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Juridiquês vs Sociedade

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Juridiquês vs. Sociedade
Cecília Di Fernandes Ferreira Sales Félix de Oliveira[footnoteRef:1] [1: Acadêmica do 2° período C do curso de Direito da FACDO ] 
O “juridiquês” se trata da linguagem jurídica formal e específica utilizada pelos operadores do Direito que se tornou tema de debate pelo seu suposto empasse na dialética social e no acesso igualitário à Justiça. Quando se discute sobre os efeitos dessa linguagem e onde e como se deve usa – lá, deve–se levar em consideração qual é a sua importância para a sociedade e o que levou a acreditar que seu uso é prejudicial. 
Primeiramente, é importante destacar que o juridiquês se trata de uma linguagem que é apenas utilizada por operadores do Direito, visto que é necessário vasto conhecimento jurídico para compreender a mesma e na utilização desse discurso também é possível encontrar várias características elitistas e individualistas, já que quem o utiliza o faz com a intenção de manter as pessoas leigas ao assunto de fora. Carvalho (2006, p.1) expos essa característica quando disse que “[...] aqueles que têm o privilégio de pertencerem ao mundo jurídico fazem de tudo para que esse mundo sagrado não seja profanado pela presença dos não-iniciados”. Ou seja, é notório que essa linguagem utiliza de “palavras difíceis” e exclusivamente jurídicas para individualizar-se, mantendo uma espécie de controle e poder sobre os “cidadãos comuns”, que ocasiona na segregação do acesso à justiça, ao conhecimento, ao Poder Judiciário. (SANTANA, 2012).
Dentro deste contexto, a democratização da linguagem jurídica e o livre exercício da cidadania são negados e, de certa forma, até ignorados, visto que pessoas sem conhecimento jurídico são excluídas do mundo judiciário brasileiro, e assim permanecem incapacitadas de entender e usufruir dos seus direitos. E mesmo que certas medidas tenham sido criadas por associações, tribunais e órgãos judiciários através de projetos e campanhas que buscam simplificar este discurso, nenhuma delas foram eficazes, já que não trabalharam com a “raiz” do problema, como foi exposto por Bustillo, Nascimento e Gonçalves (2017, p.10): 
[...] eles apenas se preocupam com uma das faces do problema, que deveria ser tratado por dois vieses: ao mesmo tempo em que o cidadão tem o direito de ter uma educação que o possibilite exercer sua cidadania, por meio do ensino do vocabulário do juridiquês e do funcionamento do sistema judiciário, uma mudança precisa efetivamente ocorrer na própria cultura que permeia os operadores do direito, para que uma linguagem jurídica mais transparente e simples seja utilizada em suas práticas.
Conclui-se, então, que mesmo que o juridiquês obviamente irá continuar sendo usado no mundo do Direito e, dentro deste, permanecerá com sua linguagem hermética, é mais que necessário que ele seja “adaptado” ou até mesmo explicado popularmente, para que suas erudições sejam substituídas por palavras e termos que permitam que o cidadão comum tenha não só acesso facilitado aos seus direitos, mas também o entendimento sobre o sistema judiciário. Os efeitos negativos da linguagem jurídica afetam também a justiça em si, visto que acaba por permear a ideia de soberba e hierarquia do Poder Judiciário como um todo, assim tirando sua credibilidade diante da população leiga. Portanto, mesmo que não seja um caminho fácil, é necessário entender e continuar discutindo os efeitos negativos dessa linguagem, especialmente dentro das faculdades, para que se consiga evoluir de um comportamento repressor, individualista e elitista, permitindo a todos o desfrutar de seus devidos direitos como cidadãos. 
REFERÊNCIAS 
BUSTILLO, L. N. ; NASCIMENTO, G. A. F. ; GONÇALVES, J. C. . O juridiquês e sua complexidade como barreira entre o cidadão e o mundo jurídico. In: III Congresso Internacional Salesiano de Educação, 2018, Lorena. Políticas Públicas, Formação de professores: educação, cidadania e inclusão social, 2017.
CARVALHO, A. S. Linguagem jurídica: uma porta (fechada) para o acesso à justiça. Correio Braziliense, 27 de março. 2006. Disponível em: https://jf-ms.jusbrasil.com.br/noticias/140750/linguagem-juridica-uma-porta-fechada-para-o-acesso-a-justica . Acesso em: 16 set. 2020.
SANTANA, S. B. P. A linguagem jurídica como obstáculo ao acesso à justiça. Âmbito Jurídico, v. 105, p. 1-15, 2012. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-105/a-linguagem-juridica-como-obstaculo-ao-acesso-a-justica-uma-analise-sobre-o-que-e-o-direito-engajado-na-dialetica-social-e-a-consequente-desrazao-de-utilizar-a-linguagem-juridica-como-barreira-entre-a/ . Acesso em: 16 set. 2020.

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