas ou as partes com sombra são os mais populares l mas o tráfego motorizado está sempre ausente ou pelo menos longe o bastante para não impedir que os moradores vejam uns aos outros e possam ser ouvidos. As ruas de convivência, que não servem mais exclusivamente como via de tráfego e que estão organizadas de tal modo que há também espaço para as crianças brincarem, estão se tornando uma presença cada vez mais familiar tanto nos novos conjuntos habitacionais quanto nos projetos de renovação - pelo menos na Holanda. Os interesses do Moradias Spangen. Rol1erdam, 1919 / M. Brinkman. Ruo de convivência, sem Irônsito. Procurando um lugar ao sol DOM iNIO PÚ Bli CO 49 101 100 101 pedestre estão sendo finalmente levados em consideração, e com a instituição da woonerf (área residencial com severas restrições ao tráfego e prioridade total para os pedestres) com base jurídica, ele está reconquistando seu lugar ou, pelo menos, não é mais tratado como um Fora-da-lei. No entanto, ainda que os motoristas sejam obrigados a se comportar de modo mais disciplinado, seus veículos ainda constituem um embaraço, pois são tão grandes 8, em especial, tão numerosos, que ocupam cada vez mais o espaço público. MORADIAS HAARlEMMER HOUTTUINEN (100·109) O temo central no Haarlemmer Houijuinen é o rua como espaço de convivência, elaborada em associação com Van Herk e Nagelkerke. A decisão de reservar uma área de 27 metros paro o trânsito - mais relacionada com politica do que com planejamento urbano - obrigou·nos a construir dentro desse limite de al inhamento imposto; como 11 J I......,",,' resultado, não sobrou espaço paro jardins nos fundos (que, 1 de qualquer modo, ficariam permanentemente na sombral. Em suma, essas circunstâncias desfavoráveis - i.e., I orientação indesejável e ruido de trânsito - deixavam cloro .. , ,.----.,<1 que o lado norte deveria acomodar a parede de fundo, e, deste modo, toda o ênfase recaiu automaticamente na rua de convivência do lado sul. Esta ruo de convivência é acessivel apenas para os carros dos próprios moradores e para os veículos de entregas; o foto de estar fechada ao tráfego motorizado em geral e também a sua largura de sete metros - um perfil inusitadamente estreito pelas padrões modernas - criaram uma situação capaz de evocar o antigo cidade. Os equipamentos necessários à ruo, tais como luzes, estacionamentos de bicicletas, cercas baixas e bancos públicos, estão distribuídos de tal modo que apenas uns poucos corras estacionados iá são o bastante poro SO LI ÇÕ ES DE AiQU l rETUi A obstruir a passagem de qua lquer tráfego adiciona l. Foram plantadas árvores para formar um centro a meio-caminho entre os duas seções da rua . As estruturos que se projetam a partir das fachadas - as escadas externas e as varandas - articulam o perfil da rua, fazendo-a parecer menos ampla do que os sete metros do frente de uma casa até a frente de outro . A conseqüência é uma zona que proporciona espaço para os terraços dos residências térreas. Estes canteiros com muros baixos não são maiores do que as varandas do primeiro andar; é claro que não podiam ser menores, mas a questão é saber se ficariam melhores se fossem maiores. Como oferecem bem menos privacidade do que as sacadas, podemos nos perguntar se os moradores do andar térreo não ficam em desvantagem, mas, por outro lado, o conlato imediato com os transeuntes e com as atividades gerais da rua parece ser atraente para muitas pessoas, especialmente quando a rua readquire algo de sua antiga qualidade comunitária. Foram deixadas faixas em aberto ao lado dos espaços privados externos; deli beradamente, ficou indefinida a organização dessas faixas . O departamento de obros públicos não resi stiu à oportunidade de pavimentar esses espaços. Os moradores, par sua vez, estão colocando plantas al i, apropriando-se grodativamente dessa área basicamente pública. A construção civil na Holanda tem a tradição de dedicar muita atenção aos problemas de acesso aos andares mais altos, e uma grande variedade de soluções foi desenvolvida no país - todas com o objetivo de dar o cada residência uma porta de entrada com o máximo de acesso possível pela rua. Na verdade, a solução que adotamos é apenas uma outra variação de um tema essencialmente antigo: a escadaria externa de ferro conduz a um patamar no primei ro andar, onde fica a parta do frente da moradia do andar de cima; daí a escadaria continua por dentro do DOMíNIO PÚSIICO SI 103 Rei;nier VinkeJeskode, Amsterdam, 1924 / 1. C. van Epen 105 10.\ 107a 107\ 108 107, 109 edifício, passando pelos dormitó rios do moradia do andar térreo até a moradia do andar de cima. As entradas para as moradias dos andares de cima, localizadas em "varandas públicas 11 com vista para a rua l não constituem obstáculo para as moradias do andar térreo, mas dão a estas uma espécie de abrigo para suas próprias entradas. Como as escadas são leves e transparentes, o espaço que fica embaixo delas pode ser totalmente usado para caixas de correio, bici cletas e para as brincadeiras das crianças. Houve um esforço considerável para separar as áreas de acesso às habitações dos andares de cima e os espaços de jardim em frente das habitações do andar térreo. Isso se reAete na definição clara das responsabilidades dos moradores quanto à limpeza de suas áreas de acesso. A ausência de uma definição assim tão clara resultaria sem dúvida numa uti lização menos intensa do espaço disponível para cada morador. o conceito da rua de convivência está baseado na idéia de que os moradores têm algo em comumj que têm expectativas mútuas, mesmo que seja apenas porque estõo conscientes de que necessitam um do outro. Este sentimento, no entantoj parece estar desaparecendo rapidamente de nossos vidas. A aFinidade entre os moradores parece diminuir à medida que aumenta a independência proporcionado pela prosperidade. Tal anonimato chega mesmo o ser elogiado pelos adeptos do coletivismo e da ~entralização: se as pessoas se relacionam muito entre 52 lIÇÕ f S Df ARQ Ul m URA Segundo ondar Primeiro andor Andor térreo I , I' I' I ,. f~ ~. ~ ~ I l '·l~'·: T--~'~-"'-"'" --....-~ ._ ... ~---- ':""'I-.,..~ """\f'''''!! ",:'!'t í !{ ,r I ,f"·i '·,i l ~ '",;1, ;,),·t," \ . ,,,..;,;. ... ...s I' " ,,,,, "I' Ao -' t ~._" \1 - • \ _ . ~ ,j ~ ~ __ ._~1.~ .. ~_J .. _: . : ' .. ':'" ._. __ .L , .. ... , ........ ·1ii· .. . :!iJ~, DO Mí NIO PÚ BLI CO S3 " " 110 11 1 si, há o perigo de um excesso de I'controle social", eles argumentam. Na verdade, quanto mais isoladas e alienadas as pessoas se tornarem em seu ambiente diário, mais fácil será controlá-Ias com decisões autoritárias. Embora o "controle social" não tenha de ser negativo por definiçõo, ele sem dúvida existe e seus eFeitos negQth~os são sentidos quando não podemos fazer nado sem que sejamos julgados e vigiados pelos outros, como em toda comunidade muito concentrada, uma vi la, por exemplo. Devemos aproveitar todas as oportunidades possíveis poro evitar uma separação rígido entre habitações e para estimular o
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