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AULA 01 - DIREITO E SOCIEDADE - UMA VISÃO SOCIOLOGICA DO DIREITO

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UNIDADE 1 
DIREITO E SOCIEDADE: UMA VISÃO SOCIOLÓGICA DO 
DIREITO 
AULA 01 
 
1.0 - CONSIDERAÇÕES GERAIS 
Existe um ramo da Sociologia, denominado de Sociologia Jurídica cuja 
vocação é perceber a relação existente entre duas ciências de grande 
importância para a vida da sociedade (Sociologia e Direito), por tratarem das 
relações, dos conflitos, das normas, do controle, enfim, de todas as ligações 
que possam surgir entre os indivíduos e que necessite de normas reguladoras. 
 
Para Cavalieri Filho (2010, p.90) ¨... podemos conceituar a Sociologia 
Jurídica como sendo a ciência que estuda o direito como fenômeno 
social(ser), a fim de observar a adequação da ordem jurídica aos fatos 
sociais, o cumprimento pelo povo das leis vigentes, aplicação destas 
pelas autoridades e os efeitos sociais por elas(leis)produzidos(eficácia)¨. 
 
Quanto à Sociologia Judiciária, esta tem como objeto de análise científica os 
atos praticados pelos instrumentos humanos de realização do Direito 
(magistrados, advogados, promotores, serventuários da Justiça, etc), como por 
exemplo, o ato de julgar dos magistrados, buscando superar a visão do senso 
comum que enxerga na figura do Juiz um mero agente passivo, o "aplicador da 
lei”. O estudo da Sociologia Judiciária leva a que se perceba que não são 
autômatos a executar uma programação estritamente demarcada pela lei, 
tomada ao pé da letra. 
 
 
1.1 – CONCEITO SOCIOLÓGICO DO DIREITO 1 
O Direito é fato social, assim como a linguagem, a religião, a cultura, que surge 
das inter-relações sociais e se destina a satisfazer necessidades sociais, tais 
como prevenir e compor conflitos. 
 
Dessa forma, passamos a explicitar a concepção do Direito como fato social, 
formulando um conceito que se enquadre na visão sociológica do Direito. 
Todavia, antes de tentar conceituar, se faz necessário, considerar todos os 
elementos dessa ciência, seus requisitos, características, finalidade etc., 
 
Normas de conduta: Se o Direito está ligado à ideia de organização e 
conduta, então deve ser ele entendido como um conjunto de normas de 
conduta que disciplinam as relações sociais. O mundo do Direito é o mundo 
das relações entre os homens, pois na conjugação desses dois elementos – a 
sociedade e o indivíduo – encontramos sua razão de ser. Como tem sido 
assinalado por muitos autores, é o Direito a única relação inteiramente 
determinada pela coexistência humana e que se exaure de homem para 
 
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 - Cavalieri Filho, Sérgio. Programa de Sociologia Jurídica – Rio de Janeiro: Forense, 2005. 
 
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homem. Cuida, pois, o Direito da disciplina das relações extrínsecas do 
homem, cabendo à moral a disciplina de suas relações intrínsecas. Nas 
relações intersubjetivas na sociedade podem ser encontradas as seguintes 
normas: Norma jurídica, norma moral e norma de trato social. 
Norma Jurídica: do ponto de vista formal tem por objetivo influir no 
comportamento de alguém para modificá-lo. É composta de dois elementos: 
Preceito e Sanção. O primeiro contém a regra de conduta a ser observada por 
seus destinatários; o segundo, a pena (punição) a ser imposta a quem a 
desobedeça. 
 
Norma moral: tem sua origem na consciência do indivíduo, cuja execução não 
é obrigatoriamente exigível e que tende ao aperfeiçoamento do homem. Por 
exemplo, as normas religiosas. 
 
Norma de trato social ou de mera conduta: são padrões de conduta social, 
elaboradas pela sociedade que visam tornar o ambiente social mais ameno, 
sob pressão da própria sociedade. Por exemplo, usar talheres à mesa 
NORMA JURÍDICA NORMA JURÍDICA 
Origem das normas de conduta jurídicas: 
 Para a Sociologia Jurídica – as normas de direito surgem do grupo 
social; 
 Para os Jusnaturalistas - as normas de direito têm origem divina; 
 Para os Contratualistas - as normas de direito são fruto da razão; 
 Para os Historicistas - as normas de direito são derivadas da 
consciência coletiva do povo; 
 Para os Marxistas - as normas de direito são oriundas do Estado, para 
manutenção da desigualdade entre as classes sociais 
 
Provisoriedade e mutabilidade das normas de direito 
Os defensores do direito natural, conforme já assinalamos, tanto os que o 
concebiam como tendo origem na Divindade como aqueles que o entendiam 
fruto da razão, consideravam o direito um conjunto de princípios permanentes, 
estáveis e imutáveis. 
 
Tal concepção, entretanto, não se ajusta ao ponto de vista sociológico, que o 
considera produto social. Se o Direito emana do grupo social, não pode ter 
maior estabilidade que o grupo. E o grupo, como é sabido, sofre constantes 
modificações. 
 
Mudando o grupo, mudam-se também as normas do Direito, razão pela qual, 
do ponto de vista sociológico, não tem o Direito caráter estável ou perpétuo, 
mas sim essencialmente provisório, sujeito a constantes modificações. 
 
Tão incontestável é o caráter provisório do direito que alguns adeptos do direito 
natural conceberam uma noção que denominaram “direito natural de conteúdo 
variável”. 
 
Juntando todas as características até aqui examinadas, formulamos o seguinte 
conceito de Direito: 
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Assim, o conceito sociológico do direito fica construído como um 
conjunto de normas de conduta universais (destina-se a todos), 
abstratas (porque são elaboradas para casos hipoteticamente 
considerados), obrigatórias (são de observância necessária, coercitiva) e 
mutáveis (pois são sujeitas a constantes transformações), impostas pelo 
grupo social (e não somente pelo Estado), destinadas a disciplinar 
as relações externas do indivíduo, objetivando prevenir e compor 
conflitos. 
 
1.2 ORIGEM DA SOCIOLOGIA JURÍDICA (ÉMILE DURKHEIM) 
Fundador da escola francesa de sociologia, posterior a Marx, que combinava a 
pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente como 
um dos melhores teóricos do conceito da coerção social. 
 
Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados como 
coisas", forneceu uma definição do normal e do patológico aplicada a cada 
sociedade, em que o normal seria aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório 
para o indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a 
consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma 
existência tangível. 
 
Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a realização 
desse, desde que consiga integrar-se a essa estrutura. Para que reine certo 
consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma 
solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo 
o grau de modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma 
jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação 
e troca de serviços entre os que participam do trabalho coletivo 
(preponderância progressiva da solidariedade orgânica). 
 
Para Durkheim, a sociedade não é somente o produto da soma ou da 
justaposição de consciências, de ações e de sentimentos particulares, de 
maneira que ao misturarmos tais ingredientes, por associação, por combinação 
ou por fusão, estaríamos assim propiciando o nascimento de algo novo e 
ainda, de algo externo às consciências em questão. Em sua lógica particular, 
ainda que o todo seja composto pelo agrupamento das partes, tem também aí 
origem, uma série de fenômenos que dizem respeito ao todo diretamente, e 
não às partes que o compõem somente. A sociedade, desse modo, é mais do 
que a soma dos indivíduos que dela fazem parte, podendo compreender-se a 
sua gênese somente ao considerarmos o todo e não as partes individualmente. 
 
A primeira regra estabelecida por Durkheim para a observação dos fatos 
sociais pelos sociólogos é considerá-los como coisas. Para tanto, deve-se 
afastar sistematicamente as prenoções; definir previamente as coisas de que 
trata por meio de caracteres exteriores que lhe são comuns; considerá-las 
independentemente de suas manifestações individuais, damaneira mais 
objetiva possível. Em resumo, analisar os fatos sociais como coisa e tomá-los 
como uma realidade externa. 
 
 
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2. OBJETOS DA SOCIOLOGIA JURÍDICA E JUDICIÁRIA 
Sendo o direito um fato social, como já dito anteriormente, apresentando 
características típicas do fato social, a saber: coerção, integração com os 
demais setores da sociedade e representação coletiva, tudo isso, bem como 
seu relacionamento concreto com os demais aspectos da realidade coletiva 
constituem o objeto próprio da Sociologia Jurídica. 
Pode-se afirmar que o objeto da Sociologia Jurídica busca estabelecer uma 
relação funcional entre a realidade social e as diferentes manifestações 
jurídicas, sob forma de regulamentação da vida social, fornecendo subsídios 
para suas transformações no tempo e no espaço. Nas palavras do professor 
Cavalieri Filho (2010, p. 76), não há uma total concordância entre os autores, a 
saber: 
 
Emile Durkheim: a) investigar como as regras jurídicas se constituiriam real 
e efetivamente – das causas e dos fatos sociais e as 
necessidades que visam satisfazer; ou seja, incluír o 
exame das causas que determinam o surgimento das 
regras jurídicas, dos fatos sociais que as suscitam, bem 
como das necessidades que visam satisfazer. Somente 
quando as normas estão ajustadas aos fatos é que 
poderão atender aos objetivos para os quais foram 
elaboradas. 
b) O modo como as normas jurídicas funcionam na 
sociedade, ou seja, se está ou não sendo aplicada, se há 
ou não estrutura para isso etc.” KHEIM DURKHEIM 
 
R. Treves a) Estudo das normas jurídicas e dos efeitos sociais deles 
derivados; 
b) Estudo dos instrumentos humanos de realização da 
ordem jurídica e de suas instituições; 
c) Estudo da opinião do público a respeito do direito e das 
instituições jurídicas. 
E. Jorion a) Para este autor a Sociologia jurídica e a Ciência do 
Direito seriam uma só disciplina, cujo objeto é o 
fenômeno jurídico, tendo a Sociologia do Direito as 
seguintes atribuições: 
b) Observação e análise dos fatos; seu tratamento 
tipológico; 
c) Estudo da gênese das regras jurídicas e sua evolução; 
d) Relação do direito com outros fenômenos sociais; 
e) Definição pela Sociologia do Direito de seus próprios 
limites

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