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HABEAS CORPUS E HABEAS DATA NO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

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1. HABEAS CORPUS NA JUSTIÇA DO TRABALHO 
Trata-se de remédio constitucional, exercido por meio de uma ação mandamental, que tem objetivo tutelar o direito à liberdade de locomoção, representado pelo direito de ir, vir, parar e permanecer. Está previsto no art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal, in verbis: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
Em relação à natureza jurídica do habeas corpus, o entendimento majoritário é de que se trata de ação criminal. Entretanto, parcela minoritária da doutrina e jurisprudência entende que se trata de um remédio constitucional que visa tutelar a liberdade. Nesse sentido, é o entendimento de o Mauro Schiavi[footnoteRef:1]: [1: SCHIAVi, Mauro. MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO. São Paulo: LTr, 2016, p. 1671.] 
Quanto à natureza jurídica do habeas corpus, em que pese a opinião majoritária da doutrina e jurisprudência em sentido contrário, não se trata de uma ação criminal e sim de um remédio constitucional para tutelar a liberdade de locomoção contra ato ilegal ou abuso de poder, não sendo exclusivamente uma ação de natureza penal. 
2. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO
Antes da Emenda Constitucional n. 45/2004, entendia-se que a Justiça do Trabalho não tinha competência para julgar habeas corpus, ainda que o Juiz do Trabalho fosse a autoridade coatora, cabendo a Justiça Federal apreciá-lo.
Com o advento da referida Emenda, foi introduzido o inciso IV ao art. 114 da CF/88, prevendo expressamente a possibilidade da Justiça do Trabalho apreciar habeas corpus quando o ato questionado envolver matéria submetida à sua jurisdição. Vejamos: 
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:   
[...]
IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;    
Sendo assim, foram extirpadas quaisquer dúvidas em relação a competência da Justiça do Trabalho para apreciar habeas corpus, desde que verse sobre matéria sujeita à sua jurisdição. 
3. HIPÓTESE DE CABIMENTO DE HABEAS CORPUS NA JUSTIÇA DO TRABALHO
a- Depositário infiel 
Nos termos do art. 652 do CC/02, caso o depositário deixe de fazer o depósito, será instado a fazê-lo por meio de prisão, in verbis: art. 652. Seja o depósito voluntário ou necessário, o depositário que não o restituir quando exigido será compelido a fazê-lo mediante prisão não excedente a um ano, e ressarcir os prejuízos.
Conforme já dito, antes da Emenda n. 45/2004, a Justiça do Trabalho não tinha competência para apreciar habeas corpus. Assim, caso fosse utilizado esse remédio constitucional contra decisão prolatada por Juízo do Trabalho, determinando a prisão do depositário infiel, a competência para apreciá-lo seria da Justiça Federal. 
Após o advento da Emenda n. 45, foi atribuída competência à Justiça do Trabalho para apreciar habeas corpus que versem sobre matérias sujeitas a jurisdição. 
Sendo assim, em tese, a Justiça do Trabalho tem competência para apreciar habeas corpus impetrado contra decisão prolatada por Juiz do Trabalho que determine a prisão do depositário infiel, no curso da execução. 
Em 2008, no julgamento dos Recursos Extraordinários n. 466.343 e 349.703 e do Habeas Corpus 87.585, o STF posicionou-se no sentido da impossibilidade de prisão do depositário infiel, com base no Pacto de San José da Costa Rica. Isso porque, em razão desse Tratado versar sobre Direitos Humanos foi reconhecido seu caráter supralegal, ou seja, está abaixo da Constituição Federal e acima da legislação infraconstitucional. Assim, na hipótese de conflito entre o referido Pacto e a legislação infraconstitucional, o primeiro deve prevalecer. 
Com base nesses julgamentos, foi editada a Súmula Vinculante n. 25, reconhecendo como ilícita a prisão civil do depositório infiel qualquer que seja a modalidade de depósito. E, por conseguinte, foi cancelada a n. 619, que previa a possibilidade de decretação da prisão da civil do depositário infiel, no qual foi constituído o encargo. 
Nesse sentido, é a posição dos TRT’s e do TST:
AGRAVO DE PETIÇÃO. PEDIDO DE PRISÃO CIVIL DOS EXECUTADOS POR DÉBITO TRABALHISTA. O artigo 5º, inciso LXVII, da Constituição Federal prevê a prisão civil do devedor da dívida de caráter alimentício e no caso de depositário infiel. Muito embora o crédito trabalhista ostente natureza alimentar, este não se confunde com a prestação de alimentos, prevista no direito de família razão pela qual incabível a decretação de prisão civil do devedor trabalhista. Agravo de petição interposto pelos exequentes ao qual se nega provimento.(TRT-4 - AP: 00102711220145040141, Data de Julgamento: 13/05/2019, Seção Especializada em Execução)
DEPOSITÁRIO INFIEL. PRISÃO ILÍCITA. A ilicitude da prisão por dívida do depositário infiel, encontra-se pacificada pela Súmula Vinculante nº 05, do STF, que dispõe "É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.". (TRT-1 - HC: 00100909320155010000 RJ, Relator: ALVARO LUIZ CARVALHO MOREIRA, Data de Julgamento: 09/04/2015, SEDI-2, Data de Publicação: 14/04/2015)
DESCUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL. PRISÃO CIVIL DE DEPOSITÁRIO INFIEL. ILICITUDE. A prisão de depositário infiel já não é mais possível, em razão do entendimento pacífico do E. Supremo Tribunal Federal no sentido de que a prisão por dívida no Brasil está restrita à hipótese de inadimplemento voluntário e inescusável de pensão alimentícia, por ter ratificado, sem qualquer reserva, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica. Nesse sentido foi editada a Súmula Vinculante nº 25, do. E. STF, fixando que "É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito". ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA- ADVERTÊNCIA AO EXECUTADO - PERSISTÊNCIA NA CONDUTA REPROVÁVEL – MULTA- Mesmo antes do advento da Lei n. 11.382, de 6.12.06, já se considerava atentatória à dignidade da justiça a recusa do executado em exibir o bem penhorado para que o mesmo seja removido; ... (TRT 17ª R., 0050400-94.2011.5.17.0014, Rel. Desembargador Lino Faria Petelinkar, DEJT 10/07/2013).(TRT-17 - AP: 00504009420115170014, Relator: DESEMBARGADOR LINO FARIA PETELINKAR, Data de Publicação: 10/07/2013)
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS . DEPOSITÁRIO INFIEL. PRISÃO CIVIL. IMPOSSIBILIDADE. A despeito da possibilidade de concessão da ordem ante o que estatui a OJ 143 desta eg. Subseção, bem como antes de se cogitar da hipótese de depositário fiel ou infiel, tem-se que a expedição do decreto prisional no caso em exame mostra-se ilegalpor outro fundamento, notadamente aquele acerca da ilegalidade da prisão civil do paciente na condição de depositário infiel, porquanto relacionado à aplicação das Convenções e dos Tratados Internacionais sobre direitos humanos dos quais o Brasil é signatário, sobretudo o Pacto de São José da Costa Rica, que prevê a exclusividade da prisão civil do devedor de alimentos. Precedentes desta egrégia Subseção em observância à jurisprudência do Pretório STF, que, inclusive, cancelou entendimento anterior sufragado na Súmula 619 daquele Tribunal. Ordem de habeas corpus concedida, com o fim de outorgar o salvo conduto em favor do paciente. Recurso ordinário provido . (TST - ROHC: 377003220045150000 37700-32.2004.5.15.0000, Relator: Emmanoel Pereira, Data de Julgamento: 14/12/2010, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 17/12/2010)
b- Ato do empregador
É cabível habeas corpus quando o empregador ou tomador de serviços restringirem a liberdade de locomoçãodo empregado em razão de qualquer motivo. Nessa situação, não estaria a Justiça do Trabalho tratando de matéria criminal, porquanto a defesa da liberdade do empregado é matéria de sua competência. Nesse sentido é entendimento de Mauro Shiavi[footnoteRef:2]: [2: SCHIAVi, Mauro. MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO. São Paulo: LTr, 2016, p. 1475. ] 
A Justiça do Trabalho neste caso não está apreciando matéria criminal, ou se imiscuindo em atividade policial, mas julgando ato que está dentro de sua competência material, pois cumpre à Justiça do Trabalho defender a liberdade ao trabalho, os valores sociais do trabalho e a dignidade da pessoa humana do trabalhador (art 1º, incisos III e IV, da CF).
A possibilidade de impetração de habeas corpus é estendida contra ato de empregador particular, não estando restrita ao abuso de poder praticado por autoridade, conforme se verifica do art. 5º, inciso LXVIII, da CF. nesse sentido, é a opinião de Mauro Schiavi e Edilton Meireles. 
4. COMPETÊNCIA FUNCIONAL E PROCEDIMENTO 
Se o habeas corpus for impetrado contra ato de particular, a competência será de uma das varas do TRT. Quando for impetrado contra ato de juiz monocrático do Trabalho, a competência será do TRT. Contra ato dos desembargadores dos TRT’s a competência será do TST. 
Por fim, nos termos do art. 102, inciso I, i, da CF, a competência será do STF quando o ato impugnado for praticado pelos ministros do TST. 
Mauro Schiavi defende que, muito embora a Justiça do Trabalho tenha competência para apreciar o habeas corpus, não será aplicado o procedimento previsto na CLT, mas sim o previsto no Código de Processo Penal (a partir do art. 647), com base no art. 769 da CLT, em razão da omissão desta. 
Quanto à legitimidade ativa, o habeas corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa na esfera trabalhista em seu próprio favor ou de terceiro, bem como pelo Ministério Público do Trabalho. Além disso, os Tribunais Regionais do Trabalho e os juízes do trabalho podem expedir ofício quando no curso do verificarem que prisão foi ilegal 
Em relação a legitimidade passiva, ele pode ser impetrado contra ato de particular ou de autoridade coatora perante a Justiça do Trabalho, desde que verse sobre matéria sujeita a jurisdição desta. 
Na ação de habeas corpus não há pagamento de custas, nos termos do inciso LXXVII, do art. 5º, da CF. 
É possível deferir liminar em sede habeas corpus. Tanto na hipótese de concessão de liminar ou não, a parte adversa deve ser intimada para que apresente reposta. 
5. ANÁLISE DE CASOS CONCRETOS
Primeiro caso: trata-se do processo tombado sob o n. 0001031-70.2015.5.05.0000, no qual foi impetrado habeas corpus em favor dos empregados que estavam impedidos de acessar as unidades de trabalho. O salvo-conduto foi concedido liminarmente em favor dos pacientes, com autorização de requisição de força policial. 
A concessão da liminar teve como fundamento a inobservância do comando previsto no § 3º, do art. 6º da Lei de greve, segundo o qual o movimento grevista não pode obstar o acesso ao trabalho, tampouco causar dano à propriedade. 
Quando do julgamento, o processo foi extinto sem resolução de mérito em razão da perda superveniente do objeto, considerando que o movimento grevista findou por meio de deliberação em assembleia. 
Segundo caso: trata-se do processo tombando sob o n. 0001013-15.2016.5.05.0000, no qual foi impetrado habeas corpus em favor de um funcionário devidamente qualificado e demais empregados e prestadores de serviço da Petrobrás contra o SIMCOLBA/BA, SINDIPETRO/BA e CUT/BA. 
O habeas corpus teve como causa de pedir o impedimento de acessar as unidades de trabalho, bem como os danos causados pelo movimento grevista. 
Em sede liminar, foi concedido o salvo-conduto em favor dos pacientes e arbitrada multa caso a decisão fosse descumprida. 
Quando do julgamento, o processo foi extinto sem resolução de mérito em razão da perda superveniente do objeto. Sendo, contudo, mantida a execução da multa que os impetrados incidiram em razão de descumprir a liminar.

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