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Escritos Joaninos 4

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EA
D
Temas Centrais da 
Teologia Joanina
4
ObjEtivO1. 
Conhecer e compreender os temas mais característicos •	
da teologia joanina a partir de seu vocabulário específico 
tendo em conta a finalidade expressa na própria obra.
COntEúDOs2. 
O Cristo, o Filho de Deus.•	
Jesus, o Cristo (o Messias).•	
Os conflitos internos que fraturaram a comunidade do •	
discípulo amado.
ORiEntAÇÕEs PARA O EstUDO DA UniDADE3. 
Faça anotações de todas as suas dúvidas, não deixe nenhu-1) 
ma para trás, tente solucioná-las por meio do nosso siste-
ma de interatividade ou diretamente com o seu tutor.
© Escritos Joaninos
Centro Universitário Claretiano
94
Recomendamos a leitura por várias vezes dos textos 2) 
deste material para fixar seus conteúdos. Para isso, re-
comendamos realizar pequenos apontamos com a finali-
dade de comparar e aprofundar pontos de destaque uti-
lizando-se das fontes aqui elencadas e que já indicamos 
como indispensáveis para o estudo deste tema.
Fique atento a todo o conteúdo desta unidade, na qual você 3) 
encontrará conceitos importantes para sua aprendizagem.
intRODUÇãO À UniDADE4. 
Querido amigo/a! Estamos chegando ao final do caminho. 
Agora, vamos desfrutar da teologia joanina.
"Chegou a hora" de nos deleitarmos com este pensamento 
tão rico como original.
E tratamos de nos familiarizarmos o mais que pudermos com 
o mundo joanino. Custou bastante esforço e trabalho, não?
Agora vamos nos deixar envolver pelo mistério do "Verbo fei-
to carne" e nos dispormos a ouvir o que somente Ele pode contar.
Vamos procurar "ver" sua glória e receber a Vida que somen-
te Ele pode dar.
Tão original, que como vimos nas unidades anteriores, de-
senvolveu uma linguagem própria e simples que é preciso "apren-
der a conhecer"
Nesta unidade “aprenderemos a entender” que significam 
as palavras normais neste universo joanino: como: vida ou filho 
ou hora, pecado ou crer.
Também haverá que "aprender a entender" que significam 
as palavras não tão normais como Paráclito; Glória; sinais - o que 
é este assunto da Escatologia realizada.
Temos ainda muito pela frente, porém, acredite – o que vem 
é o melhor.
95© Temas Centrais da Teologia Joanina
Pois bem, como vamos nos organizar para fazer este cami-
nho tão sem que fiquem pontas soltas?
Se encontramos uma idéia central, teremos encontrado um 
princípio organizador.
Ainda que convenhamos que, encontrar uma única idéia 
central – e, por cima, não queremos que fiquem pontas soltas – 
não vai ser fácil.
Quem sabe, possa nos ajudar o final do capítulo 20
Jesus realizou na presença de seus discípulos muitos outros sinais 
que não estão escritos neste livro.
Estes foram escritos para que creiam que Jesus é o Cristo, 
o Filho de Deus, e para que, crendo tenham a vida em seu nome 
(Jo 20,30-31).
Partindo deste texto tão iluminador – porque, entre outras 
coisas, indica a finalidade desta obra, ou seja, "para quê" se es-
creveu este Evangelho – vou lhe propor uma organização dos con-
teúdos principais da "teologia joanina" em dois grandes núcleos 
temáticos:
As questões que giram em torno das categorias: 1) sinais, 
crer e vida.
As questões que giram mais especificamente ao redor 2) 
da confissão de Jesus como Cristo e Filho de Deus.
Observe que estas "cinco categorias" aparecem indissoluvel-
mente entrelaçadas entre si no texto citado – o que nos ajuda nos 
organizarmos – quando se indica a dupla finalidade que levou a 
compor esta obra. Percebe que duas vezes se diz "para que” em 
20,31?
Ao ir desenvolvendo estes núcleos temáticos, irão surgindo 
inevitavelmente outros temas chaves da teologia joanina – estrei-
tissimamente relacionados com estes.
De tudo isto vamos nos ocupar em seguida e não se esqueça 
de ter o texto do Evangelho.
© Escritos Joaninos
Centro Universitário Claretiano
96
Começamos? 
Um pequeno esforço mais... Vai ver que lhe vai resultar mui-
to interessante e, certamente, de muito proveito também...
sinAis, CREsCER, viDA5. 
Inevitavelmente, para conseguir uma compreensão satisfa-
tória destas três categorias: sinais, crer, vida – será preciso ter em 
conta e explicar também outros temas especificamente joaninos 
como:
Glória.1) 
Obra (s).2) 
A Hora.3) 
O Pecado.4) 
Será o lugar propício para considerar a questão das peculia-
ridades características da "escatologia" joanina, a chamada "esca-
tologia presente" (ou "realizada").
vida
Palavras comuns existem...
Porém, se atentarmos ao texto que indica "para quê" se com-
pôs este Evangelho, se trata, sem dúvida, do "conceito salvífico" 
fundamental desta obra: tudo, em definitivo, se escreveu "para 
que tenhamos vida” (Jo 20,31b; cf.1Jo 5,13)
Pois bem, de que tipo de vida se está falando aqui? Ou seja, 
que tipo de vida se pretende que os leitos que crêem saibam que 
têm?
Trata-se de ensinarmos que, ao crer, melhoramos a qualida-
de desta vida que já temos? Neste sentido, ao melhorar qualita-
tivamente o que já temos, então, de alguma maneira, se poderia 
dizer que "teremos mais".
97© Temas Centrais da Teologia Joanina
Convenhamos que não é pouca coisa isto de crescer melho-
rando a qualidade do que já temos.
Porém, trata-se realmente disto aqui? Ou seja, está se pen-
sando em um crescimento qualitativo da vida – humana= que já 
possuímos deste nosso nascimento? Ou o que se pretende ensinar 
é que, crendo, recebemos outro tipo de vida? Uma "Vida" que, na 
realidade, não temos. Nem poderíamos ter, se o único que na ver-
dade a possui não tivesse disposto generosamente outorgar.
Disto se trata no Evangelho de João:
Do dom da vida que somente Deus tem e que somente Deus pode 
dar: sua própria vida. Uma Vida eterna, divina, perfeita, plena que 
Ele decidiu nos dar através de seu "Lógos" (sua Palavra), na qual 
"estava a Vida" (1,4). Seu Lógos – "feito carne" – veio "para que 
tenhamos Vida" e a tenhamos em abundância (10,10).
E tanto isto é assim no Quarto Evangelho – uma obra na qual 
o autor se expressa com estremada precisão e estudada justeza - a 
diferença absoluta, abismal, infinita que existe entre a "vida huma-
na", a qual recebemos de nossos pais ao nascer e a "Vida divina", 
a qual somente Deus possui e que somente Deus pode dar, fica 
perfeita e cuidadosamente caracterizado o "nível lingüístico".
O que queremos dizer com isto?
Que neste Evangelho se empregam duas palavras comple-
tamente distintas quando se quer fazer referência a uma ou outra 
classe de "vida/Vida".
Quando se quer falar da Vida divina, eterna, plena, perfeita, 
própria de Deus, que somente Ele possui e somente Ele pode dar, 
a "teologia joanina" (a deste Evangelho e a das Cartas de João) 
utiliza o substantivo "zoé” e o verbo “záo”.
Assim, por exemplo, para dizer:
Eu sou o pão vivo (6,51).
Aquele que me come viverá por mim (6,57).
Eu sou...a vida (11,25).
© Escritos Joaninos
Centro Universitário Claretiano
98
Como podemos observar, aqui se utiliza o verbo “záo” e o 
substantivo “zoé”.
Pelo contrário, quando se quer falar da "vida" humana, temporal, 
limitada, imperfeita, própria da condição natural de criaturas mortais – 
que inexoravelmente termina na morte – a vida que receemos de nos-
sos pais que comunicamos a nossos filhos, a única que podemos dar aos 
outros (ou dar pelos outros) então emprega o substantivo "psyche".
Assim, por exemplo, para dizer:
Por isto me ama o Pai, porque dou minha vida (10,17).
Pedro lhe disse:...Eu darei minha vida por ti (13,37).
Ninguém tem maior amor do que o que dá sua vida por seus ami-
gos (15,13).
Neste caso, utiliza-se o substantivo “psiche”.
Não tem jeito de confundir-se. Sobretudo, quando se lê o 
texto em grego, porém convenhamos que as traduções poderiam 
indicá-lo melhor.
Está bem, não?
Não dá para acreditar em tanta simplicidade e, ao mesmo 
tempo, tanta densidade.
Como consegue expressar com uma única palavra ("zoé") o 
dom máximo que Deus Pai faz de si para a humanidade, oferecen-
do-nos sua própria Vida através de seu Filho Único, através de sua 
Palavra "feita carne"
Indico-lhe as passagens joaninasem que empregam o substantivo 
“psiche” – que são menos numerosos:
10,11.15.17.24
12.25 (x2).27
13,37.38
15,13
1 Jo 3,16(x2); 
3 Jo 1,2
Todas as outras vezes se usa “záo/zoé”
99© Temas Centrais da Teologia Joanina
A única condição é permanecer unidos a Jesus "crendo nele".
A ressurreição e a vida, anunciada nos últimos livros do Anti-
go Testamento – como Dn 12,1-3 ou 2 Mc 7 – se tornam presente 
aqui e agora, em e por Jesus.
O Pai dispôs nos colocar em suas mãos e nada, nem nin-
guém poderá nos arrebatar jamais nem das mãos do Pai, nem das 
mãos de Jesus (10,28-29). Jesus recebeu o poder de nos dar "zoé" 
(5,21.26; 6,57; 17,2). Para isto veio (10,10).
Na teologia joanina, a “vida eterna” não é algo que simplesmente 
se promete para o futuro, mas que, por crer em Jesus, se anteci-
pa no presente. “Aquele que crê no Filho, tem Vida eterna” (3,36, 
e veja – 3,15-19; 5,24s; 6,47.54; 1Jo 5,13). Tanta insistência ao 
afirmar que “aquele que crê” possui já a “zoé”, fez que muitos en-
tendessem que o Quarto Evangelho afirma com claridade, sem 
matizes, que todo crente já possui, no presente, todos os bens de-
finitivos (“escatológicos”),prometidos por Deus, que nada lhe fica 
por esperar para o futuro – nem sequer a ressurreição ou o juízo.
Este tipo de ensinamento se conhece como “escatologia realiza-
da” (ou escatologia “presente”). Voltaremos sobre isto...
A esta altura, além de ter percebido a enorme importância 
do tema salvífica da "zoé", certamente lhe ficou claro também que 
não menos importante é a questão do "crer".
Ainda que pareça um assunto sabido, lhe proponho agora 
considerar com maior atenção quais são os matizes próprios que, 
no mundo joa- nino, caracterizam o "ato de crer".
Crer
Está claro que a teologia joanina ensina com firmeza e abso-
luta segurança que, para poder passar da condição humana "mor-
tal" para a "Vida eterna" dos "filhos de Deus" é necessário "crer" 
em Jesus Cristo e permanecer unidos a Ele.
Porém, como se entende o ator de crer no mundo joanino?
Que significa "crer" no Evangelho de João?
© Escritos Joaninos
Centro Universitário Claretiano
100
Primeiro matiz
Você percebeu que sempre me referi ao "ato de crer" em-
pregando o verbo e nunca falei de "fé" utilizando o substantivo?
É que no Evangelho de João nunca vai aparecer o substan-
tivo – "fé" ("pistis”) – mas sempre se vai deparar com o verbo – 
“pistéuo” (crer) – O substantivo “pistis" (fé) somente aparece uma 
única vez nos escritos joaninos em 1Jo 5,4.
Se somente se expressa esta complexa realidade que é a fé 
com verbos (nunca com substantivos), significa que se está pen-
sando sempre primariamente em uma ação: na ação de "crer" (ex-
pressa mediante um verbo) e não no resultado desta ação (a posse 
de "algo" – a fé – que se expressa mediante um substantivo).
Em outras palavras: "a fé" no mundo joanino é mais "algo 
que se faz" do que "algo que se tem"...
Segundo matiz
Se bem que nos escritos joaninos, em geral, se utiliza o verbo 
crer em forma gramaticalmente correta – por exemplo, quando se 
diz que alguém "crê que" Jesus é o Santo de Deus (6,63) ou "que" 
Jesus está no Pai e o Pai está em Jesus (14,10-11), ou ainda, quan-
do se fala de "crer "em Moisés (5,46) ou de "crer" nas Escrituras 
(5m47) – sem dúvida, em não poucas ocasiões (37 das 110 vezes 
que se usa o verbo), o texto joanino nos vai surpreender utilizando 
o verbo "crer" em uma construção que se afasta da forma nor-
mal da gramática grega. Como se em português a gente dissesse; 
"creio para” Jesus.
Isto, pelo menos – e para sermos benévolos – soa estranho 
– porém, por que se atreve a forças deste modo as regras gramati-
cais? – ao ponto de parecer ignorante.
Parece que está tratando de acentuar com todos os recursos pos-
síveis – inclusive, fazendo um pouco de engano gramatical – os aspectos 
não somente "dinâmicos", mas também "pessoais" do ato de crer.
101© Temas Centrais da Teologia Joanina
É que, para João, o crer é, em primeiro lugar, "um movimento 
em direção a alguém", é "dirigir-se para alguém” para apoiar-se, 
para afirmar-se, para inserir-se nele.
Na Bíblia Hebraica, o verbo "aman" – traduzido para o grego "pis-
téuo" e do qual veio nosso "amém" – tem sentido de apoiar-se, afirmar-
se em algo ou alguém que é sólido, que é seguro, que nunca falha.
Este alguém tão sólido, tão confiável, só pode ser Deus ou 
seu enviado Jesus Cristo, seu Único Filho, a luz. Somente neles – ou 
nos seus nomes – podemos nos apoiar firmemente, inserir nossa 
vida, sem medo algum de sermos enganados.
Vou lhe indicar alguns exemplos
Vai soar feio, porém procure pensar o que está querendo lhe 
dizer, como o evangelista procura assinalar o "dinamismo" da ativi-
dade do crente que, ao crer, não é que "aprende coisas", mas que 
"se move para" outra pessoa, para o Pai, para Jesus.
Aquele que "crê para" ele, não é julgado, porém o que não crê, já 
está julgado porque "não creu para" o nome do Filho unigênito de 
Deus (3,18).
Eu sou o pão da vida, Aquele que vem a mim, não terá fome, e 
aquele "crê para" mim, não terá sede (6,35).
Se alguém tem sede, venha a mim e beba... o que "crê para" mim 
(7,37-38).
Enquanto tens luz, "crê para" para a luz, para que sejas filhos da 
luz (12,36).
Jesus grito e disse: "O que "crê para" mim, não "crê para" mim, mas 
"para" aquele que me enviou... (12,44).
Não se perturbe vosso coração. "crede para" Deus, crede também 
"para" mim (14,1).
Também se empregam algumas metáforas no Quarto Evan-
gelho para fazer refletir sobre alguns aspectos do ato de "crer":
Umas mantém o aspecto "dinâmico" do "movimento para", 
como por exemplo:
© Escritos Joaninos
Centro Universitário Claretiano
102
Vir a mim" – nos exemplos recém citados 6,35 e 7,37 ou também em 
5,40 ou 6,44.45 – ou na forma "ir para luz” – 3,20.21 - “aproximar-se, 
chegar” – como em 6,37 – ou “seguir” – como em 8,12 ou 10,27.
Outras aludem ao "ato de crer" como se tratasse de uma ação 
que traz os nutrientes necessários para poder conservar a vida
Assim, o “Jesus joanino” falar de “crer” como se fosse equi-
valente a “comer” ou a “beber” (6,50-51 ou 4,14 ou 7,37).
Também – e muito mais simplesmente – o "crer" se associa 
ao fato de "escutar" ou "ver" (5,25 ou 10,27 ou 6,40).
Terceiro matiz: cremos por obra do Pai
Se bem que "crer" é uma decisão diante de Deus que abre o 
acesso ao dom da "zoé", também é certo que ninguém pode "crer" 
sem que preceda uma ação do Pai.
Ninguém pode vir a mim se Pai, que me enviou não o atrair 
(...) Todo o que escuta o Pai e aprende, vem a mim (...) (6,44.45; cf. 
6,65 e 6,37).
A obra de Deus é que creiais "para" aquele que ele enviou 
(6,29).
Quarto matiz: não crer é pecado
A única coisa que nos pode separar do Pai, da "zoé aiónos" 
(da "Vida Eterna) é "não crer".
Por isto, "não crer" – ou seja, rechaçar a Palavra, o ensina-
mento autorizado de Deus – enquanto que é único que efetiva-
mente nos afasta de Deus, é considerado no mundo joanino como 
"o (único) pecado”.
É notável que, salvo em 8,24 e em 20,23, "pecado" sempre 
se emprega no singular neste Evangelho – não é assim na Primeira 
Carta de João.
É que, segundo o Quarto Evangelho, não se está pensando 
em distintos atos "pecaminosos" individuais, mas em único ato: "o 
pecado".
103© Temas Centrais da Teologia Joanina
A única coisa que conta, de verdade, desde esta perspectiva 
fundamental, pois, é que aquilo que nos pode alcançar a "zoé". E 
somente "não crer", rechaçar a "revelação" de Jesus, é o que se 
opõe ao dom da "zoé". "Não crer",então, é rechaçar a "Vida", é 
preferir a morte, Este é "o pecado do mundo". E Jesus Cristo veio 
para "tirar o pecado do mundo" (,19; 1Jo 3,8).
SinaiS – obraS6. 
“Que sinal fazes para eu, vendo-o, creiamos em ti?
Que fazes? (6,30).
Dada a conexão fundamental que se estabelece neste Evan-
gelho entre "crer" e os "sinais"ou "obras" que Jesus realiza, surpre-
ende constatar que se relatem aqui muito menos "ações milagro-
sas" de Jesus do que nos outros Evangelhos.
Em forma explicita (como em 2,11ou 4,48.54 ou 6,15) ou mediante 
alusões muito claras (como em 2,23 ou 7,31 ou 11,47 ou 20,30) es-
tes “feitos milagrosos” que Jesus realizou são chamados sempre 
aqui “sinais” (em grego, semeion).
Ainda que se afirme que Jesus realizou "muitos sinais" (11,47, 
20,30), neste Evangelho só se narram "sete"
Quadro 1 Narrações sobre sinais
nARRAÇãO LUGAR
1 – Jesus transforma água em vinho em um casamento em Caná 
da Galiléia
2,1-11
2	 –	 Jesus	 cura	 o	 filho	 de	 um	 funcionário	 real	 em	 Caná	 da	
Galiléia
4,46-54
3	–	Jesus	cura	um	paralítico	em	Jerusalém 5,1-9
4	–	Jesus	multiplica	pães	e	peixes	na	Galiléia 6,1-15
5 – Jesus caminha sobre o mar da Galiléia 6,16-21
6 – Jesus cura um cego de nascença em Jerusalém 9,1-17
7 – Jesus devolve a vida a Lázaro em Betânia 11, 1-44
© Escritos Joaninos
Centro Universitário Claretiano
104
Esta "redução" de João, que opta por narrar somente "sete 
milagres" – ou melhor, é preciso dizer "sete sinais" – é absoluta-
mente consciente e tem uma finalidade bem definida como se 
pode inferir pelo que explicitamente diz em Jo 20,30 e também 
em 21,25.
Os "sinais" para João desempenham, sem dúvida, um pa-
pel importantíssimo no "caminho para" o "crer". Vejamos alguns 
exemplos:
Tal foi, em Caná da Galiléia, o começo dos sinais de Jesus. Ele 
manifestou a sua glória e seus discípulos creram nele (2,11).
Jesus lhes respondeu: Em verdade, me procurais não porque 
vistes sinais, mas porque haveis comido dos pães... (6,26)
Ainda que tivesse realizado grandes sinais diante deles, não 
criam "para" ele (12,37).
Porém, qual é exatamente o papel dos "sinais" no caminho 
para "o crer"?
E, porque insiste com tanto cuidado em chamá-los "sinais" 
(semeia) – também fala de "obras" (érgon, erga) – sem nunca 
empregar, como o resto do Novo Testamento, o vocábulo "dýna-
mis”?
A palavra “dýnamis” é traduzida, com freqüência como “milagre”. 
Porém, não poucas vezes, também como “força” (cf. Mt 24,29 
ou Mc 5,30; Lc 4,14; 619; Rm 1,16) ou “poder” (Mt 22,29; 24,30; 
26,64; Mc 9,1; Lc 1,17.35; 4,36; 5,17, Ap 18,37) ou “capacidade” 
(Mt 25,15), ou “prodígio” (Hb 2,4; 6,5).
Ou seja, o termo grego “dýnamis” está claramente associado à 
idéia de um “ato de poder”, uma “manifestação de força”.
Nos Evangelhos Sinóticos – e no resto do Novo Testamento – se 
trata de “atos poderosos” que tornam visível e estabelecem a so-
berania de Deus – seu “Reino” – entre os homens.
Começaremos tratando da questão "semântica" para, de-
pois, nos ocuparmos da relação entre "sinais" e "crer".
105© Temas Centrais da Teologia Joanina
A questão semântica
Trabalharemos o sentido das palavras que aparecem neste 
Evangelho prestando atenção em sua ambivalência característica.
Por que no Evangelho de João nunca se fala de "dýnamis" 
(ato poderoso)?
Segundo os Evangelhos Sinóticos, a "dýnamis" de Jesus (seu 
poder, sua força, sua energia) está associada aos "atos poderosos" 
que manifestam e estabelecem o "Reino de Deus", a "Soberania 
divina" entre nós, em nosso mundo.
Lembra-se, quando na Unidade 1, nos referíamos ao “problema 
joanino”? Falávamos que no Evangelho de João praticamente não 
se fala do “Reino de Deus”. Salvo quando “dialoga” com Nicode-
mos (3,3-5), o “Jesus joanino” não faz referência o “Reino/Reinado 
de Deus”. Não o proclama presente, não ensina em que consiste 
mediante discursos e parábolas, não ensina a clamar cada dia: 
“Venha teu Reino”.
Tão pouco, João descreve o processo de implantação do Rei-
no entre os homens mediante curas ou expulsões dos demônios 
(atente que no Quarto Evangelho jamais se narram exorcismos). 
Os feitos prodigiosos de Jesus, tal como aparecem no Quarto Evan-
gelho, não estão essencialmente relacionados com o estabeleci-
mento do Reino de Deus e a luta para derrotar os demônios.
O Evangelho de João vai, evidentemente, em outra direção.
Por que João fala de seméion (signo, sinal)?
Seméion: o verbo grego “semáino” significa assinalar, indicar, 
apontar, dar sinais (a alguém para fazer algo). Um “seméion” é 
uma “marca distintiva”, um “sinal” pelo qual algo é (re) conhecido – 
por exemplo, um “selo” ou um “estandarte” – ou que indicar que é 
preciso agir – por exemplo, um “sinal de uma trompeta”.
É que, neste Evangelho, os "sinais/milagres" não se narram 
para que possamos constatar como em Jesus – em suas palavras, 
© Escritos Joaninos
Centro Universitário Claretiano
106
em seus gestos, em suas ações – se faz presente a poderosa sobe-
rania de Deus – que não é pouca coisa, certamente! - mas, para 
que, mediante o "sinal" possamos "reconhecer", ver a glória do 
Filho Único – do "Lógos" feito "sarx" (carne) –e, ao ver sua glória, 
possamos crer. Vejamos exemplos:
Tal foi, em Caná da Galiléia, o começo dos sinais de Jesus. Ele 
manifestou a sua glória e seus discípulos creram nele. (2,11)
E a Palavra se fez carne e habitou entre nós e contemplamos 
sua glória, glória que recebe do Pai como Unigênito, cheio de graça 
e verdade (1,14).
A "glória de Deus", segundo o Antigo Testamento, é o pró-
prio Deus, enquanto se faz visivelmente presente na criação (cf. 
Is 6,3; 40,5; Sl 19,2), porém, sobretudo, na história humana, com 
suas grandes gestas salvíficas (cf. Ex 14; 16,7-19; Sl 93,3).
Sua “kabôd" (glória em hebraico) é a impressionante, esplên-
dida "irradiação" de sua soberana majestade, enquanto percebi-
da, reconhecida, cantada, louvada sem cessar nos salmos, temida, 
ansiada, anunciada por seu povo.
Por exemplo, recorde as cenas no Monte Sinai (Ex 24,16-17; 
Dt 5,24) ou as visões dos profetas (Ez 3,23; 8,4; 9,3; cf.Ex 33,18) 
e, sobretudo, as cenas que têm a ver com a presença de Deus no 
Templo de Jerusalém (1Re 8,11; cf.Ex 40,34-35).
Esperava-se que algum dia a "Glória" – ou seja, Deus 
mesmo – moraria definitivamente em nossa terra (Sl 85,10). 
Que, no final dos tempos, ocorreria uma manifestação transbor-
dante e plena da "glória" de Deus, levaria por fim, a termo, salva-
ção "escatológica" de Israel (Is 60,1; Ez 39,21s) e a conversão de 
todos os povos (Sl 96,3s, Zc 2,9s).
E, agora, esta "glória" de Deus, segundo nos ensina o Quarto 
Evangelho, se faz visivelmente presente na "carne" de Jesus.
107© Temas Centrais da Teologia Joanina
O "Lógos de Deus" – ou seja, Deus mesmo comunicando-se – 
"armou sua tenda" não no Sinai, não no Templo de Jerusalém, mas 
"entre nós", na "carne", na "humanidade" de Jesus (Jo 1,4).
A "carne" de Jesus é a morada definitiva da glória de Deus. 
Seus gestos, suas palavras, sua única presença precisam ser "lidos" 
– se se entra no movimento que é o "crer" – como "sinais" que 
"deixam ver" sua glória, a glória do "Filho Único", "repleto de graça 
e verdade".
Em outras palavras: a "glória" do "Filho Único" toma corpo 
– se "faz carne" – em todos os "sinais" que Jesus realiza. Os si-
nais se realizam para "mostrar" sua "glória" (e, em definitivo, para 
"mostrar" sua capacidade de derramar a "zoé" – que para isto ele 
veio). Desde esta perspectiva, cada "sinal" neste Evangelho é um 
equivalente ao relato "sinótico" da Transfiguração.
Os sinais são "reveladores da glória" do " Filho Único".
Como disse um grande especialista: são "sinais de revela-
ção", ou melhor ainda, são "revelação em sinais".
Como somente no "Lógos feito sarx" – e em ninguém mais 
que nele – é possível "ver" a glória de Deus ( e assim, crendo, re-
ceber sua "zoé"), então, somente Jesus, o "Lógos feito sarx" – a 
"Palavra" feita carne" – pode fazer "sinais".
Sinais (semeia) e obras (erga)"... se não crêem por mim, 
creiam pelas obras... (10,38).
O que Jesus "faz" neste Evangelho "para que creiam" não só 
é qualificado como "sinal", mas também como "obra" (érgon).
Por que este evangelista, que tem uma linguagem tão es-
tudada e madura e que está tão atento ao uso e à escolha das 
palavras, para referir-se ao que Jesus "faz" para que creiam utiliza, 
segundo casos, um ou outro termo? (ou seja, algumas vezes fala 
de "sinais" e outras vezes, de "obras").
© Escritos Joaninos
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108
Quandose observam as coisas com atenção, pode se perce-
ber que não se trata de categorias estritamente "sinônimas", per-
feitamente intercambiáveis entre si.
Quais são os matizes mais próprios de cada uma delas?
Somente Jesus faz "sinais". Neste Evangelho somente Je-•	
sus realizar "sinais". Pelo contrário, de diversos "atores" 
se diz que realizam "obras": o Pai (6,29;14,10), os homens 
(3,19-20), aquele que crê "para Jesus (14,12), o mundo 
(7,7).
As "obras" podem ser más. O termo "sinal" neste Evan-•	
gelho sempre tem uma conotação positiva. Pelo contrá-
rio, pode se falar de "obras más" (3,19-20, 1Jo 3,12), de 
"obras perversas" (7,7), de "obras do demônio" (1Jo 3,8; 
cf.8.41).
Jesus só faz "sinais" antes da "Hora". Prescindindo de •	
20.30-31, somente se fala de "sinais" na primeira parte 
do Evangelho, entre os capítulos 1-12, ou seja, "antes da 
chegada da Hora”, durante a atividade pública do "Lógos 
feito sarx".
Com 12,37 – olhada retrospectiva sobre a atuação pública 
de Jesus – cessam os "sinais" e já não voltam a mencionar até o 
epílogo (20,30-31). Pelo contrário, se começa a falar de "obras" já 
desde 3,19-21 e se seguem mencionando até o final (17,4).
A categoria "obra" é muito mais ampla que a de "sinal".
Refere-se à ação salvífica do Pai em seu conjunto: a tudo aqui-
lo que o Pai faz para "dar Vida" "ao mundo" (14,10; 4,34; 6,28-29), 
a tudo o que o que ele encomendou a seu "Filho" realizar "para dar 
Vida" (5,36; 17,4) – não somente a "manifestação de sua glória" -, 
a tudo o que os crentes fazem e farão para que "o mundo creia" ( 
9,3; 14,12; cf.17, 20-21).
A categoria "sinal", pelo contrário, aponta, fundamental-
mente, para uma maneira de revelar-se, de "mostrar a glória" da 
109© Temas Centrais da Teologia Joanina
"Palavra/Lógos" feita "carne/sarx", antes da chegada "da Hora" da 
revelação plena.
A "Hora"... da "glorificação"
Ao longo do relato do evangelho se fala de uma "hora" que 
foi fixada para Jesus. De maneira enigmática se fala dessa "hora" 
que ainda não chegou (2,4; 7,30; 8,20), criando certa "expectativa 
narrativa" na espera deste momento.
No momento da entrada de Jesus em Jerusalém, os gregos 
se aproximam dele. Este acontecimento – que não depende do 
arbítrio de seus inimigos – é o sinal que indica ao Senhor que "a 
hora" chegou e que é a "hora" de sua "glorificação": "Chegou a 
hora em que vai ser glorificado o Filho do homem" (12,23; cf.12,27; 
17,1). A "hora" é o momento da passagem deste mundo ao Pai 
(13,1), para "recuperar" a mesma glória que tinha antes da criação 
do mundo (17,5.24).
A missão do "Lógos/Filho" implicou "uma descida" desde o 
Pai para este mundo para cumprir uma missão, e, uma vez cum-
prida esta missão, o "Filho" não fica no "mundo", mas "retorna", 
"ascende" novamente para o Pai, para a glória que possuía já an-
tes da criação do mundo (13,3; 16,28;17,5). Todas as palavras de 
Jesus acerca de sua "ida", que tantas vezes deram ocasião a mal-
entendidos (7,33-35; 8,21s; 14,4s; cf.8,14), agora se tornam com-
preensíveis.
Entre a descida e a ascensão, o "Logos feito sarx" manifesta 
sua glória de duas maneiras: "Antes de chegar a Hora", mediante 
"sinais" e "Ao chegar a Hora", voltando "exaltado" definitivamente 
para o Pai.
Estão ligados indissoluvelmente à atividade "reveladora" 
que o Pai encarrega a seu "Filho Único" e que Este exerce "na ter-
ra" enquanto "encarnado", antes de voltar ao Pai e recuperar sua 
"glória"
© Escritos Joaninos
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110
Neste aspecto, se acham no mesmo nível que suas palavras.
De fato, salvo o "sinal" que faz Jesus nas bodas de Caná – 
que, na realidade somente se pode compreender plenamente ao 
pé da Cruz – o significado mais pleno de todos os outros "sinais" é 
desenvolvido tarde ou cedo pelo mesmo Jesus em forma de diálo-
go ou de discurso:
Em 5, 19-471) – encontramos ao longo do discurso que 
revela a relação de Jesus com o Pai que retoma os temas 
chaves do segundo e terceiro sinal (crer, hora, Vida).
Em 6,30-582) – o não menos longo e tão famoso discurso 
do "Pão da vida" – disparado por um breve diálogo entre 
Jesus e a multidão que vai procurá-lo em Cafarnaúm e 
interrompido por umas poucas intervenções dos adver-
sários – leva a interpretar mais profundamente, como 
"sinal", o que Jesus fez como quarto e quinto "sinal".
Em 9, 8-413) – a série de breves cenas que se sucedem – 
unidas por um personagem da cena anterior, que perma-
nece também na seguinte – para aprofundar o sentido da 
verdadeira cegueira e a verdadeira visão, disparado pelo 
sexto "sinal". Sem esquecer o discurso do "bom pastor" 
(10,1-9) que aparece imediatamente em seguida, sem 
indicação alguma de que Jesus estive começando outro 
discurso diferente.
A interpretação teológica4) feita por Jesus do último e 
mais espetacular "sinal" – a revivificação de Lázaro – não 
aparece como um texto independente, mas fica mistura-
da dentro do mesmo relato – sobretudo, no diálogo de 
Jesus com Marta (11,21-27) – e aparece ainda antes que 
Jesus realize o "sinal" (11,38-44).
Todos, definitivamente, de uma ou outra maneira, mostram 
– para o aquele que "sabe ver" – Jesus como "doador" presente da 
"Vida" que somente Deus pode dar ( a "zoé").
A relação entre os "sinais" e o "crer"
Não acredite que a conexão entre "sinais" e o "crer" é tão 
fácil e imediata, pois que:
111© Temas Centrais da Teologia Joanina
Nem todos os que vêem "sinais" chegam a crer
Observe, por exemplo, que na cena em que Caifás aconselha 
dar morte a Jesus (11,44-54), os Sumos Sacerdotes e fariseu admi-
tem que Jesus está fazendo muitos "sinais" e que muitos vão crer 
nele (11,47-48). Por isto, longe de "movê-los para" Jesus, os levar 
a conspirar para fazê-lo morrer (11,53).
Nem todos os que começam a crer pelos sinais chegam até 
o final do "movimento para" Jesus, conseguem ver sua glória e 
recebem sua Palavra. Muitos ficam com o "milagre".
 Jesus mesmo toma distância em relação às aproximações 
deste tipo. Observe, por exemplo,a primeira vez que, segundo 
este Evangelho, Jesus vai a Jerusalém, por ocasião de uma festa de 
"Páscoa" (2,13s; concretamente 2,23-24). O texto diz que "muitos 
creram no seu nome ao ver os sinais que realizava" (2,23),porém 
imediatamente agrega: "porém, Jesus não acreditava neles porque 
os conhecia a todos" (2,24). Uma reprovação semelhante ressoa 
em 4,48.
Nem todos os que chegarão a crer verão "sinais"
Muitos crerão "sem ver" e Jesus os chama felizes (20,29), 
ou seja, crerão pela palavra dos que estiveram com Jesus (17,20), 
pela palavra dos que "vieram e creram" (cf.20,8; cf. 1Jo1,1-3). Os 
samaritanos também chegaram a crer sem ver "sinais" de Jesus 
(4,39-42). Veja, também, o que diz 4,50 ( no segundo "sinal").
Qual é exatamente, então, o papel dos "sinais" no caminho 
para autenticamente "crer" o que verdadeiramente "dá Vida" 
("zoé")?
Os sinais manifestam a glória do "Lógos" que se faz "sarx" 
em Jesus, porém somente aqueles que estão dispostos a seguir a 
dinâmica (dynamis) da fé, a colocar-se em marcha para o Enviado 
de Deus – ou seja, somente os que, de uma maneira ou outra, já 
começaram a crer – conseguem ver e entender adequadamente a 
mensagem dos sinais.
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112
Somente para quem se põe em marcha para Jesus, o Enviado 
– isto é, somente para quem, como Nicodemos, começa a cami-
nhar para Jesus – cada sinal pode ser um meio que leva ao verda-
deiro crer, este movimento que nos conduz, com os olhos cada vez 
mais abertos, a ver a glória do Filho Único neste homem chamado 
Jesus.
CRistO, O FiLHO DE DEUs7. 
Dizer que Cristo é o Filho de Deus corresponde às dimensões 
característica da "cristologia joanina".
Percebe, por trás do longo caminho percorrido, que tudo, 
absolutamente tudo o que caracteriza na forma tão distintiva esta 
obra, aquilo que lhe dá seu perfil tão particular, está baseado na 
sua "cristologia"?
Ou seja, está explícito pela sua maneira de entender, desde a 
experiência do crer tão própria destacomunidade, quem é, o que 
ensinou, o que fez o Senhor Jesus.
Para conseguir uma compreensão satisfatória da “cristologia joani-
na” deverá ter em conta e explicar – ou aprofundar – também aqui 
outras dimensões características do pensamento “joanino”, que se 
manifestam com outras expressões, por exemplo: Eu sou. As refe-
rências ao Enviado e ao Filho do homem, ao Paráclito.
Será o lugar propício para analisar também porque esta teologia 
causou tantos e tão ásperos conflitos internos que desembocaram 
em uma dolorosa fratura nesta comunidade tão particular.
Daí esta nossa proposta final, com a qual terminaremos nos-
so caminho pelo mundo joanino. Que é que faz da cristologia joa-
nina algo tão particular, tão especial, tão específico, que somente 
tendo isto nas mãos é possível chegar a "ver"?
Muito já falamos...
Agora somente lhe proponho que enfoquemos o centro des-
ta questão, na confissão de fé em Jesus, o Cristo, o Filho de Deus.
113© Temas Centrais da Teologia Joanina
Porém, que há de tão peculiar dizer ou confessar que Jesus 
é o Cristo, o Filho de Deus? Por acaso não confessaram isto mes-
mo todos os crentes desde o começo? Basta recordar o que conta 
Marcos a propósito de Pedro e do Centurião romano (Mc 8,29 e 
15,39) ou, antes ainda, o testemunho do Evangelho de Paulo (por 
exemplo, cf. 1Cor 1,23; 2,2; 15,3 Rm 1,1-3; 8,3.31 ou Gl 2,20-44)
Porém, constatar que João usa as mesmas palavras que to-
dos os demais cristãos para confessar sua fé em Jesus não significa 
que queira dizer o mesmo que eles...
Então: que é que quere dizer João quando afirmava que Je-
sus é o Cristo, o Filho de Deus?
Comecemos com “Filho de Deus”...
Na teologia joanina, o título "Filho de Deus" indica especifi-
camente a divindade de Jesus.
Isto não é assim, em geral, nos outros autores neotestamen-
tários, que costumam entender o título "Filho de Deus" mais liga-
do ao "messianismo real" judaico.
O "rei" judeu, descendente de Davi era considerado filho de 
Deus desde o momento de sua coroação.
Veja, por exemplo, 2 Sm 7 ou Sl 2 ou Sl 89.
Vamos analisar porque isto é efetivamente assim? Refiro-me 
ao que ocorre nos demais textos neotestamentário. Creio que não 
é tão difícil explicar que em João o título "Filho de Deus" indica a 
divindade de Jesus, mas que no resto do Novo Testamento não é 
sempre exatamente assim.
Observe que, quando lê com atenção os textos neotestamen-
tários que lhe indico a seguir, comprovará que, de uma ou outra ma-
neira, dizem que Jesus "é feito" "Filho" por causa da ressurreição: 
Rm 1,1- 4.•	
At 13, 32-33 – alusão ao salmo 2,7.•	
At 2, 30-31 – alusão a 2Sm 7,12.14.•	
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Muitas vezes se fala no Antigo Testamento de “filho(s) de 
Deus”.
O povo todo se considera “filho de Deus (Ex 4,22; Deut 14, 
1-3; Os 2,2;11,1, Jr 3,6.19; 31,9 Sab 18,13).
Também os justos são considerados como "filhos de Deus 
(Sab 2,13,16.18)
E, sobretudo, do rei davídico se diz que é "filho de Deus".
Não "por nascimento", mas como sinal da dignidade espe-
cial e da especial proteção que Deus lhe conferia no momento de 
sua coroação (2 Sm 7,14; 1Cr 17,13; 22,10;286; Sl 2,7; 89,27-28).
Porém, nunca, se pretendeu expressar com esta categoria a 
"divindade".
É que, numa cultura clara e explicitamente monoteísta, pen-
sar que um ser humano seja Deus (que seja Javé!), ainda o rei, é 
uma blasfêmia intolerável, inadmissível, inconcebível. E os primeiros 
seguidores de Jesus foram clara e explicitamente monoteístas...
O título "Filho de Deus" aplicado a Jesus Cristo conheceu di-
versos matizes e, nem sempre, com este título se pretendeu expres-
sar sua divindade (veja, por exemplo, o que dia Natanael em 1,49).
É importante fazer um esforço para não nivelar todos os tex-
tos no mesmo registro teológico, como se "Filho de Deus" signifi-
casse sempre e em todos os casos a mesma coisa. Partindo de uma 
compreensão messiânica inicial, se bem que cada autor neotesta-
mentário irá manifestando de diversas maneiras sua clara intuição 
de que Jesus é muito mais que o Messias ( o Cristo) esperado em 
Israel – por exemplo, Paulo em Gl 4,4 e Rm 8,3 ou Lucas em 1,35 
– a percepção explícita de sua condição "divina" somente se alcan-
çará e se expressará acabadamente na teologia joanina.
O Evangelho de João aplica a Jesus o título de "Filho (de 
Deus") de uma maneira absolutamente singular. Vamos ver em 
que consiste esta singularidade?
115© Temas Centrais da Teologia Joanina
Para expressar, de maneira inequívoca, que Jesus Cristo 1) 
é o Filho de Deus de um modo próprio, único, completa-
mente diferente de qualquer outro ser que se diga "filho 
de Deus", nos escritos joaninos se empregam duas pala-
vras diferentes para dizer "filho de Deus":
Quando querem referir-se a Jesus como “Filho de Deus” uti-
lizam o termo “huiós". Somente Jesus é "huiós theoú”.
Assim em 1,34; 49; 3,18; 5,25; 10,36;11,4.27; 17,1; 19,7.
Pelo contrário, quando querem referir-se aos seres humanos 
como "filhos de Deus" usam a expressão "téknon theoú”.
Por exemplo, em 1,12; 11,52; 1Jo 3,1.2.10; 5,2
Desta forma, aquele que lê o Evangelho de João em grego 
não pode confundir nunca Jesus com qualquer outro que se diga 
"filho de Deus".
 Jesus é o Filho Único, o Unigênito do Pai (monoguenés) – 
1,14.18; 3, 16.18; 1Jo 4,9
Os seres humanos se fazem, chegam a ser filhos (teknon) de 
Deus (1,12), ou seja, não são por natureza, mas chegam a sê-lo ao 
receber a Palavra.
Esta diferença de vocabulário marca com meridiana clari-
dade a diferença qualitativa entre uma e outra filiação. Somen-
te Jesus é "Filho" (huiós) no sentido próprio e somente ele pode 
chamar a Deus de "Pai seu" com legitimidade. E o faz de forma 
estranhamente exclusiva. Vou lhe indicar alguns exemplos entre 
tantos possíveis:
2,16; 3.35; 5,17; 8,28; 10,18.38; 12,50; 14,2.6.7.24.31; •	
15,15;16,28.
3Esta pretensão de ser filho de Deus desta maneira úni-2) 
ca, completamente própria e exclusiva é tão manifesta 
no Quarto Evangelho que várias cenas deixaram muito 
claro que os adversários (judeus) de Jesus entenderam 
© Escritos Joaninos
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116
perfeitamente de que se tratava (ser igual a Deus!) e o 
consideraram uma blasfêmia digna de morte.
Observe como reagiram depois da resposta de Jesus à repro-
vação de fazer coisas nos sábado – 5,16-17.
Ou como explicaram porque queriam apedrejá-lo depois do 
discurso durante a Festa da Dedicação (10,22-30) que terminou 
com a afirmação aberta: "O Pai e eu somos um” (10,30).
Vejamos uma explicação do Pe. Luis Rivas:
Nos textos do Antigo Testamento que se mostraram... se viu que 
entre os judeus se pode chamar "filho de Deus" aos seres humanos 
sem merecer a pena de morte (por exemplo, ao povo, ao rei, a um 
justo, aos anjos, ao Messias...). Porém quando os judeus dizem que 
Jesus merece a pena de morte por dizer que é "Filho de Deus", 
estão entendendo este título de uma forma que para eles é uma 
blasfêmia: "se faz igual a Deus" (5,18; 10,33). Não se trata de um 
título para indicar somente a especial predileção ou proteção da 
Deus, como nos outros casos, mas a confissão de que Jesus possui 
uma condição que o coloca na esfera da divindade (...) Esta confis-
são explícita da condição divina do Filho de Deus, objeto de tantas 
controvérsias de Jesus com as autoridades religiosas do judaísmo, 
não parece nos sinóticos e é característica do evangelho de João 
(RIVAS, 2005, p.82-83).
O "Jesus joanino" é o "Lógos" (preexistente),enviado pelo 3) 
Pai (3,16.34; 5,36.38; 7,29; 8,42; 10,36; 17,3.8.18.21.25), 
que se fez homem (carne, 1,14) e, depois de cum-
prir a obra que o Pai lhe encomendou realizar (4,38; 
5,36;10,37;17,4) volta para ele (16,28; 17,5.11).
Particularmente chamativa é a solene "fórmula de auto-4) 
apresentação" Eu sou que, freqüentemente emprega o 
Senhor em seus discurso, diálogos e controvérsias, seja 
assim na forma absoluta, sem predicado algum ( 6,20; 
8,24.28.58; 13, 19 e 18,5.6.8) ou seja, com algum predi-
cado (porexemplo, quando o Senhor diz: Eu sou a videi-
ra verdadeira – 15,1.5 – ou Eu sou o Caminho, a Verdade 
e a Vida – 14,6).
Esta expressão pode ser entendida como uma simples auto-
apresentação, por exemplo, como acontece em Mc 6,49-50: "...Ele 
lhes disse: sou eu,não temam...". Porém, dada a freqüência com 
117© Temas Centrais da Teologia Joanina
que se emprega esta fórmula neste Evangelho (5 vezes em Ma-
teus, e 3 vezes em Marcos, 4 vezes em Lucas e 29 vezes em João) 
e quase sempre é Jesus quem a utiliza – não cabe dúvida de que 
se trata de uma expressão perfeitamente intencional, de enorme 
importância teológica e carregada de sentido. Veja, por exemplo 
as seguintes afirmações de Jesus; 8,25.28.58; 13,19.
Tudo isto é muito interessante, não? E, além disto, é próprio 
do Quarto Evangelho.
Outra coisa: com isso queremos lhe mostrar que se vê muito 
mais claro na versão grega chamada comumente dos LXX que lhe 
proponho – os textos do Dêutero-Isaías tal qual aparecem nesta 
versão grega. Muito seguramente que na sua Bíblia não encontra-
rá os textos exatamente assim:
... para que conheçam, creiam e entendam que Eu sou – Is 
LXX 43,10.
Eu sou, eu sou, o homem que borro teus crimes – Is LXX 
43,25.
Eu sou, não existe nenhum outro (...) Eu sou, eu sou, que 
digo o justo e anuncio a verdade – Is LXX 45, 18.19.
Eu sou, eu sou, o que te consola – IS LXX 51,12.
Meu povo conhecerá meu nome nesse dia, que Eu sou o que 
diz: aqui estou – Is LXX 52,6.
Percebe que a verão do Dêutero-Isaías utiliza Eu sou como 
nome de Deus? - em 45,10 substitui explicitamente o nome de 
Javé do texto original hebraico.
E nas fórmulas nas quais se pretende sublinhas com total cla-
ridade que Javé é o único Deus.
Percebe então a impressionante carga teológica que adquire 
a fórmula "Eu sou", sobretudo na versão grega do Dêutero-Isaías?
© Escritos Joaninos
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E como se isto fosse pouco, além do mais, a fórmula "Eu sou" 
considerada em si mesma, tem um irresistível poder de evocação 
de Ex 3,14-15, passagem conhecida como texto emblemático no 
qual Deus mesmo revela "seu nome".
Isto significa que o Senhor Jesus se autoapresenta no Quar-
to Evangelho expressando-se nada mais e nada menos da mesma 
maneira como o faz Javé no Dêutero-Isaís e evocando o texto do 
Êxodo 3,14-15.
Em outra série de textos do Evangelho de João, Jesus se auto-
designa com a fórmula Eu sou seguida de um predicado:
Eu sou o Pão da vida – 6,35.48.51
Eu sou a Luz do mundo – 8,12
Eu sou a Porta das ovelhas – 10,7.9
Eu sou o bom Pastor – 10,11.14
Eu sou a Ressurreição e a Vida – 11,25
Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida – 14,6
Eu sou a Videira verdadeira – 15, 1.5
Entendeu por que o símbolo salvífico fundamental é o da “Zoé”?
Jesus se apresenta como aquele no qual se realizam os bens 
esperados. Não é simplesmente o portador deles, mas que Ele 
mesmo é o Pastor, o Pão, a Luz, a vida, etc. Enquanto enviado 
escatológico de Deus que vem do céu e tem experiência direta 
dele (3,11.31s; 8,126; 12,49), Jesus é o único caminho para o Pai 
(14,9), a luz do mundo (8,12), a Porta pela qual se entra na Vida 
(10,7.9).
Não pode haver dúvida de que, ao aplicar-se a Jesus, se lhe 
atribuía uma dignidade inaudita para os ouvidos dos judeus. A ex-
pressão soava totalmente com uma verdadeira blasfêmia.
E, por isto, - exatamente igual ao que ocorre neste Evangelho a pro-
pósito da pretensão de Jesus de ser o "Filho de Deus" – também diante 
da forma como o Senhor emprega a fórmula "Eu sou", seus interlocuto-
res judeus reagem imediatamente e tratam de apedrejá-lo ( 8,58s).
As sentenças "Eu sou", pois, estão completamente a servi-
ço da alta cristologia e do discurso salvífico próprio da teologia 
joanina e , igual ao título "Filho de Deus" (huiós theoú) indicam a 
divindade do Senhor Jesus.
119© Temas Centrais da Teologia Joanina
Por isto, entre outras coisas, o evangelista terá que insistir 
em que, apesar de sua condição divina: Jesus é o Messias.
jesus, o “Cristo” (o “Messias”)
Depois de semelhante confissão cristológica, tão própria do 
Quarto Evangelho, segundo a qual Jesus é a Palavra (preexistente) 
feita carne (o Lógos-sarx), o Filho Único de Deus (monoguenés hui-
ós), é o único que viu o Pai e o único que o pode revelar, no qual se 
vê a glória de Deus, o Enviado do Pai para comunicar "Zoé" abun-
dantemente, que saiu do Pai e, depois de ter cumprido o obra que 
ele lhe encomendou realizar, volta para ele, para recuperar a glória 
que tinha antes que o mundo fosse – é preciso continuar ensinan-
do, ainda, que Jesus é Cristo? Não parece que Cristo/Messias é um 
título que ficou de alguma forma superado na "alta cristologia" do 
Quarto Evangelho?
Se é o mesmo Jesus joanino quem, depois de sucessivas 
"confissões de fé" que se escutam durante os três primeiros dias 
de sua "aparição pública" – veja, por favor, o que dizem dele João 
Batista, André, Felipe e Natanael somente no começo, em 1,29-51 
– diz a Natanael: "Verás coisas muito maiores” (1,51).
Sem dúvida, se diz que este Evangelho foi escrito também 
para que creiamos que Jesus é "o Cristo" (20,30).
É que, apesar do alto vôo da cristologia joanina – e, apesar 
das aparência, o pensamento joanino se mantém solidamente 
aferrado – ainda que à sua maneira – à confissão básica funda-
mental da Igreja primitiva em Jesus como "Cristo/Messias".
Lembra o que comentávamos na Unidade 1 a propósito da Fase 
crítica da história da investigação do Quarto Evangelho?
Transcrevo-lhe uma frase que creio ilustra bem o que queremos 
dizer com isto de “apesar das aparências”:
“Os rigorosos investigadores do século XIX começaram a conven-
cer-se de que seria preciso buscar a origem desta tradição, com 
sua inconfundível linguagem e com sua forma tão característica 
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de fazer teologia, não no círculo dos discípulos de Jesus, mas em 
algum outro lugar.E muitos importantes estudiosos, desde então, 
se inclinaram a defender que o pensamento joanino, para adquirir 
sua fisionomia tão particular tinha que ter nascido em um terreno 
marcado por ideias filosóficas, místicas e religiosas que, em sua 
maior parte, deviam ser alheias ao mundo judaico e, sobretudo, à 
tradição cristão primitiva original”.
Por isto, é preciso surpreender-se demais que esta obra – 
ainda que, insistimos, à sua maneira – continue se mantendo na 
confissão de fé em Jesus como "Cristo".
A teologia joanina não só não abandona a linguagem da con-
fissão de fé cristã tradicional – que se baseia nas categorias salvífi-
cas próprias da esperança judaica (como são, por exemplo: Cristo, 
Filho de Deus ou Filho do homem) – mas que, pelo contrário, o 
título Cristo, em particular, se emprega aqui com mais freqüência 
ainda que em qualquer outro Evangelho.
Assim é: a palavra "Cristo" aparece 19 vezes no Quarto 
Evangelho – e mais 11 vezes nas Cartas de João (nas quais, dito 
de passagem, se cunha a expressão "anti-cristo”) – enquanto que 
no Evangelho de Mateus aparece 16 vezes, no de Marcos, 7 e em 
Lucas 12 vezes.
E, além disto, é o único texto neotestamentário no qual apa-
rece o vocábulo "Messias" (Messiah, palavra hebraica, porém es-
crita com caracteres do alfabeto grego) em 1,41 e em 4,25.
Ou seja, “Messias” (Messiah) é transliteração - não é tradu-
ção – para o grego do termo hebraico "mashiah”. A tradução ao 
grego do termo hebraico “mashiah" é "Cristo".
Como o título "Cristo" aparece no Quarto Evangelho?
Associado à figura de João Batista, o qual nega enfaticamen-
te ser o "Cristo” (1,20.25; 3,28).
"Cristo" aparece como tema de discussão com os "judeus" e 
suas autoridades e, até com os samaritanos ( 4,29; 7,26.27.31.41.42; 
9,22; 10, 24).
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Aparece como "nome próprio", com nítido valor confessio-
nal cristão (pode apresentar-se também na forma "Jesus Cristo") 
(1,17; 11,27;17,3; 20,31).
Dois personagens deste evangelho – um judeu e uma sama-
ritana – fazem referência ao "Messias".
Estevocábulo que é imediatamente traduzido como "Cristo". 
No primeiro caso, pelo narrador (1,41), em segundo, pela própria 
mulher da Samaria (4,25-26).
Ambos, depois de passar algumas horas com Jesus, demons-
tram ter avançado no conhecimento do Senhor, ou seja, mostram 
"ter se aproximado" dele: André começa chamando-o "Rabbi" (1,38) 
e termina confessando-o como "Messias"; a mulher da Samaria inicia 
o diálogo dirigindo-se ao Senhor chamando-o "judeu" (4,9) e termina 
perguntando-se, depois de mencionar a vinda do "Messias" (4,25-26) 
se não seria ele "o Cristo" (4,29). A palavra "Messias", na boca de um 
(judeu) ou outro (samaritana), tem, sem dúvida, conotações diversas. 
Porém, a tradução imediata, em ambos os casos, para o grego "Cristo" 
orienta o leitor do Evangelho para o sentido cristão tradicional.
Aparece associado à figura (apocalíptica) do Filho do homem
Ainda que não aparece explicitamente o título "Cristo", a 
passagem da confissão de fé de Natanael em Jesus como rei de 
Israel ( 1,49 – "Rabbi, tu és o Filho de Deus, tu és Rei de Israel", 
cf.12,13), é claramente messiânico.
Os crentes verão o "Filho do homem" que, através dos anjos, se 
acha em constante comunicação com o céu (1,51). Não se trata de um 
personagem que há de vir algum dia para julgar (como em Dn 7,9-14), 
mas que já, agora, na terra, está unido ao céu e estabelece de modo 
permanente a comunicação dos crentes (de Israel-Jacó!) com Deus: 
Ele é a escada pela qual se sobe e desce da casa de Deus.
Jesus é o novo Betel, a nova "casa de Deus" (...) é certamente sobre 
Jesus, e sem mediação da escada, como sobem e descem anjos. 
Entre o "filho do homem" e o Pai há uma comunhão de existên-
cia, e por ele é como se realizar o projeto de Deus (LEON-DUFOUR, 
1989, p.158).
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Em 12,20-36 se conecta o “Cristo” com o “Filho do ho-
mem”:
"A multidão lhe respondeu: Nós sabemos pela lei que o Cristo 
permanece para sempre. Como dizes tu que é preciso que o Filho 
do homem seja elevado? Que é este Filho do homem?” (12,34).
Esta objeção da multidão relaciona a menção do "Filho do 
homem" que Jesus fez no começo desta cena (12,23) com referên-
cia de sua elevação da terra, depois de escutar o dito pela "voz do 
céu" (12,28.32). Eles entendem, então – bastante corretamente: 
veja 12,33 – que Jesus está afirmando claramente que o "Filho do 
homem" tem que morrer (somente não chegaram a compreender 
que, ao mencionar a elevação, também falava da glória).
Como identificam espontaneamente o "Filho do homem" 
com o "Cristo", reagem imediatamente: o Cristo, de acordo com o 
que conhecem das Escrituras, permanece para sempre (Sl 89,37). 
Então, sobre o que ou de quem Jesus está falando? Nenhum texto 
do Antigo Testamento fala da morte do Cristo! (A imagem judaica 
habitual do Rei-Messias não está de acordo com a imagem cristã 
do crucificado).
Somente que, como costuma acontecer nesta obra, ironica-
mente, estão dizendo algo correto: o Cristo, efetivamente perma-
nece para sempre, exaltado, depois de sua passagem pela Cruz, à 
glória do Pai. 
E isto é, na realidade, o que Jesus acaba de afirmar acerca 
do "Filho do homem" (12,23.24-33), sem que eles compreendam 
plenamente.
O título de "Cristo" aplicado a jesus se afirma em um claro 
contexto polêmico nas Cartas de joão (1jo 2,18.22; 5,1; 2jo 1,7)
Por que se afirma tão energicamente que Jesus é o Cristo e 
crê-lo é o que, efetivamente demonstra que "se nasceu de Deus"? 
Por que se exige a confissão de Jesus como Cristo em um tom tão 
urgente e polêmico? De tal maneira que, os que assim não fizes-
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sem, serão qualificados como "mentirosos", como "anti-cristos", 
de "negadores do Pai e do Filho", de "sedutores" (enquanto que 
seduzir é uma ação propriamente diabólica, que procura conduzir 
por caminho equivocados).
Contra quem se está debatendo nestes textos? São os mes-
mos adversários que o Quarto Evangelho enfrenta de modo não 
menos duro?
Ou se trata agora de uma nova frente de batalha?
Tudo parece indicar nesta última direção...
Mais ainda, tudo parece indicar com bastante clareza que 
se trata esta vez de um conflito "interno", de uma profunda crise 
"intra-comunitária".
Vamos analisar com mais atenção? É importante e muito ilu-
minador.
Os conflitos internos que fraturaram a "comunidade do dis-
cípulo amado"
Vejamos primeiro (1) que se trata, efetivamente, de um con-
flito “interno” e, em seguida (2) procuraremos entender o que o 
ocasionou.
Nas "cartas" de diz sobre os adversário1) 
A Primeira Carta de João aplica a seus adversários os mesmos 
epítetos que o Quarto Evangelho aplica aos “judeus”:
 - Filhos do diabo – 1Jo 3,8.10; cf. Jo 8,44
 - Mentirosos – 1Jo 2,4; cf. Jo 8,44
 - Assassinos – 1Jo 3,15; cf 8,44
 - São do mundo – 1Jo 4,5; cf. Jo 8,23
E outros novos, além dos já indicados: Anticristo e Sedutor - 1Jo 
2,18.22; 4,3; 2Jo 1,7 ; cf. 1Jo 1,8; 2,26; 3,7
 - Falsos profetas – 1Jo 4,1
 - Não praticam a justiça – 1Jo 3,10
 - São como Caim, que sendo maligno matou seu irmão – 1Jo 
3,12
Que "saíram dentre nós"...porém "não eram do nossos" – 
1Jo 2,9; 2Jo 1,10-11.
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Que tratam de enganar aos destinatários das cartas para 
conseguir aliados – 1Jo 2,26.
O autor recorda aos destinatários que receberam o Espírito 
e que ninguém os pode enganar – 1Jo 4,1-2; 2,27.
Tudo isto, certamente, fala de uma profunda crise interna, 
na qual cada grupo teria lutado vigorosamente para conseguir 
adeptos que permanecessem em comunhão com eles e com sua 
maneira de entender o mistério de Jesus (cf. 1Jo1,3).
Porém, o que provocou tamanho conflito? A reta confis-2) 
são de cristológica.
Pela forma como se expressa o autor da Primeira Carta, não 
há dúvida eu o que desatou o conflito foi uma dura controvérsia 
cristológica – com as conseqüências que disto imediatamente se 
derivam para a vida pessoal e comunitária.
Quem sabe, o mais chamativo em toda esta batalha seja a 
férrea insistência nas Cartas em desmascarar os "ex-irmãos" que 
não estavam dispostos a confessar que o Cristo (Jesus) veio na car-
ne, ou seja, que o Cristo – Jesus – foi um ser humano! (cf. 1Jo 4,2; 
2Jo 1,7).
Uma comunidade que afirma em sua fé que "o Lógos” (Pala-
vra) certamente “se fez sarx" (carne, homem, humano) e, por sua 
vez, também confessa que "vimos sua glória”, “glória que recebe 
como Unigênito do Pai (Jo 1,14).
Ou seja, uma comunidade que sabe da realidade humana, 
histórica, concreta, corporal do "Verbo Encarnado" e, simultanea-
mente, percebe que este ser (Jesus) possui a capacidade única de 
irradiar a glória própria de Deus, como "Filho Único" (huiós mono-
guenés).
Manter o equilíbrio entre perspectivas tão diversas, ainda 
que completares, não seria fácil.
E se um setor, dentro da comunidade, alentado por algumas 
passagens do Evangelho, rompia o equilíbrio, acentuando dema-
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siadamente um único aspecto ou absolutizando-o (por exemplo, 
a irradiação da glória, a exaltação, a condição de Filho Único de 
Deus)?
Era uma leitura possível do Evangelho.
Os grupos exaltados, radicalizados, de tendência gnóstica depre-
ciavam a matéria, o corpo, a carne.
Para eles era intolerável aceitar uma figura salvífica (como o Cris-
to) que pudesse ter corpo, carne (como Jesus).
Ainda que não acredite, muito deles distinguiam entre Jesus (ho-
mem, de carne) e o Cristo (o autêntico salvador, o portador da vida 
de Deus) e negava que o Cristo tinha sido Jesus.
Seletiva, parcial, desequilibrada, incompleta, unilateral – 
e, certamente, indevida, inadequada – porém, possível. O grupo 
dissidente poderia ter ficado com um único aspecto do completo 
quadro cristológico que caracteriza a fé da comunidade joanina, 
separando-se da linha de interpretação tradicional – mantida na 
fase central da história da comunidade – para encaminhar-se fir-
memente em direção à gnose. Para o autor das Cartas, a cristolo-
giaautêntica não pode ser unilateral: devia referir-se à totalidade 
do mistério de Jesus, o Cristo, o Filho de Deus (Jo 20,30-31), vindo 
na carne (1Jo 4,2; 2Jo 1,7).
E isto não era uma questão marginal.
O que estava em jogo era demasiado importante para que 
discussão tivesse acabado com a aceitação de pontos de vista di-
ferente. A magnitude do problema – causado pelas interpretações 
divergentes da própria teologia – inevitavelmente exigiria, cedo ou 
tarde, um desenlace mais radical, que, de fato, se deu: a fratu-
ra desgarradora, a dolorosa divisão da "comunidade do discípulo 
amado".
Um grupo terminou levando consigo este Evangelho, que 
caiu entre os grupos gnósticos, onde foi muito bem recebido.
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Outro grupo, representado pelo autor das Cartas, ainda que 
não tenha podido impedir a difusão do Quarto Evangelho entre os 
valentinianos (que o consideravam seu Evangelho),conseguiu, sem 
dúvida que este – o Evangelho de João – conservasse seu lugar na 
Igreja "apostólica".
E, sobretudo, e apesar de toda a simpatia que mostravam por 
ele os gnósticos, o "presbítero" (assim se auto-designa o autor das 
Cartas em 2Jo 1,2 e 3Jo 1,1) conseguiu oferecer ao resto do cris-
tãos uma chave de leitura da teologia joanina que tornou possível 
que este Evangelho, tão próprio e característico desta comunida-
de tão particular, fosse recebido pelo resto dos cristãos "apostóli-
cos" como parte integral – conforme dizia Santo Irineu – do "único 
Evangelho em quatro formas diversas" (Adv.Haer, III,11,8).
COnsiDERAÇÕEs 8. 
No que me diz respeito, se você chegou até aqui – felicita-
ções!
O que achou desta experiência? Parece que aprendeu algo?
Para mim foi muito intensa e me custou muito esforço, po-
rém, apesar de tudo, pude desfrutar muito. E aprendi bastante 
também.
Não é fácil comunicar-se à distância...
Oxalá tenha podido encurtar as distâncias e chegar ao seu 
coração.
Seguramente, este Evangelho lhe surpreendeu muito, que é 
como uma águia que voa muito alto e nos quis levar para o alto 
com ele, para nos ajudar a nos aproximarmos um pouco mais do 
Altíssimo (que quis se aproximar de nos primeiro com sua Encar-
nação). Para conseguir procedeu com extrema simplicidade (no 
seu vocabulário, no seu tom, no seu estilo peculiar), porém tam-
bém com enorme profundidade. Com tanta clareza não temeu a 
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confrontação. Com tanta paixão que nos contagiou sua vontade 
de receber a Vida (zoé) que Deus quis derramar. Para isto escreveu 
seu Evangelho: para que crendo, tenhamos Vida.
Eu o saúdo com todo meu afeto, pedindo a Deus que o aben-
çoe muito e que faça muito fecunda sua tarefa de anunciar Jesus.

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