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SOLDAGEM 2 PUC MINAS LEONEL Tecnologia de Soldagem Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) 17 pag. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.1 ASPECTOS TÉRMICOS E METALÚRGICOS EM SOLDAGEM Os processos de soldagem de materiais metálicos submetem a região da junta a ser soldada a alguma forma de energia. Esta energia pode estar na forma térmica, como na soldagem por fusão, ou mecânica, como na soldagem no estado sólido. Para uma melhor compreensão das conseqüências destas ações sobre os materiais na soldagem, pode-se fazer uma abordagem de causa e efeito. Os materiais respondem física, mecânica e metalurgicamente à quando sujeitos a ações térmica e/ou mecânica na soldagem, ou seja, a reação deles a estas “provocações” podem induzir: a) variações nas propriedades originais dos materiais, devido a alterações na microestrutura do metal base adjacente à solda; b) instabilidade dimensional por distorção, empenamento, fragilização, trincamento ou colapso da junta em função das tensões térmicas, contrações e/ou deformações mecânicas presentes na junta soldada. Portanto, as propriedades e características de uma junta soldada são determinadas pelo somatório de 2 fatores, microestrutura e estado de tensões resultantes das ações impostas durante a soldagem. “Soldagem é uma “agressão” ao metal”. (PATON, 1985) EFEITOS TÉRMICOS NA SOLDAGEM POR FUSÃO Introdução A energia térmica essencial à fusão, também tem influencia sobre as ligas metálicas, isto é, o mesmo calor necessário para promover a fusão e a união, também pode ser responsável por possíveis alterações metalúrgicas nos materiais a soldar, na região da junta. Em função do fluxo de calor na união durante a soldagem, ocorrem fenômenos de aquecimento, dissipação de calor, fusão localizada, solidificação e resfriamento da poça fundida até a temperatura ambiente, que determinam a história térmica imposta à junta soldada. Estes fenômenos, em soldagem, estão fundamentados na transferência de calor, principalmente por condução nos sólidos e na solidificação nos metais. Quanto ao primeiro fenômeno, considera-se que o calor da solda se transfira para o restante da junta na direção dos materiais de base, ou seja, da maior temperatura no centro da junta para as regiões vizinhas de menor temperatura, conforme equacionado abaixo: calor se transfere ao restante da junta por condução com temperatura decrescente energia térmica em trânsito devido a uma diferença de temperaturas na junta (Incropera 2012), dada pela equação 1: qx = - k T2 - T1 L onde: qx = energia térmica, em W/m 2; k = condutividade térmica, em W/m.K; T1 e T2 = temperaturas no momento 1 e 2, em K; L = espessura da junta, em m. Normalmente, a transferência de calor por convecção e radiação em soldagem não são consideradas nas análises do fluxo térmico, simplificando a modelagem matemática da quantidade de calor dissipada durante a soldagem, como ilustrado na figura 1. Figura 1: Fluxo de calor durante a soldagem, de acordo com o tipo de junta, em corte transversal Fonte: Desenho do autor A figura 2 ilustra, vista de cima, as isotermas em torno da fonte térmica durante a soldagem de uma junta de topo, em correspondência à junta em corte transversal. solda junta soldada em ângulo fluxo de calor revestimento por solda cordão de solda fluxo de calor solda junta soldada de topo fluxo de calor Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.2 Figura 2: Isotermas em função do fluxo de calor durante a soldagem, para uma junta de topo Fonte: Desenho do autor e SSAB/Sweden Outros fatores são considerados dependendo da situação de soldagem, como por exemplo, temperatura local sub-zero ou em ambiente subaquático na soldagem molhada, onde a transferência de calor é fortemente influenciada pelo contato direto da junta com o meio. Quando se aborda as relações entre calor e outras formas de energia na soldagem através da termodinâmica, considera-se o princípio de que a energia não pode ser criada ou destruída, mas apenas modificada de uma forma para outra, governando, assim, as transformações de energia. A resposta dos metais de base, e também da zona fundida, ao fluxo térmico de soldagem é compreendida através da aplicação direta, mas com particularidades, dos conceitos básicos de metalurgia física de materiais, tratamentos térmicos, termodinâmica e cinética de reações químicas, entre outros. Eles dão o caráter multidisciplinar à soldagem, exigindo competências em várias áreas do saber, para viabilizar seu emprego adequadamente na dimensão industrial, ou seja, o conhecimento dos fundamentos teóricos das ciências dá suporte ao emprego prático da tecnologia no chão-de-fábrica. Como nos tratamentos térmicos convencionais, a soldagem por fusão deve submeter a junta a um aquecimento de modo apropriado e inteligente durante um certo tempo e sob um resfriamento em condições controladas, visando conferir propriedades e características adequadas ao conjunto soldado. Quanto ao segundo conjunto de fenômenos, fusão, solidificação e resfriamento, eles vão determinar a microestrutura final da região sob ação do calor e, também, conseqüências no dimensional ou formato da peça devido às contrações que a junta experimenta até atingir a temperatura ambiente. Ciclo térmico de soldagem Durante a soldagem, parte do calor gerado pela fonte térmica do processo se transfere ao restante da junta por condução. O fluxo de calor durante a soldagem definirá as características e propriedades finais da junta soldada, sendo influenciado pela natureza, propriedades e estado de fornecimento dos materiais de base envolvidos na união e também da zona fundida e do metal depositado, quando usado. O calor introduzido na junta está associado à energia de soldagem, que é um parâmetro normalizado pelas normas/códigos técnicos de soldagem, pois quantifica o aporte de calor (“heat imput”) à junta, influenciando diretamente a microestrutura e conseqüentemente, as características metalúrgicas e propriedades mecânicas da junta soldada, sendo por isso uma variável importante num procedimento de soldagem. Não confundir, energia de soldagem com energia dispendida por uma fonte de energia ! A história térmica da soldagem está relacionada com a variação da temperatura em função do tempo, através do ciclo térmico imposto a cada região da junta soldada, conforme ilustrado na figura 3. Ele tem influência na formação e propriedades da zona fundida e nas vizinhanças no metal base, podendo desta forma, favorecer ou não alterações microestruturais, tais como Temperatura ambiente Posição da fonte térmica Direção de soldagem solda fluxo de calor isotermas metal depositado linha de fusão ponto de incidência da fonte térmica do processo de soldagem junta (corte transversal) Junta (vista de cima) Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.3 transformações de fase, distribuição e forma das fases presentes, mudança no tamanho ou forma do grão, com conseqüentes variações nas propriedades originais dos materiais de base vizinhos à junta e da própria solda. Figura 3: Ciclos térmicos de soldagem numa junta soldada de topo em monopasse, corte transversal Fonte: Elaborado pelo autor Pode-se fazer umaanalogia do ciclo térmico de soldagem com o de tratamentos térmicos convencionais, pois os parâmetros e variáveis de soldagem são definidos de modo a se obter uma microestrutura apropriada na solda e nas suas vizinhanças, com propriedades otimizadas e/ou compatíveis com o metal base e o desempenho global da junta soldada em serviço. A aplicação dos fundamentos de tratamentos térmicos em soldagem deve considerar que os tempos de exposição à fonte térmica do processo e das reações químicas e metalúrgicas, normalmente são da ordem de segundos, enquanto nos tratamentos térmicos esse tempo é de minutos a horas, tendo influencia na cinética das reações químicas e metalúrgicas na junta soldada. Também, deve-se considerar que a soldagem ocorre numa região de pequeno volume muito localizada e restrita da junta, diferentemente dos tratamentos térmicos convencionais, onde o ciclo térmico é imposto de modo generalizado, em todo o material. Assim, os fenômenos metalúrgicos e reações químicas estudadas em metalurgia dos materiais não são prontamente aplicáveis à soldagem, ou seja, deve-se levar em conta que determinadas transformações microestruturais e respostas mecânicas, devido ao ciclo térmico de soldagem, não ocorrem em sua plenitude e velocidade. Em resumo, ao avaliar a relação microestrutura/propriedade de uma junta soldada, devem-se levar em consideração os seguintes fatores: a) tempo pequeno de reações durante a soldagem, da ordem de segundos, influenciando a cinética delas; b) transformações sob situações complexas, como na soldagem em multipasses; c) fenômenos metalúrgicos que dependem do estado inicial do material, se encruado, temperado, recozido, normalizado ou envelhecido. Caracterização do ciclo térmico Para se entender as conseqüências do ciclo térmico imposto à junta, são considerados os seguintes parâmetros: a) Temperatura de pico: temperatura máxima, em ºC, atingida por uma região da junta a uma dada distancia da solda, indicando a possibilidade de ocorrência de transformação microestrutural no metal base, naquela região considerada; b) Tempo de permanência acima de uma temperatura crítica: tempo, em segundos, que uma região da junta permanece acima de uma dada temperatura, determinando a possibilidade de ocorrência de transformações que dependem em maior ou menor grau do tempo e conseqüentemente da difusão; c) Velocidade de resfriamento: é a taxa de retirada ou dissipação de calor, em ºC/s, numa região da junta, definindo a microestrutura resultante naquela região ao longo da junta, devido às transformações ou alterações de fase. A figura 4 mostra os parâmetros típicos de um ciclo térmico importantes na soldagem: Figura 4: Parâmetros do ciclo térmico de soldagem Fonte: Elaborado pelo autor 3 1 2 Tempo (s) Tambiente Temperatura (ºC) ciclos térmicos de cada ponto da junta termopares ligados a um registrador gráfico solda 1 2 3 fluxo de calor Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.4 A importância do ciclo térmico na soldagem se traduz na possibilidade de se conhecer a natureza dos fenômenos metalúrgicos, e/ou mudanças microestruturais possíveis de acontecer numa determinada região da junta soldada e conseqüentemente as influências nas suas propriedades finais. Por exemplo, no caso da soldagem de aços ao carbono ferrítico/perlítico com ~0,4%C no estado recozido, em alta temperatura, por exemplo, acima de 850°C, ocorre austenitização, podendo nuclear microestruturas diferentes das originais no resfriamento até a temperatura ambiente, com mudança nas propriedades mecânicas da junta. Para materiais não ferrosos, como por exemplo, uma liga de alumínio encruada de alta resistência, uma temperatura do ciclo térmico de soldagem acima de 370°C é suficiente para a liga perder sua resistência mecânica neste local, devido à recristalização, não só pela recuperação, mas também pelo possível crescimento de grão. Para a maioria dos metais, o tamanho de grão está relacionado com a temperatura e o tempo no qual o material é mantido nesta temperatura, sendo este avaliado segundo a relação: dn - don = kt (equação 2) onde d = diâmetro do grão após crescimento num tempo t, à temperatura do ciclo térmico de tratamento (ou de soldagem); do = diâmetro inicial do grão, em t=0; k e n = constantes independentes do tempo; n ≥ 2 Pela equação 1, observa-se que a granulação de um material aumenta com o aumento da temperatura e do tempo acima da temperatura de crescimento de grão do mesmo. O diagrama 1 ilustra a influencia da temperatura máxima e do tempo de permanência do ciclo térmico na microestrutura de um aço carbono hipoeutetoide, considerando o diagrama Fe-C. Diagrama 1: Influência da temperatura máxima e do tempo de permanência do ciclo térmico na microestrutura de um aço carbono hipoeutetoide com ~0,4%C Fonte: CHIAVERINI, 1997 A dependência entre tamanho de grão e a resistência (ou dureza equivalente) de um material metálico é descrita pela relação de Hall-Petch, que correlaciona a tensão de escoamento com o diâmetro do grão, ou seja, uma granulação grosseira implica numa resistência menor, para uma mesma microestrutura. A equação mostra como a tensão de escoamento varia inversamente proporcional ao diâmetro dos grãos: e = i + k d-½ (equação 3) onde: e = limite de escoamento do material; i = tensão de atrito da rede cristalina, que se opõe ao movimento das discordâncias; k = constante; d = diâmetro médio dos grãos do material A tabela 1 ilustra a relação entre o tamanho de grão ASTM para aços ao carbono e o limite de escoamento do material: Tabela 1: Correlação entre o tamanho de grão ASTM e o limite de escoamento do material. Tamanho de grão Limite de escoamento (Kg/mm2) No ASTM grande d-½ 19 5 4 6 5 7 6 8 7 10 pequeno 9 26 Fonte: Elaborado pelo autor ferrita + austenita ~0,4%C ferrita+perlita austenita austenitização a alta temperatura austenitização a baixa temperatura Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.5 No caso da dureza, um aumento na temperatura causa amolecimento do material, conforme expressão de Westbrook: H = A e-BT (equação 4) onde H = dureza do material (kg/mm2) ; A e B = constantes dependentes da temperatura e mecanismo de deformação; T = temperatura (°K). O gráfico 1 ilustra a variação da dureza com a temperatura, mostrando que a dureza decresce com o aumento da temperatura, segundo Westbrook: Gráfico 1: Variação da dureza com a temperatura para materiais metálicos Fonte: Elaborado pelo autor Caso a junta fique submetida por um longo tempo acima da temperatura de crescimento de grão do material (ou em alta temperatura), a sua granulação resultará grosseira na vizinhança da junta, com conseqüente diminuição da resistência mecânica (e dureza) e tenacidade, válido para materiais com arranjo cristalino CCC – cúbico de corpo centrado; para materiais CFC ou HC, a dureza tem pouca influencia da granulação do material. Na figura 5 pode-se observar a evolução do crescimento de grão do metal base até a zona fundida, em função do ciclo térmico de soldagem. Figura 5: Micrografia, em detalhe, de uma junta soldada onde se observa a região de crescimento de grão vizinha à solda, em corte transversal Fonte: Arquivo pessoal Caso ocorra crescimento de grão na região vizinha à zona fundida, mas com mudança na microestrutura, a resistência ou durezapode apresentar valores maiores ou menores relativamente ao metal base, dependendo do tipo de microestrutura resultante. Quanto à capacidade de absorver energia de impacto, o tamanho de grão influencia grandemente a tenacidade de uma junta soldada, pois uma granulação grosseira promove um aumento da temperatura de transição dútil/frágil, diminuindo sua tenacidade, conforme mostra a fórmula: ß Tc = ln ß - ln C - ln d-½ (equação 5) onde: Tc = temperatura de transição do material; ß e C = constantes; d = diâmetro médio dos grãos do material A figura 6 mostra o comportamento da tenacidade em função da temperatura para materiais metálicos. Figura 6: Comportamento da tenacidade de um material metálico com a temperatura Fonte: Elaborado pelo autor Energia absorvida Temperatura aumento do tamanho de grão Ttransição Ttransição solda crescimento de grão metal base metal base solda Dureza Temperatura Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.6 A velocidade de resfriamento da junta na faixa de 800 a 500°C, para a maioria das ligas metálicas ferrosas, indica o intervalo no qual podem ocorrer as principais transformações na microestrutura da solda e na região vizinha a ela, além de outros fenômenos metalúrgicos e físicos de importância. Normalmente ela é caracterizada pelo tempo de resfriamento numa dada temperatura (inclinação da curva de resfriamento), designado como ∆t8/5 ou t8/5. A figura 7 ilustra o intervalo de resfriamento de 800 a 500°C do ciclo térmico de soldagem. Figura 7: Faixa de temperatura 800 a 500°C do ciclo térmico, onde podem ocorrer alterações na microestrutura de uma liga ferrosa Fonte: Elaborado pelo autor Na figura 8 pode-se visualizar os fenômenos metalúrgicos típicos em função do ciclo térmico na soldagem de aços ao carbono, servindo de informação para se estabelecer relações de causa e efeito em soldagem. Figura 8: Principais fenômenos metalúrgicos em função do ciclo térmico de soldagem de aços Fonte: Elaborado pelo autor Nos aços, transformações microestruturais sem difusão, ou seja, com velocidade de resfriamento alta, normalmente proporcionam uma microestrutura com maior resistência (ou dureza), mas com baixa dutilidade. Como exemplo, o aparecimento de martensita ou bainita nos aços temperáveis quando austenitizados e submetidos a um resfriamento rápido ou o endurecimento por precipitação de liga alumínio-5,6% cobre quando aquecida e solubilizada a 535°C e resfriada rapidamente para envelhecimento, devido a presença de finas partículas de CuAl2, aumentando a resistência da liga. Avaliação do ciclo térmico O levantamento e avaliação do ciclo térmico de soldagem podem ser feitos de modo experimental, por simulação com aparelhos apropriados, como por exemplo, o Greeble, ou por modelagem matemática com programas computacionais. A figura 9 mostra a técnica de medição com termopares para se avaliar o ciclo térmico de soldagem. Figura 9: Levantamento do ciclo térmico de soldagem monopasse sobre chapa, com termopares inseridos na junta, em diferentes posições Fonte: autor Fonte: autor Fonte: Almir e Quites (1979) zona fundida: absorção de O2, N2 e H2 - reações de desoxidação e formação de inclusões região vizinha à zona fundida austenitização - difusão contração sólida - transformação da austenita 1500 800 500 Temperatura (ºC) Tempo (s) alívio de tensões 700 crescimento de grão - dissolução de precipitados Tempo (s) Tambiente Temperatura (ºC) ciclo térmico de soldagem 800 500 ∆T: faixa onde podem ocorrer as principais transformações na junta t8/5 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.7 As respostas do material ao ciclo térmico de soldagem, normalmente são estudadas no desenvolvimento de novos materiais e/ou procedimentos de soldagem, visando avaliar a soldabilidade metalúrgica, operacional e as propriedades tecnológicas importantes, em se tratando de aplicação industrial. O ciclo térmico pode ser influenciado pelos seguintes fatores: a) distância da região de interesse ao centro da junta: devido ao fluxo de calor ocorrer em direção ao metal base, quanto mais afastado da solda, mais moderado será o ciclo térmico, conforme ilustrado na figura 10. Figura 10: Variação do ciclo térmico em função da distancia ao centro da solda, numa junta de topo Fonte: Elaborado pelo autor b) propriedades e características do metal de base/junta condutividade térmica do metal de base: esta propriedades está associada à capacidade do material em dissipar calor através da junta, isto é, materiais com alta condutividade térmica, como ligas de cobre e alumínio, apresentarão alta velocidade de resfriamento da junta, conforme ilustrado na figura 11. Figura 11: Variação do ciclo térmico em função da condutividade térmica do metal base. Fonte: Elaborado pelo autor espessura (E) ou diâmetro (Ø) do metal base: estes itens traduzem o efeito massa de transferência de calor por condução, ou seja, quanto maior as dimensões, maior será a velocidade de resfriamento da junta, conforme visto na figura 12. Figura 12: Variação do ciclo térmico com espessura da chapa Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos de ZIEDAS, 1997 geometria e tipo de junta: estas características se relacionam com o caminho para propagação de calor, pois juntas de topo dissipam menos calor durante a soldagem do que juntas em ângulo, supondo mesma espessura e metal base, conforme ilustrado na figura 13. Figura 13: Variação do ciclo térmico com a geometria e tipo de junta soldada. Fonte: Elaborado pelo autor chapa grossa 3 1 2 Tempo (s) Tambiente Temperatura (ºC) ciclos térmicos de cada região da junta aço T (ºC) t (s) Cu chapa fina junta em ângulo: 3D junta de topo: 2D dissipação do calor dissipação do calor junta em ângulo junta de topo T (ºC) t (s) T (ºC) t (s) E/Øpequena E/Øgrande regiões ao longo da junta 1 2 3 solda metal base Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.8 c) condições de soldagem energia de soldagem (E): quanto maior o aporte de calor promovido pelo processo ou procedimento de soldagem, mais agressivo será o ciclo térmico, com maiores tempos de permanência a altas temperaturas e baixas velocidades de resfriamento; velocidade de soldagem (Vs): determina o tempo de interação da fonte térmica com a junta, de modo que a junta ficará submetida a uma maior agressão térmica, com uma maior extensão vizinha à solda em alta temperatura; temperatura inicial da junta: a temperatura de pré-aquecimento da junta influencia na velocidade de dissipação de calor por condução durante a soldagem, isto é, com a junta pré-aquecida, menor será sua velocidade de resfriamento. A figura 14 ilustra a variação do ciclo térmico com a energia de soldagem, velocidade de soldagem e a temperatura inicial da junta. Figura 14: Influencia da energia de soldagem, velocidade de soldagem e temperatura inicial da junta no ciclo térmico. Fonte: Elaborado pelo autor a extensão e granulação da região vizinha àzona fundida é mais influenciada pela energia de soldagem do que pelo pré- aquecimento, pois ela determina o nível de calor imposto à junta e, conseqüentemente, a máxima temperatura atingida e tempo de exposição a alta temperatura. a temperatura de pré-aquecimento, apesar de aumentar o nível de temperatura da junta, tem maior influencia na sua velocidade de resfriamento à baixas temperaturas e portanto nas possíveis transformações microestruturais da solda e da região vizinha à zona fundida. É uma ação externa ao processo de soldagem, que pode, estrategicamente, ser usada como procedimento para alterar a transferência de calor na junta, durante a soldagem. Isto significa que é possível se ter uma situação de compromisso de baixa energia de soldagem e uso do preaquecimento para se obter, numa mesma junta, um procedimento de soldagem que promova uma certa extensão aquecida da junta com crescimento de grão moderado e uma adequada velocidade de resfriamento visando uma microestrutura desejada. Repartição térmica em soldagem A variação das temperaturas máximas ou de pico de cada região da junta devido ao ciclo térmico de soldagem em função da sua distância ao centro da solda, figura 15, determina uma conseqüência térmica na junta soldada. Esta variação, denominada de repartição térmica, dá idéia de como a temperatura se distribuiu, em função da condução do calor, ao longo da junta, definindo as regiões que compõem uma junta soldada. Esta definição possibilita o dimensionamento delas, os fenômenos característicos de cada uma delas e localização das possíveis descontinuidades numa análise metalográfica. Figura 15: Determinação da repartição térmica em soldagem Fonte: Elaborado pelo autor distância ao centro da solda (mm) Temperatura máxima (ºC) T3 curva da repartição térmica devido ao ciclo térmico de soldagem junta (corte transversal) Tfusão T2 T1 Tcrítica 3 Te T3 T2 T1 temperaturas máximas do ciclo térmico de cada ponto/região da junta Tempo (s) Temperatura (ºC) 2 1 1200 0 Ealta ou Vs baixa Tempo (s) T (ºC) ciclo térmico imposto à junta E baixa ou Vs alta T crescimento de grão com pré-aquecimento Tempo (s) 25 T (ºC) ciclo térmico imposto à junta Tambiente 150 T abaixo da transformação do material 200 1300 300 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.9 A imagem da junta soldada, em corte transversal, pode ser visualizada através da macrografia a olho nu ou lupa de aumento até 10X, conforme ilustrado na figura 16, e sua extensão e conseqüências definidas e identificadas por micrografia por microscopia ótica ou eletrônica. Figura 16: Imagem macrográfica típica de um cordão de solda depositado sobre chapa. Fonte: Arquivo pessoal Desta maneira, uma junta soldada por fusão, em monopasse, é constituída de quatro regiões típicas para ligas metálicas : solda, ZPF (zona parcialmente fundida), ZTA (zona termicamente afetada) e metal base: a) Solda ou zona fundida (“weld” ou “FZ = fusion zone”) região onde ocorreu fusão durante a soldagem, pois a temperatura excedeu a temperatura liquidus do material (temperatura de fusão), apresentando uma configuração colunar bruta de solidificação: Tsoldagem > Temperatura de fusão do material b) ZPF = zona parcialmente fundida (“PMZ = partially-melted zone”) região vizinha à linha de fusão da junta, onde a temperatura da liga ficou abaixo da linha liquidus, mas acima da solidus: Temperatura solidus do material < Tsoldagem < Temperatura liquidus do material Esta região também é denominada de zona de ligação ou de transição, pois apresenta estrutura da zona fundida e do metal de base. Para metais puros, que apresentam composiçao química uniforme e invariável, esta região não ocorre, pois eles apresentam uma distinta e única temperatura de fusão. c) ZTA = zona termicamente afetada ou ZAC = zona afetada pelo calor (“HAZ = heat-affected zone”) região vizinha à solda que permaneceu no estado sólido e ficou submetida ao ciclo térmico, com possíveis mudanças na sua microestrutura e conseqüentemente nas suas propriedades: Temperatura crítica do material < Tsoldagem < Temperatura de fusão do material Temperatura crítica do material de base é definida como sendo a temperatura a partir da qual ocorre transformação microestrutural no material base, com mudanças nas suas propriedades originais, função da natureza e tipo de liga metálica e estado de fornecimento do material. d) Metal base (“UBM = unaffected base matérial ou parent metal”) material no estado sólido que ficou exposto à temperaturas abaixo da sua Temperatura crítica, não sofrendo, portanto, mudanças microestruturais, mantendo suas propriedades originais inalteradas: Tsoldagem < Temperatura crítica A figura 17 ilustra esquematicamente a repartição térmica e as regiões típicas de uma junta soldada para um metal puro e uma liga metálica: Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.10 Figura 17: Regiões típicas de uma junta soldada em monopasse, para um metal puro e uma liga metálica Fonte: Elaborado pelo autor Na figura 18 são mostradas algumas configurações típicas de juntas soldadas por fusão autogenamente (sem metal de adição) ou em monopasse: Figura 18: Imagens macrográficas de juntas soldadas autogenamente e em monopasse, evidenciando as sub-regiões típicas de uma junta soldada por fusão Fonte: Fotografias do autor A região de união solda/ZTA apresenta várias denominações, como por exemplo, para metal puro, linha de fusão ou interface, e para liga metálica, zona de transição ou zona de ligação. Ponteamento e abertura de arco na soldagem a arco elétrico Para pré-montar um junta ou sub-conjunto usa-se fazer a fixação por pontos de solda ou para fixar os travamentos. Também, no início de uma soldagem, não é incomum o soldador “esquentar” o eletrodo abrindo o arco fora da junta para depois dar seguimento à deposição de solda no chanfro. Considerando os aspectos térmicos vistos anteriormente, os locais destas soldas e aberturas de arco estarão sujeitos ao ciclo térmico e suas conseqüências. Esta situação configura-se como crítica, uma vez que o pequeno tempo e a maior velocidade de resfriamento nestas regiões irão causar alterações microestruturais no metal base e, também, provocar poros e/ou inclusão de escória ou até microtrincas, conforme ilustrado na figura 19. Figura 19: Imagens macrográficas de pontos de solda mostrando as conseqüências de aberturas de arco fora da junta e uma solda de ponteamento, onde se observa poros, inclusão de escória (a), uma ZTA local (b) e microtrincas Fonte: Arquivo pessoal A norma AWS D1.1 – Estrutural Welding Code – Steel, no item 5.29 Arc Strikes sugere que abertura de arco fora da área de soldas permanentes deve ser evitada para qualquer tipo de metal base. Trincas ou marcas causadas pela abertura de arco devem ser esmerilhada em concordância com a superfície do material e inspecionada para assegurar sua sanidade. distância ao centro da solda (mm) Temperatura máxima (ºC) Metal base Tlíquidus Tsólidus Tcrítica solda ZTA ZPF Liga metálica Metal puro ZTA Metal base Ponto de fusão Tcrítica solda ZTA ZTA metal base metal base solda ZTA metal base ZTA Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermarkCap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.11 Estas situações descritas podem fragilizar a região do ponto/solda ou abertura do arco, podendo ser um concentrador de tensões ou uma heterogeneidade microestrutural, com conseqüências negativas para a junta e a estrutura soldada, em serviço. A figura 20 mostra a região de soldas de travamento de virolas calandradas, onde a alta dureza na ZTA, em relação ao metal de base e o metal depositado, configurou-se uma evidencia da falta de pré-aquecimento para fixar o travamento com solda. Figura 20: Marcas de soldas para fixação de travamentos em juntas de topo, reveladas por macrografia após esmerilhagem da região da junta, com os valores de dureza no metal base, ZTA e solda Dureza média HV5 metal base ZTA solda 198 389 212 202 392 215 Fonte: Arquivo pessoal A norma AWS D1.5 – Pontes também chama a atenção para as soldas temporárias: Fonte: American Welding Society Soldagem em multipasse No preenchimento de uma junta com vários passes de solda, cada cordão de solda depositado impõe um ciclo térmico aos cordões anteriores e também às ZTA’s geradas por eles, conforme mostrado na figura 21. As micro e macroestruturas resultantes são mais complexas devido às influencias variadas de cada ciclo térmico, determinando as propriedades globais da junta soldada. Figura 21: Ciclos térmicos ao longo da junta durante a soldagem em função dos cordões de solda depositados Fonte: Elaborado pelo autor ▪ 2 ▪ 1 ▪ 3 passe A ▪ 2 ▪ 1 ▪ 3 passe A passe B ▪ 2 ▪ 1 ▪ 3 passe A passe B passe C T(ºC) 3 ▪ 1 2 tempo (s) ciclos térmicos devido ao passe C T(ºC) 2 ▪ 3 1 tempo (s) ciclos térmicos devido ao passe B T(ºC) 1 ▪ 3 2 temperaturas máximas do ciclo térmico de cada ponto/região da junta tempo (s) ciclos térmicos devido ao passe A junta solda do travamento junta solda do travamento Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.12 A repartição térmica de uma junta soldada em multipasses também promoverá as mesmas macroregiões de uma junta soldada em monopasse, porém com a zona fundida constituída de vários cordões de solda, apresentando 2 sub-regiões, de acordo com a figura 22: a) região colunar: região do cordão de solda que apresenta uma macroestrutura com configuração colunar bruta de solidificação; b) região sólida reaquecida: metal depositado que ficou submetido ao ciclo térmico do cordão de solda depositado posteriormente, apresentando microestruturas dependentes do tempo de permanência e dos níveis de temperaturas atingidas, podendo-se identificar morfologias variáveis, indo de granulação grosseira à refinada. Figura 22: Imagem macrográfica das regiões de uma junta soldada em multipasse, onde cada cordão de solda depositado apresenta 2 sub-regiões: colunar e reaquecida Fonte: Fotografia do autor Pelo fato de um cordão de solda tratar termicamente o cordão anteriormente depositado, pode-se tirar proveito para melhorar propriedades no metal depositado e mesmo na ZTA da junta, conforme tipo e disposição dos passes no enchimento da junta, definida no procedimento de soldagem. A figura 23 ilustra a soldagem multipasse de 2 juntas de topo com diferentes seqüências de deposição de solda. Figura 23: Juntas soldadas em multipasse com diferentes seqüências e disposições dos cordões de solda depositados Fonte: Fotografias do autor Na figura 24, é descrita a reparação de defeitos em solda, após remoção do defeito, onde a seqüência e disposição dos passes favorece uma microestrutura “tratada termicamente”. Figura 24: Seqüência de deposição dos cordões de solda no enchimento do reparo. Fonte: Elaborado pelo autor Outro exemplo do uso do ciclo térmico na soldagem multipasse é a reparação de defeitos em solda de aço carbono baixa liga, sem necessidade de tratamento térmico de alívio de tensões pós soldagem, com a técnica descrita no código ASME VIII, division 1, item UCS-56, ilustrada na figura 25. Zona colunar Zona reaquecida ZTA sobreposição de ~ 50% do 2o passe no 1o passe já depositado direção de depósito dos cordões de solda (corte transversal) 1o 2 o 3 o 6o 4o 5o último passe depositado tratou somente o passe 3 ao lado último passe depositado tratou termicamente os 3 passes anteriores 1 2 3 1 2 3 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.13 Figura 25: Técnica da meia almofada (“half bead technique”) + os passes de revenimento (“temper bead weld”), numa típica aplicação e proveito do conceito de ciclo térmico Fonte: Elaborado pelo autor Após deposição dos passes de revenimento, eles são removidos por meios mecânicos até facear a superfície do metal base, procedendo aos ensaios não destrutivos usados na soldagem do componente. Desta maneira, só restam cordões de solda “tratados termicamente” ao longo de toda a junta, inclusive a ZTA junto ao metal base. Para se avaliar os fenômenos na ZTA, é importante saber sua extensão para se analisar a localização exata da trinca ou descontinuidade. As imagens da figura 26 ilustram juntas soldadas, mostrando a largura da ZTA em função do processo e técnica de soldagem. Figura 26: Extensão da ZTA em juntas soldadas em monopasse com processo Eletroescória e em multipasse com processo MAG, em corte transversal Fonte: Fotografias do autor Para processos de baixa energia, em geral, a agressão térmica fica compreendida entre 1 a 5mm, sendo que a extensão microscópica da ZTA um pouco menor, como por exemplo em juntas soldadas com processos a arco elétrico. No caso de processos de alta energia, a região agredida termicamente e a ZTA são relativamente maiores, como no caso do processo Eletroescória. Nos processo a arco, o emprego de passe reto e trançado, também tem influencia na extensão da ZTA. Considerando os aspectos térmicos descritos anteriormente, para um dado processo de soldagem por fusão, é elaborado um procedimento para se obter microestruturas adequadas e as propriedades desejadas da junta soldada, visando atendimento aos requisitos de projeto e aplicação do componente em serviço: passes de almofada cobrindo toda a superfície da junta (“half bead weld”) 1 2 3 4 5 6 8 7 7 9 8 10 11 passes de enchimento da junta 12 passes de revenimento (“temper bead weld”) aplicado somente sobre a zona fundida, evitando-se o contato com o metal base. passes de revenimento ZTA solda metal base 10 a 20 mm 1 a 5 mm solda ZTA metal base Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.14 PROCESSO DE SOLDAGEM EPS = ESPECIFICAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM parâmetros e variáveis do processo de soldagem ENERGIA DE SOLDAGEM dimensiona o grau de “agressão” térmica à junta CICLO TÉRMICO determina a microestrutura resultante REPARTIÇÃO TÉRMICA define as sub regiões da junta e suas extensões: solda + ZPF + ZTA + metal base JUNTA SOLDADA propriedades PEÇA OU EQUIPAMENTO Desempenho em serviço Em resumo, o procedimento de soldagem define um ciclo térmico que pode provocar alterações microestruturaismais ou menos intensas nas vizinhanças da solda e na própria zona fundida, ou seja, cada material vai responder diferentemente aos procedimentos de soldagem, dependendo do seu estado original. em geral: energia de soldagem baixa menor “agressão” térmica à junta soldada menor extensão da ZTA e menor crescimento de grão com alta velocidade de resfriamento uso ou não de préaquecimento alta ou baixa velocidade de resfriamento para adequação da microestrutura desejada Como a energia de soldagem dimensiona o grau de “agressão” térmica à junta soldada, deve-se limitar seu valor máximo admissível que garanta a fusão adequada da junta e as propriedades mínimas desejadas, garantindo uma situação conservadora, pois a mínima energia é ditada pelos parâmetros operacionais para se efetuar a união por soldagem. EFEITOS METALÚRGICOS NA SOLDAGEM POR PRESSÃO Introdução Nos processos no estado sólido, as ações ou forças mecânicas aplicadas externamente aos componentes a serem soldados, promovem uma deformação plástica localizada na junta durante a soldagem, podendo induzir efeitos ou alterações metalúrgicas sobre a microestrutura do material na região de união, com conseqüências nas propriedades mecânicas da junta soldada. Na soldagem por pressão ocorrem fenômenos de natureza mecânica e metalúrgica, como deformação plástica a quente ou a frio, encruamento e recristalização, que determinam a história mecânica de uma junta soldada. A aplicação de pressão à junta favorece o íntimo contato entre as superfícies, através de deformação plástica localizada e determina o grau de agressão mecânica à junta. Alguns processos de soldagem utilizam calor para favorecer a deformação com pressões menores, pela diminuição do limite de escoamento com o aumento da temperatura, conforme ilustra a figura 27. Figura 27: Variação do limite de escoamento de um material metálico com a sua temperatura Fonte: Elaborado pelo autor Ao se aplicar pressão de compressão para aproximar intimamente as superfícies a unir, alguns fenômenos metalúrgicos podem ocorrer, dependendo do nível de temperatura envolvido na soldagem: Limite de escoamento Temperatura Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.15 a) Soldagem a frio: A deformação dos grãos ocorre abaixo da temperatura de recristalização do material base, tornando-os alongados em função da direção do esforço, de acordo com a figura 28. O resultado disto é o aumento da resistência mecânica da junta devido ao encruamento; b) Soldagem a quente: a deformação dos grãos ocorre acima da temperatura de recristalização do material base, promovendo a recristalização dinâmica dos grãos, resultando na manutenção das propriedades mecânicas na junta; caso o tempo acima da temperatura de recristalização for alto ocorrerá um crescimento de grão, com conseqüências negativas na resistência mecânica e tenacidade da junta; o aquecimento promove mobilidade atômica, acelerando a taxa de difusão, colaborando para a união por soldagem. Figura 28: Imagens micrográficas de juntas soldadas a frio no estado sólido, mostrando a deformação da microestrutura, em função do esforço aplicado Fonte: Arquivo pessoal A importância de se conhecer a natureza dos fenômenos metalúrgicos e/ou mudanças microestruturais possíveis de acontecer na região de união soldada no estado sólido está associadas às influências nas suas propriedades finais. Repartição termomecânica em soldagem A conseqüência da aplicação de pressão à junta é função da resistência e/ou dureza equivalente resultante da deformação plástica (com maior ou menor grau de encruamento), devendo ser compatível com as propriedades da junta como um todo. Como a união se dá em fase sólida, não há ocorrência de diluição, de modo que a junta pode apresentar-se constituída de 3 regiões típicas, figura 29, conforme a maneira como foi soldada: a) Solda (“weld”): interface de união entre os materiais de base, apresentando ou não rebarba; b) ZPD = zona plasticamente deformada ou ZDP = zona deformada plasticamente: região de união que ficou submetida à deformação plástica com possíveis mudanças na sua microestrutura e propriedades; esta região pode ter tido influencia de calor associado ao processo de soldagem: limite escoamento do material < Pressão de soldagem > limite de ruptura do material Caso o processo de soldagem tenha calor associado ou é executado a quente, esta região pode ter tido influência da temperatura, gerando uma ZTA = zona termicamente afetada ou ZAC = zona afetada pelo calor (“HAZ = heat-affected zone”): Pressão + Tsoldagem < Temperatura crítica do material recristalização Pressão + Tsoldagem > Temperatura crítica do material encruamento Para os casos onde a região vizinha à solda tenha presença de ZTA e ZPD, ela pode ser denominada de ZTMA = zona termomecanicamente afetada c) Metal base (“UBM = unaffected base material”): material que não sofreu deformação e/ou mudanças microestruturais, mantendo suas propriedades originais inalteradas. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.16 Figura 29: Imagens macrográficas de juntas soldadas no estado sólido, mostrando as regiões de união Fonte: Fotografias do autor A junta soldada, em corte transversal, pode ser observada por macrografia a olho nu ou lupa aumento até 10X, conforme ilustrado na figura 30, e a sua extensão e conseqüências dos fenômenos presentes na soldagem, por micrografia com microscópio ótico ou eletrônico. Figura 30: Imagens macrográficas mostrando as interfaces de juntas soldadas no estado sólido Fonte: Fotografias do autor Considerando os aspectos mecânicos e metalúrgicos descritos anteriormente, para um dado processo de soldagem no estado sólido, é elaborado um procedimento para se obter as propriedades desejadas da junta soldada, para atendimento dos requisitos de projeto e aplicação do componente em serviço: PROCESSO DE SOLDAGEM EPS - ESPECIFICAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM parâmetros e variáveis do processo de soldagem APLICAÇÃO DE PRESSÃO dimensiona o grau de agressão mecânica à junta DEFORMAÇÃO PLÁSTICA A FRIO OU A QUENTE determina a microestrutura resultante REPARTIÇAO TERMOMECÂNICA define as sub regiões da junta e suas extensões: solda + ZPD/ ZTA (ZTMA) + metal base JUNTA SOLDADA propriedades PEÇA OU EQUIPAMENTO Desempenho em serviço em geral: aplicação de pressão a quente menor “agressão” mecânica à junta soldada menor extensão da ZPD/ZTMA e baixo nível de encruamento na interface de união O nível de encruamento dimensiona o grau de “agressão” mecânica à junta soldada, por isso deve-se limitar seu valor máximo admissível que garanta uma união adequada e propriedades mínimas desejadas, garantindo uma situação conservadora, pois o Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Cap.5 - Aspectos térmicos e metalúrgicos em soldagem- Pág.17 aumento excessivo da resistência mecânica (ou dureza equivalente), devido ao excesso de encruamento na região da junta soldada, implica na diminuição da sua dutilidade, podendo comprometer seu desempenho em serviço. CONCLUSÃO Os aspectos térmicos e mecânicos presentes na soldagem têm influencia direta nas propriedades de uma junta soldada,pois vão determinar a microestrutura resultante e o/ou o grau de deformação plástica, seja na soldagem por fusão ou por pressão. Portanto, a atuação do engenheiro de processos é usar o conhecimento científico associado a fundamentos técnicos para minimizar a agressão mecânica/metalúrgica, direcionando os fenômenos, reações ou alterações microestruturais através de parâmetros e variáveis do processo de soldagem, convenientemente definidas num procedimento (EPS). A questão é que as mudanças, mesmo ocorrendo, ainda preservem as mínimas propriedades e características originais dos materiais de base e que a solda também apresente propriedades adequadas e apropriadas para garantir o desempenho satisfatório e esperado da junta ou estrutura soldada em serviço. Viabilizar com sucesso o emprego da tecnologia da soldagem pressupõe, portanto, o uso de uma EPS – Especificação do Procedimento de Soldagem e Soldadores qualificados, num ambiente de sistema de gestão da qualidade. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: Douglas-MR (douglas19.mr@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark
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