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3EM Atividade 8

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aluno ___________________________________________________ nº _ 3EM 
comp. curricular História Atividade 8 data 19/10/2020 
 
Cronograma de Trabalho - Atividades de História (Suspensão de aulas). 
Professora: Ciça Jorquera 
O presente cronograma de trabalho traz as orientações para o desenvolvimento das atividades remotas que 
faremos durante a suspensão das aulas. Em caso de dúvidas, escrevam para ceciliajorquera@itaca.com.br 
ou enviem mensagens no moodle (diretas ou no fórum de dúvidas). 
3EM 
Semana Atividade Orientações e Entrega 
 
 
Semana 
19/10/2020. 
 
 
Tema: Democracia X 
Ditadura na América 
Latina. 
 
 
 
1. Assistir aos filmes indicados; 
2. Efetuar as leituras recomendadas; 
3. Nas aulas de 27 e 30/10 – vamos debater os 
filmes. 
4. Reflita, pense, devaneie... Utilize a História e 
suas percepções e produza (máximo de 
uma página) um texto dissertativo 
coerente que seja conciso e de progressão 
textual adequada sobre o tema: Geração 
do sonho e da resistência. 
5. Data de entrega/postagem: até 23h59 do 
dia 03/11/2020 (em arquivo PDF). 
6. Prestem atenção - Não se esqueça em clicar 
em “enviar em definitivo”. 
 
Algumas considerações 
Ao assistir aos filmes Condor de Roberto Mader (2007) e Utopia e Barbárie de Sílvio Tendler 
(2005) você teve à oportunidade de ser colocado diante das brutalidades e dos ilusórios anos 60 e 
70 do século dos extremos. Também fez a leitura de dois textos que - têm a função de (re) significar 
os eventos históricos que foram capazes de produzir os cenários apresentados pelos 
documentários. No primeiro texto num determinado momento o autor afirma "a semelhança 
fundamental encontra-se na base social! Na ideologia e no instrumento que viabilizam uma ou 
outra política. No segundo, o seu autor reafirma "repressão aos opositores que defendiam uma 
arte e um pensamento cosmopolita universal independente de fronteiras e contextos históricos . 
 
 2 
América Latina 
1. O imperialismo entra em cena 
 Após a Segunda Guerra mundial, as elites dominantes latino-americanas, insatisfeitas com o 
populismo, aceitaram em diferentes momentos associar-se a grupos econômicos estrangeiros, 
principalmente norte-americanos, para retomar o crescimento econômico. Assim, a partir dos anos 1950, 
houve uma entrada maciça de empresas multinacionais na região, valendo-se da existência de mão-de-
obra barata e abundante. 
 Um passo importante nessa direção foi a Aliança para o Progresso, anunciada pelo presidente norte-
americano John Kennedy na Conferência Econômica e Social de Punta del Este, em agosto de 1961. Entre 
outros pontos, a Aliança para o Progresso propunha a realização de programas de reforma agrária na 
América Latina, o fim do analfabetismo e melhor distribuição de renda. Essa política era uma tentativa de 
impedir que a influência da Revolução Cubana, vitoriosa em 1959, se alastrasse pelo continente, 
estimulando movimentos nacionalistas a adotar posições socialistas. 
 No plano político, a Casa Branca já vinha incrementando, desde o pós-guerra, medida destinada a 
preservar os seus interesses econômicos e militares no continente. Em 1948, por exemplo, foi criada a 
Organização dos Estados Americanos (OEA), com sede em Washington, cuja carta de princípios deixava 
clara a necessidade de “manter a segurança” da América. Um dos países a acompanhar de perto esse 
processo foi o Brasil, cujo governo, sob a presidência do Marechal Eurico Dutra, organizou em 1948, a 
Escola Superior de Guerra, inspirada no National War College, dos EUA, a ESG era um centro de estudos e 
formação de lideranças militares e civis, que teriam papel importante na vida política brasileira a partir de 
1964. 
 No decorrer dos anos 1960 e 1970, essa política voltada para a “segurança” do hemisfério iria levar 
uma intervenção crescente dos Estados Unidos no processo de formação das elites militares latino-
americanas. Estas, por sua vez, tenderiam a interferir cada vez mais na vida política dos países do 
continente. 
2. O longo ciclo militar 
A partir de 1964, as frágeis democracias da América do Sul começaram a ser substituídas por 
ditaduras militares, implantadas por meio de golpes de Estado geralmente apoiados pelos Estados Unidos. 
O primeiro desses golpes ocorreu na Argentina, com a deposição do presidente Arturo Frondizi em 1962. 
Em seguida, foi a vez do Brasil, onde o presidente João Goulart, foi deposto em março de 1964, por um 
golpe militar respaldado pelos EUA, devido a suas propostas de reformas nacionalistas e democráticas. No 
mesmo ano, era derrubado pelos militares o presidente Victor Paz Estendoro, que havia chegado ao poder 
na Bolívia em 1952, por meio de uma revolução popular. Dois anos depois, novo golpe de Estado na 
Argentina depôs o presidente Arturo Illia, eleito em 1963, após a queda Frondizi. 
 Em 1973, o presidente socialista do Chile Salvador Allende, eleito democraticamente, se suicidou 
durante um sangrento golpe de Estado, que colocou no poder o general Augusto Pinochet Ugarte. Também 
em 1973, o presidente Juan María Bordaberry, do Uruguai, fechou o Congresso e instalou um regime 
ditatorial e repressivo apoiado nas Forças Armadas. Três anos mais tarde, a Argentina foi novamente 
convulsionada por um golpe militar que depôs a presidenta Isabel Perón, terceira mulher do general Juan 
Domingo Perón, que havia retornado ao poder em 1973. 
 3 
 Durante esse ciclo de ditaduras militares, a perseguição política, a anulação dos direitos 
democráticos, a tortura, o desaparecimento e o assassinato de opositores se tornaram regra na vida política 
do continente. Ao lado disso, as elites militares no poder abriram totalmente a economia ao capital 
estrangeiro e implantaram um modelo de desenvolvimento baseado na concentração de renda e no 
achatamento dos salários dos trabalhadores. É inegável que, em alguns países, como o Brasil, houve 
modernização durante o ciclo militar. Mas as concessões feitas às multinacionais, o endividamento externo 
cada vez maior e a inflação geraram o esgotamento desse modelo, provocando sua crise a partir dos anos 
1970. 
 No plano político, o efeito mais visível da crise econômica foi o fortalecimento das oposições 
democráticas, que exigiam dos regimes autoritários o retorno do Estado de Direito. Aos poucos, os grupos 
oposicionistas começaram a mobilizar setores cada vez mais amplos da sociedade, obrigando os governos 
militares a fazer concessões que conduziriam à restauração da normalidade democrática em diversos países. 
2.Argentina: o eterno retorno do peronismo 
 Em 1955, Juan Domingo Perón, líder populista da Argentina, foi deposto pelos militares e se exilou 
na Espanha. Mas os seus laços com o movimento sindical eram tão fortes que nenhum dos governos que o 
sucederam conseguiu extinguir a influência entre os trabalhadores. Para aglutinar seus adeptos, Perón 
dispunha do Partido Justicialista. Em março de 1973, depois de um longo período de alternância entre 
governos democráticos e golpes militares, os peronistas venceram as eleições presidenciais e colocaram no 
poder Héctor Cámpora, da ala esuqerda do movimento. Poucos meses depois, Cámpora renunciou para 
viabilizar a candidatura de Perón ao governo argentino. Em setembro, o antigo ditador elegeu-se presidente 
da Argentina. 
 Durante o seu governo, o movimento peronista se polarizou entre um grupo ultradireitista de tipo 
fascista e uma esquerda radical, liderada pelo grupo Montoneros. Morto em 1974, Perón foi substituído no 
poder por Isabel Perón, sua mulher, que ocupava o cargo de vice-presidente. Em 1976, Isabelita, como era 
chamada, foi derrubada por mais um golpe militar. 
 A ditadura que então se instalou na Argentina (1976-1983) seria uma das mais violentas e 
repressivas da História latino-americana. Oficialmente, a repressão contra os grupos de esquerda levou ao 
“desaparecimento” de cerca de 9 milpessoas. Entidades de defesa dos direitos humanos acreditam que 
esse número seja superior a 20 mil. 
 Ao contrário do que ocorreu no Brasil, a ditadura argentina não teve caráter desenvolvimentista. O 
eixo de sua política econômica foi a abertura do mercado para o exterior. Sem condições de competir com 
os produtos importados, muitas empresas fecharam ou foram compradas por multinacionais. O desemprego 
e o arrocho salarial passaram a fazer parte do cotidiano da população. Em 1983, extremamente desgastada 
pelos efeitos da repressão, por seus fracassos na política econômica e pela derrota sofrida em uma 
desastrada guerra contra a Inglaterra – a Guerra das Malvinas, o governo militar negociou com a oposição 
o retorno da democracia, promovendo eleições presidenciais. 
 As eleições de 1983 foram vencidas por Raúl Alfonsín, candidato da União Cívica Radical pela (UCR), 
partido de centro fundado em 1891, cuja base social é constituída principalmente pelas classes médias. 
Num ato inédito em toda a América Latina, diversos militares de alta patente, e mesmo ex-presidentes, 
como Jorge Videla (1976-1981) e Leopoldo Galtieri (1981-1982), foram julgados e presos. 
 4 
 Alfonsín governou em meio a rebeliões militares e não pôde debelar a crise econômica herdada do 
período autoritário. Nas eleições de 1989, o candidato da UCR à presidência foi amplamente derrotado pelo 
peronista Carlos Menem. 
 Durante a campanha eleitoral, Menem havia prometido fazer uma política voltada para a solução dos 
problemas sociais, mas, ao chegar ao poder, colocou em prática um programa de austeridade econômica 
nos moldes do Consenso de Washington e das propostas neoliberais do FMI. Com essa estratégia, o seu 
ministro da Economia, Domingo Cavallo, impôs a paridade cambial entre o peso e o dólar e deu início à 
contenção de gastos, limitando as aposentadorias e os salários dos servidores públicos. Ao mesmo tempo, 
pôs em marcha um amplo programa de privatizações. 
 Essa política provocou achatamento salarial e desemprego, mas extinguiu a inflação. Apoiando-se 
nisso, em 1995, Carlos Menem conseguiu reeleger-se para um segundo mandato presidencial. Quatro anos 
depois, novas eleições para presidente deram a vitória ao candidato da oposição Fernando de la Rúa, 
membro da UCR. 
 Em meados de 2001, De la Rúa se debatia com os problemas gerados pela aplicação excessivamente 
rigorosa das receitas neoliberais na Argentina. A taxa de desemprego se elevava a mais de 18% da 
população economicamente ativa, que representa a soma de todas as pessoas em idade de trabalhar; a 
atividade industrial se mantinha estagnada e a paridade entre o peso e o dólar dificultava as exportações e 
impedia que os produtos argentinos competissem em igualdade de condições com os artigos de procedência 
brasileira no Mercosul. 
3. Chile: da esperança ao horror 
 Em 1970, as eleições presidenciais do Chile foram vencidas pelo socialista Salvador Allende, 
candidato da Unidad Popular, uma aliança de esquerda que aglutinava comunistas, socialistas e cristã 
progressistas. 
 Logo em seu primeiro ano de governo, Allende nacionalizou as minas de cobre, as siderúrgicas, as 
minas de carvão e salitre, as telecomunicações, os bancos, as ferrovias, a exploração de petróleo e a 
produção de energia elétrica. Além disso, aumentou o salário dos trabalhadores, reduziu o analfabetismo e 
deu início a uma reforma agrária. Várias dessas medidas provocaram a reação dos setores de direita e do 
capital estrangeiro. 
 Em setembro de 1973, estimuladas pelo governo norte-americano, as forças armadas do Chile se 
insurgiram contra o governo constitucional e tomaram o poder por meio de um golpe de Estado, no qual o 
presidente Allende morreu. Encabeçado pelo general Augusto Pinochet, o governo militar submeteu o país 
a um regime extremamente repressivo, sob o qual milhares de pessoas foram presos, torturados e 
assassinados, e outras tiveram que sair do país para escapar à repressão. 
 O regime militar oprimiu o povo chileno até 1988, quando Pinochet foi derrotado em um plebiscito 
popular, convocado para decidir sobre a permanência ou não do ditador por mais oito anos no poder. Com 
a derrota, o general foi obrigado a promover eleições presidenciais e entregar o governo ao candidato 
vitorioso, Patricio Aylwin. Pinochet, entretanto, não abandonou a cena política, mantendo sua condição de 
comandante do Exército até 1998 e tornando-se senador vitalício. Ainda em 1998, em viagem a Londres, o 
ex-ditador chileno foi preso a pedido de um juiz espanhol, que pretendia obter a sua extradição para a 
 5 
Espanha, com o objetivo de julgá-lo por crimes e violações dos direitos humanos cometidos sob o seu 
governo contra cidadãos espanhóis. 
 No início de 2000, exames médicos indicaram que, por sua idade avançada, Pinochet não teria 
condições físicas de enfrentar um processo prolongado na Espanha. Assim, o ministro britânico, Jack Straw, 
decidiu que o ex-ditador não seria extraditado. Pinochet foi liberado pelo governo da Inglaterra e voltou 
para o Chile. Mas as agruras do ex-ditador não haviam terminado. Pouco depois de chegar a Santiago, 
Pinochet perdeu a imunidade de senador por decisão da Corte Suprema, que autorizou a abertura de 
processo contra ele, sob a acusação de envolvimento em 75 assassinatos e sequestros realizados pela 
Caravana da Morte, um grupo militar que agiu no país logo após o golpe que o colocou no poder em 1973. 
 
Ficha 15 - A verdade enjaulada 
Por Vladimir Safatle — publicado 02/04/2014 
 
Em um país incapaz de explicar o passado, torturadores e financiadores da repressão continuam a distorcer 
a história e a justificar as barbáries do regime. 
 
A mais brutal de todas as violências é, sem dúvida, a violência da inexistência. Esta é uma forma muito pior 
de extermínio, pois não se trata apenas da eliminação física. Ela é uma eliminação simbólica, desta que 
afirma que nada existiu, que a violência não deixou traços e indignação. Neste exato momento, o Brasil é 
vítima, mais uma vez, dessa forma mais brutal de violência. 
Talvez ninguém esperasse que, em 2014, 50 anos após o golpe militar, estaríamos em um embate para 
saber se, no fim das contas, existiu ou não uma ditadura no País, com todas as suas letras. Era de se 
esperar que neste momento histórico estivéssemos a ler cartas abertas das Forças Armadas com pedidos 
de perdão por terem protagonizado um dos momentos mais infames da história brasileira, cartas de 
desculpas de grupos empresariais que financiaram fartamente casas de torturas e operações de crimes 
contra a humanidade. Todos esses atores não se veem, no entanto, obrigados a um mínimo mea-culpa. 
Há de se perguntar como chegamos a esse ponto. Uma resposta-padrão consiste em dizer que os setores 
progressistas da sociedade brasileira não tiveram força suficiente para impor aos governos exigências de 
dever de memória e justiça de transição. A história brasileira recente é, em larga medida, uma história de 
transformações abortadas. 
Já a luta pela anistia foi abortada quando o regime militar conseguiu impor sua própria lei da anistia, que 
livrava os funcionários de Estado responsáveis por crimes contra a humanidade, isso enquanto ainda 
deixava na cadeia integrantes da luta armada que participaram de assaltos a bancos e ações com mortes. 
Àqueles que têm o despudor de afirmar que a lei da anistia foi fruto de acordo nacional, devemos lembrar 
que a votação que aprovou a referida legislação no Congresso Nacional foi de 206 votos a favor e 201 
contrários, sendo os votos favoráveis saídos todos das fileiras do então partido governista (a Arena). Faz 
parte das ditaduras a criação de uma novilíngua, na qual os termos ganham sentidos contrários. No Brasil, 
a imposição da sua vontade por meio da coerção é chamada de “acordo”. 
Depois, a luta por eleições diretas para presidente da República foi abortada em famosa votação no 
Congresso, o afastamentode líderes ligados ao regime militar foi abortado com a elevação de José Sarney 
 6 
à Presidência do Brasil, seguido de Fernando Collor. Em todos esses processos não foi a sociedade brasileira 
que se mostrou fraca, mas o poder que se demonstrou suficientemente astuto para se perpetuar sob o 
manto da transformação. Falamos de uma ditadura que conseguiu permanecer no governo mesmo depois 
de seu fim, graças a uma manobra transformista que alçou o então PFL a fiador da República. 
Da mesma forma, as Forças Armadas conseguiram criar a ilusão de ser um ator que deveria ser deixado 
em paz, sob o risco de maiores instabilidades institucionais. 
Essa lógica levou os primeiros governos realmente pós-ditadura (Fernando Henrique Cardoso e Lula) a 
nunca adotar uma política efetiva de criminalização da ditadura. Assim, chegamos em 2014 sem um 
torturador punido, sem um general obrigado a reconhecer a experiência terrível dos anos de chumbo. 
Dentro desse quadro desolador, o governo Dilma Rousseff resolveu criar uma Comissão da Verdade, que 
deve entregar o relatório de suas atividades ainda neste ano. Composta de alguns nomes de inquestionável 
valor e dedicação, indivíduos com largo histórico de defesa dos direitos humanos e intervenções na mídia 
em favor de uma política efetiva de memória, a comissão teve condições mínimas de trabalho. 
Dos sete integrantes iniciais, ela agora funciona com cinco. Mesmo ao levantar novos dados, principalmente 
a respeito da repressão no campo e contra indígenas, ela não conseguiu mobilizar a opinião pública, talvez 
por ter preferido não divulgar parcialmente resultados ou encaminhá-los diretamente às cortes 
internacionais de Justiça (pois as cortes brasileiras estão açodadas devido à decisão canalha do Supremo 
Tribunal Federal a respeito da perpetuação das leituras correntes a respeito da lei da anistia). Caso tivesse 
optado pela ampla divulgação e enviado os resultados às cortes internacionais, uma situação jurídica nova 
teria sido criada e obrigaria o governo a sair de sua política de minimização de conflitos. Foi graças a uma 
intervenção exterior, lembremos, que o Chile conseguiu, enfim, começar a enfrentar a brutalidade de seu 
passado. Se Augusto Pinochet não tivesse sido preso na Inglaterra por causa de um pedido do juiz espanhol 
Baltasar Garzón, há de se imaginar que o Chile estaria em situação muito diferente. 
A Comissão da Verdade brasileira deveria assumir experiências de outras comissões e, ao menos, 
desenvolver um procedimento parecido àquele aplicado na África do Sul. Nesse caso, antigos funcionários 
do apartheid tiveram seus crimes perdoados se os confessassem abertamente diante das vítimas ou 
familiares das vítimas, pedindo publicamente perdão. Certamente, no Brasil, algo dessa natureza teria, 
neste momento, grande força, certamente muito maior do que aquela que o procedimento demonstrou na 
própria África do Sul. Pois, entre nós, o verdadeiro problema é interromper, de uma vez por todas, a 
violência produzida pela tentativa de jogar o sofrimento social do período militar à condição de inexistência. 
Creio ser útil partilhar um fato pessoal. Depois de escrever um artigo a respeito da tendência de negação 
predominante em parte de nossa historiografia recente, com seu desejo de apagar os traços da ditadura, 
recebi uma mensagem singela de alguém que dizia que a ditadura não existiu para ele, cidadão ordeiro e 
trabalhador. Ela existiu apenas para os indivíduos que queriam transformar este país em uma nova União 
Soviética. Eu diria que ele tem razão. De fato, a ditadura não existiu para ele, pois esse senhor, como vários 
outros, fez parte da ditadura. Não haveria ditadura sem cidadãos como este, que hoje não temem em 
demonstrar claramente suas escolhas. 
Não há ditadura sem um conjunto de “carrascos voluntários”, que, mesmo não trabalhando diretamente 
nos aparatos repressivos, atua indiretamente no suporte e na reprodução das justificativas de suas ações. 
 7 
Há de se apontar para os carrascos voluntários da ditadura brasileira. Por isso, o País nunca conseguirá 
encerrar o legado ditatorial sem um processo de culpabilização coletiva. Quem votou na Arena foi um 
carrasco voluntário da ditadura e há de se tratar tais indivíduos dessa forma. Muito mais gente deveria 
estar no banco dos réus. Pois devemos lembrar, mais uma vez: só há perdão quando há, do outro lado, 
reconhecimento do crime. Você não pode perdoar o que não existiu. Então, se para certas parcelas da 
população, a ditadura não existiu, não há razão alguma para perdoá-los. O Brasil segue e seguirá em 
conflito, como quem vive uma história em suspenso. 
*É professor de Filosofia da USP e colunista de Carta Capital. 
Ficha 16: A Ditadura e o Estado de exceção permanente 
*Por EDSON TELES 16 de outubro de 2015 
 
A violência dos traumas vividos na ditadura mantém-se na democracia atual 
 
O texto de Vladimir Safatle, “A verdade enjaulada”, trata da tímida movimentação da democracia 
brasileira em direção à verdade sobre a Ditadura Militar. A argumentação aponta para um processo de 
transição feito sob o controle do regime anterior, decepcionando as manifestações populares pela anistia 
aos perseguidos e pelas eleições diretas para presidente. Nascia uma democracia silenciada sobre sua 
experiência recente. 
Em agosto de 1979, o Congresso Nacional brasileiro, ainda sob a vigência do regime militar, aprovou a Lei 
de Anistia, que em seu texto dizia: estão anistiados “todos quantos, no período compreendido entre 2 de 
setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexos com estes”. Na época, 
os militares cederam às pressões da opinião pública e a oposição aceitou a anistia proposta pelo governo, 
ainda que parte dos presos e perseguidos políticos não tenha sido beneficiada. Era o marco da transição da 
ditadura para o Estado de Direito, visando superar – e silenciar – o drama vivido diante da violência estatal. 
O fim do regime efetuou-se por meio da transição de uma visão da política como enfrentamento e violência 
para um modelo do consenso, acordado em negociações entre os representantes políticos. O rito 
institucional do consenso pretendeu forçar uma unanimidade de vozes e condutas em torno da 
racionalização da política, difundindo significações mais ou menos homogêneas sobre os anos de repressão. 
A oposição entre a razão política pacificadora e as memórias da repressão obstruiu a expressão pública da 
dor e acabou por construir um novo espaço social justamente sobre a negação do passado. A análise da 
transição brasileira aponta a intenção de dividir a sociedade em parcelas previamente identificadas. O 
estabelecimento de grupos determinados como partícipes do novo regime ocorre mediante a exclusão de 
outros segmentos, silenciados em suas demandas. 
Entretanto, se considerarmos que na democracia o povo que a compõe não corresponde a parcelas 
socialmente determináveis, então, a democracia seria a prática política de sujeitos que não coincidem com 
parte do Estado ou da sociedade, mas sujeitos que se transformam e se sobrepõem às parcelas 
representadas nas instituições. A transição começou a ser formulada no começo do governo Geisel (1974-
1978), procurando construir uma abertura lenta, gradual e segura, na qual o estatuto político da nova 
democracia pudesse ser acordado de antemão e, principalmente, se mantivesse o controle militar. Em 1977, 
http://www.cartacapital.com.br/revista/793/a-verdade-enjaulada-9436.html
 8 
o governo impõe o Pacote de Abril, fechando o Congresso por 15 dias e outorgando medidas limitando as 
possibilidades de ruptura na abertura. O governo manteve as medidas de abertura gradual em 1978, quando 
tirou a capacidade de o presidente fechar o Congresso Nacional e de cassar direitos políticos, devolveu o 
habeas corpus, suspendeu a censura prévia e aboliu a pena de morte. Em dezembro, é tornado extinto o 
AI-5. A abertura militarfundamentava-se na lógica do consenso e a anistia ainda não era considerada parte 
das ações possíveis no processo lento e gradual. Quando em 1977-1978 foram montados os pacotes de 
reformas, falava-se no máximo em revisões de algumas penas, como a dos banidos. O Estado de exceção 
começava a se transformar. No Brasil, o Estado de exceção surgiu como estrutura política fundamental, 
prevalecendo como norma quando a ditadura transformou os topos inexcedível da exceção em localização 
sombria e permanente nas salas de tortura. Referimo-nos ao filósofo italiano Giorgio Agamben e sua 
argumentação sobre o Estado de exceção permanente nas democracias contemporâneas no livro Homo 
Sacer. A violência originária do contexto político, que no caso da nossa democracia seriam os traumas 
vividos na ditadura, mantém-se nos atos de tortura praticados ainda hoje nas delegacias e na suspensão 
dos atos de justiça no simbolismo da anistia. Tais atos, silenciados na transição, delimitam um lugar 
inaugural de determinada política e criam valores herdados na cultura, objetivamente e subjetivamente – 
nas narrativas, nos testemunhos e nos sentimentos e nas paixões dos sujeitos subtraídos da razão política. 
Nos aspectos sociais, as marcas de esferas políticas originárias, como a sala de tortura e a transição 
consensual, se constituem como partes fundantes da democracia pós-ditadura. O caráter maldito da tortura 
e o aspecto de impunidade da democracia incluem na memória coletiva o medo da violência e da fabricação 
do corpo nu dos torturados. A aceitação simbólica da anistia como uma lei de anulação das possibilidades 
de justiça configurou-se, seguindo à sala de tortura, como a exceção política originária na qual a vida 
exposta ao terrorismo de Estado é incluída no ordenamento social e político. A fidelidade ao princípio da 
não inscrição da matabilidade na norma mantém-se na lei ao anistiar sem a apuração dos crimes e de seus 
agentes. A implicação da inclusão da vida na ordem, via sua exclusão, cria a indeterminação das distinções 
entre as esferas públicas e privadas, entre o político e o biológico. 
*Edson Teles é professor de filosofia política na Unifesp. 
Orientações 
1. Considerar a definição dos conceitos do Dicionário eletrônico de Antonio Houaiss. 
Utopia - datação: 1671. Y substantivo feminino. 1. lugar ou estado ideal; de completa felicidade e 
harmonia entre os indivíduos. 2. qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, 
fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente 
comprometidas com o bem-estar da coletividade. 3. Derivação: por extensão de sentido - projeto 
de natureza irrealizável; quimera, fantasia. Etimologia: lat. utopia, nome dado por Thomas Morus 
(humanista inglês, 1477-1535) a uma ilha imaginária, com um sistema sociopolítico ideal. 
Sinônimus: ver sinonímia de quimera. 
Barbárie - datação: 1500. Y substantivo feminino. 1. qualidade, condição ou estado de bárbaro; 
 9 
barbarismo, selvageria. 2. erro crasso de linguagem ou de escrita; barbarismo, barbaridade. 
Etimologia: lat. barbáries, ei 'nação estrangeira em relação aos gregos e aos romanos, costumes 
grosseiros, rústicos, ignorância, estupidez, crueldade'. Sinônimos: ver sinonímia de barbaria. 
Antônimo: civilização. 
2. Refletia sobre as seguintes questões e faça o proposto. 
Como pensar os dois tipos de eventos enfocados nos documentários: utópicos e bárbaros? 
Há possibilidade de pensar o futuro sem recuperarmos o passado? 
No que tange às políticas de memória X políticas de esquecimento: como a sua geração é capaz 
de contribuir? 
Como o que você ouviu, leu e viu se projeta na realidade social da atualidade? Há como resistir à 
violência estatal? 
O conhecimento deste passado pode promover ações das novas gerações?

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