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Geografia Livro do Professor Volume 8 ©Editora Positivo Ltda., 2015 Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil) Presidente: Ruben Formighieri Diretor-Geral: Emerson Walter dos Santos Diretor Editorial: Joseph Razouk Junior Gerente Editorial: Júlio Röcker Neto Gerente de Arte e Iconografia: Cláudio Espósito Godoy Autoria: Francisco Carlos Rehme e Mauro Michelotto Braga Supervisão Editorial: Jeferson Freitas Edição de Conteúdo: Marcelo Smaniotto (Coord.) e Leandro José Ribeiro Guimarães Edição de Texto: Kathia Gavinho Paris Revisão: Fernanda Marques Rodrigues e Willian Marques Supervisão de Arte: Elvira Fogaça Cilka Edição de Arte: Tatiane Esmanhotto Kaminski Projeto Gráfico: YAN Comunicação Ícones: ©Shutterstock/ericlefrancais, ©Shutterstock/Blinka, ©Shutterstock/Goritza e ©Shutterstock/Marco Prati Imagens de abertura: ©Shutterstock/Luiz Rocha e ©Shutterstock/aslysun Editoração: Rosana da Silva Cunha Ilustrações: Divo e Jack Art Pesquisa Iconográfica: Janine Perucci (Supervisão) e Ângela D. Barbara Cartografia: Luciano Daniel Tulio, Mariane Félix da Rocha, Marilu de Souza e Talita Kathy Bora Engenharia de Produto: Solange Szabelski Druszcz Produção Editora Positivo Ltda. Rua Major Heitor Guimarães, 174 – Seminário 80440-120 – Curitiba – PR Tel.: (0xx41) 3312-3500 Site: www.editorapositivo.com.br Impressão e acabamento Gráfica e Editora Posigraf Ltda. Rua Senador Accioly Filho, 431/500 – CIC 81310-000 – Curitiba – PR Tel.: (0xx41) 3212-5451 E-mail: posigraf@positivo.com.br 2018 Contato editora.spe@positivo.com.br Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda. R345 Rehme, Francisco Carlos. Geografia : ensino médio / Francisco Carlos Rehme, Mauro Michelotto Braga ; ilustrações Divo, Jack Art – Curitiba : Positivo, 2016. v. 8 : il. Sistema Positivo de Ensino ISBN 978-85-467-0408-8 (Livro do aluno) ISBN 978-85-467-0409-5 (Livro do professor) 1. Geografia. 2. Ensino médio – Currículos. I. Braga, Mauro Michelotto. II. Divo. III. Art, Jack. IV. Título. CDD 373.33 22 23 24 Sumário Espaço geográfico industrial ..........................4 Etapas da Revolução Industrial ....................................................................... 5 Tipos de indústrias .......................................................................................... 14 Modelos de produção: taylorismo, fordismo, toyotismo e just in time ............. 16 Principais espaços geográficos industriais mundiais ...................................................20 A espacialidade da indústria mundial ..................................................................21 A produção em escala mundial: transnacionais e alta tecnologia ........................36 Impactos ambientais da atividade industrial .......................................................39 Espaço geográfico industrial brasileiro ............43 Estrutura e organização territorial das indústrias no Brasil .................................44 O espaço industrial dos complexos regionais .......................................................53 A infraestrutura viária para a industrialização .....................................................57 O projeto gráfico atende aos objetivos da coleção de diversas formas. As ilustrações, os diagramas e as figuras contribuem para a construção correta dos conceitos e estimulam um envolvimento ativo com temas de estudo. Assim, fique atento aos seguintes ícones: Coloração artificial Coloração semelhante ao natural Fora de proporção Formas em proporção Imagem microscópica Escala numérica Fora de escala numérica Imagem ampliada Representação artística Acesse o livro digital e conheça os objetos digitais e slides deste volume. Espaço geográfico industrial 22 CIESP; FIESP; CETESB. Licenciamento ambiental da atividade industrial na Região Metropolitana de São Paulo. p. 23. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/licenciamento/cartilhas/cartilha3.pdf>. Acesso em: 6 mar. 2015. Ponto de partida A ilustração acima registra as distâncias físicas e o limite de ocupação demográfica nas proximidades de manan- ciais, ou seja, áreas de nascentes e de parte do curso superior de rios e córregos, de acordo com as leis estaduais 898/75 e 1.172/76 do estado de São Paulo. Considere que, no exercício das funções de geógrafo e analista ambiental, você tenha de justificar por que não se pode implantar uma indústria na área representada pela ilustração. Qual seria o seu argumento? 1 2a. categoria 1a. categoria A B C 30 hab./ha 20 24 21 17 13 10 hab./ha 50 hab./ha 8 6 D iv o. 2 01 5. D ig ita l. 4 Objetivos da unidade: relacionar as etapas da Revolução Industrial com os diferentes modos de organização espacial e com o processo de urbanização; identificar, na organização espacial das paisagens rurais e urbanas, as transformações sociais, culturais e ambientais que ocorreram em virtude das diferentes fases da Revolução Industrial; compreender as formas de classificação dos tipos de indústrias e suas diferenciações; relacionar as mudanças impostas sobre os modos de trabalhar e sobre a produtividade nas in- dústrias com os diferentes modelos ou sistemas de produção; perceber as relações entre o desenvolvimento da Revolução Industrial e o incremento de diferen- tes formas de poluição nos ambientes terrestres. A partir de meados da década de 1970, com a disseminação das preocupações ambientais nas áreas urbanas e rurais pelas diferentes regiões do mundo, foram estabelecidas, em nosso país, leis de controle de poluição gerada por atividades industriais. Além disso, para compatibilizar a implantação de polos industriais com medidas de proteção ambiental, determinou-se a definição de áreas específicas ou zoneamento industrial. Desse modo, determinações envolvendo geração de energia limpa e redução de emissão de poluentes tornaram-se necessárias em virtude do grau de intervenção das atividades humanas na atmosfera, nas águas e no solo. As emissões de vapores tóxicos provenientes das indústrias na atmosfera e a contaminação das águas, nos cursos fluviais ou em lagos, por substâncias nocivas à população (coliformes, produtos químicos tóxicos e metais pesados, por exemplo) de origem doméstica e industrial estão entre as principais causas de óbitos em diversas regiões do mundo. Esses impactos sobre o meio tornaram-se mais intensos e disseminados a partir da Revolução Industrial, em suas diferentes fases. Etapas da Revolução Industrial Desde seu surgimento, a espécie humana vem utilizando os recursos naturais e transformando-os de acordo com suas diferentes necessidades. Os instrumentos de caça, como as lanças, bem como a invenção da roda, gerando os primeiros meios de transporte, e do arado, para preparar o campo destinado ao cultivo, são apenas alguns entre os exemplos do uso dos recursos da natureza. Porém, quando tanto o emprego quanto as transformações de matérias-primas passaram a ser realizados de forma mecanizada, em tempos mais curtos e em quantidades muito maiores, iniciou-se uma verdadeira transformação nos modos de produzir, nas relações de trabalho, nas estruturas sociais e culturais, além da configuração das paisagens rurais e urbanas. A Revolução Industrial, desencadeada a partir do final do século XVIII na Europa norte-ocidental, proporcionou tais modificações. A respeito da questão da saúde da população e de desastres ambientais. 2 Evolução da produção artesanal de tecidos, no século XV, ao intenso ritmo de uma fábrica de tecidos de algodão em Derbyshire (Reino Unido), por volta de 1933 VELÁZQUEZ, Diego Rodríguez de Silva y. The spinners or The Fable of Arachne. 1655-1660. 1 óleo sobre tela, color., 220 cm × 289 cm. Museu Nacional do Prado, Madri. G lo w Im ag es /P h ot oN on St op /F ré d ér ic S O RE A U 5 Representaçãoda atividade industrial em Preston, Reino Unido, por volta de 1835 Leia o diálogo a seguir, extraído de uma adaptação da consagrada obra Germinal, do escritor francês Émile Zola. Geografias literárias L i [...] — Faz tempo que o senhor trabalha na mina? — Não tinha nem oito anos quando desci, imagine! Aqui na Voureux. E estou com cinquenta e oito. Fiz de tudo ali dentro, primeiro fui aprendiz, depois condutor de vagonetes e britador, por dezoito anos... Então, por causa dessas malditas pernas, me puseram na escavação, terraplanagem e manuten- ção, até o momento que precisaram me tirar lá de baixo, porque o médico disse que eu não voltaria... Agora faz cinco anos que sou carroceiro. Que tal? Bonito isso, cinquenta anos de mina, sendo quarenta e cinco no fundo! Coff! Coffff! Pfffft! — É sangue? — É carvão...tenho no corpo o suficiente para ficar aquecido até o fim dos meus dias. E faz cinco anos que não coloco os pés lá embaixo. Fui armazenando tudo isso, ao que parece, sem perceber. Azar, conserva! [...] ZOLA, Émile. Germinal. v. 1 (Adaptação e roteiro: Philippe Chanoinat. Desenhos e cores: Jean Michel Arroyo. Tradução de Julia da Rosa Simões). p. 8. Éditions Glenat. Editions Adonis, 2010. Rio de Janeiro: Edições Del Prado, 2014. (Grandes Clássicos da Literatura em Quadrinhos). A oferta de mão de obra fez com que as cidades que concen- travam áreas industriais, ainda em pequeno número, sofressem um rápido e elevado crescimento populacional, principalmente em razão da chegada de uma grande quantidade de migrantes, originários do campo. Longas jornadas de trabalho, muitas vezes insalubre, baixa remuneração e outras formas de exploração, in- clusive dos trabalhos feminino e infantil, caracterizavam o cotidia- no das fábricas. Sugestões de outros clássicos da literatura sobre o tema.3 Sugestão de atividade: questão 4 da seção Hora de estudo. Identifique, no texto, informações que evidenciam as dificuldades e os sofrimentos característicos do trabalho nas minas durante a Revolução Industrial e registre-as. Uma situação que aponta a dureza e a crueldade do trabalho nas minas durante o período da Revolução Industrial, em sua primeira etapa, é o emprego de mão de obra infantil (o personagem afirma ter iniciado seu trabalho na mina antes dos 8 anos de idade). O problema com as pernas, que determinou sua saída do trabalho no interior da mina, possivelmente é resultado da posição desconfortável e do longo período de tempo contínuo em que trabalhava em galerias de pouco espaço. Por fim, outro problema que fica evidenciado quando o personagem tosse é a inalação de resíduos do carvão, que afetam o sistema respiratório, degradando a saúde do trabalhador. Esse processo mais intenso e acelerado passou a funcionar principalmente por meio da energia gerada da queima de carvão mineral. A fundição do ferro, a produção do aço, a fabricação de tecidos e os meios de transporte de merca- dorias e de passageiros eram movidos por esse combustível fóssil. Os retratos das paisagens urbanas características dos primeiros tempos da Revolução Industrial habitualmente destacam uma infinidade de chaminés, erguendo-se de longas instalações, liberando escuras fumaças na atmosfera. Próximo às grandes fábricas, também comumente se observava a presença de ferrovias e, sobre estas, locomotivas igualmente lançando cinzas e vapores no ar. © Sh u tt er st oc k/ Ev er et t H is to ric al 6 Volume 8 Mudanças sociais, políticas e econômicas ocorreram a partir dos primeiros tempos da Revolução Industrial. A orga- nização dos trabalhadores nas minas e, principalmente, nas fábricas contribuiu para conquistas coletivas por melhores condições de trabalho. Manifestações de operários e a formação de associações de trabalhadores que, mais tarde, vieram a compor os sindicatos se realizaram desde a primeira fase da industrialização. Primeira Revolução Industrial A Revolução Industrial teve início no final do século XVIII na Europa, na ilha da Grã-Bretanha, expandindo-se, em seguida, para o continen- te em sua porção ocidental: planícies da Bélgica e da França, norte da Itália, Silésia e vale dos rios Reno e Ruhr, na atual Alemanha. Para além da Europa, o fenômeno da industrialização, em sua primeira etapa, al- cançou os Estados Unidos e o Japão. A localização espacial das jazidas de carvão mineral, principalmen- te as de alto teor de carbono, como o antracito, teve destacada impor- tância para a origem e difusão da mecanização da produção a partir do final do século XIX. Fonte: CHARLIER, Jacques. Atlas du 21e siècle. Paris: Nathan, 2010. p. 51. Adaptação. PRINCIPAIS JAZIDAS DE CARVÃO DA EUROPA M ar ilu d e So u za antracito: qualidade de carvão mine ral com elevada presença de carbono em sua composição química (mais de 90%) e, por isso, bastante utilizado na produç ão de energia nas usinas termoelétricas e na siderurgia (para a produção do aço). Al ém do antracito, outros tipos de carvão min e- ral, contudo com menor presença de c ar- bono, são: a hulha, o linhito e a turfa. Geografia 7 Assim, os depósitos de carvão mineral do oeste e do cen- tro da Grã-Bretanha, bem como a presença de importantes jazidas de minério de ferro, definiram a formação de polos in- dustriais em cidades como Birmingham, Manchester, Bristol, além da capital Londres, entre outras. Na Bélgica e no norte da França, a extração do carvão também impulsionou a indus- trialização. A mecanização nas fábricas garantiu, ainda, uma produção em escala jamais vista. Dessa forma, o transporte das mercadorias que saíam do processo industrial, tanto para o mercado interno como para o exterior, dava-se por meio de trens e de navios, movidos pela combustão do carvão. Segunda Revolução Industrial A difusão da energia elétrica, a substituição dos motores a vapor por outros de combustão interna, da energia gerada pelo carvão mineral por aquela proveniente da queima dos derivados de petróleo e a organização das fábricas por meio do processo de produção em série (como o modelo fordista, que será tratado mais adiante) caracterizaram o desenvolvimento do que passou a ser conhecido como a Segunda Revolução Industrial. Tais mudanças começaram a ocorrer nos Estados Unidos ao final do século XIX e conduziram a economia mundial por várias décadas. A presença física das indústrias e sua diversificação (side- rúrgicas, automobilísticas, têxteis, químicas, eletroeletrônica, etc.) revelavam o poderio econômico dos países. No entanto, princi- palmente após a Segunda Guerra Mundial, algumas empresas de diferentes ramos que detinham muito capital começaram a mul- tiplicar suas filiais pelo mundo. Isso passou a caracterizá-las como empresas transnacionais. Outra característica acerca da localização espacial das indústrias durante a segunda etapa da Revolução In- dustrial se diferenciava em relação à Primeira Revolução Industrial: os grandes parques industriais não mais necessitavam se situar pró- ximo às fontes de matéria-prima e de energia. A circulação desta e também dos produtos industrializados passava a ocorrer de forma mais acelerada e dinâmica com a evolução dos meios de transpor- te, entre outros avanços. Em razão da importância do petróleo, essa fase da Revolução Industrial caracterizou-se pelo desenvolvimento de vários meios de comunicação, desde o telégrafo até o telefone, a televisão e a disseminação dos aparelhos eletrodo- mésticos e dos automóveis. Com a implantação e expansão das estradas, o transporte rodoviário passou a dividir com o transporte ferroviário o deslocamento de passageiros e mercadorias por terra, enquanto no mar e nos ares a navegação marítima e a aviação se desenvolviam. Locomotivas a vapor puxavam os vagões que transportavam produtos para dentro e para fora das fábricas durante a Primeira Revolução Industrial. A imagem retrata uma locomotiva construída em 1825. Para diversos autores, a diferençaentre multinacional e transnacional de fato não está muito clara, razão pela qual os termos acabam sendo utilizados, com muita fre- quência, como sinônimos. Porém, alguns autores, como Octávio Ianni, apontam as organizações transnacionais como aquelas que se libertam de algumas das limitações inerentes ao Estado nacional. Esse aspecto se contex- Aparelhos eletrodomésticos em loja dos Estados Unidos em 1957 Automóveis em estrada em Nova Iorque – EUA, em 1953 tualiza com a internacionalização do capital de uma forma mais ampla, própria da “economia global”, posterior (e também em decorrência) à origem das multinacionais. ©Wikimedia Commons/Ben Salter from Wales G et ty Im ag es /D en ve r P os t La tin St oc k/ A la m y/ R. K RU BN ER Transnacional: estrutura empresarial básica do capitalismo dominante nos países altame nte indus- trializados. Caracteriza-se por desenvolve r uma es- tratégia internacional a partir de uma bas e nacional, sob a coordenação de uma direção centra lizada. [...] Conhecida também pela denominação de empre- sas internacionais ou multinacionais, re sultam da concentração do capital e da internaciona lização da produção capitalista. [...] SANDRONI, Paulo. Dicionár io de Economia do século XXI. Rio de Janeiro: R ecord, 2007. p. 580. 8 Cartografia Sugestão de atividade: questão 7 da seção Hora de estudo. Telégrafo de Morse Pu ls ar Im ag en s/ M ar io F rie d la n d er Criada na década de 1830 pelo estadunidense Samuel Morse com um interruptor, um eletroímã e apenas um fio, essa invenção revolucionou as comunicações, as formas de gestão e de relações econômicas e políticas de sua época. Após aperfeiçoar o equipamento, Morse realizou a primeira transmissão de um telegrama, entre Washington e Baltimore (distância de 64 km), utilizando um sistema para enviar mensagens, o código de Morse. Em 1852, já havia mais de 60 000 km de linhas tele- gráficas pelo mundo. As notícias e informações passaram a circular com mais velocidade pelo globo. IMPORTANTES ROTAS DE NAVEGAÇÃO PARA O TRANSPORTE DE PETRÓLEO Fonte: AFRICA REVIEW. The Suez Canal keeps Egypt’s head above water. Disponível em:<http://www.africareview.com/ Special-Reports/The-Suez-Canal-keeps-Egypt-economy- sane/-/979182/1312998/-/kf5x73/-/index.html>. Acesso em: 21 fev. 2015. Adaptação. Consulte, em um atlas geográfico, os mapas políticos e físicos da Ásia, África e Europa e localize o que se pede. Durante o transporte de petróleo do Golfo Pérsico à Europa Ocidental (para o Reino Unido, por exemplo), os navios petroleiros passam por importantes pontos estratégicos: os estreitos ou canais indicados no mapa por 2, 3, 4 e 5. Identifique cada um deles. 2. Estreito de Ormuz. 3. Estreito de Bab-el-Mandeb. 4. Canal de Suez. 5. Estreito de Gibraltar. Terceira Revolução Industrial A utilização e a evolução de satélites artificiais e outras con- quistas da Astronáutica, decorrentes, sobretudo, da corrida es- pacial, bem como a propagação dos recursos eletrônico-digitais e da informática, as conexões em escala mundial com a internet e o desenvolvimento da Engenharia Genética marcam o ingres- so em uma nova fase da industrialização e da história da tecno- logia: a Terceira Revolução Industrial. corrida espacial: disputa de tecnologia a stronáutica entre os Estados Unidos e a União Soviética, r elacionada à ex- pansão de armamentos, bases militares e instrumentos de espionagem durante a Guerra Fria (a proximadamente entre 1945 e 1991). O lançamento de sa télites em órbita, de foguetes à Lua e aos planetas mais p róximos da Terra exemplificam a corrida espacial. M ar ilu d e So u za O crescimento do transporte de pessoas e de mer- cadorias por meio da navegação marítima durante o século XX ressaltou a importância estratégica dos canais ou estreitos, passagens afuniladas do mar entre terras bastante próximas, bem como valorizou a abertura de canais artificiais, como o de Suez, no Egito, entre a África e a Ásia, e o do Panamá, na América Central. O controle político e administrativo desses canais tornou-se impor- tante não apenas em função do comércio, mas também do ponto de vista militar. Geografia 9 Algumas dessas transformações já eram percebidas, principalmente nos Estados Unidos, no Japão e na Europa, em meados da década de 1960. Nas duas últimas décadas do século XX, a difusão das novas tecnologias, dos meios de comunicação e de diversas outras áreas contribuiu para se criar a ideia de globalização, aplicada principalmente à economia. A energia nuclear somou-se ao carvão, ao petróleo e à hidroeletricidade compondo as principais matrizes energéti- cas usadas a partir da segunda metade do século XX, embora sua utilização ainda ocorra de modo predominante nos países economicamente mais desenvolvidos. Usina nuclear em Temelín – República Tcheca, 2011. A utilização mais ampla da energia nuclear é uma das características da Terceira Revolução Industrial. Outra mudança mais recente no cenário energético é o aumento da preocupação com a utilização de fontes de energia limpas e renováveis. Tal fato se relaciona com a discussão a respeito da sustentabilidade econômica e ambien- tal do planeta, em especial em relação ao cuidado quanto à qualidade da atmosfera, das águas, do solo e das florestas. Dessa forma, é crescente o investimento em pequenas centrais eólicas e outras fontes alternativas e limpas em várias partes do mundo. Outras informações sobre o percentual de uso da energia nuclear.4 País Uso da energia nuclear em relação a todas as fontes energéticas (em %) França 74 Bélgica 51 Eslováquia 51 Ucrânia 48 Hungria 43 Fonte: ELETROBRAS. Panorama da energia nuclear no mundo. Edição nov. 2011. Disponível em: <http://www.eletronuclear.gov. br/LinkClick.aspx?fileticket=GxTb5TAen5E%3D&tabid=297>. Acesso em: 4 abr. 2015. Sugestão de atividade: questão 2 da seção Hora de estudo. Usina eólica no mar, em Copenhague – Dinamarca, 2009 No Japão e em muitos países europeus, onde as condições ambientais não favorecem o aproveitamento da energia hi- droelétrica, as centrais nucleares respondem por grande parte da demanda energética. G et ty Im ag es /M ov ie P os te r I m ag e A rt Lançado em 1968, o filme 2001: uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick, apontava para algumas das inovações tecnológicas da Terceira Revolução Industrial. © W ik im ed ia C om m on s/ C h N PP © W ik im ed ia C om m on s/ Po lit ik an er 10 Volume 8 Desde o surgimento dos trens e navios movidos a vapor até os aviões a jato, a velocidade e a eficácia dos sistemas de transportes parecem ter encurtado as distâncias em nosso planeta. O fluxo de informações e até mesmo de capitais tornou-se instantâneo com o advento da rede mundial de computadores e a utilização dos meios eletrônicos e digitais. Entretanto, ainda que essas mudanças tenham se espalhado, existe uma significativa diferença no acesso às inova- ções tecnológicas entre as regiões mais e menos desenvolvidas do globo. Da mesma forma, constata-se que, simulta- neamente, coexistem as três etapas da Revolução Industrial, testemunhando as grandes diferenças socioeconômicas ainda persistentes. Se no decorrer do século XX, gradativamente, houve uma desconcentração espacial da indústria, com a indus- trialização de outras regiões do mundo, além de Europa, América do Norte e Extremo Oriente, a Terceira Revolução Industrial consolidou o processo de flexibilização espacial das empresas. Grandes empresas, as transnacionais, passaram a atuar em diversos países, ultrapassando fronteiras e tornando- -se hegemônicas na economia mundial. A terceirização de parte da produção de determinada mercadoria ou, ainda, sua montagem com peças ou partes produzidas em regiões, muitas vezes, bastante distantes fisicamente, aprofunda- ram ainda mais a dinâmica da espacializaçãoda indústria. Mudanças ambientais, saúde e industrialização A Terra é formada pelas inter-relações de seus sistemas: hidrosfera, litosfera e atmosfera. Na zona de interação des- ses sistemas, situa-se a biosfera, que constitui o conjunto de todos os seres vivos. A intervenção humana afeta de modo significativo a dinâmica natural dos diferentes ambientes do globo. Com o desenvolvimento da Revolução Industrial, os diversos tipos de intervenção se tornaram mais intensos e, ao mesmo tempo, multiplicaram-se, dispersando-se pelo mundo. Em várias situações, a saúde das populações locais tem sofrido os efeitos da industrialização. Desse modo, se, por um lado, o desenvolvimento tecnológico resultante da Revolução Industrial contribuiu para o au- mento da longevidade ou expectativa de vida, por outro, doenças decorrentes das várias formas de poluição, muitas delas até então desconhecidas ou pouco frequentes, passaram a afetar as populações mais vulneráveis. A eclosão da Revolução Industrial primeiramente transformou a paisagem da Europa Ocidental. Com a proliferação das fábricas, as cidades cresceram e tiveram elevado incremento populacional vindo do campo. O céu urbano se caracterizava pela fuligem das chaminés das fábricas, os rios eram contaminados pelos despejos industriais, a vegetação nativa do entorno cedia seu lugar a novos bairros operários e ao arruamento. Esses bairros cresciam de forma rápida e, inicialmente, sem coleta de lixo e tampouco canalização de esgoto na maioria deles, tornando-se ambientes propícios para a proliferação de doenças. Extrair o carvão mineral, fonte de energia que dinamizava o processo industrial europeu nos séculos XVIII e XIX, era, como você verificou no trecho do texto de Zola da página 6, um trabalho muito árduo e com condições insalubres. Muitos dos mineradores adoeciam ou faleciam após alguns anos de trabalho. Frequentemente, as galerias abertas tinham pouco mais de um metro de altura, obrigando homens, mulheres e crianças a trabalhar, por horas, de modo desconfortável. Outra classificação para a divisão da Revolução Industrial em fases.5 Sugestão de atividade: questão 1 da seção Hora de estudo. Ilustração representando o trabalho em mina da Escócia – Reino Unido, 1848 O caso das mariposas no Reino Unido.6 G et ty Im ag es /P rin t C ol le ct or / O xf or d S ci en ce A rc h iv e Geografia 11 A queima dos combustíveis fósseis (carvão mineral e petróleo, principalmente), realizada em grandes volumes a partir da Revolução Industrial, vem causando a liberação de grande quantidade de gases, como dióxido de carbono, que intensificam o efeito estufa natural. Muitos cientistas apontam isso como um dos principais fatores que estariam provocando um gradativo aumento na temperatura média em quase todas as regiões do globo e ocasionando um aquecimento global. Países com elevada produção industrial e numerosa frota de veículos estão entre os que mais liberam tais gases na atmosfera. As áreas de florestas e savanas em que há grande incidência de queimadas também dão sua contribuição a esse processo. Nas cidades em que se concentram muitas indústrias, as mudanças ambientais criam uma situação bem peculiar. Sobre elas, na atmosfera, principalmente em períodos sem chuva, forma-se uma redoma ou abóbada climática, com- posta de diversos gases poluentes. A poluição atmosférica demarca os contornos da abóbada climática sobre São Paulo – SP, 2015 Principais mudanças climáticas regionais decorrentes do processo de industrialização e urbanização.7 Também os desastres socioambientais provocados por vaza- mentos de produtos de indústrias químicas, usinas nucleares, navios petroleiros, oleodutos e plataformas de petróleo causaram milhares de vítimas nas últimas décadas em diferentes regiões do mundo. Ainda nos dias de hoje, podem ser observadas as consequên- cias de um desastre ambiental ocorrido em dezembro de 1984 na cidade de Bhopal, na Índia. Quarenta toneladas de gases tóxicos vazaram de uma indústria de defensivos agrícolas. Em poucas ho- ras, uma nuvem letal dispersou-se sobre a cidade, na época com quase 1 milhão de habitantes, deixando mais de 15 mil mortos e dezenas de milhares de pessoas afetadas por doenças crônicas. Essas pessoas e suas famílias ainda aguardam por assistência e in- denização. Outro resultado das transformações ambientais acentuadas pela Revolução Industrial, principalmente em decorrência da extração de hidrocarbonetos e de seu processamento, é o aumento da incidência de chuvas ácidas. Sugestão de documentário.8 Além da concentração de poluentes atmosféricos, os quais causam ou agravam doenças respiratórias, como a asma e a bronquite, há outros significativos impactos ambientais urbanos: em geral, a temperatura do ar se eleva à medida que se adentra nas áreas centrais, em um fenômeno conhecido como ilha de calor; a formação de nevoeiros aumenta no inverno; a quantidade de precipitação tende a se elevar; e a circulação dos ventos tem sua velocidade reduzida. Crianças brincam diante da indústria de defensivos agrícolas abandonada em Bhopal – Índia, 2009 G et ty Im ag es /L ig h tR oc ke t/ Br az il Ph ot os /R ic ar d o Be lie l Glow Images/AFP/RAVEENDRA N 12 Volume 8 Leia o texto e, em seguida, responda às questões propostas. ConexõesConexões Passado e tragédia Foi em Minamata, Japão, no distante ano de 1956. Uma doença misteriosa intrigava os médicos. Convulsões severas, surtos de psicose, febre às alturas. Quatro pacientes morreram. Que mal os teria acometido? Perple- xa, a equipe do hospital não imaginava que aqueles enfermos seriam os primei- ros registros do que entrou para a histó- ria como “doença de Minamata”. Anos se passaram até que se esclarecesse o enigma. Diagnóstico: contaminação por mercúrio. Tudo começou quando, a partir da década de 1930, uma fábrica de pro- dutos químicos [...] resolveu despejar rotineiramente seus rejeitos industriais nas águas que banhavam o município de Minamata. E o fez por duas décadas sem culpa ou pudor. Até que, em mea- dos dos anos 1950, os habitantes da- quela pequena cidade costeira do sul do Japão começaram a perceber que algo não ia bem. A vida marinha estava contaminada. Pelos céus, aves se comportavam estra- nhamente; e, pelas ruas, gatos e cães nasciam com deformações bizarras. Pois o mercúrio em excesso já era parte da cadeia alimentar. E estava traçado o destino de Minamata: a contaminação do ser humano seria apenas ques- tão de tempo. Não deu outra. Estima-se que pelo menos 50 mil pessoas tenham sofrido as consequências da intoxicação por mercúrio naquela cidade. “A causa da tragédia foi o consumo de peixes contaminados”, escreve o biólogo Wanderley Bastos, da Uni- versidade Federal de Rondônia (Unir). “A população passou a apresentar sintomas como perda de visão e sé- rios comprometimentos na coordenação motora e muscular; além disso, estavam nascendo crianças com danos neurológicos irreversíveis”, contextualiza Bastos. São os elementos clássicos do quadro sinistro da toxicologia mercurial. Segundo estudiosos, naqueles 20 anos foram lançadas à baía de Minamata algo em torno de 200 a 600 tone- ladas de mercúrio. Bateram a casa dos milhões de dólares os prejuízos aos cofres públicos japoneses. O mercúrio era usado [...] na produção de PVC (policloreto de polivinila), o famigerado plástico que atual- mente engrossa o rol da vilania ambiental. Hoje, no entanto, a empresa fabrica insumos para telas de LCD (cristal líquido). A companhia até agora se vê enredada em batalhas judiciais indenizatórias – pois a contaminação por mercúrio ainda é um fardo na vida e na memória de Minamata. KUGLER, Henrique. Passado e tragédia. Ciência Hoje. Disponível em: <http://cienciahoje.uol. com.br/especiais/rastros-do-mercurio/passado-e-tragedia>. Acesso em: 10 mar. 2015. Fonte: ATLAS geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Adaptação.LOCALIZAÇÃO DE MINAMATA, JAPÃO Ta lit a Ka th y Bo ra Geografia 13 Vazamento de petróleo no Golfo do México, 2010 1. Qual foi a causa do desastre de Minamata? O vazamento de mercúrio utilizado na produção de PVC (policloreto de polivinila), que alcançou o mar e afetou os peixes. A população, ao consumir o pescado, foi contaminada. 2. Que semelhanças você identifica entre os desastres de Minamata e de Bhopal? Uma das semelhanças está no vazamento de produtos químicos. Outra semelhança está no descuido das empresas em relação à segu- rança da população ao redor das fábricas. Uma terceira semelhança está na demora das resoluções judiciais para indenização das vítimas. A questão do mercúrio e a contaminação.9 As usinas nucleares de Three Miles Island (Estados Unidos, 1979), Chernobyl (Ucrâ- nia, 1986) e Fukushima (Japão, 2011) também registraram os mais graves problemas resultantes de vazamento de radioatividade. No desastre de Chernobyl, cujos dados ofi- ciais contabilizaram 25 000 mortos, a intensidade da radioatividade liberada à atmosfera foi equivalente à de mais de 200 bombas atômicas como a lançada sobre Hiroshima. O aumento da extração, do transporte e refino do petróleo pelas diferentes re- giões do mundo, de modo preponderante após a segunda metade do século XX, é outro fator que tem resultado em diversos acidentes socioambientais de graves proporções. Entres os principais, está a contaminação decorrente do vazamento de petróleo transportado por um navio petroleiro, na costa do estado do Alasca (EUA), em 1989, e a explosão da plataforma Deep Horizon, no Golfo do México, em 2010. Ea sy p ix B ra si l/ Ri a N ov os ti/ Vi ta ly A n ko v Helicóptero sobrevoa as instalações de Chernobyl para detectar a radioatividade, Ucrânia, maio de 1986 Sobre o acidente nuclear ocorrido no Complexo Nuclear de Fukushima.10 Tipos de indústrias As indústrias convertem matérias-primas em mercadorias por meio do trabalho humano e da utilização de máquinas. De um modo geral, e apesar da grande diversidade de indústrias que se formam num cenário de aceleradas transfor- mações, as indústrias podem ser classificadas em: Outras formas de classificar os tipos de indústrias.11 • indústrias de base ou intermediárias – responsáveis por gerar os bens de produção. Esses, por sua vez, são utilizados para a fabricação de outros bens. Os bens de produção classificam-se em: bens de capital e bens intermediários; • indústrias leves – produzem os bens de consumo, os quais se classificam em bens duráveis e bens não duráveis. Já em território brasileiro, no ano de 1984, um vazamento de gasolina em uma das tubulações da Refinaria Artur Bernardes, a qual atravessava a Vila Socó (Vila São José), em Cubatão – SP, pro- vocou um incêndio que rapidamente se espalhou pelas casas da região. Tragédias como essa, no Brasil, ou a de Bhopal, Índia, de Minamata, Japão, entre tantas outras, evidenciam o elevado risco (ou vulnerabilidade) socioambiental pelo qual, muitas vezes, passam as populações que residem nas imediações de certas áreas industriais. La tin St oc k/ Re u te rs /S EA N G A RD N E 14 Volume 8 • indústrias de bens de consumo não duráveis – in- dústrias alimentícias, de cosméticos, têxtil, de ves- tuário, etc. Indústrias de base ou de bens de produção À esquerda, siderúrgica em São Paulo – SP, 2013. À direita, fábrica de cilindros em Pindamonhangaba, 2010. A produção de aço numa indústria siderúrgica e a fabricação de máquinas e equipamentos são exemplos relacionados à indústria de base. No conjunto das indústrias de base, temos as seguintes classificações: Pu ls ar Im ag en s/ M ar ce lo S p at af or a São denominadas de indústrias de base aquelas que transformam matérias-primas brutas em maté- rias-primas processadas, constituin- do-se, assim, como base para outros ramos industriais. A indústria extrati- va mineral é um exemplo. Também se incluem nesse grupo as fabrican- tes de máquinas, equipamentos, ferramentas e outras mercadorias, as quais, por sua vez, são utilizadas por outros setores industriais. • indústrias de bens de capital – aquelas que desen- volvem bens que estão prontos para ser utilizados na elaboração de outros bens, como de consumo. Nessa categoria, enquadram-se, portanto, as fabricantes de máquinas, de robôs industriais, de lubrificantes e de autopeças. • indústrias de bens intermediários – fabricam determi- nados bens que, por sua vez, ainda serão transforma- dos por outra indústria. As produções de aço, cimento, alumínio, barras e chapas de ferro estão nesse conjun- to de indústrias. Indústrias leves ou de bens de consumo As indústrias leves formam o conjunto industrial mais disperso nos territórios, tanto nacional quanto mundial e, geral- mente, ficam próximo de locais com maior disponibilidade de mão de obra e de melhores acessos ao mercado consumidor. De acordo com o tempo de utilização e conservação pelo consumidor da mercadoria produzida, esse tipo de produção se divide em bens duráveis e não duráveis. De modo geral, produtos perecíveis ou de curta durabilidade são fabricados em indústrias de bens de consumo não duráveis, ao passo que os bens de consumo duráveis prestam serviço por um período de tempo relativamente maior. À esquerda, linha de montagem de geladeiras, em Joinville – SC, 2013. À direita, tecelagem em São Paulo – SP, 2014. A produção de aparelhos eletrodomésticos se enquadra na indústria de bens duráveis, ao passo que a indústria do vestuário produz bens não duráveis. • Indústrias de bens de consumo duráveis – automobi- lística, moveleira, de materiais elétricos e eletroeletrô- nicos, entre outros. Pu ls ar Im ag en s/ A le x Ta u b er Fo to ar en a/ Lu ca s La ca z Ru iz Fo to ar en a/ Zu m a Pr es s/ TI PS Geografia 15 Em virtude da dinamicidade desse tipo de produção e da multiplicidade de mercadorias dela resultante, há discus- sões acerca de tais classificações. Não há precisão para se definir determinado produto como durável ou não durável. As dificuldades em categorizar o tipo de indústria ocorrem, também, entre bens de produção e bens de consumo, como no caso da produção de computadores. Se, em determinada situação, o computador é uma ferramenta de trabalho, cujo intuito é gerar renda ou até contribuir para a produção de uma nova mercadoria, sua fabricação é carac- terística das indústrias de bens de capital e, portanto, de bens de produção. Porém, se os computadores são utilizados diretamente pela população consumidora, como computadores pessoais (chamados de PCs), também se pode quali- ficá-los como bens de consumo. Modelos de produção: taylorismo, fordismo, toyotismo e just in time O Ford T, em sua linha de montagem, em fábrica na cidade de Detroit – EUA, 1934 Sugestão de atividade: questão 3 da seção Hora de estudo. A produção em série e a exploração do trabalhador das fábricas são ironizadas por Chaplin no filme Tempos modernos. Com o crescimento da industrialização, no final do sécu- lo XIX e início do século XX, foram criados sistemas de pro- dução em série. Eram modelos de organização do processo fabril que buscavam a máxima produtividade de cada tra- balhador, a otimização do tempo e, pela lógica capitalista, a redução de custos para aumentar a lucratividade. O modelo taylorista Assim, ainda ao final do século XIX, o engenheiro e eco- nomista estadunidense Frederick Taylor (1856-1915) pas- sou a estudar, por intermédio de medições cronométricas, o tempo gasto pelos operários em cada tarefa. Com incen- tivos em forma de remuneração extra, Taylor almejava o aumento do número de peças produzidas por trabalhador. Se por um lado o modelo taylorista, como ficou conhe- cido, propunha aumentar a eficiência da empresa, por ou- tro recebia severas críticas dos sindicatos de trabalhadores, pois a racionalização da produção causava a exploraçãodo operário e a automação de seu trabalho. O modelo fordista Na década de 1920, nos Estados Unidos, o empresário do ramo automobilístico Henry Ford implantou a produção em série na fabricação do automóvel Ford T. Cada operário deveria ser altamente especializado, realizando uma única tarefa na linha de produção. Ford também propôs uma re- dução no horário de trabalho, pois considerava que longas jornadas eram responsáveis por queda de produtividade. A arte fez sua interpretação de tal modelo de produ- ção. No cinema mudo, tornou-se clássica e referência de crítica à produção em série a obra Tempos modernos, de Charles Chaplin, produzida em 1936. Com o intuito de expandir a produção e o consumo em massa, o modelo fordista criou as bases da economia industrial em larga escala e da sociedade de consumo. O modelo foi responsável por um aumento de produtivida- de e de salário do trabalhador, com o propósito de que este viesse também a se tornar um potencial consumidor. G lo w Im ag es /H er ita g e Im ag es /N EM PR P ic tu re t h e Pa st La tin St oc k/ C or b is /J oh n S p rin g er C ol le ct io n 16 Volume 8 Na segunda metade do século XX, porém, o modelo fordista começou a perder seu vigor. Enquanto caía a pro- dutividade, novas formas de produção, ainda mais mecani- zadas, e outra dinâmica no processo industrial já sugeriam a transição para uma nova fase da Revolução Industrial. O modelo toyotista e o sistema just in time Nascido na década de 1950, no Japão, no interior da fá- brica de automóveis Toyota, e perdurando até a atualidade, o modelo toyotista transformou a função do trabalhador e incorporou tecnologias que caracterizam a Terceira Revo- lução Industrial. O meio técnico-científico e a importância destacada às pesquisas de ponta representam o novo ce- nário dos espaços industriais. Ao contrário da especialização de tarefas proposta pe- los modelos anteriores, o toyotismo propõe que o operário Sugestão de atividade: questão 6 da seção Hora de estudo.Sobre o just in time.12 Esquema de um sistema just in time Sugestão de filme sobre o tema. 13 deva exercer várias funções e, com sua equipe, ser respon- sável por todo o processo de produção. Dessa forma, os trabalhadores passam a controlar a qualidade dos bens produzidos, reduzindo a perda de peças defeituosas. A introdução de robôs determinou a substituição, na linha de montagem, de um grande número de trabalha- dores pelas máquinas, reduzindo os custos de produção. A linha de montagem tornou-se mais flexível, atendendo a diferentes interesses e necessidades do comprador. Isso também reduziu o volume da estocagem do material ne- cessário para a produção e seus custos. Essa reorganização do ambiente de produção com o propósito de eliminar desperdícios, ou seja, de uma “pro- dução enxuta”, denominada just in time, constitui uma das bases do toyotismo. Assim, nada deve ser produzido, trans- portado ou comprado antes da hora certa. Mundo do trabalho Analista ambiental Com o fenômeno da industrialização eclodindo a partir do final do século XVIII, uma das mudanças mais marcantes e distinguíveis em muitas das paisagens de nosso planeta foi o crescimento da poluição em suas diferentes formas (hídrica, atmosférica, sonora, etc.). Os compostos químicos lançados pelas chaminés desde a primeira fase da Revolu- ção Industrial foram se espalhando pelo mundo, ao mesmo tempo que, gradativamente, se concentravam até mesmo em locais improváveis, como nas geleiras da Groenlândia ou nos organismos de animais antárticos. Nas cidades com complexos industriais, as mudanças são sentidas de forma mais evidente, sendo, reconhecidamente, causadoras de doenças respiratórias. D iv o. 2 01 5. D ig ita l. Lotes pequenos de matéria-prima Processo de produção Desperdício mínimo Apoio de pessoal Tempo mínimo de armazenagem Vendas Geografia 17 Pu ls ar Im ag en s/ Ri ca rd o Te le s Analistas ambientais do IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis verificam queimadas ilegais na Floresta Amazônica no sul do Pará. Considerações sobre a resposta.14 Orientação para a atividade.15 Organize as ideias Complete o esquema a seguir com os nomes dos tipos de indústrias e com exemplos do que cada uma delas produz. Tipos de indústrias ou indústrias de bens de produção Exemplo: máquinas e insumos agrícolas, óleos lubrificantes Indústria de bens intermediários. Exemplo: Exemplo: automóveis, aparelhos eletrodomésticos Exemplo: vestuário, calçados, alimentos Com o agravamento dos problemas ambientais e de escala global e as sérias consequências na qualidade de vida das populações, como a poluição urbana, a degradação das águas continentais e oceânicas, o desflorestamento, a ocorrência de chuvas ácidas, entre outras, fizeram-se necessárias a formação e a intervenção de profissionais capazes de medir tais impactos e de propor formas de reduzi-los ou, até mesmo, eliminá-los. O analista ambiental exerce seu papel em parceria com empresas ou ór- gãos públicos, buscando uma gestão ambientalmente sustentável. Muitas vezes, tal tarefa é realizada por meio de um trabalho em equipe, contando com a presença de profissionais de outras áreas afins, como geólogos, bió- logos, engenheiros florestais e geógrafos. Os estudos para implantação das unidades de conservação, como reservas ecológicas ou áreas de proteção ambiental, são algumas das atribuições do analista ambiental. • Discuta com os colegas e o professor sobre as seguintes questões e registre as conclusões a que chegaram: Na cidade ou na região onde você vive, há distritos ou polos industriais? Como estão as condições ambientais nas proximidades dessas áreas industriais? Em sua opinião, quais seriam as principais tarefas que poderiam ser realizadas por uma equipe de analistas ambientais? Hora de estudo 1. Considere a circulação de notícias sobre um fenômeno geográfico ocorrido em determinado local do globo. Identifique em que etapa da Revolução Industrial se enquadra cada uma das formas de transmissão dessas notícias. a) As informações chegam instantaneamente, de um modo geral, a todas as regiões da Terra, por meio da rede mun- dial de computadores. Terceira etapa. b) As notícias são levadas em cartas por navios movidos a vapor, através dos oceanos, chegando semanas ou meses depois a lugares distantes. Primeira etapa. c) Pelas linhas de telégrafo, mensagens enviadas em telegramas noticiam os fatos a diferentes regiões do mundo. Segunda etapa. Gabarito.16A resolução das questões discursivas desta seção deve ser feita no caderno. 18 Volume 8 A evolução das cidades. Coleção História em Revista. Rio de Janeiro: Abril Coleções, 1996 2. Exemplifique com um tipo de fonte de energia, ou al- gum projeto, a busca, nos tempos atuais, pela susten- tabilidade econômica associada ao equilíbrio ambiental no setor energético. 3. A imagem ao lado foi ex- traída do filme Tempos modernos, de Chaplin. Observe-a e, em seguida, responda à questão: Qual a relação entre a cena do filme e o modelo fordista nas indústrias? 4. (UERJ) Cidade de Birmingham (Inglaterra, 1886) os presentes. O trabalho é fisicamente descentraliza- do e o poder sobre o trabalhador, mais direto. SENNETT, R. A corrosão do caráter: consequências pessoais do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999 (adaptado). Comparada à organização do trabalho característica do taylorismo e do fordismo, a concepção de tempo anali- sada no texto pressupõe que: a) as tecnologias de informação sejam usadas para democratizar as relações laborais. b) as estruturas burocráticas sejam transferidas da empresa para o espaço doméstico. c) os procedimentos de terceirização sejam aprimora- dos pela qualificação profissional. d) as organizações sindicais sejam fortalecidas com a valorizaçãoda especialização funcional. X e) os mecanismos de controle sejam deslocados dos processos para os resultados do trabalho. 6. (ENEM) Coketown era uma cidade de tijolos vermelhos, ou melhor, de tijolos que seriam vermelhos se a fu- maça e as cinzas permitissem, cidade de máquinas e de altas chaminés. Apresentava muitas ruas largas, todas iguais, e muitas ruazinhas ainda mais iguais, cheias de pessoas também muito iguais, pois todas saíam e entravam nas mesmas horas, andando com passo igual na mesma calçada, para fazer o mesmo trabalho, e para elas cada dia era parecido com o da véspera e com o dia seguinte. CHARLES DICKENS. In: ENDERS, Armelle e outros. História em curso. Rio de Janeiro: FGV, 2008. A Revolução Industrial provocou grandes mudanças em algumas cidades inglesas a partir de finais do século XVIII. A imagem de Birmingham, de 1886, e o fragmento do romance Tempos difíceis, publicado em 1854, apresentam sinais dessas transformações. Apresente uma mudança causada pelo processo de in- dustrialização nas cidades inglesas e uma de suas con- sequências para as condições de vida do operariado. 5. (ENEM) Um trabalhador em tempo flexível controla o local do trabalho, mas não adquire maior controle sobre o processo em si. A essa altura, vários estudos sugerem que a supervisão do trabalho é muitas ve- zes maior para os ausentes do escritório do que para Na imagem, estão representados dois modelos de pro- dução. A possibilidade de uma crise de superprodução é distinta entre eles em função do seguinte fator: a) Origem da matéria-prima. b) Qualificação da mão de obra. c) Velocidade de processamento. X d) Necessidade de armazenamento. e) Amplitude do mercado consumidor. 7. (ESCS – GO) A partir de meados do século XIX, o Ocidente conheceu notável desenvolvimento científico, assinalado pelo avanço do conhecimento nas mais diversas áreas, como a biolo- gia e a química. Essa realidade assentava-se em trans- formações estruturais que ultrapassavam os limites da economia para envolver os mais diversos aspectos da vida social. O referido período é comumente chamado de: a) nacionalismo radical. b) Segunda Guerra Mundial. X c) Segunda Revolução Industrial. d) Romantismo literário. La tin St oc k/ C or b is /S u n se t Bo u le va rd Geografia 19 Principais espaços geográficos industr iais mundiais 23 1Ponto de partida Pelo que você pode observar na imagem acima, a que custo a China consegue manter o expressivo ritmo de in- dustrialização verificado nas últimas décadas? Quais impactos ambientais podem ser percebidos por meio dessa fotografia? Em sua opinião, esses impactos poderiam ser minimizados? 1 Harbin – China, 2013 Glow Images/AP Photo/Cheng qiang 20 Objetivos da unidade: Cartografia O mapa a seguir revela as principais aglomerações industriais do planeta. A espacialidade da indústria mundial Apesar de a produção industrial atual estar conectada em redes produtivas com abrangência planetária, é funda- mental identificar que papel desempenha cada país nessa composição, visto que tais papéis tendem a se diferenciar conforme o caso. Mesmo quando se especifica o olhar sobre cada país, é importante reconhecer a disposição da espacialidade indus- trial local, pois comumente haverá contrastes entre setores com maior ou menor aglomeração fabril. identificar a localização dos principais es- paços industriais mundiais, distinguindo-os conforme as diversas categorias de países ou tipos de produção; interpretar a dinâmica da dispersão das ati- vidades industriais nos espaços mundiais, com base em seu contexto histórico e na apropriação de tecnologias pelas diferentes sociedades; conceituar e localizar os principais tecnopo- los mundiais, interpretando os fatores que determinam sua concentração; analisar criticamente o papel das corpora- ções transnacionais, observando sua atuação nos territórios; identificar os principais problemas ambientais associados à industrialização, no contexto da busca pelo desenvolvimento sustentável. CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL MUNDIAL Fonte: PHILIP’S. International School Atlas. 2. ed. London, 2006. p. 34. Adaptação. Ta lit a Ka th y Bo ra 21 Observe que, apesar de as maiores concentrações ainda se situarem nos locais onde a industrialização ocorreu há mais tempo (nordeste dos EUA, Europa – principalmente na porção ocidental – e Japão), ou em outros países ricos, como a Austrália, já existem diversos pontos que merecem destaque localizados no mundo periférico. Consulte um planisfério político e faça uma lista, nas linhas a seguir, de países onde há regiões densamente industrializadas. China, Coreia do Sul, Índia, Malásia, Indonésia, Tailândia, Taiwan (China), Cingapura, Paquistão, Cazaquistão, Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito, África do Sul, Brasil, Argentina, México, Chile, Uruguai, Peru, Colômbia. Espaços industriais do mundo rico Europa Berço da Revolução Industrial, o continente europeu ainda mantém as características de distribuição espacial industrial dos primórdios desse processo. As mais tradicionais regiões industriais inglesas (nos entornos de Londres, Birmingham, Manchester), alemãs (Vale do Ruhr), francesas (nos entornos de Paris e Lyon, e nas proximidades da fronteira nordeste) e italianas (no norte do país, especialmente ao redor de Milão, Turim e Gênova), ainda concentram boa parte da produção industrial desses países. Fonte: CHARLIER, Jacques. Atlas du 21e siècle. Paris: Nathan, 2010. p. 58. Adaptação. EUROPA: principais áreas industriais Lu ci an o D an ie l T u lio 22 Volume 8 Como você verificou na unidade anterior, a instalação de indústrias de base nesses locais, na maioria das vezes be- neficiando-se da presença abundante de matérias-primas como carvão ou minério de ferro nas proximidades, atraiu a formação de enormes complexos industriais em seus entornos. Em alguns casos, como na região que se estende do Vale do Ruhr ao nordeste francês, incluindo também os Países Baixos, tais locais foram objeto de disputas geopolíticas, desde o século XIX até as duas guerras mundiais na primeira metade do XX. Decorridos aproximadamente dois séculos, as consequências da industria- lização (em especial a degradação ambiental e a saturação de infraestruturas urbanas) tornam muitos desses locais, na atualidade, pouco atraentes para a ins- talação de novas indústrias. De fato, em alguns deles, observa-se uma tendência de retração na atividade industrial. O primeiro impulso à integração das atividades industriais europeias ocorreu com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), em 1952. Essa organização reuniu os interesses do grupo de países que com- punha o BENELUX (Bélgica, Países Baixos – ou Netherlands, em inglês – e Luxemburgo) com os das três principais potências industriais da Europa con- tinental: Alemanha Ocidental, França e Itália. Apesar desse tratado, nas décadas seguintes, a lógica de uma integração industrial europeia não se sobrepôs aos interesses e à organização praticados internamente em cada país de seu território. Isso parece ter começado a ocorrer de forma efetiva apenas após a consolidação do bloco da União Europeia, especialmente a partir da adoção do euro como moeda única (1999). Desde então, as atividades industriais europeias vêm sendo reorganizadas em função dos interesses do bloco, conferindo melhores condições de enfrentar as turbulências geradas pelas crises econômicas e pela concorrência dos mercados internacionais. O exemplo da Alsácia-Lorena.2 Sugestões de fontes sobre o fechamento de fábricas na Europa e o caso de Middlesbrough. 3 Cidade de Middlesbrough – Reino Unido, 2009: outrora um importante centro industrial inglês; atualmente em crise socioeconômica pelo fechamento de fábricas Deflagrada no início de 2014, a crise geopolítica que afetou a integridade territorial da Ucrânia também se justificapela desigualdade da distribuição de suas indústrias. Há importantes interesses econômicos em jogo, particularmente associados à produção industrial e às abundantes reservas de gás natural existentes na região. Volte ao mapa "Europa: principais áreas industriais" e observe como a industrialização ucraniana se concentrou mais na porção oriental do país – justamente a que apre- senta maior influência russa. Assim, enquanto a União Europeia e os EUA mobilizam-se para atrair esse estraté- gico país para sua área de influência, a Rússia se dedica a fomentar o nacionalismo do grande contingente de russos que habita as ricas províncias da Ucrânia oriental, para que estes ofereçam resistência à ocidentalização ucraniana. ConexõesConexões La tin St oc k/ A la m y/ C ly n t G ar n h am E nv iro n m en ta l Em 2014, o presidente ucraniano Viktor Ya nucovich foi destituído do poder. Alinhado à Rússia, esta o apoiou. Em meio à crise, a Crimeia (República Autônoma da Ucrânia, cuja m aior parte da população tem origem russa) organizou um referen do popular em março de 2014 (considerado inválido pela Assemb leia Geral das Nações Uni- das), no qual 96% dos votos aprovaram a sua independência em relação à Ucrânia. As lideranças da Crim eia assinaram um tratado que formalizou a adesão desse território à Rússia, embora isso não tenha sido reconhecido internacionalmen te. Ou seja, oficialmente, a Crimeia ainda pertence à Ucrânia. ©Shutterstock/photo.ua Em meio às trocas de acusações e disputas pelas riquezas nacionais, tropas russas mobilizam-se em Perevalne, na península da Crimeia, em 2014 Geografia 23 Observe, na tabela, os maiores mercados consumidores de produ- tos industrializados europeus que não fazem parte do bloco da União Europeia. Estados Unidos A industrialização dos EUA ocorreu no século XIX, no entorno das ricas jazidas de carvão e minério de ferro existen- tes na região nordeste do país. O chamado Cinturão fabril (Manufacturing belt, em inglês) se estendia desde os grandes centros comerciais litorâneos (Nova Iorque, Boston, Filadélfia) até as principais cidades fabris que se desenvolveram ao redor dos Grandes Lagos (Chicago, Cleveland, Pittsburg, Detroit). Essa economia de aglomeração passou a concentrar a maior parte da produção siderúrgica, mecânica e, posteriormente, automobilística, do país. Fonte: PARLAMENTO EUROPEU. Disponível em: <http://www.europarl.europa.eu/ atyourservice/pt/displayFtu.html?ftuId=FTU_6.2.1.html>. Acesso em: 8 abr. 2015. Destino das exportações da União Europeia % de exportações da União Europeia Estados Unidos 16,5 % Suíça 10 % China (exceto Hong-Kong) 8,5 % Rússia 7 % Turquia 4,5 % Japão 3 % Noruega 3 % Demais países 47,5 % Fonte: ATLAS National Geographic. América do Norte e Central. São Paulo: 2008. v. 6. p. 38. (Abril Coleções); CHARLIER, Jacques. Atlas du 21e siècle. Paris: Nathan, 2008. p. 130. Adaptação. EUA: espaços industriais Lu ci an o D an ie l T u lio 24 Volume 8 As outras importantes concentrações industriais do país – com destaque para as situadas no entorno de Los Angeles (na costa oes- te) e no eixo entre Huston e Dallas, no Texas, além de New Orleans, na Louisiana (na costa sul), desenvolveram-se ao longo do século XX. O deslocamento industrial, que envolveu também a transferên- cia de significativos contingentes humanos para essas regiões, foi chamado de “Marcha para o Sun belt” (na tradução, o “cinturão do Sol” – referência ao clima mais ameno da região). Um dos fatores que motivaram esse deslocamento foi a descoberta de estratégicas reservas de petróleo nos arredores do Golfo do México. Detroit (EUA) já foi considerada a “capital mundial do automóvel”. A decadência econômica faz com que atualmente haja diversas ruas, como essa, com casas abandonadas. Foto de 2015. Sugestão de filmes que tratam da expansão do fracking nos EUA.5 fraturamento hidráulico (fracking): consiste em uma forma de perfurar poços que, a determinada profundidade, passa a ser horizontal ao atingir a jazida de folhelho no subsolo, sendo, por meio de tubula-ções, injetado um grande volume de água em alta pressão, misturada com aproximadamente 600 produtos químicos, muitos deles nocivos ao ambiente. A água injetada produz fraturas na rocha e, quando retira-da, possibilita a extração do gás natural pelos dutos. Doutrina Monroe: sintetizada pela frase “América para os america-nos”, proferida pelo ex-presidente dos EUA James Monroe em 1823, a doutrina é considerada o marco inicial da concepção geopolítica estadunidense de estabelecer que o restante do continente americano – particularmente os recém-independentes países da América Latina – constituiria sua principal área de influência. Monroe quis deixar clara às potências europeias a intenção dos EUA de controlar o acesso aos mercados consumidores, à mão de obra e às matérias-primas dessa região do mundo. Muitas das cidades industriais do Manufacturing belt experimentaram, nas últimas décadas, um período de estag- nação e decadência econômica. O dinamismo das novas áreas industriais do país atraiu, inclusive, a consolidação de novos polos de siderurgia (como em Birmingham, no estado do Alabama) e metalurgia (como na região de Salt Lake City, no estado de Utah), os quais apresentavam muitos recursos minerais. As indústrias de alta tecnologia que surgiram no contexto da Terceira Revolução Industrial também evitaram as saturadas regiões industriais tradicionais e fixaram-se em locais ainda pouco explorados do Sun belt. Nos últimos anos, a tendência de regressão eco- nômica de algumas dessas cidades, como Pittsburg (no nordeste do país), vem sendo revertida com a revolução energética associada à extração de gás de folhelho (popularmente divulgado como xis- to) por meio da polêmica técnica do fraturamen- to hidráulico (ou fracking, em inglês). A região do Manufacturing belt é uma das que detêm o maior po- tencial para essa exploração. Desde a Doutrina Monroe (1823), a geopo- lítica estadunidense visou incorporar os países latino-americanos como seu mais estratégico merca- do consumidor e fornecedor de matérias-primas. A dinâmica das duas guerras mundiais, no século XX, diretamente responsável pela ascensão dos EUA à condição de superpotência mundial, naturalmente ampliou o mercado consumidor para os produtos industriais estadunidenses, que passou a ser global. Nas últimas décadas, no entanto, a ascensão da economia chinesa está afetando significativamente esse quadro: o país asiático já se tornou o maior parceiro comercial inclusive de alguns países situados na América Latina, interferindo, portanto, na esfera da influência estadunidense no subcontinente. Em recuperação após a crise de 2008, a indústria dos EUA tenta ganhar fôlego para disputar os mercados internacionais com a China, apostando na capacidade de inovação científica e produção de tecnologia de ponta estadunidense – aspectos em que a tradicional superpotência ainda está em vantagem em relação aos chineses. Japão Carente em recursos naturais – especialmente energéticos – o Japão apoiou seu rápido processo de industrializa- ção na importação de matérias-primas. Como elas chegavam ao país pelos portos, as maiores concentrações indus- triais se consolidaram nas regiões litorâneas. © Sh u tt er st oc k/ A iv og es Sugestão de filme que trata da decadência das cidades industriais do Manufacturing belt. 4 Geografia 25 Área industrial em Yokkaichi – Japão, 2014 Era Meiji: o imperad or Mutsuhito tinha apenas 15 anos ao assumir o governo de um Japão ainda feudal. Quando ele morreu, em 1912, seu país havia sid o transformado numa potência moderna e emergente. Esse período de desenvolvimento tecnológico e econôm ico, com profun- das transformações sociais e culturais, ficou conhecido como Era Meiji (1868-1912). JAPÃO: áreas industriais Fonte: ATLAS National Geographic.Ásia II. São Paulo: Abril Coleções, 2008. v. 8. p. 92. Adaptação. Fonte: BANCO MUNDIAL. Gross domestic product 2013. Disponível em: <http://databank.worldbank.org/data/download/GDP.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2015. Os três maiores PIB, em US$ (2013) 1. EUA: 16 768 100 000 000,00 2. China: 9 240 270 000 000,00 3. Japão: 4 919 563 000 000,00 Nesse sentido, o país beneficiou-se do fato de boa parte de seu processo de industrialização ter ocorrido já no contexto da Segunda Revolu- ção Industrial, quando tecnologias como o uso de motores a combustão interna e da luz elé- trica já estavam disponíveis e se popularizavam. Ao final da Era Meiji, em 1912, a determinação estatal já ha- via transformado o Japão em um país com forte base industrial. Nas décadas seguintes, passou a adotar uma agressiva política externa de expansão de caráter militarista e imperialista, bus- cando assegurar as fontes de matéria-prima e os mercados con- sumidores necessários para garantir o crescimento econômico. O Japão recebeu muitos investimentos do bloco ocidental no contexto da Guerra Fria (especialmente oriundos dos EUA). Com isso, foi capaz de superar os impactos resultantes de sua derrota na Segunda Guerra Mundial, a ponto de, duas décadas depois, atingir a condição de segunda maior economia mundial, hoje superada pela China. Até a década de 1970, contudo, a indús- tria japonesa ainda permanecia concentrada no entorno da megalópole formada próximo ao litoral do Pacífico (especialmente entre Tóquio e Osaka). Após esse período, passou por um processo de desconcentração. Mui- tas novas empresas japonesas evitavam as tradicionais economias de aglomeração do país, enquanto outras deslocaram suas uni- dades produtivas para outros pontos ainda não explorados do arquipélago – como as ilhas de Hokkaido, Kyushu e Shikoku – fa- zendo surgir novos polos industriais. Houve, ainda, empresas japonesas que passaram a investir na produção industrial em países vizinhos. Nas décadas de 1980 e 1990, o Japão se tornou o maior investidor de um grupo de países conhecidos como Tigres Asiáticos, que estudaremos adiante. La tin St oc k/ A la m y/ Se an P av on e Lu ci an o D an ie l T u lio 26 Volume 8 Sobre a reação nos EUA à invasão de automóveis japoneses.6 Fábrica em Kurashiki – Japão, 2013. Pessoas do mundo todo se habituaram a utilizar carros fabricados pela indústria automobilística japonesa, que é uma das mais importantes do planeta. • na América Latina – Brasil, Argentina e México (o Chile incorporou-se um pouco mais tarde); • na Ásia – China, Índia e os chamados Tigres Asiáticos, que correspondem a Coreia do Sul, Taiwan (China), Cingapura, Hong Kong (atualmente reintegrado à China), Malásia, Tailândia e Indonésia; • na África – África do Sul. Os países socialistas que se industrializaram nesse período, como a maioria dos situados no Leste Europeu, além da Coreia do Norte (considerando que nem todos eles consolidaram a industrialização, como é o caso de Cuba) também podem ser citados. Apesar de tradicionalmente não aparecerem nas listagens de NPIs, esses países se industrializaram tardiamente. Contudo, é necessário reconhecer as diferenças advindas do modo de produção adotado, pois tais países, por exemplo, priorizavam a instalação de indústrias de base, sem grandes investimentos nas de bens de consumo, além de barrarem a entrada de transnacionais em seu território. O crescimento econômico de alguns grupos de NPIs produziu fenômenos de grande destaque. Um dos que mais chamaram a atenção foi o do surgimento dos Tigres Asiáticos. O elevado avanço na produção de ciência e alta tec- nologia na segunda metade do século XX possibilitou a abertura de diversos mercados mundiais – inclusive o es- tadunidense – para os produtos industrializados japoneses. Além de expoente de artigos de alta tecnologia, o país se tornou um dos maiores fabricantes e exportadores de bens de consumo duráveis do planeta, com destaque à produ- ção automobilística e de eletroeletrônicos. No entanto, sua tradicional dependência em relação às matérias-primas im- portadas manteve-se. Espaços industriais do mundo emergente Os países cujo início do desenvolvimento industrial ocorreu apenas no século XX são considerados de industriali- zação tardia. Apenas alguns deles, no entanto, conseguiram consolidar parques industriais expressivos e diversificados de indústrias tradicionais. Menor ainda é o número dos que puderam realizar algumas incursões na produção de tecnologia de ponta, mesmo em ramos específicos. Em boa parte do mundo periférico, a produção industrial ainda é incipiente e se constata elevado grau de dependência em relação aos países que apresentam parques industriais mais desenvolvidos. Por outro lado, merecem destaque, em momentos distintos, dois importantes grupos cujas atividades industriais impulsionaram o crescimento econômico: os chamados Tigres Asiáticos, surgidos nas décadas de 1970 e 1980, e o BRICS (englobando Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – ou South Africa, em inglês), cuja ascensão se deu no início do século XXI, com destaque ao desenvolvimento da China. Esses países, entre outros isolados que também integram o mundo periférico considerado emergente, ainda hoje constituem espaços estratégicos para a expansão internacional dos negócios. NPIs e Tigres Asiáticos A expressão NPI (Novos Países Industrializados, ou NICs, em inglês) se popularizou a partir da década de 1950, quando já se evidenciava a expansão das atividades industriais mundiais, anteriormente concentradas nas poucas potências do mundo rico, para um grupo de países periféricos de industrialização tardia. Uma das etapas desse processo foi a implantação, por tais países, de filiais de empresas transnacionais oriundas dos países ricos. Em muitos casos, no entanto, esse processo ocorreu paralelamente ao desenvolvimento industrial local. Os NPIs que mais se destacaram, em um primeiro momento, foram: G et ty Im ag es /B lo om b er g /T om oh iro O h su m i Geografia 27 Embora tenha surpreendido economistas do mundo todo há algumas décadas, o surto de crescimento econômico dos Tigres Asiáticos não se sustentou em longo prazo na maioria dos casos. Para isso, contribuíram os seguintes fatores: Os Tigres Asiáticos foram um grupo de países que experimentou, em um curto período de tempo, veloz ritmo de cresci- mento econômico, no modelo de plataformas de exportação, sustentado principalmente por muitos investimentos do bloco capitalista (especialmente dos EUA) e pela produção e exportação de bens de consumo de curta durabilidade e baixo custo – especialmente brinquedos e eletroeletrônicos. Na década de 1970, o grupo incluía Coreia do Sul, Taiwan (China), Cingapura e Hong Kong (então uma cidade-estado independente da China, sob influência britânica). Estes foram os chamados “tigres originais”. Na década de 1980, mais três países foram agregados, mesmo nunca tendo atingido a projeção dos anteriores: Tailândia, Malásia e Indonésia, denominados Novos Tigres. TIGRES E NOVOS TIGRES ASIÁTICOS Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 51. Adaptação. • contexto do fim da Guerra Fria (reduzindo os interesses geopolíticos dos Estados Unidos, que optaram por redi- recionar seus investimentos – falta que não foi suprida nem mesmo pela aproximação desses países com seu novo investidor principal, o Japão); • carência de indústrias de base, causando lacunas e dependência na produção de bens de capital e interme- diários; • encarecimento gradativo dos custos de produção nesses países, em especial no que se refere à mão de obra; • dificuldade em competir, na exportação dos produtos em que eles eram especializados, com a China, que passou a dominar esse mercado ofertando artigos similares a custos bem inferiores. M ar ilu d e So u za 28 Volume 8 Tais fatores, somados aoendividamento dos Tigres Asiáticos, geraram uma crise econômica na década de 1990 que atingiu esses países fortemente. Esse processo serviu, de certa forma, para diferenciar o desenvolvimento dos integrantes do grupo: • Taiwan (China), Cingapura e, especialmente, Coreia do Sul (uma das mais prósperas economias emergentes mundiais, contando inclusive com um grande número de transnacionais próprias) demonstraram força econômica para superar a crise, principal- mente em virtude de maciços investimentos em educação e di- versificação das atividades produtivas industriais; • Hong Kong foi incorporada à China em 1997, constituindo uma das regiões mais desenvolvidas daquele país, embora até hoje desfrute de regalias em relação a outras províncias chinesas (veja na seção a seguir); • Tailândia e Malásia na atualidade apre- sentam destaques econômicos apenas pontuais, não conseguindo sequer figurar entre os principais países emergentes do mundo; • a Indonésia pouco se beneficiou do breve pe- ríodo de industrialização, mantendo muito mais evidentes os problemas típicos do subdesenvol- vimento do que as eventuais vantagens obtidas. ConexõesConexões Hong Kong e China: uma união delicada HONG KONG Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 51. Adaptação. As ZEEs serão estudadas também quando a China for abordada no contexto do BRICS, logo adiante.do BRBRICICSS logo adiante Zonas Econômicas Especiais: conceito utilizad o pelo governo chinês, após sua abertura econômica, p ara se referir a um grupo de territórios na porção oriental do paí s, que passou a gozar de maior flexibilidade na legislação econô mica, adotando parcial- mente princípios da economia de merca do, como a livre-iniciativa e a entrada de investimentos internacion ais. De um lado Hong Kong, uma colônia britânica com status de cidade-estado, capitalista, com uma das mais importantes bolsas de valores da Ásia. Sua população já estava habituada aos costumes ocidentais e se identificava com o liberalismo democrático, tendo experimentado um grande crescimento econômico sustentado pela comercialização em larga esca- la de uma enorme variedade de mercadorias de baixo custo (como brinquedos e artigos de papelaria), muito consumi- dos no mundo. De outro lado, a China, que, apesar da abertura econômi- ca ao capitalismo verificada nas últimas décadas, ainda apre- sentava (como até hoje) resquícios da estrutura socialista, de modo especial no que se refere à planificação de alguns setores da economia e, principalmente, na rigidez da con- dução da política estatal centralizada pela cúpula do Partido Comunista. Quando, em 1997, o Reino Unido finalmente concretizou a devolução aos chineses do controle de Hong Kong, – que in- tegrou a China até a Primeira Guerra do Ópio (1839-1842) – , a solução encontrada para a conciliação de interesses tão distintos foi garantir autonomia parcial à cidade, a qual se enquadrou nos moldes de outras Zonas Econômicas Especiais. Isso assegu- rou aos habitantes de Hong Kong mais liberdades civis do que os de outras partes da China. M ar ilu d e So u za Geografia 29 1. Que fato desencadeou os protestos? 2. Por que esses protestos preocuparam a comunidade internacional no que se refere às reações do governo chinês? 3. Quais as implicações desse caso em outros focos de tensão associados à geopolítica chinesa? Em 2014, no entanto, uma onda de protestos ocorreu em Hong Kong, evidenciando a tensão das relações com o go- verno chinês. Pesquise esses eventos em jornais, revistas e na internet e responda às questões propostas a seguir. Protestos contra o governo chinês em Hong Kong – China, 2014 Gabarito.7 As maquiladoras mexicanas Outro fenômeno industrial do mundo periférico que merece destaque diz respeito à expansão do número de “ma- quiladoras”, especialmente no México, embora também existam em outros países pobres e emergentes. Maquiladoras são unidades ligadas a grandes corporações que recebem de suas matrizes as peças e os componentes necessários à produção, basicamente operando apenas a montagem do produto final. Este é remetido para o país de origem da matriz ou enviado a fim de ser comercializado em mercados considerados estratégicos pela corporação. Tais montadoras se caracterizam pelos baixos salários pagos aos trabalhadores, além de, em muitos casos, por condições precárias de trabalho. O México já registra a presença de maquiladoras desde a década de 1960, mas o grande impulso a esse processo aconteceu a partir da criação do NAFTA – sigla em inglês para o Tratado de Livre Comércio da América do Norte –, em 1994, que derrubou as alíquotas de importação, possibilitando que muitas empresas dos Estados Unidos deslocassem sua produção para o México, aproveitan- do-se da mão de obra mais barata ali existente. INTEGRANTES DO NAFTA Fonte: NAFTA. Disponível em: <http://www.naftanow.org/>. Acesso em: 7 abr. 2015. Adaptação. ©Shutterstock/m00osfoto Ta lit a Ka th y Bo ra O NAFTA é o bloco econômico integra- do pelos três países situados na Amé- rica do Norte: Canadá, Estados Unidos e México. 30 Volume 8 Refinando o olhar Sobre o “Efeito Tequila” (a Crise do México em 1994/95).8 As condições de trabalho nas maquiladoras mexicanas nem sempre são adequadas, e os salá- rios costumam ser muito baixos. Em razão da falta de melhores opções, ainda assim elas atraem muitos trabalhadores. Maquiladora em Ciudad Acuña – México, 2012 Analise a charge a seguir sobre a atuação das grandes empresas mundiais, destacada no tópico sobre o BRICS. Boa parte dos produtos eletroeletrônicos e automotivos comercializados por importantes empresas instaladas no oeste dos EUA é montada nas milhares de maquiladoras mexicanas. Apesar de, nos últimos anos, esse fenômeno ter perdido parcialmente o impulso inicial em virtude do deslocamento de unidades produtivas para a China, onde a mão de obra é ainda mais barata, ele continua sendo uma das marcas do espaço industrial mexicano. A exploração do trabalho nas maquiladoras é alvo de muitas críticas, em razão dos problemas sociais registrados. Entre as controvérsias, destacam-se as questões: • Até que ponto há reais benefícios ao país que as recebe? • Qual é a responsabilidade social dessas empresas perante o desenvolvimento da sociedade mexicana? Considerações sobre a seção.9 DANZIGER, Jeff. A Time’s Syndicate. Veja, ed. 1374, 11 jan. 1995. G lo w Im ag es /N ew sc om /M C T/ M ar ce lo A S al in as © J ef f D an zi g er LIVR E-CO MÉR CIO OK. AGORA VAMOS VER... QUAL DE VOCÊS ACEITA TRABALHAR POR MENOS? Geografia 31 BRICS A seguir, serão trabalhados os componentes do BRICS, com exceção do caso brasileiro, o qual será abordado com maior aprofundamento na próxima unidade. China Em 2014, o PIB da China, embora tenha crescido num ritmo mais lento do que em anos anteriores (nesse ano a taxa de crescimento foi de 7,4%), já dava sinais de que seria apenas uma questão de tempo para que o país ultrapasse os Estados Unidos, assumindo a condição de maior economia mundial. A China responde por mais de 10% das exporta- ções e importações mundiais. Pode-se dizer que as elevadas taxas de crescimento econômico registradas por esse país nas últimas décadas representam o principal motor para a expansão capitalista mundial. País mais importante entre o BRICS, ela já é a segunda maior economia mundial. Esse período de grande expansão teve início em 1976 e foi conduzido primeiramente por Deng Xiaoping – gover- nante que sucedeu Mao Tsé-Tung, líder que comandou a Revolução Chinesa, em 1949. O novo governo implantou um processo inicialmente lento e restrito de abertura econômica, no qual se permitia que, em determinadas regiões do país – todas situadas nas províncias mais desenvolvidas da região litorânea –, se aplicassem princípios da livre-iniciativa, tipicamente
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