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ÉTICA, DIRETITOS HUMANOS X DIREITOS DA CIDADANIA

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AULA 1 
ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E 
DIREITOS DA CIDADANIA 
Profª Juliana Bertholdi 
 
 
2 
TEMA 1 – BREVE INTRODUÇÃO AO TEMA 
A presente aula tem por escopo investigar a interação entre a ética, os 
direitos humanos e os direitos da cidadania, relacionando como tais matérias 
podem auxiliar na gestão pública e na construção de políticas públicas assertivas 
e funcionais. 
Conforme assente mais adiante, é preciso pensar não só políticas públicas 
que garantam o acesso de todos aos direitos assegurados pela Constituição 
Federal, como também uma cidadania eticamente comprometida com a 
realidade e a transformação social. Uma Política de Direitos Humanos, com 
base na ética e na participação cidadã, que garanta aos indivíduos a condição de 
ser, no plano econômico, um cidadão sadio, no plano político, um cidadão 
participante, no plano intelectual, um cidadão consciente das relações de poder, 
e, no plano da ética, um cidadão comprometido com a realidade social. 
TEMA 2 – O QUE É ÉTICA? 
2.1 Conceito 
Desde sua origem, o ser humano, ser social que é, aderiu à convivência 
em comunidade para preservar sua vida e minimizar as agruras com a 
manutenção de sua sobrevivência: primitivamente, a vida coletiva significava a 
permanência da espécie. 
Como consequência da vida do ser humano em comunidade, a aquisição 
e a construção de valores acerca do bem e do mal, do justo e do injusto, do certo, 
do incerto e do errado, por força da habitualidade, tornaram-se costumes, regras 
aceitas, obedecidas por toda a comunidade e transmitidas por meio das gerações, 
constituindo o domínio da ética e da moral (Felizardo, 2012, p. 3). 
Nesse sentido, Cortella (2009, p. 102) ensina que a ética é o que marca a 
fronteira da nossa convivência – em suas palavras, “é aquela perspectiva para 
olharmos os nossos princípios e os nossos valores para existirmos juntos [...], é o 
conjunto de seus princípios e valores que orientam a minha conduta”. 
No que concerne a um assunto clássico dos filósofos e pensadores, Chauí 
(1998, p. 25) afirma que a filosofia existe há 25 séculos, e que, nesse período, a 
ética como um dos seus principais ramos esteve sempre presente e continua viva. 
 
 
3 
A ética é compreendida atualmente como parte da filosofia, cuja teoria 
estuda o comportamento moral e relaciona a moral como uma prática, entendida 
por Cortella (2009, p. 103) como o “exercício das condutas”. Além disso, é 
entendida como um tipo ou qualidade de conduta que é esperada das pessoas 
como resultado do uso de regras morais no comportamento social. 
Academicamente, a ética é uma disciplina filosófica que estuda três famílias 
de problemas, dividindo-se por isso em três áreas, conforme ensinamentos de 
Murcho (2009): 
 A metaética estuda problemas relacionados com a natureza da própria 
ética, como a questão de se saber se os valores éticos são relativos ou não 
– tema que abordaremos em seguida. 
 A ética normativa estuda o problema de se saber o que é o bem último, isto 
é, o bem que não é meramente instrumental para outros bens, e o problema 
de se saber o que faz uma ação ser boa – o deontologismo, o 
consequencialismo, a ética das virtudes e o contratualismo são as quatro 
grandes famílias de teorias éticas normativas. 
 Finalmente, a ética aplicada ou prática estuda problemas como a 
permissibilidade do aborto, a relevância moral dos animais inumanos, a 
obrigatoriedade de ajudar as populações mais pobres ou a moralidade da 
guerra. 
Em suma, a ética discute os valores que se traduzem em existências 
humanas mais felizes, mais realizadas, com mais bem-estar e qualidade de vida. 
Além disso, busca os valores que signifiquem dignidade, liberdade, autonomia e 
cidadania. 
Conforme pontua Cortina (2003, p. 18), inobstante a palavra ética ter 
passado a fazer parte do vocabulário cotidiano, demonstrando a vigência de uma 
preocupação urgente e universal: “ninguém chega realmente a acreditar que ela 
seja importante, e mesmo essencial para viver”. Há de se questionar, portanto, 
por que a ética se tornou tema ao mesmo tempo recorrente e banalizado, 
superficial. 
À medida que entendemos a importância da ética para a sobrevivência 
humana com qualidade e integridade, compreendemos também a complexidade 
envolvida em suas relações com outros campos do saber e da prática, incluindo 
os Direitos Humanos e os Direitos à Cidadania, fundamentais à vida humana em 
sociedade. 
 
 
4 
TEMA 3 – FUNDAMENTOS DA ÉTICA 
O vocábulo ética tem sua origem no grego ethos, vernáculo que se refere 
ao modo de ser do indivíduo ou ao caráter do ser humano. Na Grécia antiga 
(século IV a.C.), os filósofos foram os primeiros a pensar o conceito de ética, 
associando a tal palavra a ideia de moral e cidadania. Precisavam de honestidade, 
fidelidade e harmonia entre cidadãos, uma vez que as cidades-estado estavam 
em desenvolvimento. 
Nesse sentido, Sócrates, Platão e Aristóteles são os pensadores gregos 
mais estudados e citados no campo da ética. Pregavam virtude, firmeza moral e 
outras atitudes pautadas nos conceitos advindos de ethos. Com o passar dos 
séculos, diferentes escolas de pensamentos e filósofos construíram e 
aperfeiçoaram os conceitos, e é fulcral que se faça uma breve incursão histórica. 
3.1 Grécia Antiga 
3.1.1 Sócrates 
Nascido em Atenas provavelmente no ano 740 a.C., Sócrates veio a se 
tornar um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Afeiçoado à música e à 
literatura, dedicou-se à meditação e ao ensino filosófico, debatendo e dialogando 
longamente com as pessoas de sua região. 
Assim, não fundou propriamente uma escola de pensamento, mas, realizou 
trabalhos em locais públicos, principalmente em praças e ginásios. Costumava 
agir de forma descontraída e descompromissada nesses espaços, fascinando a 
todos. 
A ética socrática tem por base o conhecimento e conjeturar a felicidade 
como o fim de toda ação. O objetivo dessa ética é preparar o homem para o 
autoconhecimento, a base do agir ético. A filosofia socrática prima pela 
submissão, pela ética do coletivo sobre a ética individual. 
Nesse sentido, a obediência à lei era o limite entre a civilização e a barbárie: 
onde existem as ideias de ordem e coesão, podem-se dizer garantidas a 
existência e a manutenção do corpo social. Trata-se, assim, da ética do respeito 
às leis por bondade, conhecimento e felicidade. 
Sobre o pensamento do filósofo, Vázquez (1997, p. 231) esclarece: 
“Resumindo, para Sócrates, bondade, conhecimento e felicidade se entrelaçam 
 
 
5 
estreitamente. O homem age retamente quando conhece o bem e, conhecendo-
o, não pode deixar de praticá-lo; por outro lado, aspirando ao bem, sente-se dono 
de si mesmo e, por conseguinte, é feliz”. 
Para Sócrates, “virtude é sabedoria (sofia) e conhecimento. Já o vício é o 
resultado da ignorância. Assim, o saber fundamental é o saber a respeito do 
homem. Sobre essa ideia, o pensador teria dito suas frases mais conhecidas como 
‘conhece-te a ti mesmo’ e ‘sei que nada sei’” (Egg, 2012, p. 6). 
Desse modo, “o homem enquanto integrado ao modo político de vida deve 
zelar pelo respeito absoluto às leis comuns a todos, mesmo em detrimento da 
própria vida” (Bittar, 2017, p. 6). Assim, “o ato de descumprimento da sentença 
imposta pela cidade representava para Sócrates a derrogação de um princípio 
básico do governo das leis, qual seja, a eficácia”. Segundo Sócrates, com a 
eficácia das leis comprometida, a desordem social reinaria (Bittar, 2017, p. 6). 
Devido à sua liberdade de expressão e às fortes críticas que fazia à política 
da Grécia, foi acusado de corromper os jovens da época e condenado a beber 
cicuta. Morreu no ano 399 a.C. 
3.1.2 Platão 
Platão viveu entre os anos 428 a.C. e 347 a.C. e foi um destacado filósofo 
grego, considerado um dos principais pensadores de sua época. Discípulo de 
Sócrates, procurava transmitir uma profunda fé na razão e na verdade,adotando 
o lema “o sábio é o virtuoso” do referido filósofo. Escreveu diversos diálogos 
filosóficos, entre eles “A República”, obra dividida em dez volumes. 
Ele propõe uma ética transcendente: o fundamento de sua proposta ética 
não é a realidade empírica do mundo, nem mesmo as condutas humanas ou as 
relações humanas, mas, sim, o mundo inteligível. O filósofo centra suas 
indagações na ideia perfeita, boa e justa que organiza a sociedade e dirige a 
conduta humana. 
As ideias formam a realidade platônica e são os modelos segundo os quais 
os homens têm seus valores, leis, moral. Conforme o conhecimento das ideias, 
das essências, o homem obtém os princípios éticos que governam o mundo social. 
O uso reto da razão é entendido como o meio de alcançar os valores 
verdadeiros que devem ser seguidos pelos homens. No mito da caverna, o filósofo 
expõe a condição de ignorância na qual se encontra o homem ao lidar com o 
conhecimento das aparências. 
 
 
6 
Somente pelo conhecimento racional o homem pode elevar-se até as 
ideias, até o ser e conhecer a verdade das coisas. Isso se dá por meio do método 
dialético, o qual elimina as aparências e encontra as essências, a verdade no 
conhecimento das coisas. 
Esse método filosófico tem por finalidade libertar os homens da ignorância 
e levá-los ao conhecimento de ideia em ideia, até alcançar o conhecimento da 
ideia suprema: o bem. As outras ideias participam desta e devem sua existência 
a ela (Vaz, 2017). 
Nesse sentido, a virtude platônica é entendida como a 
capacidade de realizar a tarefa que lhe é inerente [...]. No caso do 
governante da cidade e da alma racional, a virtude inerente aos mesmos 
é a sabedoria; no caso dos guerreiros e da parte irascível da alma, a 
virtude que lhes é própria é a coragem; por fim, no caso da parte 
concupiscente da alma e dos produtores de bens da cidade, a virtude 
própria é temperança. (Vaz, 2017) 
Portanto, o sentimento de justiça é “a virtude maior cujo valor ético guia 
as condutas dos homens, o bem em si mesmo”, uma vez que ele realiza o ideal 
de justiça, com relação tanto ao bem individual quanto ao bem social (Vaz, 2017). 
Assim, para a ética platônica, é possível definir a justiça como cada parte 
fazendo o que lhe compete, conforme suas aptidões próprias, estabelecendo-
se, portanto, uma analogia entre a sociedade e o indivíduo que levaria à 
conceituação da ética. 
A ética platônica, então, está intimamente ligada ao correto modo de agir 
dos indivíduos e suas objetivações de alcance da felicidade: nos diálogos de “A 
República”, Platão afirma ser a ética uma organização funcional dentro da alma 
humana. Assim que harmoniosamente organizadas as almas humanas, a relação 
do homem com a polis pode ser ética e coesa. 
3.1.3 Aristóteles 
O filósofo Aristóteles nasceu no ano 384 a.C., na cidade de Estágira, na 
Macedônia, Grécia. Filho de Nicômaco, médico do rei Amintas III, Aristóteles 
formou-se em Ciências Naturais. Aos 17 anos mudou-se para Atenas, a fim de 
estudar na “Academia” de Platão. Com sua extraordinária inteligência, logo se 
tornou o discípulo bem-amado de seu mestre, que observou: “minha Academia se 
compõe de duas partes: o corpo dos alunos e o cérebro de Aristóteles” (Frazão, 
2018). 
 
 
7 
A ética aristotélica, em oposição à ética de seu mestre, é imanente, tendo 
suas bases na realidade empírica do mundo, no questionamento acerca das 
condutas humanas e na organização social. As exigências com relação à vida na 
polis e a realidade do homem formam o conteúdo das ideias, e são ambas as 
responsáveis pela escolha dos valores, pela moralidade e pelas leis, pela 
definição das condutas dos homens. Sua teoria ética era realista e empirista, em 
contrapartida à visão idealista e racionalista de Platão, devendo ser lida dentro de 
sua teoria política. 
A ética aristotélica inicia-se com o estabelecimento da noção de 
felicidade. Nesse sentido, pode ser considerada eudemonista por buscar o que é 
o bem agir em escala humana, o agir segundo a virtude – diferentemente de 
Platão, que buscava a essência das ideias de felicidade e da ideia do bem sem 
relacioná-las diretamente à prática. 
A felicidade é definida como uma certa atividade da alma que vai de acordo 
com uma perfeita virtude: a busca do sumo bem. Partindo dessa definição, faz-se 
necessário um estudo sobre o que é uma virtude perfeita e, assim, também sobre 
a natureza da virtude moral. 
A virtude é definida pelo estagirita como hábito ou disposição racional 
constante, sendo um hábito que torna o homem bom e o capacita para a boa 
execução de sua função. Essa definição se mostra oposta à de Platão: a virtude 
é definida como capacidade de realizar uma função determinada, inerente a 
alguma parte da alma humana ou da cidade ideal (Vaz, 2017). 
Por sua vez, a virtude moral seria a disposição de agir de forma 
deliberada, com a ação de acordo com a reta razão. Assim, a virtude moral é 
adquirida como resultado do hábito, que determina nosso comportamento como 
bom ou ruim. 
Para Aristóteles, diferentemente da lógica platônica, nenhuma das virtudes 
morais surge nos homens por natureza, pois o que é natural não pode ser alterado 
pelo hábito. Assim, “virtudes e artes são adquiridas pelo exercício, ou seja, a 
prática das virtudes é um pré-requisito para que se possa adquiri-las. Sem a 
prática, não há a possibilidade de o homem ser bom, de ser virtuoso” (Vaz, 2017). 
A virtude intelectual, por sua vez, seria aquela “adquirida através do 
ensino, e, assim, necessita de experiência e tempo” (Vaz, 2017). É devido ao 
hábito que tomamos a justa medida com relação a nós. Logo, a mediania é 
 
 
8 
imposta pela razão com relação às emoções e é relativa às circunstâncias nas 
quais a ação se produz. 
Nesse sentido, Medeiros (2016) destaca: 
Trata-se de um homem ‘essencialmente destinado à vida em comum na 
polis e somente aí se realiza como ser racional. Ele é um zoon politikón 
por ser exatamente um zoon logikón, sendo a vida ética e a vida política 
artes de viver segundo a razão’”. (Lima Vaz, 2004, p. 38-39, citado por 
Pansarelli, 2009, p. 13) 
E Hélcio Corrêa afirma que na polis grega o cidadão só é reconhecido 
como tal a partir de sua inserção na comunidade política e a razão 
prática que norteia a ação do cidadão grego está intimamente ligada ao 
ethos “[...] entendido este como um conjunto de tradições, costumes e 
valores próprios da vida na polis” (2011, p. 77) e, no caso de Aristóteles, 
“[...] as noções de ética e política se completam reciprocamente na teoria 
da justiça. (2011, p. 77) 
Desse modo, a ética aristotélica está intimamente ligada à felicidade, pois 
todos a buscamos, devendo-se atentar à justa medida, que nada mais é que saber 
agir sem exageros ou extremos. Uma pessoa ética e feliz é aquela que age com 
prudência e equilíbrio entre suas virtudes e em relação à polis. 
TEMA 4 – ÉTICA AO LONGO DA HISTÓRIA 
4.1 Ética na Antiguidade – a ética romana 
Como é consabido, o direito brasileiro e, consequentemente, nossa lógica 
jurídica, dogmática e hermenêutica têm fortes raízes no direito romano, permeado 
de matrizes éticas muitas vezes olvidadas por estudiosos. Boa parte dos 
caracteres romanos está intrinsecamente conectada ao pensamento filosófico 
grego, sobretudo ao estoicismo – cuja ética é fundamentalmente conectada à 
teoria do uso prático da razão com o fim de estabelecer o acordo entre ela e a 
natureza. 
Reportando-se à definição de Celso, filósofo romano, o também pensador 
Ulpiano define o direito como a arte do bom e do justo. Trata-se da única definição 
romana de ius. A partir dela, podemos inferir a estreita correlação entre o direito e 
a ética constantemente afastada nos tempos atuais (Böttcher, 2013, p. 157). 
Böttcher (2013, p. 157) ensina: 
A natureza é a ordem racional, perfeita e necessária, que é o destino ou 
o próprio Deus. E a ação, que se projeta conforme a ordem racional,é o 
dever. Portanto, a ética estoica é, fundamentalmente, uma ética do dever 
e a noção do dever torna-se pela primeira vez a ideia fundamental da 
ética. Porém, o dever não é o bem. O bem começa a existir quando a 
escolha aconselhada pelo dever é repetida e consolidada, mantendo 
 
 
9 
sempre sua conformidade com a natureza até se tornar no homem uma 
disposição uniforme e constante, ou seja, uma virtude, a qual é 
verdadeiramente o único bem. Além dos bens (virtudes), existem outras 
coisas que são dignas de serem escolhidas. Para indicar o conjunto 
desses bens e coisas, os estoicos adotaram a palavra valor (axia). 
Entre os filósofos romanos da Antiguidade, destaca-se Marco Túlio Cícero, 
que nasceu em 106 a.C. e morreu em 43 a.C. Além de filósofo, foi também orador, 
escritor, advogado e político romano (Egg, 2012, p. 10). Defendia que a vida era 
pautada segundo as prescrições da natureza, o que significa, em última análise, 
servir o interesse geral da coletividade em detrimento de seu próprio, como 
destaca de trecho da obra de Cícero o autor Comparato (2016, p. 117): 
Cada qual deve, em todas as matérias, ter um só objetivo: conformar o 
seu próprio interesse com o interesse geral; pois se cada um chamar 
tudo a si, dissolve-se a comunidade humana. Se a natureza determina 
que devemos respeitar um homem pelo só fato de as condições 
humanas, é inegável que, sempre segundo a natureza, há algo que é de 
interesse comum a todos os homens; se assim é, somos todos sujeitos 
a uma só mesma lei natural, que proíbe atentar contra direitos alheios. 
Bem resume Egg (2012, p. 9): 
os filósofos romanos dessa época, de um modo geral, convergiam para 
a mesma preocupação com a conduta humana, com o caráter do 
indivíduo e com seus costumes. Todos esses aspectos em conjunto 
recebem o nome de moral. Esses filósofos também acreditavam que o 
principal objetivo das ações humanas está na própria virtude, pela sua 
retidão ou honestidade. A moral foi para os romanos um conjunto de 
deveres que a natureza impôs ao homem, seja pelo respeito a si próprio, 
seja pela relação com outros homens. 
4.2 Ética cristã na Idade Média 
Por volta do século III a.C., o Império Romano passou por uma enorme 
crise econômica e política que culminou em corrupção sem precedentes instalada 
no Senado, agravada pelos gastos exorbitantes com artigos de luxo que 
escassearam os recursos a serem investidos no exército romano. 
Assim, “com o enfraquecimento da instituição militar romana, somado à 
crise política avassaladora, no ano de 395 a.C., o império Teodósio resolveu dividir 
os limites de seu império” (Egg, 2012, p. 10). Dava-se, com isso, o fim da 
Antiguidade e o início da Idade Média. 
Na Idade Média, com a ascensão do catolicismo na Europa Ocidental, a 
ética passa a se vincular à religião e aos dogmas cristãos, dominando a 
epistemologia entre os séculos XI e XIX, a despeito de mudanças significativas 
 
 
10 
com o renascimento e, depois, a entrada na modernidade e o iluminismo (Egg, 
2012, p. 10). 
Desta feita, como se passará a desenhar, ganham ênfase as revelações 
dos livros sagrados traduzidos pelo clero e, a partir deles, passam a ser 
determinadas as regras de condutas sociais. A figura de Jesus de Nazaré ganha 
espaço central para a construção dessa nova ética: a do amor ao próximo. A igreja 
católica e seus dogmas se mantiveram por muitos anos (Egg, 2012, p. 10). 
4.2.1 São Tomás de Aquino 
Tomás de Aquino (1.125-1.274) foi um frade dominicano responsável pela 
orientação e proteção religiosa da sociedade. Uma de suas maiores façanhas foi 
aplicar a visão aristotélica na doutrina cristã, sendo sua obra permeada das 
categorias aristotélicas (as quatro causas, atos e potências, substância e 
acidente), fato que colaborou para o surgimento da Escolástica. 
Para o filósofo e teólogo, era a união do corpo com a alma que formava a 
identidade e a dignidade de uma pessoa, sendo apenas por meio do exercício da 
razão humana aliado à revelação divina que o homem poderia atingir a perfeição 
das virtudes. Sua vertente afirma que “Deus era o legislador, e os padres, 
intérpretes da lei” (Egg, 2012, p. 10). 
Para o pensamento tomista, a fé e a razão estavam unidas e não poderia 
haver contradição entre ambas, pois estavam sempre dirigidas rumo a Deus. Esse 
pensador também afirmou que toda criação é boa, tudo o que existe é quando se 
está sob a orientação dos mandamentos de Deus. Ele também pontuou que o mal 
é a ausência de uma perfeição divina (Egg, 2012, p. 10). 
4.3 Idade Moderna 
Durante a transição da Idade Média para a Idade Moderna, a igreja católica 
começou a cair no descrédito da população devido ao protestantismo e a outros 
movimentos que eclodiram com a Reforma Religiosa do século XVII, época em 
que ocorreu a formação e a consolidação dos estados-nação europeus, 
precedendo a Revolução Francesa e Industrial, quando a separação entre Estado 
e igreja se tornou definitiva, com a ascendência do antropocentrismo e a 
aceleração do avanço da ciência (Egg, 2012, p. 10). 
 
 
11 
Nesse contexto, destaca-se Martinho Lutero, religioso que viveu entre os 
séculos XV e XVI e lutou pela reforma da igreja católica, sendo responsável pela 
Reforma Protestante, que acabou por gerar as quebras de paradigma que 
possibilitaram a queda do catolicismo. 
Lutero, no seu movimento reformista, promoveu a educação para todos, 
inclusive para camponeses e mulheres. Traduziu a bíblia do latim para o alemão, 
dando a oportunidade para que todos a conhecessem. O aperfeiçoamento da 
imprensa por Gutenberg também ajudou a divulgar a sagrada escritura dos 
cristãos (Egg, 2012, p. 10). 
Vale enfatizar que, na Idade Moderna, foram consideráveis as 
transformações de “ordem social, econômica e política, como as viagens às Índias 
e às Américas e a Revolução Científica, proporcionada por Nicolau Copérnico, 
Galileu Galilei, Newton, dentre outros” (Egg, 2012, p. 10), evolução que gerou 
novas reflexões e visões das interações humanas, impactando diretamente na 
leitura da ética até então centrada nas lógicas cristãs. 
Assim, “os filósofos modernos resgataram aspectos do pensamento 
filosófico greco-romano no tocante à necessidade de toda a humanidade alcançar 
a sabedoria e a felicidade, principalmente pautando-se no equilíbrio e na razão” 
(Egg, 2012, p. 10), afastando, então, a ética cristã até então posta. 
A exemplo, cita Egg (2012, p. 10): 
Immanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo prussiano, considerado o 
último grande filósofo dos princípios da Era Moderna. Kant teve um 
grande impacto no Romantismo alemão e nas filosofias idealistas do 
século XIX. Para Kant, a ética é autônoma, ou seja, corresponde à lei 
ditada pela própria consciência moral. Esse filósofo deu prosseguimento 
à construção da própria ideia moral, afirmando que aquilo que o homem 
procura está dentro dele mesmo. 
TEMA 5 – RELAÇÃO ENTRE A ÉTICA E OUTRAS CIÊNCIAS 
5.1 Ética e política 
Uma marca característica da ética na Antiguidade, quando de seu 
nascimento, é sua indissociabilidade da política. Desde Platão e seu discípulo 
Aristóteles, a ideia de constituição da polis é perpassada pelo princípio de que a 
cidade deve ser dirigida por governantes sábios, justos e virtuosos. 
É de Aristóteles, por exemplo, a afirmação de que o homem é um animal 
político – zoon politikon. “Trata-se de um homem ‘essencialmente destinado à vida 
em comum na polis e somente aí se realiza como ser racional. Ele é um zoon 
 
 
12 
politikón por ser exatamente um zoon logikón, sendo a vida ética e a vida política 
artes de viver segundo a razão’” (Lima Vaz, 2004, p. 38-39, citado por Pansarelli, 
2009, p. 13). 
Nesse sentido, Cachichi (2011) afirma que, na polis grega, o cidadão só é 
reconhecido como tal a partir de sua inserção na comunidade política, e a razão 
prática que norteia a ação do cidadão grego está intimamente ligada ao ethos, 
entendido como “[...] umconjunto de tradições, costumes e valores próprios da 
vida na polis” (p. 77). No caso de Aristóteles, “[...] as noções de ética e política se 
completam reciprocamente na teoria da justiça” (Cachichi, 2011, p. 77). 
Assim, tais esferas estão relacionadas pela natureza do poder. Quando 
falamos em democracia, como nos ensina Zajdsznajder (1994, p. 96), a grande 
preocupação das pessoas que elegem o político refere-se ao uso indevido do 
poder, quando o eleito coloca seus interesses particulares acima dos interesses 
do povo, desviando os recursos em benefício próprio ou para pagar promessas 
feitas durante a campanha eleitoral. É uma das questões éticas mais relevantes 
do campo da política. 
5.2 Bioética 
Os estudiosos da bioética empreendem esforços para debater questões 
referentes à vida humana e às melhorias na qualidade de vida do homem. É uma 
área composta de estudos multidisciplinares da biologia, da medicina e da 
filosofia. Egg (2012, p. 12) destaca que: 
com o notável avanço da Medicina, em especial na pesquisa genética, 
surgiram grandes preocupações no campo da ética. A clonagem 
humana e a fecundação artificial são exemplos de práticas genéticas que 
vêm alterar conceitos e realidades da sociedade e hoje. Por exemplo, 
com as descobertas da biociência, passou-se a questionar muitos pilares 
da ética médica, impactando diretamente as diretrizes e políticas 
públicas voltadas à saúde. 
5.3 Ética e sociologia 
Tais matérias estão intimamente ligadas, pois a sociologia trata das leis que 
regem o desenvolvimento e a estrutura das sociedades humanas. Notoriamente, 
a ética sociológica impacta diretamente na construção das gestões públicas e, 
igualmente, na idealização e na implementação de políticas públicas. 
Segundo Egg (2012, p. 12): 
 
 
13 
A sociologia estuda o indivíduo inserido no meio social, de quem se 
espera um comportamento ético para o bem coletivo. As transformações 
sofridas nos tempos modernos atingem o homem em sociedade. A 
evolução das máquinas no campo e na indústria causam o alto índice de 
desemprego, a evasão rural e a superpopulação das cidades. A 
sociologia por sua vez está cada vez mais próxima da ética para 
encontrar soluções para esses problemas presentes na vida do indivíduo 
contemporâneo. 
5.4 Ética e direito 
Acerca da íntima relação entre direito e ética, bem coloca Egg (2012, p. 
13): 
a relação entre estas áreas refere-se ao próprio fato de que o homem 
está sujeito às normas que regulamentam as condutas sociais. Os 
homens necessitam das leis e de sanções para manterem a ordem na 
sociedade. A sociedade depende de estatutos para determinar regras de 
convívio, deveres e direitos. 
5.4.1 Ética e Direitos Humanos 
Descobrir formas de nos tornar sujeitos de práticas éticas em nosso dia a 
dia sem nos reduzirmos aos códigos e às restrições existentes em qualquer 
sociedade é um dos grandes desafios da atualidade. 
Mendonça Filho e Nobre (2009, p. 12) questionam: 
Como discernir entre atitudes passivas de submissão, subserviência e 
constrangimento das atitudes ativas das práticas de liberdade? Como, 
em meio às relações de poder que, muitas vezes, nos oprimem e tornam 
esse mundo insuportável, estabelecer relações de cuidado de si e dos 
outros (Foucault, [1982-1983] 2008), sem esperar recompensa ou 
castigo? 
Um devir ético da imanência não se processa apenas nas lutas contra 
forças negativas do mundo: o abuso de poder, a menorização e 
desqualificação do outro, todo tipo de racismo que nos atravessa liquida 
a vida. Assim, direitos humanos precisam ser constantemente 
conquistados, e não simplesmente resgatados, sendo as práticas éticas 
faróis que os iluminam. 
5.4.2 Ética e Direito da Cidadania 
O termo cidadania vem se tornando paulatinamente mais popular. A 
tendência à universalização dos “Direitos Humanos”, ostentados em declarações 
internacionais, faz com que a noção de cidadania ultrapasse as fronteiras dos 
estados nacionais e consagre a noção do homem como “cidadão do mundo”. 
Esse conjunto de circunstâncias possibilitou à esfera pública um espaço de 
debates com a função política de transformar pessoas privadas em sujeitos da 
esfera pública: nasce, assim, o cidadão, sujeito de Direitos Humanos que interatua 
14 
com a ordem estatal e participa dos debates públicos, espaço em que a ética 
ganha especial relevância. Tais relações serão melhor exploradas futuramente. 
LEITURA COMPLEMENTAR
MURCHO, D. Ética e direitos humanos. Cadernos da Escola do Legislativo, 
Belo Horizonte, v. 12, n. 19, p. 37-56, jul./dez. 2009. Disponível em: 
<https://criticanarede.com/valoresrelativos.html>. Acesso em: 27 nov. 2018. 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
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BÖTTCHER, C. A. O legado ético e universalista do Direito Romano. Revista da 
Faculdade de Direito – Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 108, p. 155-
167, 2013. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67981>. 
Acesso em: 27 nov. 2018. 
CACHICHI, R. C. D. As relações entre ética e política na concepção de justiça em 
Aristóteles. Revista CEJ, Brasília, v. 15, n. 55, p. 76-85, out./dez. 2011. Disponível 
em: <http://www.jf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article/viewFile/1483/1524>. 
Acesso em: 27 nov. 2018. 
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1998. 
COMPARATO, F. K. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. 3. ed. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2016. 
CORTELLA, M. S. Qual é a tua obra? Inquietações, propositivas sobre 
gestão, liderança e ética. Petrópolis: Vozes, 2009. 
CORTINA, A. O fazer ético. São Paulo: Moderna, 2003. 
EGG, R. F. R. Ética nas Organizações. Curitiba: IESDE Brasil, 2012. 
FELIZARDO, A. R. Ética e direitos humanos: uma perspectiva profissional. 
Curitiba: InterSaberes, 2012. 
FOUCAULT, M. Le gouvernement de soi et des autres: Cours au Collège de 
France. Paris: Seuil; Gallimard, 2008. 
FRAZÃO, D. Biografia de Aristóteles. Ebiografia, 24 jul. 2018. Disponível em: 
<https://www.ebiografia.com/aristoteles/>. Acesso em: 27 nov. 2018. 
MARTINS, M. F. Uma “catarsis” no conceito de cidadania: do cidadão cliente à 
cidadania com valor ético-político. Revista de Ética, Campinas, v. 2, n. 2, p. 106-
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MEDEIROS, A. M. Ética e política. Sabedoria Política, abr. 2016. Disponível em: 
<https://www.sabedoriapolitica.com.br/etica-e-politica/>. Acesso em: 27 nov. 
2018. 
MENDONÇA FILHO, M.; NOBRE, M. T. (Org.). Política e afetividade: narrativas 
e trajetórias de pesquisa. Salvador: EDUFBA; São Cristóvão: EDUFES, 2009. 
 
 
16 
MURCHO, D. Ética e direitos humanos. Cadernos da Escola do Legislativo, 
Belo Horizonte, v. 12, n. 19, p. 37-56, jul./dez. 2009. Disponível em: 
<https://criticanarede.com/valoresrelativos.html>. Acesso em: 27 nov. 2018. 
PANSARELLI, D. Para uma história da relação ética-política. Revista Múltiplas 
Leituras, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 9-24, jul. /dez. 2009. Disponível em: 
<file:///c:/users/letic/downloads/1264-2230-1-pb.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2018. 
VAZ, M. Ética de Platão e Aristóteles: diferenças e semelhanças. Psicologia 
MSN.com, 2017. Disponível em: <http://www.psicologiamsn.com/2014/10/etica-
de-platao-e-de-aristoteles-diferencas-e-semelhancas.html>. Acesso em: 27 nov. 
2018. 
VÁZQUEZ, A. S. Filosofia da praxis. Tradução de Luiz Fernando Cardoso. 2. ed. 
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. 
ZAJDSZNAJDER, L. Ser ético. Rio de Janeiro: Gryphus, 1994. 
AULA 2 
ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E 
DIREITOS DA CIDADANIA 
Profª Juliana Bertholdi 
 
 
2 
TEMA 1 — FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DOS DIREITOS HUMANOS 
A saga por direitos é marca das democracias contemporâneas e constitui 
“exigência inarredável da agenda política interna constitucional e externa do 
direito internacional dos direitos humanos” (Fachin, 2015). 
Como direitos históricos, os direitos humanos estão em constante 
transformação, sendo assim entendidos comoprocessos, decorrências 
transitórias, frutos de dinâmicas sociais (Flores, 2009), que se alteram no curso 
do tempo, adaptando-se ao contexto social. 
De fato, os direitos humanos jamais se erguem todos de uma única vez ou 
mesmo de uma vez por todas (Bobbio, 1988); em realidade, surgem 
progressivamente, como reinvindicação moral, quando precisam surgir e no 
momento em que encontram terreno fecundo para tanto (Piovesan, 2011), 
necessitando, portanto, de constante atenção e manutenção. 
Não se trata, assim, de um dado, mas de uma edificação paulatina, uma 
invenção humana em constante processo de construção e reconstrução (Arendt, 
1979), sendo devotada a necessidade de sua reafirmação e racionalização de 
resistência, formando processos que criam e consolidam espaços na luta pela 
dignidade humana. 
Dessa forma, os direitos humanos são produzidos com base na dinâmica 
social “em defesa de novas liberdades contra velhos poderes”, frutos de uma 
racionalidade de resistência (Flores, 2009). 
Os direitos humanos crescem, então, como um contrapoder (Ferrajoli, 
2007), que marca o processo constante de lutas contra a lei do mais forte, tônica 
que bem se amolda aos direitos humanos que visam equilibrar as relações 
assimétricas de poder como insurreições contra os despotismos, sejam 
provenientes dos campos público ou privado (Fachin, 2015). É contra essas 
assimetrias de poder, inclusive, que atuam boa parte das políticas públicas. 
1.1 Conceituação básica 
A contemporânea concepção de direitos humanos foi inaugurada pela 
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, avançando para explorar a 
universalidade e integralidade de tais direitos, conceitos fundamentais para 
compreensão dos entendimentos mais atuais acerca dos direitos humanos. 
 
 
3 
Nesse sentido, destaca-se o art. 5º da Declaração e Programa de Ação de 
Viena, de 1993: 
Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes 
e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos 
humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com 
a mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam 
ser levadas em consideração, assim como diversos contextos históricos, 
culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os 
direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus 
sistemas políticos, econômicos e culturais. 
1.2 Características dos direitos humanos 
1.2.1 Universalidade 
Sobre essa fundamental característica, bem aponta Fábio Comparato 
(2004) que é a partir do período axial que, pela primeira vez, o ser humano passa 
a ser considerado, em sua igualdade essencial, como ser dotado de liberdade e 
razão, não obstante as múltiplas diferenças de sexo, raça, religião ou costumes 
sociais. Conclui-se, assim, serem os fundamentos intelectuais para compreensão 
do que é a pessoa humana e para afirmação da existência de direitos universais, 
porque inerentes à pessoa – independentemente de suas múltiplas diferenças. 
Assim, os direitos humanos passam a adquirir esses contornos de 
universalidade, descolando-se da dependência das culturas locais para serem 
entendidos como amplos e inafastáveis, independentemente da moral local. 
Nesse aspecto, Henkin (1990) esclarece a característica em questão: 
Direitos Humanos são universais: eles pertencem a todos os seres 
humanos em toda sociedade humana. Eles não diferem geografia ou 
história, cultura ou ideologia, política ou sistema econômico ou estágio 
de desenvolvimento social. Chamá-los de humanos implica que todos os 
seres humanos têm esses direitos, igualmente e em igual medida em 
virtude da sua humanidade – sem discriminação de sexo, raça, idade; 
sem discriminação de bom ou mau nascimento, classe social, origem 
nacional, étnica ou filiação tribunal; sem discriminação de riqueza ou 
pobreza, ocupação, talento, mérito, religião, ideologia ou outro 
comprometimento. 
Arion Romita (2009) nos informa que esses direitos são variáveis, a 
depender de cada sociedade, porém há o reconhecimento no mundo da existência 
de um mínimo de direitos conferidos a todas as pessoas. Existe uma corrente 
chamada de relativismo cultural a qual contesta a universalidade dos direitos 
humanos, considerando que não há direitos universais, e defende o pluralismo 
cultural, pois cada povo teria uma ótica diferente acerca do que seriam os direitos 
 
 
4 
fundamentais os quais dependeriam da sua cultura e da época para tal definição. 
Dessa forma, a universalidade dos direitos humanos significaria a imposição da 
cultura ocidental pelo mundo, causando a extinção da diversidade cultural 
(Piovesan, 2009). 
Porém, na Primeira Parte da Declaração de Viena de 1993, o art. 5º 
demonstra claramente as características dos direitos humanos, afirmando o seu 
caráter universal ao adotar a teoria universalista. 
Dessa maneira, “apesar de não existir uma unanimidade a respeito da 
característica da universalidade, entende-se a maioria dos doutrinadores, 
inclusive as declarações, como a Declaração de Viena, a universalidade dos 
Direitos Humanos” (Almeida, 2017). 
1.2.2 Irrenunciabilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade 
Os direitos humanos são irrenunciáveis, inalienáveis e imprescritíveis. 
Assim, como bem ensina Almeida (2017), “afirmar que os Direitos Humanos são 
irrenunciáveis, significa que tais direitos não podem sofrer a denominada 
renúncia, isto é, os titulares não podem desistir de tais direitos em decorrência 
deles serem essenciais a todas as pessoas, eles se configuram como direitos 
personalíssimos”. 
Ainda, afirma a autora serem os direitos humanos inalienáveis, não sendo 
possível transferi-los por meio de título gratuito ou oneroso. 
Luigi Ferrajoli (2017) assevera que: 
[...] a inalienabilidade fundamenta-se no fato de que os direitos 
fundamentais são normativamente direitos de todos os membros de uma 
coletividade, por isso não são alienáveis ou negociáveis, já que 
correspondem a prerrogativas não contingentes e inalteráveis de seus 
titulares e a outros tantos limites e vínculos inarredáveis para todos os 
poderes, tanto públicos como privados. 
E, nesse sentido, conclui Almeida (2017): 
A imprescritibilidade também é uma das características dos Direitos 
Humanos, isto é, a não utilização de algum direito não impõe a sua 
perda, esses direitos são intrínsecos ao ser humano, desta forma, 
perduram ao longo de sua vida, desde o seu nascimento até a sua morte, 
uma vez que são direitos extrapatrimoniais. 
A prescrição é a perda da pretensão punitiva em decorrência do decurso 
do tempo, ou seja, é a impossibilidade de ajuizar uma ação judicial para 
que o juiz condene aquele que violou ou ameaçou a lesar o seu direito. 
Esse instituto atinge a provável indenização que se obteria em um 
processo de conhecimento para reparar dano ou ameaça de dano a 
algum direito, haja vista a indenização possuir cunho patrimonial. 
 
 
5 
TEMA 2 — DIREITOS HUMANOS DE PRIMEIRA DIMENSÃO 
Os direitos humanos de primeira dimensão aludem à liberdade. Bobbio 
(1988) afirma que, no início da Era Moderna, houve a luta pela concessão de 
garantias de liberdades fundamentais frente às opressões do Estado, como a 
concessão de liberdade religiosa, a partir de guerras de religião, e das liberdades 
civis e políticas, com o parlamento combatendo o monarca. Por meio das 
revoluções liberais advindas nos séculos XVII e XVIII, a exemplo das Revoluções 
Americana e Francesa, apresentando como norte o liberalismo político (limitação 
do Estado pelo Direito) e o individualismo jurídico, exigiam do Estado 
principalmente uma abstenção, ou seja, a não interferência do poder estatal nas 
relações privadas (Romita, 2009). 
Os direitos civis correspondem aos direitos individuais, como o direito à 
vida, à liberdade e à propriedade. Já os direitos políticos são relacionados à vida 
política do Estado, isto é, o direito de votare o de ser votado, porém, eles não 
tinham a mesma amplitude que possuem modernamente, pois eram direitos 
restritos a determinada classe econômica. Assim, só teria a capacidade ativa 
(votar) e a capacidade passiva (ser votado) quem tivesse certa quantia de bens e, 
além disso, as mulheres e os analfabetos não eram titulares desses direitos. 
Arion Romita (2009) ilustra em outra ótica os direitos de primeira geração: 
[...] os direitos fundamentais do primeiro naipe podem ser classificados 
em: direitos pessoais (vinculados à autonomia, à liberdade e a à 
segurança da pessoa) e direitos políticos (ajustados à ideia de 
participação). Os primeiros são os direitos voltados à proteção da 
expansão da personalidade sem interferência do Estado. Os outros são 
os direitos da pessoa em face do Estado ou no Estado, vale dizer, 
direitos de tomar parte na vida pública e na vida política, 
correspondentes ao status activae civitatis de Jellinek. 
Nesse sentido, por fim, diz Almeida (2017): 
Os direitos civis e políticos são basicamente individuais, porquanto são 
direitos oponíveis somente ao Estado, pretendia-se uma abstenção 
apenas das autoridades estatais, logo, são direitos de resistência ou 
oposição. 
Fernando Barcellos de Almeida [1996] posiciona que esses direitos 
foram universalizados pela Revolução Francesa, atualmente eles estão 
reconhecidos no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, 1966, 
cuja aprovação foi feita pela XXI Assembleia Geral da ONU, enfatizando 
que tal pacto entrou em vigor em 23 de março de 1976. 
 
 
 
6 
TEMA 3 — DIREITOS HUMANOS DE SEGUNDA DIMENSÃO 
A segunda dimensão dos direitos humanos relaciona-se à igualdade. Os 
direitos reconhecidos por essa família são chamados de direitos sociais, 
econômicos e culturais (Novelino, 2011). São direitos que exigem a atuação do 
Estado nas relações sociais, econômicas e culturais, assim como traduzem a ideia 
de igualdade material ou substancial, como corrobora Rúbia Alvarenga (2009): 
Os direitos de segunda geração são aqueles que cobram atitudes 
positivas do Estado para promover a igualdade entre as categorias 
sociais desiguais. Não se referem à mera igualdade formal de todos ante 
a lei, mas à igualdade material e real de oportunidades, protegendo 
juridicamente os hipossuficientes nas relações sociais de trabalho e os 
padrões mínimos de uma sociedade igualitária. Esses direitos incidiram 
sobre a relação de trabalho assalariado para proteger a classe operária 
contra a espoliação patronal e a desigualdade social desencadeada 
pelos abusos do capitalismo desenfreado. 
O ensejo à mudança de status negativo para positivo exigida pela 
sociedade frente ao Estado decorreu da ampla desigualdade provocada pela 
Revolução Industrial do século XIX. Essa dimensão, como explana Bonavides 
(2010), foi dominada pelo século XX. 
Já Arion Romita (2009) afirma que são chamados direitos sociais, “porque 
não assistem ao indivíduo como tal, considerado abstratamente, mas sim à 
pessoa em sua vida de relação do grupo em que convive, ao indivíduo 
considerado em concreto”. E é por essa razão que, de acordo com alvarenga 
(2009), o “Estado deveria agir na saúde, na educação, no trabalho, na assistência 
social”. 
Os direitos humanos de segunda dimensão também estão previstos no art. 
22 da Declaração Universal dos Direitos: 
Artigo XXII 
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança 
social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação 
internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, 
dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua 
dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. 
Tais direitos estão previstos ainda no Pacto Internacional dos Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966. Sobre isso, Bonavides (2010) nos faz 
saber que tais direitos foram proclamados nas Declarações marxistas, na 
Constituição de Weimar de 1919; com o constitucionalismo socialdemocracia, 
 
 
7 
após a Segunda Guerra Mundial, tais direitos foram introduzidos em todas as 
Constituições. 
TEMA 4 — DIREITOS HUMANOS DE TERCEIRA DIMENSÃO 
Os direitos humanos de terceira dimensão “relacionam-se à fraternidade 
(ou solidariedade). Esse foi um movimento ocorrido após a Segunda Guerra 
Mundial, quando a humanidade passou a buscar a solidariedade entre as 
pessoas” (Almeida, 2017). 
Nesse período, a sociedade mundial percebeu a necessidade da 
internacionalização dos direitos humanos, especialmente em decorrência das 
barbaridades cometidas pelos nazistas, pois não bastaria a proteção de tais 
direitos apenas no âmbito nacional (Piovesan, 2009). Essa dimensão de direitos 
“abrange o direito ao desenvolvimento, ao meio ambiente, à paz, à propriedade 
sobre o patrimônio comum da humanidade, à comunicação, previstos na 
Declaração Universal das Nações Unidas, 1948 e nas demais convenções 
internacionais do séc. XX” (Almeida, 2017). 
Bonavides também tratou do assunto com bastante propriedade: 
Dotados de altíssimo teor de humanismo e universalidade, os direitos da 
terceira geração tendem a cristalizar-se no fim do século XX como 
direitos que não se destinam especificamente à proteção dos interesses 
de um indivíduo, de um grupo ou de um determinado Estado. Têm 
primeiro por destinatário o gênero humano mesmo, num momento 
expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de 
existencialidade concreto. Os publicistas e juristas já os enumeram com 
familiaridade, assinalando-lhe o caráter fascinante de coroamento de 
uma evolução de trezentos anos na esteira da concretização dos direitos 
fundamentais. Emergiram eles da reflexão sobre temas referentes ao 
desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à comunicação e ao 
patrimônio comum da humanidade. 
Nesse contexto, a solidariedade, como afirma Romita (2009): “Assume a 
feição de um dever assumido pelos indivíduos que tomam consciência de suas 
obrigações recíprocas como membros do mesmo grupo, a ser observado por todo 
homem diante de seus semelhantes”. Em relação à fraternidade, os 
revolucionários franceses entenderam que teria como finalidade unir as pessoas, 
rompendo as diferenças entre elas. 
 
 
 
8 
TEMA 5 — SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS 
HUMANOS 
5.1 Antecedentes históricos 
Não obstante os primeiros passos rumo à construção de um Direito 
Internacional dos Direitos Humanos tenham se dado logo após o fim da Primeira 
Guerra Mundial, com o advento da Liga das Nações e da Organização 
Internacional do Trabalho, a consolidação desse novo ramo do Direito ocorre 
apenas com o fim da Segunda Guerra Mundial. 
Assim, forjada a Declaração Universal em 1948, consolidou-se o Direito 
Internacional dos Direitos Humanos. Igualmente, ocorreu a sua universalização a 
partir da legislatura de pactos e tratados que trouxeram normatividade e 
positivação aos já consagrados direitos, reafirmados globalmente em 
Conferências Mundiais sobre Direitos Humanos. 
Tal processo redefiniu o conceito tradicional de soberania estatal, até então 
tido como absoluto e ilimitado, reconhecendo que o indivíduo também, e não 
apenas o Estado, é sujeito de Direitos Internacionais. Nesse sentido, explicou 
Almeida (2017): 
Com efeito, à medida que se passa a admitir intervenções internacionais 
em prol do indivíduo por ocasião de violação aos direitos humanos no 
âmbito interno dos Estados, a noção tradicional de soberania absoluta 
dos Estados resulta prejudicada. 
 A contribuição destes órgãos ao processo de universalização dos 
direitos humanos é inegável. Afinal, ao proteger os direitos fundamentais 
em época de guerra, promover a paz e a segurança internacionais, e 
estabelecer um padrão global mínimo para as condições de trabalho, 
deu-se o primeiro passo rumo ao reconhecimento de que os direitos 
humanos devem ser protegidos independentemente de raça, credo, cor 
ou nacionalidade, podendo a comunidade internacional intervir no casodos Estados furtarem-se a fornecer tal proteção a seus nacionais. Com 
o advento daqueles institutos, prenuncia-se o fim da era em que a forma 
pela qual o Estado tratava os seus nacionais era concebida como um 
problema de jurisdição doméstica, restrito ao domínio reservado do 
Estado, decorrência de sua soberania, autonomia e liberdade. 
 
5.2 A internacionalização dos direitos humanos: o pós-guerra 
A Segunda Guerra Mundial foi que fez mais vítimas e provocou mais 
mudanças na história mundial, com o início da era atômica e a dizimação de mais 
de 50 milhões de seres humanos. Tais situações, de gravidade sem precedentes, 
 
 
9 
significou verdadeira ruptura da ordem internacional com os direitos humanos. A 
violação desses direitos durante a guerra foi tamanha que, com seu fim, a 
comunidade internacional se viu obrigada a novamente voltar os olhos para o 
tema. Sobre isso, afirmou Almeida (2017): 
Entendeu-se com o fim da Segunda Guerra Mundial, que, se houvesse 
um efetivo sistema de proteção internacional dos direitos humanos, 
capaz de responsabilizar os Estados pelas violações por eles cometidas, 
ou ocorridas em seus territórios, talvez o mundo não tivesse tido que 
vivenciar os horrores perpetrados pelos nazistas, ao menos não em tão 
grande escala. 
Os direitos humanos passam, então, a ser uma verdadeira preocupação 
em escala mundial, o que impulsionou o processo da sua 
universalização e o desenvolvimento do Direito Internacional dos 
Direitos Humanos, por meio de uma estrutura normativa que veio a 
permitir a responsabilização internacional dos Estados quando estes 
falharem em proteger os direitos humanos dos seus cidadãos. Passou-
se a compreender que a soberania estatal, de fato, não pode ser 
compreendida como um princípio absoluto, devendo ser limitado em prol 
da proteção aos direitos humanos, haja vista esta ser um problema de 
relevância internacional. 
5.3 O Tribunal de Nuremberg de 1945-1946 
Marco importante no mencionado processo de universalização dos direitos 
humanos, a constituição e o funcionamento dos Tribunais de Nuremberg e de 
Tóquio (1945-1949), ainda que permeados por intensa polêmica atinente a sua 
qualidade de tribunal de exceção, significaram um grande avanço no 
desenvolvimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
Aponta Flávia Piovesan (2009) sobre o significado do Tribunal de 
Nuremberg: “O significado do Tribunal de Nuremberg para o processo de 
internacionalização dos direitos humanos é duplo: não apenas consolida a ideia 
da necessária limitação da soberania nacional, como também reconhece que os 
indivíduos têm direitos protegidos pelo Direito Internacional”. 
5.4 A Carta das Nações Unidas 
Ainda com o mesmo sentimento de urgência após a Segunda Guerra 
Mundial, diversas foram as organizações internacionais que surgiram com a 
finalidade de promoção de cooperação internacional, dentre as quais destaca-se 
a Organização das Nações Unidas (ONU), criada em 26 de junho de 1945 pela 
Carta das Nações Unidas, considerada “a mais ambiciosa experiência em 
organização internacional até os nossos dias” (Almeida, 2017). Dentre os 
 
 
10 
objetivos da ONU, destacam-se a manutenção da paz e da segurança 
internacionais, o alcance da cooperação internacional nos planos econômico, 
social e cultural, a proteção internacional dos direitos humanos. 
Dessa forma, inaugura-se, então, uma nova ordem internacional, 
preocupada não só com a manutenção da paz entre os Estados, mas também em 
grande escala com a promoção universal dos direitos humanos (Almeida, 2017). 
Assim, consolidou-se a universalização dos direitos humanos, promovida e 
protegida não apenas pela própria ONU, mas também por diversos organismos e 
mecanismos de proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, 
“direcionados a todas as pessoas, independente de raça, sexo, religião e 
nacionalidade” (Piovesan, 2012). 
5.5 Mecanismos não convencionais de proteção dos direitos humanos 
 Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos 
 Declaração Universal dos Direitos Humanos 
 Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos 
 Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos 
 Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
5.6 O sistema especial de proteção dos direitos humanos no âmbito das 
Nações Unidas 
 Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação Racial 
 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
contra a Mulher e seu Protocolo Facultativo 
 Convenção sobre os Direitos da Criança 
 Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, 
Desumanos ou Degradantes 
 Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio 
 Estatuto de Roma referente ao Tribunal Penal Internacional 
 
11 
LEITURA COMPLEMENTAR 
BENVENUTO, J. Manual de direitos humanos internacionais: acesso aos 
sistemas global e regional de proteção dos direitos humanos. Disponível em: 
<https://www.uniceub.br/media/181730/Texto4.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2018. 
 
 
12 
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ALVARENGA, R. Z. de. O direito do trabalho como dimensão dos direitos 
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AULA 3 
ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E 
DIREITOS DA CIDADANIA
Profª Juliana Bertholdi 
 
 
2 
TEMA 1 – DIREITOS HUMANOS E INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS E 
GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
Nas últimas aulas pudemos entender como se deram os fundamentos 
históricos dos direitos humanos, suas principais características, classificações e 
como se deu a construção de seu sistema internacional de proteção. 
Como pudemos observar, os direitos humanos exsurgem no direito 
internacional de forma paulatina, contínua, sendo fulcral a atenção constante a 
sua aplicação e manutenção. De fato, conforme já apontado, os direitos humanos 
surgem “progressivamente, como reinvindicação moral, quando precisam surgir e 
no momento em que encontram terreno fecundo para tanto” (Piovesan, 2011, p. 
63). 
Nesta aula, abordaremos como se deu o movimento histórico de 
abrangência dos Direitos Humanos na legislação brasileira, sua importância na 
constituição das lutas sociais e na compleição de novos sujeitos de direito, bem 
como os conceitos e concepções sobre Direitos Humanos e Direitos 
Fundamentais, à luz dos tratados internacionais, da Constituição Federal e dediplomas legais correlatos ao tema. 
1.1 Distinção entre Direitos Humanos e Direitos Fundamentais 
A fim de retomar conteúdo anterior e aclarar uma significativa distinção, 
buscando sempre uma melhor compreensão da presente temática, faz-se 
necessária a distinção entre as expressões “direitos humanos” e “direitos 
fundamentais”, que comumente – e não por acaso – são utilizadas como 
sinônimos. 
Nesse sentido, tem-se que a diferença básica entre direitos humanos e 
direitos fundamentais se assenta justamente no sistema legal a que se encontram 
vinculados. 
Vejamos: 
o conjunto de direitos e liberdades do ser humano institucionalmente 
reconhecidos e positivados no âmbito do direito constitucional 
positivo de determinado Estado, enquanto que os direitos humanos 
estão abarcados pelo direito internacional, porquanto extensivos a todos 
os seres humanos, independentemente de sua vinculação a 
determinada ordem constitucional, apresentando validade universal e 
caráter supranacional”. (Moraes, 2003) 
 
 
3 
Nesse sentido, o professor Ingo Wolfgang Sarlet (2006, p. 35) vai além ao 
valer-se do espaço e a efetividade como significativos fatores responsáveis pela 
diferença terminológica: 
Em que pese sejam ambos os termos (“direitos humanos” e “direitos 
fundamentais”) comumente utilizados como sinônimos, a explicação 
corriqueira e, diga-se de passagem, procedente para a distinção é de 
que o termo “direitos fundamentais” se aplica para aqueles direitos 
reconhecidos e positivados na esfera do Direito Constitucional positivo 
de determinado Estado, ao passo que a expressão “direitos humanos”, 
guardaria relação como os documentos de Direito Internacional por 
referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano 
como tal, independentemente de sua vinculação com determinada 
ordem constitucional, e que, portanto, aspiram à validade universal, para 
todos os povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoco caráter 
supranacional. 
Cumpre destacar que, muito embora haja diferenças entre direitos 
humanos e direitos fundamentais, essas duas categorias não são antagônicas. 
Importa, por hora, deixar aqui, devidamente consignado e esclarecido o 
sentido que atribuímos às expressões “direitos humanos” e “direitos 
fundamentais”, reconhecendo, ainda mais uma vez, que não se cuida de 
termos reciprocamente excludentes ou incompatíveis, mas, sim, de 
dimensões íntimas e cada vez mais inter-relacionadas, o que não afasta 
a circunstância de se cuidar de expressões reportadas a esferas distintas 
de positivação, cujas conseqüências práticas não podem ser 
desconsideradas. (Sarlet, 2006, p. 42) 
Desta feita, até o presente momento nos referíamos aos Direitos Humanos 
por estarmos tratando de direitos abarcados pelo direito internacional, sendo que, 
doravante, ao abordar direitos e garantias similares, porém dentro do 
ordenamento jurídico nacional, vamos nos referir a Direitos Fundamentais. 
Assim, em apertada síntese, “enquanto os direitos humanos são aqueles 
declarados como inerentes ao ser humano, com pretensões de universalidade”, 
os direitos fundamentais são “apenas daqueles direitos os reconhecidos e 
positivados na Constituição de um determinado Estado, havendo, assim, 
pretensões de territorialidade, ou seja, de âmbito nacional” (Moreira, 2011), 
relacionando-se profundamente, mas não confundindo-se. 
De tal modo, os direitos fundamentais se desenvolvem e se firmam com a 
Constituição na qual foram reconhecidos e assegurados: aqui no Brasil, com o 
advento da Constituição Federal de 1988. 
 
 
4 
TEMA 2 – DIREITOS FUNDAMENTAIS NA HISTÓRIA BRASILEIRA 
Como é consabido, o desenvolvimento dos direitos fundamentais no Brasil 
aconteceu sob a influência do movimento constitucionalista europeu que exsurgiu 
no final do século XVIII. Assim, em maior ou menor importe, todas as constituições 
brasileiras possuíram em seus textos a consideração pelos direitos fundamentais; 
não obstante, só foi possível identificá-los de forma expressa e sólida na 
Constituição Federal de 1988. 
2.1 Constituição Imperial 
A Constituição do Império, datada de 1824, carregava em seu texto, ainda 
que de forma bastante tímida, os direitos fundamentais de primeira dimensão, no 
Título 8º, sob a nomenclatura de Garantia dos Direitos Civis e Políticos dos 
Cidadãos Brasileiros. 
Como informa José Afonso da Silva, é a primeira Constituição, no mundo, 
a subjetivar e positivar os direitos do indivíduo, dando-lhes concreção jurídica 
efetiva (Silva, 2007, p. 170). Em seu texto, a constituição imperial previa direitos 
individuais como liberdade, segurança individual e propriedade. A Constituição de 
1824 ainda reconheceu direitos sociais que só seriam constitucionalizados em 
outros países no final do século XIX (Pestana, 2017). 
É o que nitidamente se extrai da leitura dos incisos XXI, XXII e XXIII do art. 
179, que, sucessivamente, garantem os “socorros públicos”, a instrução primária 
universal e gratuita e a existência de colégios e universidades. Assim, não 
obstante a parcimônia de tais disposições, havia relativa e significante abertura 
para a ideia de direitos sociais para a época em que cunhada (Nunes Junior, 2017, 
p. 4). 
Há de se anotar, conforme cita Nunes Junior (2017), 
que à época, a Constituição apresentava o chamado “poder moderador”, 
o que representava, na prática, a limitação do exercício dos direitos por 
meio da própria discricionariedade do governo. Desta feita, ainda que 
Constituição de 1824 tenha trazido superficialmente os direitos 
fundamentais de primeira e segunda dimensão, havia um claro 
impedimento que tais direitos fossem efetivamente exercidos pelos 
cidadãos. 
 
 
5 
2.2 Constituição de 1981 
Infelizmente, “a abertura parcialmente promovida pela Constituição anterior 
não influenciou significativamente a Constituição republicana, datada de 1891, 
que deixou de flertar com direitos fundamentais e sociais para limitar-se ao 
reconhecimento dos direitos de liberdade” (Nunes Junior, 2017). 
A Reforma de 1926 integrou o direito do trabalho à Constituição. Tal 
modificação, embora significativa, não teve o poder de mudar acentuadamente, 
mesmo no plano hipotético, a natureza da ordem jurídica estabelecida, como 
ensina Nunes Junior (2017, p. 4). 
2.3 Constituição de 1934 
De acordo com Pestana (2017), “a Constituição de 1934 sofreu grande 
influência das constituições europeias, como a da República de Weimar (1919) e 
é produto do movimento de 1930” – que levou Vargas ao poder, bem como do 
movimento constitucionalista ocorrido dois anos depois, em que foram “fincadas 
as pedras fundamentais do assim chamado Estado Social de Direito” (Nunes 
Junior, 2017, p. 4). 
Assim, ao reconhecer movimentos sociais, a Constituição de 1934 
inaugurou o Estado Social brasileiro, assegurando direitos como a liberdade, a 
justiça e o bem-estar social e econômico, adindo caráter fundamental aos direitos 
sociais. Com relação à ordem social trabalhista, “o novo ordenamento 
constitucional também trouxe grandes e relevantes conquistas” (Pestana, 2017). 
Desse modo, refletindo sobre os movimentos internacionais da época, que 
buscavam incorporar aos países capitalistas premissas de um Estado Social, 
nossa Carta de 1934, de efêmera vigência, foi, dentre as Constituições brasileiras 
de até então, a que efetivamente se preocupou com a identificação de um Estado 
fortemente marcado pela presença institucional dos direitos sociais, como aponta 
Nunes Junior (2017, p. 4). 
Segundo Pestana (2017), 
sua revogação foi determinada pela superveniência da Constituição de 
1937, que pôs termo ao curto período de institucionalidade democrática 
então vivenciada. A mesma supressão foi também encontrada nas 
constituições de 1967 e 1969 [...] Assim, entende-se que a partir de 
1934, ressalvados os períodos ditatoriais, houve a previsão de direitos e 
garantias individuais, direitos de nacionalidade, direitospolíticos e 
direitos econômicos e sociais do homem. 
 
 
6 
2.4 Constituição de 1946 
A Constituição de 1946 deu azo à espécie de repúdio ao espírito autoritário 
que imbuía sua predecessora. Influenciada pelos “ventos de renovação 
democrática que varriam o país, com o anúncio do fim do Estado Novo, recuperou 
as liberdades formais, colocando-as à margem de qualquer controle autoritário do 
Estado”, denotando forte “vontade constituinte de reorganização dos poderes, 
sobretudo no que se refere a um fortalecimento do Legislativo e do Judiciário, que, 
no regime político anterior, haviam se quedado enfraquecidos pela automática 
expansão do poder Executivo em tempos ditatoriais”. 
Do ponto de vista dos direitos sociais, a Constituição de 1946 buscou, ainda 
uma vez, fortalecer a noção de Estado Social. Exemplifica-se: 
 A previsão de participação dos trabalhadores nos lucros das empresas (art. 
157, IV); 
 A instituição do repouso semanal remunerado (art. 157, VI); 
 O reconhecimento do direito de greve (art. 158); 
 A ampliação do direito à educação (art. 168); 
 A aposentadoria facultativa do servidor com 35 anos de serviço (art. 191, 
parágrafo 1º); 
 A inserção formal da Justiça do Trabalho no poder Judiciário (arts. 122 e 
123). 
Conforme bem ressalta o autor utilizado na presente construção histórica, 
a Constituição de 1946, “entusiasmando os defensores do Estado Democrático 
Social de Direito, acabou confinada a um difícil papel histórico, o de ficar situada 
entre duas Cartas ditatoriais: a de 1937 e a de 1967” (Nunes Junior, 2017, p. 4). 
2.5 Ditadura Militar 
Caudatária do golpe militar de 1964 (Nunes Junior, 2017, p. 4), é exemplo 
típico de Constituição outorgada, apesar do consentimento formal do Poder 
Legislativo. 
 Como é consabido, o Ato Institucional nº 4 convocou o Congresso Nacional 
“para se reunir extraordinariamente, de 12 de dezembro de 1966 a 24 de 
janeiro de 1967”, para “discussão, votação e promulgação do projeto de 
 
 
7 
Constituição apresentado pelo Presidente da República” – em um 
procedimento inelutavelmente autoritário de outorga da Constituição. 
 Por sua vez, tanto o rol de direitos individuais (art. 150) quanto o rol de 
direitos sociais (art. 158) não foram modificados em suas estruturas, não 
obstante a recorrente menção à necessidade de lei para sua 
implementação implicasse, na prática, dicotomia entre a ordem normativa 
e a realidade. 
 No que concerne aos direitos sociais, não houve alteração estrutural dos 
dispositivos anteriormente vigentes, com a mesma nota de que muitos 
deles tinham sua eficácia condicionada a uma futura eventual legislação 
integradora. 
2.6 Constituição de 1988 
De acordo com Nunes Junior (2017), “reconhecida como Constituição 
Cidadã, trata, em seu texto, dos direitos e garantias fundamentais, merecendo 
incursão mais detalhada nos módulos que se seguem”. 
TEMA 3 – CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 E CONCEPÇÃO 
CONTEMPORÂNEA DE DIREITOS HUMANOS 
Como já debatido no correr deste curso, a Constituição democrática – 
também conhecida como Constituição cidadã – ratificada em 1988 expandiu 
consideravelmente o campo dos direitos e garantias fundamentais, colocando-se 
dentre as Constituições mais avançadas da atualidade no que diz respeito à 
matéria. 
Já em seu preâmbulo, a Carta de 1988 pugna pela consolidação do 
Estado Democrático de Direito: 
destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a 
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e 
a justiça como valores supremos de sociedade fraterna, pluralista e sem 
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem 
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias [...]. 
(art. 1º da CF/1988) 
Assim, dentre os fundamentos do Estado Democrático de Direito brasileiro 
destacam-se a cidadania e dignidade da pessoa humana (art. 1º, incisos II e 
III). Verifica-se, assim, que “os direitos fundamentais constituem o elemento 
 
 
8 
básico para a realização do princípio democrático, uma vez que exercem uma 
função democratizadora” (Moraes, 2003). 
Nesse sentido, aduz Flavia Piovesan (2019): 
A Carta de 1988 pode ser concebida como o marco jurídico da transição 
democrática e da institucionalização dos direitos humanos no Brasil. 
Introduz indiscutível avanço na consolidação legislativa das garantias e 
direitos fundamentais e na proteção de setores vulneráveis da sociedade 
brasileira. A partir dela, os direitos humanos ganham relevo 
extraordinário, situando-se a Carta de 1988 como o documento mais 
abrangente e pormenorizado sobre os direitos humanos jamais adotado 
no Brasil. 
Por sua vez, construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o 
desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir 
as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos, sem 
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação, constituem os objetivos fundamentais do Estado, conforme consta 
do art. 3º da Constituição Brasileira. 
Como bem aponta Moraes (2003): 
tais objetivos visam à concretização da democracia econômica, social e 
cultural, implicando a efetivação da dignidade e do bem-estar da pessoa 
humana. É nesse contexto que o valor da dignidade da pessoa humana 
revela-se como núcleo básico e informador de todo o ordenamento, 
imprimindo-lhe uma feição particular. 
Ainda, entende-se que o sistema jurídico apresenta, ao lado das normas 
positivadas, “princípios que incorporam valores, este define-se como uma ordem 
axiológica ou teleológica de princípios jurídicos que possuem função ordenadora, 
na medida em que salvaguardam valores fundamentais”, de modo que “a 
interpretação das normas constitucionais ocorre tendo-se por base critérios 
valorativos que emergem do próprio sistema constitucional” (Moraes, 2003). 
À luz dessas premissas, constata-se que “os valores da dignidade da 
pessoa humana, bem como o valor dos direitos e garantias fundamentais, 
constituem os princípios constitucionais que incorporam as exigências de justiça 
e dos valores éticos, refletindo o suporte axiológico de todo o sistema jurídico 
brasileiro” (Moraes, 2003). 
 Nesse sentido: 
Inova, ainda, a Carta de 1988, ao ampliar a dimensão dos direitos e 
garantias, incluindo no rol de direitos fundamentais, além dos direitos 
civis e políticos, os direitos sociais. Nesta ótica, o texto constitucional 
acolhe o princípio da indivisibilidade e interdependência dos direitos 
 
 
9 
humanos, pelo qual o valor da liberdade se conjuga ao valor da 
igualdade, não sendo possível dissociar o elenco desses direitos. 
Importante referir que a Carta de 1988 prevê, ao lado dos direitos 
individuais, os direitos coletivos, pertinentes a determinada classe ou 
categoria, e os direitos difusos, pertinentes a todos e a cada um. Assim, 
a Constituição Brasileira, ao mesmo tempo em que consolida a extensão 
de titularidade de direitos a novos sujeitos de direitos, também consolida 
o aumento da quantidade de bens merecedores de tutela, com a 
ampliação de direitos sociais, econômicos e culturais. (Moraes, 2003). 
Em síntese, extrai-se do sistema constitucional de 1988 os delineamentos 
de um Estado intervencionista, voltado ao bem-estar social. Consagra-se a 
preeminência ao social. Com o Estado Social, como observa Paulo Bonavides, o 
Estado-inimigo cede lugar ao Estado-amigo, o Estado-medo ao Estado-confiança, 
o Estado-hostilidade ao Estado-segurança. As Constituições tendem a se 
transformar num pacto de garantia social. Assim, o Estado Constitucional 
Democrático de 1988 não se identifica com um Estado de direito formal, reduzido 
à simples ordem de organização e processo, mas visa a legitimar-se como um 
Estado de justiça social, concretamente realizável. 
Como é consabido, os direitos fundamentais sociais, na sua grande 
maioria, estão expressamente previstosno art. 6º da CRFB/1988: “Art. 6º São 
direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, 
a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a 
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” 
Além disso, várias medidas foram previstas no texto constitucional para 
conferir uma eficácia maior a esses direitos sociais, por exemplo, percentuais 
mínimos de investimentos para a saúde e educação (arts. 198, parágrafo 2º e 212 
da CRFB/1988). 
Os direitos fundamentais podem ser identificados sob o ponto de vista 
formal e material. 
Bonavides (2005, p. 234) apresenta dois critérios elaborados por Carl 
Schimitt para identificar um direito como fundamental, sob a ótica formal: 
Pelo primeiro, podem ser designados por direitos fundamentais todos os 
direitos e garantias nomeados e especificados no instrumento 
constitucional. Pelo segundo, tão formal quanto o primeiro, os direitos 
fundamentais são aqueles que receberam da Constituição um grau mais 
elevado de garantia ou de segurança ou são imutáveis 
(Unabaenderliche) ou pelo menos de mudança dificultada (Erschwert), a 
saber, direitos unicamente alteráveis mediante lei de emenda à 
Constituição. 
 
 
10 
Nitidamente perceptível que somente o aspecto formal não é suficiente 
para uma identificação de todos os direitos fundamentais previstos na 
CRFB/1988, uma vez que há direitos fundamentais fora do seu Título II; por essa 
razão, o aspecto material é basal para a identificação dos direitos fundamentais 
alheios ao catálogo expresso do Título II da CRFB/1988. 
Nesse sentido: 
o prisma do art. 5º, §2º da CRFB/1988, o princípio da dignidade da 
pessoa humana é um excelente critério material para a identificação dos 
direitos fundamentais. Nessa perspectiva, Mendes (2008, p. 227) 
arremata que “os direitos e garantias fundamentais, em sentido material, 
são, pois, pretensões que, em cada momento histórico, se descobrem a 
partir da perspectiva do valor da dignidade da pessoa humana (Moreira, 
2011) 
Nesse aspecto, que combina a análise formal e material, é que se deve 
considerar os dispositivos constitucionais referentes à proteção internacional dos 
direitos humanos (Moreira, 2011). 
3.1 Classificação dos Direitos Fundamentais 
Para J. J. Gomes Canotilho (2003), os direitos fundamentais podem ser 
classificados em dois grupos principais: direitos de defesa e direitos a prestações. 
Enquanto os primeiros exigem que o Estado se abstenha de praticar 
condutas contrárias a tais direitos, os direitos fundamentais a prestações exigem 
do Estado a realização de certas prestações positivas, por exemplo, saúde e 
educação. 
Como bem aponta Moreira (2011), não se pode olvidar que esses direitos 
“não são antagônicos, mas sim complementares, uma vez que os direitos 
fundamentais a prestações fornecem as condições necessárias para que a 
cidadania e a liberdade sejam usufruídas em sua plenitude”. Nesse aspecto, 
Pinheiro (2008, p. 25) assevera que “não adiantaria ter liberdade sem saúde para 
gozá-la, ou, então, sem alimentação adequada que propicie energia suficiente 
para usufruí-la”. 
Cumpre então analisar os principais Direitos Fundamentais. 
 
 
11 
TEMA 4 – DIREITOS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ANÁLISE 
EM ESPÉCIE 
Neste tema, realizaremos uma breve incursão nos direitos e nas garantias 
fundamentais previstos constitucionalmente (Título II), que foram divididos em 
cinco capítulos: direitos individuais e coletivos, direitos sociais, nacionalidade, 
direitos políticos e partidos políticos. 
Assim, tem-se, conforme extração realizada por Pestana (2017) sobre os 
direitos individuais e coletivos: 
Por se tratarem de direitos intrínsecos à condição humana, tais direitos 
estão intimamente ligados ao conceito de pessoa humana e 
personalidade jurídica. Representam o direito à vida, à igualdade, à 
dignidade, à segurança, à honra, à liberdade e à propriedade. Estes 
direitos encontram-se no artigo 5º da Constituição Federal: os direitos 
individuais são aqueles que tem por escopo se opor ao arbítrio estatal 
em favor dos indivíduos. Por sua vez, os direitos coletivos ultrapassam 
o âmbito estritamente individual, pertencendo a uma coletividade que se 
vincula juridicamente, como, por exemplo, o direito a um governo 
honesto e eficiente, o direito ao meio ambiente equilibrado e os direitos 
trabalhistas. (Pestana, 2017) 
Quanto aos direitos sociais, de acordo com Pestana (2017): 
constituem obrigações positivas do Estado, ou seja, garantias de 
liberdades positivas aos indivíduos, como, por exemplo, direito à 
educação, trabalho, lazer, previdência social, saúde, segurança, à 
maternidade e à infância e assistência aos desamparados. Tais direitos 
encontram-se dispostos a partir do artigo 6º da Constituição Federal. 
Sobre os direitos de nacionalidade, segundo Pestana (2017): “relacionam-
se com o vínculo jurídico-político entre o indivíduo e determinado Estado, assim, 
o indivíduo passa a integrar o Estado.” 
A respeito dos direitos políticos, para Pestana (2017), “têm por escopo o 
exercício de sua cidadania, participando de forma ativa dos negócios políticos do 
Estado, elencados no artigo 14 da Constituição Federal.” 
Por fim, no que se refere aos direitos relacionados à existência, 
organização e a participação em partidos políticos, Pestana (2017) entende que 
“tais direitos asseguram a autonomia e a liberdade plena dos partidos políticos 
para preservar e proteger o Estado Democrático de Direito, encontrando-se artigo 
17 da Constituição Federal.” 
 
 
12 
4.1 Conclusões 
A Constituição Federal de 1988 expandiu os direitos fundamentais, 
reconhecendo aqueles advindos da primeira e segunda dimensões (individuais e 
sociais), e aqueles advindos da terceira dimensão (direitos de solidariedade). 
Clarividente, no entanto, que não basta apenas a previsão formal desses 
direitos na Constituição e nas leis. É preciso que o Estado os consolide, permitindo 
à sociedade o aproveitamento real dessas previsões (Pestana, 2017). 
TEMA 5 – TRATADOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS 
HUMANOS NO DIREITO INTERNO 
Finalmente, cumpre abordar o impacto jurídico dos tratados internacionais 
de direitos humanos no Direito interno brasileiro. Como ensina Moraes (2013), 
levando-se em conta a hierarquia constitucional desses tratados, pode-se 
visualizar três situações em que o direito enunciado no tratado: a) coincide com o 
direito assegurado na Constituição, reproduzindo-o; b) integra e complementa a 
gama de direitos previstos na Constituição; ou c) contraria disposição do 
ordenamento interno. 
Não por acaso, a Constituição Federal brasileira contém inúmeros 
dispositivos que replicam fielmente as normas constantes dos tratados 
internacionais de direitos humanos, como exemplificado a seguir. 
 Princípio de que “todos são iguais perante a lei”, consagrado no art. 5º 
da Carta de 1988, que também está previsto no art. VII da Declaração 
Universal, no art. 26 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e 
no art. 24 da Convenção Americana. 
 Princípio da inocência presumida, constante do art. 5º, LVII, da 
Constituição Federal, que teve inspiração no Direito Internacional dos 
Direitos Humanos, nos termos do art. XI da Declaração Universal, art. 14 
do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e art. 8º da Convenção 
Americana. 
Assim, ao reproduzir normas de tratados internacionais de direitos 
humanos, a ordem jurídica brasileira demonstra que, muito além de buscar 
orientação e inspiração nesse instrumento, o legislador igualmente se preocupa 
em ajustar o Direito interno às obrigações internacionais contraídas pelo Brasil. 
 
 
13 
Nesse contexto, os direitos constitucionalmente previstos robustecem o 
valor jurídico de tratados internacionais de direitos humanos, de modo que uma 
possível violação do direito acarretará responsabilização nacional e internacional.

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