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Psicomotricidade e Desenvolvimento Motor W B A 0 2 2 2 _ v1 _ 1 2/187 Psicomotricidade e Desenvolvimento Motor Autoria: Prof. Dirceu Costa Junior Como citar este documento: COSTA JR, Dirceu. Psicomotricidade e Desenvolvimento Motor. Valinhos: 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor 05 Unidade 2: Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo 34 Unidade 3: Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras 54 Unidade 4: Aprendizagem, suas Concepções e Desenvolvimento 78 2/187 Unidade 5: Córtex Motor e Cerebelo 98 Unidade 6: Observação, Diagnóstico e Aplicação da Psicomotricidade 118 Unidade 7: Representação Mental, Praxias e Gnosias e Transtornos 139 Unidade 8: A Psicomotricidade enquanto Prevenção e Educação 159 3/187 Apresentação da Disciplina A separação entre o corpo e a mente (ou alma) vem desde os antigos filósofos gre- gos, alguns séculos antes de Cristo. Nessa época, essa dicotomia concedia à mente um papel privilegiado, enquanto ao corpo restava apenas a função menosprezada de subserviência. Contextualizando esse perí- odo, foi uma época em que houve um gran- de desenvolvimento da ciência, coincidindo com o declínio dos Jogos Olímpicos da An- tiguidade (quando o corpo era cultuado ho- menageando os deuses). Com o passar dos séculos e muitos estudio- sos debruçados sobre essa temática, per- cebeu-se a indissociabilidade entre corpo e mente. O “novo” entendimento de que eles se conectam, influenciando um ao outro, si- naliza agora com mais veemência. Confor- me o poeta romano Juvenal associou am- bos no final do séc. I: “mens sana in corpore sano”, ou traduzindo, “mente sã num corpo sadio”. Nesse cenário, surgem diversas ciências que se baseiam nesse ser humano “unificado”, como é o caso da Educação Física e da Psi- cologia. Dentre essas possibilidades, uma ciência se destaca — a Psicomotricidade. Compreendendo essa ciência por meio de suas diversas manifestações como uma abordagem educacional, uma intervenção hospitalar ou, ainda, uma terapia holística, comprovadamente eficiente (principalmen- te, mas não só, com o público infantil), esta disciplina é apresentada com o objetivo de oportunizar aos alunos, de diversas áreas, 4/187 um maior aprofundamento com relação a esse estudo. Serão abordados alguns conceitos, as prin- cipais características, além de algumas das aplicações práticas da psicomotricidade e suas relações com o desenvolvimento mo- tor. 5/187 Unidade 1 Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor Objetivos 1. Apresentar a discussão epistemológi- ca sobre a psicomotricidade. 2. Contextualizá-la na realidade brasi- leira. 3. Introduzi-la no contexto do desenvol- vimento psicomotor. Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor6/187 1. Epistemologia da Psicomotri- cidade 1.1. Conceito A palavra PSICOMOTRICIDADE, numa aná- lise etimológica, une a palavra grega psyché (refere-se a alma, espírito ou mente) com a palavra motricidade, que é uma derivação da palavra latina motor (que desloca, que faz mover). Nesse sentido, a formação da palavra seria algo que misturasse o corpo em movimento e a atividade mental, permi- tindo uma tradução que relacione a movi- mentação corporal e sua intencionalidade. A Associação Brasileira de Psicomotricida- de (ABP), entidade de maior representati- vidade no Brasil, define a psicomotricidade como sendo um “movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua in- dividualidade, sua linguagem e sua socializa- ção”. Por apresentar um conteúdo transdiscipli- nar, com contribuições científicas oriundas de diversas áreas como a filosofia, a psi- cologia, a neurologia, a pedagogia, entre outras, existem diversos significados para psicomotricidade, mas sempre se referindo aos aspectos motor, intelectual e socioe- mocional. Dentre essas diversas definições, pode- mos destacar uma clássica, de Ajuriaguerra (1970, p.19), que afirma que a psicomotrici- dade “[...] é a ciência do pensamento através do corpo preciso, econômico e harmonioso”, ou uma mais atual, de Barreto (2000, p.19), que aborda a psicomotricidade como “[...] a Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor7/187 integração do indivíduo, utilizando, para isso, o movimento e levando em consideração os aspectos relacionais ou afetivos, cognitivos e motrizes”. 1.2. Breve Histórico1 A trajetória da psicomotricidade, desde o seu surgimento até a atualidade, pode ser acompanhada por meio de alguns momen- Link Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP). Entidade de caráter científico-cultural, sem fins lucrativos, que objetiva agregar os profissionais dessa área. Disponível em: <http://www.psico- motricidade.com.br>. Acesso em: 15 abr. 2017. tos importantes na história. Esses marcos apresentam também diversos estudiosos que contribuíram de alguma forma para a caracterização do que hoje entende-se por psicomotricidade. Para saber mais O posicionamento dos países europeus em re- lação à psicomotricidade divide-se entre os pa- íses latinos (a favor) e os anglo-saxões (contra). Provavelmente isso se dá por conta da tendência cultural esportiva, que interfere em toda a motri- cidade. Nesse caso, os países latinos apresentam comportamento mais humanista do que os vizi- nhos de língua inglesa. http://www.psicomotricidade.com.br http://www.psicomotricidade.com.br Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor8/187 Dos berços europeus (especificamente franceses) até sua introdução e primeiros passos no Brasil, é possível seguir esse de- senvolvimento pela ordem cronológica dos eventos: Final do Século XIX: Phellipe Tissié, um neu- ropsiquiatra francês, usou pela primeira vez o termo para nomear a região específica do cérebro encarregada por unir as funções do pensamento com as funções motoras (re- gião do córtex frontal do cérebro). 1870: o vocábulo aparece no discurso neu- rológico pela necessidade de explicar algu- mas patologias que não seguiam a lógica anterior que sempre relacionava um sinto- ma com uma área específica lesionada. 1909: o neuropsiquiatra e professor francês Ernest Dupré expôs que a debilidade moto- ra não precisava necessariamente ter rela- ção com algum problema neurológico. 1925: Henry Wallon, um filósofo, médico, psicólogo e político francês, evidencia a re- lação existente entre o movimento huma- no, o afeto, as emoções e seus hábitos. 1935: o francês Edouard Guilmain, famoso neurologista, apresentou um exame diag- nóstico psicomotor. 1947: Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra e professor francês, delimitou com clareza os transtornos psicomotores, balizando-os entre os neurológicos e os psiquiátricos. 1968: iniciam-se os primeiros cursos dentro das universidades brasileiras de graduação e, principalmente, de pós-graduação. Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor9/187 1970: diversos profissionais começam a trazer da Europa os principais conceitos e práticas sobre psicomotricidade, focando no corpo de um sujeito e, dessa forma, tor- nando mais relevante a relação, a afetivida- de e o emocional. Nesse momento é possí- vel perceber nitidamente a divisão entre as abordagens reeducativa e terapêutica. 1976: a francesa Françoise Désobeau, fono- audióloga e terapeuta corporal, trouxe para o Brasil uma diferente abordagem desen- volvida por ela, que substituía as técnicas instrumentais por jogos e brincadeiras. 1980: é fundada, no estado do Rio de Janei- ro, a “Sociedade Brasileira de Terapia Psi- comotora” (SBTP); alguns anos depois, em 1986, o nome foi modificado para “Socie- dade Brasileira de Psicomotricidade” (SBP) e, em 2005, tornou-se a “Associação Brasi- leira de Psicomotricidade” (ABP). 2012: na Assembleia Geral da ABP, insti- tuiu-seo dia 29 de abril como o Dia do Psi- comotricista. Diversos outros fatos e muitos outros perso- nagens participaram — e ainda participam — dessa construção da jovem ciência psi- comotora. Entretanto, nem todas as ações são apresentadas claramente, por exemplo, alguns cursos e intervenções psicomoto- ras realizadas especificamente para pesso- as com deficiência, por vezes apresentados com outros nomes. Outro grande exemplo é o professor de Educação Física e psicólogo francês Jean Le Bouch, um dos maiores estudiosos da psi- Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor10/187 comotricidade, que utiliza em diversos tra- balhos o termo psicocinética. 1.3. Áreas de Atuação O psicomotricista é um profissional que uti- liza os conhecimentos do desenvolvimento psicomotor para educar, reeducar e realizar tratamentos de pessoas. Essa profissão ain- da não é regulamentada no Brasil, embora o MEC já tenha autorizado a abertura de um curso de graduação nessa área. Hoje esse campo é formado por profissionais da área da Saúde e da Educação que desenvolveram seus estudos, principalmente em cursos de pós-graduação. Os principais locais de atuação na área da educação são: as escolas, creches e escolas especiais para pessoas com deficiência; na área da saúde são: clínicas multidisciplina- res, hospitais, postos de saúde e consultó- Para saber mais Phellipe Tissié foi um dos grandes nomes da edu- cação física escolar francesa. Durante anos ele esteve em embate idealista com o famoso barão Pierre de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpi- cos da Era Moderna. Tissié defendia uma edu- cação física mais igualitária e coletiva, em detri- mento à concorrência e violência manifestadas pelo esporte na escola, sustentado por Coubertin, que justificava esse excesso de liberdade como um condutor necessário para a excelência do in- divíduo. Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor11/187 rios; e também existem empresas que atu- am no ramo de consultorias. Além de toda essa atuação profissional no ambiente edu- cativo, em clínicas e até em empresas, boa quantidade de pesquisa também é realiza- da por aqui. O público-alvo do trabalho da psicomotri- cidade são crianças em fase de desenvolvi- mento ou que apresentam atrasos nos es- tágios de desenvolvimento, e pessoas em processo de reabilitação motora, senso- rial, mental ou psíquica. A psicomotricida- de pode ainda ser ferramenta no processo de reinserção social de crianças, jovens e idosos. Vale ressaltar a importância sobre a orientação de familiares e cuidadores des- ses pacientes, para que por meio da com- preensão do trabalho também se tornem facilitadores da psicomotricidade no dia a dia. Link Pesquisa em psicomotricidade na área da edu- cação. Psicomotricidade no contexto da neu- roaprendizagem: contribuições à ação psicope- dagógica. Disponível em: <http://pepsic.bv- salud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0103-84862015000100009>. Acesso em: 18 abr. 2017. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862015000100009 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862015000100009 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862015000100009 Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor12/187 2. Desenvolvimento Psicomotor O desenvolvimento psicomotor refere-se às contínuas transformações do movimen- Para saber mais O projeto de lei nº 795/2003, que dispõe sobre a regulamentação da atividade profissional de psi- comotricista e autoriza a criação dos Conselhos Federal e Regionais de Psicomotricidade, de au- toria do deputado Leonardo Picciani (RJ), tramita na Câmara dos Deputados desde 2003 e foi ar- quivado em 2007, 2011 e 2015 (término de suas legislaturas). Como o deputado, autor do projeto, se reelegeu, ele pode solicitar o desarquivamento do projeto (da última vez, desarquivado até o final da sua legislatura em 2019). to humano ao longo da vida, em harmonia com o aperfeiçoamento social e cognitivo. Essa maturação, que se inicia logo após a concepção, acontece desde a sua fase não consciente, por meio dos movimentos refle- xos, até a fase consciente, em que os movi- mentos passam a ser influenciados por ou- tros indivíduos e pelo ambiente. Nesta fase, a motricidade relaciona-se ao cognitivo e começa a contemplar sentido e significado, possibilitando a capacidade de expressar as emoções e demonstrar as descobertas. A Figura 2.1 sintetiza a interação de todos os fatores que contribuem para a manifes- tação do movimento, segundo o exposto acima. Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor13/187 Figura 2.1. O movimento (M*) como consequência da interação entre indivíduo (I), tarefa (T) e ambien- te (A). A organização e a execução do movimento sobre ação direta dos fatores compõem I, T e A Fonte: adaptado de Shumway-Cook (2010). Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor14/187 Em um primeiro momento, os conhecimen- tos adquiridos referem-se ao próprio corpo e, em seguida, a interação com outros in- divíduos e as situações experimentadas no meio onde vivem levam a reconhecer seu corpo em relação aos outros (pessoas e ob- jetos) e sua relação em um espaço (ambien- te); permitindo descobrir a si mesmo e o mundo ao seu redor. Esse desenvolvimento compara-se ao desenvolvimento biológico, paralelamente às funções motoras, cogniti- vas, perceptivas, afetivas e sociais. O psicólogo Henry Wallon é conhecido como o responsável pela visão científica da psico- motricidade ao contribuir com informações fundamentais sobre o desenvolvimento neurológico do recém-nascido e da evolu- ção psicomotora da criança. Ele propõe al- guns estágios para esse desenvolvimento psicomotor, não de forma linear e sequen- cial, mas com os estágios posteriores au- mentando e reestruturando os anteriores. Ele afirma ainda que é possível caracterizar a mudança de estágio por meio de um tipo diferenciado de comportamento, conforme é apresentado no Quadro 2.1. Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor15/187 Tabela 2.1. Características dos estágios conforme a idade Estágios Idade Características Impulsivo-emocional Recém-nascido Reflexos Tônico-emocional 6 aos 12 meses Emoções Sensório-motor 1 a 2 anos Postura Projetivo 2 a 3 anos Eu corporal Personalismo 3 a 6 anos Símbolos Categorial 6 a 11 anos Praxias Adolescência A partir de 11 anos Reflexão Fonte: adaptado de Wallon (1981). Estágio impulsivo-emocional: predomínio afetivo. Interação com o meio pela emoção. Adapta- ções ao meio via reflexos (sucção, preensão palmar). Reações puramente fisiológicas (espasmos, contrações). Estágio tônico-emocional: passagem da desordem gestual para as emoções diferenciadas (já expressa medo e alegria). Movimentos ainda são bem desorientados. Relações com o meio via “cumplicidade afetiva” (a criança solicita e precisa da troca afetiva para o seu equilíbrio psicofi- siológico). Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor16/187 Estágio sensório-motor: inteligência pre- domina e é dividida em inteligência prática (conseguida pela interação do corpo com os objetos) e inteligência discursiva (conquis- tada por meio de imitação e consequente apropriação da linguagem). A ação precede o pensamento. Exploração do meio (amplia- da após a conquista do andar). Estágio projetivo: surgimento da inteligên- cia simbólica. Conhece o objeto pela inte- ração com ele (via mobilidade intencional). Exterioriza o ato mental por meio de gestos, projetando os pensamentos em movimen- tos. Estágio de personalismo: predominância afetiva (período crítico na formação da per- sonalidade, dá-se por meio de interações sociais). Período de intenso intercâmbio so- cial (com muita imitação, representação de papéis e trocas deamizades). Consciência de si (imagem própria). Crise de oposição. Estágio categorial: predominância da inte- ligência (capacidades mnemônicas e aten- ção voluntária) sobre as emoções. Aumen- to do interesse para o conhecimento e pelo mundo exterior (transmitindo suas relações com o meio). Idade da razão (idade escolar) e do “desmame afetivo”. Estágio adolescência: predominância afe- tiva (caracterizada por diversos conflitos internos e externos, levando à crise da pu- berdade). Período marcado pela busca de autoafirmação e pelo desenvolvimento da sexualidade. O reconhecimento da cons- ciência de si mesmo no tempo, levando ao desenvolvimento das responsabilidades. Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor17/187 Compreendendo como os desenvolvimen- tos psicológico, emocional e cognitivo pró- prios de cada faixa etária influenciam na in- teração com o meio e na variedade das tare- fas executadas, cronologicamente pode ser observado o aparecimento das habilidades motoras esperadas para cada idade. Link Caderno de Atenção Básica fornecido pelo Minis- tério da Saúde. Saúde da criança: acompanha- mento do crescimento e desenvolvimento infan- til. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov. br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvol- vimento.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2017. No recém-nascido, observamos uma sé- rie de reflexos que podem ser entendidos como respostas ou movimentos involuntá- rios estereotipados como consequência de um estímulo externo. Esses reflexos, que tendem a desaparecer ainda nos primeiros meses de vida, podem indicar algum sinal de comprometimento neurológico quando de sua ausência ao nascimento ou perma- nência para além do período estimado.A Tabela 2.2 a seguir traz alguns dos reflexos do recém-nascido. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor18/187 Tabela 2.2. Exemplificação de alguns reflexos que podem ser observados no neonato Reflexo Movimento observado 1. De sucção Sucção vigorosa por meio de estímulo no lábio. 2. De marcha Posicionado em pé com apoio podal e inclinação do tronco para a frente. Observa-se o cruzamento das pernas uma frente à ou- tra, assemelhando-se à marcha. 3. De moro Com amparo das mãos do examinador, promove-se uma queda súbita da cabeça do recém-nascido para trás. Observa-se ex- tensão e abdução dos membros superiores seguida de choro. 4. De busca Realizando estímulo na face ao redor da boca, observa-se rota- ção da cabeça na tentativa de busca pelo objeto. 5. Preensão palmar Pressão na palma da mão desencadeia a flexão dos dedos. 6. Preensão plantar Pressão na base dos artelhos desencadeia flexão dos dedos. Fonte: elaborada pelo autor. Link Vídeo da Universidade Federal do Maranhão em parceria com a Universidade Aberta do SUS sobre os re- flexos primitivos da criança. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=l3rWFpVt0NU>. Acesso em: 2 maio 2017. https://www.youtube.com/watch?v=l3rWFpVt0NU Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor19/187 À medida que esses reflexos primitivos vão sendo integrados com a maturação do sis- tema nervoso central, que ocorre de manei- ra acentuada nos primeiros anos de vida, novas possibilidades de ação vão sendo acrescentadas ao repertório de movimentos possíveis de serem realizados, promovendo a ativação de novas áreas motoras e regiões envolvidas no planejamento, modulação e controle do movimento. Embora presente durante toda a vida, o pro- cesso de aprendizagem motora acontece de forma intensa durante os primeiros meses de vida, com a aquisição de nova habilidade em curto intervalo de tempo, conforme rep- resentado na Figura 2.2. Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor20/187 Figura 2.2. Marcos do desenvolvimento motor Fonte: elaborada pelo autor. O desenvolvimento psicomotor age diretamente sobre o desenvolvimento biomecânico do in- divíduo: à medida que novas habilidades motoras são aprendidas e novas posturas são adota- das, o sistema de forças que age sobre o sistema musculoesquelético se modifica. Disso depende o correto alinhamento das estruturas ósseas: as curvaturas da coluna se desenvolvem, o ângulo Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor21/187 de encaixe do fêmur no quadril vai se cor- rigindo assim como os ângulos de posicio- namento de joelhos, tíbia e tornozelos, além da definição do arco plantar. O atraso no desenvolvimento psicomotor na infância ou a perda de habilidades mo- toras no adulto/idoso podem ser desde um sinal de falta de estímulo físico até mesmo a presença de alguma doença neurológica. Conhecer como a interação indivíduo-tare- fa-ambiente molda o desenvolvimento psi- comotor, sabendo identificar os aspectos cognitivos, afetivos, físicos e motores espe- rados em cada faixa etária, permite ao edu- cador/cuidador intervir ou buscar por aten- dimento profissional adequado. Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor22/187 Glossário Dicotomia: divisão de um elemento em duas partes; nesse caso, o indivíduo sendo separado em corpo e mente. Maturação: processo de crescimento, de evolução, de amadurecimento. Transdisciplinar: é a interação global de várias ciências, buscado a articulação entre as inúme- ras faces de compreensão do mundo, visando alcançar a unificação do conhecimento. Questão reflexão ? para 23/187 Após essa breve apresentação sobre a psicomotricida- de, reflita se essa possibilidade de intervenção pode tra- zer mais benefícios para a saúde do que os tratamentos já existentes. Com relação aos benefícios na educação, será que tem maior eficácia do que as tradicionais aulas expositivas, com monólogos do professor ou cópias da lousa? 24/187 Considerações Finais • A psicomotricidade leva em consideração o desenvolvimento motor, cogni- tivo, social e afetivo. • Essa ciência de origem francesa, do final do século XIX, chegou ao Brasil na década de 70 e ainda não apresenta a profissão de psicomotricista (que atua principalmente na Educação e na Saúde). • Existem diversos estudiosos nesse assunto das mais variadas áreas do co- nhecimento, com destaque para Ernest Dupré, Henry Wallon, Julian de Aju- riaguerra e Jean Le Bouch. • O desenvolvimento motor apresenta uma maturação biológica entrelaçada com a evolução motriz, cognitiva e social. Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor25/187 Referências AJURIAGUERRA, Julian. Manual de psiquiatria da criança. Paris: Masson, 1970. ASSOCIAÇÃO Brasileira de Psicomotricidade. Disponível em: <http://psicomotricidade.com.br/>. Acesso em: 15 abr. 2017. BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade, educação e reeducação. Blumenau: Acadêmica, 2000. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Brasília: Minis- tério da Saúde, 2002. (Cadernos de Atenção Básica. nº 11). Disponível em: <http://bvsms.saude. gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2017. LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento até 6 anos: a psicocinética na idade pré-escolar. Porto Alegre: Artmed, 1992. MORAES, Sonia; MALUF, Maria Fernanda de Matos. Psicomotricidade no contexto da neu- roaprendizagem: contribuições à ação psicopedagógica. Psicopedagogia, v. 32, nº 97, São Paulo, 2015. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0103-84862015000100009>. Acesso em: 18 abr. 2017 WALLON, Henri. Psicologia e educação da infância. Lisboa: Estampa, 1981. http://psicomotricidade.com.br/ http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdfhttp://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862015000100009 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862015000100009 Unidade 1 • Epistemologia da Psicomotricidade e Desenvolvimento Psicomotor26/187 SHUMWAY-COOK, Anne; WOOLLACOTT, Marjorie. Controle Motor: Teoria e Aplicações Clínicas. Barueri: Manole, 2010. 27/187 1. Assinale a alternativa correta. O termo psicomotricidade refere-se ao: a) Movimento corporal independente da atividade mental. b) Corpo em movimento dissociado do cognitivo. c) Movimento corporal com intencionalidade. d) Corpo em movimento guiando o espírito. e) Corpo em repouso com atividade mental. Questão 1 28/187 2. Assinale a alternativa que indica a ordem correta dos fatos seguindo o histórico da Psicomotricidade. a) Criação da ABP – primeiros cursos na França – termo usado na neurologia. b) Termo usado na neurologia – primeiros cursos no Brasil – criação da SBTP. c) Primeiros cursos na Europa – criação da ABP – termo usado na neurologia. d) Criação da SBTP – primeiros cursos no Brasil – termo usado na nefrologia. e) Termo usado na neurologia – criação da SBTP – primeiros cursos no Brasil. Questão 2 29/187 3. Assinale a alternativa que apresenta as principais áreas de atuação da Psicomotricidade. a) Escolas, creches e igrejas. b) Hospitais, farmácias e escolas. c) Clínicas de reabilitação, SUS e creches. d) Escolas especiais, clínicas e creches. e) Praças esportivas, empresas e atendimentos domiciliares. Questão 3 30/187 4. Assinale a alternativa correta. O desenvolvimento psicomotor leva em con- sideração os aspectos: a) Motores, afetivos, cognitivos e sociais. b) Sociais, motores, urbanos e afetivos. c) Cognitivos, psicológicos, mentais e motrizes. d) Afetivos, espirituais, afetivos e cognitivos. e) Psicológicos, motores, sociais e econômicos. Questão 4 31/187 5. Assinale a alternativa que relaciona corretamente os estágios psicomo- tores de Wallon com suas principais características. a) Sensório-motor e reflexos, adolescência e reflexão, projetivo e postura. b) Sensório-motor e posturas, projetivo e eu corporal, adolescência e praxias. c) Personalismo e símbolos, tônico-emocional e emoção, impulsivo e gestual. d) Categorial e praxias, adolescência e reflexos, infantil e postura. e) Impulsivo e rReflexos, sensório-motor e postura, personalismo e símbolos. Questão 5 32/187 Gabarito 1. Resposta: C. A resposta que se refere ao termo psicomo- tricidade trata do movimento do corpo com intenção. Excluindo-se, portanto, as res- postas que apresentam o corpo sem movi- mento ou relacionando-o com o espírito, ou ainda, não relacionado com a mente (cog- nitivo). 2. Resposta: B. A ordem cronológica correta apresenta a seguinte sequência: (Final do século XIX) termo utilizado pela primeira vez na neu- rologia, (1968) primeiros cursos no Brasil e (1980) Criação da SBTP. As demais estão em ordem errada. 3. Resposta: D. A única resposta possível abrange as áreas de atuação das escolas especiais, das clí- nicas e das creches. As outras alternativas apresentam locais que não têm atuação do psicomotricista ou não tem muita represen- tatividade, como igrejas, farmácias, no SUS e em praças esportivas. 4. Resposta: A. A alternativa correta relaciona os aspectos motores, afetivos, cognitivos e sociais do ser humano. Nas outras alternativas, pelo menos um item não diz respeito ao desen- volvimento psicomotor. 33/187 Gabarito 5. Resposta: E. A resposta correta é a que relaciona o es- tágio impulsivo com reflexos, o estágio sen- sório-motor com a postura e o estágio de personalismo associado aos símbolos. Nas demais respostas, ou a associação está ina- dequada ou o estágio não existe. 34/187 Unidade 2 Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo Objetivos 1. Apresentar a importância das experi- ências motoras. 2. Conhecer o processo do desenvolvi- mento cognitivo. 3. Exibir os conceitos básicos da fisiolo- gia do movimento. Unidade 2 • Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo35/187 1. Introdução Todas as experiências pelas quais as pesso- as passam na vida interferem direta e indi- retamente em todo o seu desenvolvimento, incluindo na esfera cognitiva. Para acompa- nhar esse desenvolvimento, pesquisadores apresentaram algumas etapas caracterís- ticas. Dentre esses pensadores, destaca-se Jean Piaget, que dividiu o desenvolvimento cognitivo em quatro estágios. As experiências motoras oportunizam vi- vências que trazem informações não só do próprio corpo, mas também do ambiente em que ele está inserido e das pessoas e objetos com que ele se relaciona. Posterior- mente esse conhecimento é organizado no intelecto e imbuído de significados. Convido você agora a entender a importân- cia das experiências motoras, como se dá o processo fisiológico desses movimentos e relacioná-los com o processo de desenvol- vimento cognitivo. 1.1.Experiências Motoras As experiências vividas por cada indivíduo têm papel importante no seu desenvolvi- mento de maneira geral. As experiências motoras trazem percepções corporais e sensoriais que permitem ao homem um co- nhecimento melhor de si e da forma como se relaciona com o mundo ao seu redor, conforme explana o filósofo francês MER- LEAU-PONTY (1999, p.195) ao afirmar que “[...] a experiência motora do nosso corpo não é um caso particular de conhecimento; ela nos fornece uma maneira de ter acesso ao mundo e ao objeto...”. Unidade 2 • Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo36/187 Para esse filósofo, o processo cognitivo só ocorre por meio da corporeidade, demonstrando assim a importância das experiências motoras, quer seja pelos movimentos corporais ou pela utiliza- ção dos órgãos sensoriais. Portanto, quanto maiores forem a diversificação e a qualidade dessas vivências, maiores serão as oportunidades de aprendizado e desenvolvimento. Para saber mais Além dos cinco sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato), as vivências sensoriais proprioceptivas e vestibulares são responsáveis pela captação de estímulos do ambiente. As sensações proprioceptivas são aquelas que trazem informações a respeito da tensão muscular (sem o uso da visão, é possível reco- nhecer a configuração espacial do seu corpo e a posição de suas partes em relação às outras); também são conhecidas como sensações cinestésicas. Já as sensações vestibulares referem-se às informações sobre equilíbrio (informações sobre o posicionamento do corpo), o qual é formado por um conjunto de órgãos no ouvido interno. Conforme os anos passam, as pessoas vivenciam diversas mudanças e transformações em si mesmas. Além desse crescimento, numa perspectiva morfofisiológica, há também um aprimo- ramento motor, cognitivo, emocional e social, permitindo seu desenvolvimento e seguindo numa Unidade 2 • Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo37/187 linha que parte do simples para o complexo. Durante esse processo, essas modificações definem a maturidade biológica do indiví- duo. O processo de maturação biológica se dá de forma distinta entre as pessoas. Ainda que se observe um grupo de mesma faixa etá- ria, diferentes estágios dessa evolução se- rão identificados. No decorrer do processo, o indivíduo torna-se apto a aprender coisas novas e executar novas tarefas. A maturação biológica diz respeito aos pro- gressos físico e cognitivo do indivíduo re- lacionando-os com a idade cronológica. Matsudo e Matsudo (1991, p.18) definem a maturidade biológica como um “[...] proces- so que irá levar a um completo estado de de- senvolvimento morfológico, fisiológico e psi- cológico, e que necessariamente, tem controle genético e ambiental”. Existem algumas formas de aferir o nível de maturidade em que a pessoa se encontra, por exemplo, analisando a maturação dos dentes, por meio da maturação somática (como o Pico de Velocidadede Crescimento em estatura – PVC) ou, ainda, pela invasiva avaliação da maturação sexual, quando são observadas as características sexuais se- cundárias do adolescente. A Idade Esquelé- tica também é um parâmetro bem confiá- vel, embora utilize equipamentos caros. 1.2. Desenvolvimento Cognitivo Algumas capacidades mentais são respon- sáveis pela forma como percebemos, com- Unidade 2 • Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo38/187 preendemos e interagimos com o mundo. Esse processo mental que envolve princi- palmente as ações de pensar, compreen- der, raciocinar, imaginar, prestar atenção, memorizar e aprender é chamado de cog- nição. Matlin (2004, p. 2) define que a cog- nição “[...] descreve a aquisição, o armazena- mento, a transformação e a aplicação do co- nhecimento”. Esse conjunto de capacidades cerebrais é importante para a aquisição de conheci- mento durante toda a vida. O desenvolvi- mento dessas competências mentais segue desde a infância até os últimos dias de vida da pessoa. As etapas desse desenvolvimen- to ficam mais perceptíveis durante a infân- cia, pois a jovem mente vazia começa a en- trar em contato com as diversas informa- Link Federação Brasileira de Terapias Cognitivas: reú- ne os profissionais e estudantes que se dedicam ao estudo e à prática das diferentes abordagens das terapias cognitivas no Brasil. Disponível em: <http:// http://www.fbtc.org.br>. Acesso em: 2 maio 2017. ções desse “novo mundo”, como se fosse o disco rígido de um computador novo quan- do se inicia a gravação de arquivos nele. Durante o desenvolvimento cognitivo exis- tem dois processos fundamentais para que ocorra a construção do conhecimento, que são a assimilação e a acomodação. Na assi- milação, a pessoa tenta organizar e adaptar as novas informações (motoras, sensoriais e http:// http://www.fbtc.org.br Unidade 2 • Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo39/187 conceituais) de novas experiências por meio da similaridade com as estruturas cogniti- vas já possuídas anteriormente. Ao receber novos estímulos externos, diferenciando as novas informações daquelas já existentes previamente, é necessária a criação de no- vas estruturas cognitivas, surgindo então a acomodação. Seguindo essa premissa, o psicólogo suíço Jean Piaget, ao observar o desenvolvimento de algumas crianças, começando por seus próprios filhos, sugere a possibilidade de dividir o desenvolvimento em quatro perío- dos, os quais chamou de estágios: sensório- -motor, pré-operacional, operacional-con- creto e operacional-formal; cada um deles diferenciado por características específicas e associado a determinadas faixas etárias. Essa faixa etária é apenas uma referência e não uma diretriz rija; todas as pessoas pas- sam por essas quatro fases, mas não neces- sariamente na mesma idade cronológica, principalmente pelas diferenças biológicas e pela qualidade dos estímulos recebidos. • Estágio sensório-motor (de 0 a 2 anos) – É a fase da percepção e do mo- Link Artigo científico Level Up! Desenvolvimento cognitivo, aprendizagem enativa e viode- games. Disponível em: <http://www.scie- lo.br/pdf/psoc/v29/1807-0310-psoc- -29-e132334.pdf>. Acesso em: 2 maio 2017. http://www.scielo.br/pdf/psoc/v29/1807-0310-psoc-29-e132334.pdf http://www.scielo.br/pdf/psoc/v29/1807-0310-psoc-29-e132334.pdf http://www.scielo.br/pdf/psoc/v29/1807-0310-psoc-29-e132334.pdf Unidade 2 • Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo40/187 vimento, é o período que os recém- -nascidos substituem seus reflexos inatos (como o de sucção, por exem- plo) pelos movimentos coordenados rudimentares; nesse período a criança centraliza-se no próprio corpo, não é capaz de realizar imagens mentais e sua inteligência prática (por meio de seus atos) permitirá o surgimento do pensamento. • Estágio pré-operacional (de 2 a 7 anos) – Nessa fase há predominância do pensamento egocêntrico (só con- seguem ver as coisas pelo seu próprio ponto de vista), do raciocínio trans- dutivo (quando usam a mesma ex- plicação em situações semelhantes), da irreversibilidade (não entendem o processo inverso do que veem) e do animismo (dá vida a seres inanima- dos); ainda nesse período acontece o desenvolvimento da linguagem, além da utilização de imagens mentais e dos jogos simbólicos. • Estágio operacional-concreto (de 7 a 11 anos) – Nesse terceiro momento a criança é capaz de entender o pro- cesso inverso do que vê (reversibilida- de), de fazer análises lógicas, de reali- zar classificações e seriações simples e de concentrar-se mais. Momento também em que há a diminuição do egocentrismo, levando a uma maior colaboração, empatia e mais respeito com os outros, além da participação em grupos. Unidade 2 • Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo41/187 • Estágio operacional-formal (a partir de 11 anos) – O jovem que se encon- tra nesse período está apto a realizar as operações lógico-matemáticas, sem utilização de artigos concretos e criando conceitos e ideias. Apresenta, portanto, o pensamento formal abs- trato, que lhe permite realizar todos os processos de aporte mental. 2. Fisiologia do Movimento O movimento pode ser dividido em três tipos diferentes de acordo com o nível de controle motor: movimento automático, movimento involuntário e movimento voluntário. O movimento voluntário é aquele cons- ciente e planejado, realizado com intenção e de forma controlada. Esse movimento se inicia na fase de planejamento (mental), passando pela fase tática até chegar à fase de execução (movimento propriamente dito). Do cérebro (especificamente na região de- nominada córtex motor), parte o comando em forma de impulso nervoso, que passa pela medula espinhal até chegar ao múscu- lo. Esse sinal, na configuração de um estí- Para saber mais Jean William Fritz Piaget era psicólogo e biólogo. É considerado um dos maiores pensadores do sécu- lo XX, sendo responsável por importantes estudos nas áreas de Educação, Psicologia, Biologia, Ciên- cia da Computação, Epistemologia, Filosofia e So- ciologia, além de também ter escrito um romance. Unidade 2 • Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo42/187 mulo elétrico, é transmitido, através de um motoneurônio, às fibras musculares, reali- zando então a contração muscular. Importante lembrar que essa via córtex-es- pinhal é um caminho de mão dupla, pois ao mesmo tempo que a informação envia- da para a efetivação da contração vai até o músculo, o músculo também “devolve” ou- tro tipo de informação referente à realiza- ção do movimento. Essa informação vinda do músculo juntamente com outras infor- mações de propriocepção, informações ves- tibulares e estímulos ambientais baseiam o controle desse movimento, refinando-o. Por meio dessa comparação do movimen- to idealizado com o movimento realizado, é possível fazer os alinhamentos e ajustes ne- cessários com o objetivo de tornar o gesto mais preciso. Após diversas execuções realizadas, alguns movimentos não utilizam mais a fase de planejamento na área pré-motora, são os movimentos automáticos. Tornando-se automatizado, o movimento automático forma um programa motor, que nada mais é que uma via neuromuscular que se repete quase automaticamente quando recebe o mesmo estímulo. Ao estabelecer esse pro- grama motor, o tempo entre a idealização e a realização do movimento torna-se mais curto e essa comunicação torna-se mais intensa. Já o movimento involuntário ocorre no nível medular, sem contato com o córtex. São os movimentos reflexos, que através de órgãos sensoriais intramusculares ou subcutâneos, “geram” informações que vão para a medu- Unidade 2 • Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo43/187 la e voltam desta diretamente para o músculo, como nos casos de controle postural e retirada rápida de segmentos agredidos. Para saber mais Reflexo versus Tempo de Reação. Frequentemente escuta-se nas mídias esportivas dizerem que o goleiro teve reflexoao defender uma bola. Na verdade, há um grande equívoco nisso, pois o que o goleiro usou foi o tempo de reação. O reflexo é uma reação involuntária, não pode ser treinado, pois não é processa- do pelo cérebro, é um movimento em nível medular e apresenta sempre a mesma resposta, diferente de tempo de reação, que é o tempo entre o estímulo e a resposta motora, que pode ser treinado. Os goleiros treinam para diminuir esse tempo de resposta. Se fosse reflexo, o goleiro saltaria sempre do mesmo jeito e para o mesmo lado. O movimento pretendido é, portanto, planejado e coordenado no nível cortical, depois é trans- mitido via medula espinhal e na sequência é executado nos músculos desejados. O sistema neu- romotor transforma sinais elétricos em físicos e químicos para gerar o movimento, enquanto o sistema nervoso sensorial capta as informações externas e as utiliza para regular o movimento. Unidade 2 • Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo44/187 Glossário Corporeidade: modo como o cérebro utiliza o corpo para relacionar-se com o mundo. Egocentrismo: comportamento centrado em si mesmo ou para as coisas que lhe diz respeito; indiferença ao outro. Morfofisiológica: funcionamento macro e micro do nosso corpo; aproximação da anatomia e da fisiologia. Motoneurônio: é um neurônio motor; neurônio ligado ao músculo capaz de passar estímulos elétricos às fibras musculares para contraí-las. Questão reflexão ? para 45/187 Conhecendo um pouco mais sobre os quatro estágios do desenvolvimento cognitivo na visão de Piaget, ava- lie a utilização desse conhecimento balizador nas inter- venções educacionais ou na área da saúde questionan- do: é importante na área pedagógica? Em um acompa- nhamento psicológico, pode fazer a diferença em algum momento? É relevante em atendimentos preventivos relacionados a doenças? 46/187 Considerações Finais • As experiências motoras são essenciais no desenvolvimento do indi- víduo, conectando-o com o ambiente, os objetos e outras pessoas. • O desenvolvimento cognitivo refere-se ao processo de evolução das atividades cerebrais que permitem raciocinar e compreender. • Jean Piaget segmenta o desenvolvimento cognitivo em quatro eta- pas, marcando as fases nesse processo. • Existem movimentos que se iniciam a partir de um estímulo cerebral conscientemente (como os voluntários e os automáticos) e movi- mentos involuntários que são acionados em nível medular de forma inconsciente. Unidade 2 • Experiências Motoras e Desenvolvimento Cognitivo47/187 Referências BAUM, Carlos; MARASCHIN, Cleci. Level Up! Desenvolvimento cognitivo, aprendizagem enati- va e videogames. Psicologia e Sociedade, 29: el32334, Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/psoc/v29/1807-0310-psoc- -29-e132334.pdf>. Acesso em: 2 maio 2017. FEDERAÇÃO Brasileira de Terapias Cognitivas. Disponível em: <http://www.fbtc.org.br>. Acesso em: 2 maio 2017. LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento até 6 anos: a psicocinética na idade pré-escolar. Porto Alegre: Artmed, 1992. MATLIN, Margaret W. Psicologia cognitiva. São Paulo: LTC, 2004. MATSUDO, S. M. M.; MATSUDO, V. K. R. Validade da auto-avaliação na determinação da matura- ção sexual. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 5: 18-35, 1991. PONTY, Maurice Merleau. Fenomenologia da percepção. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1999. http://www.scielo.br/pdf/psoc/v29/1807-0310-psoc-29-e132334.pdf http://www.scielo.br/pdf/psoc/v29/1807-0310-psoc-29-e132334.pdf http://www.fbtc.org.br 48/187 1. Assinale a alternativa correta. As experiências motoras referem-se às: a) Participações em atividades sociais. b) Experimentações de atividades esportivas com automotivos. c) Vivências corporais e sensoriais. d) Conexões entre os saberes afetivos e práticos. e) Abordagens que diferem o movimento das habilidades sensoriais. Questão 1 49/187 2. Assinale a alternativa correta. É possível aferir a maturação biológica por meio de: Questão 2 a) Maturação somática, maturação sexual, maturação corporal e idade cutânea. b) Maturação somática, maturação sexual, idade esquelética e maturação dentária. c) Maturação sexual, idade esquelética, maturação articular e maturação esportiva. d) Idade esquelética, maturação renal, maturação genital e maturação dentária. e) Maturação somática, maturação dentária, idade fisiológica e maturação medular. 50/187 3. Assinale a alternativa que indica em qual período acontece todo o desen- volvimento cognitivo. Questão 3 a) Da fase intrauterina até os primeiros anos de vida. b) Apenas durante toda a fase escolar. c) A partir da terceira idade. d) Durante a vida toda. e) A partir da fase da adolescência até a vida adulta. 51/187 Questão 4 5. Assinale a alternativa correta. Os estágios do desenvolvimento cognitivo, se- gundo Piaget, são organizados em ordem de aparecimento da seguinte forma: a) Sensório-motor, pré-operacional, operacional-concreto e operacional-formal. b) Pré-operacional, operacional-concreto, operacional-formal e sensório-motor. c) Sensório-motor, pré-operacional, operacional-formal e operacional-concreto. d) Operacional-concreto, operacional-formal, sensório-motor e pré-operacional. e) Pré-operacional, operacional-formal, sensório-motor e operacional-concreto. 52/187 5. De acordo com o nível de controle motor, existem três tipos de movimento. Assinale a alternativa que os identifica. Questão 5 a) Aberto, fechado e autônomo. b) Automatizado, global e preciso. c) Involuntário, reflexo e inconsciente. d) Embasado, voluntário e autônomo. e) Voluntário, involuntário e automático. 53/187 Gabarito 1. Resposta: C. As vivências corporais e as sensoriais dizem respeito às experiências motoras pelas quais passam as pessoas. As demais alternativas não caracterizam, totalmente ou em partes, as experiências motoras. 2. Resposta: B. A resposta refere-se às maturações somáti- ca, sexual e dentária, além da idade esque- lética. As demais apresentam pelo menos uma informação incoerente. 3. Resposta: D. A única resposta possível é durante toda a vida. As outras apresentam curtos períodos que não se referem a toda a fase do desen- volvimento cognitivo. 4. Resposta: A. A ordem correta é: sensório-motor (0 a 2 anos), pré-operacional (2 a 7 anos), opera- cional-concreto (7 a 11 anos) e operacio- nal-formal (a partir de 11 anos). Todas as outras alternativas estão em ordem errada. 5. Resposta: E. Os movimentos, segundo o nível de contro- le motor, podem ser voluntário, involuntário e automático, tornando falsas todas as ou- tras alternativas. 54/187 Unidade 3 Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras Objetivos 1. Identificar as principais habilidades psicomotoras. 2. Apresentar as diferenças entre esque- ma corporal e imagem corporal; 3. Caracterizar as funções de cada habi- lidade psicomotora. Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras55/187 1. Introdução Ao atuar em qualquer área que envolve o desenvolvimento da pessoa, quer seja na educação, na saúde ou até mesmo no cam- po empresarial, é de extrema importância o conhecimento “do que” está sendo avaliado e posteriormente trabalhado. Nesse caso, os parâmetros são norteados pelas capaci- dades e pelas habilidades. No escopo da psicomotricidade, ao enten- dermo-la como uma área multidisciplinar (principalmente motora, cognitiva e afeti- va), percebemos que as habilidades psico- motoras relacionam-se com habilidades e capacidades de outras áreas, portanto, podendo influenciar e ser influenciada por elas. Nesse momento, proponho a você que acompanhe a leitura e reflita sobre como essas habilidades psicomotoras podem in- terferir na vida de uma pessoa. 2. Habilidades Psicomotoras As habilidades psicomotoras são aquelas que envolvem funções cognitivas e o corpo humano em movimento; são aquelas capaz-es de abordar não somente o “que fazer”, mas também o “como fazer”. As principais habilidades utilizadas para o desenvolvi- mento psicomotor são: tonicidade, laterali- dade, equilíbrio, coordenação motora glob- al, coordenação motora fina e orientação espaço-temporal. Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras56/187 2.1. Tonicidade O tônus muscular é a tensão natural de um músculo em repouso. A tonicidade, ou grau de tensão muscular, é a resistência que o músculo oferece ao ser movimenta- do de forma passiva. Essa tensão natural do músculo em repouso é oferecida pelas Link Ilusão de ótica – A bailarina que gira para os dois lados. Observe o vídeo da bailarina, ela roda para um dos lados. Fixando os olhos para a som- bra da imagem ou ao lado dela, você percebe que ela gira para o outro lado. Disponível em: <ht- tps://www.youtube.com/watch?v=wOclJx- GkPh4>. Acesso em: 20 maio 2017. propriedades visco-elásticas intrínsecas do músculo. Para que ocorra a contração (encurtamento) ou o alongamento (relaxa- mento) muscular, é necessário que ocorra a adaptação visco-elástica ao movimento que está sendo realizado. Na presença de doença neurológica, o tô- nus muscular poderá estar alterado e, ao realizarmos um movimento passivo, pode- remos observar que a resistência oferecida pelo músculo à movimentação está muito abaixo do normal nos casos de hipotonia ou muito acima para os casos de hiperto- nia. O tônus muscular é diferente para cada gru- po muscular e suas especificidades: múscu- los de controle postural devem ser capazes de manter o tônus ativo por longos períodos https://www.youtube.com/watch?v=wOclJxGkPh4 https://www.youtube.com/watch?v=wOclJxGkPh4 https://www.youtube.com/watch?v=wOclJxGkPh4 Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras57/187 (manutenção da postura nas posições sen- tada, em pé, durante o andar), enquanto os demais grupos musculares alternam entre contração e alongamento de acordo com a tarefa que está sendo executada (diferentes atividades/movimentos de membros supe- riores e inferiores). Dessa maneira, notamos a importância do papel do tônus muscular normal no desenvolvimento psicomotor de cada pessoa: é ele quem dará o suporte principal para que a atividade motora seja realizada e, assim, as habilidades sejam ad- quiridas. Devemos ainda pontuar o fato de a tonici- dade muscular estar, muitas vezes, associa- da a um comportamento psicológico. Essa correlação é apresentada tanto na forma de expressar os sentimentos como na maneira de senti-los, como nas pesadas expressões, nas fortes batidas ou na imposição firme da voz, usadas para demonstrar braveza ou seriedade, comparando com a voz suave, as leves carícias e os movimentos faciais amenos ao querer demonstrar a sensação de paz, calmaria e tranquilidade. 2.2. Lateralidade O conceito de lateralidade refere-se à es- pecificidade de ações dos hemisférios ce- rebrais; é o “local” onde cada função está armazenada no sistema nervoso. Embora algumas funções estejam localizadas em apenas um dos hemisférios, outras pos- suem representações em ambos. Raramen- te a especialização significa exclusividade de ação. Dessa forma, o envolvimento cog- Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras58/187 nitivo e psicoemocional de um indivíduo no realizar de suas tarefas poderá exigir mais da atuação de um dos hemisférios, porém é a ação conjunta deles que fornecerá a exe- cução perfeita. Por exemplo, a função da fala possui 2 áreas de ação: enquanto a área de Broca controla a função motora, permi- tindo os movimentos e a emissão das pala- vras, a área de Wernicke é responsável pela compreensão do que é dito e pelas emoções associadas à fala (tonalidade séria, bra- va, de alegria ou entusiasmo). Ainda como exemplo, ao observar uma pintura em um quadro, seu hemisfério direito lançará mão de estratégias de percepção global para a interpretação da imagem como um todo, enquanto seu hemisfério esquerdo realiza- rá uma análise mais específica filtrando os detalhes contidos na figura. Em conjunto da especialização dos hemis- férios cerebrais em relação à funcionalida- de, temos características pessoais, como preferência por usar mais um lado do corpo em detrimento do outro nas atividades do dia a dia e sua relação com a tarefa e o am- biente, pontos já abordados anteriormente. Quanto mais estímulos são oferecidos no decorrer do desenvolvimento psicomotor, ou mesmo ao longo da vida adulta por meio de atividades físicas e práticas que promo- vam maior consciência corporal, para um, outro ou ambos os lados do corpo, mais essa lateralidade ou bilateralidade se expressa. Dessa maneira, podemos observar uma pessoa destra ao escrever, porém, canhota ao chutar uma bola, ou ainda, embora mais raro de ser observado, pessoas que conse- Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras59/187 Para saber mais Além dos membros superiores e inferiores, tam- bém possuímos um olho dominante. Para saber qual é o seu, faça o seguinte: estique seus braços à sua frente e encostando a ponta de seus po- legares (um com o outro) e seus indicadores (da mesma forma), formando assim a figura de um triângulo, dentro dessa figura “enquadre” algum ponto distante (pode ser um objeto qualquer, que permita sua visualização completa). Feche um olho de cada vez, aquele olho que melhor “cen- tralizar” essa imagem dentro de seus dedos é o seu olho dominante. guem igual desempenho ao realizar ativi- dades físicas com os dois lados do corpo. 2.3. Equilíbrio A capacidade de manter a sustentação do corpo sobre uma base reduzida por meio da ativação coordenada de músculos postu- rais recebe a denominação de “equilíbrio”. O equilíbrio possui o componente estático, que permite a manutenção da posição pa- rada, e o dinâmico, que permite a execução de movimentos, sendo que ambos utilizam as informações visuais e proprioceptivas para executarem suas ações. A atividade conjunta do equilíbrio e da co- ordenação motora permite a aquisição da posição bípede e a execução de atividades nessa postura e a locomoção. A marcha acontece como consequência de equilíbrios e desequilíbrios coordenados. O corpo está Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras60/187 em equilíbrio quando é capaz de controlar as forças externas e internas, buscando a manutenção de posturas e posições. Essa busca pelo equilíbrio motor também rep- resenta a mesma busca pelo equilíbrio do pensamento. Essa habilidade é utilizada juntamente com a tonicidade e a lateralidade no equilíbrio estático e mais a coordenação motora e a orientação espaço-temporal no equilíbrio dinâmico. O corpo também recebe infor- mações vestibulares importantes recebidas pelo labirinto, no ouvido interno, sobre o posicionamento do corpo. A contribuição do equilíbrio no desenvolvi- mento cognitivo e no desenvolvimento das outras habilidades psicomotoras é funda- mental, sobretudo por alterar a perspecti- va quando a criança senta, depois ao ficar de pé e principalmente ao andar. O desen- volvimento da afetividade também se es- Para saber mais O que causa mal-estar e enjoo em viagens de na- vios é a confusão mental gerada por diferentes informações. De um lado, os olhos e as informa- ções proprioceptivas dizendo que tudo está para- do; do outro lado, o labirinto — que é muito mais sensível — sentindo as ondulações do mar. Esse conflito das informações é que gera incômodo para alguns navegantes. Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras61/187 cora nessa fase com a conquista da inde- pendência. 2.4. Coordenação Motora (Glo- bal e Fina) Essa habilidade corresponde à coordenação dos movimentos corporais. Pode ser divi- dida em global (grossa) e fina. Na coorde- nação motora global, são utilizados grandes músculos para fazer grandes movimentose, apesar de ser importante a harmonia no movimento, não é necessária muita pre- cisão nos movimentos; como exemplo po- demos citar o andar ou o pular. Diferente- mente da coordenação motora fina, que utiliza pequenos músculos para a realização de atividades específicas, usando a precisão para a realização do movimento de forma eficiente. Alguns exemplos de coordenação motora fina: desenhar e pintar. Fonseca (2008, p. 457) caracteriza a coor- denação motora como uma “[...] organização preparatória da periferia motora, de modo a garantir a otimização da sua condutibilidade seletiva”, e diz, ainda, sobre esse processo de coordenação, que ele “[...] opera antes da própria resposta motora, organizando as vias de condução que ligam o centro à periferia, a intenção à ação propriamente dita”. Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras62/187 2.5. Orientação Espaço-tempo- ral Como é possível perceber pelo nome, a ori- entação espaço-temporal é a habilidade que permite à pessoa se orientar adequa- damente em relação ao espaço e ao tempo. À orientação espacial é atribuída a noção Para saber mais Desafio de coordenação motora: sentado, fique fazendo círculos com a perna direita na mesma direção do relógio; sem parar, tente desenhar o número 6 (seis) no ar com a mão direita. Dificul- dades? Não conseguiu? Isso acontece porque é a mesma região do cérebro que manda informação para a realização de ambos os movimentos. de direita/esquerda, frente/atrás, acima/ abaixo e todas as informações que orien- tam a pessoa em relação ao ambiente em que ela se encontra; também refere-se à condição de um objeto em relação a outro em um local. Já a orientação temporal tem como base o entendimento do antes/agora/depois, manhã/tarde/noite, além de intervalos de tempo, como segundos/minutos/horas/ dias/semanas. Pode-se dizer que a pessoa que tem essa habilidade aprimorada con- segue perceber seu corpo em relação ao es- paço e ao tempo. A orientação espaço-temporal é também a habilidade responsável pelo ritmo, que se caracteriza por mudanças de contração e relaxamento, relacionando-se com o tem- Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras63/187 po. Encontra-se dentro dessa habilidade, principalmente, pela noção de duração e sucessão. 3. Esquema Corporal A habilidade psicomotora chamada de es- quema corporal compreende o conheci- mento do corpo (em partes e inteiro) e suas possibilidades de movimento e as suas funções, além de conhecer os gestos mo- tores das partes do seu corpo e suas diver- sas combinações; também abrange a finali- dade de seus movimentos. Um dos pesquisadores que estudaram e se posicionaram com relação a essa habili- dade foi Jean Piaget, que destaca que a con- strução desse esquema corporal passa por três fases distintas: • Corpo vivido (até 3 anos): período em que a criança começa a se conhecer e a conhecer o mundo (mesmo porque a criança ainda se percebe como parte do meio, como uma coisa só) por meio da sua interação, de suas vivências e das atividades instintivas. • Corpo percebido (3 a 7 anos): a cri- ança nessa faixa etária começa a per- ceber o seu corpo e diferenciá-lo do ambiente. Seu corpo começa a ser um ponto de referência para que ela se organize no espaço e no tempo. • Corpo representado (7 a 12 anos): o jovem já é capaz de projetar seu ponto Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras64/187 de referência fora do seu corpo, no ambiente. Mantém um domínio corporal mais apurado. A imagem corporal passa a ter movimento (próximo aos 10 anos) e a ser antecipatória. 4. Imagem Corporal Cada pessoa tem um corpo. Podemos nunca ter dado importância a essa relação simples, mas é assim que é: uma pessoa, um corpo; uma mente, um corpo — esse é o princípio básico.” (DAMÁSIO, 1999) Entende-se por imagem corporal o conceito que cada pessoa tem do seu corpo, mas represen- tado em formato de imagem, uma imagem mental. Essa imagem é criada mentalmente pela pessoa, mas sofre interferência das informações externas, vindas de toda a sociedade em que Link Um pouco mais sobre a vida de Jean Piaget e sua influência na educação mundial. Disponível em: <http:// www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4676.pdf>. Acesso em: 20 maio 2017. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4676.pdf http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4676.pdf Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras65/187 se está inserido e da maneira como a pessoa se vê, vê o mundo ao se redor e, principalmente, de como a pessoa se vê nesse mundo ao seu redor. A figura 4.1, a seguir, representa as estruturas interagentes na construção da imagem corporal. Figura 4.1. Agentes influenciadores do processo de construção da imagem corporal Fonte: elaborada pelo autor. Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras66/187 O componente social advém dos intercâm- bios pessoais e dos valores culturais e so- ciais agregados. Aqui pode ser notada a importância que um determinado grupo de pessoas dá às funções que ocupam, às ves- timentas, à forma de comunicação utiliza- da, aos gestos e aos olhares típicos. A manutenção das funções vitais do orga- nismo é assegurada pelo seu componente fisiológico, que recebe influência de carac- terísticas genéticas. O componente libidinal representa a ener- gia despendida com um órgão ou função; é composto pelo conjunto de emoções vivi- das ao longo da vida e está ligado ao quanto cada um está satisfeito em relação a si pró- prio. Quando a pessoa tem uma visão irreal de como é seu próprio corpo, acaba criando uma distorção da sua imagem corporal, o que pode levar a quadros de distúrbios al- imentares (como a bulimia e a anorexia) e distúrbios comportamentais (como baixa autoestima e depressão). Esse ponto de referência criado permite que a pessoa “analise” movimentos antes de serem realizados e viabiliza o pensamento e a projeção em sua mente da execução do movimento. Link Artigo Motivos e prevalência de insatisfação com a imagem corporal em adolescentes. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n4/ v17n4a28.pdf>. Acesso em: 20 maio 2017. http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n4/v17n4a28.pdf http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n4/v17n4a28.pdf Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras67/187 Glossário Labirinto: é uma região do ouvido interno responsável pela audição, noção de equilíbrio e per- cepção de posição do corpo. Posição bípede: é a posição que permite andar sobre os dois pés, de forma ereta, característica dos seres humanos. Propriocepção: é a capacidade que, sem o uso da visão, permite saber onde seu corpo está e onde estão as partes dele em relação às outras, além da sua posição e da tonicidade do seu corpo. Questão reflexão ? para 68/187 Conhecendo as principais habilidades psicomotoras e suas principais características, você é capaz de associar algum problema que acontece consigo ou com algu- ma pessoa próxima a você que possa estar diretamen- te ligado a alguma habilidade psicomotora? Consegue imaginar se aconteceu alguma falha durante o desen- volvimento? Será que existe algum modo de resolver essa defasagem? 69/187 Considerações Finais • As habilidades psicomotoras possuem grande relevância para o desenvolvi- mento humano (motor, cognitivo, afetivo e social). • Essas habilidades relacionam-se entre si. • A principal referência em esquema corporal é o suíço Jean Piaget. • A imagem corporal é influenciada também por agentes externos, podendo levar a diversos problemas, por exemplo, comportamentais. Unidade 3 • Esquema e Imagem Corporal e outras Habilidades Psicomotoras70/187 Referências FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008. LENT, Roberto. Cem Bilhões de Neurônios: Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo: Atheneu,2010. LUNDY-EKMAN, Laurie. Neurociência: fundamentos para a reabilitação. Rio de Janeiro: Guana- bara Koogan, 2000. MUNARI, Alberto. Jean Piaget. Tradução e organização de Daniele Saheb. Recife: Fundação Jo- aquim Nabuco: Massangana, 2010. (Educadores). Disponível em: <http://www.dominiopublico. gov.br/download/texto/me4676.pdf>. Acesso em: 20 maio 2017. PETROSKI, Edio Luiz; PELEGRINI, Andreia; GLANER, Maria Fátima. Motivos e prevalência de in- satisfação com a imagem corporal em adolescentes. Ciência e Saúde Coletiva, 17 (4), p. 1071- 1077, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n4/v17n4a28.pdf>. Acesso em: 20 maio 2017. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4676.pdf http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4676.pdf http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n4/v17n4a28.pdf 71/187 1. Assinale a alternativa que apresenta habilidades psicomotoras. a) Tonicidade, lateralidade, equilíbrio e coordenação motora. b) Equilíbrio, orientação espaço-temporal, velocidade e agilidade. c) Coordenação motora, resistência, tonicidade e orientação espacial. d) Equilíbrio, lateralidade, direcionamento e força. e) Orientação temporal, equilíbrio, flexibilidade e noção de direita e esquerda. Questão 1 72/187 2. Com relação à tonicidade, podemos afirmar que: a) Apresenta hipotonia quando tem tensão maior do que o normal. b) Auxilia na manutenção do equilíbrio e da postura. c) Controla a função de encurtamento do músculo, relaxando-o. d) Não influencia na coordenação motora. e) Controla a função de alongamento do músculo, contraindo-o. Questão 2 73/187 3. Com relação à coordenação motora, é correto afirmar que: a) A coordenação motora é dividida em três: grossa, fina e global. b) A coordenação motora fina refere-se aos músculos involuntários. c) Coordena os movimentos com intenção. d) Passar uma linha na agulha pode ser considerada uma habilidade da coordenação motora global. e) É uma habilidade cognitiva muito importante. Questão 3 74/187 4. Assinale a alternativa correta. Piaget apresentou os estágios do esquema corporal na seguinte ordem: a) Corpo percebido, corpo vivido e corpo representado. b) Corpo representado, corpo percebido e corpo vivido. c) Corpo vivido, corpo representado e corpo percebido. d) Corpo vivido, corpo percebido e corpo representado. e) Corpo percebido, corpo representado e corpo vivido. Questão 4 75/187 5. Assinale a alternativa que apresenta o que influencia na construção da imagem corporal. a) Somente informações internas. b) Somente informações externas. c) Nem informação interna e nem externa. d) Informações internas e externas sem relação entre elas. e) Informações internas relacionadas com as informações externas. Questão 5 76/187 Gabarito 1. Resposta: A. A resposta que apresenta todos os itens sendo habilidades psicomotoras é a primei- ra alternativa, com tonicidade, lateralidade, equilíbrio e coordenação motora. As outras, apesar de apresentarem algumas das ha- bilidades corretas, apresentam no mínimo uma que não se refere à psicomotricidade, como velocidade, agilidade, resistência, di- recionamento, força, flexibilidade e noção de direita e esquerda. 2. Resposta: B. A tonicidade auxilia na manutenção do equilíbrio e da postura. Já as outras estão erradas, pois quando há hipotonia a tensão é MENOR do que o normal; quando há en- curtamento, acontece a contração do mús- culo e no alongamento o músculo relaxa; além disso, a tonicidade influencia, sim, di- retamente a coordenação motora. 3. Resposta: C. A única resposta possível é a “C”, que fala sobre a intencionalidade do movimento, ex- cluindo já os músculos involuntários; a co- ordenação motora global e a grossa falam sobre a mesma coisa; passar uma linha na agulha é uma habilidade fina e a coorde- nação é uma habilidade psicomotora, não cognitiva. 77/187 Gabarito 4. Resposta: D. A ordem correta é corpo vivido (até 3 anos), corpo percebido (de 3 a 7 anos) e corpo re- presentado (de 7 a 12 anos). 5. Resposta: E. A resposta correta apresenta as informa- ções internas relacionando-as com as ex- ternas. Todas as outras alternativas afir- mam o oposto, tornando-as falsas. 78/187 Unidade 4 Aprendizagem, suas Concepções e Desenvolvimento Objetivos 1. Caracterizar a aprendizagem. 2. Identificar as concepções referentes à aprendizagem; 3. Entender a relação entre aprendiza- gem e desenvolvimento. Unidade 4 • Aprendizagem, suas Concepções e Desenvolvimento79/187 1. Introdução O conhecimento passa por diversas modi- ficações, com momentos em que existem algumas associações e, após outras infor- mações, ocorrem as acomodações. O pro- cesso de aquisição ou transformação desse conhecimento é a aprendizagem. É importante para as pessoas que querem aprender e, principalmente, vão mediar esse aprendizado, conhecer as principais características da aprendizagem, pois exis- tem diversos fatores que podem auxiliar ou atrapalhar todo esse processo. Existem diversas abordagens para a realiza- ção da aprendizagem, como as tradicionais behavorista, cognitivista e humanista. Além destas, muitas outras perspectivas já foram estudadas e aplicadas e, cada vez mais, no- vos olhares vão surgindo e assim enfoques são apresentados. A aprendizagem está relacionada direta- mente com o desenvolvimento e, por serem processos complexos, diversas influências externas interferem neles; dentre as princi- pais, têm-se as influências culturais e sociais. Link GIUSTA, Agnela da Silva. Concepções de aprendi- zagem e práticas pedagógicas. Educação em Re- vista, [s.l.], v. 29, n. 1, p.20-36, mar. 2013. FapU- NIFESP (SciELO). <http://dx.doi.org/10.1590/ s0102-46982013000100003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-46982013000100003> Acesso em 21/08/2017. http://dx.doi.org/10.1590/s0102-46982013000100003 http://dx.doi.org/10.1590/s0102-46982013000100003 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982013000100003 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982013000100003 Unidade 4 • Aprendizagem, suas Concepções e Desenvolvimento80/187 2. A Aprendizagem e suas Prin- cipais Características Aprendizagem é uma função mental que ocorre quando há alguma modificação per- manente no conhecimento, nas habilidades e nas competências ou nos valores e nas atitudes, por meio de observações, estudos ou experiências. Link Instituto Paulista de Déficit de Atenção. Disponí- vel em: <https://dda-deficitdeatencao.com. br>. Acesso em: 24 de agosto de 2017. Para saber mais Diversos especialistas indicam diferentes ações para ajudar na memorização, como por exemplo: realizar coisas diferentes durante o dia, que o fa- çam sair da rotina (como trocar o relógio de braço, inverter o lado do mouse ou mudar o trajeto para casa); realizar associações verbais e agrupamen- tos de itens por categorização (de preferência que sejam absurdos, exagerados); tentar reproduzir através de desenhos imagens ricas em detalhes sem vê-las (ou vendo-as apenas anteriormente); dizer 10 coisas que te venham à cabeça e depois tentar escrevê-las (desafio pode ir aumentando de acordo com o bom desempenho); ou ainda, so- letrar mentalmente algumas palavras de trás pra frente. https://dda-deficitdeatencao.com.br https://dda-deficitdeatencao.com.br Unidade 4 • Aprendizagem, suas Concepções e Desenvolvimento81/187 Para que aconteça o processo da aprendiza- gem, são necessários cinco importantes fa- tores: a sensação (estruturas sensoriais que conectam o homem ao mundo); a percepção (conscientizar-se da sensação em progres- so e da formação das imagens); a memo- rização (armazenamento de informações posteriormente utilizadas); a atenção (foco no objetivo de aprendizagem, ignorando outros estímulos dispersivos) e a motivação (interesse e diferenciação dos aspectos que estimulam e determinam a busca pela aprendizagem). A aprendizagem pode ser vista sob difer-entes perspectivas, pelas suas principais concepções, como apresentaremos a seguir. Para saber mais Sensação X Percepção. Através da sensação, nós sentimos o mundo (órgãos do sentido) e usamos a percepção para interpretá-lo, percebendo-o de acordo com significados associados que variam de pessoa pra pessoa, sob fortes influências culturais. Para saber mais: Existem algumas anormalidades relacionadas com a atenção, dentre as principais encontram-se a Hipoprosexia (diminuição global da atenção), a Aprosexia (extinção total da aten- ção), a Hiperprosexia (superatividade da atenção), a Distração (desatenção), a Distraibilidade (inca- pacidade para se fixar ou se manter em qualquer coisa que implique esforço produtivo) e a Incapa- cidade de concentração. Unidade 4 • Aprendizagem, suas Concepções e Desenvolvimento82/187 O professor busca alterar comportamen- tos por meio de reforços (padrão de conse- quências). Ele atua com metas predetermi- 2.1. Behavorista A concepção Behaviorista, também conhe- cida como comportamentalista, baseia-se nas alterações de comportamento, em que o objetivo são que as respostas aos respec- tivos estímulos tornem-se automáticas. Para saber mais Nessa concepção, o aluno adapta seu comporta- mento de acordo com os estímulos que recebe (as alterações do ambiente e dos objetivos). O aluno apresenta participação passiva nesse contexto de aprendizagem. nadas, baseadas em apenas uma realidade, visando estabelecer, cada vez mais rápido, a sequência: sugestão, comportamento e consequência. A ideia principal é condicionar o comporta- mento do aluno por repetição de estímulos. Nessa abordagem a avaliação deve ser fun- damentada em critérios predeterminados. 2.2. Cognitivista A concepção cognitivista baseia-se no pro- cesso de pensamento, relacionando-o com mudanças no comportamento (nesse caso as alterações comportamentais aparecem apenas como indicador da aprendizagem do aluno). Unidade 4 • Aprendizagem, suas Concepções e Desenvolvimento83/187 Os alunos aprendem a fazer alguma coisa, todos do mesmo jeito (podendo não ser o melhor modo de fazê-la), criando assim um comportamento consistente entre si. Eles são passivos com relação à interpretação da realidade, embora tenham participação ativa ao adotar novas formas de comporta- mento. A aprendizagem concentra-se na transmis- são do processo de pensamento do estu- dante e usa simulações para abordar situ- ações da vida real. O professor, nesse caso, apresenta o modelo mental que o aluno deve seguir, o processo de pensamento do aluno e a sucessão de atividades de apren- dizagem visando alcançar as metas almeja- das. 2.3. Humanista Esta abordagem tem o foco em preparar o aluno para a resolução de problemas em si- tuações distintas, partindo do pressuposto de que todas as pessoas usam suas experi- ências para construir a própria perspectiva do mundo. Nessa concepção de aprendizagem, o aluno interpreta a realidade externa usando para isso suas experiências individuais. Para saber mais Na teoria Humanista, o aluno é ativo no processo de aprendizagem, pois controla “o que” aprende e também “da forma como” ele aprende. Ele é pre- parado para lidar com as mais diversas situações da vida real. Unidade 4 • Aprendizagem, suas Concepções e Desenvolvimento84/187 O professor leva em consideração a opin- ião e o conhecimento prévio do aluno para oportunizar a ele atividades de aprendiza- gem apropriadas que o ajudarão na con- strução do seu próprio conhecimento. Ele avalia o aluno pelo seu desempenho (po- dendo incluir a autoavaliação). 3. Relação entre Aprendizagem e Desenvolvimento A aprendizagem está diretamente liga- da ao desenvolvimento. Quando acontece a aprendizagem, por intermédio de out- ras pessoas ou do meio, há a construção do conhecimento. Ao ser construído esse conhecimento, a pessoa passa dessa etapa para a próxima, gerando, assim, o desen- volvimento. Durante todo o desenvolvimento, existem diversos fatores que influenciam a apren- dizagem. Como já visto no tema anterior, as habilidades psicomotoras recebem influên- cias de outras habilidades, principalmente cognitivas e motoras. Além disso, existem outros fatores que também podem influ- enciar, como as interferências sociais e cul- turais. Link Artigo Científico “Relações entre Aprendizagem e Desenvolvimento em Piaget e Vygotsky: o cons- trutivismo em questão”. Disponível em: <https:// www.revistas.ufg.br/rir/article/view/32621>. Acesso em: 24 de agosto de 2017. https://www.revistas.ufg.br/rir/article/view/32621 https://www.revistas.ufg.br/rir/article/view/32621 Unidade 4 • Aprendizagem, suas Concepções e Desenvolvimento85/187 3.1. Influências Sociais Baseado no princípio de que o homem é um ser social, pois é frágil demais para so- breviver sozinho (está inserido em diversos grupos sociais, como família, amigos, co- munidades religiosas, colegas de trabalho, vizinhos, dentre outros), percebe-se que re- cebe várias influências do meio onde está. Diversas dessas influências atuam sobre a aprendizagem e o desenvolvimento, dentre elas podem ser observadas algumas como a carência afetiva, as condições sanitárias, as privações lúdicas e culturais, os ambientes repressivos, as relações interfamiliares ou os métodos inadequados de ensino-apren- dizagem. Na prática, essas influências podem ser percebidas através de interferências em qualquer etapa no processo de aprendiza- gem (sensação, percepção, memorização, atenção e motivação). Pensando nas influências sociais à que to- dos são submetidos, o educador psicomo- triz precisa atentar-se para, além de evitar ou minimizar as influências que podem at- rapalhar a aprendizagem, aproveitar e uti- Para saber mais A falta de condições sanitárias básicas pode in- terferir diretamente na atenção durante o apren- dizado, ou ainda, uma relação familiar não está- vel, pode privar o aluno de motivação durante o processo de ensino aprendizado. Unidade 4 • Aprendizagem, suas Concepções e Desenvolvimento86/187 lizar as influências positivas para auxiliar e facilitar o aprendizado. 3.2. Influências Culturais Outro fator de influência importante na aprendizagem diz respeito às influências culturais. Toda a cultura existente no grupo em que se está inserido também interfere no desenvolvimento. É possível perceber por meio de exemplos de culturas nas quais as mulheres não têm direito à educação esco- lar, ou em outros países onde leva-se muito a sério os estudos e a dedicação escolar é demonstrada com maior ênfase. Todos os povos possuem uma série de rit- uais para as realizações de suas atividades. Dentre elas podem ser encontrados os rit- uais de estudo, com grupos que têm acom- panhamento de adultos fora da escola, out- ros não; grupos que estudam duas horas por dia, outros que estudam dez; grupos que acompanham ensalamentos de acordo com a faixa etária ou grupos que escolhem qual Link Artigo Científico “Desenvolvimento da Motrici- dade e as ‘culturas de infância’” . Disponível em: <http://www.fmh.utl.pt/Cmotricidade/dm/ textoscn/2desenvolvimento.pdf>. Acesso em: 24 de agosto de 2017. http://www.fmh.utl.pt/Cmotricidade/dm/textoscn/2desenvolvimento.pdf http://www.fmh.utl.pt/Cmotricidade/dm/textoscn/2desenvolvimento.pdf Unidade 4 • Aprendizagem, suas Concepções e Desenvolvimento87/187 atividade realizar naquele momento; dentre diversas outras características. Outro ponto relevante para destacar é em relação às tradições, com culturas em que apenas uma estratificação social tem di- reito ao estudo, ou onde o estudo é realiza- do dentro da escola, ou é feito por meio de histórias sob a responsabilidade dos mais velhos. Esses e outros fatores também pre- cisam de um olhar cuidadoso, principal- mente numa época cada vez mais global- izada. Link O artigo a seguir, elaborado pela Empresa Brasi- leira de Comunicação, discorre acerca de como a cultura pode influenciar no desenvolvimento
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