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T18 LUTO NO VIRTUAL verificação da relação entre as fases do luto e a extinção operante a partir da vivência compartilhada em uma rede social virtual

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FABIANO FAGUNDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
LUTO NO VIRTUAL: verificação da relação entre as fases do luto e 
a extinção operante a partir da vivência compartilhada em uma rede 
social virtual 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palmas – TO 
2012
12 
 
FABIANO FAGUNDES 
 
LUTO NO VIRTUAL: VERIFICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE AS FASES DO LUTO E A 
EXTINÇÃO OPERANTE A PARTIR DA VIVÊNCIA COMPARTILHADA EM UMA REDE 
SOCIAL VIRTUAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) 
elaborado e apresentado como requisito 
parcial para obtenção do título de 
Psicólogo pelo Centro Universitário 
Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA). 
 
Orientadora: Profª. Dra. Ana Beatriz 
Dupré Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palmas – TO 
2012 
 
13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária – Maria Madalena Camargo – CRB8/298 
 
 
Fagundes, Fabiano 
F156l Luto no virtual: verificação da relação entre as fases do luto 
e a extinção operante a partir da vivência compartilhada em uma 
rede social virtual / Fabiano Fagundes. – Palmas, 2012 
 61fls.; 29cm 
 
 
 Orientação: Profª. Dra. Ana Beatriz Dupré Silva 
 TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Psicologia - Centro 
Universitário Luterano de Palmas. 2012 
 
 
 1. Análise de contingências. 2. Luto. 3. Redes sociais virtuais. 
I. Título II. Psicologia. 
 
 CDU: 159.9.072 
 
14 
 
 
 
15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao Cravo e à Rosa 
 
 
 
 
16 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço à professora Ana Beatriz, pela orientação valiosíssima e pelo apoio 
que me deu em tantos momentos difíceis. Agradeço também às professoras 
Irenides e Lauriane, pela participação em minha banca junto com a professora Ana 
Beatriz. A vocês três meu muito obrigado pelas palavras, pelas contribuições. 
Obrigado por aquele gesto milimétrico de aprovação, de apoio, de carinho que vocês 
deixavam escapar ali da banca (ou será que eu estava percebendo demais?) e que 
me empurravam pra frente. E obrigado pelas orientações que foram muito 
importantes para chegar a este resultado. 
Agradeço, de forma muito especial, a Cristina e a Parcilene que, passando 
pelo mesmo processo, não me deixaram desistir quando a coisa ficou feia (e como 
ficou). Só cheguei aqui por culpa de vocês! Vocês sabem disso! Obrigado a 
Madianita pelo apoio sempre presente ali na mesa ao lado, pela paciência e 
palavras de estímulo (e pelas barras de cereais). 
Obrigado aos professores de Sistemas pela paciência comigo nestes dias, 
não é mesmo Fernando, Jackson e Edeilson? E, é claro, obrigado a Diemy e a 
Kelen, pela torcida silenciosa nos momentos em que sabiam que o silêncio era a 
melhor ajuda. 
Muito, muito obrigado mesmo, Deley, Pierre e Pedro por inventarem coisas 
pra não me deixar pra baixo enquanto estava enfrentando este tema particularmente 
tão difícil. Só eu sei a paciência que cada um de vocês teve comigo, de diferentes 
formas, em diferentes momentos. 
Valeu o apoio, pessoal da Psicologia, alunos e professores, de hoje e de 
ontem, que me acompanharam nesta jornada. 
E obrigadão aos alunos de Sistemas e de Computação que, na maior parte 
das vezes sem saber, foram peças de resistência em momentos de muita 
dificuldade. Dar aulas para vocês, felizmente, é algo que sempre ajuda a recarregar 
as baterias. 
Ao meu pai, a minha mãe, aos meus irmãos, pela presença e pela ausência. 
Não sei qual foi mais importante ou mais sofrida nestes dias. Mas com certeza, a 
ausência se fez presente, e a presença se fez ausente, e tudo isso apareceu, de 
alguma forma, aqui, neste trabalho. 
17 
 
 “A morte não é nada 
Eu somente passei 
Para o outro lado do caminho. 
 
Eu sou eu, vocês são vocês. 
O que eu era para vocês, 
Eu continuarei sendo. 
 
Me deem o nome 
Que vocês sempre me deram, 
Falem comigo, 
Como vcs sempre fizeram 
 
Vocês continuam vivendo 
No mundo das criaturas, 
Eu estou vivendo 
No mundo do Criador. 
 
Não utilizem um tom solene 
Ou triste, continuem a rir 
Daquilo que nos fazia rir juntos. 
 
Rezem, sorriam, pensem em mim. 
Rezem por mim. 
 
Que meu nome seja pronunciado 
Como sempre foi, 
Sem ênfase de nenhum tipo. 
Sem nenhum traço de sombra 
ou tristeza. 
 
A vida significa tudo 
O que ela sempre significou, 
O fio não foi cortado. 
Por que eu estaria fora 
De seus pensamentos, 
Agora que estou apenas fora 
De suas vistas? 
 
Eu não estou longe, 
Apenas estou 
Do outro lado do caminho... 
 
Você que aí ficou, siga em frente, 
A vida continua, linda e bela 
Como sempre foi.” 
 
(Texto no Orkut da Lembrança da Missa de 1 ano de falecimento do “Cravo”) 
 
18 
 
RESUMO 
 
A correria do mundo moderno e as novas regras sociais impostas pela sociedade 
impossibilitam às pessoas a vivência do luto nas expressões existentes no passado, 
como a reclusão e a utilização de roupas pretas por um longo período de tempo. 
Assim, muitas pessoas têm se utilizado da exposição nas redes sociais virtuais como 
forma de demonstrar o luto por seus entes queridos e, também, obter reforço social 
e feedback verbal no mesmo meio. Este trabalho direciona-se para a verificação da 
existência deste paralelo através da análise dos textos representativos da condição 
de luto conforme dispostos em uma rede social virtual no mural de recados de um 
sujeito recentemente falecido. Desta forma, busca-se observar, no comportamento 
verbal ali encontrado, as fases do luto como descritas na literatura, bem como a 
existência ou não de uma curva de extinção e, assim, verificar a relação entre estes 
dois conceitos. 
 
 
Palavras-chave: Luto no virtual, redes sociais virtuais, análise de contingências. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
ABSTRACT 
 
The rush of the modern world and the new social rules imposed by society make it 
impossible for people to experience the existing expressions of grief in the past, such 
as the use of seclusion and black clothes for a long period of time. So many people 
have used exposure in virtual social networks as a way to show mourning for their 
loved ones and also get social reinforcement and verbal feedback in the same way. 
This work is directed to verify the existence of this parallel through the analysis of 
texts representative of the condition of mourning as arranged in a virtual social 
network in the message board of a recently deceased subject. Thus, we seek to 
observe the verbal behavior found there, the stages of grief as described in the 
literature as well as the existence or not of an extinction curve, and thus verify the 
relationship between these two concepts. 
 
 
 
Keywords: Mourning in virtual world, virtual social networks, contingency analysis. 
 
20 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
FIGURA 1 – Gráfico com a disposição dos dados de maio/07 a abril/08 ..................... 52 
FIGURA 2 – Gráfico com a disposição dos dados de maio/08 a maio/09 ..................... 53 
FIGURA 3 – Comparação entre frequência de negação e de aceitação ....................... 54 
 
 
21 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
TABELA 1 – Paralelo entre as fases da curva de extinção com as fases do luto 
descritas por Kübler-Ross ............................................................................................. 18 
TABELA 2 – Contabilização das demonstrações das fases do luto a partir do 
comportamento verbal de Rosa .................................................................................... 51 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11 
2 REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................... 13 
2.1 Análise do Comportamento .............................................................................................. 13 
2.1.1 Comportamento e Condicionamento Operante ......................................................... 14 
2.1.2 Extinção Operante ..................................................................................................... 15 
2.2 Luto ................................................................................................................................... 18 
2.2.1 Negação e isolamento ................................................................................................ 19 
2.2.2 Raiva .......................................................................................................................... 20 
2.2.3 Barganha .................................................................................................................... 21 
2.2.4 Depressão .................................................................................................................. 21 
2.2.5 Aceitação ................................................................................................................... 22 
2.3 Redes Sociais Virtuais ...................................................................................................... 23 
2.4 O Luto no Virtual ............................................................................................................. 25 
3 METODOLOGIA ...................................................................................................... 27 
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................ 29 
4.1 Transcrição das respostas verbais ..................................................................................... 29 
4.2 Separação dos segmentos de comportamentos verbais de interesse ................................. 29 
4.3 Inferências ........................................................................................................................ 49 
4.4 Análise dos dados ............................................................................................................. 50 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 56 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 58 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1 INTRODUÇÃO 
A popularização das redes sociais virtuais, como o Orkut e o Facebook, e sua 
utilização pelos seus usuários como forma de expressar suas emoções, 
sentimentos, preocupações, ideologias entre outras características, levanta a 
possibilidade de um psicólogo valer-se destas expressões para acompanhar como 
se dá o comportamento verbal do paciente neste meio e hipotetizar intervenções. 
Uma destas expressões, que se encaixa em uma visão de algo obsoleto, 
antigo, desnecessário, é a expressão do luto, em suas diferentes formas, que 
aparenta não ter lugar em um mundo em que não se pode perder tempo, em que a 
roda da vida parece girar cada vez mais rápido, em que modas e modismos ditam a 
necessidade de se estar coerente, em seu exterior, com o momento e local nos 
quais a pessoa está presente, e não com o momento particular da vida de quem 
perdeu alguém muito próximo. 
A velocidade dos acontecimentos no mundo atual, a necessidade premente 
de se estar a par de tudo e acompanhar este ritmo veloz e, por vezes, 
aparentemente inalcançável, o aumento do conjunto de responsabilidades e o fato 
de muitas delas passarem a ser compartilhadas por todos os membros da família, 
enfim, aquilo que se costuma chamar de “a loucura do dia a dia”, impossibilitam que 
muitas expressões de sentimento sejam plenamente vivenciadas. Muitas destas são 
deixadas de lado, ou em segundo plano, às vezes por serem vistas como fora de 
moda, obsoletas e até mesmo desnecessárias de serem expostas no momento 
social atual. 
Apesar deste ritmo frenético, ou por causa dele, percebe-se que muitas 
pessoas passam a utilizar recursos outros que não os tradicionais para expressar 
sua dor e seu pesar quando vivenciando situações de luto. Um destes recursos, alvo 
de estudo deste projeto, é a divulgação e compartilhamento de emoções nas redes 
sociais virtuais. 
A composição do texto e a frequência com que se dá a exposição dos 
sentimentos pelos usuários desta rede, no que tange à vivência do luto, podem 
denotar um modelo de comportamento que busca um reforço permanente. Na 
inexistência ou diminuição de reforçadores, pode haver a diminuição também desta 
exposição, em um possível processo de extinção do comportamento operante. 
12 
 
Bravin (2010, online) descreve um paralelo entre as fases da curva de 
extinção e as fases do luto descritas por Kübler-Ross (2008) conforme apresentado 
por Paul Andronis (2006) em uma palestra da Associação Brasileira de Psicologia e 
Medicina comportamental (ABPMC) em 2006. 
Este trabalho direciona-se para a verificação da existência deste paralelo 
através da análise dos textos representativos da condição de luto conforme 
dispostos em uma rede social virtual no mural de recados da pessoa recentemente 
falecida. Desta forma, buscou-se observar no comportamento verbal ali encontrado 
as fases do luto, como descritas na literatura, bem como a existência ou não de uma 
curva de extinção e, assim, verificar a relação entre estes dois conceitos. Este 
trabalho parte da premissa de que é possível utilizar a auto exposição realizada por 
um cliente nas redes sociais virtuais como forma de acompanhar seu 
comportamento verbal em relação à vivência das etapas do processo do luto 
considerando o estabelecimento de uma curva de extinção. 
A partir desta observação, foi possível identificar uma forma de utilizar o 
comportamento verbal expresso nos comentários em uma rede social como 
instrumento de apoio ao psicólogo em sua atuação junto a um paciente que tenha o 
hábito de utilizar tais recursos. Assim, busca-se, ao analisar a vivência do luto por 
um sujeito em uma rede social virtual, através do seu discurso, se é possível definir 
a viabilidade de utilizá-la como instrumento de apoio à terapia comportamental, de 
forma que facilite ao psicólogo organizar e planejar suas intervenções. 
Para isso, este trabalho objetiva verificar a viabilidade de o psicólogo utilizar a 
auto exposição realizada por um cliente nas redes sociais virtuais como forma de 
acompanhar seu comportamento verbal e os reforçadores obtidos para assim 
auxiliá-lo na organização e planejamento de suas intervenções. Isso se dá a partir 
do estudo e organização das fases/etapas do luto e estágios de tristeza pela perda 
de um ente querido, conforme apresentados na literatura e o estabelecimento da 
relação desta organização às fases da curva de extinção. Na sequência, 
acompanha-se o discurso de um usuário de rede social virtual exposto no scrapbook 
(mural de recados) de um ente falecido verificando se segue a relação luto-curva de 
extinção estabelecida. Para isso, são verificados também os reforçadores obtidos a 
partir do discurso do usuário da rede e como se dá a extinção frente a estes 
reforçadores, bem como os meios e as formas de intervenção possíveis de serem 
realizadas em um processo terapêutico a partir deste acompanhamento. 
13 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
2.1 Análise do Comportamento 
O Behaviorismo consiste em um conjunto de teorias psicológicas que 
estudam, a princípio, o comportamento dos organismos. “Assim como o ambiente 
pode ser analisado em diferentes níveis, o comportamento pode ser entendido em 
diferentes graus de complexidade” (TODOROV, 2007, p. 59). O termo Behaviorismo 
foi apresentado por J. B. Watson, em um manifesto publicado em 1913. Desde 
então, essa teoria foisendo modificada por vários cientistas, onde se inclui Burrhus 
Frederic Skinner que, em 1945, utilizou o termo Behaviorismo Radical para 
diferenciar sua linha de pensamento da teoria de Watson, a qual chamou de 
Behaviorismo Metodológico para diferenciação (CARRARA, 2005). 
Teixeira Jr. e Souza (2006, p. 22) descrevem o Behaviorismo Radical como “a 
filosofia da ciência que tem como objetivo o estudo de todos os comportamentos, 
negando radicalmente a existência de quaisquer eventos metafísicos no controle dos 
mesmos”. Segundo Moreira e Medeiros (2007, p. 217), “para Skinner os eventos 
compreendem estímulos antecedentes, respostas e consequências que, quando são 
observáveis por mais de uma pessoa ao mesmo tempo, são chamados de públicos”. 
A Análise do Comportamento é uma abordagem psicológica que busca 
compreender o ser humano a partir da sua relação com o ambiente e vai buscar na 
filosofia Behaviorista Radical seu objeto de estudo, os conceitos que dão 
embasamento para o estudo do comportamento humano a partir da sua interação 
com o ambiente. Em relação ao papel do ambiente no estudo dos comportamentos, 
Skinner (1982, p. 17) coloca que 
é tão fácil observar sentimentos e estados mentais, num momento e 
num lugar, que fazem parecer sejam elas as causas, que não nos 
sentimos inclinados a prosseguir na investigação. Uma vez porém, 
que se começa a estudar o ambiente, sua importância não pode mais 
ser negada. 
Moreira e Medeiros (2007, p. 213) destacam que o conceito de ambiente, na 
Análise do Comportamento, refere-se ao mundo físico, ao mundo social, à nossa 
história de vida e à nossa interação com nós mesmos, ou seja, tudo que nos afeta 
de algum modo. 
Assim, a Análise do Comportamento busca identificar como os indivíduos 
reagem com o ambiente, em uma estrutura condicional que permite definir que as 
14 
 
consequências que um determinado comportamento produziu no passado 
influenciam na sua ocorrência hoje. De igual forma, considerando o condicional, se 
for provocada uma alteração nas consequências do comportamento, este terá uma 
grande probabilidade de ser modificado. 
Skinner (1990) apresenta que o comportamento humano é produto de três 
tipos de variação e seleção: seleção natural, “responsável pela evolução da espécie, 
prepara a espécie somente para um futuro que se assemelhe com o passado que a 
selecionou”, ou seja, a filogênese; condicionamento operante, em que “o 
comportamento é reforçado, no sentido de ser fortalecido ou tornado mais provável 
de ocorrer, por certos tipos de consequências”, ou seja, a ontogênese; evolução de 
processos, onde “os indivíduos tiram proveito de comportamentos já adquiridos por 
outras pessoas”, aquilo que podemos chamar de cultura. 
 
2.1.1 Comportamento e Condicionamento Operante 
O comportamento operante é descrito por Moreira e Medeiros (2007) como 
aquele comportamento que produz consequências (modificações no ambiente) e é 
afetado por elas. O condicionamento operante representa um tipo de aprendizagem 
que faz referência a comportamentos que são aprendidos em função de suas 
consequências, em um claro entendimento de que as consequências de nossos 
comportamentos vão influenciar suas ocorrências futuras. 
Assim, tem-se o condicionamento operante baseado em três termos: a) uma 
situação (estímulo antecedente); b) uma resposta (comportamento) e c) uma 
consequência (estímulo consequente). Quando algumas consequências aumentam 
a probabilidade de o comportamento acontecer novamente, tem-se o reforço. 
“Reforço é um tipo de consequência do comportamento que aumenta a 
probabilidade de um determinado comportamento voltar a ocorrer” (MOREIRA e 
MEDEIROS, 2007, p. 51), ou seja, a “frequência da resposta que precedeu esta 
consequência foi aumentada” (DAVIDOFF, 1983, p. 179). 
Skinner (1953/1998) apresenta o reforço positivo como aquele que ocorre 
quando são apresentados estímulos que fazem com que a situação se repita, os 
estímulos reforçadores. Davidoff (1983) descreve que o reforço pode ser positivo 
sempre que a apresentação de um evento que se segue a um operante aumenta a 
probabilidade de o operante ocorrer em situações semelhantes. Às vezes um evento 
15 
 
considerado desagradável pode funcionar como reforçador positivo, pois como é 
definido em termos por seus efeitos não há como saber o que poderá funcionar 
como reforçador positivo (BAUM, 1999). 
O reforço pode ser negativo sempre que a supressão de um dado evento 
consequente a um operante aumenta a probabilidade de um operante ocorrer em 
situação semelhante, ou seja, é o que ocorre quando é removido algo da situação 
que possibilita que o comportamento se repita, ou seja, ocorrem os estímulos 
aversivos (SKINNER, 1953/1998, DAVIDOFF, 1983). O reforçador negativo aparece 
sempre que ocorre a supressão de um evento que aumente a probabilidade de um 
comportamento se repetir em situações semelhantes, este reforço reforça aqueles 
operantes que livram os organismos de experiência considerada desagradável e/ou 
irritante (BAUM, 1999). 
Tanto no reforço positivo quanto no negativo, o resultado é o aumento da 
probabilidade de uma resposta acontecer, ou seja, o aumento da frequência de um 
determinado comportamento. 
A punição ocorre, segundo Skinner (1953/1998), quando os eventos 
consequentes ao comportamento tendem a suprimir o comportamento que os 
produz. A punição, ao contrário do reforço, é o evento que reduzirá a frequência de 
um comportamento, sendo dividido em punição positiva e negativa. 
A punição positiva ocorre quando um evento é apresentado e este reduz a 
frequência do operante em outras situações parecidas. A punição negativa ocorre 
com a supressão ou adiantamento que reduz a frequência do comportamento em 
situações semelhantes (BAUM, 1999). Existe também a punição positiva, decorrente 
da apresentação de uma consequência desagradável após a realização de um 
comportamento não desejado; e a punição negativa, oriunda da remoção de um 
evento agradável após a realização de um comportamento não desejado. 
 
2.1.2 Extinção Operante 
Tem-se a extinção quando, ao ser retirado o reforço para uma dada resposta, 
o comportamento declina gradualmente em frequência até que passa a ocorrer não 
mais frequente do que ocorria antes do condicionamento (Davidoff, 1983). Após um 
comportamento ter sido inserido no repertório do sujeito pode ser retirado através da 
extinção, que consiste na retirada do reforço para a dada resposta. 
16 
 
Com a extinção a frequência do comportamento vai se declinando 
gradualmente. Desta forma, quando, com a suspensão do reforço há o retorno da 
frequência do comportamento ao nível operante, tem-se a Extinção Operante, assim 
explicada por Moreira e Medeiros (2007, p. 51): 
Quando suspendemos (encerramos) o reforço de um 
comportamento, verificamos que a probabilidade de esse 
comportamento ocorrer diminui (retorna ao seu nível operante, isto é, 
a frequência do comportamento retoma aos níveis de antes de o 
comportamento ter sido reforçado) (...) Portanto, a suspensão do 
reforço tem como resultado a gradual diminuição da frequência de 
ocorrência do comportamento. 
Tanto a extinção e a punição tendem a diminuir a frequência dos 
comportamentos, porém, na extinção, o comportamento tende a diminuir de 
frequência em função da retirada de reforços contingentes à resposta, ou seja, 
aqueles que são responsáveis pela sua manutenção. Bravin (2008, p. 1, grifos do 
autor) descreve que o conceito de extinção operante pode ter duas acepções: “para 
um comportamento reforçado positivamente, enquanto operação, extinção refere-se 
à suspensão do reforço do responder. Enquanto processo, refere-se à redução no 
responder que tal operação produz”. 
Sobre as curvas de extinção, Skinner (1953/1998, p. 69-70) esclarece que 
“em condições apropriadas curvas regulares podem ser obtidas, nas quais a taxa de 
resposta declina lentamente” eque “o comportamento durante a extinção é resultado 
do condicionamento que a precedeu e, nesse sentido, a curva da extinção fornece 
uma medida adicional do efeito do reforçamento”. 
Andery e Sério (2007) apresentam três aspectos que devem compor a 
definição de extinção: uma relação entre resposta e reforço já estabelecida, a 
quebra desta relação e as alterações no responder produzidas por esta ruptura. 
Uma extinção estará completa quando a frequência de resposta voltar ao nível 
operante (MATOS; TOMANARI, 2002). 
Millenson (1970, p. 104) apresenta o que chama de uma definição completa 
de extinção: 
DADA: uma resposta operante previamente fortalecida. 
PROCEDIMENTO: retirar o reforço do operante. (...) 
PROCESSO: 
1. um declínio gradual um tanto irregular da taxa marcado por 
aumentos progressivos na freqüência de períodos 
relativamente longos de não responder. 
2. um aumento na variabilidade da forma (topografia) e da 
magnitude da resposta. 
17 
 
3. uma ruptura gradual dos elos ordenados que constituem o 
comportamento fortalecido. 
RESULTADO: os processos comportamentais aproximam-se de 
estados de nível operante como valores limites. 
Catania (1999) descreve dois critérios que estão sendo adotados para medir a 
resistência à extinção: o número de respostas emitidas durante a extinção; ou o 
período de tempo em que respostas são emitidas, sendo necessário estabelecer um 
critério para definir o que pode ser considerado como extinção. Skinner (1953/1998, 
p. 70) explica que 
O comportamento durante a extinção é resultado do 
condicionamento que a precedeu e, nesse sentido, a curva da 
extinção fornece uma medida adicional do efeito do reforçamento. 
(...) A resistência à extinção não pode ser predita a partir da 
probabilidade da resposta observada em um dado momento. 
Devemos conhecer a história de reforçamento. 
Assim, a curva de extinção deve ser observada pois tem relação direta com o 
condicionamento que a precedeu. Keller e Schoenfeld (1968, p. 71) descrevem que 
a curva de extinção para uma resposta até então regularmente 
reforçada (isto é, com um reforçamento para cada emissão) é 
geralmente, senão sempre, bastante desigual. Começa com uma 
inclinação maior (frequência de resposta mais alta) do que a 
inclinação durante o reforçamento regular, em parte porque as 
respostas não são mais separadas pelo tempo gasto no comer e em 
parte porque o animal tende a atacar vigorosamente a barra (...). 
Depois, a curva é marcada por mudanças de frequência que se 
assemelham a ondas, as quais a distorcem localizadamente, embora 
ainda permitam traçar uma ‘curva padrão’ que descreve a tendência 
geral. Esses jorros e depressões da resposta poderiam ser 
caracterizados em termos emocionais, o paralelo das mais 
complexas frustrações e agressões vistas no homem. 
Wood (s.d., online) descreve assim os efeitos de retirar a consequência 
(reforçadora) do comportamento: 
a) A frequência da resposta aumenta abruptamente no início da 
extinção; 
b) A variabilidade da forma (topografia) da resposta aumenta; 
c) A ordem de ocorrência das respostas se altera; 
d) Sensações (respostas) emocionais como as “expectativas 
frustradas”, raiva, irritação, ansiedade, são produzidas. 
e) Com o passar do tempo a frequência da resposta começa a 
declinar de modo irregular até o comportamento ser extinto. 
Bravin (2010, online) relata que Paul Andronis (2006) apresentou em sua 
palestra na Reunião da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina 
Comportamental (ABPMC) o seguinte paralelo entre as fases da curva de extinção 
com as fases do luto descritas por Kübler-Ross: 
18 
 
 
Tabela 1: Paralelo entre as fases da curva de extinção com as fases do luto 
descritas por Kübler-Ross 
 
Kübler-Ross Extinção 
Negação Burst1 
Raiva Agressividade Adjuntiva2 
Barganha Variabilidade Comportamental 
Depressão Diminuição da taxa de resposta acompanhada de respondentes 
Aceitação Retorno ao nível operante 
 
No seu comentário, Bravin (2010, online) apresenta, a partir da explanação de 
Andronis, que: 
Todas estas cinco etapas acontecem durante a fase de extinção 
operante. O paralelo é feito pois a Kubler Ross, como psiquiatra 
psicanalista (salvo engano) pensa o luto como algo subjetivo, o 
luto quando se recebe um diagnóstico terminal, por exemplo. Neste 
caso a leitura seria do luto como a retirada de um reforçador crítico 
para a pessoa (tratando-se de doenças crônicas, coisas relacionadas 
ao seu estilo de vida, por exemplo) e daí a aproximação com a 
extinção operante. 
 
Estas relações são objeto de estudo deste trabalho a partir da análise do discurso, 
em uma rede social virtual, de uma mãe enlutada pela perda recente de seu filho. A 
importância das redes sociais e do luto vivenciado nas mesmas será abordada em 
seções futuras. 
2.2 Luto 
O luto consiste na tristeza decorrente de uma perda, de uma ausência, de 
algo ou alguém. O luto advindo da ausência permanente de alguém geralmente 
causa dor, pesar, sofrimento, raiva, entre outras emoções. Sua elaboração pode 
acontecer de várias formas, dependendo da idade do enlutado, da cultura, das 
crenças, da vida social e financeira, de quão repentina foi a perda etc., mas 
 
1 Burst é o “jorro constante de respostas mesmo na ausência da apresentação do reforço” (BRAVIN, 
2008, p. 8). 
2 Os comportamentos adjuntivos não foram explorados neste trabalho, porém tal termo foi mantido 
como consta na citação de Bravin sobre a fala de Andronis. 
19 
 
frequentemente perpassa pelas etapas de negação e isolamento, raiva, barganha, 
depressão e aceitação, descritas por Kübler-Ross (2008) em suas observações 
sobre as reações de pacientes desenganados ou em estado grave perante a morte e 
o morrer. 
Markham (2000), tratando sobre a perda em si, após a morte, traça a seguinte 
progressão: incredulidade ou negação, tristeza, raiva, culpa, medo, aceitação, paz. 
Lidando com o enfrentamento da morte, ou com a perda de alguém próximo e 
querido, tem-se uma série de reações que não necessariamente ocorrem em uma 
determinada ordem lógica, ainda que se possa prever uma certa predisposição para 
algumas ocorrerem no início e outras predominarem mais ao fim do processo de 
enlutamento. Neste trabalho, optou-se por utilizar as etapas propostas por Kübler-
Ross, com adendos obtidos a partir das referências dos demais autores. 
 
2.2.1 Negação e isolamento 
Kübler-Ross (2008, p. 43) descreve que “ao tomar conhecimento da fase 
terminal de sua doença, a maioria (...) reagiu com esta frase: ‘Não, eu não, não pode 
ser’ ”, em uma clara recusa em aceitar algo que se apresenta como inevitável. 
No processo de negação estes pacientes elaboravam situações 
imponderáveis, mas que se mostravam, para eles, extremamente possíveis de 
ocorrer, como uma eventual troca de exames, erros nos nomes, falha nos 
procedimentos. De certa forma, apresenta-se como uma necessidade do paciente 
para que ele não tenha que encarar a morte de forma tão abrupta e prematura. “Há 
quem diga: ‘Não podemos olhar para o sol o tempo todo, não podemos encarar a 
morte o tempo todo’ ” (KÜBLER-ROSS, 2008, p. 44). 
É importante observar que, “comumente, a negação é uma defesa temporária, 
sendo logo substituída por uma aceitação parcial. A negação assumida nem sempre 
aumenta a tristeza (...)”(KÜBLER-ROSS, 2008, p. 44). Desta forma, não se deve 
trabalhar a negação como uma forma de reduzir a tristeza, pois a existência de uma 
não está diretamente ligada ao incremento da outra. 
 
20 
 
2.2.2 Raiva 
 “Quando não é mais possível manter firme o primeiro estágio de negação, ele 
é substituído por sentimentos de raiva, de inveja e de ressentimento. Surge, lógica, 
uma pergunta: ‘Por que eu?’ ” (KÜBLER-ROSS, 2008, p. 55). 
A raiva se propaga em todas as direções e projeta-se no ambiente, muitas 
vezes sem razão plausível. 
Kübler-Ross (2008, p. 56) justificaa raiva que surge nos pacientes: 
Talvez ficássemos também com raiva se fossem interrompidas tão 
prematuramente as atividades de nossa vida; se todas as 
construções que começamos tivessem de ficar inacabadas, 
esperando que outros a terminassem; se tivéssemos economizado 
um dinheiro suado para desfrutar mais tarde de alguns anos de 
descanso e prazer, viajando ou nos dedicando a passatempos 
prediletos, e, ao final, nos deparássemos com o fato de que “isso não 
é para mim” 
 
O mesmo pode ser entendido, de forma análoga, para quem perdeu um 
parente, um amigo muito próximo. Como ficam, na cabeça “de quem fica”, as 
promessas de quem partiu? Como serão os próximos feriados sem aquela pessoa? 
As datas festivas que virão pela frente? E aquele bem que ele pretendia adquirir? O 
que fazer com tantos sonhos que se foram junto com ele? 
De maneira semelhante, vislumbra-se, com raiva, a vida que segue: é alguém 
que não vai conhecer o neto (que ainda nem planejado está); é a formatura do filho 
que ele não poderá presenciar; é a viagem de segunda lua-de-mel que nunca se 
realizará. Independentemente de existir vida em questão, como o neto que poderá 
nascer, o filho que ainda está vivo e prestes a concluir um curso, a esposa que 
segue viva; a raiva existe porque ele, que morreu, não estará lá. 
A raiva pode ser direcionada a muitos elementos. A quem morreu, afinal, “que 
ousadia ir embora e deixá-lo para enfrentar tudo sozinho!” (MARKHAM, 2000, p. 57). 
Ou ainda a quem não sofreu como a pessoa enlutada, afinal, por que todos os 
casais ainda estão juntos, se ela perdeu a pessoa amada? Kübler-Ross (2008, p. 
59) ressalta, perante a situação enfrentada, 
a importância de tolerarmos a raiva, racional ou não, do paciente. (...) 
Temos de aprender a ouvir os nossos pacientes e até, às vezes, a 
suportar alguma raiva irracional, sabendo que o alívio proveniente de 
tê-la externado contribuirá para melhor aceitar as horas finais. 
 
21 
 
 Encarar a raiva como algo inevitável, que faz parte do processo, permite que 
se entenda não o motivo dela acontecer, pois muitas vezes ela ocorre de maneira 
totalmente ilógica, mas sim a necessidade do paciente ter um momento para 
extravasar ali suas dores, medos e frustrações. 
 
2.2.3 Barganha 
 A etapa de barganha não é das mais conhecidas justamente por ter, 
normalmente, uma curta duração. Diz respeito àquela etapa em que o paciente tenta 
obter, tradicionalmente de uma entidade superior, uma recompensa por seu bom 
comportamento. “Graças a experiências anteriores, ele sabe que existe uma leve 
possibilidade de ser recompensado por um bom comportamento e receber um 
prêmio por serviços especiais” (KÜBLER-ROSS, 2008, p. 88). 
Quando é o caso de um paciente em estágio terminal, a recompensa se 
traduziria em um prolongamento da vida, ou a diminuição das dores e demais 
sofrimentos físicos pelos quais está passando. Quando está relacionada à perda de 
alguém, a recompensa está mais ligada ao aspecto sobrenatural, onde se deseja (ou 
até mesmo se afirma) que a pessoa esteja melhor agora do que enquanto estava 
viva, que esteja “em um lugar melhor”, ou que não esteja sofrendo mais. 
 Kübler-Ross (2008, p. 89) ressalta que, “psicologicamente, as promessas 
podem estar associadas a uma culpa recôndita” e que, por isso, é importante o ouvir 
e o acolher nesta etapa, para que se possa entender e buscar, nesta culpa, a forma 
de melhor amparar o paciente. 
 
2.2.4 Depressão 
 Uma etapa de grande impacto na vida dos sujeitos enlutados é a depressão. 
É quando “seu alheamento ou estoicismo, sua revolta e raiva cederão lugar a um 
sentimento de grande perda” (KÜBLER-ROSS, 2008, p. 91). 
 Obviamente, cada pessoa demonstra de sua forma a tristeza perante as 
perdas ocorridas, especialmente ao se considerar os estímulos recebidos em 
situações anteriores que tenham alguma semelhança com a que se está vivendo. 
Entretanto, há de se considerar que, independentemente da forma de expressar 
seus sentimentos, há ali uma perda, e esta perda provocará alguma reação. 
22 
 
 Deve-se abrir um espaço, no turbilhão de sentimentos que envolvem uma 
pessoa enlutada, para verdadeiramente sentir a dor da perda. “A tristeza e o pesar 
que não são admitidos e vividos de forma plena podem ser perniciosos, física e 
emocionalmente” (MARKHAM, 2000, p. 14). 
 Markham (2000, p. 14) comenta sobre as pessoas que, envolvidas no luto, lhe 
perguntam quanto tempo esse período de tristeza dura e quando vai “desaparecer”, 
ao que ela responde: “Essa pergunta não tem uma resposta única. Na verdade, não 
tenho certeza de que desapareça realmente algum dia. Mas pode mudar e tornar-se 
suportável”. 
 
2.2.5 Aceitação 
 A pessoa enlutada, ao atingir aquele estado em que não há depressão nem 
raiva, em que não há a inveja dos que estão vivos, em que não há a barganha com 
Deus, passa a viver em um estado de aceitação. Kübler-Ross (2008, p. 118) coloca 
que não se deve confundir aceitação com felicidade: “É quase uma fuga de 
sentimentos. É como se a dor tivesse esvanecido, a luta tivesse cessado”. 
 Em seu acompanhamento de pessoas em estado terminal Kübler-Ross (2008, 
p. 123) verificou que “os pacientes que melhor reagem são aqueles que foram 
encorajados a extravasar suas raivas, a chorar durante o pesar preparatório, a 
comunicar seus temores e fantasias a quem puder sentar-se e ouvi-los em silêncio”. 
 Por vezes são criadas estratégias, pelos enlutados, para melhor aceitação da 
perda de alguém querido. “Por estar sempre alerta, inquieto, preocupado e pronto 
para encontrar a pessoa perdida, o enlutado dirige sua atenção para as partes do 
ambiente que estão associadas mais proximamente a essa pessoa” (PARKES, 
1998, p. 74). 
Dada a correria da vida moderna, a distância física e temporal entre as 
pessoas, entre outros fatores, podem levar as pessoas a vivenciarem seus lutos no 
mundo virtual, através de participação do seu estado nas redes sociais, o que aqui 
chamamos de luto no virtual. 
 
 
23 
 
2.3 Redes Sociais Virtuais 
A Internet é uma rede de comunicação de dados que interliga computadores 
em todo o mundo, carregando consigo informações as mais variadas, dos mais 
diversos interesses. Como uma de suas ferramentas há a World Wide Web (WWW) 
que apresenta, através de navegadores (os browsers), informações estruturadas 
através de hipertextos. 
No ambiente da WWW surgiram inúmeros sistemas que extrapolaram a 
simples apresentação dos sites de empresas, instituições, lojas etc. Dentre estes 
sistemas, ressaltem-se as Redes Sociais Virtuais, como o Orkut, o Facebook, entre 
outros. Estas redes permitem que usuários cadastrem-se (em alguns formatos, como 
o do Orkut em seu início, por exemplo, o pretendente a novo usuário precisava ser 
convidado por outro usuário, que já faz parte da rede), convidem para sua “rede de 
amigos” outros usuários que já estão no sistema ou que ainda estão fora, montem 
comunidades de discussões sobre os mais variados assuntos, divulguem suas fotos, 
entre outras dezenas de funcionalidades existentes. 
As Redes Sociais Virtuais surgiram através da necessidade de possibilitar e 
facilitar uma comunicação a distância, levando em consideração que as pessoas 
estão em espaços diferentes, mas já se conhecem, permitindo cultivar ainda mais as 
amizades no dia-a-dia, além de poder agregar pessoas que são de âmbitos 
diferentes, oportunizando ao usuário aumentar a sua rede de amigos conhecendo 
pessoas novas com interesses semelhantes (SILVA et al, 2006). 
Assim, as Redes Sociais Virtuais oferecem condições para que laços 
anteriores de amizades se estreitem e que novas amizades surjam. Nestas redes 
são estabelecidas regras oficiais, do próprio sistema, de convívio, em que 
determinadas atitudes são proibidas ou não incentivadas, inclusive com 
possibilidades de punições. Porém, muitas outras regras, não oficiais, acabam 
sendo criadas pelos usuários atravésdo convívio na rede. Com isso, membros são 
banidos de comunidades, outros são ignorados, entre outras formas de ação 
possibilitadas aos usuários. Vale lembrar que 
um dos pré-requisitos para que um grupo tenha uma escala de 
valores comum é a existência de uma linguagem que seja 
perfeitamente compreendida por todos. Para que a cooperação 
aconteça, parte-se, portanto, da certeza de que os sujeitos se estão 
fazendo entender com facilidade, e se expressando com clareza e 
sem ambiguidades (XAVIER et al, 2002, p. 4). 
24 
 
 
A interação entre os membros é o ponto chave destas redes e por isso ela é 
incentivada através da disposição aos usuários de funcionalidades como: escrever 
em murais, enviar recados, construir comunidades, criar e participar de listas de 
discussões, apresentar fotos, comentar as fotos dos amigos, entre outras tarefas. 
Os grupos participantes de discussões na internet criam maneiras de 
manifestar-se, chegando, inclusive e de forma intensamente 
dinâmica, a constituírem uma linguagem que foi construída pelo 
próprio grupo de conversação conforme suas necessidades de 
expressão (XAVIER et al, 2002, p. 5). 
 
Com o tempo, observa-se que são construídas formas de comunicação 
próprias, com símbolos, códigos, que são compreendidos por um determinado grupo 
que possui uma interação maior e que, muitas vezes, dado a característica inerente 
aos grupos de não serem exclusivos (um membro de um grupo pode participar 
ativamente de outro), acabam se espalhando por toda a rede. Os avatares, que 
representam a personificação do usuário na rede, são um exemplo disso. Ao mesmo 
tempo que podem representar fielmente o usuário, com elementos que o identificam, 
como uma foto por exemplo, podem também ser uma idealização deste usuário, na 
criação de um personagem, os chamados fakes. 
O fato de o grupo dominar uma mesma linguagem lhes permite 
negociar um acordo sobre a mesma proposição, concordando sobre 
sua validade ou falsidade, ou pelo menos justificando a diferença de 
seus pontos de vista (RAMOS, 1996, p. 177). 
 
Em um primeiro momento, dada a característica de ser um sistema 
informatizado, e muitas vezes totalmente novo em sua interface para os olhos do 
novo membro, há uma demora na adaptação e inclusive na utilização de todo o 
potencial que a rede oferece. Com o tempo, na medida em que os contatos se 
estabelecem e as trocas se fazem, pela própria curiosidade do usuário, e em 
especial pelo compartilhamento de informações entre os membros da rede, as 
possibilidades que a mesma oferece acabam sendo apreendidas e utilizadas em sua 
totalidade, num processo permanente de aprendizado. Aqui ainda se pode lembrar 
que, com o intuito de manterem-se atrativas, estas redes têm constantemente 
agregadas novas opções de ações, o que leva seus usuários a permanecerem num 
processo contínuo de assimilação e troca de conhecimentos, sentimentos e 
emoções. 
25 
 
2.4 O Luto no Virtual 
O luto vivenciado no mundo real e no mundo virtual possuem suas 
singularidades que merecem ser verificadas, dado que ocorrem em ambientes 
diferentes. “O comportamento não pode ser entendido isolado do contexto em que 
ocorre. Não há sentido em uma descrição de comportamento sem referência ao 
ambiente” (TODOROV, 2007, p. 59). 
 Gurgel et al (2011, p. 10) descrevem que o termo “luto virtual” provavelmente 
aparece pela primeira vez em um artigo de agosto de 1999 da Newsweek, The 
Trouble With Virtual Grief: The pain that so many people feel for JFK Jr. should not 
be confused with the actual suffering of family and friends em que seu autor, Cose 
Ellis, apresenta a internet como um espaço privilegiado em que todos podem 
compartilhar e vivenciar em conjunto um processo de luto. 
 O luto virtual pode ser visto de diferentes formas, e por isso faz-se necessário 
o esclarecimento de como ele será utilizado no contexto deste trabalho. 
 Há o luto virtual observado como a utilização da internet como um local 
privilegiado em que todos podem se unir em torno de um sentimento generalizado 
de perda, tradicionalmente alguma personalidade pública cujo falecimento tenha 
causado uma grande comoção popular. Pode-se considerar também o luto virtual na 
“morte” de um avatar em uma rede social, quando um perfil desaparece e para de 
compartilhar seus comentários, sua “vida virtual” (GURGEL et al., 2011, p. 10). 
 Por fim, há o luto virtual que é a demonstração, na internet, do conjunto de 
sentimentos que envolvem a pessoa naquele momento, seja através de comentários 
em redes sociais, seja pela utilização de tarjas pretas ou com a palavra luto em seus 
avatares (imagens ou fotos que utilizam para ilustrar seus perfis nestas redes). Por 
uma questão semântica, pois consideramos que este luto é real, ainda que 
vivenciado no mundo virtual, preferimos chamá-lo de luto no virtual e é este o objeto 
de estudo neste trabalho. 
 Em relação ao luto no virtual, Filipakis et al (2006, p. 17) consideram que “as 
fases de elaboração são as mesmas, porém, sua forma e intensidade diferem pela 
utilização do potencial de comunicação destas ferramentas para sua expressão” e 
levantaram duas hipóteses em relação à influência do luto no virtual na elaboração 
do próprio luto: 
26 
 
“a) esta forma de enfrentamento auxilia no processo de elaboração 
de cada etapa da perda, por configurar uma forma de socialização e 
extravasamento dos sentimentos dos enlutados; 
b) pode haver um prolongamento desnecessário e martirizador de 
algumas etapas do processo de enlutamento”. 
 Pela primeira hipótese, haveria, pela vivência do luto através das redes 
sociais e através das respostas obtidas pela socialização na comunidade virtual, a 
possibilidade de obter os reforços necessários que permitam elaborar cada uma de 
suas etapas de forma completa. Desta forma, o luto no virtual permitiria uma vivência 
salutar do luto com resultados positivos para os sujeitos envolvidos. Na segunda 
hipótese, há a possibilidade de, nas redes sociais, justamente haver um reforço que 
leve a pessoa a se manter em luto, sem haver um esforço para modificar este 
estado. 
 
27 
 
3 METODOLOGIA 
No desenvolvimento deste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica-
documental que explorou diferentes definições encontradas na literatura dos 
estágios de luto e tristeza pela perda de entes queridos, permitindo que se optasse 
por um formato padrão a ser seguido na execução do trabalho. Esta organização 
será relacionada com a curva de extinção, buscando verificar a relação entre os 
estágios do luto com o momento em que uma classe de respostas operantes deixa 
de produzir os reforços que vinha produzindo. 
Foi definido um sujeito na rede social Orkut em que se observa a vivência de 
uma relação e luto pela perda de um familiar, no caso o seu filho, com a 
consequente busca e armazenamento dos comentários expostos no mural de 
recados. Estes dados são utilizados na análise de frequência dos termos e 
expressões utilizados, relacionando-os a uma curva de tempo que permite observar 
se há estabelecimento de uma curva de extinção. 
A análise de um sujeito na rede social segue o delineamento experimental do 
Sujeito Único, que busca analisar o sujeito individualmente. “Os delineamentos de 
Sujeito Único desenvolveram-se da necessidade de determinar se uma manipulação 
experimental teve efeito num participante individual de uma pesquisa” (COZBY, 
2003, p. 245). “Os delineamentos de sujeito único têm como característica principal 
tratar os sujeitos individualmente, tanto no que se refere às decisões relativas ao 
próprio delineamento, quanto ao processamento dos dados” (SAMPAIO et al., 2008, 
p. 154). 
Assim, foram estudadas as demonstrações deste sujeito na rede social, mais 
especificamente no mural de recados de seu filho, bem como eventuais respostas 
de outros sujeitos no mesmo mural, analisando e contabilizando os estímulose 
respostas verificados. Para isso, foram registradas as interações do sujeito com o 
mural de recados, bem como as subsequentes participações de outros participantes 
da rede, especialmente a namorada de seu filho, pois foi a mais presente em sua 
rede, verificando suas relações com estas interações e o efeito que provocam no 
sujeito como, por exemplo, aumento do número de interações ou modificação no 
conteúdo do texto publicado. Os usuários da rede social foram identificados por 
nomes fictícios para manter o sigilo dos mesmos, tendo sido escolhidos Rosa para a 
mãe, Dália para a namorada e Cravo para o filho. Os demais usuários, que 
28 
 
aparecem ocasionalmente, serão identificados como amigo1, amigo2 e assim 
sucessivamente. Os textos foram transcritos da forma como foram redigidos pelos 
seus autores, porém com grifos em negrito de nossa autoria. O período de análise é 
de maio de 2007 a maio de 2009. 
Gaetta (s.d., online) descreve a análise de contingências como “um 
procedimento que envolve a organização e sistematização de dados coletados por 
observação direta ou através de relato verbal, de modo a compreendê-los em 
termos de relações entre variáveis interdependentes”. 
Realizar a análise de contingências através do relato verbal implica 
reconhecer que 
o comportamento verbal é modelado e mantido por um meio verbal – 
por pessoas que respondem de certa maneira ao comportamento por 
causa das práticas do grupo do qual são membros. Essas práticas e 
a interação resultante entre o falante e o ouvinte produzem os 
fenômenos considerados sob a rubrica de comportamento verbal 
(SKINNER, 1957, p. 226 apud BORLOTI et al., 2008, p. 104). 
 
Ainda que não seja objeto alvo deste trabalho realizar uma Análise 
Comportamental do Discurso (ACD), em sua plenitude, seguiu-se o que Borloti et al. 
(2008) indicam como o início de um procedimento de ACD para poder relacionar 
aspectos dos textos registrados no mural de recados com as etapas do luto: 
• transcrição das respostas verbais: estas vêm dos textos conforme 
constam no mural de recados; 
• separação dos segmentos de comportamentos verbais de interesse: 
foram buscadas palavras e expressões que denotam as fases do luto 
(Negação e isolamento, Raiva, Barganha, Depressão, Aceitação) 
• inferir seus operantes essenciais e elos temáticos intraverbais surgidos 
do encadeamento desses operantes essenciais: relacionamento dos 
segmentos com os devidos encadeamentos. 
De posse destes dados, estes foram devidamente contabilizados para permitir 
a comparação com a curva de extinção conforme proposto. Esta análise foi 
comparada com a relação luto – curva de extinção, buscando oferecer elementos 
que permitam a realização da análise de contingências a partir de um 
comportamento contextualizado. Contingência é uma relação de dependência entre 
um estímulo, ou uma classe de estímulos, e uma resposta, ou uma classe de 
respostas. O trabalho realizado será exposto na próxima seção. 
29 
 
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 
4.1 Transcrição das respostas verbais 
Dando início a uma análise do discurso, faz-se a transcrição das respostas 
verbais. Como, neste caso, o discurso encontra-se já transcrito no mural de recados, 
pode-se passar para as etapas seguintes da análise. Para efeito de arquivamento, 
os textos dispostos no mural de recados utilizado como fonte de pesquisa foram 
copiados e armazenados em um arquivo texto. 
4.2 Separação dos segmentos de comportamentos verbais de 
interesse 
Para realizar esta etapa e a subsequente, parte-se do que Borloti et al (2008, 
p. 105) citam de Skinner (1957, p. 452) para definir como premissa básica da ACD: 
“quando estudamos [discursos],estudamos os efeitos [dos discursos] sobre nós. É o 
nosso comportamento em relação a tais [discursos] o que nós observamos”. Assim, 
os textos que serão escolhidos para serem apresentados, bem como as inferências 
a serem realizados a posteriori, denotam os efeitos que tais textos provocam sobre o 
autor deste trabalho e é baseado nesta premissa que estas etapas devem ser 
compreendidas. 
Seguem, entre os textos copiados, algumas representações do entendimento 
que este autor obtém do que foi lido, considerando todo o contexto em que esta 
leitura se dá e que se mostra muito mais amplo do que qualquer transcrição seria 
capaz de descrever. Os textos aqui apresentados dão uma ideia do início do 
processo de enlutamento da mãe, conforme expressos em seus recados no mural. 
São apresentadas cópias dos textos dela e da namorada do filho, pois estão 
diretamente relacionados e, ocasionalmente, a existência de recados de uma parece 
influenciar a redação da outra e vice-versa. Quando necessário, são apresentados 
textos de amigos que aparentam representar estímulos à redação efetuada pela 
mãe. Por fim, quando passa a haver uma repetição, a cópia restringe-se ao que 
surge de relevante e tal repetição é contabilizada nos passos seguintes desta 
análise. 
 No dia 1º de abril de 2007, Rosa, na época com 44 anos, perdeu seu filho, 
Cravo, que morreu em um acidente de moto. No dia 31 de maio de 2007, data em 
30 
 
que Cravo completaria 25 anos, sua mãe Rosa escreve pela primeira vez no mural 
de recados de seu filho na rede social Orkut: 
 
 
Hoje nao vai ter festa no AP, mais com certeza 
vai ter um festao no CEU,com entrada franca 
para todos os anjos,com som construido por um 
ANJO LOURO,Cravo.... Meu filho feliz 
aniversario,seja forte,como vc era aqui,ensine 
tudo que vc sabe,pq nao conheco ninguem 
mais inteligente que vc,eu te AMO... 
 
Rosa 
31/05/2007 
 
Assim começa a série de recados que Rosa escreve periodicamente para seu 
filho, como uma forma de desabafo, compartilhando seus momentos de dor, como 
se estivesse a se comunicar diretamente com ele. São estes recados que serviram 
de base para este estudo, buscando a verificar a intensidade com que eles se 
repetem, quais são os elementos reforçadores para que esse movimento se repita, e 
em que momento começa a haver o processo de extinção, quando estes recados 
passam a escassear até deixarem de existir. 
Este primeiro recado deixado reflete isso. Rosa passou a utilizar o mural de 
recados de Cravo apenas dois meses após a morte de seu filho. Tal situação se dá 
pela chegada da data de aniversário de Cravo, primeira em que “não vai ter festa no 
AP”. Ao acessar seu perfil no Orkut, lhe aparece a imagem de seu filho com o aviso 
do aniversário. Situação que serve de estímulo para que escreva e deixe 
transparecer sua dor. 
Não houve outra postagem de amigos ou conhecidos no mural após seu 
recado, porém os dois meses de falecimento do filho surgem como reforçador para 
uma segunda “conversa” com seu filho: 
 
 
Oi... Meu anjo louro,2 meses sem vc,ainda 
nao da pra parar de chorar,a vida esta preto 
e branco,o que me conforta um pouco eh ter 
certeza que estais em um lugar todo 
ILUMINADO,iluminado pela tua 
Rosa 
01/06/2007 
31 
 
 inteligencia,teu carater,teu carisma,tua 
bondade,teu espirito aventureiro,pela 
felicidade que senti qdo vc nasceu,eu te 
amo,por toda minha vida vou te amar,beijos 
da tua NEGA. 
 
Mais uma vez seu texto denota um desejo de que seu filho esteja “em um 
lugar todo ILUMINADO”. Vale ressaltar que neste segundo recado, tal qual o 
primeiro, ela destaca a inteligência de Cravo: “ensine tudo que vc sabe,pq nao 
conheco ninguem mais inteligente que vc” (31/05); “iluminado pela tua inteligência” 
(01/06). Também ressalta elementos de sua vida, como sua inteligência, carisma, 
bondade, inclusive lembrando-se da felicidade que ela sentiu quando ele nasceu. 
Este retorno a aspectos qualitativos do filho parece denotar um desejo de que tudo 
continue como era, com ele vivo e sendo, sempre, inteligente, carismático, bondoso, 
o que leva a visualizar a negação da morte. Mesmo sem nenhum texto de resposta 
de alguém no perfil, Rosa prossegue no dia seguinte com outrorecado: 
 
 
Hoje fui varias vezes no teu ap,mesmo com a 
perna dodoi,estava com saudades de la,levei 
varias guloseimas,vamos receber visita, a M. 
vai la,na terca,te amo,SAUDADES,tua 
NEGA. 
Rosa 
02/06/2007 
 
 
 Neste texto já aparece uma conversa mais banal, do cotidiano, descrevendo 
uma visita ao apartamento do filho, como se pudesse encontrá-lo lá. Neste ponto ela 
relata que sua visita se deu devido a “saudades de la”. De igual forma, dois dias 
depois ela “passa” no mural de recado de seu filho para deixar um recado simples, 
sobre algo corriqueiro: 
 
 
Revelei fotos lindas.... Eu te amo.... 
32 
 
Rosa 
04/06/2007 
 
 No dia seguinte aos recados da mãe, a namorada de Cravo volta a escrever 
no mural. Dália namorou com Cravo durante quatro meses antes de seu falecimento. 
Logo após o acidente, Dália deixa um recado que demonstra sua reação ao ter 
noção de que ele não estará mais por perto: 
 
 
Hoje vai ser o primeiro dia que o telefone 
não vai tocar, eu não vou atender e não vou 
ouvir tu me dizer: Oi meu amor!! Q q tu 
comeu hoje?? lembra? Cedo demais neh 
lindo, tantas coisas planejadas, tantos 
planos... e o nosso sítio? Ainda não 
consegui ver onde fica vem me mostrar!! 
Não acredito no que aconteceu Cravo, não 
pode ser... Esses quase quatro meses que 
q gente ta junto foram perfeitos, não pode 
acabar assim... não pode... Te Amo, amo 
amo!!!Mesmo nos problemas tu me fazia 
sentir segura, nada pra tí era motivo pra 
desanimar, e é nisso que eu to pensando, 
vou lembrar só dos nossos bons momentos, 
de tudo que a gente passou nesse pouco 
tempo, de tí lindo, alegre, carinhoso... 
Meu Deus, como é difícil 
Te Amo meu Amor! 
Dália 
02/04/2007 
 
 
 Um mês depois ela volta ao mural de recados, demonstrando que tal espaço 
virtual passa a representar um espaço físico que pode ser visitado para matar a 
saudade: 
 
33 
 
 
oie lindo passei p matar a suadade... 
Dália 
05/06/2007 
 
 A mãe, Rosa, prossegue com recados do cotidiano, intercalados com 
pequenas mensagens de saudades. 
 
 
Oi...Meu amor,hoje tem jogo do timeco,seca 
dai,que eu seco daqui,te AMO,saudades.... 
bjs da tua nega. 
 Rosa 
06/06/2007 
 
 
 
Meu anjo louro,to com tanta SAUDADE..... 
Rosa 
06/06/2007 
 
Ao que a namorada retorna também com mensagens de saudades no mural 
de recados de Cravo 
 
 
Que saudade mocinho!!! Fica em paz! bjinho 
da Dália 
Dália 
07/06/2007 
 
No mesmo dia Rosa fala da dificuldade e do amor que sente: 
 
34 
 
 
que dia dificil sem vc..... te love. 
Rosa 
07/06/2007 
 
 Porém, no mesmo dia Dália escreve um texto mais longo, em que demonstra 
estar em diferentes etapas do luto, de forma sobreposta. 
 
 
Chega uma hora que eu paro e penso: 
não o Cravo não, não pode, impossível... 
como que ele foi embora... aquele 
homem que eu achava que podia tudo, 
que era capaz de tudo... só não podia ter 
ido assim tão cedo... essa dor ta sendo 
horrível, cadê o meu amor,meu amigo, 
companheiro, cadê você?? Sei que tu tá 
bem, ta num outro plano e tá olhando por 
nós, mais a dor da tua ausência é 
horrível Cravo. Precisar de vc e não te ter 
mais não tá sendo fácil... Só quero que tú 
esteja em paz, que tú esteja sendo 
iluminado como era aqui... Um 
beijãooooooo pra tí. 
Dália 
07/06/2007 
 
 
Há um processo de negação: “não o Cravo não, não pode, impossível... 
como que ele foi embora”; fala da dor que sofre, demonstrando raiva pela ausência 
sentida: “essa dor ta sendo horrível, cadê o meu amor,meu amigo, companheiro, 
cadê você??”; e de forma sutil aparece um pouco de barganha: “Só quero que tú 
esteja em paz, que tú esteja sendo iluminado como era aqui...”. Também demonstra 
um pouco de depressão: “mais a dor da tua ausência é horrível Cravo. Precisar de 
vc e não te ter mais não tá sendo fácil...” ao mesmo tempo em que apresenta uma 
tentativa de aceitação: “Sei que tu tá bem, ta num outro plano e tá olhando por nós”” 
 
35 
 
 A esta mensagem mais longa da namorada seguiu-se um recado também 
longo da mãe, o que pode indicar que as ações da namorada no mural podem servir 
de estímulos para que a mãe redija seus textos. 
 
 
Uma despedida doi no peito e faz chorar 
o coracao. Atinge are a alma e aguca os 
espinhos da saudade.Mas ha uma 
certeza que me serve de balsamo:nunca 
mais estarei so! Por isso,abraco aquele 
que me acalenta e que,mesmo 
partindo,PERMANECERA comigo.Ele eh 
o amor da minha vida ele eh parte 
minha.Por causa deste amor eu bendigo 
a saudade.Ela o traz pra bem perto de 
mim. E, por causa da saudade,aprendi a 
bendizer meu anjo louro.Te amo,beijos 
da tua nega... 
Rosa 
08/06/2007 
 
 
 Nesta mensagem Rosa deixa entrever um misto de depressão (“Uma 
despedida doi no peito e faz chorar o coracao. Atinge are a alma e aguca os 
espinhos da saudade”) com aceitação (“Mas ha uma certeza que me serve de 
balsamo:nunca mais estarei so! [...] Ele eh o amor da minha vida ele eh parte 
minha.Por causa deste amor eu bendigo a saudade.Ela o traz pra bem perto de 
mim”) 
 
 Esta saudade, entretanto, é presença constante nos recados subsequentes, 
que se sucedem diariamente. 
 
 
Saudade..... 
Muita saudade... 
Rosa 
09/06/2007 
36 
 
 
 
 
Hoje eh domingo dia que vc vinha 
almocar as 4 da tarde,todo acabado da 
balada...Ah meu anjo louro.... quanta 
saudade...beijos da tua nega. Rosa 
10/06/2007 
 
 
 Um amigo deixa uma mensagem que demonstra seu estágio de negação, 
relacionando com comentários extra-rede ou do próprio mural de recados do Cravo. 
 
AMIGO1 
EH nehh como disse a l.. 
apesar de agente não se ver quase nunca, de saber 
tão pouca coisa um do outro deixaste uma saudade 
imensa aki anJo ♥ 
no domingo foi dificil acordar com akela noticia.. fikei 
tao triste.. 
Mas sei que aih estas bem... e sabes que aqui todo 
mundo te amava muito neh primoo.. 
e como disse a Dália... ainda não caiu a ficha.. 
parece ser mais um pesadelo sem fim.. tu tão jovem 
com tanta coisa ainda pra viveer... não da pra 
entender porque fosses tão cedoo.. 
Saudades de você pessoa perfeitá... 
te amarei eternamente ♥ 
11/06/2007 
 
 Ao que seguem mensagens periódicas, praticamente diárias, com uma outra 
ausência, da namorada e da mãe, todas girando em torno da saudade que sentem 
do Cravo, relatando e lembrando de momentos que viveram com ele. A mãe tenta 
ver, em momentos passados, uma despedida que ela não pode vivenciar. Passa a 
buscar na recordação de um momento uma despedida que lhe alivie a dor que está 
37 
 
vivenciando: “mas so agora entendo que era um olhar de despedida...AH!!! que 
saudade!!!!” 
 
 
Lembro da nossa despedida.... na 
segunda dia 25 dormi la no ap com vc,na 
terca dia 26,limpei tudo,lembra qdo vc 
chegou e me olhou,olhou diferente,ficou 
olhando com um olhar longo,com um 
olhar que no dia nao entendi,senti que 
era diferente,mas so agora entendo que 
era um olhar de despedida...AH!!! que 
saudade!!!! 
Rosa 
19/06/2007 
 
 
 Ainda vivenciando seu luto, a mãe volta a visitar o apartamento do filho, e 
pede que o filho seja forte, pois é o que ela está tentando fazer. 
 
 
Oi,filho amado!Tenho certeza que vc esta 
bem feliz,estivemos no teu ap,sei que 
deves ter dado muitas risadas,lembramos 
de vc,falamos da nossa 
saudade...Ha,meu anjo louro so vc sabe 
o tamanho da minha SAUDADE... Eu te 
amo...Seja forte ai,estou tentando ser 
forta aqui,beijos e muitos sorrisos de 
quem te adora,tua nega. 
Rosa 
21/06/2007 
 
 
 Em um momento de tristeza, aparece um lampejo de raiva ao perceber que 
não tem projetos próprios, que eles estavam ligados à vida do seu filho e também de 
barganha, ao se oferecer para ir no seu lugar: “vc tinha tantos progetos... eu nao 
tenho nenhun,por que nao posso mudar e ir no teu lugar”. 
 
38 
 
 
Droga!!!! estou com muita saudade,vc 
tinha tantos progetos... eu nao tenho 
nenhun,porque nao posso mudar e ir no 
teu lugar....Meu coracao chora a falta de 
voce....Tem momentos que fico 
perturbada de tanta saudade... 
Rosa 
22/06/2007 
 
 A namorada passa a escrever menos e com menor intensidade, reduzindo a 
sua participação no mural de recados de Cravo 
 
 
Saudadeeeeee... 
bjinho da Dália. 
Dália 
24/06/2007 
 
 Enquanto isso a mãe altera a imagem de seu perfil para uma em que 
aparecem os filhos. Note-se que hoje, na rede social Facebook, ela utiliza esta 
mesma imagem, porém tendo somente o filho falecido ao seu lado. Como capa de 
seu perfil há uma foto com o outro filho. 
 
 
Eu te amo.... 
Rosa 
24/06/2007 
(Alterou a foto do perfil 
para uma que contém os 
filhos) 
 
 A mãe relata que deixou seus prazeres, seus hobbies, de lado, após a morte 
do filho e que, mesmo cobrada, não consegue mais produzir: “Como vou pintar meu 
anjo??! Se minha vida sem vc esta preto e branco”. De novo, nota-se uma 
39 
 
demonstração de raiva pelo ocorrido, que fez com que ela inclusive abandonasse 
suas atividades de lazer. 
 
 
Oi...Meu anjo louro,a minha vida nao tem 
mais cor,todos os amigos me 
perguntam,qdo vou voltar a pintar?? 
Como vou pintar meu anjo??! Se minha 
vida sem vc esta preto e 
branco.Saudade...Beijos da tua nega. 
Rosa 
25/06/2007 
 
A namorada volta a escrever, de forma sucinta, mas se mostrando sempre 
presente. 
 
 
Tu ta pertinho de mim né meu lindo... cuida 
de mim... 
Saudade.... 
Dália 
25/06/2007 
 
 Mais uma vez a mãe volta a falar da inteligência do filho, objeto de atenção 
das primeiras mensagens por ela colocadas no mural de recado. Nestes recados ela 
conversa com o filho com a ideia de que ele estará ocupado, “trabalhando”, como se 
por isso ele não pudesse ou não tivesse o tempo para poder responder às suas 
mensagens. 
 
 
Meu coraçao chora a falta de voce!!!!Te 
amo... 
Rosa 
26/06/2007 
 
 
Anjo louro...E dai???? muito trabalho??? 
com toda essa inteligencia deves estar 
bem agitado,seja forte,coragem,siga em 
40 
 
Rosa 
26/06/2007 
 
frente...Eh assim que quero,obedeçe tua 
nega,saudades... 
 A namorada volta a demonstrar negação pelo ocorrido. Vale ressaltar que 
ainda são somente três meses após o falecimento de Cravo 
 
 
O Cravo, pq não consigo acreditar!! pq não 
consigo aceitar isso??? 
Bjinho, cuida da Dália meu amor... 
Dália 
26/06/2007 
 
 A mãe volta a escrever indicando ao filho que ele deve ser corajoso, que ele 
deve seguir em frente sem medo, com a certeza de que é muito amado. Ao mesmo 
tempo em que ela entrega sua dificuldade perante a situação: “por que eu estou 
tentando seguir em frente por vc,quero que vc siga com toda coragem que sempre 
teve”. 
 
 
Eu te amo calada como se fosse uma 
sinfonia.... Receba muitos 
SORRISOS...,por que eu estou tentando 
seguir em frente por vc,quero que vc siga 
com toda coragem que sempre teve,nao 
quero um filho com medo,siga seu 
caminho tendo certeza que sempre seras 
muito AMADO,eu te AMO. 
Rosa 
29/06/2007 
 
 
A mãe se lamenta dos três meses do falecimento do filho: 
 
 
Ah!!!! meu AMOR... Tres meses sem 
vc,SAUDADE... 
Rosa 
41 
 
01/07/2007 
 
Enquanto a mãe se ausenta do mural de recados, a namorada repete uma 
série de mensagens curtas, diárias, que fecham com um texto mais extenso. Neste 
período a mãe não escreveu no mural. 
 
 
Cravo ... q falta... q saudade... 
Dália 
03/07/2007 
 
 
 
Cravo ... nas horas difíceis lembro que tu ta 
do meu lado... bjaummmmmm. 
Dália 
04/07/2007 
 
 
 
bjs, bjs, bjs, bjs, bjssssssssssssssssssss... 
Dália 
05/07/2007 
 
 
 
Ai Cravo ... tava aqui pensando na gente, 
pensando em como tudo valeu a pena, 
tudo... de verdade!! Como tu dizia... A 
saudade ta muito grande, a tristeza ainda 
não passou não meu lindo, mais lembro do 
teu sorriso tão lindo, aquele olhar 
Dália 
05/07/2007 
 
42 
 
verdadeiro... não tem como não sorrir, 
assim... sozinha... lembrando de tudo, cada 
minuto do teu lado foi único e não tem como 
esquecer... fica bem meu lindo... saudade... 
sei que teu espírito ta aqui comigo me 
protegendo... bj bj 
 
 Neste último texto, a namorada parece entrar em um processo mais 
duradouro de aceitação. Situação que parece começar a ocorrer com a mãe a partir 
do relato de um sonho que teve com o filho, situação que serviu de estímulo e 
trouxe-a de volta ao mural de recados para comunicar-se com o filho. 
 
 
Amado meu,pela primeira vez sonhei 
contigo,andamos de moto o tempo 
todo,foi bom!!! estou com muita 
saudade...Meu anjo louro....E no céu vai 
ter mais um farol que eh a luz do teu 
olhar...Mil sorrisos e outros milhoes de 
beijos da tua nega. 
Rosa 
06/07/2007 
 
 
A mãe mantém-se menos frequente em sua participação no mural do filho, 
mas certos elementos servem de estímulo ao seu retorno, como o sonho descrito 
acima, ou postagens de amigos, como os que foram colocados abaixo. 
 
AMIGO2 
http://br.youtube.com/watch?v=agcJHeshlg8 cara 
assiste esse video ai de cima e lindo ...... 
09/07/2007 
 
AMIGO3 
Dai rapaz como andam as coisas por ai aonde voce 
esta? Po precisava de Vc o pior é que nao tem como 
a gente se falar! Qdoi será que vao inventar um e-
mail pro CEU ?????? Po tu que sabe tudo ve se 
43 
 
inventa assim a gente pode trocar aquelas longas 
ideias e posso matar a saudade da nossa 
amizade!!!!!! Gde Abraço e fica com DEUS 
AMIGO!!!!!!!!! 
09/07/2007 
 
 Estas mensagens servem de estímulo para que ela se sinta mais alegre e 
também para deixar um recado para o filho: 
 
 
O meu filho como fico feliz qdo leio estes 
recados dos teus amigos,como meu 
coraçao se acalma...Que bom ter amigos 
que lembram de vc,oh!!!!,meu anjo louro 
segue teu caminho tendo certeza que 
tem muita gente,gente com G maisculo 
que nunca vai te esquecer,te amo 
loucamente,receba meu abraço e meus 
sorrisos,meus beijos,siga teu caminho 
com coragem,da tuA NEGA. 
Rosa 
09/07/2007 
 
 
 A namorada volta a deixar seus recados no mural e, com a mesma 
constância, a mãe deixa os seus, intercalando-se as mensagens de namorada e 
mãe. 
 
 
Oi meu lindooo... a cada dia tenho mais 
certeza que vc tá aqui comigo... tua presença 
é muito forte em tudo que eu faço... fica bem 
viu!!Muitas saudades de tiiiiiiiiiiiiiiiii. Beijooo Dália 
10/07/2007 
 
 
Oi meu anjo louro... Nunca esqueça que 
te amo muito!!!Olhei pro céu ontem a 
noite,vi uma luz diferente, especial, 
44 
 
Rosa 
11/07/2007 
 
pensei...O céu quanhou mais um farol,que 
é a luz do teu OLHAR...Beijos da tua 
nega. 
 
 
 
Oi Mocinho... só passei pra dizer que to 
com muuuuuita saudade!! Mais a gente 
vai se encontrar ainda...bjinho meu 
lindo... fica bem... Dália 
12/07/2007 
 
 É interessante observar que mãe e namorada, que vêm escrevendo suas 
mensagens de forma periódica, passam a aceitar mais o acontecido. Quem escreve 
pela primeira vez, como a amiga que deixou o recado abaixo, demonstra estar em 
um processo de negação, estágio este que ambas, mãe e namorada, foram 
abandonando aos poucos. 
 
AMIGA2 
Ainda não consigo acreditar no que aonteceu, pra 
mim é muito díficil acitar...as vezes me sinto super 
culpada por isto que aconteceu, espero que eu não 
tenha te amgoado...sinto muito sua falta. Gostaria 
tanto de falar com algum dos seus amigos que eu 
conheci, mas acho que nenhum deles quer falar 
comigo....Hoje já consigo encarar melhor a situação, 
mas está sendo muito dificil...Quando alguem vem 
pedir alguma coisa sobre vc, ou saber o que 
aconteceu, me sinto como se isto tivesse acontecido 
naquele exato momento, como se eu estivesse 
recebendo naquele momento a noticia de que vc se 
foi. Na nossa primeira troca de olhar, senti que vc 
era especial...se lembra como vc brincou com os 
meus apis, dizendo que não acreditava que eles 
fossem meus pais, pois eram muito jovens.... 
45 
 
Minha mãe adorouvc, seu geito cativante, 
brincalhão...Vc é especial, e nunca, nunca vou te 
esquecer. o dia que passamos juntos, vou levar 
eternamente comigo, será inesquecível...Te adoro 
muito, saudades de vc......Bjs, bjs ,bjs 
17/07/2007 
 
 O texto abaixo, deixado pela namorada, demonstra que ela está mais próxima 
de vivenciar outros estágios do luto do que o da negação, que parece ir ficando para 
trás. 
 
 
Algum dia vamos nos encontrar num lugar 
melhor para se viver, um lugar onde as 
pessoas possam morar e não precisem mais 
sofrer!! Algum dia o mundo vai mostrar a 
verdade que nos fez parar por aqui!! " É 
difícil começar a pensar em viver, pra 
sempre, sem você. . Tantas paisagens 
perderam a graça, as poesias eram meras 
palavras. .para mim " -- MuitaSs saudades 
Dália 
18/07/2007 
 
 
As mensagens da mãe e da namorada mantém esta alternância com um ou 
outro momento em que seus textos são alterados, de acordo com estímulos 
oferecidos por datas ou situações especiais, como será demonstrado com os 
próximos exemplos obtidos do mural de recados de Cravo. 
Ao montar um quadro com fotos do filho, quando completava quatro meses do 
falecimento. 
 
 
 
Oi!!!4 meses sem vc!!!Pareçe uma eternidade!!!Fiz 
um quadro lindo!!!fotos suas e minhas,coloquei no 
meu quarto,estou sempre com vc,tenha 
força,coragem...Eu te AMO. Rosa 
46 
 
01/08/2007 
 
 
 
Ao encontrar objetos perdidos do filho: 
 
 
Oi meu anjo louro!!!!Ja estou de volta,tudo correu 
bem,tbem nao podia ser diferente,com vc cuidando 
de mim,esta semana tive uma surpresa que so 
pode ser arte sua,seu amigo Guilherme achou seu 
relogio e as chaves do seu ap,estavam na roupa 
de couro,vc sabe o qto procurei seu relogio,fiquei 
muito feliz em poder ficar com ele,hoje ele vai pro 
seu ap,junto com suas coisas que cuido com o 
mair carinho,eu te amo demais,a saudade eh 
enorme,mais vc sabe que estou aqui por vc,força 
ai,tenha coragem...Mil beijos da tua nega. 
 
Rosa 
24/08/2007 
 
Quando uma amiga escreve: 
 
AMIGA3 
oi 
tempo que não entrava no orkut, meu msn não treme 
mais...minha cam não é mais usada.. é estou 
virando mulher das cavernas..., 
10/09/2007 
 
A mãe se comove: 
 
 
Oi...Meu filho amado,veja só como vc tem amigos 
especiais...Adoro qdo vc recebe esses carinhosos 
recados,vc jamais sera esquecido,sabe pq??? Pq te 
AMAMOS...Beijos da tua nega. Rosa 
11/09/2007 
 
47 
 
E eventos que se aproximam, como o Natal, trazem novamente textos sobre 
saudade e sobre a dificuldade de conviver com a ausência. 
 
 
Oi meu anjo louro!!!!Lindo!!!!Ja estou lembrando do 
natal....Como vou aguentar?????Estou com tanta 
saudade....Sinto tanta tua falta....Fico esperando a 
noite chegar,só pra ter vc em meus sonhos....Deus 
te abençoe....Que Nossa Senhora te cubra,te de 
colinho.... 
Rosa 
19/10/2007 
 
 
Outra data marcante é a proximidade do aniversário de Rosa. 
 
 
Oi meu lindo anjo louro!!!!Esta dificil.....Vai ser meu 
primeiro niver sem vc,que triste!!!!Que saudade 
imensa,que dor que nao passa,quero que vc sigha 
seu caminho,que seja um espirito de luz,vc tao 
especial,tao inteligente,ajuda todos,receba muitos 
beijos,me perdoe tantas lagrimas... 
Rosa 
19/02/2008 
 
 
Recado carregado de dores quando completa um ano de falecimento. 
 
 
meu anjo lindo louro!!!!!!!A missa mas parecia uma 
festa de aniversario,nao deixa de ser,faz um ano q 
estas vivendo no mundo do criador,tenho tanta 
certeza que entendes mnhas lagrimas,tenho 
certeza tbem q minha lagrimas nao vao te impedir 
de caminhar,pq hoje entendo q foi chegada a hora 
de vc estar com DEUS,prossiga teu caminho,eu te 
amo cada dia mas... 
Rosa 
02/04/2008 
 
 
E a partir desta data os recados começam a rarear, fato que a própria Rosa 
nota e comenta em um de seus textos. 
 
48 
 
 
Faz tempo q nao passo por aqui,nao penses q 
esqueci,eu te amo,a saudade eh muito grande,fica 
bem meu anjo lindo louro....Beijos da tua nega. 
Rosa 
12/05/2008 
 
Mas eis que retornam as mensagens que alternam depressão, raiva, 
negação, barganha e aceitação. Chama a atenção o surgimento de recados como 
estes, denotando um retorno forte ao sentimento de negação. Verificando as datas, 
percebe-se que se aproxima da data de aniversário do filho. 
 
 
Quero q vc seja forte... 
Rosa 
27/05/2008 
 
 
Preste atençao....sou sua mae,quero q vc seja 
forte.... 
Rosa 
27/05/2008 
 
 
 
CORAGEM... 
Rosa 
27/05/2008 
 
 
 
 
49 
 
4.3 Inferências 
A partir da ideia de que “o sentido do discurso advém das contingências que 
controlam as relações entre o comportamento verbal e objetos ou acontecimentos 
(ou propriedades objetos ou acontecimentos) que podem ou não ter sido tateados 
pelo falante” (BORLOTI et al, 2008, p. 105) tem-se que o processo de inferência dos 
operantes essenciais deve considerar especialmente estas contingências. Tal 
situação é corroborada pela afirmação de Borloti et al. (2008, p. 104) de que “o 
ouvinte infere o significado do discurso (ou seja, as suas variáveis controladoras), 
observando (ficando sob controle discriminativo) as circunstâncias sob as quais o 
discurso ocorre; toma em consideração o que ele sabe sobre o falante e sobre tais 
circunstâncias”. 
 Neste trabalho não se buscou classificar funcionalmente os operantes verbais 
do discurso conforme colocado por Skinner (1957), e sim se objetivou relacionar tais 
operantes com as fases do luto, para possibilitar a avaliação do encadeamento do 
discurso como se dá no mural de recados analisado. Tal avaliação se dá a partir do 
pressuposto de que “a negociação de argumentos parece levar o ouvinte a ver algo 
à maneira do falante e, ao fazer isso, o falante combina operantes essenciais, 
formando grupos temáticos em falas continuadas [...] como se estivessem sob 
controle das coisas ou acontecimentos” (BORLOTI et al, 2008, p. 105). 
 Assim, foram percebidas as seguintes relações: 
• Ao falar sobre as qualidades do filho, a mãe se coloca em um processo de 
negação, como se o fato do filho possuir certas características ou habilidades 
mantivessem-no vivo e presente. A negação se mostra óbvia nos textos em 
que a mãe recusa-se a aceitar a ideia da perda do filho, da sua ausência, de 
não ser possível repetir atividades que antes eram feitas pelos dois, mãe e 
filho. O próprio ato da mãe escrever para o filho apresenta-se como negação; 
• A raiva é denotada por expressões de indagação, como de alguém lhe 
devesse uma explicação pelo que ocorreu. Também tem relação com o 
processo de raiva as vezes em que a mãe expressa dor, sofrimento, pela 
ausência do filho; 
• Nos momentos em que a mãe propõe que seria melhor ela ter morrido no 
lugar do filho tem-se a barganha, também denotada, de forma um pouco 
50 
 
mais sutil, quando ela deseja que o filho esteja em paz, em um lugar tranquilo, 
feliz; 
• Os textos em que a mãe adjetiva a dor da ausência como insuportável, 
impossível de suportar, apresenta um processo de depressão, que se verifica 
também nos textos em que ela demonstra não ter mais prazeres, nem 
vontade de fazer as tarefas que fazia antes do falecimento do filho; 
• Quando o desejo de que o filho esteja em um lugar tranquilo é substituído por 
frases que demonstram certeza disso, tem-se a apresentação do processo de 
aceitação, que também é observado quando a mãe demonstra estar disposta 
a seguir sua vida, a tentar manter as atitudes anteriores a perda de seu filho. 
É importante observar que, apesar da mãe não escrever diariamente, isto não 
indica que ela não esteja presente na rede social. Estes momentos em que ela 
frequenta a rede social mas não escreve no mural do filho podem ser entendidos 
como “silêncio” e como tal podem ser alvo de futuras análises. 
A partir destas definições, foi possível avaliar os textos deixados pela mãe no 
mural de recados de seu filho e contabilizar em que medida se dá

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