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almanaque Oswaldo Cruz

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Prévia do material em texto

ALMANAQUE H ISTÓR ICO
O Projeto Memória — uma parceria
entre a Fundação Banco do Brasil e a
Odebrecht — vem, desde 1997,
resgatando, difundindo e preservando a
história de fatos e personalidades que,
nas mais diversas áreas, tenham
contribuído para formar a identidade
cultural do país.
São iniciativas como exposições,
montadas em centenas de cidades;
edição de livros de arte e material
pedagógico, distribuídos em escolas,
bibliotecas e instituições culturais nos 26
estados brasileiros e no Distrito Federal;
produção de videodocumentários,
também exibidos em todo o país; e
edição de páginas na internet, que
reúnem todo o material pesquisado
sobre os personagens que já foram
tema do projeto: Castro Alves, Monteiro
Lobato, Rui Barbosa, Pedro Álvares
Cabral e Juscelino Kubitschek.
O Almanaque histórico “Oswaldo
Cruz — o médico do Brasil”, elaborado
com base em pesquisa rigorosa e
ilustrado com imagens de época, faz
parte da edição 2003 do Projeto
Memória, que homenageia o grande
cientista.
Além de garantir leitura prazerosa e
informativa para quem deseje conhecer
melhor a vida e o tempo de Oswaldo
Cruz, este almanaque é uma fonte de
pesquisa segura para estudantes e
professores, pois foi concebido para ser
usado em sala de aula. Com ele, será
distribuído um guia de orientação
destinado a professores da quinta à
oitava séries do ensino fundamental,
para enriquecer o trabalho pedagógico
nas cerca de 17 mil escolas públicas em
que vai circular.
Em 2003, o Projeto Memória conta
com a colaboração fundamental da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
entidade centenária que o sanitarista pôs
de pé, e à qual dedicou seus mais
generosos esforços.
ODEBRECHT FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL
Oswaldo Cruz está na memória da maio-
ria dos brasileiros como o grande médico e sa-
nitarista que enfrentou as epidemias da passa-
gem do século XIX para o século XX no Bra-
sil, momento crucial no processo de moderni-
zação do país. Poucos, no entanto, conhecem
seus reais feitos na área de saúde pública, os
embates políticos em que se engajou, as pres-
sões que recebeu da imprensa e da sociedade
de seu tempo.
Por querer implantar uma política séria de
saúde e saneamento para o Rio de Janeiro, to-
mando a capital federal como modelo para o
resto do país, Oswaldo
foi duramente ironiza-
do em charges, piadas
e críticas de todo tipo.
Enfrentou o Congresso
Nacional, os oposito-
res do regime republi-
cano e até mesmo a ira
do povo, que transbor-
dou tragicamente na
Revolta da Vacina, em
1904.
A princípio, as
“ações de guerra” que
empreendeu contra a
febre amarela, a peste
bubônica e a varíola
não foram compreen-
didas pela população.
Seu espírito de homem
da ciência, porém, fa-
lou mais alto. Mesmo com os grandes reveses
que enfrentou, Oswaldo Cruz conseguiu se tor-
nar “o médico do Brasil”, cuidando desse pa-
ciente com obstinada perseverança.
Percorreu o país em inéditas e custosas ex-
pedições sanitárias. Como um bandeirante da
modernidade, desvendou o Brasil sertanejo, tão
distante e desconhecido da numerosa e então
mais desenvolvida população da faixa litorânea.
Foi com base nesse trabalho que se iniciou
a desmistificação da idéia de que os proble-
mas do Brasil poderiam ser explicados pela
composição racial do povo, pelo clima quen-
te dos trópicos e até mesmo pela preguiça.
As conclusões tiradas do trabalho de Oswaldo
Cruz e sua equipe levaram os brasileiros a olhar
para o país com novos olhos. É nesse novo con-
texto que Monteiro Lobato, alguns anos mais
tarde, se sentirá obrigado a repensar uma de
suas criações mais conhecidas, o Jeca Tatu, cai-
pira indolente e ignorante que simbolizaria o
espírito do homem do interior. “Ele não é as-
sim porque é preguiçoso”, af irmará Lobato.
“Ele está assim porque está doente!”
O saldo do trabalho de Oswaldo e seus par-
ceiros também foi extremamente positivo para
o desenvolvimento da ciência. À frente de um
instituto precário, loca-
lizado na distante Fa-
zenda de Manguinhos,
nas imediações do Rio
de Janeiro, Oswaldo
Cruz transformou a es-
cassez em abundância.
Construiu um grande
castelo, com o que ha-
via de mais moderno
em termos de pesquisa
experimental, e deu à
ciência um merecido
templo, ainda hoje em
atividade. Contratou
grandes pesquisadores
brasileiros e estrangei-
ros, criou cursos de es-
pecialização e expan-
diu as fronteiras do co-
nhecimento.
Infelizmente, Oswaldo Cruz não viveria para
ver os desdobramentos de suas iniciativas.
Morreu cedo, aos 44 anos — mas deixou em
seu lugar uma legião de cientistas e intelec-
tuais que deram continuidade ao seu trabalho.
Neste almanaque, a vida do sanitarista pode
ser conhecida em detalhes, tanto do ponto de
vista científico como no plano pessoal. Pois
Oswaldo Cruz, além de se dedicar de maneira
irrestrita à ciência, o que lhe garantiria um
lugar especial na memória brasileira, fez de
sua vida uma extraordinária experiência hu-
mana, em que não faltaram afeto, coragem e
entusiasmo.
OSWALDO CRUZ
2
JANEIRO
01 Dia Mundial da Paz
11 Dia do Controle da Poluição
por Agrotóxicos
20 Dia do Farmacêutico
24 Dia da Constituição
FEVEREIRO
06 Dia do Agente de Defesa
Ambiental
11 Morte de Oswaldo Cruz (1917)
MARÇO
08 Dia Internacional da Mulher
19 Dia da Escola
20 Início do Outono
21 Dia Internacional Contra a
Discriminação Racial
22 Dia Internacional da Água
27 Dia da Inclusão Digital
ABRIL
08 Dia Mundial do Combate ao
Câncer
15 Dia da Conservação do Solo
18 Dia do Livro Infantil
19 Dia do Índio
21 Tiradentes
22 Dia do Descobrimento do
Brasil
Dia da Terra
24 Dia da Família na Escola
28 Dia da Educação
Efemérides da cidadania
OUTUBRO
01 Dia Internacional das Pessoas
da Terceira Idade
04 Dia da Natureza
12 Dia de Nossa Senhora
Aparecida (padroeira do Brasil)
Dia da Criança
15 Dia do Professor
18 Dia do Desarmamento Infantil
Dia do Médico
29 Dia do Livro
NOVEMBRO
02 Dia de Finados
14 Dia da Alfabetização
15 Proclamação da República
19 Dia da Bandeira Nacional
20 Dia Nacional da Consciência
Negra
30 Dia do Estatuto da Terra
DEZEMBRO
01 Dia Mundial da Luta Contra a
Aids
08 Dia da Justiça
09 Dia da Criança Defeituosa
10 Dia Universal dos Direitos
Humanos
21 Início do Verão
25 Natal
31 Dia da Esperança
MAIO
01 Dia do Trabalho
13 Dia da Abolição da Escravatura
05 Dia do Campo
12 Dia da Enfermagem
27 Dia da Mata Atlântica
31 Dia de Combate ao Fumo
JUNHO
04 Dia Mundial contra a Agressão
Infantil
05 Dia Mundial do Meio Ambiente
17 Dia Mundial da Luta Contra a
Desertificação
21 Início do Inverno
JULHO
01 Dia da Vacina BCG
02 Dia do Bombeiro
17 Dia da Proteção às Florestas
20 Dia Internacional da Amizade
AGOSTO
05 Dia da Saúde
Nascimento de Oswaldo Cruz
(1872)
22 Dia do Folclore
SETEMBRO
03 Dia do Biólogo
05 Dia da Amazônia
07 Dia da Independência do Brasil
21 Dia da Árvore
22 Início da Primavera
CARTA ENIGMÁTICA
– L
+p
– m
+f
– b
+c+eiro
n +
– r
– a
+í – le
Q A
A AE
E
– b– v+r
– da
– ia
+u
– c
– ão
+or
– e
+ i
– l
+ f
– co – f
+n
– c
Respostas na p.60
– de – bo
O MÉDICO DO BRASIL
3
Sumário
Louros e glórias
40
Uma luta perdida
42
O senhor do castelo
44
Tempo de formação
4
Encontro com a cidade-luz
8
Uma grande parceria
12
O Rio no tempo de
Oswaldo Cruz
14
Saneamento:
palavra de ordem
18
Guerra aos mosquitos
20
Caça aos ratos
24
Em busca da
saúde dos portos
28
Abaixo a vacina obrigatória
30
A Revolta da Vacina
32
Página literária
36
Últimas ações
50
O legado de Oswaldo Cruz
52
O novo Rio
38
Caricaturas
54
Cronologia
58
OSWALDO CRUZ
4
Tempo de formação
Certo dia, o menino Oswaldo foi retirado
da aula e enviado às pressas para casa. Lá
chegando, encontrou o pai à sua espera: tinha
esquecido de arrumar a cama antes de sair.
Nasce Oswaldo
Gonçalves Cruz
Era 5 de agosto de 1872
quando dona Amália Taborda
Bulhões deu à luz seu primei-
ro f ilho, Oswaldo, em São
Luís do Paraitinga, pequena
O jovem médico
Morando no bairro da Gá-
vea, Oswaldo entrou na esco-
la aos cinco anos, já alfabeti-
zado pela mãe. Aos catorze,
ingressou na Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro.Formou-se médico aos vinte,
horas antes da morte do pai,
a quem dedicou sua tese de
doutorado, “A veiculação mi-
crobiana pelas águas”. Nesse
trabalho, Oswaldo já mostra
interesse especial pela micro-
biologia, ramo da biologia que
estuda os microrganismos.
Aquela nova ciência ganhava
importância graças aos estu-
dos feitos pelo francês Louis
Pasteur.
cidade na Serra do Mar pau-
lista. O pai, Bento Gonçalves
Cruz, começava a carreira de
médico. O casal se mudara da
cidade imperial do Rio de Ja-
neiro para o interior de São
Paulo em busca de uma boa
clientela para o dr. Bento.
Desde a segunda metade do
século XIX, os agricultores de
São Luís do Paraitinga, em
vez de plantar o café que do-
minava as terras da região,
cultivavam feijão, milho e
mandioca. O “celeiro do Vale
do Paraíba” tornara-se um im-
portante centro agrícola e já
abrigava uma das primeiras
fábricas de tecidos do Brasil.
O dr. Bento estabeleceu-se
como médico de prestígio na
cidade, guardou um bom di-
nheiro e cinco anos depois
voltou para o Rio de Janeiro,
com dona Amália e o garoto
Oswaldo.
Oswaldo Cruz aos doze anos
de idade
Oswaldo Cruz aos vinte anos
Respostas na p.60
PROBLEMA DE LÓGICA
Um marinheiro, cujo navio afundou, viu-se só em uma ilha, com febre altíssima. Do naufrágio
sobraram duas garrafas de remédio. Uma delas estava cheia até 3/4 do total, e a outra, vazia.
As instruções de como tomar o remédio prescreviam uma dose de metade da garrafa, nem
mais, nem menos. Como ele conseguiu resolver o problema?
O MÉDICO DO BRASIL
5
Casa onde nasceu Oswaldo Cruz, em São Luís
do Paraitinga
Bento Gonçalves Cruz
O pai de Oswaldo Cruz nasceu no
 Rio de
Janeiro, filho de um comerciante 
que
morreu prematuramente. Bento e
 sua irmã
foram criados por um tio, que log
o perdeu
a herança deixada pelo irmão. M
esmo com
dificuldades, Bento entrou para a 
Faculdade
de Medicina. Após uma interrupç
ão nos
estudos, para lutar como voluntá
rio na
Guerra do Paraguai, formou-se m
édico e
foi morar no interior de São Paulo
, como
faziam muitos recém-formados. C
asou-se
com sua prima-irmã Amália e tev
e seis
filhos. Cinco anos depois, voltou 
a morar
no Rio de Janeiro com a família e
 instalou
consultório em casa, na Gávea, en
tão um
bairro afastado do centro. Cultivo
u
numerosa clientela, formada
principalmente por operários das
 fábricas
instaladas na região, como a Teci
dos
Corcovado, onde trabalhava no
ambulatório.
Em 1886, dom Pedro II o nomeo
u
membro da Junta Central de Higie
ne Pública.
Quatro anos depois, já na Repúbl
ica,
tornou-se inspetor-geral de Saúde
 Pública.
Ocupou esse cargo por apenas oi
to meses:
uma grave doença renal o matari
a em
8 de novembro de 1892, exatam
ente no
dia da formatura do filho Oswald
o.
Museu Histórico-Pedagógico
Oswaldo Cruz
Construída em taipa de pilão e pau-a-pique, a
casa onde Oswaldo Cruz nasceu e passou parte
da infância foi transformada em museu e centro
cultural, reunindo a biblioteca municipal, salas
para exposições e um auditório. No acervo, há
uma coleção de fotografias antigas de São Luís
do Paraitinga, porcelanas e objetos de arte sacra,
além de algumas pinturas.
São Luís do Paraitinga
Fundada em 1769, São Luís do Paraitinga deve
seu nome ao padroeiro da localidade, São Luís, e
ao rio Paraitinga, em cujas margens havia um en-
treposto comercial utilizado pelos bandeirantes.
Seus habitantes – cerca de 10 mil – orgulham-
se da cultura caipira e das festas tradicionais que
acontecem na região. A mais famosa é a do Divi-
no, comemorada no dia de Pentecostes (cinqüenta
dias depois da Páscoa), quando se apresentam gru-
pos de danças folclóricas como moçambique, jon-
go e congada, além de procissões, rezas e missas.
No centro histórico, antigos casarões compõem
um dos maiores conjuntos arquitetônicos dos sé-
culos XVIII e XIX do estado de São Paulo. Lá
encontra-se preservada e transformada em mu-
seu a casa em que nasceu Oswaldo Cruz.
QUEM FOI?
“O único progresso verdadeiro
é o progresso moral.
O resto é simplesmente ter mais
ou menos bens.”
José Saramago, escritor português
OSWALDO CRUZ
6
Conta Gastão Pereira da
Silva, no livro Romance de
Oswaldo Cruz:
“Um dia o dr. Bento surpreendeu
Oswaldo fumando. Fez-lhe ver,
delicadamente (pois usava sempre
boas maneiras) que o fumo era prejudicial
à saúde. Narrou, em cores vivas, todos
os prejuízos do vício. Oswaldo ouviu-o
calado. Olhos baixos. Terminada a
advertência, disse-lhe a meia-voz o
menino:
— Mas se é assim, por que o senhor
fuma?
O argumento seria decisivo se o dr.
Bento continuasse a fumar. Entretanto,
nunca mais fumou. Nem Oswaldo!”
Quando Oswaldo Cruz
freqüentou a escola...
� Os colégios secundários eram cursos
preparatórios para o ensino superior, para
que os filhos da classe dominante entrassem
na categoria dos “homens cultos”.
� Havia 250 mil estudantes para uma
população de 14 milhões de habitantes (censo
de 1888), o que correspondia a menos de
2% do total da população brasileira.
� Não havia freqüência mínima. Os alunos
podiam se inscrever em disciplinas, e não
em séries.
� Naquela época, os pais que não enviassem
seus filhos à escola pagavam multa de 20 mil
a 100 mil réis. Na legislação federal, porém,
a instrução primária era livre, gratuita e
laica, mas não obrigatória. A obrigatoriedade
só aconteceu a partir de 1930.
� A palmatória já era proibida, mas, na
prática, esse castigo ainda foi usado até o
início do século XX.
� As escolas primárias eram chamadas de
“escolas de primeiras letras”.
� A educação já era laica, isto é, o ensino
religioso não era mais praticado nas escolas
públicas.
Crendices populares do
início do século XX
Se o galo cantar quando for para o
poleiro, é porque algo ruim vai acontecer
à família.
Para evitar mordida de cachorro, virar
a roupa pelo avesso quando o
cachorro está se aproximando.
Para prevenir infecções, cortar o umbigo
ou cordão umbilical do recém-nascido
com uma tesoura virgem e enterrá-lo,
imediatamente, debaixo de uma moita,
onde ninguém passe.
Não se põe galinha para chocar na
época das chuvas, pois os ovos
poderão gorar.
Para evitar que os ovos gorem quando
há trovoada, colocar três pedaços de
carvão no ninho da galinha ou fazer três
cruzes, com carvão, sobre cada ovo.
Entre dois garotos:
— Estou indignado! A cada dose de óleo de
rícino que tomo, minha mãe coloca uma moeda
em meu cofre!
— E isso te dá raiva?
— Claro! Quando o cofre está cheio ela tira o
dinheiro e compra outra garrafa de óleo de rícino.
�
— Mamãe, por que é que o papai é careca?
— Ora, filhinho... Porque ele tem muitas
coisas para pensar e é muito inteligente!
— Então, por que é que você tem tanto cabelo?
— Cale a boca e tome a sopa, menino.
Anedotas
O MÉDICO DO BRASIL
7
Oswaldo e Emília
Dois meses depois de for-
mado, Oswaldo Cruz casou-
se com Emília da Fonseca, a
Miloca, com quem viveria até
morrer, em 1917. Ela era fi-
lha do comendador Manoel
José da Fonseca, um abastado
comerciante português que te-
ria papel fundamental na car-
reira do genro. Oswaldo e Mi-
loca tiveram seis filhos: Elisa,
Bento, Hercília, Oswaldo,
Zahra e Walter.
Todos eles (menos o quar-
to, que já tinha o nome do
pai), receberam o sobrenome
Oswaldo Cruz. A prática se
estende a toda a descendência
do sanitarista, desdobrada
hoje em treze netos e nume-
rosos bisnetos e trinetos.
Os três filhos homens se-
guirão os passos do pai, for-
mando-se em medicina. Dois
deles trabalharão na Fundação
Oswaldo Cruz, a Fiocruz —
que, como adiante se verá, foi
o grande legado do cientista.
Oswaldo Filho será diretor da
casa entre 1970 e 1972. O ca-
çula, Walter, fará renome na
comunidade científica inter-
nacional. Bento, o mais velho,
não exercerá a profissão.
Emília da Fonseca Cruz
Mulher inteligente e espirituosa, avançada para o seu
tempo, Emília gostava de vestir-se bem, de passear e de
apostar nas corridas do Jockey Club do Rio de Janeiro.
Andava de tílburi, carro com dois assentos puxado por um
cavalo — a mesma condução que tomava para ir buscar o
marido no centroda cidade. No caminho de volta, enchia de
beijos e abraços o tímido Oswaldo.
Sem ser exatamente uma virtuose, Miloca tocava piano.
Pour Élise, de Beethoven, era uma de suas peças prediletas.
Miloca viveu por quase oitenta anos.
Minha querida Miloca
Venho de joelhos pedir-te
 perdão pela irreparável f
alta de
não te ir visitar hoje; acr
edita, anjo meu, que é po
r força
maior, porque além de eu
 estar muito resfriado, co
m dores de
cabeça e de dentes (o que
, aliás, não me impediria 
de passar
um dia sem ver-te), acres
ce o estares só, em casa; 
e parece-
me que concordarás com
igo que a minha visita ho
je seria
muito inconveniente. Esp
ero, meu bem, que serei 
perdoado.
Manda-me dizer como te
ns passado e se vais ama
nhã à
cidade.
Fizeste muito bem em qu
ereres descer hoje porque
 o
burro está aqui.
Do teu, para sempre, Oswaldo
12/7/1889
Oswaldo Cruz manteve o hábito de
escrever cartas à esposa Miloca. Muitas
delas serviram aos historiadores como
documento de seus feitos em saúde e pesquisa. Entre elas,
porém, encontram-se exemplos de uma terna relação de
amor, como nesta, que ele, aos dezessete anos, escreve à
sua ainda noiva:
Emília da Fonseca
com os filhos Ercília,
Walter e Elisa
(sentados), Bento e
Oswaldo (em pé)
“Pensar é mais
interessante do que
saber, mas não mais do
que olhar.”
 Johann Wolfgang von Goethe,
escritor alemão
OSWALDO CRUZ
8
Oswaldo Cruz
em Paris
Com o apoio financeiro do
sogro, em 1897 Oswaldo Cruz
mudou-se para Paris com a fa-
mília. Seu objetivo era aper-
feiçoar-se em microbiologia
no Instituto Pasteur. Naquele
momento, cresciam as desco-
bertas sobre doenças patogê-
nicas (transmitidas por mi-
crorganismos) e sorologia (o
estudo de tratamento de doen-
ças com anticorpos obtidos no
sangue de animais).
Em Paris, aproveitou para
especializar-se em urologia,
área cada vez mais importante
devido ao aumento das doen-
ças venéreas, e estudar medi-
cina legal.
Encontro com a cidade-luz
Apaixonado por
lentes
Paris também apresentou a
Oswaldo um outro tipo de la-
boratório: o de fotografia. A
descoberta se tornaria uma
grande paixão em sua vida.
Seduzido pela possibilidade
de registrar em imagens tudo
o que estava vivendo, Oswal-
do Cruz comprou uma câme-
ra capaz de fazer fotos este-
reoscópicas. Vistas através de
um visor especial, elas davam
o efeito de três dimensões.
Surgiu então um entusias-
mado fotógrafo amador, que
registraria fatos importantes de
sua atividade científica e da
vida familiar. Anos mais tarde,
em casa, no Rio de Janeiro,
montaria um pequeno labora-
tório fotográfico.
Ao saber
que um jovem
médico brasileiro
estava inscrito
como aluno, o
diretor do Instituto Pasteur,
Émile Roux, o presenteou
com uma bolsa de
estudos. Era uma forma
de homenagear o Brasil
e seu antigo imperador,
dom Pedro II, que fizera
doações e patrocinara
estudos no instituto.
Oswaldo Cruz no Instituto
Pasteur
No destaque, Oswaldo Cruz com
sua turma do Instituto Pasteur
Ao voltar ao Brasil, em 1899,
trouxe na bagagem, além da ex-
periência da modernidade eu-
ropéia, o conhecimento de mi-
crobiologia que será fundamen-
tal em sua atuação nas áreas de
saúde e saneamento.
Entre pipetas e
provetas
Em Paris, Oswaldo Cruz im-
pressionou-se com os labora-
tórios do Instituto Pasteur, mui-
to diferentes dos que havia no
Rio de Janeiro. Estagiou em
uma fábrica de vidros para la-
boratório, para conhecer a téc-
nica de vidraria e trazê-la ao
Brasil. Aprendeu a confeccio-
nar ampolas, provetas, pipetas
e outros instrumentos afins.
Anos depois, fabricaria as pri-
meiras ampolas brasileiras,
além de ensinar a técnica aos
funcionários do Instituto Soro-
terápico Federal, no Rio de Ja-
neiro, que viria a dirigir.
O MÉDICO DO BRASIL
9
Pasteurização
Processo químico simples, para eliminar
micróbios nocivos de bebidas, que consiste
em elevar sua temperatura a um nível não
muito alto (57oC para vinho e cerveja e 63oC
para leite) por alguns minutos e resfriá-los
rapidamente, sem alterar o gosto.
Dicas para
fazer uma boa foto
Segure a câmara com firmeza
Aproxime-se do assunto a ser fotografado
Escolha um fundo neutro e simples
Cuide para que a luz do sol não incida
diretamente sobre a lente
Componha um cenário
Procure um ângulo interessante
“Capture” sentimentos
O microscópio é um dos instrumentos
mais importantes da história da medicina.
Ele revolucionou o estudo das doenças
contagiosas e permitiu os estudos em mi-
crobiologia, histologia e patologia.
A invenção do microscópio composto, que utiliza
diversas lentes, é controvertida. A maioria dos historia-
dores acredita que o instrumento foi inventado na Ho-
landa, em 1590, pelo fabricante de óculos Zacarias Jan-
sen. Outros dão o crédito a Antonie van Leeuwenhoek,
o cientista holandês que difundiu seu uso no século
XVII. Ao longo do tempo, a tecnologia dos micros-
cópios avançou muito. Os modernos microscópios ele-
trônicos ampliam um microrganismo até 1 milhão de
vezes, enquanto um microscópio óptico convencio-
nal consegue aumentá-lo apenas 2 mil vezes.
O hábito de andar com uma
enorme pasta, onde carregava
sua máquina fotográfica, fez com
que os alunos de Oswaldo Cruz lhe
dessem o apelido de “Dr. Fotógrafo”.
Louis Pasteur
(1822-1895)
Cientista francês, estudou física e
química, fez pesquisas na área d
e
cristalografia e tornou-se célebre
 por suas
descobertas no mundo dos micro
rganismos.
Elaborou o processo que ficaria c
onhecido
como pasteurização, que elimina
microrganismos que contaminam
 alimentos
e bebidas. A pasteurização causo
u uma
revolução na indústria da alimen
tação.
Seu maior feito, porém, foi a ela
boração
de vacinas contra raiva para cães
 e seres
humanos (vacina anti-rábica). A 
grande
repercussão levou à criação, em 
1888, do
Instituto Pasteur, em Paris, dedica
do à
produção de vacinas em grande e
scala. Louis
Pasteur foi seu primeiro diretor. O
 instituto
logo se transformaria num dos m
ais
importantes centros de pesquisa d
o mundo.
QUEM FOI?
� O imperador Pedro II foi um grande amante de
fotografia. Sua coleção é um dos maiores acervos
de fotos do século XIX, e está preservada na
Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
� A máquina fotográfica é uma invenção francesa.
Nicéphore Niepce (1765-1833) foi o primeiro a
fixar uma imagem em um filme
rudimentar. Seu sócio, o
pintor Louis Jacques Mandé
Daguerre (1787-1851),
desenvolveu a primeira câmera
fotográfica e deu nome a
uma técnica primitiva de
fotografia: o daguerreótipo.
OSWALDO CRUZ
10
Na época em que Oswaldo Cruz viveu em Paris — final do século XIX —, a França
já ditava a moda para mulheres e homens em todo o Ocidente. E a indústria
francesa de perfumes já era a mais avançada do mundo. Veja como passeavam as
belas moçoilas e os elegantes homens franceses naqueles tempos:
A moda em Paris
E aqui no
Brasil?
Como a moda vinha de Pa-
ris, por incrível que pareça as
mulheres e os homens da so-
ciedade usavam esses mesmos
modelitos. A diferença é que,
no Brasil, o clima tropical tor-
nava essas peças extremamen-
te inadequadas em cidades
como Rio de Janeiro ou Salva-
dor, por exemplo.
Dama — Enfeitada com
rendas, sedas e babados, para
deixar suaves os contornos da
roupa. Usa espartilhos e ligas.
Nos trajes de passeio, os qua-
dris ganham enfeites drapea-
dos de curvas fechadas e a
maioria leva chapéus e som-
brinhas.
Cavalheiro — Veste ternos
pesados e sóbrios, sempre
acompanhados de chapéu e
bengala; cuida especialmente
da costeleta, da barba e do bi-
gode. Para dormir, não dispen-
sa o camisolão e a “máscara
de bigodes”, para torná-los
apontados e elegantes.
Qual a origem da
“água-de-colônia”?
Conta-se que na Guerra dos Sete Anos, entre
França e Grã Bretanha (1756 a 1763),
durante a ocupação da cidade alemã de
Colônia pela França, alguns oficiais franceses
compravam uma água de cheiro agradável,
tipo loção, e mandavam para as parisienses.
Em Paris, o líquido foi batizado “eau de
Cologne” (água de Colônia).
Interior de loja de tecidos, Rio de
Janeiro, início do século XXIC
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O baralho foi criado no século XVI pelo
francês Grinconneur. As cartas eram pintadas
à mão. Copas (�) simbolizava o clero;
espadas (�), a nobreza; paus (�), o povo; e
ouros (�), o comércio.
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O MÉDICO DO BRASIL
11
Conta-se, na França, que Napoleão, durante
uma viagem para o Sul com seus exércitos,
decidiu pernoitar numa pequena hospedaria da
cidade de Bessières. Para o jantar, o dono
preparou uma deliciosa omelete, que deixou o
imperador extasiado! Napoleão não teve dúvidas:
no dia seguinte, ordenou aos moradores que
juntassem todos os ovos da cidade e preparassem
uma grande omelete para seus soldados!
Paris e seus sabores
Em Paris, Oswaldo Cruz pôde conhecer a
culinária francesa, diferenciada por seus mo-
lhos, suas misturas de pratos doces e salgados
e a cremosidade das mousses e cremes. A in-
fluência da cozinha francesa no Brasil se es-
tende até os dias de hoje.
A Belle Époque teve início por volta de 1880,
estendendo-se até a Primeira Guerra Mundial, na
Europa, e até meados da década de 20, no Brasil.
Foi um período de intenso progresso material, sob
a égide da ciência e da evolução tecnológica.
Inovações revolucionaram de forma abrupta o
modo de ser do cidadão burguês, provocando um
clima de euforia e de confiança nos avanços
empreendidos pelo homem e nos benefícios que
proporcionavam. A emergente burguesia industrial
e a classe média gozavam de todos os prazeres
materiais que a vida poderia lhes oferecer. A Belle
Époque foi um período de intensa atividade
artística, principalmente em Paris e em Viena.
A pintura era marcada pelo predomínio da figura
humana. Em um clima leve, descontraído e de
exaltação à vida, pintavam-se cenas agradáveis,
mulheres e crianças belas exprimindo felicidade.
Abusava-se das cores e dos brilhos.
Encontre no caça-palavras algumas expressões
de origem francesa que fazem parte da nossa
linguagem culinária: mousse, chantili, brioche,
omelete, crepe, vinagrete, filé mignon, quiche,
pavê, glacê, croissant, ovo pochê, cassoulet,
patê, consomê, molho rosé.
M C T M O L H O R O S E A Q
A C O N S O M E H C N P E U
Z A N T O V O P O C H E V I
 I S O E G B U L N R E R I C
J S N T N A S S I O R C N H
T O G E H N S R R I P L A E
N U I L J S E V A P R I G O
N L M E A S T E H C O I R B
C E E M A I C M T C H R E N
A T L O C A L R O A S S T V
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CAÇA-PALAVRAS
Respostas na p.60
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UMA RECEITA FRANCESA
Omelete com tomate
à provençal
Ingredientes:
4 colheres (sopa) de manteiga
2 colheres (sopa) de óleo
1 colher (sopa) de salsa picada
6 ovos
4 tomates maduros, sem as
sementes, picados grosseiramente
2 rodelas de cebola picadas
1 dente de alho picado
sal e pimenta-do-reino a gosto
Modo de preparo
Aqueça o óleo e junte todos os ingredientes,
exceto os ovos e a manteiga, e refogue até que os
tomates estejam macios. Reserve. Numa tigela,
bata os ovos, tempere com sal e pimenta.
Numa frigideira, derreta duas colheres (sopa)
de manteiga e despeje metade da mistura de ovos.
Incline a frigideira de um lado para outro para
distribuir a massa uniformemente.
Levante as bordas com um garfo e tire do fogo
quando a omelete ficar cremosa. Ponha num
prato, recheie com metade do refogado de tomate
e dobre-a ao meio. Repita o procedimento com o
restante dos ingredientes.
Rendimento
três porções
Uma grande parceria
A peste aporta em
Santos
Em 1899, ano em que Os-
waldo Cruz retornou de Paris,
houve uma grande mortanda-
de de ratos no porto de San-
tos, litoral paulista, logo após
a chegada de um vapor da ci-
dade portuguesa do Porto. Vi-
tal Brazil e Adolfo Lutz, pes-
quisadores do Instituto Bacte-
riológico do Estado de São
Paulo, diagnosticaram: peste
bubônica. A cidade foi posta
em quarentena e, a pedido do
governo federal, Oswaldo via-
jou a Santos. Cinco dias mais
tarde, telegrafava ao ministro
da Justiça, Epitácio Pessoa:
“Os critérios clínico, epide-
miológico e bacteriológico
permitem afirmar categorica-
mente ser a peste bubônica a
moléstia reinante”.
Nascia uma importante par-
ceria científica — e uma ami-
zade duradoura — entre
Oswaldo Cruz, Vital Brazil e
Adolfo Lutz. Os três troca-
riam longa correspondência
sobre questões de saúde públi-
ca e pesquisas, além de co-
mentários pessoais. No futu-
ro, trabalhariam juntos em vá-
rios projetos científicos.
O soro à la
brésilienne
O soro contra a peste era
fabricado apenas na França,
pelo Instituto Pasteur, cuja
produção era insuf iciente
para a demanda mundial.
Para produzir o soro no Bra-
sil, o governo criou o Institu-
to Soroterápico Federal, no
Rio de Janeiro, sob a direção
do barão de Pedro Affonso.
Instalado na Fazenda de Man-
guinhos, o instituto ficaria po-
pularmente conhecido como
“Instituto de Manguinhos”. A
direção técnica foi entregue a
Oswaldo Cruz.
Era o início do
que viria a ser
um dos maiores
centros brasi-
leiros de pes-
quisa, ensino e
produção de va-
cinas e medica-
mentos: a atual
Fundação Os-
waldo Cruz (Fio-
cruz).
O governo de
São Paulo tam-
bém começou a
produzir soro an-
tipestoso no la-
boratório do Ins-
tituto Bacterioló-
gico, dirigido por
Vital Brazil. Em
1901, o laborató-
rio ganharia auto-
nomia, rebatizado
Instituto Soroterá-
pico do Estado de
São Paulo — que
daria origem ao
Instituto Butantan.
Barco equipado com aparelho
Clayton espalha fumaça contra
mosquitos no porto de Santos,
por volta de 1905
QUEM FOI?
OSWALDO CRUZ
12
Adolfo Lutz
(1855-1940)
Nascido no Rio de Janeiro, cursou
medicina na Suíça, onde foi mora
r ainda
pequeno. Estudou e trabalhou em
 diversos
países, como a Alemanha, onde f
ez
pesquisas sobre o bacilo de Hans
en,
transmissor da hanseníase (lepra)
, e os
Estados Unidos, onde dirigiu um 
hospital
no Havaí durante três anos.
No Brasil, participou, em 1892, da
 criação
do Instituto Bacteriológico do Est
ado de
São Paulo, tornando-se seu direto
r no ano
seguinte. Convidado por Oswaldo
 Cruz
para chefiar um dos setores do In
stituto de
Manguinhos, lá permaneceu por 
32 anos.
Após sua morte, em 6 de outubr
o de
1940, o Instituto Bacteriológico d
o Estado
de São Paulo foi rebatizado Instit
uto
Adolfo Lutz, que até hoje é um d
os centros
de pesquisa mais importantes do
 país.
Vital Brazil Mineiro
da Campanha
(1865-1950)
Nascido no município de Campan
ha,
em Minas Gerais, fez os estudos
preparatórios em São Paulo e curs
ou a
Faculdade de Medicina do Rio de 
Janeiro.
No Instituto Bacteriológico de São
Paulo, atual Instituto Adolfo Lutz
,
pesquisou os soros antiofídicos e
 fez os
primeiros experimentos com vene
no de
serpentes. Ajudou a criar o Institu
to
Soroterápico de São Paulo, que p
roduziria
diversas vacinas e soros. Começou
 suas
pesquisas na Fazenda Butantan (o
nde
hoje funciona o Instituto Butanta
n),
desenvolvendo técnicas de imuni
zação de
cavalos para fazer a vacina contra
 a peste,
e produziu as primeiras ampolas 
de soro
contra veneno de jararaca e casca
vel.
Criou um centro de pesquisas bio
lógicas
em Niterói (RJ), o futuro Instituto
 Vital
Brazil. Era diretor desse instituto 
quando
morreu, em 1950.
Em 1915, Vital Brazil já era bastante
conhecido no mundo científico por seu
trabalho no Instituto Butantan.
Durante uma viagem a Nova York,
foi chamado a socorrer um empregado
do Jardim Zoológico do Bronx Park,
que havia sido picado por uma
cobra “prima” da cascavel, a Crotalus
atrox, e já passara por vários
tratamentos, sem resultado.
Com o soro antiofídico, Vital Brazil o
salvou da morte.
Instalações do Instituto Soroterápico Federal,
em 1903
No primeiro plano, dois jovens cientistas do
Instituto Soroterápico: Henrique da Rocha Lima
(à esquerda) e Ezequiel Dias
QUEM FOI?
Da força: dobrar a esquina.
Da rapidez: fechar a gaveta, trancar e jogar
a chave dentro.
Da velocidade: dar a volta na mesa e
pegar a si mesmo.
Darevolta: morar sozinho e fugir de casa.
Da sorte: ser atropelado por uma
ambulância.
Do azar: ser atropelado por um carro
funerário.
Da lerdeza: cuidar de quatro tartarugas e
deixar uma delas escapar.
Da magreza: deitar na agulha e se cobrir
com a linha.
Cúmulos
O MÉDICO DO BRASIL
13
OSWALDO CRUZ
14
O Rio no tempo de Oswaldo Cruz
O caos urbano
Com o fim da monarquia,
em 1889, o país entrou numa
fase de mudanças. A maioria
da população ainda se concen-
trava no campo, uma vez que
a agricultura dominava a eco-
nomia brasileira; entretanto, a
abolição da escravatura e uma
indústria nascente ajudavam a
acelerar a urbanização caóti-
ca das cidades.
A capital federal sofreu de
forma acentuada as conseqüên-
cias dessa desorganização ur-
bana, pois recebia trabalhado-
res braçais sem instrução nem
qualificação profissional, na
maioria negros e mulatos mar-
ginalizados pelo preconceito
racial e social.
Nos primeiros anos do sé-
culo XX, a cidade era conhe-
cida como “túmulo dos es-
trangeiros”. Navios de outras
esse comércio intenso, alguns
quiosques de madeira e zinco
ajudavam a compor a paisa-
gem caótica. O jogo do bicho
e o bilhete da loteria eram ven-
da certa.
Na zona portuária, um ou-
tro tipo de atividade aconte-
cia: aquele era o reduto dos
malandros, dos marinheiros,
das prostitutas, videntes e ci-
ganas. Casas de ópio escondi-
am-se no beco do Ferreiro.
O comércio dos
abastados
Nas ruas do centro, o bur-
burinho vinha do comércio da
aristocracia. Lojas, confeita-
rias, cafés e prédios de escri-
tórios eram freqüentados por
elegantes cavalheiros que, nos
finais de tarde, reuniam-se nas
calçadas. Lá ficavam à espe-
ra das senhoritas que voltavam
das compras, com suas blusas
rendadas, saias compridas e
armadas, ostentando cinturas
afinadas por espartilhos. Elas
usavam graciosos chapeuzi-
nhos que lhes enfeitavam o
rosto, na esperança de com-
pensar, acreditavam, a falta da
maquiagem tão usada pelas
francesas, aqui considerada
pecado. Afinal, Nossa Senho-
ra não se pintava! Ignorando
os gracejos dos rapazes, en-
travam em suas charretes para
voltar às mansões dos bairros
de Botafogo e Laranjeiras.
bandeiras evitavam atracar no
porto do Rio, temendo a morte
de seus tripulantes por febre
amarela, peste bubônica, varío-
la, malária ou outras doenças.
Um cenário de
contrastes
Emoldurado por uma natu-
reza exuberante, o Rio de Ja-
neiro era, no entanto, uma ci-
dade suja e maltratada. A po-
pulação convivia com lixo e su-
jeira nas ruas estreitas, que mal
davam vazão ao tráfego das
charretes, bondes e carrinhos,
puxados por carregadores ape-
lidados de “burros-sem-rabo”.
Nas calçadas, igualmente
estreitas, vendedores ambulan-
tes espalhavam suas mercado-
rias: cestos, verduras, panelas,
doces, leite, aves, empadinhas
de milho, bacalhau, sardinhas,
café, cachaça... Em meio a
Praia de Botafogo, Rio de Janeiro, início do século XX
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O MÉDICO DO BRASIL
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Fato trágico
Em 1895, o navio italiano
Lombardia atracou no porto do
Rio para uma visita de cortesia.
A tripulação foi recebida pelo
presidente da República,
Prudente de Morais, numa
grande festividade. A visita
terminaria em tragédia. Dos 340
tripulantes, 333 pegaram febre
amarela. Morreram 234 doentes.
O fato teve péssima repercussão
no exterior, e o Rio de Janeiro
ganhou o apelido de “túmulo de
estrangeiros”.
Aos pobres,
os morros
Além de ocupar os cortiços,
abundantes no centro, os po-
bres se espalhavam pelos bair-
ros da Saúde, Gamboa e de
Santo Cristo, região que num
passado ainda recente sediara
o mercado de escravos da ci-
dade. Uma legião de desem-
pregados e de trabalhadores
pouco qualificados da indús-
tria nascente vivia em precá-
rias condições de moradia.
Muitos iam para as favelas,
que já começavam a surgir nas
encostas dos morros. Ali tam-
bém foram morar escravos al-
forriados que lutaram na
Guerra do Paraguai e solda-
dos vindos da campanha de
Canudos.
A ocupação desordenada
dos morros e cortiços, sem
nenhuma forma de sanea-
mento, e a convivência com
lixo, esgoto e água contami-
nada favoreceram as sucessi-
vas epidemias de febre ama-
rela, varíola, peste bubônica,
cólera e outras doenças que
vitimavam milhares de pes-
soas. Naquele tempo, no Rio,
a taxa de mortalidade era tra-
gicamente ascendente.
ORIGEM DA PALAVRA “CARIOCA”
A palavra “carioca” surgiu quando o português
Gonçalo Coelho, que foi morar no Rio de Janeiro em
1503, vindo de uma expedição com Américo Vespúcio,
construiu uma casa quadrada — forma bem curiosa
para o padrão dos índios. A casa de Gonçalo, às margens do rio
Maracanã, foi chamada por eles de carioca, união de branco
(cari) e casa (oca), em tupi.
Cabeça-de-
porco
Para os cariocas, o
termo “cabeça-de-
porco” é sinônimo
de “cortiço”. O
nome foi
emprestado da
maior casa de
cômodos de aluguel
da capital.
Construída pelo
conde d’Eu, marido
da princesa Isabel,
seus enormes
aposentos eram
subdivididos por
placas de madeira;
2 mil pessoas
moravam ali! Sobre
os portões, em vez
das habituais
estátuas de leões,
havia uma enorme
cabeça de porco.
Cortiço no Rio de Janeiro, no início do
século XX
PROPAGANDA DE UMA COMPANHIA DE VIAGEM EUROPÉIA
DO INÍCIO DO SÉCULO XX
“Viaje direto para a Argentina
sem passar pelos perigosos focos
de epidemias do Brasil.”
!
Impressionante!
Entre 1872 e 1890, a
população do Rio passou
de 274 mil para 502 mil
almas, como se dizia na
época. Em 1906, chegaria
a mais de 800 mil
habitantes!
OSWALDO CRUZ
16
Em 1900, a cidade ainda guarda o
cunho desolador dos velhos tempos do
rei, dos vice-reis e dos governadores, com
ruas estreitas, vielas sujíssimas, becos
onde se avoluma o lixo. O novo regime
não teve ainda tempo para modernizar
o Rio. Mesmo as artérias principais (Ou-
vidor, Ourives, Uruguaiana, Gonçalves
Dias, 1o de Março) são muito pouco es-
paçosas. E as outras ruas, mais distan-
tes do centro, como as que cercam o lar-
go da Misericórdia, não passam de vie-
las curvas e malcheirosas.
Nas praças mais amplas, quase não
existem árvores, permitindo que o sol
torne abrasador o calçamento de para-
lelepípedos e os passeios de lajes altas.
Pavimento e calçada apresentam-se es-
buracados.
Dentro dos sobrados centenários, re-
manescentes ou cópias dos tempos co-
loniais, as senzalas do rés-do-chão se
transformam em bares, lojas e oficinas.
Sem esgoto e sem janelas nos quartos,
os outros andares dos sobrados do cen-
tro da cidade são um “dédalo de corre-
dores e alcovas”.
Por ruas de muito movimento, que li-
gam bairros, esticando-se para as La-
ranjeiras ou São Cristóvão, um par de
trilhos cruza o calçamento. São os bon-
dinhos. Alguns são elétricos, que desde
1892 fazem a linha entre o Flamengo e
a Carioca. A imprensa afirma: os “nos-
sos elétricos, que, sem o menor favor,
são os melhores do mundo...”. Mas a
maioria dos veículos, chacoalhando fer-
ragens, velhos e incômodos, ainda é pu-
xada pelo tradicional par de burrinhos.
Afora os bondes, o tráfego da cidade
constitui-se de raros caleches e charre-
tes, e mais freqüentes carroças puxadas
por um ou dois cavalos. Mais comuns
ainda são os carros puxados por bra-
ços humanos. As ruas estão cheias de
vendedores; alguns puxam pela calça-
da carroças, com mercadorias: são os
“burros-sem-rabo”. Nas carroças, no
lombo dos animais, nas costas ou nos
braços, homens e mulheres, antigos es-
cravos, imigrantes portugueses, ale-
mães, turcos vão trazendo suas merca-
dorias. Passa o leiteiro conduzindo
atrás de si uma vaca tuberculosa e um
bezerro faminto. E o vendedor de aves,
as galinhas presas em cestos atados a
um burro: cabo de vassoura às costas
para equilibrar a carga, vêm o cestei-
ro, o ceboleiro, o papeleiro, o verdurei-
ro; um oferece mocotó, o outro doces; um
negro traz carvão, ou sorvete; as mu-
lheres vendem doces ou miudezas.
A cidade é uma imensa feira.
O JORNALISTA LUÍS EDMUNDO,
AUTOR DE SABOROSAS CRÔNICAS,
FEZ O SEGUINTE RELATO SOBRE
A VIDA URBANA DO RIO DE SUA ÉPOCA
Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro,início do século XX
O MÉDICO DO BRASIL
17
Preenchao diagrama com os ingredientes e acompanhamentos e
encontre o nome de um típico prato da culinária brasileira, que teve sua origem
nas senzalas das antigas fazendas.
Mulher
Você vai fritar
Um montão de torresmo pra acompanhar
Arroz branco, farofa e a malagueta
A laranja-baía ou da seleta
Joga o paio, carne-seca, toucinho no caldeirão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Depois de salgar
Faça um bom refogado, que é pra engrossar
Aproveite a gordura da frigideira
Pra melhor temperar a couve mineira
Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão
E vamos botar água no feijão
A saborosa feijoada carioca tem sua origem nas senzalas. Os escravos
cozinhavam, junto com feijão preto, as carnes desprezadas pelos senhores. Ao comer,
espalhavam farinha de mandioca por cima. O prato tornou-se o símbolo da
culinária brasileira, sempre acompanhado da tradicional caipirinha.
Mulher
Você vai gostar
Tô levando uns amigos pra conversar
Eles vão com uma fome que nem me contem
Eles vão com uma sede de anteontem
Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Não vá se afobar
Não tem que pôr a mesa, nem dá lugar
Ponha os pratos no chão, e o chão tá posto
E prepare as lingüiças pro tira-gosto
Uca, açúcar, cumbuca de gelo, limão
E vamos botar água no feijão
FEIJOADA COMPLETA
Chico Buarque de Hollanda
PALAVRAS CRUZADAS
Respostas na p.60
1. principal ingrediente da receita
2. couro de porco frito
3. tripa recheada com carne moída e temperos
4. fruta descascada, cortada em pedaços
5. verdura refogada em tiras finas
6. cereal em grão, principal acompanhamento do prato
7. tipo de farinha usada para a farofa
8. tradicional bebida brasileira servida com a feijoada
9. carne salgada e exposta ao sol para secar
10. tempero, usado em folha seca
11. condimento picante, típico da culinária brasileira
12. carne de porco ensacada em tripa seca
13. pedaço de carne da região lombar do porco
14. parte cartilaginosa da cabeça do animal
15. gordura do porco subjacente à pele, com o respectivo couro
16. carne da parte traseira, cauda
OSWALDO CRUZ
18
Saneamento: palavra de ordem
O início
das
reformas
Quando assumiu a presi-
dência do Brasil, em 1902,
sucedendo Campos Sales,
Rodrigues Alves mudou-se
para o Rio de Janeiro. Leva-
va na bagagem um audacio-
so plano de modernização
urbana, que consistia em sa-
near a cidade, pôr fim às do-
enças, alargar as ruas, cons-
truir novas e amplas avenidas,
remodelar o porto e derrubar
os incontáveis cortiços.
O presidente nomeou o
amigo e engenheiro Pereira
Passos para a prefeitura, e
Oswaldo Cruz para a Direção
Geral de Saúde Pública.
O plano de
saneamento de
Oswaldo Cruz
Em 1903, acumulando a
função de diretor do Instituto
Soroterápico Federal, Oswal-
do Cruz foi empossado na Di-
reção Geral de Saúde Pública
com uma missão gigantesca:
promover campanhas sanitá-
rias para erradicar três das
principais doenças que perio-
dicamente atingiam a popula-
ção, de forma epidêmica: a
febre amarela, a peste bubô-
nica e a varíola.
Seu plano de ação começou
com a reforma da legislação
vigente para os serviços de
Saúde Pública, que continha
contradições entre os planos
Pereira Passos:
o Haussmann
brasileiro
Pereira Passos, o prefeito
escolhido por Rodrigues Alves
para implantar a remodelação
urbana, transformou o Rio num
imenso canteiro de obras. O
projeto teve como parâmetro as
obras promovidas por Georges
Eugène Haussmann, prefeito
de Paris no período de 1853 a
1870. Quando morou na capi-
tal francesa, Pereira Passos
pôde assistir a uma das fases
mais difíceis dessa reforma,
em que bairros populares fo-
ram arrasados, construindo-se
um novo padrão de metrópole
moderna, modelo para várias
cidades do mundo.
A rua da Carioca em reforma
A avenida Central (hoje Rio Branco) em obras
“Não basta ter um espírito bom,
é essencial aplicá-lo bem.”
 René Descartes, filósofo francês
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O MÉDICO DO BRASIL
19
federal e municipal. Escreveu
um novo código sanitário, que
incluía um artigo sobre a va-
cinação obrigatória contra a
varíola. Iniciou-se, então, uma
longa negociação no Congres-
so para aprovar o código, o
que só aconteceria em novem-
bro de 1904. Para a imprensa,
o povo e os adversários políti-
cos, esse código sanitário fi-
cou conhecido como “Código
de torturas”.
O Bota-Abaixo
Apelidada de Bota-Abaixo
pelo povo, a reforma da cida-
de começou com a remoção
da população dos cortiços,
considerados focos de prolife-
ração das doenças. No entan-
to, nenhuma política de habi-
tação foi pensada para os de-
salojados. Acostumados a vi-
ver no centro, esses morado-
res se recusavam a mudar para
os subúrbios, preferindo subir
os morros e formar inúmeras
favelas.
Enquanto os engenheiros
mudavam a paisagem urbana,
alargando ruas e derrubando
prédios, as brigadas sanitárias
invadiam casas para espalhar
inseticida à base de petróleo e
demoliam as que não obede-
ciam aos preceitos higiênicos
exigidos. Mais de cem corti-
ços foram destruídos.
OLAVO BILAC, EM MARÇO DE 1904, ESCREVE
SOBRE A REFORMA DO RIO DE JANEIRO NO
PRIMEIRO NÚMERO DA REVISTA KÓSMOS
AS PICARETAS REGENERADORAS
Há poucos dias as picaretas, entoando um hino
jubiloso, iniciaram os trabalhos da construção da
Avenida Central, pondo abaixo as primeiras ca-
sas condenadas. Bem andou o governo, dando um
caráter solene e festivo à inauguração desses tra-
balhos. Nem se compreendia que não fosse um dia
de regozijo o dia em que começamos a caminhar
para a reabilitação.
No aluir das paredes, no ruir das pedras, no es-
farelar do barro, havia um longo gemido. Era o
gemido lamentoso do Passado, do Atraso, do Opró-
brio. A cidade colonial, imunda, retrógrada, em-
perrada nas suas velhas tradições, estava soluçan-
do no soluçar daqueles apodrecidos materiais que
desabavam. Mas o hino claro das picaretas abafa-
va esse protesto impotente.
Com que alegria cantavam elas — as picaretas
regeneradoras! E como as almas dos que ali esta-
vam compreendiam bem o que elas diziam, no seu
clamor incessante e rítmico, celebrando a vitória
da higiene, do bom gosto e da arte!
“Veja ilustre passageiro o belo tipo faceiro que o senhor tem a seu lado.
No entanto, acredite, quase morreu de bronquite. Salvou-o o Rum Creosotado.”
CÉLEBRE ANÚNCIO AFIXADO NO INTERIOR DOS BONDES DO RIO DE
JANEIRO, NO INÍCIO DO SÉCULO XX
“Tudo quanto puderes fazer ou creres poder,
começa. A ousadia tem gênio, poder e magia.”
Johann Wolfgang von Goethe, escritor alemão
OSWALDO CRUZ
20
Guerra aos mosquitos
A teoria dos
miasmas
O plano de modernização
do Rio levava em conta a teo-
ria dos miasmas, defendida
por muitos médicos da época.
Essa teoria sustentava que as
doenças vinham dos “maus
ares” provenientes das águas
paradas e dos focos de lixo pu-
trefatos. Acreditava-se que a
inalação dos miasmas era a
causa das doenças epidêmicas.
Segundo os defensores da
teoria, para dar fim às epide-
mias bastava acabar com os
cenários de sujeira, constru-
ções pouco arejadas e ruas
estreitas, onde não havia cir-
culação de vento e sol. A
construção de largas avenidas
e outras obras de porte, além
de facilitar o acesso, visavam
combater os miasmas.
A teoria cubana
Só no ano de 1902 a febre
amarela matou 984 pessoas na
cidade do Rio de Janeiro.
Oswaldo Cruz, opondo-se à
teoria dos miasmas, traçou um
plano de trabalho que buscava
acabar com o mosquito trans-
missor. Ele se baseava na teo-
ria cubana formulada em 1881
por Carlos Juan Finlay (1833-
1915), que combatera a doen-
ça em Cuba exterminando o
mosquito Stegomyia fasciata e
isolando os doentes.
Tendo corrido a notícia de que Oswaldo Cruz iria a
Havana para conhecer de perto os métodos do
dr. Juan Carlos Finlay no combate ao mosquito
transmissor da febre amarela, surgiu e fez sucesso no
Rio esta canção, cujo autor, diziam os gozadores,
era o próprio mosquito:
ESPERE UM POUCO...
EU VOU A CUBA
Letra de CulicídioExógeno
Música de Stegomyia fasciata
Embora moço, eu sou sabido,
Muito talento em mim se incuba,
Os livros todos tenho lido...
Espere um pouco... eu vou a Cuba.
Desta cidade malfadada
Quero que o nome cresça e suba,
Sem febres, vai ficar amada:
Espere um pouco... eu vou a Cuba.
Quando estiver saneada e limpa
Há de ostentar, airosa, a juba,
E levantar bem alto a grimpa;
Espere um pouco... eu vou a Cuba.
Verão meu nome celebrado,
Por mim soar da fama a tuba,
E até então, ó povo amado,
Espere um pouco... eu vou a Cuba.
Parto, mas quero à minha volta
Palmas ganhar... de carnaúba,
Ter de micróbios uma escolta,
Ao meu regresso lá de Cuba.
Ser em triunfo recebido
Entre ovações que o gênio aduba;
Mostra-te, povo, agradecido,
Quando eu regresse ali... de Cuba.
Para desengasgar com espinha
de peixe, chamar São Brás
três vezes, dizendo:
“São Brás do altar, me faz
desengasgar”. Pronunciada a
frase, jogar um punhado
de farinha na boca e engolir
sem mastigar.
O mosquito era o vilão do Rio
O MÉDICO DO BRASIL
21
Os mata-mosquitos
Para levar a cabo a emprei-
tada, Oswaldo Cruz precisaria
de 1200 homens para compor
as brigadas de mata-mosqui-
tos. Mas a burocracia e a pou-
ca verba limitaram a ação a
apenas 85 homens. Em um tra-
balho abnegado, os mata-mos-
quitos percorriam jardins,
quintais, porões e telhados,
desinfetando alagados, ralos e
bueiros, limpando calhas, la-
vando caixas-d’água e remo-
vendo depósitos de larvas de
mosquito. Dentro das casas lo-
calizadas nas zonas dos focos,
queimavam piretro de enxofre
para desinfecção. Os doentes
eram isolados com telas e
mosquiteiros ou removidos
para o Hospital de Isolamen-
to São Sebastião.
O Stegomyia fasciata daquele tempo,
perseguido sem trégua por Oswaldo Cruz, é muito
conhecido por todos os brasileiros. Trata-se do
Aedes aegypti, o mosquito da dengue. Mudou de
nome, mas continua a nos causar problemas.
Ao retornar das inspeções,
os mata-mosquitos relatavam
todas as ocorrências de molés-
tias. Assim Oswaldo Cruz
pôde mapear a febre amarela
na cidade e atualizar as esta-
tísticas epidemiológicas. Re-
cebeu, no entanto, duras críti-
cas da imprensa, do povo e da
comunidade médica, insufla-
das pelos adversários políticos
do presidente, que chamavam
o cientista de “czar dos mos-
quitos”.
Os “Conselhos
ao povo”
Oswaldo Cruz lançou mão
de todas as alternativas de que
dispunha para esclarecer o
povo e convencê-lo a preve-
nir as epidemias: folhetos edu-
cativos para a população em
geral, outros dirigidos aos pro-
fissionais de saúde, e até mes-
mo medidas de coerção, como
a notificação compulsória dos
casos de doença. Publicou na
imprensa seus famosos “Con-
selhos ao povo”, textos que
explicavam à população como
eram os mosquitos transmis-
sores da febre amarela, os cui-
dados que cada cidadão devia
tomar para acabar com os cria-
douros, como se proteger das
picadas e evitar o contágio, e
como os doentes deviam ser
tratados.
Mesmo com toda a resistên-
cia e as dificuldades técnicas,
em 1907 a epidemia de febre
amarela foi considerada erradi-
cada do Rio de Janeiro. Oswal-
do Cruz finalmente ganhara a
guerra contra os mosquitos.
Brigadas de mata-mosquitos
Mata-mosquitos vedam residências
para aplicação de veneno contra
o transmissor da febre amarela
OSWALDO CRUZ
22
A FEBRE AMARELA
HOJE
O número de casos
registrados no Brasil
atualmente indica que a
febre amarela está
controlada. A vacina usada
nos nossos dias, que
imuniza a pessoa por dez
anos, não é mais
obrigatória. Devem ser
vacinados apenas os
habitantes das regiões onde
ainda há casos — os estados
do Acre, Amapá, Amazonas,
Goiás, Maranhão, Mato
Grosso, Mato Grosso do
Sul, Pará, Rondônia,
Roraima, Tocantins, e o
Distrito Federal — e quem
viaja para lá.
Mas existe a
possibilidade de que a
febre amarela volte em
forma de epidemia. Isso
porque o Aedes aegypti,
que a transmite, é também
o transmissor da dengue,
doença para a qual ainda
não existe vacina e que é
epidêmica no país.
A tabela abaixo, publicada em 28 de dezembro de 1908 no jornal The Times,
de Nova York, faz parte do artigo “The sanitation of Rio”, em que Oswaldo Cruz expõe o
sucesso do trabalho que empreendeu na capital brasileira.
Dengue, uma doença tropical
Desde 1986 o Brasil vem enfrentando surtos epidêmicos de
dengue, que atingiram, em 2002, o patamar de epidemia.
O mosquito transmissor, a fêmea do Aedes aegypti, encontra
no clima tropical as condições ambientais favoráveis para
proliferar-se, o que acontece em tempo de chuva e em lugares
que tenham água limpa e temperatura ambiental entre 24° e
26°C.
O Aedes só ataca durante o dia e pode picar por volta de
trezentas pessoas antes de morrer. A dengue clássica é benigna.
A forma hemorrágica, porém, pode causar a morte.
Sintomas
Febre alta, dores musculares, nas juntas, na cabeça
e atrás dos olhos, manchas avermelhadas na pele,
fraqueza, enjôo e falta de apetite.
Tratamento
Como não há vacina para a moléstia, o melhor é
fazer repouso, beber muita água e tomar medicamentos
para dor e febre, sempre receitados por um médico.
Prevenção
A única forma de acabar com a epidemia da dengue
é evitar a proliferação dos mosquitos, combatendo
seus focos. Alguns cuidados fundamentais:
� Lavar sempre com bucha e sabão as vasilhas de água dos animais.
� Colocar areia nos pratinhos das plantas e xaxins.
� Tampar bem caixas d’água, latões de lixo e nunca conservar água
parada, como em pneus velhos, latas abertas etc.
� Manter as folhas das bromélias secas ou cobertas com pó de café.
� Usar repelente no corpo quando estiver em lugar onde haja
muito mato ou que seja conhecido como foco do mosquito.
MORTALIDADE POR FEBRE AMARELA NO RIO DE JANEIRO
1903-1909
ano janeiro fevereiro março abril maio junho julho agosto setembro outubro novembro dezembro total
1903 133 142 151 99 24 10 9 4 4 2 2 4 584
1904 2 7 7 8 10 4 4 1 1 - 3 1 48
1905 3 13 23 59 64 61 26 9 6 5 8 12 289
1906 6 9 6 8 2 1 2 - 1 3 1 3 42
1907 1 1 6 14 6 4 4 1 1 - 1 - 39
1908 - - 1 - - 3 - - - - - - 4
1909 - - - - - - - - - - - - -
O MÉDICO DO BRASIL
23
JOGO DOS SETE ERROS
O original do caricaturista Raul (desenho de cima),
publicado no Jornal do Brasil em 13 de agosto de 1904,
serviu de inspiração para o jogo. Encontre as diferenças. Na escola:
— Joãozinho, você pode
me explicar como a sua
redação está absolutamente
igual à que seu irmão fez no
ano passado?
— Posso sim: temos a
mesma irmã.
�
Zezinho está visitando o
Museu Imperial, quando um
guarda bronqueia:
— Não pode sentar aí,
moleque! É a cadeira do dom
Pedro!
— Quando ele chegar eu
saio!
�
O caipira ganhava todas as
apostas das brigas de galos
daquele vilarejo, quando um
sujeito da cidade, cansado de
perder, chega para ele e
pergunta:
— Meu amigo, vejo que o
senhor é um grande entendido
em brigas de galos.
— É... – responde
timidamente o caipira.
— Pois eu já perdi quase
todo meu dinheiro. Não
acertei uma aposta... pode me
ajudar e dizer qual é o galo
bom da próxima luta?
— O bom é o galo branco –
responde o caipira.
O sujeito da cidade,
rapidamente, aposta todo o
resto do seu dinheiro no galo.
Quando acaba a luta, ao ver o
galo branco derrotado, ele vai
ter novamente com o caipira:
— Você não me disse que o
galo branco é que era o bom?
— Pois entonce... o branco
era o bom... o preto é que era
o marvado!Respostas na p.60
Anedotas
OSWALDO CRUZ
24
A campanha contra
a peste bubônica
Organizar uma campanha
para erradicar a peste bubô-
nica foi outra missão que cou-
be a Oswaldo Cruz como di-
retor geral de Saúde Pública.
Esse combate foi mais fácil
que a luta contra a febre ama-
rela: todos reconheciam que
os transmissores da doença
eram as pulgas dos ratos.
Oswaldo Cruz já enfrentara
um surto em Santos, e o Insti-
tuto Soroterápico Federal já
produzia o soro antipestoso.
Ainda assim, a imprensa
criticava duramente a campa-
nha. Mesmo achincalhado em
Caça aos ratos
piadas, caricaturas, crônicas e
músicas satíricas, Oswaldo
Cruz conduziu com firmeza
seu plano de vacinação da po-
pulação, e não desistiu da luta
contraos ratos.
Os compradores
de ratos
A campanha contra a peste
aconteceu ao mesmo tempo
em que se combatia a febre
amarela. Para a nova tarefa,
Oswaldo Cruz criou um es-
quadrão de cinqüenta homens
vacinados que saíam à caça de
ratazanas em armazéns, casas,
cortiços, becos, hospedarias e
onde mais pudessem encon-
trá-las. Espalhavam raticida e
removiam o lixo. O médico
chegou a criar a f igura do
“comprador de ratos”: um
funcionário público que pas-
sava pelas ruas pagando até
trezentos réis por rato apanha-
do pela população. Não demo-
rou para que espertinhos co-
meçassem a se dedicar a uma
atividade inusitada: criar ratos
e vendê-los à Saúde Pública.
Os índices da doença de-
moraram a cair. Mesmo as-
sim, quando Oswaldo Cruz
deixou a Diretoria Geral de
Saúde Pública, em 1909, os
casos de infecção já eram
muito baixos.
Fonte: Fontenele, J.P. Relatório do Serviço de Saúde Pública do Distrito
Federal, 1939
MORTALIDADE POR PESTE BUBÔNICA
NO RIO DE JANEIRO
por 100 mil habitantes
M
O
RT
A
LID
A
D
E
ANO
Peste bubônica
A peste bubônica é uma doença infecciosa
de roedores selvagens, causada pela bactéria
Yersinia pestis. Transmitida ao homem pela
picada da pulga do roedor, ou por gotículas
de saliva de pessoas contaminadas que
tenham contraído a forma pneumônica da
doença, apresenta como sintoma o aumento
dos gânglios linfáticos, provocando ínguas
ou bubões, de onde vem o adjetivo
“bubônica”. Atualmente, o tratamento é
feito com antibióticos específicos.
O suspeito sr. Amaral – O caso mais famoso desses novos
criadores de rato é o do sr. Amaral, que pôs seus empregados nas ruas,
avisando que compravam ratos da população. Em pouco tempo tinha
direito a receber quase dez mil contos de réis, o que não era pouco!
O fato levantou suspeitas das autoridades, e o sr. Amaral foi preso.
Em seu depoimento, porém, deixou claro que comprava apenas os
legítimos ratos da terra, nenhum deles “importado” de outros lugares.
Está vendo, seu Amaral, como são as
coisas?! Ontem eu, hoje você! É a sorte!
O MÉDICO DO BRASIL
25
FATO CURIOSO
Por incrível que pareça, comprar ratos para combater doenças ainda é um recurso usado pelas
autoridades em campanhas sanitárias. Em novembro de 2001, a imprensa noticiou um programa
da prefeitura de Nova Iguaçu, na baixada Fluminense, que pagava cinco reais por quilo de ratos.
O objetivo era diminuir a superpopulação de roedores e dar fim à leptospirose na cidade.
JOÃO DO RIO E OS “RATOEIROS”
O JORNALISTA JOÃO DO RIO (PSEUDÔNIMO DE PAULO
BARRETO), QUE DESCREVEU A CIDADE DO RIO DE
JANEIRO EM DELICIOSAS CRÔNICAS, REGISTROU NA
GAZETA DE NOTÍCIAS “AS PEQUENAS PROFISSÕES” QUE
EXISTIAM NA CIDADE, COMO A DOS TRAPACEIROS
(CATADORES DE TRAPOS), SELISTAS, APANHADORES DE
GATOS ETC. É ASSIM QUE ELE DESCREVE OS “RATOEIROS”:
[...] A mais nova, porém, dessas profissões, que
saltam dos ralos, dos buracos, do cisco da grande ci-
dade, é a dos ratoeiros, o agente de ratos, o entreposto
entre as ratoeiras das estalagens e a Diretoria de Saú-
de. Ratoeiro não é um cavador — é um negociante.
Passeia pela Gamboa, pelas estalagens da Cidade
Nova, pelos cortiços e bibocas da parte velha da ur-
bes, vai até o subúrbio, tocando uma cornetinha com
a lata na mão. Quando está muito cansado, senta-se
na calçada e espera tranqüilamente a freguesia, so-
prando de espaço no cornetim.
Não espera muito. Das rótulas há quem os chame; à
porta das estalagens afluem mulheres e crianças.
— Ó ratoeiro, aqui tem dez ratos!
— Quanto quer?
— Meia pataca.
— Até logo!
— Mas, ó diabo, olhe que você recebe mais do que
isso por um só lá na higiene.
— E o meu trabalho?
— Uma figa! Eu cá não vou na história de micró-
bio no pêlo do rato.
— Nem eu. Dou dez tostões por tudo. Serve?
— Hein?
— Serve?
— Rua!
— Mais fica!
E quando o ratoeiro volta, traz seu dia fartamente
ganho...
A PESTE BUBÔNICA
HOJE
As doenças provocadas
pelos ratos ainda causam
muitos problemas para a
população e a saúde pública.
A peste continua presente no
Brasil, nos Andes e nos
Estados Unidos, além de
diversos países africanos e
alguns asiáticos. Segundo a
Fundação Nacional de Saúde
(Funasa), há focos naturais de
peste bubônica em áreas dos
estados de Pernambuco,
Piauí, Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba, Alagoas,
Bahia, Minas Gerais e Rio de
Janeiro. O controle desses
focos é fundamental para
manter a população a salvo
de novas epidemias.
Entre 1980 e 1993, foram
notificados 736 casos de
peste humana no país.
O maior número de casos
(151) foi registrado em 1982,
e o menor (dez) em 1991.
A peste, quando não é
tratada, chega a matar 50%
dos infectados.
OSWALDO CRUZ
26
Se você gosta de soltar a voz e cantar, como a
maioria dos brasileiros, ou se pretende cultivar um
belo timbre vocal para falar em público, fazer um
discurso ou dar aulas, preste atenção nestes
conselhos, da fonoaudióloga Ana Paula D. Pellosini,
para preservar e embelezar sua voz:
� Só cante quando estiver com a saúde em dia.
� Tome muita água e evite ambientes com ar-
condicionado ligado ou com fumaça.
� Na apresentação, use roupas confortáveis.
� Jamais consuma bebidas alcoólicas antes de cantar:
apenas água em temperatura ambiente e chás leves.
O saneamento promovido por Oswaldo Cruz foi tema de muitas músicas que
animavam os salões de baile da época. Uma das mais conhecidas é “Rato, rato”,
cujo título foi inspirado nos gritos dos compradores de ratos nas ruas. Lançada no
Carnaval de 1904, a letra demonstra a ojeriza do povo pelo animal,
e ainda traz uma triste marca da época: o preconceito contra os judeus.
Vale apenas pelo registro histórico da manifestação popular.
RATO, RATO
Casimiro G. Rocha e Claudino M. da Costa
� Evite leite e seus derivados. Restos de
gordura costumam se depositar nas cordas
vocais, influindo no som da sua voz.
� Abuse de alimentos como maçã e gengibre,
ótimos adstringentes para as cordas vocais.
� Durma bem e tenha uma alimentação
balanceada.
� Acostume-se a preservar seu aparelho vocal:
não grite, fale em tom de voz baixo, tenha
cuidado até na forma de tossir.
� Não fume e só tome remédios indicados por
um médico.
Dicas para cantar bem
 A A6 A
Rato, rato, rato,
 A#º E7/B E7
Por que motivo tu roeste meu baú?
E7(9) E7 E7(9)
Rato, rato, rato,
 A
Audacioso e malfazejo gabiru.
 A6 A F#7
Rato, rato, rato,
 Bm D7/F#
Eu hei de ver ainda o teu dia final
 Fº A/E F#7 B7
A ratoeira te persiga e consiga
 E7 A...
Satisfazer meu ideal.
...A
Quem te inventou?
 A#º E7/B E7
Foi o diabo, não foi outro, podes crer.
 E7(9)
Quem te gerou?
 A
Foi uma sogra pouco antes de morrer.
 F#7
Quem te criou?
 Bm
Foi a vingança, penso eu.
D/F# Fº A/E F#7 B7
Rato, rato, rato, rato,
 E7 A A7
Emissário do judeu
 D
Quando a ratoeira te pegar,
 D#º
Monstro covarde, não me venhas
 E7
A gritar, por favor.
A7
Rato velho, descarado roedor
 D
Rato velho, como tu faz horror!
Nada valerá o teu cui-cui.
 D#º E7
Tu morrerás e não terás quem chore por ti.
 G#º D/A
Vou provar-te que sou mau
B7 E7
Meu tostão é garantido,
 A7 D
Não te solto nem a pau.
O MÉDICO DO BRASIL
27
A convivência entre homens e roedores é
antiga. Onde existe gente, existem ratos para
buscar restos de comida. Extremamente
adaptáveis aos ambientes mais diversos, se
proliferam mesmo sob condições
desfavoráveis. Provocam grandes perdas de
alimentos, pois além de comê-los, deixam
urina, fezes, pêlos e pulgas em grãos,
rações e farelos. A peste bubônica é apenas
uma das doenças trazidas pelos ratos.
Estima-se que os roedores sejam
responsáveispela perda de um quinto da
produção mundial de alimentos.
O uso de microrganismos como armas
biológicas é registrado desde os primórdios
da humanidade. Gregos, romanos e persas
contaminavam o campo inimigo com
cadáveres infectados. Na Idade Média,
os mortos por peste bubônica eram
arremessados por catapultas contra os
O COMÉRCIO DE RATOS,
NA ÉPOCA UMA HABITUAL CENA
DE RUA, TAMBÉM FOI CONTADO
POR PEDRO NAVA, EM
BAÚ DE OSSOS
Logo depois passava gritando ou-
tro verdugo. Rato, rato, rato! Corria
de dentro das casas o tropel das mu-
latas, meninos, patroas e crioulas com
suas ratoeiras e todos despejavam o
conteúdo das armadilhas dentro de
uma espécie de sorveteira enorme que
continha um líquido que dava fuma-
ça sem ferver. Os bichos mortos iam
logo para o fundo e os vivos ficavam
nadando, em círculo, até que a potas-
sa os descascasse. O homem, em vez
de receber, pagava. Duzentos réis a ra-
tazana, um tostão por camundongo.
Pagava, tampava, punha na cabeça e
seguia soltando o pregão que virou
música de rato, rato, rato, / camun-
dongo, percevejo, carrapato — que fi-
camos devendo ao empresário da com-
pra que era o dr. Oswaldo Gonçalves
Cruz. Infelizmente a providência, em
vez de acabar com a bicharia, indus-
trializou sua criação. Havia especia-
listas que os tinham em viveiros e que
só os vendiam adultos e gordos, por-
que assim eram mais bem cotados.
Duzentão.
“Se os teus projetos forem para um ano, semeia
o grão. Se forem para dez anos, planta uma árvore.
Se forem para cem anos, instrui o povo.”
Provérbio chinês
Charge publicada
 em Paris,
em 1911
adversários. Eles
desconheciam o
princípio da
transmissão da
doença, que não se
dá de pessoa para
pessoa, mas passa
por vetores, como
a pulga do rato.
OSWALDO CRUZ
28
A viagem de inspeção
Durante as campanhas de
saneamento e de moderniza-
ção do Rio de Janeiro, Oswal-
do Cruz ainda planejou uma
política nacional de defesa sa-
nitária dos portos marítimos e
fluviais de todo o país. Para
isso, precisava conhecer as
condições de cada porto.
Em busca da saúde dos portos
Durante a expedição aos
portos era comum
Oswaldo Cruz reclamar
dos enjôos que sentia por causa do balanço
do navio. Ele chegou a dizer à esposa
Miloca, numa carta:
“Há dois dias que o terrível enjôo não me
tem absolutamente permitido de te escrever.
Ainda agora estou-o fazendo na iminência
de ser por ele assenhorado”.
Em outro trecho, ele conta os maus
bocados por que passava:
“O navio inteiramente à mercê dos
vagalhões fazia as maiores diabruras. Este
mar infame tivemo-lo durante perto de oito
horas seguidas até Cabo Frio. Para cúmulo
de caiporismo enjoei atrozmente, vomitando
tudo quanto sem poder mover-me”.
Entre setembro de 1905 e
fevereiro de 1906, acompa-
nhado pelo secretário João Pe-
droso, Oswaldo Cruz partici-
pou de uma expedição a trin-
ta portos, de Norte a Sul do
país. Em todos os lugares em
que atracava, era recebido
com homenagens e jantares.
Durante a expedição, co-
letou rico material de pesqui-
sa, principalmente sangue de
enfermos e mosquitos de di-
ferentes procedências. Pela
primeira vez, Manguinhos
recebia elementos para ma-
pear a saúde nos sertões bra-
sileiros. Alguns anos mais
tarde, Oswaldo e outros cien-
tistas do instituto fariam
mais viagens para completar a
tarefa.
NOTA PUBLICADA EM 30 DE
SETEMBRO DE 1905, NO JORNAL
A TRIBUNA, DO RIO DE JANEIRO,
SOBRE A CHEGADA DE OSWALDO
CRUZ AO PORTO DE SANTOS
“O jovem e dedicado funcio-
nário acaba de dar um exemplo
proveitoso: pela primeira vez,
desde que o Brasil possui um ser-
viço regular de higiene, o diretor
da repartição competente em-
preende uma viagem aos portos
da República, para verificar de
visu as necessidades sanitárias
dos estados. Ninguém, certa-
mente, deixará de aplaudir um
funcionário que assim rompe
com os hábitos burocráticos, e
procura desempenhar conscien-
ciosamente o importante cargo
que lhe foi confiado, em vez de
satisfazer-se com apresentar bri-
lhantes e palavrosos relatórios.”
O MÉDICO DO BRASIL
29
A náusea marítima é um mal que acomete
quatro em cada cinco pessoas. Os navios
modernos contam com médicos e medicação
apropriada para aliviar essa sensação
desagradável, capaz de tirar o prazer da
viagem. Os sintomas mais comuns são
palidez, suor frio, dores de cabeça, tontura,
náusea e vômito. A palavra “náusea” é
derivada do grego naus, “navios”.
Quem for desbravar os mares pode se
prevenir observando algumas dicas:
� Evite ingerir alimentos gordurosos e
bebidas alcoólicas dois a três dias antes de
viajar.
� Durma bem, relaxe, e não vá a festas na
noite anterior.
� Raiz de gengibre pode prevenir enjôo e
seus efeitos colaterais.
� Para maior segurança, antes de viajar
consulte um médico, que lhe indicará o
melhor princípio ativo para seu caso.
Se o enjôo vier:
� Sente-se num assento firme, num lugar
bem arejado e olhe para um ponto fixo no
horizonte.
� Tome água ou bebida que contenha um
pouco de açúcar, mas sem gás, como
isotônicos e sucos, para não se desidratar.
� Evite ficar na cabine.
CHARADINHAS
1. Em uma casa moram duas mães e
duas filhas e cada uma delas está
acompanhada de duas pessoas.
Quantas pessoas há na casa?
2. O que tem orelhas mas não escuta
nada do que você diz?
3. O que é que quando se mata, todos
ficam contentes?
4. Qual a cidade mais explosiva do mundo?
5. Qual a palavra com cinco letras que,
tirando duas, fica uma?
6. O que é menor do que a boca
de uma formiga?
7. O que tem debaixo do tapete do hospício?
8. O que o livro de matemática disse para o
livro de português?
9. O que é ave mas não voa, tem lã mas não
é carneiro?
10. Quando foi que 1/4 da população da
Terra foi morto de uma vez?
11. Uma mulher que dirigia e lia um livro
ao mesmo tempo bateu o carro e
morreu. Qual era o seu nome?
!
Galinhas, cavalos, cachorros e gatos
também podem sentir enjôo
com o movimento dos barcos.
O francês Jacques Cousteau,
grande explorador do universo
submarino, por não saber qual a melhor
solução para o enjôo, recomendava
que, se o problema for grave,
é melhor ficar em terra firme mesmo.
Respostas na p.60
Diz-se que a jararaca gosta de leite materno.
Por isso, quando uma mulher tem criança
pequena, deve, antes de dormir, olhar debaixo da
cama e dos travesseiros, para verificar se a cobra
não está lá. Embora ela não faça mal à criança,
pode roubar-lhe o leite, mamando na mãe.
OSWALDO CRUZ
30
Abaixo a vacina obrigatória
Entre uma epidemia
e uma lei
Em 1904, mais uma epide-
mia de varíola assolou o Rio
de Janeiro. As campanhas
contra a febre amarela e a
peste bubônica empreendidas
por Oswaldo Cruz estavam
em pleno curso. Mata-mos-
quitos e brigadas de desrati-
zação cruzavam a cidade. Era
necessário que o combate à
varíola se fizesse ao mesmo
tempo, para que o saneamen-
to da cidade se completasse.
Uma lei de 1837 já insti-
tuíra a obrigatoriedade da va-
cina antivariólica, mas nun-
ca fora cumprida. Oswaldo
Cruz mandou ao Congresso
um projeto de lei que refor-
çava a obrigatoriedade com
mais rigidez.
O projeto provocou um de-
bate fervoroso sobre o assun-
to. Enquanto isso, o cientista
enfrentava 1706 casos de in-
ternações por varíola no Hos-
pital de Isolamento de São
Sebastião. Tomou medidas
profiláticas, isolando os in-
fectados, fazendo desinfec-
ções e vacinando aqueles que,
voluntariamente, aceitavam a
imunização.
Os voluntários diminuíam
à medida que o debate toma-
va conta da imprensa. As 23
mil aplicações em julho bai-
xaram para 6 mil em agosto.
Prós e contras
Os defensores da vacina
obrigatória e do Código Sani-
tário, batizado pelo povo de
“Código de torturas”, argu-
mentavam que a vacinação
havia sido implantada anterior-
mente em países como Alema-
nha (1875), Itália (1888) e
França (1902), com sucesso.
Já os opositores argumen-
tavam que os métodos de
aplicação da vacina eram
truculentos e seus aplicadores
demonstravam brutalidade no
trato das pessoas. Além disso,
não confiavam na qualidade
da vacina. A maioria não era
exatamente contra a vacina-
ção, mas contraa sua obriga-
toriedade. Defendia que cada
um optasse por tomar ou não
a vacina.
O decreto impunha que as
brigadas sanitárias entrassem
nas casas e vacinassem as pes-
soas à força. A reação da po-
pulação foi imediata. Os pais
de família não admitiam que
suas esposas e filhas mostras-
sem as coxas ou os braços aos
funcionários da saúde. Além
disso, temiam-se os eventuais
efeitos negativos do líquido
injetado.
Fato complicador
Em julho de 1904, em meio
a essa discussão, uma mulher
morreu pouco depois de ter
sido vacinada contra a varío-
la. O médico-legista, adepto
da resistência à vacina, rela-
tou infecção generalizada de-
corrente da imunização como
causa mortis. O fato teve am-
pla repercussão nos jornais. A
opinião pública voltou-se con-
tra o governo e sua política sa-
nitária. Em 5 de novembro, re-
presentantes dos diferentes
segmentos sociais instituíram
a Liga Contra a Vacina Obri-
gatória.
Charge ironizando a obrigato
riedade da vacina
O MÉDICO DO BRASIL
31
Varíola
O que é
Hoje extinta em todo o mundo, a varíola é uma doença
infectocontagiosa causada pelo vírus Orthopoxvírus variolae.
Exclusiva dos seres humanos, foi uma das enfermidades mais
antigas e devastadoras da história. Acredita-se que tenha surgido
há mais de 3 mil anos, provavelmente na Índia ou no Egito.
Transmissão
Ocorria de uma pessoa para outra, pelas vias respiratórias.
O vírus ficava incubado no organismo de sete a dezessete dias.
Sintomas
Ao se alojar nas fossas nasais e na garganta, os vírus causavam
febre alta, mal-estar, dor de cabeça, dor nas costas e abatimento.
Após alguns dias, a doença ficava mais violenta: a febre
abaixava e erupções vermelhas surgiam na boca, garganta
e no rosto, espalhando-se depois por todo o corpo.
Antes de a vacina ser descoberta, o máximo
que se fazia era torcer para que o corpo
conseguisse reagir ao vírus e vencer a
moléstia. Os que sobreviviam ficavam
com cicatrizes no rosto e corpo.
A VACINA
OBRIGATÓRIA
Autor desconhecido
Anda o povo acelerado
Com horror à palmatória
Por causa dessa lambança
Da vacina obrigatória
Os panatas da sabença
Estão teimando dessa vez
Querem meter o ferro a pulso
Bem no braço do freguês.
E os doutores da higiene
Vão deitando logo a mão
Sem saberem se o sujeito
Quer levar o ferro ou não
Seja moço ou seja velho
Ou mulatinha que tem visgo
Homem sério, tudo, tudo,
Leva ferro que é servido.
Bem no braço do Zé do Povo
Chega o tipo e logo vai
Enfiando aquele troço
A lanceta e tudo mais
Mas a lei manda que o povo
E o coitado do freguês
Vá gemendo na vacina
Ou então vá pro xadrez.
[...]
Eu não vou nesse arrastão
Sem fazer o meu barulho
Os doutores da ciência
Terão mesmo que ir no embrulho
Não embarco na canoa
Que a vacina me persegue
Vão meter ferro no boi
Ou no diabo que os carregue.
Fonte: Memória da Pharmácia,
disco Emi/Odeon, Roche.
Crendices acerca da vacina antivariólica
Acreditava-se que o sangue dos ratos comprados para o combate
à peste bubônica serviria de matéria-prima para a vacina.
Como a vacina era fabricada com líquidos extraídos de
vacas doentes — pústulas da varíola do gado —,
quem a tomasse correria o risco de ficar com cara de vaca.
Em vez de imunizar as pessoas, a vacina provocaria a varíola.
Os médicos não sabiam nada a respeito da doença.
A medicina não devia interferir na doença, deixando-a seguir seu curso normal.
OSWALDO CRUZ
32
O povo se agita
A publicação do plano que
regulamentou a aplicação da
vacina obrigatória, denomi-
nada pelo Congresso de “Hu-
mana Lei”, em 9 de novem-
bro de 1904, foi o pretexto
que faltava para uma grande
revolta popular.
A Revolta da Vacina
A descoberta
da vacina
No dia 14 de maio de 1796 o médico
inglês Edward Jenner inoculou, num
menino de oito anos, uma pequena
quantidade de sangue de uma
camponesa que fora infectada
anteriormente pela varíola bovina.
O menino adquiriu imunidade
contra a varíola humana. Jenner já
observara que os camponeses que se
infectavam primeiro pela varíola
bovina, mais branda, nunca
desenvolviam a forma humana da
doença. Estava descoberta a vacina,
que mudou a história da
imunologia no mundo.
E HOJE, A VARÍOLA EXISTE NO
BRASIL? E NO RESTO DO MUNDO?
Em 1973, o Brasil recebeu a certificação
internacional de erradicação da varíola.
A vacinação foi suspensa no país em janeiro de
1980, ano em que a Organização Mundial de
Saúde declarou a doença erradicada em todo o
planeta. Isso significa que poucas pessoas nascidas
após essa data são imunes à moléstia.
Há, no entanto, amostras do vírus em
laboratórios nos Estados Unidos e na Rússia.
Especialistas acreditam que elas também existam
no Iraque e na Coréia do Norte. Teme-se que esses
vírus, contagiosos e fatais, venham a ser utilizados
como armas biológicas. Depois dos ataques
terroristas de 11 de setembro de 2001, a ameaça
cresceu e os laboratórios americanos voltaram
a produzir a vacina.
perdido o controle da manifes-
tação popular, decidiram não
aparecer. Gestos solitários,
discursos espontâneos e gritos
de revolta surgiram da multi-
dão descontrolada. O tumulto
tomou o Rio de Janeiro, e o
governo ordenou a interven-
ção policial.
A reação popular
A reação à chegada da polí-
cia veio na forma de pedradas
e confrontos generalizados.
Carroças e bondes foram
tombados e incendiados, lo-
jas foram saqueadas, postes
de iluminação destruídos.
Bonde virado na praça da República,
no Rio de Janeiro, durante a Revolta da
Vacina, em novembro de 1904
IC
O
N
O
G
R
A
P
H
IA
Pelotões policiais dis-
paravam contra a mul-
tidão; eram muitos os
mortos e feridos. Du-
rante uma semana, o
centro da cidade vi-
rou uma praça de
guerra.
Os manifestantes
enfrentavam a polícia
armados com o que
viam pela frente —
em geral, o próprio
material usado na re-
forma das avenidas:
No dia seguinte, o
povo tomou as ruas; as
multidões se agitavam
na rua do Ouvidor, no
largo São Francisco e
na praça Tiradentes.
Os integrantes da Liga
Contra a Vacina Obri-
gatória, que tanto in-
suflaram a multidão a
se rebelar, marcaram
um comício para a
manhã seguinte. Ao
perceber que haviam
O MÉDICO DO BRASIL
33
pedras, vigas, ferros e ferra-
mentas. Entre gritos de pâni-
co e dor, a massa entoava pa-
lavras de ordem contra o go-
verno, a vacina obrigatória e
a polícia.
Um outro
movimento acontece
O motim popular criara as
condições ideais para um mo-
vimento de outra natureza —
um levante militar —, com o
objetivo de depor o presiden-
te Rodrigues Alves. Partindo
da Escola Militar da Praia Ver-
melha, sob a liderança do ge-
neral Travassos, comandantes
de alta patente aliaram-se aos
revoltosos e armaram um gol-
pe de Estado.
O encontro com as forças
federais, enviadas às pressas
pelo governo, aconteceu na
rua da Passagem, onde o ge-
neral Travassos foi atingido
Introduzido na América do Norte pelos
europeus, o vírus da varíola teve efeitos trágicos.
Matou 90% dos astecas e vários nativos do
nordeste do continente. Também foi usado como
arma biológica no século XVIII, durante
a conquista das novas terras americanas,
disputadas entre franceses e ingleses. Ao saber
que os índios tinham se unido aos franceses, os
ingleses distribuíram lençóis que haviam sido
usados por doentes de varíola, provocando uma
violenta epidemia naquelas tribos, o que minou
o apoio indígena aos franceses.
e morto. Em pouco tempo os
alunos da Escola Militar es-
tariam rendidos. Atracado na
ponte do Catete, um barco
aguardava o presidente, que
devia embarcar num navio
de guerra. Rodrigues Alves
recusou-se a fugir, alegando
que não sairia da capital,
nem deixaria o comando do
país.
A revolta popular continua-
va intensa pelas ruas. Bancos,
comércio e repartições públi-
cas fecharam suas portas. A
polícia não conseguiu assu-
mir o controle da situação. O
povo pedia a demissão do di-
retor geral de Saúde Pública.
O presidente não cedeu: con-
fiava no trabalho de Oswal-
do Cruz e sabia que a vacina
obrigatória era um pretexto
para o povo expressar seu
descontentamento com o go-
verno e a situação social da
cidade.
O Rio em estado
de sítio
Em 17 de novembro foi

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