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Análise de Risco e Recuperação de Áreas Degradadas W BA 01 53 _V 1. 1 2/267 Análise de Risco e Recuperação de Áreas Degradadas Autor: Felipe Micali Nuvoloni Como citar este documento: NUVOLONI, F. M. . Análise de Risco e Recuperação de áreas degradadas. Valinhos: 2015. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção 05 Unidade 2: Avaliação e Gerenciamento de Risco 37 Unidade 3: Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários 64 Unidade 4: Restauração Ambiental: Restauração Física 95 Unidade 5: Restauração Ambiental: Restauração Química 128 Unidade 6: Restauração Ambiental: Restauração Biológica 164 Unidade 7: Restauração Ambiental: Restauração Social 203 Unidade 8: Elaboração do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas – PRAD 239 2/267 3/267 Apresentação da Disciplina Na disciplina atual apresentaremos os conceitos da análise e gestão de riscos ambientais, bem como descreveremos como devem proceder estudos de restauração de áreas degradadas. A palavra risco, em primeira instância, significa chance, probabilidade, a partir do qual configura a possibilidade de um evento ocorrer. No contexto do meio ambiente, o conceito de risco ambiental é definido como a possibilidade da ocorrência de dano ao meio ambiente que, segundo Lyra (1997), pode ser entendido como “toda e qualquer forma de degradação que afete o equilíbrio do meio ambiente”. Compreender que há riscos ambientais pressupõe, portanto, relacionar os atos às incertezas sobre suas possíveis consequências e, dessa forma, poder tomar medidas preventivas para diminuir suas chances de ocorrência, ou então medidas emergenciais e de restauração em caso de ocorrência de acidentes. Após um episódio de acidente ambiental, a recuperação e restauração da área degradada representam eventos obrigatórios e prioritários que devem ser conduzidos, visando restabelecer parâmetros físicos, químicos, biológicos e sociais do ambiente degradado. A restauração ecológica é uma atividade intencional que inicia ou acelera a recuperação de um ecossistema em relação à sua saúde, integridade e sustentabilidade. Frequentemente, o 4/267 ecossistema que necessita restauração foi degradado, perturbado, transformado ou inteiramente destruído como resultado direto ou indireto de ações humanas. 5/267 Unidade 1 Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção Objetivos Compreender que há riscos ambientais pressupõe relacionar os atos às incertezas sobre suas possíveis consequências, que nem sempre trazem dano no sentido negativo do termo. Nosso primeiro objetivo é diferenciar a conceituação entre risco e perigo, e apresentar de que forma os princípios da prevenção e precaução são fundamentais para os estudos de riscos ambientais e a sociedade. Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção6/267 Introdução Risco e perigo. A palavra risco em primeira instância significa chance, probabilidade, a partir do qual configura a possibilidade de um evento ocorrer. No contexto do meio ambiente, o conceito de risco ambiental é definido como a possibilidade da ocorrência de dano ao meio ambiente, que, segundo Lyra (1997, p. 134), pode ser entendido como “toda e qualquer forma de degradação que afete o equilíbrio do meio ambiente”. Perguntas do tipo “o que aconteceria se...” são muitas vezes feitas ao se analisar a viabilidade ambiental de um projeto (SÁNCHES, 2008), sendo que os resultados do mau funcionamento do empreendimento podem ser mais significativos do que os impactos recorrentes de seu funcionamento normal. Compreender que há riscos ambientais pressupõe, portanto, relacionar os atos às incertezas sobre suas possíveis consequências, que nem sempre trazem dano no sentido negativo do termo. Segundo o Estudo de Análise de Riscos e Programa de Gerenciamento de Riscos do IBAMA, o risco de determinada atividade pode ser entendido como o potencial de ocorrência de consequências indesejadas decorrentes da realização da atividade. Dois aspectos importantes dessa definição: 1. O potencial de ocorrência expressa o elemento de incerteza inerente ao conceito de risco. A sua expressão quantitativa pode ser feita com o conceito de probabilidade de ocorrência ou analogamente com a frequência esperada de ocorrência; 2. As Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção7/267 consequências indesejadas caracterizam o fato de que o conceito de risco está intimamente ligado a algum tipo de dano, seja para a saúde, para a vida, para o meio ambiente ou para as finanças individuais ou sociais. Quantitativamente, o risco tem sido expresso como algum tipo de combinação (uma função matemática) entre a frequência esperada de ocorrência do evento indesejado e a magnitude das suas consequências. Observe que as definições apresentadas são idênticas e podem ser resumidas genericamente, como: RISCO = COMBINAÇÃO DE FREQUÊNCIA E CONSEQUÊNCIA. O IBAMA destaca, ainda nesse estudo, dois conceitos importantes em análise de risco, que são os conceitos de risco e perigo. Embora ainda haja alguma confusão entre os dois, existe atualmente um consenso bastante grande sobre as definições desses dois termos. Diferentemente de risco, o perigo representa uma ou mais condições, físicas ou químicas, com potencial para causar danos, seja às pessoas, à propriedade, ao meio ambiente ou à combinação desses (CETESB). Em resumo, o risco é a contextualização de uma situação de perigo, ou seja, a possibilidade da materialização do perigo devido a um evento indesejado. Compreender que há riscos ambientais pressupõe, portanto, relacionar os atos às incertezas sobre suas possíveis consequências, que nem sempre trazem dano no sentido negativo. Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção8/267 Os riscos são classificados de acordo com as situações potenciais de perdas e danos que causam ao homem e ao meio ambiente, sendo que alguns autores (CERRI, 1995) consideram que os riscos ambientais formam a maior classe que abriga os demais tipos de riscos, naturais, sociais e riscos tecnológicos, os quais, por sua vez, podem ser agrupados em classes e subclasses, como veremos adiante. A questão do risco, portanto, não pode ser ignorada, mas compreendida. Meio ambiente e sociedade. Do ponto de vista prático, mesmo que atualmente haja uma maior preocupação da sociedade com o meio ambiente e recursos naturais, a simples consciência ambiental e bom senso generalizado ainda não são suficientes para frear a crise ambiental, visto que, quando confrontado com interesses econômicos, frequentemente são relegados a um segundo plano (MORIN, 2003). Dessa forma, visando assegurar a não destruição compulsiva da natureza, faz-se necessária a adoção de medidas de conservação do meio ambiente por meio de estudos de prevenção e mitigação de impactos ambientais. Novamente, entram em choque as ações dos seres humanos em sua busca incessante pela modernidade e os ônus provenientes de suas ações que são relegados aos indivíduos que coabitam os mesmos espaços. Nos dias atuais, para uma grande parcela da sociedade mundial, tornou-se evidente a noção de Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção9/267 da natureza per se, mas também como um ato egoísta do ser humano, pois visa resguardar seu próprio hábitat, e os recursos que se fazem necessários à vida, em benefício da geração atual e das futuras. Assim, nesse contexto de crise ambiental atual, mais do que nunca é necessária a ampliação de conhecimentos técnicos, o aperfeiçoamento da normatização jurídica, e, principalmente, engajamento social para que a gestão ambiental faça-se presente e atuante. 1. Princípios da Precaução e Prevenção É nessa direção que a salvaguardado planeta, e, consequentemente, a própria que uma quantidade enorme de recursos ambientais é necessária para mantermos funcionando o aparato científico- tecnológico que dá suporte ao estilo de vida da mesma. Essa exige um alto nível de conforto, que só pode ser oferecido com o comprometimento da qualidade ambiental do nosso planeta. Assim, ao manter esse ritmo sem tentar conciliar a produção de bens com a preservação é uma atitude suicida ou no mínimo arriscada para as gerações futuras, que terão de pagar um alto preço para saldar nossa dívida ambiental e conseguir uma qualidade de vida aceitável. A preservação dos recursos naturais e do meio ambiente como um todo faz-se necessária não somente pela manutenção Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção10/267 uma regra geral para ser empregado em políticas públicas em situações nas quais há ameaças sérias ou irreversíveis à saúde humana e ao meio ambiente; onde há necessidade de se reduzir o potencial de risco, e há forte prova de perigo, considerando-se sempre os custos e os benefícios de sua aplicação ou não (SANTI, 2003). O Princípio da precaução foi formalmente proposto na Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), no Rio de Janeiro, em 1992. Mais especificamente explicitado no princípio 15, dentre os 27 estabelecidos na Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento: espécie humana, pode se beneficiar do princípio da precaução, uma vez que sua aplicação permite afastar o perigo de dano ambiental em situações de incerteza quanto aos efeitos provocados por uma atividade, através de sua ação preventiva e não mais reparadora (ATTANÁSIO; ATTANÁSIO, 2004). O princípio da precaução é um valioso suporte jurídico aos instrumentos de gestão ambiental na medida em que possibilita, por meio de critérios estabelecidos pelo poder público, empreendedor e sociedade, analisar a viabilidade ambiental de um empreendimento ou atividade, ponderando-se os riscos que serão tolerados (PEDERSOLI, 2007). O princípio da precaução foi desenvolvido como Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção11/267 De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação do meio ambiente. Para saber mais Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento de 06/1992. Disponível em: <http://www.onu. org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Em resumo, é um instrumento conceitual que precisa ser implementado pela gestão ambiental por causa de seu potencial para amparar a relação homem-risco-ambiente, como uma garantia contra os riscos potenciais (desconhecidos ou não perfeitamente identificados), ao propor que a inexistência de certeza científica não deve ser utilizada como razão para o adiamento http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção12/267 de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. Em termos práticos, a precaução requer o estabelecimento do nível de prova necessário para justificar sua aplicação, e, segundo Ferreira (2004), não tem o propósito de paralisar as atividades humanas, mas apartar o risco das ações antrópicas “diante de um perigo abstrato, ou de um estado de perigo potencial”. Buscando amparo no direito germânico, Sampaio et al. (2003) comentam que o princípio da precaução é composto por quatro elementos interdependentes, que são: (1) evitar danos ambientais, (2) identificar riscos ambientais pela pesquisa científica, (3) adotar ações preventivas mesmo na ausência de evidencias iminentes de danos; e (4) amortizar o desenvolvimento tecnológico pela paulatina redução dos ônus ambientais. Em termos práticos, pode incluir, por exemplo, a pesquisa e o monitoramento para a detecção de substâncias perigosas; a redução geral dos níveis de lançamento de poluentes no meio ambiente; a promoção de produção limpa e inovações tecnológicas, além de ações para redução dos próprios riscos (SANTI, 2003), assumindo, por conseguinte, papel de destaque nos procedimentos de licenciamento ambiental, uma vez que tem por objetivo afastar tanto o perigo do dano ambiental em situações de incerteza quanto os efeitos adversos provocados pelo desenvolvimento de Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção13/267 uma atividade (PEDERSOLI, 2007). O princípio da precaução não se aplica sem um procedimento prévio de identificação e avaliação dos riscos. Empregar somente a expressão princípio da precaução sem inserir em seu conteúdo o risco e seu dimensionamento, por meio da avalição de riscos, tornaria o princípio sem real significado (MACHADO, 2006). Complementarmente ao princípio de precaução, o princípio da prevenção atua com prévio conhecimento das implicações relativas às intervenções antrópicas quando previsível a ocorrência de impactos negativos ao meio ambiente. Assim, a prevenção aplica-se quando não há dúvida alguma de que os danos possam vir a ocorrer, ou seja, os riscos são previsíveis. Segundo Machado (2001), prevenção e precaução guardam semelhanças nas definições, havendo, contudo, características próprias para ambos. Prevenir é agir antecipadamente, porém com informação e conhecimento do que prevenir, por exemplo, com avaliações e estudos de impacto ambiental, e precaver é cautela antecipada diante de risco ou perigo, visando à durabilidade da sadia qualidade de vida das gerações humanas e à continuidade da natureza existente no planeta. Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção14/267 2. Relacionando riscos, impacto, precaução e prevenção Em termos legais, a aplicação do princípio da prevenção se materializa, por exemplo, por meio dos estudos de Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), que pode ser definida, conforme Sadler (1996), como sendo um processo que busca identificar, prever, avaliar e mitigar os efeitos relevantes nos planos biofísico, social e outros, decorrentes de obras e projetos, e que ocorre previamente à tomada de decisão quanto à viabilidade Para saber mais PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL NO DIREITO BRASILEIRO. As pesquisas científicas recomendam uma atuação cautelosa e preventiva em relação a intervenções no meio ambiente. Essa é a essência do princípio da precaução: na dúvida, deve-se decidir em favor do meio ambiente, não do lucro imediato. O estudo de impacto ambiental e seu relatório de impacto ambiental são as principais formas práticas de aplicação desse princípio (AMOY, 2006). Disponível em: <http:// www.uniflu.edu.br/arquivos/Revistas/Revista08/DiscenteGraduacao/Rodrigo.pdf>. http://www.uniflu.edu.br/arquivos/Revistas/Revista08/DiscenteGraduacao/Rodrigo.pdf http://www.uniflu.edu.br/arquivos/Revistas/Revista08/DiscenteGraduacao/Rodrigo.pdf Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção15/267 ambiental. A AIA é um instrumental capaz de fazer compreender o meio ambiente, e de tentar mensurá-lo, segundo as relações estabelecidas entre os elementos que o compõem, ou seja, quanto aos seus aspectos físicos, bióticos, econômicos, sociais e culturais (MACEDO, 1995). Esses procedimentos podem ser descritos como um conjunto ordenado de atividades e procedimentos que varia conforme o regramento legal a que estão submetidos. Ao discorrer sobre a AIA em particular, Fortunato Neto (2004) considera que o procedimento obedece a uma sequência lógica finalística, subdividida em três principais etapas: preliminarmente, devem ser capazes deindicar a existência ou não de impactos ambientais, bem como sua magnitude. Além disso, devem estar suficientemente providos de elementos que permitam ao órgão ambiental optar: a) entender como desnecessária a licença ambiental devido à pouquíssima intervenção antrópica no meio ambiente; b) deferir a expedição da licença, porque – embora existentes – os impactos ambientais decorrentes não são significativos; c) concluir pela impossibilidade de licenciar a obra ou atividade, por ser capaz, ainda que em potencial, de causar impactos ambientais de difícil ou impossível reparação; d) concluir pela necessidade de aprofundamento dos estudos técnicos apresentados, já que insuficientes para esclarecer em todos os seus aspectos os Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção16/267 impactos ambientais que provocará. No Brasil, a AIA tem sido realizada considerando as seguintes etapas e elementos constituintes (SANTI, 2005; SANCHÉZ, 2000): 1ª. Seleção das ações (ou projetos) sujeitas ao processo de AIA, apresentadas na Resolução CONAMA ou a critério do órgão ambiental, em função do tipo, porte, impactos ambientais prováveis e vulnerabilidade socioambiental da área. 2ª. Definição dos objetivos e escopos do Estudo de Impacto Ambiental, com a definição do conjunto mínimo do diagnóstico ambiental da área de influência do projeto e a seleção dos fatores ambientais que devem ser considerados e os itens abordados. 3ª. Elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA). 4ª. Elaboração do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). 5ª. Realização de audiência pública (consulta pública). 6ª. Proposição de programas de acompanhamento e de monitoramento dos impactos ambientais identificados, implantados com o objetivo de avaliar a eficácia das medidas mitigadoras propostas e a evolução da qualidade ambiental na área de Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção17/267 influência do projeto. Conforme indicado no Artigo 1º da Resolução CONAMA-001, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I. a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II. as atividades sociais e econômicas; III. a biota; IV. as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V. a qualidade dos recursos ambientais. Como se depreende do texto acima, o risco imposto à população ou ao meio ambiente devido aos acidentes que podem vir a ocorrer durante a operação de um dado empreendimento industrial pode ser considerado como uma forma de impacto ambiental. No entanto, inicialmente, os trabalhos de EIA-RIMA simplesmente não faziam menção aos riscos de acidente, caracterizando os impactos ambientais como aqueles decorrentes das alterações ambientais causadas durante a fase de construção ou pelas operações normais do Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção18/267 empreendimento (emissão de efluentes, alterações das condições sociais etc.). Mais recentemente, essa visão tem sido modificada, tendo se tornado mais comum que os estudos de EIA-RIMA incluam também alguma forma de identificação dos perigos de acidentes e de avaliação dos riscos associados, para os casos de empreendimentos que lidam com substâncias perigosas ou que de alguma forma podem trazer riscos de acidentes maiores para as populações situadas na sua área de influência (nesse último caso, estariam as barragens, por exemplo). Comumente os riscos ambientais são classificados em: naturais, sociais e tecnológicos (Figura 1). Os riscos naturais podem ser subdivididos em riscos físicos e riscos biológicos. Os riscos físicos podem ser subdivididos em subclasses englobando riscos atmosféricos, geológicos, subdivididos em riscos endógenos e exógenos, e riscos hidrológicos. A relação dialética entre recursos e ameaças é consubstancial com o desenvolvimento da Terra e da sociedade. As ameaças naturais à Terra envolvem processos geológicos, geomorfológicos, climáticos e oceanográficos que tendem a ser uma constante em termos de um número importante dos grandes, médios e pequenos centros urbanos do mundo. Em consequência do crescimento urbano, a ameaça aumenta, pois os centros urbanos avançam até zonas de maior perigo (encostas, ribanceiras etc.), excedendo os Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção19/267 limites das áreas mais seguras, adotadas no plano piloto da cidade. Os riscos sociais podem ser avaliados pela história das últimas décadas, que está repleta de incidentes de violência nas grandes cidades ao redor do mundo. Assim, quando inseridos dentro da classe de riscos sociais, o risco individual pode ser definido como a frequência na qual um indivíduo pode sofrer um dano em resultado de ameaças específicas. Trata- se da probabilidade de uma pessoa em particular sofrer dano. Os riscos tecnológicos podem ser definidos como sendo, ao mesmo tempo, técnicos, coletivos e ambientais, de acordo com Sevá (2002) e destacado por Santi (2005): o risco é técnico, para diferenciá-lo de um risco natural típico; o risco é coletivo, porque se ampliam os efeitos acidentais, poluidores e patológicos da atividade, atingindo não somente os trabalhadores diretos, mas, por vezes, toda a sociedade envolvida; o risco é ambiental, porque os efeitos acidentais, poluidores e patológicos da atividade atingem compartimentos ambientais – água, o ar e solo – e os ecossistemas concernidos, gerando processos de degradação ambiental. E, como os demais, os riscos tecnológicos ambientais podem ser gerenciados, tanto em relação à probabilidade de ocorrência quanto em relação à intensidade das consequências (PEDERSOLI, 2007). Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção20/267 Figura 1 – Classificação dos riscos ambientais Fonte: Adaptado de Amaral e Silva, 1998. Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção21/267 Com a inclusão da exigência de realização de análises de riscos para os empreendimentos considerados perigosos, alguns órgãos de controle ambiental passaram também a exigir a apresentação de um Programa de Gerenciamento de Risco (PGR) como forma de controle e monitoração dos riscos avaliados. Como requisito adicional, tem sido solicitada a realização de um Plano de Ação de Emergência, o qual tem de ser feito a partir dos resultados da análise de riscos. Os riscos para as pessoas e para o meio ambiente são um dos aspectos a serem considerados na avaliação ambiental do projeto de um novo empreendimento. Quando uma análise de risco é realizada durante a fase de projeto: • medidas de redução de riscos podem ser tomadas ainda na fase de projeto, que é, sem dúvida, a melhor época para se fazer isso, pois as instalações ainda são virtuais, de forma que modificações podem ser feitas com recursos bem menores que aqueles necessários após a montagem das instalações; • o enquadramento dos riscos em critérios de aceitabilidade deve ser feito durante a fase de projeto, de forma que as instalações já sejam construídas de acordo com o nível de segurança embutidos nos critérios de aceitabilidade de riscos. O gerenciamento dos riscos é um processo contínuo e constante: Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção22/267 • Pode apenas ser iniciado na fase de projeto, tendo de ser monitorado e avaliado continuamente ao longo da vida operacional. Assim, é difícil falar de Programa de Gerenciamento de Riscos para um dado projeto. Na realidade, a operadora proprietária do projeto (ou seja, que vai operar a futura instalação) é que deve ter um Sistema de Gerenciamento de Risco formal, estruturado, monitorado e avaliado periodicamente,o qual será, assim, naturalmente adotado em todas as fases da vida da instalação. Para saber mais Estudo de caso “IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS / MEDIDAS MITIGADORAS E COMPENSATÓRIAS NA USINA NUCLEAR ANGRA 3. Disponível em: <http://www. eletronuclear.gov.br/Portals/0/RIMAdeAngra3/index.html> http://www.eletronuclear.gov.br/Portals/0/RIMAdeAngra3/index.html http://www.eletronuclear.gov.br/Portals/0/RIMAdeAngra3/index.html Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção23/267 Glossário Risco ambiental: é a possibilidade da ocorrência de dano ao meio ambiente. Perigo: representa uma ou mais condições, físicas ou químicas, com potencial para causar danos, seja às pessoas, à propriedade, ao meio ambiente ou à combinação desses. AIA: de Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), que pode ser definida como sendo um processo que busca identificar, prever, avaliar e mitigar os efeitos relevantes nos planos biofísico, social e outros, decorrentes de obras e projetos, e que ocorre previamente à tomada de decisão quanto à viabilidade ambiental. Questão reflexão ? para 24/267 Princípio da Precaução e Estudo de Impacto Ambiental no Direito Brasileiro Dentre as diversas medidas de proteção ambiental, o inciso IV do § 1º do art. 225 da CR estabelece a realização de estudo prévio de impacto ambiental para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente. O objetivo é evitar a ocorrência de impactos ambientais adversos, muitas vezes irreversíveis, através de uma atuação preventiva de danos, que crie alternativas menos impactantes para o ambiente. Diante dos frequentes problemas ambientais de caráter planetário que hoje vivenciamos, tais como mudanças climáticas abruptas, decorrentes do fenômeno do aquecimento Questão reflexão ? para 25/267 global, é preciso que haja uma mudança de paradigmas, uma alteração de prioridades. As pesquisas científicas recomendam uma atuação cautelosa e preventiva em relação a intervenções no meio ambiente. Essa é a essência do princípio da precaução: na dúvida, deve-se decidir em favor do meio ambiente, não do lucro imediato (AMOY, 2006). Disponível em: <http://www.uniflu.edu.br/arquivos/Revistas/ Revista08/DiscenteGraduacao/Rodrigo.pdf> http://www.uniflu.edu.br/arquivos/Revistas/Revista08/DiscenteGraduacao/Rodrigo.pdf http://www.uniflu.edu.br/arquivos/Revistas/Revista08/DiscenteGraduacao/Rodrigo.pdf 26/267 Considerações Finais (1/2) » Princípio da prevenção: diz respeito ao conhecimento antecipado dos sérios danos que podem ser causados ao bem ambiental em determinada situação e a realização de providências para evitá-los. Já se verifica um nexo de causalidade cientificamente demonstrável entre uma ação e a concretização de prejuízos ao meio ambiente. » Princípios da Precaução: O Princípio 15 – Princípio da Precaução – da Declaração do Rio/92 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável foi proposto na Conferência no Rio de Janeiro, em junho de 1992, que o definiu como “a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados”. “Onde existam ameaças de riscos sérios ou irreversíveis, não será utilizada a falta de certeza científica total como razão para o adiamento de medidas eficazes, em termos de custo, para evitar a degradação ambiental”. 27/267 » Impacto ambiental: qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente causada por matéria ou energia resultante das atividades humanas. Como consequência, podem afetar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, além de influenciar nas atividades sociais e econômicas e na biota ou condições estéticas e sanitárias do ambiente. Considerações Finais (2/2) Unidade 1 • Risco Ambiental à Luz dos Princípios da Precaução e da Prevenção28/267 Referências ATTANÁSIO Jr, M.R.; ATTANÁSIO, G.M.O. Análise do princípio da precaução e suas implicações no estudo do impacto ambiental, 2004. Disponível em: <www.trf4.gov.br>. Acesso em: 12 out. 2015. FERREIRA, H.S. O risco ecológico e o princípio da precaução. In: Estado de direito ambiental: tendências – aspectos constitucionais e diagnósticos. FERREIRA, H. S.; LEITE, J. R. M Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 55-70. FORTUNATO NETO, J. O relatório ambiental preliminar (RAP) como instrumento técnico jurídico de avaliação de impacto ambiental (AIA) no procedimento de licenciamento ambiental. 2004. 201p. 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Abaixo, assinale a única alternativa que não exemplifica a aplicação prática dos princípios de prevenção e precação na prática: a) Estudos de avaliação de riscos. b) Estudos de avaliação de impacto ambiental. c) Aplicação de protocolos de segurança. d) Elaboração de um plano de emergência. e) Agir instintivamente mediante uma situação nova. Questão 2 33/267 3. Como podem ser classificados os riscos ambientais?a) Naturais, agudos e crônicos. b) Sociais, econômicos e políticos. c) Tecnológicos, naturais e sociais. d) Hidrológicos, biológicos e físicos. e) Siderais, sociais e geológicos. Questão 3 34/267 4. Segundo o princípio da precaução, quando uma atividade representa ameaças de danos ao meio ambiente e às pessoas, deve-se: a) adotar medidas de precaução, mesmo se algumas relações de causa e consequência não foram plenamente estabelecidas cientificamente; b) adotar medidas de precaução apenas se as relações de causa e efeito terem sido embasadas cientificamente; c) adotar a cautela e agir apenas em caso de absoluta certeza sobre o evento; d) comprovar a ameaça de dano, agindo de forma mitigadora efetivamente após comprovação dele; e) adotar a precaução, realizando uma análise de riscos e perigos. Questão 4 35/267 5. Segundo o princípio da precaução, assinale a alternativa incorreta: a) Pode ser associado a uma avaliação concreta dos riscos e impactos possíveis; b) Riscos e impactos são previamente conhecidos. c) Possibilitam a adoção de medidas de controle. d) Deve-se agir sem o conhecimento prévio, mediante uma situação nova de risco. e) Aplica-se quando não há dúvida de que os danos possam vir a ocorrer. Questão 5 36/267 Gabarito 1. Resposta: C. O risco representa a materialização de uma situação de perigo. Essa alternativa traz a definição de perigo e não de risco. 2. Resposta: E. Deve-se agir sempre seguindo os protocolos de segurança, ou, caso esteja mediante uma situação de risco desconhecido, buscar informações necessárias para compreendê-lo. 3. Resposta: C. Riscos ambientais podem ser categorizados basicamente em tecnológicos, naturais e sociais. 4. Resposta: A. As medidas de precaução são aplicadas mediante uma situação de ameaça ou risco, mesmo que não plenamente comprovado. 5. Resposta: D. O princípio da prevenção prediz que uma situação de risco é conhecida, e devem ser aplicadas medidas que reduzem ou minimizem seus danos. 37/267 Unidade 2 Avaliação e Gerenciamento de Risco Objetivos Para boa parte da população, o conceito de risco é algo bastante subjetivo, relacionado à percepção dos níveis de perigo que, em certas oportunidades, decidimos aceitar ou não. O objetivo desta aula é apresentar, dentro de um contexto teórico e prático os procedimentos necessários para implantação de projetos de avaliação, monitoramento e gerenciamento de riscos. Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco38/267 Introdução Como verificado no capítulo anterior, são muitas as classificações possíveis para os chamados riscos ambientais. Tecnológicos, ambientais ou humanos, agudos ou crônicos são alguns dos diferentes tipos de riscos. Seu reconhecimento necessita de uma definição prévia de qual tipo de risco se pretende identificar. O processo de reconhecimento de uma situação de risco depende de inúmeros fatores, dentre os quais se inclui o tipo de risco. No âmbito dos riscos tecnológicos, é mais fácil reconhecer um risco agudo do que um risco crônico. Tal situação decorre primordialmente do fato de que, no primeiro caso, há facilidade em se estabelecer uma relação entre causa e efeito, o que não ocorre na maioria das situações de risco crônico (SÁNCHES, 2008). Ademais, o efeito é imediato, enquanto nos casos de risco crônico, como o nome diz, manifesta-se a médio ou longo prazo. O vazamento de petróleo de um duto ou navio, por exemplo, traz efeitos imediatos e visíveis, ao passo que a liberação contínua de pequenas quantidades de poluentes pode não só trazer efeitos a longo prazo, mas também tornar incerta a conexão entre causa e efeito. Em tal situação, o reconhecimento das situações de risco é mais difícil (SÁNCHES, 2008). Em avaliação de impacto ambiental, a preocupação com o risco normalmente se refere a riscos tecnológicos, apesar dos riscos naturais quando agravados ou potencializados pela ação humana também Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco39/267 serem de grande importância. No caso dos riscos tecnológicos, são os riscos agudos que mais chamam a atenção, no entanto, em muitos casos, os riscos crônicos podem ser mais significativos do que os agudos. Como exemplo, o caso do incinerador, que, embora possa haver perigos como explosões ou vazamento de substâncias, são os eventuais danos à saúde que podem se manifestar a longo prazo, constituindo grande fonte de preocupação e polêmica (SÁNCHES, 2008). Por sua vez, modificações de processos naturais podem resultar em um aumento de riscos, por exemplo: uma rodovia que aumenta os riscos geológicos de escorregamentos e desmatamentos das margens dos rios que aumentam o risco de inundações e secas nas grandes cidades. Relembrando as diferenças entre perigo e risco: enquanto o perigo é definido como uma situação ou condição que tem potencial de acarretar consequências indesejáveis, além de ser uma característica intrínseca a uma substância, instalação ou artefato, o risco, por sua vez, é conceituado como a contextualização de uma situação de perigo, ou seja, a possibilidade de materialização do perigo ou de um evento indesejado. Por exemplo, uma substância perigosa não identificada e armazenada em recipientes mal vedados representa um risco maior do que uma situação em que há identificação clara da substância e ela está acondicionada adequadamente. Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco40/267 1. Avaliação de Risco A Avaliação de Risco é a aplicação de um juízo de valor para discutir a importância dos riscos e suas consequências sociais, econômicas e ambientais. De acordo com Suter (2007), não existe uma definição de Avaliação de Risco que possa compreender todas as possibilidades do seu uso melhor do que “Suporte técnico para a tomada de decisões perante incertezas”. O gerenciamento de riscos pode ser definido como uma ferramenta que utiliza os resultados provenientes da avaliação de riscos em prol de se diminuir as chances através de medidas preventivas, ou então de medidas emergenciais no caso de ocorrência de acidentes (CARPENTER, 1995). Essas etapas envolvem o conhecimento da legislação vigente, além de considerar custos, disponibilidade de tecnologia e fatores políticos, incorporando aspectos alheios à esfera cientifica. A avaliação de riscos é uma atividade correlata à avaliação de impacto ambiental, mas as duas se desenvolveram “em contextos separados, por comunidades profissionais e disciplinares diferentes” (ANDREWS, 1988, p. 45). A análise, ou avaliação de riscos é um estudo que visa à identificação dos perigos de uma atividade, projeto ou área, seguido pela estimação do risco existente para possíveis receptores, podendo ser tanto bens, pessoas ou ambientais. Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco41/267 Estudos de avaliação de riscos podem ser integrados aos estudos de impacto ambiental ou ser conduzidos como avaliações separadas do EIA (Estudo de Impacto Ambiental). Essa última forma é usada no estado de São Paulo, onde cabe à Cetesb exigir e aprovar estudos de análise de risco (EARs), ao passo que cabe ao Depto. de Avaliação de Impacto Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente a análise dos EIAs (Diário Oficial do Estado 113, de 20 de agosto de 2003, p. 34-43). Para saber mais Manual Técnico do Licenciamento Ambiental com EIA-RIMA. O Estudo de Impacto Ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente utilizados para identificar, prevenir e compensar alterações ambientais prejudiciais produzidas por empreendimentos ou ações com significativo impacto ambiental. Realizado por equipe multidisciplinar, às expensas do empreendedor, e também avaliado por equipe multidisciplinar do Órgão Ambiental, os estudos ambientais, na forma resumida de RIMA, submetem-se à apreciação pública, sendo um dos mais importantes instrumentos de licenciamento ambiental. Disponível em: <http://ecologia.ib.usp.br/bie314/2013/manual_tecnico_rima.pdf>. http://ecologia.ib.usp.br/bie314/2013/manual_tecnico_rima.pdf http://ecologia.ib.usp.br/bie314/2013/manual_tecnico_rima.pdf Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco42/267 Os estudos de análise de risco são exigidos para o licenciamento (instalação ou ampliação) de indústrias ou atividades potencialmente perigosas, e esses estudos são sistematicamente necessários nos casos de dutos de transporte de petróleo e seus derivados, ou gases e outras substâncias químicas, ou plataformas de petróleo ou gás. Os critérios de classificação das instalações perigosas e a consequente exigência de estudos especializados sobre risco baseiam- se no perigo de uma instalação para a comunidade e o meio ambiente circunvizinho, que, por sua vez, depende dos tipos de substâncias químicas manipuladas, das quantidades envolvidas e da vulnerabilidade do local. Os estudos de avaliação de riscos devem descrever as instalações analisadas, identificar os perigos, quantificar os riscos e propor medidas de gestão para reduzi-los, assim como um plano de ação para situações de emergência (CETESB, 2003). A avaliação de risco é usualmente realizada em algumas etapas, sendo que algumas delas podem se apresentar condensadas em alguns casos, dependendo da abordagem escolhida pelo grupo executor. As principais são (CARPENTER, 1995): a) caracterização do empreendimento e da região; b) identificação dos perigos e consolidação das hipóteses Acidentais; c) estimativa dos efeitos físicos e Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco43/267 avaliação de vulnerabilidade; d) estimativa de frequências; e) estimativa e avaliação de riscos; f) gerenciamento de riscos. Em resumo, a estimativa do risco é uma tentativa de estimar matematicamente as probabilidades de um evento e a magnitude de seus efeitos; a avaliação do risco é a aplicação de um juízo de valor para discutir a importância dos riscos e suas consequências sociais, econômicas e ambientais; e, por fim, o gerenciamento é um termo que engloba o conjunto de atividades de identificação, estimação, comunicação e avaliação de riscos, associado à avaliação de alternativas de minimização dos riscos e suas consequências (GRIMA et al., 1986). Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco44/267 2. Aplicação da Avalição e Ge- renciamento de Riscos a) Caracterização do empreendimento e da região. Descrição física e geográfica da região, incluindo características climáticas, mananciais, áreas litorâneas, fauna, flora e interferências com outros sistemas existentes; distribuição populacional da região; descrição física e layout da instalação, em escala; fotos aéreas que apresentem a circunvizinhança ao Para saber mais Os estudos de análise de riscos são “ferramentas técnicas” fundamentais para subsidiar o gerenciamento desses de atividades consideradas perigosas e devem, cada vez mais, ser incorporadas aos processos de gestão ambiental de saúde e segurança. No BrasiI, embora o assunto tenha avançado significativamente nos últimos anos, em particular por iniciativa de alguns órgãos ambientais, como, por exemplo, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), o tema ainda carece de regulamentação específica. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/made/article/ view/22120/14484>. http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/made/article/view/22120/14484 http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/made/article/view/22120/14484 Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco45/267 redor da instalação, além da utilização e transporte de substâncias químicas incluindo quantidades, armazenamento e manipulação; descrição do processo e rotinas operacionais se ainda em operação; apresentação de plantas baixas das unidades e fluxogramas de processos, de instrumentação e de tubulações; sistemas de proteção e segurança. Esses dados são de especial importância para que seja possível caracterizar o empreendimento, contemplando seus aspectos construtivos e operacionais, além das peculiaridades da região onde esse se encontra, foi ou será instalado. b) Identificação dos perigos e consolidação de cenários de acidentes. Essa etapa visa identificar a existência de perigos, desde substâncias, situações, procedimentos, falhas de operações, desastres naturais, sabotagem ou eventuais sequências de eventos que possam causar dano, incluindo cenários acidentais hipotéticos a serem estudados de forma detalhada. Existem várias técnicas estruturadas para tais identificações, como Análise Preliminar de Perigos (APP), a Análise de Perigos e Operabilidade (HAZOP) e a Análise de Modos de Falhas e Efeitos (AMFE). c) Estimativa dos efeitos físicos e avaliação de Vulnerabilidade. Cada cenário acidental acarreta em diferentes efeitos físicos. Esses Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco46/267 podem ser decorrentes de explosões, substâncias químicas ou tóxicas, quedas, soterramentos, entre outras situações. A estimativa de efeitos físicos deve ser realizada através de modelos matemáticos que efetivamente representem os fenômenos relacionados aos cenários acidentais, assim como de acordo com as características e comportamento das substâncias potencialmente envolvidas. Os modelos a serem utilizados devem simular para cada tipologia acidental a possibilidade de liberações de substâncias tóxicas e inflamáveis. É necessária uma série de informações para a correta construção e interpretação desses modelos, assim como o dimensionamento de vazamentos, áreas de poças e massas de substâncias envolvidas em cada evento. Dentre essas informações, destacam-se: • Condições atmosféricas • Topografia • Tempo de vazamento • Área de poça • Massa de vapor envolvida no cálculo de explosão confinada • Rendimento da explosão • Valores de referência de letalidade (kW/m², faixas de 1% e 50% de fatalidade) • Distâncias consideradas • Apresentação de resultados • Mapas Deve ser feita a estimativa de danos Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco47/267 a propriedades e outros impactos econômicos e ambientais, comumente se utilizando a taxa de mortalidade para riscos agudos. a) Estimativa de frequências. Essa etapa envolve a estimação da frequência de eventos e situações acidentais escolhidos na etapa anterior. Tal etapa é obrigatória para aqueles empreendimentos em que os efeitos físicos extrapolem os limites físicos da empresa, podendo afetar terceiros e bens alheios. Em diversos estudos de análise de risco, o empreendimento pode apresentar cenários de acidentes conhecidos, sobre os quais pode se estimar a frequência através de registros históricos em bancos de dados ou referencias bibliográficas. Se a instalação for muito complexa ou não se encontre dados aceitáveis, pode ser necessário se utilizar a Análise por Árvore de Falhas como método de identificação, conseguindo, assim, as frequências. b) Estimativa e avaliação de riscos. O risco é considerado uma função que relaciona a frequência de acidentes com suas respectivas consequências, podendo- se, com base nos resultados quantitativos das etapas anteriores, estimar o risco de um empreendimento, particularmente para os danos ao homem e ao meio ambiente. Como foi visto, essas estimativas dependem de uma série de variáveis, Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco48/267 diferentes para cada empreendimento, e, muitas vezes, pouco conhecidas, apresentando diferentes níveis de incerteza, sendo praticamente impossível descrever todos os riscos existentes. Portanto, em uma avaliação de risco devem ser cobertas todas as situações que possam ter vítimas fatais, ou haja ameaças à saúde da comunidade vizinha e seus bens. O modo mais comum de se apresentar tais riscos é dividindo-os em risco social e risco individual. O risco social é aquele que associa o risco de uma população ou agrupamento depessoas expostas a danos, injúrias ou morte decorrente de um cenário acidental. A estimativa de risco social deve conter alguns dados, tais como o tipo da população (composição da área exposta, quantas moradias, estabelecimentos comerciais, escolas, hospitais etc.), efeitos em diferentes períodos e condições meteorológicas (dia, noite, clima seco, chuva), além das características das edificações onde as pessoas se encontram. O método mais comum de apresentação dos riscos sociais é pela Curva F-N (frequência-número), que relaciona dados de frequência acumulada do evento final e seus respectivos efeitos representados em termos de número de vítimas fatais, apesar de também poder ser usada para riscos individuais. O risco individual pode ser caracterizado pela probabilidade de ferimento, doença ou fatalidade de uma pessoa presente na vizinhança de um perigo, desde a natureza do dano e o Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco49/267 período de tempo em que esse pode ocorrer. Como ferimentos apresentam mais dificuldade de se avaliar devido à sua multiplicidade de formas, é difícil de conseguir estatísticas pertinentes a elas, em especial fazer uma graduação quanto à sua severidade. Sendo assim, a forma mais comum de se avaliar o risco é através de danos irreversíveis, doenças e fatalidades. O risco individual pode ser estimado para aqueles indivíduos mais expostos ao perigo, para um grupo de pessoas ou para uma média de indivíduos presentes na zona de efeito. Para saber mais Conceitos fundamentais, formas de expressão e critérios de aceitabilidade de riscos. A partir do início da década de 1970, a ocorrência de alguns acidentes industriais de grande repercussão (Island, Flixborough, Bhopal, Cidade do México, Seveso) levaram à criação de importantes leis e regulamentações sobre segurança industrial e controle ambiental nos principais países industrializados, levando à implantação de estudos de análise e gerenciamento de riscos. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/ estruturas/sqa_pnla/_arquivos/_3.pdf>. http://www.mma.gov.br/estruturas/sqa_pnla/_arquivos/_3.pdf http://www.mma.gov.br/estruturas/sqa_pnla/_arquivos/_3.pdf Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco50/267 A avaliação dos riscos envolve, principalmente, a comparação de níveis de risco, esses baseados em opiniões pessoais e quesitos subjetivos, muitas vezes variando de pessoa a pessoa, de acordo com a sua percepção e sua predisposição a riscos. No entanto, a definição de limites é algo necessário para avaliar empreendimentos com potencial de danos à população e seus bens, decorrente de acidentes ou produtos perigosos. Cada entidade que se prontifica a fazer uma avaliação de risco precisa delimitar tais valores limite e, como no caso da CETESB (2003), utilizar uma média do levantamento bibliográfico internacional dos critérios vigentes para estabelecer os seus próprios. Os riscos situados entre intolerável e negligenciável são classificados como pertencentes à zona ALARP (As Low As Reasonably Praticable), na qual precisam ser minimizados ao máximo possível. Para o risco individual, a mortalidade de 1x10-6 é aceitável, enquanto superiores a 1x10-5 são considerados inaceitáveis. a) Gerenciamento de riscos A última etapa da análise de riscos envolve a tomada de providências, desde estruturais, procedimentais e educacionais, que visem à redução das frequências e consequências de eventuais acidentes, baseadas nas considerações feitas pelas etapas anteriores, em especial na avaliação dos riscos. Ainda assim, durante a sua Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco51/267 operação, um empreendimento que utilize substâncias ou processos perigosos deve estar funcionando de acordo com padrões adequados, e sob manutenção periódica. Para tal, é recomendável que um Programa de Gerenciamento de Riscos (PRG) seja implementado, tanto para as operações rotineiras como para as excepcionais. O objetivo do PRG é promover uma sistemática que, baseada em atividades de gestão, atenda a todas as operações e equipamentos, priorizando ações baseadas nos cenários acidentais propostos. Há a necessidade das ações serem documentadas, e estabelecida a responsabilidade de cada processo. Dentre as atividades, a CETESB (2003) propõe a seguinte lista para empreendimentos de médio e grande porte: • Informações de segurança de processos; • revisão dos riscos de processos; • gerenciamento de modificações; • manutenção e garantia da integridade de sistemas críticos; • procedimentos operacionais; • capacitação de recursos humanos; • investigação de acidentes; • auditorias; • Plano de Ação de Emergências (PAE). As recomendações e medidas resultantes do estudo de análise e avaliação de Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco52/267 riscos para a redução das frequências e consequências de eventuais acidentes devem ser consideradas como partes integrantes do processo de gerenciamento de riscos; entretanto, independentemente da adoção dessas medidas, uma instalação que possua substâncias ou processos perigosos deve ser operada e mantida, ao longo de sua vida útil, dentro de padrões considerados toleráveis, razão pela qual um Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) deve ser implementado e considerado nas atividades, rotineiras ou não, de uma planta industrial. Muitas vezes, a preparação de um estudo completo de análise de risco pode ser substituída pela preparação de um plano de gerenciamento de riscos (PGR). Com isso, evitam-se as atividades complexas e detalhadas de estimativa das frequências e de simulação dos efeitos físicos, concentrando os esforços na formulação de medidas para reduzir os riscos e na preparação de um PAE. Esse plano de gerenciamento de riscos pode facilmente ser incorporado a um EIA ou a algum documento subsequente no processo de licenciamento ambiental. Um PGR apresentado para fins de licenciamento é muito semelhante a um plano de gerenciamento de risco usado internamente por algumas empresas. Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco53/267 Glossário Risco agudo: são decorrentes do mau funcionamento de um sistema tecnológico, como, por exemplo, acidentes industriais ampliados, vazamento de petróleo de um duto ou navio. Risco crônico: são decorrentes da exposição continuada, de longo prazo, da população a agentes físicos ou químicos, liberação contínua de pequenas quantidades de poluentes no meio ambiente. Negligenciar: negligenciar é o ato de omitir ou de esquecer algo que deveria ter sido dito ou feito de modo a evitar que produza lesão ou dano a terceiros. Negligência não é sinônimo de imprudência nem de imperícia. Enquanto negligência é o ato de se omitir, de agir de forma desleixada, desatenciosa, imprudência é o ato de agir de forma precipitada, de não ser comedido nem ser moderado. Questão reflexão ? para 54/267 Relatório de Impacto Ambiental da Usina Hidrelétrica de Belo Monte A construção de uma usina hidrelétrica causa efeitos negativos e positivos. E, para saber se o AHE Belo Monte poderá ser construído, foi preciso estudar o meio físico (clima, qualidade da água, recursos minerais e geologia, entre outros), o meio biótico (plantas e animais), o meio socioeconômico (atividades econômicas, condições de vida, patrimônio histórico e cultural, saúde, educação, entre outros) e as comunidades indígenas. Assim, estudos de avaliação de risco, nesse caso resumidos ao EIA (Estudos de Impacto Ambiental) e RIMA (Relatório de impacto Ambiental) de Belo Monte, demonstram os riscos e perigos que a construção de hidrelétrica trará ao meio ambiente e comunidades locais. Veja mais os detalhes de estudo e relatório de impacto ambiental da Questão reflexão ? para 55/267 hidrelétrica de Belo Monte em: <http://philip.inpa.gov.br/publ_livres/ Dossie/BM/DocsOf/RIMA-09/Rima_AHE%20Belo%20Monte.pdf>. Para saber mais Apresentação de estudo de casosobre Análise de Riscos (EAR) das instalações da Usina Termelétrica da Brasil Bio Fuels S.A. (BBF), no município de Tefé, Amazonas. Disponível em: <http://www.ipaam. am.gov.br/arquivos/download/arqeditor/RIMA/ANEXO%20XII%20 -%20EAR.pdf>. http://philip.inpa.gov.br/publ_livres/Dossie/BM/DocsOf/RIMA-09/Rima_AHE%20Belo%20Monte.pdf http://philip.inpa.gov.br/publ_livres/Dossie/BM/DocsOf/RIMA-09/Rima_AHE%20Belo%20Monte.pdf file:http://www.ipaam.am.gov.br/arquivos/download/arqeditor/RIMA/ANEXO%2520XII%2520-%2520EAR.pdf http://www.ipaam.am.gov.br/arquivos/download/arqeditor/RIMA/ANEXO%20XII%20-%20EAR.pdf http://www.ipaam.am.gov.br/arquivos/download/arqeditor/RIMA/ANEXO%20XII%20-%20EAR.pdf http://www.ipaam.am.gov.br/arquivos/download/arqeditor/RIMA/ANEXO%20XII%20-%20EAR.pdf 56/267 Considerações Finais » Estudos de análise de risco: busca identificar os perigos e estimar os riscos, estimando matematicamente as probabilidades de ocorrência de um evento e a magnitude das consequências. » Análise de vulnerabilidade: previsão das consequências ambientais, caso se concretizem os cenários considerados para análise. » Gerenciamento de risco: consiste na formulação de diferentes medidas para evitar a ocorrência de acidentes ou reduzir seus efeitos. » Plano de gerenciamento de riscos (PGR): deve descrever todos os procedimentos propostos e os recursos necessários, concentrando-se nos aspectos críticos identificados anteriormente e dando prioridade aos cenários acidentais mais importantes. Unidade 2 • Avaliação e Gerenciamento de Risco57/267 Referências ANDREWS, R.L.N. Environmental impact assessment and risk assessment: learning from each other. In: Environmental impact assessment: theory and practice. Wathern, P. London: Unwin Hyman, 1988. p. 85-97. CARPENTER, R.A. 1995. Risk assessment. In: Environmental and social impact assessment. Vanclay, F. & Bronstein, D.A. Chichester: John Wiley & Sons. p. 193-219. CETESB – Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Ambiental. 2003. Norma técnica P 2461. Manual de orientação para elaboração de estudos de análise de riscos. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, seção 1, n.113, v. 156, p. 34-43. GRIAM, A.P. et al. Risk management and EIA: research needs and opportunities. Hull: Canadian Environmental Assessment Research Council, 1986. SÁNCHES, L.E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. 58/267 1. Por que em uma situação de risco tecnológico os riscos crônicos são mais difíceis de serem reconhecidos, prevenidos e gerenciados do que os agudos? a) Riscos crônicos apresentam efeitos imediatos, porém seus danos são pequenos. b) As consequências dos riscos agudos são perceptíveis a longo prazo. c) Riscos crônicos apresentam consequências a longo prazo. d) Riscos crônicos apresentam consequências à saúde das pessoas, mas não ao meio ambiente. e) Riscos agudos são mais perigosos do que os riscos crônicos. Questão 1 59/267 2. Estudos de análise de risco relacionam frequência e magnitude de ocorrência. De que forma podemos diminuir os danos de um referido risco? a) Diminuindo a frequência e aumentando a magnitude. b) Diminuindo a frequência e/ou a magnitude. c) Aumentando a frequência e diminuindo a magnitude. d) Controlando a frequência e mantendo a mesma magnitude. e) São impossíveis de serem diminuídos. Questão 2 60/267 3. A elaboração de um Programa de Gerenciamento de Riscos deve abordar os seguintes elementos, exceto: a) Plano de Ação de Emergência. b) Revisão dos riscos de processos. c) Capacitação de recursos humanos. d) Investigação de acidentes. e) Caracterização da área e empreendimento. Questão 3 61/267 4. Por que em projetos de avaliação de risco ambiental a maior preocupação refere-se aos riscos tecnológicos? a) Porque os riscos naturais não ocasionam danos. b) Porque os riscos tecnológicos estão intimamente associados à ação humana, e podem causar danos de grande magnitude. c) Porque os riscos tecnológicos podem ocasionar danos apenas a sistemas operacionais e máquinas. d) Porque os riscos naturais são mais previsíveis e fáceis de serem prevenidos. e) Porque os riscos tecnológicos estão associados a danos de pequeno impacto, e de fácil prevenção. Questão 4 62/267 5. Assinale a alternativa que indique quais das alternativas não está incluída na caracterização de risco de um empreendimento: a) Aspectos construtivos e operacionais do empreendimento. b) Particularidades locais e regionais. c) Caracterização da instalação. d) Elaboração de um plano de ação emergencial. e) Estimativa de frequências. Questão 5 63/267 Gabarito 1. Resposta: C. Em situações de risco agudo, os danos são imediatos, enquanto que os riscos crônicos os danos são perceptíveis a médio ou longo prazo. 2. Resposta: B. Risco é uma função da frequência e magnitude, então deve-se diminuir um ou ambos para uma redução dos seus danos. 3. Resposta: E. A caracterização da área e do empreendimento compreende uma fase da avaliação de risco, e não do gerenciamento. 4. Resposta: B. Os riscos tecnológicos são aqueles associados à ação humana, e com maior chance de danos ao meio ambiente e às pessoas. 5. Resposta: D. A elaboração de um Plano de Ação Emergencial faz parte do Gerenciamento de riscos e não deve ser realizada durante a fase de caracterização de risco. 64/267 Unidade 3 Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários Objetivos Os enormes danos e prejuízos individuais e coletivos, transtornos insuportáveis e recorrentes no trânsito das grandes cidades e o assustador número de mortes associadas aos períodos chuvosos dos últimos anos têm trazido ao debate a temática dos riscos urbanos. Nesse contexto, o objetivo desta aula é compreender os mecanismos que acentuam os riscos de escorregamentos, bem como as possíveis medidas de manejo, prevenção e gestão das áreas de risco e pessoas envolvidas. Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários65/267 Introdução Os principais fenômenos relacionados a desastres naturais no Brasil são os deslizamentos de encostas e as inundações, que estão associados a eventos pluviométricos intensos e prolongados, repetindo-se a cada período chuvoso mais severo. Apesar de as inundações serem os processos que produzem as maiores perdas econômicas e os impactos mais significativos na saúde pública, são os deslizamentos que geram o maior número de vítimas fatais. Esse fato justifica a concepção e implantação de políticas públicas municipais específicas para a gestão de risco de deslizamentos em encostas (CARVALHO; GALVÃO 2006). Os deslizamentos de encostas são fenômenos naturais, que podem ocorrer em qualquer área de alta declividade, por ocasião de chuvas intensas e prolongadas. No entanto, a remoção da vegetação original e a ocupação urbana desordenada (favelas, assentamentos, e loteamentos irregulares) tendem a tornar mais frágil o equilíbrio naturalmente precário, fazendo com que os deslizamentos passem a ocorrer com maior frequência e magnitude. Associado a esses fatores de risco, somam-se a execução de cortes e aterros instáveis para a construção de moradias e vias de acesso, a deposição de lixo nas encostas, a ausência de sistemas de drenagem de águas pluviais e coleta de esgotos, a elevada densidade populacional e a fragilidade das moradias (CARVALHO; GALVÃO, 2006). Os escorregamentos Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários66/267 podem movimentar, além de rochas, solo e vegetação, depósitos artificiais (lixo, aterros, entulhos) ou materiais mistos. Embora tais acidentes também ocorram em áreas ocupadas de forma regular e, portanto, dotadas de infraestrutura urbana, é certo que predominam em áreas de assentamentos precários ou subnormais. A cada estação chuvosa, ocorrem graves acidentesassociados a escorregamentos em áreas urbanas de vários municípios brasileiros, muitas vezes resultando em perdas de vidas e ferimentos, e, quase sempre, em prejuízos materiais que representam grave impacto na capacidade de desenvolvimento da população que reside nas áreas afetadas (CERRI; NOGUEIRA, 2012). Levantamentos de riscos realizados em encostas de vários municípios brasileiros indicam que, em todos eles, a falta de infraestrutura urbana é uma das principais causas dos fenômenos de deslizamentos no Brasil. Dessa forma, uma política eficiente de prevenção de riscos de deslizamentos em encostas deve considerar como áreas prioritárias de atuação os assentamentos precários e deve também fazer parte das políticas municipais de habitação, saneamento e planejamento urbano. De acordo com levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, os acidentes graves relacionados com deslizamentos atingem de forma recorrente um número Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários67/267 relativamente pequeno dos 5.563 municípios brasileiros, girando em torno de 150 os que tiveram vítimas fatais nos últimos 17 anos. Os municípios mais vulneráveis localizam-se nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Espírito Santo. A prevenção dos acidentes associados a deslizamentos de encostas deve fazer parte da gestão do território e da política de desenvolvimento urbano, constituindo-se em uma atribuição municipal. Em 2003, o Ministério das Cidades instituiu a Ação de Apoio à Prevenção e Erradicação de Riscos em Assentamentos Precários, no âmbito do Programa de Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários. Trata-se de articular um conjunto de ações visando à redução de risco nas áreas urbanas, e estando em concordância com os programas de urbanização e regularização de favelas e loteamentos precários, áreas particularmente mais vulneráveis à ocorrência de desastres associados aos deslizamentos de encostas. De modo geral, os programas preventivos de acidentes estão estruturados na formação de grupos especialmente encarregados de: elaborar e atualizar permanentemente o mapeamento de risco no município; monitorar precipitações pluviométricas e estabelecer ações preventivas de Defesa Civil; desenvolver ações de mobilização da comunidade envolvendo aspectos de educação Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários68/267 ambiental, monitoramento de situações de risco e técnicas construtivas adequadas; mobilizar os demais órgãos da prefeitura encarregados do socorro a vítimas e estabelecer a necessária articulação com os governos estadual e federal, por meio do Sistema Nacional de Defesa Civil; estabelecer redes de solidariedade para apoio às famílias em risco; e, finalmente, planejar a implantação de intervenções estruturais de segurança, como redes de drenagem, obras de contenção de taludes ou remoção de moradias (CARVALHO; GALVÃO, 2006). Dentro de um contexto maior, a análise de riscos associados a escorregamentos envolve inicialmente o mapeamento de riscos, a gestão de riscos e escorregamentos que incluem a identificação e análise das situações de risco, o planejamento de intervenção estrutural, monitoramento permanente, e por fim a informação pública e capacitação para autodefesa. 1. Mapeamento de Riscos Asso- ciados a Escorregamentos Os mapeamentos de risco requerem que sejam consideradas tanto a probabilidade (ou possibilidade) de ocorrência do evento adverso (processos de instabilidade associados a escorregamentos em encostas) quanto as consequências potenciais, sociais e/ou econômicas a eles associadas. Nogueira (2002) descreve que Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários69/267 a consequência decorrente de um acidente é função da vulnerabilidade, e que essa é dependente da suscetibilidade de pessoas e/ou bens a serem afetados, bem como da “resiliência” dos elementos expostos. O termo “resiliência” corresponde à capacidade de resposta de uma determinada população supostamente afetada por um acidente, ou seja, na habilidade das pessoas em reagir ao sinistro e em recuperar a condição normal, anterior ao acidente (CERRI; NOGUEIRA, 2012). A avaliação qualitativa da probabilidade (ou possibilidade) de um determinado fenômeno físico ocorrer em um local e período de tempo definidos deve levar em conta as características específicas do processo perigoso em questão, especialmente a sua tipologia, mecanismo, material envolvido, magnitude, velocidade, tempo de duração, trajetória, severidade etc., o que requer a identificação dos condicionantes naturais e induzidos dos processos perigosos, o reconhecimento de indícios de seu desenvolvimento, bem como de feições e evidências indicativas de instabilidades. Tais condicionantes, aliados à experiência da equipe executiva envolvida nas atividades de identificação e análise de riscos, podem subsidiar a elaboração de adequados programas de gerenciamento de riscos, que acabam por reduzir substancialmente a ocorrência de acidentes geológicos, bem como tornam mínima a dimensão de suas consequências. Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários70/267 Operacionalmente, no primeiro passo, é necessário definir quais as áreas que serão objetos de mapeamento de risco, bem como a localização e a dimensão dessas áreas. Sugere-se a elaboração de um quadro contendo: a) número da área a ser mapeada; b) denominação da área; c) localização da área (de preferência citar as ruas dos limites da área); e d) coordenadas geográficas (obtidas por meio de leitura do Global Positioning System – GPS, realizadas no campo). Posteriormente, para que seja possível uma visualização da distribuição das áreas de risco mapeadas, é desejável que seja elaborado um mapa de localização das áreas de risco, em escala que permita a análise da distribuição espacial das áreas de risco. A identificação das áreas de maior frequência de acidentes e sua distribuição no território do município orienta o mapeamento de risco de escorregamentos dimensionamento da equipe executiva do mapeamento, realizada com base em fotos verticais em escalas próximas a 1:5000, cópias de bases cartográficas com representação da cartografia e da ocupação existente, histórico de acidentes, registros de processos de instabilidade, cópia de relatórios técnicos etc. A reunião do material técnico descrito visa possibilitar a realização de uma análise preliminar das áreas a serem mapeadas. Desse modo, as equipes responsáveis pelos trabalhos de campo já se dirigem às áreas indicadas para mapeamento com uma série de informações técnicas que devem Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários71/267 permitir realizar o mapeamento de forma eficaz e mais ágil. A partir daí, passa-se à realização dos trabalhos de campos para identificação dos riscos, que devem adotar os seguintes procedimentos: • Definir qual ou quais processos destrutivos (processos perigosos) são objeto do mapeamento de risco e elaborar, para cada processo, um modelo de ocorrência; • realizar trabalhos de campo, por meio de investigações geológico- geotécnicas de superfície, visando identificar condicionantes dos processos de instabilidade, evidências (feições) de instabilidade e indícios (sinais) do desenvolvimento de processos destrutivos. Relacionar os aspectos que devem ser observados durante a realização das investigações de campo para definição do grau de probabilidade de ocorrência do processo destrutivo (para a região Sudeste, tem-se adotado a listagem reproduzida no Quadro 1 – Listagem de controlepara diagnóstico de setores e para descrição dos processos de instabilização e o Quadro 2 – Critérios para caracterização da ocupação); • relacionar os aspectos que devem ser observados durante a realização das investigações de campo, de modo a não deixar de verificar todos os aspectos importantes para a Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários72/267 definição do grau de probabilidade de ocorrência do processo destrutivo. • registrar os resultados das investigações geológico-geotécnicas e das interpretações em fichas de campo específicas. Caracterização do local Talude natural/corte, altura do talude, aterro compactado/lançado, distância da moradia, declividade, estrutura do solo, presença de blocos de rocha/matacões/ paredões rochosos, presença de lixo/atelho, aterro, ocupação de cabeceira de drenagem. Evidências de Movimentação Trincas na moradia/aterro, Inclinação de árvores/postes/ muros, degraus de abatimento, cicatrizes de escorregamentos, feições erosivas, muros/ paredes “embarrigados”. Água Concentração de água da chuva na superfície, lançamento de água servida em superfície, presença de fossas/rede de esgoto/rede de água a céu aberto, surgimento de águas e vazamentos. Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários73/267 Vegetação no talude ou proximidades Presença de árvores, vegetação rasteira, área desmatada, área de cultivo Margens de córrego Tipo de canal (natural/sinuoso/ retificado), distância da margem, altura do talude marginal, altura de cheias, trincas na superfície do terreno Quadro 1. Listagem de controle para diagnóstico de setores de risco e para descrição dos processos destrutivos (baseado em CARVALHO & GALVÃO, 2006) Categoria de ocupação Características Área consolidada Áreas densamente ocupadas, com infra estrutura. Área parcialmente consolidada Áreas em processo de ocupação, adjacentes a áreas de ocupação consolidada. Densidade da ocupação variando de 30 a 90%. Razoável infra estrutura. Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários74/267 Área parcelada Áreas de expansão, periféricas e distantes de núcleo urbanizado. Baixa densidade de ocupação (até 30%). Desprovidas de infra estrutura básica Área mista Nesses casos, caracterizar a área quanto a densidade de ocupação e quanto a implantação de infra estrutura básica. Quadro 2. Critérios para caracterizar a densidade da ocupação e implantação de infra estrutura básica (baseado em CARVALHO & GALVÃO, 2006) Gestão de Riscos de Escorregamentos A gestão de riscos de escorregamentos pode ser definida como um processo social relativamente complexo destinado a reduzir os níveis de risco existentes e prever e controlar situações futuras de risco. Envolve o desenvolvimento de uma série concatenada de atividades que, ao final, deve conduzir à implementação de estratégias, instrumentos e ações de redução e controle dos riscos (LAVELL, 2003). Entretanto, a prática mais frequente das cidades brasileiras ainda se restringe ao atendimento pós-acidente, e restrita aos organismos de Defesa Civil e ao gerenciamento do acidente ou do desastre. Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários75/267 Para Veyret (2007), “a crise ou a catástrofe deve ser gerenciada na urgência pelos serviços de socorro, no contexto de planos definidos de antemão, ao passo que o risco exige ser integrado às escolhas de gestão e às políticas de organização dos territórios”. Lavell (2003) considera que as atividades necessárias para a construção de políticas de gestão de riscos devem incluir: • a construção de cenários de risco para áreas, setores e populações delimitadas, considerando um determinado processo perigoso (hazard) e os fatores de vulnerabilidade; • a decisão sobre os níveis de risco aceitáveis e inaceitáveis, levando em conta o contexto em que o risco se manifesta; • a identificação de estratégias, instrumentos e atividades de redução e controle de risco potencial e a discussão e negociação de soluções exequíveis; • a implementação das medidas e estratégias de redução de riscos. Atualmente, para a gestão de riscos associados a escorregamentos, tem sido empregada a estratégia que envolve os seguintes passos (modificada de UNDRO 1991): a. Identificação, análise e mapeamento das situações de risco, em escala adequada: uma primeira e Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários76/267 imprescindível etapa do gerenciamento de riscos consiste em identificar, analisar, cartografar e descrever seus componentes para poder construir uma estratégia adequada para seu enfrentamento. Para Augusto Filho (2001), esse é um dos fundamentos do gerenciamento de riscos: a existência de técnicas que permitem identificá- los e avaliá-los. Não há possibilidade de prevenção de acidentes se não é possível prevê-los, e não é possível prevê-los sem o mapeamento de riscos na escala adequada (conforme explicado anteriormente), que possibilite associar o alcance, em caso de ocorrência do potencial processo físico identificado, a edificações e equipamentos existentes nomeio urbano; b. planejamento de intervenções estruturais para redução ou erradicação dos riscos: a partir da criação do Ministério das Cidades, que teve sua origem em 2003, houve a incorporação do conceito de gestão de riscos como um componente indispensável na gestão urbana. Dentro do Programa de Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários da Secretaria Nacional de Programas Urbanos, foi criada a Ação de Apoio a Programas Municipais de Redução e Erradicação de Riscos. Com recursos do Orçamento Geral da União, desde 2004 o Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários77/267 Ministério disponibilizou recursos e suporte técnico para cerca de sessenta e cinco municípios elaborarem seus Planos Municipais de Redução de Riscos, denominados PMRR. Para o Ministério das Cidades, o PMRR deve contemplar, no mínimo: (1) um diagnóstico do risco nos assentamentos precários do município, tendo por referência metodológica o documento “Critérios para elaboração do mapeamento de riscos em assentamentos precários” (BRASIL, 2007); (2) a proposição de intervenções estruturais para redução e controle de riscos nos setores mais críticos do diagnóstico; (3) a estimativa de custos para as intervenções sugeridas; (4) o estabelecimento de uma escala de prioridades de intervenção, com critérios definidos em conjunto com a prefeitura; (5) a identificação de fontes de recursos potenciais para a implantação das intervenções prioritárias, buscando programas dos governos municipal, estadual e federal; (6) a realização de audiência pública para discussão do plano e busca de agenda comum para implantação das intervenções prioritárias. Têm sido priorizados estudos de riscos associados à instabilidade de taludes em encostas e margens de córregos, envolvendo processos de escorregamentos e erosão (e, mais particularmente, solapamento de taludes fluviais marginais) em ocupações. Diversos relatos e análise dos PMRR executados podem ser Unidade 3 • Mapeamento e Gestão de Riscos de Escorregamentos em Áreas de Assentamentos Precários78/267 encontrados em Nogueira et al. (2005); Vieira et al. (2007); Yoshikawa et al. (2007); Gramani et al. (2007); Vilarinho Silva et al. (2007); Souza et al. (2008), entre outros. Em grande parte desses estudos, são apresentadas propostas de intervenções estruturais e não estruturais para o controle e a redução dos riscos e, em alguns casos, metas e estratégias para a erradicação das situações de riscos identificadas. Pelo menos 20% dos estudos já concluídos incluem uma análise
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