Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE HUMANIDADES UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - LICENCIATURA DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA BRASILEIRA – PERÍODO 2019.2 DOCENTE: DISCENTE: JERSIANNY DE L. S. CUNHA - MATRÍCULA: Em seu texto “A casa, a rua e o trabalho”, Roberto Damatta descreve que em uma cidade brasileira qualquer, há um movimento recorrente onde as pessoas vão do trabalho para casa e de casa para o trabalho. Observa-se então que a “casa” e a “rua” interagem e se complementam num ciclo que é cumprindo diariamente por toda a população, transformando-se num sistema dividido em dois espaços básicos: a casa e a rua. A rua é o local do trabalho, das leis, do lazer, enquanto que a casa é o núcleo familiar onde os destinos são compartilhados; onde as tradições se manifestam em móveis, receitas culinárias ou hábitos, distinguindo uma família das outras. Na vida diária, as tradições se traduzem em obrigações que vão das alegrias, nascimentos, aniversários e tristezas, como funerais. No Brasil, a casa não se refere apenas a uma residência, mas a um espaço dotado de emoção, sentimento, história e personalidade. Nela estão presentes as mais íntimas relações familiares. Não importa como a família seja: rica ou pobre. É dentro dela que está o verdadeiro “eu” de cada um. A nossa casa é o nosso lar. Quando vamos para o trabalho, nos distanciamos da “segurança” do nosso lar. Há também dimensões sociais que são, provavelmente, as primeiras que aprendemos na sociedade brasileira, como respeito, honra, vergonha, e pela oposição básica entre o fora e o dentro e o sujo e o limpo. Pois são eles que orientam nossa conduta relativamente a família, parentes e todos os outros para quem as portas estão abertas. Damatta descreve a casa como sendo inclusivo e exclusivo, um ambiente que pode ter agregados, como pessoas que não são parte da família, mas que vivem no domicílio, e animais de estimação. A casa congrega, segundo o autor, uma rede complexa e fascinante de símbolos que parte da cosmologia brasileira, nela, a harmonia deve reinar sobre a confusão, a competição e a desordem. O comércio está excluído da casa, bem como as discussões políticas que acentuam diferenças. A gerência da casa cabe à mãe, esposa ou a quem exercer esse papel, é ela quem cuida da aparência da morada como um todo e sabe o que está faltando ou sobrando, bem como o que cada qual gosta e como gosta. A casa e rua são mais do que meros espaços geográficos, são modos de ler, explicar e falar do mundo, porque ali encontramos histórias e construções de vida. Na casa, as leis são mais confiáveis do que as do Estado, visto que estas sempre mudam. Na rua onde não somos nada vemos nossa casa como um seguro, um refúgio, e todos têm um “rosto, enquanto que na rua, num fluxo de pessoas indiferenciadas e desconhecidas nós chamamos de “povo” e de “massa”, onde os indivíduos possuem apenas “cara” e corpos. Para Damatta a ideia de residência é um fato social totalizante, na casa há tranquilidade, calma, harmonia. Na rua há luta, batalha, perigo. No trabalho há concorrência, reclamação, chefe, batente. No entanto, essas três ideias se correlacionam, pois, fazem parte da vida do indivíduo. Na rua se vê o povo. Na casa, o “amigo”. No trabalho, o “colega”. A rua compensa a casa e a casa equilibra a rua. Bibliografia: DAMATTA, Roberto. A casa, a rua e o trabalho. In: DAMATTA, Roberto. O que é o Brasil? Rio de Janeiro, Rocco, 2004. P. 13 a 20.
Compartilhar