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Karina, Cabral - Unknown - (No Title)

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22/09/2015 UFPB ­ Profª Carla Mary S. Oliveira
http://www.carlamaryoliveira.pro.br/artigo_ana_cabral.html 1/11
 
Políticas de Preservação do Patrimônio Histórico
no Brasil e na Paraíba: o IPHAN , o IPHAEP
e o Turismo Cultural 1
Ana Karina Pereira Cabral 2
Graduanda em Turismo ­ UFPB
RESUMO
Pode­se dizer que no Brasil a preocupação com o patrimônio inicia­se com a chegada da Corte portuguesa ao Brasil, em 1808,
mas só a partir da década de 30 do século XX é que a prática da preservação no país se estabeleceu, resultado de muitos e
complexos fatores a partir dos quais se estruturaram as políticas voltadas para a proteção dos mesmos. Em nível federal esse
processo cristalizou­se através da criação do SPHAN ­ Serviço de Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, depois
convertido em IPHAN ­ Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em relação às políticas voltadas para o Turismo,
por esta ser uma atividade relativamente recente no país, não houve tempo hábil para que uma política consistente no setor se
consolidasse. Desde a criação da Embratur, em 1966, percebe­se uma atenção maior por parte do governo, mas nada de
muito significativo ocorreu em relação à estruturação e sistematização de uma política voltada ao Turismo. A recente criação do
Ministério  do  Turismo  veio  a  atender  uma  antiga  exigência  do  setor,  antes  relegada  a  um  segundo  plano  e  sempre
subordinada  a  outros ministérios.  As  atuais  políticas  públicas  voltadas  para  o  Turismo  procuram  voltar­se  também para  os
desafios nos campos social e cultural, além do econômico, baseando­se num modelo de gestão descentraliza e procurando
levar em conta as especificidades  locais e planejamento  territorial. Apesar da abertura, a política em relação à proteção do
patrimônio  no  Brasil  se  encontra  fortemente  ligada  ao  desenvolvimento  do mercado  turístico,  dando  ênfase,  muitas  vezes
apenas ao lado econômico. Apesar de procurar levar em conta os aspectos culturais, no fim acabou por se seguir um padrão
na  escolha  do  que  deveria  ser  preservado/  conservado,  privilegiando  os  monumentos  em  "pedra  e  cal"  em  resposta  ao
crescimento das cidades e à especulação imobiliária. Como exemplo de atuação governamental em nível estadual no que tange
à preservação de bens patrimoniais e a relação desse fato com o Turismo Cultural, são abordadas as ações do Instituto de
Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba ­ IPHAEP, surgido no início dos anos 70 do século passado.
Palavras­Chave: Brasil; Preservação Patrimonial; Políticas Públicas; IPHAN; IPHAEP; Paraíba; Turismo Cultural.
Introdução
Arte, cultura e patrimônio arquitetônico e histórico têm sido alguns dos principais alvos do Turismo em todo o
mundo. A cada ano, são movimentados milhões de dólares a partir da busca de turistas por locais históricos,
patrimônios  artísticos  e  legados  culturais.  Assim,  a  criação  de  patrimônios  nacionais  passou  a  ser  uma
construção  social  de  extrema  importância  política  e  o  seu  significado  é  atribuído  de  acordo  com  as
circunstâncias do momento. A preservação de monumentos obteve papel relevante principalmente em fins do
século passado quando, aos diversos órgãos especializados na área de preservação e conservação, uniram­se
empresas  turísticas, mídias e Estados utilizando a  justificativa de um novo meio de geração de emprego e
renda.
As políticas de preservação do patrimônio histórico no Brasil
A criação de patrimônios nacionais passou a ser uma construção social de extrema importância política e o
seu significado é atribuído de acordo com as circunstâncias do momento. De acordo com Oliveira (2002: 45),
a preservação de monumentos obteve papel relevante principalmente em fins do século passado quando, aos
diversos órgãos especializados na área de preservação e conservação, uniram­se empresas turísticas, mídias
e Estados utilizando a justificativa de um novo meio de geração de emprego e renda.
A construção do patrimônio nacional e seu modelo de preservação surgido na França foram conduzidos como
política de Estado. Foi a partir desse modelo que se estruturou a política de preservação federal no Brasil.
Antes disso, não havia qualquer noção do que seria patrimônio no país, exceto por alguns escassos exemplos.
Além  do  que,  seria  quase  impossível  se  pensar  em  patrimônio  material  se  os  artefatos,  equipamentos  e
edificações ainda estavam sendo ocupadas de fato, ou sejam, ainda não haviam caído em desuso. É aí que a
qualificação  de  monumento  chega  à  documentação  e,  com  ela,  a  criação  de  institutos  que  colecionam  e
preservam documentos para a construção da História do Brasil (Camargo, 2002: 74­75).
No  Brasil,  devido  também  à  sua  herança  escravista,  os  objetos  considerados  dignos  de  preservação
estiveram, até recentemente, relacionados à colonização, às classes proprietárias, aos brancos com acessos
às faculdades e à cultura européia, tida como modelo, confirmando a ideologia dominante do branco. Nesse
sentido é justificável a distância e a falta de identificação entre o patrimônio cultural e a maioria da população
brasileira que não consegue se reconhecer em tais monumentos:
"Temos hoje uma gama de lugares construídos a partir de concepções de memória, de história
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e de patrimônio, que encerram ou encobrem disputas e falam a respeito de um passado que
quer se fazer homogêneo, mas que não pertence a todos, que não traduzem um sentimento de
pertencimento a todos, portanto, não respaldam um projeto de cidadania." (Oliveira, 2002: 50)
Em  1808,  a  chegada  da  Corte  portuguesa  ao  Brasil  implicou  a  criação  de  "lugares  da  memória"  que
acabariam como instrumentos de constituição da nacionalidade, a exemplo da Biblioteca Nacional e o Museu
Nacional. Após a Independência, em 1838, são criados o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e o
Arquivo Nacional, ambos responsáveis pela criação da história e manutenção da memória histórica nacional.
O IHGB ficaria responsável por construir a história do país baseada no poder centralizador da monarquia e na
aristocracia  rural  através da definição de  comemorações,  emblemas e  lugares  como  forma de enaltecer a
nação. Já o Arquivo Nacional guardaria toda a documentação de procedência do poder central, resguardando
assim sua  legitimação e perpetuação. Além destes, podemos citar como exemplos a Academia Nacional de
Belas Artes, que teria a função de exaltar a nação, seus personagens históricos e heróis nacionais, através de
suas pinturas e esculturas, assim como o Colégio Pedro II, que ficaria responsável para passar aos alunos as
idéias contidas no processo histórico construído pelo IHGB (Oliveira, 2002:53­54).
Durante  a  gestão  de  Gustavo  Capanema  à  frente  do  Ministério  da  Educação  e  Saúde  (1934­45),  havia  a
preocupação de preservar o que era originariamente brasileiro. Essa preocupação também se expressava nos
projetos de arquitetos, como Lúcio Costa, preocupados em compor uma arquitetura "autenticamente nacional"
(Rodrigues,  2002:  20)  As  produções  da  época  modificavam,  definiam  e  até  criavam  novos  valores  para
considerar  o  que  era  patrimônio. Os  prédios  criados  durante  o ministério  de Capanema, mesmo  antes  de
serem  levantados,  já eram projetados  com o  intuito de  se  constituir um monumento: uma  edificação  feita
para lembrar. Seguindo a linha modernista, eram diferentes de tudo o que havia no país, o que demonstra,
mais uma vez, que o patrimônio é fruto de questões políticas e ideológicas de quem está no poder. 
A  construção  do  prédio  do  MES  (Ministério  da  Educação  e  Saúde),  por  exemplo,  demandou  um  concurso
público para apresentação de um projeto para o mesmo. Porém o projeto vitorioso de Arquimedes Memória
não foi executado, já que Capanema havia se "horrorizado com o estilo'neomarajoara'" proposto, decidindo,
então,  não  executá­lo.  Capanema  havia  ficado  impressionado  com  os  projetos  descartados  de  jovens
arquitetos como Lúcio Costa, Reidy e Carlos Leão e com o estilo moderno dos mesmos. E para a construção
do prédio, foi composta uma comissão que, além destes,  incluía ainda Ernani Vasconcelos, Jorge Moreira e
Oscar Niemeyer. Capanema se envolveu pessoalmente na construção da obra, "escolhendo pessoalmente os
artistas e as obras de arte que iriam decorá­lo" (Londres, 2001: 90):
"Esse  envolvimento  não  decorreu  apenas  de  um  interesse  estratégico,  tendo  em  vista  a
importância política e  simbólica da obra. Foi  também como homem de cultura e mesmo, em
certo sentido, como criador que Capanema acompanhou e discutiu com arquitetos e artistas os
detalhes  de  seus  projetos,  opinando,  intervindo,  selecionando  e  recusando."  (Londres,  2001:
90)
Nesse mesmo período houve projetos de lei de criação de órgãos de proteção ao patrimônio apresentados no
legislativo federal e pela criação de Inspetorias Estaduais de Monumentos Nacionais (na Bahia, em 1927 e em
Pernambuco, em 1928). Porém, a atuação das mesmas ficou limitada ao inventário de bens locais (Rodrigues,
2002: 20).
A prática da preservação do patrimônio no Brasil só se estabeleceu a partir da década de 30, resultado de
muitos  e  complexos  fatores  a  partir  dos  quais  se  estruturaram  as  políticas  voltadas  para  a  proteção  dos
mesmos.  Os  esforços  realizados  para  desenvolver  a  idéia  de  proteção  ao  patrimônio  se  efetivaram  no
governo de Getúlio Vargas, através do Decreto n. 2.928, de 12 de julho de 1933, que consagrava Ouro Preto
como "monumento nacional" (Rodrigues, 2002: 20). E o SPHAN ­ Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional  já  seria  criado,  em  1937,  sob  "as  condições  políticas  e  simbólicas  para  a  hegemonia  dos
modernistas"  (Londres,  2001:  94).  Essas  medidas  articulam­se  a  outras  da  Era  Vargas  para  tornar  o
patrimônio  um  atrativo  turístico  de  forma  a  ampliar  a  oferta  turística,  mesmo  que  essa  atividade  não
representasse uma possibilidade para todas os segmentos da sociedade, como ainda hoje o é.
Em 30 de novembro de 1937, Vargas assina o Decreto­Lei n. 25, que teve por base um anteprojeto de Mário
de Andrade (Simão, 2001: 29). Tal decreto, que ficou conhecido como Lei do Tombamento, cria o Serviço de
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), primeiro órgão federal dedicado à preservação (Oliveira,
2002: 54).
O  tombamento 3  é  o  principal  instrumento  jurídico,  até  hoje  aplicado,  para  impedir  a  destruição  de  bens
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culturais.  Porém,  o  tombamento  não  implica  a  perda  da  posse  do  bem.  A  responsabilidade  de  sua
conservação continua sendo do proprietário, que fica proibido de demoli­lo, descaracterizá­lo ou retirá­lo (no
caso dos objetos de arte) dos limites do território nacional sem prévia aprovação do órgão competente.
De acordo com o SPHAN, a definição de patrimônio histórico e artístico nacional passou a ser:
"[...]  o  conjunto  dos  bens  móveis  e  imóveis  existentes  no  país  e  cuja  conservação  seja  de
interesse público, quer por sua vinculação a  fatos memoráveis da história do Brasil, quer por
seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico."  (Cavalcanti apud
Oliveira, 2000: 56)
Além da preservação e restauro, seriam atividades do SPHAN a reabilitação de bens, ampliação e codificação
dos  conhecimentos  relativos  à  temática  arquitetônica  e  artística.  Mas  é  apenas  nos  anos  80  que  o  órgão
incorpora  elementos  de  origem  popular,  patrimônio  imaterial  (festas,  danças,  gastronomia  etc.).  Apesar
dessa abertura, ainda hoje, a questão do patrimônio continua a se basear principalmente nos monumentos de
"pedra e cal".
Na gestão de Rodrigo Melo Franco de Andrade, que  ficou responsável pela direção executiva do órgão até
1967, era preciso organizar a atuação do SPHAN bem como determinar o que deveria constituir o patrimônio
histórico. Sendo assim, além do trabalho que as equipes do SPHAN tiveram, as mesmas também receberam
bastante  influência  no  que  era  determinado  como  patrimônio.  Assim,  "a  configuração  que  assumiu  o
patrimônio histórico e artístico nacional reflete o projeto modernista de instituir como genuína arte nacional o
barroco mineiro e a arte moderna" (Sant'Anna apud Simão, 2001: 27).
Como  os  componentes  das  equipes  provinham  do  Movimento  Modernista  de  22,  o  projeto  do  Ministério
também era modernista. Assim, o estilo eclético predominante na República Velha não constou nos catálogos
do SPHAN. Os bens designados como patrimônio teriam que expressar uma monumentalidade, privilegiando
as construções religiosas, militares, palácios e residências senhoriais. Tomemos como exemplo a construção
da cidade de Brasília e do prédio do Ministério da Educação e Saúde, ambos nascidos com a  finalidade de
constituírem monumentos (Oliveira, 2002: 60).
Também ficou de fora todo um patrimônio cultural não­monumental, conseqüência da não adoção das idéias,
propostas e experiências de Mário de Andrade que mostravam a concepção de patrimônio mais ampliada e
distante da noção de monumento. Apesar de seu bom relacionamento com Rodrigo Melo Franco de Andrade,
Mário  de  Andrade  "não  conseguiu  um  lugar  na  estrutura  do  ministério  onde  pudesse  trabalhar  de  forma
sistemática,  contínua  e  integrada  à  estrutura  central  do  órgão"  (Londres,  2001:98).  Da  mesma  forma  as
propostas de Mário de Andrade de pluralidade da cultura brasileira,  iam de encontro ao  ideário de unidade
nacional do governo, já que até na cultura era preciso "construir uma imagem coesa e homogênea da nação"
(Londres, 2001: 98­99). Em 1967, assumiu o órgão Renato Soeiro, que trouxe algumas mudanças em relação
à política de tombamentos que passou a ser dirigida aos conjuntos e não apenas à construções individuais.
Renato ficaria na diretoria até 1979, sendo substituído por Aloísio Magalhães (Oliveira, 2002: 61).
A partir de 1968, em São Paulo , a atividade do Órgão Nacional de Proteção ao Patrimônio passou a contar
com o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), criado
pela  Lei  n.  10.247,  de  22  de  outubro  de  1968,  e  subordinado  à  Secretaria  de  Cultura,  Esporte  e  Turismo
(Rodrigues,  2002:  21).  O  casamento  entre  patrimônio  e  turismo  nesse  momento  parecia  perfeito  e  se
apresentava como solução para diversas situações, entre elas a "salvação" do patrimônio em razão do seu
aproveitamento econômico, seguindo o modelo de outros países. Essa junção de atividades, ao mesmo tempo
em que  consiste na oferta de eventos e monumentos, propicia  a  sua preservação, no  sentido de que  isso
corresponde à sustentação da própria atividade. Isso remete a um antagonismo: ao mesmo tempo em que o
turismo utiliza o patrimônio como uma mercadoria (e nesse caso não se descarta a massificação dos lugares,
o que constitui a perda de sua identidade local), é também o meio para se preservar a memória coletiva, uma
vez que propicia à  localidade o  resgate por suas origens,  sua história. Ou seja, a atividade  turística acaba
tendo  dois  lados.  Pode  sim,  promover  a  preservação  do  patrimônio,  mas  cada  vez  mais  os  projetos  de
preservação  e  conservação  tendem  a  seguir  um modelo  que  acaba  ficando  saturado.  Em  várias  cidades,
temos a impressão de que seus centros históricos são cópias uns dos outros.
No início de década de 70 o Governo Federal, reconhecendo a incapacidade de proteger eficientemente todo
o patrimônio nacional, apela aos Estados e Municípios para que exerçam uma ação complementar do (agora)
Instituto  do  Patrimônio  Histórico  e  Artístico  Nacional  (IPHAN),  classificando  (tombando)  e  protegendo
monumentosde interesse regional ou local. Pressiona porém a ambos, para criarem legislações à imagem e
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semelhança da federal. É a partir daí que nasce o IPHAEP, órgão responsável pela preservação do patrimônio
histórico no Estado da Paraíba.
O  IPHAN,  ao  longo  dos  anos,  desde  sua  fundação  teve  caráter  unilateral,  já  que  seus  técnicos  agiam
sozinhos, sendo as parcerias se darem em casos isolados, vindo apenas a ter uma forma efetiva no final da
década de 60 e  início de 70  (Oliveira, 2002: 67). Além disso,  "o  final  da década de 60  e  a  década de 70
caracterizam­se  (...)  pela  tentativa de elaboração de planos urbanísticos e pelo  crescimento desordenados
dos núcleos urbanos" (Simão, 2001: 35). Em 1973, o Programa de Cidades Históricas (PCH) pretendia criar
linhas de crédito para a restauração de imóveis destinados ao aproveitamento turístico e à formação de mão­
de­obra especializada em restauro no Nordeste, sendo expandido para Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito
Santo em 1975. Atuando de forma independente até o final da década de 70, o PCH foi incorporado ao IPHAN
quando da criação da Fundação Nacional Pró­Memória, em 1980 (Simão, 2001: 35­36).
Com  a  promulgação  da  Constituição  de  1988  abriram­se  outras  possibilidades  para  a  proteção  dos  bens
culturais no país, com a previsão de novos instrumentos legais, entre os quais a competência compartida da
União, Estados e Municípios em matéria de patrimônio, a planificação urbana, o inventário e o registro áudio
visual  de manifestações  culturais  performáticas.  Infelizmente,  essas  possibilidades  em  sua  grande maioria
não  foram  ainda  utilizadas,  em  grande  parte  pelo  temor  de  compartir  com  outras  instâncias  de  poder
competências exclusivas.
O patrimônio histórico e arquitetônico no Brasil ainda não  foi assumido pelo poder público como objeto de
políticas que favoreçam a solução de graves problemas sociais, e parece ainda não atender satisfatoriamente
o desenvolvimento da atividade turística, salvo algumas exceções já consagradas, como as cidades históricas
mineiras  e  o Centro Histórico  de  Salvador,  o  que não quer  dizer  que  essas  cidades  não  apresentem  suas
dificuldades no que se refere à sustentabilidade das atividades desenvolvidas nos ambientes restaurados. É
bem  verdade  que  nos  últimos  anos  outros  exemplos  de  bens  culturais  brasileiros  têm  sido  considerados
"patrimônio da humanidade" (categoria de reconhecimento  internacional criada pela Unesco em 1972) que,
pela  própria  divulgação  que  propicia,  favorece  a  atividade  turística.  Pode­se  citar  o  caso  de  São  Luiz  no
Maranhão,  que  recentemente  teve  um  aparecimento  contínuo  na  mídia,  resultado  de  uma  agressiva
campanha de marketing.
Com  a  posse  de  Fernando  Collor  de Mello,  na  década  de  90,  houve  uma  reestruturação  do  IPHAN/  Pró­
Memória. Este passou a se chamar Instituto Brasileiro de Patrimônio Cultural ­ IBPC. Além disso, foi editado o
Decreto n. 3.551, de 04 de agosto de 2000, que instituiu o registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial,
constituintes do Patrimônio Cultural Brasileiro, como também a criação do Programa Nacional do Patrimônio
Imaterial. Até a década de 60 poucas eram as leis que tratavam da preservação dos bens culturais, só vindo
a ocorrer um aumento a partir da década de 80.
Procurando dar mais espaço para a discussão do tema, ocorreu em 1970 o I Encontro de Governadores para
a Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural do Brasil, que ficou conhecido como o
Compromisso de Brasília. Visava à criação de organismos  responsáveis pela preservação do patrimônio de
cada  Estado  e  município,  em  conjunto  com  a  DPHAN  ­  Departamento  de  Patrimônio  Histórico  e  Artístico
Nacional,  ficando  os  mesmos  responsáveis  pela  elaboração  de  uma  legislação  estadual  para  proteção/
preservação dos patrimônios. Dando continuidade às primeiras discussões, o II Encontro ocorreu em 1971,
dessa vez em Salvador.
Em relação às políticas voltadas para o  turismo, por esta ser uma atividade relativamente recente no país,
não  houve  tempo  hábil  para  que  uma  política  consistente  no  setor  se  consolidasse.  Desde  a  criação  da
Embratur, em 1966, percebe­se uma atenção maior por parte do governo, mas nada de muito significativo
ocorreu em relação à estruturação e sistematização de uma política voltada ao turismo. A recente criação do
Ministério  do  Turismo  veio  a  atender  uma  antiga  exigência  do  setor,  antes  relegada  a  segundo  plano  e
sempre subordinada a outros ministérios.
Sendo assim, de acordo com o Plano Nacional de Turismo ­ Diretrizes, Metas e Programas ­ 2003­2007 ­ do
atual  Governo  Lula,  o  turismo  é  tido  como  o  segmento  da  economia  que  pode  atender  de  forma  mais
adequada os desafios no campo do desenvolvimento econômico e social. O documento cita ainda o turismo
como atividade como forma de proteção ao patrimônio natural e cultural, como instrumento e organização e
valorização da comunidade,  como  instrumento de  fortalecimento da  identidade  local, entre outros. O plano
segue  o  modelo  de  gestão  descentralizada  e  participativa,  levando  em  conta  as  especificidades  locais  e
situando  os  diversos  atores  sociais  (governo,  iniciativa  privada,  terceiro  setor,  comunidade  local)  como
sujeitos do planejamento turístico.
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Um  dos  programas  que  dá  ênfase  ao  planejamento  e  desenvolvimento  turístico  em  âmbito  regional  é  o
Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo Regional/ PRODETUR, que segue o modelo econômico
neoliberal  proposto  por  organismos  internacionais  como  o  FMI,  o  BID  e  o  BIRD.  Na  região  Nordeste,  o
programa procura  fortalecer o  turismo na  região de modo a consolidá­lo  como  importante pólo nacional e
internacional. Porém existem muitas contradições no programa e nem sempre ele é seguido à risca. Percebe­
se, muitas vezes, uma  falta de coerência e articulação  intersetorial, além do descaso com o planejamento
territorial e ambiental. Isso também se estende à preservação do patrimônio no país.
Voltando  à  questão  da  preservação  do  patrimônio,  assim  ficou  definida  a  política  nacional  em  relação  à
proteção  do mesmo.  Fortemente  ligada  ao  desenvolvimento  do mercado  turístico,  seguindo  o  exemplo  de
outras cidades pioneiras nesse aspecto. E apesar de procurar  levar em conta os aspectos culturais, no  fim
acabou por seguir um padrão na escolha do que deveria ser preservado/conservado, ou seja, motivado pelo
viés turístico que iria privilegiar os monumentos em "pedra e cal" em resposta ao crescimento das cidades e à
especulação imobiliária.
A atuação do IPHAEP na Paraíba
Importante  salientar  que  o  tombamento  não  significa,  necessariamente,  que  o  bem
estará a salvo da destruição. Há vários exemplos em que muitas vezes o patrimônio é
tombado e  logo depois esquecido, ou mesmo,  recebe  intervenções por parte de  leigos
que  buscam  soluções  para  os  problemas  do  local.  Muitas  vezes,  essas  intervenções
acabam por piorar a situação. Um dos casos mais ilustres na Paraíba é das Itacoatiaras
do  Ingá, onde ao  longo dos anos percebe­se a ação de vândalos no  local e que, para
tentar resolver esse problema, levantou­se um muro de placas de concreto para isolar a
área,  o  que  acabou  por  descaracterizar  completamente  o  local.  Assim,  fica  visível  que
apenas a ação de tombar, apesar de necessária, não basta para garantir a integridade do
patrimônio.
Desde  o  ano  de  1938,  o  IPHAN  vinha  realizando  tombamentos  na  Paraíba.  Ainda  não
havia um órgão responsável pela preservação e conservação do patrimônio no Estado. A
seguir é possível visualizar esseprocesso, numa tabela contendo as obras tombadas pelo
órgão, os municípios onde estão situadas e os respectivos anos de intervenção:
TABELA 1
BENS PATRIMONIAIS TOMBADOS PELO IPHAN NA PARAÍBA ­ ENTRE 1938 E
1971
MUNICÍPIO DESCRIÇÃO DATA DETOMBAMENTO
Cabedelo
Fortaleza de Santa Catarina 24/05/1938
Ruínas de Forte Velho 09/08/1938
Ingá Itacoatiaras do Ingá 29/05/1944
João Pessoa
Capela do Engenho da Graça 30/04/1938
Casa na Praça do Erário, atual Paço Municipal 26/04/1971
Casa da Pólvora 24/05/1938
Convento e Igreja de Santo Antônio, Casa de Oração e
Claustro da Ordem 3ª de São Francisco, o adro, o
cruzeiro fronteiriço e a área da antiga cerca
conventual
16/10/1952
Fábrica de Vinho Tito Silva 02/08/1954
Fonte Pública do Tambiá 26/09/1941
Igreja da Misericórdia 25/04/1938
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Igreja da Ordem Terceira de São Francisco 05/05/1938
Ruínas da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes
(N. Sra. de Nazaré do Almagre) 12/08/1938
Igreja da Ordem 3ª do Carmo 22/07/1938
Igreja de Santa Teresa de Jesus 22/07/1938
Igreja do Mosteiro de São Bento 10/01/1957
Sobrado na Rua Peregrino de Carvalho, nº 117 21/06/1938
Lucena Capela de Nossa Senhora da Guia 16/05/1949
Pilar Edifício da antiga Cadeia Pública 31/07/1941
Santa Rita
Igreja de Nossa Senhora das Batalhas 15/07/1938
Igreja de Nossa Senhora do Socorro 15/07/1938
Capela do antigo Engenho Una, atual Engenho Nossa
Senhora do Patrocínio 11/02/1955
Sousa Casa da Fazenda Acauã, capela e sobrado anexo 27/04/1967
Fontes: Carrazzoni (1987) e Teles (1975) ( apud Oliveira, 2002: 73).
Apesar dessas ações do IPHAN na Paraíba, apenas em 31 de março de 1971 é que teremos um órgão voltado
exclusivamente  para  a  questão  do  patrimônio  paraibano.  O  IPHAEP  (Instituto  do  Patrimônio  Histórico  e
Artístico  da  Paraíba)  foi  criado  pelo  Decreto­Lei  n.  5.255,  fazendo  parte  da  estrutura  organizacional  da
Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Paraíba. Esse ato do poder público estadual teve a finalidade
de preservar os bens culturais da Paraíba que não se encontravam sob proteção e guarda do IPHAN. Além
disso, compreenderia bens de caráter histórico, artístico, folclórico, florístico e arqueológico.
De  acordo  com Oliveira  (2002:  74),  "os  recursos  necessários  para  o  funcionamento  do  IPHAEP  viriam  do
Fundo Estadual de Cultura, ficando ao encargo do Conselho Estadual de Cultura que teria um prazo de trinta
dias para a elaboração do regulamento de funcionamento do Instituto"  . O órgão teve vários problemas no
início  de  seu  funcionamento,  "principalmente  porque  a  Secretaria  de  Educação  e  Cultura  não  tinha  verbas
destinadas  ao  funcionamento  do  IPHAEP,  não  existia  pessoal  qualificado  e  conhecedor  do  ofício  e  muito
menos  uma  sede  para  abrigar  o  Instituto"  (Oliveira,  2002:  77).  Além  disso,  mesmo  que  o  IPHAEP  se
espelhasse  nas  ações  do  órgão  nacional,  não  havia  ainda  uma  legislação  que  regulamentasse  seu
funcionamento e ações.
A indicação de pessoas que iriam compor o Conselho Consultivo era feito pelo professor Linduarte Noronha, o
que foi feito considerando seus laços de amizade. Além das discussões sobre as dificuldades em se trabalhar
com tão poucos recursos, falta de estrutura, pessoal, entre outros, o Conselho discutia sobre as possibilidades
de  tombamento,  a  exemplos  de  Baía  da  Traição,  Ilha  do  Tibiri,  as  Igrejas  da  Paraíba,  Parques  de  Flora
Medicinal nas principais cidades do Estado e a Av. General Osório (Oliveira, 2002: 82). Fica evidente então,
que não eram  só privilegiadas  as  construções de  "pedra  e  cal"  como eram no  início  do  funcionamento da
política  voltada  para  a  preservação  do  patrimônio  no  país.  Apesar  disso,  a  variedade  de  propostas
ocasionavam  discussões  a  respeito  de  a  quem  caberia  a  palavra  final  sobre  o  tombamento,  que
posteriormente coube ao Conselho Cultural.
Foram  iniciativas do IPHAEP: um convênio com a UFPB para a elaboração e execução do  levantamento do
Acervo Arquitetônico dos Monumentos Históricos do Estado da Paraíba; a proposta para a criação do Museu
da Imagem que reproduziria quadros de pintores paraibanos (o que não saiu do papel); o mapeamento da
Bacia do Rio do Peixe, em Sousa, para o tombamento da área onde se encontram os vestígios de pegadas de
dinossauros; convênio com a Prefeitura Municipal de João Pessoa, a qual obrigava­se a consultar o órgão em
caso de qualquer  reforma, demolição ou alteração de edificações que constassem na Zona de Preservação
Rigorosa ou apresentassem características arquitetônicas ou históricas dignas de preservação (Oliveira, 2002:
82­83).
Percebe­se que houve uma concentração de intervenções na cidade de João Pessoa, que contava já com 800
imóveis  tombados,  como  também uma preocupação  centrada principalmente na  arquitetura,  que passou  a
fazer parte dos pareceres e foi determinante para futuros tombamentos. Os estilos que mais se destacaram
nessas  intervenções  foram  o  Belle  Époque,  o  Neoclássico,  o  Art  Nouveau,  o  Colonial,  o  Cubismo  e  o
Regionalismo (Oliveira, 2002: 84).
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Mesmo centrado no viés arquitetônico, o órgão dedicou atenção à proteção ambiental, com a aprovação, em
16  de  dezembro  de  1976,  do  Projeto  de  Lei  Complementar  n.  12,  que  regulamentava  e  fiscalizadas  as
construções na área do Altiplano Cabo Branco e na Praia do Seixas 4. O IPHAEP se deparou com algumas
dificuldades, entre elas, a especulação imobiliária. Além do mais, o local era (e ainda é) alvo de projetos para
a exploração turística. É no referido local que será implantado o Centro de Convenções de João Pessoa. Há
ainda  a  proposta  de  construção  de  19  hotéis  com  capacidade  para  3.150  leitos  para  o  local, mesmo  este
sendo uma APA (Área de Proteção Ambiental) de acordo com plano diretor da cidade (Cabral, 2005: 11)
A orla marítima também passou a contar com a jurisdição do órgão a partir do Decreto­Lei n. 9483, de 10 de
maio de 1982. O mesmo regularizava o uso do solo em relação a construções, loteamentos e urbanização nas
áreas compreendidas entre 300 e 500 metros da orla. Como o Parque Estadual do Altiplano Cabo Branco não
saiu do papel, ocorreu o destombamento da área que era destinada ao mesmo, como também as atribuições
do IPHAEP sobre a faixa da orla marítima. Isso de acordo com o Decreto n. 11.204, de 22 de janeiro de 1986,
que revogava os Decretos de n. 9.482 e 9.483, de 13 de maio de 1982. O documento assinado pelo então
Governador Wilson  Leite  Braga,  "(...)  colocava  o  direito  de  propriedade  acima  da  função  social  do  bem  e
informava  que  a  intervenção  governamental  na  propriedade  privada  não  pode  exceder  aos  limites
constitucionais (...)" (Oliveira, 2002: 89).
Posteriormente  veio  o  Decreto­Lei  n.  9.484  (de  13  de  maio  de  1982)  que  delimitava  a  área  do  Centro
Histórico Inicial de João Pessoa, fruto do convênio do Governo da Paraíba e o Governo Espanhol, devido ao
fato de João Pessoa ter sido fundada na época da União Ibérica. O Decreto­Lei n. 12.239, de 24 de novembro
de 1987, criou a Comissão de Desenvolvimento do Centro Histórico de João Pessoa, que antes  integrava o
Gabinete de Planejamento e Ação Governamental, passando ela a fazer parte da estrutura organizacional do
IPHAEP no ano de 1991, de acordo com a Lei n. 5.357, datada de 16 de janeiro.
No governo de Ronaldo Cunha Lima, em março de 1991, assumiu a diretoria do IPHAEP Edivanira Toscano de
Oliveira Moraes, após 17 anos em que o professor Linduarte Noronha esteve à  frente do órgão. Foi nessa
gestão que ocorreu o episódio do Shopping Casa Grande, na Praça da Independência, em João Pessoa , que
por  se  encontrar  em  área  de  preservação  demarcada,  deveria  ter  autorização  do  órgãopara  qualquer
intervenção em se  tratando de obras. Porém, as obras  foram  iniciadas mesmo sem autorização e  fora do
expediente normal, sendo embargada mais tarde por conta de uma denúncia de um funcionário do IPHAEP.
Edivanira Toscano foi exonerada em 10 de maio de 1997, ficando em seu lugar Eulina Almeida Lira Nóbrega,
que exerceu o cargo até 30 de maio de 1998. Em sua gestão, temos o retorno dos tombamentos realizados
pelo  IPHAEP após 17 anos,  representado pelo prédio da Reitoria da Universidade Estadual da Paraíba, em
Campina Grande. A partir daí, o IPHAEP se utilizaria de uma documentação formal contendo os registros dos
motivos pelos quais os bens patrimoniais deveriam ser tombados. Posteriormente, na gestão de Rui Cezar de
Vasconcelos Leitão, de 30 de maio de 1998 até 25 de janeiro de 1999, temos o tombamento de importantes
monumentos  como,  o  Theatro  Santa  Roza,  a  Basílica  de  Nossa  Senhora  das  Neves,  a  Igreja  de  Nossa
Senhora  do  Rosário,  e  a  Igreja  de  São  Frei  Pedro  Gonçalves.  Rui  Cezar  foi  substituído  pelo  professor
Francisco de Sales Gaudêncio, docente do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba. A
gestão  de  Gaudêncio  foi  caracterizada  pelo  crescimento  do  número  de  tombamentos,  totalizando  vinte
imóveis. Apesar disso, foi preciso esperar vinte e seis anos, desde a fundação do IPHAEP, para se realizar o
tombamento  de  bens  não  imóveis:  uma  pintura  de  óleo  sobre  madeira  representando  a  Assembléia  de
Pacificação , de autoria do paraibano Flávio Tavares, e um painel em aço escovado representando a Pomba
da Paz  ,  de  autoria  do paraibano Raul  Córdula.  Ambas  se  encontram na Assembléia  Legislativa  do Estado
(Oliveira, 2002: 95).
Com a gestão do professor Itapuan Bôtto Targino, a partir de 07 de abril de 2001, o IPHAEP passa a ter uma
atuação mais  dinâmica,  com  a  interiorização  das  práticas  preservacionistas,  onde  se  verifica  um  aumento
considerável de intervenções fora de João Pessoa, a delimitação de centros históricos em várias cidades e a
realização  de  tombamentos  temáticos,  a  exemplo  das  estações  ferroviárias.  Recentemente,  em  notícia
veiculada  na  internet,  várias  instituições  estão  engajadas  em  debater  formas  de  desenvolvimento  para  o
Centro  Histórico  de  João  Pessoa,  sugerindo  até  que  o  mesmo  chegue  à  condição  de  Patrimônio  da
Humanidade, como ocorreu recentemente com São Luís, no Maranhão. Já a cidade de Areia foi reconhecida
em agosto de 2005 como Patrimônio Nacional pelo Ministério da Cultura. O centro histórico da cidade possui
desenho que remete à primeira fase do período republicano. Além do conjunto urbano com casarões do final
do  século  XIX  e  início  do  XX,  a  cidade  se  faz  notável  pela  sua  história  e  por  ser  berço  de  notáveis
personalidades de reconhecimento nacional e internacional.
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Desde 1987, um convênio firmado entre os governos brasileiro e espanhol resultou no Projeto de Restauração
e Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa. Na primeira etapa do processo de restauração, pode­se
dizer  que  o  carro­chefe  foi  a  Praça  Antenor  Navarro,  porém  em  todo  o  processo,  não  houve  um
comprometimento na consolidação entre o setor público e a iniciativa privada, como também não foi abordada
a estrutura urbana num sentido macro. Essas devem ter sido umas das razões para o fato do esquecimento
em que se encontra hoje a praça Antenor Navarro, que por não ter havido um planejamento que abordasse
principalmente  a  comunidade  do  entorno,  levou  à  não  sustentabilidade  da  atividade  turística  na  área.  A
próxima etapa do processo de restauração e revitalização do centro histórico está orientada para o Porto do
Capim, no qual constam no projeto a revitalização do leito do rio Sanhauá, construção de piers que serviriam
de atracadouros, construção de uma praça de eventos e lazer, um centro de apoio aos turistas, entre outros
(Guerra, 2005: 6­7).
Verifica­se que os bens tombados possuem características de traços suntuosos, a exemplo das edificações,
que procuram lembrar feitos da "História Oficial". Assim, são bens que representam uma elite, que procura
resguardar fatos e personagens que foram importantes na construção da História do Estado:
"Quando não na representação dos chamados homens de bem, baseiam­se nos atos realizados
ou  nas  homenagens  propostas  a  determinados  empreendedores  e  homens  de  cultura..."
(Oliveira, 2002: 102)
Após  o  Compromisso  de  Salvador,  houve  uma maior  divulgação  em  relação  à  preservação  do  patrimônio
através de  restaurações,  criação de museus além da  inauguração do Hotel Tambaú e  reforma da Estação
Termal  Brejo  das  Freiras,  aliando  a  questão  da  preservação  ao  turismo,  como  parte  integrante  das
potencialidades turísticas do Estado.
TABELA 2
BENS IMÓVEIS TOMBADOS PELO IPHAEP EM JOÃO PESSOA
DESCRIÇÃO DATA DE TOMBAMENTO
Praça da Independência, Coreto e Obelisco 26/08/1980
Parque Arruda Câmara 26/09/1941 (IPHAN)26/08/1980 (IPHAEP)
Coreto da Praça Venâncio Neiva 26/08/1980
Parque Solon de Lucena 26/08/1980
Balaustrada e casarões da Av. João da Mata 26/08/1980
Igreja de S. Frei Pedro Gonçalves 02/12/1998
Igreja de Nossa Senhora do Carmo 02/12/1998
Palácio do Bispo 26/08/1980
Igreja de Nossa Senhora do Rosário 02/12/1998
Biblioteca Pública do Estado 26/08/1980
Academia de Comércio Epitácio Pessoa 02/12/1998
Teatro Santa Roza 02/12/1998
Liceu Paraibano, Instituto de Educação da PB e Escola de Aplicação 26/08/1980
Prédio da Faculdade de Direito 26/08/1980
Associação Paraibana de Letras 26/08/1980
Prédio do Núcleo de Arte Contemporânea ­ NAC/ UFPB 26/08/1980
Fazenda Ribamar (Boi­Só) 26/08/1980
Casarões n° 265 e 366 da Rua da Areia 26/08/1980
Sobrado do Conselheiro Henriques 26/08/1980
Palacete da Praça da Independência 26/08/1989
Casarão dos Azulejos 26/08/1980
Prédio da Associação Comercial da Paraíba 26/08/1980
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Palácio da Redenção 26/08/1980
Sede do IPHAEP 26/08/1980
Palácio do Tribunal da Justiça 26/08/1980
Hotel Globo 26/08/1980
Antigo Prédio dos Correios e Telégrafos 26/08/1980
Comando Geral da Polícia Militar 26/08/1980
Fonte: Oliveira (2002: 104­132). 
Considerações Finais: Políticas e Práticas em Áreas Revitalizadas
Embora o Decreto­Lei Federal n. 25/ 1937 reflita as concepções e preocupações da época, este continua a
ser, ainda hoje, o fundamento da proteção do patrimônio cultural brasileiro. O mesmo protege basicamente a
integridade  e  a  visibilidade  do  monumento,  mas  não  o  seu  uso  social  e  econômico.  Além  do  mais,  nem
sempre a lei é cumprida. Não dispomos, portanto, de nenhuma legislação específica sobre Centros Históricos
com  os  instrumentos  legais  e  administrativos  que  possibilitem  uma  política  mais  eficiente  de  reabilitação
urbana dos mesmos. Há uma evidente desarticulação nas ações do instituto responsável pela preservação do
patrimônio no país. Além do mais, o Poder Público Municipal, possui poucas condições de fiscalizar e regular
tais ações por conta da descontinuidade das ações provenientes das mudanças de governo.
Pode­se citar diversos problemas que ocorrem em áreas históricas urbanas, ocasionados como conseqüência
de um mau planejamento e uma má gestão. Uma das maiores dificuldades é a falta de acessibilidade a essas
áreas em muitas cidades. Para que seja feito o resgate de algumas das funções tradicionais do  local a ser
revitalizado, bem como a introdução de novas, é preciso recuperar a acessibilidade ao local, não contemplada
no contexto das novas redes de transporte urbano. Esse é um fator importantíssimo para a consolidação da
função administrativa municipal, para os serviços, incluindo o turismo, e para a fixação de uma população de
poderaquisitivo médio.
Além disso, as atuais políticas de preservação deveriam voltar­se  também para a melhoria de  fatores que
promovam a qualidade de vida da população e não apenas ao patrimônio edificado e cultural, como se fosse
ignorada  a  dinamicidade  desses  lugares.  As  áreas  preservadas  ou  aquelas  candidatas  a  um  projeto  de
restauração/ revitalização fazem parte de um todo que constitui uma rede urbana. Não podem ser tratadas
como uma área estagnada, protegida por uma redoma de vidro.
Tanto  o Governo  Federal  como o Governo  de  alguns  Estados  dispõe  de  programas  de  incentivos  fiscais  à
cultura,  que  são  muito  utilizados  para  a  produção  de  espetáculos,  mas  pouco  usados  na  conservação  e
valorização do patrimônio. Os espetáculos, ainda que de baixo custo, projetam rapidamente os patrocinadores
na mídia, o que não acontece com as obras de restauração, mais custosas e demoradas.
É  importante que haja uma política de preservação do patrimônio histórico que transcenda simplesmente a
criação de centros culturais. Atualmente são muitos os edifícios tombados (ou em processos de tombamento)
destinados apenas para esse fim. É preciso buscar outras atividades para esses imóveis. Como também não
adianta apenas tombar e "congelar" o prédio. Atualmente essa postura é parcial, pois já existe uma série de
edifícios tombados, o que é preciso é que eles não venham abaixo. É importante promover a atualização e a
modernização dos prédios tombados, inclusive para uso residencial, ao mesmo tempo em que não se tornem
edificações­fantasma, mas sim ocupados por atividades adequadas. 
Arte, cultura e patrimônio arquitetônico e histórico têm sido alguns dos principais alvos do Turismo em todo o
mundo.  O  patrimônio  artístico  de  um  povo  é  a  expressão  viva  de  sua  identidade  social.  A  cada  ano,  são
movimentados milhões de dólares a partir da busca de turistas por locais históricos, patrimônios artísticos e
legados culturais. Como um dos objetivos principais para a recuperação dessas áreas é a atividade turística
cultural, esta muitas vezes passa de uma das metas a função exclusiva da área, exigindo o afastamento de
outras atividades e moradores. Os centros históricos  têm sido  tratados, durante as últimas décadas,  como
uma  entidade  territorial  autônoma,  administrada  pelo  Estado,  em  meio  a  uma  área  urbana  degradada  e
pobre.  O  turismo  faz  com  que  o  local  se  torne  um  atrativo,  o  que  geralmente  culmina  com  a  oferta  de
serviços relativamente onerosos para a população local. Isso acaba por afastar a comunidade local, ou a faz
exercer atividades informais em troca de alguns trocados (Chauí, 1992: 42).
Evidentemente, não se nega a  importância do Turismo no mundo contemporâneo e o papel que o mesmo
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teve nos projetos de  restauração. Mas não se pode  imaginar que apenas essa atividade, em grande parte
sazonal,  possa  ocupar  e  sustentar  as  áreas  de  centros  históricos.  Qualquer  atividade  que  não  leve  em
consideração a participação dos moradores do entorno não se baseia nas condições que a remetem a uma
atividade  sustentável.  Uma  re­introdução  de  uma  população  fixa  e  serviços  correlatos  no  centro  histórico
criaria  uma  economia  local  mais  consistente  e  menos  dependente  de  fatores  externos,  onde  atividades
produtivas  não­poluentes,  como  as  confecções  e  ateliês  de  cooperativas  artesanais,  poderiam  conviver  no
mesmo  quarteirão  com  serviços modernos,  o  chamado  terciário  superior,  e  produtores  culturais  diversos.
Precisamos  oferecer  uma diversidade  de  serviços  nessas  áreas,  que  façam  com que  as  pessoas  voltem a
freqüentar o lugar em razão dos mais variados motivos.
Artes  e  cultura  devem  vir  a  ser  um  caminho  para  o  progresso  e  a  geração  de  novos  empregos  para  a
comunidade local, além de possibilitar o desenvolvimento de áreas do entorno da cidade. As possibilidades de
ampliação do setor econômico se concretizam na medida em que o patrimônio artístico, cultural e histórico
possa atrair turistas, gerar oportunidades de novos negócios, distribuir renda e criar percepção de que este
ramo  de  atividades  pode  se  tornar  um  empreendimento  lucrativo,  podendo  inclusive, mudar  a  relação  do
Estado para com a cultura, tradicionalmente relegada a segundo plano na lista de prioridades.
É  dever  do  Governo  o  resgate  do  patrimônio  artístico  e  cultural  devendo  o  mesmo  ser  bem  planejado,
pensado a partir  de  termos éticos,  economicamente  coerentes,  e  seguindo os parâmetros de políticas que
gerem sustentabilidade, enfrentando o desafio da educação ambiental com novas técnicas metodológicas de
conhecimento  e,  principalmente,  na  conscientização  da  sociedade.  Faz  parte  de  um processo  enorme  que
evidencia os esforços de uma sociedade para a conservação e a recuperação da memória e manutenção de
sua identidade.
Embora as leis referentes à proteção do patrimônio estabelecidas na década de 30 reflitam as concepções e
preocupações da época, este continua a ser, ainda hoje, o  fundamento da proteção do patrimônio cultural
brasileiro. O mesmo protege basicamente a integridade e a visibilidade do monumento, mas não o seu uso
social e econômico. Isso significa que não basta apenas tombar o bem, é preciso criar condições para que ele
tenha novos usos, daí  a atividade  turística  ser um  importante aliado nessa questão. O  importante é que a
comunidade  local não seja excluída desse processo, pois não se pode  imaginar que apenas essa atividade,
em grande parte sazonal, possa ocupar e sustentar as áreas de centros históricos. Qualquer atividade que
não  leve  em  consideração  a  participação  dos  moradores  do  entorno  não  se  baseia  nas  condições  que  a
remetem a uma atividade sustentável. 
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Notas
1) Paper  resultante do  trabalho de pesquisa para  redação do Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Turismo da Universidade
Federal da Paraíba, sob orientação da Profª Dra. Carla Mary S. Oliveira. Comunicação apresentada no 3er Congreso Virtual de Turismo Cultural
NAyA, em out. 2005 (Buenos Aires ­ Argentina).
2) E­Mail: <anakarinajp@gmail.com>
3) Consiste na inscrição do bem em um dos quatro Livros do Tombo que são: arqueológico, etnológico e paisagístico; histórico; de belas­artes; e
das artes aplicadas (Simão, 2001: 30).
4) Inclusive foi proposto a criação do Parque Estadual do Altiplano Cabo Branco,  tendo Roberto Burle Marx sido convidado para executar a
organização paisagística do mesmo. Para maiores detalhes em relação àquela área ver Oliveira (2002).
Profª Dra. Carla Mary S. Oliveira
Departamento de História ­ Universidade Federal da Paraíba ­ Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Cidade Universitária ­ Conjunto Humanístico ­ Bloco V ­ Castelo Branco ­ João Pessoa ­ PB ­ CEP 58.051­970 ­ Brasil
Telefax: + 55 (83) 3216­7339 ­ E­Mail: cms­oliveira@uol.com.br
http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp251.asp
http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp263.asp
http://www.naya.org.ar/turismo/congreso2005/ponencias/Carla_Mary_Oliveira_Ana_Karina_Pereira_Cabral.htm
mailto:cms-oliveira@uol.com.br
mailto:anakarinajp@gmail.com

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