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Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.1 CAPÍTULO 7 MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA (MCI) ALTERNATIVOS Flávio Neves Teixeira Vladimir Rafael Melián Cobas 7.1- INTRODUÇÃO 1 7.2- HISTÓRICO 2 7.3- CLASSIFICAÇÃO DOS MCI ALTERNATIVOS 6 7.4- COMPONENTES PRINCIPAIS DE UM MCI ALTERNATIVO 7 7.5- CICLOS DE OPERAÇÃO DOS MCI ALTERNATIVOS 8 7.6- CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS E PARÂMETROS DE DESEMPENHO DE MCI ALTERNATIVOS 17 7.7- MCI NA GERAÇÃO TERMELÉTRICA 24 7.8- CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS AUXILIARES 28 7.9- EMISSÕES NOS MCI ALTERNATIVOS 37 7.10- REFERÊNCIAS 50 7.1- INTRODUÇÃO Os motores de combustão interna (MCI) são máquinas térmicas nas quais a energia química do combustível se transforma em trabalho mecânico, sendo que o fluido de trabalho consiste dos produtos da combustão da mistura ar-combustível, e a câmara de combustão e o próprio processo de combustão estão integrados ao funcionamento geral do motor. Representam a tecnologia mais difundida dentre as máquinas térmicas, devido a sua simplicidade, robustez e alta relação potência/peso, o que faz com que estes acionadores sejam empregados em larga escala como elementos de propulsão (automobilística, naval e aeronáutica), para geração de eletricidade contínua, de ‘back-up’ ou de carga de pico e para acionamento de bombas, compressores ou qualquer outro tipo de carga estacionária. No que diz respeito à geração de energia elétrica, os motores Diesel e a gás são competitivos principalmente pela alta eficiência térmica, tanto em operação a carga total como também em cargas parciais (a eficiência térmica apresenta pequena variação em uma faixa de 40 a 110 % de carga) (Niemi, 1997). Um fator adicional é que a eficiência dos motores não é tão sensitiva às condições ambientais locais (temperatura, pressão e umidade) quanto são as turbinas a gás. Além disso, deve-se considerar a possibilidade de se queimar diferentes combustíveis: podem operar consumindo combustíveis líquidos (gasolina, álcool, óleo combustível, Diesel, etc.) ou gasosos (gás natural, GLP, gases residuais ou manufaturados, etc.). Niemi, 1997, relata em seu trabalho a utilização, em escala de teste, de carvão betuminoso pulverizado, com partículas de 12 mícrons de diâmetro, contendo 2 % de cinzas e 36 % de voláteis, numa proporção de 50/50 carvão-água. Finalmente, outras características importantes são o curto tempo de construção da central e a rápida entrada em operação (‘start-up’), além dos motores serem bem apropriados para as condições de partidas e paradas diárias. Existem MCI do tipo rotativo (a grande maioria das turbinas a gás, motor Wankel, etc.) e do tipo alternativo (a pistão), sendo estes últimos subdivididos em motores de ignição por centelha ou Otto (uma mistura de combustível e ar é admitida na câmara de combustão e Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.2 inflamada por meio de uma vela de ignição) e de ignição por compressão ou Diesel (ar é admitido na câmara de combustão e comprimido até uma pressão e temperatura suficiente para que ocorra a combustão espontânea quando o combustível for injetado). Neste capítulo apenas tratar-se-á dos motores de tipo alternativo. A seguir é feita uma breve descrição com relação aos principais tipos de motores empregados na geração de eletricidade, subdividindo-se os motores em quatro grupos: motores Diesel, motores de ignição por centelha tradicionais ou a gás, motores duplo combustível e motores gás-Diesel. Nas centrais que operam em carga base, tanto os motores Diesel lentos de dois tempos como os de quatro tempo de média velocidade tem sido tradicionalmente utilizados em uma ampla faixa de potências. Os motores Diesel rápidos de menores capacidades tem sido amplamente utilizados na geração de eletricidade para o atendimento da carga pico. Uma característica própria destes motores é sempre trabalharem com misturas pobres. Os motores de ignição por centelha operam com combustão estequiométrica ou com misturas pobres, homogêneas ou estratificadas. Por sua vez, os motores de duplo combustível operam com mistura homogênea pobre, cuja ignição é realizada pela injeção de uma pequena quantidade de combustível piloto na câmara de combustão, antes do ponto morto superior. Finalmente, nos motores com injeção de gás ou gás-Diesel gás a alta pressão é injetado diretamente na câmara de combustão no fim do curso de compressão. A mistura entra em combustão através de um combustível piloto ou de uma vela de ignição. Os motores de ignição por centelha funcionam a 4 tempos (necessitam de duas rotações para completar um ciclo) ou a 2 tempos (necessitam de apenas uma rotação para completar um ciclo). São produzidos com potências que variam desde poucos quilowatts até cerca de 13 MW e, geralmente, utilizam como combustíveis hidrocarbonetos líquidos de elevado poder calorífico, e que se evaporam facilmente, como a gasolina e o álcool, ou combustíveis gasosos, como o gás natural e o gás liquefeito de petróleo (ASHRAE, 1996). A eficiência máxima dos motores de ignição por centelha de 4 tempos a gasolina assume valores que variam entre 27 e 30 % (PCI), ou maior, no caso de motores que empregam taxas de compressão elevadas, como os a álcool ou a gás natural otimizados, chegando até a 35%. Os motores de ignição por compressão também podem funcionar a 4 ou a 2 tempos. No entanto, os motores Diesel de 2 tempos não apresentam consumo de combustível superior aos de 4 tempos, como acontece no caso dos motores Otto, pois na fase de admissão o combustível não está presente, logo não há perdas pelo escape (Fergurson, 1986). Os motores Diesel são similares, em importância e variedade de aplicação, aos motores de ciclo Otto; pertencem a esta vasta categoria os grandes motores Diesel lentos, estacionários e navais, com potências que ultrapassam 60 MW, assim como os motores Diesel rápidos empregados no transporte terrestre e embarcações de porte médio. Na faixa de pequenas potências (até 5 MW), os motores Diesel dominam o mercado de geração de energia e em sistemas de emergência (‘back-up’) e ‘standby’, devido ao seu menor custo de geração, ou seja, os motores de ignição por centelha possuem custos iniciais menores, mas um custo de combustível maior (Liss, 1999). Os combustíveis empregados nestes motores, geralmente, são hidrocarbonetos líquidos de características diferentes dos utilizados nos motores de ciclo Otto, menos voláteis e com pesos específicos superiores (ASHRAE, 1996). Um bom combustível para o ciclo Otto é mal combustível para o ciclo Diesel e vice-versa. 7.2- HISTÓRICO Os primeiros MCI do tipo alternativo foram desenvolvidos a partir de meados de 1800, quando alguns pesquisadores apresentaram seus protótipos. A seguir é feito um breve histórico das datas mais importantes do desenvolvimento dos mesmos (Nebra, 2000). Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.3 • 1860- J.J.E. Lenoir: primeira tentativa, sem compressão prévia da mistura ar-combustível, alcançando até 4,5 kW (6 hp) e eficiência máxima de 5 %; • 1862- Alphonse Beau de Rochas: patente francesa de um motor de quatro tempos; • 1867- Nicolaus Otto e Eugen Langen: compressão da mistura e eficiência máxima de 11 %; • 1876- Nicolaus Otto: motor de quatro tempos, redução de 1/3 do peso do motor e 1/16 do curso do pistão, eficiência máxima de 14 %; • 1880- Dugald Clerk e James Robson e Karl Benz: desenvolvimento do primeiro motor de dois tempos; • 1892- Rudolf Diesel: data da patente, demora 5 anos para construir o motor de ignição por compressão; • 1957- Felix Wankel: primeiro teste bem sucedido de um motor rotativo; Foi em 1860 que os MCI vieram a ser uma realidade prática. Os primeiros motores comerciais utilizavam misturas de gás de carvão e ar na câmara de combustão, à pressão atmosférica, não havendo compressão antes da combustão. Um engenheiro francês, Lenoir (1822-1900), desenvolveu o primeiro motor destetipo. Em razão da própria combustão, a pressão era aumentada e os gases quentes impulsionavam um pistão e no curso de retorno do pistão ocorria a exaustão. Funcionava a menos de 10 rpm. Foram construídos 500 motores deste tipo entre os anos de 1860 a 1865, com uma potência de até 4,5 kW (6 hp) e eficiência máxima de 5 %. Um motor mais bem sucedido foi desenvolvido por Nicolaus Otto (1832-1891) e Eugen Langen (1833-1895), na Alemanha. Foi apresentado na Exposição Industrial de Paris, em 1867. O conceito deste motor era o de “pistão livre”, sendo este impulsionado pela explosão dos gases no cilindro e o pistão ligado a um volante através de uma cremalheira e uma engrenagem. O movimento do volante produzia a abertura e fechamento de uma válvula de admissão e ignição. Cerca de 5.000 motores deste tipo foram construídos e dominaram o mercado até o aparecimento do motor Otto de quatro tempos. A eficiência máxima alcançada era de 11 %. Nestes primeiros tipos de motores não havia uma compressão prévia da carga de combustível-ar, embora diversos pesquisadores apontavam para a vantagem de se introduzir esta etapa no processo (Lebon, francês, 1799; Barnett, inglês, 1838; Schimidt, alemão, 1861). Na França, em 1862, Beau de Rochas (1815-1893), listou as condições, sob as quais um melhor desempenho poderia ser obtido: • menor relação superfície/volume para o cilindro e o pistão; • processo de expansão o mais rápido possível; • máxima expansão possível; • máxima pressão possível no começo do processo de expansão dos gases dentro do cilindro. As duas primeiras condições visavam a redução das perdas de calor a um valor mínimo, conservando a exergia nos gases de exaustão. A terceira e a quarta visavam obter o máximo de potência possível. Beau de Rochas também indicou o método de operação desejável em um MCI: • 1- indução durante o deslocamento do pistão “para fora”; • 2- compressão durante o movimento do pistão “para dentro”; • 3- ignição da carga de ar-combustível no ponto morto superior do pistão, seguida por expansão durante o deslocamento seguinte do pistão, “para fora”; • 4- exaustão durante o curso seguinte do pistão, “para dentro”. Este processo é o que é utilizado até hoje. Beau de Rochas patenteou o princípio do motor de 4 tempos, em 1862, mas não o desenvolveu comercialmente. Em 1976, o alemão Nicolaus Otto construiu um motor de quatro cilindros que funcionava com os princípios estabelecidos por Beau de Rochas. Este motor era bem mais leve e compacto do que o anterior, fabricado por Otto Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.4 e Langen, e também tinha uma eficiência maior, 14 %. Em 1890, 50.000 motores deste tipo haviam sido construídos na Europa e Estados Unidos. Em 1880, vários engenheiros (Dugald Clerk, 1854-1913 e James Robson, 1833-1913, na Inglaterra e Karl Benz, 1844-1929, na Alemanha) desenvolveram com sucesso o motor de dois tempos, que tinha a vantagem de produzir potência em cada curso do pistão. Os motores de dois tempos, mais simples e menores, são indicados para pequenas potências. Na década de 1880-1890 foram feitos avanços nos sistemas de ignição e carburação. A razão de compressão dos motores não podia ser muito elevada à época, em razão da qualidade dos combustíveis. Para uma relação de pressões maior do que 4, ocorriam “batidas” no processo de combustão. No final da década, estavam disponíveis os primeiros motores a gasolina para automóveis. Na década de 1890-1900 foram construídos grandes motores de 6 cilindros, de 1,3 m de diâmetro, que utilizavam gás de alto forno como combustível, permitindo gerar 450 kW (600 hp) a 90 rpm. Em 1862, o engenheiro alemão Rudolf Diesel (1858-1913) registrou a patente do motor que leva até hoje o seu nome. A característica fundamental deste motor é que o combustível é injetado dentro da câmara de combustão, que já contem o ar aquecido, e a combustão da mistura se produz por compressão (combustão espontânea devido às condições de temperatura e pressão) e não por ignição através de uma centelha, como no caso dos motores Otto. Levou-se 5 anos para conseguir o desenvolvimento de um protótipo comercial. Félix Wankel desenvolveu o motor de pistão rotativo, que funcionou com sucesso pela primeira vez em 1957. Pode-se pensar que após um século de desenvolvimento, os motores alternativos alcançaram seu máximo grau de desenvolvimento tecnológico e, estão sujeitos a poucas melhorias. Tal pensamento é errôneo, pois tanto os motores Diesel quanto os motores Otto continuam demonstrando melhorias substanciais em termos de eficiência, potência específica e taxa de emissão de poluentes. Novos materiais possibilitam a redução de peso, custo e perdas de calor. Tipos alternativos de motores, tais como os que utilizam combustão estratificada, e que possuem maior tolerância quanto às propriedades do combustível, estão adquirindo um grau de desenvolvimento que possibilita a sua produção em escala comercial. A crescente adoção da geração elétrica descentralizada também tem levado a um aumento significativo das vendas de motores alternativos com potência entre 1 e 10 MW, principalmente em se tratando dos motores alimentados com gás natural, cujas vendas representavam 4 % do mercado de motores para geração de energia elétrica em 1990, e ultrapassaram a casa dos 20 % em 1999. Estes motores têm despertado o interesse devido a sua eficiência (32 - 35 % ou mais, base PCI), ao seu baixo custo inicial e a facilidade de manutenção, resultado de uma infraestrutura de serviços bem estabelecida (Liss, 1999). A Figura 7.1 apresenta um gráfico mostrando a evolução das vendas de MCI em unidades desde 1977 até 1996. Mostra-se também a evolução da potência instalada (Niemi, 1997). Liss (1999) relata ainda que o desenvolvimento de motores alternativos a gás de pequena capacidade (menores que 250 kW), em escala comercial, tem sido o objetivo de diversas pesquisas realizadas com apoio do Gas Research Institute - GRI, sendo que alguns fabricantes, entre eles, Kohler, Onan e Generac, e Tecogen, já dispõem de motores a gás nesta faixa de potências (GRID, 1999). Os motores alternativos também têm sido cada vez mais utilizados em sistemas de cogeração, onde é efetuada a recuperação do calor dos gases de escape, da água de resfriamento do motor e, em alguns casos, do óleo do sistema de lubrificação. Nestas instalações, a potência de eixo pode ser utilizada para gerar eletricidade, ou acionar uma bomba, um compressor ou qualquer outra carga. O calor recuperado pode ser utilizado para diversos fins, como por exemplo, fornecimento de água quente para lavanderias, cozinhas de restaurante, hotéis, Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.5 calefação e também para produção de frio (água gelada) em sistemas de refrigeração por absorção. Figura 7.1- Mercado de MCI Diesel, gás e de combustível dual para a geração de potência elétrica (Niemi, 1997). A Figura 7.2 mostra um balanço de energia típico de um motor alternativo, queimando gás natural, utilizado para acionar um gerador elétrico. Como pode ser observado, até 40 % da energia fornecida pelo combustível pode ser transformada em trabalho de eixo. A principal fonte para recuperação de calor está nos gases de escape, podendo reaproveitar até 29 % da energia em forma de vapor (normalmente com temperatura entre 350 e 500 °C e pressão de 7 a 8 bar ou mais). Da água do sistema de arrefecimento do motor (sistema de resfriamento dos cilindros) o calor pode quase que totalmente ser reaproveitado, porém a baixa temperatura (90 a 95 °C), como também pode ser recuperado o calor do sistema de resfriamento do óleo do motor, mas a uma temperatura ainda mais baixa (50 °C) e que poderiam ser utilizadas para fins sanitários. As perdas com radiação situam-se na faixa de 3%. Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.6 Figura 7.2- Balanço energético típico de um motor alternativoa gás operando em cogeração Além da possibilidade de recuperação de uma grande parcela de calor, conforme já mencionado, os seguintes fatores contribuem para o crescente interesse na utilização dos motores alternativos para a cogeração: • A grande disponibilidade de motores com funcionamento seguro e eficiente, em uma ampla faixa de capacidades. Sistemas compactos com potências inferiores a 100 kW, são produzidos nos Estados Unidos, desde 1980, pela Cummins Diesel e pela Caterpillar (Kaarsberg et al, 1998); • A disponibilidade de combustíveis de boa qualidade a preços atrativos, como é o caso do gás natural; • O aperfeiçoamento dos reguladores de eletricidade que asseguram a geração de eletricidade na freqüência desejada; • Bom desempenho em condições de carga parcial, principalmente para motores diesel, ignição por compressão. 7.3- CLASSIFICAÇÃO DOS MCI ALTERNATIVOS Existe uma grande variedade de MCI e, dependendo do enfoque, os motores podem ser classificados segundo diferentes características, conforme a seguir (Heywood, 1988): • Segundo o método de ignição (esta é a classificação fundamental, que separa os MCI alternativos em dois grupos com características de operação e desempenho muito diversas): ignição por centelha (em motores convencionais, onde a mistura ar + combustível é uniforme ou em motores de carga estratificada, onde a mistura ar + combustível não é uniforme) e ignição por compressão (em motores Diesel convencionais e também em motores a gás quando se utiliza a injeção piloto de outro combustível). A principal diferença entre um MCI ignição por centelha e um MCI ignição por compressão é que o primeiro admite uma mistura de ar+combustível, sendo comprimida na câmara de combustão e posteriormente é realizada a ignição por meio de um centelhamento proveniente da vela. No segundo caso, somente ar é admitido ao cilindro, comprimido e somente então o combustível é injetado. O calor do ar comprimido é que irá provocar a ignição da mistura espontaneamente; • Segundo a aplicação: automotivo (carros e caminhões), aviões pequenos, marítimo, pequenos geradores portáteis e geração de energia; • Segundo o ciclo de funcionamento: de 4 tempos: naturalmente aspirado (admitindo ar à pressão atmosférica) e sistemas de indução forçada, ou seja, supercarregados (admitindo ar previamente comprimido) e turbocarregados (admitindo ar comprimido por um compressor movido por uma turbina, a qual é acionada pelos gases de exaustão do próprio motor). De 2 tempos: aspiração pelo cárter (‘crankcase scavenged’), supercarregado e turbocarregado; • Segundo o combustível empregado: gasolina, óleo Diesel, gás natural, gás liquefeito de petróleo (GLP), metanol, etanol, hidrogênio, gases residuais ou manufaturados e duais (podem trabalhar com dois tipos diferentes de combustível: um líquido e outro gasoso); • Segundo o método de preparação da mistura ar + combustível: carburação, injeção de combustível na janela ou no duto de admissão e injeção direta nos cilindros do motor; • Segundo o projeto da câmara de combustão: câmara aberta (diversos tipos: hemisférica, triangular ou em cunha, ‘bowl in piston’, ou seja, a parte superior da cabeça do pistão tem a forma de uma concavidade, etc.) e câmara dividida (pequenas e grandes câmaras auxiliares de diversos tipos: ‘swirl’, aquelas que produzem um movimento rotacional da carga, pré-câmaras, etc.); • Segundo o método de controle da carga: estrangulamento do fluxo de ar + combustível conjuntamente, de modo que a composição da mistura não se altere, controle somente do fluxo Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.7 de combustível ou uma combinação de ambos, cuja opção depende do tipo de motor - ignição por centelha ou compressão; • Segundo o método de resfriamento: resfriamento por água ou ar. 7.4- COMPONENTES PRINCIPAIS DE UM MCI ALTERNATIVO Neste tópico é feita uma breve descrição dos principais componentes de um MCI, e que podem ser observados na Figura 7.3. • Bloco: órgão estacionário fabricado de ferro fundido, onde são usinados os cilindros ou os orifícios para a colocação destes. Possui cavidades que constituem as galerias de escoamento da água de resfriamento; quando substituíveis são denominadas camisas d’água; na parte inferior estão os alojamentos dos mancais centrais onde se apóia o eixo de manivelas; • Cabeçote: fecha os cilindros e define parte da câmara de combustão, sendo preso ao bloco por meio de parafusos prisioneiros e por uma junta. Possui furos onde são instalados as velas de ignição ou os bicos injetores, bem como as válvulas de admissão e descarga, no caso de motores de 4 tempos ou de 2 tempos com válvulas de descarga; • Cárter: é também um órgão estacionário, fixado na parte inferior do bloco por meio de parafusos, sendo construído de alumínio ou ferro estampado. È o local onde se deposita o óleo lubrificante; • Cilindro: é o espaço por onde se desloca o pistão; • Câmara de combustão: é o espaço livre entre o ponto morto superior e o cabeçote, onde se procede a queima da mistura ar-combustível. Sua forma e o valor da taxa de compressão influenciam muito no rendimento e na potência do motor; • Pistão: pode ser construído de liga de alumínio, ferro fundido ou uma combinação dos mesmos ou ainda de aço. Tem forma aproximadamente cilíndrica, oca, sendo fechado na parte superior e aberto na inferior, adaptando-se perfeitamente ao diâmetro do cilindro ou camisa do motor. Tem a função de transmitir ao eixo de manivelas a força devido à pressão dos gases em expansão, através do pino e da biela. Serve para suporte e guia dos anéis de segmento; • Pino: é o elemento de articulação entre o pistão e a biela; • Anéis: são aros elásticos, colocados em canaletas situadas no pistão, cuja finalidade é impedir a fuga dos gases produtos da combustão entre a parede do pistão e do cilindro, e impedir a entrada de óleo lubrificante na câmara de combustão; • Biela: é o braço de ligação entre o pistão e a árvore de manivelas; • Eixo (árvore) de manivelas: também chamado de virabrequim, é o eixo motor propriamente dito, o qual se situa, na maioria das vezes, na parte inferior do bloco, recebendo o impulso devido à combustão de cada cilindro, via biela, imprime o movimento rotativo; • Volante: consiste de uma roda de grande massa, fundida em aço, ligada à árvore de manivelas para atenuar as variações de aceleração devida às forças periódicas exercidas pelos gases sobre os pistões e transmitidas à árvore de manivelas. Regulariza o movimento do motor absorvendo trabalho nos períodos de aceleração, para restituí-lo quando o trabalho motor é menor do que o resistente; • Eixo de cames (comando de válvulas): construído em aço, tem a função de mover as válvulas de admissão e escape no momento certo, de acordo com as disposições de seus ressaltos que elevam o conjunto tucho, haste e balancim. É acionado pela árvore de manivelas através de engrenagem, corrente ou correia dentada; • Válvulas: construídas em liga de aço de alta qualidade, as válvulas servem para a admissão da mistura ar-combustível e descarga dos gases queimados; • Vela de ignição: fornece uma centelha capaz de inflamar a mistura ar-combustível para que a combustão possa ocorrer; Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.8 A- Válvula de admissão, braço oscilante e mola; B- Tampa de válvula; C- Janela de admissão; D- Cabeçote; E- Refrigerante; F- Bloco do motor; G- Reservatório de óleo; H- Carter; I- Eixo de cames; J- Válvula de exaustão, braço oscilante e mola; K- Vela de ignição; L- Janela de exaustão; M- Pistão; N- Biela; O- Mancal da biela; P- Eixo de manivela. Motor de 4 tempos A- Câmara de combustão; B- Janela de exaustão; C- Carter; D- Vela de ignição E- Pistão F- Válvula de palheta; G- Admissão de combustível; H- Combustível. Motor de 2 tempos Figura 7.3- Componentes básicos de um motor de 4 tempos e 2 tempos, ambos de igniçãopor centelha (adaptado de www.howstuffworks.com) 7.5- Ciclo de operação dos MCI alternativos Os componentes principais do ciclo de potência de um motor de combustão interna alternativo são cilindro, êmbolo, biela, manivela e árvore de manivelas (virabrequim) e estão apresentados na Figura 7.4: Algumas definições estão associadas a esta figura. O termo deslocamento (ou curso) é a distância que o pistão move em uma direção. Quando ele está no ponto morto superior (PMS) o volume do cilindro é mínimo e conhecido como volume morto ou de folga. Quando o pistão se Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.9 move para a posição de máximo volume do cilindro, ele se encontra no ponto morto inferior (PMI). O volume varrido pelo pistão quando ele se move desde o PMS até o PMI é chamado de volume deslocado. O conjunto biela-manivela (árvore de manivelas) tem como objetivo transformar o movimento alternativo do pistão em movimento rotativo no eixo de manivelas. A taxa de compressão ‘rc’, parâmetro importante e que determina a eficiência dos MCI, é definida como o volume máximo (no PMI) dividido pelo volume mínimo (no PMS). Nos motores de ciclo Otto o valor da taxa de compressão varia de 6 a 12, salvo casos excepcionais, enquanto que nos motores de ciclo Diesel oscila entre 14 e 24. (Heywood, 1988). Nos motores a gasolina (ciclo Otto), o limite superior da taxa de compressão está determinado essencialmente pela qualidade antidetonante do combustível utilizado, enquanto que para os motores Diesel esta relação é determinada, sobretudo, pelo peso da estrutura do motor, que aumenta com a taxa de compressão. No entanto, para aplicações estacionárias, o peso do motor, dentro de certos limites, não é um fator determinante, o que torna os motores Diesel adequados para esta finalidade. A possibilidade de trabalhar com maiores taxas de compressão permite que os motores Diesel de 4 tempos possuam eficiência que variam entre 32 e 42 % (base PCI) (Lizarraga, 1994). A maior eficiência dos motores de ignição por compressão é devida principalmente ao fato de operarem sempre com mistura pobre e ainda pela forma de controle da potência, baseada na variação da quantidade de combustível sem restrição da quantidade de ar - especialmente importante para a alta eficiência deste tipo de motor quando operando em cargas parciais Figura 7.4- Nomenclatura de um MCI alternativo No motor de quatro tempos cada cilindro requer quatro deslocamentos de seu pistão e, por sua vez, duas revoluções do eixo de manivelas, para completar a seqüência de eventos que produz um curso de potência. Tanto os MCI de ignição por centelha como os de ignição por compressão utilizam deste ciclo, o qual consta de (vide Figura 7.5): Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.10 • 1° Tempo - Curso de admissão, o qual começa com o pistão no PMS e termina com o pistão no PMI, aspirando uma mistura fresca para o cilindro. Para aumentar a massa induzida, a válvula de entrada abre um pouco antes do curso iniciar e fecha depois de seu final; • 2° Tempo - Curso de compressão, quando ambas as válvulas estão fechadas e a mistura dentro do cilindro é comprimida a uma pequena fração de seu volume inicial. Perto do final do curso de compressão, a combustão é iniciada e a pressão do cilindro aumenta rapidamente; • 3° Tempo - Curso de expansão ou de potência, o qual começa com o pistão no PMS e termina com o pistão no PMI, quando a alta pressão e temperatura dos gases (devido a combustão) ‘empurram’ o pistão para baixo e forçam o eixo de manivelas a rodar. Cerca de três vezes mais trabalho é realizado no pistão, durante o curso de potência, do que o pistão tem de realizar durante o curso de compressão. Quando o pistão se aproxima do PMI, a válvula de exaustão se abre, para iniciar o processo de exaustão, e a pressão no cilindro cai a fim de se aproximar da pressão de exaustão; • 4° Tempo - Curso de exaustão, onde o restante dos gases queimado sai do cilindro (devido a pressão no cilindro ser mais alta do que pressão de exaustão) sendo varridos pelo pistão enquanto ele se move para o PMS. Quando o pistão se aproxima do PMS, a válvula de entrada se abre e justamente depois do PMS, a válvula de exaustão se fecha e o ciclo é iniciado novamente. Figura 7.5- Esquema de um ciclo 4 tempos (Adaptado de Heywood, 1988). Conforme já comentado, o ciclo básico de quatro tempos pode ser utilizado tanto em MCI com ignição por centelha como em MCI com ignição por compressão, sendo que a diferença principal encontra-se na forma de introduzir o combustível e na ignição propriamente dita. Assim de acordo com a Figura 7.6 temos: A Figura 7.7 nos dá um diagrama pressão-deslocamento tal como visualizado em um osciloscópio. Com a válvula de admissão aberta, o pistão realiza o curso de admissão a fim de aspirar uma carga nova ao cilindro (linha a-b). Para MCI de ignição por centelha, esta carga é a mistura ar-combustível, enquanto que para os MCI de ignição por compressão, a carga é apenas ar. Na seqüência, com ambas as válvulas (admissão e exaustão) fechadas, o pistão realiza o ciclo de compressão (linha b-c), aumentando tanto a pressão como a temperatura da carga. Isto requer um consumo de potência do ciclo. O processo de combustão é então iniciado (ambas as válvulas fechadas), resultando em uma alta pressão e temperatura da mistura (ou ar). A combustão é induzida perto do final do curso de compressão (linha c-d). Para MCI com ignição por centelha a Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.11 inflamação é feita através da vela e, em um MCI de ignição por compressão pela injeção de combustível no ar quente comprimido (o aquecimento do ar deve ser superior à temperatura de ignição espontânea do combustível empregado). Na seqüência é realizado o curso de potência (linha d-e) durante o qual a mistura de gás expande e realiza trabalho no pistão fazendo-o deslocar ao PMI. O pistão então executa o curso de exaustão (linha e-a) pelo qual os gases queimados são expulsos do interior do cilindro através da válvula de exaustão. MCI Otto MCI Diesel Aspiração da mistura ar+combustível 1° Tempo Aspiração de ar Compressão da mistura 2° Tempo Compressão do ar Ignição da mistura através da faísca elétrica de uma vela. Expansão dos gases e realização de trabalho motor 3° Tempo Injeção de combustível e auto-ignição da mistura. Expansão dos gases e realização de trabalho motor Descarga dos gases produtos da combustão 4° Tempo Descarga dos gases produtos da combustão Figura 7.6- Comparação entre a forma de introduzir o combustível e a ignição de MCI Otto (ignição por centelha) e Diesel (ignição por compressão) Figura 7.7- Diagrama pressão-deslocamento para um MCI alternativo de quatro tempos. A seguir, apresenta-se a descrição do ciclo de operação de um motor de dois tempos de ignição por centelha (Otto) com aspiração pelo cárter (‘crankcase scavenged’). Normalmente estes motores não têm válvulas, eliminando-se assim alguns dispositivos como tuchos, hastes, balancins, engrenagens, etc. O cárter apresenta dimensões reduzidas, onde é lançada a mistura ar + combustível, sendo cuidadosamente fechado, pois nele se realiza a pré-compressão da mistura. As janelas na camisa do cilindro, abertas ou fechadas pelo movimento do pistão, controlam os fluxos de admissão e exaustão enquanto o pistão se movimenta entra o PMS e o PMI (Figura Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.12 7.8.a). Cada ciclo do motor constituído de um curso completo de potência realiza as operações de admissão, compressão, expansão e exaustão e conduz a uma revolução no eixo de manivelas. Entretanto, é difícil preencher totalmente o volume deslocado (volume de carga fresca), pois parte desta nova carga flui diretamente para fora do cilindro durante o processo de lavagem. A seguir detalha-se os dois cursos do motor:• 1° Tempo - Curso de admissão-compressão, onde o pistão movimenta-se em direção ao PMS, comprimindo a mistura ar + combustível. Durante este processo, as janelas de exaustão e de transferência de carga do cárter para o cilindro estão fechadas pelo corpo do pistão. Entretanto, a janela de admissão do cárter está aberta admitindo carga nova no mesmo. Quando o pistão se aproxima do PMS, a combustão é iniciada; • 2° Tempo - Curso de expansão ou de potência, o qual é similar ao do de quatro tempos até o pistão se aproximar do PMI, quando, primeiro, as janelas de exaustão e, posteriormente, as janelas de admissão do cárter ao cilindro são destampadas. A maior parte dos gases queimados sai do cilindro no processo lavagem. Quando as janelas de admissão são destampadas, a carga fresca que foi comprimida no cárter flui para o cilindro. O pistão e as janelas, geralmente, são moldados para desviar a carga de admissão de modo que os gases de exaustão sejam direcionados para as janelas de exaustão e, dessa forma, garantir uma melhor remoção dos gases residuais. Um exemplo de um motor de ignição por compressão de dois tempos é apresentado na Figura 7.8.b. Neste caso o ciclo de funcionamento é o seguinte: no curso de admissão de ar, as válvulas de exaustão permanecem fechadas, as janelas de admissão, localizadas na parte inferior do cilindro, se abrem através do movimento do pistão e ar é induzido a alta pressão no cilindro. Durante o ciclo de compressão, com as válvulas de exaustão fechadas, o pistão move-se em direção ao cabeçote, comprimindo o ar no cilindro, aumentando a temperatura e a pressão. Próximo ao ponto morto superior, injeta-se o combustível que se auto-inflama e força o pistão para o curso de potência, através da expansão dos gases. Finalmente, no curso de exaustão, abra- se as válvulas de saída do gás enquanto que as janelas de admissão permanecem fechadas pelo corpo do pistão. Os gases são expelidos antes que as janelas de admissão se abrem para realizar um novo ciclo. O MCI de dois tempos de ignição por compressão (Diesel) difere-se em alguns aspectos ao de ignição por centelha, por exemplo, ele não trabalha com uma pré-compressão no cárter. Ele tem um carregamento forçado por meio de um compressor de baixa pressão ou por um turbo- alimentador. Devido às diferenças de operação apresentadas para os MCI de quatro e dois tempos, a seguir é feita uma comparação entre estes dois motores. Era de se esperar que um motor de dois tempos, na mesma rotação e da mesma cilindrada que um de quatro tempos, tivesse o dobro de potência, pois tem o dobro de carreiras motrizes. Isto não acontece porque a duração da operação de admissão e escape é bem mais curta que nos motores de quatro tempos e, portanto, a expulsão dos gases queimados e a admissão de nova mistura não podem ser tão boas quanto no motor de quatro tempos, o que significa uma massa de gases residuais substancialmente maior. Além disso, existe ainda o problema de que na fase de compressão as janelas de admissão e escape têm de ficar abertas durante certo período, reduzindo o curso de compressão e de expansão. Estes fatores diminuem o trabalho realizado sobre o pistão, trabalho este que é menor do que no ciclo de quatro tempos. Como os gases que entram têm de lavar o cilindro, estando as duas janelas abertas ao mesmo tempo, no caso de motor de ciclo Otto, uma parte da mistura se perde no escape, o que leva a um consumo de combustível ligeiramente superior ao de um motor de quatro tempos com a mesma potência e também a uma emissão de hidrocarbonetos não queimados substancialmente maior. Este problema não acontece nos motores de ignição por compressão, pois apenas ar é admitido no cilindro. Com efeito, os motores diesel mais eficientes Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.13 são exatamente os de grande porte, de dois tempos e baixa rotação (típicos para navios de grande porte). Figura 7.8.a- Ciclo de operação de um motor Otto de dois tempos com admissão pelo cárter (Adaptado de Heywood, 1988). Figura 7.8.b- Ciclo de operação de um motor Diesel de dois tempos (Adaptado de Elliot, 1997). Um dos parâmetros utilizados para descrever a performance dos MCI alternativos é a pressão média efetiva, ou pme. A pme é a produção líquida de trabalho do motor por volume deslocado, ou em outras palavras, é a pressão teórica constante que, se agisse no pistão durante o curso de potência, produziria o mesmo trabalho líquido que o desenvolvido realmente em um ciclo. Uma alta pressão média efetiva indica uma alta compacidade do motor térmico. deslocado volume ciclo um de líquido trabalho pme= (7.1) Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.14 Para dois motores de iguais volumes deslocados, aquele com a maior pressão média efetiva produzirá o maior trabalho líquido e, se o motor gira na mesma velocidade de rotação, maior potência. Um estudo detalhado da performance dos MCI alternativos deve levar em conta muitas características. Nestas incluir-se-ia o processo de combustão que ocorre dentro do cilindro e os efeitos da irreversibilidade associados com o atrito e com os gradientes de temperatura e pressão. A transferência de calor entre os gases e a parede do cilindro e o trabalho requerido para carregar o cilindro e exaurir os gases produtos da combustão também deveriam ser considerados. Devido a estas complexidades, modelagens detalhadas destes tipos de motores, normalmente envolvem simulações computacionais e, devido a estas complexidades, não serão tratadas neste trabalho. Porém, pode-se desenvolver uma análise termodinâmica elementar, empregando os ciclos padrões de ar Otto, Diesel e Duplo (Dual), onde se introduzem consideráveis simplificações. Tal análise é tratada no Capítulo 3 deste livro. Desde 1920, atenção tem sido dada ao desenvolvimento de MCI híbridos, os quais combinam as melhores características de um motor de ignição por centelha e as de ignição por compressão. A meta tem sido operar tal uma máquina o mais próximo da relação de compressão ótima para eficiência (na faixa de 12 a 15) por (Heywood, 1988): (1) injeção de combustível diretamente na câmara de combustão durante o processo de compressão (e deste modo minimizar os problemas de ‘batida’ ou ignição espontânea que limitam a taxa de compressão dos MCI de ignição por centelha com carga pré-misturada); (2) ignição do combustível quando ele mistura com ar por meio de faísca para fornecer controle direto do processo de ignição (e deste modo evitar requerimentos de qualidade na ignição do combustível); (3) controle do nível de potência do motor pela variação da quantidade de combustível injetado por ciclo (com o fluxo de ar não estrangulado para minimizar o trabalho de bombeamento de carga ‘fresca’ no cilindro). Tais motores são denominados motores de carga estratificada. Também dignos de menção são os motores de duplo combustível (‘dual-fuel engines’), cujo principal característica é a versatilidade de uso de combustíveis, que significa que um mesmo motor pode operar tanto com combustíveis líquidos como gasosos. Quando operando no modo gás, o motor trabalha de acordo com o processo Otto, onde uma mistura pobre de ar- combustível (isto é, há mais ar do que o necessário para a combustão) é alimentada nos cilindros durante o curso de admissão (Figura 7.10). A ignição é iniciada pela injeção de uma pequena quantidade de óleo Diesel, a fim de garantir a estabilidade da chama e evitar falhas na combustão pobre. Por outro lado, quando operando em modo Diesel (ignição por compressão), a operação é realizada conforme os motores Diesel convencionais (Figura 7.11). Este tipo de motor é essencial onde o fornecimento de gás natural não é confiável, ficando a utilização de óleo Diesel para situações de emergência (‘back-up’). Quando operando no modo gás é possível transferir instantaneamente para a operação do combustível de ‘back-up’ a qualquer carga,no caso de uma situação de emergência. A válvula de injeção de Diesel, localizada no centro do cabeçote do cilindro, é utilizada tanto como combustível piloto como para o caso da operação no modo Diesel normal (Energy News/Wärtsilä, 1999). Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.15 Figura 7.10- Esquema do conceito de motor de combustível dual operando no modo gás (adaptado de Energy News/Wärtsilä, 1999) Figura 7.11- Esquema do conceito de motor de combustível dual operando no modo Diesel (adaptado de Energy News/Wärtsilä, 1999) Finalmente, considerando a possibilidade do aumento da potência desenvolvida por um motor, pode-se citar os motores turbocarregados (ou turboalimentados) e supercarregados (ou superalimentados), ambos também denominados sistemas de indução forçada. Estes processos comprimem o ar que flui no motor permitindo assim introduzir uma carga de ar maior no cilindro. Mais ar significa que mais combustível também pode ser introduzido, resultando em uma potência global maior do que nos motores sem indução forçada. A utilização destes sistemas é a maneira mais eficiente de aumentar a potência de um motor, sem aumentar suas dimensões, melhorando inclusive a eficiência do mesmo. A diferença entre a turboalimentação e a superalimentação reside no fornecimento da potência. No primeiro, o aumento da carga é conseguido por meio de um conjunto turbina-compressor. Os gases quentes que saem do motor acionam a turbina que, conectada ao compressor, permite que se admita uma massa de ar maior para o interior do cilindro, do que nos motores convencionais, conforme mostrado na Figura 7.12.a. No caso do supercarregado coloca-se uma correia conectando o compressor diretamente no motor. Teoricamente, os motores turbo-carregados apresentam uma eficiência superior devido utilizarem a energia residual dos gases de exaustão, porém criam uma pequena contrapressão no sistema de exaustão. Um sistema de turboalimentação de um MCI a gás e seu respectivo sistema de controle é apresentado na Figura 7.12.b. Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.16 Figura 7.12.a- Esquema de um sistema de turboalimentação (adaptado de www.howstuffworks.com) Figura 7.12.b- Esquema típico de um motor a gás turboalimentado E seu respectivo sistema de controle (adaptado de Ulstein Bergen) Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.17 7.6- CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS E PARÂMETROS DE D ESEMPENHO DE MCI ALTERNATIVOS Neste tópico, algumas relações geométricas básicas, e os parâmetros freqüentemente utilizados para caracterizar a operação do motor são apresentados. Alguns fatores importantes quando da opção de se empregar um MCI são: • O desempenho do motor em sua faixa de operação; • O consumo de combustível dentro e fora de sua faixa de operação e os respectivos custos operacionais; • As emissões sonoras e de poluentes atmosféricos e os custos de sua mitigação; • Os custos iniciais do equipamento e acessórios, o de instalação e os decorrentes de manutenção; • A confiabilidade e a durabilidade do motor, seus requerimentos de manutenção e como estes afetam a disponibilidade e os custos de operação do mesmo. Estes fatores, entre outros que poderiam também ser mencionados, influenciam e controlam os custos operacionais totais dos motores e permitem avaliar se operam dentro das faixas ambientais de limites de emissão satisfatórias. O desempenho desses motores é mais precisamente definido por: (Heywood, 1988) • Máxima potência (ou o máximo torque) disponível em cada velocidade dentro da faixa útil de operação do motor; • Faixa de velocidade e potência nas quais a operação é satisfatória. As seguintes definições para a avaliação da operação também são freqüentemente utilizadas: • Potência nominal máxima: a maior potência em um motor somente é admitida em pequenos períodos de operação; • A potência nominal ‘normal’: a mais alta potência que é permitida para o motor operar continuamente; • Velocidade nominal: corresponde à velocidade rotacional da manivela na qual a potência nominal é desenvolvida. 7.6.1- Propriedades geométricas de MCI alternativos Os seguintes parâmetros definem a geometria básica de um motor alternativo (Figura 7.13): Taxa de compressão rc: c cd c V VV cilindro do mínimo volume cilindro do máximo volume r +== (7.2) sendo Vd o volume deslocado ou varrido e Vc o volume morto. A seguir duas relações úteis para o cálculo das propriedades geométricas são definidas. A primeira delas é a razão entre o diâmetro do cilindro (B) e o curso do pistão (L), designada por Rbs e a segunda relação é a razão do comprimento da biela (l) pelo raio do eixo da manivela (a), designada por R, ou seja: L B Rbs = pequenos e médios motores: 0,8 a 1,2; grandes motores de baixa velocidade: 0,5 a l R = pequenos e médios motores: 3 a 4; grandes motores de baixa velocidade: 5 a 9 Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.18 Figura 7.13- Geometria do cilindro, pistão, biela e manivela, sendo: ‘B’ o diâmetro, ‘L’ o curso, ‘l’ o comprimento da biela, ‘a’ o raio da manivela e ‘θ’ o ângulo de posição da manivela. Ainda nesta figura, Vt é o volume total e correspondente à soma do volume morto Vc e do volume deslocado Vd. (Adaptado de Heywood, 1988) O volume do cilindro, em qualquer posição do eixo, é dado pela fórmula: ( )sal 4 B V V 2 c −+⋅ ⋅π+= (7.3) onde s é a distância entre o centro do eixo da árvore de manivelas e a linha de centro do pino do pistão, cujo valor é dado por: ( )21222 senalcosas θ⋅−+θ⋅= (7.4) O ângulo θ, apresentado na Figura 7.13, é denominado ângulo da manivela. Combinando-se as equações anteriores, chega-se na relação entre o volume do cilindro e o do volume morto (mínimo volume): ( ) ( ) θ−−θ−+⋅−⋅+= 2 1 22 c c senRcosR11r 2 1 1 V V (7.5) A área superficial da câmara combustão em qualquer posição da manivela é determinada por: ( )salBAAA pch −+⋅⋅π++= (7.6) Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.19 sendo Ach a área superficial do cabeçote do cilindro e Ap a área do topo do pistão e, para pistão de ‘cabeça’ plana, Ap = π⋅B2/4. Rearranjando a equação anterior vem: ( ) θ−−θ−+⋅⋅⋅π++= 2 1 22 pch senRcosR12 LB AAA (7.7) 7.6.2- Torque e potência no freio O torque de um motor, normalmente, é medido com um dinamômetro. O motor é fixado em uma bancada de teste e o eixo é conectado ao rotor do dinamômetro. A Figura 7.14 ilustra o princípio de operação do dinamômetro. O rotor é acoplado eletromagneticamente, hidraulicamente ou por fricção mecânica ao estator, o qual está apoiado em pequenos mancais de fricção. De acordo com a notação da Figura 7.14, o torque (T) exercido pelo motor é: bFT ⋅= (7.8) A potência (P) desenvolvida pelo motor e absorvida pelo dinamômetro é o produto do torque pela velocidade angular, ou seja: TN2P ⋅⋅π⋅= (7.9) sendo N a velocidade de rotação do eixo de manivela. Nesta fórmula, para se calcular P em [W], N deve estar em [rev/s] e T em [N⋅m]. O valor da potência do motor medida como descrita acima é denominada potência no freio e corresponde à potência útil desenvolvida pelo motor para uma carga, que neste caso é um freio. Estator Rotor Força F Célula de carga N b Figura 7.14- Esquema básico do principio de operação de um dinamômetro 7.6.3- Trabalho indicado por ciclo Os dados de pressão para o gás no cilindro, durante o ciclo operacional da máquina, podem ser usados para calcular a transferência de trabalho do gás para o pistão. A pressão no cilindro e o correspondente volume por todo o ciclo do motor pode ser plotado em um diagrama p-v como mostrado na Figura 7.15. A potência indicada por ciclo, Wi,c, por cilindro, é obtida integrando ao redor da curva, ou seja, Capítulo 7 Motores de combustãointerna (MCI) alternativos 7.20 ∫=⇒=⋅== dV pWdV PdxA Pdx FdW c,i (7.10) dx P Para os ciclos de dois tempos (Figura 7.15.a), a aplicação da integral é direta. Com a adição dos cursos de exaustão e admissão para o ciclo de quatro tempos, duas definições de produção indicada são usualmente utilizadas (Figuras 7.15.b e 7.15.c): • Trabalho bruto indicado por ciclo, Wi,cb, que é o trabalho desenvolvido pelo pistão durante apenas os cursos de compressão e expansão (potência). Na figura é representada pela área (‘A’ + ‘C’); • Trabalho líquido indicado por ciclo, Wi,cl, que é o trabalho desenvolvido pelo pistão durante todo o ciclo quatro tempos. Na figura é representada pela área [(‘A’ + ‘C’) - (‘B’ + ‘C’)], ou seja, área (‘A’ - ‘B’); A área (‘B’ + ‘C’) é o trabalho transferido entre o pistão e os gases no cilindro durante os cursos de admissão e exaustão e denominado trabalho de bombeamento, Wb. O trabalho de bombeamento transferido será para os gases do cilindro se a pressão, durante o curso de admissão, for menor do que a do curso de compressão. Esta é a situação que ocorre com os motores naturalmente aspirados. Caso contrário, o trabalho de bombeamento será transferido pelos gases do cilindro para o pistão, que normalmente ocorre para os motores supercarregados. A potência por cilindro é relatada como trabalho indicado por ciclo pela equação: r c,i i n NW P ⋅ = (7.11) sendo nr o número de revoluções da árvore de manivelas, por cilindro, para cada curso de potência. Para o ciclo de quatro tempos, nr = 2 e, para dois tempos, nr = 1. A potência indicada é a taxa de transferência de trabalho do gás dentro do cilindro para o pistão. Ela difere da potência no freio pela potência absorvida superando a fricção do motor, bem como a potência de acionamento de acessórios do motor (bomba de óleo, bomba de água, alternador, ventilador, ar condicionado, etc.) e, no caso da potência indicada líquida, da potência de bombeamento. Tanto a potência indicada como a no freio são usadas para descrever outros parâmetros tais como a pressão média efetiva, o consumo específico de combustível e as emissões específicas do motor. 7.6.4- Pressão média efetiva A pressão em um cilindro muda durante o curso de expansão, primeiro aumentando devido a adição de calor e, posteriormente, decrescendo devido ao aumento no volume do cilindro. Da definição do trabalho indicado, a pressão média efetiva indicada pode ser calculada como: d c,i ic,i V W pmedV pW =⇒= ∫ (7.12) A pressão média efetiva pode também ser encontrada para o trabalho de fricção (devido à fricção nos mancais e anéis) e no freio. Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.21 d f f V W pme = (7.13) d b b V W pme = (7.14) Figura 7.15- Exemplos de diagrama p-v para (a) MCI dois tempos, (b) MCI quatro tempos e (c) cursos de exaustão e admissão para MCI quatro tempos ignição por centelha a carga parcial. (Adaptado de Heywood, 1988) Segundo Kirkpatrick, um motor ciclo Otto naturalmente aspirado apresenta um valor da pmeb em torno de 1.000 kPa, enquanto que para um turbo carregado a pmeb está por volta de 1.500 kPa, podendo atingir valores bem maiores no caso de motores de ignição por compressão. Outras maneiras de se calcular a pme são: NV nP pme d r ⋅ ⋅= (7.15) e Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.22 d r V Tn2 pme ⋅⋅π⋅= (7.16) sendo P a potência, nr o número de revoluções do eixo de manivelas (igual a 2 para motores de quatro tempos e 1 para de dois tempos), Vd o volume deslocado, N a rotação do motor e T o torque. 7.6.5- Eficiência mecânica Conforme já comentado, parte da potência ou trabalho indicado bruto por ciclo é usado para expelir os gases de exaustão e induzir carga nova no cilindro. Uma parte adicional é usada para superar a fricção dos mancais, anéis, pistões e outros componentes do motor e para acionar os acessórios do motor. Todos estes requerimentos de potência são agrupados juntos formando a denominada potência de fricção (Pf). Portanto, a potência bruta indicada (Pi,b) é a soma entre a potência ao freio (Pb) mais a potência de fricção (Pf): fbb,i PPP += (7.17) A potência de fricção é difícil de se determinar com precisão. Uma aproximação comumente realizada para motores de alta velocidade de rotação é motorizar o motor com um dinamômetro (operar o motor sem queima) e medir a potência que necessita ser fornecida pelo dinamômetro para superar todas as perdas por fricção (Heywood, 1988). A razão da potência de frenagem entregue pelo motor pela potência indicada é denominada eficiência mecânica, ηmec, e vale: b,i f b,i b mec P P 1 P P −==η (7.18) 7.6.6- Consumo específico de combustível e eficiência de conversão de combustível Em testes com motores, o consumo de combustível é medido como o fluxo mássico por unidade de tempo, combm • . Um parâmetro utilizado com mais freqüência na análise de MCI é o consumo específico de combustível, cec, definido como o fluxo de combustível por unidade de potência, ou seja, é a medida de quão eficiente é um motor usando um combustível para gerar potência. P m cec comb • = (7.19) Baixos valores de cec são, obviamente, desejados. Para MCI ignição por centelha, os melhores valores típicos do consumo específico de combustível, considerando a potência no freio, estão por volta de 270 g/kWh e, para MCI ignição por compressão 180 g/kWh (Heywood, 1988). Porém, deve-se ressaltar que uma das dificuldades no uso do conceito de consumo específico reside no fato de que este conceito não permite uma comparação entre motores que operam com diferentes combustíveis (por exemplo, entre motores a gasolina e a álcool, ou entre motores a gás natural e a gás pobre). Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.23 Uma medida da eficiência do motor muito utilizada é a que relaciona o trabalho produzido por ciclo com a quantidade de energia fornecida pelo combustível, ou seja, a massa de combustível vezes o poder calorífico do mesmo, denominada eficiência de conversão do combustível. ( ) ( ) PCIm P PCN/nm N/nP PCm W combrcomb r comb c comb ⋅ = ⋅⋅ ⋅= ⋅ =η •• (7.20) sendo mcomb e combm • a massa e vazão de combustível por ciclo, respectivamente. Combinando-se a equação do consumo específico de combustível com a da eficiência de conversão do combustível, tem-se: PCIcec 1 comb ⋅ =η (7.21) 7.6.7- Relação ar/combustível e combustível/ar Em testes de motores, tanto a vazão de ar como a de combustível são geralmente medidas. A razão destas taxas de fluxo é útil na definição das condições de operação do motor, ou seja: ( ) comb ar m m A/C lcombustíve/ar relação • • = (7.22) e ( ) ar comb m m C/A ar/lcombustíve relação • • = (7.23) • A relação A/C é chamada ‘estequiométrica’, se a mistura contem a quantidade mínima teórica de ar que forneça oxigênio suficiente para uma combustão completa do combustível. Se a quantidade de ar é menor do que a estequiométrica, a relação A/C é chamada de ‘rica em combustível’; inversamente, se a quantidade de ar é maior, a relação A/C é chamada de ‘pobre em combustível’. Para faixas de operação normais de motor de combustão por centelha convencional, operando com gasolina, 12 ≤ A/C ≤ 18. Para motores de combustão por compressão, operando com diesel, 18 ≤ A/F ≤ 70 (Heywood, 1988). 7.6.8- Eficiência volumétrica O sistema de admissão (filtro de ar, tubo de alimentação, janelas, válvulas, etc.) restringe a quantidade de ar que poderia ser induzida em um motor de dado deslocamento. O parâmetro utilizado para medir a eficácia do mecanismo de admissão em um motor é a eficiência volumétrica, definida como a massa de ar efetivamente admitida no cilindro dividida pela massa de ar nas condições (de pressão e temperatura) existentes no coletor deadmissão e que ocuparia o volume deslocado pelo cilindro, ou seja: dar ar dar ar v V m NV m2 ⋅ρ = ⋅⋅ρ ⋅=η • (7.24) Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.24 sendo ρar a massa específica do ar nas condições de pressão e temperatura do coletor de admissão. 7.6.9- Relação entre os parâmetros de desempenho A importância dos parâmetros definidos anteriormente para o desempenho do motor torna- se evidente quando a potência, o torque e a pressão média efetiva são expressos por meio dos mesmos. Combinando-se equações anteriores tem-se: ( ) r acomb n A/CPCNm P ⋅⋅⋅⋅η= ( ) π⋅ ⋅ρ⋅⋅⋅η⋅η= 4 A/CPCV T ardvcomb ( )A/CPCpme arvcomb ⋅ρ⋅⋅η⋅η= Estas relações ilustram a importância direta para o desempenho do motor considerando: • Alta eficiência de conversão do combustível; • Alta eficiência volumétrica; • O aumento da produção de energia pelo aumento da massa específica do ar de admissão; • A máxima relação (C/A) durante a combustão; • Alta velocidade média do pistão. Observar ainda que se os demais parâmetros não variassem, a potência cresceria linearmente com a rotação e que a alta eficiência volumétrica é o principal motivo pelo qual os motores de ignição por compressão possuem alta eficiência em cargas parciais, ao contrário dos motores de ignição por centelha, que estrangulam a entrada de ar. 7.7- MCI NA GERAÇÃO TERMELÉTRICA A eficiência térmica dos MCI modernos é considerável, alcançando naqueles de maior porte valores superiores a 40 %, conforme é mostrado na Figura 7.16 (Grone e Hellmann, 1997). É bom assinalar que a eficiência das CTE de ciclo combinado de alta capacidade pode chegar a valores superiores ao assinalado nesta figura, alcançando 57 a 58 % (Vide Capítulo 12). Para o atendimento de potências na faixa entre 20 a 50 MW, os MCI atingem eficiências maiores que os ciclos combinados. Além disso, os MCI, quer sejam do ciclo Otto ou Diesel são eficientes mesmo trabalhando a cargas parciais, podendo-se manter quase a mesma eficiência para valores de carga entre 40 e 110 % do valor nominal, porém com os motores do ciclo Diesel apresentando melhores desempenhos. Um dos avanços significativos neste sentido foi a introdução do turbo- compressor que aproveita a energia dos gases de exaustão para comprimir o ar de alimentação antes de entrar na câmara de combustão. O gás é hoje e será nas próximas décadas uma das mais importantes fontes de energia do mundo. Considerando-se o aspecto ambiental, com exigências cada vez maiores para o uso de fontes mais limpas para a geração de energia, o gás natural é considerado o melhor combustível e o seu uso representa, portanto, uma alternativa para esta nova conjuntura. Sacrifica-se, porém a eficiência, que não é a mesma dos motores Diesel em plena carga e menor ainda em cargas parciais Novos conceitos de ignição utilizam tanto a tradicional ignição por centelha em câmaras de pré-combustão, como a ignição de misturas pobres de ar-gás com a injeção de Diesel. O controle Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.25 do funcionamento de cada cilindro é feito de forma independente e a admissão de gás para cada um deles é controlada eletronicamente com relação ao tempo e à quantidade de gás para cada ciclo de combustão. Outros novos conceitos permitem a operação com gases de baixo poder calorífico (residuais). Figura 7.16- Comparação das eficiências para diferentes tecnologias (Grone e Hellmann, 1997). Uma conclusão a que se chega é que, para pequenas capacidades, os motores apresentam a mais alta eficiência dentre as máquinas térmicas. Também, nota-se que o valor da eficiência para ciclos combinado apresentada pelo autor está abaixo dos valores atuais. De acordo com o Capítulo 12 - Ciclos Combinados - constata-se que estes valores podem chegar a 58 % de eficiência, com expectativas de curto prazo em ultrapassar 60 %. A utilização dos motores alternativos em unidades de geração tende, atualmente, a apresentar uma construção modulada. Este tipo de construção oferece como principais vantagens: • A instalação e a partida podem ser muito mais rápidas. O trabalho no local é minimizado, o que resulta num tempo de execução mais curto da totalidade do projeto; • No caso em que no futuro houver a necessidade de aumento de carga, a instalação modular padronizada dá flexibilidade para um aumento gradual da capacidade instalada, evitando-se elevados investimentos iniciais; • A central elétrica padrão é projetada para o menor espaço físico possível. É possível construir uma central de cogeração de 2,5 MW, de acordo com todos os regulamentos de emissões e ruídos, numa área de 100 m2 (ANEEL, 2000); • Os motores modernos podem trabalhar com diferentes alternativas de combustíveis. Além dos tradicionais (Diesel e óleos pesados), o gás natural e o gás liquefeito do petróleo podem também ser usados, assim como outras variantes que incluem gases menos nobres, álcool e óleos vegetais. Mas as tecnologias e o desempenho variam substancialmente de acordo com o combustível escolhido; não há flexibilidade de escolha com manutenção de mesmo desempenho (potência, eficiência, emissões, etc.) Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.26 Tabela 7.1- Dados de fabricantes de grupos geradores (Diesel and Gas Turbine Worldwide Catalog, 2000). Modelo Tipo (1) Faixa de velocidade de rotação (rpm) Máxima pressão média efetiva ao eixo (bar) Faixa de potência - baixa (kW) Faixa de potência - alta (kW) Caterpillar, Inc. 3054 D 2.400 - 2.600 10,4 56 83 Série 3300 SI 1.000 - 1.800 10,5 41 164 3056 D 2.400 - 2.600 10,4 83 135 3116 D 1.800 - 2.800 16,9 86 261 3176 D 1.800 - 2.300 22,6 201 448 Série 3400 SI 1.000 - 1.800 12,4 93 504 3406 E D 1.800 - 2.300 18 269 597 3412 E D 1.200 - 2.100 18 373 783 Série 3500 SI 1.000 - 1.400 11,7 192 999 3516 B D 1.000 - 1.925 20,2 984 2.237 Série 3600 SI 750 - 1.000 14,2 928 3.509 3612 D 750 - 1.000 22 2.980 4.500 12CM32 D 750 22,7 5.365 5.590 12CM43 D 500 - 514 24,4 10.480 10.480 18CM43 D 500 - 514 24,4 15.710 15.710 Wärtsilä Corporation W20 D 720 - 1.000 24,6 - 25,8 720 1.620 W200 D 1.200 - 1.500 21,2 - 23,2 2.100 3.600 W26 D 900 - 1.000 23,0 - 24,3 1.860 5.850 Vasa 32 GD DF 720 - 750 21,3 - 24,0 1.480 7.380 W32 D 720 - 750 22,9 23,3 2.700 8.280 RTA48T-B D 102 - 127 19 5.100 11.640 W38 D 600 24,5 - 26,5 3.960 13.050 RTA58T-B D 84 - 105 19 7.450 17.000 W46GD DF 500 - 514 21,9 - 24,3 5.430 17.550 RTA68T-B D 75 - 94 19 10.300 23.520 RTA84T-D D 61 - 76 18,5 14.350 36.900 RTA84C D 82 - 102 17,9 11.360 48.600 RTA96C D 90 - 100 18,2 23.040 65.880 Rolls-Royce 21/30 SI 1.000 6,9 672 1.008 Série 2000 D, DF 720 - 1.000 15,15 507 1.584 KRM D 750 22 1.215 1.820 KVGS SI 1.000 15,7 2.220 3.330 KVG D 750 22 2.430 3.645 B32:40A D 750 24,9 3.000 4.500 32CLX D 600 21,5 4.280 6.420 B32:40A D 750 24,9 6.000 9.000 PC2-6 D, DF 500 - 520 22,7 5.500 9.900 Série 5000 D 720 - 750 26 3.150 10.500 41HX D 500 - 514 23,23 - 24,35 11.768 13.230 PC2-6B D, DF 600 23,9 9.000 15.000 46HLX D 429 22,98 13.760 15.480 (1) D: Diesel ou óleo pesado; SI: Ignição por centelha; DF: Combustível dual. Em várias unidades disponíveis no mercado, o motor duplo combustível apresenta uma necessidade mínima de aproximadamente 3% de combustível líquido piloto, o qual pode ser Diesel ou óleo pesado, e em tecnologias mais avançadas, esse valor atinge 1 % (Wideskog, 1998). Este fato criou um argumento positivo para este tipo de equipamento, significando que podem ser usados diversos insumos alternativamente na mesma instalação, mas com diferentes eficiências (Mohr, 1998). Para estes motores, necessita-se controlar a injeção do gás e do Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.27 combustível líquido de acordo com a seleção do modo de operação e proteger o motor contra falhas no sistema de fornecimento de gás. O modo de operaçãoé escolhido pelo toque de um botão, sem interrupção do funcionamento ou variação na carga. A característica mais importante do sistema de controle mostra-se quando o fornecimento de gás é interrompido. Em fração de segundos o motor é automaticamente transferido do modo gás para combustível líquido, sem alteração perceptível de freqüência e mantendo-se a mesma potência (ANEEL, 2000). É ampla a faixa de aplicações dos grupos moto geradores, encontrando-se centrais geradoras desde poucos kW até aquelas com mais de 350 MW de potência, com aplicações em geração isolada e interligada, propulsão e iluminação de navios, unidades de emergência, etc. A Tabela 7.2 mostra um levantamento das usinas brasileiras acionadas por MCI (Memória da Eletricidade, 2000). A disposição típica das plantas consiste de dois grupos principais: mecânico e elétrico. Os componentes do sistema mecânico proporcionam as funções necessárias para operar o motor. Os componentes do sistema elétrico garantem a eletricidade para o funcionamento das diferentes unidades auxiliares do sistema mecânico. Tabela 7.2- Exemplos de usinas termelétricas com MCI no Brasil em operação isolada (Memória da Eletricidade, 2000) Usina Potência instalada total (kW) Descrição por unidade (kW) Altamira (PA) 12.400 2 x 1.700 + 3 x 1.000 + 8 x 700 + 1 x 400 Boa Vista II (RR) 17.500 7 x 2.500 Caracaraí (RR) 6.876 2 x 536 + 1 x 600 + 3 x 320 + 2 x 300 + 3 x 648 + 1 x 356 + 1 x 660 + 1 x 684 Costa Cavalcante II (AC) 32.760 9 x 2.500 + 5 x 1.752 + 1 x 1.500 Itacoatiara (AM) 15.260 2 x 2.500 + 3 x 2.320 + 3 x 1.110 Itaituba III (PA) 18.060 1 x 1.300 + 2 x 1.750 + 1 x 1.300 + 1 x 11.456 Manacapuru (AM) 7.708 1 x 630 + 1 x 2.320 + 2 x 1.252 + 2 x 1.100 Pimenta Bueno (RO) 13.000 4 x 2.500 + 2 x 1.500 Pontinha do Coxo (MS) 288 2 x 144 Porto Murtinho (MS) 3.140 7 x 256 + 3 x 260 + 1 x 304 + 1 x 264 Porto Velho III (RO) 14.880 3 x 5.270 Rolim de Moura (RO) 14.500 1 x 1.000 + 4 x 1.500 + 3 x 2.500 Santa Tereza (MS) 180 1 x 180 Vilhena (RO) 14.000 3 x 1.000 + 4 x 1.500 + 2 x 2.500 Na Figura 7.17 apresenta-se um diagrama genérico de um ciclo combinado MCI?Turbina a vapor e na 7.18 um típico diagrama de Sankey de um MCI mostrando-se as principais perdas que ocorrem em instalações que empregam estes acionadores. Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.28 Figura 7.17- Esquema de uma central de ciclo combinado com MCI/turbina a vapor. (Energy News/Wärtsilä, 1998) Figura 7.18- Diagrama de Sankey típico de uma instalação de MCI de ciclo diesel . (Adaptado de Ulstein Bergen). Na figura acima, os 35,5% de perdas referem-se aos gases de exaustão 7.8- CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS AUXILIARES 7.8.1- Sistemas mecânicos A filosofia do projeto das novas plantas geradoras é incorporar os componentes auxiliares como bombas, filtros e outros do processo, no próprio motor ou separadamente em grupos modulares. Esses módulos pré-projetados são fabricados e testados separadamente antes de serem incorporados na planta. Desta forma, além de se garantir a confiabilidade no funcionamento, esta construção modular também garante a rápida instalação dos equipamentos como também facilita quando se necessitar um aumento da capacidade de geração. Na Figura 7.20 é mostrado um esquema simplificado destes blocos. Na realidade o trabalho a ser feito na montagem da planta vai ser a união dos diferentes módulos pela instalação das tubulações e cabos necessários entre eles. Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.29 Figura 7.20- Sistema em blocos numa planta de MCI 7.8.2- Sistema de óleo combustível O sistema de óleo combustível consiste do conjunto de descarga e estocagem, transferência, tratamento, alimentação e coleta do óleo de retorno. Esta disposição deve garantir o suprimento contínuo do óleo combustível nos níveis corretos de fluxo, pressão, limpeza e viscosidade. Os sistemas que trabalham com óleo pesado são projetados para utilizar combustíveis mais leves no caso de emergência, ou durante a manutenção dos motores e na partida. A Figura 7.21 apresenta um sistema óleo combustível numa planta Diesel e a interação entre suas partes componentes. Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.30 Figura 7.21- Sistema típico de fornecimento de óleo combustível numa planta com MCI. (Power Master, Wärtsilä NSD) Os motores que funcionam com dois combustíveis geralmente são desenvolvidos para trabalharem com combustíveis gasosos e o óleo Diesel é usado como emergência. No modo gás é possível converter, instantaneamente, para o modo Diesel operando a qualquer nível de carga. A razão típica para o uso de dois combustíveis é a prevenção da falta de suprimento do gás, além das vantagens associadas às emissões de poluentes (como já mencionado, o motor a gás opera segundo o ciclo Otto, com todas as desvantagens associadas a este ciclo no que se refere à eficiência). 7.8.3- Sistema de óleo de lubrificação O sistema de lubrificação tem três funções básicas: lubrificar mancais e partes deslizantes do motor, esfriar as cabeças dos pistões e levar partículas sólidas para fora do motor a fim de serem removidas no sistema de separação e filtração. O óleo lubrificante é cuidadosamente filtrado antes de entrar no motor. O tratamento dos óleos lubrificantes também inclui separadores centrífugos para remover água ou qualquer partícula indesejável no óleo após da lubrificação. Um esquema de um sistema de óleo de lubrificação é mostrado na Figura 7.22, e na Figura 7.23 Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.31 um diagrama de fluxo de óleo apresentando-se os tanques de armazenagem de óleo novo e usado, as tubulações de distribuição, as unidades de separação e filtragem, de resfriamento e bombeamento. Figura 7.22- Arranjo de um sistema de óleo de lubrificação. (Power Master, Wärtsilä NSD) 7.8.4- Sistema de ar comprimido Este sistema é necessário para a partida do MCI, sendo também utilizado nos equipamentos de instrumentação e controle pneumáticos e ferramentas próprias da operação e manutenção. A disposição deste sistema é mostrada na figura 7.24. Figura 7.24- Esquema de um sistema de ar comprimido (Power Master, Wärtsilä NSD) Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.32 Figura 7.23- Diagrama de fluxo de óleo de lubrificação. (Power Master, References) Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.33 7.8.5- Sistema de resfriamento Este sistema é dividido em dois circuitos: baixa e alta temperatura. Sua função é o resfriamento do motor, cujo propósito é o controle da temperatura no nível adequado, a fim de se manter a combustão em qualquer carga, mantendo a máxima eficiência térmica sem prejudicar as características mecânicas dos componentes metálicos. O sistema de baixa temperatura resfria o óleo lubrificante e o ar de alimentação. O sistema de alta temperatura resfria o bloco do motor, ar de alimentação e cabeça dos cilindros. Os métodos de resfriamento normalmente utilizados são os radiadores e as torres de resfriamento ou trocadores de calor a água. Os radiadores são recomendados quando a disponibilidade de água é pouca, utilizando-se ventiladores a ar para o resfriamento, e desta forma, se elimina a dependência do suprimento de água de evaporação. Na Figura 7.25 é mostrado um esquema básico desta instalação, porém deve-se salientar que estes sistemas tendem a consumir mais potência, o que reduz um pouco a eficiência global da instalação. As torres de resfriamento e os trocadores de calor a água são usados quando se dispõe de uma fonte de água abundante, porém deve-se atentar quanto ao requerimento da alta qualidade da mesma. Maiores detalhes podem ser visto no Capítulo 8. Figura 7.25- Esquema de um sistema de resfriamento por radiadores. (Power Master, Wärtsilä NSD) 7.8.6- Sistema dos gases de exaustãoOs gases de exaustão do processo de combustão saem do motor a temperaturas que variam entre 250 e 400 °C, dependendo da carga desenvolvida pelo motor e do combustível empregado. Antes de serem lançados à atmosfera, estes passam através de um silenciador (para a redução dos índices de emissão sonora) e, no caso dos sistemas de cogeração, por uma caldeira recuperativa Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.34 (para a recuperação do calor dos gases de exaustão através da geração de vapor). Em dependência dos níveis de emissões e da legislação ambiental local, pode ser necessária a instalação de equipamentos de tratamento destes gases. 7.8.7- Sistemas elétricos Para otimizar o custo de construção e minimizar as perdas, os sistemas de transmissão são projetados para altas tensões e potências consideráveis. Deste modo, as pequenas centrais, unidades de potência entre 500 kW e 2 MW, geralmente são conectadas a redes de 0,4kV. Centrais de maior porte, entre 30 - 40 MW são, geralmente, conectadas às redes de média tensão (6 - 33 kV), e as centrais, maiores de 50 MW (designadas plantas independentes) são conectadas na rede de 132 ou 220 kV. As plantas com potências entre 30 e 50 MW são conectadas através de disjuntores de média tensão. As plantas com capacidades elevadas são divididas em seções de entre 30 e 50 MW, para manter os níveis de curto-circuito no disjuntor menores de 40 kA. Os sistemas elétricos são divididos nos seguintes componentes principais: • Geradores: Módulos padronizados que garantem uma rápida instalação; • Disjuntores de média tensão; • Sistemas de serviço: Incluem transformadores e disjuntores de baixa tensão para fornecer energia às unidades auxiliares como bombas, ventiladores, aquecedores, etc; • Sistema de fornecimento auxiliar de energia: Sistemas de CC (corrente contínua) e de UPS garantem a energia para o controle contínuo dos disjuntores de média tensão, e para os equipamentos de proteção e automação; • Sistemas de proteção a terra; • Sistemas de automação e controle: Variam desde painéis de controle convencionais, baseados em relés até PLC e complexos sistemas de controle distribuídos. O controle e automação consistem de processos de monitoramento de parâmetros, ‘data logging’, sensores e operação seqüencial no controle e proteção dos motores, bombas, aquecedores, ventiladores, etc. A automação do tipo PLC é comumente a solução mais efetiva, pois oferece a facilidade de um controle a ‘laço fechado’ com o mínimo de funções. O sistema PLC consiste de estações de análise e processamento para cada motor e blocos auxiliares, e uma estação de operação equipada com alarmes e sistemas de monitoramento e controle a distância; • Disjuntores de alta tensão: São necessários para conectar a planta na rede pública, tipicamente em 110 e 220 kV. 7.8.8- Sistema de recuperação de calor A caldeira de recuperação dos gases de exaustão é usualmente utilizada para a produção do vapor na própria planta. Esse vapor é necessário, por exemplo, para o sistema de óleo pesado e/ou consumidores de calor. A pressão do vapor é controlada por uma válvula de ‘by-pass’ nos gases da exaustão ou por um condensador. O condensado é coletado no tanque de água de alimentação e re-inserido na caldeira por uma bomba de alimentação. Uma caldeira auxiliar é utilizada para fornecer vapor no caso em que o motor não se encontre funcionando ou para fornecer vapor suplementar em caso de necessidade. A Figura 7.26 apresenta o sistema de recuperação de calor dos gases de exaustão e dos sistemas de água e óleo de resfriamento. 7.8.9- A edificação da central A central, geralmente, consiste de dois edifícios separados: casa de máquinas, que inclui os grupos geradores, blocos auxiliares e uma sala para manutenção e o edifício de operação que Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.35 inclui a sala de controle, painéis elétricos e a seção de serviços. A disposição construtiva das centrais prevê a possibilidade de expansão utilizando o mínimo de espaço possível, aproveitando a modularidade dos equipamentos. A Figura 7.27 mostra a disposição construtiva de uma central Diesel. Figura 7.26- Esquema de um sistema de recuperação de calor. (Power Master, Wärtsilä NSD) Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.36 1-Motor Diesel 2-Gerador 3-Silenciador 4-Separador de óleo lubrificante 5-Tanque de expansão (água de resfriamento) 6-Unidade de suprimento de óleo pesado 7-Filtro de ar de alimentação 8-Bomba de água de resfriamento 9-Radiador (baixa temperatura) 10-Radiador (alta temperatura) 11-Ponte rolante 12-Sala de controle, disjuntores, oficinas, etc 13-Ventilação da sala de máquinas 14-Canais de cabos elétricos 15-Canais de tubulações 16-Canais de tubulações comuns 17-Tanques de resíduos de óleo 18-Fundação do motor 19-Tanque exterior de lodos 20-Tanque exterior de óleo pesado 21-Tanque de óleo Diesel 22-Tanque exterior de óleo pesado para serviços 23-Unidade separadora de óleo pesado 24-Ventilação Figura 7.27- Disposição geral dos equipamentos de uma central típica com MCI Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.37 7.9- EMISSÕES NOS MCI Os motores de combustão interna, quer utilizem combustível gasoso, quer líquido, emitem uma série de poluentes durante suas operações,cujos componentes tóxicos principais são o monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOX), hidrocarbonetos não queimados ou queimados parcialmente (CXHY), óxidos de enxofre (SOX) e particulados, e cujas concentrações estão diretamente relacionada com a qualidade do combustível, parâmetros de operação do motor (relação ar-combustível) e organização da combustão. Nos países desenvolvidos, como também no Brasil, limites de emissão destes poluentes são regulamentados através das agências ambientais e mostrados no Capítulo 18 deste livro, onde se tratam também de seus mecanismos de formação, bem como das principais técnicas de controle. Diferentes conceitos de motores, levam a emissões também diferenciadas dos poluentes. Por exemplo, para motores a gás (ciclo Otto), a região próxima à estequiométrica apresenta maiores emissões de NOX, CO e HC, conforme pode ser observado na Figura 7.28. A utilização da queima na região pobre (‘lean burn’) reduz todas essas emissões consideravelmente, porém existe um limite para que se possa garantir uma alta eficiência na queima (quantidade mínima de combustível que irá garantir a combustão). Já a emissão de particulados, geralmente não é problema nestes motores, bem como os SOX podem ser desconsiderados, quando operando com gás natural. Figura 7.28- Efeito da relação ar-combustível nas emissões de CO e NOX em MCI Otto a gás (adaptado de Energy News, 1997) Por outro lado, óxidos de nitrogênio e particulados são os componentes com maior concentração nos gases de exaustão dos motores Diesel ou óleo combustível. Nestes, CO e HC são usualmente desconsiderados, enquanto que os óxidos de enxofre dependem da fração de enxofre do combustível, sendo que para os óleos pesados o valor pode ser significante. Capítulo 7 Motores de combustão interna (MCI) alternativos 7.38 De acordo com Niemi, 1997, emissões típicas de NOX em motores Diesel comerciais sem sistema de controle de poluentes nos gases de exaustão, situam-se entre 6,7 e 19 g/kWh de potência de eixo, o que corresponde a aproximadamente 800 a 1.600 mg/MJ, valores acima dos padrões de emissão da Alemanha (Capítulo 18). Com o avanço nos sistemas de combustão e conceitos inovadores, os fabricantes de motores têm trabalhado na redução da emissão de NOX em MCI Diesel. Neste mesmo trabalho, também são avaliadas as emissões dos motores a gás, ignição por centelha. Para aqueles que utilizam a queima pobre (‘lean burn’) e mantendo-se baixa a temperatura de combustão, não existem problemas com as emissões de NOX, não necessitando portanto
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