Buscar

Aula 19

Prévia do material em texto

Livro Eletrônico
Aula 19
Direito Constitucional p/ PC-MA (Delegado) Pós-edital
Professores: Equipe Ricardo e Nádia, Nádia Carolina, Ricardo Vale
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						1	de	86	
	
AULA 19– DIREITO CONSTITUCIONAL 
	
 
Convenção de Mérida ..................................................................................... 3 
1 – As Convenções Internacionais contra a Corrupção ................................ 3 
2– Convenção de Mérida (Convenção das Nações Unidas contra a 
Corrupção) .................................................................................................. 4 
2.1 – Medidas Preventivas ........................................................................... 5 
2.2 – Criminalização e aplicação da lei .......................................................... 6 
2.3 – Cooperação internacional .................................................................... 8 
2.4 – Recuperação de Ativos ........................................................................ 9 
2.5 – Departamento de Inteligência Financeira ............................................. 10 
2.6 – Mecanismo de Acompanhamento da Implementação ............................. 10 
Convenção de Palermo ................................................................................. 14 
1 – Introdução .......................................................................................... 14 
2– Convenção de Palermo: Objetivo e definições ...................................... 15 
3 – Âmbito de Aplicação da Convenção de Palermo ................................... 16 
4 – Criminalização de Condutas: ................................................................ 17 
5 – Cooperação interestatal no combate à criminalidade organizada 
transnacional ............................................................................................ 17 
6 – Implementação da Convenção de Palermo .......................................... 18 
Convenção de Viena ..................................................................................... 19 
1- Tratados Internacionais: ....................................................................... 20 
2 - Terminologia da Convenção de Viena de 1969: .................................... 22 
3 – Requisitos de Validade dos Tratados Internacionais: ........................... 25 
4-Processualística dos Tratados: ............................................................... 32 
5- Registro e Publicidade: ......................................................................... 38 
Pacto de San José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos 
Humanos) .................................................................................................... 42 
1 – Introdução: ......................................................................................... 42 
2- Direitos Humanos consagrados na Convenção Americana: .................... 43 
3 – Comissão Interamericana de Direitos Humanos: ................................. 60 
4 – Corte Interamericana de Direitos Humanos: ........................................ 63 
Tratado de Roma .......................................................................................... 69 
Lista de Questões ......................................................................................... 77 
Gabarito ....................................................................................................... 86 
	
 
 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						2	de	86	
	
 
Olá, pessoal! Tudo bem? 
Na aula de hoje, trataremos de temas que são mais relacionados ao Direito 
Internacional Público, mas que apareceram no conteúdo programático de 
Direito Constitucional do concurso de Delegado da Polícia Civil-MA. 
Falaremos sobre os seguintes tópicos: 
Tratados e convenções internacionais: Convenção de Mérida. 
Convenção de Palermo. Convenção de Viena. Pacto de São José da Costa 
Rica. Tratado de Roma. 
 
Vamos em frente! 
Abraços, 
Nádia e Ricardo 
	 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						3	de	86	
	
Convenção de Mérida 
1 – As Convenções Internacionais contra a Corrupção 
A corrupção é, sem dúvida, um problema comum da humanidade, pois ela 
ameaça a estabilidade e a segurança das sociedades, ao enfraquecer as 
instituições e os valores da democracia, da ética, justiça e ao comprometer o 
desenvolvimento sustentável e o Estado de direito.1 Pode-se afirmar, também, 
que a corrupção gera um descrédito nos serviços públicos por parte da 
população. 
Em virtude da corrupção, boa parte dos recursos do Estado são 
comprometidos, desviando-se da sua finalidade originária, o que traz 
prejuízos ao desenvolvimento econômico e social dos Estados. A 
corrupção leva, ainda, à redução dos investimentos públicos e privados, o que 
prejudica o desenvolvimento industrial e a prestação de serviços públicos. 
É importante destacar também que há uma estreita ligação entre a 
corrupção e o crime organizado e a lavagem de dinheiro. A corrupção é, 
muitas vezes, um instrumento utilizado pelo crime organizado para alcançar 
seus objetivos. As receitas do tráfico ilícito de entorpecentes estão também 
cada vez mais atreladas à corrupção. 
Por tudo isso, é consenso que a corrupção deixou de ser apenas um problema 
local, tornando-se, hoje, um problema transnacional e, portanto, objeto do 
interesse do direito internacional. Com efeito, somente a cooperação 
internacional é instrumento efetivo para prevenir e lutar contra a corrupção. 
Nesse sentido, a prevenção e a erradicação da corrupção são 
responsabilidade de todos os Estados, que precisam contar com o apoio e 
participação de toda a sociedade (organizações não-governamentais e 
sociedade civil).2 
Por ser um problema comum da humanidade e necessitar de ações de 
cooperação internacional, o combate à corrupção é objeto de diversas 
convenções (tratados) internacionais. O Brasil é parte de várias dessas 
convenções internacionais. As principais convenções sobre combate à 
corrupção que foram assinadas e ratificadas pelo Brasil são as 
seguintes: 
- Convenção das Nações Unidas Contra a corrupção (ONU) 
- Convenção Interamericana Contra a Corrupção (OEA). 
- Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos 
Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais (OCDE). 
Como se pode perceber, o governo brasileiro tem buscado fortalecer suas 
																																																													
1 Preâmbulo da Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Corrupção. 
2 Preâmbulo da Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Corrupção. 
	
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						4	de	86	
	
relações com outros países, seja em nível multilateral (ONU e OCDE) ou 
nível regional (OEA), no que tange às ações de combate à corrupção. 
 
2– Convenção de Mérida (Convenção das Nações Unidas contra a 
Corrupção) 
A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (UNCAC) é também 
conhecida por Convenção de Mérida. 
A UNCAC foi assinada em 2003 e é, atualmente, o maior e mais completo 
instrumento internacional contra a corrupção. No Brasil, ela entrou em 
vigor no início de 2006, com a publicação do Decreto no 5.687/2006. 
Suas origens remontam à década de 90, quando sedesenvolveu na sociedade 
internacional o consenso de que a corrupção é fator que contribui para o 
aumento da pobreza e, ainda, causa impacto negativo nas relações comerciais. 
Em dezembro de 2000, a Assembleia Geral da ONU reconheceu, por meio de 
Resolução, a importância de se desenvolver um instrumento jurídico 
internacionalmente vinculante com o objetivo de promover o combate à 
corrupção. Para isso, foi instalado um Comitê “ad hoc”, que, em diversas 
oportunidades, trabalhou na negociação do texto da Convenção. 
A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (UNCAC) esteve aberta à 
assinatura de todos os Estados de 9 a 11 de dezembro de 2003 em Mérida, 
México e, depois desse evento na sede das Nações Unidas em Nova York até o 
dia 9 de dezembro de 2005. 
Destaque-se que não são todos os Estados-membros da ONU que estão 
vinculados à Convenção, mas apenas aqueles que a assinaram e, 
posteriormente, a ratificaram. A UNCAC está aberta à adesão de todos os 
Estados e organizações regionais de integração econômica que contem 
com pelo menos um Estado membro que seja parte da Convenção. 
O art. 1o da Convenção das Nações Unidas contra a corrupção (UNCAC) dispõe 
que a finalidade da referida convenção é: 
- Promover e fortalecer as medidas para prevenir e combater mais eficaz 
e eficientemente a corrupção. 
- Promover, facilitar e apoiar a cooperação internacional e a assistência 
técnica na prevenção e na luta contra a corrupção, incluída a 
recuperação de ativos; 
- Promover a integridade, a obrigação de render contas e a devida 
gestão dos assuntos e dos bens públicos. 
A Convenção de Mérida se aplica “à prevenção, à investigação e à instrução 
judicial da corrupção e do embargo preventivo, da apreensão, do confisco e da 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						5	de	86	
	
restituição do produto de delitos identificados de acordo com a presente 
Convenção”. Para a aplicação da Convenção de Mérida, não há necessidade 
que os delitos nela enunciados produzam dano ou prejuízo patrimonial ao 
Estado. Em outras palavras, a Convenção de Mérida será aplicável ainda que 
não haja qualquer tipo de dano ou prejuízo material ao Estado. 
Aplica-se à Convenção de Mérida o princípio da soberania, segundo o qual 
nada do disposto na Convenção delegará poderes a um Estado Parte para 
exercer, no território de outro Estado, jurisdição ou funções que a legislação 
interna desse Estado reserve exclusivamente a suas autoridades. 
A Convenção de Mérida aborda 4 (quatro) aspectos centrais acerca do 
problema da corrupção: i) medidas preventivas; ii) criminalização e 
aplicação da lei; iii) cooperação internacional e; iv) recuperação de ativos. 
 
2.1 – Medidas Preventivas 
As medidas preventivas estão previstas no Capítulo 2 da Convenção. Cada 
Estado-parte se compromete a formular e aplicar ou manter em vigor 
políticas coordenadas e eficazes contra a corrupção, que promovam a 
participação da sociedade e reflitam os princípios do Estado de Direito, a 
devida gestão dos assuntos e bens públicos, a integridade, a transparência e a 
obrigação de render contas. Nesse sentido, os Estados-parte devem garantir 
a existência de órgãos encarregados de prevenir a corrupção. 
No que diz respeito a medidas preventivas para o setor público, os Estados- 
parte devem dar especial atenção aos sistemas de convocação, 
contratação, retenção, promoção e aposentadoria de funcionários 
públicos. Estes sistemas devem ser baseados em critérios objetivos como 
mérito, equidade e aptidão e incluir procedimentos adequados de 
seleção e formação dos titulares de cargos públicos que se considerem 
especialmente vulneráveis à corrupção. A esses indivíduos, também deve ser 
garantida uma remuneração adequada e escalas de soldo equitativas 
(compatibilidade entre a remuneração e as responsabilidades do cargo). 
A Convenção de Mérida também dispõe que os Estados-parte deverão 
considerar a possibilidade de estabelecer critérios para a candidatura e 
eleição a cargos públicos, seja por meio de medidas legislativas ou 
administrativas. Os Estados-parte também devem considerar a possibilidade 
de adotar medidas legislativas e administrativas destinadas a aumentar a 
transparência do financiamento de candidaturas a cargos públicos 
eletivos e do financiamento de partidos políticos. 
O art. 9o da UNCAC versa sobre medidas preventivas a serem adotadas em 
relação às contratações públicas. Os sistemas de contratação públicas 
(licitações) devem ser baseados na transparência, competência e em 
critérios objetivos de adoção de decisões. A UNCAC também prevê que os 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						6	de	86	
	
Estados-parte adotem medidas apropriadas para promover a transparência e a 
obrigação de prestar contas na gestão das contas públicas. 
Cientes de que a corrupção é fenômeno que também pode alcançar o Poder 
Judiciário e o Ministério Público, os Estados-parte da UNCAC previram, em 
seu art. 11, que deverão ser adotadas medidas para reforçar a integridade e 
evitar toda oportunidade de corrupção entre os membros do Poder 
Judiciário/Ministério Público. 
O escopo da UNCAC alcança também medidas para prevenir a corrupção no 
setor privado. Nesse sentido, os Estados-parte deverão melhorar as 
normas contábeis e de auditoria no setor privado, assim como prever 
sanções civis, administrativas ou penais para serem aplicadas em caso de 
descumprimento. 
O fenômeno da corrupção somente pode ser combatido com o apoio e 
participação de toda a sociedade. É exatamente nesse sentido que o art. 
13 da UNCAC prevê que os seus Estados-parte deverão adotar medidas 
adequadas para fomentar a participação ativa de pessoas e grupos que 
não pertençam ao setor público, como a sociedade civil, as organizações 
não-governamentais e as organizações com base na comunidade, na 
prevenção e na luta contra a corrupção. Deve-se buscar a sensibilização da 
opinião pública para que conheça sobre a existência, as causas e a gravidade 
da corrupção, assim como a ameaça que esta representa. 
Ainda como medida preventiva, a UNCAC dispõe que os Estados-parte deverão 
considerar a possibilidade de estabelecer um canal de denúncia, de modo a 
permitir que seus cidadãos e pessoas que residam no seu território possam 
denunciar às autoridades a prática de todo ato de corrupção (art. 39). 
Na mesma linha, os Estados-parte também deve considerar a possibilidade de 
estabelecer medidas e sistemas para facilitar que os funcionários públicos 
denunciem todo ato de corrupção às autoridade competentes quando 
tenham conhecimento deles no exercício de suas funções (art. 8o, parágrafo 
4o). 
 
2.2 – Criminalização e aplicação da lei 
A UNCAC dispõe que os Estados-partes deverão adotar medidas legislativas 
para tipificar como crimes diversas condutas relacionadas à corrupção. As 
seguintes condutas devem ser tipificadas como crimes pelos Estados- 
parte: 
a) Suborno de funcionários públicos nacionais 
b) Suborno de funcionários públicos estrangeiros e de funcionários de 
organizações internacionais 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						7	de	86	
	
c) Malversação ou peculato, apropriação indébita ou outras formas de 
desvio de bens por um funcionário público. 
d) Tráfico de influências 
e) Abuso de funções 
f) Enriquecimento ilícito 
g) Suborno no setor privado 
h) Malversação ou peculato de bens no setor privada 
i) Lavagem de produto de delito 
j) Encobrimentol) Obstrução da justiça 
A UNCAC prevê, ainda, que os Estados-parte deverão estabelecer medidas 
destinadas a promover a responsabilidade das pessoas jurídicas em 
virtude da participação destas em delitos qualificados pela Convenção. Nesse 
sentido, as pessoas jurídicas poderão ser responsabilizadas na esfera penal, 
civil ou administrativa. Tal responsabilidade existirá sem prejuízo da 
responsabilidade penal que incumba às pessoas físicas que tenham cometido 
os delitos. 
Os Estados-parte da UNCAC também devem estabelecer medidas destinadas a 
qualificar como delito qualquer forma de participação (na condição de 
cúmplice, colaborador ou instigador) em um delito qualificado na Convenção. 
O prazo de prescrição para o início de processos relativos aos delitos 
qualificados na UNCAC deve ser amplo. Quando o presumido delinquent tenha 
se evadido da administração da justiça, esse prazo deve ser maior ou, então, a 
prescrição deve ser interrompida. 
As sanções impostas pelos Estados-membros como punição pelos delitos 
qualificados na UNCAC devem ser compatíveis com a gravidade da 
conduta. Devem ser adotadas pelos Estados-parte medidas destinadas a 
promover o confisco do produto dos delitos qualificados na UNCAC e dos 
bens/equipamentos utilizados na prática dos referidos delitos. As 
testemunhas e peritos que prestarem depoimento sobre os delitos qualificados 
na UNCAC devem ser objeto de proteção dos Estados-parte, que adotarão 
medidas apropriadas para protegê-las de atos de represálias ou intimidação. 
Os denunciantes dos crimes qualificados pela Convenção também deverão 
receber adequada proteção estatal. 
 
==db697==
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						8	de	86	
	
 
2.3 – Cooperação internacional 
A corrupção é problema comum da humanidade e, como tal, deve ser 
combatida mediante cooperação internacional. Assim, a UNCAC estabelece 
que os membros deverão cooperar em assuntos penais com o objetivo de 
combater a corrupção. 
O art. 44 da UNCAC, ao versar sobre a extradição, dispõe que esta se aplica a 
todos os delitos qualificados na Convenção, mesmo quando o delito 
pelo qual se pede a extradição não seja considerado crime em um dos 
Estados envolvidos.3 Não será necessária, portanto, a dupla criminalização, 
isto é, a conduta não precisa ser considerada crime no Estado requerente e no 
Estado requerido, ao mesmo tempo. Destaque-se que, ao celebrarem tratados 
de extradição entre si, os Estados-parte da UNCAC deverão prever como 
causas para extradição as condutas nela qualificadas. Ademais, os delitos 
qualificados pela UNCAC não serão considerados crimes políticos. 
A UNCAC prevê, em seu art. 46, que os Estados-partes deverão prestar a mais 
ampla assistencial judicial recíproca. A assistência judicial recíproca poderá 
ser solicitada para as seguintes finalidades: 
a) Receber testemunhos ou tomar declaração de pessoas; 
b) Apresentar documentos judiciais; 
c) Efetuar inspeções e/ou embargos preventivos; 
d) Examinar objetos e lugares; 
e) Proporcionar informação, elementos de prova e avaliações de peritos; 
f) Entregar originais ou cópias certificadas dos documentos e 
expedientes pertinentes, incluída a documentação pública, bancária e 
financeira, assim como a documentação social ou comercial de 
sociedades mercantis; 
g) Identificar ou localizar o produto de delito, os bens, os instrumentos e 
outros elementos para fins probatórios; 
h) Facilitar o comparecimento voluntário de pessoas ao Estado Parte 
requerente; 
i) Prestar qualquer outro tipo de assistência autorizada pela legislação 
interna do Estado Parte requerido; 
																																																													
3 Na extradição, há dois Estados envolvidos: o Estado requerente (quem formula o pleito 
extradicional) e o Estado requerido (quem recebe o pleito extradicional). 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						9	de	86	
	
j) Identificar, embargar com caráter preventivo e localizar o produto de 
delito, em conformidade com as disposições do Capítulo V da presente 
Convenção; 
l) Recuperar ativos em conformidade com as disposições do Capítulo V 
da presente Convenção. 
Há algumas situações em que a assistência judiciária poderá ser 
negada: i) quando a solicitação não esteja em conformidade com o disposto 
na Convenção; ii) quando o Estado Parte requerido considere que o 
cumprimento da solicitação poderia agredir sua soberania, sua segurança, sua 
ordem pública ou outros interesses fundamentais; iii) quando a legislação 
interna do Estado Parte requerido proíba suas autoridades de atuarem na 
forma solicitada relativa a um delito análogo, se este tiver sido objeto de 
investigações, processos ou ações judiciais no exercício de sua própria 
competência; iv) quando aquiescer à solicitação seja contrário ao ordenamento 
jurídico do Estado Parte requerido no tocante à assistência judicial recíproca. 
Ainda na campo da cooperação internacional, os Estados-parte da UNCAC 
deverão considerar a possibilidade de: i) celebrar acordos ou tratados 
bilaterais ou multilaterais sobre o traslado a seu território de toda pessoa 
que tenha sido condenada a pena de prisão ou outra forma de privação de 
liberdade por algum dos delitos qualificados na UNCAC, a fim de que cumpra 
ali sua pena e; ii) celebrar acordos ou tratados bilaterais ou multilaterais que 
prevejam a possibilidade de investigação conjunta por dois ou mais Estados 
(a investigação conjunta poderá ocorrer mesmo que não exista um tratado). 
 
2.4 – Recuperação de Ativos 
A corrupção é responsável pelo desvio de recursos importantes para o 
desenvolvimento econômico e social de um Estado. No combate à corrupção, 
faz-se importante reaver esses recursos, é dizer, recuperar os ativos 
desviados ilicitamente. 
A recuperação de ativos é um dos princípios fundamentais da Convenção de 
Mérida (art. 51) 
Nessa Convenção, estão previstas condições especiais para a recuperação de 
ativos. A totalidade dos ativos ilícitos será restituída (descontados apenas 
os custos com localização, bloqueio e manutenção dos bens), o que decorre do 
envolvimento de recursos públicos e do dano ao Erário. 
Cabe destacar que a Convenção de Mérida admite, em certos casos, que a 
recuperação de ativos ocorra antes mesmo de decisão judicial transitada 
em julgado. 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						10	de	86	
	
 
2.5 – Departamento de Inteligência Financeira 
Segundo o art. 58, UNCAC, “os Estados Partes cooperarão entre si a fim de 
impedir e combater a transferência do produto de quaisquer dos delitos 
qualificados de acordo com a presente Convenção e promover meios para 
recuperar o mencionado produto e, para tal fim, considerarão a possibilidade 
de estabelecer um departamento de inteligência financeira que se encarregará 
de receber, analisar e dar a conhecer às autoridades competentes toda 
informação relacionada com as transações financeiras suspeitas”. 
 
2.6 – Mecanismo de Acompanhamento da Implementação 
Um dos grandes desafios do direito internacional é garantir que os 
compromissos assumidos pelos Estados sejam efetivamente 
cumpridos, ou seja, garantir que as normas jurídicas sejam implementadas. 
Pouco ou nada adianta ser celebrado um tratado que se transforme, com o 
tempo, em “letra morta”. Para que haja maior previsibilidade e segurança 
jurídica na sociedade internacional, faz-se mister que os tratados 
internacionais contem com mecanismos de implementação.As convenções internacionais contra a corrupção, para que possam ter 
efetividade, contam com tais mecanismos. 
A UNCAC prevê, em seu art. 63, a existência de um mecanismo para sua 
implementação. Segundo o referido dispositivo, fica estabelecida uma 
Conferência dos Estados-parte com o objetivo de melhorar a capacidade 
desses Estados e a cooperação entre eles para alcançar os objetivos da 
Convenção e promover/examinar sua aplicação. 
No que diz respeito à implementação, a Conferência dos Estados-parte tem as 
seguintes funções: i) examinará periodicamente a aplicação da 
Convenção; ii) formulará recomendações para melhorar a presente 
Convenção e sua aplicação; iii) tomará nota das necessidades de 
assistência técnica dos Estados Partes com relação à aplicação da 
Convenção e recomendará as medidas que considere necessária a esse 
respeito. 
 
1. (Juiz Federal – TRF 5a Região – 2015) Para que possa aplicar a 
Convenção de Mérida, o Estado requerente deve demonstrar que os 
delitos mencionados em sua requisição causaram-lhe dano ou prejuízo 
patrimonial. 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						11	de	86	
	
Comentários: 
Para fins de aplicação da Convenção de Mérida, não há necessidade de se 
demonstrar que os delitos nela mencionados causaram dano ou prejuízo 
patrimonial ao Estado. Questão errada. 
2. (Juiz Federal – TRF 5a Região – 2015) De acordo com a 
Convenção de Mérida, pode haver, antes mesmo de decisão transitada 
em julgado no Estado requerente, restituição de ativos confiscados no 
Estado requerido. 
Comentários: 
É isso mesmo. A Convenção de Mérida admite que a restituição de ativos 
confiscados ocorra antes mesmo da decisão judicial transitada em julgado. 
Questão correta. 
3. (MPT / Procurador do Trabalho – 2013) A Convenção de Mérida 
sugere como forma de combater a corrupção que os sistemas de 
convocação, contratação, retenção, promoção e aposentadoria de 
funcionários públicos estejam baseados em princípios de eficiência e 
transparência e em critérios objetivos como o mérito, a equidade e a 
aptidão. 
Comentários: 
É exatamente isso o que prevê a Convenção de Mérida. Os sistemas de 
contratação de servidores públicos deve estar baseado em critérios objetivos 
como mérito, equidade e aptidão e incluir procedimentos adequados de 
seleção e formação dos titulares de cargos públicos que se considerem 
especialmente vulneráveis à corrupção. Questão correta. 
4. (MPT / Procurador do Trabalho – 2013) A Convenção de Mérida 
prevê que a adoção pelo Estado-parte de medidas legislativas que 
sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido 
intencionalmente, a promessa, oferecimento ou a concessão, de forma 
direta ou indireta de um benefício para o seu próprio proveito ou no de 
outra pessoa ou entidade, para que atue ou se abstenha de atuar, não 
alcança o funcionário público ou funcionário de organização 
internacional pública, em razão da soberania. 
Comentários: 
A Convenção de Mérida prevê, sim, a adoção de medidas legislativas pelos 
Estados-parte para criminalizar o delito de oferecer benefício a funcionário 
público ou funcionário de organização internacional. Questão errada. 
5. (MPT / Procurador do Trabalho – 2013) A República Federativa 
Brasileira, em conformidade com os princípios fundamentais de seu 
ordenamento jurídico e sem menosprezar a independência ministerial 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						12	de	86	
	
e seu papel decisivo na luta contra a corrupção, adotará medidas para 
reforçar a integridade e evitar toda oportunidade de corrupção entre 
os membros do ministério público. 
Comentários: 
O art. 11, da Convenção de Mérida, prevê que deverão ser adotadas medidas 
para reforçar a integridade e evitar toda oportunidade de corrupção entre os 
membros do Poder Judiciário/Ministério Público. Questão correta. 
6. (MPT / Procurador do Trabalho – 2013) A República Federativa 
Brasileira também considerará, em conformidade com os princípios 
fundamentais de sua legislação interna, a possibilidade de estabelecer 
medidas e sistemas para facilitar que os funcionários públicos 
denunciem todo ato de corrupção às autoridades competentes quando 
tenham conhecimento deles no exercício de suas funções. 
Comentários: 
É o que prevê o art. 8o, parágrafo 4o, da UNCAC. Os Estados-parte devem 
considerar a possibilidade de estabelecer medidas e sistemas para permitir que 
os funcionários públicos denunciem práticas de corrupção. Questão correta. 
7. (CGU-2012) Em 2003, o Brasil assinou a Convenção das Nações 
Unidas contra a Corrupção, adotada pela Assembleia Geral da ONU 
naquele mesmo ano, cujo texto foi promulgado pelo Decreto n. 5.687, 
de 31 de janeiro de 2006. A seu respeito, é correto afirmar que: 
a) entre suas finalidades, figura a de Promover a integridade, a obrigação de 
render contas e a devida gestão dos assuntos e dos bens públicos. 
b) entre seus objetivos, figura o de promover a homogeneização dos 
ordenamentos jurídicos dos Estados Partes, visando adotar medidas para 
reforçar a integridade e evitar toda oportunidade de corrupção entre os 
membros do poder judiciário. 
c) a despeito da existência de eventuais disposições em contrário no 
ordenamento jurídico dos Estados Partes, a Convenção aplica-se somente 
quando os delitos enunciados nela produzam dano ou prejuízo patrimonial ao 
Estado. 
d) a Convenção prevê que cada Estado Parte, em conformidade com os 
princípios fundamentais de sua legislação interna, adotará medidas para 
prevenir a corrupção e melhorar as normas contábeis e de auditoria no setor 
público, resguardando o setor privado de possíveis sanções civis, 
administrativas ou penais. 
e) a Convenção não prevê compromissos atinentes à Proteção a testemunhas, 
peritos, vítimas ou denunciantes, em face da diversidade dos ordenamentos 
jurídicos internos dos Estados Partes. 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						13	de	86	
	
Comentários: 
Letra A: correta. Segundo o art. 1o da Convenção das Nações Unidas contra a 
corrupção (UNCAC), a finalidade da referida convenção é: 
- Promover e fortalecer as medidas para prevenir e combater mais eficaz 
e eficientemente a corrupção. 
- Promover, facilitar e apoiar a cooperação internacional e a assistência 
técnica na prevenção e na luta contra a corrupção, incluída a 
recuperação de ativos; 
- Promover a integridade, a obrigação de render contas e a devida 
gestão dos assuntos e dos bens públicos. 
Letra B: errada. A UNCAC não visa a homogeneizar os ordenamentos jurídicos 
dos Estados-parte. Os Estados são soberanos para determinar as normas 
relativas ao combate à corrupção. 
Letra C: errada. A UNCAC também prevê medidas preventivas, a serem 
adotadas independentemente de qualquer dano. 
Letra D: errada. Os Estados-parte deverão melhorar as normas contábeis e de 
auditoria no setor privado, assim como prever sanções civis, administrativas 
ou penais para serem aplicadas em caso de descumprimento. 
Letra E: errada. O art. 32 da UNCAC estabelece normas relativas à proteção de 
testemunhas, peritos e vítimas. 
O gabarito é a letra A. 
 
8. (AFC-CGU-2008)- A respeito da Convenção das Nações Unidas 
contra a Corrupção, assinale a opção falsa. 
a) Todos os países membros da ONU estão automaticamente vinculados a essa 
Convenção. 
b) A Convenção incentiva seus Estados Partes a adotarem códigos de conduta 
para funcionários públicos, com vistas ao cumprimento adequado das funçõespúblicas. 
c) A Convenção prevê que seus Estados Partes considerem a possibilidade de 
qualificar como delito o suborno no setor privado. 
d) A Convenção prevê que os países que a ratificaram prestem uns aos outros 
ampla colaboração com o fim de viabilizar a recuperação de ativos que sejam 
produto do delito de corrupção. 
e) A Convenção está aberta à ratificação de organizações regionais de 
integração econômica, desde que ao menos um de seus membros seja Parte 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						14	de	86	
	
da referida Convenção. 
Comentários: 
Letra A: errada. Os membros da ONU não estão automaticamente vinculados à 
UNCAC. Para vincular-se, é necessário que os Estados a tenham assinado e 
ratificado ou venham a ela aderir. 
Letra B: correta. Dentre as medidas de prevenção, a UNCAC insta os Estados- 
parte a criarem códigos de conduta para funcionários públicos. 
Letra C: correta. A UNCAC prevê que os Estados-parte deverão adotar medidas 
legislativas para tipificar como crime o suborno no setor privado. 
Letra D: correta. A recuperação de ativos que sejam produto do delito de 
corrupção é um dos princípios centrais da UNCAC, devendo os Estados-parte 
cooperar nesse sentido. 
Letra E: correta. Podem aderir à UNCAC Estados ou organizações regionais de 
integração econômica, desde que ao menos um de seus membros seja Parte 
da Convenção. 
O gabarito é a letra A. 
Convenção de Palermo 
1 – Introdução 
A globalização é um fator que, nos últimos anos, contribuiu para a 
intensificação do crime organizado transnacional. A redução de 
regulamentações e barreiras às transações comerciais e aos investimentos, 
embora tenha trazido inúmeros efeitos positivos, também trouxe riscos à 
segurança dos Estados, que passaram a ter dificuldades para monitorar todos 
os seus fluxos internacionais. 
O crime organizado transnacional é uma grave ameaça à segurança da 
sociedade e do Estado, manifestando-se em diferentes formas e atividades 
ilícitas, tais como tráfico de drogas, tráfico de armas, tráfico de pessoas e 
contrabando. Suas atividades ameaçam e fragilizam o Estado democrático de 
direito, contribuindo para o aumento da violência e da corrupção 
governamental. 
O crime organizado se internacionalizou. Cada Estado soberano tem sua 
legislação específica, o que leva os grupos criminosos a se aproveitarem de 
brechas existentes nos diversos ordenamentos estatais para se protegerem. 
Não há como combater o crime organizado sem uma intensa cooperação 
interestatal. 
A Organização das Nações Unidas (ONU), percebendo esse grave problema, 
buscou regulamentar o tema. Em 2000, foi celebrada a Convenção das Nações 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						15	de	86	
	
Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, também denominada de 
Convenção de Palermo. A Convenção é um esforço na tentativa de 
harmonizar as legislações nacionais no enfrentamento dessa grave ameaça à 
segurança da sociedade e do Estado. 
 
2– Convenção de Palermo: Objetivo e definições 
A Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional foi 
internalizada no ordenamento jurídico brasileiro por meio do Decreto nº 
5.015/2004, tendo como objetivo promover a cooperação para prevenir e 
combater mais eficazmente a criminalidade organizada transnacional. 
Na elaboração da Convenção de Palermo, uma das maiores dificuldades foi 
quanto à definição do conceito de crime organizado. Após intenso debate, 
chegou-se ao seguinte enunciado: 
"Grupo criminoso organizado" - grupo estruturado de três ou mais 
pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o 
propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na 
presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, 
um benefício econômico ou outro benefício material; 
Pode-se perceber, nessa definição, vários elementos que caracterizam o 
crime organizado: 
a) Primeiro, há que existir um “grupo estruturado”, que é aquele que 
se forma de maneira não fortuita para a prática de uma infração, ainda 
que seus membros não tenham funções formalmente definidas, que não 
haja continuidade em sua composição e que não disponha de uma 
estrutura elaborada. 
b) Segundo, só se pode falar em “grupo criminoso organizado” quando 
houver a reunião de três ou mais pessoas. 
c) Terceiro, deve existir há algum tempo e atuar concertadamente. 
Estão presentes, aqui, os requisitos da continuidade delitiva e da 
organização para a prática do crime. 
d) Quarto, deve existir o propósito de cometer uma ou mais infrações 
graves ou enunciadas na Convenção. Considera-se infração grave, para 
os propósitos da Convenção de Palermo, aquela cuja pena máxima de 
privação de liberdade seja de, no mínimo, 4 anos. 
e) Por último, o “grupo criminoso organizado” fica caracterizado quando 
existe a intenção de se obter, direta ou indiretamente, um benefício 
econômico ou outro benefício material. Enfim, busca-se o lucro com as 
atividades criminosas. 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						16	de	86	
	
Em respeito ao princípio da soberania, a Convenção de Palermo não 
autoriza um Estado-parte a exercer, no território de outro Estado, jurisdição 
ou funções que o direito interno desse Estado reserve exclusivamente às suas 
autoridades. 
A Lei 12.850/2013 traz um conceito um pouco diferente de organização 
criminosa, definindo-a como “a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas 
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que 
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de 
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas 
máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter 
transnacional”. 
Perceba que a legislação brasileira exige o número mínimo de 4 pessoas para 
que fique caracterizada a organização criminosa e, além disso, não se aplica 
apenas a ilícitos transnacionais, mas também internos. 
 
3 – Âmbito de Aplicação da Convenção de Palermo 
Segundo o art. 3º, da Convenção de Palermo, salvo disposição em contrário, 
esta será aplicável às seguintes condutas: participação em grupo criminoso 
organizado (art. 5º), lavagem do produto do crime (art. 6º), corrupção 
(art. 8º), obstrução à justiça (art. 23) e outras infrações graves (art. 
2º). 
Para que se aplique a Convenção de Palermo, todavia, é necessário que a 
infração tenha caráter transnacional e envolva um grupo criminoso organizado. 
O caráter transnacional da infração ficará caracterizado quando: 
a) as infrações cometidas em mais de um Estado; 
b) as infrações cometidas em apenas um Estado, mas com uma parte 
substancial da sua preparação, planejamento, direção e controle tendo 
lugar em outro Estado; 
c) infrações cometidas em apenas um Estado, mas que envolva a 
participação de um grupo criminoso organizado que pratique atividades 
criminosas em mais de um Estado e; 
d) infrações cometidas em apenas um Estado, mas que produza efeitos 
substanciais em outro Estado. 
 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						17	de	86	
	
4 – Criminalização de Condutas: 
Ao longo do seu texto, a Convenção de Palermo impõe obrigações 
legislativas aos Estados-parte, é dizer, insta que eles alterem suas 
legislaçõesnacionais no sentido de caracterizar como infrações penais certas 
condutas. 
Nesse sentido, a Convenção estabelece que os Estados-parte adotem medidas 
legislativas para caracterizar como crime: 
a) a participação em grupo criminoso organizado (art. 5º); 
b) lavagem do produto do crime (art. 6º); 
c) corrupção (art. 8º) e; 
d) obstrução à justiça (art. 23). 
A Convenção também impõe aos Estados a adoção de medidas 
administrativas e legislativas, de natureza preventiva e repressiva, para 
combater a lavagem de dinheiro (art. 7º) e corrupção (art. 9º). O combate à 
lavagem de dinheiro envolve a criação de um sistema de regulamentação e 
supervisão de instituições financeiras, bem como o intercâmbio de informações 
entre os Estados. 
Além disso, a Convenção de Palermo estabelece que os Estados deverão 
adotar as medidas necessárias para responsabilizar as pessoas jurídicas 
que participem em infrações graves envolvendo um grupo criminoso 
organizado e que cometam as infrações anteriormente relacionadas. A 
responsabilidade das pessoas jurídicas poderá ser penal, civil ou 
administrativa, em conformidade com o ordenamento jurídico de cada 
Estado. 
 
5 – Cooperação interestatal no combate à criminalidade organizada 
transnacional 
A fim de reprimir a criminalidade transnacional, a Convenção prevê que os 
Estados deverão adotar certas medidas, tais como: 
a) confisco e apreensão do produto das infrações previstas na 
Convenção (art. 12); 
b) restituição do produto do crime (art. 14); 
c) extradição (art. 16); 
d) transferência de pessoas condenadas (art. 17); 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						18	de	86	
	
e) assistência judiciária recíproca (art. 18); 
f) realização de investigações conjuntas (art. 19) e técnicas especiais 
de investigação (art. 20); 
g) transferência de processos penais (art. 21) 
No que diz respeito à recuperação de ativos (ou restituição do produto do 
crime), pode-se dizer que trata-se de um mecanismo importante na repressão 
do crime de lavagem de dinheiro, baseando-se na lógica de que os métodos 
tradicionais não são suficientes para se combater o crime organizado. Não 
basta prender os criminosos. O confisco e restituição de bens é mais eficaz, 
pois retiram o poder econômico do criminoso e, ainda, restitui os valores 
ilícitos para o Estado requerente. 
Num estágio mais avançado da cooperação internacional para a recuperação 
de ativos, estão os “asset sharing agreements”. É o que se chama de 
partilha de ativos, que consiste em dividir os ativos ilícitos entre o Estado 
requerente e o Estado requerido. 
A Convenção de Palermo prevê regras para a partilha de ativos. Segundo o 
art. 14, da referida Convenção, os Estados-parte deverão considerar a 
celebração de acordos que prevejam repartir com outros Estados, 
sistemática ou casuisticamente, os produtos do crime ou dos bens confiscados. 
Assim, pode-se afirmar que a Convenção de Palermo estimula a partilha de 
ativos entre o Estado requerente e o Estado requerido. 
 
6 – Implementação da Convenção de Palermo 
Com o objetivo de fazer com que as obrigações assumidas pelos Estados-parte 
sejam cumpridas, foi criada a “Conferência das Partes”. Cada Estado 
deverá comunicar à Conferência das Partes informações sobre seus programas, 
planos e práticas, bem como suas medidas legislativas e administrativas 
destinadas a aplicar a Convenção de Palermo. 
A Conferência das Partes também buscará acordar mecanismos de facilitação 
do intercâmbio de informações entre os Estados e de cooperação com as 
organizações regionais e internacionais e organizações não governamentais 
(ONGs) competentes. 
 
9. (Instituto Rio Branco – 2009) A Convenção de Palermo, ratificada 
pelo Brasil, tem como objetivo promover a cooperação jurídica e 
policial no combate e na prevenção do crime organizado transnacional. 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						19	de	86	
	
Comentários: 
A Convenção de Palermo tem como objetivo promover a cooperação para 
prevenir e combater mais eficazmente a criminalidade organizada 
transnacional. Questão correta. 
10. (Procurador da República – 2011) Na assistência jurídica mútua 
em matéria penal, a repartição de ativos relacionados à atividade 
criminosa (“asset sharing”): 
a) é vedada para os ativos relacionados à apropriação ilícita de fundos 
públicos; 
b) é estimulada pela Convenção de Palermo; 
c) é permitida somente para ativos decorrentes do tráfico de entorpecentes; 
d) depende de autorização do Senado Federal, quando se tratar de ativos 
relacionados à apropriação ilícita de fundos públicos. 
Comentários: 
A Convenção de Palermo estimula a partilha de ativos entre o Estado 
requerente e o Estado requerido. O gabarito é a letra B. 
11. (Delegado PC-GO – 2017) A Convenção de Palermo tem como 
objetivo a cooperação para a prevenção e o combate do crime de 
feminicídio no âmbito das nações participantes. 
Comentários: 
A Convenção de Palermo é destinada a combater o crime organizado 
transnacional (e não o feminicídio). Questão errada. 
 
Convenção de Viena 
O edital foi muito obscuro ao falar somente em “Convenção de Viena”, pois 
existem diversas convenções com esse mesmo nome. 
Acreditamos, todavia, que o edital está se referindo à mais importante e 
famosa delas: a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados 
(1969). É sobre ela que estudaremos a seguir. 
 
 
d
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						20	de	86	
	
1- Tratados Internacionais: 
Tratado internacional é um acordo celebrado por escrito entre Estados, 
entre Estados ou organizações internacionais ou entre organizações 
internacionais, regido pelo direito internacional, quer conste de um 
instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos específicos, qualquer 
que seja sua denominação particular. 
Os tratados internacionais são considerados pela doutrina como a mais 
importante fonte do direito internacional nos dias de hoje. Isso porque, 
ao contrário dos costumes, eles conferem maior segurança jurídica e 
estabilidade às relações internacionais. Quando dois ou mais Estados se 
comprometem definitivamente a cumprir um tratado, fica bem fácil concluir 
que a ele estarão juridicamente vinculados. 
Tendo em vista o desenvolvimento da sociedade internacional e o 
aprofundamento das relações internacionais, há uma forte tendência de 
codificação do direito consuetudinário (costumeiro). Em outras palavras, 
diversos assuntos, antes regulados quase que exclusivamente por costumes, 
passaram a ser regulados por tratados internacionais. Regras costumeiras são, 
então, codificadas, isto é, transformadas em tratados. Um exemplo muito 
bem-sucedido de codificação do direito consuetudinário, apontado pela 
doutrina com grande frequência, é a Convenção de Viena sobre Relações 
Diplomáticas de 1961. 
Com a proliferação dos tratados no plano internacional, surgiu a necessidade 
de regulamentar diversas questões a eles relacionadas. Várias questões 
precisavam ser respondidas. Quando um tratado entra em vigor? É possível 
que um Estado-parte se desobrigue em relação a um tratado? Como devem 
ser interpretados os tratados? Ou, ainda, quando um tratado pode ser 
anulado? 
Para responder a todas essas questões, a Comissão de Direito Internacional da 
ONU se propôs a estudar o direito dos tratados, tendo iniciado os trabalhos em 
1949. Após 20 anos de muito estudo, foi celebrada a Convenção de Viena 
sobreo Direito dos Tratados de 1969 (CV/69). Até a assinatura da CV/69, 
o direito dos tratados era regido predominantemente por normas costumeiras. 
Assim, podemos dizer que a referida convenção codificou normas de direito 
consuetudinário relativas aos tratados internacionais. 
Em seu Preâmbulo, a Convenção de Viena de 1969 reconhece a importância 
crescente dos tratados como fonte do direito internacional público e 
meio hábil para promover a cooperação pacífica entre as nações, quaisquer 
sejam seus sistemas constitucionais e sociais. Além disso, deixa explícito que 
os tratados são fundamentais para as relações internacionais enquanto 
promotores de maior segurança jurídica e estabilidade. 
Apesar de os tratados serem a fonte de direito internacional mais importante 
na atualidade, a Convenção de Viena reconhece o papel dos costumes na 
 
b
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						21	de	86	
	
regulação da sociedade internacional, ao estabelecer, em seu Preâmbulo, 
que “... as regras do Direito Internacional consuetudinário continuarão a reger 
as questões não reguladas pelas disposições da presente Convenção”. 
A Convenção de Viena de 1969 também reconhece, em seu Preâmbulo, a 
aceitação universal dos princípios do livre consentimento e da boa fé, assim 
como da regra “pacta sunt servanda” 4. Acerca da última, vale destacar que 
é sobre ela que repousa o fundamento de validade dos tratados. Com 
efeito, é do livre consentimento estatal que surgem os tratados, os quais 
devem ser cumpridos de boa fé pelas partes contratantes. 
A Convenção de Viena de 1969 foi originalmente assinada por apenas 32 
Estados, tendo entrado em vigor internacional apenas em 1980, quando 
foi atingido o número mínimo de ratificações (35 Estados). O Brasil apenas 
ratificou a referida convenção no ano de 2009. 
Em que pese o fato de diversos Estados não terem se comprometido 
definitivamente à Convenção de Viena de 1969, o entendimento doutrinário 
dominante é o de que esta se aplica na condição de costume internacional 
plenamente aceito. A título de exemplo, os relatórios dos painéis e do Órgão 
de Apelação, emanados no âmbito do sistema de solução de controvérsias da 
OMC, fazem menção, por diversas vezes, aos art.31 e art.32 da CV/695, pouco 
se importando se os Estados envolvidos no litígio estão vinculados à CV/69. Da 
mesma forma, apesar de a CV/69 ter entrado em vigor para o Brasil apenas 
em 2009, o Ministério das Relações Exteriores sempre agiu levando em 
consideração as regras desse tratado internacional.6 
O objetivo da Convenção de Viena de 1969 é regular os tratados 
internacionais celebrados entre Estados. Atualmente, entretanto, 
considera-se plenamente possível que também existam tratados celebrados 
entre Estados e organizações internacionais ou entre organizações 
internacionais. A estes, não se aplica a Convenção de Viena de 1969, mas 
sim a Convenção de Viena de 1986, conhecida como “Convenção de Viena 
sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou 
entre Organizações Internacionais de 1986”. 
 
A Convenção de Viena de 1969 aplica-se aos tratados 
celebrados entre Estados. 
A Convenção de Viena de 1986 aplica-se aos tratados 
celebrados entre Estados e organizações internacionais 
ou entre organizações internacionais. 
																																																													
4 A regra “pacta sunt servanda” significa que os compromissos assumidos devem ser 
cumpridos. 
5 Os art. 31 e art. 32 da CV/69 se referem às regras de interpretação dos tratados 
internacionais. 
6
	MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010, pp. 151.	
 
6
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						22	de	86	
	
2 - Terminologia da Convenção de Viena de 1969: 
Logo em seu art. 2º, a Convenção de Viena de 1969 traz uma espécie de 
glossário, no qual são apresentadas as definições dos termos mais importantes 
do direito dos tratados. Vamos dar uma lida com calma no art. 2º? 
Artigo 2- Expressões Empregadas: 
1. Para os fins da presente Convenção: 
a) "tratado" significa um acordo internacional concluído por escrito 
entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um 
instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, 
qualquer que seja sua denominação específica; 
b) "ratificação", "aceitação", "aprovação" e "adesão" significam, 
conforme o caso, o ato internacional assim denominado pelo qual um 
Estado estabelece no plano internacional o seu consentimento em 
obrigar-se por um tratado; 
c) "plenos poderes" significa um documento expedido pela 
autoridade competente de um Estado e pelo qual são designadas uma 
ou várias pessoas para representar o Estado na negociação, adoção ou 
autenticação do texto de um tratado, para manifestar o consentimento 
do Estado em obrigar-se por um tratado ou para praticar qualquer 
outro ato relativo a um tratado; 
d) "reserva" significa uma declaração unilateral, qualquer que seja a 
sua redação ou denominação, feita por um Estado ao assinar, ratificar, 
aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de 
excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado 
em sua aplicação a esse Estado; 
e) "Estado negociador" significa um Estado que participou na 
elaboração e na adoção do texto do tratado; 
f) "Estado contratante" significa um Estado que consentiu em se 
obrigar pelo tratado, tenha ou não o tratado entrado em vigor; 
g) "parte" significa um Estado que consentiu em se obrigar pelo 
tratado e em relação ao qual este esteja em vigor; 
h) "terceiro Estado" significa um Estado que não é parte no tratado; 
i)"organização internacional" significa uma organização 
intergovernamental. 
É fundamental que você entenda bem cada um desses termos! Vamos, então, 
por partes: 
a) Tratado: A definição trazida pela CV/69 é bem parecida com a que nós já 
apresentamos previamente. Tratado internacional é um “acordo 
internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito 
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais 
instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica.” 
A única diferença entre esse conceito e o que apresentamos anteriormente é a 
de que o art. 2º da CV/69 não inclui as organizações internacionais como entes 
dotados de capacidade contratual. Isso decorre do fato de que a CV/69 
somente se aplica aos tratados celebrados entre Estados. A celebração 
de tratados pelas organizações internacionais, seja com Estados ou com outras 
 
9
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						23	de	86	
	
organizações internacionais, encontra previsão apenas na CV/86, diploma 
internacional que, apesar de não estar em vigor, já é plenamente aceito e 
aplicado na condição de costume internacional. 
É relevante mencionar que a Convenção de Viena de 1969 já reconhece, desde 
a sua celebração, a existência de acordos firmados entre Estados e outros 
sujeitos de direito internacional ou entre estes sujeitos de direito 
internacional. A estes acordos não se aplica a CV/69, o que, 
entretanto, não lhes retira a eficácia jurídica. 
b) Estado negociador x Estado contratante x Estado-parte: Para ficar 
bem clara a definição de cada um deles, vamos a um exemplo hipotético. Em 
1980, os Estados A, B, C, D e E sentaram à mesa de negociações para celebrar 
um tratado. Ao final do ano de 1985,os Estados A, B e C se vinculam 
definitivamente ao tratado. Em 1987, o tratado entrou em vigor internacional. 
Ora, nessa situação, fica fácil percebermos que os Estados A, B, C, D e E são 
Estados negociadores, uma vez que todos eles participaram da elaboração e 
adoção do texto do tratado, isto é, todos eles participaram da negociação do 
tratado. Por sua vez, apenas os Estados A, B e C se vincularam definitivamente 
ao texto do tratado. Esses três Estados serão chamados, portanto, Estados 
contratantes. Como o tratado entrou em vigor apenas em 1987, a partir 
dessa data, os Estados A, B e C tornar-se-ão também Estados-parte, não 
deixando de ser Estados contratantes. 
Recorde-se que os Estados-contratantes são aqueles que se vincularam 
definitivamente ao texto de um tratado, esteja ou não este em vigor. Já os 
Estados-parte são aqueles que consentiram em obrigar-se a um tratado e em 
relação aos quais este já esteja em vigor. 
c) Organização internacional: nas palavras da CV/69, organizações 
internacionais são organizações intergovernamentais. Destaque-se que os 
tratados constitutivos das organizações internacionais, por serem 
celebrados entre Estados, são regulados pela CV/69. Isso é o que se 
depreende a partir da leitura do art. 5º do referido diploma internacional: “A 
presente Convenção aplica-se a todo tratado que seja o instrumento 
constitutivo de uma organização internacional e a todo tratado adotado no 
âmbito de uma organização internacional, sem prejuízo de quaisquer normas 
relevantes da organização.” 
d) Ratificação x Aceitação x Adesão x Aprovação: Todos esses atos são 
manifestações definitivas do consentimento de um Estado em obrigar-se ao 
texto de um tratado. Vamos entender cada um deles! 
A ratificação é o ato unilateral de um Estado por meio do qual ele se 
compromete definitivamente, no plano internacional a vincular-se ao texto de 
um tratado. Para que um tratado seja ratificado, pressupõe que ele já deva ter 
sido objeto de consentimento provisório, isto é, tenha sido assinado 
anteriormente. 
 
7
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						24	de	86	
	
A adesão e a aceitação são sinônimos e se referem aos atos internacionais 
por meio dos quais um Estado que não participou das negociações, tampouco 
assinou o tratado, se vincula definitivamente a este. Quando um Estado adere 
a um tratado, não há que se falar em ratificação, uma vez que a adesão já 
representa o compromisso estatal definitivo. 
Para que fique mais claro o que significa a adesão, vale a pena ilustrarmos 
com um exemplo. Em 1992, foi celebrado por Brasil, Argentina, Uruguai e 
Paraguai o Tratado de Assunção, que estabeleceu o MERCOSUL. A Venezuela 
não participou das negociações do Tratado de Assunção, tampouco o assinou. 
Entretanto, o Tratado de Assunção está aberto ao ingresso dos demais 
membros da ALADI7, motivo pelo qual é possível a adesão da Venezuela ao 
Tratado de Assunção. 
Por último, aprovação é um termo que, na prática jurídica brasileira, se refere 
ao ato por meio do qual o Congresso Nacional autoriza que o Presidente da 
República proceda à ratificação de um tratado. Quanto a esse ponto, destaque-
se que, no Brasil, os tratados somente poderão ser ratificados após a 
aprovação do Congresso Nacional. 
A CV/69, ao fazer menção à aprovação, não estava, por óbvio, querendo se 
referir a um ato interno dos Parlamentos Nacionais. Ela queria sim referir-se a 
um ato internacional de comprometimento definitivo do Estado. Na prática 
jurídica brasileira, todavia, os termos adesão e ratificação já esgotam as 
formas pelas quais um Estado se manifesta definitivamente no plano 
internacional. Entretanto, devido ao grande número de países envolvidos na 
celebração da CV/69, cada um com um ordenamento jurídico, pareceu 
interessante aos negociadores inserirem também o termo “aprovação”. 
e) Reserva: Nas palavras de Rezek, as reservas são um qualificativo do 
consentimento.8 Consistem em declaração unilateral por meio da qual um 
Estado visa excluir ou modificar os efeitos jurídicos de certas disposições do 
tratado em sua aplicação a esse Estado. 
As reservas podem ser apresentadas em qualquer momento em que o 
Estado manifestar seu consentimento com o tratado (seja esse 
consentimento provisório ou definitivo), isto é, um Estado pode apresentar 
reservas no momento em que assinar, ratificar, aceitar, aprovar ou aderir 
a um tratado. 
Para que fique mais claro o significado de reserva, vamos a um exemplo! No 
ano de 2009, o Brasil ratificou a Convenção de Viena de 1969, mas, ao fazê-lo, 
apresentou reservas a dois de seus artigos. Ou seja, o Brasil irá aplicar a 
CV/69, mas não em sua totalidade: esses dois artigos serão desconsiderados 
pelo Brasil. 
																																																													
7 A ALADI é a Associação Latino-Americana de Integração, que se constitui no fórum 
de negociações mais importante da América Latina. 
8
	REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008, pp. 66. 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						25	de	86	
	
f) Plenos Poderes: A carta de plenos poderes é o documento por meio do 
qual um Estado outorga a uma pessoa a competência para representá-lo no 
plano internacional, com o fim de praticar qualquer ato relativo à celebração de 
um tratado. 
Cabe destacar que o art. 7º da CV/69 prevê que certos agentes estatais 
podem celebrar tratados independentemente da apresentação da carta 
de plenos poderes. São eles: 
- os Chefes de Estado e Chefes de Governo, para a realização de todos 
os atos relativos à conclusão de um tratado. 
- os Ministros das Relações Exteriores, para a realização de todos os atos 
relativos à conclusão de um tratado; 
- os Chefes de missão diplomática para a adoção do texto de um tratado 
entre o Estado acreditante e o Estado acreditado e; 
- os representantes acreditados pelos Estados perante uma conferência 
ou organização internacional ou um de seus órgãos, para a adoção do 
texto de um tratado em tal conferência, organização ou órgão. 
Assim, há pessoas que não precisam da carta de plenos poderes para 
atuar em nome do Estado. Por outro lado, qualquer pessoa que receba uma 
carta de plenos poderes poderá, por delegação, atuar em nome do Estado nos 
atos relativos à celebração de um tratado. 
A competência originária para celebrar tratados é definida pelo 
ordenamento jurídico interno de cada Estado. No Brasil, o art. 84, VIII, da 
CF/88, confere ao Presidente da República a competência privativa para 
celebrar tratados, convenções e atos internacionais, os quais estão sujeitos ao 
referendo do Congresso Nacional. 
 
3 – Requisitos de Validade dos Tratados Internacionais: 
Um tratado, para que tenha validade, deve possuir alguns requisitos, quais 
sejam: i) habilitação dos agentes signatários; ii) objeto lícito e possível; iii) 
capacidade das partes contratantes e; iv) consentimento livre. 
 
3.1- Habilitação dos agentes signatários: 
A pergunta que se faz aqui é a seguinte: quem tem competência para atuar 
em nome do Estado no plano internacional com o fim de praticar atos relativos 
à conclusão de um tratado? 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						26	de	86	
	
A resposta a essa pergunta não é tão complicada assim! 
A representação do Estado no plano internacional compete originariamente 
aos Chefes de Estado ou aos Chefes de Governo,dependendo do sistema 
político adotado pelo país. No Brasil, a CF/88 estabeleceu, em seu art. 84, 
inciso VIII, que compete privativamente ao Presidente da República “celebrar 
tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso 
Nacional”. 
A competência para representar o Estado no plano internacional pode, 
todavia, ser delegada. E, normalmente, é exatamente isso o que é feito, 
tendo em vista a impossibilidade de o Chefe de Estado estar presente nas 
inúmeras reuniões nas quais se celebram tratados. A prática tem revelado, 
inclusive, que é não é comum que um Chefe de Estado esteja pessoalmente 
presente quando da assinatura de um tratado. 
Assim, há outros agentes, além dos Chefes de Estado e Chefes de Governo que 
podem representar o Estado para os atos relativos à conclusão de um tratado. 
São os chamados plenipotenciários, assim chamados por serem detentores 
de “plenos poderes”. 
Nos termos da CV/69, a carta de plenos poderes é um “documento expedido 
pela autoridade competente de um Estado e pelo qual são designadas uma ou 
várias pessoas para representar o Estado na negociação, adoção ou 
autenticação do texto de um tratado, para manifestar o consentimento do 
Estado em obrigar-se por um tratado ou para praticar qualquer outro ato 
relativo a um tratado.” 
A partir desse conceito apresentado pela CV/69, podemos formular algumas 
questões. Um Governador de estado brasileiro pode assinar um tratado em 
nome da República Federativa do Brasil? E o Secretário da Receita Federal do 
Brasil? E um Analista de Comércio Exterior? 
A resposta é positiva. Qualquer indivíduo que detenha a carta de plenos 
poderes (até eu ou você! rs) poderá assinar um tratado em nome do 
Estado. Entretanto, existem alguns indivíduos cuja atuação no plano 
internacional independente da apresentação da carta de plenos poderes. A 
CV/69 relaciona, em seu art. 7º, os agentes que podem atuar em nome do 
Estado independentemente da apresentação de cartas de plenos poderes. 
Vejamos o que nos diz o referido dispositivo: 
Art. 7º- Plenos Poderes: 
1. Uma pessoa é considerada representante de um Estado para a 
adoção ou autenticação do texto de um tratado ou para expressar o 
consentimento do Estado em obrigar-se por um tratado se: 
a) apresentar plenos poderes apropriados; ou 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						27	de	86	
	
b) a prática dos Estados interessados ou outras circunstâncias 
indicarem que a intenção do Estado era considerar essa pessoa seu 
representante para esses fins e dispensar os plenos poderes. 
2. Em virtude de suas funções e independentemente da apresentação 
de plenos poderes, são considerados representantes do seu Estado: 
a) os Chefes de Estado, os Chefes de Governo e os Ministros das 
Relações Exteriores, para a realização de todos os atos relativos à 
conclusão de um tratado; 
b) os Chefes de missão diplomática, para a adoção do texto de 
um tratado entre o Estado acreditante e o Estado junto ao qual 
estão acreditados; 
c) os representantes acreditados pelos Estados perante uma 
conferência ou organização internacional ou um de seus 
órgãos, para a adoção do texto de um tratado em tal 
conferência, organização ou órgão. 
Interpretando o art. 7º da CV/69, verificamos que podem atuar em nome do 
Estado independentemente da apresentação de carta de plenos 
poderes: i) Chefe de Estado e Chefe de Governo; ii) Ministro das Relações 
Exteriores; iii) chefe de missão diplomática para a adoção do texto de um 
tratado entre o Estado acreditante e o Estado junto ao qual estão acreditados 
e; iv) representantes acreditados pelo Estado perante uma conferência ou 
organização internacional. 
O Chefe de Estado, Chefe de Governo e Ministro das Relações 
Exteriores podem praticar qualquer ato relativo à celebração do texto de um 
tratado. Já os chefes de missão diplomática e os representantes 
acreditados junto a uma conferência ou organização internacional 
podem apenas adotar o texto de um tratado. A adoção do texto de um 
tratado, conforme iremos nos aprofundar mais à frente, é o momento final das 
negociações, precedendo a assinatura. O texto adotado é a redação final do 
tratado. Será ele o objeto das assinaturas. 
É importante darmos uma explicação sobre a competência dos chefes de 
missão diplomática para atuar em nome do Estado. O chefe da missão 
diplomática é o embaixador, a autoridade máxima dentro da missão 
diplomática. O embaixador brasileiro na Argentina (Estado acreditado) pode 
adotar o texto de um tratado celebrado entre o Brasil e a Argentina, 
independentemente de carta de plenos poderes. No entanto, se o tratado 
celebrado for entre Brasil e Uruguai, o embaixador brasileiro na Argentina 
precisará de uma carta de plenos poderes para atuar em nome da República 
Federativa do Brasil. 
É possível também que alguns agentes, apesar de não portarem uma carta de 
plenos poderes e não estarem relacionados na lista do art. 7º, atuem em nome 
do Estado com o intuito de celebrar um tratado. É a isso que faz menção o art. 
7º, parágrafo 1º, da CV/69, ao estabelecer que uma pessoa é considerada 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						28	de	86	
	
representante do Estado se a “prática dos Estados interessados ou outras 
circunstâncias indicarem que a intenção do Estado era considerar essa pessoa 
seu representante para esses fins e dispensar os plenos poderes”. Ora, se a 
prática dos Estados indicar que o Estado tem a intenção de indicar uma 
determinada pessoa como seu representante, será dispensada a carta 
de plenos poderes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.2- Capacidade das partes contratantes: 
Os Estados e as organizações internacionais são os únicos entes dotados 
de competência para concluir tratados, ou seja, são entes que possuem 
capacidade convencional. Entretanto, o poder dos Estados para celebrar 
tratados é mais amplo do que o das organizações internacionais. 
Enquanto os Estados podem celebrar tratados sobre quaisquer assuntos, a 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						29	de	86	
	
capacidade convencional das organizações internacionais está materialmente 
limitada ao que prevê o seu acordo constitutivo9. 
A representação do Estado brasileiro no plano internacional compete à União, 
conforme previsto no art. 21, inciso I da CF/88: “Compete à União: i) manter 
relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais.” 
Assim, a União é o ente federativo responsável pela representação 
externa da República Federativa do Brasil. 
Questão interessante é analisar a capacidade convencional dos entes 
federativos. Em tese, é possível que os entes federativos concluam tratados. 
Entretanto, a prática internacional consagrada não é essa, sendo admissível 
apenas em alguns poucos Estados, como Alemanha e Suíça. 10 No Brasil, os 
Estados, Distrito Federal e Municípios não podem celebrar tratados 
internacionais. Entretanto, a esses entes é facultada a celebração de 
operações externas de natureza financeira, conforme previsto no art. 52, 
inciso V da CF/88. 
Essas operações externas de natureza financeira são, por exemplo, 
empréstimos obtidos junto ao BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e 
Desenvolvimento) e ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). 
Destaque-se que as operações externas de natureza financeira de interesse da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios estão sujeitas à 
autorizaçãodo Senado Federal. 11 
 
3.3 Objeto lícito e possível: 
Os tratados internacionais devem ter um objeto lícito e possível, isto é, seu 
conteúdo não pode violar normas jus cogens. Mas o que são normas jus 
cogens? 
O art. 53 da CV/69 esclarece o que são normas jus cogens, ao estabelecer que 
“... uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita 
e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um 
todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só 
pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da 
mesma natureza.” 
As normas jus cogens são normas que, pela sua importância, gozam de valor 
superior na ordem jurídica internacional, prevalecendo sobre as demais. 
Não se admite, portanto, sua derrogação, a não ser por norma de mesma 
natureza. Hoje em dia, por exemplo, não se admite de forma alguma que 
																																																													
9 Acordo constitutivo é o tratado que dá vida à organização internacional e estabelece 
sua organização, funcionamento e processo decisório. 
10
	PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009, pp. 94-96. 	
11 Conforme disposto no art. 52, inciso V, da CF/88. 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						30	de	86	
	
exista o tráfico de escravos ou mesmo a escravidão. A proibição da escravidão 
é, portanto, uma norma jus cogens. 
Quando estudamos as fontes de DIP, nós comentamos que não há hierarquia 
entre elas. Vocês estão lembrados? De fato, não há hierarquia entre as 
fontes de DIP, mas isso não quer dizer que não haja hierarquia entre 
normas. Com efeito, as normas jus cogens sempre irão prevalecer em caso de 
conflito com outra norma. Assim, um tratado que regulamente o tráfico de 
escravos, por conflitar com a norma jus cogens que proíbe a escravidão, será 
absolutamente nulo. 
Do ponto de vista meramente formal, um tratado poderia revogar o costume 
internacional que proíbe a escravidão. Entretanto, do ponto de vista 
material, um tratado jamais poderá contrariar uma norma jus cogens. 
E é essa análise do ponto de vista material que nos interessa nesse momento. 
As normas jus cogens, por serem absolutamente imperativas e inderrogáveis, 
não podem ser alteradas nem mesmo pela vontade dos Estados 
soberanos, uma vez que delas depende o bom funcionamento da sociedade 
internacional. 12 
A CV/69 reconheceu, por meio dos art. 53 e art. 64, a prevalência das 
normas jus cogens sobre as demais normas do ordenamento jurídico 
internacional. Vamos entender o que dizem esses dispositivos: 
Artigo 53 - Tratado em Conflito com uma Norma Imperativa de 
Direito Internacional Geral (jus cogens) 
É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com 
uma norma imperativa de Direito Internacional geral. Para os fins da 
presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional 
geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional 
dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação 
é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de Direito 
Internacional geral da mesma natureza. 
(...) 
Artigo 64 - Superveniência de uma Nova Norma Imperativa de 
Direito Internacional Geral (jus cogens) 
Se sobrevier uma nova norma imperativa de Direito Internacional 
geral, qualquer tratado existente que estiver em conflito com essa 
norma torna-se nulo e extingue-se. 
O art. 53 regula o conflito entre um tratado internacional e uma norma 
jus cogens que lhe seja anterior. Segundo o referido dispositivo, um 
tratado que, no momento de sua conclusão, conflitar com uma norma jus 
cogens, será nulo. Trata-se de hipótese de nulidade absoluta, ocorrida em 
																																																													
12
	MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010, pp. 134-138. 	
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						31	de	86	
	
virtude da ilicitude do objeto do tratado. Hoje, a proibição da escravidão é 
considerada uma norma jus cogens. Se for celebrado um tratado que 
regulamente o tráfico de escravos, este tratado será nulo de pleno direito 
desde o momento de sua conclusão. 
A arguição de nulidade de um tratado com fundamento na violação de norma 
jus cogens deve obedecer ao procedimento previsto no art. 65 da CV/69.13 
Uma vez submetida a questão à Corte Internacional de Justiça (CIJ), esta 
poderá declarar a nulidade do tratado. Destaque-se que a nulidade do 
tratado propagará efeitos retroativos (ex tunc), ou seja, o tratado será 
considerado nulo desde o momento de sua entrada em vigor. 
O art. 64, por sua vez, regula o conflito entre um tratado internacional e 
uma norma jus cogens que lhe é posterior (norma jus cogens 
superveniente). Nos termos desse dispositivo, caso sobrevenha uma norma jus 
cogens, qualquer tratado que estiver em conflito com essa norma, torna-se 
nulo e extingue-se. Entende a doutrina mais abalizada, todavia, que se trata 
de hipótese de extinção de tratado internacional e não de nulidade.14 Esse 
entendimento é o que prevalece em razão de serem distintos os efeitos da 
nulidade e da extinção, sendo incongruente, portanto, que o art. 64 se 
refira, simultaneamente, à extinção e à nulidade.15 Com efeito, a extinção de 
um tratado não retroage, é dizer, opera efeitos “ex nunc”. 
 
3.4- Consentimento Regular: 
O consentimento é o fundamento de validade dos tratados internacionais, o 
que foi expressamente reconhecido pelo art. 26 da CV/69, ao dispor que todo 
tratado em vigor obriga as partes e deve ser por elas cumprido de boa 
fé. Essa é a conhecida regra “pacta sunt servanda”, segundo a qual os 
compromissos assumidos devem ser honrados. 
Ora, se o consentimento estatal é o fundamento de validade dos tratados, este 
não poderá ser eivado de vícios, sob pena de o tratado ser considerado 
nulo. 
Mas quais seriam esses vícios do consentimento? 
Os vícios do consentimento ocorrem nas hipóteses definidas pela CV/69, quais 
sejam: erro, dolo, coação do Estado ou do representante do Estado e 
																																																													
13 Quando estudarmos as hipóteses de nulidade dos tratados, abordaremos o procedimento 
previsto no art. 65 da CV/69. 
14
	MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010, pp. 258-259.	
	
15 Fazendo um paralelo com o Direito Constitucional, essa é a mesma lógica que leva 
o STF a não ser aceitar a inconstitucionalidade superveniente. Para o STF, caso a nova 
Constituição seja materialmente incompatível com lei a ela anterior, opera-se a 
revogação (extinção) da referida lei. 
 
http://www.iceni.com/infix.htm
Direito	Constitucional	p/	Polícia	Civil-MA	(Delegado)	
Profª	Nádia	Carolina	/	Prof.	Ricardo Vale		 	
	
Prof.	Nádia	Carolina																								www.estrategiaconcursos.com.br																						32	de	86	
	
corrupção do representante do Estado. Perceba-se que, em todas essas 
situações, o consentimento do Estado não é livre, é dizer, não é um 
consentimento regular. 
 
4-Processualística dos Tratados: 
Para entender a processualística dos tratados, analisaremos o processo 
convencional sob a ótica brasileira. No Brasil, a celebração de um tratado 
envolve diversas fases, algumas internacionais e outras internas. São elas: i) 
negociações; ii) adoção do texto; iii) assinatura; iv) autorização pelo 
Congresso Nacional; v) ratificação; vi) publicação e promulgação. 
 
a) Negociações: 
É a fase inicial

Continue navegando