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FABIO SOMOLANJI CORSINI RECUPERAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO IRREGULAR EM ÁREA DE MANANCIAL-JD. BRANCA FLOR ITAPECERICA DA SERRA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil com ênfase Ambiental. SÃO PAULO 2003 FABIO SOMOLANJI CORSINI RECUPERAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO IRREGULAR EM ÁREA DE MANANCIAL-JD. BRANCA FLOR ITAPECERICA DA SERRA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil com ênfase Ambiental. Orientadora: Profª . Mestre Ana Lúcia Pinheiro SÃO PAULO 2003 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pelo Espírito Santo ter iluminado meus pensamentos. Agradeço aos meus pais por depositarem confiança em minha pessoa desde o inicio da faculdade. Agradeço a minha namorada por estar sempre ao meu lado me apoiando nos momentos mais difíceis deste trabalho. Agradeço a Mestre Ana Lúcia Pinheiro, orientadora deste trabalho, pelas criticas, sugestões e correções construtivas. Agradeço ao Mestre Isauro da Cunha Padilha Júnior, pelos incentivos destinados à pesquisa deste trabalho. Agradeço ao Arquiteto Marcelo Rodrigues Mota, Diretor da Secretaria do Meio ambiente da Prefeitura Municipal de Itapecerica da Serra, pelo apoio dedicado à realização deste trabalho. Agradeço ao Engenheiro Ambiental David Correia Zarur, da Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Itapecerica da Serra, pela atenção e apoio. Agradeço a todos funcionários das Secretarias de Obras e Meio Ambiente, da Prefeitura Municipal de Itapecerica da Serra, pela atenção e disposições dos materiais utilizado neste trabalho. Agradeço aos amigos da Universidade Anhembi Morumbi e colegas de trabalho que deram seus respectivos apoios à realização deste trabalho. Enfim, a todos que de maneira direta ou indireta contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho, os meus sinceros agradecimentos. i SUMÁRIO RESUMO.......................................................................................................IV ABSTRACT....................................................................................................V LISTA DE FOTOGRAFIAS ...........................................................................VI 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................1 2 OBJETIVOS................................................................................................2 2.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 2 2.2 Objetivo Específico........................................................................................... 2 3 METODOLOGIA DA PESQUISA................................................................3 4 JUSTIFICATIVA..........................................................................................4 5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.......................................................................6 5.1 Determinação de Áreas de Mananciais e as Legislações Vigentes.................. 6 5.1.1 Lei nº 4.771 de15 de setembro de 1965........................................................ 7 5.1.2 Lei nº 898 em 18 de dezembro de 1975........................................................ 8 5.1.3 Lei nº 1.172 em 17 de novembro de 1976 .................................................... 9 5.1.4 Decreto nº 9.714 de 19 de abril de 1977..................................................... 10 5.1.5 Lei nº 9.866/97 .......................................................................................... 10 5.1.6 Proteção Jurídica dos Mananciais .............................................................. 12 5.2 A Expansão Urbana nas Áreas de Mananciais.............................................. 13 5.3 Caracterização dos Impactos Ambientais ..................................................... 14 ii 5.3.1 Principais impactos Positivos em um Empreendimento de Recuperação Ambiental Pós-Ocupação Irregular ..................................................................... 16 5.3.1.1 Redução do Lançamento de Resíduos Domiciliares............................. 16 5.3.1.2 Redução de Contaminação e Eutrofização dos Recursos Hídricos ....... 17 5.3.1.3 Recuperação da Área de Proteção dos Mananciais .............................. 18 5.3.1.4 Melhoria das Condições Sanitárias da Comunidade............................. 19 5.3.1.5 Melhoria da Paisagem Urbana............................................................. 20 5.3.2 Principais Impactos Negativos em um Empreendimento de R Recuperação Ambiental Pós-Ocupação Irregular ..................................................................... 20 5.3.2.1 Aumento da Erosão e Assoreamento ................................................... 21 5.3.2.2 Desmatamento da Área Destinada a um Projeto Habitacional.............. 22 5.3.2.3 Alteração de Usos e Costumes pela População a ser Removida ........... 23 5.3.2.4 Aumento da Densidade de Ocupação e do Nível de Impermeabilização do Solo na Área de Reassentamento ............................................................... 24 5.4 A Importância em Preservar os Recursos Hídricos no Estado de São Paulo ............................................................................................................................. .25 5.5 Implantação de um Parque Ecológico após a Ocupação por um Loteamento Irregular, como Estratégia de Controle de em uma Área de Recuperação Ambiental ............................................................................................................. 26 6 ESTUDO DE CASO ..................................................................................29 6.1 A influência do Loteamento Irregular no Jardim Branca Flor de Itapecerica da Serra ................................................................................................................ 30 6.2 Como é Feito o Controle de uma Área Congelada para Aplicação de um Projeto de Recuperação ....................................................................................... 33 6.3 O que Determinou a Escolha da Implantação do Parque Ecológico ............ 35 6.4 Caracterização da Implantação do Parque Ecológico do Jardim Branca Flor em Itapecerica da Serra ....................................................................................... 40 iii 6.5 Qualidade de Vida Resultante da Implantação do Parque Ecológico .......... 43 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................45 REFERÊNCIAS............................................................................................47 ANEXO A.....................................................................................................48 ANEXO B .....................................................................................................49 ANEXO C .....................................................................................................50 ANEXO D .....................................................................................................51 iv RESUMO O trabalho destaca a necessidade de recuperar uma área danificada pós- ocupação irregular em uma área de manancial, no Jardim Branca Flor, município de Itapecerica da Serra, São Paulo, adotando como estratégia a implantação de um parque ecológico. A análise bibliográfica feita com ênfase nas legislações pertinentes às áreas de mananciais ressaltou a necessidade de atribuir estratégias para a recuperação e preservação ambientais, a fim de controlar o crescimento populacional nestas áreas, como o projeto de recuperação ambiental aplicado nas margens do rio Embu Mirim, afluente da Bacia Hidrográficado Guarapiranga, sendo um importante recurso hídrico para o abastecimento público do Estado de São Paulo no Brasil. Palavras-chaves: Meio ambiente. Manancial. Preservação. v ABSTRACT The work figures out the need of recovering a a damaged area product of an irregular settlement upon a water source terrain at Jardim Branca Flor in Itapecerica da Serra, São Paulo, adopting the implantation of an ecological park as estrategy. The bibliographic analisys was made emphasizing the legislation concerning the proctetion of the water source areas, also emphasizing the need of the envirnmental strategies adoption in the recovery and preservation of the water source terrains alongside the main streams of the Guarapiranga Basin, remaining as an important resource for water public supplyng in the State of São Paulo, Brazil. Word-keys: Environment. Water source. Preservation. vi LISTA DE FOTOGRAFIAS Foto 6.1: Vista aérea do local de implantação no Jardim Branca Flor........32 Foto 6.2: Sinalização de advertência contra invasão ..................................34 Foto 6.3: Aspecto da mata ciliar do rio Embu Mirim a montante do loteamento Jardim Branca Flor ....................................................................36 Foto 6.4: Aspecto do rio Embu Mirim na área de várzea com ocupação irregular a montante do loteamento Jardim Branca Flor ..............................37 Foto 6.5: Aspecto do sistema de águas pluviais contaminadas pelo esgoto.... .....................................................................................................................38 Foto 6.6: Lançamento de esgoto e águas pluviais contaminadas em vala proveniente da área do loteamento irregular.................................................39 Foto 6.7: Afluente do rio Embu Mirim cruzando a área do assentamento onde recebe contribuições de esgotos..........................................................39 1 1 INTRODUÇÃO O emprego de técnicas e estratégias de preservação do meio ambiente, muitas vezes, é imprescindível, como quando da inserção de um projeto construtivo em área inteiramente de Proteção dos Mananciais, ou simplesmente quando de recuperação e conservação de recursos hídricos e ambientes associados. São problemas que um engenheiro civil deve solucionar. De acordo com Relatórios do Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA-1999), o processo de ocupação urbana desordenada está crescendo no Brasil, e especificamente no Estado de São Paulo vem causando desmatamento e poluição de rios, e por conseqüência afetando Bacias Hidrográficas e o abastecimento de água da Região Metropolitana. Estes problemas acarretados pelo avanço da ocupação irregular geram uma degradação ainda maior da qualidade das águas e perda, temporária ou definitiva, do manancial para o abastecimento futuro da humanidade. Para alcançar os objetivos de preservação da água para abastecimento e de recuperação urbana e ambiental dos territórios afetados, o capital a ser investido é alto, e muitos bancos internacionais estão se interessando em financiar estes projetos para o Brasil. Resta à sociedade tomar ciência da complexidade e não ocupar com moradias irregulares o pouco que sobrou das matas brasileiras, cooperando com os profissionais preocupados em minimizar os impactos ambientais causados e em oferecer à população uma vida saudável e digna, por meio de loteamentos regulares. 2 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral O trabalho visa, como um todo, a caracterização dos impactos ambientais e recuperação ambiental pós-ocupação irregular em áreas de mananciais, discorrendo sobre os principais conceitos sobre mananciais e as legislações pertinentes, ressaltando a importância de preservar o meio ambiente para a população e para os profissionais ligados à engenharia civil. 2.2 Objetivo Específico Avaliar os procedimentos de implantação de um Parque Ecológico, como estratégia de recuperação pós-ocupação irregular nas margens do Rio Embu Mirim, na área de influência do loteamento Jardim Branca Flor – Itapecerica da Serra, relatando problemas comuns de impactos ambientais causados antes e depois da implantação do empreendimento, ressaltando a agravante que é para o meio ambiente a aplicação de moradias irregulares em área de preservação de mananciais. E a importância de preservar o afluente rio Embu Mirim para a bacia do Guarapiranga. 3 3 METODOLOGIA DA PESQUISA O trabalho foi desenvolvido por meio de referências técnicas, dos quais foram extraídos os conceitos básicos que norteiam o tema em estudo; ‘’sites’’ de organizações governamentais ligadas ao meio ambiente, para extrair dados e informações técnicas; visita à obra, no local onde o projeto será implantado, dentro do estudo de caso, com a finalidade de encontrar dados in loco, para complementar a pesquisa de estudo; documentos e arquivos da Secretaria de Obras e do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Itapecerica da Serra, para complementar o trabalho em estudo com fotografias e dados técnicos da obra a ser implantada no município; e análise de legislações vigentes, que especificam as condições e parâmetros necessários para a elaboração deste tipo de obra, ligada ao conceito de preservação de áreas de mananciais. 4 4 JUSTIFICATIVA Com o crescimento da população no Brasil, e especificamente na cidade de São Paulo, a criação de loteamentos irregulares e clandestinos em áreas de mananciais é freqüente, causando grandes impactos ao meio ambiente, e muita vezes a solução a estes problemas deve ser rápida e definitiva, a fim de recuperar a área degradada e por sua vez protege-la conforme as legislações vigentes no país. O Projeto Jardim Branca Flor, que está sendo implementado em Itapecerica da Serra, segue como referência de estudo e exemplo de procedimentos de uma obra de recuperação em uma área de Manancial. A cidade de Itapecerica da Serra possui uma superfície de 136 quilômetros quadrados e tem o seu território inteiramente inserido na Área de Proteção dos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo. Tal fato implica na necessidade da suplementação de Projetos de Recuperação Ambiental e Remanejamento de Ocupações Irregulares. Segundo documentos técnicos da Secretaria de Obras da Prefeitura de Itapecerica da Serra (2001), a recuperação ambiental pós-ocupação irregular em áreas de mananciais é relevante devido aos aspectos: • riscos decorrentes das enchentes em épocas chuvosas, desabrigando os moradores dos loteamentos, irregulares e regular, causando perdas de bens materiais, veiculação de doenças e conseqüentemente perigo a vidas humanas; • os potenciais danos ambientais causados pela grande deposição de lixo doméstico e esgoto urbano não tratado diretamente nas águas do rio Embu Mirim, o qual é um importante contribuinte do reservatório Guarapiranga, um dos principais mananciais da Região Metropolitana de São Paulo; 5 • remoções excessivas de matas ciliares, e por consequência manifestações de erosão e assoreamento. A ocupação através de moradias irregulares na margem do rio Embu Mirim é o principal agravante, para os decorrentes impactos de contaminação das águas superficiais. 6 5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Para estudar os mananciais é necessário compreender as principais legislações ligadas a sua proteção, ressaltando a importância em preservar o meio ambiente para toda a humanidade e a expansão urbana nas áreas de mananciais. 5.1 Determinação de Áreas de Mananciais e as Legislações Vigentes Segundo relatórios do Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA-1999), manancial é toda reservade água que pode ser utilizada pelo homem para abastecimento de água, irrigação, recreação e pesca, proveniente de nascentes de água e fonte abundante. Na natureza, um manancial represado e devidamente tratado é, por sua vez, muito benéfico à população, servindo como principal fonte de abastecimento público em geral. Na grande São Paulo, as principais bacias hidrográficas são a Billings e a Guarapiranga. Em 1991 foi aprovado pelo governo do estado de São Paulo o Plano Estadual de Recursos Hídricos, que apresenta um panorama assustador para um futuro não muito distante. A água em breve se tornará um produto escasso e de custo elevado, que prejudicará o desenvolvimento do Brasil, podendo o sistema de abastecimento doméstico, industrial e agrícola entrar em colapso total. O governo é responsável pela criação de leis e programas para a preservação de mananciais. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) vem atuando fortemente no processo de implementação da Lei 9.866/97, que estabelece diretrizes e normas de 7 proteção e recuperação dos mananciais de interesse regional do estado de São Paulo. Dentro do Programa de Saneamento Ambiental da Bacia do Guarapiranga, do Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA-1999), desde o seu início, em 1993, já foram assentados 316 quilômetros de redes coletoras de esgotos e 74 quilômetros de coletores – troncos, interceptores e emissários. Foram também instaladas 26,3 mil ligações domiciliares que atendem a 110 mil pessoas. Cerca de 51 mil famílias foram beneficiadas com a construção de mais de duas mil unidades habitacionais, com adequação de infra-estrutura urbana e implantação de 459 hectares de parques e 44 hectares de áreas de lazer. Os programas de recuperação de áreas degradadas por ocupação irregular em áreas de mananciais, são financiadas por Bancos Internacionais, tais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), sendo as verbas gerenciadas de grande valia, onde os programas, se bem planejados, podem minimizar parte dos impactos que são causados diretamente nas grandes bacias reservadas. Este é o caso da bacia do Guarapiranga do estado de São Paulo, que receberá recuperação e tratamento do seu afluente o rio Embu Mirim, na área de intervenção do loteamento Jardim Branca Flor, em Itapecerica da Serra -SP. 5.1.1 Lei nº 4.771 de15 de setembro de 1965 De acordo com o Código Florestal, instituído pelo governo da República, em 15 de setembro de 1965, devem ser preservadas as florestas e as demais formas de vegetação situadas ao longo dos rios de qualquer curso d’água, desde o seu nível mais alto, em faixa marginal, pela observação de recuos absolutos de proteção do manancial, sendo as áreas reservadas ao longo do 8 curso d’água determinadas pela sua largura. São contempladas as áreas ao redor das lagoas, lagos, reservatórios d’água naturais ou artificiais, nascentes, montanhas e demais locais destinados pela legislação como áreas de preservação, abrangendo todo o território nacional. Quando em áreas urbanas e regiões metropolitanas, as áreas preservadas são definidas por lei municipal, prevista nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitando os limites a que se refere a Lei Federal. Em terras de propriedades rurais, os loteamentos devem destinar uma área de preservação com cobertura arbórea de 20% da área total da propriedade. Nas terras de propriedades privadas, em áreas destinadas à preservação permanente, se houver necessidade de florestamento ou simplesmente reflorestamento o proprietário deve fazer as recuperações necessárias. Cabe ao poder público federal o direito de implantar projetos de recuperação, se houver necessidade. 5.1.2 Lei nº 898 em 18 de dezembro de 1975 Em 18 de dezembro de 1975, o governo do estado de São Paulo promulgou esta lei em Assembléia Legislativa, disciplinando o uso do solo para a proteção dos mananciais, cursos e reservatórios de água e demais recursos hídricos de interesse da Região Metropolitana da grande São Paulo. Embora em seu artigo 2º a lei estabeleça normas de restrição de uso do solo em tais áreas e dê providências correlatadas na Lei nº 1.172/76, não surtiu os efeitos desejados e as áreas protegidas acabaram sendo alvo de empreendimentos ilegais. Essas leis visam ordenar a ocupação das bacias hidrográficas dos mananciais de abastecimento, estabelecendo parâmetros de uso e ocupação do solo para as áreas de mananciais, para que se evite o adensamento populacional e a poluição das águas. Nesta lei são declaradas como áreas de proteção o Reservatório do Guarapiranga, até a barragem no 9 município de São Paulo, o Reservatório Billings e os demais rios e reservatórios em várias regiões dentro do estado de São Paulo. O estudo de caso apresentado neste trabalho, refere-se à preservação e recuperação das margens do rio Embu Mirim, que, por sua vez, é um afluente da Bacia do Guarapiranga de São Paulo, sendo uma represa considerada de proteção, conforme dita a lei 898/75. Desta forma, destaca-se a importância do projeto de recuperação ambiental que será implantado nas margens do rio Embu Mirim, no município pertencente a grande São Paulo. 5.1.3 Lei nº 1.172 em 17 de novembro de 1976 De acordo com a Lei nº 1.172, decretada em Assembléia Legislativa, foram delimitadas as áreas de proteção dos mananciais disciplinando o uso e ocupação do solo, complementado a Lei nº 898/76 com a classificação dos divisores de água do escoamento superficial, dos cursos d’água e dos reservatórios hídricos, definindo a área de intervenção e o número populacional envolvido. Pelas citadas leis foram criadas duas categorias de áreas de proteção: a) áreas de primeira categoria - áreas situadas às margens das represas de cursos d’água (rios e córregos), áreas cobertas por matas e áreas de grande declividade; b) áreas de segunda categoria - corresponde às sub-bacias dentro de uma bacia onde são estabelecidas as divisões de classificação das áreas de acordo com a densidade populacional envolvida, destinadas à expansão urbana. Assim: 10 • CLASSE A – área urbana com densidade populacional superior a trinta habitantes por hectare. Sendo empreendimentos posteriores às leis, a densidade máxima permitida passou a ser de cinquenta habitantes por hectare. • CLASSE B – áreas situadas no entorno daquelas consideradas urbanas e as destinadas à expansão urbana. Sendo classificada com densidade variada entre vinte e cinco habitantes por hectare a trinta e quatro habitantes por hectare. • CLASSE C – demais áreas com densidade populacional variando entre seis habitantes por hectare a vinte e quatro habitantes por hectare. 5.1.4 Decreto nº 9.714 de 19 de abril de 1977 Em 19 de abril de 1977, foram regulamentadas as leis nº 898/75 e 1.172/76, pelo decreto nº 9.714, disciplinando o uso do solo para a proteção aos mananciais, em cursos e reservatórios de água e demais recursos hídricos de interesse da Região Metropolitana da grande São Paulo. A gestão de preservação dos mananciais é um conceito definido e acatado pelos planejadores ambientais e recomendado pela Agenda 21, com Programas de Combate ao Desflorestamento e Promoção do Desenvolvimento Sustentável dos assentamentos humanos, em regiões de todos os tipos de terras, florestas e matas. 5.1.5 Lei nº 9.866/97 Essa lei está em processo de substituição da Lei nº 1.172, de acordo com a proposta feita pelo governador Mario Covas e aprovada pela Assembléia 11 Legislativa. Essa lei tem abrangência estadual e estabelece critérios gerais para as ações nas áreas pertencentes às bacias hidrográficas de corpos d’águautilizados como mananciais. Ao contrário da Lei nº 1.172, que detalha as condições e critérios de uso e ocupação do solo, comuns a todos os mananciais da região metropolitana de São Paulo (PMSP), a lei nº 9.866 determina que para cada bacia ou sub-bacia utilizada como manancial seja proposta pelo respectivo Comitê de Bacia e aprovada pela Assembléia Legislativa uma lei especifica, com o detalhamento dos parâmetros urbanísticos e impactos na qualidade da água considerados para aquele manancial. A lei destaca a necessidade de que cada manancial deverá ter uma lei específica. A Lei nº 9.866/97 dispõe sobre as diretrizes e normas para proteção e recuperação das bacias hidrográficas dos mananciais de interesse regional do Estado de São Paulo e dá outras providências. Esta lei estabelece uma política de gestão descentralizada e participativa, por meio de um Sistema de Planejamento e Gestão, e remete às leis especificas de criação de Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais (APRMs), que estão inseridas na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI). No estado de São Paulo existem 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos, cujas áreas de intervenção, como instrumento de planejamento e gestão, dividem-se em: • Áreas de Restrição à Ocupação - são áreas definidas pela Constituição do Estado como áreas de interesse para a proteção de mananciais, preservação e recuperação dos recursos naturais. • Áreas de Ocupação Dirigida - refere-se às áreas de interesse para a implantação de usos rurais ou urbanos, desde que atendidos os requisitos que garantam a manutenção das condições ambientais necessárias à produção de água em quantidade e qualidade desejáveis para o abastecimento das populações atuais e futuras. 12 • Áreas de Recuperação Ambiental - são áreas onde os usos e as ocupações estão comprometendo a quantidade e a qualidade dos mananciais, exigindo ações de caráter corretivo das condições ambientais. Deve se levar em conta, também, que as áreas de proteção aos mananciais correspondem, geralmente, às áreas de drenagem de uma bacia hidrográfica, o que as tornam passíveis de proteção. Observa-se que as Áreas de Proteção aos Mananciais inserem-se nas Áreas de Proteção Ambiental. 5.1.6 Proteção Jurídica dos Mananciais A proteção jurídica das áreas de mananciais se dá, principalmente, por normas de uso e ocupação do solo, as quais podem prever taxas de ocupação, coeficientes de aproveitamento, restrições a atividades potencialmente poluidoras e manejo da vegetação. A Constituição Federal Brasileira de 1988 apresenta três artigos relacionados, ainda que indiretamente, à proteção de mananciais: • artigo 170, VI - onde a ordem econômica deverá observar os princípios da defesa do meio ambiente; • artigo 186, II - onde a função social da propriedade rural será cumprida se, dentre outros requisitos, houver a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente. • artigo 225 - refere-se ao fato de todos terem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo. De acordo com o Programa Guarapiranga do Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA, 1999), as legislações vigentes não conseguiram, de maneira satisfatória, impedir a ocupação predatória e a consequente 13 deterioração da qualidade dos mananciais da grande São Paulo. Considerando-se também as profundas mudanças que ocorreram nos campos jurídico e legal com o advento das Constituições de 1988 e 1989, impõe-se a reformulação da legislação ambiental à luz das novas diretrizes nelas contidas. Como ressaltado na lei mais recente, nº 9.866/97, faz-se necessário preservar e recuperar os mananciais do estado de São Paulo, essenciais ao abastecimento publico, através de novos instrumentos legais. Torna-se assim imprescindível e urgente compatibilizar as ações voltadas à preservação dos mananciais e proteção ao meio ambiente, com a ocupação do solo e o desenvolvimento socioeconômico das regiões protegidas. Para tanto, deve-se implementar uma gestão participativa, que promova uma efetiva integração entre diferentes setores e órgãos governamentais e garanta a participação de todos os agentes das sociedades civil envolvidos na gestão das ações relativas ao saneamento, ao aproveitamento dos recursos naturais e ao desenvolvimento regional. Vale ainda enfatizar a necessidade de descentralização do planejamento e da gestão das bacias hidrográficas, bem como o relevante papel que as administrações locais terão na estruturação de um contexto legal. 5.2 A Expansão Urbana nas Áreas de Mananciais Segundo Sócrates, Grostein e Tanaka (1985), a expansão da ocupação urbana em áreas de mananciais, assumiu características marcantes no decorrer do século XX. O crescimento urbano está, por sua vez, tornando-se um grande problema, onde a resultante negativa desse processo refletiu nos moradores das áreas periféricas, que se viram condenados a habitações irregulares frente à legislações vigentes, em loteamentos irregulares e clandestinos, degradando, conseqüentemente, o meio ambiente. A expansão urbana nas áreas de mananciais é um dos agravantes para a escassez de água e a diminuição da qualidade da água potável. A região 14 metropolitana de São Paulo sofre com estes agravantes, implicando na criação de programas de racionamento (rodízio) de água no sistema de abastecimento. Essas medidas são muitas vezes emergenciais, pois os reservatórios de abastecimento não estão suportando o aumento da demanda populacional. A falta d’água ocorre principalmente nos períodos de seca (não chuvosos), o que faz com que o volume das principais bacias tendam a diminuir. Deve-se ressaltar que a má qualidade das bacias, como a da Billings que, anteriormente às legislações de proteção aos mananciais, teve as suas águas contaminadas por metais pesados, decorreu na redução de sua utilização. Assim, rios e bacias que poderiam servir como fonte de captação de água potável para o abastecimento público encontram-se muitas vezes poluídos ou com água de baixa qualidade, sendo inviável as suas utilizações, pois o seu tratamento é oneroso. A bacia do Guarapiranga é uma das principais fontes de captação de água da Grande São Paulo. Apesar de ter sido construída pela Light somente com a finalidade de gerar energia elétrica, a represa Guarapiranga passou a fornecer água potável para a Região Metropolitana de São Paulo a partir de 1924, e hoje é uma das principais bacias hidrográficas do estado de São Paulo, sendo relacionada a ela grandes programas de preservação e recuperação da bacia como um todo, e de seus afluentes. Dentro disso, é importante o controle da expansão urbana nas áreas de mananciais cujas reservas hídricas ainda não estão comprometidas e, se comprometidas, deve-se implantar estratégias de controle ligadas a sua recuperação e preservação. 5.3 Caracterização dos Impactos Ambientais Dentro de um processo de ocupação de uma área de manancial de forma irregular, os impactos ambientais são inevitáveis. Mesmo a implantação geral do projeto de um empreendimento de recuperação ambiental em uma 15 área degradada, propicia grandes impactos, tanto positivos como negativos, abrangendo desde os aspectos econômicos da população existente, às mudanças nos ecossistemas da região. Assim, um projeto de reurbanização em uma área de manancial deve contemplar estratégias para minimizar os impactos negativos. Dentre essas, destaca-se a implantação de um parque ecológico na área de pós-ocupação irregular, que ocorre com a finalidade de recuperar o sistema ambiental natural e o bem-estar social. O quadro 1 apresenta as principais classificações de impacto ambiental deacordo com os atributos natureza, reversibilidade, duração e grau de resolução, conforme exemplificado em documento técnico da Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura de Itapecerica da Serra (2000). ATRIBUTOS DEFINIÇÃO NATUREZA Positiva ou negativa REVERSIBILIDADE Propriedade de o impacto ser reversível, por meio de ações implantadas em sua área de incidência. DURAÇÃO Permanente ou temporário, ainda que se implementem ações corretivas. GRAU DE RESOLUÇÃO Baixo, médio ou alto, dependendo da eficácia das ações empreendidas na área afetada. Quadro 1: Classificação dos Impactos Ambientais decorrentes de um empreendimento de Recuperação Ambiental Pós Ocupação Irregular, de acordo com seus atributos (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DA PREFEITURA DE ITAPECERICA DA SERRA, 2000). As classificações dos impactos ambientais são diferenciadas de acordo com o tipo de empreendimento e a sua localização, sendo que as classificações de um empreendimento nunca serão idênticas a outro. 16 5.3.1 Principais impactos Positivos em um Empreendimento de Recuperação Ambiental Pós-Ocupação Irregular Em um empreendimento de recuperação ambiental de pós-ocupação irregular, pode-se relacionar impactos positivos decorrentes da implantação de um projeto de recuperação ambiental e paisagística do local degradado, ressaltando que os impactos positivos são decorrentes de um projeto planejado e bem aplicado, de acordo com a necessidade do local, como retratado no projeto de implantação do parque ecológico no lugar do loteamento irregular no Jardim Branca Flor. 5.3.1.1 Redução do Lançamento de Resíduos Domiciliares Embora possa existir serviço de coleta de lixo doméstico mantido pela Prefeitura, na maioria das vezes boa parte do lixo e do esgoto doméstico gerado em ocupação irregular é lançada nos rios, causando assoreamento e poluição, comprometendo o fluxo natural do curso d’água e provocando pontos de estrangulamentos, e por consequência aumentando o nível das enchentes, nas margens dos rios. Com a implantação dos projetos de reassentamento de recuperação ambiental da várzea degradada, haverá uma redução considerável no lançamento de resíduos no solo e cursos d’água, contribuindo, por sua vez, para a melhoria das condições sanitárias e de drenagem das águas pluviais. Assim, tem-se: a) Natureza: Positivo 17 b) Reversibilidade: Baixa, se o sistema de coleta de lixo continuar e for melhorado, e se também implantarem programas de educação ambiental para a população, como previstos pela Agenda 21. c) Duração: Indeterminada d) Grau de resolução: Alto 5.3.1.2 Redução de Contaminação e Eutrofização dos Recursos Hídricos Parte dos esgotos domésticos provenientes da ocupação irregular, além de serem conduzidos por tubulações ao rio, são absorvidos por fossas negras irregulares, contaminando diretamente os sistemas artesanais que ligam ao rio. No estudo de caso deste trabalho, o rio Embu Mirim, que é um afluente da Bacia do Guarapiranga, estes problemas sanitários são comuns na margem que sofre a influência do loteamento Jardim Branca Flor, em Itapecerica da Serra. A situação pode se reverter a partir da remoção das moradias e com a implantação de um projeto de reassentamento, com a implantação de um Sistema de Tratamento de Esgoto. Assim, esta situação resultará em impactos classificados como: a) Natureza: Positivo b) Reversibilidade: Alta, caso os esgotos não sejam destinados ao sistema de tratamentos. 18 c) Duração: Indeterminada, podendo não ocorrer se não forem efetuados investimentos necessários ao equacionamento dos esgotos da bacia, no caso em estudo, a Bacia do Guarapiranga. d) Grau de Resolução: baixa, por exigir a implementação do sistema de coleta e tratamento de esgotos envolvendo grandes volumes de investimento. 5.3.1.3 Recuperação da Área de Proteção dos Mananciais Com a implantação de um parque ecológico, as medidas de saneamento ambiental, tais como implantação de rede coletora e tratamento de esgoto, propicia: • proteção dos recursos hídricos superficiais, aumentando a disponibilidade e regularidade do fluxo de água, no caso, do rio Embu Mirim; • redução da carga de nutrientes orgânicos e inorgânicos, reduzindo a eutrofização do sistema hídrico e o risco de diminuir o oxigênio dissolvido, trazendo conseqüências negativas para a biota aquática; • melhoria da qualidade de água para captação, tratamento e abastecimento público; • aumento da área de mata ciliar que serve de abrigo e fornece alimento para as comunidades biológicas aquáticas e ribeirinhas (animais com habitat em terreno baixo, à beira de rio). Assim, o impacto é descrito como: 19 a) Natureza: Positivo b) Reversibilidade: Baixa c) Duração: Indeterminada d) Grau de Resolução: Dependente do nível de sucesso do projeto em pauta. 5.3.1.4 Melhoria das Condições Sanitárias da Comunidade A implementação de um projeto de reassentamento e recuperação ambiental acarretará numa sensível e significativa melhoria nas condições sanitárias da comunidade envolvida, representada pelos efeitos diretos e indiretos relacionados com o afastamento dos esgotos sanitários, reduzindo a exposição da comunidade a agentes patogênicos e parasitas e na redução de animais transmissores de doenças, especialmente roedores e insetos, melhorando a qualidade de vida da população existente na área afetada. Os impactos observados nas condições sanitárias da comunidade são: a) Natureza: Positivo b) Reversibilidade: Baixa c) Duração: Indeterminada d) Grau de Resolução: Alto 20 5.3.1.5 Melhoria da Paisagem Urbana Como muitas vezes em um projeto de recuperação ambiental se integra um projeto de urbanização, este conjunto de implantação resultará em uma significativa melhoria da paisagem urbana, desde a recuperação da várzea do rio e da mata ciliar, como a implantação de um parque ecológico, com espaços livres para área de lazer e esporte, resultando em uma paisagem mais artística e arquitetônica com a composição paisagista do local. Assim, destaca-se o impacto como: a) Natureza: Positivo b) Reversibilidade: Baixa c) Duração: Permanente d) Grau de Resolução: Não se aplica 5.3.2 Principais Impactos Negativos em um Empreendimento de R Recuperação Ambiental Pós-Ocupação Irregular Em um empreendimento de recuperação ambiental de pós-ocupação irregular, pode-se encontrar impactos negativos decorrentes dos projetos de recuperação ambiental, como a construção de um novo loteamento regular com a finalidade de remover a população do loteamento irregular. Este processo de reassentamento populacional pode resultar em impactos negativos; porém, se existir um projeto devidamente planejado e o mesmo seguir padrões técnicos de qualidade construtivas, esses impactos podem ser minimizados. Tal fato é retratado no projeto de implantação de parque ecológico no lugar do loteamento irregular e a construção de um novo 21 loteamento com infra-estrutura completa para a remoção da população existente do loteamento irregular no Jardim Branca Flor. 5.3.2.1 Aumento da Erosão e Assoreamento Na implantação do projeto de recuperação de uma área de manancial pós-ocupação irregular, na maioria dos casos, há a necessidade de uma relocação dentro da área de manancial, conforme já mencionado neste trabalho. Deve-se então escolher uma área do manancial que implique em impactos menores do que os existentes na área de recuperação. Assim, no reassentamento dos moradores, o loteamento projetado de forma regular sofrerá impactos negativos como: • a remoção da cobertura vegetal e a terraplenagem poderão provocar a exposição do solo às chuvas, como conseqüente carreamento de sólidos em suspensão para o sistema de drenagem de águas pluviais e para o curso do rio em recuperação; • pode ocorrer o comprometimento de áreas destinadas à ocupação, comprometendo as áreas verdes do novo assentamento; • nos locais de deposição pode haver agravamento da obstrução das drenagens naturais e implantadas, potencializando o aumento de efeitos de enchentes. Assim: a) Natureza: Negativo b) Reversibilidade: Reversível se aplicadas as técnicas de conservação do solo durante a implantação das obras de 22 terraplenagem e cobertura do solo com vegetação associada ao término das obras civis. c) Duração: Temporária - a duração do impacto na área de geração estará condicionada à duração das obras de implantação podendo estender-se por tempo indeterminado, e de forma agravante, se não tomadas às devidas providências para a cobertura do solo desprotegido, e nas áreas de deposição os impactos poderão fazer-se sentir por tempo superior, até a remoção dos sedimentos, porque obstrui o sistema de águas pluviais. d) Grau de Resolução: Média, podendo ser alta, dependendo das medidas conservacionistas a serem adotadas. Para a mitigação dos impactos, deverão ser previstas as seguintes medidas: • máxima restrição à remoção da cobertura vegetal de qualquer natureza; • implantação de bacias de contenção de sedimentos junto a todas as áreas significativas de contribuição; • implantação do sistema de drenagem concomitantemente com a terraplenagem ou logo após; • imediata cobertura do solo após a conclusão das obras. 5.3.2.2 Desmatamento da Área Destinada a um Projeto Habitacional Quando em uma área de manancial houver a necessidade de se implantar um projeto habitacional, tal fato poderá implicar em desmatamento de parte da vegetação florestal remanescente, reduzindo a área verde existente na região e restringindo a sobrevivência das comunidades vegetais e animais dos ecossistemas remanescentes. Além disso, a eliminação da cobertura 23 vegetal representa um agravamento dos processos erosivos, com as conseqüências já comentadas. Assim, tem-se: a) Natureza: Negativo b) Reversibilidade: Baixa, podendo tornar-se elevada por meio de medidas compensatórias. c) Duração: Indeterminada, até a implantação efetiva de medidas compensatórias. d) Grau de Resolução: Alta, tendo em vista os ganhos ambientais decorrentes do projeto de recuperação de mata ciliar no local do assentamento, sendo feito como medida compensatória a arborização e o reflorestamento, criando um equilíbrio ecológico entre a área recuperada e o loteamento de reassentamento. 5.3.2.3 Alteração de Usos e Costumes pela População a ser Removida Todo o projeto de reassentamento implica no corte de vínculos dos moradores com a sua área de origem, bem como numa mudança radical do ambiente em quem vivem, podendo alterar vínculos com a comunidade do bairro, condições de transporte e acesso aos serviços públicos, entre outros. Portanto, para minimizar estes impactos há a necessidade de se implantar o projeto de reassentamento próximo à residência anterior de morador. Logo, tem-se: 24 a) Natureza: Negativo. b) Reversibilidade: Alta, considerando-se que o local do reassentamento encontra-se no mesmo local do loteamento irregular, permitindo a manutenção dos vínculos com a comunidade antiga, bem como os serviços e a infra-estrutura anteriormente disponível. c) Duração: Restrita à fase de reassentamento. d) Grau de Resolução: Alto, devido à proximidade entre a área de remoção e a de reassentamento da comunidade diretamente envolvida, mantendo-se a vizinhança e todos os serviços e infra- estruturas públicas existentes. 5.3.2.4 Aumento da Densidade de Ocupação e do Nível de Impermeabilização do Solo na Área de Reassentamento Um projeto habitacional provavelmente não atenderá completamente os termos da Lei de Proteção dos Mananciais, devido ao índice de ocupação do solo e ao adensamento previsto. O adensamento aumenta a impermeabilização do solo prejudicando a infiltração da água, com conseqüências para regime hidrológico da bacia afetada. Assim, o impacto é tido como: a) Natureza: Negativo. b) Reversibilidade: Alta, por meio de medidas compensatórias. b) Duração: Temporário, devido ao período de implantação. 25 d) Grau de Resolução: Alto, considerando-se que o projeto deve prever medidas como demolição das atuais moradias e implementação de áreas verdes que podem compensar os impactos advindos do adensamento populacional e da impermeabilização do solo. 5.4 A Importância em Preservar os Recursos Hídricos no Estado de São Paulo A maior rede hidrográfica do mundo está situada no Brasil, totalizando oito grandes bacias, que agrupam por sua vez dezenas de outras bacias. Mas a distribuição de bacias hidrográfica no país ocorre de forma irregular, privilegiando a região da Amazônia, que possui grandes rios com reservas biológicas importantes para o país inteiro. A Amazônia, até então, não sofreu invasões de ocupações irregulares em torno das margens de seus rios, como no estado de São Paulo, sendo este o que mais “sofre” com a poluição de recursos hídricos e por conseqüência com a falta de água potável. Tal fato principalmente do aumento populacional nas áreas de mananciais do estado. A poluição das águas das bacias contribui diretamente para a diminuição do índice de oxigênio necessário para a vida aquática, onde o principal responsável é o “homem”, sendo produtor dos esgotos doméstico e industrial, os quais na maioria das vezes não seguem as normas e as legislações vigentes de proteção dos mananciais. De acordo com os programas de preservação de mananciais, como o Programa Guarapiranga do Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA-1999), do Governo do Estado de São Paulo, para o seu desenvolvimento um país deve possuir água potável com qualidade para toda a sua população, destacando-se que o alto índice de mortalidade infantil está relacionado ao abastecimento de água e coleta de esgoto. De 26 todo o território brasileiro, apenas 25% das cidades possuem coleta de esgotos, na Região Metropolitana de São Paulo, a qual reúne 38 municípios, apenas 50% dos esgotos eram coletados e desses coletados 6% eram tratados no ano de 1999. As campanhas criadas em torno da proteção dos mananciais, ou seja, a gestão dos processos de controle da qualidade da água dos Recursos Hídricos de São Paulo, possibilitam a melhoria desses índices, onde a Secretária do Meio Ambiente do Estado de São Paulo está preocupada que a população e as entidades envolvidas tomem ciência da importância de preservar e recuperar a natureza, especificamente os recursos hídricos. Este espírito de consciência deve ser alimentado e trabalhado, pois quem tem a ganhar é a própria população. Um exemplo de consciência e necessidade é a desobstrução da várzea da bacia Hidrográfica do Rio Tietê, que por sinal é uma obra de grande benefício para a população, mas a consciência de preservar e não remediar deve ser ainda muito trabalhada. 5.5 Implantação de um Parque Ecológico após a Ocupação por um Loteamento Irregular, como Estratégia de Controle de em uma Área de Recuperação Ambiental A implantação de um parque ecológico com a finalidade de estabelecer um processo de recuperação ambiental e um maior controle das áreas de mananciais, é importante para aplicação das leis de proteção e preservação de mananciais, protegendo o rio na área de sua influência. A adoção da implantação de um parque ecológico após a recuperação de uma área ocupada por loteamento irregular, pode ser uma estratégia de controle para preservar a área recuperada. Nas áreas públicas, os parques ecológicosestão sendo utilizados como estratégia de recuperação e preservação de mananciais; os parques são 27 implantados sem fins lucrativos, sendo cobrada somente a entrada quando houver a necessidade de auxiliar na manutenção e controle do mesmo. Na grande São Paulo, por exemplo, o Estado e Prefeitura não sabem os nomes da maior parte dos proprietários de terras em torno das represas Billings e Guarapiranga, impedindo as ações judiciais contra as ocupações irregulares, não podendo agir diretamente, mesmo que tenha renda destinada, no processo de recuperação da área degradada. Com isso, o governador Geraldo Alckmin estabeleceu a exigência para a regularização dos imóveis localizados nessas áreas que seus proprietários, quando conhecidos, comprem outra área na mesma sub-bacia, que será destinada à preservação. Isto é válido somente para quem já estava instalado nas áreas de mananciais anteriormente às leis de proteção dos mananciais, destacando que é proibida a compra de outra área para novos empreendimentos. O objetivo do governador Geraldo Alckmin é resolver o problema de 1,5 milhão de pessoas que ocupam irregularmente as áreas de proteção dos mananciais, já que remover totalmente essas pessoas se tornou impossível. Assim, impor algumas obrigações como a compra de área para proteção ambiental, com a finalidade de se implantar um loteamento irregular, tem sido uma estratégia de controle da qualidade dos mananciais. Mas, infelizmente o governo não está tendo muito sucesso, pois a população envolvida é de baixa renda e não consegue cumprir as obrigações. Assim, o controle das áreas particulares torna-se impossível. Todavia, o que está tendo grande sucesso nas áreas públicas, é a implantação de parques ecológicos nas áreas destinadas à recuperação ambiental, interligado a um projeto de reassentamento dos moradores em um loteamento regular. Devendo ser implantadas estas estratégicas também nas áreas particulares. Segundo Serrano e Bruhns (1997) criar parques ecológicos em áreas protegidas tem sido um dos principais elementos de sucesso como estratégia de conservação da natureza em países do Terceiro Mundo, favorecendo às populações urbanas meios de lazer e contemplação do 28 mundo natural, preservando por sua vez os espaços com atributos ecológicos importantes. Os parques são estabelecidos para que sua riqueza natural e estética seja apreciada pelos visitantes, sendo mais do que a instituição de um espaço físico, e sim uma proposta de criação de áreas naturais protegidas, ligando a uma concepção própria da relação homem–natureza, que Moscovici (1974 apud Serrano; Bruns,1997) denomina de naturalismo reativo, onde a única forma de proteger a natureza seria afastá-la do homem pelo estabelecimento de ilhas, para que o homem moderno pudesse apenas admirá-la e reverenciá-la, e não explorá-la. Segundo documentos técnicos da Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura de Itapecerica da Serra (2000), a construção de um parque ecológico pós- ocupação irregular em área de manancial é importante para: • recuperar a biodiversidade do ecossistema existente, pelo cultivo de espécies de plantas típicas da paisagem natural do local, dando ênfase àquelas mais raras ou em extinção; • preservar e recuperar as principais comunidades paisagísticas existentes do local e da região; • cultivar espécies de plantas atrativas à fauna do local; • criar espaços de lazer e contemplação para o público de toda a região; • integrar o paisagismo às atividades de educação ambiental para escolas e moradores; • preservar as várzeas dos rios respeitando os recuos previsto por lei; • proporcionar atividades práticas de ecologia e reciclagem. Assim, a construção de um parque ecológico é uma estratégia de controle onde são aplicados os conceitos de educação ambiental, de acordo com as legislações vigentes, em uma área de recuperação ambiental pós-ocupação irregular, oferecendo oportunidades para o desenvolvimento de uma relação de convivência entre homem e natureza. 29 6 ESTUDO DE CASO A Grande São Paulo acopla cidades que estão totalmente em áreas de mananciais como Juquitiba, São Lourenço da Serra, Itapecerica da Serra e Embu das Artes. Estas cidades correm o risco de adquirir moradias indesejáveis em suas áreas de grandes extensões protegidas, ligadas às principais bacias de São Paulo ou a um recurso hídrico importante. A bacia do Guarapiranga, que é importante ao abastecimento de água em toda a Grande São Paulo, sofre com invasões em suas margens e nas margens de seus afluentes. A cidade de Itapecerica da Serra é um exemplo da complicada situação que é a poluição de afluentes das bacias e o desmatamento das margens dos rios e demais áreas protegidas nos mananciais. Apesar das legislações vigentes no país, Itapecerica da Serra é mais uma das inúmeras cidades da Grande São Paulo que sofre com o crescimento acelerado em todo o município, tanto por loteamentos regulares como principalmente por loteamentos irregulares, e como conseqüência da cidade estar 100% em área de manancial, o meio ambiente é muito afetado pelas moradias irregulares. O município juntamente com o governo do Estado e da República, uniram- se e deram inicio à projetos urgentes de reurbanização e recuperação de áreas degradadas. O loteamento Jardim Branca Flor está localizado dentro da cidade de Itapecerica da Serra, e grande parte de sua ocupação compõe-se de um loteamento regular, com infra-estrutura completa. Possui também um loteamento irregular médio, comparando-se ao loteamento Jardim Branca Flor como um todo, localizado às margens de um importante afluente da bacia Guarapiranga, que é o rio Embu Mirim. O local é um importante exemplo de área com necessidade de recuperação ambiental e relocação das moradias em outro loteamento no mesmo Jardim Branca Flor, com infra-estrutura completa, de maneira a tornar o loteamento irregular em 30 regular. Dentro da área danificada pelas moradias, está sendo implementado um projeto de recuperação, a implantação de um parque ecológico, de maneira a transformar a área em um ponto turístico de preservação ambiental. Esta obra de recuperação pós-ocupação irregular em área de manancial constitui-se no Estudo de Caso desta pesquisa. 6.1 A influência do Loteamento Irregular no Jardim Branca Flor de Itapecerica da Serra A área do loteamento irregular no Jardim Branca Flor foi relacionada entre 45 loteamentos irregulares existentes no município, sendo priorizada por se tratar da maior favela da região e encontrar-se encravada à margem do rio Embu Mirim, em local de alto risco de inundação. As moradias existentes foram construídas em Área de Preservação Permanente (APP), na várzea do rio, que se encontra inserida na Área de Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo, de acordo com as Leis Estaduais 898/75 e 1.172/76. A bacia do rio Embu Mirim compreende uma área de 155,08 km² e constitui a segunda maior bacia de contribuição do reservatório Guarapiranga, um dos principais mananciais de água da Região Metropolitana de São Paulo. O processo de crescimento desordenado da região periférica levou a um profundo grau de deterioração do recurso hídrico (rio Embu Mirim) do Jardim Branca Flor, implicando em graves conseqüências para a saúde da comunidade envolvida e para o meio ambiente. O loteamento irregular trouxe ao loteamento regular, que foi planejado para uma população limitada, problemas nas áreas de saúde, escola, creches e demais atividades do bairro por excesso de população, deixando os sistemas sobrecarregados, além de danos aos coletores de drenagem do bairro, que estão obstruídos pelas moradias do loteamento irregular. 31 O projeto a ser implantado no Jardim Branca Flor será desenvolvido pela PrefeituraMunicipal de Itapecerica da Serra com recursos do Programa Habitar do Brasil, financiado pelo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), dentro das diretrizes estabelecidas no Plano Estratégico Municipal para Assentamentos Irregulares. Observa-se que a remoção total da população do local é imprescindível pela incompatibilidade entre a ocupação urbana e a preservação ambiental dos recursos hídricos e mananciais, já bastante degradados, e pela exposição da comunidade a enchentes periódicas, com graves riscos à saúde e à vida dos moradores. Itapecerica da Serra, com uma superfície de 136 km², possui 45 loteamentos irregulares de assentamento precário, os quais abrigam 32.180 habitantes em 8.045 domicílios, correspondendo a 24,9% da população do município, segundo dados da Secretaria de Obras (2001) da própria prefeitura, sendo o loteamento Jardim Branca Flor um dos principais loteamentos irregulares do município. A foto aérea do Jardim Branca Flor (Foto 6.1), apresentada a seguir, é muito utilizada na prefeitura do município para a explicação geral do projeto aos interessados, sendo demarcado pela área verde o local da ocupação do loteamento irregular nas margens do rio Embu Mirim, pela área branca o loteamento regular e do outro lado, em uma área vermelha, com menor número de impactos ambientais, a área que será locada o novo loteamento com infra-estrutura completa. Assim, esse loteamento será proveniente da remoção das moradias irregulares da área verde para a área vermelha. 32 Foto 6.1: Vista aérea do local de implantação no Jardim Branca Flor (SECRETARIA DE OBRAS DA PREFEITURA DE ITAPECERICA DA SERRA, 2001) A área a ser beneficiada pelo projeto possui 50.990 metros quadrados, situando-se à margem direita do rio Embu Mirim. A ocupação irregular do local iniciou-se em meados de 1985, junto à rua Cerro Largo, pertencente ao Jardim Branca Flor, loteamento regular do município. A expansão do assentamento se deu em direção ao leito do rio, ocupando a sua planície de inundação, sobre área pública do loteamento. Todavia, a necessidade de um projeto de intervenção é urgente. No Anexo A é apresentada uma foto aérea com a situação da área de intervenção anterior ao projeto. E no Anexo B é apresentada uma foto aérea com as demarcações para a situação futura, na área de intervenção do projeto, de acordo o Plano Diretor do município para a região do Jardim Branca Flor. 33 6.2 Como é Feito o Controle de uma Área Congelada para Aplicação de um Projeto de Recuperação Para iniciar o projeto de recuperação pós-ocupação irregular, foi feito um levantamento do tipo de população existente no local, ou seja, a quantidade de moradias, famílias e o costume de toda a população da área, por meio de pesquisas cadastrais, levando-se em conta que para ser considerado uma residência a mesma deve possuir banheiro e fogão. Após esse levantamento os projetistas responsáveis e as demais corporações do projeto terão noção da quantidade de pessoas envolvidas e seu poder econômico, entre outros, de maneira a estabelecer como será implantado o projeto e as suas respectivas soluções para manter a área congelada. A foto 6.2, a seguir, ilustra um exemplo de área congelada, representada pela a placa de sinalização, especificando que é proibido construir, vender, trocar e alugar qualquer moradia do local determinado. Muitas vezes, somente a aplicação das placas de sinalização não protege totalmente as áreas, sendo necessário implantar medidas de controle como a aplicação de um projeto de parque ecológico. 34 Foto 6.2: Sinalização de advertência contra invasão (SECRETARIA DE OBRAS DA PREFEITURA DE ITAPECERICA DA SERRA, 2001) No projeto de recuperação pós-ocupação irregular do Jardim Branca Flor em Itapecerica da Serra, foi constatado uma população de 19.100 habitantes por km², com 3,8 pessoas por moradia. Segundo a Prefeitura de Itapecerica da Serra (2001), as ações a serem desenvolvidas na área a ser recuperada, compreendem: • remanejamento de famílias; • demolição das habitações; • retificação do trecho local do rio; • recuperação da mata ciliar; • ajustes na declividade das ruas; • utilização de cotas topográficas diferenciadas como fatos de inibição; • saneamento e recuperação da lagoa de águas estagnadas; • implantação de equipamentos de esporte, lazer e educacionais. 35 Desta forma, deve-se analisar os problemas a serem resolvidos com antecedência, para concluir um projeto com maior eficiência. Como já observado é necessário realizar uma pesquisa por meio de um questionário de cadastramento das moradias irregulares, servindo como base para o inicio do projeto. Para a confirmação dos dados cadastrais levantados no inicio do projeto é necessário que se faça no decorrer do projeto um recadastramento. Segue, no Anexo C, o modelo do questionário de cadastramento utilizado para congelamento (manter a área como está sem novos adensamentos populacionais) das áreas de loteamento irregular no município de Itapecerica da Serra (2001). 6.3 O que Determinou a Escolha da Implantação do Parque Ecológico A ocupação irregular da Rua Cerro Largo possui 50.990m² e está localizada em área pública municipal de Itapecerica da Serra. Iniciada na área livre do loteamento Jardim Branca Flor, estende-se ao longo da área à margem do rio Embu Mirim, em Área de Preservação Permanente. A área do loteamento irregular está inserida em planície aluvial do curso d’água, isto é, em terrenos baixos, planos, junto à margem do rio, sujeitos a inundações periódicas, terrenos esses formados por composto de argila como matéria orgânica, siltes, areias e cascalhos. A cobertura vegetal original é constituída de matas ciliares associadas a uma vegetação herbácea paludosa, em áreas permanentemente inundadas. A foto 6.3, a seguir, apresenta o aspecto da mata ciliar na área a montante do loteamento Jardim Branca Flor. 36 Foto 6.3: Aspecto da mata ciliar do rio Embu Mirim a montante do loteamento Jardim Branca Flor ( SECRETARIA DE OBRAS DA PREFEITURA DE ITAPECERICA DA SERRA, 2001) Esta área localizada a montante do rio Embu Mirim, ainda não está degradada pelo loteamento irregular no Jardim Branca Flor, preservando ainda aspectos da mata ciliar nativa e da biota. Na foto 6.4, a seguir, pode-se notar que ao se aproximar do loteamento irregular do Jardim Branca Flor, têm-se novas moradias indicando a tendência para a ampliação do loteamento. 37 Foto 6.4: Aspecto do rio Embu Mirim na área de várzea com ocupação irregular a montante do loteamento Jardim Branca Flor (SECRETARIA DE OBRAS DA PREFEITURA DE ITAPECERICA DA SERRA, 2001) As fotos ilustram o fato de que em um loteamento irregular não pode ser controlado o crescimento populacional sem um projeto de preservação, ligado ao loteamento existente irregularmente. Do contrário, a tendência é aumentar a área ocupada, e por consequência a área degradada. Segundo documento interno da Prefeitura de Itapecerica da Serra, um dos mais graves problemas a que a área do loteamento Jardim Branca Flor está submetida refere-se aos alagamentos e às enchentes do rio Embu Mirim, afetando a população do loteamento irregular e parte do loteamento regular próximo ao loteamento irregular. Nos períodos em que o rio atinge volumes de água mais elevados, a população tem as suas casas alagadas, verificando-se situação de risco à saúde (proveniente do lançamento de esgoto no rio), e conseqüentemente o desabrigo de algumas famílias e significativa perda de bens materiais. Como ressaltado no trabalho, o loteamento irregular não possui sistema de coleta de esgoto, sendo os esgotos ligados ao sistema de águas pluviais e encaminhados ao rio Embu Mirim. 38 A foto 6.5, abaixo, ilustra umacaixa de captação de águas pluviais sendo contaminada por parte do esgoto produzido no loteamento irregular. Foto 6.5: Aspecto do sistema de águas pluviais contaminadas pelo esgoto (SECRETARIA DE OBRAS DA PREFEITURA DE ITAPECERICA DA SERRA, 2001) Os esgotos produzidos no loteamento irregular quando não são depositados em fossas negras, são lançados diretamente através de tubos no rio Embu Mirim. A foto 6.6, a seguir, apresenta outro ponto de contaminação do sistema de água pluvial, causado pelo esgoto produzido no loteamento. 39 Foto 6.6: Lançamento de esgoto e águas pluviais contaminadas em vala proveniente da área do loteamento irregular (SECRETARIA DE OBRAS DA PREFEITURA DE ITAPECERICA DA SERRA, 2001) Os sistemas de águas do Jardim Brancos Flor são encaminhados ao rio Embu Mirim, onde as ligações clandestinas feitas pelo loteamento irregular favorecem também a contaminação das águas. A foto 6.7, abaixo, apresenta a contaminação direta feita pelas moradias irregulares em um dos afluentes do rio Embu Mirim. Foto 6.7: Afluente do rio Embu Mirim cruzando a área do assentamento onde recebe contribuições de esgotos (SECRETARIA DE OBRAS DA PREFEITURA DE ITAPECERICA DA SERRA, 2001) 40 De acordo com as características em que se encontrava a situação do loteamento irregular Jardim Branca Flor, a medida estratégica mais favorável após a remoção dos moradores seria a implantação de uma área reservada, ou seja, isolada e sem riscos de novas invasões e poluições. Desta forma, a implantação de um parque ecológico estruturado tornaria a área mais protegida para a recuperação quase que total. Com a implantação do parque, pode-se estudar a desobstrução do rio e estabelecer recuo específico de margem, conforme a lei nº 1.172, sendo destinada como área de segunda categoria, e a incorporação nas margens com o replantio das matas ciliares do local, conforme o Código Florestal da lei nº 4.771. Assim as drenagens poderão ser feitas de maneira satisfatória sem que o loteamento Jardim Branca Flor corra riscos de enchentes nas épocas de chuva no período de cheias, sendo feita a captação e o lançamento das águas pluviais de forma a minimizar os impactos ao meio ambiente. Enfim, a determinação da escolha de se implantar um parque ecológico seria a solução técnica mais eficaz para o local. 6.4 Caracterização da Implantação do Parque Ecológico do Jardim Branca Flor em Itapecerica da Serra A implantação do parque ecológico na área degradada do loteamento irregular incorporará recuperação ambiental e construções de escola, de estacionamento, de núcleo de vivências e praças ecológicas. As etapas de execução ocorrerão conforme as conclusões dos trechos do loteamento destinado à remoção das moradias irregulares, sendo que as demolições das habitações na área a ser recuperada ocorrerá após o término das obras de implantação do loteamento de reassentamento, para transferência das famílias. O entulho procedente desse trabalho será destinado ao reafeiçoamento topográfico da área a ser recuperada. Excedente, se houver, deve ser removido para um bota-fora particular, devidamente licenciado. 41 Após a execução dos serviços de movimento de terra, iniciarão as obras de paisagismo em toda a área a ser ajardinada, com análises do solo, de maneira a verificar-se os índices de acidez e nutrientes do mesmo. As áreas de recuperação deverão ser limpas e livres de entulhos (áreas construídas). As áreas mais afetadas pelas construções deverão ser calcareadas e adubadas, de forma a promover rapidamente a vegetação rasteira e conseqüentemente a cobertura do solo e a diminuição de erosões. As espécies de flora devem ser selecionadas de acordo com as espécies nativas, de acordo com o projeto ambiental existente, incluindo os nomes científicos das espécies, dando ênfase as sinomíneas botânicas e a qualidade das mudas em relação à formação, sanidade e origem genética das sementes. As mudas devem permanecer acondicionadas em local sombreado, onde se mantenham úmidas e livres de insetos e intempéries. A distribuição do plantio e o porte das espécies devem seguir rigorosamente as especificações de projeto, para atingir melhores resultados. Segundo a Secretaria do Meio Ambiente (2000) da Prefeitura de Itapecerica da Serra, para a manutenção das espécies arbóreas e arbustivas serão realizados os seguintes procedimentos após o plantio: • adubação e composto orgânico após três meses do plantio; • eliminação de ervas junto aos troncos e entre as mudas de três em três meses; • controle de pragas e doenças; • poda das espécies arbustivas e forrações quando necessário. As principais espécies arbóreas e arbustivas utilizadas no projeto de recuperação ambiental em São Paulo de acordo com documentos da Secretaria do Meio Ambiente (2000) da prefeitura de Itapecerica da Serra, são nativas de Mata Atlântica, escolhidas pela beleza do seu porte, floração e frutos. Assim, no projeto de recuperação ambiental do Jardim Branca Flor foi indicado a utilização das seguintes espécies: 42 • Espécies de Árvores Pau Ferro Caesalpinia Férrea Ipê Amarelo Tabebuia Serratifolia Pata de Vaca Bauhinia Forticata Manacá da Serra Tibouchina Mutabilis Manacá de Cheiro Quaresmeira Tibouchina Granulosa Jerivá Syagrus Romanzoffiana Palmito Euterpe Edulis Aroeira Vermelha Schinua Terenbentifolium Jaboticaba Myrciaria Cauliflora Pitanga Eugenia Uniflora Cerejeira Eugenia involucrata Mulungú Erytrina Falcata Araribá Rosa Cemtrolobium Tomentosum Paineira Chorisia Speciosa Emdaúba Vermelha Cecropia Grazion Embaúba Branca Cecropia Leucoma • Espécies de Plantas Samanbaiaçu Dicksonia Sellowiana Guaimbê Philodendron Bipinnatifidum Babosa de Árvore Philodendron Martianum Maranta bicolor Maranta Bicolor Maranta Zebra Calathea Zebrina Maranta Tigrina Calathea Tigrina Maranta Cascavel Calathea Insignis Helicônia Amarela Heliconia Aemygdiana Gota de Orvalho Evolvulus Pussillus Azulzinha Evolvulus Glomeratus Solano Rasteiro Solanum Violaefolium • Espécies não nativas Grama São Carlos Axonopus Compressus Taboa Typha Domingensis Segue, no Anexo D, o Projeto Básico de Implantação do Parque Ecológico do Jardim Branca Flor. 43 6.5 Qualidade de Vida Resultante da Implantação do Parque Ecológico A implantação do parque ecológico na área do loteamento irregular Jardim Branca Flor, propicia o controle das enchentes e da veiculação de doenças em todo o loteamento. Além disso, esse projeto engloba a remoção dos moradores de uma favela para um novo loteamento projetado com os devidos serviços de infra-estrutura como coleta e tratamento de esgoto, abastecimento de água potável, coleta de lixo, serviço médico, creche, escolas e demais benefícios sociais, no mesmo bairro, fazendo com que os moradores não percam os vínculos de vizinhança. Além disso, os moradores do loteamento regular e irregular do Jardim Branca Flor estão satisfeitos com a implantação de um parque ecológico. O parque irá manter um campo de futebol existente na área do loteamento irregular, o qual serve para a prática de esportes de toda a comunidade do Jardim Branca Flor e demais localidades locais, além do campo de futebol sofrer reformas de melhoria como drenagem e plantio de grama em toda a sua extensão, irão ser implantadas quadras poliesportivas, praças lúdicas, bosque frutífero, área de estufa para estudo de ervas medicinais e arena de esportes radicais, entre outros. Enfim, a implantação do projeto de recuperação pós-ocupação irregular, que incorpora um projeto de parque ecológico, implicará em uma mudança visual, estrutural e social na qualidade de vida de todos os moradores do Jardim Branca Flor. Observa-se que uma área de manancial destinada à preservação, após a remoção das ocupações,sem que sejam tomadas medidas de controle e proteção, provavelmente por motivos econômicos e culturais, estará sujeita a ser invadida novamente. Assim, haveria a formação de um novo loteamento, danificando o projeto de recuperação do local. Esta ocupação pode ocorrer: 44 • pelos ex-ocupantes da área, que muitas vezes alegam ter vendido a residência que ganharam, pela sua desocupação da área de manancial, porque simplesmente não se acostumaram com o local; ou então, o mais comum, por problemas financeiros, vendendo assim a residência de beneficio, para ocupar novamente a mesma área; • por novos ocupantes, em decorrências de problemas econômicos do país, que analisam os fatos dos antigos moradores serem beneficiados pelo governo com uma nova residência com infra- estrutura completa, e se julgam tendo o mesmo direito de ganhar/receber a sua moradia também. Por esses motivos, tanto a área recuperada parcialmente quanto a reocupação da área novamente de forma irregular implicam em vultuosos gastos ao governo, às vezes desnecessários, onde simplesmente recuperar não resolve o problema. Assim, na área recuperada deve quase que obrigatoriamente ser instalado um parque ecológico, envolvendo acompanhamento da recuperação ambiental pelos ex-moradores e visitantes, com programas de educação ambiental e áreas destinadas ao lazer e esporte. Assim, a recuperação torna-se mais segura, eficaz e definitiva. 45 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise da recuperação pós–ocupação irregular em áreas de mananciais apresentada neste trabalho evidenciou: • Os procedimentos para a implantação de um parque ecológico como estratégia de recuperação pós-ocupação irregular nas margens do rio Embu Mirim, na área de influência do Loteamento Jardim Branca Flor compreendeu, entre outros, etapas de cadastramento para o congelamento da área afetada pelo loteamento irregular, de modo a evitar-se novas invasões e pudesse ser implementado o projeto de recuperação ambiental. • A realização do projeto de recuperação do local decorreu do fato do loteamento irregular ocupar as várzeas do rio Embu Mirim, não obedecendo às leis de uso e ocupação do solo de áreas de mananciais, como a lei nº 4.771/65 que estabelece o recuo absoluto na faixa marginal do rio, e também as leis nº 898/75, nº 1.172/76 e nº 9.866/97 que delimitam a área ao longo do rio como área de máxima proteção dos mananciais. A restrição da ocupação do local por moradias tem por objetivo evitar a degradação de importante recurso hídrico para o abastecimento público de água potável. A implantação de um parque ecológico como estratégia adotada para a recuperação e preservação da área degradada além de valorizar o sistema natural do manancial, ressalta a preservação das matas ciliares e da biota, contribuindo para a desobstrução dos sistemas de drenagem comprometidos pelas moradias, sendo um dos principais fatores responsáveis pelas enchentes ocorridas no Jardim Branca Flor. 46 • A implantação do parque trará a população envolvida grande benefício social e de lazer. O parque incorporará áreas para caminhadas, praças ecológicas, áreas para a prática da educação ambiental, quadras esportivas e aperfeiçoará o campo de futebol existente para favorecer a realizações de praticas esportivas realizadas no Jardim Branca Flor. Esses benefícios promovem a atuação da comunidade na fiscalização contra novas ocupações irregulares. • A realização completa do projeto no Jardim Branca Flor em Itapecerica da Serra resultará em uma grande redução dos impactos ambientais existentes hoje no bairro, e em uma reestruturação urbanística com a implantação do parque ecológico e a construção do novo loteamento com infra-estrutura completa. • A utilização e adoção de parque ecológico como estratégia de recuperação ambiental e preservação de área de manancial, deve ser ampliada com novos estudos/pesquisas, servindo de base e auxílio todo o corpo deste trabalho. Ressalta-se que em toda a extensão da bacia do Guarapiranga e de seus afluentes podem ser implantados novos núcleos de recuperação/preservação ambiental, dando ênfase ao conceito de valorização ambiental. Podem ser elaborados também novos estudos/pesquisas para novas áreas e bacias hidrográficas que também necessitam de recuperação ambiental, de acordo com a necessidade de contemplação do local a ser estudado. 47 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-lei nº 9.714, de 19 de abril de 1977. BRASIL. Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, institui o Código Florestal. BRASIL. Agenda 21. Disponível em: <http://www.mma.gov.br > Acesso em: agosto de 2003. ITAPECERICA DA SERRA (SP) Secretaria de Obras. Documentos Técnicos. 2001. ITAPECERICA DA SERRA (SP) Secretaria do Meio Ambiente. Documentos Técnicos. 2000. MARCONDES. M. J. de A. Cidade e natureza: proteção dos mananciais e exclusão social. São Paulo: Studio Nobel / EDUSP/FAPESP, 1999. SÃO PAULO (SP). Lei nº 898, de 18 de dezembro de 1976. Lei de Proteção dos Mananciais. SÃO PAULO (SP). Lei nº 1.172, de 17 de novembro de 1976. Institui as Áreas de Proteção dos Mananciais. SÃO PAULO (SP). Lei nº 9.866/97. Cria uma nova política de mananciais. SÃO PAULO (SP). Relatório Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA-1999). Entidade governamental do Programa Guarapiranga da Secretaria de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras (nov.1999). SERRANO, C. M. de; BRUHNS, H.T. (orgs.) Viagens à natureza: turismo, cultura e ambiente. Campinas, São Paulo: Papirus, 1997. SÓCRATES, J. R.; GROSTEIN, M. D. ; TANAKA, M. M. S. A cidade invade as águas: qual a questão dos mananciais? São Paulo: FAU/USP, 1985. 48 ANEXO A Foto da aérea da área de Intervenção, em situação anterior ao Projeto de Recuperação, no Jardim Branca Flor em Itapecerica da Serra (2001). 49 ANEXO B Foto aérea da área de Intervenção, para a situação futura de projeto, a ser implantado no Jardim Branca Flor em Itapecerica da Serra. 50 ANEXO C Questionário modelo de cadastramento utilizado para congelamento das áreas de loteamentos irregulares, no Município de Itapecerica da Serra (2001). 51 ANEXO D Projeto Básico de Implantação do Parque Ecológico no Jardim Branca Flor em Itapecerica da Serra.
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