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ELETRÔNICA I Fabricio Ströher da Silva Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as características construtivas do transistor bipolar. Determinar as relações de tensão e corrente existentes no transistor bipolar. Analisar o ganho e a reta de carga no transistor bipolar. Introdução Os transistores têm como principal função na eletrônica a amplificação de sinais, como aqueles de áudio e vídeo, conforme lecionam Malvino e Bates (2016). Além disso, podem ser utilizados como chaves eletrônicas para as mais diversas aplicações. Transistores são os componentes mais utilizados na fabricação de circuitos integrados (CIs), circuitos estes que, pelas suas características multifuncionais, permitiram inclusive o surgimento dos primeiros computadores, conforme explicam Horowitz e Hill (2017). Neste capítulo, você vai conhecer as características construtivas dos transistores bipolares, também conhecidos como TBJ. Você vai verificar as relações existentes entre tensão e corrente nesses circuitos e a im- portância de se conhecer essas relações no transistor. Por fim, você vai analisar o ganho do transistor e a sua reta de carga, reta esta que auxilia na verificação das relações de tensão e corrente no circuito coletor do transistor. Características construtivas do transistor bipolar Um transistor bipolar, diferentemente dos diodos, tem duas junções PN. Os transistores podem ser de confi guração PNP ou NPN, sendo essas denomina- ções relacionadas com o tipo de material semicondutor que será empregado. Transistores NPN, os mais utilizados em circuito eletrônicos, têm duas regiões dopadas com materiais pentavalentes, sendo essas duas regiões divididas por um material de tipo P. Já os transistores PNP têm confi guração contrária. Essa relação é apresentada na Figura 1. Figura 1. Estrutura física dos transistores bipolares PNP e NPN. Fonte: Berislav Kovacevic/Shutterstock.com. Com essas junções, cada um dos diodos terá duas camadas de depleção. Um fato relevante é que as duas regiões de depleção têm tamanhos diferentes, em função da diferença de nível de dopagem das camadas, conforme lecionam Malvino e Bates (2016). O transistor tem um eletrodo ligado a cada um de seus materiais semi- condutores. O pino central conectado ao material P no transistor NPN, ou no material N no transistor PNP, é denominado base. Esse material central, conforme apresentado na Figura 1, tem a menor área dentre os três materiais. Em um transistor NPN, o material N com uma dopagem mais forte é denominado emissor, sendo o outro extremo o coletor do transistor. Na Figura 2 é apresentada a simbologia dos transistores, bem como a identificação dos seus pinos. Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento2 Figura 2. Simbologia dos transistores PNP e NPN, respectivamente. Fonte: simlik/Shutterstock.com. Partindo do conceito de diodo e utilizando o transistor NPN como exemplo, podemos ver um transistor como sendo dois diodos, em que o emissor e o coletor seriam os cátodos dos mesmos, e a base uniria os dois emissores. Na prática é justamente isso; porém, a diferença do nível de dopagem e a espes- sura das camadas fazem toda a diferença quando polarizamos um transistor. O emissor tem a função de emitir elétrons para a base do transistor. Na Figura 3a é apresentado um transistor NPN emissor comum. Diz-se emissor comum pelo fato de que os negativos das duas fontes estão ligados em comum com o emissor, ou seja, no mesmo potencial. Já o diodo emissor, representado na Figura 3b, está diretamente polarizado em relação a VBB. Como mencionado, a região da base é fracamente dopada e muito estreita, fazendo com que os elétrons que migraram do emissor, em sua grande maioria, não encontrem lacunas e permaneçam como elétrons livres na região da base. A região do coletor do transistor é fracamente dopada, e um nível de tensão reverso no diodo coletor fará com que os elétrons livres da base sejam atraídos pela fonte VCC, gerando a corrente de coletor. Observe que a representação simbólica do transistor como sendo dois diodos, conforme a Figura 3b, é somente para a compreensão da estrutura física dos transistores. Se tentarmos realizar essa ligação de diodos para substituir um transistor, não será possível, pois a região da base nessa situação será muito espessa, fazendo com que a corrente base-emissor seja bastante elevada, enquanto a corrente coletor-emissor será nula. 3Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento Figura 3. (a) Transistor NPN com polarização do tipo emis- sor comum e (b) circuito análogo com diodos. Fonte: Proteus (2016). Transistores PNP têm sua estrutura em relação ao nível de dopagem e à lar- gura da base semelhante aos transistores NPN; a diferença está na polarização dos diodos. Nos transistores PNP, os diodos emissor e coletor estarão com os seus cátodos conectados à base, fazendo com que as fontes sejam invertidas em relação à sua polaridade, para que possa existir corrente entre emissor e coletor. Em função disso, um transistor não pode ser substituído pelo outro nos circuitos, mesmo que eles tenham as mesmas características elétricas. Relações de tensão e corrente existentes no transistor bipolar Seguindo a compreensão dos transistores, nesta parte verifi caremos as rela- ções entre tensão e corrente nos mesmos. A compreensão desses conceitos é fundamental para a polarização de transistores, para que estes funcionem dentro do esperado em circuito eletrônicos. Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento4 Correntes no transistor Na Figura 4 é apresentado o fl uxo convencional da corrente elétrica em um transistor NPN. Como visto anteriormente, os elétrons provenientes do emissor, em parte, vão para a base, enquanto os demais são coletados pelo coletor. Com isso, podemos defi nir que: Em análises matemáticas de circuito com transistores, como a corrente que circula pela base é muito menor do que a corrente que circula pelo coletor, pode-se utilizar: Figura 4. Fluxo convencional das correntes em um transistor NPN. Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 193). O entendimento da relação de correntes em um transistor é de vital impor- tância para saber aplicá-los em circuitos eletrônicos. Fundamentalmente, um transistor realiza a amplificação da corrente da base em relação ao coletor, sendo que um aumento na corrente da base aumentará proporcionalmente a corrente do coletor, não sofrendo diretamente interferências da tensão do circuito coletor. Essa relação entre as correntes de base e coletor serão apre- sentadas de forma mais clara na próxima seção. 5Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento Tensões no circuito com transistor Na Figura 5, é apresentado novamente o circuito com transistor emissor comum, com ênfase para as quedas de tensão no circuito. Para uma melhor análise de circuitos com transistores, analisaremos os mesmos utilizando malhas. Analisando o circuito de base, onde temos uma fonte, e seguindo a segunda lei de Kirchhoff, sabemos que a tensão será igual às quedas de tensão nas cargas — o resistor RB e o diodo emissor. Logo: Para as análises matemáticas, utilizaremos como referência uma queda de tensão padrão no diodo emissor de 0,7 V, assim como adotado nos diodos. Porém, na realização de projetos, é interessante sempre conhecer a real queda de tensão, apontada nas folhas de dados, já que transistores podem ter sinais VBB muito pequenos, o que fará com que essa informação se torne relevante para um projeto mais preciso. Figura 5. Circuito com transistor emissor comum. Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 193). Realizando uma análise similar em relação ao circuito coletor, podemos utilizar o mesmo conceito. Com isso: Sendo VCE a queda de tensão entre os terminais emissor e coletor do tran- sistor e a tensão VC a queda de tensão nacarga do coletor. Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento6 Relações de tensão e corrente Na Figura 6 é apresentada a relação IC e VCE. Conforme já dito, a corrente de coletor é diretamente proporcional à corrente de base, o que é demonstrado na Figura 6, onde, com uma corrente na base de 10 µA, tem-se uma corrente no coletor de 1 mA. É perceptível que, com as correntes constantes, pode existir uma variação da tensão VCE. Com isso, é possível defi nir três regiões quando o transistor estiver em operação. Figura 6. Relação da corrente de coletor com a tensão entre coletor e emissor do transistor 2N3904. Fonte: Malvino e Bates (2016, p. 198). A primeira região é definida como região de saturação e ocorre quando a queda de tensão (VCE) no transistor é bastante baixa, porém mantendo uma circulação máxima de corrente no coletor. Um transistor é polarizado nessa região quando se quer que o mesmo trabalhe como uma chave, assunto este que será abordado mais adiante. A segunda região é a região ativa do transistor; nessa região é possível determinar um ponto de operação constante para que a amplificação do sinal seja realizada. A polarização que tem como objetivo fazer com que o transistor opere na região ativa é utilizada em amplificadores de sinais, tema este que será melhor abordado mais à frente. A outra região é a região de ruptura e é atingida da mesma forma que ocorre com os diodos quando um determinado nível de tensão é excedido — acontece o efeito avalanche, elevando a corrente a ponto de danificar o componente. Em tempo, podemos determinar a dissipação de potência em um transistor como sendo: 7Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento É importante ressaltar que, em um circuito, os transistores fazem um papel interme- diário, ou seja, eles têm por função ser uma chave ou um amplificador de sinais. Com isso, quanto menor a potência dissipada por esse transistor, mais eficiente ele será no circuito em que será inserido; deve-se sempre levar isso em conta na polarização dos transistores. O ganho e a reta de carga no transistor bipolar O ganho de corrente Conforme já mencionado, o aumento na corrente de base do transistor é proporcional ao aumento da corrente de coletor. Essa relação é denominada ganho de corrente e tem como parâmetro a letra grega beta (β). Com isso, é possível determinar a corrente na base em função da corrente no coletor e vice-versa, tendo em mãos a seguinte relação: ou Existe outro sistema de análise de ganho de corrente em um transistor, denominado hFE. Esse parâmetro é equivalente ao β e é o parâmetro que será encontrado em folhas de dados, conforme lecionam Malvino e Bates (2016). Para correntes alternadas, existe uma variação do ganho, e este é apresentado nas folhas de dados como sendo hfe. Embora o mencionado ganho de corrente seja uma constante, na prática esse valor pode variar em uma faixa de valores, entre mínimo e máximo, que é apontada nas folhas de dados. Utilizando como exemplo o transistor 2N3904, para uma mesma corrente de coletor, ele pode ter seu parâmetro β variando entre 100 e 300. Um valor apropriado para cálculo seria um valor intermediário, pois a maioria dos transistores teriam esse ganho de corrente, segundo Malvino e Bates (2016). Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento8 Outro fator que dificulta a determinação de um valor fixo de ganho de corrente é apresentado na Figura 7, onde é notável a variação do ganho de cor- rente em função da corrente do coletor e em função da temperatura da junção. Figura 7. Gráfico da tensão de coletor em função do ganho do transistor. Fonte: General… (2012, documento on-line). Muitos multímetros têm uma função que mede o ganho de corrente dos transistores conforme apresentado — basta conectar os pinos correspondentes nos terminais indicados e selecionar no multímetro a função hFE, conforme mostra a figura a seguir. Fonte: Instrumentação... (2013). 9Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento A reta de carga A reta de carga demonstra de forma gráfi ca todas as possibilidades de operação de um transistor em relação à sua tensão coletor-emissor e à sua corrente de coletor. Os dois extremos da operação de um transistor se dão quando o mesmo não tem corrente circulando pelo coletor, o que é denominado região de corte, e quando a corrente que circula por ele é máxima, com a menor queda de tensão possível entre o coletor e o emissor, sendo a relação VCE e IC inver- samente proporcional. A tensão VCE e a corrente IC podem ser estimadas com a utilização da reta de carga. Os dois extremos da operação do transistor, então, podem ser definidos matematicamente como sendo, no corte: Pois, como a resistência coletor-emissor será muito alta, praticamente toda queda de tensão estará em cima dos terminais do transistor. Já quando o transistor estiver saturado, sua corrente será máxima, tendo como limitador apenas o resistor de carga do coletor. Com isso, podemos determinar a corrente de saturação como sendo: A reta de carga é apresentada na Figura 8, onde temos um traço ligando a corrente de saturação à tensão de corte. Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento10 Figura 8. Gráfico da tensão do coletor-emissor versus corrente do coletor, com sua devida reta de carga. Fonte: Adaptada de Shuler (2013). Na Figura 9a é apresentado um circuito sem resistência na base, o que leva a uma corrente de coletor máxima e a uma queda de tensão próxima de zero entre o coletor e o emissor, saturando o transistor. Na Figura 9b é apresentado o mesmo circuito, porém com uma corrente na base igual a zero, fazendo com que a corrente no coletor também seja zerada e o transistor entre em corte. A Figura 9c apresenta o circuito em que foi definida uma corrente de base aleatória que gerará uma corrente de coletor. Nesse exemplo, a corrente de coletor é de aproximadamente 6 mA e a tensão VCE é de aproximadamente 10 V. Voltando para a Figura 8, percebemos que o ponto Q apresentado na figura está no ponto em que ocorre a relação entre os valores da tensão e corrente da Figura 9c. Esse ponto Q é denominado ponto quiescente ou ponto de ope- ração, e o mesmo pode se mover sobre a reta de carga da região de corte até a saturação, dando a possibilidade de verificarmos a relação entre a corrente de coletor e a tensão coletor-emissor. 11Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento Figura 9. (a) Transistor saturado, (b) transistor em corte e (c) transistor trabalhando em um ponto de operação intermediário. Fonte: Adaptada de Proteus (2016). Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento12 GENERAL Purpose Transistors: NPN Silicon. On Semiconductors, ago. 2012. Disponível em: <https://www.onsemi.com/pub/Collateral/2N3903-D.PDF>. Acesso em: 27 set. 2018. HOROWITZ, P.; HILL, W. A arte da eletrônica. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. INSTRUMENTAÇÃO: como usar um multímetro. Arduino brasil, 10 jan. 2013. Disponí- vel em: < http://arduinobrasil.blogspot.com/2013/01/instrumentacao-como-usar-o- -multimetro-55.html>. Acesso em. 27 set. 2018. MALVINO, A.; BATES, D. J. Eletrônica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. v. 1. PROTEUS. Version 8.5: Labcenter, 2016. Disponível em: <https://www.labcenter.com/ downloads/>. Acesso em: 27 set. 2018. SHULER, C. Eletrônica I. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. 13Transistores bipolares: princípio físico de funcionamento Conteúdo:
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