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Auge e Declínio do Modelo de Crescimento com Endividamento: O II PND e a Crise da Dívida Externa (1974-1984) – Hermann (2005)
1974: início do longo processo de distensão do regime autoritário. Esse processo atravessou três mandatos presidenciais: Geisel (1974-78), Figueiredo (1979-84) e do primeiro presidente civil após o golpe Sarney (1985-89).
1974-84: momento em que ocorreram as principais pressões e mudanças políticas no sentido da redemocratização.
- Esgotamento do modelo de industrialização por substituição de importações (ISI), comandada pelo Estado e apoiada no endividamento externo, vigente desde os anos 50. 
- Fases distintas: 
1. No governo Geisel a implementação do II PND completou o processo de ISI no Brasil. Forte crescimento econômico acompanhado de transformações na estrutura produtiva do país (assim como em JK).
2. No governo Figueiredo, três fases: 
· 1979/80: manteve-se o crescimento, mas com aumento da inflação e deterioração das contas públicas e externas (esgotamento do modelo de crescimento do II PND). 
· 1981-1983: grave desequilíbrio no balanço de pagamentos, aceleração inflacionária e forte desequilíbrio fiscal. 
Esses cenários inauguraram um longo período de estagnação da economia brasileira que, com raras e curtas interrupções, se estendeu até meados da década de 1990, caracterizando os anos 80 como uma década perdida. 
· 1984: uma das curtas fases de recuperação econômica.
- Cenário externo marcado por choques: dois fortes aumentos do preço do petróleo no mercado internacional (1973 e 1979) e o aumento dos juros norte-americanos entre 1979-82 exigência de políticas de ajuste externo devido a dependência do Brasil à importação de petróleo e bens de capital e do elevado endividamento externo. 
- O milagre econômico implicou um aumento da dependência externa do país: 
· Forte crescimento das importações de bens de capital e petróleo para atender o setor industrial de bens duráveis (crescimento da economia dependente da capacidade para importar do brasil).
· Aumento da dívida externa (dependência e vulnerabilidade financeira externa da economia). 
1974-78: acomodação aos novos preços do petróleo, em virtude do choque de 1973. 
- Efeitos nos países industrializados: aumento dos juros e contração da atividade econômica. Comprimiu ainda mais a capacidade de importar dos países em desenvolvimento, já atingidos pela deterioração dos termos de troca por conta do choque Resultado: déficits comerciais. 
- As dificuldades dos países em desenvolvimento no comércio internacional foram aliviadas, paradoxalmente, por outro efeito do choque do petróleo: a forte entrada de petrodólares no mercado financeiro internacional. Estes, financiaram os déficits em conta corrente dos países endividados, como o Brasil. 
1979: segundo choque do petróleo. 
- Interrompeu de forma duradoura o fluxo de capital dos países industrializados para os em desenvolvimento. 
- Para conter os efeitos inflacionários, os bancos centrais dos países industrializados elevaram suas taxas básicas de juros, inaugurando uma fase de recessão nesses países que se estendeu até 1982. 
- O aumento dos juros americanos contribuiu para aumentar os déficits em conta corrente do brasil de duas formas: através da retração das importações dos países industrializados e do aumento das despesas com a dívida externa.
Ao mesmo tempo, os juros mais altos dificultavam a captação de novos empréstimos pelos países já endividados, uma vez que haviam maiores despesas com a dívida já contratada e maiores custos de rolagem da dívida. Assim, a compensação dos déficits em conta corrente por superávits na conta de capital não era mais possível. 
Governo Geisel: 
- Quadro de dependência estrutural e restrição externa que exigia um plano de ajuste externo. 
- Optou-se por buscar a superação da dependência externa, investindo na ampliação da capacidade de produção doméstica de bens de capital e petróleo, o que, indiretamente e a longo prazo, contribuiria para reduzir também a dependência financeira. 
Diante da restrita capacidade de importar e exportar, esse investimento só seria possível mediante novos aumentos da dívida externa, o que dependia das condições de crédito no mercado internacional.
Assim, o modelo de ajuste externo estrutural foi materializado no II PND como um ousado plano de investimentos públicos e privados a serem implementados entre 1974-79 e dirigidos a setores identificados como “pontos de estrangulamento”: infraestrutura, bens de produção (capital e insumos), energia e exportação. 
· Infraestrutura: ampliação da malha ferroviária, da rede de telecomunicações e da infraestrutura para produção e comercialização agrícola, visando ampliar a oferta para o mercado interno e para exportação.
· Bens de produção: foco nos segmentos de siderurgia, química pesada, metais não-ferrosos e minerais não-metálicos.
· Setor energético: pesquisa, exploração e produção de petróleo e derivados; ampliação da capacidade de geração de energia hidrelétrica; desenvolvimento de fontes de energia alternativas ao derivado do petróleo. 
II PND:
A viabilização do plano dependia de fontes de financiamento público e externo, vista a inexistência de mecanismos privados de financiamento de longo prazo no Brasil. 
- O primeiro apoiou-se no BNDE, cuja função central era o financiamento dos investimentos privados, com base em linhas especiais de crédito a juros subsidiados. 
- Os investimentos públicos seriam financiados por recursos do orçamento (impostos) e por empréstimos externos captados pelas empresas estatais, que estavam em melhores condições de obter crédito do que as privadas no mercado internacional. 
A partir de 1975 as condições de crédito no mercado internacional se tornaram favoráveis:
· Ampla disponibilidade de liquidez no mercado externo, alimentada pelos petrodólares; 
· Recuo das taxas de juros internacionais;
- Retomada da economia mundial pós primeiro choque do petróleo foram indispensáveis na viabilização do modelo de ajuste externo implementado pelo II PND. Além do cenário externo propício, havia uma pressão interna para a adoção desse modelo estrutural, devido a demanda empresarial pela continuidade do crescimento.
Geisel e Figueiredo eram moderados do ponto de vista político e progressistas do econômico, que defendia um capitalismo nacional de perfil liberal. Desde que assumiu a presidência, Geisel anunciou a intenção de promover uma distensão lenta, gradual e segura do regime, sem afastar os militares do poder e através da formação de uma base partidária sólida. Para tal, precisava do apoio das elites empresariais locais. 
- O II PND então, além de profundas mudanças estruturais, atendia, simultaneamente ao projeto de desenvolvimento econômico e ao projeto político do governo. Além da necessidade de superação da restrição externa, fazia-se necessário uma política de controle da inflação, que era uma ameaça seja pelo excesso de demanda ou pela necessidade de correções cambiais. 
- Mario Henrique Simonsen assume a pasta da Fazenda e promove inflexões na política econômica. Preocupação com o processo inflacionário, porém predomina na condução da política econômica, o objetivo de vencer os desafios do desenvolvimento. No que tange à inflação, o governo foi capaz apenas de evitar sua aceleração. Quanto ao PIB, embora abaixo da meta anunciada e com certa desaceleração no biênio 1977-78, a taxa média anual de crescimento no governo Geisel foi ainda bastante elevada (6,7%).
- Devido ao longo prazo de maturação dos investimentos previstos no II PND, seus efeitos sobre o BP se mostram de duas maneiras: na etapa de implementação e posterior à maturação dos investimentos. 
· Para a primeira etapa, que se estende por todo o governo Geisel e primeiros anos do Figueiredo, o efeito esperado era o aprofundamento do desequilíbrio gerado durante o milagre: aumento do déficit em transações correntes, fruto da expansão das importações de bens de capital e insumos necessárias aos novos investimentos. 
· Essa deterioração adicional nas contas do BP era justificadapelos efeitos esperados no segundo momento – a partir de 1980: avanço na ISI, redução da dependência externa em relação ao petróleo e aumento da capacidade exportadora do país (com diversificação da pauta de exportações). 
- A evolução das contas do BP entre 1974-84 confirma as expectativas do governo. Nos anos 1974-78 há deterioração. O período de 1979-80 manteve as tendências de aumento do déficit em conta corrente, do superávit na conta de capital e da relação “dívida/exportações”. Essas tendências refletem os choques externos (o segundo choque do petróleo e o aumento dos juros no mercado financeiro internacional) e prenunciam a crise da dívida, que explodiria em 1983. 
- No período 1981-83, embora o quadro de elevado déficit em conta corrente tenha se mantido, houve nítida reversão da tendência da balança comercial, que se torna superavitária, devido aos efeitos de duas maxidesvalorizações cambiais determinadas por Delfim Netto; à recessão da economia brasileira, que contraiu as importações; e à substituição de importações promovida pelo II PND. 
- O ano de 1984, início de uma fase de recuperação econômica, confirmaria todas as tendências do período anterior, em termos de substituição de importações e de ajuste externo. Apesar do aumento do PIB, a tendência de queda dos coeficientes de importação de petróleo e bens de capital não se reverteu. O quantum de exportações cresceu continuamente a partir de 1978, a exceção apenas de 1982. A pauta de exportações brasileiras sofreu mudanças importantes a partir do II PND: queda do peso dos bens básicos sendo compensada pelo aumento do peso relativo dos bens manufaturados.
- Os objetivos de mudança estrutural do II PND foram, em geral, alcançados. No entanto, os custos macroeconômicos desse êxito não foram desprezíveis. A ousadia do plano, principalmente no que tange a estratégia de endividamento externo, foi responsável pelas dificuldades que a economia enfrentou na década de 1980. 
Governo Figueiredo:
 - Três fases distintas quanto ao PIB: 
1. 1979-80 elevadas taxas de crescimento; 
2. 1981-83 recessão; 
3. 1984 recuperação, puxada pelas exportações. 
Elas contemplam as mudanças no cenário internacional e nas estratégias de ajuste externo adotadas.
Início de 1979: 12º ano consecutivo de vigoroso crescimento e endividamento externo. 
- Mercado internacional começa a dar sinais de mudança. 
- Taxa básicas de juros dos EUA sobe. 
- Internamente, a inflação se acelerava. 
- Simonsen no Ministério do Planejamento: conjunto de medidas restritivas, com objetivo de reforçar o controle sobre os meios de pagamento e o crédito bancário, bem como conter os investimentos das estatais e as despesas com subsídios. Além disso, implementa nova política cambial de desvalorizações reais do câmbio.
Meados de 1979: segundo choque do petróleo e resposta restritiva dos países industrializados, que elevaram suas taxas de juros, mudando o cenário externo até então “amigável”. 
- Simonsen impunha o ajuste recessivo como única forma de controlar o grave desequilíbrio do BP, o qual gerou críticas e resistências no setor privado e até dentro do governo. 
Simonsen renuncia e é substituído por Delfim Netto, que comandou a política econômica até o fim do governo Figueiredo. 
- Diagnóstico de Delfim: o estrangulamento externo refletia, antes que um excesso de demanda, um desajuste de preços relativos que distorcia a distribuição dessa demanda entre os diversos setores. 
- Modelo de ajuste externo implementado em 1979-80: se pretendia fugir da recessão, aliando controles fiscal e monetário com ajustes de preços relativos que, idealmente, favoreceriam a balança comercial e recuperariam as contas públicas. 
Contudo, na prática, os ajustes de preços eram inócuos, pois a aceleração da inflação corroía rapidamente os aumentos reais obtidos a cada rodada de correção. A recessão de fato foi evitada nesse biênio, através do aumento das exportações e crescimento inercial dos investimentos do II PND. No que tange ao BP, no entanto, o desequilíbrio externo não foi nem amenizado. Com isso, houve significativa perda de reservas internacionais.
1981-84: modelo de ajuste recessivo, por conta do insucesso da estratégia inicial aliado ao agravamento do cenário externo. 
- O objetivo desse novo modelo é o de redução da absorção interna, de modo a gerar excedentes exportáveis. 
- Política monetária é central agora, por meio da manutenção de juros reais elevados. A PM restritiva foi implementada até o fim do governo Figueiredo, com forte recessão no período de 1981-83. Esta última aliada aos efeitos estruturais do II PND, tornou a balança comercial superavitária, revertendo o déficit que caracterizou a década de 70. No entanto, a perda de reservas internacionais não foi amenizada, por conta da alta dos juros internacionais e pelo título de país altamente endividado que o Brasil possuía, inviabilizando a entrada de capital suficiente para cobrir as despesas.
- Ao fim de 1982 o Brasil recorre a empréstimo ao FMI, por meio do estabelecimento de acordos, devido ao impasse externo aberto pela crise da dívida latino-americana. O acordo exigiu maior rigor à PM restritiva já em curso. 
- 1983: queda real do M1 e do crédito ao setor privado, e maxidesvalorização de 30% que resultou em desvalorização real, dessa vez, definidas pela política cambial de Delfim Netto. 
- No biênio 1983-84 a PF também se tornou restritiva: investimentos públicos drasticamente cortados e carga tributária elevada, visando atingir não só a demanda agregada como o déficit público. Deterioração fiscal refletida assinalava a resistência do gasto público à baixa e os efeitos prejudiciais do ajuste externo de 1979-80. 
- O aumento da inflação erodia a receita real do governo (efeito Tanzi) e elevava os encargos da dívida pública, por conta da correção monetária. 
- A maxidesvalorização cambial de 1979 e a política de juros altos também deterioram as despesas financeiras do setor público, elevando encargos da dívida interna e externa. 
- A indexação da dívida, estratégia usada pelo governo para facilitar o financiamento de seus déficits, nesse período instável tornou-se uma armadilha: aceleração da inflação, correções cambiais e política de juros altos mantinham o déficit nominal e, portanto, a dívida pública em crescimento mesmo com a política fiscal restritiva. Esta, perdendo sua eficácia para gerar saldos primários positivos, pois a política monetária e a instabilidade agiam de dois lados na capacidade de arrecadação do governo: pela retração da economia e pelo efeito-Tanzi. 
- A política de ajuste externo do período, auxiliada pelas mudanças estruturais do II PND, gerou superávits comerciais recordes, explicados pela variação do quantum de exportações e importações.
Conclusão: O preço da crise externa e dos ajustes 
Quadro de restrição externa em 1974, inaugurada pelo choque dos preços do petróleo. 
Ajuste estrutural implementado no governo Geisel internalizou os setores de bens de capital e insumos industriais, o que reduziu a dependência externa em relação a esses bens, fundamentais ao crescimento econômico. O sucesso desse ajuste teve como preço o aumento da vulnerabilidade externa da econômica e da dependência externa financeira (face à reviravolta do mercado internacional a partir de 1979). Ocasionou a necessidade de sucessivas rodadas de ajuste externo.
A partir de 1979, crescia a percepção de que o desequilíbrio externo brasileiro refletia uma situação de excesso de demanda. A solução consistiu em uma combinação de ajuste de preços relativos (taxa de cambio e tarifas públicas principalmente) e controle da absorção interna, este por meio de uma política de juros reais elevados.
No modelo de ajuste externo de 1979-80, a correção de preços relativos iniciou uma reversão da tendência deficitária da balança comercial, a partir de 1981, mas seus efeitos cobre a conta corrente e sobre o saldo do BP foram modestos. 
Sendo assim, a partir de 1981, a ênfase do ajuste externo ficou sob o controle da absorção interna (ajuste recessivo). Maisuma vez, os custos do ajuste foram mais altos e duradouros que seus benefícios: efeitos favoráveis sobre a balança comercial foram maiores que sobre a conta corrente e o saldo global do BP. O preço desse ajuste em termos de inflação e deterioração fiscal foi elevado e persistente. A tendência a aceleração inflacionária se manteve até meados da década de 1990. 
Quanto às contas públicas, o déficit nominal e a dívida pública interna mantiveram sua trajetória ascendente, alimentados pela inflação, correções cambiais sucessivas, política de juros altos, proteção dos devedores externos e operações de esterilização do capital externo.
- Experiências frustradas de ajuste externo de 1979-84 revelaram uma característica do desequilíbrio externo que não foi contemplada no modelo: grande parte do aumento do déficit em conta corrente refletia o crescimento exógeno dos encargos da dívida externa, explicado pelos altos juros internacionais. O mesmo se deu nas contas públicas: o aumento do superávit primário e a redução do déficit operacional não foram acompanhados de redução do déficit nominal, por conta do aumento dos encargos financeiros da dívida, devido à correção monetária e cambial.
A solução para esse impasse externo com crescimento inercial da dívida pública só foi alcançada em 1994, com uma renegociação da dívida externa, permitindo a estabilização do câmbio e dos preços no Brasil.

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