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Gestão de áreas degradadas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Ms. Bianca Mayumi Silva Kida Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos A degradação ambiental 5 • A degradação dos solos no contexto histórico • Legislação ambiental • Conceitos gerais de degradação dos solos • Causas da degradação Os objetivos desta unidade são: · Introduzir os principais conceitos, o histórico e a legislação ambiental referente às áreas degradadas; · Desenvolver a reflexão do aluno frente à gestão de áreas degradadas; · Relacionar o estudo de áreas degradadas com o cotidiano do aluno; · Destacar as principais atividades envolvidas na degradação do solo. Esta unidade será muito importante para introduzir você no campo de conhecimento sobre gestão de áreas degradadas no que diz respeito ao início dos estudos nessa área, o que nos faz pensar em quando as áreas degradadas se tornaram uma preocupação para órgãos envolvidos na proteção ambiental. É preciso que esta unidade seja bem compreendida para que possamos prosseguir com as próximas unidades. Bons estudos! A degradação ambiental 6 Unidade: A degradação ambiental Contextualização Nesta unidade, vamos começar a entender um assunto que tem se tornado cada vez mais importante, e que tem chamado a atenção dos grandes poderes, visto a necessidade de proteger o meio ambiente. Por anos, as áreas verdes foram altamente exploradas sem a maior preocupação quanto à sua conservação. Essa exploração inconsequente do meio ambiente gerou danos irreparáveis nos ecossistemas, e que afetaram diretamente o principal causador: o homem. Este, responsável pelo crescimento populacional, desenvolvimento industrial, aumento de resíduos e tratamentos de esgotos e efluentes inadequados, gerou inúmeros impactos no meio ambiente, o que nos faz pensar: por que a preocupação com o meio ambiente foi tão tardia? Pensou-se que áreas verdes não seriam necessárias em centros urbanos? Por que esses problemas foram ignorados? Agora se viu a necessidade de correr atrás do prejuízo, uma vez que estamos enfrentando e sofrendo com esses problemas ambientais, como mudanças climáticas, má qualidade do ar, desmatamento, falta de áreas cultiváveis, entre outros. Após esses problemas atingirem os principais causadores, estes procuraram se “redimir” dos danos causados ao meio ambiente. A recuperação das áreas degradadas, então, aparece como uma forma de reparar os danos e, assim, devolver às áreas degradadas a capacidade produtiva e sua integridade física, química e biológica. 7 A degradação dos solos no contexto histórico Nos últimos tempos, principalmente nas últimas décadas, a sociedade vem sofrendo com suas próprias ações. A degradação do ambiente, especificamente a degradação do solo, foi considerada como um dos principais desafios de meio ambiente global e de desenvolvimento sustentável do século 21, segundo a Reunião Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em setembro de 2012 (Gisladottir; Stocking, 2005). Segundo o Banco Mundial, os solos agrícolas vêm se degradando a uma taxa de 0,1% ao ano devido às atividades antrópicas e à má gestão dos solos, como más práticas agrícolas, secas, pressão populacional e ações de exploração (Tavares, 2008), que serão tratadas adiante nesta unidade. Portanto, essas alterações no uso do solo refletirão na história e, talvez, no futuro da humanidade, uma vez que estão diretamente ligadas ao desenvolvimento econômico, crescimento populacional, tecnologia e alterações ambientais (Houghton, 1994). A degradação do solo é considerada uma ação altamente variável, descontínua, resultante de diferentes causas e que afeta pessoas de formas distintas de acordo com as suas condições políticas, econômicas e sociais (Mortimore, 1998). Adam e Eswaran (2000) estimaram que a degradação do solo impacta cerca de 2,8 bilhões de pessoas em mais de cem países, equivalente a 33% da superfície terrestre, sendo que o ranking por país por população rural afetada com a degradação do solo é China em primeiro lugar, com 457 milhões de pessoas afetadas; Índia em segundo, com 177 milhões de pessoas afetadas; Indonésia, com 86 milhões de pessoas; Bangladesh, com 72 milhões; e em quinto lugar Brasil, com 46 milhões de pessoas afetadas. Além disso, Oldeman (1994) relatou que 20 bilhões de hectares estão classificados como solos degradados por conta das atividades humanas ao redor do mundo, divididos da seguinte forma, sendo a maior concentração em países subdesenvolvidos: Você sabia? Segundo o MMA (2012), o Brasil apresenta o dobro do território da França de áreas degradadas. 8 Unidade: A degradação ambiental Além disso, os efeitos das alterações do uso do solo estão contribuindo para os efeitos de mudanças climáticas globais através do aumento de emissão de gases do efeito estufa (Houghton, 1994). Estima-se que essas alterações de uso do solo contribuem com aproximadamente 25% do aumento do efeito estufa, calculado com base nas emissões causadas pelo homem de gases do efeito estufa (Houghton, 1990). Abrangendo ainda mais os problemas de degradação do solo, o desflorestamento tropical é, sem dúvidas, o principal processo de perda da biodiversidade (O’Brien, 2003) que pode impactar não só os climas regionais e globais através dos custos de energia da superfície (Pielke et al, 2002), mas também com a redução da produtividade que está intimamente relacionada com processos biológicos dependentes da variedade e do número de organismos vivos no solo. Segundo Gisladottir e Stocking (2005), um solo degradado tem uma menor capacidade de suportar as condições ambientais adequadas para fauna e flora, e uma pequena mudança na temperatura, como consequência de uma mudança climática, pode gerar impactos em larga escala que são quase impossíveis de prever, podendo causar o desaparecimento de ecossistemas ou mesmo alterá-los drasticamente. Portanto, as sinergias, ou seja, as combinações entre degradação do solo, perda da biodiversidade e mudanças climáticas, apresentam as principais complicações para todas as convenções ambientais globais (Gisladottir; Stocking, 2005). Segundo Houghton (1994), o objetivo desses estudos não é prever o fim das florestas tropicais, mas sim enfatizar a necessidade de uma mudança na forma como os ecossistemas são gerenciados. A partir da perspectiva das ciências ambientais, a mudança deve ser no sentido de um gerenciamento sustentável do solo. Assim, os estudos relacionados ao controle da degradação dos solos têm o dever de não só combater a degradação, mas também inicializar uma geração de projetos que promovem o gerenciamento do solo sustentável como um veículo para o futuro com a conservação da biodiversidade, controle das mudanças climáticas e prevenção da degradação dos solos de forma simultânea (Gisladottir; Stocking, 2005). Reflita Onde está a preocupação atualmente em balancear os sistemas naturais e os empreendimentos? Você acha que existe esse cuidado com o meio ambiente quando se trata de atividade antrópica, como, por exemplo, por parte das indústrias? 9 Legislação ambiental A partir da Conferência Mundial sobre o meio ambiente realizada em Estocolmo, em 1972, a preocupação com questões ambientais passou a fazer parte das políticas de desenvolvimento adotadas principalmente nos países mais avançados. Embora o Brasil também tenha participado dessa conferência, somente em 1981 promulgou a Lei 6.938, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente. Nessa lei estão todos os fundamentos que definem a proteção ambiental de nosso país, e que nos anos 80 foram regulamentados através de decretos, normas, resoluções e portarias (Ibram, 1992) por meio da Resolução 001 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Em 1982, durante a Conferência de Nairobi, foram criadas as Unidades de Conservação e Recuperação de áreas degradadas pelas ações humanas. Em 1988, a Constituição Federal Brasileira, primeira constituição que tratou domeio ambiente e preocupada na proteção ambiental, determina que “Toda atividade que produza danos ambientais deverá arcar não só com as medidas mitigadoras dos impactos como também da recuperação ambiental”. E em 1990, a Rio 92 trouxe a preocupação de outras conferências com um crescimento econômico preocupado com as questões ambientais voltadas ao uso dos recursos naturais como água, ar e solo. Já o ano de 2015 foi escolhido pela FAO como ano para as discussões sobre as condições dos solos em escala mundial, e autoridades do assunto se reuniram em Brasília para a Conferência Governança do Solo, para tomar decisões quanto ao uso e manejo inadequado do solo. Para saber mais sobre essa Conferência, acesse o site: http://www.governancadosolo.gov.br/ A seguir estão as principais legislações brasileiras relacionadas aos impactos ambientais: Artigo 225 da Constituição de 88: “Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Lei 6.938/81 da PNMA, artigo 2º: “A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendendo aos seguintes princípios: I. Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II. Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III. Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV. Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V. Controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; 10 Unidade: A degradação ambiental VI. Incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; VII. Acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII. Recuperação de áreas degradadas; IX. Proteção de áreas ameaçadas de degradação; X. Educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.” • Cabe à lei também definir o que são as áreas degradadas, e segundo o Decreto lei 97.632/89, artigo 2º: “Para efeito deste Decreto são considerados como degradação os processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelo quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais”. • A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, em seu artigo 2º, distingue, para seus fins, um ecossistema “recuperado” de um “restaurado”, da seguinte forma: Art. 2º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: [...] XIII. Recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original; XIV. Restauração: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original; [...] § 1º – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I. Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; [...] 11 Sugestão de sites Explore esses sites para saber mais sobre as legislações vigentes na área ambiental: Ministério do Meio Ambiente (MMA): http://www.ministeriodomeioambiente.gov.br Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CETESB: http://www.cetesb.sp.gov.br/ Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA): http://www.ibama.gov.br/ (Aqui cabe uma nota referente aos sites que eles terão que explorar, no entanto eu chamei atenção para alguns pontos) “Note também nesses sites, além das legislações, a preocupação ambiental, a interação e inserção na sociedade para a preservação ambiental, os serviços realizados que vão desde a educação ambiental à emissão de documentos e licenças ambientais, entre outros assuntos que representam a grande preocupação em controlar ,diminuir os danos causados ao meio ambiente”. É muito importante que as leis sejam conhecidas e compreendidas, visto que o seu cumprimento é obrigatório e, portanto, no gerenciamento das áreas degradas, é de suma importância que se saiba os deveres e os direitos daqueles que estão envolvidos nesse processo. Veja entrevista sobre recuperação de áreas degradas segundo um advogado e um membro de uma ONG, a respeito da atividade de recuperação de áreas degradadas: https://www.youtube.com/watch?v=NKnFRLUrOhU Será uma breve introdução ao assunto de gestão e recuperação de áreas degradadas. 12 Unidade: A degradação ambiental Conceitos gerais de degradação dos solos Todas as leis vigentes até então, relacionadas à preservação do meio ambiente, são necessárias e precisam ser cumpridas, uma vez que o uso consciente do solo é fundamental para a sustentabilidade. Para isso, precisamos aprender a determinar o que define um solo degradado, o que está envolvido nesse estudo e quais as providências que devem ser tomadas para recuperar a integridade dos solos. Segundo a CETESB: O solo é um meio complexo e heterogêneo, resultado da alteração do remanejamento e da organização do material original formado por rochas, sedimentos ou outro solo, sob a ação da vida, da atmosfera, e das trocas de energia que aí se manifestam, e constituído por minerais, matéria orgânica, água, ar e organismos vivos, incluindo plantas, bactérias, fungos, protozoários, invertebrados e outros animais. Este é um recurso natural básico, sendo fundamental para os ecossistemas e os ciclos naturais. Pelo fato de o solo ser um dos ambientes mais importantes, devido a todos os seres vivos estarem sobre ele e todo sustento humano ser retirado dele, quando a retirada é feita de forma exploratória, geram-se danos ao ambiente e, assim, a sua degradação. De acordo com a ABNT, por meio da NBR 10703, a degradação do solo é apontada como a “alteração adversa das características do solo em relação aos seus diversos usos possíveis, tanto os estabelecidos em planejamento, como os potenciais”. Para Kageyama et al (1994), “área degradada é aquela que após distúrbio, teve eliminados os seus meios de regeneração natural, apresentando baixo poder de recuperação”. Segundo o artigo 1º da Resolução n.º 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), impacto ambiental é Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: • A saúde, a segurança, e o bem estar da população; • As atividades sociais e econômicas; • A biota; • As condições estéticas e sanitárias ambientais; • A qualidade dos recursos ambientais. Uma vez que exista um impacto ambiental, há diferenças quanto às definições de solo degradado, bem como às formas de remediação dos danos causados ao solo, uma vez que a degradação não é facilmente revertida e os processos de formação e regeneração do solo são muito lentos. 13 Portanto, há distinções quanto aos termos restauração e recuperação. Restauração é a restituição do ecossistema para seu estado original, no entanto isso é algo muito difícil de acontecer, visto à complexidade do ecossistema, e nesse caso, a restauração se opera de forma natural (resiliência), uma vez eliminados os fatores de degradação. Já a recuperação (figura 1) é a reversão de uma condição degradada para uma condição não degradada (Majoer, 1989), independentemente de seu estado original e de sua destinação futura (Rodrigues; Gandolfi, 2001). A recuperação de uma dada área degradadadeve ter como objetivos recuperar sua integridade física, química e biológica (estrutura), e ao mesmo tempo, recuperar sua capacidade produtiva (função), seja na produção de alimentos e matérias-primas ou na prestação de serviços ambientais. Figura 1 – Processo de recuperação de área degradada realizado em João Pessoa. Fonte: ecodebate.com.br Nesse sentido, de acordo com a natureza e a severidade da degradação, bem como do esforço necessário para a reversão desse estado, podem ser considerados os seguintes casos, de acordo com Rodrigues & Gandolfi (2001): reabilitação como o retorno da área degradada a um estado intermediário da condição original, a partir de uma intervenção antrópica, e redefinição ou redestinação como a recuperação da área para uma destinação diferente da situação pré-existente, sendo necessária uma forte intervenção antrópica. Além disso, segundo os mesmo autores, ainda existem outros termos relacionados à recuperação de áreas degradadas, como revegetação, que exige um alto investimento para a transferência de camada fértil de outras áreas, ou remediação do dano a partir de um conjunto de técnicas e operações visando a anular os efeitos nocivos tanto à biota quanto ao ser humano. Diante disso, é notável a crescente abordagem da recuperação de áreas degradadas como um processo que deve ser realizado mediante um plano previamente elaborado e com objetivos bem estabelecidos e explicitados, que serão abordados ao longo desta unidade com mais detalhes, de forma que todo o processo de recuperação seja compreendido. 14 Unidade: A degradação ambiental Causas da degradação O conceito de degradação é relativo, embora esteja sempre associado à noção de alteração ambiental adversa, gerada, na maioria das vezes, por atividades humanas. Essa alteração, então, pode ocorrer de diversas formas, podendo ser por formas naturais, como a erosão causada pela água ou vento, ou por deterioração física ou química, esta última causada principalmente por ações antrópicas de caráter social, político e econômico. Quando degradado, o solo perde a capacidade de produção, e mesmo com grande quantidade de adubo não é possível mais a produção de grandes quantidades se comparada à produtividade de um solo não degradado. A degradação pode ser provocada por intempéries variadas, como a ação de substâncias químicas que podem causar a perda de nutrientes, acidificação e salinização do solo, que podem ser causadas por fertilizantes e excesso de irrigação, assim como fatores físicos, como perda de estrutura e diminuição de permeabilidade, e fatores biológicos, como diminuição de matéria orgânica. A seguir falaremos um pouco mais sobre as principais causas de degradação e suas ações sobre o solo. Além dessas, outras atividades também merecem destaque devido ao grande impacto ambiental que elas geram e o grau de danificação que elas causam ao ambiente, principalmente aos solos: Erosão Caracterizada pela destruição física das estruturas do solo, que pode ser realizada pela água e pelo vento, recebendo os nomes de erosão hídrica e erosão eólica, respectivamente. A água é responsável por carregar a cama superior do solo e causar a formação de ravinas (pequenos sulcos no solo, capazes de remediação) ou voçorocas (canais mais aprofundados formados por fluxos de água maiores e com difícil remediação), além de causar a destruição de margens de rios e movimentos de massa por deslizamento de terra. Já os ventos podem causar o deslocamento de partículas da camada superior do solo e gerar diversas consequências, como: diminuição da fertilidade, uma vez que ao se tornar mais compacto e fixo, o solo fica menos penetrável às raízes; redução da capacidade do solo na retenção de água para dispor às plantas; e a perda de nutrientes que vão junto com as partículas do solo erodidas (Araújo et al, 2009). Porém, o processo de erosão mais grave para a degradação do solo é realizado pelo ser humano, provocado pelas suas atividades, denominada erosão antropogênica, que é mais rápida que a erosão natural, e que causa danos graves aos solos. Segundo Araújo et al (2009), qualquer atividade humana que exija a remoção da cobertura vegetal protetora é capaz de promover um processo de erosão. 15 Figuras 2 – Processos erosivos causados no solo decorrentes de degradação Figura 3 – Formação de voçorocas Fonte: fotocientifica.com.br Fonte: fotocientifica.com.br Os processos erosivos se dão em três etapas: a erosão (desgaste), o transporte e a sedimentação (deposição), como observados na figura a seguir: Figura 4 – Etapas no processo de erosão. Fonte: biogeo.paginas.sapo.pt Quando o solo é submetido a remoções contínuas da camada superficial, podem surgir ravinas e voçorocas, e estas últimas, se não forem controladas adequadamente, tornam o solo infértil à agricultura e podem prejudicar construções, obras viárias, projetos de irrigação e até mesmo o abastecimento de energia elétrica. 16 Unidade: A degradação ambiental Deterioração Química Ocorre quando a composição química do solo é afetada de alguma forma e suas propriedades são alteradas, atingindo principalmente a produtividade. As principais causas para a deterioração química, segundo Araújo et al. (2009) são: a. Perda de nutrientes do solo, como nitrogênio, fósforo e potássio, e matérias orgânicas, uma vez que esse esgotamento é muito comum onde “a agricultura é praticada em solos pobres ou moderadamente férteis, porém sem a aplicação suficiente de esterco ou fertilizantes” (ISRIC/UNEP, 1991). Sem a manutenção do solo, ocorre um uso exploratório, e o solo, como uma fonte não renovável, inicia seu processo de degradação e improdutividade. b. Salinização ou alta concentração de sais na camada superior do solo. c. Acidificação decorrente da aplicação excessiva de fertilizantes ácidos ou pela drenagem em determinados tipos de solo. d. Poluição de diversas origens, como por descargas acidentais ou voluntárias de poluentes no solo, deposição de resíduos, lixeiras e aterros sanitários não controlados. O uso do solo para atividades agrícolas, pecuária e industrial tem gerado sérias consequências para o solo, contribuindo ativamente para sua contaminação. Ela vem sendo considerada como um dos problemas mais críticos quanto à degradação ambiental. Na figura a seguir vemos algumas formas de poluição do solo por fontes antrópicas: Figura 5 – Esquema representando as diferentes fontes de contaminação do solo por atividades antrópicas. Fonte: grupoescolar.com 17 Figura 6 – Processo de degradação do solo envolvendo uma atividade antrópica. Nota-se que não há nenhuma preocupação com a integridade dos solos. Fonte: marcosmartinspt.com.br Deterioração Física Quando a estrutura do solo é alterada de forma que a função é afetada. Existem três tipos principais de deterioração física: compactação do solo, causada pelo uso de máquinas ou o pisoteio de gado, dificultando a infiltração da água e crescimento das mudas, e pela dificuldade no escoamento da água pode gerar um erosão hídrica; elevação do lençol freático até a zona radicular decorrente da entrada excessiva de água além da capacidade de drenagem do solo; e subsidência, que se refere ao rebaixamento da superfície da terra, causada por drenagem ou oxidação (Araújo et al, 2009). Figura 7 – Solo compactado, onde é possível observar a dificuldade das raízes para se instalar; A infiltração da água também se torna difícil nessa situação. Fonte: plantiodireto.com.br 18 Unidade: A degradação ambiental Desertificação A desertificação é definida com um processo de deterioração e diminuição do potencial produtivo de terras férteis de regiões de clima árido, semiárido e subúmido seco. A Conferência sobre Desertificação das Nações Unidas (Uncod), em 1977, definiu a desertificação como: “a redução ou destruição do potencial biológico da terra, resultando, finalmente, no aparecimento de condições desérticas”. A FAO, em 1986, definiu a desertificação da seguintemaneira: “é somente um aspecto extremo da deterioração dos ecossistemas, disseminada sob a pressão combinada do clima adverso e da exploração agrícola”. Dentre as causas mais frequentes para a desertificação, está o uso intensivo e inadequado do solo em regiões de ecossistemas frágeis, que apresentam baixa capacidade de recuperação. Destacam-se, então, as principais atividades responsáveis por essa degradação: pastoreio, desmatamento, esgotamento do solo e recursos hídricos, e manejo inadequado na agropecuária. Manejo agrícola inadequado O principal efeito da degradação no meio rural é um declínio na produtividade ou uma necessidade crescente do aporte de nutrientes para manter a mesma produtividade, uma vez que “os subsolos geralmente contêm menos nutrientes do que as camadas superiores, sendo necessário mais fertilizante para manter a produtividade das culturas. Isso, por sua vez, aumenta os custos de produção. Além do mais, a adição somente de fertilizantes não pode compensar todos os nutrientes que se perdem quando a camada superior erode” (FAO, 1983), uma vez que o uso inadequado acaba gerando um efeito contrário, podendo gerar sérios riscos ambientais, como já destacado o efeito de fertilizantes ácidos na composição do solo. A partir do momento em que o manejo é inadequado, há a necessidade de uma extensão para terras cultiváveis, sendo o principal problema a expansão gradual do cultivo para áreas de encostas, e essas expansões ocorrem indiscriminadamente sem o devido cuidado para manter a fertilidade dessas terras. Araújo et al (2009) destacaram que a degradação então se inicia, a não ser que medidas especiais sejam tomadas para proteger a estrutura do solo e manter a fertilidade. Mas tais medidas geralmente estão ausentes, uma vez que esses tipos de prática ocorrem em situações em que as soluções de baixo custo são procuradas, por causa da falta de recursos para investir na proteção da terra. Portanto, Araújo et al (2009) concluem que: Conforme já observado, os danos causados à terra pela agricultura intensiva são largamente evitáveis através de uma melhor gestão. Poderia, então, parecer que a pressão populacional não tem responsabilidade nessa degradação, a não ser indiretamente por iniciar o movimento pela utilização de técnicas de produção potencialmente danosas. Por outro lado, a pressão populacional, reduzindo não somente o acesso à terra por habitante, mas também a outros recursos, pode levar à intensificação “barata”, isto é, drenagem imperfeita (e consequente elevação do lençol freático), adubação insuficiente (e perda de fertilidade do solo), e/ou monitoramento inadequados dos sistemas de irrigação, por exemplo. 19 Mineração Uma das atividades mais primitivas exercida pelo homem como fonte de sobrevivência e produção de bens sociais e industriais. A forma de extrair os bens minerais que a natureza nos oferece tem sido aprimorada nos últimos cinquenta anos. Como atividade extrativa, a mineração exercida sem técnicas adequadas e sem controle pode deixar um quadro de degradação grave na área que abriga (Salvador; Miranda, 2007), através da exploração dos solos para retirar os minerais de alto valor econômico na indústria. Atualmente existe uma legislação específica para mineração, visto o alto nível de danos que essa atividade causa, e nas próximas unidades mostraremos as formas de recuperação dessas áreas. Figuras 8 e 9 – Ambiente após o processo exploratório de mineração, nos quais as características são modificadas, se comparado ao que tem ao redor da área degradada. Fonte: 1) fotocientifica.com.br Fonte: 2) fotocientifica.com.br 20 Unidade: A degradação ambiental Crescimento urbano A ocupação urbana promove o crescente desmatamento e a impermeabilização do solo. Isso resulta em assoreamento de rios e córregos com a frequência ainda maior de cheias e inundações, que atingem as camadas mais pobres da população. Nesse sentido, Salvador e Miranda (2007) lembram que as construções de barragens podem, assim como os processos anteriormente vistos, causar impactos ambientais em larga escala, como destruição de habitat de animais, plantas e pessoas, afetando as águas subterrâneas, a qualidade de água dos rios, o microclima e a infraestrutura. Figura 10 – Campanha da WWF, uma ONG mundial preocupada com o meio ambiente. Nessa imagem destaca o problema de poluição instalada na sociedade. Fonte: WWF Figura 11 – Representação do que o homem vem causando ao mundo em termos de poluição e crescimento urbano. Fonte: WWF 21 De uma forma geral, Oldeman (1994) destacou a divisão dessas atividades antrópicas quanto ao seu impacto na degradação dos solos: • Desmatamento ou remoção da vegetação natural para agricultura, florestas comerciais, construção de estradas e urbanização (29,4%); • Superpastejo da vegetação (34,5%); • Atividades agrícolas: ampla variedade de práticas agrícolas, uso insuficiente ou excessivo de fertilizantes, uso de água de irrigação de baixa qualidade, uso inapropriado de máquinas agrícolas, ausência de práticas conservacionistas de solo (28,1%); • Exploração excessiva da vegetação para fins domésticos, como combustíveis, cercas, etc., expondo o solo à ação dos agentes erosivos (6,8%); • Atividades industriais ou bioindustriais que causam poluição do solo (1,2%). Aqui terminamos a primeira unidade com uma base sobre a degradação dos solos na sociedade e suas principais causas. Mas, o que vem a ser o solo e quais suas características físicas, químicas e biológicas? Na próxima unidade, entraremos mais no mundo biológico e geológico, e ao entender as causas e a dinâmica do solo, a base será formada para a tomada de decisões na gestão e recuperação dessas áreas. Até a próxima unidade! Reflita Explore mais esses assuntos em sites, livros e outras mídias que ajudem na compreensão do que foi apresentado. 22 Unidade: A degradação ambiental Material Complementar Para expandir seu conhecimento a respeito do conteúdo da unidade, sugiro os seguintes materiais: Vídeos: Ney Matogrosso e Pedro Luís e a parede. O mundo. https://www.youtube.com/watch?v=Tan8G8LB5wY Acesso em: 06 jul. 2015. UHSLESS. Vamos falar sobre o solo. https://www.youtube.com/watch?v=e8uqY0Aqcf0 Acesso em: 06 jul. 2015. CUTTS, Steve. Homem. https://www.youtube.com/watch?v=E1rZFQqzTRc Acesso em: 06 jul. 2015. Abertura da Conferência Internacional Governança do Solo https://www.youtube.com/watch?v=fIgUoR-r0WU Acesso em: 06 jul. 2015. Sites: BRITO, Maria Cecília Wey de. Degradados e sob riscos, os solos estão abandonados pelas políticas públicas. http://goo.gl/NhLQ9U Acesso em: 06 jul. 2015. Blog do Planeta – Revista Época: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/ Acesso em: 06 jul. 2015. 23 Referências Adam, C. R.; Eswaran, H. 2000. Global land resources in the context of food and environmental security. In: Advances in land resources management for the 20th Century, Gawande SP (ed). Soil conservation of India: New Delhi, 35 - 50. Araújo, G. H. S.; Almeida, J. R.; Guerra, A. J. T. 2009. Gestão ambiental de áreas degradadas. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 320 p. FAO. Natural resources and the human environment for food and agriculture. 1983. Keeping the land alive. In: Soil erosion – its causes and cures. Kelley, H.W. (orgs.) Soils Bulletin nº 50, Roma. ____.1986. African agriculture. Roma. Gisladottir, G.; Stocking, M. 2005. Land degradation control and its global environmental benefits. 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