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PERDA DE PROPRIEDADE

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A PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL EM RAZÃO DO ABANDONO E O CAPITALISMO
HUMANISTA
THE LOSS OF REAL STATE PROPERTY IN REASON OF ABANDONMENT AND HUMANIST
CAPITALISM
Leandro Reinaldo da Cunha
Terezinha de Oliveira domingos
RESUMO
O artigo tem por objetivo refletir sobre as questões concernentes ao abandono da propriedade imóvel e sua
função social sob o enfoque do Capitalismo Humanista. O estudo compreende uma explanação dos conceitos
básicos da perda da propriedade pelo abandono. O artigo 1.276 do Código Civil e o artigo 170 da
Constituição Federal de 1988 são analisados brevemente, apresentando um enfoque sob a perspectiva do
Capitalismo Humanista. O direito de propriedade não pode ser exercido em detrimento do conceito de
função social, parâmetro básico de sua compreensão na estrutura da Constituição Federal de 1988 e também
do Código Civil, e que deve reger toda e qualquer análise pertinente ao tema.
PALAVRAS-CHAVES: ABANDONO; IMÓVEL; PRESUNÇÃO; CAPITALISMO HUMANISTA.
ABSTRACT
The article aims to discuss issues concerning the abandonment of real estate property and its social role from
the view of Humanist Capitalism. The study comprises an explanation of the basic concepts of loss of
property through abandonment. The article 1.276 of the Civil Code and the article 170 of the 1988 Federal
Constitution will be briefly analyzed, with a focus of Humanist Capitalism. The property right can not be
exercised to the detriment of the concept of social function, and the understanding of basic parameter in the
structure of the 1988 Federal Constitution and also the Civil Code, and which must conduct any pertinent
analysis about.
KEYWORDS: ABANDONMENT; REAL STATE PROPERTY; PRESUMPTION; HUMANIST
CAPITALISM.
SUMÁRIO
1 - Introdução. 2 - Da Função Social da Propriedade. 3 - Da Aquisição e Perda da
Propriedade. 4 - Do Abandono e Do Bem Imóvel. 5 - Dos Requisitos para o Abandono Presumido. 6 -
Abandono da Propriedade sob a Perspectiva do Capitalismo Humanista. 7 - Conclusão. 8 - Referências.
 
1 - INTRODUÇÃO
A sociedade brasileira, fundada no Estado Democrático de Direito, tem como um
de seus alicerces básicos de sustentação o direito de propriedade, fato este facilmente
constatado quando do contato com a Constituição Federal vigente, que insere a propriedade
entre os direitos e garantias fundamentais (art. 5º, XXII).
A propriedade que tanta relevância tem hoje na vida de nossa sociedade ganhou
verdadeira relevância legislativa no Código napoleônico (1804), momento quem que passou a
ser vista como sendo o núcleo do ordenamento jurídico[1].
A proteção à propriedade é o que possibilita a estruturação do nosso Estado nos
moldes que conhecemos hoje, com fundamentos na livre iniciativa (art. 3º, IV da Constituição
Federal), diretriz essencial a uma sociedade capitalista.
Pode-se sustentar que a propriedade caracteriza-se por ser o maior direito que
pode incidir sobre um determinado bem, sendo certo que o Código Civil dispensa todo o Título III
do Livro III para a apreciação do tema, podendo-se até mesmo afirmar que tudo o quanto está
vinculado ao direito das coisas tem íntima ligação com a questão da propriedade.
O Código Civil define que o direito de propriedade é aquele que confere ao
proprietário a faculdade de usar (dar à coisa a destinação que lhe é peculiar), gozar (extrair do
bem os frutos e rendimentos que esta puder proporcionar), dispor (a liberdade de alteração
material das configurações físicas da coisa ou de alienação do bem) e o direito de reaver ou
seqüela (o poder de exigir o bem de quem quer que o detenha indevidamente).
Em que pese todo este poder que a legislação confere ao detentor do direito de
propriedade, é fato que, conforme sustenta o texto constitucional (art. 5º, XXIII), não há como se
pensar no seu exercício se não for com plena atenção á sua função social, bem como
respeitando ao princípio da autonomia do interesse público.
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* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2341
A legislação quando passa a tratar do tema propriedade confere atenção especifica
às formas pelas quais pode vir a ser adquirida, distinguindo as modalidades de aquisição dos
bens imóveis e as de bens móveis, ante as especificidades técnicas de cada uma destas coisas.
Da mesma maneira que se preocupa com os meios pelos quais se passa a ser
proprietário de um bem, o legislador também se preocupa com a perda da propriedade, o
fazendo nos artigos 1.275 e 1.276 do Código Civil.
Neste momento o legislador criou uma modalidade de perda da propriedade que,
decorrente da ausência da concessão de função social ao imóvel, atrelado (eventualmente) à
falta de satisfação dos ônus fiscais referentes ao bem, acarretaria a perda da propriedade em
favor do Poder Público, ante ao estabelecimento de uma figura de abandono, sem que o
proprietário tenha direito a qualquer sorte de indenização ante a perda do bem.
 
2 - DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
Não há como se falar em propriedade e se olvidar que tal direito há de estar
atrelada a sua função social.
Primeiramente é importante dizer que a Constituição Federal garantiu o exercício
dos direitos sociais e individuais como valores supremos; da cidadania e da dignidade da
pessoa humana como fundamentos; da construção de uma sociedade livre, justa e solidária,
bem como da erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais e regionais como
objetivos fundamentais e, finalmente, da prevalência dos Direitos Humanos como princípio.
Nota-se que a atual Carta Magna, no capítulo Dos Princípios Gerais da Atividade
Econômica, em seus princípios constantes no artigo 170, assegura a existência digna, conforme
os ditames da justiça social no que tange tanto a propriedade privada quanto a função social da
propriedade, cabendo até mesmo a sustentação de que o conteúdo da propriedade privada é a
própria função social[2].
O artigo 182, § 2º, da Constituição Federal, descreve que para cumprir sua função
social, a propriedade urbana deve atender aos requisitos fundamentais expressos no plano
diretor da cidade. Quanto à propriedade rural, a Carta Magna, ressalta que para atender sua
função social necessário se faz cumprir respectivamente os requisitos estabelecidos em lei, são
eles: artigo 186 “I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos
naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que
regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e
dos trabalhadores.”
 Diante disso, a propriedade privada para atender os preceitos constitucionais,
necessita, indubitavelmente, observar a sua função social, tendo em vista que seu embasamento
tem estreita ligação com o direito fundamental. No entanto, embora seja um direito fundamental,
a propriedade não é um direito irrestrito, conforme já preconizava o art. 17º da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.
A concepção individualista de propriedade descrita anteriormente a Declaração
dos Direitos de Homem e do Cidadão veio evoluindo, até atingir o estágio atual, estabelecido
pela Constituição Federal de 1988.
Vale destacar, que essa foi a primeira Constituição brasileira que consagrou o
conceito de função social da propriedade, tanto que em seus 5º, XXII e XXIII; 170, II e III; 182;
184; 186 e 243, estabeleceu que a garantia da propriedade somente será bem sucedida se
atender a sua função social.
Ora, uma propriedade que não cumpre sua função social deixa de ter a proteção
constitucional, portanto, nos termos da Constituição Federal o direito de propriedade somente
prevalece enquanto cumprir sua função social, conforme estabelecido nos artigos supracitados.
Certo é que há uma interpretação harmônica do sistema civil-constitucional, ou
seja, existe indicação expressa de que a propriedade atenderá a sua função social.
Conforme já citado acima, nãohavendo interesse por parte do proprietário em
valer-se do bem imóvel poderá abandoná-lo, no entanto, verificando a ocorrência do abandono
pode o Estado exercer o seu direito/dever de zelar pelo patrimônio. E, na constatação do
abandono, após três anos sem que haja o interesse privado na manutenção da propriedade do
bem, cabe ao Estado tomar o bem para si e usá-lo de forma a promover condições para o
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exercício da função social da propriedade, conforme preceitua o artigo 1.276, do Código Civil.
Neste mesmo entendimento, poderá o Estado destinar este bem ao assentamento
de colonos em caso de zona rural ou aproveitá-lo para promover condições de moradia digna em
caso de bem urbano, ou ainda retomá-lo para que a comunidade usufrua deste bem para
atividades coletivas ou de fins cooperativos. 
Deste modo, prevalece sobre o direito individual o bem comum, portanto, a
propriedade não perde sua característica de particular, embora, ultrapasse o interesse
individual, em razão dos interesses do bem coletivo. Contudo, embora, consagrada a
propriedade privada, a Constituição Federal condiciona à sua função social.
Sob a ótica da Ordem Econômica, vale ressaltar que parece que existe uma
relação entre a função social da propriedade privada e os fins da ordem econômica, de modo
que resguarda a dignidade de todos, segundo os ditames da justiça social. 
De acordo com o artigo 170, II, da Constituição Federal, a propriedade privada, é
aquela que se insere no processo produtivo, envolve fundamentalmente a propriedade em
constante evolução dos bens produção e bens de consumo, assegurando a existência digna
fundada na valorização do trabalho humano e livre iniciativa.
 
A respeito do assunto, atente-se para o primor da lição de José Afonso da Silva[3]
A Constituição inscreveu a propriedade privada e sua função social como
princípios da ordem econômica (art. 170, II e III). Já destacamos antes a
importância desse fato, porque, então, embora também prevista entre os direitos
individuais, ela não mais poderá ser considerada puro direito individual,
relativizando-se seu conceito e significado, especialmente porque os princípios
da ordem econômica são preordenados à vista da realização de seu fim:
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social.
Se é assim, então a propriedade privada, que, ademais, tem que atender a sua
função social, fica vinculada à consecução daquele fim. O regime da propriedade
denota a natureza do sistema econômico. Se se reconhece o direito de
propriedade privada, se ela é um princípio da ordem econômica, disso decorre,
só por si, que se adotou um sistema econômico fundado na iniciativa privada. A
Constituição o diz (art. 170). (grifo do autor)
 
Diante do exposto, podemos concluir que, a propriedade privada e sua função
social são alicerces da ordem econômica, resultado de um Estado Democrático de Direito, que
busca uma sociedade mais justa, fundada na dignidade da pessoa humana.
Evidencia-se ainda que a função social da propriedade é um valor constitucional de
suma relevância, contudo há de se harmonizar a outros valores, também de jaez constitucional,
não se podendo asseverar a existência de um direito fundamental absoluto, ante ao dever de
ponderação de valores colidentes[4].
Não se pode aqui esgotar o assunto no tocante a função social da propriedade sob
a ótica da ordem econômica, tendo em vista a abrangência do tema. No entanto, após esta
breve exposição há que se retornar a questão da perda da propriedade no tocante a perda da
propriedade resultante da abandono.
3 - DA AQUISIÇÃO E PERDA DA PROPRIEDADE
A legislação pátria confere relevância considerável às formas de aquisição da
propriedade, separando as modalidades levando em conta a natureza do objeto sobre o qual
incide a propriedade. Assim, o legislador determina de maneira apartada as formas de aquisição
da propriedade imóvel e móvel, o fazendo graças as características inerentes a cada uma destas
modalidades.
No que concerne a aquisição dos bens imóveis o Código Civil afirma que esta pode
se dar por meio da usucapião (art. 1.238), pelo registro do título (art. 1.245) e pela acessão (art.
1.248), esta sendo possível por meio da formação de ilhas, pelo aluvião, pela avulsão, pelo
álveo abandonado e pelas construções e plantações, sem que se possa olvidar da aquisição da
propriedade por intermédio da sucessão (art. 1.784).
A usucapião pressupõe o exercício reiterado da posse como requisito essencial
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para a sua caracterização, sendo certo que tal posse há de ser qualificada, a chamada de posse
ad usucapionem (posse exercida sem oposição, sem interrupção e com animus domini).
Basicamente podemos sustentar que as modalidades de usucapião serão a extraordinária, a
ordinária, a especial (rural ou urbana), a especial coletiva (prevista no Estatuto da Cidade) e a
indígena, tendo como diferencial a necessidade de uma maior ou menor quantidade de
requisitos para a sua caracterização (prazo, boa-fé, localização, tamanho do terreno a ser
usucapido).
Além da usucapião, a propriedade imóvel pode vir a ser adquirida ante o registro
perante o Cartório de Registro de Imóveis decorrente de um contrato de compra e venda,
doação ou dação em pagamento que o precederia.
De se considerar ainda a aquisição da propriedade imóvel ante a acessão, por
meio da união ao solo de algum bem, tornando-o também imóvel, como se dá com o aluvião
(acréscimo de terreno pelo aglutinamento de materiais à margem do rio ou pela parcial redução
das águas), na avulsão (junção de uma parcela de terra descolada de um terreno alheio que
vem a unir-se a um terreno pertencente a outra pessoa), e nas construções e plantações. A
acessão ainda pode ser verificada pela formação de ilhas (surgimento de uma porção de terra
em um leito d’água) ou pelo desaparecimento das águas do leito do rio (álveo abandonado).
Ainda é possível se afirmar que a aquisição da propriedade pode decorrer da
sucessão, baseada no droit de saisine, que assevera que o patrimônio do falecido será
transferido imediatamente aos seus herdeiros, tão logo se dê a abertura da sucessão (com a
morte do sujeito).
Importante a verificação destas hipóteses em vista da consideração de que além
de gerar a aquisição da propriedade elas podem dar ensejo também a uma perda de
propriedade, como se dá com a usucapião, registro, avulsão, construções e plantações, e a
sucessão.
Já quanto aos bens móveis o Código Civil descreve a possibilidade de sua
aquisição pela usucapião (art. 1.260), pela ocupação (art. 1.263), pelo achado de tesouro (art.
1.264), pela tradição (art. 1.267), pela especificação (art. 1.269) e pelas hipóteses de mistura de
coisas pertencentes a pessoas distintas (confusão, comistão e adjunção), tratadas a partir do art.
1.272. Pode-se ainda sustentar a aquisição da propriedade móvel através da descoberta,
conforme apresenta o art. 1.233 e ss. e sucessão, esta nos mesmos termos descritos para a
propriedade imóvel.
Quanto às figuras da aquisição da propriedade móvel, o legislador pressupõe que
a usucapião decorra do exercício contínuo e reiterado da posse ad usucapionem, por um prazo
determinado (05 anos para o caso de má-fé, e 03 para as hipóteses de boa-fé). Já pela
ocupação se tem como requisito a necessidade de ser o objeto de tal instituto coisa que nunca
teve dono (res nullius) ou coisa abandonada (res derelictae), pois a lei assevera que quem toma
para si tais coisas passa a ser o detentor do direito de propriedade sobre elas.
O achado de tesouro requer a que seja encontrada coisa valiosa, cujo dono não se
tenha notícias e que se encontre oculta (enterrada ou emparedada),sendo certo que se tal
achado se deu em terreno próprio, o bem será integralmente do proprietário do terreno. Se o
achado se der em terreno alheio, sem o intento de quem a localizou, a propriedade será
partilhada entre ele e o dono do terreno, sendo certo, por fim, que se o achado é conseqüência
de busca para tal fim ou se deu por ordem do dono do terreno, a este caberá a integralidade do
bem.
A propriedade móvel pode ainda ser objeto de aquisição pela especificação, ante a
transformação de matéria prima pertencente a outrem, cabendo, em regra, ao especificador a
propriedade do bem objeto de alteração, ante o pagamento do valor do bem utilizado ao seu
proprietário.
As hipóteses de mistura levam em consideração a existência da junção de coisas
pertencentes a pessoas distintas, sem que seja possível a separação dos bens de cada um, bem
como a inexistência do perecimento da coisa decorrente da mistura, tendo por modalidades a
confusão (mistura de coisas líquidas), comistão (mistura de coisas sólidas) ou a adjunção
(sobreposição de peças).
Ainda é possível se pensar na aquisição da propriedade móvel ante a descoberta,
que se dá pelo achado de coisa perdida sem que o proprietário apareça para recuperá-la,
passando ao Poder Público inicialmente, sendo certo que este, ante a sua discricionariedade,
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pode entender por bem não manter a coisa consigo e encaminhá-la a quem a encontrou, como
paga ao achádego.
A perda da propriedade, por sua vez, é tratada nos arts. 1.275 e 1.276 do Código
Civil, afirmando que além das demais hipóteses consideradas na lei, o sujeito poderá ser privado
de seu direito de propriedade caso ocorra a alienação do bem, por meio da renúncia ou
abandono, pelo perecimento da coisa ou ainda pela desapropriação.
Importante se considerar que, em que pese o fato de a lei sustentar que a
alienação do bem venha a gerar a perda da propriedade, tal assertiva não corresponde à
realidade, vez que o que gera a perda não é a alienação em si, por meio do contrato firmado
entre as partes, mas sim o registro (no caso dos bens imóveis) e a tradição (nos bens móveis).
 
4 - DO ABANDONO DO BEM IMÓVEL
Das formas pelas quais pode se dar a perda da propriedade ganha relevância a
hipótese do abandono da coisa, mormente quanto tal figura está relacionada aos bens imóveis.
O abandono, segundo Paulo Nader, se caracteriza pela composição de dois elementos: o
objetivo ou externo (despojamento da coisa, deixando o dominus de utilizar da coisa e de
exercer os atos inerentes ao direito de propriedade) e o subjetivo ou interno (que seria o animus
ou a intenção de se desfazer da coisa, sem a transmitir a outra pessoa)[5].
A forma essencial de transferência da propriedade imóvel se dá pelo registro,
decorrente de um contrato oneroso (compra e venda) ou gratuito (doação), ou mesmo por uma
dação em pagamento, hipóteses em que alguém se compromete a transferir a propriedade do
referido bem a outrem, sendo certo que será proprietário aquele cujo nome conta da matrícula
do bem perante o Cartório de Registro de Imóveis, de sorte que a questão do abandono do bem
imóvel se afigura como um tanto delicada de ser aferida na prática.
Tal assertiva se faz clara face ao fato de que o simples abandono material ou físico
do bem imóvel pela inexistência do exercício de atos de posse não caracteriza por si só a perda
do direito de propriedade vez que o proprietário se manterá como detentor de tal direito
enquanto o seu nome constar da matrícula do bem junto ao Cartório de Registro de Imóveis.
Caso não se tenha uma ação com o fim de gerar a caracterização jurídica do
abandono o sujeito cujo nome consta dos registros oficiais continuará como o proprietário.
O legislador, ante a tal situação, busca sanar tal complexidade mediante a
apresentação de meios para que possa ser caracterizada a figura do abandono da propriedade
imóvel, desenvolvendo tal tese no art. 1.276 do Código Civil, fazendo distinção entre o
abandono do bem imóvel urbano e do bem imóvel rural ou rústico.
Quanto ao imóvel situado em área urbana, a legislação afirma que caso o seu
proprietário o abandone com a intenção de não mais o conservar como parte integrante de seu
patrimônio, desde que este não esteja sob a posse de qualquer outra pessoa, pode vir a ser
arrecadado como bem vago.
Após ser tido como vago, passados 3 (três) anos, poderá vir a ser incorporado ao
Município ou ao Distrito Federal, conforme se ache em suas respectivas circunscrições,
passando a compor o patrimônio público, nos termos do § 1º do art. 1.276 do Código Civil.
Verificadas as mesmas circunstâncias relativas a um imóvel rural, atendidos os
mesmos requisitos legais, este passará a União, havendo de se ressaltar que, em ambos os
casos, ante a existência da figura do abandono, tal incorporação ao patrimônio público ocorreria
independentemente de qualquer espécie de indenização, diferenciando-se, portanto, da idéia da
desapropriação.
Finalmente o art. 1.276, no § 2º apresenta uma figura de presunção absoluta de
abandono para o caso de que inexistam atos de posse por parte do proprietário e este não
venha satisfazendo os ônus fiscais pertinentes ao bem.
Seja na hipótese do caput ou do § 1º do art. 1.276 do Código Civil, ou na descrita
no § 2º, a aquisição da propriedade pela municipalidade, pelo Distrito Federal ou pela União,
ainda que já definida judicialmente, não terá a sua caracterização plena enquanto não houver a
transcrição perante o Cartório de Registro de Imóveis, momento em que passará a ter eficácia
erga omnes[6].
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Inquestionável ainda que para a incidência das hipóteses de abandono do bem
imóvel com o seu encaminhamento em favor do erário público é importante ressaltar ainda e
mais uma vez que não pode haver o exercício de posse por quem quer que seja, vez que em tal
hipótese haveria a atribuição de função social à propriedade, mesmo que não seja pelo
proprietário.
A previsão contida neste último parágrafo mostra-se de complexidade elevada e
passível de ensejar grande celeuma, pois trará por base a existência de uma presunção absoluta
de abandono de um bem, que virá a incidir sobre a idéia de garantia constitucional de
propriedade, e sem que esteja alicerçada pelo preceito de conveniência e oportunidade do
Estado atrelada a prévia e justa indenização (como se dá na desapropriação).
Contudo não há que se falar na inconstitucionalidade do artigo ou do parágrafo,
vez que atendido ao devido processo legal como descrito (já que sua inobservância traria a
inconstitucionalidade nos termos do que assevera Adolpho Mamuro Nishiyama[7]), a ausência
de indenização não se mostra como um obstáculo à aplicação do conteúdo descrito na lei, como
sustenta Cristiano Chaves de Farias[8], por existirem outras hipóteses (independentemente de
expressa previsão constitucional) em que há a perda da propriedade sem qualquer contrapartida
em razão disso, como se dá na usucapião.
Tampouco há que se falar em inconstitucionalidade com base no art. 150, IV da
Constituição Federal que veda a utilização de tributos com efeito de confisco (nos termos do
Enunciado 243 da III Jornada de Direito Civil do STJ), o que também é levantado por Cristiano
Chaves de Farias[9], vez que o inadimplemento fiscal não é a causa única para a caracterização
do abandono, ainda mais ao se considerar que a questão dos ônus fiscais só é pertinente à
hipótese de presunção absoluta de abandono trazida no § 2º do art. 1.276 do Código Civil.
Nem mesmo o princípio constitucional da razoabilidade[10] é fustigado vez que a
determinação da perda da propriedade ante ao abandono caracterizado nos termos do art. 1.276
do Código Civil se revestede finalidade específica, buscando atender ao interesse social de
concessão de função à propriedade.
 
5 - DOS REQUISITOS PARA O ABANDONO PRESUMIDO
A presunção de abandono do bem imóvel depende da conjunção de uma série de
requisitos a para que possa gerar a perda da propriedade por parte do particular, fazendo com
que o bem venha a ser incorporado ao erário. O simples fato de o proprietário não cuidar da
coisa por período mais ou menos longo não traduz de per si em abandono e perda da
propriedade.[11]
Imprescindível, portanto, a análise dos requisitos que permitem tal conclusão como
forma de gerar a plena compreensão do instituto e de suas conseqüências jurídicas e sociais.
O atual Código Civil determina que a caracterização do abandono está vinculada
ao ato do proprietário atuar de forma a demonstrar a intenção de não mais conservar o
patrimônio como seu, razão pela qual o Poder Público poderia, caso não houvesse ninguém
exercendo atos de posse sobre o bem, arrecadar o bem como vago, passando, após 3 anos, à
propriedade do Estado. Neste intervalo de tempo pode o proprietário se arrepender do
abandono que está por se caracterizar e reivindicá-lo de quem quer que o tenha indevidamente,
vez que o seu direito apenas deixará de existir após findo o referido decurso de tempo[12].
De tal sorte, se faz necessário a conjunção de todos os elementos pertinentes a fim
de permitir a transferência do bem ao Poder Público independentemente de qualquer sorte de
indenização ou compensação que o valha, haja vista que estaria caracterizada uma situação em
que o detentor do direito de propriedade não mais tem interesse de ter a coisa como sua.
Inicialmente é necessário que o titular do direito de propriedade deixe de exercer
atos de posse com relação ao bem imóvel objeto de análise, bem como que não tenha nenhum
terceiro fazendo o mesmo, vez que se tal situação se configurar o Estado não atuará ante o
exercício da posse direta por alguém que pode vir a pleitear a caracterização de usucapião
oportunamente. O interesse do Poder Público sobre o bem só pode se manifestar na inexistência
do exercício de posse direta por quem quer que seja, assumindo um caráter subsidiário.
Configurada a inexistência do exercício de atos de posse por quem quer que seja
(proprietário ou terceiro) autoriza a legislação que o bem seja arrecadado como vago. O
momento em que o Código de Processo Civil trata dos bens vagos é no art. 1170 e ss., não
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restando outra alternativa senão seguir o procedimento ali estabelecido, no que couber, haja
vista que a previsão legal é destinada à caracterização como vago de bem móvel ante a
descoberta (art. 1.233 CC).
O Código de Processo Civil, se devidamente adequado para a utilização para o
caso de abandono do bem imóvel, vai pressupor que a notícia do abandono chegue ao
Judiciário por intermédio da atuação dos órgãos da advocacia pública, vez que na hipótese não
seria possível se vislumbrar a figura prevista na lei do encaminhamento, ao juiz competente, do
auto de entrega da coisa à autoridade policial.
Noticiada ao juiz a existência de abandono do bem, por petição simples, relatando
a existência dos requisitos, haverá de se realizar a publicação de edital no órgão oficial, por
duas vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, a fim de que o dono ou legítimo possuidor o reclame,
nos termos do art. 1.171 do Código de Processo Civil. A ausência de manifestação de quem
quer que seja atendendo ao chamamento decorrente do edital faz com que se entenda que o
bem seja arrecadado e considerado como vago.
Transitada em julgado a decisão que tornou o bem vago há de se aguardar o prazo
de 03 (três) anos para que o bem tido por vago passe à propriedade do Município ou Distrito
Federal se o bem estiver em área urbana, ou da União no caso do bem em região rural.
Todavia pode ser ignorado o procedimento acima descrito (mas não a necessidade
de uma decisão judicial), sem sequer haver a necessidade de tornar o bem vago e se aguardar
03 (três) anos antes de incorporá-lo ao erário caso a falta de exercício de atos de posse por
parte do proprietário vier acompanhada da não satisfação dos ônus fiscais, ante a presunção
absoluta de abandono estabelecida no § 2º do art. 1276 do Código Civil.
A partir do instante em que houver o fim do exercício de atos de posse por parte do
proprietário, não apenas com uma mera ausência temporária[13], mas com a sua não presença
física no local de caráter contínuo ou ausência de cuidados com a manutenção do imóvel, e não
mais realizar pagamento de qualquer tributo, taxa ou contribuição haverá a incidência do
disposto no referido artigo, com a imediata transmissão do bem imóvel para o Município, Distrito
Federal ou União, tão logo transite em julgado a decisão judicial que reconhecer a presença dos
requisitos necessários.
Ressalte-se que basta o não pagamento de um dos ônus fiscais, ainda que tenha
realizado o adimplemento de outros, para que fique perfeitamente caracterizada a incidência do
disposto no artigo, com a conseqüente perda propriedade. 
Há de se considerar que em tal situação se configura uma presunção absoluta
(iuris et de iure) conforme assevera expressamente o texto legal, o que se mostra um tanto
quanto delicado no presente caso, vez que em razão desta modalidade de presunção se
inviabiliza ao proprietário a apresentação de qualquer prova em contrário por parte dele acerca
da sua não intenção de abandonar a coisa.
Assim sendo não se admitirá ao proprietário a alegação de que não reunia
temporariamente condições financeiras de satisfazer as obrigações fiscais, ou ainda que estava
fisicamente impossibilitado de exercer atos de posse, ante a natureza da presunção, cabendo-
lhe apenas alegar a existência da satisfação dos ônus fiscais ou o exercício da posse (o decurso
de tempo não cabe neste caso vez que é desnecessário a caracterização da hipótese do
parágrafo segundo do artigo).
De se notar que no caso de abandono do bem imóvel conforme descrito, a perda
da propriedade estará atrelada a uma sentença de caráter declaratório, pois a caracterização
dos elementos legais gera a perda da propriedade, dependendo apenas de sua confirmação
judicial, nos termos do que se dá no processo de usucapião, com efeitos retroativos à data do
cumprimento dos requisitos.
Impossível se pensar no abandono da coisa imóvel sem a participação do Poder
Judiciário, vez que não se admite a perda da propriedade sem o devido processo legal (art. 5º,
LIV da Constituição Federal), como já se definiu na III Jornada de Direito Civil do STJ:
242 – Art. 1.276: A aplicação do art. 1.276 depende do devido processo legal, em
que seja assegurado ao interessado demonstrar a não-cessação da posse.
 
Face a natureza declaratória[14] da decisão a ser proferida, o fato do proprietário
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retornar ao imóvel ou mesmo voltar a satisfazer os ônus fiscais após a configuração dos
requisitos legais não será o suficiente para que possa manter a propriedade, vez que esta se
perdeu com o implemento fático daqueles requisitos, sem que tenha direito a qualquer sorte de
indenização em razão disso, já que caracterizado o abandono.
Fato é que de qualquer sorte não se admitirá a perda da propriedade sem a
atenção ao devido processo legal, vez que ninguém pode vir a ser privado da liberdade e de
seus bens sem a atenção a este pressuposto (Art. 5º, LIV da Constituição Federal) e ao
contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV da Constituição Federal).
 
6 - ABANDONO DA PROPRIEDADE SOB A PERSPECTIVA DO CAPITALISMO
HUMANISTA
Delimitado a função social da propriedade, é possível visualizar, nitidamente, as
vias pelas quais procede o Estadonos casos de abandono. Lembrando, como já afirmado acima,
o conceito de abandono, que muito bem leciona Maria Helena Diniz[15]
O abandono (CC, art. 1.275, III) é uma das modalidades de perda de
propriedade, pois é o ato unilateral em que o titular do domínio se desfaz,
voluntariamente, do seu imóvel, porque não quer mais continuar sendo, por
várias razões, o seu dono. É necessário, para que haja derrelição, a intenção
abdicativa; simples negligência ou descuido não o caracterizam.
 
É importante dizer também que é condição essencial para perda por abandono que
o proprietário fique omisso quanto ao exercício dos atos de posse e, eventualmente, aos seus
deveres fiscais, que demonstra seu total desinteresse pelo imóvel resultando ao Estado
arrecadação do imóvel. Certo também que aqui é preciso animus abandonanti, já que o simples
fato de não usar o imóvel não resultará a perda da propriedade.
Isso porque estamos diante de um Estado Democrático de Direito, com seus
fundamentos, objetivos e princípios, bem como dos deveres sociais com os quais se
compromete, que emerge a noção do Capitalismo Humanista. Corroborando com esse ideário
Ricardo Hasson Sayeg[16] ensina com propriedade
(...) a Constituição Federal de 1988 não descuidou de consignar no artigo 170
como preceitos fundamentais da ordem econômica no Estado Brasileiro
Democrático de Direito, os valores sociais do trabalho humano e da livre
iniciativa, com o fim de garantir a todos existência digna, observados os
princípios de soberania nacional, da propriedade privada, da função social da
propriedade, de defesa do consumidor, de defesa do meio ambiente, de
liberdade de competição, de redução das desigualdades sociais e regionais,
de busca do pleno emprego, de tratamento favorecido à empresa nacional de
pequeno porte e de prevenção e repressão ao abuso do poder econômico. (grifo
nosso)
 
Considerando-se a visão apresentada pela vertente do Capitalismo Humanista,
continua Ricardo Hasson Sayeg[17]
Assim, a prestação jurisdicional também merece pontual atenção nas presentes
reflexões, porque a ela cabe concretizar o Bem pela aplicação do direito natural
da fraternidade, para interferir de fato em favor do Homem, de todos os Homens
e de tudo. Isso também no ambiente econômico.
 
Nesse diapasão, fica o Estado responsável em promover o bem estar-social, não
se confundindo com paternalismo, mas apresentando uma solução para o caso concreto do
abandono do imóvel, quer seja urbano ou rural, que poderá ocorrer em função de diversos
fatores. Analisando nesse sentido, o Estado, age em conformidade com a proposta Capitalista
Humanista Fraterna apresentada por Sayeg.
(...) a aliança entre os Homens liberais e democratas, tal como está na
Constituição do Brasil, mediante a aplicação do princípio natural da
proporcionalidade, é justamente a solução da indagação de como se construir,
sob a plataforma cultural da Humanidade, um capitalismo estruturado sob a
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* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2348
economia de mercado, em conformidade com as perspectivas de fraternidade do
humanismo integral, que se aplicam ao domínio econômico em prol da vida e do
Planeta, com vetor na dignidade do ser humano.
 
Notemos que, a atitude do Estado em uma situação de abandono da propriedade
está de acordo com a essência do Capitalismo Humanista, pois, a idéia de um Estado
Democrático de Direito tem por cerne os valores e direitos contemporâneos, como o bem
comum, a solidariedade, a paz e a justiça social, a busca pela erradicação da pobreza, que são
as marcas deste Estado.
A busca constante do ser humano por uma vida digna, pela felicidade e pela
liberdade remete o homem a um Capitalismo Humanista de Mercado, conforme ensina Ricardo
Hasson Sayeg[18] ao asseverar que “as presentes reflexões propõem que a tendência mundial
se direcione além disso, ou seja, em prol de uma economia humanista de mercado: Um
capitalismo humanista.”
A propriedade não tem um fim em si mesma, e sim tem um fim de caráter social,
que serve ao homem como mecanismo de equilíbrio e desenvolvimento social. Se
desconsiderarmos a tão apregoada mão invisível do mercado, será possível termos no Estado
um aliado ao desenvolvimento, legitimando ao aplicar a norma ao caso concreto de abandono
da propriedade para restituir a sociedade em concretização da função social.
 
7 - CONCLUSÃO
De tudo o que se expôs, evidencia-se claramente que a legislação civil que trata da
possibilidade de abandono da coisa imóvel está em perfeita consonância com a Constituição
Federal e com a visão do Capitalismo Humanista.
Face ao Estado Democrático de Direito vigente não se pode admitir o exercício de
forma absoluta e irrestrita do direito de propriedade particular, sem atenção ao preceito da
função social, sendo certo que é esta que confere a proteção constitucional a este direito.
A perda da propriedade pelo abandono, nos termos do art. 1.276 do Código Civil
só se dará ante a perfeita atenção ao processo judicial em que se irá conferir ao proprietário o
direito de provar que não houve de sua parte a intenção de abandonar, consignando-se que a
inclusão do bem no quadro do patrimônio público haverá de ser precedida pela vacância do bem
e posterior decurso de tempo (03 anos).
O decurso de tempo, segundo o § 2º do art. 1.276, pode ser dispensado na
hipótese de ter o proprietário deixado de satisfazer os ônus fiscais atinentes ao bem
abandonado, sem que, contudo, se possa afastar o procedimento judicial cabível.
Nesta última hipótese não há que se falar em confisco ou em utilização de
ausência de pagamento de tributos como forma de arrecadação de patrimônio, vez que o não
pagamento por si só não é requisito suficiente para gerar a perda da propriedade em razão do
abandono. O bem só passará ao Poder Público caso não exista quem esteja exercendo a posse
sobre ele e se houver a desídia no dever de satisfação com suas responsabilidades fiscais.
Por não se tratar de uma hipótese de desapropriação não há que se falar em
indenização prévia, justa e em dinheiro. Por características, é possível mesmo se afirmar que a
idéia descrita na lei está mais relacionada à usucapião (não que seja uma hipótese deste
instituto), na qual o decurso de tempo sem o exercício da posse por parte do proprietário gera a
aquisição da propriedade a quem a exerce.
Na hipótese, contudo, não há a posse exercida por terceiro, mas apenas a
ausência de posse, sendo certo que se esta existir, não é possível a caracterização do
abandono.
Atendendo a uma visão plana e social da propriedade não se pode admitir a
existência de direito sobre um bem imóvel sem que ele atinja seus fins precípuos, buscando
atender aos interesses da coletividade, sem descuidar dos preceitos capitalistas inerentes à
sociedade atual, atendendo ao Capitalismo Humanista.
 
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* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2349
8 - REFERÊNCIAS
 
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 4º Volume - Direito das Coisas. São
Paulo: Saraiva, 2010.
FARIAS, Cristiano Chaves de. O Calvário do § 2º do Art. 1.276 do Código Civil: Vida e Morte de
um Malfadado Dispositivo Legal a Partir de uma Interpretação Constitucional, in Revista de
Direito Agrário, nº 19, Brasilia: Instituto Nacional de de Colonização e Reforma Agrária, 2007.
GOMES, Orlando. Direitos Reais, 17ª ed., São Paulo: Forense, 2007
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Vol. V, São Paulo: Saraiva, 2007
LIMA, Getúlio Targino de. “Apontamentos Acerca do Direito de Propriedade” in LOTUFO,
Renan (coord.). Direito Civil Constitucional, Caderno 3, São Paulo: Malheiros, 2002
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil, Vol. 4 – Direito das coisas, 2ª ed., São Paulo: Forense,
2007
NISHIYAMA, Adolfo Mamoru A Inconstitucionalidadedo art. 1.276 do novo CC e a garantia
do direito de propriedade in NERY JR, Nelson, NERY, Rosa Maria de Andrade (coord.).
Revista de Direito Privado vol. 18, abr. - jun. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Manual de Monografia Jurídica, 7ª ed., São Paulo: Saraiva,
2009.
SAYEG, Ricardo Hasson. Doutrina Humanista de Direito Econômico: a Construção de um
Marco Teórico. Tese de Livre-Docência. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, 2009.
SILVA, Jose Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 22 ed., São Paulo:
Malheiros, 2009
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Vol. V, 7ª ed., São Paulo: Atlas, 2007
Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.
Código Civil.
[1] Getúlio Targino de Lima. Apontamentos a Respeito do Direito de Propriedade, in Direito Civil Constitucional, caderno 3, p.
164
[2] Cristiano Chaves de Farias. “O Calvário do § 2º do Art. 1.276 do Código Civil: Vida e Morte de um Malfadado Dispositivo Legal
a Partir de uma Interpretação Constitucional” in Revista de Direito Agrário, nº 19, p.108
[3] José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 812
[4] Cristiano Chaves de Farias. “O Calvário do § 2º do Art. 1.276 do Código Civil: Vida e Morte de um Malfadado Dispositivo Legal
a Partir de uma Interpretação Constitucional” in Revista de Direito Agrário, nº 19, p.105-106
[5] Paulo Nader, Curso de Direito Civil, vol. 4, p. 166
[6] Cristiano Chaves de Farias. “O Calvário do § 2º do Art. 1.276 do Código Civil: Vida e Morte de um Malfadado Dispositivo Legal
a Partir de uma Interpretação Constitucional” in Revista de Direito Agrário, nº 19, p.109
[7] Adolpho Mamuro Nishiyama. A inconstitucionalidade do art. 1.276 do novo CC e a garantia do direito de propriedade. Revista
de Direito Privado
[8] Cristiano Chaves de Farias. “O Calvário do § 2º do Art. 1.276 do Código Civil: Vida e Morte de um Malfadado Dispositivo Legal
a Partir de uma Interpretação Constitucional” in Revista de Direito Agrário, nº 19, p.115
[9] Idem., p.116
[10] Idem., p. 117
[11] Silvio de Salvo Venosa, Direito Civil, p.236
[12] Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro, p.307
[13] Silvio de Salvo Venosa, Direito Civil, p.79
[14] Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro, p.272
[15] Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil Brasileiro, p.169
[16] Ricardo Hasson Sayeg, Doutrina Humanista de Direito Econômico: a Construção de um Marco Teórico, f. 34
[17] Ricardo Hasson Sayeg, Doutrina Humanista de Direito Econômico: a Construção de um Marco Teórico, f. 86-87
[18] Ricardo Hasson Sayeg, Doutrina Humanista de Direito Econômico: a Construção de um Marco Teórico, f. 28
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