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IFRO – INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE RONDÔNICA – CAMPUS PORTO VELHO CALAMA DISCIPLINA: SOCIOLOGIA DISCENTE: MÔNICA GABRIELLE FEITOSA DOCENTE: RAIMUNDO JOSÉ DOS SANTOS TURMA: 3º ANO DE QUÍMICA MATUTINO RESUMO DO ARTIGO: ROUSSEAU – PRINCÍPIOS DO DIREITO POLÍTICO E CRÍTICA DA RAZÃO MODERNA PORTO VELHO/RO 15 DE ABRIL DE 2020 O presente artigo tem a finalidade de demostrar os motivos de Jean-Jacques Rousseau ter elaborado a crítica ao “Contrato Social”. Essa crítica foi baseada nos princípios do Direito político. A crítica a ser apresentada neste artigo, refere-se ao objetivo do contrato social, e o que ele representou na mudança dos períodos históricos, sendo o primeiro conhecido como o período das trevas, e o segundo conhecido como período da luz (iluminismo). No período marcado pelo iluminismo houve uma mudança de perspectiva, ocasionada pela ciência (pensamento racional). A razão passou a se destacar, sendo usada como instrumento de autonomia e libertação. Após a razão ser utilizado como instrumento, algumas mudanças aconteceram na política, sendo a principal a necessidade de elaborar uma nova teoria política. A teoria política elaborada foi a da hipótese contratual, que era embasada na racionalidade. Gomes Machado afirmava que o objetivo da exaltação de uma ordem natural inalterável, era incluir a compreensão absoluta do ser humano, não levando em consideração a indagação essencial sobre a natureza e liberdade. Esse formalismo racional deixa passar despercebido as contradições históricas, Rousseau advertia que as contradições acabavam por se prestarem a justificação de toda sorte de arbitrariedades no exercício político. Rousseau examinava os temas, a exacerbação da razão e do seu formalismo dissociado das vicissitudes da história, e passa a utiliza-los para se alicerçar os princípios do direito político. A construção destas normas reguladoras de pensamento político, implicam, segundo Genebra, uma crítica à modernidade e a razão. Proceder ao conhecimento do homem e por extensão da política, implicará na crítica às pretensões de um saber absoluto, que Rousseau associa ao charlatanismo. Da crítica às ciências ao discurso sobre a desigualdade: um relato de corrupção. Rousseau apontou a característica dissimuladora do culto da razão, expresso pelas ciências e artes: elas engendram crenças tolas, deslocam a reflexão acerca da virtude e da moral para o culto das aparências, fazem os homens esquecerem seus deveres com os semelhantes e preocuparem-se apenas em ser polidos, agradáveis e refinados. Neste parâmetro, triunfarão apenas as futilidades, e a força do esquecimento das virtudes, a corrupção cujo ápice reveste-se adiante nos abusos políticos torna-se o fundamento desta sociedade iluminada. Rousseau argumentava da seguinte forma: se as artes e ciências podem ser úteis, a sua vulgarização fomenta o desejo de distinguir-se, diminui os cuidados com os deveres e estimula o interesse pessoal: Quando os talentos conseguem usurpar as honras devidas à virtude, cada qual quer ser um homem agradável e ninguém se preocupa em ser um homem de bem (...) Que ganhamos com isso? Muito palavrório (...) e em compensação perdemos a inocência e os costumes. A multidão rasteja na miséria e todos são escravos dos vícios. (Ibidem, p. 295; 298.) Neste sentido, a sociedade está viciada no individualismo e a ostentação. O progresso é apenas ilusório e parcial, a injustiça e a desigualdade aumentam muito. O homem moderno encontra-se infeliz, segundo Rousseau. Cabe, pois, assinalar qual espaço esta reflexão merece nas considerações rousseauísticas: se o esquematismo do Discurso sobre as ciências e as artes, aponta para uma oposição entre o culto de um saber inútil e polidez artificial em detrimento das virtudes cívicas, a experiência do jovem Rousseau relatada nas Confissões assinala a importância do jogo político na vida social (Rousseau, 1965, p. 355), pelo qual toda consideração sobre esta sociedade, deverá dedicar-se a indagar acerca dos fundamentos do seu poder. Nesta perspectiva, se a sociabilidade glorificada pelas luzes revelou-se, para Rousseau, em processo de injustiça e corrupção, é necessário a crítica ao formalismo dos seus jurisconsultos e teóricos. Com efeito, se a compreensão da natureza humana, essencial para qualquer posicionamento político, partir de pressupostos equivocados acabará por legitimar as arbitrariedades que porventura, pretende combater. O prefácio do discurso já alerta para a necessidade desta investigação: o mais útil e menos avançado de todos os conhecimentos parece- me ser o do homem - e adiante, salienta – como conhecer fonte da desigualdade entre os homens se não se começa a conhecer eles mesmos? (Rousseau (b), 1999, p. 43.) Segundo Rousseau, aqueles que refletiram sobre tal estado, colocaram no homem natural, as paixões e vícios da civilidade, tornaram-no filósofo (Idem, p. 47). Na medida em que se dissocia destas leituras, e torna o estado de natureza a indagação dos fundamentos da sociedade (Ibidem, p. 48), é preciso delimitar o que se constitui o homem natural. Rousseau se esforça para convencer seu leitor de que somente ao remontar a um estágio desprovido de quaisquer caracteres que a sociabilidade – e aqueles teóricos – atribuíram ao Homem, é possível delimitar sua natureza e a constituição das sociedades. É preciso, portanto, segundo Machado, afirmar desde logo, uma precisa compreensão da natureza humana, que possibilite o verdadeiro conhecimento da política. (Machado, 1956, p.30). Nesta perspectiva, após descrever o homem no estado de natureza, caracterizado pelo vigor físico Rousseau distingue, duas características essenciais que o envolvem: a liberdade e a perfectibilidade. Estas características são essenciais para a compreensão da sociabilidade, quanto corrobora a fundar o direito político. Implicará, portanto, abandonar pressupostos básicos dos teóricos políticos modernos, que atribuem ao homem natural a razão e a sociabilidade. Obriga, sobretudo, negar que a fundação da ciência política resulte do formalismo metódico; impõe o permanente conflito e crítica àqueles autores consagrados de sua época, que para Rousseau permanecem sendo os fautores do despotismo, tampouco que se legitime o direito por convenções dissociadas da realidade. Podemos assim compreender, a importância da observação da sociedade – e da própria experiência pessoal - que Rousseau assinala em inúmeras passagens de sua obra. Na medida em que o desenvolvimento humano se deve às circunstâncias históricas implica transformação: acompanhá-la possibilita fundar o direito e corrigir-lhe os abusos. Igualmente, enquanto o homem é, por natureza livre, a fundação da sua sociedade poderá resultar em corrupção ou desenvolvimento. Rousseau aponta estas possibilidades: o espetáculo que denuncia no século das luzes ou os resultados da sociabilidade que descreve no Contrato Social. Do formalismo à justiça e o interesse: meandros do direito político Diante da nossa questão fundamental: ao considerar a liberdade e a perfectibilidade humana, que modernidade é esta que impulsiona, e justifica, sua desnaturalização? Ademais, como fundar o direito político – este dever ser da autoridade, ou regras para o agir político – a partir daquelas características? A necessidade do direito é um fato: resta indagar acerca de sua justiça e legitimidade, considerar estas dificuldades e os desafios que colocam explicam a linha argumentativa do Contrato Social. É necessário, pois, recorrer ao próprio Rousseau para solucionarmos as dificuldades: elas apresentarão o termo da nossa questão. Consoante as orientações traçadas no Emílio - esta obra de educação para a política – a inutilidade de algo reside sempre numa consideração prática. Com efeito, todo conhecimento encontra sentido e deve responder às seguintes questões: o que posso fazer? O que meimporta? Para que serve isto? (Idem, p. 234-678.) É uma dúvida metódica que ao perpassar toda a obra, excede os limites de um simples refrão. Se o conhecimento tem por meta o agir e transformar, tornar-se-ão inúteis aqueles que desconsiderarem a realidade, ou pouco se importarem em criticá-la. Torna-se sintomático neste sentido, que ao iniciar a exposição das linhas centrais do contrato social naquela obra, Rousseau aponte sua crítica exatamente para os teóricos da modernidade: Grotius e Hobbes. Seriam suas obras, a despeito de toda grandeza, inúteis? Ademais, afirmará que Montesquieu foi o único capaz de fundar os princípios do direito político, mas limitou-se, todavia, tratar apenas acerca do direito positivo (Ibidem, p. 676), ou seja, em lugar de estabelecer princípios, procurou vislumbrar apenas as normas contingentes de cada sociedade. Temos, portanto, outra resposta para nossa indagação: afirmar que aquela ciência não foi fundada implica dizer que ninguém ousou, segundo Rousseau, firmar princípios capazes de conciliar a liberdade e o progresso inevitável, com direitos justos e igualitários. Equivale, portanto, atentar as transformações que a sociedade e a razão moderna impõem ao homem, e o modo como a natureza humana – originalmente livre – situa-se diante da história. É preciso, com efeito, que a natureza humana se desenvolve, e garantimos nós somos estes o atestado de sua excelência; entretanto, que autenticidade terá este desenvolvimento dissociado da justiça? Nesta perspectiva, a reflexão política não se coloca alheias às relações concretas, mas assumem a proposta de firmar normas reguladoras, capazes de direcionar ao bem coletivo aquele aperfeiçoamento e a liberdade que Rousseau observa intrínsecos ao Homem. Por tais implicações o Contrato Social e seu fundamento coletivo mostra-se revolucionário; perante uma civilização iluminada na qual as vontades particulares resultam na primazia da desigualdade e da ostentação, a soberana Vontade Geral apareça em Rousseau como meta necessária e legitima, mas sujeita a conflitos e, ademais, difícil de compreendermos. A fundação dos princípios do Direito Político pressupõe, portanto, tecer uma crítica à razão moderna que acabou por colocar no interior do universo político a soberania da desigualdade e do engano. Se estes passam agora na modernidade, segundo Rousseau, a ter estatuto de legitimidade pelos que se apossaram da filosofia, caberá então considerar toda teoria incompleta e mesmo, sequer esboçada, pelo que, para bem formá-la tornou-se preciso observar e apurar tudo o que então fora construído. Da crítica às ciências ao discurso sobre a desigualdade: um relato de corrupção.
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