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INTOXICAÇÕES: INTERVENÇÃO EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA www.bwizer.com INTOXICAÇÕES: INTERVENÇÃO EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Como prevenir uma PCR em casos de intoxicação? As intoxicações raramente causam paragem cardiorrespiratória (PCR) ou morte, no entanto são um acontecimento frequente. Entre os casos mais frequentes encontramos as intoxicações por drogas recreativas, medicamentos e produtos domésticos. Com efeito, como causa destas intoxicações destacam-se as dosagens erradas de fármacos, as interações farmacológicas e outros erros farmacológicos também podem causar danos. De salientar também que a intoxicação acidental é mais frequente nas crianças. A avaliação do doente faz-se, como habitualmente, seguindo a abordagem ABCDE. Com efeito, a obstrução da via aérea e paragem respiratória na sequência de depressão do estado de consciência é uma causa frequente de morte após intoxicação intencional (por exemplo com: benzodiazepinas, álcool, opióides, tricíclicos, barbitúricos). Assim: www.bwizer.com A intubação traqueal precoce pode diminuir o risco de PCR em “Circunstâncias Especiais INEM - 183 aspiração”; A hipotensão induzida por fármacos responde bem à administração endovenosa de fluídos, mas por vezes são necessários vasopressores. Devem dosear-se os eletrólitos especialmente o potássio, a glicémia e os gases arteriais; Devem ainda ser colhidas amostras de sangue e urina para análise de tóxicos. 2 www.bwizer.com Intoxicações: alterações à reanimação Segundo o Manual de Suporte Avançado de Vida (2019), da autoria do INEM e DFEM, devemos: Ter sempre presente a segurança da equipa em situações de PCR por intoxicações, particularmente se existirem várias vítimas; Evitar a ventilação boca-a-boca na presença de químicos tais como cianeto, ácido sulfídrico, corrosivos e organofosforados; Tentar identificar o tóxico em causa. Os familiares, amigos e equipas de reanimação podem fornecer informação importante. O exame da vítima pode ajudar a revelar pistas diagnósticas, tais como odores, marcas de seringas, alterações pupilares, ou sinais de corrosão na boca; Após overdose pode ocorrer hipo ou hipertermia, que devem ser corrigidos; Estar preparado para prolongar as manobras de reanimação, particularmente em vítimas jovens, pois o tóxico pode ser metabolizado ou excretado; As técnicas alternativas que podem ser eficazes em doentes com intoxicações graves são: doses superiores de medicação às dos protocolos; terapias farmacológicas não convencionais (emulsão lipídica p.e.); CEC; Diálise; Consulta do CIAV; Consulta de base de dados online sobre toxicologia e químicos perigosos, pode ser útil. 3 www.bwizer.com Medidas terapêuticas específicas Existem poucas medidas terapêuticas específicas para as intoxicações com utilidade imediata e que melhorem o prognóstico. No entanto, as que existem são baseadas em 3 princípios: descontaminação (processo de remoção do tóxico do corpo determinado pela via de exposição), aumento da eliminação (uma vez absorvido o tóxico há que forçar a sua eliminação) e administração de antídotos específicos. Para a exposição dermatológica o tratamento passa por remover a roupa da vítima e lavagem abundante com água (exceto metais alcalinos); Não está recomendada a lavagem gástrica por rotina. Pode ser realizada em situações conhecidas de ingestão recente e deve ser realizada por profissionais experientes. Pode ter como potenciais complicações: aspiração, perfuração esofágica ou gástrica, alterações eletrolíticas, arritmias. Está contraindicada se a via aérea não está protegida ou houve ingestão de hidrocarbonetos ou corrosivos; O método preferido para diminuição da absorção GI é administração de carvão ativado e é mais eficaz na 1º hora após a ingestão. Não inibe a absorção de lítio, metais pesados e álcoois tóxicos. Os efeitos secundários mais frequentes são a obstipação e vómitos. Não há evidência que melhore o prognóstico; Suporte Avançado de Vida 184 | INEM; Evitar o uso de laxantes e de eméticos. A irrigação do intestino com polietilenoglicol pode ser útil na ingestão potencialmente tóxica de comprimidos de libertação prolongada ou de revestimento entérico especialmente nas situações em que a ingestão ultrapassa as 2h. Também pode ser útil na ingestão de ferro, lítio, potássio ou expulsão de pacotes de drogas ilícitas ingeridas. Está contraindicada em situações de oclusão intestinal, perfuração, ileos e instabilidade hemodinâmica; Descontaminação De acordo com o Manual de Suporte Avançado de Vida (2019) do INEM e DFEM: 4 www.bwizer.com 5 A administração, ao longo de várias horas, de doses múltiplas de carvão ativado pode ajudar a eliminar certos tóxicos (carbamazepina, dapsona, teofilina, fenobarbital) - a dose inicial é de 50g100g em adultos; A alcalinização da urina (pH urinário≥7,5) através da perfusão de bicarbonato de sódio pode ser útil em casos de intoxicação por salicilatos, quando não é necessário a diálise. A complicação mais comum é a hipocaliemia; A hemodiálise remove os tóxicos, assim como os seus metabolitos de baixo peso molecular, baixa ligação proteica, pequenos volumes de distribuição e elevada hidrossolubilidade. Benzodiazepinas (BZP) Aumento da eliminação A sobredosagem de benzodiazepinas pode causar perda de consciência, depressão respiratória e hipotensão. O flumazenil é o antídoto das benzodiazepinas por antagonismo competitivo. Pode ser usado para reverter o efeito das BZP se não houver história ou risco de convulsões. A reversão dos efeitos das BZP com flumazenil pode estar associado a toxicidade significativa (convulsões, arritmias, hipotensão e s. de privação) em doentes com dependência de BZP ou co-ingestão de antidepressivos tricíclicos. Por isso não deve ser usado por rotina no doente comatoso por sobredosagem. Não há modificações específicas no algoritmo do SAV em doentes com PCR por intoxicação por BZP. Administração de antídotos específicos No Manual de Suporte Avançado de Vida (2019) do INEM e DFEM pode ler-se o seguinte sobre a administração de antídotos específicos: www.bwizer.com 6 Opióides A intoxicação por opióides causa depressão ventilatória seguida de insuficiência respiratória ou paragem ventilatória. Os efeitos ventilatório são rapidamente revertidos pelo antagonista dos opióides, a naloxona. Na depressão ventilatória severa causada por opióides, existem menos efeitos adversos quando, previamente à administração de naloxona, a via aérea é permeabilizada e é mantida uma boa ventilação e administração de oxigénio. O uso de naloxona pode prevenir a necessidade de intubação traqueal. A via de administração da naloxona depende da experiência do reanimador, mas todas são adequadas: endovenosa, intramuscular, subcutânea e intranasal. As vias de administração não-endovenosas podem ser mais rápidas porque dispensam a colocação de um acesso venoso, que pode ser difícil. A PCR em Circunstâncias Especiais INEM | 185 dose inicial de naloxona é de 0,4 a 2mg e pode ser repetida a cada 2-3min (via intranasal 2mg a cada 5min). Podem ainda ser necessárias doses adicionais a cada 20-60min. A dose deve ser titulada até a vítima ventilar adequadamente e ter reflexos de proteção da via aérea. Sobredosagens excessivas de opióides podem requerer doses de naloxona até 10mg. Todos os doentes que necessitam tratamento com naloxona devem ser monitorizados. A reversão aguda dos opióides produz um estado de excesso de estimulação simpática e pode causar edema pulmonar, arritmias ventriculares e agitação severa. Por isso a naloxona deve ser usada cautelosamente em doentes com suspeita de dependência de opióides. É comum a intoxicação intencional por tricíclicos e pode causar hipotensão, convulsões, coma e arritmias graves. A toxicidade cardíaca mediada por efeitos anticolinérgicos e bloqueadores dos canais de Na+ podem produzir uma taquicardia de complexos largos. A hipotensão é exacerbada pelo bloqueio dos recetores alfa-1.Os efeitos anticolinérgicos incluem midríase, febre, pele seca, delírio, taquicardia, íleos e retenção urinária. A maioria dos problemas que põem a vida em risco ocorrem nas primeiras 6h após a ingestão. Os complexos QRS largos (>100mseg) e um desvio direito do eixo cardíaco indicam um maior risco para o surgimento de arritmias. Deve ser administrado bicarbonato de sódio (1-2 mmol/Kg) para o tratamento das arritmias ventriculares induzidas por tricíclicos. É recomendado tentar obter um pH arterial entre 7.45-7.55. A administração de bicarbonato pode resolver as arritmias e reverter a hipotensão mesmo na ausência de acidose. Antidepressivos tricíclicos www.bwizer.com 7 A toxicidade por betabloqueantes causa bradiarritmias e efeitos inotrópicos negativos de difícil tratamento, podendo levar à PCR. A evidência do tratamento baseia-se em estudos animais e descrições de casos clínicos. Foi descrita a melhoria com glucagon (50-150 mcg/Kg), alta dose de insulina e glicose, emulsões lipídicas, inibidores da fosfodiesterase, CEC e suporte com balão intra-aórtico, e sais de cálcio. Betabloqueantes A intoxicação por bloqueadores dos canais de cálcio está a emergir como uma causa comum de morte, por intoxicação com fármacos prescritos. A sobredosagem de fármacos de rápido início de ação pode rapidamente evoluir para PCR. A sobredosagem por formulações de libertação prolongada pode resultar em Suporte Avançado de Vida 186 | IN EM arritmias de instalação insidiosa, choque, e colapso cardíaco súbito. Deve ser administrado cloreto de cálcio a 10% em bólus de 20mL (ou dose equivalente de gluconato de cálcio) a cada 2-5 minutos nas bradicardias severas ou hipotensão, seguido de uma perfusão se necessário. Apesar das altas doses de cálcio poderem reverter alguns efeitos secundários, raramente restabelecem a normal função cardiovascular. A instabilidade hemodinâmica pode responder a altas doses de insulina (1 U/ Kg seguido de uma perfusão de 0.5-2U/Kg/h) associado a glicose e com monitorização de eletrólitos adicionalmente ao tratamento habitual com fluídos e vasopressores. Bloqueadores dos canais de cálcio O excesso de estimulação simpática associado à toxicidade da cocaína pode causar agitação, taquicardia, crise hipertensiva, hipertermia, e vasoconstrição coronária com consequente isquémia do miocárdio com angina. Para controlar a hipertensão, a taquicardia, a isquémia do miocárdio e a agitação nos doentes com cardiotoxicidade severa, podem ser usados os bloqueadores alfa (fentolamina), benzodiazepinas (lorazepam, diazepam), bloqueadores dos canais de cálcio (verapamil), morfina, e nitroglicerina sublingual. Cocaína www.bwizer.com 8 A taxa de mortalidade é bem superior à da intoxicação por bloqueadores dos canais de cálcio. Os bloqueadores dos canais de cálcio e amiodarona, podem provocar o aumento da concentração plasmática da digoxina. A toxicidade por digoxina causa hiperexcitabilidade ventricular e anomalias da condução auriculoventricular que podem originar arritmias graves e PCR. Deve ser utilizado o tratamento com fragmentos de anticorpos específicos para a digoxina (digoxina-Fab) se existirem arritmias associadas com instabilidade hemodinâmica. Na intoxicação aguda, a dose inicial é de 2 ampolas de digoxina-Fab (38mg por ampola) e repetir a dose se necessário. Em situações de PCR a dose é de 2-10 ampolas EV durante 30 min. Digoxina www.bwizer.com 9 Fonte Manual de Suporte Avançado de Vida (Versão 1.0 – 1ª Edição 2019) da autoria do INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica e DFEM – Departamento de Formação em Emergência Médica. www.bwizer.com
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