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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 2 AUTORIDADES Governador do Estado do Rio de Janeiro Exmº Sr Wilson Witzel Secretário de Estado de Polícia Militar Exmº Sr Coronel Rogério Figueredo de Lacerda Subsecretário de Estado de Polícia Militar Ilmº Sr Coronel Márcio Pereira Basílio Diretor-Geral de Ensino e Instrução Ilmº Sr Coronel Rogério Quemento Lobasso Comandante do CFAP 31 de Voluntários Ilmº Sr Coronel PM Marcelo André Teixeira da Silva Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar - CEADPM Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Maximiano Boaventura Bresciani LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 3 APRESENTAÇÃO Estamos vivendo a era da tecnologia, na qual a informação está cada dia mais latente e veloz em nossa rotina diária. Este curso tem por objetivo , aperfeiçoar os 2º Sargentos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Para tal, o Curso ocorrerá na modalidade semipresencial, através de módulos, sendo destes um disponibilizado no ambiente virtual de aprendizagem, por intermédio da Escola Virtual, no Centro de Educação a Distância da Polícia Militar (CEADPM) e um módulo de disciplinas práticas ministrado do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP 31 Vol.). É fundamental o seu empenho no curso, pois você terá na parte EaD autonomia de estudos e de horários, mas também é necessário disciplina e dedição para o êxito dessa jornada, pois depende do esforço coletivo e também individual para que tenhamos policiais cada vez mais qualificados,bem treinados e aperfeiçoados para cumprirmos nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas ações. O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, na era da informação e da tecnologia, precisamos nos aprimorar cada vez mais a fim de garantir uma tropa consciente, respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, garantindo assim o cumprimento de suas funções com dignidade e excelência. Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos através deste curso e busque uma reflexão acerca de suas funções perante a sociedade, seus companheiros de profissão. Que seja um momento de repensar as práticas e fortelecer seu vínculo profissional, ampliando cada vez mais seus conhecimentos para lidar com as particularidades de ser um Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro. Desejamos a todos bons estudos! Rogério Quemento Lobasso - Coronel PM Diretor-Geral de Ensino e Instrução Marcelo André Teixeira da Silva – Ten. Coronel PM Comandante do CFAP LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 4 Desenvolvedores CEADPM Supervisão Geral EAD CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva Equipe Técnica SUBTEN PM Wilian Jardim de Souza 3º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos Diagramação 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes CB PM Michele Pereira da Siva de Oliveira CB PM Thiago Silva Amaral Design Instrucional CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva CB PM Michele Pereira da Siva de Oliveira Vídeo e animação CB PM Joyce Gaspar de Almeida Designer Gráfico 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes SD PM Leonardo da Silva Ramos Suporte ao Aluno 2º SGT PM Anderson Inacio de Oliveira CFAP Supervisão Geral do Curso MAJ PM Maria Isabel Conceição Silva Sardinha Coordenação Pedagógica CAP PM Ped Patrícia Kalife Paiva Equipe Técnica TEN PM Ped Paulo Paulo Baptista 2ºSGT PM Elaine Xavier Oliveira Alves de Lima CB PM Juliana Pereira de Carvalho Conteudista Sr Eduardo Augusto Gonçalves Anjo Revisor de Conteúdo Sr José Carlos Fernandes Mendes - Comissário de Polícia - PCERJ LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS AO DIREITO PROCESSUAL PENAL ..................... 7 INQUÉRITO POLICIAL ......................................................................................................... 9 JUIZ DAS GARANTIAS ...................................................................................................... 23 AÇÃO PENAL E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES. ........................................................ 37 BUSCA E APREENSÃO E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ....................................... 41 PRISÃO ................................................................................................................................. 45 PROVAS ................................................................................................................................ 55 CADEIA DE CUSTÓDIA ..................................................................................................... 59 JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ................................................................................ 63 HABEAS CORPUS E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ................................................ 66 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 68 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 6 INTRODUÇÃO O estudo do Direito Processual Penal é fundamental na formação profissional dos operadores da segurança pública, compreender o que vem a ser o Direito Processual Penal e como o processo penal é instaurado é muito importante em nossa profissão, você sabia? Você sabe quais os tipos de ação penal que existem no Direito brasileiro e quem são os titulares de cada um desses tipos, quais são as peças processuais oferecidas para o início da ação penal? Nesta disciplina iremos conhecer um pouco desse universo. É necessário saber distinguir as provas processuais admitidas pelo ordenamento jurídico brasileiro e como essas provas são produzidas, bem como a sua participação na preservação do local do crime para a colheita do maior número de objetos e informações possíveis ao deslinde do caso. Por isso essa disciplina é importante. Você saberia realizar a revista pessoal e a busca domiciliar seguindo estritamente o que permite a legislação? E diferenciar as várias formas de prisão existentes no Brasil, incluindo quem e em que casos poderão prender em flagrante delito e quais os direitos do aprisionado? Ter conhecimento técnico sobre o instituto do Habeas Corpus e, por derradeiro, o procedimento a ser adotado quando o delito praticado for de menor potencial ofensivo, segundo a Lei n.º 9.099/95, com a ressalva dos delitos que envolvam violência doméstica é algo que precisamos dominar, não acha? O processo penal é o garantidor dos direitos individuais, dos Direitos Humanos e do combate a impunidade. A Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime) trouxe diversas inovações ao Código de Processo Penal, mas foi promulgada sob muita polêmica quanto a sua constitucionalidade. Tanto que foram propostas as ADI’s (Ação Direta de Inconstitucionalidade) nºs. 6.298, 6.299, 6.300 e 6305 questionando diversos artigos da citada lei, entre os quais está previsto o “Juiz das Garantias”, por exemplo. No dia 22/01/2020, o Ministro Luiz Fux, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu pela suspensão da eficácia, por tempo indeterminado, de todos os artigos que tiveram a sua constitucionalidade arguida nas citadas ADI’s. A decisão, proferida de forma cautelar, será posteriormente submetida a referendo do Plenário do STF, para uma decisão definitiva sobre a eficácia dessas novas regras. Vamos estudar!!! LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 7 ELEMENTOS FUNDAMENTAISAO DIREITO PROCESSUAL PENAL Você sabia que o direito processual penal é o ramo do direito público que regula a função do Estado de julgar as infrações penais e aplicar as penas? Em outras palavras, nada mais é do que a violência institucionalizada, organizada, formalizada e socialmente aceita. Pode- se ainda dizer que o processo penal surgiu como um instrumento para evitar a vingança privada, para eliminar o auto juízo, para evitar a dominação do mais forte, resguardando qualquer pessoa frente a outra, como mecanismo para aplicar, de forma racionalizada e alheia aos interesses dos envolvidos, a sanção criminal. Os elementos fundamentais ao processo penal estão em nossa Constituição e por definição correspondem a um mandamento nuclear do processo penal, sendo o alicerce dele, a disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas integrando o espírito da norma e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, definindo a lógica e a racionalidade do sistema processual penal. Conhecer os princípios permite o entendimento das diferentes partes componentes do todo unitário do processo penal ou qualquer outra norma. Em nossa profissão, é comum no calor dos acontecimentos mover-nos a um estágio mais emocional que racional, mas se deve entender que violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer, pois implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo sistema de comandos, sendo a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, porque representa insurgência contra todo o sistema e quiçá a subversão dos valores fundamentais. Dito isto, eis os princípios fundamentais do processo penal comum: Princípio do Devido Processo Legal - “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Princípio da Verdade Real - A função punitiva do Estado deve ser dirigida àquele que realmente cometeu uma infração; Princípio da Imparcialidade do Juiz - Não se pode admitir Juiz parcial. O Estado deve julgar de forma isenta. Princípio da Igualdade das Partes - As partes, embora figurem em polos opostos, situam-se no mesmo plano, com iguais direitos, ônus, obrigações e faculdades. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 8 Princípio da persuasão racional ou do livre convencimento - Esse princípio, impede que o Juiz julgue com o conhecimento que eventualmente tenha extra autos. O Juiz tem inteira liberdade de julgar, valorando as provas como bem quiser sem, contudo, arredar- se dos autos, pois o que não estiver dentro do processo é como se não existisse. O poder do juiz está nos autos! Princípio do Contraditório - “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Princípio da presunção de inocência - Significa que todo acusado é presumido inocente, até que seja declarado culpado por sentença condenatória, com trânsito em julgado e tem por objetivo garantir que o ônus da prova cabe à acusação e não à defesa. Princípio da prevalência do interesse do réu ou “favor rei” (benefício do réu) - em síntese, havendo dúvidas, o réu se acha solto; Princípio do duplo grau de jurisdição - Significa que a parte tem o direito de buscar o reexame da causa pelo tribunal. Princípio do Juiz/ Promotor natural - Significa o direito do réu ser julgado por um juiz/ promotor previamente determinado por lei; Princípio da ampla defesa: Significa que ao réu é concedido o direito de se valer de amplos e extensos métodos para se defender da imputação feita pela acusação; Princípio da Intranscendência: Significa que a ação penal não deve transcender da pessoa a quem foi imputada a conduta criminosa; Princípio da Vedação das Provas Ilícitas: Significa que a parte não pode produzir provas não autorizadas pelo ordenamento jurídico ou que não respeitem as formalidades previstas para a sua formação; Princípio da vedação da dupla punição e do duplo processo pelo mesmo fato: Significa que não se pode processar alguém duas vezes com base no mesmo fato. Conhecidos alguns dos principais princípios orientadores do processo penal, importante frisar que a lei processual penal brasileira só é válida em território brasileiro tendo sua eficácia temporal imediata e não retroativa sob qualquer argumento, exceto para beneficiar o réu, ou seja, vale no Brasil e da publicação da lei em diante. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 9 INQUÉRITO POLICIAL Você sabia que o inquérito policial possui a sua previsão legal contida no Código de Processo Penal, do art. 4º ao art. 23 e que sua finalidade está prevista no art. 4º do CPP, ao prever que tal procedimento investigatório (fase pré-processual) tem por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria, em especial a coleta das provas consideradas irrepetíveis, antecipadas ou urgentes (provas cautelares), cujos vestígios podem desaparecer após a prática do crime? Tais provas poderão ser utilizadas na fase processual (ação penal), durante o contraditório, e, consequentemente, poderão servir como base a sentença penal condenatória. A persecução penal é constituída pelas fases pré-processual e processual. A nova Lei do Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869/19) evidenciou a justa causa como fundamento para a instauração do inquérito policial ao prever, no seu art. 27, a criminalização da conduta de requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime. O inquérito policial previsto no CPP, conduzido pela autoridade policial, não é o único instrumento utilizado para a realização de uma investigação criminal, portanto, a investigação criminal não é uma atribuição exclusiva da polícia judiciária. Outras autoridades poderão presidir uma investigação criminal de acordo com a sua especificidade: Investigação conduzida pelos parlamentares numa CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) - art. 58, § 3º da Constituição Federal. Investigação conduzida pela Polícia Legislativa - Segundo decisão do STF, na súmula nº 397: “O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito”. Investigação conduzida no Inquérito Policial Militar - Encarregado de inquérito policial militar, segundo a previsão nos arts. 7º e 9º do Código de Processo Penal Militar. Investigação conduzida pelo Ministério Público - Em 2015, o STF decidiu que o MP possui legitimidade para promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal e fixou os parâmetros para a sua atuação, ou quando o investigado for um membro do Ministério Público. Investigação conduzida pela autoridade judiciária - quando o investigado for um membro da magistratura ou na hipótese de um crime praticado nas dependências do Tribunal de Justiça, segundo a previsão contida no Regimento Interno do STF: “Art. 42. O Presidente responde pela polícia do Tribunal. No exercício dessa atribuição pode requisitar o auxílio de outras autoridades, quando necessário”. - “Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 10 autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro Ministro. § 1º Nos demais casos, o Presidente poderá proceder na forma deste artigo ou requisitar a instauração de inquérito à autoridade competente”. Conceito Com relação ao conceito de inquérito policial, vamos recorrer aos ensinamentos do professor Renato Brasileiro de Lima:“Procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, o inquérito policial consiste em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. ” Trata-se de um procedimento instrumental, porquanto se destina a esclarecer os fatos delituosos relatados na notícia de crime, fornecendo subsídios para o prosseguimento ou o arquivamento da persecução penal. De seu caráter instrumental sobressai sua dupla função: Preservadora: a existência prévia de um inquérito policial inibe a instauração de um processo penal infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e evitando custos desnecessários para o Estado; Preparatória: fornece elementos de informação para que o titular da ação penal ingresse em juízo, além de acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o decurso do tempo”. (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima – 6. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2018. p. 107). Natureza Jurídica Com relação a natureza jurídica do inquérito policial, o professor Renato Brasileiro de Lima nos ensina que: “Trata-se de procedimento de natureza administrativa. Não se trata, pois, de processo judicial, nem tampouco de processo administrativo, porquanto dele não resulta a imposição direta de nenhuma sanção. Nesse momento, ainda não há o exercício de pretensão acusatória. Logo, não se pode falar em partes stricto sensu, já que não existe uma estrutura processual dialética, sob a garantia do contraditório e da ampla defesa”. (Renato Brasileiro de Lima. Obra citada. p. 107). LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 11 Características O IP possui determinadas características, conforme veremos a seguir: Sigiloso: Conforme dispõe o art. 20 do CPP => “Art. 20 - A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”. Cabe ressaltar que, apesar do estatuto da OAB prever que o advogado poderá examinar procedimentos sobre investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, o STF entende que tal regra se aplica apenas as peças já documentadas no inquérito policial. => O STF é enfático ao fazer uma ressalva sobre a restrição necessária as informações sobre diligências ainda em andamento, pois o eventual acesso a essas informações poderia causar prejuízo às investigações. Inquisitivo: Para a doutrina majoritária, no inquérito policial não são aplicados os princípios do contraditório ou da ampla defesa, em razão de ser um procedimento inquisitivo, ficando à cargo da autoridade policial, conforme o art. 14 do CPP => “Art. 14 - O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade”. Autoritariedade: O inquérito policial deverá ser presidido por autoridade pública investido no cargo de Delegado de Polícia nos termos do art. 144, § 1º, I (Polícia Federal) e IV (Polícia Civil), e § 4º, da Constituição Federal, e o art. 2º, §1º, da Lei nº 12.830/13. Escrito ou Formal: Segundo o teor do art. 9º do CPP, os atos praticados inquérito policial deverão formalizados por escrito => “Art. 9º - Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”. Discricionário: A autoridade policial conduzirá o inquérito policial de forma discricionária, decidindo quais as providências/diligências serão necessárias à elucidação da infração penal, de acordo com o crime/fato investigado => pois o IP não possui um rito procedimental previsto em lei - Existem duas exceções para essa discricionariedade: a) quando houver requisição do Ministério Público ou da autoridade judiciária => Art. 13, inciso II do CPP: “Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: inciso II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público”; b) na realização do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios => art. 158 do CPP: “Art. 158 - Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”. Oficialidade: O inquérito policial será presidido órgão oficialdo Estado, mais especificamente pela Polícia Judiciária, conforme a previsão contida na Lei nº LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 12 12.830/13 => “Art. 2º - As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado”. Indisponibilidade: uma vez instaurado, a autoridade policial não poderá promover o arquivamento do inquérito policial, nos termos do art. 17 do CPP => “Art. 17 - A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito”. Dispensabilidade: O inquérito policial é dispensável pois a ação penal poderá ser iniciada se o Ministério Público ou o particular se ambos já possuírem os elementos de informação necessários para o oferecimento da denúncia ou da queixa. Conforme nosso estudo anterior, o IP não é o único instrumento utilizado para a realização de uma investigação criminal. Nos termos do art. 12 do CPP => “Art. 12 - O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra”. Oficiosidade: A autoridade policial é obrigada a agir de ofício, instaurando o inquérito policial, sempre que tomar conhecimento da prática de crime de ação pública com o objetivo de apurar a materialidade, a autoria e as circunstâncias do delito. Nos crimes de ação pública incondicionada, o IP será iniciado independentemente de provocação da vítima. Nos crimes de ação pública condicionada, o IP será iniciado mediante a representação da vítima. Nos termos do art. 5º, inciso I, do CPP =>“Art. 5o - Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:I - de ofício”. Início do Inquérito Policial O Inquérito Policial será sempre iniciado (instaurado) com a comunicação da notícia do crime (notitia criminis), podendo tal comunicação ocorrer de diversas formas, segundo a regra contida no art. 5º do CPP: I - De ofício => pela autoridade policial => nos crimes de ação pública incondicionada. => nos crimes de ação pública condicionada à representação, dependerá da manifestação de vontade da vítima, segundo o § 4o do art. 5º: “O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado”. II - Mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público => Requisição é uma ordem => a autoridade policial não poderá se recusar a iniciar o IP. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 13 III - Mediante requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo => Requerimento é um pedido, que poderá ser recusado pela autoridade policial => segundo o § 2o do art. 5º: “Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia”. => segundo o § 5o do art. 5º: “Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la”. => o § 1o do art. 5º prevê que o requerimento deverá possuir, sempre que possível, determinadas informações: a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. IV – Mediante a comunicação por qualquer pessoa do povo => qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal => poderá comunicá-la diretamente à autoridade policial => e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito => Tal comunicação poderá ocorrer: - Verbalmente ou por escrito; - Somente sobre infração penal cuja ação penal seja pública. V – Por meio do Auto de Prisão em Flagrante Delito => quando a autoridade policial toma conhecimento da prática da infração penal em razão de seu autor ser preso em flagrante delito => Art. 302 e seguintes do CPP. Instrução do Inquérito Policial A investigação criminal será realizada através da execução de várias diligências determinadas pela autoridade policial no inquérito policial, de acordo com o crime praticado (caso concreto). O CPP contém um rol de diligências previstas nos arts. 6º, 7º, 13, 13-A e 13-B. Esse rol é exemplificativo pois existe previsão sobre outras diligências nas leis especiais que contém ritos processuais próprios, tal como a Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha), Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas), entre outras. Código de Processo Penal Observação: Denúncia anônima => Constituição Federal, “Art. 5º: inciso IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. => O STF vêm editando diversas decisões no sentido de que as autoridades públicas não podem iniciar investigação formalizada no inquérito policial tendo como único suporte informativo uma denúncia anônima (peça apócrifa = peça de origem duvidosa/suspeita em razão do seu autor não estar identificado) => para tal hipótese, principalmente, tem que haver a verificação da procedência das informações, para que haja justa causa (presença das condições mínimas de admissibilidade) para que a investigação possa ser formalizada através da instauração do inquérito policial. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 14 Art. 6o - Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV - ouvir o ofendido; V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter; X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. Art. 7o - Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública. (...) Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos; II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público; III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias; IV - representar acerca da prisão preventiva. Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá: I - o nome da autoridade requisitante II - o número do inquérito policial; e III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação. Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm#livroitituloviicapituloiii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art148 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art149 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art149a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art158%C2%A73 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art158%C2%A73 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art159 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art159 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art239 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art239 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 15 § 1o - Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência. § 2o - Na hipótese de que trata o caput, o sinal: I - Não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei; II - Deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período; III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a apresentação de ordem judicial. § 3o - Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial. § 4o - Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz”. Determinadas diligências possuem reserva de jurisdição, ou seja, só poderão ser realizadas mediante autorização judicial, tal qual: a interceptação telefônica, quebra do sigilo bancário, busca e apreensão em residências, prisão temporária e preventiva, infiltração policial (ação controlada), entre outras. As ações desenvolvidas no bojo da investigação devem ser realizadas sempre com a observância irrestrita das garantias constitucionais, sob pena das provas colhidas se tornarem ilícitase o policial incidir na prática de crime de abuso de autoridade: Lei nº 13.869/19 “Art. 25 - Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude”. Como exemplo, podemos citar a posição do STJ nas suas recentes decisões, ao reconhecer a nulidade da prova obtida por meio de acesso ao aplicativo “WhatsApp” no telefone celular apreendido em poder do marginal, após a sua prisão em flagrante, hipótese em que o policial analisa o conteúdo do aparelho mediante o (pseudo) consentimento do mesmo. As decisões, de forma geral, se baseiam na exigência da prévia autorização judicial como condição para a análise do conteúdo existente na memória e nos aplicativos de um aparelho celular, apreendido em razão de sua utilização na execução do crime, além de também entender que a manifestação de vontade do marginal poderá estar comprometida em razão do mesmo se encontrar sob o jugo do Estado. A diligência concebida através da análise de um aparelho celular utilizado na execução de um crime poderá ser muito importante para a instrução do inquérito policial e deverá ser realizada conforme o rito previsto em lei. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 16 Prazo para conclusão do Inquérito Policial O inquérito policial possui um prazo determinado para a sua conclusão. Tal prazo é determinado conforme a previsão contida na legislação específica: Código de Processo Penal No prazo de 10 (dez) dias Se o indiciado tiver sido preso em flagrante, Ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão. No prazo de 30 (trinta) dias => quando o indiciado estiver solto, mediante fiança ou (com prorrogação) sem ela. Quando ainda não houver autoria determinada que possibilite o indiciamento. Inquérito Policial Militar (art. 20 do CPPM – Decreto-Lei nº 1.002/69) No prazo de 20 (vinte) dias => indiciado preso. (Sem prorrogação) No prazo de 40 (quarenta) dias => indiciado solto. (Prorrogável por mais 20 dias) Inquérito policial com trâmite para a Justiça Federal (art. 66 da Lei nº 5.010/66) No prazo de 15 (quinze) dias => indiciado preso. (Prorrogável por mais 15 dias) No prazo de 30 (trinta) dias => indiciado solto. (Com prorrogação) Inquérito policial na Lei de Drogas (art. 51 da Lei nº 11.343/06) No prazo de 30 (trinta) dias => indiciado preso No prazo de 90 (noventa) dias => indiciado solto (Com duplicação) Inquérito policial nos Crimes Contra a Economia Popular (art. 10, § 1º da Lei nº 1.521/51) No prazo de 10 (dez) dias => indiciado preso No prazo de 10 (dez) dias => indiciado solto (Sem prorrogação) LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 17 Encerramento do Inquérito Policial O encerramento da investigação realizada por meio do inquérito policial (fase pré-processual da persecução penal), ocorrerá somente após a conclusão de todas as diligências necessárias ao esclarecimento sobre os indícios da autoria e materialidade do crime praticado => momento em que a autoridade policial apresentará o relatório conclusivo do inquérito policial => com o consequente indiciamento do investigado => nessa fase não há que se falar ainda em réu ou acusado => esse termo só será usado após o início do processo (com o recebimento da denúncia) => fase em que os indícios se converterão em provas, tanto para a acusação quanto para a defesa, durante o respectivo contraditório. Código de Processo Penal “Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. § 1o - A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. § 2o - No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas. (...) Art. 399 - Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente”. Lei nº 12.830/13 “Art. 2º - As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. § 6º - O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias”. Observação: Nos crimes de difícil elucidação, para que a autoria possa ser determinada e o indiciamento efetivado, será possível a prorrogação do prazo inicialmente previsto pela lei (vide os procedimentos acima), segundo a regra geral estabelecida pelo Código de Processo Penal =>“Art. 10. § 3o - Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz” => No Estado do Rio de Janeiro, esse prazo é estabelecido pelo Ministério Público. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 18 Trancamento do Inquérito Policial O trancamento do inquérito policial poderá ser efetivado através de habeas corpus, quando a instauração da investigação criminal se evidenciar abusiva, podendo ser decretado mediante três fundamentos: Atipicidade da conduta, Existência de causa extintiva da punibilidade, ou Ausência de justa causa (indícios mínimos de autoria ou de prova de materialidade). Código de Processo Penal Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar. Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: I - quando não houver justa causa; (...) VII - quando extinta a punibilidade. O trancamento do inquérito policial deve ser considerado uma medida excepcional, pois a fase pré-processual se caracteriza pela verificação dos indícios da autoria e coleta da materialidade do crime, não formando nenhum tipo de juízo de culpa em face do investigado. Vale ressaltar, contudo, que durante o curso da investigação, para a devida instrução do inquérito policial, podem ser solicitas a decretação de medidas cautelares de restrição da liberdade contra o investigado, através das prisões temporária e preventiva. O STF e o STJ vêm editando decisões em que reconhecem a possibilidade de trancamento do inquérito policial mediante a existência de um dos três fundamentos acima elencados. Arquivamento do Inquérito Policial O arquivamento do inquérito policial ocorrerá na hipótese de, após esgotados todos os meios de investigação, não se obter nenhum resultado sobre qualquer indício da autoria do crime e/ou da sua materialidade. Antes do advento da Lei nº 13.964/19 (pacote anticrime), o arquivamento era determinado pelo juiz mediante o requerimento do Ministério Público. Após a edição da citada lei, a previsão sobre o arquivamento do inquérito policial mudou completamente. Talvez a principal mudança resida na previsão sobre a atribuição para determinar esse arquivamento, que passou a ser incumbência do Ministério Público. Finalizado o inquérito policial, o Ministério Público passa a decidir se será a hipótese de oferecer a denúncia ao Juiz das Garantias (vide o próximo capítulo)ou determinar o seu arquivamento. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 19 Código de Processo Penal “Art. 28 - Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º - Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica”. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Face a essa alteração, vamos recorrer aos ensinamentos do professor Guilherme de Souza Nucci, sobre essa mudança no Código de Processo Penal: “O arquivamento do inquérito policial ou de outras peças informativas (como, por exemplo, o procedimento investigatório criminal – PIC – promovido pelo Ministério Público, dentre outros autos de investigação), de maneira mais apropriada, respeitando-se o sistema acusatório, não mais enfrenta a análise do juiz, que, no caso, seria o magistrado de garantias. Será levado à análise superior do Ministério Público, como o Conselho Superior ou Câmaras criadas especialmente para tal finalidade. Permanece o rigor quanto ao critério da obrigatoriedade da ação pública incondicionada, mas quem fará esse exame de cabimento será o próprio Ministério Público. Portanto, o promotor ou Procurador da República, ao propor o arquivamento, automaticamente, encaminhará os autos à instância revisora ministerial para a homologação. (...). Outro ponto positivo é que, ordenado o arquivamento pelo membro do Ministério Público, este será obrigado a comunicar oficialmente, à vítima do crime, ao investigado e à autoridade policial (neste caso, quando se tratar de inquérito policial). (...). Tomando conhecimento do arquivamento, a vítima tem o prazo de 30 dias, a constar do recebimento da comunicação, por isso deve ser oficial, para submeter a matéria à revisão do Órgão superior do MP. (...). Em suma, não cabe mais essa função anômala ao juiz de garantias, que, aliás, nem consta do rol de suas atribuições”. (NUCCI, Guilherme de Souza. Pacote anticrime comentado: Lei 13.964/2019, de 24.12.2019 / Guilherme de Souza Nucci. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020. p.57-59). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 20 Obrigatoriedade de defensor para agentes de segurança pública investigados sobre fatos relacionados ao uso da força letal O art. 14-A é uma inovação trazida pela Lei nº 13.964/19, passando a prever a obrigatoriedade da designação de defensor na hipótese de investigação sobre fatos relacionados ao uso da força letal atribuído a agentes de segurança pública. Código de Processo Penal “Art. 14-A - Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor”. Segundo o professor Rogério Sanches Cunha: “Suspeito, investigado ou indiciado? - Parece-nos que o chamamento agora exigido pelo art. 14-A deve ocorrer a partir do momento em que fica caracterizada a condição jurídica de investigado da pessoa até então suspeita, leia-se, quando as diligências policiais passam a “mirar” pessoa certa e determinada, sobre a qual pesam indicações de autoria ou participação na prática de uma infração penal, independentemente de qualificação formal atribuída pela autoridade responsável pela investigação. O ato formal do indiciamento, que para alguns era de pouca utilidade prática, agora fica definitivamente escanteado, pelo menos em crime dessa envergadura. É claro que a cautela do art. 14-A não pode comprometer a investigação. Aliás, parece que a intenção maior do legislador foi garantir aos investigados que atuam na área de segurança pública a assistência jurídica (e não comprometer a apuração de crimes graves). Logo, aplicando-se o mesmo espírito da Súmula Vinculante 14, o dever de chamamento do investigado deve coexistir com o dever de apurar eficazmente o crime. Há diligências que devem ser sigilosas e anteceder o chamamento do investigado, sob risco de comprometimento do seu bom sucesso. (Obra citada. p.109). “Art. 14-A - § 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação". http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art23 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art23 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 21 Segundo o professor Rogério Sanches Cunha: “Citação ou notificação? - Diz o dispositivo que o servidor deve ser “citado” da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até quarenta e oito horas a contar do recebimento da “citação”. Por óbvio, não se deve falar em citação nessa etapa, mas notificação, ato genérico de chamamento para realizar um ato. Não se está garantindo contraditório e ampla defesa na fase extrajudicial, que, se um dia for prevista como opção do legislador, não poderá ser exclusiva do agente ou autoridade de segurança pública, mas de qualquer cidadão. O novel artigo assegura, na verdade, direito de acompanhar ab initio as investigações, podendo a defesa fazer requerimentos que, como qualquer outro, serão apreciados pela autoridade que preside o procedimento oficial”. (Obra citada. p.109-110). “Art. 14-A - § 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado”. Segundo o professor Rogério Sanches Cunha: “Assistência jurídica gratuita – Apesar de relevante e fundamental a atuação de agentes e autoridades de segurança pública na garantia ou na restauração da paz social, quando figuram como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto seja fato relacionado ao uso da força letal praticado no exercício profissional ou missões para Garantia da Lei e da Ordem, carecem, quase sempre, de efetiva assistência jurídica. (...) Se chamado a constituir defensor, o servidor não o faz no prazo de 48 horas, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que esta, no mesmo prazo, indique defensor para representá-lo”. (Obra citada. p.110). Ainda com relação a este tema, o professor Rogério Sanches Cunha faz importante observação sobre duas questões relevantes:“Não atendimento ao art. 14-A: consequências – O não chamamento do indigitado para acompanhar a investigação gera nulidade dos atos supervenientes. Indiciado não localizado – A Lei 13.964/19 não previu solução para o caso de não ser o servidor investigado encontrado. Diante da sistemática construída, sendo incompatível o chamamento por edital, o que burocratizaria de forma anormal a investigação de fatos graves, sugerimos aplicar-se § 2º”. (Obra citada. p.109-110). LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 22 “Art. 14-A - § 3º - (VETADO)”. “Art. 14-A - § 4º - (VETADO)”. “Art. 14-A - § 5º - (VETADO)”. Os parágrafos 3º, 4º e 5º, apesar de serem objeto de debate na doutrina, não serão estudados em razão do VETO pelo Presidente da República. § 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. Segundo o professor Guilherme de Souza Nucci: “É preciso analisar o disposto pelo § 6º, que sobrou, sem veto. Dispõe que os membros das forças armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica (art. 142, CF) também fazem jus à citação, durante a investigação, com acompanhamento de advogado. Entretanto, não abrange qualquer crime militar, constante do art. 9º do Código Penal Militar. Apenas os que disserem respeito a missões especiais para a “Garantia da Lei e da Ordem”. Ora, esta é uma intervenção, já praticada em alguns Estados brasileiros, não contemplando todos os delitos militares. Deve-se aplicar o disposto pelo art. 9º, § 2º do CPM: “Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto: I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado da Defesa; II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais: a) Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 – Código Brasileiro de Aeronáutica; b) Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999; c) Decreto-Lei nº 1.0002, de 21 de outubro de 1969 – Código de Processo Penal Militar; e d) Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código Eleitoral” (grifamos)”. (Obra citada. p.55). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 23 JUIZ DAS GARANTIAS Você sabia que a nova figura jurídica intitulada como “Juiz das Garantias” foi concebida através do “Pacote Anticrime” e inserida no Código de Processo Penal pela previsão contida nos arts. 3º-A, 3º-B, 3º- C, 3º-D, 3º-E e 3º-F.? Apesar da nova figura jurídica do “Juiz das Garantias” estar com a sua eficácia suspensa até a decisão final do STF, devemos compreender a previsão legal sobre a sua atuação na fase pré-processual. O “Juiz das Garantias” foi concebido para atuar da fase da investigação criminal, mais especificamente para controlar a legalidade das atividades policiais, bem como autorizar determinadas diligências que só poderão ser realizadas mediante autorização judicial. A fase pré-processual se inicia com a instauração do procedimento de investigação criminal, prosseguindo com a realização todas as diligências necessárias para a apuração dos indícios da autoria e materialidade da infração penal, e finaliza com o encerramento das investigações mediante o oferecimento da denúncia, ato este que antecede o início da ação penal (fase processual). Se o “Juiz das Garantias” (juiz da investigação) aceitar a denúncia, encerra a sua atuação pois estará encerrada a fase pré-processual. Esse momento marca o início da ação penal e o início da atuação (competência) do “Juiz da Instrução” (juiz do processo). Com relação a esse tema, o professor Guilherme de Souza Nucci entende que: “O juiz de garantias não se aplica aos tribunais, mesmo quando conduzem investigações, porque são colegiados, ou seja, não é o mesmo Ministro/Desembargador que fiscalizará as investigações e, ao mesmo tempo, julgará, sozinho, a ação penal originária. Ao contrário, há um colegiado para isso. O objetivo primordial do juiz de garantias é evitar a concentração de poder nas mãos do mesmo juiz, que fiscaliza (antes da nova lei, participava da condução) a investigação e, depois, irá conduzir a instrução para, ao final, julgar o processo. É preciso ter um excepcional equilíbrio para separar tudo o que colheu na investigação daquilo que amealhou durante a instrução. Por isso, o juiz de garantias pretende solucionar esse dilema”. (Obra citada. p.37-38). LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 24 O processo penal e a previsão sobre a sua estrutura acusatória Art. 3º-A - O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. A “estrutura acusatória” prevista no citado artigo, significa que a fase processual deverá ser constituída pela atuação de determinadas figuras processuais, distintas entre si, exercendo separadamente as funções de acusar, defender e julgar o acusado durante o trâmite do processo. Sobre tal previsão legal, vamos recorrer aos ensinamentos do professor Rogério Sanches Cunha: “No sistema acusatório, cada sujeito processual tem uma função bem definida no processo. A um caberá acusar (como regra, o Ministério Público), a outro defender (o advogado ou defensor público) e, a um terceiro, julgar (o juiz). A lição de José Frederico Marques merece ser lembrada (Estudos de Direito Processual, Rio de Janeiro: Forense, 19, p. 23). O citado autor identifica as principais características do sistema acusatório, a saber: a) separação entre os órgãos da acusação, defesa e julgamento, de forma a se instaurar um processo de partes; b) liberdade de defesa e igualdade de posição das partes; c) vigência do contraditório; d) livre apresentação das provas pelas partes; e) regra do impulso processual autônomo, ou ativação inicial da causa pelos interessados (...). Diríamos, em acréscimo: o processo é público, salvo algumas situações previstas em lei. A nossa Bíblia Política de 1988 adota esse sistema. A lei 13.964/19, obediente à Carta Maior, foi clara: o processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. (...) Na sistemática que antecedeu a Lei 13.964/19, a regra de competência ia no sentido diametralmente oposto, isto é, o juiz da investigação tornava-se prevento para prosseguir no feito até final julgamento (arts. 75, parágrafo único, e 83 do CPP). (...) Lei no tempo – Em respeito ao ato jurídico perfeito, ao juiz natural e ao princípio da identidade física do juiz, entendemos que o sistema do juiz das garantias deve ser aplicado nos casos futuros, não retroagindo para alcançar feitos já instaurados”. (Obra citada. p.69-72). Cabe realizar um comentário sobre este penúltimo parágrafo, transcrito da obra do professor Rogério Sanches Cunha, em que são citados os arts. 75, parágrafo único, e 83 do CPP. O ensinamento do citado professor é baseado nas modificações trazidas pela nº 13.964/19, na hipótese de que todos os seus dispositivos legais estariam em pleno vigor, após o respectivoperíodo de vacância. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 25 Código de Processo Penal “Art. 75 - A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente. Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da ação penal. (...) Art. 83 - Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3o, 71, 72, § 2o, e 78, II, c)”. Em razão da suspensão da eficácia dos artigos que conceberam o “Juiz das Garantias”, promovida pelo STF, por tempo ainda indeterminado, a regra que vigorava no Código de Processo Penal antes da promulgação da Lei nº Lei 13.964/19, continua a ser aplicada, ou seja, o juiz que atua na fase da investigação, decidindo sobre a concessão de alguma medida cautelar, torna-se prevento para prosseguir na fase do processo até o julgamento. Essa é a regra atualmente em vigor, e continuará sendo até o STF proferir a sua decisão definitiva sobre o tema. O rol de competências do “Juiz das Garantias” Art. 3º-B - O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente”: O novo art. 3-B do CPP apresenta um rol de competências para o “Juiz das Garantias”, rol este que a doutrina classifica como sendo não taxativo em razão do dispositivo contido no seu inciso XVIII, prevendo que o mesmo poderá decidir sobre: “outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo”. O citado artigo apresenta os dois pilares que fundamentam a criação dessa nova figura jurídica: 1) ser responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e; 2) ser responsável pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário. E as “ferramentas legais” (não taxativas) para o exercício de tal competência estão relacionadas ao longo dos dispositivos que compõem tal artigo. Para otimizar a compreensão da matéria, após cada dispositivo estudado, reproduziremos diretamente os ensinamentos proferidos pelos professores anteriormente citados. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm#art73 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm#art71 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm#art72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm#art78. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 26 Art. 3º-B - Inciso I - receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do art. 5º da Constituição Federal; Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: “No nosso ordenamento jurídico, a matéria, até o advento da Lei 13.964/19, estava prevista apenas na Resolução 213/15, do Conselho Nacional de Justiça e em normas internas dos tribunais. Agora temos Lei (art. 310do CPP). A audiência de custódia (ou de apresentação) tem dupla finalidade: de proteção, a fim de tutelar a integridade física do preso, e de constatação, aquilatando, de acordo com as circunstâncias do caso concreto, a necessidade de ser mantida a prisão do autuado. Interessante observar que o juiz que participa da audiência de custódia nem sempre atuará como juiz das garantias do caso a ele apresentado, pois tal solenidade pode acorrer num plantão judiciário, por exemplo (algo comum e rotineiro). Contudo, ao decidir medidas cautelares, também este magistrado “do plantão” estará proibido de servir na instrução”. (Obra citada. p.78- 79). Art. 3º-B – Inciso II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da prisão, observado o disposto no art. 310 deste Código”; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Esta providência sempre foi adotada, nos termos do art. 306 do CPP. Recebida a comunicação, o juiz pode relaxar a prisão ilegal (art. 310, I, CPP), pode converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão (art. 310, II, CPP); conceder liberdade provisória, com ou sem fiança (art. 310, III, CPP)”. (Obra citada, p.40). Art. 3º-B - Inciso III - zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja conduzido à sua presença, a qualquer tempo”; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Este dispositivo nem necessitaria ter sido introduzido, pois havendo a audiência de custódia está-se prevendo a oportunidade de o juiz zelar pelos direitos do preso. Mas, há de se convir que se ampliou, ainda mais, esse cuidado com a integridade física e moral do detento. Diante disso, basta o preso requerer audiência com o juiz de garantias, por conta de ameaças sofridas, superlotação, falta de atenção médica, dentre fatores similares, para ser oportuna a condução do detido à presença do juiz de garantias”. (Obra citada. p.40). LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 27 Art. 3º-B - Inciso IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal”; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Esta é uma novidade cuja importância e alcance há de ser tratada com cautela. Quando o delegado instaurava o inquérito policial para apurar um crime, não era obrigado a notificar ninguém; aliás, somente daria ciência ao investigado quando este fosse indiciado formalmente (apontado pela autoridade policial como suspeito). O mesmo se diga em relação a outras investigações, muitas das quais agora podem ser iniciadas pelo Ministério Público (PIC: procedimento investigatório criminal). Inexistindo neste procedimento o indiciamento, em verdade, o investigado ficava sabendo disso se alguém lhe contasse ou mesmo quando o PIC já serviu de elemento para instruir uma denúncia, sendo então citado para responder à ação penal. Diante disso, toda a investigação do Ministério Público, assim que eleger um suspeito, deve cientificá-lo, sob pena de ocorrer, desde logo, vício representativo de cerceamento de defesa, valendo, como instrumento, o trancamento da investigação, a ser requerido ao juiz de garantias. Se este negar, caberá habeas corpus ao Tribunal”. (Obra citada. p.40-41). Art. 3º-B - Inciso V - decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar, observado o disposto no § 1º deste artigo”; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Cabe ao juiz de garantias, durante a investigação, decretar a prisão provisória ou outra medida cautelar, requerida pelo órgão acusatório. São prisões provisórias cabíveis: prisão temporária e prisão preventiva. As medidas cautelares, diversas da prisão, estão previstas no art. 319 do CPP. Impôs a observação ao disposto no § 1º deste art. 3º-B, porém, esse parágrafo foi vetado, sob o fundamento de que foi suprimida a possibilidade de realização da audiência de custódia por videoconferência, o que geraria insegurança jurídica, pois esse tipo de audiência é admitido em outros preceitos da lei processual penal; além disso, apontou-se o aumento da despesa e a complexidade de se ter que convocar um juiz de outra comarca (quando o juiz for o único da comarca onde foi decretada a prisão cautelar) para realizar a audiência de custódia. Não nos parece acertado o veto ao § 1º”. (Obra citada. p.40-41). Art. 3º-B - Inciso VI - prorrogara prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las, assegurado, no primeiro caso, o exercício do contraditório em audiência pública e oral, na forma do disposto neste Código ou em legislação especial pertinente; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Esta medida, sim, tinha tudo para ser vetada pela complexidade e também pela complicação que vai gerar. A situação é a seguinte: o juiz de garantias decreta a prisão temporária de alguém LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 28 por 5 dias; se houver necessidade de prorrogá-la por outros 5 dias, deverá designar audiência pública (a portas abertas) e oral (podendo qualquer das partes envolvidas comparecer e falar diretamente ao juiz, ouvindo deste alguma justificativa, valendo-se do contraditório). (...) Essa medida vai incentivar o uso de prisão preventiva, para evitar o curto espaço de tempo da prisão temporária, ao menos daquelas que duram somente 5 dias”. (Obra citada. p.41-42). Art. 3º-B - Inciso VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Este preceito entra em confronto, parcialmente, com o disposto pelo art. 156, I, do Código de Processo Penal. O novo inciso possibilita que o juiz participe da produção antecipada de provas, consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida. Entretanto, não mais pode o juiz, agora denominado de garantias, a quem compete essa produção antecipada de provas, determina-la de ofício, dependendo de requerimento das partes – órgão acusatório ou defesa. Cite-se o tradicional exemplo da existência de uma testemunha presencial, que seja crucial ao deslinde do caso, mas esteja muito doente. É preciso ouvi-la de pronto, antes mesmo do início da instrução. Nesse caso, o juiz de garantias designa uma audiência para a produção antecipada de provas, na situação concreta, a oitiva de uma testemunha fundamental. Fixa-se, expressamente, o direito ao investigado de lhe ter assegurado o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral”. (Obra citada. p.42). Art. 3º-B - Inciso VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em vista das razões apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste artigo; Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: “Antes da Lei 13.964/19, o prazo para conclusão do inquérito deveria observar normas distintas, a depender se tramitava na justiça estadual ou federal. Se estadual, aplicava-se o art. 10 CPP, ou seja, prazo de dez dias quando preso o indiciado (contado da data da prisão) e de trinta dias quando solto, nesta última hipótese admitindo prorrogação (art. 10, § 3º). No caso de inquérito federal, aplicava-se o art. 66 da Lei nº 5.010/66 (que organizou a Justiça Federal de 1ª instância), que prevê que “o prazo para conclusão do inquérito policial será de quinze dias”. O diploma, porém, não aponta prazo para conclusão na hipótese do indiciado solto, razão pela qual incidia a regra geral dos trinta dias, prevista no art. 10 CPP. Com a nova Lei 13.964/19, para o caso de indigitado preso na Justiça Estadual, operou- se um conflito dentro do próprio CPP. O art. 10 manda concluir em 10 dias, sem prorrogação. O art. 3º-B, § 2º, manda concluir em 15 dias, admitindo uma prorrogação. E agora? Devemos, no caso, trabalhar com o princípio da posteridade. A norma posterior revoga, ainda que em parte, a anterior. Prevalece, portanto, o art. 3º-B, § 2º, uniformizando o prazo nas duas instâncias (estadual e federal). LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 29 Outros prazos em legislação extravagante para conclusão do inquérito policial devem ser respeitados, em homenagem ao princípio da especialidade. Assim, o art. 51 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), prevê o prazo de trinta dias para a conclusão do inquérito, estando o indiciado preso e de noventa dias quando solto. Nos crimes contra a economia popular (Lei 1.521/1951), esse prazo é de dez dias (art. 10, § 1º), solto ou preso o réu. É de vinte dias o prazo para término do inquérito instaurado perante a Justiça Militar, estando o réu preso e de quarenta dias, se solto (art. 20 do CPPM) ”. (Obra citada. p.42). Art. 3º-B - Inciso IX - determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento razoável para sua instauração ou prosseguimento; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Este dispositivo não é novidade, pois qualquer investigação, instaurada pelo delegado ou pelo membro do Ministério Público, se for abusiva, indicando alguém como suspeito formal, sem provas suficientes, pode ser trancado (noutros termos, truncado e determinado seu arquivamento. Socorre-se o investigado do juiz de garantias. Se este, por sua vez, negar, cabe a interposição de habeas corpus junto aos Tribunais”. (Obra citada. p.43). Art. 3º-B - Inciso X - requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de polícia sobre o andamento da investigação; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Não há norma inédita neste ponto, visto que o juiz de garantias (antes, o juiz que acompanhava o inquérito) pode requisitar (exigir, nos termos legais) tudo o que seja indispensável para verificar a justa causa para prosseguimento da investigação”. (Obra citada. p.43). Art. 3º-B - Inciso XI - decidir sobre os requerimentos de: a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática ou de outras formas de comunicação; b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico; c) busca e apreensão domiciliar; d) acesso a informações sigilosas; e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do investigado; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “O juiz de garantias vai cumprir as vezes dos juízes que acompanhavam o inquérito, mesmo que fossem, posteriormente, o juiz do processo principal. Ele poderá decidir acerca dos requerimentos, geralmente pelo órgão acusatório, de interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática ou de outras formas de comunicação (esta última parte abrange todos os modos de comunicação surgidos nos últimos tempos, como mensagens trocadas pelo celular, por meio de inúmeros programas). Caberá, igualmente, ao juiz de garantias a quebra dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico, distinguindo-se da LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 30 interceptação telefônica porque esta acompanha a gravação das conversas enquanto se realizam; a outra obtém dados registrados de ligações realizadas. É da sua atribuição, também, a expedição de mandado de busca e apreensão em domicílio. Cabe-lhe, genericamente, o acesso a informes sigilosos (por exemplo, o acesso a um processo que tramita na Vara da Infância e Juventude). Termina-se com uma norma aberta: outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do investigado. Pode envolver quaisquer informes sigilosos que tenham alguma relação com investigado (ex.: um processo de separação judicial litigiosa que ocorreu em segredo de justiça na Vara de Família)”. (Obra citada. p.43-44). Art. 3º-B - Inciso XII - julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia”; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Esse dispositivo torna clara uma regra já existente há décadas. Qualquer abuso de autoridade gerado por autoridade policial, por exemplo, sempre foi apreciado pelo juiz que acompanha o inquérito, agora é competência do juiz de garantias. Se a investigação estiver sendo conduzida por membro do Ministério Público deverá ser questionada por habeas corpus,dirigido ao Tribunal (...)”. (Obra citada. p.44). Art. 3º-B - Inciso XIII - determinar a instauração de incidente de insanidade mental; Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: “Nos termos do art. 149 do CPPP, havendo dúvida “sobre a integridade mental do acusado”, deverá ser instaurado o incidente da sanidade mental. Diante da redação do art. 3º-A do CPP, vedando a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação, nascerá discussão – até então inexistente – se o incidente pode ou não ser ordenado de ofício pelo juiz das garantias, ou somente mediante provocação. A instauração do incidente pressupõe dúvida razoável a respeito do estado mental do investigado. Assim, por exemplo, a mera brutalidade com que cometido o crime ou os péssimos antecedentes do agente não implicam, necessariamente, a suspeita de sua imputabilidade. Tampouco o fato de se declarar o indigitado viciado no uso de drogas”. (Obra citada. p.90). Art. 3º-B - Inciso XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código; Com relação a este inciso, cabe a análise dos nossos dois professores, pois ambos possuem entendimentos bem específicos com relação a essa importante etapa da persecução penal, que é o momento da transição entre a fase de investigação (pré-processual) e a fase processual. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 31 Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Essa competência é nova para o juiz de garantias. Em tese, o recebimento da denúncia ou da queixa deveria ser feito pelo juiz da instrução, que vai conduzir o feito até o final, porém, com o propósito de eliminar das mãos do juiz do processo os autos do inquérito ou da investigação, a única possibilidade era essa. O juiz de garantias tem amplo acesso à investigação, logo, somente ele pode saber se há justa causa – ou não – para o recebimento da denúncia ou queixa. Resta ao juiz do processo-crime, após a resposta do réu, se achar conveniente usar a absolvição sumária”. (Obra citada. p.44). Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: “Aqui temos um erro grave da Lei. O juiz das garantias jamais poderia permanecer até a fase do art. 399 do CPP. Após o recebimento da inicial, que demanda apenas o juízo de prelibação, a competência deveria ser, incontinenti, do juiz da instrução, responsável pelo juízo de delibação. Percebam que o legislador acabou inserindo entre as competências do juiz das garantias – criado para atuar somente até a viabilidade da acusação – o poder para decidir mérito. Será este mesmo magistrado quem analisará a defesa escrita do denunciado (art. 396-A CPP), bem como o cabimento (ou não) da absolvição sumária (art. 397 CPP) ”. (Obra citada. p.90). Art. 3º-B - Inciso XV - assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao investigado e ao seu defensor de acesso a todos os elementos informativos e provas produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que concerne, estritamente, às diligências em andamento”; Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: “Embora seja sempre bem-vinda a publicidade de qualquer ato perpetrado por autoridade pública, pois confere maior transparência às suas ações, podendo se aferir a legalidade de sua conduta e maior controle pela sociedade, o certo é que, de outro lado, o sigilo por vezes é fundamental, sobretudo em se tratando de inquérito policial. O art. 20 do CPP admite, por isso, que a autoridade policial determine o sigilo do inquérito, desde que necessário: 1º) à elucidação do fato ou 2º) exigido pelo interesse da sociedade. Não se trata, pois, de mero ato discricionário da autoridade, mas antes, de decisão que se sujeita a esses dois requisitos. (...) Por fim, deve ser lembrado que o art. 32 da Lei 13869/19 pune, com detenção de 6 meses a 2 anos, “Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que indiquem a realização de OBSERVAÇÃO: juízo de prelibação = juízo de admissibilidade. OBSERVAÇÃO: juízo de delibação = é a apreciação judicial de um pedido feito pelas partes num processo. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 32 diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível”. Essas condutas, para caracterizarem crime, devem ser praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal (art. 1º). A matéria, como alertado, já estava disciplinada na Súmula Vinculante 14. O alcance da Súmula (e da incriminação do art. 32) refere-se ao direito assegurado ao interessado (bem como ao seu defensor ou advogado) de acesso aos elementos constantes em procedimento investigatório que lhe digam respeito e que já se encontrem documentados nos autos, não abrangendo, por óbvio, as informações concernentes à decretação e à realização das diligências investigatórias pendentes, em especial as que digam respeito a terceiros eventualmente envolvidos”. (Obra citada. p.91-94). Observação: Súmula Vinculante nº 14 do STF Art. 3º-B - Inciso XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Esta providência é relevante, pois se o art. 159 do CPP assegura a participação de assistente técnico das partes à perícia oficial, era preciso prever que a sua admissão se desse já na fase policial (ou de investigação ministerial). É o que sempre defendemos. Note-se, no entanto, que o art. 159, § 4º, preceitua que o assistente técnico atuará a partir da admissão do juiz. Não se indica qual juiz. Mas o mais lógico é que isso se dê já na fase da investigação, agora resolvida a questão”. (Obra citada. p.45). Art. 3º-B - Inciso XVII - decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou os de colaboração premiada, quando formalizados durante a investigação; Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “O novo instituto da não persecução penal, assim como a colaboração premiada que surge na fase da investigação devem ser analisadas e homologadas pelo juiz de garantias. Nada mais natural, pois outro juiz inexiste nesta fase”. (Obra citada. p.45). Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: “Tomado pelo espírito de justiça consensual, compreende-se o acordo de não persecução penal como sendo o ajuste obrigacional celebrado entre órgão de acusação e o investigado (assistido por advogado), devidamente homologado pelo juiz, no qual o indigitado assume a sua responsabilidade, aceitando cumprir desde logo, condições menos severas do que a sanção penal aplicável ao fato a ele imputado”. (Obra citada. p.95). Observação: O acordo de não persecução penal está previsto no art. 28-A do CPP, inserido pela Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime), e será devidamente estudado no Capítulo V – Ação Penal, desta apostila. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 33 Art. 3º-B - Inciso XVIII - outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo. Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: “Trata-se de um dispositivo residual, conferindo competência ao juiz de garantias para decidir qualquer tema, mesmo não elencado neste artigo, desde que esteja na fase de investigação, antes do início do processo-crime”. (Obra citada. p.45). Art. 3º-B - § 1º (VETADO). O parágrafo 1º, apesar de ser objeto de debate na doutrina, não será estudado em razão do seu VETO pelo Presidente da República. Art. 3º-B - § 2º - Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante
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