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2 1 Introdução ao CONHECIMENTO CIENTÍFICO DA COMUNICAÇÃO 1.1 O que é teoria? Reflexão mental sobre a realidade e se faz ligada à prática, portanto, formula problemas para o conhecimento e exige soluções. Quando analisamos a origem da palavra, na época de Aristóteles (384-322 a. C.), teorizar (acerca de alguma coisa) corresponde a retirar algo de sua realidade imediata, abstraindo-o, e proceder a um exercício de raciocínio logicamente orientado. THEORIA = ação de contemplar, admirar algo com o pensamento. Pela Theoria, o ser humano se aproxima de THEUS (Deus). Outros significados: contemplação atenta; admiração pelo pensamento; reflexão; forma de representação que se pretende situada acima da realidade sensível. A TEORIA SEMPRE ESTÁ ATRELADA À PRÁTICA E VICE E VERSA. TEORIA + PRÁTICA = PRÁXIS Constituída por um sistema, ordenado de enunciados ou ideias que resumem os fatos observados, unidos ao processo histórico concreto e que permite antecipar ou predizer seu desenvolvimento. Fenômenos da Comunicação são estudados valendo-se de outras áreas do conhecimento como a Antropologia, Sociologia, Psicologia, Linguística, Teoria Política. 1.2 Conceitos de comunicação e informação A palavra comunicação é derivada do termo em latim communicare que significa tornar comum ou associar, partilhar, trocar opiniões. Assim, como define Vilalba (2006, p.5-6) comunicação é a “ação social de tornar comum”. O sentido é essencial para tornar ou não essa ação comum, ou seja, informando ou desinformando. Segundo o autor, o sentido é uma resposta mental a um estímulo percebido pelo corpo e que, na mente, torna-se informação. Por sua vez, essa informação, aplicada de maneira eficaz, transforma-se em conhecimento. Tudo isso acontece por meio do processo de comunicação, em que o sentido é formado, apresentado e negociado. Comunicação significa todos os processos de transação, de troca, entre os indivíduos, a interação do indivíduo com a natureza, do indivíduo com as instituições sociais e ainda o relacionamento que o indivíduo estabelece consigo mesmo. Pela comunicação, o sujeito se faz pessoa, indo do singular ao plural. Existem vários sentidos saint Realce saint Realce 3 e usos do termo e existem inúmeras acepções. Abrangem domínios extremamente diversificados que compreendem atos discursivos como silêncios, gestos e comportamentos, olhares e posturas, ações e omissões. A comunicação não é um processo mecânico, mas é a expressão de todo um complexo histórico e sociocultural. O sentido da comunicação implica em romper isolamentos e a ideia de realizar algo em comum. O estabelecimento de relações acaba provocando o compartilhar de consciências que buscam uma ação em comum, intercâmbio de ideias ou até a discussão entre diferentes pontos de vista sobre um determinado objeto. Agora, classificar uma comunicação de informação exige outra análise porque se pode comunicar sem informar. Martino (2007, p. 17) define que informação é uma comunicação que pode ser ativada a qualquer momento, desde que outra consciência (ou aquela mesma que codificou a mensagem) venha resgatar, quer dizer ler, ouvir, assistir... enfim decodificar ou interpretar aqueles traços materiais de forma a reconstituir a mensagem. Em outras palavras, a informação é o rastro que uma consciência deixa sobre um suporte material de modo que outra consciência pode resgatar, recuperar, então simular, o estado em que se encontrava a primeira consciência. O termo informação se refere à parte propriamente material, ou melhor, se refere à organização dos traços materiais por uma consciência, enquanto que o termo comunicação exprime a totalidade do processo que coloca em relação duas (ou mais) consciências. Em seu sentido etimológico, “informar” significa dar forma a. A partir dessa afirmação pode-se dizer que a comunicação pode existir, mas a informação ocorre quando quem recebe a mensagem consegue absorver o sentido. Uma página de um livro é informação para um ser humano, mas não para um cão. Por outro lado, a mesma página de um livro também pode ser totalmente sem sentido para um analfabeto, pois ele não consegue absorver o conteúdo da mensagem. As nuances entre informação e comunicação são delicadas, pois o que pode ser valioso para uns, é completamente sem importância ou sentido para todos. 4 1.3 Comunicação e ciência O que é ciência? No seu sentido mais amplo, ciência (do latim scientia, significando "conhecimento") refere-se a qualquer conhecimento (ou prática) sistemático. Num sentido mais restrito, ciência refere-se a um sistema de adquirir conhecimento baseado no método científico, assim como ao corpo organizado de conhecimento conseguido através de tal pesquisa. Os parâmetros que definem a comunicação como um campo da ciência são os seguintes: • Qual o objeto de estudo de Comunicação? • Quais métodos e técnicas são utilizados? • Quais pressupostos teóricos possui? Podemos identificar, em linhas gerais, pelo menos dois objetos de estudo da comunicação. São eles: 1) Meios de comunicação ou mídia: refere-se ao estudo da comunicação realizada ou mediada pelos meios tradicionais e pelas novas tecnologias, considerando a repercussão desses meios, os impactos decorrentes de seu surgimento e desenvolvimento, por exemplo. 2) Processo comunicativo: implica em analisar os processos de produção e circulação de informações, considerando as dimensões psicobiológicas, social, e do mundo físico, inclusive os processos produção e interpretação de sentidos, relativos ao simbólico e a linguagem. O CAMPO DA COMUNICAÇÃO É INTERDISCIPLINAR! Os primeiros estudos acerca da comunicação foram realizados por estudiosos de diferentes áreas como cientistas políticos, sociólogos, psicólogos etc. Sendo assim, as práticas comunicativas transformaram em objeto de estudo de diferentes ciências. Sua natureza interdisciplinar possibilita a análise do fenômeno da comunicação por diferentes campos do conhecimento sob diferentes perspectivas. 5 1.4 Paradigmas, teorias e modelos O paradigma é uma noção central de toda a reflexão que tome a Comunicação com objeto. O termo, na filosofia grega antiga, significava o ato ou o fato de “fazer-se aparecer” ou “ representar-se de maneira exemplar”. Paradigmas podem ser definidos como “quadros de referência”. Paradigma supõe “ordenação”, “série organizada de apontamentos” ou “conjunto de formulações genéricas”. Em plano filosófico, um paradigma serve à “afirmação de uma identidade”. A função positiva do paradigma é não renegar diferenças possíveis dessas identidades. Porém, sua função negativa surge quando se deixa traduzir como “um conjunto de normas que, pela interposição ativa de teorias, ensejam a elaboração de modelos”. Adotar um paradigma significará firmar um ponto de vista, não somente porque assim se “vê de perto”, mas também porque se determina o modo pelo qual se vai exercer um olhar. Todo paradigma serve à introdução de certezas e convicções que autorizam a formulação de perguntas. Figura 1 Figura 2 Um paradigma muda quando ocorrem, por exemplo, as chamadas revoluções científicas. As revoluções acontecem quando determinadas crenças e convicções, até então aceitas como verdades, sofram abalos e venham a desmoronar. Entre os exemplos clássicos dessas mudanças de paradigmas científicos figura o sistema do astrônomo Cláudio Ptolomeu (100-170 d.C.) (Figura 1). Suas teorias e explicações astronômicas, que afirmam a imobilidade da Terra e sua posição no centro do universo (Figura 2), dominaram o pensamento científico até o século XVI. 6 Outro sistema, a nova astronomia de Nicolau Copérnico (1473-1543) (Figura 3), as revogou, demonstrando que o Sol ocupava o centro do universo; a Terra, em movimento de rotação,girava em torno dele (Figura 4). Figura 3 Figura 4 Os paradigmas mudam. Em resumo, um paradigma consiste em uma mistura de pressupostos filosóficos, de modelos teóricos, de conceitos-chave e de prestigiosos resultados de pesquisa – isso tudo passando a constituir um universo de pensamento familiar a pesquisadores, em dado instante do desenvolvimento de uma disciplina científica. A partir do entendimento do conceito de paradigma, podemos fazer a relação entre PARADIGMA - TEORIA – MODELO. O paradigma serve como referência para um fazer científico durante uma determinada época ou um período de tempo demarcado. A teoria é uma construção intelectual, o modo de apresentação do saber. Ou seja: como descrição e explicação de fatos e fenômenos previstos por um paradigma e selecionado por uma teoria, o modelo retém aspectos e relações tidos como mais importantes para a referida teoria. Todo modelo acarreta uma simplificação dos fatos e fenômenos teoricamente existentes e que podem ser observados. A partir do entendimento dessa relação, começam os estudos dos paradigmas da comunicação e seus modelos teóricos. Os modelos teóricos da comunicação são: 7 1. Paradigma matemático – informacional Ideias principais: Uma teoria baseada em princípios matemáticos e estatísticos. Foi motivada pela formalização matemática do controle comportamental pela previsibilidade e o cálculo de seus sinais aparentes. A regulação automática da ação humana. Exemplos: - Modelo teórico-matemático da comunicação - Modelo de Berlo - Modelo de Schram 2 . Paradigma funcionalista-pragmático Ideias principais: Convicção de que os seres humanos obedeciam a “automatismos comportamentais”. Os meios de comunicação possuem um poder incontestável e absoluto. As cidades grandes anulavam as diferenças individuais. A sociedade deixa de se constituir por relações pessoais, de intimidade, de solidariedade comunitária para adquirir uma nova conformação, definida por relações impessoais, anônimas e portadoras de uma solidariedade de conveniência (mecanicamente oferecida). Exemplos: - Modelo da Agulha Hipodérmica - Modelo de Laswell - Modelo de Lazarfeld - Modelo de Klapper - Modelo de usos e satisfações OBSERVAÇÕES! 8 ✓ O funcionalismo supõe que o desenvolvimento dos meios de comunicação corresponda a novas necessidades sociais. ✓ Os meios devem proporcionar satisfações a expectativas de um público – parte da população total que se acha exposta à ação dos referidos meios. ✓ Pragmatismo – corrente de ideias que prega a validade de uma doutrina que adota como critério de verdade a utilidade prática. Senso prático. ✓ Pragmático – voltado para objetivos práticos, realista, objetivo. 3. Paradigma conceitual ou crítico-radical Ideias principais: Os meios de comunicação seriam veículos propagadores de ideologias próprias às classes dominantes, impondo-as às classes populares pela persuasão ou pela pura e simples manipulação. Exemplo: - Escola de Frankfurt 4. Paradigma conflitual-dialético Ideias principais: Os meios de comunicação não podem ser considerados variáveis independentes do desenvolvimento tecnológico e da evolução histórica da acumulação capitalista. Correspondem a uma necessidade peculiar ao capital no processo de legitimação de seus princípios afirmativos. A resolução de conflitos faz surgir o novo. A transmissão da informação “massificada” persegue objetivos comerciais e financeiros; acessoriamente ela se pretende “transcultural” e “multinacional”, isto é, “mundializada”. Daí sua funcionalidade. Exemplos: - Modelo da proposição marxista - Modelo da dependência 9 - Modelo neo-marxista 5. Paradigma culturológico Ideias principais: Da mais importância às produções da “indústria da cultura” como filmes, seções de jornais, revistas especializadas, histórias em quadrinhos, ficção de TV. Em comum, os teóricos tinham o entusiasmo, a ausência de atitudes preconceituosas ou elitistas e o espírito aberto em relação à “indústria da cultura”. Correlacionam notícia e fait divers (notícias de variedades) e as considera como duas vertentes da “cultura massiva”. Edgar Morin, um dos principais teóricos desse paradigma, enxerga na “cultura massiva” uma intensa circulação de imagens, símbolos, ideologias e mitos, que dizem respeito tanto à vida prática quanto à vida imaginária. Exemplos: - Modelo teórico-cultural - Cultural Studies (Estudos Culturais) 6. Paradigma midiológico Ideias principais: Abordagem que entende que o desenvolvimento humano é totalmente ligado ou é uma consequência das ferramentas tecnológicas. Exemplos: - Modelo do meio como a mensagem - Modelo da midialogia francesa
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