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Comunicação não-violenta Comunicação compassiva EDUCAÇÃO GAIA SALVADOR 2010 Compassivo Aquele que sente compaixão (do latim compassione): compreensão do estado emocional de outrem, para aliviar sua dor e sofrimento. http://pt.wikipedia.org/wiki/Latim 5 desejos básicos do ser humano • Ser amado • Ser reconhecido • Ser útil • Ser elogiado • Ser livre Masaharu Taniguchi Isto ou aquilo? • Se isto não pode ser satisfeito sem deixar de satisfazer aquilo, a necessidade de escolha gera conflito. • Os dilemas configuram conflitos intrapessoais, interpessoais, grupais, socioambientais, culturais. A diversidade, que é a base da comunidade da vida neste planeta, gera diferenças de expectativas, interesses, vontades, sonhos, desejos. Muitas vezes não é possível atender ao mesmo tempo ou da mesma forma isto e aquilo. Como lidar com o conflito de vontades, de desejos, de necessidades, de interesses? Nós, seres humanos, temos três formas básicas de trabalhar com o conflito: fuga, confronto ou negociação. O modo prevalente da humanidade lidar com os conflitos tem sido por meio do confronto, do ganha-perde, da disputa que gera vencedores e vencidos. São confrontos físicos ou mentais. De territórios, de bens, de espaços sociais, de idéias • O confronto pode se dar com violência direta entre as partes ou buscando a decisão do litígio por um terceiro, com amparo nas leis e costumes. A busca dos tribunais significa que as partes em litígio não se compreendem em condição de resolver o conflito diretamente, • Esse modo de resolver os conflitos por meio de confronto, além de exercitado é ativamente ensinado, de geração para geração. A fuga é a outra face do confronto. É a recusa ao confronto, a prevalência do medo do mais forte, a covardia. Pode significar um ganho de tempo ou o agravamento do conflito, mas não o resolve. A fuga é uma atitude complementar ao confronto, faz parte da mesma lógica. Se não posso vencer lutando, fujo ou me submeto. É a conhecida dupla torturador/torturado; vítima/algoz. Recusar-se a reconhecer o conflito não é uma atitude de paz, ao contrário do que muitas pessoas pensam. A paz é ativa. Em toda a história conhecida da humanidade encontram-se lideranças que sinalizam o caminho da resolução pacífica de conflitos, por meio do diálogo e dos acordos. Jesus, Buda, Gandhi, Martin Luther King, Mandela – entre outros, partem da nossa condição de irmãos, de membros da comunidade da vida – ou seja, do reconhecimento da condição de sujeito, da condição de direito à vida, com todas as suas implicações – “não fazer ao outro o que não queremos que nos faça”, “reconhecer no outro a condição de irmão”. Esse reconhecimento implica respeito mútuo e preservação da integridade física e mental de todos. O caminho não pode ser ignorar o outro (fuga) nem tentar submetê-lo ou destruí-lo pela força (confronto). É preciso conviver, isto é, aceitar diferenças, dialogar e tecer acordos. AMAI-VOS UNS AOS OUTROS Xesus Jares, educador galego, diz que apesar disso a humanidade tem exercitado à exaustão e com grande risco o “script” do confronto, da violência para resolver conflitos. Buscando o exercício de um novo “script”, um “script” de diálogo, de acordos, Marshall Rosemberg, psicólogo americano, criou um método de comunicação não- violenta, que se funda na coragem de escutarmos o outro e de declararmos ao outro nossas necessidades e pedidos, com verdade. A comunicação compassiva, tem quatro idéias fundantes: A. Recusa dos caminhos da fuga e do confronto – ou seja, da violência – como forma de resolver conflitos B. Disposição de escutar o outro, com todo o corpo, com toda a atenção, para que ele possa manifestar a sua verdade, com confiança C. Manifestação da nossa própria necessidade, com verdade e confiança no outro, explicitando nosso pedido D. Tecelagem de acordos, dialogando diretamente ou com mediação. ESCUTA COMPASSIVA A pacifista quaker Gene Knudsen Hoffman, que foi a pioneira em Escuta Compassiva como um processo de construção da paz, gosta de observar que: “Um inimigo é aquele cuja história nós não ouvimos”. Essa é a idéia: uma vez que você escuta verdadeiramente a história do outro, e compreende suas queixas e sofrimentos, você será incapaz de considerar aquela pessoa como inimiga. Você pode discordar totalmente dela, ou achar suas ações abomináveis e mesmo assim você vai vê-la como um ser humano. Na Escuta Compassiva nós não buscamos mudar aquele que compartilha conosco, nós buscamos somente amá-lo. Na Escuta Compassiva não cabem: interrupções, conselhos, julgamento ou perguntas que expressem julgamento, que são barreiras à verdadeira escuta. Marshall Rosenberg - Nasceu em um bairro violento de Detroit em 1934. - Em 1961 obteve seu PHD em psicologia clínica pela Universidade de Wisconsin - Madison. - A comunicação não-violenta foi o resultado de sua especialização em psicologia social, de seus estudos de religião comparada e de suas vivências pessoais, a partir da psicologia humanística de Carl Rogers. - Em 1984, o doutor Rosenberg fundou, na Califórnia, o “Center for Nonviolent Communication (CNVC)”, que se transformou em uma grande organização internacional sem fins lucrativos Quatro opções de como receber uma mensagem negativa: • Culpar a nós mesmos: “Eu deveria ter sido...” • Culpar os outros: “Você é egoísta!” • Escutar nossos próprios sentimentos e necessidades: responsabilidade no sentimento frustrado/desejo de si próprio e não apenas do outro • Escutar os sentimentos e necessidades dos outros Necessidades não atendidas e não expressadas causam dor psicológica e violência Observação: As ações concretas que estamos observando e que afetam nosso bem-estar. Sentimento: como nos sentimos em relação ao que estamos observando Necessidades: as necessidades, valores, desejos, etc. que estão gerando nossos sentimentos Pedido: as ações concretas que pedimos para enriquecer nossa vida. JULGAMENTO Presume coisas estáticas- “o ser humano”.. OBSERVAÇÂO Processos vivos, mutantes... • rotular • exigir • reagir • diagnosticar • avaliar • estou vendo • ouvindo • lembrando • sentindo O que você pensa sobre o outro pode estar errado. Há sempre mais de um motivo para um comportamento. Emoções, sentimentos -“fumaça”, emoções negativas = algo não está alinhado comigo Valor/ necessidade • Qual a “razão boa” (necessidade) de o outro agir assim? (sentimento) • raiva • medo • crítica • tristeza • solidão • respeito • verdade • individualidade • reconhecimento Exercício • A mãe de Roberto fica doida com a bagunça que ele faz especialmente quando deixa suas meias sujas debaixo da mesa • “Roberto, quando eu vejo meias sujas debaixo da mesinha, fico irritada, porque preciso de mais ordem no espaço em que vivemos em comum” Pedido claro: “Você poderia colocar suas meias no seu quarto ou na lavadora”? Observação com avaliação Observação isenta de avaliação Você é generoso Quando vejo... acho que está sendo generoso. João vive deixando as coisas para depois. João só estuda na véspera da prova O trabalho dela não será aceito. Acho que o trabalho dela não será aceito Se você não comer verduras, sua saúde ficará prejudicada Se você não comer verduras, temo que sua saúde fique prejudicada Os estrangeiros não cuidam da própria casa. Não vi aquela família estrangeira da outra rua limpar a calçada. Zequinha é péssimo jogador de futebol. Em vinte partidas, Zequinha não marcou nenhum gol. Carlos é feio. A aparência de Carlos não me atrai. • “Experiências em comum” são o que conecta. Valores “universais-agora”: respeito, verdade, solidariedade • O que está motivando o outro a fazer isso? Qual necessidade não foi atendida? • Sugerir: “Você quermais”... • “Eu ouvi você dizer”... 1. Empatia na escuta: escutar o estudante e não apenas “ensinar”; compreender - aqueles que nos parecem monstros são pessoas cujo comportamento às vezes nos impedem de ver sua natureza humana (necessidades universais) 2. Empatia com um “Não!”: aceito seu desejo e não o tomo como pessoal 3. Empatia revitalizadora: as pessoas preferem que os ouvintes as interrompam a fingirem estar escutando 4. Empatia com o silêncio: não é fácil dizer o que temos “por dentro”; o que está acontecendo “dentro do outro”? Conectar-se com o outro cura sua dor psicológica. • CNV- pergunta empática: como satisfaço sua necessidade? • Linguagem tem “hábitos de pensamento” - “Você não me entende”.../ “Você está errado”/ “Você tem de...”/ “Você me agride...” • CNV: Minha atenção se foca na SUA visão • Até a pessoa sentir: “fui amplamente ouvida e disse tudo que precisava”... • Está dizendo: “Por favor, veja-me como quero ser visto” e “Obrigado por ver-me como quero ser visto”. • Solitário por muito tempo: “não preciso de você!” • “Não insista, não desista, persista!” Expressando Raiva • Raiva: - “eles são...” por “eu preciso de...” - [Culpar] por [perceber] meus sentimentos e necessidades e as dos outros... - Nunca diga “MAS...”, a uma pessoa com raiva. Raiva: A violência vem da crença de que sua dor se origina dos outros e merecem ser punidos. 4 passos para expressar a raiva: 1. Parar. Respirar- ficamos quietos. 2. Identificar nossos pensamentos que estão julgando as pessoas: “Sinto nojo! Ele é racista!” 3. Conectar-nos a nossas necessidades: “Quero ser reconhecido!” 4. Expressar nossas necessidades: “sinto-me triste quando você fala mau dos judeus!” Exercício: CNV em situações de raiva • Liste os julgamentos mais comuns em sua mente: “Não gosto de pessoas que são...” • Pergunte-se: “Quando falo essa idéia a respeito de alguém, do que estou precisando e não estou obtendo?” • Ao expressarmos nossas necessidades é bem mais provável que elas sejam atendidas do que se julgarmos. • É a “comunicação que enfatiza o afeto como motivação principal de nossas ações, ao invés do medo, culpa, vergonha, acusação, coerção, ameaça”... • É “um fluxo entre nós mesmos e as outras pessoas, com base em ação mútua e de coração”. • “NÃO se trata de culpar e enganar pessoas para que façam o que você quer!” Empatia é: encontros genuínos, abertos e mútuos Perguntas de não-violência • O que esta pessoa está sentindo? • Do que ela precisa? • Como estou me sentindo em relação a essa pessoa e que necessidades estão por trás desses sentimentos? • Que ação ou decisão eu pediria a essa pessoa para tomar, acreditando que isso a faria viver mais feliz e a mim também? Perigos: • Confundir “julgamentos” com “fatos”, ocultando críticas. • CNV não é ser „bonzinho” e tentar passar por herói • Acabar escondendo seus próprios desejos e necessidades • Acabar tentando manipular os outros infantilizando-os- empatia não é interpretação! • Não perceber quando simplesmente “calar” e “não-agir” • Constante atenção e cuidado ao praticar caso a caso. Exercício Marshall Rosenberg propõe o uso de uma linguagem baseada em 4 princípios: • expor os fatos de uma situação sem julgamento, • reconhecer os sentimentos implícitos, • identificar as necessidades humanas que estão ou não sendo atendidas • apontar as ações a serem executadas para atendê-las. 2º ponto da Comunicação não violenta: Expressar necessidades com verdade Rosenberg usa a metáfora da girafa e do chacal para demonstrar como as palavras, ações e intenções contribuem para a vida ou nos alienam dela. As girafas são os mamíferos terrestres com o maior coração. O seu coração tem que levar o sangue pelos seus pescoços acima, até ao cérebro. Com um coração assim tão grande, a ideia é a de que as “girafas” ouvem com o coração. O longo pescoço representa a visão, a capacidade de ver claramente o cerne da questão. Na metáfora, simbolizam a conexão. Os chacais são representativos de uma energia mais frenética, rápida, cortante, arrasante - de uma forma de relacionar mais caótica. Na metáfora, simbolizam a agressão • Observar o acontecimento • Observar seus próprios sentimentos face ao acontecimento • Identificar que necessidades estão gerando esses sentimentos • Expressar essas necessidades de modo não-violento, compassivo Medo? Raiva? Confiança? Fuga Confronto Diálogo BUSCAR A CONEXÃO Escutando e manifestando a nossa própria necessidade, com verdade (“ahimsa” de Gandhi) e confiança no outro É a expressão do desejo tranquilo de entrar em contacto com aquilo que nós e os outros estamos sentindo e precisando, e de contribuir para essas necessidades. Explicitar nosso pedido ao outro • sem usar julgamentos de "bom" ou "mau", • certo ou errado Evitar de expressar sentimentos, expressamos julgamentos, críticas, justificativas. Comunicação não-violenta O modelo de 2 partes e 4 componentes • Escuta empática – Observações – Sentimentos – Necessidades – Pedidos • Expressando honestamente – Observações – Sentimentos – Necessidades – Pedidos Comunicação Compassiva Comunicação do Coração No entanto, nem sempre o outro está disposto a dialogar. Pode ser que resista muito.O que fazer? Chamar uma mediação. O mediador é um terceiro, que vai tentar restaurar as condições de diálogo. Cena Lico, filho da Dra Susan, ganhou um estilingue de um tio. Na ausência da mãe, Lico foi brincar com o estilingue no quintal e acertou a lataria do carro da Dona Dulce, sua vizinha, tendo afundado o ponto onde a pedra bateu. Houve um diálogo ríspido da Vânia, que trabalha com a Dulce, com o menino, que respondeu mal e lhe deu as costas. Depois Dulce ligou para Susan e o diálogo, também ríspido, foi interrompido com o bater do telefone. Cena: Márcio tem 16 anos. Usa corte de cabelo estilo moicano, tingido de loiro e usa roupas diferentes. Está no segundo grau, mas “bombou” no último ano. Sonha em ser artista e costuma reunir, na sua casa, um grupo de amigos. Andaram pixando alguns muros na vizinhança, mas ninguém viu. Um dia a casa ao lado amanheceu com o muro pixado e o proprietário chamou a polícia. Márcio nega a pixação e tem uma discussão com o vizinho. Cena: Raul estava indo buscar a namorada no trabalho. Estava meio distraído e de repente viu que o farol estava vermelho, Atrás dele vinha Ana, que também estava um pouco distraída e bateu forte na traseira do carro do Raul. Quebrou o farol traseiro e amassou a lataria. Ambos discutem ríspidamente e Ana, amedrontada, pega um pau que estava no carro Cena Seu Marcos tem sofrido muito com o barulho no seu prédio. Além de ficar perto de um viaduto, que passa na altura da sua janela, a vizinha de cima faz um barulho contínuo de motor que passa para o quarto do seu Marcos. Ele levou o caso para uma reunião de condomínio. A briga se generalizou Cena Lena foi a um bar, encontrar seu marido, Júlio. Miriam estava saindo. Miriam tinha tido um caso com Júlio, quando ele e Lena ainda eram namorados e Lena suspeita de que ainda se encontrem às vezes. Elas se cruzaram na porta do bar. Miriam olhou para ela e deu um sorriso irônico. Ambas discutiram e Lena agrediu Míriam Reflexões • As três peneiras de Sócrates • Escutatória – Rubem Alves BOHM, David 2005 Diálogo – comunicação e redes de convivência. São Paulo: Palas Athena (tradução de Humberto Mariotti). BUCKLES, Daniel (org.) 2000 Cultivar la paz – conflicto y colaboración en el manejo de los recursos naturales. [s.l.] – disponível em inglês, francês e espanhol para download em www.idrc.ca/es/ev-9398-201-1- DO_TOPIC.html. GALTUNG, Johan 2003 O caminho é a meta: Gandhi hoje. São Paulo: Palas Athena. 2006 Transcender e transformar: uma introdução ao trabalho de conflitos. São Paulo: Palas Athena (tradução deAntonio Carlos da Silva Rosa). HOFFMAN, Gene Knudsen, MONROE, Cynthia e GREEN, Leah Escuta Compassiva. Ed. Santa Bárbara, Califórnia, EUA: The Instituto for Cooperativo Communication Skills, 2006. Disponível em www.NewConversations.net, em inglês e, em português, na tradução de Márcia Gama, em www.comunicarmelhor.org/escuta_compassiva.pdf JARES, Xesus R. 2007, Educar para a Paz em Tempos Difícies. São Paulo:Ed. Palas Athena 2008, Pedagogia da Convivência. Trad. Elisabeth Santana, São Paulo: Ed. Palas Athena MARIOTTI, Humberto 2001 Diálogo: um método de reflexão conjunta e observação compartilhada da experiência. São Paulo, abril – disponível em http://www.geocities.com/pluriversu/dialogo.html. 2002 “O pensar”. In: Acolhimento – o Pensar, o Fazer, o Viver, São Paulo: Secretaria Municipal da Saúde/Prefeitura do Município de São Paulo. MULLER, Jean Marie 2007 Não Violência na Educação. São Paulo: Editora Palas Athena ROSENBERG, Marshall B. 2006 Comunicação não-violenta – técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Agora (tradução de Mário Vilela). SADER, Emir; MATTOS, Claudia (Orgs.) 2003 Declarações de paz em tempos de guerra – trajetórias e discursos de 21 pacifistas laureados com o Prêmio Nobel da Paz. Rio de Janeiro: Bom Texto. ALGUNS A UTORES DE REFERÊNCIA PARA COMUNICAÇÃO COMPASSIVA http://www.idrc.ca/es/ev-9398-201-1-DO_TOPIC.html http://www.idrc.ca/es/ev-9398-201-1-DO_TOPIC.html http://www.idrc.ca/es/ev-9398-201-1-DO_TOPIC.html http://www.idrc.ca/es/ev-9398-201-1-DO_TOPIC.html http://www.idrc.ca/es/ev-9398-201-1-DO_TOPIC.html http://www.idrc.ca/es/ev-9398-201-1-DO_TOPIC.html http://www.idrc.ca/es/ev-9398-201-1-DO_TOPIC.html http://www.idrc.ca/es/ev-9398-201-1-DO_TOPIC.html http://www.idrc.ca/es/ev-9398-201-1-DO_TOPIC.html http://www.newconversations.net/ http://www.comunicarmelhor.org/escuta_compassiva.pdf http://www.geocities.com/pluriversu/dialogo.html GRATO PELA ATENÇÃO, Victor Leon Ades v.l.ades@uol.com.br mailto:v.l.ades@uol.com.br
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