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Scorpions - Minha Historia Em Uma das Maiores Bandas de Todos os Tempos

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Dedico	este	livro	a	você,	que	está	lendo	isto.	Minha	vida	sempre	teve	o
objetivo	de	entreter,	esperando	levar	felicidade	e	alegria.	Então,	nestas
páginas,	você	encontrará	o	seu	livro.	Ele	representa	o	meu	muito	obrigado	a
todos	por	permitirem	que	eu	faça	parte	de	suas	vidas	para	sempre.
PREFÁCIO
Já	tendo	lido	o	livro,	cuja	leitura	você	está	prestes	a	começar,	assim	como	tendo
vivido	muito	do	que	está	incluído	nele,	posso	dizer	com	toda	a	honestidade	que	o
Herman	não	deveria	deixar	seu	trabalho	nunca!
Mas,	falando	sério,	aqueles	anos	parecem	ter	feito	parte	de	um	sonho	distante
para	mim.	Quando	li	a	retrospectiva	feita	pelo	Herman,	recebi	o	maravilhoso
presente	das	lembranças.	Tive	a	honra	de	ter	trabalhado	com	vários	artistas	incríveis
do	mundo	todo	e,	com	certeza,	o	período	em	que	passei	com	o	Scorpions	trará	para
sempre	algumas	das	melhores	memórias	que	terei	na	vida.	Herman	Rarebell	é	parte
importante	delas.
Mais	do	que	somente	um	baterista,	Herman	foi	um	dos	responsáveis	pelo
desenvolvimento	do	que	eventualmente	se	tornou	conhecido	como	o	som	clássico
do	Scorpions.	A	música	começa	com	o	baterista.	Não	são	muitas	as	pessoas	que
percebem	isso.	De	qualquer	modo,	se	você	olhar	o	“sucesso”	do	grupo	ou,	talvez,
mais	apropriadamente,	a	falta	de	sucesso	antes	da	chegada	de	Herman	Ze	German
(The	German,	“O	alemão”,	dito	com	o	sotaque	típico,	trocando	o	TH	pelo	Z),	ou	o
sucesso	que	não	tiveram	da	mesma	forma	depois	que	Herman	deixou	o	Scorpions,
poderá	ver	quão	importante	foi	seu	papel	dentro	da	banda.
As	histórias	contidas	nestas	páginas	são	mais	do	que	a	superglamorizada	ficção
que	é	lugar-comum	nesse	tipo	de	livro.	Embora	muitos	certamente	menosprezem	de
cara	esse	tipo	de	autobiografia,	interpretando-a	como	mero	relato	berrante	e
espalhafatoso	de	comportamentos	sexuais	sem	restrições	e	exageros	na	contracultura
atual	inspirados	pelas	drogas	com	o	objetivo	de	chamar	a	atenção,	Herman	não	se
rebaixa	a	esse	clichê	sensacionalista.	Ele	prefere	recontar	as	coisas	como	realmente	se
passaram	e	captura	a	real	essência	e	o	espírito	da	banda,	assim	como	o	espírito
daquela	era	que	ficou	para	trás.	Felizmente,	ele	não	tenta	embelezar	nada	do	que
ocorreu	no	passado,	e	o	mais	importante	disso	tudo	é	que	ele	optou	por	não	tirar
nenhuma	de	suas	roupas	de	Lycra	de	sua	tumba	cheia	de	traças.	Não	teria	sido	uma
visão	bonita!	E	assim,	ao	final,	o	que	você	tem	é	a	história	MUITO	verdadeira	de
um	homem	que	não	só	admite	abertamente	ter	tido	mais	do	que	a	sua	cota	de	altos
e	baixos,	mas	que	também	não	tem	medo	de	falar	o	que	pensa.	Ele	foi	capaz	de
desbravar	muitas	tempestades	e	superar	suas	aflições	e	seus	vícios.	De	forma	franca,
confessa	suas	fraquezas	e	não	tenta	justificar	seu	comportamento.	Herman	não	se
poupa	ao	atacar	impiedosamente	a	si	mesmo	e	as	suas	escolhas.	Em	vez	de	encontrar
um	bode	expiatório	apropriado,	ele	prefere	passar	sua	vida	olhando	além	do	ontem,
rumo	ao	amanhã.	Essa	é	a	parte	do	homem	que	é	ao	mesmo	tempo	revigorante	e
adorável.	É	a	razão	pela	qual	o	considero	até	hoje	um	grande	amigo.
De	qualquer	forma,	existe	muito	mais	do	que	a	história	do	Herman	aqui.	Não
podemos	ignorar	ou	marginalizar	nem	um	pouco	a	história	de	um	grupo	incrível	de
músicos.	O	Scorpions	é	uma	banda	que	não	deveria	ter	sido	bem-sucedida	e	não
tinha	chance	de	“estourar”.	Eles	foram	discriminados	e	ridicularizados	como
sonhadores,	zombados	por	aqueles	que	supostamente	“sabiam	das	coisas”,	quando
disseram	que	queriam	ir	para	a	América.	Mas	não	foram	dissuadidos,	tampouco	se
intimidaram.	Eles	acreditavam	na	banda	e,	juntos,	chegaram	a	um	lugar	de
importância	sem	paralelos	na	história	do	rock	and	roll.	Esta	é	a	história	definitiva	do
Scorpions.	Por	si	só,	é	uma	história	que	vale	o	preço	da	entrada.
Não	nos	esqueçamos	daquele	que	está	contando	a	história.	O	senso	de	humor
leve,	que	por	vezes	se	autoironiza,	soma	tanto	à	leitura	que	eu	tenho	certeza	de	que
até	aqueles	que	nunca	ouviram	falar	do	Scorpions	vão	achar	o	livro	divertido	e
interessante.
Estou	muito	orgulhoso	por	ter	sido	convidado	a	escrever	este	breve	prefácio	e
ainda	mais	honrado	por	ser	considerado	o	Sexto	Scorpion,	porque	muito	do
trabalho	que	faço	é	esquecido	a	partir	do	momento	em	que	a	banda	sai	do	estúdio.
Não	sou	o	tipo	de	pessoa	que	gosta	de	ficar	bradando	sobre	os	próprios	êxitos,	como
tantos	dos	que	desempenham	a	minha	função.	Mas,	quando	li	as	coisas
maravilhosas	que	Herman	disse	a	meu	respeito,	eu	me	senti	profundamente	tocado.
Assim,	é	certo	que	é	uma	honra,	e	estou	muito	contente	em	dizer	que	este	livro	não
é	tanto	sobre	um	homem	ou	uma	banda,	mas	é	uma	desavergonhada	celebração	da
vida	e	um	convite	a	vivê-la.	Para	quem	não	conhece	Herman	Rarebell,	prepare-se
para	desfrutar	dos	momentos	e	dos	pensamentos	de	um	dos	verdadeiros	cavalheiros
dessa	indústria,	além	de	um	dos	grandes	músicos	de	sua	geração.
Divirta-se!
Dieter	Dierks
O	Sexto	Scorpion,	produtor	da	banda	de	1975	a	1988
APRESENTAÇÃO
Lembro-me	perfeitamente	da	primeira	vez	em	que	ouvi	Scorpions:	estava	no	meio
de	uma	aula	chata	no	colégio,	quando	peguei	um	walkman	velho	da	minha	irmã	e
comecei	a	ouvir	uma	estação	de	rádio	da	moda	(como	no	início	dos	anos	1990	a
base	da	música	pop	ainda	era	o	rock,	qualquer	programação	me	agradava).	A	música
era	Wind	of	change.	Fiquei	chocado	com	a	diferente	voz	anasalada	de	Klaus	Meine	e
com	a	beleza	criativa	do	som.
Tempos	depois,	em	uma	loja	de	discos,	notei	uma	capa	muito	curiosa	–	um
cara	gritando	em	uma	camisa	de	força	com	um	garfo	em	cada	olho	–	e	perguntei
para	o	dono:	“essa	banda	é	legal?”.	Ele,	com	uma	cara	de	elementar,	tirou	o	vinil	da
parede	e	pôs	na	pick-up:	“BLACKOUT!!!”...	Chapei.
Aposto	que	você	também	tem	a	sua	história...
São	momentos	assim	que	fazem	valer	a	pena	ser	fã	de	rock.	Para	nós,	as
músicas	e	as	bandas	nos	acompanham	pelo	resto	da	vida.	É	muito	legal	conhecer
mais	a	fundo	um	grupo	do	qual	você	é	fã.	Ainda	mais	quando	essas	histórias	são
contadas	por	um	de	seus	integrantes.
Este	livro,	traduzido	com	primor	por	Gus	Monsanto,	conta	a	trajetória	de	um
dos	maiores	grupos	de	rock	do	mundo,	mostrando	que	tudo	se	pode	conseguir
quando	sonhamos	juntos.
Boa	leitura!
Bruno	Sutter	Músico,	humorista	e	apresentador	do	programa	Rocka	Rolla,	da
MTV
	
A	história	do	Scorpions	não	foi	igual	às	outras.	Eles	vieram	da	Alemanha,	que	até
então	nunca	havia	dado	à	luz	uma	grande	banda	de	rock.	Tiveram	que	aprender	a
cantar	no	idioma	oficial	do	estilo,	o	inglês,	lutando	para	esconder	o	forte	sotaque.	E
nenhum	de	seus	integrantes	fazia	o	estilo	“rock	star	galã”,	daqueles	que	vendem
discos	só	de	colocar	a	foto	na	capa.	Quando	uma	banda	assim	vende	100	milhões	de
discos,	alguma	coisa	está	muito	errada.	Ou	muito	certa.
Contar	essa	história	já	valeria	um	livro,	mas	o	mais	notável	em	Scorpions:
Minha	história	em	uma	das	maiores	bandas	de	todos	os	tempos,	do	baterista	Herman
Rarebell,	não	são	os	tradicionais	excessos	da	tríade	sexo,	drogas	e	rock	and	roll,
ingredientes	sempre	presentes	nas	autobiografias	de	roqueiros	sessentões.	Rarebell
relembra	fatos	históricos,	como	a	noite	em	que	Gorbachev	recebeu	a	banda	no
Kremlin,	fala	sobre	a	vida	na	estrada	e	ainda	dá	dicas	para	as	novas	bandas.	Se	a
história	do	Scorpions	é	única,	este	livro	também	é	–	um	relato	honesto	e	divertido
de	sua	experiência	como	baterista	de	uma	das	maiores	bandas	de	rock	do	planeta.
Felipe	Machado	Jornalista,	escritor	e	guitarrista	do	Viper
TERMO	DE	RESPONSABILIDADE
(OU	ALGO	DO	TIPO) 	A 	HISTÓRIA	A	SEGUIR
TEM	APENAS	O	OBJETIVO	DE	ENTRETER!
DEIXE	SUAS	PREOCUPAÇÕES	E 	PROBLEMAS
DE	LADO. 	NESTE	LIVRO	NÃO	HÁ	NADA	ALÉM
DE	DIVERSÃO. 	ENTÃO, 	POR	FAVOR, 	NÃO
PROCURE	NADA	ALÉM	DISSO.
Bem-vindo	ao	mundo	do	Scorpions!
Herman
P.S.:	Exceto	onde	houver	indicação,	todos	os	trocadilhos	são	propositais.
1
WIND	OF	CHANGE	 1
O	verão	de	1989...	Talvez	pareça	um	lugar	inusitado	para	começar	o	livro.	Mas,
dado	o	rito	de	passagem	que	veio	como	resultado	de	nossos	esforços	musicais	e	da
imensa	oportunidade	colocada	à	nossa	porta	pelos	poderes	então	vigentes,	estou
convicto	de	quevocê	irá	concordar	que	esse	lugar	pode	ser	perfeito	para	dar	início	à
nossa	jornada	por	uma	das	histórias	mais	improváveis	do	rock	and	roll.	Tenho
orgulho	em	dizer	que	fiz	parte	dela	e,	juntos,	nas	próximas	páginas,	iremos	reviver
os	triunfos	sobre	a	adversidade,	a	construção	de	um	legado	e,	felizmente,	até	a	morte
da	disco	music!	O	último	deles	pode	ser	uma	das	maiores	emoções	que	já	tivemos!
(Eu	tenho	vergonha	de	admitir,	mas,	com	a	passagem	dos	anos,	a	disco	music	se
tornou	muito	mais	palatável,	o	que	talvez	aconteça	com	a	música	nos	dias	de	hoje...)
Mas,	como	Jerry	Garcia	escreveu	de	maneira	tão	lúcida	em	Truckin,	“what	a	long,
strange	trip	it’s	been...”	[que	viagem	longa	e	estranha	tem	sido...].	Ou,	ainda	mais
apropriado,	“que	viagem	longa	e	estranha”.	Nós	realmente	desafiamos	as
probabilidades	e	realizamos	o	impossível.	Superamos	as	pessoas	do	contra	e	as	que
eram	tidas	como	gurus,	sem	mencionar	os	obstáculos	políticos	persistentes	e	as
barricadas	do	tamanho	da	indústria	para	realizarmos	o	que	os	ditos	experts	diziam
ser	fora	de	questão.	Ninguém	abriu	porta	alguma	quando	batemos	(diabos,	as
pessoas	preferiam	receber	testemunhas	de	Jeová	a	nós...).	Tivemos	de	derrubar	as
portas	sozinhos	para	conseguir	atenção	para	nosso	trabalho.	Crescemos	juntos.
Brigamos	como	irmãos.	Compartilhamos	a	vida	de	nômades.	Conseguimos	nem
tanto	por	nós	mesmos,	mas	por	você,	nosso	fã.	O	objetivo	sempre	foi	o	prazer	dos
fãs.	Definitivamente,	nenhuma	banda	pode	resistir	muito	tempo	quando	toca	por
meros	motivos	egoístas.	E,	assim,	partimos	do	princípio	do	que	se	tornaria
eventualmente	parte	de	um	novo	começo	para	milhões	de	pessoas	mundo	afora.
Tendo	sido	criado	na	Alemanha	Ocidental	pós-guerra	como	eu	fui,	a	sensação
do	tempo	passado	sem	dúvida	nunca	foi	mais	forte	do	que	era	para	nós.	Fomos
expostos	ao	monumento	onipresente	e	onipotente	que	fora	concebido,	construído	e
consagrado	para	ser	o	símbolo	definitivo	da	opressão,	assim	como	um	lembrete	cruel
da	diferença	entre	o	Oriente	e	o	Ocidente,	o	Muro	de	Berlim.	Ao	lembrar-me	das
palavras	e	ideias	do	então	presidente	dos	Estados	Unidos,	o	popular	Ronald	Reagan,
que	se	referia	ao	lugar	como	o	“Império	do	Mal”,	você	pode	imaginar	como	me
senti	quando	nosso	avião	começou	a	descer	rumo	ao	Aeroporto	Internacional	de
Sheremetyevo,	nos	arredores	de	Moscou,	na	União	Soviética.
Embora	tenhamos	tocado	dentro	das	fronteiras	da	União	Soviética	no	ano
anterior,	na	cidade	de	Leningrado,	que	hoje	é	São	Petersburgo,	parecia	que	era	tudo
parte	de	um	sonho	que	desde	então	se	embaralhou	com	tantos	de	nossos	destinos
anteriores,	assim	como	os	lugares	que	visitamos	no	decorrer	da	jornada.	Ainda	era	a
Rússia,	mas	não	parecia	a	mesma	para	mim.	Havia,	na	verdade,	uma	vibração	meio
“ocidental”	na	cidade,	pode	acreditar.	Tínhamos	visto	apenas	fotografias	do
Hermitage,	da	catedral	de	São	Isaac	ou	de	outros	pontos	históricos	da	cidade.
Assim,	nós	não	os	associávamos	especificamente	à	Rússia.	Era	um	contraste	muito
grande	em	relação	à	capital	do	país	dos	dias	modernos	que	vimos	milhares	de	vezes
nos	jornais	e	na	TV.	E	meus	sentimentos	foram	realmente	justificados,	porque,
como	descobriríamos	mais	tarde,	Moscou	era	uma	cidade,	no	mínimo,	muito
diferente.	Bem	mais	parecida	com	o	que	tínhamos	em	mente.
Para	ser	honesto,	o	clima	no	avião	era	de	apreensão;	um	pouco	tenso,	dadas	as
circunstâncias	de	nossa	chegada	tardia.	Todos	nós	éramos	bem	capazes	de	lembrar	as
razões	da	emenda	rapidamente	planejada	em	nossa	agenda	no	ano	de	1988.
Deveríamos	de	fato	tocar	em	Moscou	naquela	época,	apesar	de	termos	sido
proibidos	pelo	que	poderíamos	chamar	de	“razões	políticas”.	Sendo	apenas	a
segunda	banda	ocidental	de	hard	rock	a	tocar	na	capital	da	Rússia	(a	Uriah	Heep	foi
a	primeira),	estávamos	ansiosos	para	descobrir	o	que	nos	aguardava	por	lá.	Seria
uma	repetição	de	nossos	shows	no	norte	do	país,	onde	as	plateias	eram	bastante
receptivas	e	genuinamente	felizes	em	nos	receber?	Ou	haveria	a	tensão	esperada,	que
alteraria	nossa	agenda	para	uma	visita	abortada?
Conforme	eu	olhava	pela	janela	para	tudo	o	que	estava	lá	embaixo,	vários
pensamentos	vinham	à	cabeça.	Eu	me	perguntava	como	seria	aterrissar	em	um	lugar
que	havia	passado	tantos	anos	trancado	em	uma	metafórica	cobertura	de	aço.
Também	ponderei	os	pensamentos	que	deveriam	estar	na	mente	de	pelo	menos
alguns	de	nossos	compatriotas,	que	certamente	nos	consideraram	traidores	de	uma
forma	ou	de	outra.	Era	justificável,	ainda	que	injusto,	do	nosso	ponto	de	vista.	Não
estávamos	tentando	fazer	uma	declaração	formal.	Não	estávamos	agindo	de	maneira
traidora	contra	nosso	próprio	povo.	Tentávamos	apenas	dar	alguma	coisa	de	volta
aos	fãs	que,	por	acaso,	viviam	dentro	da	União	Soviética.	Era	culpa	deles?	Seriam
todos	eles	determinados	em	seu	ódio	pelo	Ocidente	e	por	tudo	o	que	ele
representava?
À	medida	que	o	avião	entrava	e	saía	das	nuvens	em	direção	a	seu	rumo	final,
eu	me	encontrava	buscando	ansiosa	e	continuamente	algum	lugar	familiar,	como	o
Kremlin	ou	a	Praça	Vermelha.	Não	me	dei	conta	de	que	ambos	estavam	a	mais	de
trinta	quilômetros	a	leste	da	pista	do	aeroporto.	De	onde	eu	estava,	olhando	para
baixo,	só	enxergava	uma	pequena	quantidade	de	casinhas	não	tão	diferentes
daquelas	que	havia	em	meu	próprio	país.	Pensei:	“Como	pessoas	que	não	somente
representavam	o	inimigo	por	tantos	anos,	mas	também	dominavam	a	patinação
artística	de	casais,	com	a	ajuda	de	jurados	‘fantoches’,	poderiam	possivelmente	viver
de	uma	maneira	que	não	fosse	tão	diferente	da	minha?”.	Sim,	era	o	ano	de	1989	e	a
Perestroika	estava	florescendo	por	completo.	Ainda	assim,	não	fazia	tantos	anos	que
a	aparência	da	União	Soviética	havia	sido	tão	mais	ameaçadora	e	sombria.	No
entanto,	quanto	mais	pensava	nisso,	mais	percebia	que	o	nosso	mundo,	aquele	no
qual	eu	vivia,	não	era	baseado	em	política,	e	sim	em	entretenimento.	A	música	não
era	um	elemento	divisor,	mas	unificador.	Eles	podiam	trancar	as	pessoas,	mas	não
podiam	trancar	as	ondas	do	rádio.
Como	eu	havia	dito,	dificilmente	teríamos	sido	os	primeiros	músicos
ocidentais	a	invadir	a	“soberania”	soviética.	Nem	éramos	mesmo	o	primeiro	grupo
alemão	desde	que	o	Terceiro	Reich	andava	com	passos	de	ganso[2]	rumo	ao	Volga.
Tenho	certeza	de	que	houve	bandas	de	polca	que	tocaram	seus	“umpa-pahs”	direto
ao	coração	dos	fiéis	(embora	a	expressão	apropriada	fosse	“queimaram	o	coração	dos
fiéis”).	Nós	éramos	a	última	e,	definitivamente,	a	primeira	banda	da	Alemanha
Ocidental	de	qualquer	gênero	de	rock	na	área.	Ainda	assim,	à	medida	que	nosso
avião	descia	e	começava	a	taxiar	na	direção	do	terminal,	eu	olhava	ao	redor	as	letras
cirílicas	que	adornavam	todos	os	prédios	e	descobri	como	Dorothy	se	sentiu	quando
adentrou	o	reino	de	Oz.	Embora	tenhamos	visto	a	mesma	coisa	em	Leningrado,	por
alguma	razão	senti	algo	bem	diferente	dessa	vez.	De	repente,	compreendi	melhor	as
frustrações	daqueles	que	não	conseguiam	ler	no	próprio	idioma,	como	eu	via
palavras	que	deveriam	ter	significado	e	o	que	representavam	para	os	que	pertenciam
ao	lugar.	Mas,	para	mim,	nada	daquilo	significava	algo	que	eu	pudesse
compreender.
Você	pode	estar	se	perguntando:	“Ah,	Herman,	vamos	lá,	que	droga	é	essa?
Nós	queremos	ler	tudo	sobre	a	mulherada	na	estrada	em	1985.	Em	1989,	você	já
tinha	passado	dessa	época”.	Bem,	posso	dizer	a	mesma	coisa	que	a	maioria	dos
médicos	diz	todos	os	dias,	milhares	de	vezes:	“Me	desculpe,	mas	eu	não	aceito
American	Express”.	Não,	não	é	isso.	Os	médicos	deixam	esse	tipo	de	coisa	para	as
gostosas	que	trabalham	na	recepção	falarem.	Ooops...	desculpe...	tive	uma	recaída.
Quis	dizer,	as	jovens	e	adoráveis	secretárias	que	trabalham	na	recepção.	Na	verdade,
caso	eu	deixe	de	fazer	esses	comentários,	o	restante	do	livro	vai	ser	basicamente	meio
chato,	pois	muito	do	que	éramos	como	banda,	ou	pelo	menos	do	que	éramos
acusados	de	ser,	verdade	ou	não	(posso	dizer	a	você	que	não	era	nosso	objetivo),
“por	acaso”	pisava	com	força	no	pedal	hedonista.	Aqueles	que	viram	as	capas	de
nossos	álbuns	ou	gastaram	tempo	aprendendo	as	letras	da	maior	parte	de	nossas
músicas	comcerteza	vão	entender	(honestamente,	nunca	quisemos	que	nosso
trabalho	fosse	considerado	ou	interpretado	assim,	mas	é	sempre	bom	ser	lembrado,
não	importa	como).	Para	os	que	não	viram	as	capas	nem	ouviram	as	músicas,	me
indago	por	que	estariam	lendo	este	livro.	Não	estou	reclamando,	só	estou	curioso!
Agora	quero	falar	um	pouco	sobre	o	politicamente	correto,	se	eu	puder,
porque	essa	questão	será	abordada	várias	vezes	neste	livro.	Acho	importante
esclarecer	meu	posicionamento	sobre	o	assunto.	Qualquer	um	que	conheça	o
Scorpions	é	capaz	de	entender	por	que	estou	dizendo	isso.	Realmente	me
surpreendo	com	esse	conceito	e	como	ele	evoluiu	ao	longo	das	últimas	décadas	–
fico	mais	chocado	do	que	surpreso.	Para	mim,	isso	nada	mais	é	do	que	uma	maneira
de	ganhar	dinheiro	ferindo	outras	pessoas.	Descobriram,	obviamente,	que	há
dinheiro	a	ser	ganho	sendo	“sensível”.	Acho	que	não	é	nada	mais	do	que	o	sinal	dos
tempos.	Quando	eu	era	jovem,	as	pessoas	diziam:	“Paus	e	pedras	podem	quebrar
meus	ossos,	mas	palavras	nunca	vão	me	ferir”.	(OK,	elas	não	falavam	exatamente
isso,	mas	sim	o	equivalente	em	alemão.)	Hoje,	no	entanto,	paus	e	pedras	ofendem
muito	menos	as	pessoas	do	que	palavras.	Não	há	dinheiro	a	ser	ganho	com	eles,	a
não	ser	que	você	fabrique	paus	ou	pedras.	Isso	é	ofensivo	para	mim	e	é	também
ofensivo	às	pessoas	de	paus	e	pedras;	muitas	delas	devem	ter	falido	graças	ao
politicamente	correto.	Por	falar	nisso,	continuo	tocando	com	“paus”	e	durante
vários	momentos	da	minha	vida	estive	“louco	de	pedra”.	Mas	não	acho	que	seja	a
mesma	coisa.
Voltando	à	questão	(caso	eu	de	fato	estivesse	tentando	abordar	alguma	em
especial	antes	de	subir	todo	valentão	ao	meu	púlpito),	eu	não	queria	começar	a
despejar	filosofias	tão	cedo,	mas	não	consegui	evitar.	Levo	esse	assunto	para	o	lado
pessoal	por	vários	motivos.	Expressar	minha	opinião	abertamente,	de	cara,	seria	uma
boa	maneira	de	ajudá-lo	a	entender	o	restante	deste	livro.	Direi	aqui	e	agora	que
nada	foi	escrito	com	o	objetivo	de	machucar	quem	quer	que	seja.	O	objetivo	é
entreter.	Por	favor,	tenha	em	mente	que	esse	é	o	espírito	que	ofereço	em	meu	texto.
Você	tem	de	admitir...	Bem,	você	não	TEM	de	admitir,	mas	espero	que	você
admita,	que	eu	me	comportei	muito	bem	nestas	primeiras	páginas.	Aposto	que	você
achou	que	eu	fosse	escrever	um	livro	normal,	seco	e	tolo	sobre	os	acontecimentos	da
minha	vida	com	o	Scorpions,	não?	Bem,	eu	não	posso	fazer	isso	(não	poderia	fazer
isso	com	ninguém).	Quer	dizer,	quão	interessante	seria	ler:	“Então	nós	fomos	a
Omaha,	Nebraska.	Depois,	tocamos	em	Helsinki,	Finlândia.	Em	seguida,	fizemos
um	show	em	Tóquio...”?	(Que	rota,	hein?	Não	ria,	porque	certas	pessoas	organizam
sequências	ilógicas	assim!	Eu	suspeito	que	elas	também	façam	um	seguro	de	vida
muito	alto	em	nome	de	cada	um	dos	membros	da	banda...)	Penso	que	livros	assim
são	feitos	para	ajudar	a	combater	a	insônia	–	bem	como	o	Código	Penal,	com
certeza.	E,	na	verdade,	tais	livros	não	dizem	muito	sobre	quem	a	pessoa	realmente	é.
Não	acho	que	o	Código	Penal	tenha	algo	a	dizer	a	meu	respeito.	Logo,	prefiro	ser	eu
mesmo	e	me	divertir	enquanto	conto	a	história	da	banda.	Espero	que	você	não	se
importe.
Porém,	eu	gostaria	de	pedir	um	pouco	de	paciência	para	quem	quiser	que	eu
pule	imediatamente	no	meio	do	colchão	d’água,	como	tantos	do	gênero	fazem.
Prometo	que	vamos	falar	de	tudo	na	hora	certa.	OK,	talvez	este	livro	não	vá	rivalizar
com	nada	que	Twain	ou	Pushkin	tenham	escrito,	mas,	por	fim,	acredito	que	você
irá	gostar	deste	nosso	passeio	conjunto,	porque,	honestamente,	foi	muito	divertido
e,	sim,	nós	ainda	vamos	falar	sobre	tudo	isso.
Oh,	quem	é	Pushkin,	certo?	Bem,	você	pode	estar	se	perguntando	também
quem	é	esse	tal	de	Twain	(não	se	esqueça	de	que	este	livro	foi	escrito	primeiro	em
inglês).	Mark	Twain	foi	um	autor	norte-americano	muito	famoso.	Ele	escreveu,
entre	outras	obras,	Tom	Sawyer.	Já	Alexander	Pushkin	foi	um	autor	russo	do	século
XIX	e,	na	opinião	de	muitos	experts	em	literatura,	o	maior	de	todos	os	escritores
russos.	O	que	ele	estaria	fazendo	num	livro	escrito	por	um	alemão	que	reside	na
Inglaterra?	Bem,	além	de	ser	um	dos	maiores	mulherengos	de	sua	era,
comportamento	que	imitamos	frequente	e	inadvertidamente,	era	russo,	como
mencionei,	e	era	lá	que	estávamos	em	1989.	Você	se	lembra	disso?
De	qualquer	modo,	embora	as	observações	paralelas	possam	ser	mais
divertidas,	vamos	voltar	à	história	para	que	eu	possa	seguir	em	outras	direções.
Agora,	como	mostram	os	fatos,	uma	história	certificada,	até	o	verão	de	1989	o
Scorpions	já	havia	viajado	ao	redor	do	mundo.	(Tenho	certeza	de	que	agora	alguém,
lendo	isso,	foi	para	a	frente	do	computador	para	conferir	em	quantos	lugares	do
mundo	já	havíamos	tocado	até	1989	para	se	certificar	de	que	estou	dizendo	a
verdade.	Essa	pessoa	está	provavelmente	dizendo:	“Ei,	você	não	foi	para	a
Antártida!”.)	No	entanto,	naquela	viagem	ainda	havia	muitas	emoções	novas
causadas	e	despertadas	pela	grandiosidade	da	experiência.	Estávamos	em	um	lugar
sobre	o	qual	somente	havíamos	lido	a	respeito.	Um	lugar	que	nunca	achei	que	fosse
visitar	e,	ainda	mais,	ser	bem	recebido,	como	uma	celebridade	visitante.	Nem	nós
nem	nossas	músicas	eram	politizadas	até	aquele	dia.	Embora	a	maioria	de	nós	tivesse
crescido	ouvindo	e	tocando	canções	de	protesto	sobre	a	Guerra	do	Vietnã,	mesmo
que	não	soubéssemos	o	que	todas	as	letras	queriam	dizer	até	aquele	momento,	não
estávamos	inspirados	a	fazer	o	mesmo	com	nosso	talento.	Admito	que	eu	sempre	fui
bem	consciente	do	que	acontecia	no	mundo	e	do	que	se	passava	ao	meu	redor.	Mas
nunca	havia	ido	além	daquilo.	E	mesmo	sendo	inocentes	e	despretensiosos	como
éramos,	todos	sentimos	algo	ao	desembarcar	e	entrar	no	terminal	pequeno	e	simples,
que	era	o	portal	de	entrada	para	o	comunismo.	Havia,	definitivamente,	um	“wind
of	change”	e	não	dava	para	negar	que	estávamos	no	meio	de	algo	histórico.
Como	mencionei	rapidamente,	estávamos	agendados	para	tocar	em	Moscou
na	primavera	de	1988	–	do	final	de	abril	ao	começo	de	maio,	para	ser	preciso.	Mas
aquelas	datas	foram	canceladas	devido	à	preocupação	com	os	motins	e	com	a
alcoolização	pública	durante	a	celebração	de	um	feriado	importante	em	1o	de	maio,
tido	oficialmente	como	o	Dia	do	Trabalho.	Como	pude	constatar,	os	russos
raramente	precisam	de	uma	razão	para	beber	vodca,	assim	como	os	alemães	não
precisam	de	muita	inspiração	para	beber	uma	ou	duas	cervejas.	A	maioria	brindaria
uma	rachadura	na	calçada	ou	colocaria	a	rachadura	para	brindar	de	volta.	Então,	nos
feriados,	você	pode	imaginar	quão	mais	volátil	era	a	atmosfera.	Suspeito	que	as
autoridades	locais	da	época	não	quisessem	arriscar	uma	enxurrada	de	publicidade
negativa	caso	os	ocidentais	viessem	a	experimentar	ou	ver	algo	que	não	pintasse	seu
país	com	as	melhores	cores.	(Como	se	nós	nunca	tivéssemos	visto	bêbados
anteriormente.	Diabos,	todos	nós	conhecíamos	o	baixista	da	banda	inglesa	de	rock
UFO,	Pete	Way.	Ha-ha!	Isso	aí,	seu	bastardo	inglês	desgraçado!	–	Que	bom	que	ele
é	meu	amigo...	Ao	menos,	era	até	esse	comentário.)
Voltemos,	então,	ao	verão	de	1989,	alguns	meses	antes	de	a	história	real	se
concretizar.	Não	história	do	tipo	com	alguns	alemães	com	guitarras	tocando	música
(nós	éramos	cheios	de	muita	coisa,	mas	não	cheios	de	si).	Então,	embora	ainda
faltassem	alguns	meses,	não	tínhamos	ideia	do	que	aguardava	aos	nossos
conterrâneos	no	outono,	quando	mais	do	que	folhas	iriam	cair.	Claro	que	havia
sinais	de	problemas.	Fofocas	e	rumores	eram	o	tipo	de	coisa	para	a	qual	a	mídia
vivia.	Lembramo-nos	de	ter	ouvido	quando	o	presidente	Reagan	(novamente	ele)	fez
uma	forte	declaração	a	seu	correspondente	soviético	em	12	de	junho	de	1987,
enquanto	estava	ao	pé	do	muro	que	separava	o	Ocidente	do	Oriente:	“Sr.
Gorbachev,	derrube	este	muro...”.	Enquanto	isso,	pensávamos:	“Ah,	tá...	Ele	está
enganando	a	quem?	Isso	nunca	vai	acontecer”.	E,	embora	o	milagre	estivesse	logo
depois	da	curva,	não	imaginávamos	que	isso	ocorreria	tão	rapidamente	e	a	eventual
reunificação	de	nosso	país	se	tornaria	uma	realidade.	Hoje,	uma	geração	inteira	não
somentede	alemães,	mas	de	pessoas	do	mundo	todo,	conhece	a	separação	entre
Oriente	e	Ocidente	dentro	de	nossas	fronteiras	somente	lendo	os	livros	de	história.
Apesar	disso,	em	nosso	país,	o	dia	9	de	novembro	de	1989	é	uma	data	que	todo
cidadão	alemão	conhece	de	cor,	assim	como	a	data	do	próprio	aniversário.	E,	se	eles
tivessem	esperado	algumas	semanas	mais,	teria	coincidido	com	a	data	do	meu
aniversário.	Queria	que	alguém	tivesse	me	consultado...	Sim,	na	verdade,	havia	um
“wind	of	change”	no	ar	desde	que	iniciamos	nossa	viagem	rumo	ao	centro	da
outrora	cidade	proibida	ao	leste.	Ainda	bem	que	o	Klaus	Meine	havia	escrito	a	letra
antes	de	ocorrerem	tantas	mudanças.	Isso	poderia	ter	arruinado	uma	grande	canção!
No	caminho	entre	o	aeroporto	e	o	hotel,	observávamos	quão	diferente	e,	ao
mesmo	tempo,	quão	igual	tudo	parecia	ao	olharmos	com	maior	cuidado.	Acho	que
eu	poderia	ter	sido	um	arquiteto	na	Rússia	nesse	período.	Havia	uma	similaridade
no	design	e	na	arquitetura	simplistas	que	agraciavam	as	ruas	pelas	quais	passávamos.
Todos	os	prédios	pareciam	ter	sido	erguidos	mais	por	praticidade	do	que	por
questões	estéticas.	Havia,	em	certos	lugares,	fileiras	e	fileiras	de	blocos	de
apartamentos	construídos	uniformemente.	Alguns	pareciam	ter	talvez	trinta	andares.
Nem	assim	havia	beleza	alguma	neles	–	somente	praticidade.	Parecia	ser	esse	o	tema
familiar.	Não	havia	sinal	de	pobreza;	nem	poderia	haver,	dada	a	teoria	comunista!
Mas	não	havia	uma	sensação	de	alegria	ou	prazer	nos	olhos	dos	muitos	que	vimos
durante	nossas	horas	iniciais	na	capital	russa,	o	que	pouco	contribuiu	para	conter
nossa	curiosidade.	Mais	uma	vez,	era	uma	imagem	extremamente	diferente	daquela
que	lembrávamos	ter	visto	em	Leningrado.	Não	veríamos	olhares	como	aqueles	até
muito	mais	tarde,	quando	encaramos	uma	legião	de	fãs	ardorosos	que	queriam	nos
ouvir	tocar.	No	entanto,	observando	as	pessoas	em	seu	ambiente	natural,
começamos	a	nos	indagar	se	as	cenas	das	quais	nos	lembrávamos	de	nossa	última
viagem	não	haviam	sido	encenadas	por	objetivos	de	propaganda	política.
Gostaria	de	dizer	algo,	a	esta	altura	do	campeonato,	àqueles	que	não	tiveram	a
oportunidade	de	conhecer	o	Leste	Europeu,	mais	especificamente	a	Rússia.	Algumas
das	mulheres	mais	bonitas	do	mundo,	em	minha	opinião,	moram	nos	países	que
outrora	fizeram	parte	da	antiga	União	Soviética.	Digo	“algumas	das”,	porque	você
vai	descobrir,	mais	adiante,	que	eu	tenho	uma	cidade	favorita	no	mundo	no	que	diz
respeito	a	mulheres	bonitas.	E	posso	dizer	desde	já	que	vou	surpreendê-lo
completamente!
À	medida	que	nos	aproximávamos	do	centro	da	cidade,	os	edifícios	se
tornavam	menos	monótonos	e	mais	individuais,	até	mesmo	com	uma	aparência
ocidental,	sob	alguns	aspectos.	Era	como	se	houvesse	uma	paranoia	consciente
dentro	dos	comunistas	de	que	eles	estavam	sendo	observados	e	tinham	que
apresentar	uma	fachada	positiva	a	todos	os	visitantes	dignitários,	e	assim	garantir
que	não	haveria	uma	matéria	menos	que	brilhante	sobre	a	vida	na	“união”	deles.
Caso	Moscou,	que	era	o	centro	e	definia	o	padrão	do	país,	aparecesse	antiquada	ou
arcaica,	seria	um	olho	roxo	na	máquina	da	propaganda	política.
Como	mencionei,	nós	não	tínhamos	real	conhecimento	do	que	esperar	das
plateias,	mesmo	após	nossos	shows	no	ano	anterior.	Sabíamos	que	nossas	baladas,
como	Still	loving	you	e	Holiday,	eram	populares	na	Europa	Oriental	e	tocavam
bastante	nas	rádios.	Mas	eu	tinha	a	curiosidade	de	saber	como	era	isso	para	os
ouvintes	que,	predominantemente,	não	falavam	inglês	(se	eu	quisesse	mesmo	ter
certeza,	era	só	ter	perguntado	aos	outros	caras	da	banda...).	A	música	sempre	foi
uma	língua	universal,	mas	o	motivo	pelo	qual	decidimos	não	cantar	em	alemão	e
optamos	pelo	inglês	(que	era	mais	complicado,	da	nossa	perspectiva)	foi	porque	o
rock	and	roll	era	música	inglesa.	Caso	tivéssemos	alguma	esperança	de	ir	além	de
Hannover,	na	Alemanha	Ocidental,	teríamos	de	cantar	em	inglês.	Então,	qual	seria
a	relação	de	nossa	música	com	a	plateia,	e	qual	seria	a	novidade	de	haver	músicos	e
canções	ocidentais	tocando	em	seu	país?
Nosso	tempo	passava.	Começamos	a	ver	uma	fome	nos	olhos	dos	jovens.
Alguns	prestavam	atenção	em	cada	palavra	que	falávamos	e	mostravam	ter	sede	de
conhecimento	falando	uma	de	nossas	línguas,	mesmo	que	fosse	um	pouco	apenas,
fazendo	todo	o	tipo	de	perguntas	e	traduzindo	para	aqueles	que	não	falavam.
Embora	estivéssemos	resguardados	e	protegidos	de	muita	interação	espontânea,
como	era	o	costume	soviético,	conseguimos	trocar	breves	palavras	em	diversos
locais,	o	que	ajudou	a	matar	nossa	curiosidade	de	várias	maneiras.	Quando	os
adolescentes	nos	saudavam	no	hotel,	era	evidente	que	éramos	uma	novidade	para
muitos	deles.	Isso,	apesar	de	já	ter	ocorrido	havia	muito	tempo	a	época	em	que
revistas,	músicas	e	filmes	do	Ocidente	não	chegavam	aos	solos	por	trás	da	“cortina
de	ferro”.	Mesmo	os	arcos	dourados	do	McDonald’s	já	estavam	instalados	não
muito	longe	de	onde	Lênin	fora	enterrado,	o	que,	na	verdade,	fazia	com	que	ele
estivesse	descansando	com	menos	paz.
Inicialmente,	estávamos	programados	para	tocar	em	cinco	datas	em	Moscou,
em	1989,	mas	esse	cronograma	foi	alterado	para	que	fizéssemos	parte	de	algo	muito
maior:	dois	shows	nos	dias	12	e	13	de	agosto	de	1989	no	estádio	da	cidade.	O	nome
do	festival	era	Moscow	Music	Peace	Festival	[Festival	de	Música	e	Paz	de	Moscou].
Ainda	assim,	uma	única	olhada	na	lista	das	outras	bandas	nos	fez	indagar	sobre	quão
pacífico	seria.	Com	bandas	como	o	Motley	Crüe	e	Ozzy	Osbourne	dividindo	o
palco,	podíamos	imaginar	qual	seria	a	definição	de	tranquilidade	que	eles	estavam
usando.	Na	verdade,	dividir	o	palco	pode	não	ser	a	melhor	maneira	de	descrever	a
situação,	porque	soa	pacífica	demais,	dada	a	miríade	de	egos	envolvidos.	Ozzy	e	o
Crüe	queriam	ocupar	um	horário	mais	nobre	no	show,	o	que	levou	a	um	conflito
nos	bastidores.	O	Bon	Jovi	tinha	a	mesma	posição.	O	próprio	Jon,	com	quem	falei,
estava	inalterável	em	seu	desejo	de	ser	a	atração	principal	dos	shows,	mesmo
sabendo	que	não	havia	muitas	pessoas	na	Rússia	que	sabiam	quem	era	ele.	Tentei
explicar	isso,	mas	ele	não	cedeu.	Logo,	o	cartaz	e	a	ordem	de	apresentação	das
bandas	foram	distribuídos	e	provaram	definitivamente	o	que	eu	suspeitava.	Naquela
altura	do	campeonato,	o	Scorpions	era	uma	banda	muito	maior	na	Rússia	do	que	o
Bon	Jovi,	e	a	resposta	da	plateia	provou	isso.	Mas	eu	tentei	avisar.	Realmente	tentei.
Quando	subimos	ao	palco	naquele	verão,	depois	de	alguns	versos	do	nosso
número	de	abertura,	Blackout,	a	única	coisa	em	que	ainda	pensávamos	era	que
estávamos	tocando	para	mais	de	135	mil	fãs	histéricos	e	que	todos	pareciam
conhecer	nossa	música.	A	felicidade	e	o	prazer	voltavam	aos	seus	olhos	e	contavam
toda	uma	história.	Parafraseando	meu	amigo	Justin	Hayward,	do	Moody	Blues,	nós
éramos	a	definição	da	“trilha	sonora	da	história	nos	olhos	deles”.	Certamente,	era	o
sinal	mais	evidente	do	que	estava	por	vir.	Mas,	olhando	para	trás	agora,	nós	não
paramos	para	pensar	em	nada	disso	na	época.	Para	nós,	era	o	nosso	mundo	e	ele
havia	acabado	de	crescer	em	mais	de	250	milhões	de	pessoas	que	nem	sabiam	de
nossa	existência.	Se	errei	a	população	soviética	de	1989,	não	fique	triste	comigo.	Sou
músico,	não	trabalho	para	o	censo!
Depois	do	último	show,	em	13	de	agosto,	fomos	levados	ao	Gorky	Park
[Parque	da	Cultura]	e	a	um	local	que	os	promotores	chamavam	de	Hard	Rock	Café,
acho	que	como	uma	ilustração	do	que	a	União	Soviética	havia	se	tornado.	Era
exatamente	igual	a	todos	os	outros	Hard	Rock	Cafés	do	mundo.	O	cardápio
apresentava	hambúrgueres	e	a	junk	food	padrão	que	se	encontra	na	maioria	desses
estabelecimentos	hoje,	além	da	esperada	memorabilia	do	rock.	Faz-me	pensar,	no
entanto,	pois,	pesquisando	para	este	livro,	descobri	que	a	franquia	ainda	não	havia
chegado	à	Rússia	em	1989	e,	por	todo	esse	tempo,	achei	que	fosse	um	Hard	Rock
Café	alinhado	com	todos	aqueles	que	visitamos	em	outras	metrópoles.
Foi	durante	uma	das	viagens	seguintes	que	tivemos	a	grande	honra	e	o	prazer
de	conhecer	o	grande	líder	soviético,	Mikhail	Gorbachev,	que	logo	seriadeposto.
Seus	dias	como	governante	estavam	contados,	embora	naquele	momento	ele	não	o
admitisse,	mesmo	que	soubesse.	Apesar	do	que	outros	possam	pensar	sobre	o	senhor
Gorbachev,	eu	o	achei	um	homem	muito	agradável,	e	ouso	dizer,	animado,	e	pude
crer	que	falava	com	o	seu	coração.	Na	minha	vida,	poucos	políticos	que	encontrei
ou	sobre	o	qual	ouvi	falar	pareciam	expressar	o	que	realmente	sentiam	ou	até
mesmo	acreditavam.	Mas	o	senhor	Gorbachev	não	me	deixou	dúvida	de	que	era	um
homem	realmente	sincero.	Tendo,	desde	então,	aprendido	muito	sobre	como	o
nosso	mundo	é	administrado	e	sobre	aqueles	que	tomam	conta	dele;	hoje	eu	o
respeito	mais	ainda.	Gostaria	de	ter	dito	que	comuniquei	ao	senhor	Gorbachev	a
necessidade	real	de	derrubar	o	muro	de	Berlim	e	de	tê-lo	convencido	a	fazê-lo,	mas
não	vou	inventar	nada	que	qualquer	pessoa	com	meio	cérebro	saberia	tratar-se	de
mentira.	Prefiro	guardar	minhas	mentiras	para	coisas	mais	importantes,	como	as
mulheres!
Uma	das	características	que	achei	interessante	e	surpreendente	sobre	o	senhor
Gorbachev	foi	seu	senso	de	humor.	A	face	da	Rússia	e	da	União	Soviética	sempre
pareceu	sombria	e	sinistra	com	homens	como	Leonid	Brejnev	e	Nikita	Khrushchev,
sem	mencionar	o	ameaçador	e	pomposo	Joseph	Stalin,	desfilando	estoicamente
como	um	mau	presságio	diante	das	câmeras	ocidentais.	O	senhor	Gorbachev	não
tinha	nada	a	ver	com	isso.	Para	começar,	parecia	saber	quem	éramos	e	não	sei	quão
honesto	ele	estava	sendo	a	esse	respeito,	mas	ele	até	conhecia	nossa	música.	Riu	e
brincou	conosco,	o	que	era	bem	diferente	do	que	esperávamos.	Ainda	gastou	tempo
nos	explicando	o	que	era	heavy	metal	de	verdade.	Segundo	ele,	a	definição	de	metal
pesado	era	o	antigo	premier	Khrushchev	batendo	seu	sapato	na	mesa	da	ONU	em
1960.	Ele	também	nos	explicou	que	o	maior	erro	dos	americanos	foi	ter	deixado
que	o	Beatles	entrasse	em	seu	país	em	1964,	pois	eles	foram	responsáveis	por	ter
mudado	a	América.	Ele	achava	que	estava	fazendo	a	mesma	coisa	nos	deixando
entrar	na	Rússia.	Não	sei	se	fomos	diretamente	responsáveis	pela	queda	do
comunismo	e	da	União	Soviética,	mas	isso	dá	uma	boa	história,	não?	Eu	não	me
importaria	em	levar	o	crédito,	caso	ele	desejasse	nos	dar...
Ao	final	do	dia,	acreditamos	que	nossas	viagens	ao	Leste	possam	ser
consideradas	um	sucesso.	Fomos	pagos.	Não	muito...	Mas	fomos.	Isso	é	sempre	um
sinal	de	sucesso	no	nosso	negócio.	Sei	que	você	pode	estar	se	perguntando	como,
mas,	na	verdade,	algumas	das	histórias,	que	poderia	e	que	até	irei	contar	mais	tarde,
talvez	irão	surpreendê-lo	completamente.	Detalhes	como	contratos	às	vezes	não
significam	muito	para	os	envolvidos	na	organização	de	shows.
Ao	passarmos	mais	tempo	com	as	pessoas,	começamos	a	ver	diferenças.	Talvez
estivéssemos	nos	acostumando	ao	comportamento	russo	mais	tradicional,	que	é	não
sorrir	o	tempo	todo	e	permanecer	reservado.	Ao	menos,	essa	era	a	minha	impressão.
Mas	eles	não	pareciam	mais	distantes	ou	frios.	Talvez,	como	eu	disse,	esse	tenha	sido
resultado	de	termos	passado	um	tempo	lá,	conhecendo	um	pouco	a	cultura	e	nos
sentindo	mais	à	vontade	com	as	adjacências.	Talvez	a	política	pudesse	aprender	algo
com	o	rock	and	roll.	Tendo	encontrado	muitos	líderes	em	nossas	viagens,	como	já
disse,	e	tido	a	chance	de	ver	mais	do	mundo	do	que	eu	já	havia	sonhado	enquanto
crescia	na	Alemanha	Ocidental,	sempre	serei	grato	à	minha	mãe	e	ao	meu	pai	por
me	deixarem	bater	nas	panelas	e	nas	caçarolas	tantos	anos	atrás.
2
O	PEQUENO	HERMAN	ZE	GERMAN
Eu	não	havia	percebido,	até	que	um	amigo	me	chamou	a	atenção	para	o	fato	de	eu
ter	nascido	exatamente	21	anos	depois	de	um	ícone,	em	18	de	novembro	de	1949.
Não,	eu	não	nasci	em	1970	nem	me	considero	um	ícone.	O	ícone	de	que	falo
“nasceu”	em	18	de	novembro	de	1928.	Espero	não	ter	de	explicar	tudo	a	você
durante	o	livro	ou	a	gente	vai	terminar	com	algo	que	rivalizaria	em	tamanho	com
Guerra	e	paz.	Como	você	sabe,	ninguém	aguenta	ler	Guerra	e	paz	até	o	fim.	Agora,
diga	a	verdade,	quantas	autobiografias	sobre	músicos	de	rock	and	roll	fazem
referência	a	Tolstói	e	Pushkin	nas	primeiras	páginas?	E	eles	dizem	que	rock	and	roll
não	é	educativo.	O	“e”	de	Herman	quer	dizer	educação!
De	qualquer	maneira,	posso	ser	um	pouco	presunçoso	em	me	considerar	no
mesmo	nível	do	Mickey	Mouse,	com	quem	divido	a	data	de	aniversário,	e	suspeito
ainda	que,	para	alguns	neste	mundo	(assim	como	para	a	maioria	que	atinge	certo
nível	de	celebridade),	ganhei	um	status	dessa	natureza	sem	merecer.	Os	que	me
conhecem	sabem	que	dificilmente	fico	falando	das	coisas	que	já	conquistei	ou	de
mim.	E	que	escrever	um	livro	sobre	como	eu	sou	raramente	está	de	acordo	com	o
que	eu	acredito	ser	um	início	e	uma	vida	muito	humildes.	Mas	eu	não	estou
escrevendo	este	livro	para	mim,	e	sim	para	aqueles	que,	como	eu,	se	interessam	por
pessoas	que	tiveram	impacto	ou	influência	sobre	sua	vida.	Não	sei	quanto	impacto
tive	na	vida	de	alguém,	embora	tenha	certeza	de	que	muitos	caras	transaram
enquanto	Still	loving	you	tocava	no	rádio.
E,	por	falar	em	transar,	eu	nasci	na	cidade	de	Lebach-Saarland,	na	Alemanha
Ocidental	(que	tal	esse	gancho?	Sei	que	foi	fraco,	mas,	putz,	não	consegui	resistir!).
Tecnicamente,	a	região	é	na	extremidade	da	fronteira	com	a	França	e	o	território
frequentemente	disputado	da	Alsácia-Lorena.	Isso	sem	mencionar	aquela	maravilha
da	engenharia	francesa	(embora	futilidade	possa	ser	o	termo	apropriado),	a	Linha
Maginot	(bem,	acabei	de	destruir	o	mercado	francês	para	distribuição	deste	livro...
paciência!).	Quando	nasci,	a	região	estava	sob	controle	francês,	embora	crianças
como	eu	nunca	tenham	se	dado	conta	disso.	Sendo	filho	único,	eu	era	um	pouco
mimado,	mas	pelos	padrões	dos	dias	de	hoje	acho	que	ninguém	seria	da	mesma
opinião.
Minha	família	não	morava	em	Lebach,	mas	em	Huettersdorf,	que	fica	a	seis
quilômetros	de	lá.	Meu	pai,	Hermann	Erbel,	trabalhava	no	ramo	da	execução	da	lei.
Em	outras	palavras,	deixando	de	lado	os	eufemismos,	ele	era	um	policial.	Como	não
éramos	exatamente	uma	família	musical	(ao	contrário	do	que	alguns	possam	pensar,
policiais	só	cantam	em	Amor,	sublime	amor),	minha	mãe,	Kaetharina	(Kaethe),	e
meu	pai	ficaram,	compreensivelmente,	um	pouco	surpresos	com	a	minha	inclinação
a	fazer	barulho	desde	uma	idade	remota.	Não	realmente	surpresos	de	um	menino	de
cinco	anos	fazer	barulho,	mas	de	resolver	fazê-lo	com	colheres,	batucando	em
panelas	e	caçarolas.	Eles	foram	bem	tolerantes	comigo,	levando-se	em	conta	que	não
entendiam	qual	lado	da	família	tinha	sido	responsável	por	isso.	Mas	fico	aliviado
por	eles	não	terem	me	castigado	de	forma	dura	demais	pelo	meu	hobby.
Meu	pai	era	policial,	como	eu	disse,	apesar	do	fato	de	não	haver	lojas	de	donuts
na	Alemanha	Ocidental.	(Acho	que	também	não	existiam	na	Alemanha	Oriental.
Pensando	bem,	talvez	não	existissem	lojas	de	donuts	em	nenhum	outro	lugar	do
mundo	naquela	época.)	Acho	que	o	problema	era	esse.	Invejo	as	crianças	americanas
de	hoje	que	têm	pais	policiais.	Sei	que	não	é	a	coisa	mais	saudável	do	mundo,	mas
eu	não	sou	um	guru	das	dietas.	E	não,	não	estou	promovendo	a	obesidade.	Só	estou
constatando	um	fato	com	o	qual	qualquer	um	que	já	tenha	comido	um	donut	irá
concordar.	De	qualquer	modo,	levávamos	o	que	poderia	ser	uma	vida	muito	normal
na	Alemanha	Ocidental	do	começo	dos	anos	1950.	(OK,	o	que	é	normal	se	todos
somos	supostamente	diferentes?	O	conceito	de	“normalidade”	deve	ser	discutido
eternamente.)	No	entanto,	de	maneira	triste,	porém	cordial,	meus	pais	se	separaram
em	1957.	Apesar	da	aparência	de	disfunção,	externamente,	ao	contrário	de	muitos
casais	de	hoje,	não	houve	baixaria	alguma	(em	geral	envolvendo	dinheiro...	Acho
que	a	divisão	causada	pela	ganância	pode	ser	considerada	universalmente	“normal”),
daquelas	que	destroem	tantas	relações	entre	pais	e	filhos,	e	sou	muito	grato	por	isso.
Depois	da	separação,	minha	mãe	e	eu	escolhemos	(na	verdade,	a	escolha	foi
feita	pela	minha	mãe)	voltar	ao	meu	lugar	de	nascimento,	Lebach-Saarland.	É
provável	que	a	razão	tivesse	mais	a	ver	com	o	fato	de	que	era	onde	moravam	os	pais
de	minha	mãe	do	que	com	aqualidade	das	escolas	ou	a	importância	do	elenco	do
time	de	futebol	local.	Meus	avós	tinham	um	quarto	extra,	então	foi	lá	que	passamos
a	viver	e	onde	permaneci	até	os	meus	14	anos	de	idade.	Em	outras	palavras,
moramos	com	meus	avós	por	todos	os	motivos	óbvios.	Pelo	menos,	eram	óbvios
para	nós.	Quando	eu	tinha	14	anos,	minha	mãe	conseguiu	um	emprego	na	estação
de	trem	Deutsche	Bahn	como	telefonista,	então	nos	mudamos	para	a	cidade	de
Saarbrucken,	onde	teve	início	a	lenda	de	Herman	Ze	German.
Imagino	que	você	esteja	se	perguntando	por	que	estou	gastando	tanto	tempo
com	isso.	Bem,	esta	é	a	história	da	minha	vida	e,	honestamente,	você	não	acha	que
fui	criado	por	algum	cientista	louco	com	o	objetivo	expresso	de	tocar	bateria,	não	é?
E,	ainda	assim,	a	impaciência	daquele	que	está	esperando	para	ler	sobre	sexo,	drogas
e	libertinagem,	sem	falar	do	rock	and	roll,	pode	nunca	ser	recompensado	à	altura.
Mas	espere...	Acabei	de	falar	sobre	sexo.	Como	eu	disse,	não	fui	apenas	inventado.
Tenho	que	ter	passado	pelo	processo	normal	de	concepção	e	nascimento,	e	também
já	falei	sobre	pessoas	transando,	o	que	acho	ser	muito	significativo.	Bem,	não	é	o
que	você	tem	em	mente.	Mas	ainda	terá	de	aguardar	um	pouco	e	ceder	nesse	meio-
tempo,	porque,	com	toda	a	sinceridade,	quem	eu	sou	hoje	tem	muito	a	ver	com
quem	eu	era	naquela	época.	Acho	que	é	o	mesmo	para	a	maioria	das	pessoas	neste
mundo.	O	que	você	aprendeu	quando	era	criança	e	a	forma	com	que	foi	educado
influenciam	sua	vida	para	sempre,	quer	perceba	ou	não.	O	fato	de	minha	mãe	e	meu
pai	terem	me	permitido	batucar	em	todos	os	utensílios	de	cozinha	quando	eu	tinha
cinco	anos	de	idade	me	deu	coragem	de	testar	a	paciência	de	todas	as	pessoas	ao
meu	redor	e	de	fazer	barulho	na	frente	de	plateias	enormes,	mas	também	me	fez
aprender	mais	sobre	o	ritmo	e	a	síncope,	que	pareciam	fazer	parte	da	minha	alma.
No	entanto,	tenho	certeza	de	que	naquela	altura	eles	simplesmente	achavam	que	eu
tinha	muita	vontade	de	fazer	barulho.	Talvez	tivessem	preferido	que	fosse	somente
isso.
Inicialmente,	suspeito	que	meus	pais	tenham	achado	que	essa	fosse	somente
uma	fase	que	eu	atravessava	na	infância.	Algumas	crianças	brincam	com	caixas.
Outras,	com	pedras.	Algumas	escalam	todos	os	móveis	da	casa.	Eu?	Batucava	em
panelas	e	caçarolas,	o	que	deveria	tê-los	preocupado	mais	do	que	de	fato	preocupou.
Estou	convicto	de	que	eles	não	esperavam	ter	um	cozinheiro	na	família.	Talvez
tenha	sido	por	isso	que	minha	mãe	me	deu	umas	escovinhas	para	usar	nas	panelas.
Mas,	pensando	bem,	talvez	as	escovinhas	fossem	para	limpar	as	panelas	e	não	para
criar	o	som	lendário	que	me	tornou	tão	conhecido	hoje	em	dia.	Talvez	eu	estivesse
sendo	treinado	e	encorajado	a	trabalhar	numa	cozinha	e	nem	tenha	me	dado	conta
disso.	Ela	pode	ter	temido	que	eu	começasse	a	usar	salsichas	em	vez	de	colheres	(ou
é	mais	provável	que	ela	tenha	achado	que	as	escovas	fossem	fazer	bem	menos
barulho	do	que	as	colheres).	Porém,	independentemente	da	razão,	caso	meu	final
tivesse	sido	esse,	você	estaria	lendo	um	livro	de	receitas	em	vez	de	uma
autobiografia.
Meu	avô	paterno	foi	o	primeiro	a	ver	o	que	estava	“escrito”,	eu	acho.	Depois
de	reclamar,	por	achar	ter	sido	“mal	escrito”,	ele	disse	à	minha	mãe	que	ela	teria,
essencialmente,	que	“cortar	a	bateria	pela	raiz”,	porque	não	queria	que	um	músico
vagabundo	e	ordinário	desgraçasse	sua	família.	Talvez	ele	tivesse	preferido	que	eu
seguisse	carreira	na	culinária.	Pelo	menos,	teria	sido	um	trabalho	honesto.	Ele	era
um	avô	muito	atencioso,	sempre	pensando	nos	outros	e	nos	seus	tímpanos.
De	qualquer	maneira,	falando	sério,	ele	sabia	que	a	música	era	infecciosa,
embora	eu	não	soubesse	bem	por	quê.	Queria	mantê-la	longe	do	meu	sangue.	Ele
era	uma	pessoa	pública,	ocupava	uma	posição	de	muito	destaque,	pois	era
comissário	da	polícia	(como	se	isso	fosse	trabalho	honesto...)	e	tinha	uma	reputação
a	zelar.	Disse	à	minha	mãe	que	tirasse	a	bateria	do	meu	organismo,	para	eu	me	focar
em	coisas	mais	importantes,	como...	Bem,	na	verdade,	eu	não	conseguia	pensar	em
nada	mais	importante	do	que	ser	o	melhor	baterista	de	todo	o	universo.	Mas	tenho
certeza	de	que	meu	avô	tinha	uma	série	de	profissões	que	ele	considerava	mais
aceitáveis.	Assim,	não	sei	com	que	frequência	aqueles	que	estudam	para	ser
bancários	ou	contadores	chegam	a	passar	a	noite	com	dez	groupies	entusiasmadas.
Talvez	eu	pergunte	ao	meu	contador	uma	hora	dessas.	Tenho	de	rir	quando	penso
nisso.	Você	imagina	o	que	uma	groupie	diria	a	um	contador?	“Venha	cá,	Herman,
meu	amor,	faz	mais	uma	vez...	Faz	como	só	você	sabe	fazer!	Faça	um	balanço	na
minha	poupança!”
De	qualquer	maneira,	suspeito	que	a	conversa	na	casa	dos	Erbel...	É	isso
mesmo,	a	casa	dos	Erbel.	Eu	acho	que	devo	explicar	isso.	Nosso	sobrenome	é,	na
verdade,	Erbel.	E	assim	o	foi	até	nos	mudarmos	para	a	Inglaterra,	no	começo	dos
anos	1970,	quando	o	meu	sobrenome	fora	alterado	pelas	circunstâncias.	Por	alguma
razão,	as	pessoas	no	Reino	Unido	tinham	dificuldade	em	pronunciar	Erbel	e
ficavam	me	chamando	de	Rarebell.	Até	hoje,	não	sei	explicar	e	não	consigo
entender.	Mas	eles	tinham	esse	problema	e,	dali	em	diante,	passei	a	ser	chamado	de
Herman	Rarebell.
Sei	que	essa	história	foi	tão	divertida	quanto	ver	tinta	secando	na	parede.	Ei!
Talvez	meu	avô	ficasse	mais	contente	se	eu	tivesse	me	tornado	um	desses!	Herman
Erbel,	o	observador	oficial	de	secagem	de	tinta!	Parece	algo	de	bastante	prestígio,
você	não	acha?	Imagine,	então,	como	teria	sido	minha	autobiografia!	Bem,	você
deve	estar	imaginando	que	seria	tão	entediante	quanto	este	livro.	Olhe,	eu	sou	o
escritor!	Somente	eu	posso	fazer	comentários	ofensivos	a	meu	respeito.
Assim,	como	eu	ia	dizendo,	suspeito	que	a	discussão	na	nossa	pequena	família
fosse	bem	parecida	com	aquela	da	maioria	dos	lares.	Quando	terminassem	de	dizer
como	era	difícil	ganhar	a	vida,	como	não	havia	mais	nada	de	bom	nos	jornais	e
como	eu	iria	certamente	cegar	alguém	com	as	minhas	baquetas,	eles	conseguiriam
chegar	a	discutir	o	meu	futuro	e	a	minha	pessoa.	Eu	acho	que,	se	alguém	tivesse
perguntado,	teriam	dito	que	tocar	bateria	seria	um	hobby	e	que	antes	de	eu
completar	seis	anos	de	idade	teria	superado	essa	fase.	Então,	minha	batucada	era
encorajada,	ou	melhor,	pelo	menos,	não	era	desencorajada.	Diferente	de	tantos	pais
nos	dias	de	hoje,	eles	queriam	deixar	que	seu	filho	se	divertisse.
Você	sabe...	Bem,	você	não	sabe,	pois	eu	ainda	não	escrevi.	Caso	você
soubesse,	seria	um	vidente	e	não	haveria	necessidade	de	ler	este	livro,	pois	já	saberia
de	tudo	o	que	ele	diz.	Mas	a	questão	não	é	essa.	O	que	eu	queria	dizer	é	que	se	algo
me	entristece	na	minha	vida	é	a	paternidade.	Tenho	uma	filha	chamada	Leah,	que
agora	está	com	21	anos	de	idade.	Ela	estuda	em	Glasgow,	na	Escócia,	para	ser
fonoaudióloga	(ei!,	talvez	ela	possa	ensinar	as	pessoas	no	Reino	Unido	a	pronunciar
Erbel)	e	quer	trabalhar	com	deficientes.	Eu	a	amo	com	todo	o	meu	coração.	Não
estou	nem	um	pouco	desapontado	com	ela.	Estou	desapontado	com	as	prioridades
da	minha	própria	vida	enquanto	ela	estava	crescendo.	Eu	vivia	constantemente
ausente,	mas,	dada	a	minha	profissão,	não	poderia	ter	evitado.	No	entanto,	para
quem	estiver	lendo	isto,	saiba	que	se	você	vive	como	nômade,	e	tiver	opções	que	lhe
permitam	passar	mais	tempo	em	casa,	não	irá	se	arrepender	ao	fazê-lo.	É	claro	que
ser	parte	de	uma	banda	de	rock	é	maravilhoso	para	os	jovens.	Parece	bastante
glamoroso	para	quem	vê	do	lado	de	fora.	Por	outro	lado,	também	é	muito	solitário
em	diversos	aspectos.	Muito	vazio.	E,	para	um	casamento,	normalmente	representa
uma	sentença	de	morte.	É	impossível	fazer	vista	grossa	pelo	resto	da	vida,	como
tantas	esposas	do	mundo	do	rock	and	roll	dizem	fazer.	O	dinheiro	pode	aliviar	as
feridas	abertas	só	por	algum	tempo.	E	para	os	filhos,	embora	seja	provavelmente
divertido	ter	um	pai	famoso,	ele	não	pode	ser	substituído,	e	todo	o	dinheiro	do
mundo	não	pode	comprar	de	volta	aqueles	anos	perdidos.	Quando	minha	filha	for
escolher	um	marido,	vou	encorajá-la	a	se	casar	com	quem	ela	quiser.	Não	quero
dissuadi-la	de	amar	alguém	combase	somente	em	sua	profissão.	Ficarei	feliz,	então,
com	a	pessoa	que	ela	escolher	para	se	casar,	contanto	que	seja	um	homem	de
negócios.
Tudo	isso	é	apenas	uma	observação	que	gostaria	de	dividir	com	você.	Entenda
como	quiser,	mas,	do	meu	ponto	de	vista,	acredito	que	um	dos	maiores	desserviços
que	um	pai	pode	prestar	a	um	filho	é	no	que	diz	respeito	à	orientação.	Vejo	isso
com	muita	frequência,	pais	que	orquestram	a	vida	de	seus	filhos	do	nascimento	até
o	dia	em	que	se	casam.	A	vida	da	criança	é	aparentemente	padronizada	por	decisões
predeterminadas.	A	estrutura	para	as	crianças	se	tornou	tão	grande	que	tirou	a
oportunidade	de	elas	terem	uma	individualidade	criativa.	Na	minha	vida,	meus	pais
permitirem	batucar	na	cozinha	além	de	me	encorajar	a	tocar	bateria,	de	forma
intencional	ou	não,	foi	muito	importante	para	meu	desenvolvimento	pessoal	e	para
minha	individualidade.	Eles	não	me	mandaram	“largar	o	bagulho”	que	eu	estava
fazendo	para	sair	de	casa	e	jogar	bola	(até	hoje,	não	larguei	o	bagulho,	mas	essa	é
outra	história,	totalmente	diferente).	Então,	de	pai	para	pai,	pois	suspeito	que	a
maioria	dos	leitores	deste	livro	já	o	seja,	peço	que	deixe	seus	filhos	serem	eles
mesmos	e	encoraje	todas	as	atividades	que	eles	resolvam	seguir,	especialmente	as
escolhidas	por	vontade	própria.	Assim	como	a	água	de	um	rio,	o	nível	dela	se	ajusta
um	dia.	Permita	que	eles	tenham	a	chance	de,	sozinhos,	descobrir	quem	são.	Serei
eternamente	grato	aos	meus	pais	pela	compreensão	e	pelo	apoio.	Eles	sempre
tiveram	talheres	maravilhosos.	Acho	que	fui	mal-acostumado	desde	cedo!
Vamos	adiantar	a	fita	um	pouco.	Cara,	mesmo	no	Novo	Testamento	eles	meio
que	pulam	do	nascimento	de	Jesus	e	vão	direto	aos	trinta	anos	de	idade,	dando	só
uma	paradinha	em	torno	dos	12	anos...	Por	favor,	não	tire	isso	do	contexto.	Não
estou	me	comparando	a	Jesus	ou	comparando	este	livro	à	Bíblia,	estou	apenas
usando-os	como	ponto	de	referência.	Existem	muito	mais	pessoas	que	procuram
encontrar	problemas	do	que	simplesmente	permitir	que	a	vida	seja	vivida.	Elas
precisam	entender	que	excesso	de	sensibilidade	leva	a	poucas	coisas	boas	na	vida.
Seja	como	for,	vamos	nos	adiantar	até	o	começo	dos	anos	1960.	Eu	tinha	12
anos	de	idade	e	me	apaixonei	pela	primeira	vez.	Não,	esta	não	será	uma	daquelas
histórias.	Minha	virgindade	ainda	estava	bem	a	salvo.	Na	verdade,	não	contem	à
minha	esposa,	mas,	quando	me	apaixonei,	pode	ter	sido	a	única	vez	em	que	me
apaixonei	de	verdade.	Desculpe-me,	meu	amor.	Não	quero	te	menosprezar.	Eu
estava	numa	festa	de	casamento	e	não	conseguia	tirar	os	olhos	dela.	A	menina	mais
linda	do	mundo	todo...	Uma	bateria	branca	e	brilhante,	da	marca	Trixon,	que
refletia	e	reluzia.	Ela	atraía	minha	atenção	por	completo	durante	toda	a	recepção,
para	a	frustração	das	muitas	garotas	pré-adolescentes	que	lá	estavam.	Enquanto	a
maior	parte	delas	estava	focada	em	frivolidades,	como	o	vestido	da	noiva,	o	bolo,	as
flores	e	todas	as	coisas	típicas	do	universo	feminino,	o	baterista	me	cativava.	Opa,
isso	pode	dar	margem	a	um	erro	de	interpretação.	Por	favor,	entenda	que	alguns	dos
meus	melhores	amigos	são	gays,	então	não	encaro	isso	de	forma	negativa.	Na
verdade,	moro	na	cidade	mais	gay	da	Inglaterra,	Brighton.	E,	para	ser	honesto,	não
consigo	me	lembrar	da	aparência	do	baterista,	mas	tenho	bastante	certeza	de	que	ele
não	fazia	o	meu	tipo.	De	qualquer	forma,	como	baterista,	ele	provavelmente	não	era
nenhum	Gene	Krupa	e,	ainda	assim,	para	um	garoto	jovem	e	que	se	impressionava
com	as	coisas,	em	1962,	ele	estava	à	altura	de	Gene.	Durante	a	recepção	pude	passar
alguns	minutos	sentado	por	trás	da	bateria	e,	embora	meus	pais	nem	tivessem
percebido,	a	coisa	mais	importante	da	minha	vida	daquele	dia	em	diante
dificilmente	seria	o	que	eu	estivesse	aprendendo	na	escola,	o	futebol	ou	até	mesmo
as	garotas.	Minha	vida	giraria	em	torno	da	música.	Pensando	nisso	agora,	é	uma
pena	que	meu	foco	tenha	mudado.	Desculpe-me	de	novo,	meu	amor.
Depois	daquela	recepção,	comecei	a	economizar	e	a	guardar	cada	centavo	que
eu	recebia	para	comprar	a	minha	própria	bateria.	Eu	sabia	que	tinha	que	ter	uma	e
levei	vários	meses	para	juntar	o	dinheiro.	Com	cinco	marcos	alemães	semanais	que
recebia	de	minha	mãe,	comprei	minha	primeira	bateria	quando	completei	13	anos
de	idade.	Era	um	kit	bastante	básico,	que	consistia	em	caixa,	bumbo	e	um	prato.
Não	tinha	nem	contratempo	nem	tom.	Mas	era	o	Santo	Graal	para	mim.
Rapidamente	minha	família	começou	a	sentir	a	falta	da	minha	batucada	na	cozinha.
Não	havia	garagem	para	onde	eu	pudesse	ser	banido.	Então,	eles	estavam	fadados	a
me	aguentar	enfiando	a	mão	na	bateria,	num	quartinho,	dentro	de	casa.	Embora	a
bateria	seja	o	instrumento	mais	lindo	de	todos	em	minha	opinião,	sua	época	de
aprendizado	é	diferente	da	guitarra	ou	até	mesmo	da	tuba.	Esses	outros
instrumentos	possibilitam	que	até	iniciantes	possam	fazer	sons	melódicos,	mas	a
bateria	não	costuma	soar	tão	bem	para	os	que	não	fazem	parte	do	processo,	até	que
outros	instrumentos	sejam	adicionados.
Num	âmbito	educacional,	devo	admitir,	nunca	fui	confundido	com	Einstein
na	sala	de	aula.	Embora	minhas	notas	não	tenham	sido	sensacionais	(e,	até	onde	sei,
as	de	Einstein	também	não	foram),	de	alguma	maneira,	o	senso	de	lógica	irônica,
talvez	sádica,	dos	meus	pais	deduziu	que	eu	deveria	frequentar	a	escola	de	economia,
que	na	época	era	considerada	a	mais	difícil	de	todas	as	instituições	de	ensino	na
Alemanha	Ocidental.	Acho	que	isso	parece	muito	com	o	cara	que,	apesar	de	estar
apanhando	pra	caramba	de	quem	está	na	posição	de	número	148	do	ranking,
desafia	arrogantemente	o	campeão	mundial	dos	pesos-pesados!	Mas,	se	você	vai
apanhar,	que	apanhe	do	melhor	de	todos!	E,	seguindo	essa	linha	de	raciocínio,
falando	da	minha	vida	escolar,	e	não	de	levar	uma	surra,	eu	parti	então	para	a	escola
de	pesos-pesados,	digo,	de	economia!
Foi	durante	essa	época,	vivida	na	nova	escola,	que	minha	primeira	banda
passou	a	existir,	e	eu	logo	aprendi,	em	primeira	mão,	lições	avançadas	de	economia.
A	banda	se	chamava	The	Mastermen	e	era	simplesmente	um	grupo	de	caras	que	ia	à
escola	comigo.	Um	grupo	que	com	certeza	vai	entrar	no	Hall	da	Fama	do	Rock	and
Roll	antes	do	Scorpions...	Nem	vou	começar	a	falar	disso	agora...	Vou	ventilar
minha	frustração	mais	à	frente	no	livro.
De	qualquer	maneira,	o	The	Mastermen	não	passava	de	um	grupo	de	garotos
tocando	as	músicas	que	ouviam	nos	discos	ou	no	rádio,	exatamente	como	eram.
Suspeito	que	assim	seja	no	mundo	todo.	Mas	por	que	o	nome	The	Mastermen	[Os
Homens	Mestres]?	Bem,	foi	o	brainstorm	do	pai	de	um	dos	membros.	Ele	comprou
camisas	floridas	para	todos	nós	para	que	ficássemos	combinando	e	passássemos	a
ideia	de	que	éramos	os	“homens	mestres”.	Quando	penso	nisso,	percebo	que	ainda
não	consegui	entender	o	conceito	por	trás	da	coisa	até	hoje.	E,	se	levar	em	conta	que
poucos	anos	haviam	se	passado	desde	o	final	do	regime	nazista,	o	conceito	de	uma
“raça	mestra”	não	parecia	ser	o	nome	mais	diplomático	para	uma	banda.	Mas
estávamos	tocando	música	e	isso	era	o	que	importava.	Isso	e	os	vários	benefícios	que
vinham	junto.
Como	estou	certo	de	que	você	já	sabe,	muitos	jovens	entram	em	bandas	para
conhecer	garotas.	Eu	não	era	exceção.	Reconheci	isso	muito	cedo	e	queria	aproveitar
essa	vantagem	oferecida	pela	oportunidade	de	estar	numa	banda.	Nós	tocávamos
todo	final	de	semana	em	algum	lugar	e	ganhávamos	o	equivalente	a	150	euros	hoje.
Na	época,	era	muito	dinheiro!	E,	quando	você	tem	dinheiro	para	refrigerantes	e
sorvetes,	e	os	outros	meninos	não	têm,	você	atrai	a	atenção	das	garotas.	Engraçado
como	isso	funciona,	não?	Eu	acho	que	é	um	tipo	de	instinto	natural	do	sexo
feminino	também	(por	favor,	damas,	não	fiquem	zangadas	comigo,	eu	só	disse	isso
porque	os	caras	adoram	ler	esse	tipo	de	coisa).	O	mínimo	que	posso	dizer	é	que	essa
era	uma	grande	vantagem.	Nós	não	somente	atraíamos	garotas	porque	fazíamos
parte	da	banda,	mas	também	porque	podíamos	levá-las	a	lugares	onde	outros	caras
não	teriam	condições.
Acho	que	a	minha	primeira	namorada	de	verdade	(do	tipo:	nós	transávamos)
conhecinessa	época,	embora	eu	suspeite	que	ela	sempre	tenha	achado	que	fosse
pouco	mais	do	que	minha	segunda	opção,	atrás	da	minha	bateria.	Não	posso	culpá-
la,	porque	ela	realmente	era.	Ela	não	conseguia	fazer	com	que	eu	ganhasse	150	euros
por	fim	de	semana.	Na	verdade,	até	onde	me	lembro,	ela	deve	ter	me	custado	mais
do	que	isso.	Essa	era	uma	lição	que	não	ensinavam	na	escola	de	economia.	Mas,
para	ser	sincero,	mesmo	naquela	idade	(tinha	15	anos),	eu	me	lembro	de	tentar	me
exibir	para	as	meninas	no	palco,	e	elas	pareciam	mais	atraídas	por	mim	do	que	pelos
outros	membros	da	banda!	Eu	suspeito	que	seja	da	própria	natureza	da	percussão.	É
bastante	físico,	beirando	ao	animalesco,	talvez.	Cantar	e	tocar	guitarra	são	bem
menos.	Agora	isso	parecia	atrair	algumas	garotas	–	a	ideia	do	poder,	a	síncope	e	a
agressividade	do	baterista.	Ou	seria	somente	o	fato	de	eu	ser,	disparado,	o	cara	mais
bonito	da	banda!	Quem	sou	eu	pra	dizer	o	contrário?
Mas	o	que	mais	me	lembro	dessa	época	do	The	Mastermen	é	que	foi	realmente
um	dos	melhores	períodos	da	minha	vida.	Sem	brincadeira...	Sei	que	você	não	vai
achar	isso	possível,	tendo	em	vista	tudo	o	que	aconteceu	na	sequência,	mas	vou	lhe
contar:	as	memórias	da	juventude	nunca	poderão	ser	derrubadas,	nem	deverão	ser.
Ir	à	escola,	da	maneira	que	fosse,	e	tocar	bateria	nos	fins	de	semana...	Eu	achava	que
estava	no	céu	–	pelo	menos	até	sair	em	tour	e	ser	cercado	por	groupies.	Mas	eu
troquei	feliz	tudo	isso	por	uma	esposa	maravilhosa	e	pela	vida	caseira	(você	ouviu
um	raio	cair	em	algum	lugar	enquanto	lia	isso?).
3
ACHANDO	O	MEU	CAMINHO
Foi	por	volta	dessa	época,	em	meados	dos	anos	1960,	que	uma	banda	pouco
conhecida	de	rapazes	de	Liverpool	fora,	de	uma	hora	para	outra,	cercada	por	uma
horda	de	garotas	histéricas.	O	mais	interessante	é	que	ela	era	chamada	The	Beatles.
A	banda,	não	a	horda	de	garotas!	Agora,	para	falar	a	verdade,	eu	não	era	um	garoto
de	muita	imaginação	e	achava	que	a	banda	tinha	sido	batizada	em	homenagem	a	um
inseto.	Meu	conhecimento	de	inglês	na	época	não	me	equiparava	a	um	Winston
Churchill.	Para	ser	honesto,	ainda	hoje,	meu	inglês	não	é	maravilhoso.
Provavelmente	tão	bom	quanto	o	de	Arnold	Schwarzenegger,	mas	eu	acho	que
consigo	pronunciar	Califórnia	melhor	do	que	ele,	embora	isso	não	importe.
Pensando	bem,	acho	que	deveríamos	ter	batizado	a	banda	de	Scorepions!	Você	sabe,
score	é	como	eles	chamam	“partitura	musical”	em	inglês.	E	ninguém	era	tão	criativo
assim	na	banda	quando	inventaram	o	nome	(na	verdade,	dada	a	nossa	reputação	na
estrada,	score	poderia	ser	apropriado	para	descrever	nossas	peripécias	fora	dos	palcos:
score,	em	inglês,	também	significa	“pontuar”	e	é	uma	gíria	para	“fazer	sexo	com	uma
mulher”).	O	que	importa	é	a	impressão	causada	pelo	Beatles	num	adolescente	de
Saarland	em	ebulição	hormonal	que	percebeu	que	a	bateria	tinha	suas	limitações	em
questões	de	“amor”.	Eu	tentava	abraçar	minha	bateria	em	diversas	ocasiões,	mas	não
era	a	mesma	coisa	que	o	corpo	macio	e	maleável	de	uma	linda	adolescente.	No
entanto,	a	manutenção	era	muito	mais	simples	–	uma	pele	nova,	de	vez	em	quando,
talvez	dar	uma	polidinha...
Admito	ter	ficado	fascinado	pelo	Ringo	Starr	tocando	bateria,	não	só	porque	as
meninas	gritavam	e	pareciam	amá-lo,	mas	também	por	causa	de	sua	levada
constante,	sólida	e	simplista,	que	parecia	estar	perfeitamente	de	acordo	com	o	que	os
outros	da	banda	estavam	tocando.	Passei	a	prestar	atenção	no	que	ele	e	muitos
outros	bateristas	daquela	geração	estavam	fazendo	e	comecei	a	apreciar	e	a	entender
a	importância	da	percussão	para	estabelecer	a	identidade	de	uma	banda.	Isso	soa	tão
impressionante,	não?	Na	verdade,	eu	gostava	de	copiar	o	que	eles	tocavam.	O	resto	é
para	aquele	que	vai	examinar	este	livro	por	razões	literárias.	Preciso	assegurar-me	do
uso	correto	dos	adjetivos,	dos	advérbios	e	das	referências	metafóricas	para	mantê-lo
feliz	também.
Como	a	maioria	dos	músicos,	eu	tinha	muitos	artistas	que	admirava	e	que	me
influenciavam.	Algumas	das	minhas	primeiras	influências,	além	de	Ringo,	foram
Charlie	Watts,	do	Rolling	Stones,	e	Peter	York,	do	Spencer	Davis	Group.	Em
nenhum	momento,	no	entanto,	eu	ousava	imaginar	que	um	dia	pudesse	encontrar
algum	desses	ídolos	ou	até	mesmo	ser	classificado	com	um	nome	dessa	estatura	por
alguém	que	não	tivesse	bebido	mais	do	que	a	cota	normal	de	Heineken.	Mas	as
horas	que	passei	ouvindo	os	discos	deles	e	tirando	suas	frases	da	melhor	maneira	que
eu	podia	fazer	são	algumas	das	melhores	lembranças	que	tenho	na	vida.
Temo	que	hoje	os	garotos	não	podem	sentir	a	mesma	alegria.	Com	tudo
disponível	on-line	e	em	DVD,	os	jovens	músicos	não	têm	que	praticar	sua
habilidade	e	desenvolver	o	seu	ouvido.	Eles	podem	simplesmente	assistir	a	seus
ídolos	por	um	ou	outro	tipo	de	mídia	quando	desejarem,	ou	comprar	uma
videoaula	produzida	por	um	deles,	na	qual	mostre	todos	os	seus	truques.	É	tão
difícil	explicar	a	um	jovem	baterista	ou,	na	verdade,	a	qualquer	músico	que	o
desenvolvimento	do	ouvido	não	tem	preço.	Ser	capaz	de	ouvir	permite	a	um	músico
ter	a	capacidade	de	tirar	qualquer	coisa	e	traduzi-la	diretamente	para	o	próprio
trabalho,	de	uma	maneira	muito	diferente	de	assistir	outra	pessoa	e	de	aprender	com
ela.	Quando	você	toca	Satisfaction	ou	She	loves	you	mil	vezes	junto	com	o	disco,	não
somente	aprende	o	que	o	baterista	está	tocando,	mas	até	mesmo	o	que	ele	poderia
ter	feito	melhor	ainda.	Assim	é	que	alguém	desenvolve	o	próprio	estilo.	Não	tento
tocar	como	Ringo,	como	Keith	Moon,	do	The	Who,	ou	como	John	Bonham,	do
Led	Zeppelin.	Tento	tocar	como	Herman	Rarebell.
Aos	17	anos	de	idade,	o	The	Mastermen	chegou	ao	seu	fim,	e	eu	queria	me
tornar	profissional.	Decidi	montar	minha	banda,	a	RS	Rindfleisch,	e	escolhi	todos
os	músicos.	Em	pouco	tempo,	estávamos	tocando	em	todo	o	circuito.	Como
circuito,	entendam-se	os	clubes	e	os	bares	da	área	em	que	eu	morava.	Depois	de	ter
me	visto	tocando	em	um	clube	e,	é	claro,	de	ter	consultado	minha	mãe,	meu	pai	me
disse	que,	se	eu	realmente	estivesse	a	fim	de	levar	a	música	a	sério,	deveria	ao	menos
ter	o	background	e	o	treinamento	corretos.	Ele	achou	que	seria	uma	boa	ideia	se	eu
me	matriculasse	na	Academia	de	Música	de	Saarbrucken.	Ali,	ele	supôs	que	eu	não
teria	apenas	aulas	de	bateria	e	de	percussão,	mas	que	também	iria	receber	a	formação
clássica	apropriada,	assim	como	aprenderia	a	tocar	outros	instrumentos	“de
verdade”,	como	piano.	Tudo	isso	soou	bem	para	mim,	eu	não	ia	discutir.	Diabos,
naquela	altura	do	campeonato	eu	teria	contraído	icterícia,	se	isso	me	tirasse	da	escola
infernal	de	economia.
Refletindo	sobre	isso	agora,	pode	ter	havido	outra	razão	para	a	sugestão	deles:
poderia	ser	somente	para	que	eu	desse	o	fora	de	casa	com	a	minha	bateria.	Não
posso	dizer	que	eu	os	culparia,	pois	bateria	não	é	todo	mundo	que	aguenta.	O	que
as	pessoas	têm	de	lembrar	é	que,	até	o	século	XX,	não	havia	o	conceito	de	bateria.
Existiam	tambores	em	bandas,	é	claro.	Todas	as	bandas	de	polca	tocavam	com	o
suporte	de	um	bumbo,	caixa	e	pratos.	No	entanto,	havia	um	músico	para	tocar	cada
uma	das	peças	separadamente.	Eu	não	consigo	imaginar	passar	o	dia	todo	tocando
algo	monótono	e	constante,	como	devia	ser	o	caso	daquele	que	tocava	o	bumbo.
Mas	eu	acho	que	tem	gente	que	também	não	imaginaria	fazer	parte	de	uma	banda
com	o	nome	de	um	aracnídeo.
Quando	entrei	na	Academia	de	Música,	continuei	tocando	no	RS	Rindfleisch.
Sei	que	alguém	pode	se	perguntar	por	que	eu	não	levei	em	consideração	tocar	todo
fim	de	semana	por	150	euros,	como	fazia	com	o	The	Mastermen,	como
profissional.	Bem,	a	diferença,	pelo	menos	de	acordo	com	nossa	definição,	era	o	tipo
de	situação	em	que	tocávamos.	Em	vez	de	tocarmos	somente	nos	fins	de	semana,
estávamos	nos	apresentando	sete	noites	por	semana	em	boates	e	em	outros
estabelecimentos	sórdidos.	Fechávamos	temporadas	de	um	mês	ou	mais	em	cada
lugar.
O	RS	Rindfleisch	durou	pouco	tempo	e	se	transformou	numa	banda	chamada
Fuggs	Blues	(bonitinho	o	nome,	não?).	É	importante	mencionar	como	se	soletra,
pois	algumas	pessoas	confundiam	o	nome	com	uma	palavra	da	língua	inglesa	cujasonoridade	é	parecida	e	que,	é	claro,	eu	nunca	uso![1]	Basicamente,	o	trabalho	do
Fuggs	Blues	era	fazer	apresentações	em	clubes,	onde	tocávamos	tudo	o	que	se	ouvia
no	rádio.	Canções	como	It’s	all	over	now	e	The	last	time,	do	Stones,	além	de	músicas
do	Beatles,	como	She	loves	you,	e	o	que	mais	fosse	popular,	tinha	lugar	em	nosso
repertório.	Nos	esforçávamos	ao	máximo	para	tocar	tudo	exatamente	como	faziam
nossos	ídolos	britânicos.	Lembre-se	de	que	na	época	não	havia	nenhuma	banda
alemã	para	ser	copiada.	Esse	dia	levou	anos	para	chegar.	Rock	and	roll	era	música
inglesa,	pelo	menos	em	termos	de	linguagem.
À	medida	que	a	popularidade	do	Fuggs	Blues	crescia	e	tínhamos,	pelo	menos,
uns	seis	fãs,	nossos	shows	passaram	a	ser	muito	maiores	do	que	os	clubes	locais.
Eventualmente	conseguíamos	várias	temporadas	de	um	mês	em	clubes	militares
americanos,	incluindo	os	de	Frankfurt,	de	Schweinfurt	e	de	Nuremberg,	nos	quais
tocávamos	quatro	sets	por	noite.	Estas,	em	particular,	se	destacam	na	minha	cabeça.
Não	pelos	motivos	que	alguns	possam	imaginar,	mas	porque,	na	verdade,	eram
histórias	de	dois	clubes	totalmente	diferentes.	Primeiramente,	é	preciso	considerar
que	isso	se	passou	na	época	da	Guerra	do	Vietnã.	Logo,	os	soldados	iam	e	vinham
de	forma	constante	e	as	bases	eram	refúgios	de	atividades.	Pensando	nisso,	hoje
tenho	certeza	de	que	muitos	dos	soldados	que	conheci	naqueles	dias	nunca	voltaram
da	guerra.	É	uma	realidade	muito	mais	grave	quando	se	pensa	em	quanto	a	vida
pode	ser	frágil.	Além	disso,	aqueles	shows	nas	bases	militares	eram	muito
interessantes	para	nós,	porque	nos	dez	primeiros	dias	de	cada	mês	ou	nas	duas
primeiras	semanas,	os	clubes	ficavam	lotados.	Você	não	conseguia	um	lugar	para
sentar	mesmo	que	dissesse	que	conhecia	em	pessoa	o	então	presidente	dos	Estados
Unidos,	Richard	Nixon	(não	se	esqueça	de	que	essas	eram	bases	militares
americanas...	e	que	o	presidente	Nixon	foi	bastante	popular	no	final	dos	anos	1960
e	início	dos	anos	1970	por	toda	a	parte,	menos	em	Hanói	e	Moscou).	Então,	na
primeira	metade	do	mês,	tocávamos	para	plateias	cheias,	não	só	de	cerveja	e	salsicha,
mas	de	dinheiro	também.	No	entanto,	até	a	metade	do	mês,	a	maior	parte	do
dinheiro	extra	já	havia	acabado,	assim	como	a	nossa	plateia,	e	tocávamos	o	restante
dos	quinze	dias	para	mesas	e	cadeiras	cordiais,	embora	bastante	quietas.	Não	era	tão
ruim	para	nossa	banda	quanto	imagino	que	fosse	para	os	comediantes	que	eram
eventualmente	contratados	como	parte	do	entretenimento.	Móveis	não	respondem
muito	a	piadas	–	assim	como	a	maioria	dos	críticos,	devo	dizer.	Claro	que	os	críticos
são	considerados	maravilhosos	em	comparação	a	algumas	das	criaturas	assustadoras,
como	lagartos	conhecidos	como	“empresários”.	(Perdoe-me,	por	favor,	pela
comparação.	Não	gostaria	de	ofender	réptil	algum.)	Talvez	você	possa	imaginar,
mas	mesmo	que	não	consiga,	ao	menos	tente...	Naquela	época,	a	Alemanha
Ocidental	era	um	país	muito	conservador	e,	embora	o	rock	and	roll	fosse	popular	em
cidades	como	Hamburgo	(que,	obviamente,	se	tornara	o	ponto	de	partida	para	a
saga	do	Beatles	no	Star	Club),	a	aparência,	o	estilo	e	o	som	não	foram	aceitos	de
imediato	pelas	massas.	Felizmente,	minha	mãe	trabalhava	na	estação	de	trem	e
conseguia	passagens	para	irmos	e	voltarmos	a	Hamburgo	de	graça.	Nós	as	usávamos
para	ir	assistir	a	quaisquer	bandas	que	tocassem	por	lá.	Lembro-me	de	ter	visto
Yardbirds,	Spooky	Tooth,	Remo	Four	e	uma	banda	alemã	chamada	Rattles,	o	que
nos	dava	vantagem	sobre	outros	jovens	músicos	que	estavam	na	mesma	posição	que
nós.	Suspeito	que	fosse	uma	situação	bastante	parecida	à	do	início	dos	anos	1950
nos	Estados	Unidos,	onde	poucas	emissoras	de	rádio	ou	clubes	no	país	apoiavam	o
rock.	Nosso	contato	era	às	vezes	limitado	ao	que	conseguíamos	captar	pelo	rádio	na
BBC	ou	no	rádio	das	Forças	Armadas	Americanas.	Como	você	pode	imaginar,	ver
bandas	tocando	ao	vivo	músicas	que	nós	também	tocávamos	(não	entenda	mal	essa
ideia,	nunca	achamos	que	tocassem	as	músicas	tão	bem	quanto	nós...	eu	só	quis
dizer	que	também	tocávamos	as	canções	deles...	mas	até	aí...	não,	teria	sido
presunção,	mesmo	que	fosse	verdade)	e	tendo	a	chance	de	ver	como	eles
“trabalhavam	a	plateia”	nos	deu	a	oportunidade	de	realmente	crescer	e	de	nos
desenvolver	como	músicos	acima	e	além	daquelas	outras	bandas.
Seguindo	esse	mesmo	raciocínio,	acho	que	há	várias	coisas	importantes	que
hoje	os	jovens	perderam	por	completo,	como	resultado	das	mudanças	da	indústria
fonográfica.	Como	eu	havia	mencionado,	a	disponibilidade	de	produtos	de	vídeo
limitou	o	crescimento	de	uma	audição	musicalmente	mais	apurada.	Também
percebi	que	os	músicos	não	parecem	mais	tão	interessados	em	tocar	ao	vivo	ou	em
fazer	um	som	com	os	amigos	por	horas	e	horas.	Com	a	democratização	dos
programas	de	computador,	que	possibilita	a	todos	terem	um	estúdio	de	gravação
completo	em	casa,	por	algumas	centenas	de	dólares,	tocar	não	importa	tanto	quanto
gravar	canções.	Você,	que	é	músico,	concentra-se	muito	mais	em	gravar	ou	em	fazer
vídeos,	porque	é	assim	que	é	“descoberto”.	Minha	dica	para	todos	os	que	sonham
em	um	dia	fazer	parte	de	uma	banda	como	o	Scorpions	é	a	seguinte:	nada	substitui
tocar.	Seja	num	porão,	numa	garagem,	numa	festa	para	amigos,	seja	diante	de	uma
plateia	na	escola,	quanto	mais	você	tocar,	mais	“afiado”	e	esperto	ficará.	E	parecerá
muito	mais	experiente	quando	tiver	a	chance	de	se	apresentar	para	100	mil	pessoas
em	um	estádio.	Independentemente	de	tocar	para	cinco	pessoas	ou	para	5	mil,	a
performance	nunca	deve	mudar!
Como	baterista,	posso	afirmar	que	existem	grandes	diferenças	no	modo	como
os	bateristas	se	apresentam.	Eu	era,	no	mínimo,	fascinado	pelo	Keith	Moon.	Ele
sabia	tocar	com	uma	veracidade	e	uma	ferocidade	diferentes	de	tudo	o	que	eu	já
havia	visto.	A	força	que	ele	levava	para	o	som	do	The	Who	me	atraiu	à	banda.	Além
disso,	o	fato	de	ele	estar	sempre	propenso	a	destruir	sua	bateria	ao	encerrar	o	show
de	cada	noite...	Bem,	posso	dizer	que	isso	era,	honestamente,	seu	desempenho	e	sua
apresentação.	Embora	ele	fosse	um	pouco	“exagerado”,	me	fez	pensar	em	maneiras
de	me	certificar	de	que	eu	seria	notado	e,	assim,	evitar	ser	estereotipado	como
“somente”	o	baterista	de	uma	banda.	Sem	dúvida,	posso	afirmar	que	o	The	Who
nunca	se	recuperou	da	perda	de	Keith	Moon,	em	1977.	Ele	era	parte	integral	da
constituição	e	do	som	da	banda.	O	mesmo	pode	ser	dito	do	papel	de	John	Bonham
no	Led	Zeppelin.	Moon	e	Bonham	eram,	em	minha	opinião,	insubstituíveis.
Voltando	à	história,	como	você	deve	ter	percebido	na	conservadora	Alemanha
Ocidental	do	fim	dos	anos	1960,	nós,	músicos,	éramos	vistos	de	maneira	muito
interessante	pelas	pessoas.	Tínhamos	de	ter	a	aparência	de	rock	stars	e	tocar	como
rock	stars,	independentemente	de	sermos	ou	não,	caso	quiséssemos	convencer	nossa
plateia	de	que	éramos	verdadeiros.	Então,	assim,	com	nosso	corte	de	cabelo	beat,
nossas	botas	“Beatles”	e	nosso	figurino	mod	de	poliéster,	conseguíamos	chamar	a
atenção.	Suspeito	que	isso	nos	ajudava	com	as	meninas,	que	se	sentiam	muito	mais
atraídas	por	nós	do	que	pelos	caras	que	usavam	gravata	e	casacos	esportivos	e
estudavam	fissão	nuclear	na	escola	(provavelmente,	achavam	que	precisássemos	de
ajuda	com	nosso	gosto	para	moda,	ou	então	poderia	ser	apenas	piedade	da	parte
delas).	Tudo	bem,	é	possível	que,	hoje,	esses	caras	sejam	muito	mais	bem-sucedidos
do	que	a	maioria	daqueles	com	quem	toquei.	Mas,	na	época,	não	medíamos	o
sucesso	em	dólares	ou	marcos	alemães.	O	sucesso	era	medido	de	acordo	com	a
qualidade	das	garotas	que	conhecêssemos	e	saíssemos.	Todo	mundo	queria
conquistar	a	garota	mais	bonita.	E	tocar	numa	banda,	ter	uma	aparência	um	pouco
diferente	e	ter	dinheiro	nos	bolsos	nos	dava	uma	vantagem	tremenda.	Você	não
pode	culpar	as	garotas.	Por	que	elas	estariam	com	um	cara	que	achasse	excelente
uma	noite	em	que	passaria	a	maior	parte	do	tempo	explicando	as	complexidades	e	as
dificuldades	dos	cortes	de	impostos	sobre	altas	rendas	e	as	atividades	de	negócios	na
economia?	Tudo	bem,	pode	ser	até	que	o	caso	não	fosse	esse,	pois	acho	que	o
conceitoentrou	na	moda	somente	alguns	anos	depois	nos	Estados	Unidos,	não	é
mesmo,	chéri?	Não	sei	o	que	os	intelectuais	conversavam	com	as	garotas,	porque
nunca	me	interessei	muito	por	essas	coisas,	embora	tenha	ido	à	escola	de	economia
(veja	que	tipo	de	impacto	isso	teve	em	mim!).	Mas,	o	que	quer	que	fosse,
certamente	parecia	nos	tornar	–	nós,	músicos	–	mais	populares.	Agradeço	a	Deus
por	termos	conseguido	deixar	isso	tão	mais	claro	para	as	moças.	Talvez	da	próxima
vez	em	que	eu	falar	com	meu	contador,	possa	vê-lo	de	modo	diferente,	e	lhe
agradeça	por	ter	contribuído	para	o	meu	amadurecimento.
Embora	você	possa	achar	isso	impossível	de	acreditar	–	depois	de	todas	as
evidências	contrárias	dadas	por	mim	até	agora	–,	eu	não	me	interessei	por	música
por	causa	das	garotas.	No	entanto,	me	adaptei	rapidamente.	A	quem	será	que	estou
enganando	aqui?	Eu	vi	a	maneira	como	as	meninas	reagiam	ao	Beatles	e	ao	Stones	e
pensei	de	imediato:	“Isso	é	para	mim!”.	Qualquer	um	que	fale	o	contrário	está
mentindo.	Foi	um	ótimo	subproduto	da	indústria,	e	mesmo	assim	tinha	suas
desvantagens	depois	de	certo	ponto.	Como	o	filme	norte-americano	Rocky	colocou
de	maneira	muito	sábia,	as	mulheres	“enfraquecem	as	pernas”	de	um	cara.	Mas,
mesmo	em	um	patamar	tão	baixo	quanto	aquele	onde	nos	encontrávamos	na	época
(embora	achássemos	que	estávamos	arrebentando!),	as	garotas	lá	estavam,	ajudando
a	ilusão	que	estávamos	praticando,	pelo	bem	de	nossos	egos.	No	entanto,	como	eu
disse,	espero	que	minha	filha	se	interesse	mais	por	um	homem	de	negócios	do	que
por	um	músico.
Como	você	pode	se	lembrar,	no	final	dos	anos	1960,	a	música	passou	por
mudanças	enormes.	Pelo	menos,	o	rock	atravessou.	Dean	Martin	e	Frank	Sinatra
não	mudaram	muito,	o	que	é	compreensível.	No	entanto,	no	rock	and	roll	popular,
poucos	artistas	conseguiram	transpor	as	mudanças	que	estavam	ocorrendo.	Em
1967,	o	doo-wop	com	o	qual	cresci,	não	existia	mais.	(Doo-wop	é	o	nome	da	música
americana	do	período	de	1950-1965.	O	termo	vem	do	som	frequentemente	feito
pelos	cantores	de	apoio	em	um	grupo	de	harmonia	vocal,	como	Five	Satins,	The
Platters	ou	The	Drifters.)	Ele	havia	sido	substituído	por	uma	música	bem	mais
pesada.	Bandas	como	Yardbirds,	Cream	e,	mais	tarde,	Led	Zeppelin,	Deep	Purple	e
Black	Sabbath	começaram	a	desenvolver	um	estilo	de	música	que	realmente	atraiu
minha	atenção	por	completo.	Como	um	grupo	que	tocava	em	bases	militares,
nossos	shows	começaram	a	incluir	material	mais	pesado	também.
Nessa	época,	minhas	influências	tomaram	esse	rumo	mais	pesado.	Mitch
Mitchell,	por	exemplo,	que	tocava	com	o	Jimi	Hendrix	Experience,	era	uma	delas,
assim	como	John	Bonham,	do	Zeppelin.	No	minuto	em	que	ouvi	o	Led	Zeppelin,
descobri	qual	tipo	de	música	eu	queria	tocar.	Eu	queria	fazer	parte	de	uma	banda	de
hard	rock.
4
A	INVASÃO	BRITÂNICA	 1
Como	acabei	aprendendo,	a	geografia	não	é	enfatizada	em	todos	os	países,
especialmente	no	que	se	aplica	ao	gênero	e	ao	panorama	do	rock	and	roll.	Mas,	na
época,	e	mesmo	hoje,	a	Alemanha	não	era	o	país	no	qual	se	devesse	estar	caso	se
quisesse	ser	descoberto	como	músico	ou	fazer	parte	de	uma	banda	de	hard	rock.
Tudo	bem,	como	você	já	sabe	o	final	da	história,	talvez	não	acredite	nisso.	Mas	não
é	qualquer	um	que	pode	viajar	de	quinhentos	a	mil	quilômetros	para	um	país
totalmente	diferente	e	terminar	se	juntando	a	um	grupo	de	caras	de	sua	terra	natal.
Você	tem	de	admitir	que	seria	preciso	ter	um	tipo	especial	de	talento!
Existe	uma	desvantagem	ao	escrever	um	livro	assim.	Diferente	de	um	romance,
aqui	estou	contando	a	perspectiva	interna	de	uma	história	sobre	a	qual	você	talvez
conheça	uma	parte	ou	outra.	Há	muito	pouco	suspense	em	alguns	aspectos.	Você	já
sabe	onde	eu	terminei	e	quais	músicas	fizeram	sucesso	mundialmente.	Já	sabe	até	o
número	dos	meus	sapatos.	Não	faço	ideia	do	motivo,	mas	descobri	que	existem
pessoas	que	curtem	colecionar	dados	sobre	quem	está	sob	os	holofotes	do	mundo,	o
que,	às	vezes,	pode	parecer	um	passatempo	insignificante.	Saber	o	que	irá	acontecer
na	história	tira	um	pouco	do	mistério	enquanto	você	a	lê.	Ao	mesmo	tempo,	se
quisesse	mistério,	você	estaria	lendo	Agatha	Christie...	Mas,	como	já	mencionei,
suspeito	que	esteja	lendo	este	livro	–	e	espero	que	muitos	leiam,	não	poucos	–	para
descobrir	o	que	acontecia	atrás	do	palco	enquanto	nos	via	tocando	no	Los	Angeles
Forum,	no	Madison	Square	Garden	ou	no	Hammersmith	Odeon.
Continuando,	embora	o	período	em	que	frequentei	a	Academia	de	Música	de
Saarbrucken	tenha	ajudado	numa	tremenda	parte	da	minha	educação	–	que	eu	não
teria	trocado	por	nada	–,	música	clássica	e	bateria	não	são	sinônimos.	Não	havia
futuro	para	mim	na	música	clássica,	a	não	ser	que	eu	quisesse	tocar	bumbo	ou
tímpano	na	Filarmônica	de	Berlim!	Se	esse	tivesse	sido	o	meu	fim,	eu	teria
eventualmente	tocado	com	o	Scorpions,	embora	isso	tivesse	acontecido	cerca	de
trinta	anos	depois	(quem	perdeu	o	interesse	pela	banda	depois	que	eu	saí	dela	talvez
não	saiba	que	eles	gravaram	um	disco	com	os	nossos	maiores	sucessos	com	a
Filarmônica	de	Berlim	chamado	“Moment	of	glory”).	Eu	posso	ter	sido	o
catalisador	que	lançou	a	carreira	deles	(estou	tendo	muita	dificuldade	em	comprar
toda	essa	ideia,	então	a	ignorem),	porém	existe	uma	discussão	real	a	meu	respeito,
nas	mesmas	linhas.	Não	a	terei	ainda,	pelo	menos	agora.	Mas	que	ela	existe,	existe.
Eu,	pessoalmente,	amo	“In	trance”	e	“Virgin	killer”,	sem	mencionar	“Lonesome
crow”	e	“Fly	to	the	rainbow”.	São	discos	ótimos.	Mas,	às	vezes,	dentro	da	estrutura
de	uma	banda,	existe	uma	química	que	não	pode	ser	explicada	–	uma	combinação
dos	elementos	exatos	que	parecem	coexistir	perfeitamente.	Eu	acho	que,	se	você
traçar	a	história	de	várias	bandas,	verá	isso.	Para	mim,	o	The	Who	nunca	mais	soou
o	mesmo	depois	do	disco	“Who	are	you”,	que,	por	coincidência,	foi	o	último	no
qual	Keith	Moon	tocou.	E	Ted	Nugent	–	com	o	qual	excursionamos	muitas	vezes
pela	América,	pois	éramos	empresariados	pela	mesma	firma,	Leber-Krebs	–	nunca
pareceu	atingir	o	mesmo	patamar	de	sucesso	depois	do	disco	ao	vivo	“Double	Live
Gonzo”,	que	fora	o	último	cuja	formação	da	banda	contava	com	Rob	de	la	Grange,
no	baixo,	o	vocalista	Derek	St.	Holmes	e,	provavelmente,	o	cara	mais	importante
por	trás	de	Ted,	o	baterista	e	produtor	Cliff	Davies.	Acho	que	todo	mundo	conhece
bandas	e	histórias	similares	ou	pelo	menos	possui	opinião	semelhante.	Talvez	você
tenha	idolatrado	a	carreira	de	alguém	em	algum	momento	e	perdido	o	interesse	com
a	mudança	no	som	e	nos	membros	da	banda.	Existe	algo	especial,	até	mágico,	que
não	pode	ser	explicado	quando	se	trata	de	música	e	de	criatividade.	Uma	vez	que
você	encontra	isso,	logo	reconhece.	De	muitas	maneiras	maravilhosas,	é	bem	como
o	amor.
No	outono	de	1971,	finalmente	me	dei	conta	de	que	eu	não	iria	muito	longe
no	mundo	da	música	caso	permanecesse	na	Alemanha.	Percebi,	depois	de	quatro
semestres	na	escola	de	música,	que	o	único	futuro	que	eu	teria	ali	seria	como	parte
de	uma	orquestra	trabalhando	numa	estação	de	rádio	ou	televisão,	ou	talvez	na
filarmônica	de	alguma	cidade.	Eu	era	meio	devagar	e	demorei	muito.	Como
resultado	dessa	revelação,	decidi	que	era	hora	de	me	aventurar	fora	do	meu	país	atrás
de	fama	e	fortuna,	em	busca	do	estrelato.	Na	época,	o	rock,	pelo	menos	do	tipo	que
eu	estava	interessado	em	tocar,	parecia	estar	todo	em	Londres.	E	armado	do	que	eu
achava	ser	meu	vasto	conhecimento	da	língua	inglesa	(sabia	as	letras	de	praticamente
todas	as	músicas	do	Freddie	and	the	Dreamers...	Eram	duas...	bem,	eram	mais	que
duas,	estou	só	brincando,	não	repare.	Queria	só	dizer	que	eu	sabia	muito	pouco
inglês,	embora	achasse	saber	muito,	OK?)	parti	rumo	a	Londres.
Arrumei	as	minhas	malas	e	deixei	Saarbrucken	com	destino	ao	Magic
Kingdom.	Não,	não	era	esse.	“Kingdom”	errado.	Ainda	iria	demorar	uns	anos	antes
de	finalmente	conhecer	a	Disneylândia.	Arrumei	tudo	e	parti	para	o	United
Kingdom	[Reino	Unido],	achando	que	chegaria	lá	e	logo	entraria	em	alguma	das
maiores	bandas	do	lugar.	Afinal	de	contas,	havia	sido	o	baterista	do	The
Mastermen,	do	RS	Rindfleisch	e	do	Fuggs	Blues!

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