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1 PRODUÇÃO INTEGRADA MÓDULO 2 GESTÃO E PLANEJAMENTO DA EMPRESA RURAL LAÉRCIO ZAMBOLIM ECILA MERCÊS ALBU QUERQUE VILLANI 2 Autores: Laércio Zambolim, Ecila Marcês Albuquerque Villani Layout: Lucas Kato e Taiane Souza Editoração Eletrônica: Núbya Fontes e Taiane Souza Edição de conteúdo e CopyDesk: João Batista Mota Diretora Silvane Guimarães Silva Gomes Campus Universitário, 36570-000, Viçosa/MG Telefone: (31) 3899 2858 | Fax: (31) 3899 3352 Universidade Federal de Viçosa Reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares Vice-Reitor João Carlos Cardoso Galvão 3 Significado dos ícones da apostila Para facilitar o seu estudo e a compreensão imediata do conteúdo apresenta- do, ao longo de todas as apostilas, você vai encontrar essas pequenas figuras ao lado do texto. Elas têm o objetivo de chamar a sua atenção para determinados trechos do conteúdo, com uma função específica, como apresentamos a seguir. Texto-destaque: são definições, conceitos ou afirmações importantes às quais você deve estar atento. Glossário: Informações pertinentes ao texto, para situá-lo melhor sobre determinado autor, entidade, fato ou época, que você pode desconhecer. SAIBA MAIS! Se você quiser complementar ou aprofundar o conteúdo apresentado na apostila, tem a opção de links na internet, onde pode obter vídeos, sites ou artigos relacionados ao tema. Quando vir este ícone, você deve refletir sobre os aspectos apontados, relacionando-os com a sua prática profissional e cotidiana. Ì a Ñ Õ 4 5 16 28 39 59 71 81 92 104 119 137 148 176 201 Sumário Segurança do alimento raStreabilidade do proceSSo produtivo na pi aSSiStência técnica e organização de produtoreS Segurança, Saúde e bem-eStar do trabalhador rural geStão ambiental deScarte de embalagenS vaziaS de produtoS químicoS geStão da propriedade geStão de peSSoaS geStão de proceSSoS infraeStrutura exigência doS mercadoS, padronização e claSSificação equipamentoS de aplicação de agrotóxicoS preparo e aplicação de agrotóxicoS armazenamento e embalagem de agrotóxicoS 5 1. SEGURANÇA DO ALIMENTO 1. ALVO BIOLÓGICO A demanda pela produção de alimentos em quantidade e qualidade sufi- cientes para atender à crescente população mundial está levando agricultores e armazenadores às mais variadas técnicas de produção e de conservação de alimentos pós-colheita. O objetivo é assegurar que as populações, nos mais di- versos pontos do planeta, possam ter suas necessidades nutricionais atendidas. Organismos internacionais estão empenhados em traçar diretrizes com o intuito de assegurar a qualidade dos alimentos, desde a produção até a sua in- gestão pelo homem. Essa preocupação teve início na década de 1960, com a elaboração de diversas normas apresentadas a produtores, Desde então, estão sendo ampliadas por diversos organismos internacionais. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, o arti- go 25 estabelece claramente a segurança alimentar entre os direitos humanos fundamentais. Contudo, ainda não se dispõe de mecanismos que o tornem efe- tivo. No Brasil, tanto o Ministério da Saúde, por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas- tecimento têm procurado regular as atividades de produção, industrialização e comercialização de alimentos, sempre buscando a proteção do consumidor final por meio de leis específicas. A legislação brasileira assegura que os produtores são responsáveis pela co- locação no mercado de produtos e serviços que não ameacem a saúde e a inte- gridade física dos consumidores (Capítulo IV, Seção I, Artigo 8º do Código de Defesa do Consumidor). Capítulo IV Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90, de 11 de novembro de 1990, em vigor desde 11 de março de 1991):“Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos Danos”. Seção I - Da proteção à Saúde e Segurança Art.8o– Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.” 1 a 6 As entidades de defesa dos consumidores têm se empenhado em garantir os seguintes direitos: a) direito de acesso a alimentos seguros; b) direito à informação, inclusive com risco de informações erradas e mesmo enganosas; c) direito à reclamação e à justa compensação por danos; d) direito a uma educação alimentar que capacite o consumidor de habili- dades e conhecimentos que permitam escolher e consumir de forma segura e adequada os alimentos, com vistas à introdução de práticas saudáveis de alimentação; e) direito de ser escutado, através da participação dos consumidores na for- mulação de políticas públicas, na avaliação de normas e regulamentos e na implementação de ações relativas aos alimentos; e f ) direito a um ambiente saudável com vistas a promover um consumo sus- tentável, em função dos impactos ambientais da produção, do processa- mento e do consumo (no aspecto do descarte) de alimentos. Nesse tópico, vamos comentar a respeito do conceito de Segurança dos Ali- mentos e da legislação inerente ao tema, e procurar relacionar Segurança Ali- mentar e Produção Integrada. 2. CONCEITOS DE SEGURANÇA ALIMENTAR 2.1 O que é segurança alimentar? Na década de 1970, mais especificamente em 1974, por ocasião da 1ª Con- ferência Mundial de Segurança Alimentar, denominada “Cúpula Mundial da Ali- mentação” (Roma), promovida pela FAO/ONU, postulava-se que, para se acabar com a fome no planeta, cada país deveria produzir alimentos em quantidade suficiente para suprir sua população e gerar estoques que assegurassem sua au- tonomia perante outros países. Essa produção só seria atingida se houvesse a aplicação de fertilizantes e defensivos agrícolas em grande escala - a chamada Revolução Verde. Essa ideia surgiu após a 2ª Guerra Mundial, quando, infelizmente, constatou- -se que países com capacidade produtiva acima da média poderiam manter sua hegemonia. Além de envolver a questão alimentar, a produção de alimentos te- ria um caráter econômico e político, se fosse considerada como uma possível moeda de troca em casos de conflitos políticos. Nesse aspecto, devemos considerar os seguintes preceitos: Todos os indivíduos têm o direito de consumir alimentos de boa quali- dade nutricional, que sejam isentos de componentes químicos que possam pre- judicar a saúde humana; Os hábitos alimentares de cada povo devem ser considerados como pa- trimônio cultural, uma vez que refletem a cultura alimentar desse povo; O sistema de produção agropecuária de uma região ou um povo deve assegurar a sustentabilidade do sistema alimentar - não deve ser considerado aqui apenas o quanto está sendo produzido, mas como está sendo produzido o alimento. A intenção é assegurar produtos de qualidade e em quantidade, não apenas no momento presente, mas a longo prazo, garantido a sustentabilidade do sistema produtivo. 7 No Brasil, as primeiras considerações referentes à segurança alimentar ocor- reram no início da década de 1980, por ocasião da proposta de uma Política Na- cional de Segurança Alimentar, apresentada pelo governo. Segundo o Relatório gerado após os debates da Cúpula Mundial da Alimen- tação, em 1996, a Segurança Alimentar será alcançada quando todas as pessoas têm, a todo o momento, acesso físico e econômico a alimentos inócuos (que não oferecem riscos à saúde) e nutritivos para satisfazer suas necessidades dietéticas e preferências alimentares, para uma vida ativa e saudável” (Belik e SiliprandI, 2010). Em 2003, no Brasil, no Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricio- nal, foram discutidos os pontos abrangentes da Segurança Alimentar proposta pela Cúpula Mundial da Alimentação. Dessas discussões, surgiu o conceito de Segurança Alimentar e Nutricional, fruto dosdebates que aconteceram na 2ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, realizada em Olinda (PE), em 2004. De forma abrangente, podemos conceituar Segurança Alimentar e Nutricional como “a garantia do direito de todos ao acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, com base em práticas alimentares saudáveis e respeitando as características culturais de cada povo, manifestadas no ato de se alimentar. Esta condição não pode comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, nem sequer o sistema alimentar futuro, devendo se realizar em bases sustentáveis. É responsabilidade dos estados nacionais assegurarem este direito e devem fazê-lo em obrigatória articulação com a sociedade civil, dentro das formas possíveis para exercê-lo” (Art. 3º da Lei 11.346) (CONSEA, 2004). Nota-se o acréscimo do termo nutricional em relação ao apresentado pela FAO. Nesse contexto, a Segurança Alimentar abrange duas variáveis distintas, apesar de não figurarem unidas, de acordo com a literatura inglesa: • food safety (alimentos seguros) - que sinaliza a garantia de que um ali- mento não causará danos ao consumidor decorrentes de alterações biológicas, químicas ou físicas, resultado de contaminação acidental, não-voluntária, e • food security (segurança alimentar) – que é um conceito bem mais amplo, que abrange disponibilidade e acesso permanente, por todas as pessoas, a ali- mentos suficientes para uma vida saudável. De acordo com Araújo (2007), no Brasil, food safety refere-se especificamente à segurança alimentar sanitária, e food security tem uma designação mais abrangente. O Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) tem por objetivos: formular e implementar políticas e planos de segurança alimentar e nutricional, estimular a integração dos esforços entre governo e sociedade civil, bem como promover o acompanhamento, o monitoramento e a avaliação da segurança alimentar e nutricional no país. Integram o Sisan: 1) Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - instância res- ponsável pela indicação ao Consea das diretrizes e prioridades da Política e do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; Õ 8 2) Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) - órgão de assessoramento imediato ao presidente da República, que articula governo e sociedade civil organizada; 3) Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan) - instância de mobilização e alinhamento de órgãos governamentais federais para a convergência, transversalidade e monitoramento das políticas em Segurança Alimentar e Nutricional e também as políticas afetas ao tema, que têm, por sua vez, uma secretaria-executiva que organiza, articula e facilita a operacionaliza- ção de suas ações; e 4) Órgãos e entidades de SAN da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; instituições privadas, com ou sem fins lucrativos, que manifes- tem interesse na adesão e que respeitem os critérios, princípios e diretrizes do Sisan (Decreto nº 6.272, de 23 de novembro de 2007). No Brasil, as discussões em torno da segurança alimentar e nutricional não mais se restringem à produção agropecuária quantitativa e ao abastecimento alimentar; são também considerados como relevantes a má distribuição dos ali- mentos, o acesso, a qualidade e as formas de produção sustentáveis dos mes- mos. As políticas e programas de segurança alimentar e nutricional e combate à pobreza, como Fome Zero e Brasil Sem Miséria, foram reconhecidos por órgãos, como a FAO pela eficiência em combater a fome e desnutrição das populações mais vulneráveis. SAIBA MAIS! Belik, W. A política brasileira de segurança alimentar e nutricional: concepção e resultados. Segurança Alimentar e Nutricional. 2012;19(2):94-110. Doi:10.1590/S1415-52732007000100008 Maluf, RSJ. Segurança alimentar e nutricional. Petrópolis: Vozes; 2007. (Coleção Conceitos Fundamentais). 2.2 Segurança alimentar × agrotóxico A aplicação contínua de agrotóxicos tem ocasionado a contaminação do solo, das águas, do ar e, principalmente, dos produtos agrícolas e de origem ani- mal (carnes, leite e ovos) destinados ao consumo humano. Muitos dos produtos utilizados no controle de pragas e doenças de vegetais, ou mesmo aqueles des- tinados a prevenir doenças ou acelerar o crescimento de animais, podem ser acumulados em diferentes graus no organismo humano, ocasionado desde um pequeno mal-estar até a morte. Como podemos assegurar que os alimentos produzidos em sistemas de cultivo, nos quais o uso de defensivos é frequente, irão atender aos pre- ceitos de produção de um alimento seguro? Ì Ñ 9 SAIBA MAIS! Na Biblioteca do curso, você encontrará outros textos que o ajudarão na construção do conhecimento sobre Segurança Alimentar e todos os fatores inseridos na questão. 3. LEGISLAÇÃO DE RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS E CONTAMINANTES QUÍMICOS, FÍSICOS E BIOLÓGICOS Para evitar a produção não autorizada de agrotóxicos e, consequentemente, sua comercialização e aplicação sem controle ou cautela, os ministérios da Saú- de, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Meio Ambiente estão legis- lando de forma conjunta. O intuito é controlar a produção, a comercialização e o uso de todo defensivo agrícola, evitando que tanto a saúde humana, ou mesmo animal, e o meio ambiente possam ser afetados por esses produtos. O Codex Alimentarius, que é um programa das Nações Unidas sobre Har- monização de Normas Alimentares gerenciado pela FAO/ WHO (Food and Agri- culture Organization e World Health Organization), conceitua agrotóxico como: “qualquer substância utilizada para prevenir, destruir, atacar, repelir ou controlar pragas, incluindo espécies de plantas ou animais que devam estar presentes durante a produção, estocagem, transporte, distribuição ou processamento de alimentos e rações animais, ou que devam ser administradas a animais para o controle de ectoparasitas”. 3.1 LEI Nº 7.802 DE 1989 - Lei dos Agrotóxicos e afins No Brasil, desde 1989, a Lei de Agrotóxicos e Afins nº 7.802, de 11 de julho - que dispõe sobre a pesquisa, a produção, a embalagem e rotulagem, o trans- porte, o armazenamento, a comercialização, a utilização, a importação, a expor- tação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins - estabelece que os agrotóxicos somente podem ser utilizados no país se forem registrados em órgão federal competente, de acordo com as diretrizes e exigên- cias dos órgãos responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura (Brasil, 1989). Componentes: os princípios ativos, os produtos técnicos, suas matérias-primas, os ingredientes inertes e aditivos usados na fabricação de agrotóxicos e afins. No Artigo 2º desta Lei, entende-se por agrotóxicos e afins: a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, des- Ì Õ a 10 tinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou im- plantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, es- timuladores e inibidores de crescimento. No artigo 3º, parágrafo 6º, encontramos as diretrizes que regem a proibição de registro de agrotóxicos e afins, considerando os riscos à saúde pública e ao meio ambiente: a) para os quais o Brasil não disponha de métodos para desativação de seus componentes, de modo a impedir que os seus resíduos remanescentes provo- quem riscos ao meio ambiente e à saúde pública; b) para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil; c) que revelem características teratogênicas,carcinogênicas ou mutagêni- cas, de acordo com os resultados atualizados de experiências da comunidade científica; d) que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de acordo com procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científi- ca; e) que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de labo- ratório, com animais, tenham podido demonstrar, segundo critérios técnicos e científicos atualizados; f ) cujas características causem danos ao meio ambiente. 3.2 DECRETO Nº 4.074 DE 2002 Assim, por meio do Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, que regula- mentou a Lei 7.802/1989, estabeleceram-se as competências para os três órgãos envolvidos no registro de agrotóxicos: Ministério da Saúde (MS), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Ministério do Meio Ambiente (MMA), pelo Ibama. Dentre outras competências, esses órgãos são responsáveis pelo estabelecimento dos limites máximos de resíduos (LMR) e o intervalo de segurança de cada ingrediente ativo que compõe o agrotóxico para cada cultura agrícola; estabelecimento de metodologias oficiais de amostragem e de análise para determinação de resíduos de agrotóxicos e afins em produtos de origem vegetal, animal, na água e no solo; reavaliação de registro de agrotóxicos e afins quando surgirem indícios da ocorrência de riscos que desaconselhem o uso de produtos registrados. Limite Máximo de Resíduos (LMR): é a quantidade máxima de resíduo de agrotóxico ou afim oficialmente aceita no alimento, em decorrência da aplicação adequada numa fase específica, desde sua produção até o consumo, expressa em partes (em peso) do agrotóxico, afim ou seus resíduos por milhão de partes de alimento (em peso) (ppm ou mg/kg). Intervalo de Segurança ou período de carência, na aplicação de agrotóxicos ou afins, refere-se a: a 11 a) antes da colheita: intervalo de tempo entre a última aplicação e a colheita; b) pós-colheita: intervalo de tempo entre a última aplicação e a comercialização do produto tratado; c) em pastagens: intervalo de tempo entre a última aplicação e o consumo do pasto; d) em ambientes hídricos: intervalo de tempo entre a última aplicação e o reinício das atividades de irrigação, dessedentação de animais, balneabilidade, consumo de alimentos provenientes do local e captação para abastecimento público; e e) em relação a culturas subsequentes: intervalo de tempo transcorrido entre a última aplicação e o plantio consecutivo de outra cultura. Resíduo de agrotóxico e afins: é definido como a substância ou mistura de substâncias remanescente ou existente em alimentos ou no meio ambiente decorrente do uso ou da presença de agrotóxicos e afins, inclusive, quaisquer derivados específicos, tais como produtos de conversão e de degradação, metabólitos, produtos de reação e impurezas, consideradas toxicológica e ambientalmente importantes. 3.3 LEI Nº 9.974 DE 2000 E INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 42 DE 200 A Lei Federal nº 9.974 de 2000, regulamentada pelo Decreto nº 4.074 em 2002, que trata da destinação das embalagens de agrotóxicos, definiu regras para recolhimento, transporte e destinação final das embalagens vazias. Essa lei disciplinou a destinação final das embalagens vazias de agrotóxicos, determi- nando responsabilidades específicas para todos os elementos relacionados à ca- deia de produção e consumo desses produtos no país, envolvendo agricultores, canais de distribuição e vendas dos produtos comerciais, empresas fabricantes e o próprio poder público (Brasil, 2002). Considerando-se a possibilidade da adição de ingredientes, como frutas em iogurtes e em produtos de origem animal, que podem estar contaminados por resíduos de agrotóxicos desde a sua origem, é de grande importância o monito- ramento desses produtos agrícolas. Assim, a Instrução Normativa nº. 42 de 2008 (Brasil, 2008), instituiu o Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contami- nantes em Produtos de Origem Vegetal (PNCRC/Vegetal), que se constitui no conjunto de todos os Programas Nacionais de Controle de Resíduos e Con- taminantes por cultura de origem vegetal. Esses Programas têm por objetivo controlar os fatores de qualidade e a segurança higiênico-sanitária dos produtos de origem vegetal, seus subprodutos e derivados de valor econômico, por meio de verificação de autocontroles ao longo das etapas da cadeia produtiva por cultura de origem vegetal. Autocontroles: são os programas internos do estabelecimento produtor ou processador que visam assegurar a qualidade dos alimentos produzidos por meio da aplicação das boas práticas do procedimento padrão de higiene operacional e a análise de perigo e pontos críticos de controle. a 12 No Art. 3º encontramos os objetivos do PNCRC/Vegetal, que são: 1) assegurar a qualidade, a inocuidade e a segurança higiênico-sanitária dos produtos de origem vegetal, seus subprodutos e derivados de valor econômico colocados à disposição da população brasileira; 2) assegurar a qualidade, a inocuidade e a segurança higiênico-sanitária dos produtos de origem vegetal, seus subprodutos e derivados de valor econômico a serem exportados; Inocuidade: qualidade daquilo ou de quem não causa dano, que não faz mal. 3) verificar o uso adequado e seguro dos agrotóxicos, de acordo com as boas práticas agrícolas e as legislações específicas; 4) contribuir para a adoção das boas práticas agrícolas, fabris, de armazena- mento e de transporte na cadeia de produção dos produtos de origem vegetal, seus subprodutos e derivados de valor econômico; 5) conhecer o potencial de exposição da população aos resíduos nocivos à saúde do consumidor, parâmetro orientador para a adoção de políticas nacio- nais de saúde vegetal, fiscalização agropecuária e sanitária; 6) evitar o consumo e comercialização de produtos de origem vegetal, seus subprodutos e derivados de valor econômico oriundos de produção na qual se tenha constatado violação dos Limites Máximos de Resíduo (LMR) e Nível Máxi- mo de Contaminantes. Nível Máximo de Contaminantes: qé a quantidade máxima de determinada substância oficialmente aceita no alimento, em decorrência das práticas agrícolas, desde sua produção até o consumo, expressa em partes (em peso) da substância, por bilhão de partes de alimento (em peso) (ppb ou μg/kg). Os Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes, tanto em pro- dutos de origem vegetal como em produtos de origem animal (ver Instrução Normativa Nº 42 de 1999, que altera o Plano Nacional de Controle de Resíduos em Produtos de Origem Animal), tem como função a regulamentação básica, o controle e a vigilância. Suas ações estão direcionadas para se conhecer e evitar a violação dos níveis de segurança ou dos LMRs de substâncias autorizadas, bem como a ocorrência de quaisquer níveis de resíduos de compostos químicos de uso proibido no país. A Food and Agricultural Organization (FAO) e o Codex Alimentarius recomendam a adoção das boas práticas de fabricação (BPF) e da análise de perigo e pontos críticos de controle (APPCC) - ou Hazard Analysis of Critical Control Point (HACCP) do original em inglês - em toda a cadeia produtiva, a a Õ 13 que são seguidas por diversos países, inclusive o Brasil. Os programas APPCC têm por objetivo assegurar as condições de proteção e segurança do alimento, por meio da aplicação de medidas de controle e detec- ção de contaminação, direta ou indireta, por agentes físicos, químicos, biológi- cos e microbiológicos, garantindo a inocuidade dos processos de produção, ma- nipulação, transporte, distribuição e consumo dos alimentos (Athayde, 1999). De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil (Resolução RDC nº 275 de 2002), um programa APPCC deve ter por base os seguintes princípios: • Princípio 1: Identificar o(s) perigo(s) potencial(is) associado(s) à produção de alimentos em todos os seus estágios, desde o cultivo, processamento, fabri- cação e distribuição até o ponto de consumo. Avaliar a probabilidade de ocor- rênciado(s) perigo(s) e determinar as medidas preventivas para seu controle. • Princípio 2: Definir os pontos/procedimentos/etapas operacionais que podem ser controlados de modo a eliminar o(s) perigo(s) ou minimizar sua pro- babilidade de ocorrência – Ponto de Controle Crítico (PCC). • Princípio 3: Determinar limite(s) crítico(s) a serem respeitados, a fim de ga- rantir que o PCC permaneça sob controle. • Princípio 4: Instituir um sistema para monitorar o PCC por meio de testes ou observações periódicas. • Princípio 5: Definir as medidas corretivas a serem tomadas caso o monito- ramento indique que determinado PCC não se apresenta dentro do estipulado. • Princípio 6: Estabelecer procedimentos de verificação, inclusive testes e procedimentos complementares que confirmem que o sistema de APPCC está funcionando de maneira eficaz. • Princípio 7: Elaborar a documentação referente a todos os procedimentos e registros correspondentes a esses princípios e sua aplicação. Etapa: é qualquer estágio da produção e/ou fabricação de alimentos, inclusive matérias-primas, seu recebimento e/ou produção, colheita, transporte, formulação, processamento, armazenamento, etc. 4. Considerações Finais Atualmente predominam os sistemas de produção agrícola nos quais a quantidade de defensivos agrícolas e fertilizantes minerais utilizados ainda é expressiva, frente a outros sistemas de produção; o manejo do solo e da água nem sempre são os mais adequados, aqueles que levam à preservação desses recursos; e as etapas de colheita e pós-colheita, considerando aqui o armazena- mento e transporte até o consumidor, apresentam inúmeros problemas, com qualidade de mão de obra e logísticos. Da forma como é conduzida, a produção alimentícia compromete tanto a a 14 qualidade dos alimentos como o meio ambiente. A implementação de leis que controlam a produção, a comercialização e o uso de defensivos é um passo deci- sivo para que as políticas e programas que assegurem a qualidade dos alimentos consumidos no país. Esse é passo fundamental para assegurar a sustentabilida- de do processo produtivo. Se considerarmos o que foi abordado no Módulo 1 e neste tópico sobre Se- gurança Alimentar, a implantação da Produção Integrada - de acordo com as normas exigidas na produção de alimentos, tanto de origem vegetal como ani- mal, que propõe modificações no sistema de produção, de modo a torná-lo mais sustentável - é, sem dúvida, uma ação que possibilitará a produção de alimentos com qualidade e em quantidade suficientes para assegurar a sua sustentabilida- de. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, M. Safety e Security: conceitos diferentes. Segurança e Qualidade Alimentar, nº 3, novembro de 2007, p.1-61. ATHAYDE, A. “Sistemas GMP e HACCP garantem produção de alimentos inócuos.” Engenharia de Alimentos. 5(23), janeiro/fevereiro 1999. BELIK, W. e SILIPRANDI, E. Segurança e soberania alimentar. Campinas, UNICAMP/ Instituto de Economia, 2011. BRASIL. Lei nº 7802, de 11 de Junho de 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Diário Oficial da União, p. 11459, 12 jul. 1989. Seção 1. BRASIL. Decreto nº 4074, de 04 de Janeiro de 2002. Regulamenta a Lei nº 7802, de 11/07/1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providencias. Diário Oficial da União, p. 1, 08 jan. 2002, Seção 1. BRASIL. Instrução Normativa nº 42, de 20 de Dezembro de 1999. Altera o Plano Nacional de Controle de Resíduos em Produtos de origem Animal – PNCR e os Programas de Controle de Resíduos em Carne – PCRC, Mel – PCRM, Leite – PCRL e Pescado – PCRP. Diário Oficial da União, p. 213, 22 dez. 1999. Seção 1. BRASIL. Instrução Normativa nº 42, de 31 de Dezembro de 2008. Institui o Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal – PNCRC/ Vegetal. Diário Oficial da União, p. 2, 05 jan. 2009, Seção 1. 15 BRASIL. Portaria nº 329, de 02 de Setembro de 1985. Proíbe, em todo território nacional, a comercialização, o uso e a distribuição dos produtos agrotóxicos organoclorados, destinados à agropecuária, dentre outros. Diário Oficial da União, p. 12941, 08 maio 1985. Seção 1. BRASIL. Resolução RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/ Industrializadores de Alimentos. Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 23 de outubro de 2003. BRASIL. LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www2.camara.leg. br/legin/fed/lei/1990/lei-8078-11-setembro-1990-365086-norma-pl.html>. Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSEA. Princípios e Diretrizes de uma Política de Segurança Alimentar e Nutricional: Textos de Referência da II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Brasília, DF: 2004. 16 2. RASTREABILIDADE APLICADA À PRODUÇÃO INTEGRADA 1. INTRODUÇÃO Como já foi comentado no Módulo 1, a preocupação com a qualidade e a segurança dos produtos agropecuários tem crescido consideravelmente, uma vez que os mercados interno e externo estão tornando-se mais e mais exigentes. Durante a década de 1990, muitas mudanças ocorreram nos padrões de con- sumo de alimentos em todo o mundo. Ao mesmo tempo, os surtos de doenças em animais criados em escala comercial e o surgimento de alimentos genetica- mente modificados contribuíram para a elaboração de normas que regulamen- tam o sistema produtivo, desde o campo até a comercialização. Os diversos registros de problemas na contaminação de frutas e grãos decor- rentes da aplicação de defensivos químicos, juntamente com aqueles referentes à sanidade animal, reforçaram a necessidade de utilização de um sistema que melhor retratasse toda a trajetória do alimento (animal ou vegetal) - plantio, co- lheita, transporte, armazenamento e comercialização. Os registros de todas as etapas da produção de determinado alimento possibilitam que o consumidor tenha acesso a produtos saudáveis, o que é um forte argumento a favor da ras- treabilidade. Para atender às exigências da União Europeia, o governo brasileiro instituiu normas para o rastreamento dos produtos agropecuários: o Sistema de Produ- ção Integrada de Frutas (PIF), em 2011, o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov), em 2002, e o Sistema de Produção Integrada Agropecuária (PI Brasil), em 2010. Todas essas normas têm o objetivo de atender às exigências internas e externas quanto à qualidade dos produtos, bem como para ampliação do mercado consumidor. Neste tópico, vamos conversar sobre a rastreabilidade dos produtos agrope- cuários tanto no contexto nacional como no internacional. Vamos apresentar, de forma sucinta, seus conceitos, leis e métodos. 2. CONCEITO DE RASTREABILIDADE Na definição apresentada por Peixoto (2008), “a rastreabilidade pode ser con- ceituada como um conjunto de sistemas de informações e registros de arquivos, que permite realizar um estudo retrospectivo dos produtos ao longo da cadeia produtiva, do ponto de consumo até a origem das matérias-primas a partir das 2 17 quais foram produzidos, passando pelos estabelecimentos onde foram indus- trializados, processadosou embalados”. Definição essa que se assemelha àquela apresentada pela International Organization for Standardization (ISO), represen- tada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), como: “a capacidade de recuperar o histórico, a aplicação daquilo que está sendo considerado” (ISO 9000, 2000). De acordo com o Regulamento nº178 de 2002, da Comunidade Europeia, a rastreabilidade pode ser interpretada como: “a capacidade de detectar a origem e de seguir o rastro de um gênero alimentício, de um alimento para animais, de um animal ou de uma substância, destinados a ser incorporados em alimentos para animais, ou com probabilidade de o ser, ao longo de toda fase de produção, transformação e distribuição”. A rastreabilidade é uma ferramenta que permite identificar a origem de um produto desde o campo até o consumidor, podendo ter passado ou não por al- gum tipo de processamento. É um conjunto de procedimentos que possibilitam monitorar todas as etapas do processo produtivo, com o objetivo de assegurar alimentos com qualidade e com origem confiável. A rastreabilidade, de acordo com a análise de Rocha e Lopes (2003), pode ser classificada em dois tipos: • Rastreabilidade descendente: consiste em encontrar o destino industrial ou comercial de um lote de produtos até o armazenamento no ponto de comercialização; e • Rastreabilidade ascendente: é aquela que possibilita o levantamento de todos os estágios, começando de um lote de produto acabado até encontrar o histórico e a origem do lote. Se aplicada isoladamente, a rastreabilidade por si só não assegura a quali- dade do produto, mas funciona como um complemento no gerenciamento da qualidade. Assume-se que a rastreabilidade deve estar associada a outros siste- mas de controle de qualidade, como o HACCP (Hazard Analysis Critical Control Point) e os procedimentos recomendados para boas práticas agrícolas. Como mencionado no Módulo 1, o HACCP é um processo que enfatiza e previne os riscos de contaminação alimentar por meio de medidas de controle e corretivas na indústria de alimentos. Mas, em termos práticos, quais são os objetivos da rastreabilidade? De acor- do com Souza (2001), seus objetivos são: • Assegurar que o produto final seja constituído de materiais e componentes de qualidade; • Identificar produtos que se assemelham, porém, são diferentes em vários aspectos; • Possibilitar que um produto de origem duvidosa possa ter sua base identi- ficada; e • Identificar as falhas e tomar medidas corretivas a custo reduzido. Õ 18 Nos produtos rastreados, é mais fácil detectar problemas ocorridos durante todo o processo produtivo, assim como a tomada de decisão para reverter esses problemas. Os produtos rastreados apresentam um diferencial: tornam-se mais competitivos e menos sujeitos às instabilidades do mercado. De forma simplificada, a rastreabilidade pode ser entendida como um siste- ma de controle de qualidade de um produto. “Um sistema de rastreamento eficiente deve ser composto de normas e/ou referências de qualidade que objetivem garantir e preservar; de procedimentos estabelecidos; da relação de insumos permitidos e proibidos; de períodos de carência ou transição baseados em normas; de exigências dos produtores para que mantenham comprovantes de compras e de vendas; de auditorias e vistorias surpresas e periódicas” (Dulley e Toledo, 2003). 3. O QUE É CERTIFICAÇÃO? Um ponto a ser considerado quando se comenta sobre rastreabilidade é a relação entre certificação e rastreabilidade. A certificação representa um conjunto de procedimentos pelo qual uma en- tidade certificadora – imparcial e independente – reconhece/atesta que o pro- duto atende a requisitos preestabelecidos. A produção certificada não é garantia de que um produto seja rastreável. No entanto, um produto rastreado deve pas- sar por um processo de certificação do sistema. Para a certificação de um produto de origem animal ou vegetal, é necessário (Conchon e Lopes, 2012): • identificá-lo: determinar sua identidade; • rastreá-lo: implica a capacidade de encontrar o histórico da utilização ou localização de um produto qualquer por meio de identificação; e • certificá-lo: consiste em aplicar um conjunto de medidas que permitam registrar um produto para afirmar, atestar, convencer ou asseverar alguma coisa a respeito do produto, sobre o processo de produção, a qualidade ou a origem dele. “A certificação de um sistema de qualidade faz parte da cer- tificação de um produto com atributo de rastreabilidade, mas o inverso não é verdadei- ro, ou seja, a certificação de um produto não faz parte da certificação de um sistema de qualidade”, como comentado por Machado (2000). Õ 19 Õ 4. PROCESSO DE RASTREABILIDADE No Brasil, as várias iniciativas de implementação de sistemas de rastreabilida- de diferem em função dos objetivos. Esses objetivos dependerão das exigências dos mercados, normas, regulamentos e práticas em vigor, da forma de gestão das empresas e cadeias – das tecnologias adotadas e do nível de abrangência desses sistemas. Muitos dos sistemas de rastreabilidade que hoje são utilizados resultaram de iniciativas do governo; mas há aqueles que partiram de entidades de classe, como no caso da produção de frutas para exportação. Essas experiências podem ser referências para orientar a definição de um sistema de rastreabilidade. Al- guns aspectos devem ser considerados na avaliação desses sistemas (Conchon e Lopes, 2012): • Exigências dos mercados, por meio de identificação de normas, regula- mentos e práticas internacionais em vigor (o Codex Alimentarius, a NBR ISO 22005:2007, Regulamento da Comunidade Europeia Nº178/2002, dentre ou- tros), bem como exigências peculiares de países importadores dos produtos brasileiros (como certificação Halal, exigida pelos países islâmicos); Certificação Halal: É o certificado emitido pelo Centro Islâmico no Brasil para produtos, serviços ou linhas de produção, de diversas áreas, quando são preenchidos todos os requisitos de produção Halal. Halal, em árabe, significa lícito, autorizado, é um termo que define qualquer objeto ou ação permitidos de acordo com a lei islâmica. Antes conhecidos apenas pelos povos muçulmanos, a fabricação e o consumo de produtos Halal estão em franca ascensão em todo o mundo. O Brasil é hoje a terceira nação que mais comercializa produtos certificados. Além dos povos islâmicos, tradicionais compradores, os adeptos de outras religiões buscam, com frequência, adquirir alimentos e itens que primam pela qualidade e segurança Halal. O Selo de Garantia é concedido a produtos in natura, farmacêuticos, de higiene e cosméticos. No setor alimentício, estão incluídos carnes, embutidos, sucos, café, refrigerantes, óleo, açúcar, cereais, massas, doces, enlatados, queijos, creme de leite, manteiga, ovos desidratados e pasteurizados, entre outros. Para receber o Selo de Garantia Halal, é preciso que as empresas adaptem suas produções de acordo com os princípios do Islam. A certificação somente é concedida após analisada a forma de captura das matérias-primas utilizadas, a operação da mão de obra envolvida, a higiene funcional, os equipamentos e os métodos de armazenamento. • Estrutura das empresas e/ou cadeias que adotaram sistemas desenvolvidos por órgãos de controle e fiscalização, entidades de classes, associações e gran- des empresas; • Nível de abrangência e tipo de informações mantidas por esses sistemas (dados registrados, organizações participantes, nível de acesso às informações, etc.); • Tecnologias - RFID, código de barras, quick response (QR), sistemas compu- a 20 tacionais de rastreabilidade - e os padrões adotados (GS1/EAN UCC, GLN, GTIN, etc.). RFID (Radio Frequency Identification): é definida como uma rede de comunicação a distância sem fio, que pode ser utilizada para identificar ou rastrear objetos, com aplicações no setor logístico, de supermercados, transporte, cargas, etc. Apenas é necessárioque o produto tenha a etiqueta com chip RFID: uma grande quantidade de dados pode ser capturada pelo leitor instantaneamente, mesmo que os produtos estejam em movimento. Assim, pode-se obter informações como identificação do produto, preço de venda, custo, local e data de produção, etc. Código EAN (sigla de European Article Number): tem duas estruturas de codificação - as versões EAN-13 e EAN-8, que são utilizadas para identificar produtos e bens de consumo. Exemplificando: EAN-13 é um código de barras no padrão EAN definido pela GS1(GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação). O código EAN-13 identifica o país de origem de produção, a empresa e o produto por ela produzido. O último dígito serve para o controle da composição total do código e é obtido por meio de cálculo algoritmo. SAIBA MAIS! Em 2007, foi criada a ISO 22005 para tratar especificamente da rastreabilidade na cadeia de alimentos. No Brasil, a ABNT (ABNT NBR ISO 22005:2008) publicou material similar, que é válido desde 3 de novembro de 2008 (ver especificações em http://www.abntcatalogo. com.br/norma.aspx?ID=10181). Você pode encontrar a ISO 22005 na nossa Biblioteca (ISO_22005:2007.pdf). Em termos gerais, a rastreabilidade abrange vários segmentos da cadeia produtiva. Se ela nos permite conhecer o caminho percorrido por um produto desde sua origem até sua comercialização. De acordo com Nassar et al. (2015), devemos considerar os segmentos que ela contempla: • a produção de matérias-primas - representa os agricultores e pecuaristas que adotam algum sistema de rastreabilidade em seus produtos; • a industrialização de produtos - no caso de produtos que receberam al- gum tipo de processamento, representada por empresas processadoras; e • a comercialização - de modo geral, compreende aqui a comercialização de produtos in natura (frutas, verduras) ou processados, representada por empresas que atendem o ponto final da cadeia produtiva, os consumidores, e representa- da pelos supermercados, restaurantes, etc. a Ì 21 Figura 1. Segmentos do processo produtivo que norteiam os sistemas de rastreamento dos produtos SAIBA MAIS! Vale a pena ler o artigo publicado por Rose Machado, que traz uma visão global do processo de rastreabilidade de alimentos: Machado, R.T.M. Sinais de Qualidade e Rastreabilidade de Alimentos: Uma Visão Sistêmica. Organ. Rurais Agroind., Lavras, v. 7, n. 2, p. 227-237, 2005 (PDF também disponível na Biblioteca do curso). 4.1 Produção de matéria-prima Um sistema de rastreabilidade deve permitir que todas as informações re- ferentes ao cultivo - englobando as atividades de adubação, aplicação de de- fensivos, colheita, armazenamento na propriedade, etc. - estejam disponíveis ao consumidor. Essas informações permitem que tanto o consumidor, no caso de produtos in natura, como a indústria tenham conhecimento de todas as etapas do processo de produção, facilitando a identificação de possíveis perigos à saú- de coletiva, em decorrência do que foram expostos durante a sua produção e distribuição (MAPA, 2016). A empresa que processa os produtos agropecuários, conhecendo a origem deles, tem condições de identificar antecipadamente as causas de um problema em qualquer ponto do seu processo de produção, manipulação, transformação e expedição e, com isso, tomar medidas preventivas ou mesmo corretivas. Por exemplo: se considerarmos os produtos de origem animal - aves, suínos e bovinos -, informações sobre as rações consumidas por esses animais podem ser muito importantes, dependendo das normas e dos regulamentos que regem o sistema adotado. 4.2 Industrialização Esse segmento pode ser representado por uma ou por um conjunto de em- presas, cada uma atendendo a uma etapa do processo produtivo. No sistema de Ì Õ 22 Õ produção integrada agropecuária, dependendo do produto final a ser comer- cializado, as empresas que atendem as diferentes etapas devem seguir à risca as normas e regulamentos que regem o sistema de rastreabilidade adotado. Por exemplo: na produção de carne para exportação, as indústrias produtoras de ração animal devem ter conhecimento sobre a produção dos variados compo- nentes dessa ração. Informações sobre a origem das sementes, os insumos apli- cados, o beneficiamento, o armazenamento, etc. devem ser do conhecimento da indústria processadora da carne. 4.3 Comercialização Como já comentado, para atender às exigências da Comunidade Europeia, aqueles que quisessem exportar para os países que compõem o bloco passaram a ser obrigados a ter um sistema de rastreabilidade e certificação dos produtos desde a origem. Essa norma fez com que países potencialmente exportadores se adequassem a tais exigências. Nesse caso, quando há interesse em comercia- lizar qualquer produto de origem animal ou vegetal, a primeira ação é estudar o mercado alvo, em termos de normas, certificações, regulamentações e padrões exigidos. O conhecimento desses requisitos, tanto para atender clientes especí- ficos como os mercados consumidores de modo mais amplo, são determinantes na tomada de decisão quanto à escolha do sistema de rastreamento a ser ado- tado. Os produtos brasileiros destinados à exportação, em termos de rastreabi- lidade, atendem a diversos países com características de mercado e exigências distintas. 5. RASTREABILIDADE DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS NO BRASIL 5.1 Bovinos, suínos e aves Em 2002, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) instituiu, por meio da Instrução Normativa nº 01, de 09/01/2002 (http://www. agricultura.gov.br/das/dipoa/in_01_2002.htm), o Sistema Brasileiro de Identifi- cação de Origem Bovina e Bubalina (SISBOV), que “é o conjunto de ações, medi- das e procedimentos adotados para caracterizar a origem, o estado sanitário, a produção e a produtividade da pecuária nacional e a segurança dos alimentos provenientes dessa exploração econômica”. Determina, também, que a Secre- taria de Defesa Agropecuária (SDA/Mapa) seja responsável pela normalização, regulamentação, implementação e supervisão da execução das etapas de iden- tificação e registro individual do rebanho brasileiro e credenciamento de entida- des certificadoras, cujos dados estão inseridos no Cadastro Nacional do Sisbov, assim como o desenvolvimento, a implantação e o gerenciamento da base de dados informatizada nacional, a fim de que os objetivos da rastreabilidade se- jam atendidos. O Sisbov tem como principais objetivos identificar, registrar e monitorar, individualmente, todos os bovinos e bubalinos nascidos no Brasil ou importados, e aplica-se em todo o território nacional, às propriedades rurais de criação de bovinos e bubalinos, às indústrias frigoríficas e às entidades certificadoras. Os procedimentos adotados nesse sentido devem ser previamente aprovados pelo Mapa. Õ 23 Os animais registrados no Sisbov terão a sua identificação controlada pelas entidades certificadoras credenciadas, devendo o Documento de Identidade (ou Passaporte Bovino) constar de: número do animal do SISBOV, número do animal na certificadora, país de origem, raça, sexo, propriedade de nascimento, data de identificação, propriedade de identificação, data de nascimento, identi- ficação da Certificadora e logotipo do Mapa (Instrução Normativa nº 47, 31 de julho de 2002). No Brasil, a utilização de brincos eletrônicos nos animais tem sido uma op- ção mais viável aos produtores, apesar de ainda onerosa. Os brincos contêm um código de barras (mais condizente com a nossa realidade por ser mais simples e mais barato) que permitem a identificação do animal a partir de uma leitura óptica acionada por um laser e posterior recebimento dos dados por um sistema computacional. Figura 2. Modelos de brinco utilizado para identificação eletrônica de bovino e suínos As aves e suínos também devem atender às exigências para exportação. Os suínos são identificados individualmente a partir do momento que saem da maternidade, utilizando-se de brincos e tatuagens. Os animaistambém têm um “passaporte”, contendo todas as informações requeridas pelo programa, que os acompanhará em todas as suas movimentações. A rastreabilidade no abatedou- ro representa a fase mais importante no processo, pois aí se estabelece a corres- pondência entre a granja e o número de abate. Para as aves, sua identificação deverá ser por lote de animais e não indivi- dualmente. A definição desse lote é muito importante, pois a partir dele é que teremos a garantia das informações obtidas e do seu rastreamento. Num lote os animais devem ter a mesma idade, origem e serem alojados sob condições idênticas, em uma mesma unidade de produção ou aviário (Mendes, 2003). Se identificadas de modo diferente, a precisão dos resultados será comprometida. No rastreamento de aves, o banco de dados com os registros deve conter: • Incubatórios com rastreabilidade para a origem do ovo, data de postura, data de incubação, performance de incubação, vacinas utilizadas, local e horário de nascimento, horário de entrega e condições sanitárias de incubação, nasci- mento, armazenagem e entrega; 24 Õ • Origem do(s) lote(s) de matrizes que originou (aram) o ovo, local de pos- tura, idade, linhagem, status sanitário de matriz, drogas utilizadas, mortalidade/ idade, performance zootécnica; • Data de alojamento dos pintos; • Número de mortalidade no lote e suas causas; • Registro das visitas técnicas efetuadas no lote e parecer técnico; • Partidas e lotes de vacinas; • Medicações terapêuticas, nome do produto, partida, idade, período de ca- rência, responsável técnico; • Taxa de crescimento das aves (peso × idade); • Controles das partidas de rações recebidas e consumidas. Hoje, a indústria, ao receber o lote, obtém facilmente as informações perti- nentes à origem dos insumos e materiais e todos os procedimentos envolvidos até o abate. Todas as empresas e organizações envolvidas no processo deverão estar cadastradas em um órgão competente e instruídas por meio das normativas. Assim como é feito no Sisbov, as informações geradas também deverão ser en- viadas para um Banco Nacional de Dados, requisito para que seja validado e emitido o Certificado de Identificação de Origem Avícola. 5.2 Frutas E As exigências da Comunidade Europeia quanto à qualidade das frutas (e outros alimentos) a serem importadas incentivaram produtores brasileiros a aderir ao sistema de Produção Integrada de Frutas (PI) como fator essencial para alcançar mercados mais exigentes e agregar valor ao produto. Esse assunto foi comentado no Módulo 1, mas é bom lembrar que a PI tem como princípios fundamentais a adoção de técnicas de cultivo que consideram as questões que envolvem a qualidade final do produto (redução na aplicação de fertilizantes e defensivos químicos, manejo da lavoura seguindo diretrizes preestabelecidas, cuidados na pós-colheita - armazenamento e transporte, etc.) e as que referem ao meio ambiente. A rastreabilidade de frutas produzidas em sistemas de PI é mais fácil de ser conduzida, uma vez que o controle sobre esses produtos é feito continuamente. Para a implementação da rastreabilidade em frutas, alguns critérios exigidos na PI são essenciais (Fachinello et al., 2003): • Divisão da área produtiva em talhões ou parcelas; • Uso de cadernetas de campo de pós-colheita; • Identificação, no campo, das unidades de colheita, através de etiquetas pré-confeccionadas com código de barras, ou outros métodos; • Adoção de lotes homogêneos no processamento das frutas; • Uso da logística que assegure a individualidade dos lotes. O conceito de lote na PI, de acordo com o Mapa, representa “a quantidade de produtos com as mesmas especificações de identidade, qualidade e apre- sentação, processadas pelo mesmo fabricante ou fracionador, em um espaço determinado, sob condições essencialmente iguais”. 25 ÕTodas as frutas produzidas nesse sistema devem constar de identificação da origem do produtor ou embalador, o nome da pessoa física ou razão social, endereço completo e o CNPJ, localidade, estado e o país de origem, de acordo com as recomendações do Mapa. São utilizados métodos que permitem identificar os produtores, as áreas de plantação, as frutas em todas as suas embalagens e configurações de transporte e armazenagem em toda a cadeia. Os principais métodos de identificação utilizados na produção de frutas são: • Documento papel: mais usado e de menor custo; mas de baixa capacida- de, armazenamento de informações complicado e possibilidade de falsificação; • Etiqueta rádio: é um sinal magnético que transmite mensagens; tem capa- cidade de armazenamento de informações e pode ser reutilizada; • Código de barras: é representado na unidade logística elementar (caixa), com dados de peso, data, nº do lote, e na unidade de expedição, contendo infor- mações sobre produto, cliente, expedição. Os padrões a serem adotados são de livre escolha (EAN 8, EAN 13, EAN 14, EAN/UCC 128/ ITF, UPC-A e RSS). Figura 3. Código de barras utilizado no rastreamento de produtos vegetais adotado por algumas redes de comercialização Os números de identificação devem ser aplicados e registrados de tal forma que seja criado um vínculo entre as configurações sucessivas de embalagens e transporte e armazenagem. Algumas informações podem ser transmitidas eletronicamente e relacionados com o número de identificação das unidades logísticas; outras só precisam ser registradas. Algumas beneficiadoras utilizam esteiras acopladas a um sistema de seleção por tamanho e coloração (escanea- mento da fruta) e colocação automática de código de barras. As etiquetas de identificação devem conter: número ou nome do talhão, cultivar, data de col- heita, nome do produtor ou responsável técnico e sistema de produção utilizado (Produção Integrada, convencional ou orgânica). As frutas comercializadas in natura poderão receber uma identificação in- dividual com selos, contendo o número do lote a que pertencem. O produto final será identificado com um código de barras e paletizado. Os selos de confor- midade, contendo códigos numéricos, são aderidos às embalagens das frutas. Todo esse sistema garante a rastreabilidade do produto por meio do identifica- dor estampado no selo, que reflete os registros obrigatórios das atividades de 26 todas as fases envolvendo a produção e as condições em que foram produzidas, transportadas, processadas e embaladas. Os produtores brasileiros ainda enfrentam dificuldades em atender ao mer- cado externo efetivamente, porque ainda não existe uma regra comum entre os países em relação à proibição de determinados princípios ativos. Atender às ex- igências específicas de cada país importador ainda é um entrave na exportação de frutas. E, no mercado interno, não há remuneração-extra para os produtos gerados de produção integrada. Figura 4. Selo identificador de produto rastreado 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A rastreabilidade exige uma estreita relação entre todos os elos da cadeia produtiva; a desconfiança entre esses elos pode dificultar a transmissão das in- formações, comprometendo a sua eficiência. É um processo que pode ser melhorado continuamente pela troca de expe- riências, conhecimento das dificuldades e a adequação à realidade brasileira. É fundamental, portanto, que haja um maior comprometimento e participação de todos os elos envolvidos no processo de rastreabilidade. Em termos gerais, no Brasil, o interesse em atender às exigências do merca- do externo para incrementar as exportações tem aumentado em todos os seto- res do agronegócio. Assim, criar novos nichos de mercado é fundamental para essa expansão. Nesse sentido, o governo tem papel fundamental, fornecendo incentivos e subsídios, treinamentos específicos e orientações adequadas sobre o assunto, principalmente sobre o enfoque da questão de segurança alimentar. Fica evidente, portanto, que o esforço conjunto dos setores produtivos e do governo para implementar e viabilizar o processo de rastreabilidade é um passofundamental para garantir ao Brasil uma posição de destaque no cenário inter- nacional do agronegócio. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONCHON, F.L.; LOPES, M. A. Rastreabilidade e Segurança Alimentar. Lavras: UFLA, 2012. (Boletim Técnico, 91). Disponível em: <http://www.editora.ufla.br/ BolTecnico/pdf/bol_91.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016. DULLEY, R.D.; TOLEDO, A.A.F. Rastreabilidade dos produtos agrícolas. Informa- 27 ções Econômicas, v.33, n.3, p.33-37, 2003. FACHINELLO, J.C., RUFATO, L., ROSSI, A. de; TIBOLA, C.S.; FACHINELLO, A.F.; ROM- BALDI, C.V. Guia de rastreabilidade. Universidade Federal de Pelotas. 2003. ISO – International Organization for Standardization. ISO 9000:2000: Quality Management Systems: Fundamentals and Vocabulary. Brussels: European Stan- dard. Committee for Standardization. 2000. Disponível em: <http://www.iso.org/ iso/management_standards.html>. Acesso em: Outubro de 2013. MACHADO, R.T.M. Rastreabilidade, tecnologia de informação e coordenação de sistemas agroindustriais. São Paulo, 2000. 239p. 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Pela definição da Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR), a extensão rural “é um processo cooperativo, com base em princípios educacionais, que tem por finalidade levar, diretamente, aos adultos e jovens do meio rural, ensinamentos sobre agricultura, pecuária e economia doméstica, visando modificar hábitos e atitudes da família, nos aspectos técnico, econômico e social, possibilitando-lhe maior produção mensal e melhorar a produtividade, elevando-lhe a renda e melhorando seu nível de vida”. A extensão rural nasceu nos Estados Unidos, nos anos de 1830, norteada pelos grandes acontecimentos industriais que cercaram esse período, quando todos os setores da economia americana estavam em franco desenvolvimento e modernização, motivados pelas guerras e constantes necessidades de evolução das tecnologias para atender aos novos tempos. Contudo, as atividades do meio rural estavam sendo relegadas e em desvan- tagem perante os demais setores. Para Santos (1993), a origem norte-americana do serviço de extensão rural está intimamente relacionada ao processo de capi- talização da agricultura, presente naquele país. Desse modo, o desenvolvimento da produção capitalista desativou a indústria caseira da economia rural que at- endia às necessidades básicas dos agricultores. No Brasil, o serviço de extensão rural teve início em 1948, em Minas Gerais, com a criação da Associação de Crédito e Assistência Rural (Acar). Em continui- dade aos trabalhos da Acar, foi instituída, em 1976, a Empresa de Assistência e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais - Emater/MG (EMATER – PI, 2013). 3 Õ 29 A extensão rural, no Brasil, nasceu sob o comando do capital, com forte in- fluência norte-americana e visava superar o atraso na agricultura. Para tanto, havia a necessidade de “educar” o povo rural, para que ele passasse a adquirir equipamentos e insumos industrializados necessários à modernização de sua atividade agropecuária. Essa postura levava a crer que ele passaria do atraso para a “modernidade”. O modelo serviria para que o homem rural entrasse na dinâmica da sociedade de mercado, produzindo mais, com melhor qualidade e maior rendimento (EMBRAPA, 2013). Abordaremos, neste capítulo, vários aspectos da assistência técnica rural e extensão rural no Brasil, desde sua implantação até os dias atuais, além do func- ionamento das organizações de produtores rurais. Para apresentação dos temas, tivemos por base diversos trabalhos que poderão ser consultados na nossa Bib- lioteca. 2. CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em assem- bleia da ONU, em 1987, registrou o conceito de desenvolvimento sustentável, como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possi- bilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. Ou seja, o produtor rural de hoje tem o direito de explorar a terra, mas tem o dever de preservá-la, seguindo preceitos estabelecidos para esse fim. Por mais simples que pareça, essa linha de pensamento ainda é bem pouco considerada no sistema produtivo. Atualmente, há um movimento bastante ati- vo no sentido de tornar a conservação ambiental como norma da prática agrí- cola. O incentivo à Agricultura Familiar é um dos programas que podem conduzir o pequeno produtor à prática agrícola produtiva, porém conservacionista, com o objetivo único de amenizar os conflitos gerados pela “Revolução Verde” e asse- gurar sua inserção no mercado, com possibilidades de competir com alimentos produzidos em sistemas mais complexos. Conceitualmente a “Agricultura Familiar representa uma cate- goria social que tem como base de trabalho a família na execu- ção de suas atividades econômicas, a qual está inserida nesse processo de sustentabilidade, com a adoção de sistemas de produção que se retroalimentam (poucos insumos externos) e, por isso, internalizam a produção.” Para que tais sistemas de produção possam competir com os mais tecnifica- dos, é fundamental a participação dos programas de assistência técnica e ex- tensão rural na orientação aos produtores, na difusão de técnicas apropriadas e gestão do processo produtivo. De acordo com a Lei nº 12.188 de 2010, a assistência técnica e extensão rural (Ater), oficial e institucionalmente, consiste em serviços de educação não formal, de caráter continuado, no meio rural, cujo objetivo é a promoção de proces- sos de gestão, produção, beneficiamento e comercialização das atividades e dos serviços agropecuários e não agropecuários da agricultura familiar, inclusive, das atividades agroextrativistas, florestais e artesanais. Além de proporcionar assistência técnica aos produtores, visando ao aumento da produção, a Ater Õ 30 “caracteriza-se como uma agência de desenvolvimento capaz de contribuir para despertar o conjunto das energias capazes de fazer do meio rural um espaço propício na luta contra a exclusão social” (ABRAMOVAY, 1998). Depois da chamada Revolução Verde,a Ater no Brasil vem passando por mudanças substanciais desde a sua implementação até os dias atuais. Até então, os pacotes de transferência e de difusão de tecnologia, altamente especializados e direcionados para a monocultura, procuravam atender apenas as demandas dos grandes agricultores e empresas rurais e em nada contemplavam as neces- sidades da agricultura familiar, tanto no que toca ao acesso à Ater quanto na adaptação às inovações tecnológicas. Revolução Verde: pacote tecnológico (biológicos, genéticos e de máquinas), criado para atender e impulsionar o desenvolvimento agropecuário, no sentido econômico e produtivista, implantado com crédito farto, barato e subsidiado. No Brasil, ainda hoje os serviços de assistência técnica e extensão rural têm apresentado dificuldades de serem efetivados na prática, principalmente no que tange à assistência aos agricultores familiares. Isso se deve às metodologias de transferência de tecnologias adotadas pelas empresas públicas de assistência técnica e extensão rural, como as Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que ainda insistem no método de pacotes tecnológicos prontos e padronizados para todos os segmentos de produtores, sem levar em consideração as características locais, étnicas, culturais, geográficas, sociais e econômicas da agricultura familiar. 3. ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL NO BRASIL Formular um defensivo consiste em preparar os componentes ativos na con- centração adequada, adicionando substâncias coadjuvantes, tendo em vista que o produto final deve ser dispersado em determinadas condições técnicas de aplicação, para poder cumprir eficazmente a sua finalidade biológica, mantendo essas condições durante o armazenamento e transporte. O produto resultante do ato de formular denomina-se formulação ou preparado comercial. No Brasil, o serviço de Ater foi criado no final da década 1940, durante o governo do presidente Eurico Gaspar Dutra, tendo como base o conhecimento tecnológico, a difusão de novas técnicas agropecuárias por meio da assistência técnica e o apoio financeiro, no qual o crédito seria o principal fator que contri- buiria para fomentar o aumento da produção e a melhoria da qualidade de vida do meio rural brasileiro (I Seminário da Ater, 2004). A Ater foi implantada como a solução para o desenvolvimento rural, mantendo intocáveis os interesses e os direitos de populações locais, ou povos-alvos de programas da mudança indu- zida. A partir de 1952, as ações da Ater passaram a ter um papel mais educativo. Durante essa fase, a extensão rural registrou um grande crescimento, e, em 1956, foi fundada a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR). Ape- a 31 sar de o governo afirmar que o papel da entidade seria de coordenação, a inten- ção real era a institucionalização das associações como uma proposta articulada contra a sindicalização dos trabalhadores no campo. A partir de 1964, com a tomada do poder pelos militares, ocorreram mudan- ças significativas no tocante à questão agrária e agrícola do país, entre elas, a criação do Estatuto da Terra que consistia na regulamentação do uso e ocupação fundiária (Brasil, Lei 4.504 de 1964). Na década de 1970, foi criada a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), cuja finalidade foi implantar uma matriz tecnológica especializada e produtivista. Assim, as instituições de extensão rural foram organizadas dentro da concepção centralizada e descendente, com ampliação de seus instrumentos de controle e supervisão. Essa unidirecionalidade se expressou tanto no sentido organizacional quanto no “pedagógico”, na proporção em que se determina certa “superioridade de saberes” (MUSSOI, 2003). Nessa mesma década, o serviço de Ater continuou a se expandir, acompa- nhando a fase desenvolvimentista do Brasil, o chamado “milagre econômico”. Nesse período, a assistência técnica prevaleceu em detrimento da extensão ru- ral. O crédito era farto e subsidiado. Mas, nos anos de 1980, ocorreu a saturação do “milagre econômico”, quando o Brasil sofreu uma enorme crise financeira. Embora tenha surgido o “Planeja- mento Participativo”, os problemas agrários não foram solucionados, havendo uma desorganização do serviço de Ater. Em 1990, a Embrater foi extinta e a assistência técnica sofreu perda de qua- lidade e redução no número de agricultores assistidos. Perda de legitimidade política, problemas de financiamento, escassa possibilidade de ação operativa, perda de patrimônio, baixa incorporação de novos quadros técnicos e crise de paradigmas são alguns dos fatores que desencadearam esse processo (Echeni- que, 1998). Em 2003, reestruturada, a Ater tornou-se um agente de desenvolvimento das comunidades rurais, influenciando também mudanças institucionais neces- sárias ao funcionamento adequado das entidades prestadoras de tais serviços. 4. ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL COM FOCO NA AGRICULTU- RA FAMILIAR Como comentado por Rios e Pereira (2011), os serviços de assistência técnica e extensão rural são essenciais para o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar. Por isso, precisam de uma abrangência sistêmica e adequada a essa atividade econômica, uma vez que envolvem desde questões técnicas de manejo e de produção até a educação no campo. Após muitas discussões, foi criado no Brasil uma política pública específica de Ater voltada para a Agricultura Familiar. O objetivo era fomentar o setor, que apresenta peculiaridades e diversidades que fogem a qualquer tentativa de padronizar esse tipo de serviço. Õ 32 De acordo com o enunciado na Lei 12.188/10, artigo 3o, são princípios da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER): I - Desenvolvimento rural sustentável, compatível com a utilização adequada dos recursos naturais e com a preservação do meio ambiente; II - Gratuidade, qualidade e acessibilidade aos serviços de assistência técnica e extensão rural; III - Adoção de metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da cidadania e a democratização da gestão da política pública; IV - Adoção dos princípios da agricultura de base ecológica como enfoque preferencial para o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis; V - Equidade nas relações de gênero, geração, raça e etnia; e VI - Contribuição para a segurança e soberania alimentar e nutricional. Esses princípios introduzem e atualizam aspectos relevantes, como a inclusão de gênero, e valorizam a produção de base agroecológica. O incentivo trazido a uma atuação mais participativa democratiza e inclui um maior número de agricultores na tomada de decisões. Foram definidos como beneficiários da PNATER, conforme artigo 5º desta lei: I - Os assentados da reforma agrária, os povos indígenas, os remanescentes de quilombos e os demais povos e comunidades tradicionais; e II - Nos termos da Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006, os agricultores familiares ou empreendimentos familiares rurais, os silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores, bem como os beneficiários de programas de colonização e irrigação enquadrados nos limites daquela Lei. Caporal (2007) considera que a compreensão da realidade das famílias envolvidas no processo de desenvolvimento, o conhecimento dos agroecossistemas e o estabelecimento das estratégias e práticas compatíveis com a realidade são fundamentais na valoração das características locais. Isso exige a adoção de metodologias adequadas, capazes de contribuir para o estabelecimento de uma “plataforma de negociação”, criando oportunidades para a integração do conhecimento local com o técnico. Com relação à participação dos atores envolvidos, todos devem ter o mesmo espaço e oportunidade de expressar suas opiniões e desenvolver as ações. Nesse aspecto, o processo educativo deve ser capaz de potencializaro crescimento dos sujeitos como cidadãos, com fortalecimento das suas capacidades para a ação individual e coletiva. O registro sistematizado dos conhecimentos e das experiências realizadas no campo torna-se indispensável tanto para facilitar sua socialização entre os membros de cada grupo como para futuras avaliações. A agricultura familiar, quando bem conduzida, garante projeção socioeconômica das famílias rurais; promove a segurança alimentar das próprias famílias e da sociedade; mantém os saberes social e cultural; e fortaleza a preservação dos recursos naturais e da paisagem rural. 5. POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL A Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural foi criada como Õ 33 uma ação institucional, capaz de implantar e consolidar estratégias de desenvol- vimento rural sustentável, de modo a potencializar atividades produtivas agríco- las voltadas à oferta de alimentos sadios, matérias-primas e também incentivar estratégias de comercialização nos mercados em níveis locais (MDA, 2010). De acordo com Caporal (2007), a Ater passou a atuar de forma descentraliza- da. Com missão definida, ela atuava, então, com objetivos gerais e específicos, orientações estratégicas e metodológicas com entidades participantes do Siste- ma Nacional de Ater na sua gestão e coordenação. Além disso, a partir daquele momento, dispunha de nível de abrangência (nacional, estadual e municipal), de recursos financeiros destinados à implementação e viabilização da PNATER para a agricultura familiar, bem como dos requisitos básicos para o credencia- mento de entidades prestadoras de serviços e da capacitação de transição do modelo da Revolução Verde para a Agroecologia. Nessa nova perspectiva de atuação, a Ater passou a ser vista como um instrumento que auxiliava o produtor a ampliar suas “noções de variabilidade espacial dos agroecossistemas; de coevolução da sociedade com seu meio ambiente; de reconhecimento dos diferentes sistemas culturais; da importância da biodiversidade; assim como a necessidade de valorizar o ‘local’, e as iniciativas que possam ajudar na geração de ocupações e distribuição da riqueza” (MUSSOI, 2004). Para o enfrentamento dos problemas encontrados pela Ater, foram criados conselhos municipais formados por técnicos, representantes políticos locais e agricultores familiares, com o objetivo de coordenar e gerir a PNATER. Porém, tais conselhos esbarraram em barreiras para a sua atuação, como a falta de infor- mação sobre o papel dos agricultores familiares nos conselho e o próprio papel dos conselhos; a forte presença de organizações do Estado, que exerce grande influência em sua ação; e a discreta participação da assistência técnica e exten- são rural, que é uma das mais importantes parcerias do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ), no processo de conscientização e independência dos agricultores familiares, permanecendo presa ao seu papel de assistência técnica às atividades agrícolas (Flores, 2002). 6. ORGANIZAÇÃO: BASE DO AVANÇO DO PRODUTOR RURAL O texto deste tópico é um resumo do material elaborado pela jornalista Cleusa Pinheiro, quando entrevistou o ex-Ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Apresenta informações sobre a origem do movimento cooperativista brasileiro. O movimento cooperativista tem origem simbólica, em 1844, com a fundação da Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, bairro de Manchester (Inglaterra) por um grupo de tecelões. O cooperativismo evoluiu e conquistou um espaço próprio, definido por uma nova forma de conciliar o homem e as relações de trabalho, visando ao bem-estar socioeconômico dos envolvidos. Desse momento histórico até os dias atuais, o movimento cooperativista vem se solidificando a cada dia. No Brasil, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o leque de atividades econômicas abrangidas por esse ramo é muito grande, envolvendo toda a cadeia produtiva. Õ 34 Sob a ótica política e econômica, o cooperativismo teve seu início, em São Paulo, com a imigração japonesa, há 108 anos. Quando os japoneses vieram para o Brasil, trouxeram duas coisas importantes. A primeira foi a ideia de abastecimento integrado de hortifrutigranjeiros, incluindo variedades que não tínhamos. Daí, montaram cinturões verdes nas cidades, abastecendo de hortifrúti. A segunda ideia é que fizeram isso a partir de cooperativas, porque eram pequenos produtores. Desde então, esse processo se estendeu e o interessante é que não houve um sentido organizacional do movimento cooperativista desde o começo. A partir de certo momento, algumas cooperativas começaram a estruturar uma entidade nacional. Durante o regime militar, entre as décadas de 1960 e de 1970, teve início o trabalho para a unificação das cooperativas no Brasil, com a elaboração de legislação específica que seria a base para a montagem do sistema de cooperativismo brasileiro. Surgiu, então, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que congrega hoje 27 organizações estaduais. SAIBA MAIS! Para conhecer um pouco mais da história da OCB, acesse: http://www.ocb.org.br/site/ocb/historia.asp Entre 1987 e 1988, no período da Assembleia Nacional Constituinte, foi elaborada uma cartilha sobre o que era Assembleia Constituinte e o que era Constituição. A partir dessa publicação, foi solicitado às cooperativas brasileiras que apontassem temas que desejariam ver inseridos na Constituição. Do material apresentado pelas cooperativas, cinco temas foram selecionados como de alto conteúdo discursivo. O primeiro tema era relacionado com a autogestão, para acabar com a dependência do Estado, pois, até então, uma cooperativa para ser constituída precisava de autorização do Ministério da Agricultura e poderia sofrer intervenção a qualquer momento. O segundo estava relacionado à necessidade de o Estado estimular e fomentar o cooperativismo, ou seja, autogestão de um lado e apoio do outro. O terceiro era ligado ao cooperativismo de crédito que, naquela época, era marginalizado com regras do Banco Central; desejava-se uma isonomia com o sistema nacional. O quarto reivindicava que a educação cooperativista fosse uma disciplina obrigatória no ensino de 1.º grau, e o quinto tinha a ver com a isenção tributária sobre o Ato Cooperativo. Com essas definições, foi criada uma frente parlamentar do cooperativismo. Dos cinco temas apresentados, apenas o referente à educação não foi inserido, mas foram acrescentados mais dois, relacionados à questão de saúde e às cooperativas de garimpeiros, indicados por outros segmentos Hoje, a Constituição Brasileira tem seis artigos que apoiam o cooperativismo, o que transformou o Brasil numa referência mundial, razão pela qual a OCB foi aceita como membro da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), em 1989. Em nível nacional, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, encontra-se o Departamento Nacional do Cooperativismo (Denacoop), cuja função de acompanhar e estimular o cooperativismo nos moldes da Constituição, o que é feito por meio de convênios com a OCB, sobretudo na área de treinamentos, formação de recursos humanos, e que depois ganhou a dimensão maior com a criação do Setor Produtivo das Cooperativas Agropecuárias do Estado de São Paulo (Sescoop). Em nível estadual, alguns estados têm institutos Ì 35 ou organismos que cumprem a Constituição Nacional, apoiando as cooperativas. Em relação ao associativismo, no âmbito do Programa de Microbacias, executado pela CATI, foram criadas e/ou fortalecidas mais de 500 associações e formada uma federação para que os produtores tenham maior representatividade. No campo, o associativismo é a base da organização, e aqui é preciso entender a gênese do processo organizacional. Normalmente, um grupo de pessoas se organiza a partir de um interesse comum: cria-se uma associação para defender os interesses da comunidade, e já temos uma organização política,
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