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Projeto de Estação de Efluentes - Usina de álcool a partir da cana de açúcar em Goianésia Goiânia / Goiás 2020 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS CÂMPUS GOIÂNIA DEPARTAMENTO DE ÁREAS ACADÊMICAS II - COORDENAÇÃO DE ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITÁRIA Débora Souza Kamilla de Paula Gonçalves Sarah Caroline Ronny José de Morais Projeto de Estação de Efluentes: Usina de álcool a partir da cana de açúcar em Goianésia Orientador: Marlon Capanema Projeto apresentado à Coordenação de Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Campus Goiânia, como requisito para aprovação na disciplina de Tratamento de Efluentes Industriais. Goiânia / Goiás 2020 3 Sumário DADOS GERAIS 5 1.1. Identificação do Empreendimento 5 1.2. Identificação do Empreendedor 5 1.3. Equipe Técnica 5 1. Introdução 6 2. Caracterização do processo industrial 8 2.2 Fluxograma da indústria 13 3. Caracterização do esgoto industrial afluente à ETE 13 Produtividade média da usina 16 Consumo de água no processo e geração de efluentes 16 3.1 Identificação de todas unidades geradoras 16 3.2 Parâmetros físicos, químicos e microbiológicos 16 3.3 Concentração dos parâmetros de interesse 17 3.4 Equivalente populacional 17 4. Caracterização do corpo receptor 18 4.1. Nome, localização, classificação do rio 18 4.2. Padrões de lançamento de efluentes e legislação 21 5. Identificação de potenciais tecnologias para o tratamento do esgoto industrial 22 6. Alternativas de tratamento 31 7. Memorial descritivo 33 7.1 Fluxograma do tratamento 33 7.2 Caracterização das unidades de tratamento 34 8. Memorial de cálculo 36 8.1 Dados de entrada 36 8.2 Dimensionamento das unidades de tratamento 36 8.2.2 Caixa de areia 39 Velocidade de Sedimentação (Vs) = 0,02 m/s Largura (B) = 0,3 m. 39 8.2.3 Calha Parshall 40 8.2.4 Tanque de equalização 42 8.2.5 Reator UASB 44 8.2.7 Filtro Biológico 53 8.2.8 Decantador Secundário 56 9. Perfil hidráulico 58 4 10. Plantas 59 59 11. Estudo das cargas poluidoras no ponto de lançamento e atendimento à legislação 59 12. Conclusão 60 13. Referências bibliográficas 61 5 ▪ DADOS GERAIS 1.1. Identificação do Empreendimento Razão Social Sociedade Açucareira Brasil LTDA CNPJ 08.528.467 / 0001-10 Endereço Goianésia (GO) CEP 74350-570 Telefone (62) 3254-3566 Porte 1 ton/dia Funcionamento 8 horas/dia Nº de funcionários 100 Funcionamento (ETE) 8 horas 1.2. Identificação do Empreendedor Razão Social Éden Engenharia e Consultoria Ambiental CNPJ 01.568.879/0001-58 Pessoa de Contato Kamilla de Paula Gonçalves Endereço Rua elo 7, qd. 11 lote 02 CEP 74490285 E-mail edenconsultoria@gmail.com Telefone (62) 3954-0067 1.3. Equipe Técnica Responsáveis Formação N° do Registro no Conselho de Classe Kamilla de Paula Gonçalves Eng. Ambiental e Sanitarista 34959-D 6 Débora Lima Eng. Ambiental e Sanitarista 34955-D Ronny José de Morais Eng. Ambiental e Sanitarista 38903-D Sarah Caroline Eng. Ambiental e Sanitarista 67502- D 1. Introdução Com crescimento populacional, aliado ao aumento das atividades industriais os problemas ambientais tornam-se cada vez mais críticos e frequentes. Os impactos gerados podem ser observados pelas alterações na qualidade do solo, do ar e da água. Devido à grande diversidade das atividades industriais e seus mais variados processos produtivos a geração de efluentes líquidos é eminente. Estes, por sua vez, possuem características químicas, físicas e biológicas que discernem conforme o ramo da atividade industrial. De acordo com a Norma Brasileira – NBR n° 9800/1987, efluente líquido industrial é o despejo líquido proveniente do estabelecimento industrial, compreendendo emanações de processos industrial, águas de refrigeração poluídas, águas pluviais poluídas e esgoto doméstico. A cultura do uso da cana de açúcar teve origem por volta do século XVI durante o período conhecido como Brasil Colônia, o que levou o país a se tornar a primeira riqueza agrícola e industrial tornando-se a principal base para economia através da agricultura da cana de açúcar. Foi também um dos instrumentos utilizados pela colônia portuguesa para firmar sua colonização com grandes latifúndios, assim como o conceito de plantation - sistema agrícola baseado na monocultura de exportação. Até nos dias atuais a cana de açúcar fomenta milhões para economia do país, possui a mesma origem do milho, sorgo, arroz e outras gramíneas. Entretanto, a cana usada para produção de açúcar e etanol é resultado de vários cruzamentos. Após a Revolução Industrial o processamento da cana teve um grande salto tecnológico, com a modernização de equipamentos que substituíram a força motriz, animal ou gravitacional, por energia a vapor. Apesar de uma certa resistência dos produtores brasileiros em aderir às novas tecnologias, no início do século XX, os principais engenhos brasileiros transformaram-se em “Usinas de Açúcar”, caracterizadas pela utilização de equipamentos modernos, e produção em larga escala (ANA, 2009). 7 O sistema agroindustrial da cana-de-açúcar tem uma subdivisão que agrega a etapa agrícola, industrial e de transporte, ao qual se pode acrescentar a produção de bioenergia, onde parte da produção retorna ao sistema de produção e a parcela excedente é escoada (Figura 1). Figura 1. Sistema agroindustrial da cana-de-açúcar. Fonte: ANA, 2009. Dessa forma, o uso e os modos como são tratadas e lançadas aos corpos receptores, o Decreto Estadual n° 1745/1978 e as resoluções CONAMA n° 430/2011 e n° 357/05 estabelecem algumas condições 7 que devem ser obedecidas para que possa ocorrer o descarte correto de águas residuais em corpos d’água. Considerando à vasta gama de alternativas a serem adotadas para o tratamento dos despejos líquidos, há a necessidade de avaliar qual apresentar maior eficiência de remoção de carga orgânica e poluente, aliada ao melhor custo-benefício para o tratamento das águas residuais do processo de produção do etanol. Sendo assim, o objetivo do trabalho foi projetar uma estação de tratamento de efluente industrial para uma empresa do ramo da cana-de- açúcar, mais especificamente para a fabricação de etanol. Visando atender as legislações ambientais vigentes de modo a preservar o corpo receptor e a água tratada para fins mais nobres, minimizando os impactos ambientais. Objetivo Geral O objetivo deste trabalho é conhecer o processamento da cana de açúcar em uma indústria de elaboração de Etanol e açúcar, os resíduos gerados deste processo e os sistemas de tratamento de efluentes líquidos das indústrias sucroalcooleira mediante a extração da cana-de-açúcar. A partir disso propor a Elaboração do projeto hidráulico-sanitário da estação de tratamento de efluentes para uma usina de álcool a partir da cana de açúcar localizada no Município de Goianésia. Objetivos específicos 8 ▪ Fornecer elementos técnicos de caracterização do esgoto industrial afluente à Estação de Tratamento de Esgoto – ETE; ▪ Identificar as unidades geradoras de efluentes líquidos; ▪ Identificar os parâmetros físicos, químicos e biológicos; ▪ Identificar as concentrações dos parâmetros de interesse; ▪ Caracterizar o corpo receptor desse efluente e apresentar as principais tecnologias para o tratamento desse esgoto industrial. ▪ 2. Caracterização do processo industrial 2.1 Recepção e preparo da cana-de-açúcar A etapa de recepção da cana envolve a pesagem, amostragem e análise laboratorialda matéria prima para obtenção de informações necessárias para a caracterização desse insumo. Esta etapa é importante para o controle operacional da usina. Os principais parâmetros determinados são: Brix – porcentagem de sólidos solúveis no caldo; Pol – percentagem de sacarose aparente no caldo; Pureza; Fibra residual (RIBEIRO, 2011). Baseado nesses parâmetros, a indústria obterá os dados para o controle da qualidade do produto desde a sua produção até o beneficiamento final. Após esta etapa, o material segue para o descarregamento que é realizado em mesa alimentadora com peneira e fundo falso para retirada de impurezas minerais. Em seguida o material passa por um soprador para remoção de pequenas partículas e segue para a etapa de lavagem. Nesta etapa a cana é submetida a uma lavagem por meio de um sistema do tipo cascata. O processo de lavagem é realizado num sistema fechado para garantir o reaproveitamento da água durante todo o período de funcionamento. A água de resultante da lavagem retorna à mesa alimentadora após se submetida ao tratamento em uma unidade de decantação, onde os resíduos sólidos se sedimentam e a água retorna mais limpa para a lavagem da cana. O processo de recirculação desta água num circuito fechado tem duração de três a quatro dias. Após este período, a água se torna imprópria para o uso e deve ser direcionada ao tanque de mistura, juntando-se ao vinhoto e demais águas residuais. Este efluente pode ser reaproveitado na fertirrigação das lavouras de cana também (RIBEIRO, 2011; MARQUES & ZIN, 2016). Após a lavagem a cana segue em esteiras e são submetidas a um picador, constituído por navalhas, que a fatia em pedaços de diferentes tamanhos. Os pedaços da cana passam então por um desfibrador que torna o material mais homogêneo e com fibras longas, facilitando a etapa posterior de extração do caldo. O desfibrilador é formado por um conjunto de martelos oscilantes 9 e rotativos que realizam essa ação em diferentes sentidos para garantir completa homogeneização do material (RIBEIRO, 2011; MARQUES & ZIN, 2016). 2.1.1.1 Extração do caldo Logo após o preparo, a cana é encaminhada para a extração do caldo em moendas. A cana passa por um conjunto de três rolos de esmagamento, que constituem um terno. Esta etapa promove a separação do material fibroso e do líquido (caldo). Após passar pelo primeiro terno, de onde se extrai o caldo primário, a cana segue para os ternos seguintes, sendo lavada em contracorrente para favorecer a extração da sacarose, o que se chama de embebição, obtendo-se o caldo misto. O processo de embebição aumenta a eficiência de extração do caldo. O resíduo que sobra deste processo é o bagaço da cana (MARQUES & ZIN, 2016). O caldo misto, é composto por uma grande porcentagem (96%) de açúcares da cana, o que implica dizer que esta é uma etapa muito importante do processo. Sendo assim, esta etapa precisa passar por um controle rigoroso na indústria (MARQUES & ZIN, 2016). 2.1.1.2 Tratamento do caldo O caldo extraído da cana pode conter impurezas solúveis e insolúveis, que são removidas por meio de processos de tratamento físico-químicos, que consistem na coagulação, floculação e precipitação destas impurezas. Para garantir maior eficiência, inicia-se o processo de sulfitação, no qual adiciona-se SO2 (anidrido sulfuroso), para produzir o açúcar branco. Em seguida, ocorre o processo de caleação, com adição de hidróxido de cálcio, Ca(OH)2. Este processo visa aumentar o pH do caldo (6,8 a 7,2) para garantir a eliminação dos ácidos orgânicos. Em contrapartida, durante esta etapa formam-se o sulfito e fosfato de cálcio, agentes precipitadores das impurezas que se deseja retirar do caldo (MARQUES & ZIN, 2016). Essa mistura segue para etapa de aquecimento com vapor de escape ou vegetal, que favorece a decantação dos sedimentos. Em seguida, ocorre a etapa de clarificação, que consiste na separação da mistura em um decantador, na qual as impurezas se sedimentam no fundo do decantador. O caldo decantado e limpo sai na parte superior das bandejas do decantador. O material sedimentado, segue para a etapa de filtragem, que é obtida por meio de filtros rotativos a vácuo. O material sedimentado proveniente da etapa de decantação e filtragem, conhecido como torta de filtro, por ser rico em matéria orgânica e sais minerais (principalmente P) é encaminhado para as lavouras para fertilizar o solo (MARQUES & ZIN, 2016). 10 O caldo clarificado segue para a etapa de concentração, realizada em evaporadores em série (múltiplo efeito). No primeiro evaporador, o caldo clarificado é aquecido pelo vapor de escape das turbinas de geração de energia elétrica. Desta maneira, o caldo evapora, promovendo o aumento de sua concentração, e gera o chamado vapor vegetal. O vapor remanescente passa por um condensador barométrico sob vácuo gerando um caldo concentrado (conhecido como xarope ou mosto) e segue para as etapas seguintes da produção de etanol (MARQUES & ZIN, 2016). 2.1.2. Produção do etanol A produção do álcool etílico, anidro ou hidratado é obtida por meio de um processo que envolve duas etapas fundamentais: a fermentação e a destilação, descritas a seguir. 2.1.2.1 Preparo do mosto O mosto é uma solução açucarada utilizada no processo de fermentação para produção do etanol. Consiste em uma mistura do melaço, água, caldo primário e misto. A etapa de preparação do mosto tem como finalidade ajustar o Brix a um ponto que favoreça o teor alcoólico desejado, a ser atingido pela fermentação desta misturam (MARQUES & ZIN, 2016). 2.1.2.2 Fermentação O processo de fermentação transforma os açúcares do mosto em etanol e CO2, através da ação das leveduras, e seu processo industrial ocorre em tanques chamados de dornas de fermentação. Por tratar-se de reações exotérmicas, ocorre grande liberação de energia na forma de calor, o que torna necessário o resfriamento das dornas para que se mantenha a temperatura adequada para a ação microbiológica (por volta de 34°C). Nesta etapa, procura-se converter os açúcares em álcool. Para tanto, tem-se que adequar a matéria-prima para as condições ideais requeridas pelas leveduras, como concentração de açúcares e controle da temperatura (36°C). A mistura fermentada tem o nome de vinho fermentado, e seu teor de etanol gira em torno de 7° a 11°GL. O CO2 produzido no processo arrasta consigo vapores de etanol, que são recuperados após a mistura gasosa ser encaminhada para as torres de absorção (MARQUES & ZIN, 2016). 2.1.2.3 Destilação A destilação consiste na separação dos elementos que compõem o vinho (água, etanol, aldeídos e ácido acético, basicamente), através dos diferentes pontos de ebulição destes elementos. Nesta etapa objetiva-se retirar, quando possível, 100% do álcool presente no vinho. Para tanto, o vinho é encaminhado para torres de destilação em série onde se adiciona vapor, gerando três 11 produtos: a vinhaça, que é o principal resíduo da destilação; o etanol de cabeça, mistura hidroalcóolica impura, cujo teor alcoólico varia de 92° a 94°GL; e o flegma, que é uma mistura de vapores que contém resquícios de etanol de 45° a 50°GL (MARQUES & ZIN, 2016). A primeira operação consiste na purificação do vinho, livrando-se de algumas impurezas, realizada em uma coluna de destilação. Desta operação, além do vinho, resulta a fração denominada de álcool de segunda, bruto ou de cabeça (mistura hidroalcoólica impura, cujo teor alcoólico varia de 92 a 94GL-porcentagem de álcool, em volume) (MARQUES & ZIN, 2016). O vinho é então submetido a uma segunda operação de destilação, em uma coluna de destilação propriamente dita, de onde resultam duas frações: o flegma (produto principal de destilação) uma mistura hidroalcoólica impura, com teor alcoólico variando de 45 a 50 GL, e a vinhaça, vinhoto ou restilo (resíduo aquoso da destilação) que contém todas as substânciasnão voláteis e algumas voláteis do vinho. Em seguida, o flegma é submetido a uma nova destilação especial, a retificação, sofrendo uma operação complexa de purificação e concentração. Esta operação é efetuada em uma coluna de retificadora constituída de duas zonas: esgotamento e concentração (MARQUES & ZIN, 2016). O produto principal de retificação é o álcool retificado (mistura hidroalcoólica de elevada pureza, com uma graduação alcoólica variando de 96 a 97GL. Resultam ainda três outras frações: flegmaça (resíduo aquoso da retificação do flegma) devendo estar isenta de álcool; o óleo de fúsel (mistura concentrada das impurezas do flegma) e o álcool de segunda. A operação final é a desidratação, onde determinados artifícios são introduzidos aos processos normais de destilação, com a finalidade de desidratar o álcool retificado (MARQUES & ZIN, 2016). O álcool retificado é conduzido à coluna de desidratação, na qual é introduzida uma substância desidratante, o ciclohexano, resultando o álcool anidro com riqueza alcoólica entre 99,5 a 99,8GL. A mistura de água-ciclohexano, é conduzida ao conjunto recuperador de álcool e ciclohexanol, constituído de um decantador e uma coluna de recuperação do solvente, sendo os seus produtos reconduzidos no processo (MARQUES & ZIN, 2016). 2.1.2.4 Geração de energia A cogeração de energia é feita pela queima do bagaço da cana (biomassa), que produz vapor em caldeiras. Este vapor é então expandido em turbinas, onde parte da sua energia é convertida em energia mecânica para movimentar equipamentos, e outra parte é convertida em energia elétrica por geradores acoplados à turbina (MARQUES & ZIN, 2016). 12 Quando há interesse em utilizar a energia térmica dos vapores de escape das turbinas, utilizam-se geradores de contrapressão, que expelem os vapores a uma pressão maior que a atmosférica, posteriormente sendo condensados e retornados à caldeira após sua utilização em processos térmicos. Em certos casos, utiliza-se turbogeradores de extração, também chamados de geradores de condensação (que trabalham com pressão negativa), nos quais não se utiliza o vapor de escape para processos térmicos sendo esta parcela aproveitada também para geração de energia elétrica. Nestes casos, as torres de resfriamento para condensar os gases de escape necessitam de volume de água ainda maior para seu resfriamento (MARQUES & ZIN, 2016). As caldeiras são equipadas com sistema de precipitação e coleta de fuligem por via úmida para atender os padrões de controle ambiental. As caldeiras possuem lavadores de gases, que consistem em tanques cilíndricos, onde ocorre o tratamento dos gases que são lançados na atmosfera. Para melhor eficiência no processo de coleta de fuligem deve haver um sistema de separação e recirculação da água de lavagem dos gases. Esse sistema é realizado por um tanque de decantação que conterá o material sedimentado. Esse resíduo será destinado à fertilização do solo dada à sua composição (MARQUES & ZIN, 2016). A energia gerada por todo o processo pode ser usada para suprir a demanda da própria indústria. No entanto, a indústria manterá contrato com a concessionária de energia do estado de Goiás – ENEL, para suprimento de energia em outras etapas não relacionadas à produção, principalmente em períodos de paradas programadas e eventuais interrupções de safra ou entressafra. 13 2.2 Fluxograma da indústria Figura 2. Processo produtivo simplificado de uma indústria sucroalcooleira. Fonte: Adaptado de. 3. Caracterização do esgoto industrial afluente à ETE Ao analisar cada uma das atividades realizadas nas etapas do processo de produção da indústria é possível indicar quais são as etapas geradoras de efluentes contaminados com algum tipo de substância. Os principais produtos no processo de fabricação da usina em estudo é o álcool, também durante o processo de fabricação do álcool há a geração de energia elétrica a partir da queima do bagaço e produção de vapor nas caldeiras. Os principais efluentes líquidos observados no processo produtivo do álcool e seus sistemas de tratamentos são detalhados a seguir (Quadro 1). 14 Quadro 1. Principais efluentes líquidos no processo produtivo do álcool. Efluente Características Tratamento Água de lavagem de cana Médio potencial poluidor e alta concentração de sólidos Decantação e lagoas de estabilização para o caso de lançamentos em corpos d’água. Na reutilização, o tratamento consiste em decantação e correção de pH. Água de multijatos e condensadores barométricos Baixo potencial poluidor e alta temperatura Tanques aspersores ou torres de resfriamento, com recirculação ou lançamento. Águas de resfriamento de dornas e de condensadores de álcool Alta temperatura Torres de resfriamento ou tanques aspersores, para retorno ou lançamento. Vinhaça e águas residuárias Grande volume e carga orgânica elevada Aplicação na lavoura de cana, conjuntamente com as águas residuárias O setor que reutiliza a água é o setor da evaporação do caldo, pois neste há a recirculação dos condensados gerados, onde são reaproveitados dentro da usina. Os principais resíduos e efluentes da indústria de álcool são as águas de lavagem de cana, o bagaço, a torta de filtro, a água condensada dos evaporadores, água condensada das colunas barométricas e o restilo, também conhecido como vinhaça ou vinhoto. No Brasil, onde a maioria da colheita ainda é manual, o volume de água de lavagem ainda é bastante grande, ele gira em torno de 5 m³ por tonelada de cana (CETESB). ▪ Água de lavagem Antes de ser processada a cana precisa ser lavada para a remoção de impurezas, como areia, palha e insetos, que são encaminhadas para a sedimentação no decantador. A água contendo todos esses resíduos passa por um separador para remoção partículas grosseiras como a palha. Devido ao grande volume de areia arrastado durante o processo, a água segue para um decantador de areia para sedimentação dos sólidos. Em seguida, o efluente, isento de areia passa a recircular por meio do bombeamento para os aspersores situados sobre a mesa alimentadora. A água de lavagem não apresenta poluente preocupante, desde que não tenha contato com outros resíduos, o maior problema desse efluente são os sólidos suspensos e dissolvidos, além de alguma matéria orgânica que é carreada na lavagem. 15 Após alguns dias (3 a 4) de uso ou a depender do volume de sedimentos presentes na cana- de-açúcar, a água de lavagem torna-se imprópria, e, portanto, deve ser conduzida para o tanque de mistura, onde se junta ao vinhoto. A areia acumulada no tanque desarenador é retirada com auxílio de pá mecânica e caminhão-caçamba e pode ser utilizada na recuperação de estradas vicinais. O material orgânico composto por palha e bagacilho retornam ao campo para recuperação de áreas arenosas e menos férteis. ▪ Bagaço A produção de bagaço é de aproximadamente 0,3 toneladas por tonelada de cana esmagada. O bagaço não gera problemas quanto à sua disposição final, ele é composto por material celulósico com 5% a 10% de garapa e 40% a 50% de água, tem valor calórico alto (média de 4640 cal/g ) e por isso ele já é bem utilizado na geração de vapor e energia dentro das próprias usinas. O bagaço é utilizado nos sistemas de geração e cogeração, gerando energia elétrica e vapor de processo. ▪ Torta de filtro A torta é oriunda da filtração do lodo gerado nos clarificadores, é composta de resíduos solúveis e insolúveis originados na fase de calagem. O volume varia com as condições da usina, a média brasileira está em torno de 0,04 toneladas por tonelada de cana moída. A torta tem aproximadamente 0,2% de sucrose e altos valores de DBO. ▪ Água condensada dos evaporadores A água que condensa dos evaporadores carreia matéria orgânica da matéria prima da usinae por isso tem DBO elevada. Apesar disso, sua geração tem um pequeno volume. ▪ Água condensada das colunas barométricas Este efluente é um dos menos problemáticos da usina, ele não tem nenhum parâmetro que cause preocupação excessiva, tem DQO e DBO mais baixas e nenhum dos outros parâmetros atinge valores que chegam a causar problemas mais graves no tratamento e disposição, apesar de carrear uma quantidade considerável de matéria orgânica este efluente não causa grandes problemas. ▪ Vinhaça A vinhaça é o principal efluente das indústrias de álcool. Apesar de não ser o maior volume é o mais problemático por suas características: seu pH é baixo, gira em torno de 4,5; sua temperatura chega perto dos 100°C; a quantidade de nutrientes (fósforo e nitrogênio) é bastante elevada e principalmente a quantidade de matéria orgânica é muito alta, o que pode ser observado pela elevada DQO e DBO. 16 Produtividade média da usina Produtividade Álcool - 7 L/t Consumo de água no processo e geração de efluentes Plantio, colheita e transporte Consumo de água para a irrigação Pesagem e estocagem provisória Não há consumo de água Lavagem Consumo de água de lavagem Picagem e desfibramento Não há consumo de água Moagem Água para refrigeração dos mancais; Água para “embebição”; Água para complementação da caldeiraria. Estimativa de acordo com a Cetesb 3.1 Identificação de todas unidades geradoras Os resíduos e subprodutos gerados pelo processo agroindustrial de cana-de-açúcar têm uma caracterização específica. 3.2 Parâmetros físicos, químicos e microbiológicos Considerando que o efluente advindo dos banheiros possui rede independente para sua disposição, será abordado no presente projeto o tratamento dos efluentes advindos dos processos de produção da Indústria. 17 Os parâmetros mais relevantes a serem analisados no efluente bruto dos processos de produção da indústria são: pH, Oxigênio dissolvido, Temperatura, DQO, DBO, Sólidos totais, Sólidos suspensos, Fósforo total, Nitrogênio total. 3.3 Concentração dos parâmetros de interesse Com os parâmetros de análise do efluente estabelecidos, pode ser encontrado as concentrações dos mesmos. Esses dados são essenciais para análise das características e comportamentos do efluente, para assim definir qual o melhor tipo de tratamento e realizar um dimensionamento das etapas do mesmo. Abaixo segue o quadro com os parâmetros encontrados: Parâmetros/Ponto Montante Água de lavagem Jusante (aproximado) pH 6,6 6,0 6,3 Temperatura (ºC) 22,7 39 29,8 Oxigênio Dissolvido (mg/L) 5,72 2,5 2 DBO (mg/L) 4,30 388 66,4 3.4 Equivalente populacional O Equivalente populacional (E.P.) traduz a equivalência entre potencial poluidor de uma indústria (comumente em termos de matéria orgânica) e uma determinada população a qual produz essa mesma carga poluidora. A seguir são apresentados os dados obtidos para a usina em questão (Quadro 2). Dados - DBO (mg/l) 388 Vazão efluente (m3/h) 600 Carga de DBO (kg DBO/dia) 4800 Contribuição per capita (kg DBO/hab.dia) 0,054 Funcionamento da indústria 8 horas/dia 18 • Carga Total ▪ 𝑫𝑩𝑶 𝒈/𝒎³ × 𝒗𝒂𝒛ã𝒐 𝒆𝒇𝒍𝒖𝒆𝒏𝒕𝒆(𝒅𝒊𝒂) ÷ 𝟏𝟎𝟎𝟎 Carga = 388 * 4800 / 1000 Carga = 1, 862 ( kg / DBO. dia) • Equivalente Populacional (E.P): 𝐸. 𝑃 = 𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 ( 𝑘𝑔 𝑑 ) 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çã𝑜 𝑝𝑒𝑟 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝐷𝐵𝑂 (𝑘𝑔/ℎ𝑎𝑏. 𝑑) Valor de contribuição per capita de DBO frequentemente utilizado: 54 kg DBO/hab.d (NBR 12.209/1992 – Projeto de ETE Sanitário). E. P = 1862/ 0,054 g DBO/hab.d• E. P. = 34,481 habitantes ▪ 4. Caracterização do corpo receptor 4.1. Nome, localização, classificação do rio A Indústria utilizada como objeto de estudo no presente artigo tem como Nome Fantasia ‘Sociedade Açucareira Brasil LTDA’ e Razão Social ‘Açucareira brasil indústria de produção de etanol e açúcar ltda’. Está localizada no município de Goianésia, no Estado de Goiás. 19 Figura 3. Localização da Cidade de Goianésia - Goiás. Fonte: Google Imagens (2020). O corpo receptor selecionado para o lançamento do efluente da ETE da indústria de cana de açúcar e etanol foi o Rio forquilha está localizado no bioma Cerrado, conhecido com berços das águas, responsável por abrigar três nascentes muito importantes para o Brasil, são as bacias do Araguaia/Tocantins, São Francisco e a Bacia do Rio da Prata, passa por Goianésia sendo um rio de curso hídrico da bacia hidrográfica do Rio Tocantins-Araguaia. O empreendimento será instalado na cidade de Goianésia – GO coordenadas geográficas lat 15°18’47"S long 49°03'58.18"O conforme georreferenciamento realizado abaixo na figura 2: 20 Figura 4. Localização da Instalação da Indústria e ponto de lançamento. Fonte: Google Earth (2020). Sua bacia de drenagem abrange uma área, sendo ocupada principalmente por propriedades de uso agrícola e pecuário. A vazão média do rio Forquilha é de aproximadamente 290 e encontra-se classificado como Classe II. A bacia encontra-se em estado bastante antropizado, de forma que sua vegetação nativa vem sendo substituída, principalmente, por culturas e pastagens. 21 Figura 5. Vista aérea da localização da indústria obtida por meio do Google Maps. O corpo receptor sendo considerado um corpo hídrico Classe II, ambiente lótico, e de acordo com a tabela abaixo, temos os seguintes valores (Quadro 3): Parâmetros Dados Vazão ( m³/h) 290 DBO (mg/L) 4,30 pH 6,6 Fósforo (mg/L) 0,05 Classe 2 OD (mg/L) 5,72 Nitrogênio (mg/L) 2,33 Temperatura 22,7 O horário de funcionamento da indústria é de 08 horas, de segunda a sexta-feira das 8:00 às 16:00. 4.2. Padrões de lançamento de efluentes e legislação Segundo RESOLUÇÃO No 430, DE 13 DE MAIO DE 2011 que dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução no 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA, Seção II Das Condições e Padrões de Lançamento de Efluentes Art. 16. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados diretamente no corpo receptor desde que obedeçam às condições e padrões previstos neste artigo, resguardadas outras exigências cabíveis: I - Condições de lançamento de efluentes: a) pH entre 5 a 9; b) temperatura: inferior a 40°C, sendo que a variação de temperatura do corpo receptor não deverá exceder a 3°C no limite da zona de mistura; c) materiais sedimentáveis: até 1 mL/L em teste de 1 hora em cone Inmhoff. Para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação seja praticamente nula, os materiais sedimentáveis deverão estar virtualmente ausentes; 22 d) regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5 vez a vazão média do período de atividade diária do agente poluidor, exceto nos casos permitidos pela autoridade competente; f) ausência de materiais flutuantes; g) Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO 5 dias a 20°C): remoção mínima de 60% de DBO sendo que este limite só poderá ser reduzido no caso de existência de estudo de autodepuração do corpo hídrico que comprove atendimento às metas do enquadramento do corpo receptor; Art. 17. O órgão ambiental competente poderá definir padrões específicos para o parâmetro fósforo no caso de lançamento de efluentes em corpos receptores com registro histórico de floração de cianobactérias, em trechos onde ocorra a captação para abastecimento público. Art. 18. O efluente não deverá causar ou possuir potencial para causar efeitos tóxicos aos organismos aquáticos no corpo receptor, de acordo com os critérios de ecotoxicidade estabelecidos pelo órgão ambiental competente. § 2o Cabe ao órgão ambiental competente a especificação das vazões de referênciado efluente e do corpo receptor a serem consideradas no cálculo da Concentração do Efluente no Corpo Receptor- CECR, além dos organismos e dos métodos de ensaio a serem utilizados, bem como a frequência de eventual monitoramento. Art. 28. O responsável por fonte potencial ou efetivamente poluidora dos recursos hídricos deve apresentar ao órgão ambiental competente, até o dia 31 de março de cada ano, Declaração de Carga Poluidora, referente ao ano anterior. De acordo com a RESOLUÇÃO No 357, DE 17 DE MARÇO DE 2005 Art. 15. Aplicam-se as águas doces de classe 2 as condições e padrões da classe 1 previstos no artigo anterior, a exceção do seguinte: III - Cor verdadeira: até 75 mg Pt/L; IV - Turbidez: até 100 UNT; V - DBO 5 dias a 20°C até 5 mg/L O2; 5. Identificação de potenciais tecnologias para o tratamento do esgoto industrial O tipo de tratamento a ser empregado está intimamente ligado à característica e tipo de processo produtivo instalado. Em cada situação, estudos específicos devem ser feitos e podem 23 resultar em tratamentos diferentes mesmo sendo um efluente proveniente de um mesmo processo produtivo em outra localidade. Estas diferenças ocorrem em função da qualidade de água de entrada, condições climáticas da região, nível de qualificação da mão de obra local, disponibilidade hídrica e disponibilidade de recursos técnicos e legislação local. 5.1 Definição da característica de lançamento (legislação) A partir do momento em que a água utilizada no processo foi contaminada com uma substância agressiva ao processo ou adquiriu elementos que a tornaram corrosiva ou incrustante, deverá passar por algum tipo de descontaminação para atendimento aos requisitos legais e evitar danos ao meio ambiente. Conforme o tipo de contaminação no efluente existirá um padrão de tratamento a ser seguido que é definido conforme a legislação vigente nas diversas esferas do Estado brasileiro, característica da empresa (por exemplo: empresas multinacionais eventualmente trazem padrões ou restrições de sua matriz), mercado comprador ou exigência adicional do órgão ambiental. Na esfera Federal podemos citar o Decreto nº. 24.643 de 10 de julho de 1934, Código de Águas, que definiu os vários tipos de água no território nacional, abordando também a contaminação dos corpos de água. Consultando-se a Resolução CONAMA nº. 357, de 17 de março de 2005 obtém-se a classificação das águas doces, salobras e salinas de acordo com suas utilizações e respectivos padrões de qualidade, regulamentando procedimentos para lançamento de efluentes e concentrações máximas de poluentes. Em referência padrão de emissão do processo estudado, deve-se cumprir a Lei nº. 977, de 31 de maio de 1973, regulamentada pelo Decreto nº. 8468, de 8 de setembro de 1976, do Estado de São Paulo. Outra lei federal importante é a Lei de Crimes Ambientais, nº. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Define o crime ambiental com possibilidade de pena de reclusão inafiançável sobre os envolvidos (administrador, operador, engenheiros, órgãos fiscalizadores, etc.) e multas. 5.2 Tecnologias de Tratamento de Efluentes O tratamento de efluentes da indústria sucroalcooleira pode ser dividido em duas etapas principais (SILVEIRA, 2010): 24 Tratamento Preliminar: Nesta etapa ocorre o recolhimento residual do bagaço de cana que possa se encontrar no efluente. Ela é composta, geralmente pelas seguintes etapas: peneiramento, desarenador e calha Parshall. Tratamento Biológico: Esta etapa consiste em submeter o efluente líquido a dois tipos de tratamentos: anaeróbio e aeróbio com a utilização de microrganismos visando à degradação da matéria orgânica. Objetivo desta etapa é reduzir a carga orgânica e para viabilizar o lançamento do efluente no corpo receptor. Esta etapa do tratamento é composta a equalização e os tratamentos anaeróbio e aeróbio. 5.1 Tratamento preliminar 5.1.1 Gradeamento O gradeamento possui como principais objetivos a separação de materiais grosseiros em suspensão e a proteção das bombas e tubulações de transporte dos efluentes. O material utilizado para a confecção das grades pode ser o ferro ou o aço, dependendo da ação corrosiva do efluente. O espaçamento entre as barras varia entre 0,5 e 2 cm. Existem 2 tipos de grades mais comuns: grades simples e mecanizadas. As grades simples são utilizadas quando o volume de sólidos a ser removido não é muito grande. Neste caso, opta-se pela limpeza é manual. Já nas grades mecanizadas, os detritos são removidos por meio de um rastelo, que se desloca por trilhos. Portanto, a limpeza é mecânica (SILVEIRA, 2010; MARQUES & ZIN, 2016). 5.1.2 Desarenador (Caixa de areia) O Desarenador tem a função de separar sólidos grosseiros, como areia e terra. A importância dessa remoção é evitar que essas partículas agridam as estruturas e causem entupimentos nas tubulações e a interferência negativa nos processos biológicos. Esta etapa é implementada logo após o gradeamento. É formada por dois canais paralelos, de maneira que as partículas sedimentam em seu interior durante o percurso. Os dois canais operam independentemente, de tal modo que, enquanto um está em funcionamento, o outro recebe manutenção e limpeza (SILVEIRA, 2010). 5.1.3 Calha Parshall As calhas Parshall são dispositivos usados para medir a vazão de entrada e saída de água. Através de estrangulamento e ressaltos, estabelecem, para uma determinada seção vertical a montante, uma relação entre a vazão do fluxo e a lâmina d’água naquela região. Elas possuem pouca perda de carga e são bastante precisas na leitura das vazões (SILVEIRA, 2010). 25 5.2 Tanque de equalização O Tanque de equalização atua na homogeneização do efluente. A sua implantação é muito importante pois evita que haja picos de vazão, o que facilita o dimensionamento dos equipamentos a jusante. Além disso, ele promove a estabilização do pH, minimiza os problemas operacionais causados pela variação das características do efluente, reduz a incidencia de choques causados pela sobrecarga no sistema, promove a diluição de substâncias inibidoras, promove melhora no tratamento biológico e, consequentemente promove a melhora na qualidade final do efluente tratado (SILVEIRA, 2010; GEHRING, 2014; MARQUES & ZIN, 2016). 5.3 Tratamento biológico Esta etapa do tratamento é muito importante, pois objetiva promover a redução da carga orgânica e propiciar o lançamento do efluente no corpo receptor. Considerando que a característica principal do efluente da indústria de produção de etanol é a alta carga orgânica, que pode variar de 30.000 a 40.000 mg/L, o tratamento biológico que degrada a matéria orgânica pela ação de microrganismos pode ser bem útil nesse processo (SILVEIRA, 2010). O tratamento biológico é constituído pela associação do tratamento anaeróbio e tratamento aeróbio, através de biodigestores (tipo UASB) e pelos filtros biológicos, respectivamente. As principais vantagens desse tipo de tratamento são simplicidade operacional, necessidade de pouco espaço para a construção, baixo custo operacional e de implementação, geração do biogás e redução na geração de lodo (SILVEIRA, 2010). 5.3.1 Tratamento anaeróbio – biodigestor UASB Nesta etapa do tratamento, ocorre a biodigestão anaeróbia, que é um processo de decomposição da matéria orgânica que ocorre na ausência de oxigênio gerando um resíduo líquido que pode ser utilizado como biofertilizante e o biogás. O biogás é composto principalmente por metano e gás carbônico, que podem ser utilizados em outras etapas na indústria (CHERNICHARO, 1997; SILVEIRA, 2010; GEHRING, 2014). O processo de biodigestão ocorre em um biodigestor do tipo fluxo ascendente com leito de lodo conhecido como reatorUASB (Upflow Anerobic Slude Blanket). Estes biodigestores possuem um separador trifásico que possibilita a separação do efluente líquido, do biogás e do lodo biológico que contém os microrganismos. O líquido, ao passar pelo separador, atinge as calhas dentadas e circula para a próxima etapa do tratamento. O lodo, por ser mais denso, permanece no fundo do reator, enquanto o biogás é coletado pelo sistema de cobertura instalado na superfície dos 26 reatores (LETTINGA et al. 1996;CHERNICHARO, 1997; GRANATO, 2003; SILVEIRA, 2010). Para garantir melhor eficácia nesta etapa precisamso levar em considração os parâmetros que controlam o processo de biodigestão anaeróbia, como o tempo de retenção hidráulica, a carga orgânica e a remoção de matéria orgânica (SILVEIRA, 2010; GEHRING, 2014). O tempo de retenção hidráulica (TRH) é definido pela relação (GEHRING, 2014): 𝑇𝑅𝐻 = 𝑉 𝑄 Em que: TRH = tempo de retenção hidráulica, em dias, V = volume do reator (m³) Q = vazão hidráulica (m³/dia) A carga orgânica e a remoção de matéria orgânica são, em conjunto, os parâmetros mais adequados para se avaliar o desempenho de um sistema. A quantidade de matéria orgânica de um substrato é normalmente quantificada pelo valor de sua demanda bioquímica de oxigênio (DBO) ou sua demanda química de oxigênio (DQO), que determinam o oxigênio necessário para a degradação biológica e química, respectivamente, da matéria orgânica presente no substrato. Para efeito de legislação, os órgãos de meio ambiente utilizam normalmente a determinação de DBO; em relação ao acompanhamento de operação, por ser uma análise mais rápida, usa-se a DQO. Ambas são expressas em kg DQO (ou DBO)/m3 dia. A remoção de matéria orgânica é a diferença no teor de DQO ou DBO antes e após o tratamento. Outro parâmetro de interesse é a produção de biogás, que varia geralmente entre 8 a 10 litros de biogás por litro de vinhoto em função de sua origem e da eficiência de produção do sistema anaeróbio (SILVEIRA, 2010). 27 5.3.1.1 Modelos de reatores anaeróbios aplicáveis ao vinhoto Figura 6. Representação do reator de fluxo ascendente UASB. Fonte: Adaptado de GEHRING, 2014. 5.3.2 Filtro biológico Os filtros biológicos constituem-se de tanques com uma massa de sólidos, denominada meio de suporte, onde a biomassa fica aderida realizando a função de degradação da matéria orgânica do esgoto. Os componentes básicos de um FBP são o mecanismo de distribuição, o meio de suporte e o sistema de drenagem do efluente (SILVEIRA, 2010). O mecanismo de tratamento consiste na alimentação e percolação contínua do esgoto através do meio de suporte, promovendo o crescimento da massa biológica no meio de suporte. Quando em contato com o esgoto a matéria orgânica é adsorvida pelos microrganismos, sendo degradadas pelo processo de oxidação química. Uma vez que se atinge o equilíbrio bioquímico, ocorre a remoção da matéria orgânica, através da transformação das substâncias coloidais e dissolvidas presentes no esgoto, em sólidos estáveis na forma de flocos, que por sua vez possuem fácil sedimentação (JORDÃO E PESSÔA, 2014). O licor é enviado continuamente a um decantador secundário, destinado a separar o efluente tratado do lodo. O lodo passa por um processo de recirculação no tanque de aeração a fim de manter a concentração de microrganismos dentro de certa proporção em relação à carga orgânica 28 afluente. O sobrenadante do decantador é o efluente tratado, pronto para descarte no corpo receptor. O excesso de lodo, decorrente do crescimento biológico, é extraído do sistema sempre que a concentração do licor ultrapassar os valores de projeto. Este lodo pode ser espessado e desidratado, tendo como aplicação o uso em agricultura (SILVEIRA, 2010). No meio de suporte observa-se duas camadas de degradação: uma aeróbia e uma anaeróbia. A ventilação através dos interstícios mantém o suprimento de oxigênio necessário à reação bioquímica aeróbia. Uma vez que a biomassa aumenta, a passagem de oxigênio através para as camadas mais internas do filtro é prejudicada, ocasionando assim a oxidação anaeróbia. Os gases acumulados provenientes da atividade anaeróbia provocam o desprendimento da massa biológica aderida no meio de suporte, facilitando o transporte desta biomassa pelo fluxo de esgoto. Forma- se assim o lodo desta unidade de tratamento, que é removido por uma unidade de decantação secundária (JORDÃO E PESSÔA, 2014). A distribuição de esgoto é realizada por aspersores fixos ou móveis instalados na parte superior do filtro. Os distribuidores fixos são compostos de um sistema de canalização com bocais aspersores, que são alimentados intermitentemente por uma câmara de dosagem. Já os distribuidores móveis podem possuir movimento de translação ou de rotação, sendo o distribuído por rotação mais eficiente. O sistema de drenagem do FPB é composto de blocos ou calhas pré- moldados de concreto, plástico ou barro dispostos em toda extensão do fundo do tanque. Uma vez no sistema de drenagem o esgoto é conduzido ao canal efluente desta unidade (JORDÃO E PESSÔA, 2014). O meio de suporte adotado depende da disponibilidade local de material adequado e dos custos de transporte e montagem. Utiliza-se cascalhos, pedregulhos, escórias de fornos de fundição, pedras britadas e outros materiais inertes. Existe ainda os meios de suporte plásticos. Deve-se considerar o peso unitário, superfície específica e coeficientes de vazios para seleção do meio de suporte (JORDÃO E PESSÔA, 2014). 5.3.3. Decantador Secundário O Decantador Secundário promove a remoção dos sólidos suspensos através da sedimentação das partículas sólidas, pela diferença de densidade, executando duas funções importantes: clarificação e espessamento. Ou seja, fornecer um efluente clarificado, límpido, com baixa turbidez (sólidos suspensos), e com isso pode até ser lançado no corpo receptor (em alguns 29 casos) e também fornecer um lodo espesso que retorna (lodo recirculado) para o processo de tratamento com a finalidade de manter a concentração adequada de sólidos no processo (balanço de massas). Isso assegura que o tratamento possa ser alcançado em tempo hábil. Para obter maior eficiência do equipamento é instalado em seu interior uma ponte raspadora que realiza o arraste das partículas sedimentadas no fundo do decantador direcionando-as para o duto de descarga central, onde será removido através de bombeamento (GIORDANO, 1999). No decantador ocorre a separação sólido-líquido do efluente, de modo a sedimentar e concentrar o lodo no fundo do tanque, permitindo a clarificação do líquido a ser enviado para o tratamento posterior. Os decantadores podem ser circulares ou retangulares, com limpeza de fundo por pressão hidrostática ou com remoção de lodo mecanizada por raspagem ou sucção. O lodo decantado é direcionado para outras etapas, como para a centrífuga, para desidratação (GIORDANO, 1999). O desempenho do decantador secundário depende de vários fatores, como as características do lodo (capacidade de sedimentação), carga hidráulica, carga de sólidos, fluxo de retorno de lodo ativado e características físicas do decantador. 5.3.4 Centrífuga Existem várias soluções disponíveis no mercado para a redução da umidade do lodo e a identificação do equipamento mais adequado é efetuada de acordo com o tipo de lodo, as características dos produtos desidratados e a disponibilidade de espaços. Entre os equipamentos mecânicos, que aceleram a desidratação do lodo, o mais comum e indicado é a centrífuga para desidratação de lodo. A água de drenagem do processo é transportada por gravidade para a extremidade para a estação de tratamento de água, enquanto a lama desidratada pela centrífuga para desidratação de lodo pode ser utilizada como fertilizante para a agriculturaou destinada ao aterro sanitário. Na centrífuga para desidratação de lodo a água é separada do lodo aplicando forças centrífugas, cerca de 10.000 vezes a força da gravidade. A centrífuga para desidratação de lodo é composta por um rotor cilíndrico cónico com um parafuso helicoidal em seu interior. Estes dois giram em alta velocidade e na mesma direção, o rotor gira mais rápido do que o parafuso. A lama é alimentada na parte central e é empurrada para a periferia graças a força centrífuga. À medida que a água que é mais leve, passa através do parafuso helicoidal é recolhida numa extremidade, 30 da centrífuga para desidratação de lodo , o lodo vai se formando nas paredes do rotor, é arrastado para a região cônica, saindo através de uma abertura na parte inferior oposta. O lodo desidratado tem normalmente uma secura entre 15% e 30% dependendo do tipo de lama e das condições de centrifugação. A centrífuga para desidratação de lodo é um sistema eficiente que funciona continuamente, é muito compacto e requer muito pouco espaço A centrifugação para desidratação de lodo é um processo utilizado para a redução do teor de água em lodos, a fim de reduzir o volume de lodo descartado, reduzir custos de transporte e descarte, facilitar o tratamento do lodo, eliminar o excesso de água, facilitando assim o processo de incineração, ajustar o teor de água antes da compostagem, reduzindo assim o uso de agentes estruturantes do solo e reduzir a emissão do cheiro proveniente das lamas. 5.4 Sistema de lavagem de gases e fuligem das caldeiras Como os gases expelidos pela caldeira contêm poluentes atmosféricos, o tratamento mais indicado é o retentor de via úmida, que faz a “lavagem” dos gases, promovendo o arraste dos poluentes pela ação da água. A água contendo essas partículas é direcionada a um equipamento separador de partículas, que remove os materiais particulados por meio da decantação. A água, então, pode ser recirculada para o sistema, e o lodo deste separador é chamado de torta de fuligem (SILVEIRA, 2010). Além disso, a combustão da biomassa nas caldeiras gera cinzas, que devem ser retiradas do equipamento para evitar perda de eficiência na combustão. A limpeza do cinzeiro dos queimadores deve ser feita por meio da lavagem com água (SILVEIRA, 2010). 5.5 Destinação do Lodo O lodo residual oriundo do processo de tratamento anaeróbio costuma possuir baixo volume e caráter estável. Dessa forma o lodo esse lodo poderá passar por tratamentos em processos como adensamento, estabilização e desidratação (por meio da centrifugação) para que então possa ocorrer a sua destinação final (GOMES, 2013). Após a desidratação, e portanto, redução do volume do lodo gerado pela redução do seu teor de umidade permite melhores condições de manejo do lodo. O lodo desidratado permanece mais estável e pode ser facilmente transportado (redução de custo com mão de obra e maquinário) até sua destinação final. O lodo pode ser utilizado como biofertilizante na agricultura, pode ser incinerado ou disposto em aterros sanitários (GOMES, 2013). 31 6. Alternativas de tratamento Biodegradação O uso da vinhaça em fertirrigação vem sendo ampliada e trazendo bastante resultados em seu reaproveitamento, mas algumas normas ambientais estão sendo mais rígidas e estão exigindo de seus produtores tradicionais a criação de novos tipos de tratamento e outros usos para os resíduos. Os efluentes industriais que são lançados no meio ambiente são responsáveis pelos diferentes impactos provocados pelo aumento de sólidos em suspensão, a toxicidade, cor e odor. A cor do efluente geralmente não é considerada como forma de contaminação, mesmo com os danos capazes de provocar por poder ter associação na presença de compostos tóxicos e grupos cromóficos. Durante o tratamento de um resíduo apresentando cor, deve-se prestar atenção a redução ou eliminação da cor, contribuindo desta forma a reduzir o impacto sobre os ecossistemas onde são lançados (RODRÍGUEZ et al., 2003). Com essa proposta de novos tratamentos, os processos biotecnológicos estão sendo considerados como uma alternativa geradora de bens e serviços pois as indústrias que produzem conseguem transformar seus resíduos em produtos úteis através da utilização do seu próprio potencial de reação por meio de bioprocessos. Seguindo essa linha, os fungos realizam uma importante posição no processo da bioconservação ao serem capazes de reduzir a quantidade de resíduos, e também minimizarem a poluição pela redução de DQO e DBO, além de se tornarem produtos de interesse de outras indústrias como de enzimas de interesse ambiental, alimentos e papel. Uma das formas de reaproveitamento utilizada da vinhaça através do processo de biodegradação é a sua utilização no reuso da água em processos na indústria como a lavagem da cana, que por sua forma reduz a contaminação dos corpos hídricos e do solo pelo seu armazenamento em zonas de sacríficio nas regiões que tenham o lençol freático próximo a superfície. Proposição de reuso da água residuária: As águas nas usinas sucroalcooleiras podem ser utilizadas de diversas formas, como: mistura de produtos, lavagem das máquinas, tubulações e pisos, sistemas de refrigeração e geradores de vapor, e água utilizada diretamente para fins sanitários ou etapas de processos industriais. As águas residuárias do setor sucroalcooleiro são formadas pela junção de diversos efluentes industriais das diversas etapas do processo de fabricação, que vão desde purgas dos 32 sistemas fechados de resfriamento, purgas dos retentores de material particulados provenientes das chaminés das caldeiras, sobra de água condensadas a água de lavagem de pisos e equipamentos (ANA, 2009) e para a escolha do tratamento da água residuária, deve- se levar em consideração as características do efluente. Os benefícios do reuso da água podem ser divididos nas três categorias, sendo elas a ambiental, econômica e social. Para o meio ambiente, o reuso da água pode ajudar a reduzir o lançamento de efluentes industriais nos cursos d'água, reduzir a captação de águas superficiais e subterrâneas e fornecer mais água para usos mais exigentes (como abastecimento público e hospitalar). Pode ser tratado de 3 maneiras, sendo duas tecnologias de tratamento físico e uma biológica. Nos tratamentos físicos tem o sistema convencional que utiliza o ciclo completo, ou seja, coagulação, floculação, sedimentação, filtração e desinfecção com cloro. Em alguns processos, é utilizado também o carvão ativado que tem como finalidade a remoção de odor, sabor e produtos orgânicos. Nos tratamentos físicos tem também a utilização da filtração direta descendente que contém apenas etapas de mistura rápida, floculação e filtração. Enquanto a mistura rápida é a etapa destinada a dispersar produtos químicos a floculação é a etapa requerida para permitir a agregação de partículas desestabilizadas na mistura rápida. Já a tecnologia biológica, pode ser usada um tratamento separado em duas etapas, incialmente pelo tratamento preliminar para a remoção de sólidos grosseiros através do gradeamento e desarenadores e em seguida o tratamento biológico com reatores aeróbios e anaeróbios. Produção + Limpa Existem processos com cunho redutivo ou corretivo, para amenizar os impactos, quantidade e toxidade dos resíduos gerados durante a produção sucroalcooleira. Podemos destacar os processos de Produção Mais Limpa (P+L) e Prevenção a Poluição (P2). Produção Mais Limpa se aplica em 3 etapas no fluxo da produção: no processo produtivo, nos produtos e nos serviços. Em processos produtivos ele visa a conservação de matéria prima, eliminando os itens tóxicos, reduzindo a quantidade e toxidade dos resíduos. As medidas para os produtos, visam a redução de impactos causados pelo produto final ao longo do ciclo devida, diminuindo seu impacto ambiental desde a matéria primas. Dentre os serviços, o que pode ser feito é a incorporação da sustentabilidade durante o processo de planejamento e também na execução de serviços. A Prevenção a Poluição se baseia em procedimentos preventivos, sendo adotada através de práticas, processos, técnicas e tecnologias. 33 Essas técnicas se complementam, ambas com o objetivo de minimizar desde o início do ciclo de vida (produção) dos produtos para que seja mais sustentável, também pontuando para as indústrias as vantagens que ela adquire realizando um produção com menos resíduos, como por exemplo a economia de insumos, aproveitando-o melhor no fluxo da produção. Na indústria sucroalcooleira, temos na aplicação dessas técnicas a redução e/ou reutilização de parte desses insumos durante o processo de produção do álcool, ou posteriormente, realizando reuso ou reciclagem desse material dentro ou até fora do processo produtivo. Aplicando essas técnicas na produção de álcool, podemos realizar a economia de água, por exemplo, diminuindo a vazão da água removendo a seco parte de impurezas. Grande parte de resíduos gerados nesse processo possuem reutilização posterior a linha de produção, como a vinhaça, a água para retirada de incrustações e das dornas podem ser utilizadas como fertilizantes ou adicionadas durante o processo de fabricação desse tipo de produto, assim como o vinhoto. Dessa maneira, a emissão de resíduos é muito reduzida e o volume que ainda é produzido pode ser reaproveitado para fabricação de outros produtos ou utilizado como produto final. Tecnologia para tratamento da vinhaça por fungos A vinhaça especificamente, é produzida após a fermentação do mosto e destilação do vinho, apresenta uma composição principalmente matéria orgânica, ou seja, possui alto potencial poluente quando disposta em corpos hídricos. Para remediar isso, é possível aplicar fungos como o basidiomiceto Pleurotus sajor-caju CCB 020, que atua realizando a destoxificação, melhorando a qualidade e podendo utilizá-la como água de reuso. Esse processo é baseado em uma espécie comestível, que produz uma biomassa que pode ser reaproveitada em manufaturas de rações ou alimentação ou extração de produtos de interesse comercial. 7. Memorial descritivo 7.1 Fluxograma do tratamento O fluxograma do tratamento a ser adotado na indústria é apresentado na figura abaixo: 34 Figura 7. Fluxograma do tratamento de efluentes industriais na produção do álcool. Fonte: Autores. 7.2 Caracterização das unidades de tratamento 7.2.1 Gradeamento: Objetiva na retenção de materiais grosseiros em suspensão, evitando obstruções e danos aos equipamentos eletromecânicos como bombas e tubulações. O gradeamento pode ser constituído de telas e grades de ferro ou aço carbono dependendo da ação corrosiva do efluente e posicionada transversalmente no canal de entrada do efluente, com ângulos de 45° a 90°. As grades podem ser classificadas como finas, médias e grosseiras e tem sua espessura e espaçamento entre grades de acordo com as características do efluente. Podem ser separadas como grades simples que são utilizadas quando o volume de sólidos que será retido não é grande tendo a limpeza manual, e as grades mecanizadas que faz a remoção dos materiais grosseiros utilizando um rastelo que se desloca por trilhos tendo a limpeza mecânica. 7.2.2 Desarenador (Caixa de Areia): É o equipamento utilizado para remover substâncias inertes, como partículas de areias e sólidos minerais sedimentáveis, que passaram pelo passaram pelo processo de gradeamento, pois evitam que as mesmas causam entupimentos nas tubulações e interfiram negativamente nos processos biológicos. Além disso, esta etapa é muito importante para proteger os equipamentos, como bombas, válvulas e canalizações, evitando o entupimento e abrasão. Este equipamento é formado por dois canais paralelos independentes que faz com que as partículas se sedimentam durante o percurso. 35 7.2.3 Medidor Calha de Parshall: É o equipamento utilizado para medição contínua de vazão, através do estrangulamento e ressaltos que estabelecem uma relação entre vazão do fluxo e a lâmina d’água naquela seção, garantindo uma velocidade constante e precisão nas leituras. 7.2.4 Tanque de Equalização: É o equipamento que faz com que o efluente fique completamente homogeneizado através de uma mistura e equalização das varrições dos fluxos do efluente bruto que entraram na estação de tratamento. Esse processo pode ocorrer pela passagem do efluente em uma lagoa ou tanque para que haja tempo de retenção suficiente para gerar um efluente bruto homogêneo em sua saída. É considerado um processo importante pois minimiza problemas de operação que são causados pela variação das características do efluente, além de melhorar a qualidade final do efluente que foi tratado, estabilizar o pH e diluir as substâncias inibidoras. 7.2.5 Tratamento Anaeróbio (Reator UASB): O reator UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket) é um reator anaeróbio de fluxo ascendente que contem alta eficiência. Os efluentes líquidos, na maioria das vezes, são dirigidos por gravidade e devem passar por um sistema de retenção dos sólidos grosseiros. Logo após, devem fluir para o equalizador ou a elevatória. No tanque equalizador será realizada a correção do pH, se necessário. Em muitos casos devemos adicionar nutrientes para, em seguida, o líquido ser bombeado para o reator UASB de manta de lodo. No reator anaeróbio de manta de lodo o efluente entra pela parte inferior em fluxo ascendente. Passando através de um leito de lodo denso e de elevada atividade. O perfil de sólidos no reator possui grande variação. Desde muito denso e com partículas granulares de elevada capacidade de sedimentação, próximas ao fundo (leito de lodo). Até um lodo mais disperso e leve, próximo ao topo do reator (manta de lodo). As vantagens de utilização do reator UASB são a baixa produção de lodo, menor remoção e menor necessidade de nutrientes, baixo consumo de energia e alto grau de estabilização do efluente. Em contrapartida, necessita-se de um pós-tratamento e tem possibilidade de geração de maus odores e corrosão, dentre outros fatores. 7.2.6 Filtros biológicos Os filtros são aplicados após reatores UASB, para se garantir efluente final com DBO < 60 mg/L, mesmo em condições operacionais que resultam um tempo de detenção. 36 7.2.7 Decantador Secundário O Decantador Secundário promove a remoção dos sólidos suspensos através da sedimentação das partículas sólidas. Ou seja, fornecer um efluente clarificado, límpido, com baixa turbidez (sólidos suspensos), e com isso pode até ser lançado no corpo receptor (em alguns casos) e também fornecer um lodo espesso que retorna (lodo recirculado) para o processo de tratamento com a finalidade de manter a concentração adequada de sólidos no processo (balanço de massas). 7.2.8 Centrífuga A centrífuga é um equipamento mecânico, que acelera a desidratação do lodo. A água de drenagem do processo é transportada por gravidade para a extremidade para a estação de tratamento de água, enquanto a lama desidratada pela centrífuga para desidratação de lodo pode ser utilizada como fertilizante para a agricultura ou destinada ao aterro sanitário. 8. Memorial de cálculo 8.1 Dados de entrada Considerando que a usina de álcool em questão é de pequeno porte, abaixo estão os dados necessários para o dimensionamento das unidades de tratamento selecionadas. Quadro 1: dados necessários para o dimensionamento. Qe – Vazão média do efluente da indústria (L/s) 6 Qr - Vazão do corpo receptor (L/s) 290 Tempo de funcionamento da indústria (h/dia) 8 Equivalente Populacional (habitantes) 34,481 8.2 Dimensionamento das unidades de tratamento Para o dimensionamento da estação de tratamento de efluentedoméstico foi necessária a adoção de alguns parâmetros com base na revisão bibliográfica. O memorial de cálculos do dimensionamento está abaixo: 37 8.2.1 Gradeamento Vazão Média (𝑄𝑚𝑒𝑑) = 0.16 𝑚 3/𝑠 Coeficiente de Pico = 1.95 Profundidade (h) = 0.7 m Espaçamento (a) = 2 cm Espessura (t) = 0.64 cm V =1,2 m/s 𝑄𝑚𝑎𝑥= 1.95*0,16= 0,312 m³/s 𝐴𝑢 = 𝑄 𝑣 = 0,312 1,2 = 0,26 m² Eficiência da grade (E) E = 𝑎 𝑎+𝑡 = 0.75 ou 75% 𝑆 = 𝐴𝑢 𝐸 = 0,26 0,75 = 0,34 m² 𝐿 = 𝑆 ℎ = 0,34 0,7 = 0,48 m Após o cálculo da Largura: Largura (L) = 0,5 m Seção do canal junto à grade (S) S = L * h = 0,5 * 0.7 = 0,35 𝑚2 Velocidade de aproximação (𝑣0) 𝑣0 𝑚𝑎𝑥 = 𝑄𝑚𝑎𝑥 𝑆 = 0,312 0,35 = 0.8914 m/s 38 𝑣0 𝑚𝑒𝑑 = 𝑄𝑚𝑒𝑑 𝑆 = 0.16 0,35 = 0.4571 m/s Área útil (Au) Au = S * E = 0,35 * 0.75 = 0,26 m² Velocidade de passagem (v) 𝑣𝑚𝑎𝑥 = 𝑄𝑚𝑎𝑥 𝐴𝑢 = 0,312 0,26 = 1,2 m/s 𝑣𝑚𝑒𝑑 = 𝑄𝑚𝑒𝑑 𝐴𝑢 = 0.16 0,26 = 0.6153 m/s Número de Barras (𝑁𝑏) e Número de espaçamentos (𝑁𝑒) { 𝑁𝑒 = 𝑁𝑏 + 1 𝐿 = 𝑎 ∗ 𝑁𝑒 + 𝑡 ∗ 𝑁𝑏 𝑁𝑏 = 93 𝑒 𝑁𝑒 = 94 Perda de Carga (h) ℎ𝑓 = 1.43 ∗ ( 𝑣2 – 𝑣0 2 2∗𝑔 ) ℎ𝑓_𝑚𝑎𝑥 = 0.047 𝑚 ℎ𝑓_𝑚𝑒𝑑 = 0.0123 𝑚 39 8.2.2 Caixa de areia Velocidade de Sedimentação (Vs) = 0,02 m/s Largura (B) = 0,3 m. Fonte: dos autores. Velocidade de sedimentação (𝑣𝑠) = 0.021 m/s Velocidade de fluxo longitudinal (𝑣ℎ) = 0.3 m/s Vazão Média (𝑄𝑚𝑒𝑑) = 0.16 𝑚 3/𝑠 Largura da caixa (B) = 3 m Diâmetro das partículas > 0.2 mm Área da base da caixa de areia (𝐴𝑏) 𝐴𝑏 = 𝑄 𝑣𝑠 = 0.16 0.021 =7,619048 m² Comprimento da caixa de areia (L) 𝐴𝑏 = 𝐵 ∗ 𝐿 L = 2,539683 m Adotar um fator de segurança de 1.5, assim: L = 1.5 * 2,5396= 3,809524 m Altura da caixa de areia (h) 𝑣ℎ = 𝐿 t → 𝑡 = 𝐿 𝑣ℎ = 8,465608 s 𝑣𝑠 = 𝐻 t → 𝐻 = 𝑣𝑠 ∗ 𝑡 = 0.021 * 8,465608 = 0,1777 m → SEM O FATOR DE SEGURANÇA 40 𝑣𝑠 = 𝐻 t → 𝐻 = 𝑣𝑠 ∗ 𝑡 = 0.021 * (8,465608*1,5) = 0,2666 m → COM O FATOR DE 8.2.3 Calha Parshall Para a determinação das Calhas Parshall disponível no projeto foi tomado como base a Tabela de dimensões de Parshall, que através das vazões máximas e mínimas é possível descobrirem a largura da garganta. Para os cálculos das vazões máximas e mínimas utilizaram-se as seguintes equações: 𝑄𝑚á𝑥, 𝑄𝑚𝑒𝑑 𝑄𝑚𝑖𝑛 , 𝑄𝑚𝑒𝑑 Onde: K1= 1,2; K2= 1,5 e K3= 0,5 Tabela de dimensões da calha parshall: Foi adotado W= 45,7 cm 𝑄𝑚𝑒𝑑 = 160 𝐿/𝑠 41 𝑄𝑚𝑖𝑛 = 0,8 𝐿/𝑠 𝑄𝑚á𝑥 = 288 𝐿/𝑠 i) Altura da lâmina (H) Onde: K= 1,054 e n= 1,538 𝐻 𝑀á𝑥 = 0,160 1,054 ( 1 1,538 ) Hméd = 0,29 m 𝐻 𝑀á𝑥 = 0,288 1,054 ( 1 1,538 ) H= 0,42 m 𝐻 𝑀í𝑛 = 0,08 1,054 ( 1 1,538 ) H Mín = 0,18 m iv) Medidor de Vazão (Z) 42 (𝑄𝑚á𝑥 × 𝐻𝑚í𝑛) − (𝑄𝑚𝑖𝑛 × 𝐻𝑚á𝑥) 𝑍 = 𝑄𝑚á𝑥 – 𝑄𝑚í𝑛 Z = (0,288∗0,18)−(0,08∗0,42) 0,288−0,08 𝑍 = 0,087 𝑚 Ao aplicar os valores na equação foi obtido um rebaixamento de calha Z = 8,7 cm. Uma vez que este valor foi encontrado é só reajustar a altura das lâminas máxima e mínima de esgoto, esse reajuste é feito calculando a diferença da lâmina pelo rebaixamento, Hmín = 18 – 8,7 = 9,3 cm e Hmáx = 42- 8,7 = 33,3 cm. 8.2.4 Tanque de equalização Para o dimensionamento do tanque de equalização, tomou-se a altura útil igual a 2,0m e a altura do volume mínimo de 1m. Para fins de cálculo foram utilizadas as equações. ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑑𝑒 𝑓𝑢𝑛𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 𝑉𝑒𝑞 = 𝑄𝑒 ( ) ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑑𝑒 𝑓𝑢𝑛𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝐸𝑇𝐸 𝑉𝑒𝑞 = (𝑄𝑒 − 𝑄𝑠) × 𝑡 𝑉𝑒𝑞 𝑡 = ( ) 𝑄 𝑉𝑒𝑞 = 𝐿² × 𝐻 𝑉𝑇 = 𝑉𝑒𝑞 + 𝑉𝑚𝑖𝑛 𝐷𝑃 × 𝑉𝑡 𝑃 = ( ) Calculo da vazão de saída 𝑉𝑒𝑞 = 620 ( ) V eq = 206 m³/h V eq mín = 300 m³/h 43 Volume de equalização 𝑉𝑒𝑞 = (620 − 300) × 8 𝑉𝑒𝑞 = 2560 𝑚³ Tempo de detenção hidráulica 𝑡 = ( 2560 600 ) 𝑡 = 4,26 ℎ Volume Total 𝑉𝑚𝑖𝑛 = 2 × 15 × 15 Vmín = 450 m³ V eq = L² * H 3L ² = 2560 m³ L ² = 853, 33 m 𝐿 = √853,33 L = 29, 21 m V eq = b * L *H b = 𝑣𝑒𝑞 𝐿∗4 b = 2560 29,21∗3 b = 29,21 m 44 VT = (V eq + V mín ) VT = 2560 + 450 VT = 3010 m³/h Potência do agitador 𝑃 = ( 10∗301𝑂 745 ) 𝑃 = 40,40 𝐻𝑃 8.2.5 Reator UASB 8.2.5.1 Critérios técnicos de dimensionamento Quadro 1. Parâmetros adotados para estimativas de cálculo. Parâmetros Carga Orgânica Variável (COV) 35 kg DQO/m³.dia (JORDÃO & PESSOA, 1995) Velocidade de Escoamento 0,6 m/h (CHENICHARO, 1997) Concentração do substrato (S) 23,8 kg DQO/m³ (JORDÃO & PESSOA, 1995) Vazão média (Q) 300 m³/dia Vazão máxima (Q) 360 m³/dia (8640 m³/dia) Volume do Reator Para efluentes industriais, a COV pode variar entre 25 a 35 kg DQO/m3.dia Considerando a característica do efluente a ser tratado na indústria em questão, adotamos a COV e concentração do substrato (S) de 35 kg DQO/m³.dia e 23,8kg DQO/m³, respectivamente (JORDÃO, PESSOA, 1995). Considerando a vazão máxima do efluente como 20% maior que a vazão média a como 20% maior que a vazão média (GEHRING, 2014), obtivemos uma vazão máxima de 360 m³/h (8640 m³/dia). Assim, o volume do reator UASB foi obtido por meio da seguinte equação: 45 𝑽 = 𝑸 𝒙 𝑺 𝑪𝑶𝑽 Em que: V: Volume do reator (m³) COV: Carga Orgânica Volumétrica (kg DQO/m³.dia) S: Concentração de Substrato (kg DQO/m³) Q: Vazão (m³/dia) 𝑽 = 8640( 𝑚3 𝑑𝑖𝑎 ) 𝑥 23,8 ( 𝑘𝑔𝐷𝑄𝑂 𝑚3 ) 35 ( 𝐾𝑔𝐷𝑄𝑂 𝑚3𝑑𝑖𝑎 ) 𝑽 = 5875,2 𝑚³ Adotamos quatro (4) reatores UASB com volume de 1500 m³, totalizando um volume de 6000 m³. Carga Hidráulica Volumétrica (CHV) A carga hidráulica volumétrica é calculada dividindo-se a vazão (Q) pelo volume (V) do reator, por meio da seguinte relação: 𝑪𝑯𝑽 = 𝑸 𝑽 Em que: V: Volume do reator (m³) CHV: Carga Hidráulica Volumétrica (m³/m³.dia) Q: Vazão (m³/dia) 𝑪𝑯𝑽 = 8640( 𝑚3 𝑑𝑖𝑎 ) 6000 𝑚³ 𝑪𝑯𝑽 = 1,44 𝑚3/𝑚³. 𝑑𝑖𝑎 Tempo de Retenção Hidráulico (Ɵ) O tempo de retenção hidráulico é o inverso da Carga Hidráulica Volumétrica, sendo obtido por meio da seguinte relação: 𝑻𝒆𝒎𝒑𝒐 𝒅𝒆 𝒓𝒆𝒕𝒆𝒏çã𝒐 𝒉𝒊𝒅𝒓á𝒖𝒍𝒊𝒄𝒐 (Ɵ) = 𝑽 𝑸 Em que: Ɵ: Tempo de retenção hidráulico (h) V: Volume do reator (m³) 46 Q: Vazão (m³/dia) 𝑻𝒆𝒎𝒑𝒐 𝒅𝒆 𝒓𝒆𝒕𝒆𝒏çã𝒐 𝒉𝒊𝒅𝒓á𝒖𝒍𝒊𝒄𝒐 (Ɵ) = 6000 𝑚³ 8640 𝑚3/𝑑𝑖𝑎 𝑻𝒆𝒎𝒑𝒐 𝒅𝒆 𝒓𝒆𝒕𝒆𝒏çã𝒐 𝒉𝒊𝒅𝒓á𝒖𝒍𝒊𝒄𝒐 (Ɵ) = 0,69 𝑑𝑖𝑎 𝑜𝑢 16,6 ℎ Velocidade de escoamento (v) e altura do reator (H) A altura (H) do reator foi obtida por meio da seguinte relação: 𝑯 = 𝒗 . Ɵ Em que: Ɵ: Tempo de retenção hidráulico (h) H: Altura do reator (m) v: Velocidade de escoamento (m/h) Adotamos a velocidade de escoamento sugerido por CHERNICHARO (1997): 0,6 m/h. 𝑯 = 0,6 ( 𝑚 ℎ ) . 16,56(ℎ) 𝑯 = 9,96 𝑚 A altura do reator UASB foi maior do que a recomendada por CHERNICHARO (1997). Por esta razão, para efeito dos cálculos seguintes, adotamos a altura de 5 m. Área do reator (A) A área do reator (A) foi obtida por meio da seguinte relação: 𝑨 = 𝑽 𝑯 Em que: A: Área do reator (m²) H: Altura do reator (m) V: Volume de cada reator (m³) 𝑨 = 1500 (𝑚3) 5 (𝑚) 𝑨 = 300 𝑚²47 Diâmetro do reator (D) O diâmetro do reator (D) foi obtido por meio da seguinte relação: 𝑫 = √ 𝟒 𝒙 𝑨 𝜋 Em que: A: Área do reator (m²) D: Diâmetro do reator (m) 𝑫 = √ 𝟒 𝒙 𝟑𝟎𝟎 (𝒎𝟐) 𝜋 𝑫 = 19,55 𝑚 Número de distribuidores (ND) O número de distribuidores pode ser calculado dividindo-se a área do reator, pela área de influência de cada tubo (Ai), que pode variar de 2 a 3 m² (CHERNICHARO, 2007). Sendo assim, no presente estudo adotamos Ai de 2,5 m², como se segue: 𝑵𝑫 = 𝑨 𝑨𝒊 Em que: ND: Número de distribuidores Ai: Área de influência de cada tubo (m²) A: Área do reator (m²) 𝑵𝑫 = 300 𝑚² 2,5 𝑵𝑫 = 120 𝑑𝑖𝑠𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 Vazão de recirculação (Qr) A vazão de recirculação é importante para manter a velocidade de escoamento de acordo com os valores recomendados pela literatura. Para obtenção deste parâmetro, consideramos a altura de 5 m para os reatores e a velocidade de escoamento de 0,6 m/h (14,4 m/dia) (CHERNICHARO, 1995). Para efeito de cálculo consideramos quatro reatores com área total de 1200 m². Obtivemos a vazão de recirculação por meio da seguinte relação: 48 𝒗 = 𝑸+𝑸𝒓 𝑨 Em que: Qr: Vazão de recirculação (m³/dia) Q: Vazão do efluente (m³/dia) A: Área do reator (m²) v: velocidade de escoamento (m/h) 14,4 ( 𝑚 ℎ ) = 8640 ( 𝑚3 𝑑𝑖𝑎 )+𝑸𝒓 1200 (𝑚²) 𝑸𝒓 = 8640 𝑚3/𝑑𝑖𝑎 Eficiência de remoção de DQO (E) A eficiência do sistema na remoção de DQO para reatores pode ser estimada através da seguinte equação (CHERNICHARO, 1997): 𝑬𝑫𝑸𝑶 = 𝟏𝟎𝟎(𝟏 − 𝟎, 𝟔𝟖. Ɵ−𝟎,𝟑𝟓) Em que: EDQO: Eficiência de remoção de DQO (%) Ɵ: Tempo de retenção hidráulica (h) 𝑬𝑫𝑸𝑶 = 100(1 − 0,68. 16,6−0,35) 𝑬𝑫𝑸𝑶 = 75% Portanto, para um tempo de retenção hidráulica de 16,6 horas, a eficiência de remoção de DQO estimada é de 75%. Carga de DQO Para estimarmos a carga de DQO utilizamos a seguinte relação: 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒂𝒇𝒍 = 𝑸𝒎𝒆𝒅 𝒙 𝑺 Em que: Qmed: Vazão média (m³/dia) S: Concentração de DQO afluente (23,8 kg DQO/m³) 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒂𝒇𝒍 = 7200 ( 𝑚3 𝑑𝑖𝑎 ) 𝑥 23,8 (𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂 𝑚3 ) 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒂𝒇𝒍 = 171360 𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂/𝑑𝑖𝑎 49 Carga orgânica removida Para estimarmos a carga orgânica removida, utilizamos a seguinte relação: 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒐𝒓𝒈 = 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒂𝒇𝒍 𝒙 𝑬 Em que: Carga DQOafl: Carga de DQO do afluente (kg DQO/dia) E: Eficiência de remoção de DQO (%) Carga DQOorg: Carga orgânica DQO removida (kg DQO/dia) 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒐𝒓𝒈 = 171360 (𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂 𝑑𝑖𝑎 ) 𝑥 0,75 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒐𝒓𝒈 = 128520 𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂/𝑑𝑖𝑎 Carga orgânica residual Para estimarmos a carga orgânica residual, utilizamos a seguinte relação: 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒆𝒇𝒍 = 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒂𝒇𝒍 𝒙 (𝟏 − 𝑬) Em que: Carga DQOafl: Carga de DQO do afluente (kg DQO/dia) E: Eficiência de remoção de DQO (%) Carga DQOefl: Carga orgânica DQO do efluente (kg DQO/dia) 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒆𝒇𝒍 = 171360 (𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂 𝑑𝑖𝑎 )𝑥 (1 − 0,75) 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒆𝒇𝒍 = 42840 𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂/𝑑𝑖𝑎 Produção de lodo Adotamos o Coeficiente de produção dos sólidos (Y) de 0,18 kg SS/kg DQO conforme GOMES (2013). Assim, para estimarmos a produção do lodo, adotamos a seguinte relação: 𝑷𝒓𝒐𝒅𝒖çã𝒐 𝒅𝒆 𝒍𝒐𝒅𝒐 (𝑷𝑳) = 𝒀 𝒙 𝑪𝒂𝒓𝒈𝒂 𝑫𝑸𝑶𝒂𝒇𝒍 50 Em que: PL: Produção de lodo (kg SS/dia) Y: Coeficiente de Produção de Sólidos (kg SS/Kg DQO) Carga DQOafl: Carga de DQO afluente (kg DQO/dia) 𝑷𝒓𝒐𝒅𝒖çã𝒐 𝒅𝒆 𝒍𝒐𝒅𝒐 (𝑷𝑳) = 0,18 (𝑘𝑔 𝑆𝑆 𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂) 𝑥 171360 (𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂 𝑑𝑖𝑎 ) 𝑷𝒓𝒐𝒅𝒖çã𝒐 𝒅𝒆 𝒍𝒐𝒅𝒐 (𝑷𝑳) = 30844,8 𝑘𝑔 𝑆𝑆/𝑑𝑖𝑎 Vazão de lodo Adotamos o 4% de teor de sólidos secos (Ts) e densidade (ƿ) de 1020 kg/m³ (Y), conforme GOMES (2013). Assim, para estimarmos a vazão do lodo, adotamos a seguinte relação: 𝑸 𝒍𝒐𝒅𝒐 = 𝑷𝑳 𝑻𝒔 𝒙 ƿ Em que: Q lodo: Vazão do lodo (m³/dia) PL: Produção de lodo (kg SS/dia) Ts: Teor de sólidos secos (%) ƿ: Densidade (kg/m³) 𝑸 𝒍𝒐𝒅𝒐 = 30844,8 (𝑘𝑔 𝑆𝑆 𝑑𝑖𝑎 ) 0,04 𝑥 1020 ( 𝑘𝑔 𝑚3 ) 𝑸 𝒍𝒐𝒅𝒐 = 756 𝑚3/𝑑𝑖𝑎 Portanto, a vazão do lodo estimada é de 756 m³/dia. Produção do biogás (PB) A produção de biogás pode ser estimada da seguinte forma, considerando a vazão média de vinhaça: 𝑷𝒓𝒐𝒅𝒖çã𝒐 𝒅𝒐 𝑩𝒊𝒐𝒈á𝒔 (𝑷𝑩) = 𝑪𝑶 𝒙 𝑬 𝒙 𝑭 Em que: PB: Produção do biogás (Nm³/dia) CO: Carga Orgância (kg DQO/dia) E: Eficiência de remoção (%) F: Fator de conversão de biogás por kg DQO removida (0,45 Nm³/kg DQO) 𝑷𝑩 = 7200 ( 𝑚3 𝑑𝑖𝑎 ) 𝑥 23,8 (𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂 𝑚3 ) 𝑥 0,75 𝑥 0,45 ( 𝑁𝑚3 𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂) 𝑷𝑩 = 57834 𝑁𝑚3/𝑑𝑖𝑎 51 Portanto, é estimada uma produção diária de 57834 Nm³/dia de biogás nas condições normais de temperatura e pressão. Geração de energia contida no biogás (GEN) A quantidade de energia pode ser estimada pela seguinte equação: 𝑮𝑬𝑩 = 𝑷𝑩 𝒙 𝑷𝑪𝑰𝑩 Em que: PB: Produção do biogás (Nm³/dia) GEB: Geração de Energia contida no Biogás (kcal/dia) PCIB: Poder Calorífero Inferior do Biogás (5100 kcal/Nm³; GRANATO, 2003) 𝑮𝑬𝑩 = 57834 ( 𝑁𝑚3 𝑑𝑖𝑎 ) 𝑥 5100 ( 𝑘𝑐𝑎𝑙 𝑁𝑚3 ) 𝑮𝑬𝑩 = 294.953,400 (𝑘𝑐𝑎𝑙/𝑑𝑖𝑎) Energia Elétrica Gerada Admite-se a adoção de um sistema de geração utilizando motores de combustão interna de ciclo Otto (GEHRING, 2007), por apresentar elevados índices de eficiência elétrica (35 - 45%) quando comparadas com outras tecnologias. Esse sistema possui uma eficiência na faixa de 20 a 60%. Assim, adotamos 40% de eficiência elétrica, considerando a seguinte equação: 𝑬 = 𝑮𝑬𝑩 𝑿 ɳ Em que: E: Energia elétrica gerada por dia (kWh/dia) GEB: Quantidade de energia contida no biogás (kwh/dia) ɳ: Eficiência elétrica (40%) 𝑬 = 294.953,400 ( 𝑘𝑊ℎ 𝑑𝑖𝑎 ) 𝑋 0,4 𝑬 = 117.981,36 𝑘𝑊ℎ/𝑑𝑖𝑎 Assim, estima-se que a energia gerada por dia pela usina é 117.981,36 kWh/dia ou 117,981 MWh/dia. Para obtermos a potência de geração basta dividir a energia gerada por 24 horas. Portanto, a potência de geração de energia da usina equivale à 4.915,89 kW ou 4,91 MW. 52 8.2.6 Centrífuga Sistema de desidratação do lodo O lodo contem alto teor de umidade, sendo necessária sua desidratação. Para tanto, adotamos o sistema de desidratação mecânico do tipo centrífuga. Consideramos que a centrífuga opera 8 horas/dia e coeficiente de segurança (pico) de 1,15. Capacidade total da centrífuga 𝑪𝒂𝒑𝒂𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒂 𝒄𝒆𝒏𝒕𝒓í𝒇𝒖𝒈𝒂 = 𝑸𝒍𝒐𝒅𝒐 𝒙 𝟏,𝟏𝟓 𝒕 Em que: Q lodo: Vazão do lodo (m³/dia) t: Tempo de operação da centrífuga (h) 𝑪𝒂𝒑𝒂𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒂 𝒄𝒆𝒏𝒕𝒓í𝒇𝒖𝒈𝒂 = 756 ( 𝑚3 𝑑𝑖𝑎 ) 𝑥 1,15 8 ( ℎ 𝑑𝑖𝑎 ) 𝑪𝒂𝒑𝒂𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒂 𝒄𝒆𝒏𝒕𝒓í𝒇𝒖𝒈𝒂 = 108,67 𝑚3/ℎ Portanto, consideremos a capacidade da centrífuga de 110 m³/h. Uso diário de polieletrólitos Serão empregados polímeros para condicionar o lodo e facilitar seu desaguamento, ou centrifugação. Consideramos o uso de polieletrólitos na razão de 6 kg por tonelada de lodo afluente à centrífuga (JORDÃO e PESSÔA, 1995). Para o cálculo adotamos a seguinte relação: 𝑸𝒖𝒂𝒏𝒕𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒆 𝒑𝒐𝒍𝒊𝒆𝒕𝒓ó𝒍𝒊𝒕𝒐𝒔 𝒑𝒐𝒓 𝒅𝒊𝒂 = 𝟔 (𝒌𝒈 𝒑𝒐𝒍𝒊𝒎𝒆𝒓𝒐 𝒕𝒐𝒏𝑺𝑺 ) 𝒙 𝑷𝑳 ( 𝒕𝒐𝒏𝑺𝑺 𝒅𝒊𝒂 ) Em que: PL: produção de lodo (ton/dia) t: Tempo de operação da centrífuga (h) 𝑸𝒖𝒂𝒏𝒕𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒆 𝒑𝒐𝒍𝒊𝒆𝒕𝒓ó𝒍𝒊𝒕𝒐𝒔 𝒑𝒐𝒓 𝒅𝒊𝒂 = 6 (𝑘𝑔 𝑝𝑜𝑙𝑖𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑡𝑜𝑛𝑆𝑆 ) 𝑥 30,84 ( 𝑡𝑜𝑛𝑆𝑆 𝑑𝑖𝑎 ) 𝑸𝒖𝒂𝒏𝒕𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒆 𝒑𝒐𝒍𝒊𝒆𝒕𝒓ó𝒍𝒊𝒕𝒐𝒔 𝒑𝒐𝒓 𝒅𝒊𝒂 = 185,04 𝑘𝑔 𝑝𝑜𝑙í𝑚𝑒𝑟𝑜/𝑑𝑖𝑎 Vazão de lodo para
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