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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM

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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
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AUTORIDADES 
 
Governador do Estado do Rio de Janeiro 
Exmº Sr Wilson Witzel 
 
Secretário de Estado de Polícia Militar 
Exmº Sr Coronel Rogério Figueredo de Lacerda 
 
Subsecretário de Estado de Polícia Militar 
Ilmº Sr Coronel Márcio Pereira Basílio 
 
Diretor-Geral de Ensino e Instrução 
Ilmº Sr Coronel Rogério Quemento Lobasso 
 
Comandante do CFAP 31 de Voluntários 
Ilmº Sr Coronel PM Marcelo André Teixeira da Silva 
 
Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar - CEADPM 
Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Maximiano Boaventura Bresciani 
 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
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 APRESENTAÇÃO 
 
Estamos vivendo a era da tecnologia, na qual a informação está cada dia mais latente e 
veloz em nossa rotina diária. Este curso tem por objetivo , aperfeiçoar os 2º Sargentos da Polícia 
Militar do Estado do Rio de Janeiro. Para tal, o Curso ocorrerá na modalidade semipresencial, 
através de módulos, sendo destes um disponibilizado no ambiente virtual de aprendizagem, por 
intermédio da Escola Virtual, no Centro de Educação a Distância da Polícia Militar (CEADPM) e 
um módulo de disciplinas práticas ministrado do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de 
Praças (CFAP 31 Vol.). 
É fundamental o seu empenho no curso, pois você terá na parte EaD autonomia de 
estudos e de horários, mas também é necessário disciplina e dedição para o êxito dessa jornada, 
pois depende do esforço coletivo e também individual para que tenhamos policiais cada vez mais 
qualificados,bem treinados e aperfeiçoados para cumprirmos nossa missão, buscando cada vez 
mais a excelência de nossas ações. 
O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, na era da informação e da 
tecnologia, precisamos nos aprimorar cada vez mais a fim de garantir uma tropa consciente, 
respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, garantindo assim o cumprimento de suas 
funções com dignidade e excelência. 
Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos através deste 
curso e busque uma reflexão acerca de suas funções perante a sociedade, seus companheiros 
de profissão. Que seja um momento de repensar as práticas e fortelecer seu vínculo profissional, 
ampliando cada vez mais seus conhecimentos para lidar com as particularidades de ser um 
Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro. 
 
Desejamos a todos bons estudos! 
 
Rogério Quemento Lobasso - Coronel PM 
Diretor-Geral de Ensino e Instrução 
 
Marcelo André Teixeira da Silva – Ten. Coronel PM 
 Comandante do CFAP 
 
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Desenvolvedores 
CEADPM 
 
Supervisão Geral EAD 
CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva 
 
Equipe Técnica 
SUBTEN PM Wilian Jardim de Souza 
3º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos 
 
Diagramação 
2º SGT PM Wallace Reis Fernandes 
CB PM Michele Pereira da Siva de Oliveira 
CB PM Thiago Silva Amaral 
 
Design Instrucional 
CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva 
CB PM Michele Pereira da Siva de Oliveira 
 
Vídeo e animação 
CB PM Joyce Gaspar de Almeida 
 
Designer Gráfico 
2º SGT PM Wallace Reis Fernandes 
SD PM Leonardo da Silva Ramos 
 
Suporte ao Aluno 
2º SGT PM Anderson Inacio de Oliveira 
CFAP 
 
Supervisão Geral do Curso 
MAJ PM Maria Isabel Conceição Silva Sardinha 
 
Coordenação Pedagógica 
CAP PM Ped Patrícia Kalife Paiva 
 
Equipe Técnica 
TEN PM Ped Paulo Paulo Baptista 
2ºSGT PM Elaine Xavier Oliveira Alves de Lima 
CB PM Juliana Pereira de Carvalho 
 
Conteudista 
 
 Sr Eduardo Augusto Gonçalves Anjo 
 
Revisor de Conteúdo 
Sr José Carlos Fernandes Mendes - Comissário de Polícia - PCERJ 
 
 
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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6 
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS AO DIREITO PROCESSUAL PENAL ..................... 7 
INQUÉRITO POLICIAL ......................................................................................................... 9 
JUIZ DAS GARANTIAS ...................................................................................................... 23 
AÇÃO PENAL E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES. ........................................................ 37 
BUSCA E APREENSÃO E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ....................................... 41 
PRISÃO ................................................................................................................................. 45 
PROVAS ................................................................................................................................ 55 
CADEIA DE CUSTÓDIA ..................................................................................................... 59 
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ................................................................................ 63 
HABEAS CORPUS E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ................................................ 66 
CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 67 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 68 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
 
O estudo do Direito Processual Penal é fundamental na 
formação profissional dos operadores da segurança pública, 
compreender o que vem a ser o Direito Processual Penal e 
como o processo penal é instaurado é muito importante em 
nossa profissão, você sabia? 
 
Você sabe quais os tipos de ação penal que existem no Direito brasileiro e quem são os 
titulares de cada um desses tipos, quais são as peças processuais oferecidas para o início da 
ação penal? Nesta disciplina iremos conhecer um pouco desse universo. 
É necessário saber distinguir as provas processuais admitidas pelo ordenamento jurídico 
brasileiro e como essas provas são produzidas, bem como a sua participação na preservação 
do local do crime para a colheita do maior número de objetos e informações possíveis ao deslinde 
do caso. Por isso essa disciplina é importante. 
Você saberia realizar a revista pessoal e a busca domiciliar seguindo estritamente o que 
permite a legislação? E diferenciar as várias formas de prisão existentes no Brasil, incluindo 
quem e em que casos poderão prender em flagrante delito e quais os direitos do aprisionado? 
Ter conhecimento técnico sobre o instituto do Habeas Corpus e, por derradeiro, o 
procedimento a ser adotado quando o delito praticado for de menor potencial ofensivo, segundo 
a Lei n.º 9.099/95, com a ressalva dos delitos que envolvam violência doméstica é algo que 
precisamos dominar, não acha? 
O processo penal é o garantidor dos direitos individuais, dos Direitos Humanos e do 
combate a impunidade. A Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime) trouxe diversas inovações ao 
Código de Processo Penal, mas foi promulgada sob muita polêmica quanto a sua 
constitucionalidade. 
Tanto que foram propostas as ADI’s (Ação Direta de Inconstitucionalidade) nºs. 6.298, 
6.299, 6.300 e 6305 questionando diversos artigos da citada lei, entre os quais está previsto o 
“Juiz das Garantias”, por exemplo. No dia 22/01/2020, o Ministro Luiz Fux, vice-presidente do 
Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu pela suspensão da eficácia, por tempo indeterminado, 
de todos os artigos que tiveram a sua constitucionalidade arguida nas citadas ADI’s. A decisão, 
proferida de forma cautelar, será posteriormente submetida a referendo do Plenário do STF, para 
uma decisão definitiva sobre a eficácia dessas novas regras. 
 
 
 
Vamos estudar!!! 
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ELEMENTOS FUNDAMENTAISAO DIREITO PROCESSUAL 
PENAL 
 
Você sabia que o direito processual penal é o ramo do 
direito público que regula a função do Estado de julgar as 
infrações penais e aplicar as penas? 
 
Em outras palavras, nada mais é do que a violência 
institucionalizada, organizada, formalizada e socialmente aceita. Pode-
se ainda dizer que o processo penal surgiu como um instrumento para 
evitar a vingança privada, para eliminar o auto juízo, para evitar a 
dominação do mais forte, resguardando qualquer pessoa frente a outra, como mecanismo para 
aplicar, de forma racionalizada e alheia aos interesses dos envolvidos, a sanção criminal. 
 
Os elementos fundamentais ao processo penal estão em nossa Constituição e por 
definição correspondem a um mandamento nuclear do processo penal, sendo o 
alicerce dele, a disposição fundamental que se irradia 
sobre diferentes normas integrando o espírito da 
norma e servindo de critério para sua exata 
compreensão e inteligência, definindo a lógica e a 
racionalidade do sistema processual penal. 
 
Conhecer os princípios permite o entendimento das diferentes partes componentes do 
todo unitário do processo penal ou qualquer outra norma. Em nossa profissão, é comum no calor 
dos acontecimentos mover-nos a um estágio mais emocional que racional, mas se deve entender 
que violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer, pois implica 
ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo sistema de comandos, 
sendo a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, porque representa insurgência 
contra todo o sistema e quiçá a subversão dos valores fundamentais. 
 
Dito isto, eis os princípios fundamentais do processo penal comum: 
 
 Princípio do Devido Processo Legal - “Ninguém será privado da liberdade ou de seus 
bens sem o devido processo legal”. 
 Princípio da Verdade Real - A função punitiva do Estado deve ser dirigida àquele que 
realmente cometeu uma infração; 
 Princípio da Imparcialidade do Juiz - Não se pode admitir Juiz parcial. O Estado deve 
julgar de forma isenta. 
 Princípio da Igualdade das Partes - As partes, embora figurem em polos opostos, 
situam-se no mesmo plano, com iguais direitos, ônus, obrigações e faculdades. 
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 Princípio da persuasão racional ou do livre convencimento - Esse princípio, impede 
que o Juiz julgue com o conhecimento que eventualmente tenha extra autos. O Juiz tem 
inteira liberdade de julgar, valorando as provas como bem quiser sem, contudo, arredar-
se dos autos, pois o que não estiver dentro do processo é como se não existisse. O 
poder do juiz está nos autos! 
 Princípio do Contraditório - “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e 
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios 
e recursos a ela inerentes”. 
 Princípio da presunção de inocência - Significa que todo acusado é presumido 
inocente, até que seja declarado culpado por sentença condenatória, com trânsito em 
julgado e tem por objetivo garantir que o ônus da prova cabe à acusação e não à defesa. 
 Princípio da prevalência do interesse do réu ou “favor rei” (benefício do réu) - em 
síntese, havendo dúvidas, o réu se acha solto; 
 Princípio do duplo grau de jurisdição - Significa que a parte tem o direito de buscar o 
reexame da causa pelo tribunal. 
 Princípio do Juiz/ Promotor natural - Significa o direito do réu ser julgado por um juiz/ 
promotor previamente determinado por lei; 
 Princípio da ampla defesa: Significa que ao réu é concedido o direito de se valer de 
amplos e extensos métodos para se defender da imputação feita pela acusação; 
 Princípio da Intranscendência: Significa que a ação penal não deve transcender da 
pessoa a quem foi imputada a conduta criminosa; 
 Princípio da Vedação das Provas Ilícitas: Significa que a parte não pode produzir 
provas não autorizadas pelo ordenamento jurídico ou que não respeitem as formalidades 
previstas para a sua formação; 
 Princípio da vedação da dupla punição e do duplo processo pelo mesmo fato: 
Significa que não se pode processar alguém duas vezes com base no mesmo fato. 
 
 
Conhecidos alguns dos principais princípios 
orientadores do processo penal, importante frisar que a lei 
processual penal brasileira só é válida em território brasileiro 
tendo sua eficácia temporal imediata e não retroativa sob 
qualquer argumento, exceto para beneficiar o réu, ou seja, 
vale no Brasil e da publicação da lei em diante. 
 
 
 
 
 
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INQUÉRITO POLICIAL 
 
Você sabia que o inquérito policial possui a sua previsão 
legal contida no Código de Processo Penal, do art. 4º ao art. 23 e 
que sua finalidade está prevista no art. 4º do CPP, ao prever que tal 
procedimento investigatório (fase pré-processual) tem por fim a 
apuração das infrações penais e da sua autoria, em especial a coleta 
das provas consideradas irrepetíveis, antecipadas ou urgentes 
(provas cautelares), cujos vestígios podem desaparecer após a 
prática do crime? 
 
Tais provas poderão ser utilizadas na fase processual (ação penal), durante o 
contraditório, e, consequentemente, poderão servir como base a sentença penal condenatória. 
A persecução penal é constituída pelas fases pré-processual e processual. A nova Lei do Abuso 
de Autoridade (Lei nº 13.869/19) evidenciou a justa causa como fundamento para a 
instauração do inquérito policial ao prever, no seu art. 27, a criminalização da conduta de 
requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal em desfavor de 
alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime. 
O inquérito policial previsto no CPP, conduzido pela autoridade policial, não é o único 
instrumento utilizado para a realização de uma investigação criminal, portanto, a investigação 
criminal não é uma atribuição exclusiva da polícia judiciária. Outras autoridades poderão presidir 
uma investigação criminal de acordo com a sua especificidade: 
 Investigação conduzida pelos parlamentares numa CPI (Comissão Parlamentar de 
Inquérito) - art. 58, § 3º da Constituição Federal. 
 Investigação conduzida pela Polícia Legislativa - Segundo decisão do STF, na súmula 
nº 397: “O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso 
de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a 
prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito”. 
 Investigação conduzida no Inquérito Policial Militar - Encarregado de inquérito policial 
militar, segundo a previsão nos arts. 7º e 9º do Código de Processo Penal Militar. 
 Investigação conduzida pelo Ministério Público - Em 2015, o STF decidiu que o MP 
possui legitimidade para promover, por autoridade própria, investigações de natureza 
penal e fixou os parâmetros para a sua atuação, ou quando o investigado for um membro 
do Ministério Público. 
 Investigação conduzida pela autoridade judiciária - quando o investigado for um membro 
da magistratura ou na hipótese de um crime praticado nas dependências do Tribunal de 
Justiça, segundo a previsão contida no Regimento Interno do STF: “Art. 42. O Presidente 
responde pela polícia do Tribunal. No exercício dessa atribuição pode requisitar o auxílio 
de outras autoridades, quando necessário”. - “Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na 
sede ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver 
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autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro 
Ministro. § 1º Nos demais casos, o Presidente poderá proceder na forma deste artigo ou 
requisitar a instauração de inquérito à autoridade competente”. 
 
Conceito 
 
Com relação ao conceito de inquérito policial, vamos recorrer aos ensinamentos do 
professor Renato Brasileiro de Lima:“Procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade 
policial, o inquérito policial consiste em um conjunto de diligências realizadas pela polícia 
investigativa objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de elementos de 
informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim de possibilitar que o titular 
da ação penal possa ingressar em juízo. ” 
Trata-se de um procedimento instrumental, porquanto se destina a esclarecer os fatos 
delituosos relatados na notícia de crime, fornecendo subsídios para o prosseguimento ou o 
arquivamento da persecução penal. De seu caráter instrumental sobressai sua dupla função: 
 
 Preservadora: a existência prévia de um inquérito policial inibe a instauração de um 
processo penal infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e evitando 
custos desnecessários para o Estado; 
 Preparatória: fornece elementos de informação para que o titular da ação penal ingresse 
em juízo, além de acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o decurso 
do tempo”. (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único / 
Renato Brasileiro de Lima – 6. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2018. 
p. 107). 
 
Natureza Jurídica 
 
Com relação a natureza jurídica do inquérito policial, o professor Renato Brasileiro de Lima 
nos ensina que: 
“Trata-se de procedimento de natureza administrativa. Não se trata, pois, de processo 
judicial, nem tampouco de processo administrativo, porquanto dele não resulta a 
imposição direta de nenhuma sanção. 
Nesse momento, ainda não há o exercício 
de pretensão acusatória. Logo, não se 
pode falar em partes stricto sensu, já que 
não existe uma estrutura processual 
dialética, sob a garantia do contraditório e 
da ampla defesa”. (Renato Brasileiro de 
Lima. Obra citada. p. 107). 
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Características 
 
O IP possui determinadas características, conforme veremos a seguir: 
 
 Sigiloso: Conforme dispõe o art. 20 do CPP => “Art. 20 - A autoridade assegurará no 
inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”. 
Cabe ressaltar que, apesar do estatuto da OAB prever que o advogado poderá examinar 
procedimentos sobre investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, 
ainda que conclusos à autoridade, o STF entende que tal regra se aplica apenas as 
peças já documentadas no inquérito policial. => O STF é enfático ao fazer uma ressalva 
sobre a restrição necessária as informações sobre diligências ainda em andamento, pois 
o eventual acesso a essas informações poderia causar prejuízo às investigações. 
 Inquisitivo: Para a doutrina majoritária, no inquérito policial não são aplicados os 
princípios do contraditório ou da ampla defesa, em razão de ser um procedimento 
inquisitivo, ficando à cargo da autoridade policial, conforme o art. 14 do CPP => “Art. 14 
- O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer 
diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade”. 
 Autoritariedade: O inquérito policial deverá ser presidido por autoridade pública 
investido no cargo de Delegado de Polícia nos termos do art. 144, § 1º, I (Polícia Federal) 
e IV (Polícia Civil), e § 4º, da Constituição Federal, e o art. 2º, §1º, da Lei nº 12.830/13. 
 Escrito ou Formal: Segundo o teor do art. 9º do CPP, os atos praticados inquérito 
policial deverão formalizados por escrito => “Art. 9º - Todas as peças do inquérito policial 
serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, 
rubricadas pela autoridade”. 
 Discricionário: A autoridade policial conduzirá o inquérito policial de forma 
discricionária, decidindo quais as providências/diligências serão necessárias à 
elucidação da infração penal, de acordo com o crime/fato investigado => pois o IP não 
possui um rito procedimental previsto em lei - Existem duas exceções para essa 
discricionariedade: a) quando houver requisição do Ministério Público ou da autoridade 
judiciária => Art. 13, inciso II do CPP: “Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: 
inciso II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público”; b) na 
realização do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios => art. 158 do 
CPP: “Art. 158 - Quando a infração deixar 
vestígios, será indispensável o exame de 
corpo de delito, direto ou indireto, não 
podendo supri-lo a confissão do acusado”. 
 Oficialidade: O inquérito policial será 
presidido órgão oficialdo Estado, mais 
especificamente pela Polícia Judiciária, 
conforme a previsão contida na Lei nº 
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12.830/13 => “Art. 2º - As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais 
exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de 
Estado”. 
 Indisponibilidade: uma vez instaurado, a autoridade policial não poderá promover o 
arquivamento do inquérito policial, nos termos do art. 17 do CPP => “Art. 17 - A 
autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito”. 
 Dispensabilidade: O inquérito policial é dispensável pois a ação penal poderá ser 
iniciada se o Ministério Público ou o particular se ambos já possuírem os elementos de 
informação necessários para o oferecimento da denúncia ou da queixa. Conforme nosso 
estudo anterior, o IP não é o único instrumento utilizado para a realização de uma 
investigação criminal. Nos termos do art. 12 do CPP => “Art. 12 - O inquérito policial 
acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra”. 
 Oficiosidade: A autoridade policial é obrigada a agir de ofício, instaurando o inquérito 
policial, sempre que tomar conhecimento da prática de crime de ação pública com o 
objetivo de apurar a materialidade, a autoria e as circunstâncias do delito. Nos crimes de 
ação pública incondicionada, o IP 
será iniciado independentemente de 
provocação da vítima. Nos crimes 
de ação pública condicionada, o IP 
será iniciado mediante a 
representação da vítima. Nos 
termos do art. 5º, inciso I, do CPP 
=>“Art. 5o - Nos crimes de ação 
pública o inquérito policial será 
iniciado:I - de ofício”. 
 
Início do Inquérito Policial 
 
O Inquérito Policial será sempre iniciado (instaurado) com a comunicação da notícia do 
crime (notitia criminis), podendo tal comunicação ocorrer de diversas formas, segundo a regra 
contida no art. 5º do CPP: 
 
I - De ofício => pela autoridade policial => nos crimes de ação pública incondicionada. 
=> nos crimes de ação pública condicionada à 
representação, dependerá da manifestação de 
vontade da vítima, segundo o § 4o do art. 5º: “O 
inquérito, nos crimes em que a ação pública 
depender de representação, não poderá sem ela 
ser iniciado”. 
II - Mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público => Requisição é 
uma ordem => a autoridade policial não poderá se recusar a iniciar o IP. 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
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III - Mediante requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo => 
Requerimento é um pedido, que poderá ser recusado pela autoridade policial => segundo o 
§ 2o do art. 5º: “Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá 
recurso para o chefe de Polícia”. => segundo o § 5o do art. 5º: “Nos crimes de ação privada, a 
autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade 
para intentá-la”. => o § 1o do art. 5º prevê que o requerimento deverá possuir, sempre que 
possível, determinadas informações: 
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; 
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção 
ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o 
fazer;c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. 
IV – Mediante a comunicação por qualquer pessoa do povo => qualquer pessoa do povo que 
tiver conhecimento da existência de infração penal => poderá comunicá-la diretamente à 
autoridade policial => e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar 
inquérito => Tal comunicação poderá ocorrer: 
- Verbalmente ou por escrito; 
- Somente sobre infração penal cuja ação penal seja pública. 
V – Por meio do Auto de Prisão em Flagrante Delito => quando a autoridade policial toma 
conhecimento da prática da infração penal em razão de seu autor ser preso em flagrante delito 
=> Art. 302 e seguintes do CPP. 
 
Instrução do Inquérito Policial 
 
A investigação criminal será realizada através da execução de várias diligências 
determinadas pela autoridade policial no inquérito policial, de acordo com o crime praticado (caso 
concreto). O CPP contém um rol de diligências previstas nos arts. 6º, 7º, 13, 13-A e 13-B. Esse 
rol é exemplificativo pois existe previsão sobre outras diligências nas leis especiais que contém 
ritos processuais próprios, tal como a Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), 
Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha), Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas), entre outras. 
Código de Processo Penal 
Observação: Denúncia anônima => Constituição Federal, “Art. 5º: inciso IV - é livre a 
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. => O STF vêm editando 
diversas decisões no sentido de que as autoridades públicas não podem iniciar 
investigação formalizada no inquérito policial tendo como único suporte informativo 
uma denúncia anônima (peça apócrifa = peça de origem duvidosa/suspeita em razão 
do seu autor não estar identificado) => para tal hipótese, principalmente, tem que 
haver a verificação da procedência das informações, para que haja justa causa 
(presença das condições mínimas de admissibilidade) para que a investigação possa 
ser formalizada através da instauração do inquérito policial. 
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Art. 6o - Logo que tiver conhecimento da prática da infração 
penal, a autoridade policial deverá: 
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o 
estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos 
criminais; 
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após 
liberados pelos peritos criminais; 
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento 
do fato e suas circunstâncias; 
IV - ouvir o ofendido; 
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do 
disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o 
respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe 
tenham ouvido a leitura; 
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a 
acareações; 
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo 
de delito e a quaisquer outras perícias; 
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo 
datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de 
antecedentes; 
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista 
individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude 
e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e 
quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação 
do seu temperamento e caráter; 
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas 
idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato 
de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela 
pessoa presa. 
Art. 7o - Para verificar a possibilidade de haver a infração sido 
praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá 
proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não 
contrarie a moralidade ou a ordem pública. 
(...) 
Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: 
 I - fornecer às autoridades judiciárias as informações 
necessárias à instrução e julgamento dos processos; 
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo 
Ministério Público; 
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades 
judiciárias; 
IV - representar acerca da prisão preventiva. 
Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 
3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei no 8.069, 
de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), 
o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá 
requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas 
da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima 
ou de suspeitos. 
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 
(vinte e quatro) horas, conterá: 
I - o nome da autoridade requisitante 
II - o número do inquérito policial; e 
III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável 
pela investigação. 
Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes 
relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério 
Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante 
autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de 
telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem 
imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, 
informações e outros – que permitam a localização da vítima ou 
dos suspeitos do delito em curso. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm#livroitituloviicapituloiii
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art148
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art149
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art149a
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art158%C2%A73
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art158%C2%A73
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art159
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art159
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art239
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art239
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 15 
§ 1o - Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento 
da estação de cobertura, setorização e intensidade de 
radiofrequência. 
§ 2o - Na hipótese de que trata o caput, o sinal: 
I - Não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de 
qualquer natureza, que dependerá de autorização judicial, 
conforme disposto em lei; 
II - Deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel 
celular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por 
uma única vez, por igual período; 
III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será 
necessária a apresentação de ordem judicial. 
§ 3o - Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial 
deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) 
horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial. 
§ 4o - Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) 
horas, a autoridade competente requisitará às empresas 
prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que 
disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – 
como sinais, informações e outros – que permitam a localização 
da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata 
comunicação ao juiz”. 
 
Determinadas diligências possuem reserva de jurisdição, ou seja, só poderão ser 
realizadas mediante autorização judicial, tal qual: a interceptação telefônica, quebra do sigilo 
bancário, busca e apreensão em residências, prisão temporária e preventiva, infiltração policial 
(ação controlada), entre outras. As ações desenvolvidas no bojo da investigação devem ser 
realizadas sempre com a observância irrestrita das garantias constitucionais, sob pena das 
provas colhidas se tornarem ilícitase o policial incidir na prática de crime de abuso de autoridade: 
Lei nº 13.869/19 
“Art. 25 - Proceder à obtenção de prova, em procedimento de 
investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem faz uso de 
prova, em desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio 
conhecimento de sua ilicitude”. 
 
Como exemplo, podemos citar a posição do STJ nas suas recentes decisões, ao 
reconhecer a nulidade da prova obtida por meio de acesso ao aplicativo “WhatsApp” no telefone 
celular apreendido em poder do marginal, após a sua prisão em flagrante, hipótese em que o 
policial analisa o conteúdo do aparelho mediante o (pseudo) consentimento do mesmo. As 
decisões, de forma geral, se baseiam na exigência da prévia autorização judicial como condição 
para a análise do conteúdo existente na memória e nos aplicativos de um aparelho celular, 
apreendido em razão de sua utilização na execução do crime, além de também entender que a 
manifestação de vontade do marginal poderá estar comprometida em razão do mesmo se 
encontrar sob o jugo do Estado. A 
diligência concebida através da análise 
de um aparelho celular utilizado na 
execução de um crime poderá ser muito 
importante para a instrução do inquérito 
policial e deverá ser realizada conforme 
o rito previsto em lei. 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 16 
Prazo para conclusão do Inquérito Policial 
 
O inquérito policial possui um prazo determinado para a sua conclusão. Tal prazo é 
determinado conforme a previsão contida na legislação específica: 
 
Código de Processo Penal 
 No prazo de 10 (dez) dias 
 Se o indiciado tiver sido preso em flagrante, 
 Ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em 
que se executar a ordem de prisão. 
 
 No prazo de 30 (trinta) dias => quando o indiciado estiver solto, mediante fiança ou (com 
prorrogação) sem ela. 
 Quando ainda não houver autoria determinada que possibilite o indiciamento. 
 
Inquérito Policial Militar (art. 20 do CPPM – Decreto-Lei nº 1.002/69) 
 No prazo de 20 (vinte) dias => indiciado preso. 
(Sem prorrogação) 
 No prazo de 40 (quarenta) dias => indiciado solto. 
(Prorrogável por mais 20 dias) 
 
Inquérito policial com trâmite para a Justiça Federal (art. 66 da Lei nº 5.010/66) 
 No prazo de 15 (quinze) dias => indiciado preso. 
(Prorrogável por mais 15 dias) 
 No prazo de 30 (trinta) dias => indiciado solto. 
 (Com prorrogação) 
 
Inquérito policial na Lei de Drogas (art. 51 da Lei nº 11.343/06) 
 No prazo de 30 (trinta) dias => indiciado preso 
 No prazo de 90 (noventa) dias => indiciado solto 
 (Com duplicação) 
 
Inquérito policial nos Crimes Contra a Economia Popular (art. 10, § 1º da Lei nº 1.521/51) 
 No prazo de 10 (dez) dias => indiciado 
preso 
 No prazo de 10 (dez) dias => indiciado solto 
 (Sem prorrogação) 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 17 
 
Encerramento do Inquérito Policial 
 
O encerramento da investigação realizada por 
meio do inquérito policial (fase pré-processual da 
persecução penal), ocorrerá somente após a 
conclusão de todas as diligências necessárias ao 
esclarecimento sobre os indícios da autoria e 
materialidade do crime praticado => momento em que 
a autoridade policial apresentará o relatório 
conclusivo do inquérito policial => com o consequente 
indiciamento do investigado => nessa fase não há que se 
falar ainda em réu ou acusado => esse termo só será usado após o início do processo (com o 
recebimento da denúncia) => fase em que os indícios se converterão em provas, tanto para a 
acusação quanto para a defesa, durante o respectivo contraditório. 
 
Código de Processo Penal 
“Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o 
indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso 
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia 
em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, 
quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. 
§ 1o - A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido 
apurado e enviará autos ao juiz competente. 
§ 2o - No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que 
não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam 
ser encontradas. 
(...) 
Art. 399 - Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e 
hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de 
seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do 
querelante e do assistente”. 
Lei nº 12.830/13 
“Art. 2º - As funções de polícia judiciária e a apuração de 
infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de 
natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. 
§ 6º - O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á 
por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, 
que deverá indicar a autoria, materialidade e suas 
circunstâncias”. 
 
 
Observação: Nos crimes de difícil elucidação, para que a autoria possa ser 
determinada e o indiciamento efetivado, será possível a prorrogação do prazo 
inicialmente previsto pela lei (vide os procedimentos acima), segundo a regra geral 
estabelecida pelo Código de Processo Penal =>“Art. 10. § 3o - Quando o fato for de 
difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a 
devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo 
marcado pelo juiz” => No Estado do Rio de Janeiro, esse prazo é estabelecido pelo 
Ministério Público. 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 18 
Trancamento do Inquérito Policial 
 
O trancamento do inquérito policial poderá ser efetivado através de habeas corpus, 
quando a instauração da investigação criminal se evidenciar abusiva, podendo ser decretado 
mediante três fundamentos: 
 Atipicidade da conduta, 
 Existência de causa extintiva da punibilidade, ou 
 Ausência de justa causa (indícios mínimos de autoria ou de prova de materialidade). 
Código de Processo Penal 
Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou 
se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua 
liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar. 
Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: 
I - quando não houver justa causa; 
(...) 
VII - quando extinta a punibilidade. 
 
O trancamento do inquérito policial deve ser considerado uma medida excepcional, pois 
a fase pré-processual se caracteriza pela verificação dos indícios da autoria e coleta da 
materialidade do crime, não formando nenhum tipo de juízo de culpa em face do investigado. 
Vale ressaltar, contudo, que durante o curso da investigação, para a devida instrução do inquérito 
policial, podem ser solicitas a decretação de 
medidas cautelares de restrição da liberdade contra 
o investigado, através das prisões temporária e 
preventiva. O STF e o STJ vêm editando decisões 
em que reconhecem a possibilidade de 
trancamento do inquérito policial mediante a 
existência de um dos três fundamentos acima 
elencados. 
 
Arquivamento do Inquérito Policial 
 
 O arquivamento do inquérito policial ocorrerá na hipótese de, após esgotados todos os 
meios de investigação, não se obter nenhum resultado sobre qualquer indício da autoria do crime 
e/ou da sua materialidade. Antes do advento da Lei nº 13.964/19 (pacote anticrime), o 
arquivamento era determinado pelo juiz mediante o requerimento do Ministério Público. 
Após a edição da citada lei, a previsão sobre o arquivamento do inquérito policial mudou 
completamente. Talvez a principal mudança resida na previsão 
sobre a atribuição para determinar esse arquivamento, que 
passou a ser incumbência do Ministério Público. Finalizado o 
inquérito policial, o Ministério Público passa a decidir se será a 
hipótese de oferecer a denúncia ao Juiz das Garantias (vide o 
próximo capítulo)ou determinar o seu arquivamento. 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 19 
Código de Processo Penal 
“Art. 28 - Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de 
quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão 
do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à 
autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de 
revisão ministerial para fins de homologação, na forma da 
lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 1º - Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar 
com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 
(trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a 
matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, 
conforme dispuser a respectiva lei orgânica”. (Incluído pela Lei 
nº 13.964, de 2019) 
 
Face a essa alteração, vamos recorrer aos ensinamentos do professor Guilherme de 
Souza Nucci, sobre essa mudança no Código de Processo Penal: 
 
“O arquivamento do inquérito policial ou de outras peças informativas (como, por exemplo, o 
procedimento investigatório criminal – PIC – promovido pelo Ministério Público, dentre outros 
autos de investigação), de maneira mais apropriada, respeitando-se o sistema acusatório, não 
mais enfrenta a análise do juiz, que, no caso, seria o magistrado de garantias. Será levado à 
análise superior do Ministério Público, como o Conselho Superior ou Câmaras criadas 
especialmente para tal finalidade. Permanece o rigor quanto ao critério da obrigatoriedade da 
ação pública incondicionada, mas quem fará esse exame de cabimento será o próprio Ministério 
Público. Portanto, o promotor ou Procurador da República, ao propor o arquivamento, 
automaticamente, encaminhará os autos à instância revisora ministerial para a homologação. 
(...). 
Outro ponto positivo é que, ordenado o arquivamento pelo membro do Ministério Público, este 
será obrigado a comunicar oficialmente, à vítima do crime, ao investigado e à autoridade policial 
(neste caso, quando se tratar de inquérito policial). (...). 
Tomando conhecimento do arquivamento, a vítima tem o prazo de 30 dias, a constar do 
recebimento da comunicação, por isso deve ser oficial, para submeter a matéria à revisão do 
Órgão superior do MP. (...). Em suma, não cabe mais essa função anômala ao juiz de garantias, 
que, aliás, nem consta do rol de suas atribuições”. (NUCCI, Guilherme de Souza. Pacote 
anticrime comentado: Lei 13.964/2019, de 24.12.2019 / Guilherme de Souza Nucci. – 1. ed. – 
Rio de Janeiro: Forense, 2020. p.57-59). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 20 
Obrigatoriedade de defensor para agentes de segurança pública 
investigados sobre fatos relacionados ao uso da força letal 
 
O art. 14-A é uma inovação trazida pela Lei nº 13.964/19, passando a prever a 
obrigatoriedade da designação de defensor na hipótese de investigação sobre fatos relacionados 
ao uso da força letal atribuído a agentes de segurança pública. 
 
Código de Processo Penal 
“Art. 14-A - Nos casos em que servidores vinculados às 
instituições dispostas no art. 144 da Constituição 
Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, 
inquéritos policiais militares e demais procedimentos 
extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos 
relacionados ao uso da força letal praticados no exercício 
profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as 
situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir 
defensor”. 
 
Segundo o professor Rogério Sanches Cunha: 
 
“Suspeito, investigado ou indiciado? - Parece-nos que o chamamento agora exigido pelo 
art. 14-A deve ocorrer a partir do momento em que fica caracterizada a condição jurídica de 
investigado da pessoa até então suspeita, leia-se, quando as diligências policiais passam a 
“mirar” pessoa certa e determinada, sobre a qual pesam indicações de autoria ou participação 
na prática de uma infração penal, independentemente de qualificação formal atribuída pela 
autoridade responsável pela investigação. 
O ato formal do indiciamento, que para alguns era de pouca utilidade prática, agora fica 
definitivamente escanteado, pelo menos em crime dessa envergadura. 
É claro que a cautela do art. 14-A não pode comprometer a 
investigação. Aliás, parece que a intenção maior do legislador foi 
garantir aos investigados que atuam na área de segurança pública a 
assistência jurídica (e não comprometer a apuração de crimes 
graves). 
Logo, aplicando-se o mesmo espírito da Súmula Vinculante 
14, o dever de chamamento do investigado deve coexistir com o dever 
de apurar eficazmente o crime. Há diligências que devem ser sigilosas 
e anteceder o chamamento do investigado, sob risco de 
comprometimento do seu bom sucesso. (Obra citada. p.109). 
 
 
“Art. 14-A - § 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, 
o investigado deverá ser citado da instauração do procedimento 
investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 
(quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação". 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art23
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art23
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 21 
Segundo o professor Rogério Sanches Cunha: 
 
“Citação ou notificação? - Diz o dispositivo que o servidor deve ser “citado” da instauração do 
procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até quarenta e oito horas 
a contar do recebimento da “citação”. Por óbvio, não se deve falar em citação nessa etapa, mas 
notificação, ato genérico de chamamento para realizar um ato. Não se está garantindo 
contraditório e ampla defesa na fase extrajudicial, que, se um dia for prevista como opção do 
legislador, não poderá ser exclusiva do agente ou autoridade de segurança pública, mas de 
qualquer cidadão. O novel artigo assegura, na verdade, direito de acompanhar ab initio as 
investigações, podendo a defesa fazer requerimentos que, como qualquer outro, serão 
apreciados pela autoridade que preside o procedimento oficial”. (Obra citada. p.109-110). 
 
“Art. 14-A - § 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo 
com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a 
autoridade responsável pela investigação deverá intimar a 
instituição a que estava vinculado o investigado à época da 
ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e 
oito) horas, indique defensor para a representação do 
investigado”. 
 
Segundo o professor Rogério Sanches Cunha: 
 
“Assistência jurídica gratuita – Apesar de relevante e fundamental a atuação de agentes e 
autoridades de segurança pública na garantia ou na restauração da paz social, quando figuram 
como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos 
extrajudiciais, cujo objeto seja fato relacionado ao uso da força letal praticado no exercício 
profissional ou missões para Garantia da Lei e da Ordem, carecem, quase sempre, de efetiva 
assistência jurídica. 
(...) Se chamado a constituir defensor, o servidor não o faz no prazo de 48 horas, a autoridade 
responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que 
estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, 
para que esta, no mesmo prazo, indique defensor para 
representá-lo”. (Obra citada. p.110). 
Ainda com relação a este tema, o professor Rogério Sanches 
Cunha faz importante observação sobre duas questões 
relevantes:“Não atendimento ao art. 14-A: consequências – O não chamamento do indigitado para 
acompanhar a investigação gera nulidade dos atos supervenientes. 
Indiciado não localizado – A Lei 13.964/19 não previu solução para o caso de não ser o servidor 
investigado encontrado. Diante da sistemática construída, sendo incompatível o chamamento 
por edital, o que burocratizaria de forma anormal a investigação de fatos graves, sugerimos 
aplicar-se § 2º”. (Obra citada. p.109-110). 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 22 
 
“Art. 14-A - § 3º - (VETADO)”. 
“Art. 14-A - § 4º - (VETADO)”. 
“Art. 14-A - § 5º - (VETADO)”. 
 
Os parágrafos 3º, 4º e 5º, apesar de serem objeto de debate na doutrina, não serão 
estudados em razão do VETO pelo Presidente da República. 
 
§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos 
servidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 
142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados 
digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. 
 
Segundo o professor Guilherme de Souza Nucci: 
 
“É preciso analisar o disposto pelo § 6º, que sobrou, 
sem veto. Dispõe que os membros das forças armadas, 
constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela 
Aeronáutica (art. 142, CF) também fazem jus à citação, 
durante a investigação, com acompanhamento de 
advogado. Entretanto, não abrange qualquer crime 
militar, constante do art. 9º do Código Penal Militar. 
Apenas os que disserem respeito a missões especiais 
para a “Garantia da Lei e da Ordem”. Ora, esta é uma 
intervenção, já praticada em alguns Estados 
brasileiros, não contemplando todos os delitos 
militares. Deve-se aplicar o disposto pelo art. 9º, § 2º do 
CPM: “Os crimes de que trata este artigo, quando 
dolosos contra a vida e cometidos por militares das 
Forças Armadas contra civil, serão da competência da 
Justiça Militar da União, se praticados no contexto: I – do cumprimento de atribuições que lhes 
forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de 
Estado da Defesa; II – de ação que envolva a segurança de instituição 
militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou III – de 
atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei 
e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade 
com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos 
seguintes diplomas legais: a) Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 
1986 – Código Brasileiro de Aeronáutica; b) Lei Complementar nº 97, 
de 9 de junho de 1999; c) Decreto-Lei nº 1.0002, de 21 de outubro 
de 1969 – Código de Processo Penal Militar; e d) Lei nº 4.737, de 15 
de julho de 1965 – Código Eleitoral” (grifamos)”. (Obra citada. p.55). 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 23 
JUIZ DAS GARANTIAS 
 
 
Você sabia que a nova figura jurídica intitulada como “Juiz das 
Garantias” foi concebida através do “Pacote Anticrime” e inserida no 
Código de Processo Penal pela previsão contida nos arts. 3º-A, 3º-B, 3º-
C, 3º-D, 3º-E e 3º-F.? 
 
Apesar da nova figura jurídica do “Juiz das Garantias” estar com a sua eficácia suspensa 
até a decisão final do STF, devemos compreender a previsão legal sobre a sua atuação na fase 
pré-processual. 
O “Juiz das Garantias” foi concebido para atuar da fase da investigação criminal, mais 
especificamente para controlar a legalidade das atividades policiais, bem como autorizar 
determinadas diligências que só poderão ser realizadas mediante autorização judicial. 
A fase pré-processual se inicia com a instauração do procedimento de investigação 
criminal, prosseguindo com a realização todas as diligências necessárias para a apuração dos 
indícios da autoria e materialidade da infração penal, e finaliza com o encerramento das 
investigações mediante o oferecimento da denúncia, ato este que antecede o início da ação 
penal (fase processual). 
Se o “Juiz das Garantias” (juiz da investigação) aceitar a denúncia, encerra a sua 
atuação pois estará encerrada a fase pré-processual. Esse momento marca o início da ação 
penal e o início da atuação (competência) do “Juiz da Instrução” (juiz do processo). 
Com relação a esse tema, o professor Guilherme de Souza Nucci entende que: 
“O juiz de garantias não se aplica aos tribunais, mesmo quando conduzem investigações, porque 
são colegiados, ou seja, não é o mesmo Ministro/Desembargador que fiscalizará as 
investigações e, ao mesmo tempo, julgará, sozinho, a ação penal originária. Ao contrário, há um 
colegiado para isso. O objetivo primordial do juiz de garantias é evitar a concentração de poder 
nas mãos do mesmo juiz, que fiscaliza (antes da nova lei, participava da condução) a 
investigação e, depois, irá conduzir a instrução para, ao final, julgar o processo. É preciso ter um 
excepcional equilíbrio para separar tudo o que colheu na investigação daquilo que amealhou 
durante a instrução. Por isso, o juiz de garantias pretende solucionar esse dilema”. (Obra citada. 
p.37-38). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 24 
O processo penal e a previsão sobre a sua estrutura acusatória 
 
Art. 3º-A - O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas 
a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da 
atuação probatória do órgão de acusação. 
 
A “estrutura acusatória” prevista no citado artigo, significa que a fase processual deverá 
ser constituída pela atuação de determinadas figuras processuais, distintas entre si, exercendo 
separadamente as funções de acusar, defender e julgar o acusado durante o trâmite do 
processo. Sobre tal previsão legal, vamos recorrer aos ensinamentos do professor Rogério 
Sanches Cunha: 
“No sistema acusatório, cada sujeito processual tem uma função bem definida no processo. A 
um caberá acusar (como regra, o Ministério Público), a outro defender (o advogado ou defensor 
público) e, a um terceiro, julgar (o juiz). A lição de José Frederico Marques merece ser lembrada 
(Estudos de Direito Processual, Rio de Janeiro: Forense, 19, p. 23). 
O citado autor identifica as principais características do sistema acusatório, a saber: 
a) separação entre os órgãos da acusação, defesa e julgamento, de forma a se instaurar 
um processo de partes; 
b) liberdade de defesa e igualdade de posição das partes; 
c) vigência do contraditório; 
d) livre apresentação das provas pelas partes; 
e) regra do impulso processual autônomo, ou ativação inicial da causa pelos 
interessados (...). Diríamos, em acréscimo: o processo é público, salvo algumas 
situações previstas em lei. 
A nossa Bíblia Política de 1988 adota esse sistema. A lei 13.964/19, obediente à Carta 
Maior, foi clara: o processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase 
de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. 
(...) 
Na sistemática que antecedeu a Lei 13.964/19, a regra de competência ia no sentido 
diametralmente oposto, isto é, o juiz da investigação tornava-se prevento para prosseguir no feito 
até final julgamento (arts. 75, parágrafo único, e 83 do CPP). 
(...) 
Lei no tempo – Em respeito ao ato jurídico perfeito, ao juiz natural e ao princípio da 
identidade física do juiz, entendemos que o sistema do juiz das garantias deve ser aplicado nos 
casos futuros, não retroagindo para alcançar feitos já instaurados”. (Obra citada. p.69-72). 
Cabe realizar um comentário sobre este penúltimo parágrafo, transcrito da obra do 
professor Rogério Sanches Cunha, em que são citados os arts. 75, 
parágrafo único, e 83 do CPP. O ensinamento do citado professor 
é baseado nas modificações trazidas pela nº 13.964/19, na 
hipótese de que todos os seus dispositivos legais estariam em 
pleno vigor, após o respectivoperíodo de vacância. 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 25 
Código de Processo Penal 
“Art. 75 - A precedência da distribuição fixará a competência 
quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um 
juiz igualmente competente. 
Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da 
concessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou 
de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a 
da ação penal. 
(...) 
Art. 83 - Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez 
que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes 
ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos 
outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este 
relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da 
queixa (arts. 70, § 3o, 71, 72, § 2o, e 78, II, c)”. 
 
Em razão da suspensão da eficácia dos artigos que conceberam o “Juiz das Garantias”, 
promovida pelo STF, por tempo ainda indeterminado, a regra que vigorava no Código de 
Processo Penal antes da promulgação da Lei nº Lei 13.964/19, continua a ser aplicada, ou seja, 
o juiz que atua na fase da investigação, decidindo sobre a concessão de alguma medida cautelar, 
torna-se prevento para prosseguir na fase do processo até o julgamento. Essa é a regra 
atualmente em vigor, e continuará sendo até o STF proferir a sua decisão definitiva sobre o tema. 
 
O rol de competências do “Juiz das Garantias” 
 
Art. 3º-B - O juiz das garantias é responsável pelo controle da 
legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos 
direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à 
autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe 
especialmente”: 
 
O novo art. 3-B do CPP apresenta um rol de competências para o “Juiz das Garantias”, 
rol este que a doutrina classifica como sendo não taxativo em razão do dispositivo contido no 
seu inciso XVIII, prevendo que o mesmo poderá decidir sobre: “outras matérias inerentes às 
atribuições definidas no caput deste artigo”. O citado artigo apresenta os dois pilares que 
fundamentam a criação dessa nova figura jurídica: 
 
1) ser responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e; 
2) ser responsável pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido 
reservada à autorização prévia do Poder Judiciário. 
 
E as “ferramentas legais” (não taxativas) para o exercício de tal competência estão 
relacionadas ao longo dos dispositivos que compõem tal artigo. Para otimizar a compreensão da 
matéria, após cada dispositivo estudado, reproduziremos diretamente os ensinamentos 
proferidos pelos professores anteriormente citados. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm#art73
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm#art71
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm#art72
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm#art78.
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 26 
 
Art. 3º-B - Inciso I - receber a comunicação imediata da prisão, 
nos termos do inciso LXII do caput do art. 5º da Constituição 
Federal; 
 
 
 
Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: 
“No nosso ordenamento jurídico, a matéria, até o advento da Lei 13.964/19, estava prevista 
apenas na Resolução 213/15, do Conselho Nacional de Justiça e em normas internas dos 
tribunais. Agora temos Lei (art. 310do CPP). 
A audiência de custódia (ou de apresentação) tem dupla finalidade: de proteção, a fim 
de tutelar a integridade física do preso, e de constatação, aquilatando, de acordo com as 
circunstâncias do caso concreto, a necessidade de ser mantida a prisão do autuado. 
Interessante observar que o juiz que participa da audiência de custódia nem sempre 
atuará como juiz das garantias do caso a ele apresentado, pois tal solenidade pode acorrer num 
plantão judiciário, por exemplo (algo comum e rotineiro). Contudo, ao decidir medidas cautelares, 
também este magistrado “do plantão” estará proibido de servir na instrução”. (Obra citada. p.78-
79). 
 
Art. 3º-B – Inciso II - receber o auto da prisão em flagrante para 
o controle da legalidade da prisão, observado o disposto no art. 
310 deste Código”; 
 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Esta providência sempre foi adotada, nos termos do art. 306 do CPP. Recebida a comunicação, 
o juiz pode relaxar a prisão ilegal (art. 310, I, CPP), pode converter a prisão em flagrante em 
preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem 
inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão (art. 310, II, CPP); 
conceder liberdade provisória, com ou sem fiança (art. 310, III, CPP)”. (Obra citada, p.40). 
 
Art. 3º-B - Inciso III - zelar pela observância dos direitos do 
preso, podendo determinar que este seja conduzido à sua 
presença, a qualquer tempo”; 
 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Este dispositivo nem necessitaria ter sido introduzido, pois havendo a audiência de custódia 
está-se prevendo a oportunidade de o juiz zelar pelos direitos do preso. Mas, há de se convir que 
se ampliou, ainda mais, esse cuidado com a integridade física e moral do detento. Diante disso, 
basta o preso requerer audiência com o juiz de garantias, por conta de ameaças sofridas, 
superlotação, falta de atenção médica, dentre fatores similares, para ser oportuna a condução 
do detido à presença do juiz de garantias”. (Obra citada. p.40). 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 27 
 
Art. 3º-B - Inciso IV - ser informado sobre a instauração de 
qualquer investigação criminal”; 
 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Esta é uma novidade cuja importância e alcance há de ser tratada com cautela. Quando o 
delegado instaurava o inquérito policial para apurar um crime, não era obrigado a notificar 
ninguém; aliás, somente daria ciência ao investigado quando este fosse indiciado formalmente 
(apontado pela autoridade policial como suspeito). O mesmo se diga em relação a outras 
investigações, muitas das quais agora podem ser iniciadas pelo Ministério Público (PIC: 
procedimento investigatório criminal). Inexistindo neste procedimento o indiciamento, em 
verdade, o investigado ficava sabendo disso se alguém lhe contasse ou mesmo quando o PIC já 
serviu de elemento para instruir uma denúncia, sendo então citado para responder à ação penal. 
Diante disso, toda a investigação do Ministério Público, assim que eleger um suspeito, deve 
cientificá-lo, sob pena de ocorrer, desde logo, vício representativo de cerceamento de defesa, 
valendo, como instrumento, o trancamento da investigação, a ser requerido ao juiz de garantias. 
Se este negar, caberá habeas corpus ao Tribunal”. (Obra citada. p.40-41). 
 
Art. 3º-B - Inciso V - decidir sobre o requerimento de prisão 
provisória ou outra medida cautelar, observado o disposto no § 
1º deste artigo”; 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Cabe ao juiz de garantias, durante a investigação, decretar a prisão provisória ou outra medida 
cautelar, requerida pelo órgão acusatório. São prisões provisórias cabíveis: prisão temporária e 
prisão preventiva. As medidas cautelares, diversas da prisão, estão previstas no art. 319 do CPP. 
Impôs a observação ao disposto no § 1º deste art. 3º-B, porém, esse parágrafo foi vetado, sob o 
fundamento de que foi suprimida a possibilidade de realização da audiência de custódia por 
videoconferência, o que geraria insegurança jurídica, pois esse tipo de audiência é admitido em 
outros preceitos da lei processual penal; além disso, apontou-se o aumento da despesa e a 
complexidade de se ter que convocar um juiz de outra comarca (quando o juiz for o único da 
comarca onde foi decretada a prisão cautelar) para realizar a audiência de custódia. Não nos 
parece acertado o veto ao § 1º”. (Obra citada. p.40-41). 
 
Art. 3º-B - Inciso VI - prorrogara prisão provisória ou outra 
medida cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las, 
assegurado, no primeiro caso, o exercício do contraditório em 
audiência pública e oral, na forma do disposto neste Código ou 
em legislação especial pertinente; 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Esta medida, sim, tinha tudo para ser vetada pela complexidade e também pela complicação 
que vai gerar. A situação é a seguinte: o juiz de garantias decreta a prisão temporária de alguém 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 28 
por 5 dias; se houver necessidade de prorrogá-la por outros 5 dias, deverá designar audiência 
pública (a portas abertas) e oral (podendo qualquer das partes envolvidas comparecer e falar 
diretamente ao juiz, ouvindo deste alguma justificativa, valendo-se do contraditório). (...) Essa 
medida vai incentivar o uso de prisão preventiva, para evitar o curto espaço de tempo da prisão 
temporária, ao menos daquelas que duram somente 5 dias”. (Obra citada. p.41-42). 
 
Art. 3º-B - Inciso VII - decidir sobre o requerimento de produção 
antecipada de provas consideradas urgentes e não repetíveis, 
assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência 
pública e oral; 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Este preceito entra em confronto, parcialmente, com o disposto pelo art. 156, I, do Código de 
Processo Penal. O novo inciso possibilita que o juiz participe da produção antecipada de provas, 
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade 
da medida. Entretanto, não mais pode o juiz, agora denominado de garantias, a quem compete 
essa produção antecipada de provas, determina-la de ofício, dependendo de requerimento das 
partes – órgão acusatório ou defesa. Cite-se o tradicional exemplo da existência de uma 
testemunha presencial, que seja crucial ao deslinde do caso, mas esteja muito doente. É preciso 
ouvi-la de pronto, antes mesmo do início da instrução. Nesse caso, o juiz de garantias designa 
uma audiência para a produção antecipada de provas, na situação concreta, a oitiva de uma 
testemunha fundamental. Fixa-se, expressamente, o direito ao investigado de lhe ter assegurado 
o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral”. (Obra citada. p.42). 
 
Art. 3º-B - Inciso VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, 
estando o investigado preso, em vista das razões apresentadas 
pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste 
artigo; 
 
Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: 
“Antes da Lei 13.964/19, o prazo para conclusão do inquérito deveria observar normas distintas, 
a depender se tramitava na justiça estadual ou federal. Se estadual, aplicava-se o art. 10 CPP, 
ou seja, prazo de dez dias quando preso o indiciado (contado da data da prisão) e de trinta dias 
quando solto, nesta última hipótese admitindo prorrogação (art. 10, § 3º). 
No caso de inquérito federal, aplicava-se o art. 66 da Lei nº 5.010/66 (que organizou a 
Justiça Federal de 1ª instância), que prevê que “o prazo para conclusão do inquérito policial será 
de quinze dias”. O diploma, porém, não aponta prazo para conclusão na hipótese do indiciado 
solto, razão pela qual incidia a regra geral dos trinta dias, prevista no art. 10 CPP. 
Com a nova Lei 13.964/19, para o caso de indigitado preso na Justiça Estadual, operou-
se um conflito dentro do próprio CPP. O art. 10 manda concluir em 10 dias, sem prorrogação. O 
art. 3º-B, § 2º, manda concluir em 15 dias, admitindo uma prorrogação. 
E agora? Devemos, no caso, trabalhar com o princípio da posteridade. A norma 
posterior revoga, ainda que em parte, a anterior. Prevalece, portanto, o art. 3º-B, § 2º, 
uniformizando o prazo nas duas instâncias (estadual e federal). 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 29 
Outros prazos em legislação extravagante para conclusão do inquérito policial devem ser 
respeitados, em homenagem ao princípio da especialidade. Assim, o art. 51 da Lei nº 
11.343/2006 (Lei de Drogas), prevê o prazo de trinta dias para a conclusão do inquérito, estando 
o indiciado preso e de noventa dias quando solto. Nos crimes contra a economia popular (Lei 
1.521/1951), esse prazo é de dez dias (art. 10, § 1º), solto ou preso o réu. É de vinte dias o prazo 
para término do inquérito instaurado perante a Justiça Militar, estando o réu preso e de quarenta 
dias, se solto (art. 20 do CPPM) ”. (Obra citada. p.42). 
 
Art. 3º-B - Inciso IX - determinar o trancamento do inquérito 
policial quando não houver fundamento razoável para sua 
instauração ou prosseguimento; 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Este dispositivo não é novidade, pois qualquer investigação, instaurada pelo delegado ou pelo 
membro do Ministério Público, se for abusiva, indicando alguém como suspeito formal, sem 
provas suficientes, pode ser trancado (noutros termos, truncado e determinado seu 
arquivamento. Socorre-se o investigado do juiz de garantias. Se este, por sua vez, negar, cabe 
a interposição de habeas corpus junto aos Tribunais”. (Obra citada. p.43). 
 
Art. 3º-B - Inciso X - requisitar documentos, laudos e 
informações ao delegado de polícia sobre o andamento da 
investigação; 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Não há norma inédita neste ponto, visto que o juiz de garantias (antes, o juiz que acompanhava 
o inquérito) pode requisitar (exigir, nos termos legais) tudo o que seja indispensável para verificar 
a justa causa para prosseguimento da investigação”. (Obra citada. p.43). 
 
Art. 3º-B - Inciso XI - decidir sobre os requerimentos de: 
a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em 
sistemas de informática e telemática ou de outras formas de 
comunicação; 
b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e 
telefônico; 
c) busca e apreensão domiciliar; 
d) acesso a informações sigilosas; 
e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos 
fundamentais do investigado; 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“O juiz de garantias vai cumprir as vezes dos juízes que acompanhavam o inquérito, mesmo que 
fossem, posteriormente, o juiz do processo principal. Ele poderá decidir acerca dos 
requerimentos, geralmente pelo órgão acusatório, de interceptação telefônica, do fluxo de 
comunicações em sistemas de informática e telemática ou de outras formas de comunicação 
(esta última parte abrange todos os modos de comunicação surgidos nos últimos tempos, como 
mensagens trocadas pelo celular, por meio de inúmeros programas). Caberá, igualmente, ao juiz 
de garantias a quebra dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico, distinguindo-se da 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 30 
interceptação telefônica porque esta acompanha a gravação das conversas enquanto se 
realizam; a outra obtém dados registrados de ligações realizadas. É da sua atribuição, também, 
a expedição de mandado de busca e apreensão em domicílio. Cabe-lhe, genericamente, o 
acesso a informes sigilosos (por exemplo, o acesso a um processo que tramita na Vara da 
Infância e Juventude). Termina-se com uma norma aberta: outros meios de obtenção da prova 
que restrinjam direitos fundamentais do investigado. Pode envolver quaisquer informes sigilosos 
que tenham alguma relação com investigado (ex.: um processo de separação judicial litigiosa 
que ocorreu em segredo de justiça na Vara de Família)”. (Obra citada. p.43-44). 
 
Art. 3º-B - Inciso XII - julgar o habeas corpus impetrado antes 
do oferecimento da denúncia”; 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Esse dispositivo torna clara uma regra já existente há décadas. Qualquer abuso de autoridade 
gerado por autoridade policial, por exemplo, sempre foi apreciado pelo juiz que acompanha o 
inquérito, agora é competência do juiz de garantias. Se a investigação estiver sendo conduzida 
por membro do Ministério Público deverá ser questionada por habeas corpus,dirigido ao Tribunal 
(...)”. (Obra citada. p.44). 
 
Art. 3º-B - Inciso XIII - determinar a instauração de 
incidente de insanidade mental; 
 
Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: 
“Nos termos do art. 149 do CPPP, havendo dúvida “sobre a integridade mental do acusado”, 
deverá ser instaurado o incidente da sanidade mental. 
Diante da redação do art. 3º-A do CPP, vedando a iniciativa do juiz na fase de investigação e a 
substituição da atuação probatória do órgão de acusação, nascerá discussão – até então 
inexistente – se o incidente pode ou não ser ordenado de ofício pelo juiz das garantias, ou 
somente mediante provocação. A instauração do incidente pressupõe dúvida razoável a respeito 
do estado mental do investigado. Assim, por exemplo, a mera brutalidade com que cometido o 
crime ou os péssimos antecedentes do agente não implicam, necessariamente, a suspeita de 
sua imputabilidade. Tampouco o fato de se declarar o indigitado viciado no uso de drogas”. (Obra 
citada. p.90). 
 
Art. 3º-B - Inciso XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia 
ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código; 
 
 
Com relação a este inciso, cabe a análise dos nossos dois 
professores, pois ambos possuem entendimentos bem específicos 
com relação a essa importante etapa da persecução penal, que é o 
momento da transição entre a fase de investigação (pré-processual) e a 
fase processual. 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 31 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Essa competência é nova para o juiz de garantias. Em tese, o recebimento da denúncia ou da 
queixa deveria ser feito pelo juiz da instrução, que vai conduzir o feito até o final, porém, com o 
propósito de eliminar das mãos do juiz do processo os autos do inquérito ou da investigação, a 
única possibilidade era essa. O juiz de garantias tem amplo acesso à investigação, logo, somente 
ele pode saber se há justa causa – ou não – para o recebimento da denúncia ou queixa. Resta 
ao juiz do processo-crime, após a resposta do réu, se achar conveniente usar a absolvição 
sumária”. (Obra citada. p.44). 
 
Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: 
“Aqui temos um erro grave da Lei. O juiz das garantias jamais poderia permanecer até a fase do 
art. 399 do CPP. Após o recebimento da inicial, que demanda apenas o juízo de prelibação, a 
competência deveria ser, incontinenti, do juiz da instrução, responsável pelo juízo de delibação. 
Percebam que o legislador acabou inserindo entre as competências do juiz das garantias – criado 
para atuar somente até a viabilidade da acusação – o poder para decidir mérito. Será este mesmo 
magistrado quem analisará a defesa escrita do denunciado (art. 396-A CPP), bem como o 
cabimento (ou não) da absolvição sumária (art. 397 CPP) ”. (Obra citada. p.90). 
 
Art. 3º-B - Inciso XV - assegurar prontamente, quando se fizer 
necessário, o direito outorgado ao investigado e ao seu defensor 
de acesso a todos os elementos informativos e provas 
produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que 
concerne, estritamente, às diligências em andamento”; 
 
Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: 
“Embora seja sempre bem-vinda a publicidade de qualquer ato perpetrado por autoridade 
pública, pois confere maior transparência às suas ações, podendo se aferir a legalidade de sua 
conduta e maior controle pela sociedade, o certo é que, de outro lado, o sigilo por vezes é 
fundamental, sobretudo em se tratando de inquérito policial. O art. 20 do CPP admite, por isso, 
que a autoridade policial determine o sigilo do inquérito, desde que necessário: 1º) à elucidação 
do fato ou 2º) exigido pelo interesse da sociedade. Não se trata, pois, de mero ato discricionário 
da autoridade, mas antes, de decisão que se sujeita a esses dois requisitos. 
(...) 
Por fim, deve ser lembrado que o art. 32 da Lei 13869/19 pune, com detenção de 6 meses a 2 
anos, “Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação 
preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento 
investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias, 
ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que indiquem a realização de 
OBSERVAÇÃO: juízo de prelibação = juízo de admissibilidade. 
OBSERVAÇÃO: juízo de delibação = é a apreciação judicial de um pedido feito pelas 
partes num processo. 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 32 
diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível”. Essas condutas, para caracterizarem crime, 
devem ser praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar 
a si mesmo ou a terceiro, ou ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal (art. 1º). 
A matéria, como alertado, já estava disciplinada na Súmula Vinculante 14. O alcance da 
Súmula (e da incriminação do art. 32) refere-se ao direito assegurado ao interessado (bem como 
ao seu defensor ou advogado) de acesso aos elementos constantes em procedimento 
investigatório que lhe digam respeito e que já se encontrem documentados nos autos, não 
abrangendo, por óbvio, as informações concernentes à decretação e à realização das diligências 
investigatórias pendentes, em especial as que digam respeito a terceiros eventualmente 
envolvidos”. (Obra citada. p.91-94). 
Observação: Súmula Vinculante nº 14 do STF 
 
Art. 3º-B - Inciso XVI - deferir pedido de admissão de assistente 
técnico para acompanhar a produção da perícia; 
 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Esta providência é relevante, pois se o art. 159 do CPP assegura a participação de assistente 
técnico das partes à perícia oficial, era preciso prever que a sua admissão se desse já na fase 
policial (ou de investigação ministerial). É o que sempre defendemos. Note-se, no entanto, que 
o art. 159, § 4º, preceitua que o assistente técnico atuará a partir da admissão do juiz. Não se 
indica qual juiz. Mas o mais lógico é que isso se dê já na fase da investigação, agora resolvida a 
questão”. (Obra citada. p.45). 
 
Art. 3º-B - Inciso XVII - decidir sobre a homologação de acordo 
de não persecução penal ou os de colaboração premiada, 
quando formalizados durante a investigação; 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“O novo instituto da não persecução penal, assim como a colaboração premiada que surge na 
fase da investigação devem ser analisadas e homologadas pelo juiz de garantias. Nada mais 
natural, pois outro juiz inexiste nesta fase”. (Obra citada. p.45). 
 
Segundo o prof. Rogério Sanches Cunha: 
“Tomado pelo espírito de justiça consensual, compreende-se o acordo de não persecução penal 
como sendo o ajuste obrigacional celebrado entre órgão de acusação e o investigado (assistido 
por advogado), devidamente homologado pelo juiz, no qual o indigitado assume a sua 
responsabilidade, aceitando cumprir desde logo, condições menos severas do que a sanção 
penal aplicável ao fato a ele imputado”. (Obra citada. p.95). 
Observação: O acordo de não persecução penal está previsto no art. 28-A do CPP, 
inserido pela Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime), e será devidamente estudado no 
Capítulo V – Ação Penal, desta apostila. 
 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM – CAS 2020 
 33 
 
Art. 3º-B - Inciso XVIII - outras matérias inerentes às 
atribuições definidas no caput deste artigo. 
 
Segundo o prof. Guilherme de Souza Nucci: 
“Trata-se de um dispositivo residual, conferindo competência ao juiz de garantias para decidir 
qualquer tema, mesmo não elencado neste artigo, desde que esteja na fase de investigação, 
antes do início do processo-crime”. (Obra citada. p.45). 
 
Art. 3º-B - § 1º (VETADO). 
O parágrafo 1º, apesar de ser objeto de debate na doutrina, não será estudado em razão 
do seu VETO pelo Presidente da República. 
 
Art. 3º-B - § 2º - Se o investigado estiver preso, o juiz das 
garantias poderá, mediante

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